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SENTENÇA
I - Relatório
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Os réus alegam residir há mais de quarenta anos no imóvel, mas não juntam
nenhuma prova material do alegado. Procuram, ainda, estabelecer um vínculo jurídico entre a
autora e a FAPEU, o qual inexiste, uma vez que se trata de entes distintos sem relação jurídica de
subordinação ou hierarquia.
Às fls. 273/275, indeferi a medida liminar pleiteada, deferi aos réus o benefício da
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À fl. 295, a UFSC informou que não tinha intenção de alterar o acordo firmado em
audiência. Requereu a continuidade do feito em relação à ré Dárcia Franz.
À fl. 300, a UFSC informou que, findo o prazo de 4 meses fixado em audiência, os
réus, na tentativa inverterem o ônus da prova, restaram sem apresentar uma proposta de saída
do imóvel.
À fl. 340, a ré Dárcia requereu que sua casa também fosse avaliada pela UFSC, o
que foi feito pela autora à fl. 353/355.
À fl. 359, a ré Dárcia manifestou discordância com o valor apresentado pela UFSC
de R$ 40.000,00 e juntou avaliação do imóvel de R$ 120.000,00 (fl. 360).
Às fls. 365/370, a UFSC refutou a avaliação apresentada pela ré Dárcia, bem como
a possibilidade de indenização dos réus pelas alegadas benfeitorias. Por fim, requereu que as
construções fossem removidas ou demolidas, por inservíveis aos fins institucionais da UFSC.
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II - Fundamentação
Assim, vê-se que a conciliação entre as partes restou inviabilizada e que não
adiantaria perseguir este intento, quando a UFSC em definitivo se posicionou contrária.
Neste caos, não havia necessidade de produção de outras provas para o deslinde da
questão posta nos autos, seja para análise do esbulho, seja para fins de análise dos efeitos
financeiros da desocupação.
Esbulho possessório
Não há, nos autos, qualquer documento comprovando a ocupação regular do bem
público. Ao contrário, os réus reconhecem que continuaram a ocupar imóveis funcionais cuja
permissão de uso havia sido dada, pela UFSC, tempos atrás, a terceiros - no caso de Dárcia, a seu
ex-marido, e, no de Luciano e Jucelena, a sua mãe, falecida.
A ré Dárcia assume não ter vínculo com a UFSC e, à fl. 137, apresenta termo de
audiência, datado de 03/08/1990, no qual consta que, em processo de separação, celebrou acordo
com seu ex-marido, o qual dispôs sobre algo que não lhe cabia, uma vez que o imóvel em questão
não era seu, mas sim da UFSC, como bem consta registrado naquele termo. Não há prova de que
tal acordo tenha sido comunicado à UFSC e que a autarquia tenha com ele anuído, o que nem
seria possível, tendo em vista o desvirtuamento do caráter de imóvel funcional. Tal documento,
que não chancela a ocupação da ré, poderia apenas indicar sua boa-fé - e somente no início da
ocupação irregular, porquanto foi intimada para deixar o imóvel há mais de 10 anos (fl. 19) e não
o fez. A questão da existência de boa-fé, todavia, será oportunamente tratada adiante, no tópico
referente ao alegado direito de indenização.
O réu Luciano, que afirma possuir vínculo com fundação de pesquisa que não se
confunde com a UFSC, e a ré Jucelena, que aduz ser servidora da UFSC, reconhecem que sua
mãe, a servidora Nalza Dorvalina Barbosa, já falecida, é que teria recebido permissão de uso do
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imóvel, sendo certo que tal direito é intuitu personae e intransmissível aos
herdeiros.
Ressalto que o fato de ser a ré Jucelena servidora da UFSC, por si só, não torna a
ocupação regular, uma vez que nunca foi concedida a ela a permissão de uso do imóvel. Às fls.
47/48, a autora apresentou a listagem dos servidores da UFSC que têm descontada taxa de
ocupação e ali não consta o nome da ré Jucelena Barbosa.
A regra supra, ao se referir aos bens da União em nada prejudica sua aplicação
extensiva aos bens das autarquias, pois com a vigência do Decreto-lei 200, de 25/2/67 operou-se
a descentralização administrativa com a criação desta categoria de entidades para atividades de
execução.
Indenização
Nesse sentido:
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Para a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), as regras do direito civil não são
aplicáveis aos imóveis públicos, já que as benfeitorias não só não beneficiam a Administração
Pública como geram custos ao erário em razão da demolição e recuperação das áreas.
(...)para o ministro Herman Benjamin, o possuidor é aquele que tem, de fato, o exercício de algum
dos direitos de propriedade, o que jamais ocorre em relação a áreas públicas. "O particular
jamais exerce poderes de propriedade, já que o imóvel público não pode ser usucapido. O
particular, portanto, nunca poderá ser considerado possuidor de área pública, senão mero
detentor", explicou. O ministro ressaltou que, apesar de esse ponto já bastar para afastar o
direito à compensação pelo poder público em razão de melhorias, o instituto da indenização
pressupõe a existência de vantagem oriunda dessas obras para o real proprietário. E, no caso da
Administração, como esses imóveis são geralmente construídos com ilegalidades ambientais e
urbanísticas, o Poder Público precisa demoli-los ou regularizá-los.
Logo, mostra-se desnecessário perquirir acerca da boa-fé ou má-fé dos réus. E não
poderia ser diferente, porquanto, sabedores de que o imóvel não lhes pertencia, realizaram obras,
reformas e/ou ampliações sempre em benefício do próprio bem-estar e sem prévia aquiescência
da autora. Ademais, a autora afirmou que as construções e benfeitorias são inservíveis aos fins
institucionais da UFSC. Dessarte, não lhe representaram acréscimo patrimonial para que tenha
que indenizar como forma de evitar locupletamento injusto.
Portanto os réus não possuem o alegado direito à indenização pelos bens que
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ocupam ou ainda que fosse pelas benfeitorias que realizaram nos bens da UFSC.
Retirada dos bens do local. Como a autarquia destacou que não tem interesse nas
construções, pleiteando, inclusive, sua demolição, fica assegurado aos réus o direito de retirada
e/ou aproveitamento dos bens existentes sobre o terreno ocupado e que possam ser mobilizados.
Perdas e danos. A autora postula a condenação dos réus a perdas e danos no valor
de R$ 800,00 mensais. Entendo que, além de não ter sido demonstrado efetivo prejuízo à
autarquia, além daquele naturalmente decorrente do uso indevido de bem público, o tempo pelo
qual a autora manteve-se inerte milita contra ela, levando a crer que as perdas e danos postuladas
são exageradas ou não encontram referencial para justificá-las nesta medida.
Por outro lado, os réus, sabendo que a autora pretendia recuperar a posse de seu
imóvel, poderiam tê-lo desocupado, senão desde as notificações que receberam, desde a citação
havida neste processo.
Diante disso, entendo devido, desde a citação e até que os réus desocupem
definitivamente o imóvel, o pagamento mensal de quantia equivalente a 10% dos rendimentos ou
proventos por eles individualmente recebidos, conforme venha a ser apurado na fase de
cumprimento de sentença, sem prejuízo de indenizar a UFSC pelas despesas de água e luz que
estão sendo também pagas por esta.
III - Dispositivo
Ante o exposto, ACOLHO o pedido para reintegrar a autora na posse dos imóveis
ocupados pelos réus e julgo o processo com resolução de mérito, a teor do art. 269, I, do CPC.
Fica assegurado aos réus o direito de retirada e/ou aproveitamento dos bens
existentes sobre o terreno ocupado e que possam ser mobilizados, tudo às suas próprias expensas,
o que poderá ser feito em até 60 dias após o trânsito em julgado desta sentença, findo os quais a
UFSC poderá dar-lhes a destinação que melhor lhe aprouver.
Pela utilização indevida dos imóveis ocupados após a citação neste processo,
CONDENO cada um dos réus a pagar à autora o valor mensal equivalente a 10% de seus
respectivos rendimentos ou proventos, desde a citação até a efetiva desocupação do imóvel
(voluntária ou forçada), bem como a indenizá-la (a UFSC) pelo equivalente ao valor das tarifas
mensais mínimas dos serviços de água e luz para o mesmo período em relação a cada um dos três
imóveis.
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