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De Jô Bilac
Amanda
Segunda feira. Acordei. Demorei quase vinte segundos até reparar que havia perdido
completamente a minha audição.
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Silêncio total.
Nem um pio.
Nada.
Assim como uma série de outras inutlidades sonoras, que só ponderei seu exílio da minha
casa, por conta de Emilyn que me visitaria naquela tarde e eu não estava disposta a levantar
suspeitas a respeito da minha surdez repentna.
Emilyn é querida e atenciosa. Mas, vale ressaltar, tem a terrível mania de se meter naquilo
que, defnitvamente, não lhe diz respeito. Me faria mil perguntas que eu não estaria disposta
ou nem saberia responder,
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Me contaria alguns casos distantes de moléstas
similares ou se colocaria a chorar compulsivamente, manchando com suas lágrimas histéricas
o forro do meu sofá.
Diria que a culpada é a minha mãe, que sempre se sentu culpada por me culpar pela culpa
cristã que herdei de sua culpa terceirizada.
Ou a grande culpada mesmo é a gordura trans consumida sem receio, que apesar de não ter
nada a ver com a história, é sempre a assassina no fnal.
Não. Achei que não era uma boa idéia fazer com que Emelyn descobrisse o meu estado
interessante.
Então, Emelyn tem uma língua que não cabe na boca e... não sei.... Fiquei com preguiça.
Televisão ok. Geladeira ok. Livrinho de cabeceira ok. Chaves ok. Tomate ok. Alicate ok.
Mertolate ok. Cutcula ok. Papada ok. Peixe no aquário ok. Casaco pendurado na porta ok.
Conta de gás ok. Lâmpada do banheiro ok. Roupa branca separada da vermelha ok. CPF ok.
Duas xícaras de açúcar e uma de leite ok. A grama do vizinho é sempre mais verde que a sua
ok. A Europa está cada vez mais cara ok. Devolver os flmes antes da sexta ok. Rodízio de carro
na quinta ok. Almofada ok. Porta retrato ok. Janela aberta ok. Teto ok. Chão ok. Tudo ok. Tudo
tudo tudo tudo tudo tudo tudo.
Ok.
Mas agora...
Mas de memória só lembro dos mais óbvios. E acho que nem é o caso.
Picasso, Vangogh ou Matsse, não inspiram nada por aqui. Não... Essa paisagem sem som tem
cores que não se usam mais. Mas que tem lá seu charme. Porque sim, julgo que charme e boa
educação são fundamentais em um bom convívio social.
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O silêncio externo amplifcava o volume dos meus pensamentos e apesar de não ser mais
capaz de ouvir o som da minha própria voz, ela estava dentro da minha cabeça em alto e bom
som. Muito clara e absoluta. Confesso que num dado momento, fquei em duvida se era
mesmo aquele o tom da minha voz, uma vez que _ antes_ eu nunca havia reparado ou me
fxado em tal análise sonora.
Os pensamentos são meus, assim como a minha cabeça ruiva. No entanto a voz... Bem, não
posso dizer afrmadamente (com compromisso da verdade) , que a voz seja minha.
Ao menos é uma voz agradável. E já que estamos juntas - até não sei quando exatamente-
temos ao menos isso a nosso favor. A empata. Me simpatzei com ela, não sei se
necessariamente ela comigo.
Lúcio. O meu marido. Comissário. Viaja muito. Eu sozinha. Sem emprego. Estrangeira. Emilyn
amiga. Desocupada. Visita diária. Quatro da tarde. Mil novidades. “ Eu eu eu.” Etc etc. Já deu
pra entender, né?
Fiz um breve ensaio pra receber Emilyn sem denunciar a minha defciência. Eu queria ter
certeza da sua origem antes de torná-la pública. Portanto, até ali, eu me limitaria a
representar. ( O que de certa forma, eu fazia muito bem)
Olá.
Tudo ótmo.
As de sempre...
Que maravilha.
Coisa boa.
Exatamente.
Com certeza.
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Que lástma.
Não me diga...
Fantástco.
Mentra!
Ai Emilyn!
Que bobagem...
Vá em frente!
Ela fala...
Fala...
Fala fala fala fala fala fala fala fala fala fala fala fala (meu deus, como fala!) e fala e fala e fala e
fala e fala e respira e bebe um copo d’água e vai ao banheiro e bebe café e belisca um
negocinho e volta a falar falar falar falar falar falar (to cansada)ai... fala aí...
O maior inconveniente seria adivinhar o momento exato de sua chegada. Ela vem sempre por
volta das quatro. Então me coloquei no olho mágico e fquei grudada ali, esperando...
Ela chegou. Bebeu café. Sorriu. E falou por mais ou menos três horas seguidas.
Eu fquei ali.
O que não era tão novo pra mim assim, pra falar a verdade. Afnal de contas nunca ouvi de fato
o que a Emilyn dizia. Com o passar dos dias ela havia se tornado repettva e eu me limitava a
fcar ali, com as minhas interjeições entre uma pausa e outra. Mas agora, surda, já não contava
mais com a sonoridade de sua voz estridente que eu me acostumei e (juro!) e até me apeguei
como um mantra privado . Embora eu não prestasse atenção em nada, havia a musicalidade
dentro daquele som desconexo: haudhuidhbx hhwewejxmexj hehehhxhn’ o mcnhbdv
fwexq5rqop.
O silêncio me obrigava a estar fxa em Emilyn. E eu estve. Sem mantra que me enviasse para
algum lugar do planeta. Fixa em cada gesto. Expressão. Imaginando as suas peripécias
rocambolescas, que não se cansava de contar. Nunca estve tão atenta antes.
Me lembrei do dia em que vi um gato no meio da rua, morrendo. Ele se debata no asfalto,
depois do impacto de um carro. Ficava assim, com uma expressão muda. Convulsa. Querendo
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entender. Eu observei, é claro, o gato morrer. Foi coisa de cinco segundos. Sua boca
entreaberta, como se quisesse emitr alguma coisa, um grito talvez. Seus olhos
desequilibrados no rosto, escorregando de um lado para o outro a procura de um ponto fxo. O
pescoço deslocado, fazendo da cabeça um pêndulo pesado, coagulando. As patas em
espasmos que se desfaziam sem pressa, numa dormência cheia de angústa. Aquele corpo se
debata lentamente, se agarrando nos cinco segundos que lhe restavam. (1.2.3.4.5.) Logo
depois, já não havia mais nada ali. Era só um gato morto. Inerte. Vazio de qualquer sentdo.
Emilyn era um gato agonizante. Com a boca entreaberta. A procura de um ponto fxo.
Lucio chegou de viagem e como costuma fazer, me acordou com um beijo de língua. Foi
nesse exato momento que percebi que eu havia perdido totalmente o meu paladar.
Estou em análise.
Havia passado uma semana tranqüila, sem me exceder, esperando que um dia, ao acordar, a
minha audição voltasse ao seu lugar de origem. Refz meus passos, revi a minha alimentação.
Mas contnuei surda, agora com o acréscimo da falta de gosto em minha boca.
Eu não quis alarmá-lo. Havia chegado a pouco de uma viagem muito cansatva por todo
mediterrâneo e merecia um descanso sem que o peso dos meus dias tombasse em sua
cabecinha loura.
Tomamos o café da manhã juntos. Eu me saio muito bem fngindo ouvir o que ele diz. Porque
talvez de fato eu o esteja ouvindo. Por outras vias. Mas estou. Ouço Lucio sem som. Talvez seja
difcil de entender o que acabei de dizer, mas é a mais pura verdade. O que tem em minha
frente é um conjunto. Um conjunto de sorrisos e olhares. Lindo. Lucio é lindo... Tem uma
covinha, aqui. E a leitura que faço desse conjunto, me vem como um som. E o reconhecimento
é tão imediato que sou capaz até de perceber se achou o café amargo ou fraco.
Mas não me oponho. Lucio sugere em minha boca um mundo de sabores que fco imaginando
e imaginar é tão ilimitado quanto a tudo o que eu possa supor... Por conta disso meu café da
manhã foi redimensionado. Multplicou-se como num caleidoscópio paladínico e a geléia que
escorre entre meus dentes agora, ganha possibilidades...
Ao que parece, o esforço que fz em parecer profundamente atenta aos assuntos que me
cercaram na últma semana, fez de mim uma fgurinha extremamente sociável e simpátca.
Notei, com certa curiosidade, uma diferença brutal na receptvidade dos amigos de Lucio.
Emilyn estava por lá e me deu um abraço tão forte, que por alguns segundos pensei que havia
deslocado a minha coluna! Ela estava mais exultante do que nunca e com os olhos marejados,
me passou secretamente um bilhete durante o almoço. De maneira discreta, li o escrito:
“ Nossas conversas tem sido esclarecedoras e determinantes. Me fazem refetr sobre o rumo
que tenho tomado da minha vida e as escolhas que tenho feito. Suas palavras me enchem de
ânimo . Fico feliz em poder contar com uma amiga tão querida em momentos tão difceis. Peço
somente que não comente nada com Lucio. Você é adorável.”
Do outro lado da mesa, ela me sorriu. Eu sorri de volta. O que mais poderia fazer, uma vez que
não fazia idéia do que poderia estar dizendo>
A minha defciência fazia com que eu sorrisse o tempo todo. Pontuei meus dias com sorrisos.
Descobri numa ação simples ( sorrir), uma arma potente para uma comunicação infalível.
E assim, passei a comer, provar, mastgar, beber, beijar, degustar, saborear, experimentar,
ruminar, solver, lamber, chupar, morder...
Assim....
Sério!
Eu não simulava mais nada. O sorriso vinha como resposta imediata da minha expressão bucal.
E olhal também. Não sei se existe essa palavra: olhal. Mas é que não sorrio só com a boca, mas
com os olhos principalmente, em variações distntas é claro, mas meu rosto sorri todo. O rosto
de qualquer pessoa sorri todo. Mas tenho a impressão de que o meu sorri mais. Não sei
exatamente por que.
Perdi o fo da meada...
Ah, sim!
Fiquei mexida com o bilhete de Emilyn. Adorável. Eu havia me tornado, de uma hora pra outra
(num curto espaço temporal) uma pessoa adorável. Não que eu tenha sido abjeta antes,
aborrecível, ignóbil, chata mesmo. Não. Sempre fui muito interessante dentro das minhas
boas maneiras e previsibilidade. Mas agora eu havia me tornado adorável.
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Adorável.
Eu sou Adorável.
O que não me isentou de na semana seguinte perder por completo o meu olfato.
A dinâmica é essa?
A troco de que?
Tentei.
O choro nada.
O Choro nada!
E uma dor aqui dentro, um bolo disforme, crescendo em meu peito, tornando a minha
respiração pesada e dolorosa.
E o choro: nada.
Escorreu com difculdade. Uma laranja seca para improvável suco. Falo dos meus olhos. Duas
laranjas secas. Não. Dois bagaços chupados sem sumo algum.
Abandonei a idéia de procurar um médico, pois cada vez menos desejava saber se era uma
doença ou que doença era.
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Adquiri o habito de comer sabonete (quando ainda podia sentr o cheiro das coisas). Dei para
comer aquilo que tomava por atraente o aroma. Mastgar sabonete foi uma das sensações
mais indescritveis que já sent...Mastgava por horas... Não engolia, é claro, pois não sou boba
nem nada. Só mastgava como um chiclete. Assim. Com a boca aberta. Mas agora................
Vontade de chorar que não
passa................................................................................................................................................
Nunca pensei que fosse sentr tanta falta do sabonete. Das coisas todas.
Com todo o pavor que isso possa trazer e toda beleza também porque a vida é cheia de beleza
e eu aqui com vontade de chorar ás vezes por emoção mesmo ou por essa sede que não pára
não paro de sentr sede e isso me assusta tanto e me apaixona tanto porque a paixão vem
num susto quando menos esperamos e eu não sinto mais o cheiro do cabelo do meu marido e
nem o seu hálito cheio de pasta de dente ou sua colônia ordinária ou a acetona que uso para
remover meu esmalte ou a bochecha carnuda de um neném ou a maresia enjoatva e
inebriante que invade a minha sala e daí volta a vontade de chorar agora não de emoção
embora o choro seja uma faceta indiscreta disso mas meu choro é metdo a besta e deixa ele
ser do jeito que ele quiser ser e deixa as pessoas serem como elas querem ser mesmo fngindo
porque não deixo de amá-las pois são lindas como são e mesmo se assim não forem contnuo
amando seus sorrisos ou suas caras de desagrado que me agradam cada vez mais e eu seria
boba se não as amasse porque só amor justfca essa loucura que é a vida que se apresenta de
forma tão abrupta e por muitas vezes tão cruel e eu sou uma mulher tranqüila e
emocionalmente disponível e mesmo tendo perdido o tato na semana seguinte contnuei
íntegra e sorridente pois sei endurecer sem perder a doçura não sei se é exatamente isso mas
estou certa de que existe uma razão para você ser assim e eu assado e ela do outro jeito e eles
etc não quero falar mais disso a vontade de chorar vira e mexe volta e agora com a falta de
tato não percebo o que escorre dos meus olhos e se começar a chorar aqui de repente vai
manchar tudo e eu vou fcar horrível e só vou notar quando já estver atravessado toda a
avenida com cara de palhaça e fcar assim rindo com a cara borrada abraçando meus amigos
que deixei de ver a muito tempo não sei porque mas isso agora nem faz diferença pois a cada
encontro os aperto como se pudesse dissolve-los em meus braços de tão forte o abraço e de
tão forte que quero sent-los de tão forte que tudo isso me toma de tão forte que meus
sentmentos me inundam de tão forte que essa dor no meu peito explode como uma napalme
nuclear de tão afetuosa e de tão querendo e de tão absoluta e essa loucura que é o amor e o
ano novo e a vontade de fcar e gritar no meio da rua e dizer que te amo mesmo assim e que
você é bobo de não amar como eu e de não acreditar que o amor é tão maior que qualquer
dor que possa se impor e meus amigos que tanto amo e que amam suas famílias e seus
colegas de trabalho que contnuo abraçando toda vez que encontro e eu queria ter abraçado
pela ultma vez aquela pessoa que não está mais aqui comigo e que nunca mais vai estar e eu
queria que estvesse agora pra abraçar e não largar mais e dizer que foi bacana e que é uma
pena e que você faz falta e que fca mais não vai embora e que a vida é assim e talvez eu possa
abraçar aquela outra que vai nascer daqui a não sei quando e lhe dizer com toda a
sinceridade que tem um universo que cabe em seus olhos e você pode fcar tristes as vezes
mas no fm das contas você vai rir muito mais e vamos rir juntas um dia quando estvermos
bem velhas e com saudade de tudo saudade de tudo saudade de tudo saudade de tudo
saudade de tudo saudade de tudo saudade de tudo saudade de tudo saudade de tudo de tudo
de tudo de tudo de tudo de tudo : saudade. Na semana seguinte fquei cega. E o que veio a
partr de então foi só escuridão.
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Luiz Guilherme
Não sinto meus pés, embora uma sensação de calor formigue minhas pernas por completo.
Meus ombros, deslocados, reproduzem uma espécie de depressão na qual a minha cabeça
pende.
Meus dedos estão esmigalhados, os da mão direita entre o que restou do porta luvas.
Não consigo mover meu pescoço, em função disso, não tenho muita idéia do que possa estar
ao redor do todo.
...
oito ossos...
oito ossos....
Caralho ...........
to todo fudido
Somos um só agora.
Eu e o meu Mustang.
A simbiose.
Brandy.
E vinho...
Vinho é bebida de padres e sedutores almofadados que, mesmo sem você ter perguntado,
derramam seus conhecimentos inúteis a respeito da origem da uva, e do aroma da uva, e da
textura da uva, e da vivacidade da uva, e uva faz bem, e uva é um santo remédio, e uva não
sai barato, e uva verde nem é tão boa, e uva é um palavra curta e fácil de decorar, e tem a
festa da uva, na qual é coroada a rainha da uva, e pisa na uva, e come uva do cacho, e tem uva
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passas, e tem arranjo de uva, e tem uva na boca do imperador romano, e o batom cor de uva,
a raposa e as uvas e etc etc etc. Porra: é só uva. Avisa pro cara.
Quero brandy.
Tá.
Não foi exatamente assim que eu imaginei morrer um dia: como uma mosca paralisada na
teia, esperando a tarântula avançar.
Estou decepcionado.
(na morte).
Pensei em.
Amo meu Mustang. Não ao ponto de morrer com ele. Isso é um carro. Ou foi, meia hora antes.
Eu sou muito maior que um carro. Valho muito mais. Não falo deste carro. Falo dos carros no
geral. E falo dos seres humanos no geral também. Todos nós valemos muito mais que um
carro, e é bom acreditar nisso. Por mais que te digam o contrário o tempo todo.
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E por essa lógica ( a de eu valer mais que um carro) não acho justo morrer aqui. Assim. Desse
jeito.
Ponho todas as minhas forças nas razões da vida. Por isso me preocupa a qualidade da minha
morte.
De fato sempre tve uma vida social bem rasteira e tola. Mas nunca me considerei um homem
burro, chucro, estreito de valores, mal ajambrado, sem jeito, João sem braço, Maria mole, flho
feio não tem pai, não.
Sabe quando você espera mais? (aquele mais que falta pra completar um tanto)
Então.
esperava mais.
tem mais gente. Você compartlha, sabe? Grita junto. (Se for o caso de gritar). Você não se
sente assim...
tão só.
Tão...
tão...
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Titquinha
Não!
Nunca mais.
Me recuso.
Vale morrer de raiva, morrer de medo, morrer de rir, morrer de inveja, morrer de tesão,
morrer de fome, morrer de frio, morrer de tédio, morrer de vergonha, morrer de dor de
cabeça, morrer atravessado por um arpão...Pode. Pode tudo. Deprimido não.
Deprimido?!
E a vida não foi boa? E você não fez justamente aquilo que queria ter feito? E você não curtu
tudo até a últma gota? E não foi bom? E não foi tão gostoso? E você gozou? Eu gozei. Então,
deprimido por que? Não. Deprimido não. Soltar rojão também não. Mas deprimido. Poxa.
Deprimido não.
E de fato é melhor morrer sozinho a ter que morrer ao lado de um torpe. Um babaca. Um
cagão apertando a sua mão te pedindo perdão. Não.
E teve Isadora.
Tem Isadora.
Tive.
Isadora.
Dá tesão até.
Me deixa ligado.
Faço questão.
Pensar em Isadora. Pensar que tve/terei/a tenho na dimensão dos meus olhos.
1 gim tônica
7 chopes
3 micheladas
2 doses de kovak
29 cigarros
98 gargalhadas altas
5 recordações agradáveis
2 motvos p ir embora
To embaralhando.
Tá embaralhado.
Concentra porra.
Isadora.
Fica .
Isadora.
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Deixa eu morrer pensando em vc.
Só você me interessa.
Merda.
taxista do aeroporto.
Sai daí.
Cadê Isadora?
Volta!
Miserável.
Sai.
...... desvio moral que ofende a sublime referencia espectral em meus devaneios moribundos.
Não mereço morrer com esse taxista safado na minha cabeça que nunca vai saber o que penso
a respeito dele o que é uma pena pois estou/estve/ sempre estarei puto com esse ladrão
calhorda que me cobrou 90 pratas do aeroporto até a minha casa sendo que eu moro super
perto do aeroporto e ele me roubou e disse que era cooperatva e não ligou o taxímetro e eu
me martrizei/ martrizo/ martrizarei até agora pois eu me sent culpado no fnal das contas
por não ter notado que não havia taxímetro ligado e eu fco nessa onda de fcar me sentndo
mal pelo o mal caratsmo alheio e me sentndo babaca e com cara de otário por minha falta de
attude mas o flho da puta me roubou e eu quero pensar que ele precisa mais dessa grana do
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que eu mas eu não consigo pensar em nada que não seja ele se fudendo dentro de uma cadeia
com uns caras comendo a bunda dele e eu fco assustado como eu posso desejar tão mal
alguém que me roubou só 90 pratas mas foda-se não sou santo e ponto fnal.
ISADORA.
Ta acabando.
Respira porra.
Respira.
Respira.
Isso.
Trinta e três.
Respira.
Respira.
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pensa.
Quanto dá?
Isadora
volta aqui
meu pai
minha mãe
minha avó
natália, césar
respira
respira
Isadora
lindeza
tô com sede
respira
respira
respira
respira
respira
beatles
7 vezes 8?
quanto... pensa...
ligado...
isadora
respira
identdade 7644132000-7
18
bloco b apartamento 202
respira
respira
ta tudo bem
ta tudo bem
Tudo bem que tem conta de gás que vence dia 20.
Tudo bem que tem um resto de sufê que se não comer estraga
Tudo bem o babaca apertar a minha mão pra pedir perdão na hora H.
Tudo bem que eu não sabia que era a últma vez que iria te beijar.
Tudo bem que eu nunca te disse com todas as letras o quanto você é importante pra mim, o
quanto vc me faz bem.
Tudo bem que toda a imensidão de seu sorriso não ilumine mais meus dias.
tudo bem...
Isadora....
tudo bem... Eu estou aqui ( luz intensa, sirene de ambulância, vozes humanas fora da
cabeça)________________
Valquíria
Pra que que eu fui inventar
/Pensa no mar/
~~~~~~~~~~~~ ~~~~~~
~~ ~~~ ~~~~
/Pensa no mar/
(Tá puxado)
Tá acabando
Ta na reta fnal
tá começando amanhã
Tá tudo bem
Tá tudo certo
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Tá diferente, mas é isso aí...
Tá buscando sentndo ?
Tá cansada
Tá querendo arregar?
Quem que você conhece, trando o Sérgio, que é profssional, não vale...
Primo rua infância tarde turma disputa terra havainas dividindo o campo
calor grito garoto 12 anos provoca
Tá querendo arregar?
Você não vai arregar!
Vai terminar
___________________________________________?insiste
?desiste
Joga fora?
Vai embora?
Diz que não quer, foi bom enquanto durou, mas não tá dando mais certo/
é isso aí e bola pra frente (?)
Pensa
Quer
Pode
( espiral pra cima: Plutão: susan miller: prosperidade ) (todo mundo aqui
correndo atrás do triunfo) ( todo mundo quer ser queniano)
Concluir/completar/ fnalizar
Você pode
/Pensa no mar/
Crescente
Vindo
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“”’”’””” vem e pá: pronto acabou: lambe
isso tudo em segundos: casa carro prédio presídio delegacia igreja museu
favela biblioteca restaurante lanchonete estacionamento escola esgoto
aeroporto farmácia shopping débito crédito Upa, UPP, Samu, BNDS,
INSS, HSBC, LSD, MPB, DVD, DDD, BBB, SPC, DST, MST, CPF, CPI,
IBGE, IPTU, IPVA,DNA, CCAA, KY, CD, LP, RG, BG, QG, meus flhos,
meus gatos, minha conta no banco, o banco, o banqueiro, o bancário, o
prefeito, o governador, a presidente tudo no mesmo barco afundando
sem colete salva vidas ralo à baixo: É
Livre
/pensa no mar/
Ou é ao contrário?
Steve Jobs ganha a dianteira deixando pra trás Fiat Lux, seguido por
Kinderovo e Lana Del Rey, passando a disputar o páreo com Bacardi ouro.
Mas esperem senhores! Quem vem lá! Com os cascos em chamas, é
Aurora Boreal. Surpreendendo a todos que não acreditavam nela. Será
Aurora Boreal o azarão da hípica? Steve Jobs encontra uma pequena
vantagem liderando a pista, mas Aurora Boreal_ como uma bala perdida
atravessando papel crepom_ surpreende todo o hipódromo, fazendo
história jamais vista em outro jóquei club e a torcida vai ao delírio: Já
ganhou! Já Ganhou! Já ganhou! Ela é aplaudida de pé, e jogam fores... e
ela faz uma reverência... e é o dia mais bonito, inesquecível e a cara dói de
tanto sorrir e ela tem certeza de que sua vida não é assim tão
..........
..............
Eu posso
Vai chegar
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Tá chegando
Tá perto
/pensa no mar/
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ponto fnal.
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