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Margarida C. Guerreiro
Aluna n.º 51779
Almada, 2013
A Síndrome do X Frágil e as Perturbações da Comunicação 2
Resumo
Na literatura relacionada com a síndrome do X Frágil (SXF), para além da
abordagem às suas particularidades em termos do desenvolvimento, transmissão e
hereditariedade, verifica-se um especial enfoque nas questões da fala e linguagem e na
dificuldade que estes indivíduos apresentam na aquisição e utilização dos vários
componentes da linguagem. De acordo com Abbeduto & Hagerman (1997), a
linguagem não é uma capacidade unitária, mas consiste em diversos componentes que
emergem de diferentes tipos de experiência e que está estreitamente ligada a aquisições
noutros domínios do funcionamento psicológico e comportamental, daí ser vital no
desenvolvimento apropriado do individuo.
Assim, o presente estudo pretende abordar as questões da intervenção precoce
nas perturbações da linguagem, fala e comunicação em crianças com SXF. Para o efeito
foi estruturado da seguinte forma: num primeiro momento faz uma breve apresentação
da intervenção precoce para passar a analisar a SXF, caracterizando-a de uma forma
geral na sua etiologia, peculiaridades da sua transmissão e características cognitivas.
Na segunda parte introduz-se as questões da fala, linguagem e comunicação,
para depois, numa vertente mais prática, se focar na infusão de algumas estratégias de
intervenção relacionadas com as perturbações da comunicação, mais particularmente em
dois Sistemas Aumentativos e Alternativos de Comunicação (SAAC), designadamente
o Makaton e PECS.
Introdução
1. A Intervenção Precoce na Infância: De acordo com o Decreto-Lei
281/2009, considera-se Intervenção Precoce na Infância, o conjunto de medidas de
apoio integrado dirigido à criança e família, incluindo ações de natureza preventiva e
reabilitativa, no campo da educação, da saúde e da ação social. O SNIPI (Sistema
Nacional de Intervenção Precoce na Infância) é desenvolvido através da atuação
coordenada dos Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), da Saúde
(MS) e da Educação (ME) com envolvimento das famílias e da comunidade (artigo 1º,
ponto 2). Integram as equipas de Intervenção Precoce, profissionais de diferentes áreas
– Educação de Infância, Serviço Social, Psicologia, Serviço de Saúde (medicina ou
enfermagem, fisioterapeutas, terapeutas de fala) – que têm um interesse em comum: a
promoção do desenvolvimento e bem-estar das crianças dos zero aos seis anos (ou
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(2011), mantêm uma perceção indiferenciada do que vêem, assim como não integram
um pormenor visual num todo com significado. Revelam dificuldades em assimilar
noções e conceitos abstratos que envolvam a perceção, o relacionar e fixar sequências,
pelo que se pode concluir que irão ter dificuldades no processo de aprendizagem da
leitura e da escrita assim como em generalizar, aplicar informação em situações novas e
resolver situações práticas e abstratas.
Não obstante, possuem numerosas aptidões e competências que podem e devem
ser maximizadas com uma intervenção e enquadramento adequados: uma notável
empatia e sociabilidade; uma excelente memória; uma grande intensidade nos
interesses; uma extraordinária capacidade de imitação; sentido de humor e ainda uma
grande facilidade em tudo o que tenha a ver com memória visual, sendo capazes de reter
informação visual de fácil interpretação e aprender por imitação visual.
O diagnóstico, a intervenção terapêutica precoces e um enquadramento correcto
que permita a aquisição por imitação de comportamentos socialmente adequados,
podem fazer toda a diferença. Intervenções ao nível da terapia ocupacional, da fala,
psicomotricidade e outras, incluindo, quando indicado, a terapia farmacológica, podem
ajudar a maximizar as aptidões.
2.4. A síndrome do X Frágil e as perturbações da comunicação: Apesar da
pouca investigação que existe sobre as perturbações da comunicação em crianças com
SXF, sabe-se que apresentam normalmente um atraso severo na fala e linguagem sendo
que “na faixa etária até 12 anos, pode-se encontrar indivíduos com SFX na primeira
etapa de comunicação ou nível pré linguístico ou na segunda etapa ou primeiro nível
linguístico” (Silva & Yonamine, 2002, p.982). Da sua investigação, os mesmos autores
referem que estas crianças apresentam um atraso na aquisição da fala e linguagem
indicando a “existência de sequência de evolução linguística máxima (de crianças
normais) até 3 anos de idade” (p.985). Apresentam ainda alterações na emissão oral,
receção oral e relacionada com ordens simples, alterações perceptuais cognitivas,
comprometimento na inteligibilidade da fala: dificuldade de articulação, fluência, ritmo
e velocidade da fala, ecolalia, perseveração de palavras, frase e temas, fala
estereotipada, défices sintáticos e semânticos e um quadro fonético-fonológico
inconsistente assim como um discurso com pouca coerência. Revelam também
dificuldade em centrar-se numa conversa mas aprendem e utilizam novo vocabulário
pelo que se pode dizer que têm uma linguagem compreensiva melhor que a expressiva.
A ecolália caracteriza-se pela repetição de expressões ou frases do sujeito ou
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Intervenção
1. A intervenção precoce nas perturbações de linguagem de crianças com a
síndrome de SXF: A intervenção precoce sustenta-se na investigação cientifica das
neurociências que sugere uma base neurobiológica, relacionada com a chamada
“plasticidade do sistema nervoso”, em que o cérebro se comporta de forma mais
“maleável” e é mais susceptível à aprendizagem quando estimulado. Quanto mais nova
é uma criança maior a possibilidade de responder positivamente à estimulação.
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O êxito das estratégias que se podem utilizar para a intervenção nas diversas
áreas deficitárias depende de um enfoque multidisciplinar organizado, que a intervenção
precoce oferece, onde os diferentes profissionais atuem de comum acordo entre eles e
em articulação com a família, fundamentando sempre a intervenção numa avaliação
prévia e tendo em conta os aspetos positivos, ou seja, as áreas fortes da criança. Por
outro lado, os pais de crianças com problemas ou em risco, podem necessitar de apoio
profissional para estabelecer as adequadas capacidades parentais. Ninguém está
verdadeiramente preparado para ter um filho com problemas e nesta situação,
geralmente é necessária ajuda, pelo que a intervenção também deverá ir de encontro aos
pais e às suas necessidades. Existem ainda factores de risco nas deficiências que podem
agravar ou levar ao aparecimento de deficiências secundárias.
Tendo em conta estes pressupostos, quanto mais cedo se começar a intervir
adequadamente com uma criança mais garantido o sucesso. A intervenção precoce
numa criança com SXF deverá ir ao encontro das suas necessidades, sejam elas
educativas ou de outra índole e ao encontro das necessidades das famílias, quer em
apoio psicológico, passagem de estratégias (e avaliação contínua das estratégias e dos
resultados), quer em apoios de diversas categorias (social, se for o caso…).
2. Estratégias: De uma forma geral a combinação de várias linguagens poderá ser
muito eficaz, dependendo da severidade, tais como a utilização de terapias expressivas
que incluam música, movimento, ritmo e canto e ainda a utilização do computador com
softwares adequados. No que diz respeito especificamente à linguagem e comunicação,
é fundamental a avaliação de um terapeuta da fala para a realização do diagnóstico e
programa de intervenção e, por vezes, a intervenção de um terapeuta ocupacional para a
estabilidade do tronco que poderá influenciar positivamente o desenvolvimento
apropriado das estruturas orais, tais como, por exemplo, a mobilidade da língua.
No que diz respeito aos programas específicos de desenvolvimento da
linguagem e comunicação, destacam-se uma variedade de suportes (objetos, fotografias,
imagens, símbolos) para acompanhar a linguagem funcional e a utilização de cadernos
de comunicação que podem ir para casa onde os pais darão continuidade ao trabalho
implicando-se no processo. Dos programas de intervenção destacam-se os Sistemas
Alternativos e Aumentativos de Comunicação (SAAC), com e sem ajuda, dependendo
da utilização ou não de qualquer instrumento para a expressão da linguagem.
Da pesquisa realizada e, tendo em conta o que anteriormente se referiu sobre a
capacidade destas crianças aprenderem por imitação visual, parece-me que alguns
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Considerações finais
Como técnica de intervenção precoce, é-me particularmente interessante e
reveste-se de grande utilidade o estudo de patologias, não só em termos do que
representam, mas também das possibilidades de intervenção pois é precocemente e de
forma assertiva e concertada que esta deve ser feita entre equipa, família e criança. Há a
necessidade de dominar estratégias que permitam a estas crianças, respeitando a sua
individualidade e o seu ritmo, participar o mais ativamente possível no seu contexto seja
ele domiciliário, escolar ou outro, e que as capacitem de meios e ferramentas que lhes
proporcionem mais oportunidades de aprendizagem e de inclusão.
Não sendo o objetivo do presente estudo fazer uma abordagem exaustiva,
considero-o como um ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre novos
caminhos para a intervenção com crianças com SXF. Tentei direcionar este estudo no
sentido de uma intervenção mais prática e efetiva, pois pareceu-me ser relevante
explorar estratégias já implementadas e com resultados positivos. Muito mais poderia
aprofundar, como por exemplo, a musicoterapia sugerida por alguns autores como uma
terapia com a qual as crianças portadoras de SXF funcionam muito bem. No entanto,
optei por me cingir aos SAAC, em especial o PECS não só por me parecer o mais
interessante e adequado, mas também para me cingir ao limite de páginas exigido para
este trabalho. Por fim, reitero que foi um exercício muito importante pelo facto de me
munir de conhecimentos que poderão permitir uma intervenção precoce mais
especializada, efetiva e inclusiva: o conhecimento é o primeiro grande passo.
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Referências
Abbeduto, L., & Hagerman, R. J. (1997). Language and communication in fragile X
syndrome. Mental Retardationand Developmental Disabilities Research
Reviews, 3, pp. 313-322.
American Psychiatric Association, DSM-IV-TR: 2002, Manual de Diagnóstico e
Estatística das Perturbações Mentais, Lisboa, Climepsi Editores
APSXF. (s.d.). X Frágil - O que é? Obtido de http://www.apsxf.org/Patologia.html
Azevedo, M. B. (2011). A inclusão de uma criança com síndrome do X frágil - estudo
de caso. Lisboa: Escola Superior de Educação Almeida Garret