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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Maria de Lourdes D Arrochella L. Sallaberry
Av. Presidente Antonio Carlos, 251 11º andar - Gab. 01
Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ
PROCESSO: 0001264-36.2011.5.01.0512 - RO

Acórdão
3a Turma

DANO MORAL. REPARAÇÃO. O dano


moral pode ser definido como tudo aquilo
que fere gravemente os valores
fundamentais inerentes à personalidade,
causando sofrimento, angústia, descrédito
à reputação, humilhação pública. É a dor
da alma.
Para a reparação do dano é
imprescindível a comprovação do fato
danoso, do nexo de causalidade e, na
responsabilidade subjetiva, a culpa do
agente causador do dano. A ausência de
um destes requisitos afasta a indenização
pelo dano sofrido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário


em que figuram, RICARDO THOMAZ LONTRA, como recorrente, e ITAÚ
UNIBANCO S/A, como recorrido.
Inconformado com a r. sentença de fls. 122/126, proferida pelo MM.
Juiz Derly Mauro Cavalcante da Silva, da 02ª Vara do Trabalho de Nova Friburgo,
que julgou improcedente o pedido formulado na inicial, recorre o autor.
Embargos declaratórios opostos pelo autor às fls. 129/130, conhecidos
e julgados improcedentes, conforme decisão de fls.129/130.
O autor objetiva a revisão da sentença com relação à majoração do
valor da causa, condenação em honorários advocatícios e pagamento de premiação
e danos morais, tudo consoante razões de fls. 135/142.
Contrarrazões do reclamado às fls. 149/155.
Processo não submetido ao Ministério Público do Trabalho por não se
tratar de matéria de interesse público, na forma do art. 83,II, da LC 75/93.
É o relatório.
VOTO
O recurso está subscrito por advogado regularmente habilitado nos
autos (fl. 08), foi interposto no prazo legal (fls.134 e 135) e as custas comprovadas
às fls.144 e 145. Preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço

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do recurso.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Na audiência de fl. 110, o juízo a quo indeferiu a assistência judiciária
ao argumento de que o autor percebe remuneração mensal de R$4.800,00,
superando em muito o dobro do salário mínimo.
Tendo em vista a improcedência do pedido, o autor foi condenado nas
custas. Ao interpor recurso ordinário, o autor reiterou o pedido de concessão do
benefício da gratuidade de justiça, reportando-se à declaração de fl. 10 de não ter
condição financeira para arcar com o ônus das custas processuais, sem prejuízo do
sustento próprio e de sua família (§ 3º do art. 790 da CLT e art. 4º § 1º da Lei
7510/86).
Em suas razões, o autor requer a reforma da referida decisão.
Entendo que foi atendido o requisito constante do § 3º do art. 790 da
CLT, devendo ser deferida a gratuidade de justiça.
Por todo o exposto e, ainda, com base no permissivo legal contido no
art. 790, § 3º, da CLT, defiro ao autor a gratuidade de justiça, como pretendida.
MAJORAÇÃO DO VALOR DA CAUSA
Incabível a indicação de novo valor da causa na sentença ou depois
dela, deixando a alçada recursal e o direito de apelar sujeitos ao arbítrio do juiz.
Assim, é aplicável in casu a Súmula n°71 do C.TST, transcrito a seguir:

"ALÇADA -VALOR
A alçada é fixada pelo valor dado à causa na data de seu
ajuizamento, desde que não impugnado, sendo inalterável no
curso do processo."

Uma vez fixado o valor da causa, sua alteração, de acordo com o CPC,
artigos 258 e 261, pode ocorrer na hipótese de impugnação da parte contrária ao
valor estabelecido, presumindo-se aceito o valor constante da petição inicial, em
caso de silente a outra parte.
O arbitramento do valor da causa de ofício, nesta especializada, é
possível apenas quando este não for assinalado na inicial, o que, segundo o artigo
2º da Lei nº 5.584/70 deve ser feito antes de se passar à instrução, a fim de
possibilitar à parte a impugnação do valor em questão, em razões finais.
No caso dos autos, na inicial, o autor indicou à causa o montante de
R$30.000,00, sem que houvesse impugnação do réu.

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Porém, o Juiz a quo desconsiderou o valor assinalado na inicial,


arbitrando um novo valor à causa, no importe de R$200.000,00, para fins de cálculo
dos honorários advocatícios deferidos pela sentença e o valor da condenação em
R$20.000,00 para efeitos de fixação das custas judiciais em R$400,00.
Analisados os autos, vê-se que a motivação para a majoração
restringe- se tão somente aos honorários deferidos aos patronos do réu.
Nesse contexto, impõe-se a reforma da sentença quanto ao valor da
causa fixado, determinando que seja observado para os fins devidos o montante
estabelecido na inicial, que seria o adequado legalmente para a demanda proposta,
conforme regramento declinado nesta decisão.
Em consequência, na forma do artigo 789, inciso II, da CLT, o cálculo
das custas deverá observar o valor da causa atribuído na inicial, considerando-se a
inexistência de condenação, uma vez que a ação foi julgada improcedente, o que
não justifica a sua alteração para fins de arbitramento de custas judiciais.
PREMIAÇÃO
O autor pretende o provimento do apelo, para que lhe seja deferido o
prêmio concedido aos empregados que completaram 30 anos de efetivo trabalho
prestado ao Reclamado, no ano de 2009. Alega que, quando o empregado completa
esse tempo de vínculo empregatício, o Reclamado patrocina uma grande
homenagem, na cidade de São Paulo, em que, além de um final de semana com
tudo pago, o homenageado recebe um relógio de ouro, marca conceituada, no valor
de aproximadamente, R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) e lote de ações do
Banco.
O reclamado insurge-se contra a pretensão, aduzindo, em síntese, que
não há, nem nunca houve, no âmbito do réu ou de qualquer outra empresa do grupo,
norma interna, estatutária, costumeira ou de qualquer outra natureza que impusesse
a concessão de brindes ou de valores a empregados. Alega que, de tempos em
tempos, a Fundação Itauclube poderia promover uma festa, independentemente de
qualquer habitualidade pré-determinada. Dependendo do caso, poderiam ser
distribuídos determinados brindes para os empregados. De resto, afirma que, em se
tratando de mera liberalidade, nos termos do art. 114 do Código Civil, não pode o

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empregador ser forçado a concedê-lo, além dos limites por ele estipulados.
O MM Juízo de origem, julgou improcedente o pleito, sustentando que:

“(...)
A despeito das alegações das partes, observa-se que o autor
vem a Juízo para pleitear indenizações por sentir-se humilhado e
desprestigiado em não ter sido convidado para uma festa
realizada pelos réus, comemorativa aos 30 anos de serviço, ao
argumento de que sofreu tratamento discriminatório em face de
ser dirigente sindical.
Em primeiro lugar, observa-se que nos autos não há qualquer
demonstração inequívoca de que o autor fosse dirigente sindical
à época (Dez/07) da realização da Festa dos 30 Anos de
Serviço, inexistindo, assim, qualquer prova de sua qualidade e
da sua pretensa discriminação por parte do empregador ou da
Fundação ré.
Não fosse essa constatação, tem-se que o reclamante não
implantou condição sine qua non para o ajuizamento da
presente ação indenizatória, qual seja: não logrou demonstrar
que, á época da Festa de 30 Anos de Serviço, tivesse ele 30
(trinta) anos de serviço, eis que ingressou na instituição
financeira ora sucedida pelo primeiro reclamado, em 03/09/79,
ou seja, completaria 30 (trinta) anos de serviço em 03/09/09.
Contudo, a festa em que o autor afirma não ter sido convidado,
por conta de discriminação que lhe gerou constrangimento,
humilhação, desprestígio e ofensa à sua dignidade, era realizada
em homenagem a quem possuía 30 anos de serviço, e foi
realizada, conforme diversos documentos acostados pela peça
de ingresso, em 03/12/07, ou seja, quase dois anos antes de o
autor implementar a sua condição de parte legítima e
interessada.
Determina o artigo 3º, da lei adjetiva civil, que para propor uma
ação é necessário possuir interesse e legitimidade. O interesse
do autor deve existir no momento em que ajuíza a ação. É
princípio comezinho do direito civil que não tendo implementado
a sua condição, não há como
exigir o implemento da do outro – inteligência do art. 476, da lei
substantiva civil.
Por tais motivos, ausente uma das condições da ação,
determina-se a extinção do processo, sem resolução do mérito,
com base no artigo 267, VI, da lei adjetiva civil.

Sem razão o autor.


De acordo com o art. 114 do Código Civil, “os negócios jurídicos
benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.” Para Maria Helena Diniz, verbis:

“Interpretação restritiva de negócio jurídico benéfico e de

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renúncia. A interpretação negocial situa-se no âmbito do


conteúdo da declaração volitiva, fixando-se em normas
empíricas, mais de lógica prática do que de normação legal. Os
negócios jurídicos benéficos ou gratuitos (RT, 706:116), que
contêm obrigação para uma das partes (p.ex., doações puras e
simples), e a renúncia (manifestação volitiva de não aceitação
ou de desfazimento de um direito) deverão ser interpretados
restritivamente (RT, 774:376 a 379), isto é o juiz não poderá dar
a esses atos negociais interpretação ampliativa, devendo limitar-
se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes,
vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto.”
(Código Civil Anotado, 15ª edição, fl. 156)

No caso dos autos, nenhuma prova foi feita pelo reclamante


confirmando que essas homenagens fossem normatizadas. O convite de fl.23, por
sua vez, dispõe, expressamente, que a homenagem e a premiação do empregado
se devia, não somente ao comprometimento e dedicação do empregado em 30 anos
de serviços, mas ainda ao reconhecimento da diferença que fez o premiado nos
resultados obtidos, com seus esforços e superação na busca das conquistas
realizadas pelo réu, ao longo da história da instituição financeira.
Desse modo, ainda que o documento de fl. 25 se refira à homenagem
por 30 anos de serviço, fato é que tal premiação resulta de uma avaliação subjetiva,
do que o empregador considera participação valiosa, ou seja, o merecimento.
Condição que não pode ser analisada pelo juiz, ao qual é vedada a interpretação
com dados alheios aos constantes dos autos.
Ainda que assim não fosse, o reclamante, tampouco, preencheu a
primeira condição: a prestação de 30 anos de serviços efetivos ao empregador,
considerando-se que só completaria as três décadas no dia 03 de setembro de
2009, ano em que não restou comprovada a realização de festa comemorativa
correspondente.
Nego provimento.
DANO MORAL
O dano moral pode ser definido como tudo aquilo que fere gravemente
os valores fundamentais inerentes à personalidade, causando sofrimento, angústia,
descrédito à reputação, humilhação pública. É a dor da alma. Para a reparação do
dano é imprescindível a comprovação do fato danoso, do nexo de causalidade e, na

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responsabilidade subjetiva, a culpa do agente causador do dano. A ausência de um
destes requisitos afasta a indenização pelo dano sofrido.
No caso dos autos, o pedido se baseia na frustração sofrida em virtude
da não concessão do prêmio, anteriormente atribuído aos demais empregados da ré,
após 30 anos de trabalho.
O pedido foi indeferido pela sentença recorrida e mantido por esta
magistrada, o que torna prejudicado o recurso, neste particular.
Nego provimento.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
O autor pretende excluir da condenação os honorários advocatícios,
consoante razões de fls. 135/142.
Com razão o autor.
Os honorários de advogado aos quais foi condenado não são devidos
em face do que dispõe a Lei 5.584/70, observada a aplicação das Súmulas 219 e
329, ambas do C.TST.
No caso dos autos, o juízo a quo condenou o autor a pagar os
honorários de advogado, indeferindo o benefício da gratuidade de justiça.
Ao deferir a gratuidade de justiça, este Juízo reconhece a
impossibilidade do autor vir arcar com as despesas do processo, o que, de igual
modo, afasta a possibilidade de condenação.
De resto, incabível no âmbito da Justiça do Trabalho a condenação do
autor no pagamento da verba honorária, ante a inexistência de previsão legal.
Entendimento consolidado pelas Súmulas 219 e 329 do C. TST in
verbis:

“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE CABIMENTO


(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 27 da SBDI-2) -
Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005.
I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de
honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por
cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência,
devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria
profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro
do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que
não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou
da respectiva família. (ex-Súmula nº 219 - Res. 137/05, DJ
22.08.2005);
II (...)”

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(Súmula 329).
“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 133 DA CF/1988
(mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. Mesmo
após a promulgação da CF/1988, permanece válido o
entendimento consubstanciado na Súmula nº 219 do Tribunal
Superior do Trabalho” .

Dou provimento para excluir da condenação o pagamento os


honorários do advogado.
Pelo exposto, decido conhecer do recurso, e, no mérito, dar-lhe
provimento, em parte, para deferir a gratuidade de justiça, afastar a majoração do
valor da causa, mantido o valor apontado na inicial de R$30.000,00, e excluir da
condenação os honorários advocatícios, tudo na forma da fundamentação supra.
A C O R D A M os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no
mérito, por maioria, dar-lhe provimento, em parte, para deferir a gratuidade de
justiça, afastar a majoração do valor da causa, mantido o valor apontado na inicial de
R$30.000,00, e excluir da condenação os honorários advocatícios, tudo na forma da
fundamentação supra do voto da relatora. Vencida a Exma Des. Angela Fiorencio
Soares da Cunha que arbitraria o valor da causa em R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais), não deferia a gratuidade de justiça e condenava em custas.
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2013.

Juíza do Trabalho Convocada Patricia Pellegrini Baptista da Silva


Relatora
mac

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