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Instruções
Elabore um texto de no mínimo 10 linhas.
Não se esqueça de reler seu texto, verificando se ele está de acordo com as
normas cultas da língua portuguesa, se ele está claro (coeso e coerente) e se ele
não contém longas passagens em letras maiúsculas. Além disso, é importante
que todas as suas contribuições sejam autorais, ou seja, que você use apenas
suas palavras para compor seus textos. Se você optar por usar palavras de outros
autores, não se esqueça de fazer as devidas referências: coloque a passagem
entre aspas e indique sua fonte. Textos compostos por trechos não autorais que
não forem devidamente identificados não serão considerados para nota.
Observação: Consulte o link Material Complementar da Unidade 3. Nesse
espaço, você encontrará suporte para desenvolver a sua resposta.
Disponibilizamos a obra "Raízes do Brasil" e um vídeo do professor João Cezar
tratando dos elementos que definem o "homem cordial". Bons estudos!
O Homem Cordial
O Estado não é uma ampliação do círculo familiar nem uma integração de certos
círculo familiar e o Estado existe uma descontinuidade e até uma oposição. Pertencem a ordens
diferentes em essência.
A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida por uma transcendência. Não entender isso
Nas velhas corporações formavam-se como se uma só família, partilhavam-se das mesmas
privações e confortos. Foi o moderno sistema industrial que suprimiu a atmosfera de intimidade
desapareceu.
A formação da sociedade segundo conceitos atuais tende a ser precária onde quer que prospere
a idéia de família, principalmente a de tipo patriarcal.
A formação de homens públicos capazes no Brasil se deveu ao fato de muitos jovens terem
Aqueles que foram formados por tal ambiente familiar patriarcal tinham dificuldade de
política se apresenta como assunto de interesse particular, o que não deveria acontecer no
verdadeiro Estado burocrático. Neste velho estado de coisas, a escolha das pessoas para
capacidade.
Falta a ordenação impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrático. As relações que se
cordial:
– para ele, a parcela social, periférica no brasileiro tende a ser o que mais importa;
– reverência sim, desde que não suprimam possibilidade de convívio mais familiar;
– uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que poucos
– tratamento dos santos com uma intimidade quase desrespeitosa e o próprio Deus é um
Nossa conduta denuncia um apego singular aos valores da personalidade configurada pelo
recinto doméstico. Cada indivíduo afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral,
Só raramente nos aplicamos de corpo e alma a um objeto exterior a nós mesmos. E quando
fugimos à norma é por simples gosto de retirada, descompassado e sem controle, jamais
regulados por livre iniciativa. Somos notoriamente avessos às atividades morosas e monótonas
em que o sujeito se submeta deliberadamente a um mundo distinto dele: a personalidade
No trabalho não buscamos senão a própria satisfação, ele tem o seu fim em nós mesmos e
não na obra. As atividades profissionais são, aqui, meros acidentes na vida dos indivíduos.
Novos bacharéis só excepcionalmente farão uso na vida prática dos ensinos recebidos.
Inclinação geral para as profissões liberais. Prestígio das profissões liberais. No vício do
bacharelismo ostenta-se nossa tendência para exaltar a personalidade individual como valor
próprio. A sedução exercida pelas carreiras liberais vincula-se ao nosso apego quase exclusivo
aos valores da personalidade. Não é outro o motivo da ânsia pelos meios de vida definitivos,
Amor pronunciado pelas formas fixas e pelas leis genéricas, prestígio da palavra escrita, da
frase lapidar, do pensamento inflexível, o horror ao vago, ao hesitante, ao fluido, que obrigam
nossa formação espiritual. Tudo quanto dispense qualquer trabalho mental fatigante, as idéias
claras, lúcidas, definitivas, que favorecem uma espécie de atonia da inteligência, parecem-nos
O sucesso do positivismo entre nós explica-se por esse repouso que permite ao espírito as
resistir à fluidez e à mobilidade da vida. Não inspiraram qualquer sentido positivo aos nossos
negócios públicos. As virtudes que ostentavam não eram forças com que lutassem contra
políticos.
Trouxemos de terras estranhas um sistema complexo e acabado de preceitos, sem saber até
que ponto se ajustam às condições da vida brasileira e sem cogitar das mudanças que tais
até onde coincidiram com a negação de autoridade confirmando nosso horror às hierarquias e
A democracia entre nós sempre foi um mal entendido. Aristocracia rural e semifeudal
importou-a e tratou de acomodá-la aos seus direitos e privilégios (os mesmos privilégios que
tinham sido na Europa o alvo da luta da burguesia contra a aristocracia). Assim puderam
incorporar à situação tradicional alguns lemas que pareciam os mais acertados para a época e
idéia republicana) partiram quase sempre de cima para baixo, vieram quase sempre de
coloniais ameaçada; crescimento dos centros urbanos que abriu novos horizontes que iriam
perturbar antigos deleites da vida rural. Muitos não souberam adaptar-se às mudanças.
homens.
O amor às letras não reagiu contra a nossa realidade cotidiana, não tratou de corrigi-la;
homens de palavras e livros; não saiam de si mesmos, de seus sonhos e imaginações. Era o
modo de não nos rebaixarmos, de não sacrificarmos nossa personalidade no contato de coisas
mesquinhas e desprezíveis. Acabaríamos assim por esquecer o que realmente interessava para
nos dedicarmos a motivos que davam status: à palavra escrita, à retórica, etc.
Com o declínio do mundo rural e de seus representantes, essas novas elites estariam indicadas
para o lugar vago. Nenhuma classe achava-se tão aparelhada para o mister de preservar o
teor aristocrático de nossa sociedade tradicional como a das pessoas de imaginação cultivada
e de leituras.
Existiam alguns traços por onde nossa intelectualidade revelava sua missão conservadora e
senhorial. Entre eles a tendência para se distinguir no saber um instrumento capaz de elevar
seu portador acima do comum dos mortais (a classe estudada, privilegiada apenas se gabava
de seu conhecimento, mas não o usava para a transformação da realidade que a cercava!).
Quanta inútil retórica se tem esperdiçado para provar que todos os nossos males ficariam
ABC. A simples alfabetização em massa não constitui talvez um benefício sem par.
nenhum valor.
Invencível desencanto em face das nossas condições reais. Quando se fez a propaganda
republicana, julgou-se introduzir, com o novo regime, um sistema mais acorde com as
Nossa República foi além do Império. Neste, o principio do Poder Moderador corrompeu-se
bem cedo, graças à inexperiência do povo, servindo de base para nossa monarquia tutelar,
dentro do quadro da vida nacional, dando a imagem visível dessa solidariedade e luta.
Capítulo 7 – Nossa revolução
Processo demorado. Novo sistema com centro de gravidade não mais nos domínios rurais e
sim nos centros urbanos; cai também entre nós a influência dos portugueses.
Definhamento das condições que estimularam a formação de uma aristocracia rural poderosa.
proporções.
Estado não precisa ser despótico. Povo brasileiro pacífico. Aparelhamento político se empenha
Política constitui-se em classe artificial estranha a todos os interesses. O brilho das fórmulas
que pareceu ajustar-se melhor aos nossos velhos padrões patriarcais e coloniais. As mudanças
personalistas e aristocráticos.
vertical que trouxesse à tona elementos mais vigorosos, que promovesse a amalgamação, não
o expurgo das camadas superiores que ainda contam com bons homens.
Contra esse movimento é provável que se erga resistência dos adeptos do passado que se
Entre nós, onde quer que o personalismo ou a oligarquia conseguiu abolir as resistências
liberais, assegurou-se uma estabilidade política aparente. A existência de tais situações chega
presidindo os seus destinos, é dificilmente inteligível para os povos da América Latina (homem
O nosso “homem cordial” encontraria uma possibilidade de articulação entre seus sentimentos
Todavia, com a simples cordialidade não se criam os bons princípios. É necessário algum
social e nacional.
Não faltam exemplos de ditadores que realizam atos de autoridade perfeitamente arbitrários
e julgam, sem embargo, fazer obra democrática. Não é impossível que o fascismo de tipo
italiano, a despeito de sua apologia da violência, chegue a alcançar sucesso entre nós (Getúlio
Vargas) … O sistema que instituiu para sustentar a estrutura imposta com violência pretende
compor-se dos elementos vitais de doutrinas que repele em muitos dos seus aspectos
(contradição).
No caso do fascismo, a variedade brasileira ainda trouxe a agravante de se poder passar por
inofensiva aos poderosos, quando não apenas o seu instrumento. Tudo faz esperar que o
“integralismo” será, cada vez mais, uma doutrina acomodatícia, avessa aos gestos de oposição
e partidária sistemática da Ordem, quer dizer, do Poder Constituído (fascista). Segue neste
ponto, a grande tradição brasileira, que nunca deixou funcionar os verdadeiros partidos de
O liberalismo ainda é a única elaboração pela qual nos encontraremos com a nossa realidade.
como um contorno congênito a ela e dela inseparável: emergem continuamente das suas
Devemos nos livrar do demônio pretensioso que se ocupa em obscurecer aos nossos olhos
estas verdades singelas, pois inspirados por ele, os homens criam novas preferências e
O Capítulo V sobre o "homem cordial" aborda características que nos são próprias. O
"homem Cordial" apresenta inicialmente uma oposição entre o círculo familiar e o
Estado, um jogo de relações diferentes. Encontram-se presente os dois princípios de
Sófocles: Creonte encontra a nação abastra, impessoal da cidade em luta contra essa
realidade concreta e tangível que é a família, e Antígona contra as ordenações do
Estado, atrai sobre si a cólera do irmão, que não age em nome de sua vontade
pessoal, mas da suposta vontade geral dos cidadãos, da pátria. Nessa relação
observa claramente um verdadeiro conflito, que se encontra presente ate hoje, de
família e Estado.
O resgate de uma Educação familiar dotada de limitações e valores tende cada vez
mais, a separar o individuo da comunidade doméstica, de libertar-los por assim dizer
das "virtudes" familiares, sendo um dos princípios básicos da velha Educação a
obediência que é dotada de regras e opiniões. Essas limitações e padrões familiares
são impostos desde muito cedo pelo circulo doméstico. A criança era forçada a
ajustarem-se, aos interesses, atividades, valores, sentimentos, atitudes, crenças
adquiridas no convívio familiar. E a oposição à família que ditava valores passa com a
exigência de uma Sociedade de homens livres e de inclinação cada vez mais
igualitária.
A vida em Sociedade no "homem cordial" é antes um viver nos outros, de certo modo,
uma libertação da agústia que sente em viver consigo mesmo. Dentro dessa visão
Nietzsche enfatiza que "Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um
cativeiro".
Por fim, o capitulo faz uma exaltação dos valores cordiais. Que no domínio da
lingüística o modo de ser dos brasileiros empregam as terminações em "inho", os
chamados diminutivos. E o caráter intimista e popularista do brasileiro com aversão a
religião e a devoção que é explicável porque no ambiente que vivemos não é comum a
reação de defesa, o brasileiro recebeu o peso das " relações de simpatia", que dificulta
a incorporação normal a outros agrupamentos. Por isso não acha agradáveis às
relações impessoais características do Estado, procurando reduzi-las ao padrão
pessoal e afetivo.