You are on page 1of 2

Teoria do crime em síntese um de seus elementos essenciais), de pronto fica apresentamos, como já dissemos no início, não

descartada a ocorrência do fato como criminoso. raras são as situações que até mesmo
Elaborado em 01.2008. profissionais de larga experiência cometem
De outro modo, acaso superada a primeira fase
Gecivaldo Vasconcelos Ferreira erros ao identificar de forma tecnicamente
da análise, chegando-se à conclusão do fato ser
apropriada qual o melhor argumento para
Delegado de Polícia Federal. Professor típico, deve-se investigar se o mesmo é ilícito
defender a absolvição de alguém por não ter
universitário de Direito Penal. ou não.
cometido crime nenhum.
Para saber se o fato é ilícito, a melhor maneira é
Quando, no entanto, dissecamos o conceito
fazer um raciocínio a contrario sensu; ou seja,
analítico de crime tudo parece ficar mais fácil,
O ponto de partida para os aprendizes do direito deve-se verificar se está presente alguma das
pelo menos para identificarmos onde
penal é justamente, diante de um fato concreto, excludentes de ilicitude: a) estado de
exatamente está o ponto nefrálgico para o qual
identificar se ali está presente ou não um fato necessidade; b) legítima defesa; c) estrito
devem ser direcionados os estudos no sentido
criminoso. cumprimento de dever legal; d) exercício
definir, por exemplo, sobre a presença de uma
regular de direito; e) livre e eficaz
Para o experimentado operador do direito, essa excludente de ilicitude, excludente de
consentimento do ofendido. Se estiver, o fato
identificação flui de maneira natural, às vezes culpabilidade, ausência de dolo ou qualquer
não é ilícito. Se for lícito, inútil se continuar
até de forma pouco técnica. Vamos encontrar outra questão que se encontre imersa nas fases
com a análise, pois isso já leva à conclusão
profissionais que sabem que determinado fato que devem ser ultrapassadas até se chegar à
sobre a inexistência de crime.
não se constitui crime, porém não sabem conclusão de que um fato é típico, ilícito e
explicar o porquê de sua conclusão. Concluindo-se pela ilicitude do fato, por último culpável.
deve-se averiguar se o fato é culpável, pelo que
Se isto é assim para o profissional de carreira Pensando nisso, elaboramos a tabela prática em
se deve averiguar a presença dos elementos
jurídica, imagine como deve ser para o aluno anexo, que facilita um rápido raciocínio para
essenciais da culpabilidade, quais sejam: a)
que ainda dá os primeiros passos no estudo do identificar se um fato é criminoso ou não.
imputabilidade; b) potencial consciência sobre a
crime. Sente-se muitas vezes perdido diante de
ilicitude do fato; c) exigibilidade de conduta
tanta teoria, chegando até acreditar que elas para
diversa.
nada servem na prática.
Para decidir sobre a presença da imputabilidade, NOTAS
Ledo engano, pois as teorias são os pilares do
o melhor critério também é fazer um raciocínio 01
direito penal. E, para definir se um fato é Estamos alinhados com a corrente que
a contrario sensu, averiguando a presença de
criminoso ou não, existe uma, a teoria maior do entende ser necessária, para a configuração do
uma de suas excludentes, que são as seguintes:
direito penal: a teoria do crime. fato típico, a presença não somente da tipicidade
a) doença mental (art. 26 do CP); b) imaturidade
formal (entendendo-se esta como a perfeita
Esta teoria, dentro da corrente que filiamo-nos natural (menoridade penal – art. 27 do CP); c)
subsunção do fato praticado à descrição contida
(majoritária na doutrina pátria) diz que crime é embriaguez completa proveniente de caso
fortuito ou força maior (art. 28, § 1º, do CP); d) no tipo penal incriminador), mas também, e
um fato típico, ilícito e culpável. Simplesmente
cumulativamente, a presença da tipicidade
isso. condição de silvícola inadaptado [03]. Presente conglobante, considerando-se haver a presença
uma dessas excludentes, não há imputabilidade desta quando a conduta do agente é
Portanto, diante de um fato basta o observador
e, por conseguinte, o fato não é culpável (não há antinormativa (ou seja, não é imposta ou
identificar se ele é típico, ilícito e culpável. Se
culpabilidade). fomentada pela norma) e afete bens de relevo
for, pode-se dizer que ele é um fato criminoso.
Há o crime. Quanto à potencial consciência da ilicitude do para o direito penal (tipicidade material).
fato, também a melhor forma de identificar se 02
Fato típico é o fato material no qual se identifica Rogério Greco (in Curso de Direito Penal –
ela está presente ou não é através da
a efetivação de uma conduta prevista no tipo Parte Geral, v. 1, 8ª edição, Impetus, 2007, págs.
averiguação da presença de sua única
penal incriminador, e ainda, que afeta ou 216-217), na esteira de Luiz Flávio Gomes,
excludente: o erro de proibição inevitável (art.
ameaça de forma relevante bens penalmente afirma que: "Estamos, portanto, com Luiz
21 do CP, parte intermediária). Acaso tenha
tutelados. Possui os seguintes elementos: a) Flávio Gomes, que não limita o resultado,
ocorrido erro de proibição inevitável, não há
conduta (dolosa ou culposa, omissiva ou previsto na redação do art. 13 do Código Penal,
potencial consciência da ilicitude do fato, não
comissiva); b) resultado jurídico/normativo; c) somente àqueles considerados como
sendo também o fato culpável.
nexo de causalidade (entre a conduta e o naturalísticos". Fernando Capez (in Curso de
resutado); d) tipicidade (formal e conglobante) No tocante à exigibilidade de conduta diversa, Direito Penal – Parte Geral, v. 1, 6ª edição,
[01]. prevalece o mesmo raciocínio. Busca-se Saraiva, 2003, p. 142) também afirma que:
identificar suas excludentes que são, a princípio, "Todo crime tem resultado jurídico porque
Para que o fato seja típico deve possuir os duas (ambas previstas no art. 22 do CP): a) sempre agride um bem jurídico tutelado.
elementos enunciados. Ressaltando-se que há coação moral irresistível; e b) obediência Quando não houver resultado jurídico não existe
autores que defendem seja elemento do fato hierárquica. A doutrina majoritária admite, no crime. Assim, o homicídio atinge o bem vida; o
típico o resultado naturalístico. Para essa entanto, causas supralegais de exclusão da furto e o estelionato, o patrimônio etc".
corrente, tal resultado seria imprescindível, exigibilidade de conduta diversa, que devem ser 03
assim como o nexo de causalidade, apenas nos identificadas diante das situações concretas, Explicita Francisco Dirceu Barros (in Direito
crimes materiais. Entendemos de forma sempre tendo em mente o raciocínio de que para Penal – Parte Geral, 3ª edição, Editora Campus,
diferente, acreditando que como elemento do excluir a exigibilidade de conduta diversa, o 2006, p. 471, que: "Apesar de inexistir
fato típico deva figurar o resultado jurídico proceder do agente deve estar em consonância dispositivo legal expresso, os índios não-
(normativo), entendendo-se este como a lesão com o comportamento que a sociedade exige assimilados, autores de crime, conforme a
ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado. para a situação que se apresenta. doutrina e a jurisprudência dominantes, são
Sendo que, por este ângulo, todo fato típico considerados, inimputáveis ou semi-imputáveis,
deve possuir resultado [02], elevando-se este à Superada a análise da culpabilidade, chegando- de acordo com sua total ou parcial incapacidade
categoria de elemento essencial. se à conclusão de que o fato é culpável, e já de entender o caráter ilícito do fato ou de
tendo concluído que o mesmo é típico e ilícito, determinar-se de acordo com esse
A despeito da polêmica supra, fato é que, se finalmente se pode dizer que estamos diante de entendimento, em vista de desenvolvimento
diante do fato concreto, verifica-se que este não um crime. mental incompleto (art. 26 e seu parágrafo
é típico (por conta da ausência ou exclusão de único, do Código Penal)".
Embora pareça simplista o que ora
ANEXO ÚNICO
TABELA PRÁTICA

CRIME

Conduta, dolosa ou culposa (art. 18 Observar que o erro de tipo (art. 20 do CP)
do CP), comissiva ou omissiva. inevitável exclui o dolo e a culpa.

E
L Resultado jurídico/normativo (art. 13, primeira parte, do CP).
E
FATO TÍPICO M Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (art. 13 do CP).
(fato material no qual se identifica a efetivação de uma E
conduta prevista no tipo penal incriminador, e ainda, N Formal: adequação perfeita do fato à lei penal
que afeta ou ameaça de forma relevante bens T incriminadora.
penalmente tutelados). O
S
Tipicidade
Conglobante: quando a conduta do agente não é imposta
ou fomentada pela norma e afeta bens penalmente
relevantes (tipicidade material).

E
X
C
L • Estado de necessidade (arts. 23, I, e 24 do CP);
U • Legítima defesa (arts. 23, II, e 25 do CP);
ILÍCITO D • Estrito cumprimento de dever legal (art. 23, III, do CP);
(relação de antagonismo entre a conduta do agente e o E • Exercício regular de direito (art. 23, III, do CP);
ordenamento jurídico) N • Consentimento do ofendido (admissível somente em alguns casos).
T
E
S

Excluem a imputabilidade:

• doença mental (art. 26 do CP);


• imaturidade natural (arts. 27 do CP, e 228
da CF);
Imputabilidade
• embriaguez completa proveniente de caso
fortuito ou força maior (art. 28, § 1º, do
E CP);
L • condição de silvícola inadaptado.
E
M
CULPÁVEL E Potencial consciência sobre a O erro de proibição inevitável (art. 21 do CP)
(juízo de reprovação sobre a conduta ilícita do agente) N ilicitude do fato exclui essa potencial consciência.
T
O Excluem esse elemento:
S
• Coação moral irresistível (art. 22 do CP);
• Obediência hierárquica (art. 22 do CP);
Exigibilidade de conduta • Causas supralegais (identificáveis em
diversa situações concretas)

You might also like