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COMMUNITÀS by L.

Wesley

Missiologia urgente para um mundo imergente


Contribuição de Luís Wesley de Souza
22 de May de 2007
Última Atualização 13 de November de 2007

Parâmetros missiológicos aplicáveis

A missiologia é multi-disciplinar por natureza. Ela não somente se deixa informar por outras
disciplinas, como também dialoga, interage e coopera com elas. Por esta razão, a missiologia é também
chamada de “teologia cooperativa”[1]. Isto equivale dizer que
trata-se de uma teologia prática de missão em diálogo, interação e cooperação
com outras formas de estudar, compreender ou elucidar a vida, o ser humano, o
mundo, a sociedade, a igreja e a espiritualidade, fazendo uso empático de
ferramentas antropológico-culturais, sociológicas, linguísticas, e mesmo dos
campos de comparação religiosa e da própria teologia sistemática. Da mesma forma como a teologia se faz em
contexto, a missiologia só tem sentido se for essencialmente contextual,
responsiva e conectada com a integralidade da existência do ser humano, quem e
onde quer que seja que este se localise.

O mundo de hoje e do futuro próximo, por


outro lado, é também multi-facetado em suas novas nuances propositivas,
contornos, perguntas e necessidades. Segundo Howard Snyder, há oito aspectos que
caracterizam o mundo imergente. São
eles: (1) A chegada da sociedade global “online”, i.e., Internet, etc; (2)
Globalização econômica; (3) A revolução feminista; (4) O meio-ambiente em
risco, i.e., aquecimento global, extinção de espécies, falta d’água potável,
etc.; (5) A revolução da física quântica e genética, i.e., DNA, superstrings,
etc.; (6) Realidade virtual e
inteligência artificial; (7) Declínio cultural e econômico dos Estados Unidos;
e (8) Cultura global versus choque global de civilizações.[2]

Estas facetas diversas demandam da missiologia respostas que se


caracterizem por serem relevantes. Isto
é, um mundo multi-facetado exige pensamento e ação missiológica
multi-disciplinar. Daí a necessidade de
se desenvolver uma missiologia integral, tanto no pensamento teológico
quanto na prática ministerial individual e comunitária.

A missiologia, contudo, será incapaz de sugerir à Igreja respostas


pertinentes em suas ações, vida e missão no mundo, a menos que aprenda e se
permita fazer exegese. Exegese é
freqüentemente entendida como sendo a observação ou estudo crítico das raízes,
significados e implicações de um texto bíblico.
Não me refiro, contudo, a aprender tão somente a fazer exegese do texto
bíblico e seu contexto imediáto, mas também e especialmente do contexto
enquanto realidade na qual a gente vive.
Uma missiologia responsável procurará discernir e compreender tanto a
mensagem bíblica primária ou original, como a situação contemporânea, fazendo
uma "ponte hermenêutica", como sugere Paul Hiebert.

Missiologia e Missão Integral

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Quando falamos de missão integral, portanto, estamos


necessariamente apontando não somente para aquilo que a missiologia é em si
mesma, mas também para um conceito que é ainda mais amplo e detalhado no que
tange à prática missiológica cotidiana no mundo de hoje. Além disso, por missão integral não
nos referimos apenas e tão somente às raízes históricas de um dado movimento
histórico – que jamais deveriam ser esquecidas ou neglicenciadas, já que oferecem
referenciais de curso e identidade a todos nós que o abraçamos –, mas também e
especialmente ao estiramento prático, conceitual, estratégico e metodológico
que a missiologia deve ganhar na vida de cada um individualmente e na
comunidade de fé como um todo. Esta é a
razão pela qual penso que a caminhada de missão integral deve estar
sempre e necessariamente aberta em suas possibilidades, implicações e aplicações
diárias, em todas as dimensões da nossa participação humana (missio hominum)
e eclesial (missiones ecclesiarum) na Missio Dei, isto é, “a
missão de Deus”[3].

É preciso que se reconheça que, com raras


excessões, a questão da multi-disciplinaridade (neste caso integralidade) tem sido um dos grandes flancos
ou falhas dos teólogos evangelicais brasileiros atuais, preocupados que estão
com suas próprias agendas pessoais, teológicas e relacionais, às vezes por
demais maniqueístas e não menos desprovidas de intolerância com perspectivas
diversas ou aparentemente contrárias. Esta
problemática também se reflete na própria delimitação do que seja e de quem
esteja comprometido com a chamada "caminhada de missão integral", frequetemente entendida e abordada como sendo
propriedade particular de um grupo restrito de pessoas. Dentre outras formas, este reflexo se
mostra na concepção ou falsa impressão de que não pode haver missão integral fora do Movimento de
Missão Integral. Aqueles que ousam mudar
este paradígma, sofrem as consequências surgidas de amargas intolerâncias por
parte daqueles que preferem taxar os que não se “enquadram”.

É fato, contudo, que há muita gente íntegra, integral e


integrada por aí que procura desenvolver uma missiologia e uma espiritualidade
que seja calcada nas Escrituras e na realidade atual, que sabe fazer esta ponte
e que desenvolve uma teologia e prática de missão holística, mas que
eventualmente não reproduz a linguagem e os códigos próprios do Movimento de
Missão Integral.

Por uma missiologia integral

Uma missiologia integral aceita lidar com a


totalidade dos desafios que este mundo multifacetado impõe, e o faz com urgente
integridade. Para tal desenvolve uma
visão que tenha a mesma dinâmica do olho de mosca – uma só peça ocular com
inúmeros prismas que oferecam perspectivas diversas à respeito da mesma imagem
ou situação. Esta forma de abordagem
missiológica caracteríza-se por ser relevante às temáticas atuais.

Uma missiologia
cuja espiritualidade é integral

A missão
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integral não tem outra escolha, senão começar por desenvolver uma
missiologia cuja espiritualidade é integral. Por espiritualidade integral
refiro-me à busca por fundir todos os possíveis elementos, dimensões e
experiências da vida humana – de ontem, de hoje e de amanhã – com a
integralidade da fé cristã, e de traduzí-los em expressões litúrgicas nos atos
de vida e de culto, com vistas ao Reino que “já é, mas ainda não”. Tais
expressões se manifestam pública e privadamente, no interior e no exterior do
cristão. Espiritualidade integral missionária é vida em missão no seu mais
completo sentido. Portanto, não é estanque, mas dinâmica, contínua e
compartilhada. Não é automática, antes, sim, aprendida e desenvolvida. É gerida
pela experimentação da vida nova em Cristo, vivificada pelo Espírito e
convergida para Deus.

Uma
missiologia de espiritualidade integral é motivada e desenvolvida a partir do
momento em que aquele que a experimenta aceita o convite ao discipulado. É
inspirada e avaliada pelas Escrituras, nutrida em comunidade, alimentada pelas
“disciplinas espirituais” e voltada para a missão. É, ao mesmo tempo (i.e., sem
dicotomias), sensível às necessidades humanas e aberta às manifestações
soberanas do divino e transcendente. Possui consciência holística do Reino, tem
na cruz o seu caminho e na ressurreição a sua esperança. Seu modelo é Cristo,
sua dinâmica vem do Espírito, seu núcleo é Deus, seu objetivo é único: a glória
d’Ele.

Uma missiologia
cuja teologia não é pretenciosa, nem tagarela

Teologia
de missão integral não é aquela que tem
resposta para tudo. Teólogos
imaturos tem o péssimo hábito de achar que devem sempre dizer alguma coisa
para, pretenciosamente, elucidar e explicar todas e cada uma das ocorrências da
vida, boas ou ruins. A teologia madura, contudo, é aquela que se
exige saber quando e como ficar em silêncio diante de situações experimentadas
pelas pessoas. A teologia sábia e experiente não se pretende
ter ou ser resposta para tudo, seja no púlpito, no hospital, na literatura, no
campo missionário, na célula, na mesa de bate-papo, no cemitério, durante uma
visita ou num debate. O teólogo maduro, ao silenciar-se, confia
plena e radicalmente no Espírito Santo, da mesma forma e na mesma medida em que
confia n'Ele quando abre a boca.

Historicamente,
a teologia e a proclamação têm sido narrativa e vernacular por natureza. Contudo,
é também verdade que a impotência e a impaciência nos traem, notadamente quando
estamos diante de quadros depressivos, desesperadores ou complexos. E é aí
que o "não poder fazer nada" nos seduz e nos conduz à linguagem
verbalizada, e, portanto, à possível subjetividade de palavras ditas ao léu,
sem pertinência ou relevância alguma. A nossa lógica é que, se falhamos em dizer ou
verbalizar alguma coisa, o silêncio santo de Deus também será incapaz de
comunicar à mente e ao coração das pessoas.

Ocorre,
entretanto, que o Espírito Santo é aquele que perscruta novas formas de
linguagem e novas subjetividades através das quais ele ouve, ora, geme e fala
(Romanos 8:18-27), justamente por causa das nossas limitadas capacidades
enquanto humanos. Isto inclui nossas doutrinas que, por
espantoso que pareça a alguns, não conseguem capturar a totalidade de Deus,
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simplesmente pelo fato de que são produto da inteligência, da linguagem, do


pensamento e do engendramento humano. Nenhuma destas coisas é veículo adequado para a
total compreensão do divino.

Não quero
dizer com isso -- em absoluto! -- que nossas doutrinas ou sistematizações da fé
sejam falsas. O que digo é que elas são inevitavelmente
incompletas e, eventualmente, distorcidas quanto a revelar e comunicar Deus na
experiência humana. Se queremos conhecer Deus e os seus pensamentos
de forma mais ampla, embora ainda e sempre incompleta, temos que ir para além
do que sabemos, ou do que pensamos que sabemos! Afinal, as melhores e mais
fiéis tentativas de descrever Deus e a humanidade podem acabar sendo nada mais
do que auto-interesse idólatra.

Não ser
capaz de ficar calado quando o silêncio é necessário, é reproduzir, na teologia
e na proclamação, a atitude da "mulher do Aderbal". Refiro-me
ao quadro humorístico em que a esposa de Aderbal, pressupondo conhecer detalhes
do que vai no pensamento do marido, coloca em seus lábios palavras que ele
nunca pronunciou, gerando os maiores constrangimentos para o próprio Aderbal em
relação aos seus amigos "ouvintes".
Aderbal acaba por perder os
amigos por causa daquilo que sequer falou.
Pior do que isto é que, ao final,
ela própria sentencia o marido, dizendo: "Você fala demais, Aderbal!"
Ele, contudo, não chegou sequer a abrir a boca, nem muito menos disse uma só
das palavras pronunciadas por sua esposa.

A
revelação de Deus se silencia na voz do teólogo quando este se ocupa demais em
falar. É como se o som da voz de Deus sofresse um
eclipse causado pelas sombras que a precipitação e o excesso de palavras do
teólogo impõe ou imputa à revelação. Por isso, é preciso aprender a se silenciar
quando necessário, reconhecendo que há algo muito além do que a linguagem
verbalizada pode comunicar e operar. Isto acontece quando o teólogo começa por
admitir os limites do seu próprio pensamento teológico, e se posta silencioso,
humilde, contrito e genuflexo na presença de um Deus que está acima e além das
suas tentativas de descrevê-Lo.

[1]
Hans-Jürgen Findeis, “Missiology”, citando A. Exeler e T. Kramm. Dictionary
of Mission. Müller, Karl, Theo Sundermeier, Stephen B.
Bevans e Richard H. Bliese, editores. Maryknoll, New
York, página 302, 1997.

[2] Snyder, Howard A.


Global Trends 2006 –- Ten Major Trends: Reflections Twenty Years
Later. Pp. 1, 2006, citando EarthCurrents:
The Struggle for the World’s Soul. Nashville,
TN: Abingdon Press, 1995.

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[3] Van
Engen, Charles. Mission on the Way: Issues in Mission
Theology. Grand Rapids, MI:
Baker Books, 1998.

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