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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
CAT
Nº 71008128472 (Nº CNJ: 0071086-11.2018.8.21.9000)
2018/CÍVEL

REPARAÇÃO DE DANOS. CONSUMIDOR. BANCO.


CONCESSÃO DE CRÉDITO. FASE PRÉ-
CONTRATUAL. FACULDADE DO FORNECEDOR.
AUSÊNCIA DE DIREITO DO CONSUMIDOR. DANOS
MORAIS NÃO CONFIGURADOS. AGIR ILÍCITO NÃO
CARACTERIZADO. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO.

RECURSO INOMINADO TERCEIRA TURMA RECURSAL CÍVEL

Nº 71008128472 (Nº CNJ: 0071086- COMARCA DE SOBRADINHO


11.2018.8.21.9000)

BANCO BRADESCO S/A RECORRENTE

RUBEM CELSO ALVES DOS SANTOS RECORRIDO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Juízes de Direito integrantes da Terceira Turma
Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DR. LUIS FRANCISCO FRANCO (PRESIDENTE) E DR. GIULIANO
VIERO GIULIATO.
Porto Alegre, 29 de novembro de 2018.

DR. CLEBER AUGUSTO TONIAL,


Relator.

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@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
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Nº 71008128472 (Nº CNJ: 0071086-11.2018.8.21.9000)
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RELATÓRIO

Trata-se de ação indenizatória, em que o autor relata que, obtido


aprovação de seu crédito, no momento de retirar um veículo da concessionária, o
banco réu se negou a liberar o valor do financiamento.

Contestado e instruído o feito, sobreveio sentença de procedência do


pedido, a fim de desconstituir qualquer débito do autor pertinente a conta bancária
aberta junto ao réu, determinar a exclusão de seu nome dos cadastros de
inadimplentes e condená-lo ao pagamento do valor de R$4.000,00, a título de
indenização por danos morais.

Recorreu a parte ré, pugnando pela reforma da decisão.

Com contrarrazões, vieram os autos conclusos.

VOTOS

DR. CLEBER AUGUSTO TONIAL (RELATOR)

Relatou o autor que havia formalizado a compra de um veículo junto


à revendedora Spanevello e Machado de sua cidade, cujo pagamento faria
mediante crédito obtido junto ao réu. Ocorre que no momento de retirar o veiculo e
realizar o pagamento, a instituição financeira não liberou o valor de R$32.000,00.
Diante disso, requereu indenização por danos morais.

Relatou à margem da petição inicial, no decorrer do processo, que


para obter o empréstimo, necessitou abrir uma conta bancária junto ao réu, que
gerou um débito e a inscrição de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito.

Registra-se, inicialmente, que as partes não formalizaram contrato de


financiamento de veículo, limitando-se a discussão à fase pré-contratual.

Em tese, a instituição financeira não estava obrigada a liberar ao


autor crédito para financiar a aquisição de um veículo. A concessão consiste numa
faculdade do fornecedor, não se confundindo com um direito do consumidor, o que
afasta eventual ilicitude no agir da ré.

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Inexiste ofensa a dignidade pessoal do autor no caso dos autos, pois


a ré agiu com discricionariedade, própria da atividade financeira que desenvolve,
sendo cabível avaliar os riscos segundo critérios que entende seguro e oportuno.
Veja-se que a informante do autor, sua esposa, informou “Que na época estava
com situação financeira difícil porque não estava preparado para a negativa do
financiamento” (fl.82), fato reproduzido na petição inicial.

E não há nos autos qualquer comprovação de exposição pública ou


humilhação do autor suficiente para justificar a configuração de danos
extrapatrimoniais. Para a concessão da reparação extrapatrimonial pretendida,
seria imprescindível a comprovação do abalo moral, consubstanciado na afronta a
algum dos atributos da personalidade, como a vida, a integridade física, a honra, o
nome ou a imagem, o que não ocorreu no caso em análise. Evidente que algum
transtorno o autor experimentou com a situação, mas não a ponto de malferir os
seus atributos da personalidade.

Se o descumprimento contratual não gera danos morais, como regra,


tanto mais o desacordo na fase pré-contratual gera prejuízos dessa natureza, ainda
que se vislumbre alguma falta de transparência do ente bancário no seu proceder.
O descumprimento contratual não raro tem suas razões na quebra da boa-fé
objetiva, na falta de correção, de lealdade de um dos contratantes, e nem por isso
há efetivamente a constatação do dano extrapatrimonial; por logicidade, a quebra
da expectativa de uma contratação nessas condições não destoa dessas
premissas.

Faz-se o registro de que o autor não comprovou que o seu nome foi
efetivamente inscrito nos cadastros do SCPC, pois a carta de aviso de débito de
fl.33 trata de mera ameaça de inscrição.

E sequer há pedido judicial se reportando à contratação de abertura


de conta corrente, portanto a sentença, ao desconstituir débitos oriundos dela, é
extrapetita.

Nesse contexto, é o caso de reformar a sentença recorrida.

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Voto, pois, por DAR PROVIMENTO AO RECURSO, a fim de julgar


improcedente o pedido de compensação por danos morais, pois inexistentes
no caso concreto; bem como, de ofício, cassar a sentença no ponto em que
se apresentou extrapetita, pois não há pedido judicial de desconstituição de
débitos.

Sem sucumbência diante do resultado do julgamento.

DR. LUIS FRANCISCO FRANCO (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a).


DR. GIULIANO VIERO GIULIATO - De acordo com o(a) Relator(a).

DR. LUIS FRANCISCO FRANCO - Presidente - Recurso Inominado nº


71008128472, Comarca de Sobradinho: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME."

Juízo de Origem: JUIZADO ESPECIAL CIVEL ADJUNTO SOBRADINHO -


Comarca de Sobradinho

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