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Wesley
A missiologia é multi-disciplinar por natureza. Ela não somente se deixa informar por outras
disciplinas, como também dialoga, interage e coopera com elas. Por esta razão, a missiologia é também
chamada de “teologia cooperativa”[1]. Isto equivale dizer que
trata-se de uma teologia prática de missão em diálogo, interação e cooperação
com outras formas de estudar, compreender ou elucidar a vida, o ser humano, o
mundo, a sociedade, a igreja e a espiritualidade, fazendo uso empático de
ferramentas antropológico-culturais, sociológicas, linguísticas, e mesmo dos
campos de comparação religiosa e da própria teologia sistemática. Da mesma forma como a teologia se faz em
contexto, a missiologia só tem sentido se for essencialmente contextual,
responsiva e conectada com a integralidade da existência do ser humano, quem e
onde quer que seja que este se localise.
Uma missiologia
cuja espiritualidade é integral
A missão
http://wesleydesouza.com Fornecido por Joomla! Produzido em: 13 August, 2008, 18:36
COMMUNITÀS by L. Wesley
integral não tem outra escolha, senão começar por desenvolver uma
missiologia cuja espiritualidade é integral. Por espiritualidade integral
refiro-me à busca por fundir todos os possíveis elementos, dimensões e
experiências da vida humana – de ontem, de hoje e de amanhã – com a
integralidade da fé cristã, e de traduzí-los em expressões litúrgicas nos atos
de vida e de culto, com vistas ao Reino que “já é, mas ainda não”. Tais
expressões se manifestam pública e privadamente, no interior e no exterior do
cristão. Espiritualidade integral missionária é vida em missão no seu mais
completo sentido. Portanto, não é estanque, mas dinâmica, contínua e
compartilhada. Não é automática, antes, sim, aprendida e desenvolvida. É gerida
pela experimentação da vida nova em Cristo, vivificada pelo Espírito e
convergida para Deus.
Uma
missiologia de espiritualidade integral é motivada e desenvolvida a partir do
momento em que aquele que a experimenta aceita o convite ao discipulado. É
inspirada e avaliada pelas Escrituras, nutrida em comunidade, alimentada pelas
“disciplinas espirituais” e voltada para a missão. É, ao mesmo tempo (i.e., sem
dicotomias), sensível às necessidades humanas e aberta às manifestações
soberanas do divino e transcendente. Possui consciência holística do Reino, tem
na cruz o seu caminho e na ressurreição a sua esperança. Seu modelo é Cristo,
sua dinâmica vem do Espírito, seu núcleo é Deus, seu objetivo é único: a glória
d’Ele.
Uma missiologia
cuja teologia não é pretenciosa, nem tagarela
Teologia
de missão integral não é aquela que tem
resposta para tudo. Teólogos
imaturos tem o péssimo hábito de achar que devem sempre dizer alguma coisa
para, pretenciosamente, elucidar e explicar todas e cada uma das ocorrências da
vida, boas ou ruins. A teologia madura, contudo, é aquela que se
exige saber quando e como ficar em silêncio diante de situações experimentadas
pelas pessoas. A teologia sábia e experiente não se pretende
ter ou ser resposta para tudo, seja no púlpito, no hospital, na literatura, no
campo missionário, na célula, na mesa de bate-papo, no cemitério, durante uma
visita ou num debate. O teólogo maduro, ao silenciar-se, confia
plena e radicalmente no Espírito Santo, da mesma forma e na mesma medida em que
confia n'Ele quando abre a boca.
Historicamente,
a teologia e a proclamação têm sido narrativa e vernacular por natureza. Contudo,
é também verdade que a impotência e a impaciência nos traem, notadamente quando
estamos diante de quadros depressivos, desesperadores ou complexos. E é aí
que o "não poder fazer nada" nos seduz e nos conduz à linguagem
verbalizada, e, portanto, à possível subjetividade de palavras ditas ao léu,
sem pertinência ou relevância alguma. A nossa lógica é que, se falhamos em dizer ou
verbalizar alguma coisa, o silêncio santo de Deus também será incapaz de
comunicar à mente e ao coração das pessoas.
Ocorre,
entretanto, que o Espírito Santo é aquele que perscruta novas formas de
linguagem e novas subjetividades através das quais ele ouve, ora, geme e fala
(Romanos 8:18-27), justamente por causa das nossas limitadas capacidades
enquanto humanos. Isto inclui nossas doutrinas que, por
espantoso que pareça a alguns, não conseguem capturar a totalidade de Deus,
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Não quero
dizer com isso -- em absoluto! -- que nossas doutrinas ou sistematizações da fé
sejam falsas. O que digo é que elas são inevitavelmente
incompletas e, eventualmente, distorcidas quanto a revelar e comunicar Deus na
experiência humana. Se queremos conhecer Deus e os seus pensamentos
de forma mais ampla, embora ainda e sempre incompleta, temos que ir para além
do que sabemos, ou do que pensamos que sabemos! Afinal, as melhores e mais
fiéis tentativas de descrever Deus e a humanidade podem acabar sendo nada mais
do que auto-interesse idólatra.
Não ser
capaz de ficar calado quando o silêncio é necessário, é reproduzir, na teologia
e na proclamação, a atitude da "mulher do Aderbal". Refiro-me
ao quadro humorístico em que a esposa de Aderbal, pressupondo conhecer detalhes
do que vai no pensamento do marido, coloca em seus lábios palavras que ele
nunca pronunciou, gerando os maiores constrangimentos para o próprio Aderbal em
relação aos seus amigos "ouvintes".
Aderbal acaba por perder os
amigos por causa daquilo que sequer falou.
Pior do que isto é que, ao final,
ela própria sentencia o marido, dizendo: "Você fala demais, Aderbal!"
Ele, contudo, não chegou sequer a abrir a boca, nem muito menos disse uma só
das palavras pronunciadas por sua esposa.
A
revelação de Deus se silencia na voz do teólogo quando este se ocupa demais em
falar. É como se o som da voz de Deus sofresse um
eclipse causado pelas sombras que a precipitação e o excesso de palavras do
teólogo impõe ou imputa à revelação. Por isso, é preciso aprender a se silenciar
quando necessário, reconhecendo que há algo muito além do que a linguagem
verbalizada pode comunicar e operar. Isto acontece quando o teólogo começa por
admitir os limites do seu próprio pensamento teológico, e se posta silencioso,
humilde, contrito e genuflexo na presença de um Deus que está acima e além das
suas tentativas de descrevê-Lo.
[1]
Hans-Jürgen Findeis, “Missiology”, citando A. Exeler e T. Kramm. Dictionary
of Mission. Müller, Karl, Theo Sundermeier, Stephen B.
Bevans e Richard H. Bliese, editores. Maryknoll, New
York, página 302, 1997.
[3] Van
Engen, Charles. Mission on the Way: Issues in Mission
Theology. Grand Rapids, MI:
Baker Books, 1998.