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UNIVERSIDADE

Núcleo de Educação a Distância


METROPOLITANA DE
SANTOS

SOCIOLOGIA DA
EDUCAÇÃO

NÚCLEO COMUM
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA DE
SANTOS
Créditos e Copyright

MACEDO, Doroti de Oliveira Rosa.

Sociologia da Educação. Doroti de Oliveira Rosa Macedo:


Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015. 99p.
(Material didático. Curso de ciências sociais).

Modo de acesso: www.unimes.br

1. Ensino a distância. 2. Educação. 3. Sociologia.

CDD 371.12

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PLANO DE ENSINO

CURSO: Licenciaturas

COMPONENTE CURRICULAR: Sociologia da Educação

ANO/SEMESTRE: 1º

CARGA HORÁRIA TOTAL: 80h

EMENTA:
Interpretação e reflexão da educação, da sociedade e da escola, no contexto
da realidade brasileira. As relações sociais na sociedade capitalista:
desigualdade e exclusão social. Analise da função da escola como prática
social numa sociedade multicultural e o papel do educador como mobilizador
na construção da cidadania.

OBJETIVO GERAL:
Compreender conceitos sociológicos e diferentes formas de organização da
sociedade. Compreender a relação entre a organização da sociedade e a
escola. Refletir a relação entre conhecimento, educação e sociedade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
UNIDADE I: Sociologia e Educação
Ao compreender conceitos de interação social, educação, socialização,
instituições sociais e conhecimento perceber-se como ser que passa por estes
processos, vivenciando-os de determinadas formas; Compreender o homem
como ser histórico, criador de novas formas de vida, ao mesmo tempo capaz,
por sua memória, escrita ou oral, de acumular experiências.

UNIDADE II: Análise Sociológica da Sociedade Capitalista


Compreender o capitalismo e o liberalismo como formas de organização da
sociedade, tendo como pano de fundo os resultados e as contradições da
sociedade brasileira, organizada sob o sistema capitalista; Situar o nascimento
da Sociologia no estabelecimento do capitalismo, compreendendo que o uso
da ciência não é neutro. A ciência pode ser usada para a conservação ou para

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a transformação da sociedade.

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UNIDADE III: A Escola na Sociedade Brasileira

Refletir sobre a realidade da educação escolar brasileira como consequência


das contradições da sociedade capitalista em que vivemos, buscando
alternativas que viabilizem um projeto de construção da autonomia da escola;
Questionar, buscando respostas junto à comunidade escolar, sobre a função
da escola na atualidade.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
UNIDADE I: Sociologia e Educação
UNIDADE II: Análise Sociológica da Sociedade Capitalista
UNIDADE III: A Escola na Sociedade Brasileira

Bibliografia Básica:
LAKATOS, Eva M., MARCONI, Marina de Andrade, Sociologia Geral, São
Paulo: Ed. Atlas, 2011.
NERY, Maria Clara Ramos, Sociologia da Educação, Curitiba : Intersaberes,
2013. (Livro eletrônico – Biblioteca Virtual Unimes)
RODRIGUES, Alberto Tosi, Sociologia da Educação, Rio de
Janeiro: DP&A.Editora, 2002.

Bibliografia Complementar:
ARAÚJO, Silvia M., BRIDI, Maria Aparecida, MOTIN, Benilde L., Sociologia –
um olhar critico . SP , Editora Contexto , 2009 ( livro eletrônico – Biblioteca
Virtual Unimes)
BRANDÃO, C. R. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007,
disponível em https://pt.scribd.com/doc/39369244/O-que- e-Educacao-
BRANDAO-Carlos- Rodrigues
DIAS, Reinaldo, Introdução à Sociologia, 2ª Edição – São Paulo – Pearson
Prentise Hall – 2010. (livro eletrônico- Biblioteca Virtual Unimes)

DURKHEIM, E., Fato Social e Divisão do Trabalho, apresentação e


comentários de MUSSE, Ricardo, Editora Ática: SP, 2007, (Livro eletrônico -
Biblioteca Virtual Unimes)
MELLO , Alessandro de, Fundamentos socioculturais da educação, Curitiba -
InterSaberes, 2012, Série Fundamentos da Educação ( Livro eletrônico –
Biblioteca Virtual Unimes)

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METODOLOGIA:

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A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por
meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas,
fóruns e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de
leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades
diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do
professor e do processo ensino/aprendizagem.

AVALIAÇÃO:
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na
parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em
momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e
Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.

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Sumário
DE
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Aula 01_A contribuição da Sociologia para a educação ..........................................................................8
Aula 02_A Sociologia na formação do educador ...................................................................................12
Aula 03_Sociologia e Educação ..............................................................................................................14
Aula 04_Conceitos básicos de Sociologia...............................................................................................17
Aula 05 _Educação e socialização ..........................................................................................................20
Aula 06_As instituições sociais e a educação.........................................................................................22
Aula 07_Educação e Cultura ..................................................................................................................25
Aula 08_Educação e Cultura ..................................................................................................................32
Aula 09_Educação, cultura e conhecimento ..........................................................................................40
Aula 10_Educação, cultura e ideologia. .................................................................................................42
Aula 11_A escola como instituição social ..............................................................................................45
Resumo_Unidade I .................................................................................................................................48

...........................................................................................................................................48
Aula 12_A educação e a escola ..............................................................................................................49
Aula 13_A análise sociológica da sociedade capitalista .........................................................................50
Aula 14_Compreendendo a realidade social .........................................................................................52
Aula 15_Educação e política. .................................................................................................................55
Aula 16_A dimensão social da liberdade ...............................................................................................57
Aula 17_Sociedade Contratual e Sociedade Contextual ........................................................................60
Aula 18_ Emile Durkheim e a Educação .................................................................................................64
Aula 19 _A sociedade para a Sociologia crítica ......................................................................................65
Aula 20_A Educação para a Sociologia Crítica .......................................................................................68
Aula 21_A análise Marxista no estudo da escola ...................................................................................71
Aula 22_A educação escolar e a sociedade brasileira............................................................................74
Aula 23_A educação escolar como intervenção ....................................................................................77
Aula 24_A educação escolar como invenção .........................................................................................79
Aula 25_A escola e a questão cultural ...................................................................................................80
Aula 26_A escola e a questão cultural ...................................................................................................81
Aula 27_A organização da escola ...........................................................................................................83
Aula 28_A organização da escola ...........................................................................................................85

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Aula 29_O preconceito na escola...........................................................................................................87

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Aula 30_A escola no contexto social ......................................................................................................89
Aula 31_A função da escola ...................................................................................................................94
Aula 32_Sawabona!!! Shikoba!!! ...........................................................................................................97

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Aula 01_A contribuição da Sociologia para a educação
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Os estudos sociológicos trazem conhecimentos fundamentais para nossa
compreensão sobre o homem e a sua realidade social e, consequentemente, para o
processo educacional.

Agora abordaremos a contribuição da Sociologia para a Educação. Segundo


Rodrigues, o sociólogo Florestan Fernandes entende que:

A educação é o elemento da vida social responsável pela


organização da experiência dos indivíduos na vida cotidiana, pelo
desenvolvimento de sua personalidade e pela garantia da
sobrevivência e do funcionamento das próprias coletividades
humanas. [...] (RODRIGUES, 2000, p. 9)

Para ele, as práticas que têm por finalidade educar utilizam técnicas; seguem
normas e valores que fazem parte de uma determinada sociedade, de uma
determinada cultura e de um determinado tempo histórico. Para a Sociologia, não há
técnica pedagógica neutra: todas são construídas e utilizadas em meio a valores e
normas.

Florestan Fernandes, ao mencionar o termo técnicas aplicadas à educação queria


abranger não só os recursos ou meios utilizados para transmitir conteúdos, mas
também a pedagogia, compreendida também em todos os aspectos filosóficos e
sociológicos. É neste sentido que as técnicas utilizadas em educação estão
presentes nas práticas educacionais que seguem as normas e os valores sociais. As
normas são as leis e regulamentos escritos e as regras, aquelas estabelecidas nos
grupos sociais. Os valores correspondem aos critérios de julgamento de si e dos
outros; as concordâncias e discordâncias; as aprovações e reprovações que nunca
são individuais e, sim, aceitas e compartilhadas na vida social.

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Olhar a educação do ponto de vista da Sociologia é compreender

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que, se a Pedagogia é o fundamento das práticas educacionais as
crenças, os valores e as normas sociais são os fundamentos da
pedagogia. (RODRIGUES, 2000, p. 10)

Neste sentido, a Sociologia é um instrumento importante no processo educacional,


como reveladora de práticas sociais que auxiliam a compreender a Pedagogia e o
fazer do pedagogo. Como diz Rodrigues (2000, p. 10):

[...] a Sociologia da Educação é aquela disciplina acadêmica que se


preocupa em reconstruir sistematicamente as relações, que existem
na prática cotidiana, entre as ações que objetivam educar e as
estruturas da vida social, quer dizer: a economia, a cultura, o
arcabouço jurídico, as concepções de mundo, os conflitos políticos.

Portanto, toda análise e o estudo a ser realizado devem ter como base os
fundamentos trazidos pelos seus iniciadores que analisaram a sociedade de sua
época, a sociedade capitalista, buscando compreendê-la em suas peculiaridades,
propondo caminhos teóricos interpretativos para os mais variados fenômenos
sociais.

Vamos “acompanhar o caminho trilhado” por alguns desses autores que iniciaram os
estudos da Sociologia.

Para complementar seus conhecimentos, breves considerações sobre a História da


Sociologia.

História sobre a Sociologia

O estudo dos acontecimentos sociais é muito antigo. Pode-se dizer que, desde o
aparecimento dos primeiros agrupamentos humanos, houve a preocupação de
organizar-se da melhor forma para a sobrevivência do homem.

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Somente no século XIX, a Sociologia passou a existir como ciência independente.

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As transformações pelas quais passou a sociedade européia nos séculos XVIII e XIX
contribuíram de maneira acentuada para o aparecimento da Sociologia. A revolução
industrial e a revolução francesa provocaram transformações radicais na sociedade
da época. Os estudiosos começaram a estudar essas transformações e suas
consequências para a vida humana: era início da Sociologia como ciência.

O primeiro a registrar o termo “Sociologia” foi o filósofo francês Augusto Comte


(1798-1857), em sua obra “Filosofia positiva”, publicada em 1838. Para ele, a
Sociologia deveria realizar seus estudos com base na observação e na classificação
sistemática e não baseada na autoridade e na especulação, como acontecia com a
ciência antiga.

O sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) contribuiu para que a Sociologia


analisasse a sociedade, os grupos sociais, os fatos sociais através do método
científico. Em seu livro “Regras do método sociológico” (1895), Durkheim explicou
como realizou sua pesquisa sobre o suicídio: primeiro planejou a pesquisa; depois
coletou grande número de dados sobre pessoas que se suicidaram; por fim, chegou
a uma conclusão elaborou a teoria do suicídio, em que apontou como fator principal
o isolamento social. Durkheim analisou também a educação como fato social cujas
teorias encontram-se no livro “Sociologia e Educação”; daí dizermos que foi o
primeiro sistematizador da Sociologia da Educação.

O que tem a ver a Sociologia com a educação escolar? A escola não está isolada
em relação à comunidade, à sociedade em que está inserida. A escola é até certo
ponto, reflexo das condições e das exigências estabelecidas pela sociedade, em seu
sentido mais amplo, e pela comunidade, no sentido mais restrito. Por outro lado,
mesmo no interior da escola, multiplicam-se os grupos sociais. Esses grupos - de
alunos, de professores, de especialistas etc. têm enorme influência sobre o
comportamento dos alunos e sobre sua educação. Até dentro da sala de aula,
apesar do controle que pode ser exercido pelo professor, a influência das condições
sociais do aluno e dos grupos de que ele participa dentro e fora da sala, não pode
ser menosprezada.

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A contribuição da Sociologia da Educação ao trabalho pedagógico abrange pelo

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menos dois aspectos principais:

1. O estudo dos processos e das influências sociais envolvidos na atividade


educativa, em especial na escola. Incluem-se aqui os processos de interação dos
indivíduos e de organização social e as influencias exercidas pela sociedade, pela
comunidade e pelos grupos sobre a educação.

2. A aplicação dos conhecimentos e descobertas da Sociologia à atividade


educativa, ou seja, utilização dos princípios e teorias sociológicas para tornar mais
eficiente o processo educativo.

Assim, a Sociologia da Educação preocupa-se com três grandes áreas de estudo:

- organização da sala de aula

- interação entre a escola e a comunidade

- educação relacionada com a sociedade em seu sentido mais amplo.

Até a próxima aula!

Referências bibliográficas:

FORACCHI, Marialice M. Sociologia e sociedade, Rio de Janeiro, Livros técnicos e


científicos, 1978.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. RJ, ED. DP&A, 2000.

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Aula 02_A Sociologia na formação do educador
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Dando continuidade ao tema Sociologia na formação do educador, vamos
aprofundar um pouco mais a questão da Sociologia como instrumental necessário
na formação do professor para ajudar a prepará-lo para as diferentes realidades que
encontrará e que, como professor, possa preparar criticamente seus alunos.

Heloisa D. Penteado em seu texto “A Sociologia na formação do professor de 1°


e 2° grau” (1982) diz que:

[...] quando falamos da Sociologia na formação do professor de


primeiro e segundo graus como instrumento de trabalho daquele
profissional que o professor precisa se transformar estamos
pensando no que chamamos, no início deste trabalho, de questões
menores ou questões de sala de aula.

Estamos pensando num professor instrumentado para perceber


problemas do dia-a-dia da sala de aula, como faltas frequentes do
aluno por perder a hora (não tem quem o chame); falta de estudo do
aluno porque não lhe sobra tempo para tanto (trabalha) ou porque
esquece (não tem quem o oriente fora da escola) visando lidar com
eles de maneira mais produtiva e adequada.

Estamos pensando num professor instrumentado para perceber


problemas da relação com os pais como, por exemplo, não poder
contar com eles para um acompanhamento dos filhos; para perceber
o autoritarismo ou mesmo o passivismo dos pais em relação ao
desempenho escolar dos filhos; para enfrentar o insucesso das
reuniões de pais montadas pelos professores e buscar formas de
superação. Estamos pensando num professor instrumentado para
viver os problemas da relação professor – professor, professor –
diretor, dentro da unidade escolar.

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Analise e reflita sobre a importância da Sociologia na formação do educador, a partir

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das seguintes propostas:

 É indispensável conhecer conceitos e teorias sociológicas para a compreensão


da realidade social.
 Qual é a função da escola?
 O professor precisa compreender que vai atuar num grupo social (escola), onde
são encontrados outros grupos sociais de diferentes origens e culturas.
 A finalidade dos conhecimentos sociológicos é a sua utilização para melhorar as
condições da existência humana.
 É trazer instrumentos para que o educador perceba que os problemas existentes
numa escola são problemas sociais.
 Os educadores, são construtores da história e da sociedade onde vivem.
Precisam construir a sociedade democrática brasileira.

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

PENTEADO, Heloisa D. A Sociologia na formação do professor de 1° e 2°


grau. Revista da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, v.8, n.2, p.157-164,
dez.1982.

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Aula 03_Sociologia e Educação
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Nesta aula, trabalharemos alguns conceitos da Sociologia a partir de uma história
que mostra uma trajetória de vida com várias dificuldades.

Esta é uma história, como tantas outras em que “qualquer semelhança é mera
coincidência” e foi extraída do livro: Sociologia da Educação de Nelson Piletti (pág.
243 e 244). Leia abaixo!

“Isabel é do signo de Leão. Completará dezessete anos no dia 10 de agosto.


Nasceu num pequeno povoado, de não mais de vinte famílias de pequenos
agricultores. Na escola local fez as três primeiras séries do ensino fundamental. Era
uma escola de apenas uma sala, na qual a professora procurava ensinar, ao mesmo
tempo, a vinte e duas crianças da primeira a quarta série.

Aos dez anos Isabel mudou-se para a cidade. Foi morar num apartamento. Nem
sabe quem são seus vizinhos do apartamento em frente. Apenas “bom dia”, “boa
tarde”, “tudo bem”? e nada mais. Atualmente frequenta a segunda série do curso de
magistério. A tarde trabalha numa loja, para reforçar o orçamento familiar, que anda
apertado.

Hoje Isabel acordou às sete horas, um pouco tarde para entrar na escola às sete e
meia. Lavou-se e vestiu-se rapidamente. Pôs o uniforme da escola, blusa branca e
saia azul, meias brancas e tênis. Tomou café e saiu. No caminho encontrou Joana e
Sandra, duas amigas inseparáveis. Foram conversando de tudo um pouco, as
matérias do dia, os namorados, etc.

Saindo da escola, Isabel vai correndo para casa, troca de roupa, almoça e vai para o
serviço, onde permanece das 13 às 19 horas. Sabe que não pode chegar atrasada,
pois as consequências são pesadas.

Seis horas mostrando tecidos, roupas, blusas calças, meias! Preços, descontos,
notas! Isabel sai do serviço, vai para casa, toma banho, janta. E agora? Novela das
oito, trabalho de escola, cansaço, sono, namorado, etc. O que fazer? Isabel procura
conciliar as coisas, fazer o que dá. “Quer ser professora e precisa estudar”.

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Procure identificar, nesta história, situações que caracterizem:

1. Fato social;
2. Interação social;
3. Grupo social;
4. Estratificação social
5. Classe social

O que vocês entendem sobre esses conceitos?

Nesta aula, vamos ainda trabalhar, com o conceito de Fato Social do sociólogo
Emile Durkheim.

Para isso, leia o texto A Sociologia de Durkheim de Valesca da Costa Abranches


disponível no AVA:

O trecho abaixo é uma resenha de Cristina Costa para o livro Abortion in United
States, organizado por Mary Steichen Calderone. New York: Hoeber-Harper and
Row, 1958.

O aborto é uma velha prática, mas mesmo na Antiguidade provocava grandes


diferenças de opinião. Platão, na República, aprovava o aborto a fim de impedir o
nascimento de filhos concebidos em incesto; Aristóteles, sempre prático, pensava no
aborto como um útil regulador malthusiano. De outro lado, o juramento de
Hipócrates contém as palavras: “não darei a uma mulher o pessário para provocar
aborto”; Sêneca e Cícero condenaram o aborto a partir de princípios morais; o
código Justiniano proibia o aborto. No entanto, parece haver pouca dúvida de que,
no Império Romano e no mundo helenístico, o aborto era, nas palavras de um
especialista, “muito comum nas classes altas”. A Igreja Cristã opôs-se rigorosamente
a essa “atitude pagã” e considerou o aborto um pecado. Em muitos estados, a lei

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seguiu a doutrina da Igreja e considerou o pecado um crime. Mas na lei anglo-

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saxônica o aborto era considerado apenas “um delito eclesiástico”.

Hoje, o aborto é um problema mundial. Os levantamentos e estudos realizados por


pesquisadores isolados e pela Unesco mostram que essa prática é muito difundida
nos países escandinavos, na Finlândia, na Alemanha, na União Soviética, no Japão,
no México, em Porto Rico, na América Latina, nos Estados Unidos, bem como em
outras regiões. O livro de George Devereux, “A study of abortion in primitive
societies”, que abrange aproximadamente 400 sociedades pré-industriais, bem como
20 nações históricas e modernas, conclui que o aborto “é um fenômeno
absolutamente universal”.

Até a próxima aula!

Referências

ABRANCHES, Valesca da Costa. A Sociologia de Durkheim. Disponível no site:


http://www.duplipensar.net/lit/francesa/2004-02-durkheim.html, consultado em
14/12/2005.

COSTA, Cristina. Sociologia. Ed Moderna, SP, 1997. p.68.

PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação, SP, ED.Ática, 2003. p. 243 e 244.

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Aula 04_Conceitos básicos de Sociologia
DE
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Nesta aula vamos trabalhar com alguns conceitos importantes da Sociologia.
Acompanhem!

FATO SOCIAL:

Fenômeno ou ocorrência social, com as seguintes características: generalidade,


exterioridade e coerção social.

AÇÃO SOCIAL:

Ato individual de caráter social, com significado e valor ativo.

INTERAÇÃO SOCIAL:

Ação coletiva que pressupõe reciprocidade e interdependência entre agentes


sociais.

RELAÇÃO SOCIAL:

Forma como ocorre a interação social.

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL:

Processo que coloca os indivíduos de uma sociedade em camadas ou estratos

sociais diferentes, de acordo com suas condições econômicas, de nascimento,


étnicas, religiosas etc.

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CLASSE SOCIAL:

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Cada um dos estratos ou camadas que constituem a sociedade estratificada.

STATUS SOCIAL:

Corresponde à posição que o indivíduo ocupa num grupo social ou na sociedade.

PAPEL SOCIAL:

Função que cada indivíduo desempenha em consequência do status que ocupa.

GRUPO SOCIAL:

Conjunto de indivíduos que interagem uns com os outros, durante um certo período
de tempo.

SOCIEDADE:

Conjunto de indivíduos, grupos e instituições, cujos relacionamentos são


impessoais, formais, utilitários.

COMUNIDADE:

Grupo ou grupos localizados, bastante integrados, com predominância de contatos


primários: pessoais, informais, tradicionais, sentimentais.

SOCIEDADE COMUNIDADE

Estratificada não estratificada

Grande área geográfica área geográfica limitada

Formada por muitos grupos formada por um ou poucos grupos

Objetivos diversos objetivos comuns

Nem todos se conhecem todos ou quase todos se conhecem

Competição união de esforços

Complexa simples

Todo parte do todo.

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Até a próxima aula!

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Aula 05 _Educação e socialização
DE
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Nesta aula trabalharemos com o conceito de socialização, para tanto escolhemos
dois trechos da obra de Emile Durkheim, o fundador da Sociologia.

Segundo Emile Durkheim, pode-se afirmar que:

a) “Cada de nós, embora formando uma unidade, é constituído de dois seres: um


ser individual formado por todos os estados mentais que só se relacionam conosco
mesmos; e um ser social que é um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que
exprimem em nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferentes
de que fazemos parte; tais são as crenças religiosas, as crenças e as práticas
morais, as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda
espécie. (...) Constituir esse ser em cada um de nós ---- tal é o fim da educação”.

b)”Não nascemos com este ser social nem ele se desenvolve em nós
espontaneamente. O ser humano, espontaneamente, não se submeteria à
autoridade, não respeitaria a disciplina, não se sacrificaria por objetivos comuns. É a
educação, como socialização, que o leva a tais condutas. Ao nascer o ser humano
não é social. A cada geração, a sociedade deve começar da estaca zero, pois a
socialização não é hereditária e deve processar-se sempre de novo, com cada nova

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geração. A educação cria um ser novo, transforma cada ser não social que nasce
num ser social”.
SANTOS
Para complementar e esclarecer a socialização como conceito, veja a definição de
Sonia Maria Portella Kruppa (1994, p.23):

O processo educativo que procura tornar o indivíduo um membro da


sociedade é chamado de socialização. A socialização e, por
decorrência, a educação dependem da capacidade que os homens
têm de influírem uns no comportamento dos outros, modificando-se
mutuamente, no processo de interação social. Em outras palavras, é
a capacidade de os homens reagirem, de serem capazes de atuar
junto a outros homens, aprendendo e ensinando, que torna possível
a educação.

Leia, no seu ambiente virtual de aprendizagem, o texto “Sobre a importância do


estudo dos processos de socialização em um curso de formação de educadores” de
Fábio Gregori – Aluno de Pedagogia – FEUSP.

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo, Melhoramentos, 1978. p.


33 a 56.

KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da Educação. São Paulo, Cor- tez, 1994

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Aula 06_As instituições sociais e a educação
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Para esta aula vamos trabalhar com o conceito de Instituições Sociais.

Vocês sabem o que são instituições sociais?

E qual é a relação existente entre “instituições sociais” e “educação”?

Para esclarecer estas questões leia, em seu AVA, o texto “Instituições”.

Leiam, também, as explicações de Sonia Kruppa (1994, p.24):

Os indivíduos organizam sua vida em sociedade formando instituições


sociais. As instituições sociais são formas de ação ou de vivência a que
os homens recorrem, sistematicamente, visando a satisfazer
determinadas necessidades. Essa recorrência sistemática vai
organizando essas formas de ação, de tal modo que as instituições se
destacam do todo social por terem uma função ou finalidade, um objetivo
que satisfaça a determinadas necessidades do homem, e uma estrutura,
isto é, regras que organizam tanto as relações humanas dos que dela
participam, como o espaço físico onde acontecem estas relações [...]

Se definirmos a instituição social como sendo uma força que atua sobre a
conduta individual, logo perceberemos que qualquer outra instituição,
sejam quais forem suas características e finalidades, depende dos
padrões da linguagem.

Perceba que qualquer forma de linguagem é primordial para a comunicação e a


interação entre os homens. Logo, é fundamental no processo educacional.

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Vamos complementar nossa aula, falando um pouco sobre a Educação Formal e a

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Educação Informal.

A educação é um processo que envolve a aprendizagem com sentido amplo.


Portanto, a educação não ocorre apenas em instituições formais, mas também nos
hábitos e costumes que são normas sociais.

Então, você sabe quais as relações e as diferenças entre a educação escolar e


educação fora da escola?

Segundo Sônia Kruppa (1994, p. 30):

A educação escolar distingue-se, portanto, da educação informal


(sem forma, sem norma) que acontece fora da escola. A escola tem
horários, estabelece critérios para agrupamento dos alunos, tem
profissionais executando papéis diferenciados (o professor, o diretor,
o servente etc.), possui um sistema de avaliação e deve cumprir uma
função: transmitir e criar conhecimentos. Assim, a primeira diferença
entre o conhecimento escolar e aquele produzido no dia a dia está
nas condições em que o conhecimento escolar é produzido e
transmitido.

A segunda diferença é dada pela própria função da escola, isto é, a transmissão e


criação contínuas de conhecimento. Por essa função contínua, a escola é obrigada a
fazer uma organização do conhecimento transmitido. Tal organização é feita a partir
de critérios, dos quais o mais usado é aquele decorrente das ciências, cujo
conhecimento é a base de onde são extraídos os conteúdos das disciplinas
escolares.

Agora vamos fazer algumas reflexões:

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Você compreendeu que:

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a) A educação que ocorre na escola é uma educação formal (é organizada,
sistematizada, possui normas). Ela seleciona os conhecimentos considerados
científicos.

b) A educação que acontece fora da escola é uma educação informal (assistemática,


sem normas específicas). O conhecimento que acontece, neste caso, é resultado
das necessidades básicas do homem.

c) A proposta hoje é para que as escolas não se “fechem” à transmissão de


conhecimentos que estão sendo modificados a todo momento, através de novas
descobertas. E, sim, “abram-se” ao conhecimento e compreensão da cultura
existente em cada comunidade, sociedade ou grupos sociais, diminuindo o
distanciamento entre os diferentes conhecimentos (internos e externos à escola).

Até a próxima aula.

Referência Bibliográfica:

KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994.

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UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA
Aula 07_Educação e Cultura
DE
SANTOS
Nesta aula vamos aprender um pouco mais sobre pluralidade cultural.

Vocês sabem o que é pluralidade cultural?

A resposta à pergunta acima você encontrará lendo o texto dos Parâmetros


Curriculares Nacionais.

Você estará em contato com partes dos Referenciais Curriculares, que são
fundamentais para a formação do educador.

Selecionei aqui apenas a apresentação, a introdução, a justificativa de Pluralidade


Cultural nos Parâmetros.

No link em nossa sala, pode-se encontrar o texto completo sobre pluralidade


cultural.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

PLURALIDADE CULTURAL

APRESENTAÇÃO

Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os


diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não

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UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA DE
só por diferentes etnias, como também por imigrantes de diferentes países. Além

SANTOS
disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as
regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e que a
convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é
marcada pelo preconceito e pela discriminação.

O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte inseparável da


identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade
etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na
superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos
grupos que compõem a sociedade.

Nesse sentido, a escola deve ser local de aprendizagem de que as regras do espaço
público permitem a coexistência, em igualdade, dos diferentes. O trabalho com
Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma “Cultura
da Paz”, baseada na tolerância, no respeito aos direitos humanos e na noção de
cidadania compartilhada por todos os brasileiros. O aprendizado não ocorrerá por
discursos, e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes” do que os
outros.

Secretaria de Educação Fundamental

1ª PARTE

PLURALIDADE CULTURAL

INTRODUÇÃO

A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de


características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no
território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais
discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao
aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e
algumas vezes paradoxal.

NÚCLEO COMUM
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UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA DE
Este tema propõe uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e

SANTOS
cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas
por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias,
oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e
culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão
da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade
intrínseca, sem qualquer discriminação. A afirmação da diversidade é traço
fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe
permanentemente, tendo a Ética como elemento definidor das relações sociais e
interpessoais.

Ao tratar este assunto, é importante distinguir diversidade cultural, a que o tema se


refere, de desigualdade social.

As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na
construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política,
nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos
etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada
grupo social.

A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de


dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o
conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende
deixar de lado essa questão.

Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível


compreendê-la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à
estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem
“fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um
permanente processo de reformulação e resistência.

Ambas, desigualdade social e discriminação articulam-se no que se convencionou


denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e
culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço
público — pressuposto da democracia.

NÚCLEO COMUM
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UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
METROPOLITANA DE
Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem

SANTOS
os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil
tem produzido também experiências de convívio, reelaboração das culturas de
origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite
a cada um reconhecer-se como brasileiro.

Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de


fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade. A singularidade
que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo
cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão
ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o
enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida,
pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de
contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais
justa.

Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de


discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto,
para a própria nação.

Justificativa

É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição


populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do país consigo mesmo,
é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais como em relação a
grupos étnicos, sociais e culturais.

Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e


da discriminação racial/étnica. Na escola, muitas vezes, há manifestações de
racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores, de alunos, da
equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes
representam violação dos direitos dos alunos, professores e funcionários
discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional pelo
sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se vêem expostas.

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas, desenvolveram

SANTOS
uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e sedimentavam
injustiças.

Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o


estabelecimento, na Constituição Federal de 1988[1], da discriminação racial como
crime.

Mais ainda, há mecanismos de proteção e de promoção de identidades étnicas,


como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais[2] , assim como
apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais.

A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são decisivos mas insuficientes. Para


construir uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo educacional terá de tratar
do campo ético, de como se desenvolvem no cotidiano atitudes e valores voltados
para a formação de novos comportamentos, novos vínculos em relação àqueles que
historicamente foram alvo de injustiças.

Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada,
o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante. Ao
permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, ele forma a
criança, o adolescente e o jovem ³para a responsabilidade social de cidadão,
consolidando o espírito democrático.

Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica


é o primeiro passo. A escola tem um papel fundamental a desempenhar nesse
processo.

Em primeiro lugar, porque é um espaço em que pode se dar a convivência entre


estudantes de diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos diferentes
daqueles que cada um conhece, com visões de mundo diversas daquela que
compartilha em família. Nesse contexto, ao analisar os fatos e as relações entre
eles, a presença do passado no presente, no que se refere às diversas fontes de
que se alimenta a identidade — ou as identidades, seria melhor dizer — é
imprescindível esse recurso ao Outro, a valorização da alteridade como elemento
constitutivo do Eu, com a qual experimentamos melhor quem somos e quem

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
podemos ser. Em segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras

SANTOS
do espaço público para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar,
porque a escola apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o país e o
mundo, e aí a realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para
debates e discussões em torno de questões sociais.

A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela.

Singularidades presentes nas características de cultura, de etnias, de regiões, de


famílias, são de fato percebidas com mais clareza quando colocadas junto a outras.
A percepção de cada um, individualmente, elabora-se com maior precisão graças ao
Outro, que se coloca como limite e possibilidade. Limite, de quem efetivamente cada
um é. Possibilidade, de vínculos, realizações de “vir-a-ser”. Para tanto, há
necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações mais
precisas a questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso comum,
quando não ignoradas por um silencioso constrangimento.

Esta proposta traz a necessidade imperiosa da formação de professores no tema da


Pluralidade Cultural. Provocar essa demanda específica na formação docente é
exercício de cidadania. É investimento importante e precisa ser um compromisso
político-pedagógico de qualquer planejamento educacional/escolar para formação
e/ou desenvolvimento profissional dos professores.

Lido o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Pluralidade Cultural,


reflita:

1. Qual a diferença entre diversidade cultural e desigualdade social?

2. Como a escola pode auxiliar a compreensão da diversidade cultural?

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Núcleo de Educação a Distância

_____
METROPOLITANA DE
SANTOS
[1]Art. 5o, parágrafo XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei”.

[2] Art. 5o, parágrafos VI e IX: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença...; é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação”.

[3]Sobre adolescência e juventude, ver quarta parte do documento de Introdução aos Parâmetros
Curriculares Nacionais.

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Aula 08_Educação e Cultura
DE
SANTOS
Na aula anterior iniciamos a discussão sobre Pluralidade Cultural. Agora vamos
analisar como os conhecimentos sociológicos podem contribuir sobre esta questão.

Leiam o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre

Contribuições para o estudo da Pluralidade Cultural no âmbito da escola.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

PLURALIDADE CULTURAL

CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA

PLURALIDADE CULTURAL NO ÂMBITO DA ESCOLA

Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e aprendizagem, é


importante esclarecer o caráter interdisciplinar que constitui o campo de estudos
teóricos da Pluralidade Cultural.

A fundamentação ética, o entendimento de preceitos jurídicos, incluindo o campo


internacional, conhecimentos acumulados no campo da História e da Geografia,
noções e conceitos originários da Antropologia, da Lingüística, da Sociologia, da
Psicologia, aspectos referentes a Estudos Populacionais, além do saber produzido
no âmbito de movimentos sociais e de suas organizações comunitárias, constituem
uma base sobre a qual se opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na
escola, deve ter cunho eminentemente pedagógico.

A seguir são apresentadas algumas indicações das diferentes contribuições, a título


de subsídios-chave, a fim de balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não
o esgotem. São pistas que o professor poderá seguir aprofundando e ampliando
conforme as necessidades de seu planejamento. Visam, sobretudo, a explicitar que
tratar do povo brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no processo

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METROPOLITANA DE
histórico exige estudo e preparo cuidadoso que não se confundem, em hipótese

SANTOS
alguma, com o senso comum.

Fundamentos éticos

Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve preocupar-se


necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, uma das bases
concretas em que se praticam os preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de
todos — da escola e dos educadores em particular —, propostas e iniciativas que
visem à superação do preconceito e da discriminação. A contribuição da escola na
construção da democracia é a de promover os princípios éticos de liberdade,
dignidade, respeito mútuo, justiça e eqüidade, solidariedade, diálogo no cotidiano; é
a de encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade, o que exige
sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
aos problemas gerados pela injustiça social.

Conhecimentos históricos e geográficos

Os aspectos históricos e geográficos expõem uma diversidade regional marcada


pela desigualdade, do ponto de vista do atendimento pleno dos direitos de
cidadania. A formação histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em diferentes
momentos. Uma das formas de resistência refere-se ao fato de que cada grupo —
indígena, africano, europeu, asiático e do oriente médio — encontrou maneiras de
preservar sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma clandestina e
precária.

Assim sendo, tratar da presença do índio pela inclusão nos currículos de conteúdos
que informem sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a
sociedade, conforme disposto na Constituição de 1988 (art. 210, parágrafo 2o), é
valorizar essa presença e reafirmar os direitos dos índios como povos nativos, de
forma que corrija uma visão deturpada que os homogeneíza como se fossem de um
único grupo, devido à justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
Compreender a formação das sociedades européias e das relações entre sua

SANTOS
história, viagens de conquista, entrelaçamento de seus processos políticos com os
do continente americano, em particular América do Sul e Brasil, auxiliará professores
e alunos a formarem referencial não só de conteúdos específicos, como também da
estruturação de processos de influenciação recíproca. Isso é especialmente
importante para o momento atual, quando o quadro internacional interfere no
cotidiano do cidadão de muitas e variadas formas.

O estudo histórico do continente africano compreende enorme complexidade de


temas do período pré-colonial, como arqueologia; grupos humanos; civilizações
antigas do Sudão, do sul e do norte da África; o Egito como processo de civilização
africana a partir das migrações internas. Essa complexidade milenar é de extrema
relevância como fator de informação e de formação voltada para a valorização dos
descendentes daqueles povos.

Significa resgatar a história mais ampla, na qual os processos de mercantilização da


escravidão foram um momento que não pode ser amplificado a ponto que se perca a
rica construção histórica da África. O conhecimento desse processo pode significar o
dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético, da escravidão, de sua
mercantilização e das repercussões que os povos africanos enfrentam por isso.

Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui para a compreensão da


formação cultural brasileira, tanto no que se refere às tradições como aos processos
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as Américas, e em
particular para o Brasil, em diferentes momentos. É relevante, também, o estudo do
Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição da civilização
ocidental.

Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente conforme a necessidade


e a oportunidade do trabalho em sala de aula.

Conhecimentos sociológicos

Toda seleção curricular é marcada por determinantes e fatores culturais, sociais e


políticos, que podem ser analisados de forma isolada, para efeito de estudo, mas

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
que se encontram amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são

SANTOS
indispensáveis na Discussão da Pluralidade Cultural, pelas possibilidades que
abrem de compreensão de processos complexos onde se dão interações entre
fenômenos de diferentes naturezas.A escola pode fortalecer sua atuação tanto mais
quanto seja conhecedora dos problemas presentes na estrutura socioeconômica e
como se dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado pelo universo
cultural nesse processo.

Além das diversas contribuições da Sociologia, aspectos particulares voltados para a


discussão curricular têm sido desenvolvidos por autores que se ocupam da
Sociologia da educação Sociologia do Currículo. Nesses estudos são analisados os
vínculos entre escola democracia, escola e cidadania, democracia e currículo,
permitindo uma reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da sala
de aula.

Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão acurada de como as


diferenças étnicas, culturais e regionais não podem ser reduzidas à dimensão
socioeconômica de classes sociais.

Conhecimentos antropológicos

A Antropologia caracteriza-se como o estudo das alteridades, no qual se afirma o


reconhecimento do valor inerente a cada cultura, por se tratar do que é
exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo grupo, em certo momento,
em certo lugar. Cada cultura tem sua história, condicionantes, características, não
cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em detrimento de outra. Alguns
temas, conceitos e termos da temática da Pluralidade Cultural dependem
intrinsecamente de conhecimentos antropológicos, por se referirem diretamente à
organização humana, na qual se coloca a diversidade. Entre eles destacamos os
conceitos de cultura, raça e etnia.

No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce


no contexto de uma cultura e, ao longo de sua vida, ajuda a produzi-la. Não existe
homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se

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METROPOLITANA DE
fosse possível dizer que o homem é biologicamente incompleto: não sobreviveria

SANTOS
sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o gerou. A cultura é o
conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo a partir dos quais se
produz conhecimento: neles o indivíduo é formado desde o momento de sua
concepção nesses mesmos códigos e, durante a infância, prende os valores do
grupo. Por intermédio deles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta,
da maneira como cada grupo social as concebe.

A cultura, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas as


culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos
símbolos, atualizando valores, adaptando seu acervo tradicional às novas condições
historicamente construídas pela sociedade. A cultura pode assumir sentido de
sobrevivência, estímulo e resistência.

Quando valorizada, reconhecida como parte indispensável das identidades


individuais e sociais, apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida
democrática. Por isso, fortalecer a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que
compõe a sociedade brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a liberdade, o diálogo e,
portanto, a democracia.

O termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no cotidiano, vem sendo evitado cada vez
mais pelas ciências sociais pelos maus usos a que se prestou. Nas ciências
biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, cujos membros mostram com
freqüência certo número de atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de
indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato do crânio e
do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade.
O conceito de raça, portanto, assenta-se em conteúdo biológico, e foi utilizado na
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de superioridade/inferioridade entre
grupos humanos. Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso comum é
ainda muito difundido, para reafirmação étnica, como é feito comumente por
movimentos sociais, ou nos contextos ostensivamente pejorativos que alimentam o
racismo e a discriminação.

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
Por sua vez, o conceito de etnia substitui com vantagens o termo “raça”, já que tem

SANTOS
base social e cultural. “Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se
diferencia de outros por sua especificidade cultural. Atualmente o conceito de etnia
estende-se a todas as minorias que mantêm modos de ser distintos e formações que
se distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a uma etnia partilham
da mesma visão de mundo, de uma organização social própria, apresentam
manifestações culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição de
pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de um grupo étnico que
freqüentemente se autodenomina comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de
alguém tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de pensar sobre o
outro também apenas a partir de seus próprios valores e categorias — muitas vezes
dificulta um diálogo intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado
que as diversas culturas oferecem.

Por isso é errado, conceitual e eticamente, sustentar argumentos de ordem


racial/étnica para justificar desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso,
exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no Brasil, tentou-se justificar,
por essa via, injustiças cometidas contra povos indígenas, contra africanos e seus
descendentes, desde a barbárie da escravidão a formas contemporâneas de
discriminação e exclusão destes e de outros grupos étnicos e culturais, em
diferentes graus e formas. A escola deve posicionar-se criticamente em relação a
esses fatos, mediante informações corretas, cooperando no esforço histórico de
superação do racismo e da discriminação.

O SER HUMANO COMO AGENTE SOCIAL E PRODUTOR DE CULTURA

Ao pressupormos o ser humano como agente social e produtor de cultura, evocamos


a emergência de suas histórias, delineadas no movimento do tempo em interação
com o movimento no espaço.

Esse movimento, por sua vez, é mediado por diferentes linguagens, cujas
expressões denotam traços de conhecimentos, valores e tradições de um povo, de
uma etnia ou de um determinado grupo social. Nesse contexto, as imagens

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
construídas pelos gestos, pelos sons, pela fala, pela plasticidade e pelo silêncio

SANTOS
implicam conteúdos relevantes para a construção da identidade, pois é nesse
universo plural de significados e sentidos que as pessoas se reconhecem na sua
singularidade.

É no interior desse amálgama que podemos articular os conceitos de agente social e


produtor cultural. Os conteúdos apresentam-se numa relação de igualdade, na qual
não cabem avaliações preconceituosas e/ou pejorativas às diferenças de
linguagens, tradições, crenças, valores e costumes, com o objetivo de valorizar os
seres humanos como instância primeira das histórias.

• Conhecimento, respeito e valorização das diferentes linguagens pelas quais


se expressa a pluralidade cultural.

Conhecer e respeitar diferentes linguagens é decisivo para que o trabalho com este
tema possa desenvolver atitudes de diálogo e respeito para com culturas distintas
daquela que a criança conhece, do grupo do qual participa.

Este bloco oferece muitas oportunidades de transversalidade em Arte, quando por


exemplo o adolescente poderá aprender sobre a cerâmica artesanal de certa
população, ou músicas e danças de certos grupos étnicos, como formas de
linguagem. É muito importante que, ao propor a atividade, o professor contextualize
seu significado para o grupo étnico ou cultural de onde se originou a proposta, para
que o assunto não seja tratado como folclore, mas como elemento cheio de
importância para a estruturação e manifestação da vida simbólica daquele grupo.

• Conhecimento dos instrumentos disponíveis para o fortalecimento da


cidadania.

Cidadania é prática, e a escola tem meios de desenvolver essa prática para


trabalhar com o aluno não só a busca e acesso à informação relativa a seus direitos
e deveres, como o seu exercício. Assim, consultas a documentos jurídicos nacionais
e tratados e declarações internacionais poderá ser feita em sala de aula,
continuando trabalho desenvolvido nos ciclos anteriores.

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METROPOLITANA DE
Da mesma forma, identificar e desenvolver alternativas de cooperação na melhoria

SANTOS
da vida cotidiana na escola, na comunidade, na família é uma forma de prática de
cidadania, no espaço imediato de vivência.

É importante, também, entrelaçando com o tratamento dado à importância da


imprensa, identificar situações na vida da comunidade, localidade, estado, país, que
exigem ação reivindicatória, assim como ação de cooperação, entendendo a
dinâmica de direitos e deveres.

Em diferentes situações que se apresentem na vida diária da escola, será possível


desenvolver uma atitude de responsabilidade do aluno pelo seu ser, como
adolescente, exigindo respeito para si, cuidado com sua saúde, seus estudos, seus
vínculos afetivos, sua capacidade de fazer escolhas e opções.

Da mesma forma, é importante enfatizar conteúdo já mencionado no primeiro bloco,


referente à valorização, pelo adolescente, das oportunidades educacionais de que
dispõe, como elemento de formação e consolidação de sua cidadania,
potencializando-as o máximo possível. Esse cuidado é particularmente importante,
tanto para evitar o abandono dos estudos, como na percepção e atitude dos alunos
em relação à escola como instituição voltada para o bem comum, a qual cabe
valorizar, cuidar e proteger. Entrelaçando-se com Ética, é importante tratar da
cidadania a partir de atitude de valorização da solidariedade como princípio ético e
como fonte de fortalecimento recíproco.

Lido o texto e reflita sobre a seguinte questão:

Qual a contribuição dos conhecimentos Sociológicos sobre pluralidade


cultural?

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 09_Educação, cultura e conhecimento
DE
SANTOS

O conhecimento é um instrumento para a vida. Nesta aula vamos conversar um


pouco sobre este tema.

Uma visão do conhecimento

Podemos dizer que o homem é um acontecimento cósmico, planetário, social e


individual.

O homem produz, organiza e difunde o conhecimento para sobreviver e transcender.

No processo educacional, o homem deve ser pensado como aquele que vive
em busca de sobrevivência e transcendência. O homem procura adquirir
conhecimento para sobreviver e transcender. O homem observou a natureza e
produziu conhecimento: um bom exemplo é a chuva, pois na sua ausência, o
homem passou a regar a sua plantação para substituí-la. Além de produzir, ele
organizou e transmitiu esse conhecimento.

Conhecimento é o conjunto de meios para a sobrevivência e transcendência,


gerados por indivíduos coletivizados e acumulados no curso da história.

O conhecimento tem sido o maior instrumento para o exercício do poder e da


autonomia.

NÚCLEO COMUM
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O grande momento da espécie humana foi a descoberta do outro e a troca com o

SANTOS
outro por meio da comunicação, de informações e de modos de ações.

Vivemos hoje numa sociedade de conhecimentos.

Referência bibliográfica:

D’AMBRÓSIO, U. Educação para uma sociedade em transição. SP, ED. Papirus,


2000.

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA
Aula 10_Educação, cultura e ideologia.
DE
SANTOS
Nesta aula vamos conversar um pouco sobre trabalho, educação, cultura e
ideologia.

Cultura, Trabalho e Educação

A atividade animal é determinada por condições biológicas, caracterizada,


sobretudo, por reflexos e instintos. Trata-se de um tipo de inteligência concreta,
distinguindo-se da inteligência humana, que é abstrata.

O homem representa o mundo por meio do pensamento, expressando-o pela


linguagem simbólica. De fato, a linguagem substitui as coisas por símbolos, com
palavras, por exemplo.

A transformação que o homem exerce sobre a natureza chama-se cultura;


entretanto, o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por
outros.

A noção de trabalho é fundamental para se compreender o que é cultura. Aliás, o


trabalho é condição de liberdade, mas não em situações de exploração em que a
maioria é obrigada a trabalhar em condições inadequadas à sua humanização. Isto
é, na sociedade dividida em classes, o trabalho se torna alienado. Alienar, portanto,
é tornar alheio, é transferir para outrem o que é seu.

Por meio do trabalho o homem instaura relações sociais, cria modelos de


comportamento, instituições e saberes. O aperfeiçoamento dessas atividades, no
entanto, só é possível pela transmissão dos conhecimentos adquiridos através das
gerações. É a educação que mantém viva a memória de um povo e dá condições
para a sua sobrevivência.

Cultura Erudita e Cultura Popular

NÚCLEO COMUM
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Não vivemos em uma sociedade homogênea, toda produção cultural está sujeita à

SANTOS
avaliação que depende da posição social do grupo a que ela pertence. Para
exemplificar, vamos estabelecer algumas distinções, considerando as seguintes
divisões:

- A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional,


sobretudo na universidade, produzida por uma minoria de intelectuais.

- A Cultura Popular é identificada com folclore, conjunto das lendas, contos e


concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do
campo, das cidades do interior ou pela população suburbana das grandes cidades.

- A Cultura de Massa é aquela resultante dos meios de comunicação de massa.


Produzida “de cima para baixo”, impondo padrões e homogeneíza o gosto.

É preciso entender essas manifestações culturais como sendo expressões


diferentes de uma sociedade pluralista, sem considerações a respeito da
superioridade de uma ou outra.

Ideologia

A Ideologia é o conjunto de representações e idéias bem como de normas de


conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir de uma
determinada maneira que convém à classe dominante.

Lidar com conceitos abstratos, eternos e imutáveis, independentes da situação


histórica em que se inserem, é um dos artifícios ideológicos pelos quais os valores
dominantes são impostos.

Os meios pelos quais a ideologia é, a nós imposta, variam, sendo utilizados meios
tais como: a escola, os livros didáticos, os meios de comunicação de massa.

As estruturas petrificadas que justificam as formas de dominação são ameaçadas


pela filosofia, devido a essa ciência exercer papel importante como crítica de
ideologia.

NÚCLEO COMUM
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Até a próxima aula!

SANTOS

Referência Bibliográfica

ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP. ED Moderna, 1996.

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44
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Aula 11_A escola como instituição social
DE
SANTOS
Na aula de hoje abordaremos, de forma simplificada, alguns momentos e tendências
da escola e de sua relação com a sociedade em que se insere.

As sociedades antes da escola

Desde o aparecimento da educação formal, sempre existiu uma relação indissolúvel


entre escola e sociedade.

Vamos caminhar sobre as condições do aparecimento da educação formal, as


transformações ao longo do tempo e também as críticas que têm sido feitas às
soluções encontradas, trataremos das comunidades tribais, onde ainda inexistem
escolas.

As comunidades tribais - Trata-se de sociedades que não têm Estado, classes,


Escrita, Comércio e Escola. Essa sociedade é essencialmente mítica.

Nas comunidades tribais, as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos em


suas atividades diárias.

A adaptação aos usos e valores da tribo geralmente é levada a efeito sem castigo.

A escola tradicional burguesa

Nos séculos XVI e XVII, são fundados colégios pelas ordens religiosas dos séculos
XVI e XVII. E para disciplinar a criança, submetendo-a aos rigores da hierarquia,
surge o hábito dos castigos corporais.

Com isso, surge o modelo da escola tradicional: nestes colégios existe uma rígida
formação moral.

NÚCLEO COMUM
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Tornam-se famosos os internatos dos jesuítas, que se espalham por toda a Europa

SANTOS
durante 200 anos (do século XVI ao XVIII). Essas escolas se destinam à nobreza e à
burguesia ascendente.

Com a Revolução Industrial, passou-se a exigir que, ao lado da formação


humanística, fossem também estudadas as ciências da natureza.

A escola nova

No Brasil, o movimento da escola nova começou só no século XX, na década de 20.

Na escola renovada, o aluno é o centro e há uma preocupação muito grande com a


natureza psicológica da criança. A educação tradicional é magistrocêntrica.

A escola tecnicista

A escola tradicional no século XX tem sofrido inúmeras críticas de enfoques


diversificados. Entre essas, a partir da década de 60, surgem propostas de
inspiração tecnicista, baseadas na convicção de que a escola só se tornaria mais
eficaz caso adotasse o modelo empresarial. No modelo citado, há uma nítida
preocupação com a transmissão do saber científico exigido pela moderna
tecnologia.

No Brasil, nunca houve de fato plena implantação de reformas de tendência


tecnicista, por estarem os professores imbuídos ou da tendência tradicional ou das
idéias escola-novistas.

A desescolarização da sociedade

A escola nova pretendeu revolucionar os métodos trazendo para a vida a escola


tradicional. No entanto, seu ideal de democratização não foi atingido, aliás, ela
continuou a reproduzir as formas de dominação social. Devido a esse fato, o
australiano Ivan Illich apresenta uma proposta radical, a desescolarização da
sociedade.

NÚCLEO COMUM
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A principal crítica que pode ser feita a Illich refere-se à dimensão individualista do

SANTOS
seu projeto, que despreza uma análise mais profunda dos conflitos sociais. Na
verdade, ele propõe uma revolução moral, empenhada em conscientizar os
indivíduos para a mudança e converter cada um no seu íntimo.

Até a próxima aula!

Referência bibliográfica:

ARANHA, M.L.A. Temas de Filosofia. SP, Moderna, 1996.

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Resumo_Unidade I
DE
SANTOS
Apresentamos alguns conceitos básicos, pertinentes à literatura sociológica,
utilizados por sociólogos e educadores. Introduzimos o significado de educação e
socialização como processos interativos. Conhecemos as principais instituições
sociais e suas características, bem como o surgimento da escola como instituição
social. Por intermédio da análise sociológica da sociedade desvelamos a realidade
social, compreendendo a sua historicidade.

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Aula 12_A educação e a escola
DE
SANTOS
Na aula de hoje veremos como a escola vem realizando sua principal função: a
formação do educando.

Para esta discussão leiam o texto “Educar pra que? ” de Frei Betto, disponível em
nosso AVA.

Para complementar nossos conhecimentos, indico dois textos:

1 – A Escola dos meus sonhos, de Frei Betto, e

2 – Pra que serve a Educação, de Selma de Assis Moura:

Após a leitura do texto reflita sobre as questões abaixo:

1. Para Frei Betto qual é a finalidade do processo educacional?

2. Para ele a escola está atendendo às finalidades do processo educacional? Por


quê?

3. Qual a maior crítica que ele faz a escola?

Chegamos ao final de nossa unidade

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 13_A análise sociológica da sociedade capitalista
DE
SANTOS
Vamos, inicialmente, analisar e reconhecer a sociedade brasileira.

No início dos anos de 1970 Edmar Barra usou o termo Belíndia para falar da
desigualdade social no Brasil. Segundo ele havia uma pequena parcela da
sociedade brasileira que possuía grande poder aquisitivo, comparada com a Bélgica,
enquanto a grande maioria era pobre, esta era a Índia brasileira.

Sobre isso Kruppa diz que:

A explicação que se usa o exemplo da “Bélgica” e da “Índia” como


convivendo no mesmo Brasil, impossibilita-nos de ver que, longe de
se apresentarem como realidades distintas, aqueles que se encaixam
na Bélgica brasileira vivem assim graças à miséria causada pela
exploração daqueles que são considerados como pertencentes à
Índia brasileira. As razoes disso estão na forma pela qual o
capitalismo se estrutura, desde seu aparecimento: na exploração do
trabalho assalariado, que progressivamente foi separando os

NÚCLEO COMUM
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trabalhadores, o proletariado, dos donos dos meios de produção, a

SANTOS
burguesia. (1994, p. 48)

Leiam também o texto: “Belíndia” de Alan Henriques, disponível em nosso AVA:

Agora que você leu, analisou e compreendeu o texto “Belíndia”, vamos refletir sobre
algumas questões, em conformidade com as ideias do texto lido:

1- Por que o Brasil é um país de contrastes?

2- O que provoca a diferença social?

3- Qual é a classe social que tem maior acesso aos jornais, bibliotecas, teatros,
viagens, etc?

4- O Estado brasileiro tem procurado mudar esta situação de desigualdade,


investindo em serviços públicos como educação, saúde e moradia?

5- O modelo econômico adotado e o sistema educacional atendem com qualidade a


maioria da população?

6- Você concorda com as ideias da autora do texto? Por quê?

Referência Bibliográfica:

KRUPPA, Sonia M. P. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994.

NÚCLEO COMUM
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Aula 14_Compreendendo a realidade social
DE
SANTOS
Vamos analisar e compreender a realidade em que vivemos com o auxilio da
Sociologia.

Leia em seu AVA o texto “O Surgimento da Sociologia e do Socialismo” de


Lázaro Curvêlo Chaves.

Vejam também os textos “Origem da sociedade capitalista” de Paulo Meksenas, e “O


que é a Sociologia?” de Lucien Goldmann.

Reflita sobre esses aspectos:

1- A Sociologia é uma ciência que surge com a sociedade capitalista.

2- Ela procura explicar a sociedade capitalista.

3- Há várias teorias (explicações) para a realidade social.

4- Na análise da sociedade, os pensadores diferem quanto ao papel que


contribuem para a educação, cultura e sociedade.

5- Durkheim e Marx são contraditórios em relação aos processos sociais.

6- A Sociologia, como qualquer ciência, não é “dona da verdade”; está sempre se


refazendo.

Vamos Relembrar alguns assuntos importantes?

1. Segundo Émile Durkheim:

1.1. A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as novas, que
ainda não se encontram preparadas para a vida social.

1.2. A educação é, ao mesmo tempo, múltipla e una:

a) Múltipla: varia segundo o grupo social, no tempo e no espaço;

NÚCLEO COMUM
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b) Una: procura inculcar os valores dominantes na sociedade e preservar a

SANTOS
identidade nacional e os avanços da humanidade.

1.3. Como socialização, a educação vai construindo, em cada ser humano, o ser
social.

1.4. Embora cada indivíduo eduque a si mesmo, é a sociedade que estabelece o


clima, os meios e os objetivos do processo educativo.

2. Segundo outros autores:

2.1. A educação pode ser:

a) Intencional: em condições previamente estabelecidas e programadas;

b) Não intencional: sem programação, através da convivência social.

2.2. Os primeiros adultos que convivem com a criança, geralmente os pais são os
primeiros agentes educadores. São os veículos através dos quais a sociedade
inculca nas crianças os padrões sociais vigentes, abrangendo a totalidade do
indivíduo, desde o seu organismo até o seu psiquismo.

2.3. Através de métodos impositivos (horários de refeições, educação sanitária etc.)


ou não impositivos (o exemplo dos pais), a criança vai internalizando os padrões
sociais e sendo socializada.

2.4. A escola é a agência especializada na educação das novas gerações, tendo por
finalidade específica levar os alunos a conhecerem o patrimônio cultural da
humanidade.

2.5. A escola nem sempre existiu. Em sua evolução, podemos identificar várias
fases:

a) A época em que não havia escola , em que todo adulto era professor;

b) A escola da nobreza, na época medieval, em que predominavam os estudos


literários;

NÚCLEO COMUM
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c) A escola da burguesia, na época moderna, em que se começou a dar importância

SANTOS
aos estudos científicos;

d) A época posterior à revolução industrial, em que havia uma escola para os ricos,
chegando aos estudos superiores, e uma escola para os trabalhadores, limitada ao
primário;

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Aula 15_Educação e política.
DE
SANTOS
Nesta aula vamos abordar o conceito de política e sua relação com a educação.

O QUE É POLÍTICA?

De acordo com o Dicionário de Sociologia de Allan G. Johnson:

Política é o processo social através do qual o poder coletivo é gerado, organizado,


distribuído e usado nos sistemas sociais. Na maioria das sociedades, é organizada
sobretudo em torno da instituição do ESTADO, embora este fenômeno seja
relativamente recente. Nas sociedades feudais, por exemplo, o ESTADO era muito
fraco e subdesenvolvido, e o poder político cabia principalmente aos nobres,
vassalos e clero, cujas esferas de influência eram bem definidas pela extensão de
suas terras.

Embora seja associado com mais frequência a instituições de governo nos níveis
internacional, nacional, regional e comunitário, o conceito de política pode ser
aplicado a virtualmente todos os sistemas sociais, nos quais o poder representa
papel importante. Podemos, por conseguinte, fazer perguntas sobre a política da

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vida familiar e da sexualidade, a política de escritório, a política universitária ou

SANTOS
mesmo a política da arte e da música. Este último argumento tem importância
especial, porque chama a atenção para o fato de que todos os sistemas sociais têm
uma ESTRUTURA DE PODER e não apenas aqueles cujas funções sociais são
formalmente definidas em termos de poder”.

Para melhor compreensão do que é “política”, devemos ler outras fontes de


conhecimento para podermos evitar equívocos, tais como o de que somente os
políticos partidários (senadores, deputados, vereadores, etc...) fazem política.

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia – Guia Prático da Linguagem


Sociológica. RJ, Jorge Zahar Editor, 1997.

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Aula 16_A dimensão social da liberdade
DE
SANTOS
Nesta aula vamos estudar o conceito de liberdade sob o viés social.

A DIMENSÃO SOCIAL DA LIBERDADE: CRÍTICA AO CONCEITO LIBERAL


BURGUÊS DE LIBERDADE

Quando nos referimos ao caráter social da moral, queremos significar duas maneiras
do social agir sobre o homem. Num primeiro momento, o social é resultado de uma
herança cultural e, como tal, condição da imanência ou facticidade. Mas, ao
considerarmos o aspecto aperceptivo, o social que aí encontramos é justamente
condição da transcendência e expressão da nossa liberdade. Isso significa que é
impossível a liberdade fora da comunidade dos homens. As relações entre os
homens não são de contiguidade, mas de engendramento, isto é, os homens não
estão simplesmente uns ao lado dos outros, mas são feitos uns pelos outros: o
homem se humaniza pelo trabalho, e esta ação é social. Daí não podermos falar
propriamente do homem como uma “ilha”.

Para explicar melhor, vamos examinar o conceito burguês de liberdade, tal como foi
teorizado a partir dos séculos XVII e XVIII.

O pensamento liberal é essencialmente individualista. Parte do pressuposto do


contrato social e legitima todo poder para garantir a propriedade e a segurança dos
cidadãos. O Estado não deve intervir, em principio, senão para garantir a liberdade
individual (opondo-se ao mercantilismo, o liberalismo defende o “laissez faire”). A
liberdade individual surge como ponto de partida onde se alicerçam as relações
possíveis entre as pessoas. A expressão clássica dessa concepção é: “A liberdade
de cada um é limitada unicamente pela liberdade dos demais”.

A escravidão é condenada, e o contrato de trabalho se apresenta como uma forma


legal de acordo livre entre iguais: o dono do capital paga o salário ao operário; este,
por sua vez, vende sua força de trabalho. Mas também já vimos que a democracia
liberal é uma democracia de direito, e não de fato, pois o que ocorre é a elitização do

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poder: apenas as pessoas que têm propriedade têm poder político. A decorrência é

SANTOS
que os homens não são tão iguais assim e, portanto, a “liberdade de escolha” não é
tão “livre” quanto se poderia se imaginar. Na verdade, as condições de escolha já
estão predeterminadas.

Explicando melhor: ao tentar exercer sua liberdade, o proletário verifica que a livre
escolha dos indivíduos privilegiados acaba por delimitar cada vez mais o seu próprio
espaço de ação. Na selva do salve-se-quem-puder, onde cada um luta por si mesmo
e não deve obrigações a ninguém, a liberdade é uma ilusão. Além de que, se os
pobres quiserem expressar seus desejos, isso assume imediatamente um caráter de
desordem. O principio do liberalismo é: “A raposa livre no galinheiro livre”.

Quando nos referimos ao caráter social da liberdade, queríamos justamente nos


contrapor a essa idéia individualista de liberdade.

O ponto de partida não deve ser a liberdade individual, mas sim o interesse
coletivo. É a partir dele que o comportamento individual se regula. Só assim será
possível a efetiva liberdade de cada um, como processo final de uma ação calcada
na cooperação, na reciprocidade e no desenvolvimento da noção de
responsabilidade e compromisso. Nesse sentido, o outro não é o limite da nossa
liberdade, mas a condição para atingi-la. Merleau-Ponty dá o exemplo da tortura
infligida ao homem para obrigá-lo a falar: “Se ele se recusa a dar os nomes e os
endereços que se quer arrancar dele, não é por uma decisão solitária e sem apoio;
ele ainda se sentia com seus camaradas e, ainda engajado na luta comum, ele
estava como que incapaz de falar (...). Não é finalmente uma consciência nua que
resiste à dor, mas o prisioneiro com seus camaradas ou com o que amam e sob o
olhar de quem vive. (...). Estamos misturados no mundo e aos outros numa confusão
inextrincável”.

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Referência Bibliográfica

ARANHA, M.L.A. e outros. Filosofando. SP, Ed. Moderna, 1991. p. 321-322.

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Aula 17_Sociedade Contratual e Sociedade Contextual
DE
SANTOS
Nesta aula escolhemos uma crônica para trabalhar com as diferentes formas de
“acatar as leis” em sociedades distintas. É importante percebermos que a cultura de
cada povo e a sua organização social é responsável pelo modo como entende as
leis e respeita-as.

Leiam a crônica escrita, na revista “Emoção”, de fevereiro de 2000, pelo jornalista


americano Matthew Shirts, 41 anos, colunista do jornal “O Estado de São Paulo” e
redator-chefe da revista “Nacional Geographic Brasil”. Nasceu em São Diego, nos
Estados Unidos, e fez pós graduação em História na Universidade da Califórnia em
Stanford.

SOCIEDADE CONTRATUAL E SOCIEDADE CONTEXTUAL

No Brasil, furar o sinal vermelho é tido como normal, em certos casos. Já os


americanos param até quando não há ninguém na rua. Entenda esta diferença.

Você já deve ter reparado em alguma regra que é sistematicamente desobedecida


no seu local de trabalho. Gente que fuma onde é proibido ou que ouve rádio quando
outros estão tentando escrever. Por que existem as regras, perguntamos, se
ninguém obedece? São “coisas do Brasil”, é comum ouvir, a título de explicação.

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Pior é a situação do trânsito. Somos obrigados a assistir a barbaridades sem trégua.

SANTOS
Já vi motoristas andando alegremente na contra mão e coisas do gênero.

Mas o que mais chama a atenção de um estrangeiro, como eu, é a reação dos
brasileiros ajuizados, que costumam pôr em questão a viabilidade política do país,
sempre que alguém passa por um sinal vermelho. “Este país não tem jeito” é uma
das frases mais ouvidas. Considerações desse tipo soam surpreendentes aos
ouvidos de um americano, uma vez que, nos Estados Unidos, muito dificilmente
alguém ousaria questionar as bases políticas do país a partir de delitos individuais –
menos ainda a partir de infrações do Código de Trânsito. Mesmo quando acontecem
fatos graves, como massacres em escolas, não se duvida da viabilidade dos
Estados Unidos.

Com o tempo, vim a perceber que o hábito de questionar a viabilidade do Brasil, a


partir de acontecimentos cotidianos, é apenas a ponta mais visível de uma
discussão complexa. O que irrita os brasileiros, na verdade, é a relação dos seus
compatriotas com as leis e as regras vigentes no país. Estas tendem a ser vistas
com arbitrárias e, portanto, são desrespeitadas. O maior, talvez único, motivo para
obedecê-las é a ameaça de punição. Já em outros países, como os Estados Unidos
e a Alemanha, os cidadãos cumprem os regulamentos automaticamente e até com
gosto. As regras de comportamento são interiorizadas. Fazem parte da identidade
dos indivíduos.

Alguns antropólogos atribuem essa diferença a uma oposição entre culturas


“contratuais”, de um lado. E “contextuais”, do outro. Nas sociedades contratuais, o
comportamento é baseado num sistema de regras aceitas por todos. Nas
sociedades contextuais, como a brasileira ou a italiana, o comportamento varia de
acordo com a avaliação que o indivíduo faz de cada situação. Quando um brasileiro
chega a um sinal de trânsito fechado em uma avenida deserta às três horas da
madrugada, ele não pára. Dá uma desacelerada, olha para os lados para se garantir
de que não vem vindo ninguém – e segue em frente. O americano é diferente. Ele
breca com convicção, sem nem olhar (já que vai parar mesmo), e espera até o sinal
abrir.

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Nas
METROPOLITANA DE
sociedades contextuais, as regras são apenas uma referência. O

SANTOS
comportamento depende de cada situação, do momento. É por isso que as leis “não
pegam” muitas vezes. Ninguém crê, no íntimo, que devam ser obedecidas
cegamente. Vale o juízo individual e, quando necessário, o famoso jeitinho – uma
maneira de driblar as regras, no fim das contas. As sociedades contextuais são mais
libertárias nesse sentido. Ninguém vai deixar de fumar se não alguém para se
incomodar com o cigarro aceso. Tampouco alguém vai parar num semáforo no meio
do deserto – afinal, ninguém é bobo. Os integrantes das sociedades contextuais
acreditam menos no valor das regras. “Para os amigos tudo; para os inimigos, a lei”
é uma frase tipicamente contextual.

Já nas sociedades contratuais a lei serve para resolver todos ou quase todos os
conflitos, do assédio sexual aos latidos do cachorro do vizinho. É por isso que
existem mais advogados nos EUA do que em todos os outros países do mundo
juntos. O caso Mônica Lewinsky, por exemplo, foi até a Suprema Corte, o que não é
pouca coisa. Era preciso saber se o presidente Bill Clinton violara as regras ou não.
As sociedades erguidas sobre um contrato são assim. Por aqui, no entanto, ninguém
entendeu o motivo de tanto escândalo. Na visão brasileira, Clinton era culpado de
uma pulada de cerca. Devia explicações para a mulher dele, sim, jamais para
instância mais alta do sistema legal do país. Era uma questão pessoal. Se havia
violado uma lei qualquer não vinha ao caso.

Explicar porque algumas sociedades são contratuais e outras contextuais é uma


tarefa complexa. Os motivos têm a ver com a formação cultural de cada nação.
Alguns analistas destacam a relativa fraqueza de certas burguesias nacionais e a
conseqüente dificuldade para impor às sociedades contextuais o que o filósofo
italiano Antonio Gramsci (1891-1937) chamou de hegemonia cultural. Também é
possível chamar a atenção para o papel da escravidão e do colonialismo na falta de
legitimidade dos sistemas legal e político.

Se um tipo de cultura – seja contratual, seja contextual – é melhor que o outro, não
está claro e depende um pouco do gosto de cada um. Quando os brasileiros
reclamam, diante de uma contravenção no trânsito, que o país não tem jeito, estão
dizendo que só quando o comportamento dos patriotas mudar é que o país poderá

NÚCLEO COMUM
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METROPOLITANA DE
dar certo. Ou seja, só quando a americanização do brasileiro for completa. Já os

SANTOS
partidários da cultura contextual tendem a destacar a capacidade do brasileiro para
lidar com situações de improviso. A vida por estas bandas é mais divertida. Ao
menos é o que dizem.

Até a próxima aula!

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Aula 18_ Emile Durkheim e a Educação
DE
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Em aulas passadas trabalhamos com o sociólogo Emile Durkheim. Considerado o


criador da Sociologia da Educação, ele nasceu em Epinal, noroeste da França em
1858. Lecionou Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras de Bordeaux,
onde foi criada a primeira cátedra de Sociologia da França, sob sua alçada. Ele dizia
que: "A sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a
educação realiza".

Vamos compreender o pensamento de Émile Durkheim, por meio dos textos que
estão em seu AVA:

“O criador da Sociologia da educação”

“A Sociologia de Durkheim”.

REFLITA SOBRE O TEXTO:

1) Qual a função da educação?

2) Quais as características da educação?

3) Qual a função do Estado na educação?

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 19 _A sociedade para a Sociologia crítica
DE
SANTOS
Iniciamos a partir dessa aula com um pensamento social diferente daquele
positivista, baseado numa teoria da harmonia social. A Sociologia Crítica possui uma
análise que percebe desigualdade na sociedade, lançando seus esforços para
entender a raiz dessa diferença. Um dos mais importantes pensadores dessa
corrente foi o alemão Karl Marx.

Karl Marx e Durkheim foram criados num ambiente cultural de classe média. Como o
pai de Marx era advogado, ele teve a oportunidade e acesso aos estudos. Formado
numa sociedade alemã regida por um governo autoritário que para se manter no
poder político eliminava seus adversários. Marx era portador de idéias novas e
críticas com relação ao estado alemão, governado por Frederico IV. Não consegue
ser professor universitário, e sua carreira passa a ser o jornalismo, dirigindo uma
agência jornalística.

Marx considerava que a sociedade capitalista sempre seria imperfeita, sendo


que o único caminho para a superação dos problemas sociais seria a luta
política para a construção de uma nova sociedade: o socialismo. Para entender
melhor a diferença entre o capitalismo e socialismo, é necessário se aprofundar na
teoria de Marx.

NÚCLEO COMUM
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Há uma enorme diferença entre Durkheim e Marx: para o primeiro a sociologia era a

SANTOS
ciência que contribuiria para levar a sociedade capitalista à perfeição e analisou a
sociedade, a partir da organização da moral social. Já Marx se interessou pela
relação existente entre a consciência das pessoas e a forma de se organizarem
para transformar a natureza através do trabalho. Concluiu que o modo pelo
qual as pessoas trabalham em determinada sociedade influi no modo como
pensam e se definem como seres sociais.

No capitalismo, o trabalho se organiza para dar origem à produção quase infinita de


mercadorias. Essa é a aparência de nossa sociedade: imenso depósito de
mercadorias. O que pode haver por trás dessas mercadorias? Que relações sociais
elas escondem?

Marx concluiu que, para além das mercadorias e das relações de troca está a
produção dessas mercadorias. Estudando o modo de produção das mercadorias,
concluiu que existem duas classes sociais básicas: de um lado, os proprietários
dos meios de produção, e de outro, os proprietários da força de trabalho. Essa
segunda classe não tem outro recurso que não seja vender por salário a sua força
de trabalho, que acaba por ser considerada, ela também, como mercadoria. Com o
capitalismo, a força de trabalho passa a ser considerada uma mercadoria que
produz lucro para a classe empresarial.

A classe trabalhadora sempre produz mais do que recebe. Seu salário é sempre
muito menor que a soma do valor dos bens que produziu. Todo o excedente que a
classe trabalhadora produz fica nas mãos do capitalista que, com isso, enriquece
sempre mais.

Ao analisar a organização do trabalho no capitalismo, descobriu uma contradição


básica: que a riqueza de alguns era devida a uma situação de exploração e pobreza
a que uma imensa maioria está submetida. É esta contradição entre capital e
trabalho que origina os problemas sociais: lucro excessivo de um lado, salário baixo
de outro; mansão de um lado, cortiço de outro; saúde de um lado e subnutrição de
outro, etc.

NÚCLEO COMUM
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Uma sociedade com tais distorções, organizada a partir da exploração de uma

SANTOS
classe por outra, é necessariamente uma sociedade de violência. Propõe resolver
tais distorções atacando a raiz do problema, ou seja, a contradição entre capital e
trabalho. Para eliminar esta contradição não poderia haver distinção entre
proprietários e não proprietários. A construção da nova sociedade, com novas
relações e instituições sociais, só se daria a partir do momento em que a
classe trabalhadora se organizasse e lutasse pelos seus direitos.

Enquanto Durkheim acreditava que a ciência sociológica e a educação poderiam


reformar o capitalismo para melhor, eliminando seus problemas,Marx pregava que
através da organização e luta da classe trabalhadora dentro de todas as
instituições, a sociedade capitalista seria superada com a criação de uma
sociedade nova e mais humana.

Referência bibliográfica:

TOMAZI, N. D. Sociologia da Educação.São Paulo. Ed. Atual, 2003.

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Aula 20_A Educação para a Sociologia Crítica
DE
SANTOS
A Sociologia Crítica entende que a educação é um processo importante na formação
da consciência social dos indivíduos. É o que vamos ver nesta aula.

A Educação e a Sociologia Crítica

Marx tem preocupação com a educação mas não desenvolve uma teoria da
educação. Ele se propôs a analisar a ligação entre a organização do trabalho e as
classes sociais, o Estado, a ideologia. Não há nenhum livro de Marx que trate
especificamente de educação. A concepção de Marx sobre a sociedade capitalista
permite pensar criticamente a educação e a escola. É possível analisar seus textos
procurando ressaltar aquilo que se refere a educação;

1. Ideologia e Educação

A Sociologia crítica parte do princípio de que o elemento básico é o trabalho. Para


sobreviver, o ser humano transforma a natureza que o cerca e cria os bens materiais
de que necessita. Assim, ao realizar um trabalho, as pessoas passam a pensar e a
desenvolver suas consciências para, em seguida, se comunicar, trocar ideias
através de uma linguagem. Nesse processo, passam a interpretar não só a
sociedade em que vivem, como também as suas atividades práticas. É assim que as
pessoas estabelecem relações sociais.

No desenrolar da história, não ocorreu que primeiro os seres humanos


estabelecessem formas de comunicação entre si para depois transformar a

NÚCLEO COMUM
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natureza, mas, como já vimos, só foi possível desenvolver uma consciência e uma

SANTOS
linguagem tentando resolver problemas práticos que surgem ao enfrentar a
natureza. É a luta do ser humano pela sobrevivência que o faz desenvolver
pensamento e linguagem.

Em resumo, para Marx, não é a consciência das pessoas que explica a sociedade,
mas determinada maneira de se apropriar da natureza e agir cria determinada
consciência, determinada maneira de pensar.

A consciência das pessoas, suas ideias, seus valores resultam de relações sociais
que os indivíduos estabelecem entre si no processo de apropriação material da
natureza. Entretanto é importante saber que a ligação entre as relações sociais e a
consciência é algo contraditório; nem sempre a realidade social corresponde àquilo
que pensamos sobre essa realidade. Por quê?

Para Marx, a sociedade capitalista se fundamenta numa organização do


trabalho que dá origem a classes sociais e onde os proprietários dos meios de
produção exploram os trabalhadores. Essa visão de exploração nem sempre está
presente na consciência das pessoas, porque aparecem certas ideias e valores que
tentam esconder essa realidade. O que foi afirmado nos sugere uma pergunta: qual
a origem dessas ideias e valores que em certos momentos parecem ocultar as
relações sociais de exploração?

Para responder tal questão, devemos ter em mente que as experiências práticas das
pessoas no trabalho e na vida cotidiana são diferentes. Isso dá origem a
interpretações diferentes dos fatos, a visões diferentes do mundo. A visão que a
classe empresarial tem do trabalho e de sua vida cotidiana é diferente da visão que
tem a classe trabalhadora. Para a primeira classe social (proprietária) o trabalho é
fonte de lucro; sua tendência é reforçar os aspectos que acha positivos no
capitalismo: sociedade boa, de riquezas, de progresso, liberdade para empreender e
tornar-se rico etc. Por outro lado, para os trabalhadores, o trabalho é fonte de
pobreza. Sua tendência é reforçar os aspectos negativos do capitalismo: sociedade
desigual, de privações, de salários baixos, falta de liberdade para se viver
dignamente etc.

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Entretanto essa segunda visão de mundo, nem sempre está presente na

SANTOS
consciência das pessoas. A visão da classe empresarial predomina, aparece como
única visão verdadeira. Isso ocorre pelo simples fato de que a classe empresarial,
tendo maior poder econômico, político e de comunicação, consegue impor mais
facilidade os seus interesses, convencer o conjunto da sociedade da “verdade” e da
“validade” prática de sua visão do mundo.

Podemos afirmar que na sociedade capitalista existe ideologia: uma imposição dos
valores e idéias da classe empresarial (classe dominante) como sendo a única visão
correta da sociedade e a conseqüente tentativa de fazer com que a classe
trabalhadora pense com os valores da classe dominante.

A ideologia beneficia enormemente a classe empresarial, pois a partir do


momento em que ela consegue impor suas ideias, seus valores como sendo
os corretos e, a partir do momento que os trabalhadores aceitam isso, fica bem
mais fácil para os grupos dominadores manter sua exploração sobre o
restante dos indivíduos da sociedade.

Sabendo agora um pouco do significado da ideologia para Marx, podemos ir adiante


e perceber o que ela transmite. Nos dias de hoje, para impor a sua visão de mundo,
a classe dominante utiliza os meios de comunicação de massa, os jornais, as leis e,
finalmente, a educação. Nesse sentido, dentro da concepção teórica de Marx,
podemos afirmar que a educação escolar vem desempenhar o papel de
transmissora da ideologia dominante; é o elemento responsável por inculcar em
todos os indivíduos os valores e as idéias da classe empresarial como a única visão
correta do mundo. Assim as regras de funcionamento da escola, os seus conteúdos
de aprendizado dão meios para reproduzir a desigualdade da sociedade capitalista.

Por último, é importante salientar que o conceito de ideologia desenvolvido aqui se


refere à teoria de Karl Marx. Outros autores têm dado outras definições da ideologia.
No entanto, como a preocupação desse texto é ressaltar algumas ideias de Marx a
respeito dela, deixamos de lado outras possíveis definições do mesmo termo por
outros autores.

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 21_A análise Marxista no estudo da escola
DE
SANTOS
O Pensamento de Marx ganhou muitos adeptos em vários campos do conhecimento
por desenvolver uma análise de questões postas ainda nos dias de hoje. Na
educação isso não foi diferente, onde muitos educadores, a partir do referencial
marxista, lançam pressupostos para os problemas encontrados, como é o caso da
escola. Esse é o assunto desta aula.

A análise marxista no estudo da escola

Marx possui uma visão de sociedade onde a escola, transmitindo ideologia, seria
elemento de reprodução dos interesses da classe empresarial para ajudá-la a
manter seu poder e domínio sobre a classe trabalhadora. Numa sociedade dividida
por classes sociais em contradição e conflito, temos uma educação e uma escola
que reproduzem a divisão e o conflito.

Para Marx, a educação não é una, com o pensava Durkheim. Ao contrário, toda
educação é de classe, pois a educação que a classe empresarial recebe é diferente
daquela da classe trabalhadora. Enquanto os membros da primeira são educados
para dirigir a sociedade de acordo com os seus interesses, os membros da segunda
são disciplinados e adestrados para o trabalho, para aceitarem a sociedade
capitalista como ela se apresenta, sendo submissos.

NÚCLEO COMUM
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Para Marx, a educação é de classe e, nesse sentido, a escolaridade para a classe

SANTOS
trabalhadora tem dois objetivos: preparar a consciência do indivíduo para perceber
apenas a visão de mundo da classe empresarial como correto, isto é, transmissão
de ideologia; preparar o indivíduo para o trabalho, fazendo com que aprenda o
necessário e suficiente para lidar com seus instrumentos de trabalho, disciplinando e
treinando o corpo/mente do jovem da classe trabalhadora para que possa
desempenhar adequadamente suas tarefas de trabalho.

Por outro lado, a classe empresarial recebe outro tipo de escolarização muito mais
aperfeiçoado e completo, com acesso às melhores escolas, aos melhores
professores e materiais didáticos para assim, com bom nível de conhecimentos,
poder se aperfeiçoar e se perpetuar na função de classe dirigente. O conhecimento
é fonte de poder; a partir do conhecimento, é possível dominar mais facilmente outra
pessoa; faz sentido que em nossa sociedade a classe empresarial tenha acesso às
melhores escolas enquanto que aos trabalhadores reste apenas o acesso àquele
conhecimento parcial que lhe garanta a condição de dominado “eficiente”.

Marx admite a escola em nossa sociedade como instituição sob controle da classe
empresarial para transmitir a ideologia e treinar os trabalhadores para uma atividade
produtiva em que serão explorados.

Entretanto, diante desse fato, Marx parece mostrar à classe trabalhadora que ela
não deve negar escola ou abandoná-la. Ao contrário, deve exigir com tanto mais
força seu direito à educação e, ao mesmo tempo, atuar dentro e fora da escola para
que ela se transforme numa instituição que possa representar também os interesses
das classe trabalhadora.

Estudos da escola, com base nos conceitos marxistas, têm necessariamente


uma análise:

 da sociedade em que se encontra essa escola: estudo das condições de trabalho


e das relações sociais existentes entre as classes sociais;

 das implicações das contradições presentes nessa sociedade;

NÚCLEO COMUM
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das condições de produção de conhecimento;

 SANTOS
das consequências da divisão do trabalho presente em todas as instituições;

 da forma de reprodução da sociedade capitalista.

Até a próxima aula!

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Aula 22_A educação escolar e a sociedade brasileira
DE
SANTOS
Nesta aula, iniciamos a Unidade: A Escola na Sociedade Brasileira apresentando um
quadro social que relaciona a escolaridade e a ascensão social na sociedade
brasileira.

A escola é um meio de ascensão social?

A população em geral acredita nisso e demonstra essa crença na luta pela escola.

Como a escola tem respondido a essa luta?

No Brasil, só conclui os estudos uma minoria. A maioria com menor poder aquisitivo
não termina o processo de escolarização básica. Logo, aos de maior renda, maior
número de estudos e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a repetência e a
evasão juntam-se ao trabalho precoce. Isto leva a uma sociedade dividida em
indivíduos que servem para pensar e outros para trabalhar.

“A escola é para todos”? Vemos essa afirmação nos discursos e na legislação.


Entretanto, isso não acontece, pois as informações estatísticas mostram uma outra
realidade.

Comparando-se 100 brasileiros, tomando-se por base os anos de estudos, temos os


seguintes resultados:

 8 (oito) com mais de 9 anos de estudo, ganhavam mais de 10 salários mínimo;

 22 (vinte e dois) que possuíam entre 5 a 8 anos de estudo, ganhavam de 3 a 10


salários mínimos;

 70 (setenta) tinham até 4 anos de estudos, e muitos eram analfabetos e


ganhavam até 3 salários mínimos.

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Percebemos a desigualdade social, quando a concentração de renda se

SANTOS
encontra nas mãos de poucos e aos de baixa renda, pouco ou nenhum
estudo. Logo, ao contrário da aspiração da população, a escola não tem servido
como meio de ascensão social. A análise sobre renda e escolaridade mostra os
motivos sociais e econômicos da evasão e da repetência, desmascarando o
conceito feito pela escola, ao afirmar que o aluno é incapaz de segui-la por ser uma
falha pessoal e não um problema de natureza social e de forma de organização da
escola.

A população que luta pela escola, não recebe dela as informações necessárias
para o reconhecimento de sua situação, participando de suas mudanças. A
escola, com sua prática, muitas vezes contribui para a deformação da análise a ser
feita sobre o fracasso escolar. A população termina por expressar essa avaliação de
modo conformista:

“O menino é fraco da cabeça, não dá para o estudo”.

RESPONDA:

- A escola é um meio de obter-se melhores condições de vida? Por quê?

- A escola tem proporcionado melhores condições de vida para você?

Até a próxima aula!

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SANTOS
Referência Bibliográfica:

PILETTI, N. Sociologia da Educação. São Paulo, ED. Ática, 2003.

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Aula 23_A educação escolar como intervenção
DE
SANTOS
Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a Educação?

O livro “O que é Educação”, de Carlos Rodrigues Brandão, é importantíssimo


para o educador!

Justificativa:

É de fácil leitura;

Explica o que é educação em seus aspectos essenciais;

Temos obrigação, como profissionais da educação, de compreender todo o


significado da palavra “EDUCAÇÃO”.

Nesta aula, leia o último capítulo: “A esperança na educação”, do livro acima


citado, pág. 98 a 110 e reflita sobre essas questões:

1) A educação é determinada fora do nosso poder?

2) A educação que existe no sistema escolar é criada e controlada por um sistema


político dominante?

3) A sociedade desigual separa os filhos de operários dos filhos de não operários?

NÚCLEO COMUM
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4) Por que acreditar ainda na educação?

SANTOS
5) Quando Paulo Freire cita que temos de “Reinventar a educação”, o que ele quis
dizer?

6) Onde existe educação? A quem ela pertence?

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

Brandão, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2003.

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Aula 24_A educação escolar como invenção
DE
SANTOS
Nesta aula, você irá comparar as respostas da anterior (AULA: 39) com as
colocações que faço abaixo:

Após a leitura de Brandão, no último capítulo de seu livro “O que é


educação”, fazemos as seguintes considerações:

a) A educação é determinada fora do poder de quem a pratica, tanto os educadores


com os educandos.

b) A educação que existe no sistema escolar é criada e controlada por um sistema


político dominante.

c) A sociedade em que vivemos é desigual, pois reproduz a desigualdade social.

d) Temos que acreditar na educação, porque, queiramos ou não ela existe; os


sistemas educacionais podem mudar, saindo da reprodução da desigualdade e
criando um outro onde aja igualdade e liberdade entre os homens; a educação é
uma criação e podemos construir um outro tipo de mundo.

e) Paulo Freire usa a expressão: “Reinventar a educação”, para mostrar que a


educação foi inventada pelos homens. Ela é sempre realizada pelos seres humanos
e poderá ser reinventada de outra maneira.

f)“A educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre os opostos”. Ela
pertence a todos nós, entretanto, há educações desiguais onde há classes sociais
desiguais.

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 25_A escola e a questão cultural
DE
SANTOS
Nesta aula continuamos a discussão sobre o saber a Educação e Sociologia.

Releia o último capítulo: “A esperança na educação” do livro “O que é


educação” de Carlos Rodrigues Brandão, págs. 98 a 110 e reflita sobre
essas questões:

1) Por que a educação aparece como propriedade, como sistema e como escola?

2) O que os pesquisadores descobriram ao estudar as classes subalternas, em


relação às formas próprias de educação do povo?

3) Por que os esforços dos professores e diretores, para que haja um maior
intercâmbio entre a escola e a comunidade, resultam, quase sempre, em fracasso?

4) Qual é a esperança que se pode ter na educação?

Até a próxima aula!

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Aula 26_A escola e a questão cultural
DE
SANTOS
Nesta aula apresentamos alguns comentários sobre as questões da nossa aula
anterior.

Compare as respostas da anterior (AULA: 41) com as colocações que faço abaixo:

Segundo Brandão, no último capítulo de seu livro “O que é educação”, fazemos as


seguintes considerações:

a) O controle sobre o saber se faz em boa medida, através do controle sobre o quê
se ensina e a quem se ensina; de modo que, através da educação erudita, da
educação das elites ou da educação oficial, o saber oficial transforma-se em
instrumento político de poder. A educação sai da comunidade em que fez parte um
dia e ingressa na estrutura dos aparatos de controle, ou seja, a “educação –de-
educar” (numa aprendizagem coletiva, onde todos compartilham do conhecimento)
desaparece, dando espaço para a “educação-de-instruir” (aprendizagem escolar
sobre o controle do Estado e da sociedade civil).

b) As classes subalternas aprenderam a criar e a recriar uma cultura de classe –


mesmo quando aproveitaram muitos elementos dominantes que lhes foram impostos
como ideias ou como políticas e também formas próprias de educação do povo.
Souberam criar, dentro dos limites estreitos em que lhes foi permitido criar alguma
coisa sua, os seus modos próprios de saber, de viver...criaram o que chamamos de
“cultura popular”.

c) O intercâmbio entre a escola e comunidade, quase sempre, acaba fracassando,


porque a comunidade vê a escola como um posto invasor, que tenta dominá-la,
impondo a sua cultura. Para que haja a participação popular, há a necessidade de
criação de escolas comunitárias com experiências inovadoras (como vem ocorrendo
em algumas partes do Brasil). Elas devem ser mantidas pelo poder público, mas
controlada pelas comunidades.

NÚCLEO COMUM
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d) Podemos ter esperança na educação, desde que não pensemos que as melhoras

SANTOS
nesse setor só dependem do desenvolvimento tecnológico. Temos que acreditar que
o ato humano de educar existe tanto no trabalho pedagógico, existente na escola,
quanto no ato político que luta na rua por um outro tipo de escola, para um outro tipo
de mundo. Mesmo que, nesse tipo de mundo, a educação continue a ser movimento
e ordem, sistema e contestação.

Até a próxima aula!

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Aula 27_A organização da escola
DE
SANTOS
Nesta aula abordaremos a questão da organização da escola como parte da
sociedade, mas que possui suas próprias regras.

A escola como organização

Como uma organização, a escola constitui uma coletividade que busca atingir
certos objetivos, exigindo determinadas condutas sociais para realizar tais
objetivos. Nela há conflitos entre as necessidades das demais pessoas e suas
próprias necessidades; entre relações formais e informais; entre racionalidade e
irracionalidade; entre direção e corpo docente, entre corpo discente e corpo de
funcionários.

Como em qualquer organização há na escola formalidade e informalidade.

As relações formais da organização expressam-se principalmente em seu


organograma, que mostra as relações entre as unidades da organização, fixando as
atribuições de cada uma delas. As relações formais são normalmente visíveis e
oficiais da organização. As informais apresentam-se ocultas, naturais.

As relações formais da organização baseiam-se em normas e em


regulamentos que estabelecem a autoridade no seu interior. Essas normas e
regulamentos com freqüência restringem a realização dos objetivos da organização.
Assim, certas normas e regulamentos vindos fora dela são erradamente atribuídos a
ela. Outros baixados dentro dela são erradamente vistos como manifestação
exclusiva de seus objetivos. Nesse caso, as relações informais são ainda
erradamente vistas como auxilia ou empecilho.

Os objetivos da escola, como em todas as organizações, não podem excluir


outros objetivos da sociedade como um todo.

NÚCLEO COMUM
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A respeito dos objetivos, a melhor pergunta é a quem eles servem. Os objetivos não

SANTOS
são explicados por eles mesmos, separados dos conflitos e das contradições da
sociedade capitalista. Na escola, os objetivos precisam ser considerados pela
perspectiva da escola, política educacional, dos fins da educação, das classes
sociais a quem eles servem.

Os objetivos escolares, como os das demais organizações, procuram sempre


legitimação, justificando-se com algum ou alguns interesses e valores sociais. Vale a
pena analisar com carinho esses interesses ou valores sociais. Corre-se o risco de
descobrir que, muitas vezes, os objetivos propostos à escola são objetivos impostos
a ela.

ATIVIDADE

Teste a sua compreensão, após a leitura do texto acima, refletindo sobre essas
questões:

1. Por que a escola é uma instituição social?

2. Como está organizada?

3. As regras existentes na escola são coerentes com os objetivos de formar


cidadãos críticos?

Até a próxima aula!

NÚCLEO COMUM
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Aula 28_A organização da escola
DE
SANTOS
Nesta aula continuamos com a temática da organização da escola. Acompanhem!

O administrativo e o pedagógico na escola.

O pedagógico da escola, onde se dá o processo ensino – aprendizagem é o ponto


marcante e primordial da organização da escola. Entretanto, vemos frequentemente
que o administrativo é mais valorizado que o pedagógico. A pressão dos “números”
e da papelada sobre o processo do saber é exemplo disso. Em torno do controle dos
números de evasão e repetência constitui-se o mito da eficiência da escola:

A assistente pedagógica afirma: “Acho que existe muita cobrança em termos de


aprovação e o professor acaba se dedicando aos que vão ser aprovados. Os que de
início se mostram não prontos acabam abandonados”.

As primeiras séries são classes sempre indesejadas e, dentre elas, sempre que
possível a dos repetentes é negada pelos professores e pela instituição.

Os números falam mais que os processos de aprendizagem: para viver a instituição


necessita de uma demonstração de competência, mesmo sendo ilusória.

Vemos professores reclamando de que precisam cumprir tarefas burocráticas:


mapas de aproveitamento escolar, preenchimento de papeletas, fichas, mapas de
merenda escolar etc.

NÚCLEO COMUM
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A administração da escola pode e deve ser feita de maneira mais simples, porém

SANTOS
funcional, liberando os docentes para exercerem a sua função, ou seja, o
intermediário do processo ensino – aprendizagem.

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

KRUPPA, Sonia Maria Portella. Sociologia da Educação. São Paulo, Cortez, 1994.

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Aula 29_O preconceito na escola
DE
SANTOS
Nossa aula é sobre preconceito na escola e como é tratado pelos professores.
Acompanhem!

Os preconceitos circulam livremente na escola, favorecendo situações de


dominação. São percebidos nas falas, nas atitudes em geral de professores e outros
profissionais nela presentes, e até mesmo entre os alunos.

Há preconceitos, claramente expressos, contra o pobre, o favelado, o negro, o


homossexual, o portador de necessidade especial, etc. As famílias são normalmente
responsabilizadas pelo fracasso dos filhos, “Seja por defeitos morais e psíquicos,
seja pela separação dos pais, por sua ausência que lhes são frequentemente
atribuídos” (PATTO, 1987:14). Geralmente são tidos como sexualmente promíscuos,
primitivos, vadios, pouco inteligentes, violentos, com vocação para a marginalidade e
delinquência. Assim, os professores classificam os alunos por categorias formadas à
base de cor, sexo e classe social. Através da classificação, os professores
contribuem para o fracasso escolar.

Alguns fatores favorecem essa atitude:

a. O trabalho dividido separa o planejar do executar, e a sobrecarga dos


professores, com uma jornada interminável, que torna o trabalho um peso. O
trabalho passa a ser alienado, conforme ocorrem afastamentos e faltas frequentes.
Os professores não têm tempo para refletir sobre seu trabalho. Fechados assim em
sua particularidade, os professores se tornam alienados. Segundo Patto, “o
professor cumpre com sua obrigação, realizando diariamente um ritual, sempre o
mesmo, destituído de vida e de significado que o mortifica: obediente mas
descrente, coloca conteúdos na lousa passa mecanicamente pelas carteiras,
constata sempre os mesmos erros que aponta com maior ou menor irritação, para
começar de novo tudo no dia seguinte, no mês seguinte, no semestre seguinte. Os
dias são todos iguais...”.

NÚCLEO COMUM
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b. Os preconceitos são sustentados por teorias científicas que, tal como eles,

SANTOS
correm soltas na escola. Dentre elas, a da carência cultural e alimentar: “A criança
não aprende porque é desnutrida” ou “Não aprende porque é culturalmente
pobre”. Mesmo conhecendo a teoria da diversidade cultural, o professor acaba
tendo uma ação discriminatória.

De nada adiantam cursos e treinamentos aos professores, se não forem dadas


condições efetivas (tempo para reuniões de pequenos grupos), para que estes
revejam suas práticas na unidade escolar, com autonomia.

A escola precisa discutir a sociedade de classe na qual está inserida. Os


educadores precisam repensar esta sociedade que é vista por eles, no contexto do
pensamento positivista e dentro dos princípios do liberalismo. Enfim, é preciso
mudar o paradigma, a visão de mundo e pensar dialeticamente.

Até a próxima aula!

Referência bibliográfica:

PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar, histórias de


submissão e rebeldia.Tese de livre docência. USP, 1987.

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Aula 30_A escola no contexto social
DE
SANTOS
Nesta aula vamos trabalhar a inserção da escola na sociedade, como uma
instituição que faz parte do corpus social, com as desigualdades e diferenças que
possui. Acompanhem!

A escola é uma peça de uma engrenagem maior.

A maneira como a escola está organizada é o resultado da organização da


sociedade em seu conjunto.

Os mais pobres são marginalizados pela escola do mesmo jeito que são explorados
no plano das relações de trabalho e impedidos de participar da vida política.

A escola não é democrática porque a sociedade em que vivemos ainda não é


verdadeiramente democrática. Os donos do poder são também os donos do saber e
os pobres são excluídos tanto da escola quanto da participação nas decisões.

A escola, portanto, é parte integrante dessa sociedade injusta e desigual, em que a


regra de comportamento é “cada um por si e salve-se quem puder”.

Há quem pense que, enquanto as relações de poder na sociedade não mudarem, a


escola continuará funcionando do mesmo jeito. Esse pessoal acha que não adianta
tentar mudar a escola.

NÚCLEO COMUM
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Ora, os que pensam assim esquecem que, justamente porque a escola está dentro

SANTOS
da sociedade, quando mexemos na escola estamos mexendo na sociedade.

E a sociedade, por sua vez, também não é uma coisa fixa, parada, que não muda. A
sociedade não são só os donos do poder. A sociedade são também todos aqueles
que, até agora, não tiveram vez nem voz. A sociedade somos todos nós.

A sociedade pode e deve mudar, mas somos nós que temos que provocar essas
mudanças. Nós que achamos, por exemplo, que a escola é uma coisa muito
importante e que ela está funcionando muito mal.

As mudanças só virão se os principais interessados se mexerem. As mudanças não


vêm de cima para baixo nem são dadas de presente. As mudanças são sempre
resultados da ação dos que protestam contra o tratamento injusto que vêm
recebendo a escola e exigem uma escola diferente que atenda realmente os
interesses da maioria.

Como a escola é peça dessa engrenagem maior, mudando a escola estaremos


também ajudando a mudar a sociedade.

A educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é influenciada por
muitos fatores. Ao longo do seu desenvolvimento físico e intelectual a criança passa
por várias fases nas quais a escola da vida, isto é, o ambiente familiar, as condições
sócio-econômicas da família, o lugar onde se mora, o acesso a meios de
informação, têm uma importância muito grande. Os primeiros anos são decisivos:
estudos demonstram que a criança tem sua estrutura básica de personalidade
definida até os dois anos de idade, muito antes, portanto, do período da escola
obrigatória.

A consciência de que a fase decisiva é a que antecede a escola obrigatória tem


levado um número crescente de estudiosos a propor que a criança seja atendida
mais cedo, como única solução para poder compensar as desvantagens que
atingem as crianças mais pobres, dando-lhes melhores chances de sucesso, quando
mais tarde entrarem na escola.

É preciso adaptar a escola às condições reais vividas pela grande maioria de seus
alunos que vem dos lares mais desfavorecidos. No entanto, é preciso ter cuidado

NÚCLEO COMUM
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aqui com a solução de facilidade que consistiria em “baratear” o ensino para os

SANTOS
pobres. Muita gente acha que se deveria exigir menos dos pobres porque de
qualquer jeito, eles são menos capazes e não conseguem aprender como as
crianças de classe média. Aceitar isso significa aceitar a existência de duas escolas:
uma escola boa e exigente para os mais ricos e uma escola de segunda mão, mais
fácil para os pobres.

Uma solução dessas só faria agravar a divisão e a desigualdade entre ricos e


pobres. A questão é como encontra a maneira de dar a todos os conhecimentos
básicos, indispensáveis para a sobrevivência em nossa sociedade. É preciso,
portanto, garantir que todos os alunos possam aprender coisas indispensáveis como
saber ler e escrever bem a língua materna; desenvolver o raciocínio matemático;
adquirir conhecimentos básicos de história, geografia e do meio social.

O caminho a ser seguido para a mudança da escola é o mesmo caminho que o povo
já vem trilhando em busca da solução para tantos outros problemas da vida
cotidiana.

Ao invés de esperar que as soluções venham de cima _ das autoridades, do


Governo, dos especialistas_ o povo mesmo resolveu agir. Discutindo juntos, em
pequenos grupos e comunidades, ele começou a tomar consciência de sua própria
força e de sua capacidade de descobrir soluções novas. É descobrindo juntos
soluções novas e se ajudando uns aos outros ao invés de cada um ficar quieto e
calado em seu canto que o povo foi aprendendo a se organizar para defender seus
direitos.

Nessa luta diária pela sobrevivência e por uma vida melhor o povo aprende e
ensina.

Aprende na medida em que vai entendendo como funciona a sociedade e vai


desmontando, pouco a pouco essa engrenagem complicada da qual a escola é
apenas uma peça. Ele aprende quando procura entender juntos por que os filhos
vão mal na escola e descobre que o problema não é individual mas sim coletivo e
que sua solução depende de toda a comunidade.

NÚCLEO COMUM
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O povo aprende na medida em que vai vendo mais claro onde está a raiz de cada

SANTOS
um dos problemas que enfrenta e vai percebendo que sem união e participação as
coisas não mudam.

Vendo, julgando e agindo juntos o povo se educa e mostra que a educação não
acontece só na escola. A gente se educa cada dia, durante a vida inteira,
aprendendo das experiências que vive e aprendendo ainda mais se elas são vividas
e discutidas em comum.

Mas quando o povo se junta para procurar novas soluções para seus problemas, ele
também ensina. Ao longo de toda sua caminhada, o povo ensina a lição da
esperança e da solidariedade. Ensina como é possível descobrir saídas em
situações onde aparentemente não há saída. Ensina como sobreviver quando o
desemprego e a pobreza poderiam levar ao desespero. Ensina como é possível
inventar soluções a partir de si mesmo, sem confiar em promessas ou esperar que
as coisas caiam do céu.

É nesse processo de organização de baixo para cima, temperado nas lutas de cada
dia, nas vitórias e derrotas que tanto têm a ensinar, que está a semente de uma
nova atitude e de uma nova maneira de agir: não mais esperar por soluções prontas
vindas de cima mas confiar nas próprias forças para encontrar as respostas e
colocá-las em prática.

Essa criatividade e solidariedade não se aprendem na vida da escola tal como ela é
hoje mas sim na escola da vida. O desafio consiste então em enfrentar o problema
da escola do mesmo jeito que o povo tem enfrentado problemas bem mais
complicados. É preciso levar para dentro da escola as lições que o povo tem
aprendido e ensinado na escola da vida.

Reflita sobre essas questões:

1- Vale a pena tentar mudar a escola? Por quê?

2- É possível mudar a escola? De que modo?

3- O que aprende e o que ensina o povo em sua luta pela mudança da escola?

NÚCLEO COMUM
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4-
METROPOLITANA DE
Você encontrou, neste texto, citações sobre educação que seguem a mesma

SANTOS
linha de pensamento contida no livro: ”O que é educação” de Carlos Rodrigues
Brandão? Em caso positivo, qual ou quais?

Até a próxima aula!

Referência Bibliográfica:

CECCON, Claudius e outros. A vida na escola e a escola da vida, Petrópolis,


Vozes, 1982, p.80-93.

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Aula 31_A função da escola
DE
SANTOS
A função da escola na atualidade é o tema desta nossa aula. Vamos abordar esta
questão sob o pensamento de alguns sociólogos. Acompanhem!

As funções da escola, segundo alguns sociólogos:

a. Kar Mannheim (sociólogo húngaro, 1893-1947).

1. Expor fatos considerados importantes.

2. Estimular certas atitudes julgadas úteis na realização da tarefa da


aprendizagem.

3. Ajudar a preparar o aluno para uma carreira, através de várias maneiras.

4. Treinar e preparar para a vida.

Para ele a função da escola é a socialização. É uma proposta conservadora.

b. Émile Durkheim (sociólogo francês, 1858-1917).

1. Transmitir a cultura da sociedade, o seu modo de viver, pensar, sentir e agir.


Como meio de integração da sociedade.

2. Educar para a divisão de trabalho.

3. Inculcar a moral de toda a sociedade.

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Para ele, as funções da escola são de integração e de classificação. É uma

SANTOS
proposta conservadora.

c. Karl Marx (sociólogo alemão, 1818-1883)

1.Organizar a cultura e o modo de viver da sociedade.

Para ele, as funções de integração e de classificação dos alunos existentes no


capitalismo não existirão para sempre. A função da escola é formar cidadãos que
participem ativamente da vida econômica e social do país, contribuindo para a
transformação de uma sociedade mais justa, com melhores condições de vida
para todos. É uma proposta transformadora.

Isto requer conhecimentos e habilidades cognitivas que possibilitem às pessoas


situarem-se no mundo de hoje, ler e interpretar a grande quantidade de informações
existentes, conhecer e compreender tecnologias disponíveis, bem como continuar
seu processo de aprendizagem de forma autônoma.

Considerações finais:

Entendemos que a função da escola, na atualidade é ensinar conteúdos e


habilidades necessárias à participação do indivíduo na sociedade. Através de seu
trabalho específico, a escola deve levar o aluno a compreender a realidade de que
faz parte, situar-se nela, interpretá-la e contribuir para a sua transformação. A escola
é fundamental para a formação da cidadania. Por isso, nenhuma criança pode ficar
excluída de seus benefícios. Todas têm o direito a uma sólida formação escolar.
Todas têm o direito de sonhar e perseguir seus sonhos, realizando projetos
individuais e coletivos.

Até a próxima aula!

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Referência bibliográfica:

SANTOS
PEREIRA, L. & FORACCHI, M. (org). Educação e Sociedade.SP, 1996.

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Aula 32_Sawabona!!! Shikoba!!!
DE
SANTOS
Este é um texto maravilhoso que chegou a mim, já algum tempo, e que infelizmente
desconheço a autoria!

Repasso a você, para análise, reflexão e possível aplicação em sua sala de aula!

Leia com muita atenção:

SAWABONA!!! SHIKOBA!!!

Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito.

Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da
aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia.

Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas que ele já fez.

A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom.

Cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade.

Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros.

A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro.

Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza,
para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade
da qual ele tinha se desconectado temporariamente: "Eu sou bom".

Sawabona Shikoba!

SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer:

"Eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante pra mim"

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Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é:

SANTOS
"Então, eu existo pra você"

Agora, reflita:

- Seria interessante esta prática em sala de aula? Por que?

- Conseguimos olhar nossos alunos sob esta ótica?

- Qual a verdadeira essência de nossos alunos?

- Por que não fazermos nossos alunos acreditarem em sua verdadeira natureza: a
bondade, o interesse pelos estudos, a sabedoria inata em cada um deles?

- Que papel teria o verdadeiro educador nesta ação?

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