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O Círculo Vicioso da Pobreza e a Causação Circular Cumulativa: Retomando as


Contribuições de Nurkse e Myrdal

Article  in  Boletim Informações Fipe · August 2012

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Fernanda Graziella Cardoso


Universidade Federal do ABC (UFABC)
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temas de economia aplicada 13

O Círculo Vicioso da Pobreza e a Causação Circular Cumulativa:


Retomando as Contribuições de Nurkse e Myrdal
FERNANDA GRAZIELLA CARDOSO (*)

1 Introdução óricas a recorrência a mecanismos autor, conforme exposto em segui-


cumulativos e a causações cir- da.
O presente artigo é o terceiro de culares como fontes explicativas
uma série de quatro textos que importantes. Nurkse de ine e ex- Para Nurkse (1957 [1953], p. 8), o
buscam retomar a contribuição plica o círculo vicioso da pobreza e círculo vicioso da pobreza signi i-
teórica de alguns dos pioneiros do Myrdal aponta para a importância ca que “um país é pobre porque é
desenvolvimento econômico. Esses da identi icação de causações cir- pobre”. Segundo o autor, as mais
autores ajudaram a compor a base culares cumulativas para entender importantes das relações circu-
da Economia do Desenvolvimento, e vislumbrar a possibilidade de lares que compõem esse círculo
que ganhou forma e expressão no alcançar o desenvolvimento. vicioso são justamente aquelas que
pós 2ª Guerra Mundial. Todos os di icultam a formação de capital
artigos que compõem essa série A seguir, inicia-se a discussão com nos países atrasados, relacionadas
estão baseados em dois capítu- a retomada da contribuição de tanto ao lado da oferta quanto ao
los de minha tese de doutorado Nurkse e, posteriormente, apre- lado da demanda de capital. E o
(CARDOSO, 2012), em que bus- senta-se a contribuição de Myrdal. ponto comum das relações circula-
quei elencar contribuições teóricas Por im, nas considerações inais, res relativas à demanda e à oferta
dos pioneiros do desenvolvimento destacam-se possíveis paralelos de capital é a condição inicial des-
que auxiliariam a compor uma e complementaridades entre as sas nações atrasadas, qual seja, o
perspectiva complexa sobre os abordagens dos dois autores. baixo nível da renda real, re letida
processos de desenvolvimento e em baixa produtividade.
subdesenvolvimento econômicos, 2 Nurkse e o Círculo Vicioso da
na medida em que destacam a he- Pobreza Nurkse (1969 [1952]) ressalta que
terogeneidade e a especi icidade a dimensão do mercado é determi-
das nações subdesenvolvidas, bem Nurkse de ine as nações subdesen- nada pelo nível geral de produtivi-
como mecanismos cumulativos e volvidas, comparativamente às na- dade, o qual depende, em grande
causações circulares relacionadas ções avançadas, a partir justamen- medida, da utilização de capital.
à armadilha do subdesenvolvimen- te das suas dotações de capital; No entanto, a utilização de capital
to econômico, assim como à sua porém, embora o autor considere pode ser inibida justamente pela
própria superação. a dotação de capital uma condição pequena dimensão do mercado. E
necessária, ela não seria su iciente sem aplicação de capital, não há
Neste texto, o foco está sobre dois para a de inição do progresso. A como se desenvolver. Assim, se se
pioneiros: Nurkse (1969 [1952], busca pela su iciência condicio- parte de uma situação inicial de
1957 [1953]) e My r d a l (196 8 nal implicaria o cumprimento de mercado de pequena dimensão,
[1957]). Ambos os autores apre- determinadas ações e políticas; como é o caso das economias atra-
sentam em suas contribuições te- algumas delas são discutidas pelo sadas, como quebrar esse círculo

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vicioso de pobreza? Recorrendo à geral, setores agrícolas , grande Ademais, é importante notar que,
teoria de crescimento equilibrado, parte da mão de obra poderia ser para Nurkse (1969 [1952]), a estra-
o autor explica que uma maneira transferida para outros setores tégia de crescimento equilibrado
de quebrar esse círculo vicioso é a  especialmente indústrias  sem deve ser pensada em termos glo-
aplicação de capital planejada em que esse deslocamento de fator bais, ou seja, não adiantaria uma
diferentes indústrias, o que permi- trabalho incorresse na diminuição nação se especializar somente nas
tiria uma ampliação geral do mer- da produção dos primeiros. Nesses produções em que historicamente
cado e um melhor aproveitamento, casos, é como se houvesse uma apresentasse maiores vantagens
em prol do desenvolvimento, da poupança oculta, pois estaria aber- comparativas, mesmo porque essa
renda e capital a serem gerados e ta a possibilidade de deslocar esse opção as prenderia na produção
acumulados. excesso de população para projetos apenas de bens primários, cujo
de formação de capital, tais como mercado está sujeito a diversas
Nurkse (1957 [1953]) explica que para a formação de infraestrutura. lutuações, conforme destaca a
o tamanho do mercado e o nível Já nos casos das nações escassa- tese Singer-Prebisch. Para o autor,
de produtividade no longo prazo mente povoadas, embora não se o foco deveria se voltar ao mercado
são os determinantes mais im- observassem melhorias radicais interno.
portantes do volume de comércio nas técnicas e métodos de produ-
internacional. Desse modo, a estra- ção, não haveria como deslocar Para Nurkse, essa argumentação,
tégia de crescimento equilibrado, mão de obra entre os setores sem por sua vez, não constituiria de-
sendo meio de ampliar o mercado que isso acarretasse diminuição na
fesa da autarquia; isto porque,
e estímulo à inversão de capital, produção dos setores que libera-
simultaneamente ao aumento de
incrementando a produtividade, riam mão de obra.
produtividade permitido pelo in-
seria fundamental para expandir o
cremento do mercado e da aplica-
comércio externo das áreas econo- Em outras palavras, é como se a
ção de capital por ele estimulado,
micamente mais atrasadas. Nesse abundância de fator trabalho re-
observar-se-ia uma transformação
sentido, o autor indica quais seriam tirasse a restrição que incentiva
da pauta de exportação e impor-
as etapas a serem cumpridas, a o desenvolvimento de métodos
mais produtivos na agricultura, o tação, incrementando, ao invés de
começar pelo desenvolvimento do
que seria um aspecto negativo do reduzir, o comércio externo. Há
mercado interno.
ponto de vista do desenvolvimen- que se considerar nessa mesma
Nurkse detalha o problema de su- to. Por outro lado, o excesso de direção que, como resultado da
primento de capital, argumentando mão de obra poderia, na verdade, expansão da industrialização na
que adquire natureza distinta a signi icar uma disponibilidade economia global, aquela situação
depender de a nação atrasada em não aproveitada de recursos. No veri icada no século 19 as nações
questão ser pouco ou densamente entanto, para que essa vantagem ricas exportando manufaturados
povoada. Indica o autor que os fosse aproveitada, estaria colocada para as nações pobres, das quais
países densamente povoados so- aqui novamente a necessidade de importavam bens primários  se
freriam de desemprego disfarçado planejamento, pois os mecanismos modi icara ao longo do século 20,
em larga escala, signi icando que, de mercado não se encarregariam já que as próprias nações avança-
mesmo que não houvesse modi- de deslocar essa mão de obra ex- das passaram a comerciar entre
icação substancial nas técnicas cedente para os setores com maior si, restringindo ainda mais o papel
de produção nos setores onde se potencial dinâmico de crescimento econômico internacional das na-
observasse esse fenômeno  em e desenvolvimento. ções subdesenvolvidas.

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No que se refere à oferta de capital nos países mais atrasados. Em Sobre o papel do Estado, Nurkse
para o desenvolvimento, destaca poucas palavras, a desigualdade de enfatiza que a maioria das nações
Nurkse que essa situação poderia, renda internacional, por meio do subdesenvolvidas precisa de sua
a princípio, ser resolvida por meio efeito demonstração, alimentaria participação ativa na condução
de capital externo. No entanto, o funcionamento do círculo vicioso tanto dos planos de investimento,
como o nível relativo de renda, e da pobreza, o que, por sua vez, in- quanto na promoção de políticas
não apenas o absoluto, também de- crementaria ainda mais o nível de que captem recursos para esse im.
termina a poupança, a entrada de disparidade entre as nações ricas e No entanto, o autor ressalta que
capital externo por si só não resol- as nações pobres. não há uma fórmula única, cabível
veria a questão do círculo vicioso a todos os contextos. Essa obser-
da pobreza. O autor explica, recor- Um meio de coibir os efeitos per- vação é importante, pois evidencia
rendo à Teoria de Duesenberry, que niciosos do efeito demonstração a crucialidade das especi icidades
um incremento de renda interna  ou, diretamente, do desequilíbrio das nações que, mesmo apresen-
poderia, por meio do chamado efei- no balanço de pagamentos por ele tando a característica comum de
to demonstração, resultar numa desencadeado seria a restrição subdesenvolvimento, são hetero-
maior propensão ao consumo nas de importações, em especial a de gêneas.
nações mais pobres, reduzindo, bens de luxo. No entanto, segundo
por conseguinte, sua capacidade Nurkse também realiza uma ob-
Nurkse, essa política de restrição
de poupança, mesmo diante do re- servação que sugere a necessidade
não seria por si só e icaz, pois o
ferido aumento de renda. O efeito de que haja uma coalizão social
efeito demonstração tende a atuar
demonstração, assim como ocorre- em prol do programa de desen-
na função de consumo geral, e não
ria com os indivíduos quando en- volvimento, bem como uma ampla
apenas na pauta de importação. Ao
trassem em contato com padrões participação dos agentes econô-
concentrar o padrão de consumo
de gastos superiores, também seria micos internos que compõem o
em bens supér luos, o efeito de-
observado no plano internacional. sistema nacional. Além de atuar
monstração pode resultar na con-
de maneira direta na captação e
Como resultado dessa propensão centração de capital, já escasso nos
direcionamento, o Estado pode e
a consumir increment ada pelo países atrasados, em indústrias deve fazê-lo indiretamente  por
contato com padrões de consumos produtoras desses bens de luxo. meio, por exemplo, de garantias
superiores, observa-se, nas eco- institucionais e políticas de incen-
nomias atrasadas, uma tendência Para Nurkse (1957 [1953]), a solu- tivo que permitam à sociedade
in lacionária interna e uma ten- ção para a acumulação de capital atuar em conjunto com o Estado
dência ao desequilíbrio no balan- nas economias subdesenvolvidas na superação das di iculdades de
ço de pagamentos. No entanto, não pode ser alcançada sem gran- formação de capital enfrentadas
de acordo com Nurkse, o maior des esforços internos. A formação pelas nações subdesenvolvidas.
problema residiria justamente no de capital depende de políticas Isso possibilitaria a essas nações a
fato de que, ao conduzir ao maior complementares internas. A ação chance de alcançar seu objetivo de
consumo e reduzir a quantidade interna é crucial tanto no que se re- desenvolvimento.
de poupança interna disponível, o fere ao uso efetivo  em termos da
efeito demonstração  ressaltado formação de capital  dos recursos Por im, vale destacar que Nurkse
e estimulado pelas disparidades que se disponibilizem quanto para se reporta a essas di iculdades
internacionais de renda  prejudi- abrir novos caminhos para captar e concernentes à acumulação de
caria a própria formação de capital formar mais capital. capital como um conjunto de cir-

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cunstâncias que podem levar à vimento, facilitando a tarefa de da teoria econômica. Além disso,
conser vação de uma economia superação do subdesenvolvimento. a incorporação de fatores não eco-
atrasada num estado de equilíbrio nômicos, necessários para discutir
subdesenvolvido. Além disso, para Segundo Myrdal, ao eliminar mui- o tema desenvolvimento, tornaria
o autor, o progresso econômico não tas das estruturas de controle tra- inviável a utilização de métodos
é gerado espontaneamente. Para dicionais que sustentavam o siste- equilibristas. Não seria veri icável
tal, conforme aventado anterior- ma de poder mundial, a 2ª Guerra uma tendência automática à estabi-
mente, se fazem necessárias ações Mundial fez emergir um novo na- lização do sistema social; pelo con-
direcionadas pelo Estado e ampa- cionalismo, baseado no qual di- trário, haveria sim uma tendência
radas pela sociedade. versas nações, relativamente mais de afastamento do estado dito de
pobres, passaram a reivindicar, equilíbrio, algo que seria explicável
além da liberdade, a igualdade pelo processo de causação circular
3 Myrdal e a Causação Circular de oportunidades, aspirando, por cumulativa.
Cumulativa
conseguinte, ao alcance do desen-
volvimento econômico. O autor Conforme dito anteriormente, em
De maneira semelhante aos de- destaca inclusive a mudança de linha com a argumentação dos
mais pioneiros, Myrdal não atribui denominação dessas nações, que demais pioneiros, Myrdal observa
validade à teoria da convergência teria passado de “atrasadas” para que se o processo cumulativo, ali-
da riqueza e desenvolvimento das “subdesenvolvidas”, o que seria mentado pela causação circular,
nações, destacando como carac- re lexo da própria mudança de per- não fosse controlado, promoveria
terística marcante da situação cepção sobre a situação econômica desigualdades crescentes. Entre-
internacional a crescente desigual- e a perspectiva futura desse grupo tanto, para o pioneiro, é possível
dade econômica entre os países. de países. atingir uma posição estável por
Entretanto, para o pioneiro, essa meio de interferências políticas
situação não seria imutável. Posicionando-se criticamente à planejadas. Para tal, faz-se neces-
abordagem convencional, Myrdal sário conhecer e compreender, em
Myrdal (1968 [1957]) de ine o con- indica que a noção de equilíbrio alguma medida, como os diversos
ceito de causação circular e cumu- estável traria implícita a ideia de fatores se inter-relacionam.
lativa. Com base nesse conceito, que, em resposta a uma mudança
infere que quanto mais se conhece em determinada direção, surgi- Myrdal aponta que parte da expli-
a maneira como os fatores se inter- riam, automaticamente, mudanças cação dos males dos países sub-
-relacionam, maior seria a capaci- secundárias em direção oposta à desenvolvidos reside no fato de os
dade de alcançar bons resultados primeira, de modo a neutralizá-la. efeitos propulsores serem fracos.
em termos de política, em especial Relacionada à noção de equilíbrio Deixados somente às forças do
aquelas que tivessem como preten- estaria também a ideia de que seria mercado, o que se observa é a ge-
são alterar o sistema social. Algo su iciente analisar a realidade so- ração ou a ampliação de desigual-
que, no contexto dos países sub- cial baseando-se somente em fato- dades regionais nesses países, e as
desenvolvidos, requer mudanças res econômicos. No entanto, para o próprias desigualdades represen-
de grande alcance; assim sendo, autor, a omissão desses fatores não tam obstáculos ao progresso. De
conhecer as causações entre os econômicos, que corresponderiam acordo com o autor, “Esta é uma
fatores auxiliaria a potencializar aos principais meios de causação das relações interdependentes,
e a canalizar de forma mais e icaz circular cumulativa, representaria por meio das quais, no processo
os efeitos positivos ao desenvol- uma das principais de iciências acumulativo, ‘a pobreza se torna

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sua própria causa’” (1968 [1957], dos efeitos propulsores internos, Ainda sobre o plano nacional de
p. 63), conclusão que se asseme- que são tanto consequência como desenvolvimento econômico, Myr-
lha muito àquela apresentada por causa do baixo nível de desenvol- dal indica que não pode ser elabo-
Nurkse (1957 [1953], p. 8), quando vimento. rado baseando-se em critérios de
de ine o círculo vicioso da pobreza lucratividade privada, pois a maior
e indica que um “país é pobre por- Especi icamente sobre o papel do parte dos investimentos a ser re-
que é pobre”. Estado, Myrdal destaca que parte alizada pelo plano não é lucrativa
da explicação da permanência na individualmente, por isso também
Myrdal também interliga as desi- pobreza de alguns países se encon- a necessidade de interferência es-
gualdades regionais internas e as
tra nas próprias políticas estatais. tatal. Além disso, o autor ressalta
desigualdades internacionais. A
De acordo com o autor, nos países que, para de fato haver chance de
explicação para essa interdepen-
pobres, os esforços para promover êxito no programa de desenvolvi-
dência se inicia pela relação entre
políticas de integração nacional mento econômico, deve ser priori-
a falta de integração econômica
nacional e o próprio atraso eco- teriam sido fracos, ao contrário do zada a criação de escolas e univer-
nômico, pois os baixos níveis, por ocorrido nos países ricos. Ademais, sidades, destinadas à preparação
exemplo, de mobilidade social e de as medidas políticas igualitárias de cientistas e pesquisadores.
educação, signi icariam maiores seriam ainda mais di icultosas nas
obstáculos aos efeitos propulsores nações pobres por conta da debi- O pioneiro Myrdal defende que,
de um determinado movimento lidade dos efeitos propulsores. O para ser realista, a teoria econômi-
expansionista, di icultando, por autor então destaca a interdepen- ca tem que se transformar numa
conseguinte, maior integração na- dência das medidas, pois o comba- teoria social. Com vistas a esse
cional, e criando e perpetuando te e iciente dos efeitos regressivos objetivo, deve romper com a teoria
desigualdades internas. por meio dos efeitos propulsores do equilíbrio estável e com os prin-
possibilitaria um ambiente mais cípios do laissez-faire, dos quais
Explica Myrdal que, no plano in- propício à implementação das me- decorreriam os fundamentos para
ternacional, o comércio não opera didas políticas igualitárias. defender a teoria do livre inter-
para promover igualdade. Pelo câmbio. A sua contribuição teórica
contrário, especialmente no con- Myrdal ressalta que a mudança teria como propósito justamente
texto do subdesenvolvimento, o co- mais importante a ser empreen- se desenvolver nessa direção, qual
mércio internacional pode acabar
dida na esfera política das nações seja, de indicar a inadequação dos
provocando efeitos regressivos.
subdesenvolvidas é a compreensão fundamentos da teoria tradicional
O mesmo raciocínio seria válido
da crucialidade do estabelecimento para lidar com questões relativas
para o movimento de capitais, que
de um plano nacional de desen- ao desenvolvimento. Para o autor,
tenderiam a se esquivar dos países
subdesenvolvidos. Então, o autor volvimento econômico, o qual, em a principal hipótese de uma teoria
reforça que o desenvolvimento termos de modelo abstrato, deveria econômica supostamente mais re-
econômico tem de ser promovido ter como base um estudo da causa- alista deveria buscar contemplar a
necessariamente por meio de inter- ção circular entre os fatores rele- causação circular entre todos os fa-
ferências políticas  pois, no inal vantes para determinar a dinâmica tores do sistema social, resultantes
das contas, os efeitos propulsores do sistema econômico. No entanto, do processo. Algo que, obviamente,
fracos entre os países seriam na em geral, o Estado nos países sub- não se trata de tarefa trivial, se é
verdade um re lexo da fraqueza desenvolvidos é fraco. que seria na verdade possível.

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4 Conclusão desigualdades crescentes entre os MYRDAL, Gunnar. Teoria econômica e regiões


subdesenvolvidas. 2. ed. Rio de Janeiro: Edi-
países desenvolvidos e os subde- tora Saga, 1968.
Para Nurkse, as mais importantes senvolvidos, caracterizados pela
NURKSE, Ragnar. Alguns aspectos interna-
das relações circulares que com- predominância de efeitos propul- cionais do desenvolvimento econômico.
põem o círculo vicioso da pobreza sores fracos, que explicam e per- In: AGARWALA, A. N.; SINGH, S. P. (Ed.). A
economia do subdesenvolvimento. Rio de
são aquelas que di icultam a for- petuam as próprias desigualdades Janeiro: Cia Editora Forense, 1969.
mação de capital nos países atrasa- internas dessas nações. Por isso a
______. Problemas da formação de capital em
dos, relacionadas tanto ao lado da necessidade de interferências po- países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro:
oferta quanto ao lado da demanda líticas planejadas para promover o Editora Civilização Brasileira, 1957.
de capital. Com vistas a fazer fren- desenvolvimento econômico.
te a esses obstáculos, a estratégia
de crescimento equilibrado deve Ambos os autores aqui discutidos
ser pensada em termos globais, sig- desenvolveram o cerne de sua ar-
ni icando que as nações atrasadas gumentação ao redor de de inições
deveriam diversi icar sua pauta teóricas baseadas em mecanismos
exportadora na direção de pro- cumulativos. E é especialmente
dutos mais elaborados, bem como nesse sentido que as abordagens de
para direcionar esforços para o Nurkse e Myrdal convergem e apre-
desenvolvimento do mercado in- sentam possíveis complementarida-
terno. Outra observação interes- des. A observação da existência de
sante derivada do autor refere-se efeitos propulsores fracos de inidos
ao efeito demonstração, que impli- por Myrdal seria um dos compo-
caria que, se não houver direção de nentes que ajudariam a explicar a
planejamento e grandes esforços permanência do circulo vicioso da
internos, estaria colocada uma pobreza de inido por Nurkse. Do
tendência a direcionar os recursos mesmo modo, o aproveitamento dos
ou ao consumo propriamente dito efeitos de encadeamento positivo
de bens de luxo ou à concentração das causações circulares cumulati-
de capital em setores produtores vas destacadas por Myrdal seria um
desses bens. O autor então conclui meio potencial de superação do cír-
que o Estado deve disponibilizar culo vicioso da pobreza e do alcance
garantias institucionais e políticas do desenvolvimento.
de incentivo que permitam à socie-
dade atuar para superar o círculo
Referências
vicioso da pobreza.

Ao levar em consideração a cumu- CARDOSO, Fernanda Graziella. A armadilha


latividade do processo econômico, do subdesenvolvimento: uma discussão do
período desenvolvimentista brasileiro sob
Myrdal destaca que o comércio
a ótica da Abordagem da Complexidade. (*) Doutora em Economia das Instituições e
internacional funciona como meio Tese (Doutorado) – São Paulo, FEA-USP, do Desenvolvimento pelo IPE-FEA-USP
de provocação e perpetuação de 2012. (E-mail: fernandacardoso@usp.br).

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