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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Jose Nascimento Araujo Netto
Av. Presidente Antonio Carlos,251 6o andar - Gab.44
Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ
RECURSO ORDINÁRIO- TRT- RO 0001276-83.2012.5.01.0037

Acórdão
1a Turma

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DISPENSA


ARBITRÁRIA. DOENÇA GRAVE. REINTEGRAÇÃO.
ÓCIO HUMILHANTE. Não bastassem a condição de
saúde do autor, a dispensa arbitrária e o cancelamento
do plano de saúde, a ré, após a reintegração do
empregado, ainda o colocou à margem da rotina laboral
da empresa, mantendo-o na ociosidade. O fato do autor
permanecer em tratamento agressivo (v.g.
quimioterapia), não importou na necessidade de faltar ao
serviço, não havendo motivos para que não fosse
escalado para o trabalho. A postura da ré colocou em
choque princípios constitucionais: da dignidade humana
e da valorização social do trabalho. Não há dúvida de
que se tratava de doença grave e a peregrinação do
autor confundiu-se com a luta pela vida, encontrando-se
em condição sui generis, de fragilidade psíquica e física,
merecendo do ordenamento jurídico trato e proteção
diferenciados. Assim, baseando-se nos pilares do Direito
do Trabalho, que se normativa nos direitos fundamentais
de índole social-humanista-solidarista, há de se
assegurar ao empregado, através da manutenção do
emprego, não apenas como meio de subsistência, mas
como possibilidade de se dar continuidade ao convívio
com a sociedade e desenvolver uma atividade produtiva.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso


Ordinário em que são partes: ESPÓLIO DE RENATO FLINKAS, como Recorrente
e GLOBO COMUNICAÇÕES E PARTICIPAÇÕES SA, como Recorrido.
Inconformado com a r. decisão proferida pelo MM. Juízo da 37ª Vara
do Trabalho do Município do Rio de Janeiro que, as fls. 390/396, julgou
PROCEDENTE, EM PARTE, o pedido, recorre ordinariamente o autor.
Embargos de declaração da ré às fls. 401/403, julgados
improcedentes pela decisão de fl. 406.
Recurso ordinário do autor as fls. 430/438, insurgindo-se contra o valor
fixado a título de indenização por danos morais, equiparação salarial e adicional de
chefia.
Manifestação da reclamada as fls. 446/446-verso.
Autos não remetidos a d. Procuradoria Regional do Trabalho, por não
se vislumbrar interesse público a justificar a intervenção, neste momento.
É o relatório.

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Acórdão
1a Turma
VOTO

I. CONHECIMENTO

PRELIMINAR

PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO ORDINÁRIO


FORMULADO PELA RECLAMADA.
A reclamada, pela petição de fl. 446, formulou pedido de desistência
do recurso ordinário interposto as fls. 408/414, na forma do artigo 501 do CPC.
Ante expressa manifestação, homologa-se a desistência.

RECURSO ORDINÁRIO DA REPRESENTANTE DO ESPÓLIO.


REGULARIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. PRIMEIRO ATO PRATICADO APÓS
A HABILITAÇÃO NOS AUTOS.

Necessário se faz breves considerações acerca da regularização da


representação do espólio e a cientificação dos atos processuais ante a
comunicação do falecimento da parte.
Incontroverso que o autor da presente ação, Sr. Renato Flinkas,
faleceu em 01/01/2013.
Ocorrendo o falecimento da parte e tendo tal fato sido comprovado
nos autos, impõe-se a suspensão do processo para habilitação da sucessão, nos
termos do art. 43 do CPC (Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes,
dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado
o disposto no art. 265).
As partes, através de seus advogados, foram notificadas para ciência
da decisão proferida as fls. 390/396, em 05/02/2013 (fl. 397), ou seja, mais de um
mês após o falecimento do autor.
Em 07/02/2013, o então patrono do autor, informou o falecimento,
anexando cópia da Certidão de Óbito.
Assim, a notificação para ciência da sentença é nula, isto porque, a
eficácia da procuração outorgada ao Dr. Carlos Fernando Cavalcanti de
Albuquerque, extinguiu-se com o falecimento do autor.
Na hipótese de substituição processual da parte pelo espólio ou
sucessores, regulada pelo art. 43 do CPC, é necessária a ratificação da procuração
pelo inventariante, conferindo poderes de representação processual ao advogado.
No caso, em obediência à regra do art. 265 do CPC, o processo foi
suspenso para que fossem tomadas as medidas legalmente cabíveis, sendo
deferido o prazo de 01 (um) ano, a contar de 15/04/2013 (fl. 419).
A parte regularizou sua situação processual as fls. 421/428, uma vez
que comprovada a habilitação da Sra. Tânia Regina Petrilio Lima como dependente
perante a Previdência Social.
No despacho exarado pelo Juízo de Origem, a fl. 421, foi deferida a

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retificação da autuação e demais registros para constar como autora a Sra. Tânia,
na qualidade de sucessora do “de cujus”, sendo, ainda, determinado a notificação
para contrarrazoar o Recurso Ordinário da ré.
Ocorre, porém, que a parte ainda não havia sido notificada para
ciência da decisão.
Assim, no primeiro ato praticado, interpôs a parte autora seu recurso
ordinário (fls. 430/438), requerendo, de forma sucessiva, que, caso fosse o
entendimento de que havia expirado o prazo recursal, fosse aceito o remédio
processual como adesivo.
Como já registrado, não havia sido notificada a parte para ciência da
decisão, razão pela qual seu recurso ordinário é de ser aceito como principal,
estando devidamente tempestivo.
E, sendo principal, não há como se aplicar o art. 500, III, do CPC, pois
não se trata de recurso adesivo e, portanto, não está à sorte do processamento do
recurso ordinário da reclamada.
Por todo exposto, conheço do recurso ordinário da parte autora,
porque tempestivo e atendidos os demais pressupostos de admissibilidade.

II. MÉRITO

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DISPENSA


DISCRIMINATÓRIA. EMPREGADO PORTADOR DE LEUCEMIA LINFOIDE
CRÔNICA. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
A parte autora inconforma-se com o valor fixado pelo Juízo de Origem
(R$100.000,00) a título de indenização por danos morais.
Entende a parte autora que o valor arbitrado não é suficiente para
indenizar o dano sofrido e muito menos de coibir a empresa e seus prepostos em
repetir tais atos.
Ressalta que a reparação de um dano moral deve levar em conta a
satisfação do caráter punitivo/educativo para com o ofensor e o reconforto ao
vitimado, sendo certo que é necessário que a condenação seja suficiente para
desestimular de forma eficaz o agressor da prática ou reiteração de atos que gerem
o dano.
Assim decidiu o Juízo de Origem, in verbis:

“O Reclamante pleiteia o pagamento de indenização por danos


morais relatando ter sido despedido quando era portador de doença
grave; que ficou impedido de continuar o tratamento de saúde devido
ao cancelamento o plano de saúde; que a perda do emprego agravou a
sua doença; e que, após ser reintegrado, continua sofrendo
discriminação, pois não é escalado para trabalhos.
(...)
O Reclamante foi contratado para exercer a função de Diretor de

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Imagem em 03/04/2006; foi diagnosticado como portador de leucemia
linfóide crônica em 26/06/2007; ficou afastado em dois períodos, de
19/08/2008 a 15/01/2009 e de 29/04/2010 a 05/10/2010; ao retornar do
último período de afastamento gozou de férias, fl. 222; e foi dispensado
em 03/11/2010.
(...)
No processo nº 0001363-58.2010.5.01.0021, a preposta da
Reclamada informou que: “...quando retornou de licença em 2010, o
autor retornou normalmente ao trabalho; ... que com certeza entrou
outra pessoa no lugar do autor...; ...que não havia nada na conduta do
reclamante que o desabonasse...”, fl. 16, evidenciando que o
Reclamante era um bom profissional e que, após ser despedido, foi
substituído.
Se o Reclamante era bom profissional e foi substituído por outra
pessoa, a única razão plausível para a despedida imotivada seria o
intuito da Reclamada de se livrar de um empregado com saúde
fragilizada, a fim de evitar transtornos, como o constante afastamento
dele para tratamento de saúde.
(...)
A suspensão do benefício previdenciário na época da despedida
não significa que o Reclamante estivesse curado da doença que o
acometeu e sim, que estava apto a exercer suas funções na Reclamada.
A despedida sem justa causa do Reclamante, além de ter
subtraído a utilização do plano de saúde no momento mais necessário,
o entregou à pobreza, uma vez que é impossível arranjar outra
colocação no mercado de trabalho estando submetido a tratamento
quimioterápico.
A disponibilização de plano de saúde, frise-se, cerca de 45 dias
após a data da despedida, fl. 20, somente revela o intuito da Reclamada
de tentar minimizar os efeitos danosos da despedida, sobre o
organismo já fragilizado do Reclamante.
Além disso, a testemunha arrolada pelo Reclamante disse que:
“...há dois anos o reclamante passou a sofrer diminuição de escalas; ....
que teve informação pelo Sr. Juan, que fazia as escalas dos operadores,
que havia ordens para que o reclamante não fosse escalado;... que no
início do contrato o reclamante recebia muitas alocações, situação que
foi alterada após seus afastamentos; ... que após a reintegração do
reclamante não chegou a encontrá-lo e trabalhar com ele, pois o
reclamante não estava sendo escalado...”, fl. 14.
A diminuição de trabalho está evidenciada, também, pelos
documentos às fls. 229/236, onde consta, por exemplo, somente 5
escalações no ano de 2010.
(...)
Os fatos acima narrados evidenciam, exaustivamente, que a

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reclamada, empresa que se engrandece por sua postura solidária,
promovendo ações como o Criança Esperança, utilizou-se dos meios
legais para cometer um ato covarde ao despedir o Reclamante e, depois
de reintegrá-lo, colocá-lo em ociosidade.”

À análise:

O “de cujus” logrou êxito na ação movida em face da ré, que tramitou
perante MM. 21ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, tombada sob o nº 0001363-
58.2010.5.01.0021, onde, através da sentença proferida pela i. Juíza Dra. Patrícia
Lampert Gomes, foi declarada nula sua dispensa e determinada sua reintegração,
por entender o Juízo que o ato foi motivado por caráter discriminatório, como
preconiza a Lei 9.025/95.
A referida decisão foi mantida pela Colenda 3ª Turma deste Tribunal,
através do acórdão da lavra do i. Desembargador Jorge F. Gonçalves da Fonte, que
consignou os seguintes fundamentos, verbis:1

“No caso presente, o autor descobriu ser portador de leucemia


linfóide crônica em 2007 (fl. 64). Ao retornar ao emprego, após dois
afastamentos, com concessão de benefício previdenciário (19.08.09 a
15.01.10 e 29.04.10 a 05.10.10), foi dispensado pela recorrente, num
prazo inferior a 30 dias de seu retorno (fl. 62).
A função desempenhada pelo reclamante, de operador de
imagem, é fundamental e necessária para a conhecida emissora de
televisão, como, aliás, esclarecido pela preposta. A representante da
empresa ainda esclareceu que houve imediata contratação de novo
profissional em substituição ao reclamante, para o desempenho da
mesma função (fl. 212).
O art. 1º da Lei 9.029/95 prevê, expressamente, que é proibida a
adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de
acesso à relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo,
origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade.
Ressalte-se que a lista de possibilidades discriminatórias
apontadas pelo seu art. 1º é meramente exemplificativa, já que
expressamente veda “qualquer prática discriminatória e limitativa”.
A atitude da recorrente, lamentavelmente, evidencia dispensa
discriminatória nos moldes reconhecidos pela lei e pela jurisprudência.”

As partes, em suas respectivas peças, reportaram-se às provas


produzidas nos autos do referido processo, razão pela qual foi aceito pelo Juízo
como prova emprestada.
Não obstante, na ata de fls. 388/389, foram colhidos os depoimento
1Fonte: http://bd1.trt1.jus.br/xmlui/bitstream/handle/1001/430947/00013635820105010021%2325-
09-2012.pdf?sequence=1 Acesso: 20/11/2013)

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das partes e testemunha arrolada pelo autor.

Pois bem:

As pertinentes e precisas pontuações feitas pela i. Juíza de Primeiro


Grau e i. Desembargador, esgotam a matéria, pois restou claro que a dispensa do
autor, quando se encontrava num período de maior fragilidade de sua de saúde, foi
discriminatória.
O dano moral é decorrente e evidencia-se na própria prática do ato.
Nesse sentido, ensina Sergio Cavalieri Filho, em sua obra Programa
de Responsabilidade Civil, 7ª ed. ATLAS, 2007, p. 83: “Neste ponto a razão se
coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na
própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se a ofensa é grave e de
repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa;
deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a
ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção
natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da
experiência comum.”
O ato faltoso da ré foi devidamente provado, sendo o dano moral,
portanto, uma decorrência lógica.
Cabe, agora, analisar se a indenização fixada levou em consideração
a gravidade e repercussão da ofensa, a condição econômica do ofensor, a pessoa
do ofendido e, por fim, a intensidade do sofrimento que lhe foi causado.
Daí que necessário se faz breve relato do processado.
O autor foi admitido pela ré em 03/04/2006, na função de Diretor de
Imagem, sendo dispensado, sem justa causa, em novembro de 2010, quando
retornava de um período de quimioterapia (fl. 15).
Diz que, no curso do contrato de trabalho, teve o diagnóstico de
Leucemia Linfoide Crônica (Cid: 10 C 91.1).2
Em decorrência de sua patologia, esteve afastado do trabalho por duas
vezes em virtude de licença médica concedida pelo INSS, a saber: de 19/08/2009 a
15/01/2009 e de 29/04/2010 a 05/10/2010.
Diz que em razão de sua doença, a ré diminuiu consideravelmente seu
escalonamento para desempenho de suas atividades, o que entende ter sido
humilhante e vexatório em seu ambiente de trabalho.
A alegação do autor foi devidamente comprovada pela testemunha
ouvida nos autos do Processo 0001363-58.2010.5.01.0021, cujo termo encontra-se
2A leucemia linfocítica crônica (LLC) é um câncer de um tipo de glóbulos brancos denominados
linfócitos. A leucemia linfocítica crônica causa um aumento lento dos glóbulos brancos denominados
linfócitos B, ou células B. As células cancerosas espalham-se pelo sangue e pela medula óssea e
podem afetar também os linfonodos ou outros órgãos, como o fígado e o baço. Com o tempo, a LLC
faz com a medula óssea deixe de funcionar. (Fonte:
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/leucemia-linfoide-cronica Acesso: 20/11/2013)

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a fl. 14, onde textualmente informou que: “que há dois anos o reclamante passou
a sofrer diminuição de escalas...; que teve informação pelo Sr. Juan, que fazia
as escalas dos operadores de que havia ordens para que o reclamante não
fosse escalado...; que no início do contrato o reclamante recebia muitas
alocações, situação que foi alterada após seus afastamentos; que em termos
técnicos o reclamante era muito solicitado, trabalhando ao vivo, em novelas;
que após a reintegração do reclamante não chegou a encontrá-lo e trabalhar
com ele, pois o reclamante não estava sendo escalado...”
Em depoimento no referido processo, o autor disse que: “ao retornar
da segunda licença passou a sofrer discriminação em relação às escalas, a
partir de 2008/2009; que neste período ficava apenas à disposição; que mesmo
após a reintegração não é escalado para trabalhar; que acredita que não se
trata de disposição da empresa mas de pessoas específicas lá dentro, por
discriminação; que após a reintegração passou a sofrer mais perseguições;
que seu diretor tem ordens superiores para que o depoente não seja
escalado...”
Já a preposta da ré informou que o autor não teve alteração em sua
escala, sendo convocado normalmente.
Ressaltou que a dispensa do autor decorreu de uma reestruturação da
empresa, apesar de ter sido contratado um funcionário para ocupar sua vaga.
Em depoimento prestado nos presentes autos (fl. 387), o autor disse
que: “que após ser despedido não foi concedido acesso a qualquer outro plano
de saúde; que nunca recebeu o documento juntado pela Reclamada de que o
Reclamante seria beneficiário do Plano de saúde AMIL à partir de 16/11/2010;
que foi reintegrado em dezembro de 2010; que após ser reintegrado, nunca
mais ficou afastado pelo INSS; que, desde a reintegração, nunca mais foi
escalado para trabalhos e a reclamada sempre dispensa o reclamante...”
Como visto, as alegações do autor foram comprovadas pelo
depoimento prestado pela testemunha, no sentido de que, quando foi reintegrado,
suas convocações foram diminuídas, ficando sem exercer suas funções dentro da
empresa.
Não bastassem a condição de saúde do autor, a dispensa arbitrária e o
cancelamento do plano de saúde, a ré, após a reintegração do empregado, ainda o
colocou à margem da rotina laboral da empresa, mantendo-o na ociosidade.
É de se ressaltar que, quando do retorno á empresa, o autor se
encontrava em tratamento quimioterápico agressivo, mas ainda assim não houve
necessidade de faltar ao serviço, não havendo motivos para que não fosse escalado
para o trabalho.
Entendo que a ociosidade imposta é grave ofensa ao trabalhador, pois
traz em si a gênese da humilhação que resulta em dano moral.
A postura da ré colocou em choque princípios constitucionais: da
dignidade humana e da valorização social do trabalho.
Evidente que numa ponderação de interesses há que prevalecer o
primeiro, afinal, com a atual Constituição da República, o ser humano foi erigido ao

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vértice da pirâmide da escala de valores.
Some-se que a função social, indissociável da atividade empresarial,
impede a dispensa de empregados que, embora aptos ao trabalho, estejam
acometidos de doença, em especial, aqueles como a do presente caso, que
necessitam longo tratamento de cura possível, mas incerta.
Não há dúvida de que se tratava de doença grave e a peregrinação do
autor confundiu-se com a luta pela vida, encontrando-se em condição sui generis, de
fragilidade psíquica e física, merecendo do ordenamento jurídico trato e proteção
diferenciados.
Assim, baseando-se nos pilares do Direito do Trabalho, que se
normativa nos direitos fundamentais de índole social-humanista-solidarista, há de se
assegurar ao empregado, através da manutenção do emprego, não apenas como
meio de subsistência, mas como possibilidade de se dar continuidade ao convívio
com a sociedade e desenvolver uma atividade produtiva.
Neste sentido as seguintes ementas:

“1)AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1) PRELIMINAR


DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. Não existindo os defeitos
apontados na entrega da prestação jurisdicional, com a bastante exposição
dos fundamentos fáticos e jurídicos concernentes ao decisum, rejeita-se a
arguição de nulidade. Agravo de instrumento desprovido. 2) ATO ILÍCITO.
DISPENSA ARBITRÁRIA DE EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA
GRAVE (LUPUS). INCIDÊNCIA DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EM
RELAÇÕES PRIVADAS. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
ABRANGÊNCIA E EFEITOS. DECISÃO DENEGATÓRIA DE SEGUIMENTO
DO RECURSO DE REVISTA. MANUTENÇÃO. O Estado Democrático de
Direito, consagrado pela Constituição de 1988, incorpora, de modo intenso e
abrangente, o princípio democrático, por ser a Democracia importante meio,
dinâmica e ambientação propícios para a afirmação da pessoa humana e sua
dignidade na vida política e social. Nessa incorporação, determina o Texto
Máximo da República que a Democracia esteja presente não apenas na
sociedade política (o Estado e suas instituições), como também na sociedade
civil (o cenário formado pelas pessoas humanas, as instituições sociais, a
cultura em geral e o próprio sistema econômico e suas empresas). Para o
conceito de Estado Democrático de Direito, há direta e imediata eficácia
horizontal dos princípios constitucionais e dos direitos e garantias individuais
e sociais, inclusive trabalhistas, no plano da sociedade civil e de suas
instituições privadas. Eficácia horizontal plena, que deve ser absorvida e
considerada pelos detentores de poder privado no âmbito da sociedade civil.
Nesse contexto, se o ato de ruptura contratual ofende princípios
constitucionais basilares, é inviável a preservação de seus efeitos jurídicos.
Agravo de instrumento desprovido.3) ATO ILÍCITO. DISPENSA ARBITRÁRIA
DE EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE (LUPUS). ATO
DISCRIMINATÓRIO. DECISÃO DENEGATÓRIA DE SEGUIMENTO DO

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RECURSO DE REVISTA. MANUTENÇÃO. A Constituição Federal, no caput
de seu art. 5º, abomina qualquer forma de tratamento discriminatório, sendo
nulos de pleno direito quaisquer atos jurídicos realizados com base em
premissa discriminatória. A jurisprudência desta Corte Superior tem decidido
no sentido de se presumir discriminatória a dispensa de empregado portador
de alguma doença grave, impondo ao empregador o ônus da prova de que
não tinha ciência da doença ou da existência de outros motivos lícitos para a
prática de resilição unilateral do contrato (Súmula 443/TST). Dessa maneira,
regra geral, o trabalhador comprovadamente portador de doença grave
não pode ter seu contrato rompido, esteja ou não afastado do serviço
(art. 471 da CLT), uma vez que a mantença da atividade laborativa, em
certos casos, é parte integrante do próprio tratamento médico. Revela-
se, ademais, discriminatória tal ruptura arbitrária, uma vez que não se pode
causar prejuízo máximo a um empregado - dispensa - em face de sua
circunstancial debilidade física causada por grave doença. In casu, o Tribunal
Regional, com base nas provas colhidas nos autos e na pena de confissão
imposta à Reclamada, consignou que a parte Reclamante sofria de Lupus e
que, ante a referida doença, a sua dispensa se deu por motivos
discriminatórios, declarando a nulidade da medida. Esse acervo probatório
não pode ser revolvido nesta instância extraordinária de jurisdição, em face
do óbice imposto pela Súmula 126/TST. Assim, não há como assegurar o
processamento do recurso de revista, uma vez que o agravo de instrumento
interposto não desconstitui os termos da decisão denegatória, que subsiste
por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido.” (AIRR -
1253-04.2010.5.01.0007, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 30/08/2013)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1. DISPENSA


DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE
DOENÇA GRAVE - CÂNCER. ESTIGMA OU PRECONCEITO (SÚMULA
126/TST). 2. DIREITO À REINTEGRAÇÃO. SÚMULA 443/TST.
FALECIMENTO DO EX-EMPREGADO. INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA ATÉ
O FALECIMENTO. 3. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DO QUANTUM
ARBITRADO. 4. MULTA POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
PROTELATÓRIOS. DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. Registre-se,
inicialmente, que o ex-empregado, após a rescisão contratual, ajuizou a
presente ação trabalhista em 2007, havendo, após o seu falecimento ocorrido
em 2008, a sucessão processual pelo espólio. Presume-se discriminatória a
ruptura arbitrária do contrato de trabalho, quando não comprovado um
motivo justificável, em face de circunstancial debilidade física causada
pelo câncer. Esse entendimento pode ser abstraído do contexto geral de
normas do nosso ordenamento jurídico, que entende o trabalhador
como indivíduo inserto numa sociedade que vela pelos valores sociais
do trabalho, pela dignidade da pessoa humana e pela função social da

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RECURSO ORDINÁRIO- TRT- RO 0001276-83.2012.5.01.0037

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propriedade (arts. 1º, III e IV e 170, III e VIII, da CF). Não se olvide,
outrossim, que faz parte do compromisso do Brasil, também na ordem
internacional (Convenção 111 da OIT), o rechaçamento a toda forma de
discriminação no âmbito laboral. Na esteira desse raciocínio, foi editada a
Súmula 443/TST, que delimita a pacificação da jurisprudência trabalhista
neste aspecto, com o seguinte teor: -Presume-se discriminatória a despedida
de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite
estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à
reintegração no emprego-. Na hipótese dos autos, consta do acórdão regional
que o ex-empregado era portador de câncer na região do pescoço desde
fevereiro/2003, tendo se submetido a tratamento cirúrgico em 2004, sendo
notória a gravidade de sua doença e a necessidade de seu constante
acompanhamento médico. Asseverou a Corte de origem que o ex-
empregado, à época de sua dispensa, em 01.12.2005, estava prestes a
realizar nova cirurgia devido à recidiva da doença. Por fim, o Tribunal a quo
presumiu que houve discriminação e arbitrariedade na dispensa do ex-
empregado, uma vez que a Reclamada não comprovou os motivos apontados
para a dispensa, tendo sido a ruptura contratual fora dos limites do seu direito
potestativo. Nesse sentido, o Regional manteve a condenação no pagamento
de indenização substitutiva até o falecimento do ex-empregado. Diante desse
contexto, considera-se correta a decisão regional ao entender que houve
discriminação na dispensa do ex-empregado. Por outro lado, para analisar as
assertivas recursais de inexistência de conduta discriminatória, necessário
seria a reanálise de todo o conteúdo fático-probatório dos autos, o que é
inviável em se tratando de recurso de revista (Súmula 126/TST). Dessa
forma, não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando
o agravo de instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da
decisão denegatória, que ora subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo
de instrumento desprovido.” (AIRR - 174700-03.2007.5.15.0022, Relator
Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
16/08/2013)

“RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. INDENIZAÇÃO POR DANO


MORAL. DISPENSA. EMPREGADA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE.
CÂNCER. DISCRIMINAÇÃO. Embora a dispensa sem justa causa seja direito
potestativo do empregador, em algumas circunstâncias pode-se configurar o
abuso desse direito, principalmente quando o empregado é acometido de
doença grave. No caso dos autos, o Regional registrou que houve dispensa
abusiva, uma vez que se deu por discriminação (tanto assim, que foi mantida
a reintegração ao emprego). Também consignou que o motivo foi
desqualificante para a empregada, já que a doença a incapacitaria de
colaborar com o desenvolvimento da empresa, o que acarretou profunda
angústia na trabalhadora. A situação fática descrita autoriza a conclusão de
que os requisitos para concessão da indenização foram preenchidos (dor

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moral, nexo de causalidade entre a ação e o dano, e culpa da empregadora).
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.” (RR -
235400-84.2009.5.02.0070, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 10/05/2013)

E, no que tange à ociosidade imposta, a jurisprudência consolida o


entendimento de que tal conduta fere à dignidade da pessoa humana e valorização
do trabalho, gerando o direito à indenização por danos moral.
Neste sentido as seguinte ementas:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1. PRELIMINAR


DE NULIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. 2.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. DESRESPEITO AO
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. 3.
VALOR ARBITRADO PARA A INDENIZAÇÃO. SÚMULA 297/TST. DECISÃO
DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. A conquista e a afirmação da dignidade da
pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade e
intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a
conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social,
com repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de
maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e diversificado das
pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. O direito à
indenização por danos moral e material encontra amparo nos arts. 186, 927
do Código Civil, c/c art. 5º, X, da CF, bem como nos princípios basilares da
nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção
da dignidade humana e da valorização do trabalho humano (art. 1º, da
CR/88). A higidez física, mental e emocional do ser humano são bens
fundamentais de sua vida privada e pública, de sua intimidade, de sua
autoestima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. São
bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, regra geral, pela Constituição
Federal (artigo 5º, V e X). Agredidos em face de circunstâncias laborativas,
passam a merecer tutela ainda mais forte e específica da Carta Magna, que
se agrega à genérica anterior (artigo 7º, XXVIII, da CF). Na hipótese em
apreço, houve ofensa à dignidade do Reclamante, configurada na situação
fática descrita nos autos, segundo a qual, após o retorno do Reclamante de
licença médica, a Reclamada o deixou, por cerca de 30 (trinta) dias, na -sala
de recanto-, isolado dos demais colegas, sem que lhe fosse passada qualquer
atividade. Assim, diante da submissão do Reclamante a situações que
atentaram contra sua dignidade e integridade psíquica, tem ele direito à
reparação moral, conforme autorizam o art. 5º, X, da Constituição Federal e
os artigos 186 e 927 do Código Civil. No que diz respeito ao valor da
indenização, registre-se que o Tribunal Regional não se manifestou a respeito
da matéria, tampouco foi instado a fazê-lo por meio de embargos
declaratórios, razão pela qual a ausência de prequestionamento inviabiliza a

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admissibilidade do apelo, nos termos da Súmula 297/TST. Sendo assim, não
há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo
de instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da decisão
denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de
instrumento desprovido” (AIRR - 562-58.2010.5.15.0117, Relator Ministro:
Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/10/2013)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. VÍNCULO


EMPREGATÍCIO. DANO MORAL. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 126 E
296/TST. ÓBICES NÃO INFIRMADOS PELA RECORRENTE. SÚMULA
422/TST. DESRESPEITO AO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE
DA PESSOA HUMANA. ATO DISCRIMINATÓRIO E ÓCIO HUMILHANTE.
DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. O direito à indenização por
danos moral e material encontra amparo no art. 186, Código Civil, c/c art. 5º,
X, da CF, bem como nos princípios basilares da nova ordem constitucional,
mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade humana e da
valorização do trabalho humano (art. 1º, da CR/88). Porém, há requisitos
essenciais para a responsabilização empresarial e, sem a conjugação desses
requisitos, não se há falar em responsabilidade do empregador por qualquer
das responsabilidades vindicadas, que, regra geral, são: o dano; o nexo
causal, que traduz a causalidade entre a conduta do empregador ou de seus
prepostos e o dano sofrido pelo empregado; e, regra geral, a culpa do
empregador, excetuando-se as hipóteses de prescindibilidade de tal requisito,
como por exemplo aquelas previstas nos arts. 927, parágrafo único, e 933 do
CC. O Tribunal Regional, ao analisar o conjunto probatório produzido nos
autos, concluiu existirem elementos suficientes nos autos a caracterizar o
dano moral vindicado: a) obrigação do empregado a permanecer em casa,
submetendo-se ao ócio humilhante; b) posterior dispensa discriminatória a
portador do vírus HIV. Fixadas tais premissas pelo Tribunal Regional,
instância soberana no exame do quadro fático-probatório carreado aos autos,
adotar entendimento em sentido oposto implicaria o revolvimento de fatos e
provas, inadmissível nesta seara recursal de natureza extraordinária, a teor
da Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido.” (AIRR - 232440-
77.2002.5.02.0046, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 6ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 05/02/2010)

“RECURSO ORDINÁRIO. DANO MORAL. ÓCIO HUMILHANTE. Os


elementos da responsabilidade civil (da obrigação de indenizar), da qual o
dano moral é mera espécie, são: a) a prática de um ato ilícito; b) o dano
causado por este ato ilícito e c) o nexo de causa e efeito entre o ato e o dano.
A necessidade de preservação do patrimônio moral do trabalhador não
autoriza o ócio forçado do empregado, posto que essa conduta o fere no
respeito à dignidade da pessoa humana.” (Recurso Ordinário nº 0000328-
85.2011.5.01.0067, Desembargador Alexandre Teixeira de Freitas B. Cunha,

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7ª Turma, sessão do dia 27 de fevereiro de 2013. Fonte:
http://bd1.trt1.jus.br/xmlui/bitstream/handle/1001/466913/00003288520115010
067%2314-03-2013.pdf?sequence=1 Acesso: 20/11/2013)

Assim, seja pela dispensa discriminatória, seja pelo fato de que o


empregado, quando reintegrado, não foi designado para trabalhar, entendo que o
valor fixado a título de indenização deve ser majorado para R$ 200.000,00
(Duzentos mil reais).

DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL

Pretende a parte autora a equiparação salarial com os paradigmas


apontados na inicial, sustentando que o “de cujus” exercia a mesma função e
realizava trabalho de igual valor que os dos modelos, que por sua vez ganhavam
salários superiores.
Ressalta que a ré não alegou que os paradigmas tinham diferença no
tempo de contratação superior há dois anos em relação ao “de cujus”.
Diz, ainda, que os produtos diferentes em que os paradigmas
trabalhavam (novelas, reality shows, etc..) não significa que a complexidade do
trabalho seja maior ou menor, reportando-se a informação prestada pela testemunha
de que “todas as gravações tem o mesmo grau de complexidade”.
Nada a alterar.
É ônus do trabalhador provar o fato constitutivo do direito alegado
(identidade funcional). Do empregador, o fato impeditivo, modificativo ou extintivo da
equiparação salarial (art. 818 da CLT ao qual se conjugam os incisos I e II do art.
333 do CPC).
In casu, a instrução do feito relativamente ao tema equiparação salarial
pautou-se na juntada de documentos, colheita de depoimentos pessoais das partes
e interrogatório da testemunha arrolada pelo autor (levados a termo às fls. 388/389).
De acordo com o conjunto fático-probatório, os paradigmas
trabalhavam n gravação de cenas de novela, o que, segunda a ré, tratava-se de um
produto complexo. Isto porque tem gravação todo dia, além de ser o carro chefe da
empresa, gerando mais receitas.
Ao contrário do que sustenta a parte autora, a referência da
testemunha de que “todas as gravações tem o mesmo tipo de complexidade” não se
atrela a mesma produtividade e perfeição técnica.
Como salientado pelo Juízo, os depoimentos revelam que o reclamante
e paradigmas trabalhavam com produtos diferentes. O “de cujus” trabalhava,
basicamente, em programas semanais, o que por si só, demonstra a diferença em
produção dos paradigmas que trabalhavam, basicamente, em novela e em
Programas ao vivo, o que foi intitulado pelo próprio empregado, como de maior
complexidade.
E, quanto ao modelo André, ainda que exercessem a mesma função,
deve prevalecer o depoimento prestado pela preposta, de que os paradigmas

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trabalhavam com produtos diferentes do autor, fato, como já dito, confirmado pela
testemunha.

DO ADICIONAL DE CHEFIA

Pretende a parte autora o pagamento do percentual de 40% sobre o


salário, na forma prevista no art. 15, da Lei 6.615/78, por ter exercido sua função
com responsabilidade de chefia.
Nada a alterar.
Perfilho o mesmo entendimento adotado pelo Juízo de origem, no
sentido de que somente no momento da gravação era que os câmeras ficam
subordinados ao diretor de imagem, não havendo qualquer ingerência ou
responsabilidade de chefia, durante ou após a realização da cena.
A subordinação se restringia aos momentos de filmagens, e não era de
caráter jurídico, e sim meramente técnico, tendo em vista as funções típicas de um
Diretor de Imagem.
É de se destacar, ainda, que sequer tinha o “de cujus” o poder de
escolher os câmeras que iriam atuar na cena.

IV. CONCLUSÃO

Pelo exposto, conheço do recurso do autor e, no mérito, dou-lhe


parcial provimento para majorar a indenização por danos morais para R$200.000,00
(duzentos mil reais). Valor da causa ora arbitrado em R$200.000,00. Custas de
R$4.000,00 pela ré.

A C O R D A M, os Desembargadores que compõem a 1ª Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do
recurso do autor e, no mérito, dar-lhe parcial provimento para majorar a indenização
por danos morais para R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Valor da causa ora
arbitrado em R$ 200.000,00. Custas de R$ 4.000,00 pela ré. O Desembargador
relator determinou, ainda, a retificação da autuação para fazer constar somente o
Reclamante como Recorrente e, em consequência, somente a Reclamada como
Recorrida.
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2014

DESEMBARGADOR JOSÉ NASCIMENTO ARAUJO NETTO


RELATOR

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