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COPACABANA
“Escorial do medo ”
Mauro: Escuta aqui, escuta! (num controle viril) Vocês pensam que eu tenho cara de otário?
Olha aqui! Olha aqui na minha cara, sua vagabunda! Olha! Diz se eu tenho cara de otário! Diz!
Diz aqui na minha cara!!!!
(tempo)
Mauro: (mais calmo, diabólico) Tudo bem. Eu vou esperar. Ela vai chegar uma hora. Isso. Uma
hora ela chega. Daí... Daí a gente bate um papo.
Fatinha: (caída no chão, num sopro) Vai embora... Eu já disse que eu não sei de nada...
Mauro: O lance é com sua amiga. E se você é parceira dela, sinto muito. Vai pagar junto.
Fatinha: Você pensa que eu tenho medo de você? Eu não tenho medo de você.
Fatinha: E por causa de que? Só porque você está armado? Isso não faz de você uma ameaça.
Eu não tenho um pingo de medo.
Mauro: (puxa o cabelo dela) Minha paciência tem limite! Responde! Qual é o seu nome!
(solta a jovem)
Mauro: Ela também se chama Fatinha. E a que morreu também se chamava Fatinha... Deveria
ser proibido, ouviu? Deveriam proibir mulheres como vocês usarem o mesmo nome que o
dela. Ela não merecia ter o nome maculado de maneira tão ordinária!
Fatinha: Ela era a pior de todas!
Fatinha: (numa gargalhada satânica) A pior! Não valia nada! Esgoto, estrume, estrupício de
marca maior!
Fatinha: Ah, você não permite! Não permite o que? O que você não permite? Vai lá! Fala!
Agora eu quero saber! Não permite o que?
Fatinha: (deprimida, chorosa ) Sim. A minha amiga ordinária... Ela não vai voltar Mauro.
Fatinha: Ontem. De tarde. Quando cheguei já não havia mais nada além do bilhete.
Fatinha: A que morreu te amava, Mauro, assim como eu. Mas a que foi embora só queria o seu
dinheiro! Será que você não consegue perceber? Seu estúpido! Fatinha é uma rameira
gananciosa, seu coração apodreceu dentro do peito.
Mauro: (desnorteado) Mentira! Isso é mais um golpe de vocês duas!!! Eu vou esperar aqui! Ela
vai chegar!
Mauro: Não...
Fatinha: Aceita!
Mauro: Não!!!
Mauro: (chora) Um bilhete escrito a batom... Foi tudo o que ela me deixou: um bilhete escrito
a batom...
Mauro: O que?
Fatinha: Ela foi embora, fiquei com pena de você e escrevi o bilhete.
Mauro: Mentira!
Fatinha: Verdade! Cheira a minha boca. Cheira! É o mesmo cheiro desse batom. Está vendo.
Ela foi embora sem te dar satisfação. Ela se lixou pra você e você fica aí, que nem um babaca
chorando, com arma na mão. Ela não merece uma bala, Mauro! Uma bala!
Fatinha: Pena! Eu tenho pena de você. Eu vi toda a cena. Você chegando aqui, armado,
procurando por Fatinha... A que foi embora. Ela saiu daqui gargalhando, fazendo a sua caveira.
Fiquei com dó de você. Achei que poderia aplacar a sua dor com um bilhete supostamente
escrito por ela. Um bilhete de amor. Escrito a batom.
Mauro: Mas isso não é um bilhete de amor! Ela diz aqui que me odeia!
Fatinha: (muito digna) Na metade do caminho fiquei com raiva e acabei colocando algumas
verdades.
Mauro: Eu odeio você, Fatinha! Você não vê a minha cara nunca mais!
Fatinha: (se agarra aos pés dele) Não! Mauro! Não! Foi tudo da boca pra fora!
Mauro: Não se brinca com os sentimentos dos outros, Fatinha! Você nos usou como
marionetes em suas mãos! E nós dançamos a sua música! Mas agora: acabou!
Mauro: Me solta!
Mauro: Pois é assim que você vai ficar a partir de agora: sozinha! Largada! Desistida!
Recusada!
Fatinha: Estou.
Mauro: Com medo de que?
Fatinha: Dela.
Fatinha: Seguramente.
Mauro: Ela não fugiu com o meu dinheiro! Foi tudo uma invenção sua, não é? (animado,
animalesco)Diz, vagabunda! Você me atraiu até aqui com seu orgulho de mulher rejeitada e
quis envenenar o meu amor! Não é isso? Diz! Fatinha me ama! Isso você nunca poderá mudar!
Você é um monstro, uma fossa entupida de rancor!
Fatinha: Estúpido! (transportada, vidrada) A que morreu... Estou falando da que morreu... Ela
volta aqui... Se sente culpada... Quer o meu perdão...
Mauro: Perdoa...
Mauro: Não. Aqui só tem duas balas. E essa bala já tem dona. Eu vou até o fim do mundo, se
for preciso, para entregar pessoalmente.
Mauro: A outra é minha. Vai ficar aqui, bem aqui. (em sua fronte)
Fatinha: Mauro! Eu quero um tiro! Me dá um tiro! Prefiro um tiro a ter que ficar aqui com ela!!
Eu não quero ficar aqui com ela!!
(entrada lenta, espectral de todas as Fatinhas, mortas. Rostos cobertos por véu.)
Mauro: Você fica viva pra contar a história! Enterrada viva! No meio das mortas!
( Mauro sai)
Fatinha: Não!!!! Não!!!! Isso nunca! Nunca!!! (tomada por cólera, para as mortas) Vai
embora! Vai embora!!!! Eu nunca vou perdoar você! Nunca! Nunca!!!!!!!!!!!!!!!!! Vai
embora!!! Vai embora!!!
(escuridão)
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GLORIA
(telefone toca)
Vicentinho: (gentil, coçando a cabeça com um lápis) Doceria “Paraíso na boca”, em que posso
servi-lo?
Voz rouca: Alguém que não gosta de ver os outros fazendo papel de palhaço.
(tempo)
Vicentinho: (trêmulo, já suando nas têmporas) Algum doce especial? Uma encomenda?
Voz rouca: (risada sardônica) Tá sentado, meu camarada? Porque segura que é badejo..............
Vicentinho: O senhor poderia ser mais específico... Não estou ouvindo bem?
(silencio)
(silencio)
Vicentinho: Duas xícaras de leite e meia dúzia de ovos. Separa a clara da gema, mas não joga a
gema fora, se aproveita mais tarde.
Voz rouca: Tem alguém aí com você? Chegou alguém na loja? Você ouviu o que eu falei?
Vicentinho: Como se faz um bolo de nozes. Duas xícaras de leite e meia dúzia de ovos. Separa a
clara da gema, mas não joga a gema fora, se aproveita mais tarde.
Voz rouca: Não faz o louco! Você me ouviu muito bem... Bruna, a sua mulher, faz vida na zona!
Vicentinho: (sem expressão alguma) Sim, um bolo de nozes é mais fácil do que você imagina. O
segredo está na farinha, às vezes o barato sai caro, é melhor pagar um pouco mais e ter uma
farinha mais digna.
Voz rouca: Seu abestalhado! Por um acaso está debochando da minha cara? (nova gargalhada,
mais amarga) Sei até o preço que a sua mulher cobra! Sei até o preço!
Vicentinho: As nozes realmente são caras, mas se preferir pode substituir por amendoim, é
mixuruca, mas engana. Empapuce as nozes, ou o amendoim, na farinha e bata tudo por vinte
minutos. Unte a forma com claybon , despeje tudo e leve ao forno brando.
Voz rouca: Bruna, a sua mulher, se lambuza com batom cereja e vai desfilar no calçadão!Bebe
água de coco com americano! Com americano! Será que você não consegue entender? Você é
o escárnio geral, a piada mal contada, o berro da tartaruga! Eu tenho pena de você Vicentinho,
morro de pena! Mas não deveria, pois tem gente que nasceu com vocação pra trair, outros
com resignação pra ser traído! Se você prefere fingir que nada aconteceu, lavo as minhas
mãos. Mas se tiver um pingo de vergonha na cara: escorraça essa pilantra da sua casa à base
de sopapo!!! Bruna, a sua mulher, não vale um alfajor! (desliga)
(silencio profundo.)
(O fone cai lento das mãos de Vicentinho ainda com as últimas palavras ecoando em sua
cabeça)
Bruna: (sorridente, tapando os olhos do marido por trás dele, ao pé do ouvido) Um queijo ou
um beijo?
(Vicentinho apático)
(Bruna retira as mãos dos olhos do marido e lasca um beijinho de estalo)
Bruna: (com a inocência de quem trai) Eu tenho um segredo pra te contar... Faz algum tempo
que venho escondendo isso de você... Mas acho que chegou a hora de você ficar sabendo...
Bruna: Sabe o que está em minhas mãos agora? (emocionada) Aqui... (indica o envelope) Você
não consegue imaginar...? (uma lágrima de alegria escorre em seu rosto) Vicentinho... O nosso
maior sonho... (sorri) Vicentinho... Nesse envelope... Vicentinho... Aquilo que a gente mais
esperava. (ajeita os cabelos por trás das orelhas, suspira fundo e revela) O resultado do exame:
Eu estou grávida... Você vai ser pai.
Bruna: Você esperou tanto por esse dia, meu doce. Tanto! Seremos enfim uma família
completa. Esse é o dia mais feliz da minha vida.
Bruna: (numa maravilha cega, protegendo a barriga com doçura) Nosso filho... Ele está aqui,
Vicentinho... O fruto do nosso amor. Um rebento. O seu sucessor.
(Vicentinho abrindo uma garrafa de água ardente escondida numa prateleira e virando no
gargalo)
Bruna: Já fazia um tempo que eu desconfiava, mas queria ter certeza. Tinha que ser especial.
Tentamos tantas vezes, eu não queria gerar uma expectativa pra te frustrar depois... Me parte
o coração. Mas eu rezei tanto, Vicentinho! Tanto! Muito mais do que você pode imaginar... Fiz
promessa pra meia dúzia de santo! E quando eu vi o resultado do exame, hoje pela manhã,
nem pude acreditar! Quase fui atropelada lá no centro da cidade, de tão pasma! Eu vim
correndo pra cá... Confesso que não só apenas por conta disso, Não vou mentir, serei mãe e
mãe não mente. Pois bem: No segundo seguinte em que tive a confirmação, meu primeiro
desejo de grávida me veio implacável: como uma ordem divina, uma ânsia incontrolável... Uma
vontade de comer um doce! Como se a minha própria existência dependesse disso. Mas eu
não sei qual doce, ainda... Corri pra cá pra escolher! Meu primeiro desejo de grávida vai ser
saciado aqui!
Bruna: (se colocando no centro da loja de doces, entre as máquinas de balas, chicletes,
algodão doces, um paraíso açucarado) Eu quero comer um... (pensa, muito sapeca) Um... (olha
todos os doces da loja, muito coloridos e atraentes) Um... (saliva enquanto seus olhos correm
por cada prateleira abarrotada de guloseimas) Um... (acaricia os lábios numa expectativa
libidinosa) Um... (perde o ar maravilhada avistando o doce cobiçado, quase num sussurro)
Alfajor... Eu quero comer um alfajor!... (num murmúrio vampiresco, com o coração na
boca)Você não pode me negar, Vicentinho, não pode... Desejo de mulher grávida não se
contraria... Eu quero aquele alfajor... Eu quero todos eles... Todos em minha boca agora... Eu
quero Vicentinho... Você quer que seu filho nasça com cara de alfajor? Não quer. Então vai me
fazer a vontade... Pega pra mim... (mais sussurrada, mas vampiresca, com os braços
estendidos, com as pontas dos dedos nervosas) Eu quero comer todos... Todos... Todos na
minha boca... Agora... A cobertura de açúcar quebradiça... O recheio cremoso, com um toque
de limão... Camada por camada... Derretendo... Escorrendo entre os meus dentes... Quero
lamber o laminado protetor... Nenhum grãozinho poderá ser desperdiçado... Eu os quero! Um
por um... Deixa. (mais vampiresca, compulsiva) Estraçalhar sem pena! Enfiar três na boca ao
mesmo tempo! Esfregar nos meus lábios até inchar! Eu quero engolir tudo sem morder! Deixa,
Vicentinho... Deixa! (possuída) À mulher grávida não se contraria!
Vicentinho: (numa raiva surda) Qualquer um, ouviu? Você pode escolher por qualquer um...
Menos por esse. Esse: você- não- come. Ouviu? Não encosta um dedo. Nunca mais! Você não
come esse doce nunca mais.
(Bruna catatônica)
Vicentinho: (frio como um tubarão) Escuta, pois é a última vez que lhe digo: o dia em que eu
souber que você encostou, viu, sentiu o cheiro desse doce... Eu espanco você até matar...
(tempo) Entendeu?
(Bruna chocada)
Vicentinho: Entendeu?
Vicentinho: (mudando o tom absolutamente) Agora vamos comemorar! Hoje aqui: é feriado!
(animalesco) Eu vou ser pai! (gritando pela porta da loja) Eu vou ser pai!!! Hoje é o dia mais
feliz da minha vida!!!!!!!! Eu quero tomar banho de mar.
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Personagens
(Mariano e Elisa num banco de praça, beijando-se descontroladamente. Muito desejo. Elisa, de
supetão, afasta o noivo e confessa)
Mariano: (ainda tonto de desejo) Daqui a pouco, vem cá vem. (avança no beijo)
Elisa: É sério.
Elisa: Saía hoje o resultado do pra Justiça Federal, não é? (maravilhada) Já pensou: Você, na
Justiça Federal!
Elisa: Não é isso... (sem jeito) Você sabe como é importante pra mim, não sabe?
Mariano: Pra mim também é, mas nem por isso fico tocando no assunto todo santo dia.
Elisa: Combinou sim, eu sei, mas até quando, Mariano? Até quando eu vou ter que esperar?
Mariano: ( já de ovo virado) Foi você que quis assim. Por mim a gente casava ontem. Mas
mania. Não tira essa idéia da cabeça.
Mariano: Se todo mundo enfiar na cuca que só casa se passar num concurso público_ igreja só
vai servir pra batizado e enterro. Se você não está disposta a largar o bem e bom pra ficar
comigo, eu não posso fazer mais nada.
Elisa: (manhosa) Não fala assim. É que eu tenho medo. A minha pensão é pouca, mas é
garantida. De fome não morro. Isola! Agora, se eu me caso contigo: eu perco. Daí, se você não
tem um emprego certo, a gente se lasca! Eu me recuso a ter que comer o pão que o diabo
amassou, ouviu? Me recuso!
Mariano: (riso amargo) Então faz você um concurso público. Você vira arrimo de família e fica
tudo certo. Hoje em dia é mais que normal mulher sustentar marido.
Elisa: As suas nêgas! Pode tirando o cavalinho da chuva. O pai do meu filho não vai ser um
vagabundo desempregado!
Mariano: Sempre se dá um jeito. Num país em que todo mundo quer ser patrão, o que não
falta é empregado.
Elisa: Assim eu não caso... Nem adianta. Não quero ver o nosso amor sendo triturado sem
choro nem vela, por conta de um prato de comida. Não quero ir pra fila do posto de saúde, de
madrugada, pegar número pra ser atendida 12 horas depois. Não quero, Mariano, não quero!
Olha, (mostra o braço nu) fico toda arrepiada só em pensar em ver o meu filho com uniforme
de escola Estadual, enchendo a barriga de merenda pública, pra não dar prejuízo em casa! Ai!
Que horror! Não gosto nem de pensar! Assim eu não caso!
Mariano: Mas eu já te disse, a gente se junta, e você não perde sua pensão. Amigado com fé,
casado é.
Elisa: ( olha com desdém) Capaz. Depois você paga o enterro da minha mãe. Porque ela vai
morrer, né? Vai ter um troço. Cair preta e dura se eu chegar com uma notícia dessas em casa.
Mariano: (sem saco) Pelo amor de Deus... Sua mãe vive em que mundo?
Mariano: (grunhido. Levanta-se e chuta o nada, pra segurar a raiva. Amargo) Sabe o que me dá
mais raiva, Elisa? É você pensar que é fácil passar numa merda dessas! A vontade que tenho é
de mandar tudo pro inferno e deixar de ser palhaço.
Mariano: E eu não me esforço, Elisa? Diz pra mim? Eu não me esforço? Faço das tripas coração
pra conseguir passar numa prova! Estudo feito condenado, não faço nem metade das coisas
que meus amigos fazem, pra ficar com a fuça enfiada nos livros e eu não me esforço o
suficiente?
Mariano: (risada surpresa) Você quer que eu não faça mais nada além de estudar.
Elisa: Em partes.
Mariano: Em partes?
Mariano: Elisa, se eu não te vejo com tanta freqüência, é porque você mesma exigiu que eu
ficasse em casa estudando no lugar de sair contigo.
Elisa: Muito bem, foi como você mesmo acabou de dizer: EU abri mão de passar mais tempo
contigo, para que VOCÊ ficasse em casa ESTUDANDO.
(Mariano interrogativo.)
(tempo)
Mariano: (sentido) Que isso Elisa? Minha avó é como se fosse minha mãe. Me criou desde
pequeno, sem soltar um ai.
Mariano: Natural. Existem limites pra pessoas na idade dela, ela precisa da minha ajuda.
Mariano: Ingênuo...
Elisa: Eu adoro a sua avó. Amo de paixão. Não quero que você pense que eu vá separá-la de
você, pelo contrário. Eu a admiro muito. Ela cuidou de você com todo o afeto e juízo que uma
criança deve ser cuidada. Sua mãe não faria melhor, se fosse viva.
Elisa: Daí que uma pessoa velha se sente muito só e começa a inventar coisas pra chamar
atenção. E com isso ela acaba te desviando dos seus estudos, mesmo que sem querer.
(ardilosa) Talvez seja o caso de pagarmos uma pessoa para cuidar dela, alguém que ficasse a
total disposição. Que fizesse companhia. Um profissional mesmo. Ou até mesmo... Ou até
mesmo, não sei (sugere vã, com a eloqüência dos demônios) colocá-la num lugar mais
adequado, com mais infra-estrutura. Tem um lugar ótimo que eu vi numa revista noutro dia,
assim, por acaso, que eu até achei nem muito caro e...
Mariano: To de queixo caído. Olha a quantidade de besteira que você acabou de dizer...
Mariano: (fraco, boquiaberto) Elisa, não é possível que você pense dessa maneira...
Elisa: Não é horror, Mariano, é praticidade. Quando eu falei que não ia separar vocês, eu
queria dizer no sentido afetivo, porque é impossível dividir uma casa com a sua avó. Você vai
me desculpar. Mas eu quero ter liberdade. Quem casa, quer casa. Esse negócio de enfurnar
parente, não dá certo.
Mariano: Horror.
(silencio. Clima)
Elisa: ( contundente) Não é Horror. Ela está velha. Isso é um fato. Sabe que você precisa
construir sua própria família, na qual ela NÃO está inclusa. Ela não quer te perder. Só que não
percebe que atrapalhando os seus estudos, ela só te prejudica ainda mais. Ela precisa perceber
que está atrapalhando. E uma enfermeira, pra ajudá-la ou até mesmo um asilo, não tem nada
de tão horroroso assim.
Mariano: ( saturado, não acredita no que acabou de ouvir) Chega...... Olha, eu vou pra casa. Eu
não quero mais esse papo.
Elisa: Que isso? Você vai sair andando e me deixar aqui falando sozinha? É isso mesmo?
Mariano: Hoje, você perdeu suas estribeiras! E pra eu não ficar aqui e correr o risco de perder
as minhas, prefiro ir embora. (vai saindo)
Elisa: O seu mal, Mariano, é que você não encara a vida de frente. Você está empurrando o
nosso noivado com a barriga. Quer vencer no cansaço! Mas eu não caso, ouviu, eu não caso
sem seu nome sair na folha dirigida!
Mariano: Paciência!
Elisa: Você está muito enganado, ouviu? Muito enganado se pensa que eu vou ficar esperando
eternamente até você ser concursado.
Mariano: Prazo? Você quer mesmo um marido? Está me parecendo mais interessada num
empregado.
Elisa: Eu quero um marido com ambição! Eu não quero me casar com um estorvo fracassado.
Tá Cheio de gente nessa porcaria de país que no lugar de querer o inteiro, se satisfaz com a
porcaria da metade! E com essa mentalidade colonizada, você não passa nem em concurso pra
mico de circo!
Mariano: Pois é isso mesmo que eu deveria ser: Mico de circo! (ironia violenta) Esse foi o único
concurso que eu ainda não fiz e talvez seja a minha verdadeira vocação. Virar mico de circo!
Assim, banana, não vai faltar na nossa mesa! (imita um macaco) Yes! Nós teremos banana!
(tira um jornal de sua bolsa e joga na cara da noiva. Lamenta.) Você tem o dom de estragar
tudo. (Sai.)
Elisa: ( puta da cara, sem olhar o jornal) Volta aqui, Mariano! Eu não vou falar duas vezes!
Volta aqui! Mariano! Volta aqui!!! Mariano eu vou contar: 1... Eu vou contar: 2... Mariano!!! ( o
noivo já está longe. Despenca no banco, vencida. Pega o jornal, ainda muito irritada e abre. É a
folha dirigida, na página central um círculo feito de caneta bic, evidenciando o nome do noivo:
Mariano, aprovado como funcionário público. Ela fica levemente tonta. Sussurra sem ar,
coração na boca) Funcionário público... (agarra o jornal contra o peito e corre para alcançar o
noivo. No alvoroço da emoção, não percebe que o sinal abriu e leva uma trombada de um
ônibus. Pára no outro lado da rua, cabeça ensangüentada. Em pouco segundos, uma roda de
curiosos se abre ao redor dela. Sua visão está turva, respira mal, não sente as pernas. Com as
unhas tingidas de sangue_ cravadas no jornal_ ainda sorri, emocionada. Uma lágrima
escorrendo dos olhos. Sussurra ) Meu noivo é funcionário público... (morre agarrada ao jornal.)
Fim
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“Veneno colorido”
URCA
Personagens
Vilma: apática.
(mobília simples, tudo muito enfeitado com bibelôs e retratos emoldurados pelas paredes.
Simpático: a estampa da cortina combina com os motivos florais do conjuntinho da Dona
Ângela. Acabaram de jantar_ seu Lilico com queixo afundado entre os ombros, prostrado em
sua poltrona carmim, Vilma e Tiago de mãos dadas no sofá. Dona Ângela rompe a cena, com
uma garrafa de licor na mão)
D. Ângela: (risonha como um porquinho. Indica no rótulo)23 anos! Errei por um! Mas eu sabia
que era por aí! Só não fazia idéia de tanto... 23 anos! Dá uma pena...
D. Ângela: Não esquenta a cabeça. É pra isso mesmo que serve. (enquanto abre a cristaleira
retirando os cálices)Mais velho que você, Vilminha! Nem era nascida!
Tiago: A gente pode guardar pra beber depois, se a senhora preferir, não precisa ser agora.
D. Ângela: 23 anos! Eu tenho muito cuidado com as minhas coisas. Acredita que tenho até hoje
minha primeira boneca? Na caixa! Ninguém diz. Lilico queria porque queria que eu desse a
Vilminha quando ela nasceu. (desdém) Capaz. Vilminha tem mão de ferro. Não ia durar uma
semana. (quase chora emocionada olhando a garrafa)23 anos! Uma vida. Uma-vida!
Tiago: (recorre à noiva) Diz a ela que não precisa se não quiser.
D. Ângela: (digna) Eu quero. Tem cabimento? Só estava guardado porque até hoje não havia
surgido um motivo apropriado pra abrir. Mas agora há. E eu nem sei se está prestando, pois :
bom de guardar é vinho...Não é Lilico? Héin. Lilico. Bom de guardar é vinho, né? Licor, nunca
ouvi falar. Se bem que esse aqui veio do exterior, lembrança do irmão de Lilico. Vilminha,
minha filha, você não era nem nascida!Ih! Nem sonhava! Se eu deixasse, Lilico entornava tudo
em dois tempos. Mas eu disse que era pra abrir só num dia especial... (num suspiro triste)23
anos...
D. Ângela: Tudo bem, Tiago. São 23 anos! (sorri débil) Olha,(pega nas mãos do rapaz)São mãos
de cirurgião... (beija) Não é pra ficar abrindo garrafa velha.
D. Angela: (muito emocionada) Eu fico muito feliz com o noivado de vocês. Faço muito gosto!
A Vilminha se casando com um doutor! Parece sonho! Um médico na família. Me belisca,
Lilico!
Vilma: Tiago não é médico. É dentista.
D. Angela: Ah! E dentista não é médico? Mais médico impossível. Dentista é o maior médico
que existe, eu acho. Tirando o cardiologista, que também tem muita importância. (orgulhosa
com os olhos marejados) Um doutor! Minha filha vai se casar com um doutor!
(silêncio)
Seu Lilico: Isso aqui nâo é carnaval. (tempo) Você sabe disso, não sabe?
Seu Lilico: A honestidade é o maior bem que um homem possui. Não tem coisa no mundo
maior que a honestidade. Mais vale um pobre honesto que um picareta marajá. Assina
embaixo?
Tiago: Sim senhor.
Seu Lilico: (fixo nos olhos do rapaz) Recebemos você aqui de portas abertas, com direito a
pudim de leite... Não é verdade?
D. Ângela: Lilico!
Lilico: Então eu quero que seja honesto comigo e com minha filha.
D. Ângela: Lilico...
Lilico: Fica na sua, Ângela. Fica na sua. (ao rapaz) Vai ser honesto comigo e com minha filha?
Lilico: É um bagulho sim, minha filha e você sabe disso. Digo isso porque sou seu pai e tenho
propriedade. Eu nunca a amaria se não fosse minha filha. Um homem tem todo o direito de ser
feio. Se aceita, se arruma. Quando ve: já está casado. Com mulher é diferente. Mulher não
pode ser feia. Tem que se aproveitar alguma coisa, se não a cara , o corpo. Se nada presta, vira
jogral em boca de vagabundo, todo mundo se serve, mas ninguém leva pro altar. Se alguém se
interessa em se casar com uma mulher feia é porque quer se servir de outra coisa.
Tiago: Eu amo a Vilma, e pra mim ela é perfeita como é, sem tirar nem por.
Lilico: (treme a boca) Qual é o mistério? Vilma é o catiço, medo e delírio na terra do sol. Além
de tudo não tem onde cair morta. Você tem jeito de afeminado , mas é boa pinta, tem casa
própria, pode arrumar partido melhor. Por que minha filha?
Lilico: Uma ova! (levanta da poltrona exaltado) Seja honesto rapaz! A mim você não engana.
Não engana!
(D. Ângela segura o marido)
Lilico: Você é mulher , Ângela, não tem partido nisso. Mulher é uma outra história! Eu quero
ver esse calhorda olhar nos meus olhos e dizer que ama uma mulher feia como a nossa filha.
D. Ângela: Fixação!
Lilico: Um homem deve ser honesto à cima de qualquer coisa. Ouviu? Se chegasse aqui e me
dissesse que havia se encantado com a feiura da minha filha, eu até poderia tentar acreditar.
Tentar! Tem gente que gosta. Fazer o que? Mas ignorar total e sumariamente essa carranca
animalesca, isso pra mim já é demais. Pra mim a pior coisa no mundo é a mentira! Minha filha
se casa com um Percevejo! , mas não se casa com um mentiroso!
Lilico: Um homem que mente, pra mim não passa de um esgoto! Se não me disser o que
acontece aqui, eu te expulso da minha casa à base de tapona! Sou muito capaz! (avança no
colarinho do rapaz, sacudindo descontroladamente) Me responda!! Fala, patife!
Lilico: O que você quer da minha filha? O que você quer da minha filha? Fala ou eu te quebro a
cara! Seja homem! Fala: O que você quer da minha filha????????
Vilma: (fria como uma viúva cansada) Os dentes.
(silêncio litúrgico)
Vilma: (do sofá, sem mover um músculo) Ele quer meus dentes. Eu disse a ele que se casasse
comigo eu lhe daria meus dentes como presente. Um dote. Poderia arrancar com as próprias
mãos. Sem anestesia. Um por um. Ele topou. Chorou feito criança. Nunca, nenhuma mulher no
mundo seria capaz de coisa semelhante por ele. Me amou verdadeiramente desde então.
(sorri numa profundidade triste)
(Silêncio)
(Seu Lilico, estupefato, despenca em sua poltrona carmim, enquanto D. Ângela guarda o licor:
colorido como um veneno.)
Fim.
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“Maçã do amor”
IPANEMA
Personagens:
Rosane: No quarto.
(sem resposta)
(sem resposta)
Breno: Estaremos aqui antes de meia noite. Honrarei com a confiança que o senhor depositou
em mim.
(sem resposta)
(sem resposta)
Breno: Eu gosto dela... E por isso muito a respeito. Não pretendo apressar as coisas entre nós...
(sem resposta)
(sem resposta)
Breno: Eu me orgulharia... Não que o senhor não se orgulhe, não é isso que eu quero dizer...
Eu também me orgulharia em ter um pai como o senhor. Sem dúvidas. Me orgulharia muito.
Muito mesmo. Porque daí eu seria uma moça assim... Como a Rosane... Não que eu queira ser
uma moça, não! É que a Rosane.... Enfim... Ela é uma moça tão... Tão... Educada.
(sem resposta)
(sem resposta)
Breno: Ampla...
(sem resposta)
(sem resposta)
Breno: (constrangido) Não que pareça pequena... Não é isso... É que não parece tão grande...
De fora... Mas de dentro... É diferente...
(sem resposta)
Dona Deise: (com uma bandeja e um copo) Um refresco de tangerina. Gosta, Breno?
Breno: 17.
Dona Deise: Hum... Lástima, eu poderia misturar com gin, mas na sua idade...
Dona Deise: Osvaldo te importunou muito com seu fatigante ponto de vista a respeito das
coisas?
(Osvaldo em silêncio)
Dona Deise: Rosane está no quarto. Passou a semana toda se cuidando pra ficar bem bonita...
Breno: Impossível... (percebendo a mancada) Quer dizer, impossível ela ficar mais bonita do
que já é...
Breno: (se servindo) Acabava de falar com seu Osvaldo o quanto a Rosane é especial. Um
biscoito fino.
Breno: (paralisado sem entender) A casa é diferente... Ampla... Eu já disse ampla? (ri sem
graça) Mas é mesmo. Muito ampla...
Dona Deise: (bem próxima ao rosto do rapaz, sentindo o vapor de sua respiração)
Breno: (tenso com a audácia da mulher frente ao marido) Eu achei bem... Bem... Como se
diz...? É... Bem...
Breno: O que?
Dona Deise: (bem próxima) Tem uma espinha aqui, na pontinha do seu nariz...
Breno: Sério?
Dona Deise: (sinuosa) Deixa... Marcas são provas extremas da frivolidade viva dos nossos
dias... Não vai doer... Deixa...
Dona Deise: (debruça delicadamente suas unhas azuis na ponta do nariz do rapaz. Espreme a
espinha. Limpa a sujeira com seu lencinho bordô, retirado do decote) Viu? Nem doeu...
Breno: Mas já são dez para as nove... Daqui a pouco não chegamos a tempo...
Breno: (desconcertado) Ah... Não sei... A tempo de... Dançar... Beber... Um pouco... Beber só
um pouco...
Dona Deise: Ora, não seja por isso... Façamos uma prévia do baile por aqui...
Breno: Oi?
Dona Deise: (colocando um disco na vitrola) Podemos dançar um pouco... Faz um tempo que
não danço... Osvaldo não gosta... Osvaldo não gosta de nada...
Dona Deise: (dançando enquanto fuma.) Nunca é um mau momento para dançar... Dançar é
divino, celestial... Os anjos dançam o tempo inteiro enquanto os homens dizem amém! Vem...
(puxa o rapaz que se vê compelido a dançar)
Dona Deise: (dançando colada ao rapaz) Rosane aprendeu a dançar comigo, sabia? Eu sou uma
boa professora...
Breno: Ela está demorando tanto, não seria melhor a senhora ir chamá-la?
Dona Deise: Não sei se Rosane é uma boa aluna... Ensinei tudo de perto... Dei boas aulas de
conduta e a importante capacidade de ser superior às coisas pequenas que nos magoam
tanto...
Dona Deise: Rosane é ruim de aprender as coisas... Entra num ouvido e sai no outro... Eu
também falei da pontualidade e da importante capacidade de superar pequenos obstáculos da
vida... Você poderia me dizer...
Dona Deise: Nas coisas práticas da vida... Ela fez jus às boas aulas que dei?
Dona Deise: (sofrida) Me sinto tão fracassada... Me sinto tão frustrada com tudo isso, me
perguntando onde foi que eu errei...sabe?
Breno: Deise?
Dona Deise: Era um nome de uma personagem trágica num conto de inverno...
Breno: De Quem?
Dona Deise: Não. Rosane, a minha filha, dentro do quarto, se enforcou hoje às cinco e meia.
Dona Deise: (chora) Eu não fui uma boa professora, Breno... Eu fracassei...Me perdoa, ela não
vai ao baile com você.
Breno: Rosane... Rosane...
Dona Deise: (chorando, corroída pela dor) Eu não fui uma boa professora, Breno... Me
perdoa!!!!!
Dona Deise: (possessa de forma animalesca, bradando frente ao marido) A culpa foi sua,
Osvaldo! A culpa foi sua!!!!! Eu odeio você! Eu odeio você!!!!
Dona Deise: (na sinceridade de sua dor de mãe. Possuída pelo ódio) Eu odeio você, Osvaldo!
Eu odeio você!!!!! Eu odeio você!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(na vitrola o disco rodando furioso, em alto volume, embalando o cadáver de Rosane, que
como um pêndulo, dança no ar, vestida de debutante.)
Fim.
“ A cegueira do gato”
LEBLON
Personagens:
Eram uma ternurinha os dois, estavam prestes a se casar, mas, no entanto era a primeira vez
que conheceria alguém de sua família.
Leila: Ela gosta muito de você e você dela. E se não me aprovar como cunhada? Não quero
nem pensar... Nunca que vou me colocar entre vocês , nunca, ouviu? Nunca!
Sávio: Meu doce, não precisa disso. Bianca vai adorar você.
Leila: Mas foi você mesmo que disse que ela implica com tudo que é namorada sua.
Sávio: Pirraça. Depois que nossos pais morreram, ficamos sozinhos e eu virei uma espécie de
monte cristo pra ela. Mas fique tranqüila, ela é um amor.
Sávio: Escuta, aconteça o que acontecer, eu juro que você será a minha escolhida.
Sávio: Aconteça o que acontecer, gostando ou não gostando, eu fico contigo a qualquer preço.
Tinha verdadeira devoção pela jovem. Parecia que pela primeira vez se envolvia a fundo com
alguém.
Conhecera Leila numa batida de carro, quando ele salvava a vida de um cão. Assim, comovida
pela atitude corajosa do rapaz, não se largaram desde então.
Bianca: Como é bonita. Tem cara de boneca! É bem magra... O Sávio fala muito de você! Fisgou
o coração dele. Já estava na hora! Você faz lembrar aquela artista... Como é mesmo? Aquela
com luvas até aqui? Como é mesmo o nome dela, Sávio? Alguma coisa com M... Tá na ponta
da língua... Ela se jogava numa fonte... Ai, Sávio, lembra!
Bianca: É a mais bonita de todas, Sávio. Disparado! A mais bonita. Sávio, vez e outra, traz uns
buchos que doem! Sávio não é nenhum galã de novela, mas é um homem decente e
trabalhador, merece uma mocinha bonita como você. Assim, desse jeitinho. Lembra da Emily?
Era isso? Emily?
Sávio: Evelyn.
Bianca: Isso, Evelyn. Lembra da Evelyn, Sávio? Uma coisa horrorosa, uma cara de camelo. Um
bico... Horrorosa. Graças a deus Sávio logo desencantou. Evelyn tinha umas orelhas de
abano... Fazia lembrar aquela fita... Como é mesmo? A do elefante! Ela parecia com aquele
elefante orelhudo!!!!
(caem na risadaria)
Sávio: Acredita que ela estava nervosa, achava que você não iria gostar dela! Veja só!
Bianca: Imagina, Leila. Uma moça tão educada. Senti logo de cara. Meu santo bateu com o
seu!
Bianca: Leila?
Bianca: Hum...É uma pena. Acho bonito, viu? Mulher fumando... Acho lindo. Se for loura
então, um luxo. Fica mais parecida ainda com uma estrela de cinema. Você iria ficar linda
fumando.
Bianca: Sávio, porque você não vai buscar um pouco de gelo pra mim, meu anjo? Pode? Tem
bacardi. A gente mistura com laranja, fica ótimo.
Bianca: Quer comer alguma coisa? Tem biscoito de chocolate... (sorri maternal)
Binca: Então traz um Bacardi com laranja pra mim, Sávio. Com muito gelo.
Sávio sai para cozinha, deixando as duas moças a sós.
Leila: Amo. E farei de tudo para torná-lo o homem mais feliz do mundo.
Bianca: Vejo sinceridade em seu olhar. Fico tranqüila. Gostei muito de você.
Leila: Obrigada.
Leila: Gosto.
Leila: Bem... Na verdade o meu grande sonho era ser veterinária... Minha família insistiu em
arquitetura... Fez um inferno. Acabei cedendo e acho que essa é única infelicidade que tenho.
Desde pequena sou louca por animais. Não me interessa qual! Não posso ver um bichinho na
rua que já quero levar pra casa! Quando vi Sávio salvando um cachorro de um atropelamento,
tive a certeza de que era o homem com quem eu deveria me casar. Acredito, de verdade, que
quem não gosta de animais, não deve valer um centavo.
Leila: Então, agora a pouco, quase tive um negócio quando a vi matando um mosquito!
Bianca: Sério?
Leila: De verdade. O pobre bicho não teve nem a escolha de fugir. Foi trucidado. Mas não te
condeno, por favor, não me leve a mal. Sei que por muitas vezes agimos inconscientemente e
partimos para esse tipo de violência espontânea.
Bianca: ( rindo) Não, meu anjo, eu é que peço Desculpas... Um amor, você realmente é um
amor! .
Leila: Então?
Bianca: Você não vai acreditar!!!! Apaguei um cigarro aceso na vista de um gato uns quinze
dias atrás. (de uma crueldade satânica) O animal ficou cego. Birutinha! (rindo) Você precisava
ver! Você iria ter um enfarte! (rindo) Aquela criaturinha malhada e cega, se debatendo pelos
cantos... (rindo) Desse tamaninho, ele era desse tamaninho...
(Bianca é dominada por Leila, que apaga em seus olhos azuis a brasa quente do cigarro.)
(Larga a cunhada cega, enchendo o edifício com seus gritos animalescos. Sávio ressurge
correndo, impressionado com tal aberração. Leila, na poltrona, espera_ de braços cruzados,
sem remorso. )
Leila: Bacardi com laranja, acho que ela não vai querer tomar.
Fim.
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