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A partir do século 18 em diante, o conceito de l'b
. - 1 erdade
passou a ocupar uma pos1çao centra 1 tanto do ponto de . Não pretendo aqui dar uma definição de liberdade, mas
lítico, com relação à liberdade dos povos, como do pont::ta �o-
quero me aproximar desse conceito na tentativa de clarear a _sua
da necessidade de respeito pelos direitos individuais. e vista
compreensão. Farei, num primeiro momento, uma caracteriza-
Essa é uma questão que pode ser abordada a p t' d ão do é liberdade ou do que é ser livre, tanto sob o ponto de
• . . ar 1r e di- vista que
ferentes referencias. Um ponto de vista muito importa t , ôntico como sob o ponto de vista ontológico. Num segundo
,necode
Hannah Arendt em seu livro Entre o passado e ofiuturo · . momento, falarei do que significa para o Dasein o apropriar-se
, CUJa 1 ei.
tura nos parece fundamental. do seu ser livre.
Na reflexão que faremos aqui, seguiremos uma dir»ça0 .
' '' - lllU!lo
particular em direção à compreensão desse conceito. Trataremos de
compreender a liberdade a partir do referencial da Daseinsanalyse. Começando a pensar onticamente a respeito do que é liber-
O interesse que esse assunto desperta, ou seja, 0 apelo que dade, vem-nos esta pergunta: o que é liberdade? Precisamos antes
saber ele que liberdade estamos falando. É da liberdade dos even-
o tema da liberdade exerce sobre nós, torna-se tanto mais forte
tos? t da liberdade dos deuses? Ou é da liberdade dos homens?
quanto mais mergulhamos na época da técnica. Mas esse apelo
Pois, a partir do século 19, a liberdade, que era compreendida
se torna maior porque estamos cada vez mais livres ou porque
até então como algo próprio exclusivamente ao âmbito humano,
estamos cada vez menos livres? E o que é ser mais livre ou menos torna-se também uma característica observável dos eventos. As-
livre? À medida que o conceito de liberdade ganha mais impor. sim, na física, fala-se em liberdade como caos, desordem, acaso,
tãnci«, sua compreensão fica mais difícil, mais obscura. ausência de uma determinação causal dctcctávcl ou observável
A conccpção de liberdade assume uma forma genérica, pa- com os recursos disponíveis num determinado momento da his-
rece que todo mundo sabe o que ela é. Mas quando tentamos tória da ciênc!a. E. quanto :\ liberdade dos deuses, o que seria
dizer exatamente o que ela é, ficamos perplexos com a dificulda- isso? A11ui não se trata de uma referencia religiosa, mas sim de
de <JUe é descrever o que é isso que cluunumos de liberdade. Pa- uma certa noçiio de liberdade totuhncntc idculizndu <JUe lemos
rece que ucorucce al110 parecido co111 o <JUC acontecia com Santo vivido: a liberdade de foi.er tudo o que se quer. Desse ponto de
Agostinho, que se releria ,\ sua ,lificuldade pum dizer o que era vista, liberdade e poder signifiúun a 111cs11111 coisa. 'lemos, então.
o lcn1po. Ele dizia, e111 seu livro 1\s Co,!fiss,ks: "Quando fola111os dois extremos: de 11111 lado, a liberdade dos cvcutos, 11ue significa
de tempo, se111 dúvida cumprccndcmos o que dize111os; o 111es1110 caos; de outro ludo, 11 llherdndc dos deuses, que signilka poder.
ucoutcccni se ouvirruns alp.11é111 fol11r do tempo, Que é, pois, o M11s a nossa questão é a llberdudc dos ho111c11s, e essa é dife-
lt'lllj)U? Se 11i11g11c111 1110 pergunta, CU o sei; n111s se IIIC pcrllllll· rente. l'., ao pcnsnr 11:1 llhcnladc dos homens, a prlmclru colsu que
h1111, e quero explicar, 11,10 sei 11111is 1111da."1 E111horn, comu todo 111e ocorre é q11e liberdade 11110 existe, é ll11siio; ela é 11111ito mals
111u11do, ele soubesse o <JUC cm o tempo, 1111 horn de dcliul-lu cru 11111 desejo dos homens que 1111111 rculhludc. I'. cssn Ideia se uprc-
co1110 se 11110 o soubesse, 111du fi<:11v11 11111ito dllkll. sc11111 porque II llhculudc tc111 sido lnlal111c11tc pnst11 em ,111eslílo
desde o século t 9. 1 l11rwl11 111H11lla o hum ·111 como rcsultud» de
Ulll jll'OCCSSO evolutivo 11111ls ou IIICIHIS 110 IICIISO, M11rx dc111111d11
1, Si\NTI l Ili a IS't'INI lll, tli (,',11[/iss,k.,, S,\u l';u1iu: Edllm,1 dns i\111i'rk,1s que II lihcrdndc de ,·w11i111 é lll'icntmli, e dlrl11lda pela dlm\111k11
S.1\,. l'.,l,1111cils, l'!O·I.
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do conflito de classes; o homem é comand d
.
maiores que ele, sem se dar conta disso. Freud diz
ª
o por forç
as muno
.
homem pense que está agindo livremente e! , que, embora o se rebelar. Mas essa liberdade também se mostra de outra ma-
_ . , e e 1 evadoaa. .
neira, como um a vontade de
usufruir da liberdade dos deuses.
o comando de pulsoes do mconsciente que d t . gir sob
.• . e erm1nam Aí temos a figura de Prometeu, que rouba o fogo dos deu�es para
penencia e sua conduta. Nietzsche também . sua ex-
questrona a aut dá-lo aos homens, dando a eles mais poder. Na modernidade, a
mia da consciência dos homens. Portanto a - . ono- · · dando em momentos su-
. . . , noçao d e hberdad tecnologia faz algo pareciid o, pois vai
d a consciencra vem sendo praticamente e aumento do de dominação dos homens sobre
destruída. cessivos um poder
O século 20 aprimorou ainda mais a destrui - A hi , . a natureza e sobre os outros homens, por meio dos recursos que
. çao, stona
e a antropo 1 ogra, e aí temos Lévi-Strauss most · as várias técnicas disponibilizam. A tecnologia desenvolvi�a ao
' rarn o quanto o
comportamento do homem é determinado histo · máximo dá para os homens a sensação de uma liberdade analoga
.• . , ncamente. As
neurocrencias tambem contribuem para o descrédír d lib à dos deuses.
o a I erda- Também podemos pensar a liberdade considerando ao
de, e os estudos da genética apontam na mesma dír - A .
eçao, ssirn
por exemplo, li uma notícia que anunciava a descoberta d ' mesmo tempo o porquê da dificuldade envolvida nesse tema e
, o gene tendo como referência o pensamento de Hannah Arendt em En
responsavel pelo traço queleva alguém a ser revolucionário ou
c�nservador, ou seja, o predomínio do determinismo. Há tre O passado e o futuro. A pensadora nos diz: 1Em sua form� mais
anos, simples, a dificuldade pode ser resumida como a contradição en-
vi em um pequeno artigo de jornal a informação de que O estu-
tre nossa consciência e nossos princípios morais, que nos dizem
prador, na verdade, pratica seu ato porque é impelido a dissemi-
que somos livres e, portanto, responsáveis, e a nossa experiência
nar os.seus genes da maneira mais eficiente possível. Esse artigo cotidiana no mundo externo, na qual nos orientamos em con-
me deixou profundamente irritado, porque o estupro não é um formidade com o princípio de causalidade. Em todas as questões
fato biológico, é um fato humano, e não existe referência possível
práticas, e em especial nas políticas, temos a liberdade humana
de aproximação entre a realidade do estupro vivido pelos huma- como uma verdade evidente por si mesma, e é sobre essa su-
nos e os conceitos biológicos de disseminação de genes. Enfim, posição axiomática que as leis são estabelecidas nas comunida-
parece que os conhecimentos adquiridos no mundo atual nos des humanas, que decisões são tomadas e que juízos são feitos]"
dizem que a liberdade é ilusória. O homem não é completamente determinado. Nossa convivên-
Mas há outros pontos de vista a serem considerados. A tra- cia com os outros e com as coisas mostra que, em nosso jeito hu-
dição mítico-religiosa, de certa forma, introduz e sustenta o con- mano de ser, atuamos com certa liberdade de escolha. Essa ideia
ceito de liberdade. O que é a liberdade dos homens na perspecti- de liberdade pode não ser demonstrável, mas é necessária para a
va mít[co-religiosa? Penso que não é a liberdade de fazer alguma fundamentação da ética em geral e das ciências políticas.
coisa, mas a de dizer "não" É a rebeldia. Adão e Eva dizem "não" Filósofos e teólogos têm concebido a liberdade como
para a regra de não comer o fruto da árvore do conhecimento exercício do livre-arbítrio. Segundo esse ponto de vista, o ho-
do bem e do mal. Édipo, quando sai do oráculo de Delfos e tem mem é considerado como possuidor de uma vontade livre e,
seu destino desvendado pela pitonisa, diz "não" diante do que
se apresenta diante dele como um destino tão terrível. Parece, ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Editora
então, que a liberdade dos homens é a liberdade de oposição, de Pcrspccliva, 1979, p. 188.
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uma escolha . ara não perder a minha liberdade." Se perzuntar-
mos a ela de que iberdade se trata, e a dirá que se trata da liber-
dade de poder esco er. Então. se ela não escolhe para não perder
a liberdade de escolher. porque. depois que escolhe, perde essa
liberdade, podemos ver que, q erendo presen.u a liberdade, e a
não age com liberdade, ela não efetiva sua liberdade. Ela não es
colhe para não precisar se comprometer. Ela se comporta como
quem supõe que a liberdade seja algo consistente em si mesmo.
urna oisa da qual se tem a po--e, que pode ser guardada, como o
avarento guarda dinheiro. E a liberdade não pode ser guardada.
:S:a verdade, o ser livre do Dasein só se consuma quando se con-
some. É des ruindo a liberdade, a cada vez, a cada escolha. que
nós exercemos o ser livre. Ser livre "de.. qualquer deterrninaçâo
e. para o Dasein. ser livre "para- a determinação. ser livre para
o compromisso. Geralmente. pensamos a palavra determinação
eira re Úén ia p,m �nsar
como a ação de variáveis sobre o indíviduo . .\las determínaçã
. em não es a livre para ren nciar, ,l
pode significar também a força da pessoa. quando dizemos, por
e segue esc er, ca enca a rad essa . di,.io . on ra di to:i.i.
exemplo. "fulano e muito determinado" :S:esse caso, queremos
olher e e ser o rigado a escolher. porque esc er dizer que se trata de alguem que sabe o que quer. que escolhe e e
e. ao es en po. um poder e uma limita ·ão. Se a. pessoa ão comprometido com as coisas. :S:ão estar obrigado a nada signi-
apreender a limita âo, se não tiver a liberdade de renun :iar. .io tica poder dispor-se a assumir obrigações com algo, com aquilo
podera escolher e se sentira torturada. Talvez o mais in portan e que se escolhe. O compromisso não é o oposto ao ser livre. é a
a ser pensado s bre a escolha seia isto: o fundamento do poda sua realização. :\ necessidade de renún .ia e o compromisso com
esc lher não é a posse. é a renúncia. É que. em primeiro lugar. a escolha nos fazem pensar como é complicado deixar nas mãos
poder escolher significa estar livre para renunciar. Escolher uma de uma criança o peso de ter de escolher e decidir sozinha em
oisa é abrir mão de uma série de outras. certas situações, ou seja. esper.ir que ela possa empunhar o seu
ser livre com a responsabilidade que isso exige. Por isso. o adulto
deve ser o depositário da liberdade dela. educando-a de tal modo
que gradatívamente ela tenha oportunidades de compreender o
Em segundo lugar, ser livre e. portanto. poder escolher
que a sua liberdade implica.
nã é simpl�smente não estar obrigado a nada .. Ião só somos
· · t mina ai.
brigados a escolher, como também a o b rigaçao nao er .
O ser livre do Dasein é estar livre para comprometer-se. E com· Um terceiro ponto a ser lembrado a respeito do ser livre:
1 •
Prometendo-se com o escolhido que e e exerce o
seu ser [ivre,
Para o Dasein, ser livre significa servir como ocasião para que os
• • com
Mas uma pessoa pode dizer: ao quero meco mprometer
zs
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entes se manifestem em sua verdad
S
dades, o Dasein é aberto tamb . e. endo aberto nas po
d em naquilo tud ssi.bili sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de
o real, para o que transcende o r ai . o que está Para ai .• O
· e , isto é em · · m do lado de fora · Um jardim é um sonho que virou re-
exísure
peito ao que ainda não é , sua abertura diz
mas po d e ser ao " res. alidade:· ( ... ) "Mas um dia o inesperado aconteceu. O terreno fi-
e ao que seria possível apenas virtual ' que ja foi e não é ntais
cou meu. o meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu,"
!idades, ele escapa dos limites d mente. Aberto nas possibi-
o reai 'mas ess oaJ· ardim surgiu da iecundação da terra pelo seu sonho, da entre-
convoca para voltar ao real cuid . e escapar do real o da terra ao seu sonho e aos seus cuidados. Nessa cumplicidade,
' ' and o d arealiza · d .
Para tornar mais clara essa id . -•L çao o possiveL �asceu
O jardim. Parafraseando essa ideia, podemos diz_er que,
i eia, , amo- me d ai
meu saudoso amigo Paulo B as P avras de tocando O piano numa liberdade feita de intimidade e de família-
arros, quando ainda ·
tes de psicologia. Ele tinha d . eramo, estudan. ridade, parece que, naquele momento, o pianista faz amor com o
. . , uas 1111agens para falar de liberda
ch Apnme1ra e da criança que esta
ª. descobrindo um piano
Ele.d piano e, nesse amor, ele fecunda o piano, e a música nasce.
ega, abre o piano · a o ser livre desse pianista é diferente do ser livre daquela
. • começa a mexer nele: aperta as teclas aleato-
criança que brinca no piano. Não que a criança seja menos livre,
namente, as brancas, as pretas, pode pisar nos pedais. interessa.
mas a peculiaridade da liberdade do pianista consiste em ser uma
se por tudo. Paulo dizia que. para ele. essa era uma das . -
ffiill:• • _: 40
s1�uucatiras da liberdade: a curiosidade. o encantam;nto.
una�eru liberdade que liberta também o piano. isto é, deixa-o ser plena-
mente aquilo que ele é. um piano; deixa que ele se desvele em suas
o na� ter nenhuma regra. esse explorar todas as possibilidades possibilidades. Ao tocar com aquela familiaridade, de possibilita
do piano, Não há dúvida de que descobrir, acolher a novidade e que a verdade do piano. no sentido de aietheia. de desvelament
poder erplora-la sem referências prévias, simplesmente olhando. originário. se apresente. E mais. há também a música que, saindo
mexendo, associando tecla e som. tudo isso é uma erperiência de de seu en .obrímento, se manifesta. E ainda mais. a música que
liberdade. Mas essa liberdade se desgasta rapidame e. Em �,u- surge daquele encontro intimo entre o pianista e o piano liberta
cos rnin tos. o brilho daquele encantamen m.ira, · · · da a- o ouvinte. ou seja. deixa aquele que ouve ser p enamenre em sua
piora cão e da descoberta se apaga. e a criança vira as as f"J.!'• condição de ouvinte _ue se entrega à sica, nivinte se des-
piano e vai fazer outra e isa. vai pnx.-urar outra n vidace vela em seu ser aberto ao bel o que pode aparecer, E. P':!!'
.-\ outra · agem a ue o Pa se rerena. essi. sim, rer=- incnvel _ e p-.ire-,-a. ruo cessa .11 essa liberraçã que o ser ivre
ta a perfeíra liberdade, É a liberdade d 1. porque. q ame m · · faro.ui e mfuu.1 .'
familiaridade rom que um ianisra se ci na ,
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� .i: t.rrmi: p:ufunJa ��-:..=cie:.-ti::- te� . :
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faz do tempo temporalidade. É diferente daquele tempo
. . . . curto essencial�' É nesse sentido que dizemos que poder ser livre é
em que todas as coisas precisam ser decididas de imediato .,
rentemente do ser livre da criança, que rapidamente se esgota
· 0 1te- poder obedecer, é poder ouvir.
Mas trata-se de ouvir o quê? Em seu ser livre, Dasein é so-
ser livre do pianista se amplifica numa perspectiva em que as�:
licitado a dar ouvidos a quê? Ele é solicitado a dar ouvidos a três
liberdade liberta para a liberdade: dele, do piano, da música, dos
apelos que o convocam o tempo todo. O primeiro é o apelo de
ouvintes e da possibilidade de ser livre.
si mesmo, é ser capaz de ouvir aquilo que lhe diz respeito. Ouvir
O ser livre do Dasein faz com que ele ultrapasse o real para esse dizer é poder ser fiel a si mesmo. E isso não é fácil. Não me
retornar ao real, e isso quer dizer que ele é convocado para rea- refiro aqui à fidelidade no sentido de exclusividade. O ser fiel a
lizar, para tornar real aquilo que era uma possibilidade. Em sua
que me refiro tem algo em comum com a raiz fé, que significa
liberdade, Dasein deixa vir à luz o que ainda estava no encobri- aqui poder confiar. Quando falamos em confiar em si mesmo,
mento, ele liberta os entes para que se manifestem em seu ser, ele lamentavelmente, as pessoas pensam em alguém cheio de si, e
é clareira do ser dos entes. Para o Dasein, libertar o ente em seu não é disso que se trata; mesmo porque alguém cheio de si é al-
próprio ser significa permitir que ele se manifeste, significa criar, guém cheio de nada. Poder confiar em si, como forma de ouvir o
e criar é libertar o possível do encobrimento do nada. O possível que lhe diz respeito, é poder corresponder à sua própria essência,
está sempre Já, encoberto pelo nada. Criar é trazer ao real, é re- que é existir. Dasein ek-siste, isto é, ele já é sempre no mundo,
alizar. !! deixar aparecer na luz aquilo que até então permanecia mundo que ele libera como o horizonte em que os entes vêm ao
oculto no encobrimento. O modo de ser livre do Dasein consiste seu encontro e em que ele pode ser o poder-ser que ele é, em que
em dispor-se a servir como oportunidade de desvelamento do ele pode vir a ser. Existir é vir-a-ser. Confiar em si é poder confiar
possível, em deixar-se usar como âmbito da verdade dos entes. no próprio vir-a-ser, que caracteriza a sua essência. se abrir
É
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pcnsor num longo que ,cn,1 unia . l .·
, rena ,ucc�, 0 d.
rcprc-cntada pnr 11m.1 linh.i. t.il cnm . ' '11101nentu,
. n �lluntc e cosn . minha finitudc. Se cu estiver com n outro, a nossa lihcrdadc ,er:1
nnl61:t1co. Mas n tempo 1111100 " que rn . .r u tcnipu cro. muito maior que a minha. Quando a minha liberdade encontra
t. l' t.: n:11ro ªl\Ui (: a
que e também lar!(<>. ·." l.,r!(n d., rc« ., . • llllelc lonuo a liberdade do outro. a minha se expande no compartilhar as
I 111 ul1Cl,l llllC \e <lá. o
" alo11{(,m1entn dn tempo, (. vnm • . t r ' Junto com nossas liberdades. Nossa liberdade i: mais ampla e mais profunda
.J t ,l: r.1nMorn1:il\,rn111 ,
no tempo num pl.1110, 1111111 tcn,1,11 ,h ·n 'a hnha que aquela que pu,so ter sozinho. Ouvir a liberdade dos outros
' ' n, que pndemo, h
de kurrns, o tempo que 1,.,numd ,d. . arnar e bendizê-la I: poder apropriar-se do mudo de ser livre com os
. e. ll ltmp11411c e li(' " •
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ó
u lctnpo p.,ra ... p,tr., c-tud.ir, p.,r., dr,c "'' ir , , ,l\1ao. e outro, homens, e poder compartilhar uma liberdade maior.
. ' ' · para tr,,halhar
a111,1r, p.,r.1 se divertir, p.1r., -c c,t11r1 ir , r 1 · para
. ' · 1 · • I' 1 antar. para colhe f
o tempo qut· mscrcvc l' ll,�t·1n no prl'cillo,lr íl''IJ I · l r. ·
-- . ont cr a orwoca- Rcwmando o percurso que fizemos, podemos resumir nos-
çao do mundo que se Pkíl'Cl' \lHl\o ,, a�i\u co 111
. '· · ·
uvir o .1pl'ln eh, 1111111,lo ,· rcconhe era oporu idponunidad e.
º0 sa reflexão dizendo que a liberdade não está num querer viver
. uru acI e. Quanto sem compromissos, sem a perspectiva da temporalidade, nem na
(1 IS�O. . .
l,·mhro-111,• ,k 11111 q>búdio da 111inhJ i11'·1 ·
r, nC1a. C crta vez, reali1.ação de desejos insaciáveis de poder e dominação, isso que
no smo em qul' ruur.rv.i. meu .,vú per�unlou ao s,·, 1 o. ca1p1ra
,, 11 Dit
· .
• , • tem levado o homem a se sentir cada vez mais sozinho, temeroso
que uidava da nossa horta. ,1ual era n seu seurcdo o" .. , 0 nsegu1r·
par 1
. . e desamparado.
aquela. verduras maravilhosas. Ele respondeu tranquilamente. Para o Dasein, o apropriar-se de seu dom de ser livre sig-
"Não tem segredo nâo, doutor. f. que cu só planto o que a terra nifica corresponder àquilo a que ele é convocado, ou seja, signi-
gosrn" eu Dito tinha essa sabedoria. Quando plantamos O que a fica efetivar o que é peculiar ao seu modo de ser: servir. Servir
terra gosta. aquilo vai adiante. fica bonito. Reconhecer a oponu- para quê? Servir para deixar que os entes do mundo se mani-
nidadc i: plantar o que a terra gosta. Saber ouvir o mundo. saber festem em seu ser, que as coisas se mostrem em sua verdade;
obedecer, i: 1 oder reconhecer a oportunidade. servir para criar; servir para tecer o fio que reúne os aconteci-
E. finalmente. ouvindo a si mesmo, ouvindo o mundo, o mentos fazendo deles história. isso ele realiza quando faz suas
Dasciu tem a possibilidade fundamental de ouvir o apelo dos escolhas. E poder escolher é poder ser livre para renunciar e
outros, os outros que são também Dasein. Aquele que é capaz para se comprometer.
de ouvir os outros torna-se capaz de ser porta-voz. Expressão Apropriar-se de seu ser livre é também poder ser livre para
fantastica: ser o porta-voz. O porta-voz é aquele que tem o poder obedecer a si mesmo, numa fidelidade ao seu caminho que se
de dizer. E poder dizer é poder dizer bem. É po�er bem dizer os desdobra no tempo; para comprometer-se com o mundo, na
correspondência às oportunidades; para comprometer-se com
s é bendizer os outros. Bendizer os outros e compreender o
ou tro • d d l scen os outros, no compartilhar o ser livre dos homens.
peculiar modo de ser livre com os outros. Quan o e'.a a o e -
te, ouvia dizer o seguinte: "A minha
.. a liberdade do outro.' Nesse caso. o limite a nun
libe_rdade;31 ate
.
:;��;�;:1�
\ª • . s Mas quando comecei
faz frontt'ira com a liberdade dos outro . limita a minha
mpreend1 que o que
a estudar 'kdar d B oss. co . ser mortal, a
não
. .
e a líberda d e d o ou t ro' e sim o meu
liberdade
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