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O erro médico é considerado a falha do médico no exercício da profissão. Também é definido por dano
provocado no paciente pela ação ou inação do médico, no exercício da profissão e sem a intenção de cometê-lo. É a
conduta profissional inadequada que supõe uma inobservância técnica, capaz de produzir um dano à saúde de outrem,
caracterizada por imperícia, imprudência ou negligência.
É necessário diferenciar o erro médico oriundo do acidente imprevisível e do resultado incontrolável:
- Acidente imprevisível: resultado lesivo à integridade física ou psíquica do pcte devido ao ato médico, devido a
caso fortuito ou força maior (fato/ocorrência imprevisível ou difícil de prever que gera consequências inevitáveis).
- Mal incontrolável: decorre de uma situação grave e de curso inevitável, ou seja, aquele resultado danoso
proveniente de sua própria evolução, em que as condições atuais da ciência ainda não oferecem solução. O médico tem
com o pcte “obrigação de meios” em vez de uma obrigação de resultados. Ele assume o compromisso de prestar meios
adequados, de agir com diligência e de usar seus conhecimentos na busca de um êxito favorável, o qual nem sempre é
certo. Deste modo, nem todo mal resultado é erro médico. Mas o que causa o erro?
- Banalização dos casos: achar que já viu de tudo na carreira, e que todos os pctes são iguais aos já atendidos. A
perda de individualização gera desatenção aos detalhes.
- Excesso de vaidade: faz com que o médico não acredite que o erro possa estar próximo a ele.
- Excesso de trabalho e de pacientes: como, em geral, estes médicos são referências, a procura por eles e a
cobrança são tão grandes, que o estresse gera a perda de foco e dedicação insuficiente aos pacientes.
O erro pode ser de ordem pessoal ou estrutural. É pessoal quando se deu por ação ou omissão, por despreparo
técnico ou intelectual, devido às condições físicas e emocionais do médico. Pode também ser procedente de falhas
estruturais, quando os meios e as condições de trabalho são insuficientes ou ineficientes.
O erro médico pode ocorrer sob a forma de:
- Erro de diagnóstico: ocorre devido a falha de natureza técnica, causando graves implicações para o paciente
devido ao fato de que nestes casos será ministrado ao paciente a medicação errada.
- Erro profissional: ocorre nos casos em que a falha não é apenas do médico, já que o diagnóstico devido a
diversos fatores não pode ser dado com certeza. Nestes casos, devido a omissão do paciente de informações necessárias
ao diagnóstico ou até mesmo ao fato da medicação não surtir o efeito esperado.
- Erro grosseiro: é “a forma inadvertida, imprecisa e incapacitante de quem, por falta de mínimas condições
profissionais, se permite o erro desavisado.” Está é a forma de erro que não deixa dúvidas quanto a obrigação de
reparação.
IATROGENIA: refere-se a qualquer intervenção da equipe de saúde seja ela correta ou equivocada, justificada
ou não, que resulte em alguma lesão para a saúde do paciente.
Agindo o profissional com prudência, utilizando-se das técnicas recomendadas e efetuando o procedimento mais
indicado, as seqüelas resultantes não são de responsabilidade do médico, pois são lesões previsíveis, mas inevitáveis
(não ocorrendo por equívoco, descuido ou ignorância).
Há 3 tipos de iatrogenia:
- Lesões previsíveis e esperadas: cirurgias mutiladoras, como no caso de CA de mama (mastectomia),
amputações de membros, como no caso de diabetes.
- Lesões previsíveis, porém, inesperadas (devido ao perigo existente em qualquer procedimento médico):
reações alérgicas aos medicamentos ou contrastes radiológicos.
- Lesões imprevisíveis e inesperadas (= erro médico), decorrentes da falha no exercício da profissão, estando
sujeitas à responsabilização legal do médico: confusão entre veias em uma cirurgia de varizes, levando a gangrena.
A iatrogenia pode ser classificada em:
- Somática: cujos efeitos atingem o corpo somático
- Psíquica (psicoiatrogenia): cujas implicações são de ordem afetiva
- Negativa: quando é secundária a uma omissão
- Positiva: quando ocorre de forma primária, ou seja, dano decorrente de ação lesiva (forma ativa).
Os elementos da comunicação verbal e não verbal são os maiores vetores do potencial iatrogênico referente ao
médico, cujas palavras e atitudes, ainda que aparentemente desprovidos de intenção, determinam efeitos previsíveis.
Esses efeitos, em linhas gerais, representam a intensificação dos sentimentos angustiantes próprios do adoecer,
consolidando dúvidas e incertezas quanto ao prognóstico e enfraquecendo a aliança entre médico e paciente com
comprometimento da adesão ao tratamento.
TIPOS DE ERRO MÉDICO: NEGLIGÊNCIA, IMPERÍCIA, IMPRUDÊNCIA
Imprudência: falta de cautela, descuido, é ato comissivo (contrário de omissivo). Os atos são caracterizados pela
intempestividade, precipitação, insensatez, falta de base científica. Extrapolam-se os limites da inteligência e do bom
senso. Assume-se correr o risco. ⃰ Fazer o que não deveria ser feito.
Ex.: intervenções cirúrgicas arriscadas, doses exageradas de medicamentos, consulta por telefone, uso de
medicamentos sem evidências científicas, resultado danoso de uma cirurgia por abandono de técnica conhecida.
Negligência: ato omisso, falta de cuidado, diligência, capaz de caracterizar responsabilidade por culpa. ⃰ Não fazer
o que deveria ser feito.
- Abandono do doente: uma vez estabelecida a relação médico-paciente, há obrigação da continuidade de tto.
- Omissão de tto ou retardo no encaminhamento (para uma cirurgia de urgência como apendicite, p.e).
- Negligência de um médico pela omissão de outro = “negligência vicariante”. Ex.: médico deixa plantão, e seu
substituto atrasa. Os dois são considerados negligentes pelo CEM.
- Erro médico por estudantes de Medicina: responsabilidade do preceptor, superior hierárquico ou da instituição.
- Erro por pessoal técnico que executa ato médico a mando do profissional ou da instituição. Ex.: autorização
dada à enfermeira para realizar paracentese, gerando danos ao doente. A responsabilidade é do médico ou da instituição.
- Receita com letra ilegível, com risco do paciente tomar medicamento errado: imprudência por parte do
farmacêutico (por fornecer medicamento não sabendo do que se tratava) e negligência do médico.
- Negligência hospitalar: rejeitar internação de um pcte em perigo de vida, lesões durante a internação
(traumatismo por queda ou erros na administração de fármacos), infecção hospitalar.
- Esquecimento de corpo estranho em cirurgia: ocorre com a maioria dos profissionais! Só é considerado erro em
situações repetidas com mesmo profissional. Tem implicação letal menor que outros acidentes em cirurgia e anestesia.
- Negligência dos centros complementares de diagnóstico: resultado incorreto por erros ou falhas humanas,
capazes de comprometer o diagnóstico e a terapêutica. Obrigação de resultados, e não de meios!
RESPONSABILIDADE MÉDICA: é a obrigação de ordem civil, penal ou administrativa a que estão sujeitos os
médicos, quando de um resultado lesivo ao paciente, por imprudência, imperícia ou negligência.
Fundamenta-se no princípio da culpa, em que o agente dá causa a um dano, sem o devido cuidado a que
normalmente está obrigado. Procede culposamente quem age sem a necessária precaução, julgando que o dano não se
dará. Quanto maior a previsibilidade de resultado danoso, maior o grau de culpa.
O erro médico pode ser julgado sob duas formas de responsabilidade: a legal e a moral. A responsabilidade legal
é atribuída pelos tribunais, podendo comportar ações civis (que tendem à reparação) e penais (que tendem à
punição). A responsabilidade moral é de competência do CRM, através de processos ético-disciplinares.
RESPONSABILIDADE CIVIL: é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou
patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado.
A obrigação de indenizar surgirá no momento da ocorrência de quatro pressupostos:
1 – do dano – prejuízo;
2 – o ato ilícito, ou ato que configure risco (ação ou omissão);
3 – o nexo causal (conexão do ato com o dano, ou seja, a lesão passa a existir a partir do ato do agressor);
4 – imprudência, imperícia ou negligência (culpa ou dolo).
Código Civil: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, causar dano a outrem,
seja ele moral ou material, comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo.
A responsabilidade civil tem seu fundamento no fato de que ninguém pode lesar interesse ou direito de outrem.
Deverá reestabelecer o bem ao estado em que se encontrava antes do seu ato danoso, e, caso o reestabelecimento
não seja possível, deverá compensar aquele que sofreu o dano.
No caso de homicídio, a indenização consiste no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral
e o luto da família. No caso de dano à saúde, a indenização deverá cobrir as despesas do tratamento até ao fim da
convalescença. Se houver lesão que limite o exercício da profissão, a indenização, além das despesas do tratamento,
incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para quem se inabilitou.
A responsabilidade civil gira em torno de duas teorias:
- Subjetiva: fundamenta-se na culpa. Há responsabilidade do médico quando existe culpa, dano e nexo causal.
- Objetiva: o responsável pelo dano indenizará simplesmente por existir um prejuízo, não precisando haver culpa,
bastando a relação de causa entre o ato e o dano para obrigar a reparação.
Em caso de culpa concorrente (do médico e pcte), cada uma das partes vai responder por parcela da culpa.
Nesse caso, se o paciente contribuiu para a produção do evento danoso, o dever do médico de indenizar pode diminuir.
Ex.: paciente não segue as orientações médicas ou omite ao médico informações importantes.
O médico está liberado da responsabilidade civil se houver dano devido a força maior (fato natural, superior às
forças humanas, não sendo possível ao ser humano evitar sua ação e conseqüências) ou caso fortuito (fato que decorre
da conduta humana, tendo como característica não poder ser previsto e evitado).
O médico tem obrigação de meios e não de resultado, ou seja, não se obriga a curar, mas a atuar em
conformidade com os métodos da profissão. P.e, a não-obtenção do diagnóstico correto apenas demonstra que o
resultado esperado não foi alcançado. Mas se o profissional, na busca do diagnóstico, utilizou-se de todos os meios
recomendados e que as condições de trabalho lhe proporcionam, não há que se falar em culpa profissional.
Já na obrigação de resultado, o médico fica obrigado a alcançar o fim específico a que se propôs; é o que ocorre,
por exemplo, na cirurgia plástica, anestesiologia, cirurgia refrativa para correção de miopia e radiologia.
Para comprovação do erro médico, usam-se os prontuários, fichas de anotações médicas, testemunhas, etc.
A responsabilidade civil do médico é subjetiva e decorrente de uma obrigação de meio (artigo 14, §4 o do Código
de Defesa do Consumidor). Por esta razão, não é suficiente que um agente simplesmente alegue o erro e o prejuízo, sem
demonstrar que o profissional contribuiu culposamente para tanto, que não se utilizou dos corretos ensinamentos e
métodos disponíveis da ciência médica na busca da cura e/ou reabilitação. Deve, pois, somente, ser indenizado, aquele
que, submetido a tratamento médico, venha, por causa deste tratamento e de culpa do profissional, a sofrer um prejuízo,
seja de ordem material ou imaterial. Apenas se verificará o erro com o desvio de comportamento, a imprudência, a
negligência e a imperícia.
O dano causado pelo médico em decorrência de sua atividade pode ser moral ou estético.
- Dano moral: é uma lesão a bens não patrimoniais do paciente, é uma lesão que atinge psicologicamente o
indivíduo, causando frustração, diminuição da auto-estima, angústia e sofrimento. Pode ser interno, quando reflete de
forma subjetiva na esfera íntima do paciente ou externo, quando deprecia a imagem do paciente de forma objetiva.
Sílvio de Salvo Venosa (2003, pag. 28) afirma que “no dano moral, leva-se em conta a dor psíquica ou mais
propriamente o desconforto comportamental”.
- Dano estético: é a lesão na beleza física do paciente, na harmonia corporal. Esta lesão de regra é permanente,
não sendo possível o retorno ao estado anterior. Além disso, o dano estético modifica externamente a aparência do
paciente. A lesão estética muitas vezes vem acompanhada de lesão moral ou material, por isso é mais complexa,
devendo ser analisada a alteração que o paciente sofreu não só em relação ao que era, mas também em relação à
expectativa criada pelo procedimento que não foi correspondida.
RESPONSABILIDADE PENAL: o código penal considera crime doloso aquele onde o agente tem a intenção
de produzir resultado (dolo direto), ou aqueles onde o agente apesar de não pretender o resultado, assume o risco de vir
a produzi-lo (dolo eventual). Crime culposo, por outro lado, consubstancia-se naquele onde o agente deu causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
A negligência pode acarretar uma pena de 1 a 3 anos de prisão; a omissão de notificação de doença tem pena de
6 meses a 2 anos; a violação de segredo profissional tem pena de 3 meses a 1 ano; o aborto é punido com prisão de 1 a
3 anos, exceto quando autorizado judicialmente; já o estupro e o atentado violento ao pudor, que implicam a
realização de qualquer ato sexual sem o devido consentimento, geram penas de 6 a 10 anos. E milhares de outros crimes
previstos em lei. ATENÇÃO! Os processos civis, penais e ético-profissionais ocorrem de maneira independente.
Referências
1. Responsabilidade Civil no Erro Médico, Neri Tadeu Câmara Souza
2. Erro médico e iatrogenia: causa de exclusão da responsabilidade médica? Tula rodrigues, 2010
3. Direito Médico, Genival Veloso França, 2001
4. Responsabilidade Médica, Jurandir Sebastião, 2001
5. A iatrogenia como desdobramento da relação médico-paciente. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2011
6. Da responsabilidade civil do médico – a culpa e o dever de informação. Mariana Pretel. Portal Conteúdo Jurídico,
2010.
7. A responsabilidade civil por erro médico. Danielle Ulguim. Portal Âmbito Jurídico, Rio Grande, 2008
8. Erro Médico. Júlio Cézar Gomes. Acessado pelo portalmedico.org.br em outubro de 2018
SIGILO MÉDICO
O sigilo médico diz respeito às confidências que são relatadas pelos pacientes em qualquer consulta médica, além
das descobertas que o profissional faz durante o acompanhamento do paciente. O segredo abrange, pois, tudo o que
chega ao conhecimento do médico, no exercício da sua profissão. Foi contemporaneamente associado ao princípio
bioético da autonomia, vez que, pertencendo os dados pessoais ao paciente, apenas ele pode decidir, a priori, a quem
deseja informá-los. O médico, o enfermeiro, o psicólogo, como receptáculos desses dados, por força de sua profissão,
não devem divulgá-los senão por autorização do doente ou em situações excepcionais.
A ética médica e a bioética têm-se ocupado exaustivamente da confidencialidade e da privacidade, bastando
recordar o juramento Hipocrático, com o qual se instrui os médicos do seguinte modo: “[...] sobre aquilo que vir ou
ouvir respeitante a vida dos doentes, no exercício da minha profissão ou fora dela, e que não convenha que seja
divulgado, guardarei silêncio como um segredo religioso.” “Penetrando no interior das Famílias, meus olhos serão
cegos e minha língua calará os segredos que me forem confiados. Hipócrates, 460 a.C.”
O conceito de sigilo e sua aplicação foram se adaptando de acordo com as transformações sociais e históricas e, a
partir dos séculos XVIII e XIX, passa a se constituir como um dever jurídico do profissional médico, assumindo, assim,
um caráter deontológico e legal. Portanto, o que já era uma imposição moral, passou a se constituir realmente um
direito, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo Art. XII trata do direito a não interferência na vida
pessoal ou familiar, o que se estende à questão do sigilo profissional.
- Constituição Federal Brasileira no inciso X, do 5º Art. determina que são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação.
- Código Penal, que relata, em seu Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tenha ciência, em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Pena - detenção de 3
meses a um ano ou multa. Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória. Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
- Código Civil, em cujo Art. nº 229, determina que ninguém pode ser obrigado a depor acerca de um fato que se
constitua um segredo de Estado ou profissão.
- Código de Ética Médica, que através da Resolução CFM nº 1931/2009 aborda que é vedado ao médico:
Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal
ou consentimento, por escrito, do paciente.
Parágrafo único. Permanece essa proibição: a) mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido; b)
quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará seu
impedimento; c) na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a
processo penal.
Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde
que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
Art. 75. Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na
divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.
Art. 76. Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos
dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade.
Art. 77. Prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das
contidas na declaração de óbito. (nova redação – Resolução CFM nº 1997/2012)
Art. 78. Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo profissional e zelar para que seja por eles mantido.
Art. 79. Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial .
Sendo assim, o sigilo é considerado um dever inerente ao desempenho da atividade médica, e sua violação se caracteriza
como uma infração ética, penal e civil.
Art. 1º - O médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica.
Art. 2º - Nos casos do art. 269 do Código Penal, onde a comunicação de doença é compulsória, o dever do médico
restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do prontuário
médico do paciente.
Art. 3º - Na investigação da hipótese de cometimento de crime o médico está impedido de revelar segredo que possa
expor o paciente a processo criminal.
Art. 4º - Se na instrução de processo criminal for requisitada, por autoridade judiciária competente, a apresentação do
conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizará os documentos ao perito nomeado pelo juiz, para
que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em questionamento.
Art. 5º - Se houver autorização expressa do paciente, tanto na solicitação como em documento diverso, o médico
poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridade requisitante.
Art. 6º - O médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico desde que solicitado pelo paciente ou
requisitado pelos Conselhos Federal ou Regional de Medicina.
Infração por quebra de sigilo: ocorre quando a revelação é intencional, permitindo que um fato deixe de
constituir confidência e passe para o conhecimento de terceiros que não estão nessa relação nem no direito de sabê-la.
Para a caracterização do delito de quebra do sigilo profissional, faz-se necessário:
1) Existência de um segredo
2) Conhecê-lo em razão de função ou profissão
3) Ausência de motivos relevantes
4) Possibilidade de dano: basta a quebra do segredo p/ que seja infração, independente da concretização do dano.
5) Existência de dolo: a quebra do sigilo é sempre por dolo, ou seja, quando o agente divulga conscientemente
uma confidência e sabe que está fazendo errado. Assim, p.e, a perda de um envelope contendo resultados de exames,
possibilitando alguém conhecer sobre sua doença, não caracteriza crime de divulgação do segredo.
O certo é que o sigilo médico absoluto inexiste em nossos dias. Os boletins médicos fornecidos à imprensa sobre
diagnósticos e principalmente sobre as condições de pessoas de certa projeção, ou sobre cirurgias de publicidade
exagerada, vêm transformando o sigilo médico em letra morta, quando se deixa o paciente em plano secundário,
procurando-se destacar uma técnica e uma habilidade como manobras heróicas e salvadoras de determinadas situações.
QUEBRA DO SIGILO
De acordo com o CEM, “é vedado ao médico revelar fato que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua
profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente”.
Justa causa é o interesse de ordem moral ou social que autoriza o não cumprimento de uma norma, desde que os
motivos sejam relevantes para justificar tal violação. Há várias situações e acontecimentos na vida profissional do
médico que não estão normatizados, desafiando até os mais experientes. Como exemplo de justa causa para a revelação
do segredo médico, temos o peculiar caso de um candidato ao preenchimento de uma vaga profissional como motorista
de transporte coletivo, sendo portador de epilepsia. Nesse caso, o Médico do Trabalho da empresa contratante,
respaldando-se na justa causa como preservadora dos direitos individuais das pessoas que se utilizam dos serviços de
transporte coletivo desta, ao comprovar a doença, deverá comunicá-la aos seus administradores para que estes tomem a
decisão de não contratar o referido candidato.
Todavia, é preciso salientar que, devido a sua definição subjetiva, a justa causa, muitas vezes, pode se tornar de
difícil caracterização. Isso significa seguir o Art. 8º da Resolução CFM nº 1605/2000 “Nos casos não previstos nesta
resolução e sempre que houver conflito no tocante a remessa ou não de documentos a autoridade requisitante o médico
deverá consultar o conselho de Medicina, onde mantém a sua inscrição, quanto ao procedimento a ser adotado” para que
o profissional possa ter a garantia de que não está violando a ética e dispor de argumentação legal contra eventual
imputação de ilícito na área civil ou penal.
Dever legal: configura quando compulsoriamente o segredo médico tem de ser revelado por força de disposição
legal expressa que assim determina. Refere-se ao que está regulado em lei e o seu não cumprimento constitui crime. Há
2 situações que exigem quebra de sigilo por dever legal: notificação compulsória de doenças e comunicação dos crimes
que independam de representação, desde que não exponha o paciente a procedimento criminal. Especialmente os
ocasionados por arma, de fogo ou branca, e as lesões corporais que apresentem gravidade. Nesse caso, a comunicação
deverá ocorrer à autoridade policial ou do Ministério Público da cidade onde se procedeu ao atendimento, observando a
preservação do paciente.
Não há infração por quebra do sigilo quando isso se verifica a pedido do paciente ou de seus representantes
legais. Recomenda-se que a ruptura do segredo seja precedida de explicações sobre as possíveis conseqüências dessa
revelação; e que o pedido do paciente seja por escrito, por livre manifestação e mediante um consentimento esclarecido.
É importante ressaltar que a quebra do sigilo pode resultar não apenas de obrigações legais ou de ofício, mas
também de fatores como a ignorância e a falta de entendimento por parte do paciente, além da negligência do
profissional ou da instituição para com essas questões. Pode também ocorrer por intervenção de terceiras partes, como
planos de saúde e outras corporações envolvidas com a provisão de cuidados que, muitas vezes, necessitam de
informações para garantir a qualidade do serviço ou melhorar a alocação de recursos na área da saúde.
É possível concluir que o segredo médico deve ser rompido apenas quando houver risco de dano físico ao
paciente, quando resultar em um benefício maior para ele, em caso de não haver outra possibilidade que permita o
respeito ao princípio da autonomia, e quando o caso sigiloso puder ser generalizado e implicar no benefício a outras
pessoas.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
1) Em causa própria: controverso! A maioria admite que o médico não pode utilizar-se de informações
confidenciais de seus pacientes p/ interesse próprio, mas procurar na justiça o foro apropriado para cada decisão.
2) Estudantes de medicina: tudo que o médico passa p/ um estudante, no interesse de seu aprendizado, não se
pode considerar como infração por quebra do sigilo. Se o estudante divulgar um fato que teve conhecimento durante
suas aulas, responde criminalmente por esta divulgação.
3) Revelação ao paciente: cada vez mais se defende a idéia de que os pctes devem saber a verdade sobre suas
doenças (obviamente, não é quebra de sigilo). Aos familiares dos pctes deve-se dizer sempre a verdade, a não ser
determinados fatos que possam ser administrados pelo pcte e que lhe tragam algum desconforto sua revelação.
4) Segredo após a morte: o médico ainda se vê na obrigação ética e legal de manter o sigilo.
5) AIDS e sigilo profissional: caso um pcte aidético manifeste o desejo de que nem seus familiares tenham
conhecimento dessa condição, o médico deve respeitar tal pedido. Quando os infectados pelo HIV se recusam a dar tal
informação aos parceiros, invocando-se o princípio da justa causa, é legítimo que o médico procure tais parceiros e lhes
informe. Mais que isso, é crime omitir essa condição do parceiro caso esteja tendo relações sexuais sem preservativo.
É dever legal a notificação dos pacientes portadores de AIDS à instituição de saúde pública competente.
No caso de trabalhadores infectados pelo HIV, não se pode pedir exames sem seu conhecimento e aprovação,
muito menos repassar essas informações aos seus patrões, principalmente quando eles tem condições físicas e psíquicas
de trabalhar e quando o efetivo exercício de suas atividades não traz risco ou prejuízo para outros.
6) Segredo e perícia médica: o atestado e o laudo médico não se referirão ao nome da doença, salvo lesões
produzidas por acidentes em serviço, doença profissional ou doenças que levarão à aposentadoria por invalidez: TBC
ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público, etc.
7) Requisição de prontuários: a obrigação da guarda do segredo médico se estende aos prontuários! No entanto,
por solicitação do paciente e em sua própria defesa, o médico não comete infração de divulgação do segredo
profissional se ele testemunhar ou apresentar cópias de prontuários, de papeletas ou de boletins. Também não se pode
negar ao perito do juiz acesso a esses documentos.
8) Revelação de crime: deve-se comunicar à autoridade os crimes que independam de representação, desde que
não exponha o paciente a procedimento criminal. Um dos casos mais comuns é a constatação de prática criminosa de
aborto, e não se pode denunciar a paciente (já que o aborto é crime).
9) Informação à autoridade sanitária: o é dever legal notificar às autoridades sanitárias as doenças
infectocontagiosas.
10) Privacidade e sigilo em informática médica: recomenda-se que os sistemas de informação utilizados nas
ações de saúde mantenham separadas as informações clínicas da documentação administrativa; que os bancos de dados
dos pctes não sejam conectados a uma rede de informações não médica; e que os levantamentos de dados com fins
estatísticos ou de pesquisa não revelem a identidade do paciente.
11) Tempo de guarda de informação: o Código Civil considera o valor de 3 anos após ocorrência do fato como
o tempo máximo para abertura de processo civil; já o Código de Defesa do Consumidor, considera o tempo de 5 anos.
12) O sigilo médico e a imprensa: a divulgação médica para o público não deve visar à propaganda pessoal, e
sim a educação em saúde, ajudando-o na luta contra as doenças, naquilo que é interesse da saúde pública.
À imprensa, a informação deve ser dada com imparcialidade, como um meio efetivo de ajudar as coletividades.
13) O segredo no atestado médico: se levarmos em conta a determinação do código de ética médica, vamos
observar que esse diagnóstico só pode ser consignado, nominalmente ou em código, nas três situações ali admitidas:
justa causa, dever legal e autorização expressa do paciente.
14) O segredo no boletim médico: o boletim médico é uma exigência à qual não se pode opor. Ele faz parte do
direito que tem a sociedade de ser informada sobre condições de saúde de pessoas que transcendem a sua mera condição
de cidadão. No entanto, deve-se divulgar o estritamente necessário, sem saciar certos impulsos de curiosidade, nem
aproveitar determinadas situações para promover a própria imagem.
15) Cobrança judicial de honorários: mesmo em tais situações, o médico não deva quebrar o sigilo, relatando o
diagnóstico ou certas particularidades do paciente.
16) Atendimento a adolescentes: p/ oferecer ao adolescente a oportunidade de falar de si, confidencialmente, é
necessário que o atendimento ocorra em 2 momentos => acompanhado de seu responsável, depois só com o adolescente.
A quebra do sigilo só é justificada quando o adolescente não tem condições de arcar sozinho com sua saúde ou
quando há risco de causar danos a si ou a outrem. Exemplos: gravidez, AIDS, ideal de suicídio ou homicídio, uso de
drogas, recusa ao tto. Nesses casos, o paciente deve ser informado, justificando-se os motivos para a quebra do sigilo.
Um exemplo de situação em que o médico tem o dever de denunciar são os casos de suspeita ou confirmação de
maus-tratos contra uma criança ou um adolescente, como se verifica no Art. nº 245 do Estatuto da Criança e do
Adolescente: Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento,
envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a vinte salários
de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
17) Paciente menor de idade: pela lei civil, as pessoas são classificadas em capazes e incapazes. Capazes são as
pessoas maiores de 21 anos de idade, que não tenham restrição legal ou de ordem psíquica. Absolutamente incapazes
são os menores de 16 anos de idade. Já os maiores de 16 anos, mas que ainda não atingiram os 21 anos, são tidos como
relativamente capazes para a prática de certos atos da vida civil (de acordo com Jurandir, mas é controverso).
Em < 16 anos, a comunicação aos pais ou responsáveis é dever do médico. Em pctes > 16 anos, considerados
capazes, deve-se manter o sigilo. MAS ATENÇÃO! Se a conduta médica causar danos a ele, os pais ou responsáveis
legais poderão pleitear contra o médico a devida reparação material e moral. Assim, na dúvida, é preferível o médico
enfrentar eventual processo administrativo, do que ter contra si processo judicial movido pelos pais do menor.
18) Atividade sexual e contracepção antes dos 15 anos: as relações sexuais antes dos 15 anos, segundo o
Código Penal, configuram-se em crime de estupro. Portanto, nesses casos, seria necessária notificação ao Conselho
Tutelar. Essa lei está defasada da realidade atual, em que cerca da metade dos adolescentes inicia a atividade sexual
antes dos 15 anos, e a jurisprudência vem reduzindo o rigor diante desses casos.
A contracepção é um direito reprodutivo, e os adolescentes podem decidir livremente sobre a própria vida sexual
e reprodutiva (desde que possa “arcar” com sua saúde).
< 14 anos vítimas de estupro: com ou sem lesões corporais, o atestamento é obrigatório.
14 a 18 anos, vítimas de estupro: comunicar aos pais, cumprindo a estes denunciar ou não.
Vítima de estupro maior e capaz: sem lesões ou com lesões leves => o atestado não deve ser fornecido sem o
consentimento da vítima; se as lesões forem graves, deve haver denúncia à autoridade policial, p/ iniciar o inquérito.
.
Referências:
- Direito Médico, Genival Veloso França, 2014
- Responsabilidade Médica, Jurandir Sebastião, 2001
- Conduta ética no atendimento à saúde de adolescentes, Stella Taquette, Adolescência e Saúde, 2010
- Sigilo Médico, Gerson Zafalon Martins, Jornal Vascular Brasileiro, 2003
- Aspectos Ético-Legais e Jurisprudenciais do Sigilo médico no Brasil, José Geraldo de Freitas Drummond e
Letícia Drummond, Sideme, 2010.
- Código de ética médica. www.portaldomedico.org.br
- Manual de Orientação ética e disciplinar. CFM, Volume 1, Florianópolis, Março 2000.
- Da violação do sigilo médico, Sergio Quezado Gurgel, 2012, Portal JunisWay
- O direito-dever de sigilo na proteção ao paciente, Maria Elisa Villas, Revista Bioética, 2015
- Limites do segredo médico, Maria de Fátima Oliveira, 2012, FACENE
O homem será sempre a realidade primeira, origem e fim de qualquer sociedade organizada. A vida humana é,
portanto, o bem mais fundamental, e o estado garante essa integridade como um interesse acima de todos os outros. É a
forma mais racional de garantir a sua existência e perpetuidade. Dessa maneira, toda ameaça à integridade física ou à
saúde do homem, como, por exemplo, uma experimentação científica, é, indiscutivelmente, um ato ilícito, mesmo que
haja voluntariedade nessa permissão. Podemos afirmar que absolutamente nada justifica a experiência especulativa no
homem. Nem o progresso da técnica, nem o da ciência, nem a voluntariedade da pessoa, nem o bem da coletividade, a
não ser que exista uma perspectiva curativa em favor do experimentado.
A pesquisa em seres humanos é tão antiga quanto a medicina, pelo seu caráter especulativo e observador, e
continuará sempre pela necessidade de avançar em novos processos diagnósticos, terapêuticos e preventivos.
Os princípios para avaliação ética de um projeto incluem: 1) consentimento do sujeito; 2) manutenção da
privacidade das informações do sujeito; 3) aprovação pelos pares e pela comunidade. A aprovação pelos pares avalia a
relevância da questão científica, a relação entre o benefício da informação que será obtida com a pesquisa e o risco do
sujeito, e a qualidade científica da proposta para responder as questões levantadas.
Pesquisa: classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizável ou no
acúmulo de informações, que possam ser corroborados por métodos científicos aceitos de observação e inferência.
Em geral, quando se pensa no assunto, o foco se concentra nas pesquisas na área médica, no máximo na
biomédica ou na saúde. Compreende-se, até certo ponto, que assim seja. As pesquisas na área das profissões da saúde
são, em geral, mais visíveis, com conseqüências imediatas; além do mais, principalmente na área médica, onde existe
uma tradição ética de vinte e cinco séculos, há constante preocupação com esse aspecto.
Contudo, na verdade, a experimentação com seres humanos ocorreu e vem ocorrendo em muitas outras
áreas, muitas vezes sem a devida preocupação com os aspectos éticos.
Faz-se experimentação com seres humanos no setor da educação, da fisioterapia, da terapia ocupacional, da
educação física, da sociologia, etc. e até na economia (nem sempre com as devidas premissas científicas ou básicas e, no
geral, atingindo coletividades).
O ser humano pode também estar sendo objeto (e não sujeito) de pesquisa, sem que o saiba; podem ocorrer
situações em que só a posteriori os cientistas e o ser humano submetido à experimentação tomam conhecimento de que
houve uma "experimentação humana". Foi o caso dos linfomas detectados em prevalência maior nas localidades (na
Europa) em que as crianças conviveram constantemente com redes de alta tensão. Foi o caso, também, das leucemias
diagnosticadas em operadores (e em seus descendentes) de radar por longo período, durante a II Guerra.
Foi no Código de Nüremberg, editado em 1947, por ocasião do julgamento de criminosos de guerra nazistas, que
se teve um conjunto de normas e procedimentos éticos sobre pesquisa em seres humanos.
No Brasil, a Resolução CNS nº 1, de 13 de junho de 1988, do Conselho Nacional de Saúde foi o
primeiro documento oficial que procurou regulamentar as normas da pesquisa em saúde. Posteriormente foi
atualizada na Resolução nº 196/96 que é atual Constituição das diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos, no nosso País, com destaque para os seguintes pontos:
· a proibição de qualquer forma de remuneração, cabendo, porém, o ressarcimento de despesas e
indenização (direito indeclinável) aos sujeitos da pesquisa;
· a conceituação de risco como sendo a possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral,
intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano;
· a consideração de que todo procedimento (de qualquer natureza) cuja aceitação não esteja consagrada
na literatura será tido como pesquisa em ser humano;
· o respeito total à dignidade do ser humano e a necessidade de se obter o consentimento livre e
esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis, excluindo-se as possibilidades de
dependência, subordinação, coação ou intimidação;
· a exigência de condições (recursos humanos e materiais) adequadas à execução do projeto;
· a proteção à imagem, a não-estigmatização, o direito à confidencialidade e à privacidade, nas pesquisas
em coletividade, bem como o respeito aos valores culturais;
· a necessidade de retorno de benefícios à coletividade pesquisada, bem como a obrigatoriedade de
acesso dos sujeitos às vantagens da pesquisa;
· a importância e a relevância do consentimento livre e esclarecido,
· a exigência de apresentação do projeto de pesquisa, por parte do pesquisador responsável, contendo,
entre outros, os seguintes dados: definições de atribuições, antecedentes científicos, metodologia, análise
crítica de riscos e benefícios, duração do projeto, critérios de inclusão e de exclusão dos sujeitos, o
compromisso de tornar públicos os resultados, a previsão de riscos, a qualificação do pesquisador, o
orçamento detalhado;
· a obrigatoriedade de apresentação do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição,
para apreciação;
· a criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), órgão máximo na área, ligado ao
Conselho Nacional de Saúde _ Ministério da Saúde;
· a responsabilidade da CONEP em instaurar sindicâncias e interromper pesquisas em andamento, se
necessário;
1. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO: aprovação do sujeito (se maior e capaz) da pesquisa e/ou
de seu representante legal, livre de simulações, dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e
pormenorizada sobre a pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos e potenciais riscos. O pesquisador deve
passar todas as informações em linguagem simples e dar plena liberdade para que o pesquisado abandone a investigação
em qualquer momento. Menor de idade: consentimento de seu representante legal + esclarecimento e aprovação do
menor.
3. COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA: toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à
apreciação de um Comitê de Ética (CEP). Na impossibilidade de se constituir CEP, o pesquisador responsável deverá
submeter o projeto à apreciação do CEP de outra instituição.
O CEP deverá ser constituído por colegiado com número não inferior a 7 membros. Sua constituição deverá
incluir a participação de profissionais da área de saúde, das ciências exatas, sociais e humanas, incluindo, por exemplo,
juristas, teólogos, sociólogos, filósofos e bioeticistas. Terá sempre caráter multidisciplinar, não devendo haver mais que
metade de seus membros pertencentes à mesma categoria profissional.
- Atribuições do CEP:
a) Revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, cabendo-lhe a responsabilidade primária
pelas decisões sobre a ética da pesquisa a ser desenvolvida na instituição.
b) Emitir parecer por escrito, no prazo máximo de 30 dias, identificando com clareza o ensaio, documentos
estudados e data de revisão. O protocolo poderá ser aprovado com pendência, não aprovado e aprovado.
c) Manter a guarda confidencial dos dados obtidos e arquivamento do protocolo completo (durante 5 anos), que
ficará à disposição das autoridades sanitárias.
d) Acompanhar o desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos pesquisadores.
e) Receber denúncias de abusos ou notificação sobre fatos que possam alterar o curso normal do estudo,
decidindo pela continuidade, modificação ou suspensão da pesquisa.
f) Requerer instauração de sindicância à direção da instituição em caso de denúncias de irregularidades de
natureza ética nas pesquisas e comunicar à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)
g) manter comunicação regular e permanente com a CONEP (sobre os projetos aprovados, p.e).
Ao pesquisador cabe...
a) Apresentar o protocolo ao CEP, aguardando o pronunciamento deste, antes de iniciar a pesquisa.
b) Desenvolver o projeto conforme delineado.
c) Elaborar e apresentar os relatórios parciais e final.
d) Apresentar dados solicitados pelo CEP, a qualquer momento;
e) Manter em arquivo, sob sua guarda, por 5 anos, os dados da pesquisa, contendo fichas individuais e todos os
demais documentos recomendados pelo CEP.
f) Encaminhar os resultados para publicação, com os devidos créditos aos pesquisadores associados e ao pessoal
técnico participante do projeto.
g) Consideram-se autorizados para execução, os projetos aprovados pelo CEP, exceto os que se enquadrarem nas
áreas temáticas especiais, os quais, após aprovação pelo CEP institucional deverão ser enviados à CONEP/MS, que dará
o devido encaminhamento.
- As agências de fomento à pesquisa e o corpo editorial das revistas científicas deverão exigir documentação
comprobatória de aprovação do projeto pelo CEP e/ou CONEP, quando for o caso.
- Os CEP institucionais deverão encaminhar trimestralmente à CONEP/MS a relação dos projetos de pesquisa
analisados, aprovados e concluídos, bem como dos projetos em andamento e, imediatamente, aqueles suspensos.
5. Nos projetos apresentados para avaliação dos CEPs, os pontos que com maior freqüência são considerados
eticamente incorretos são os relativos ao consentimento livre e esclarecido, ao uso de placebo e à participação de
pessoas em situação de vulnerabilidade.
Consentimento livre e esclarecido: os modelos de termo de consentimento têm sido, freqüentemente, motivo de
não aprovação dos projetos por conterem informação insuficiente; outras vezes por serem indutores da participação ou
por não estarem em linguagem acessível ao paciente. Por outro lado, termos de consentimentos longos demais,
traduzidos que são de outros países, mais confundem que esclarecem, estando também muitas vezes inadequados à
nossa cultura, por serem frios e diretos.
Uso de placebo: principalmente em estudos de novos medicamentos e visando evitar interferência psicogênica,
em alguns casos justifica-se a comparação entre o tratamento com a nova droga e o tratamento onde se usa um placebo
(substância sem efeito farmacológico). No entanto, existindo tratamento minimamente eficaz para a doença não é
eticamente correto deixar um grupo de pacientes sem terapia, sendo que o experimento deveria comparar, então, o novo
tratamento com o tratamento existente ou padrão. Têm sido identificados problemas nessa área, pois no interesse de
comercialização de novos produtos, num mercado de grande concorrência, usa-se a demonstração da eficácia da droga
(frente ao placebo) e não a sua superioridade sobre o medicamento já existente. Muitas vezes, esse subterfúgio não é
percebido e colocam-se pessoas em situação de risco à sua saúde, sem nenhum possível benefício, a não ser para a
contabilidade das indústrias.
Vulnerabilidade: situações em que não existem as condições para o consentimento livre, sem coações ou
pressões, devem ser cuidadosamente analisadas, como propostas de pesquisas em soldados, servidores, funcionários de
laboratórios e alunos. Por outro lado, é preocupante a situação da maioria dos sujeitos de pesquisa neste país, que sem
acesso assegurado à assistência à saúde muitas vezes buscam a participação na pesquisa como forma de obter acesso a
algum tratamento ou a melhor acompanhamento.
Riscos e benefícios
Apesar dos riscos potenciais, as pesquisas serão admissíveis quando oferecerem elevada possibilidade de gerar
conhecimento para entender, prevenir ou aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros
indivíduos. O risco deve se justificar pela importância do benefício esperado.
O benefício deve ser maior ou igual a outras alternativas de prevenção, diagnóstico e tratamento.
ATENÇÃO! Deve haver suspensão imediata diante de risco ou dano à saúde do sujeito, não previsto no termo de
consentimento. O CEP deve ser informado dos efeitos adversos ou fatos que alterem o curso normal do estudo.
Normas de Pesquisa com Novos Fármacos, Medicamentos, Vacinas e Testes Diagnósticos Envolvendo Seres
Humanos - Resolução 251/97
Fase I: é o 1º estudo em seres humanos em pequenos grupos de pessoas voluntárias, em geral sadias, de um novo
princípio ativo, ou nova formulação. Estas pesquisas se propõem estabelecer uma evolução preliminar da segurança e do
perfil farmacocinético e quando possível, um perfil farmacodinâmico.
Fase II (Estudo Terapêutico Piloto): visam demonstrar a atividade e estabelecer a segurança a curto prazo do
princípio ativo, em pctes afetados por uma determinada enfermidade ou condição patológica. As pesquisas realizam-se
em um número limitado (pequeno) de pessoas.
Fase III (Estudo Terapêutico Ampliado): são estudos realizados em grandes e variados grupos de pctes, com o
objetivo de determinar o risco/ benefício a curto e longo prazos das formulações do princípio ativo. Exploram-se nesta
fase as interações clinicamente relevantes, principais fatores modificatórios do efeito (como idade), etc.
Fase IV: são pesquisas realizadas depois de comercializado o produto e/ou especialidade medicinal. Geralmente
são estudos de vigilância pós-comercialização, para estabelecer o valor terapêutico, o surgimento de novas reações
adversas e/ou confirmação da freqüência de surgimento das já conhecidas, e as estratégias de tratamento.
Devem-se seguir as mesmas normas éticas e científicas aplicadas às pesquisas de fases anteriores.
Art. 2º - o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o
máximo de zelo e o melhor de sua capacidade;
Art. 46º - é vedado ao médico efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento
prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida;
Art. 123º - é vedado ao médico realizar pesquisa em ser humano, sem que este tenha dado consentimento por
escrito, após devidamente esclarecido sobre a natureza e conseqüência da pesquisa.
CÓDIGO PENAL:
- Art. 129º(É crime) Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena – detenção, de três meses a um
ano.
- Art. 132º(É crime) Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo iminente: Pena – detenção de três meses a um
ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Não há necessidade de que haja o dano para que se configure o crime, bastando a ação ou omissão que leve à
probabilidade de dano à integridade do homem. No caso de haver o dano caracterizar-se-á como crime mais grave,
como lesão corporal grave, gravíssima ou homicídio.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
- Pesquisa em Indivíduos Sadios: qualquer ato que possa diminuir a resistência do ser humano só pode ser
admitido em seu próprio interesse, logo, a experimentação em indivíduos sadios não é recomendada.
- Pesquisa em condenados: é ilícita e imoral, visto que não possuem plena liberdade de decisão para voluntariar-
se. Mesmo ele tem direito à integridade física e psíquica.
Referências
1. Direito Médico, Genival Veloso França, 2014
2. Responsabilidade Médica, Jurandir Sebastião, 2001
3. Resoluções do CFM
4. Ética e pesquisa médica: princípios, diretrizes e regulamentações, Euclides Ayres de Castilho, Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2005.
5. Pesquisa com seres humanos, Corina B.D.Freitas. Acessado pelo portalmedico.org.br em novembro de 2018
ATO MÉDICO
“Ato médico”: atividades de responsabilidade do médico quanto à prevenção, diagnóstico e tratamento.
O ato médico pode ser classificado em:
- Genérico: que representa todo esforço traduzido de forma organizada e tecnicamente reconhecido em favor da
qualidade da vida e da saúde do ser humano e da coletividade. Assim, não é apenas aquilo que somente o
médico pode realizar, mas também o que é da competência de outros profissionais de mesma área.
- Específico: representado pela utilização de estratégias e recursos para prevenir a doença, recuperar e manter a
saúde do ser humano ou da coletividade, inseridos nas normas técnicas (lex artis) dos conhecimentos adquiridos
nos cursos regulares de medicina e aceitos pelos órgãos competentes, estando quem o executa, supervisiona ou
solicita profissional e legalmente habilitado. Este é o ato médico stricto sensu e somente o médico pode realizar.
A maioria das outras 13 profissões da área da saúde é regulamentada! Em contrapartida, os mais de 280.000
médicos trabalhando no Brasil necessitam de uma lei que reconheça sua importância social, seu espaço profissional e
que garanta que a assistência atinja altos níveis de qualidade e excelência.
A medicina é regida por diversas normas, em especial pelo Decreto nº 20.931/32 (uma das primeiras leis que
regularam o exercício da medicina e outras profissões de saúde no Brasil), pela Lei nº 3.268/57 (que dispõe sobre os
Conselhos de Medicina) e pelas resoluções e normas editadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Nesse escopo,
também entra a Lei nº 12.842/13, uma das mais importantes referências legislativas da atualidade para a área médica,
que dispõe sobre o exercício da medicina.
A legislação deve explicitar o que é medicina, quais são os procedimentos exclusivos do médico e quais podem
ser compartilhados com agentes de outras profissões de saúde. Mesmo uma profissão antiga, como é a medicina, cujos
elementos de identidade estão profundamente arraigados na consciência social, necessita ter sua identidade legalmente
instituída para assegurar sua atividade e poder assegurar o melhor atendimento aos pacientes e à sociedade.
**A sociedade tem o direito de saber o que pode e o que deve esperar dos agentes de cada profissão.
Nenhuma outra profissão, à exceção da odontologia, possui a prerrogativa de diagnosticar doenças. Todas as
demais, em sua própria regulamentação, participam da assistência à saúde de modo e maneira bem específicos, sem
qualquer referência ao diagnóstico de doenças.
Reconhecimento de um estado doentio x diagnosticar doenças? Tome-se, p.e, uma avó experiente. Ao se
defrontar com um neto apresentando febre alta, tosse com catarro purulento, dor no peito e prostração, ela será capaz de
identificar uma possível pneumonia. Do ponto de vista profissional, diagnosticar implica possuir competência técnico-
científica para proceder ao diagnóstico diferencial entre os diversos tipos de pneumonias, bem como as demais
infecções respiratórias, e prescrever o tratamento.
Diagnóstico funcional: consiste na identificação do rendimento de uma estrutura ou função somática
(fisioterapia, fonoaudiologia).
Diagnóstico psicológico: corresponde ao diagnóstico funcional no terreno da conduta e do psiquismo. Permite
identificar traços ou tipos de personalidade ou características de conduta de alguém. A psiquiatria é a especialidade
médica que diagnostica as enfermidades mentais e da conduta, enquanto a psicologia utiliza-se unicamente de
métodos e técnicas psicológicas para atender pessoas com problemas de ajustamento ou desenvolvimento.
Obs: O Código de Ética Médica elegeu o princípio da beneficência como o primeiro dos princípios, estando
assim o médico na obrigação ética e legal de utilizar o tratamento salvador. Outra situação bem significativa na relação
do urgentista com o seu paciente é o respeito à sua privacidade, ficando assim o profissional na obrigação de manter
sigilosas as informações colhidas no atendimento.
O médico regulador
- Deve discernir o grau de urgência, gravidade e prioridade;
- Enviar os recursos necessários ao atendimento, considerando necessidades e ofertas disponíveis;
- Monitorar e orientar o atendimento feito por outro profissional (médico intervencionista, enfermeiro, técnico
de enfermagem), por profissional da área de segurança, bombeiro ou leigo que se encontre no local;
- Definir e acionar o serviço de destino do pcte, informando-o as condições e previsão de chegada do mesmo;
- Julgar a necessidade ou não do envio de meios móveis de atenção. Em caso negativo, o médico deve explicar
sua decisão e esclarecer o demandante do socorro quanto a outras medidas a serem adotadas, por meio de orientação ou
conselho médico, que permita ao solicitante assumir cuidados ou buscá-los em local definido pelo médico regulador;
- Reconhecer que, como a atividade do médico regulador envolve o exercício da telemedicina, impõe-se a
gravação contínua das comunicações, o correto preenchimento das fichas médicas de regulação, das fichas de
atendimento médico e de enfermagem, e o seguimento de protocolos institucionais consensuados e normatizados que
definam os passos e as bases para a decisão do regulador;
- Decidir os destinos hospitalares não aceitando a inexistência de leitos vagos como argumento para não
direcionar os pacientes, ou seja, garantir o atendimento nas urgências, mesmo nas situações em que inexistam leitos
vagos para a internação de pacientes (a chamada “vaga zero”: recurso essencial para garantir acesso imediato aos
pacientes com risco de morte ou sofrimento intenso, devendo ser considerada como situação de exceção e não uma
prática cotidiana na atenção às urgências).
- Decidir o destino do pcte baseado na planilha de hierarquias pactuada e disponível para a região, alocando
os pctes dentro do sistema regional, comunicando sua decisão aos médicos assistentes das portas de urgência;
- Regular as portas de urgência, considerando o acesso a leitos como uma segunda etapa que envolverá a
regulação médica das transferências inter-hospitalares, bem como das internações.
Define-se transporte intra-hospitalar como a transferência temporária ou defi nitiva de pacientes por
profissionais de saúde dentro do ambiente hospitalar.
Define-se transporte inter-hospitalar como a transferência de pacientes entre unidades não hospitalares ou
hospitalares de atendimento às urgências e emergências, unidades de diagnóstico, terapêutica ou outras unidades de
saúde que funcionem como bases de estabilização para pacientes graves ou como serviços de menor complexidade, de
caráter público ou privado.
O ato de transportar deve reproduzir a extensão da unidade de origem do paciente, tornando-o seguro e eficiente,
sem expor o paciente a riscos desnecessários, evitando, assim, agravar seu estado clínico. Já o objetivo precípuo destas
intervenções é melhorar o prognóstico do paciente; portanto, o risco do transporte não deve sobrepor o possível
benefício da intervenção. Pelo fato de o período de transporte ser um período de instabilidade potencial, deve sempre ser
questionado se os testes diagnósticos ou as intervenções terapêuticas prescritas alterarão o tratamento e o resultado do
paciente, justificando os riscos da remoção.
O transporte de pacientes deve ocorrer quando os benefícios esperados para ele excedem os riscos inerentes ao
transporte e, também, quando o paciente necessita de cuidados que não existam no hospital onde está. A decisão e a
efetuação do transporte são responsabilidades do médico que o assiste. Tal transporte envolve a presença de um veículo
adaptado com todos os equipamentos necessários para a monitoração e suporte avançado de vida.
ATESTADO/DECLARAÇÃO DE ÓBITO
Implantado pelo MS em 1976 como modelo único para ser utilizado em todo território nacional. É um
instrumento padronizado é impresso com sequência numérica única, em conjuntos de três vias autocopiativas. O
controle da numeração bem como a emissão e distribuição dos formulários para as Secretarias Estaduais de Saúde é de
competência exclusiva do Ministério da Saúde, pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
Possui nove Blocos, com um total de 59 variáveis:
• Bloco I - Identificação • Bloco VI - Médico
• Bloco II - Residência • Bloco VII - Causas externas
• Bloco III - Ocorrência • Bloco VIII - Cartório
• Bloco IV - Fetal ou menor que um ano • Bloco IX - Localidade sem Médico
• Bloco V - Condições e causas do óbito
Já a Certidão de Óbito é o documento jurídico fornecido pelo Cartório de Registro Civil após o registro do
óbito. Ou seja, os familiares recebem a Declaração (Atestado) de Óbito e a levam para o Cartório de Registro Civil,
saindo de lá com a Certidão de Óbito. O sepultamento só é feito com certidão, em vista do atestado de médico (se
houver no lugar), ou, caso contrário, duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.
A DO tem dois objetivos principais: ser o documento padrão p/ coleta das informações sobre mortalidade que
servem de base para o cálculo das estatísticas vitais e epidemiológicas do Brasil; o segundo, de caráter jurídico, é o
de ser o documento hábil, indispensável para as formalidades legais do sepultamento.
Os dados de óbitos são utilizados para conhecer a situação de saúde da população e gerar ações visando à sua
melhoria. Para tanto, devem ser fidedignos e refletir a realidade. As estatísticas de mortalidade são produzidas com
base na DO emitida pelo médico.
A emissão da DO é ato médico, segundo a legislação do País.
1. Os dados de identificação devem se basear em um documento da pessoa falecida. Na ausência de documento,
caberá, à autoridade policial, proceder o reconhecimento do cadáver.
2. Registrar os dados na DO, sempre, com letra legível e sem abreviações ou rasuras.
3. Registrar as causas da morte, obedecendo ao disposto nas regras internacionais, anotando um diagnóstico por
linha e o tempo aproximado entre o início da doença e a morte. O médico deve declarar a causa básica do óbito em
último lugar, estabelecendo uma seqüência, de baixo para cima, até a causa terminal ou imediata.
Ex.: HAS (35 anos) => Cardiopatia hipertensiva (2 anos) => ICC (2 meses) => EAP (5h)
4. Revisar se todos os campos estão preenchidos corretamente, antes de assinar.
5. O médico não deve utilizar termos vagos para o registro das causas de morte como PCR, falência múltipla de
órgãos, parada cardíaca; nem deve cobrar pela emissão da DO; assinar a DO em branco e preencher a DO sem,
pessoalmente, examinar o corpo e constatar a morte.
Situações em que se deve emitir a DO: todos os óbitos (natural ou violento); quando a criança nascer viva e
morrer logo após o nascimento independentemente da duração da gestação, do peso do recém-nascido e do tempo que
tenha permanecido vivo; no óbito fetal, se a gestação teve duração ≥ 20 semanas, ou o feto com peso igual ou superior a
500g, ou estatura igual ou superior a 25cm (DO feita pelo médico que estiver prestando assistência).
Situações em que não se deve emitir a DO: no óbito fetal, com gestação de menos de 20 semanas, ou peso
menor que 500 gramas, ou estatura menor que 25 centímetros; peças anatômicas amputadas.
Para peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico ou de membros amputados: o médico elaborará um
relatório em papel timbrado do Hospital descrevendo o procedimento realizado. Esse documento será levado ao
Cemitério, caso o destino da peça venha a ser o sepultamento.
I. Morte natural (aquele cuja causa básica é uma doença ou estado mórbido) sem assistência médica:
a) Localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO): A DO deverá ser fornecida pelos médicos do SVO;
b) Sem SVO: A DO deverá ser fornecida pelos médicos do serviço público de saúde mais próximo do local onde
ocorreu o evento; na sua ausência, por qualquer médico da localidade.
II. Morte com assistência médica:
a) A DO deverá ser fornecida, sempre que possível, pelo médico que vinha prestando assistência ao paciente.
b) A DO do paciente internado sob regime hospitalar deverá ser fornecida pelo médico assistente e, na sua falta,
por médico substituto pertencente à instituição.
c) A DO do paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá ser fornecida por médico designado pela
instituição que prestava assistência, ou pelo SVO;
d) A DO do paciente em tratamento sob regime domiciliar (PSF, p.e) deverá ser fornecida pelo médico
pertencente ao programa ao qual o paciente estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o médico não consiga correlacionar o
óbito com o quadro clínico concernente ao acompanhamento do paciente.
III. Morte por causa externas (Aqueles que decorrem de lesão provocada por violência: Homicídios,
acidentes, suicídios)
- Tem Instituto Médico Legal (IML)? A DO deve ser fornecida pelo médico legista, qualquer que tenha sido o
tempo entre o evento violento e a morte propriamente.
- Não tem IML? A DO deve ser fornecida por qualquer médico da localidade, investido pela autoridade judicial
ou policial, na função de perito legista eventual.
- Médico que atua em serviço de transporte, remoção, emergência, quando o mesmo dá o primeiro
atendimento ao pacientes: caberá ao médico da ambulância a emissão da DO, se a causa for natural e se existirem
informações suficientes. Se a causa for externa, chegando ao hospital, o corpo deverá ser encaminhado ao IML.
- Óbito ocorrido em ambulância sem médico: O corpo deverá ser encaminhado ao SVO na ausência de sinais
externos de violência ou ao IML em mortes violentas. A DO deverá ser emitida por qualquer médico em localidades
onde não houver SVO, em caso de óbito natural, sendo declarado "CAUSA DA MORTE DESCONHECIDA".
- Se o doente foi transferido sem o acompanhamento de um médico, mas com relatório médico que possibilite a
conclusão do diagnóstico da causa de morte, a DO poderá ser emitida pelo médico que recebeu o doente já em óbito,
ou pelo médico que o encaminhou. Porém, se o relatório não permitir a conclusão da causa da morte, o corpo será
encaminhado ao SVO, ou, em caso de morte suspeita, ao IML.
Código Penal
Art. 302: Dar o médico, no exercício de sua profissão, atestado falso. Pena: detenção de 1 mês a 1 ano.
Parágrafo único: Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Referências
1 - Manual Instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no SUS - MS, 2013
2 - Sobreaviso médico sob a ótica da Resolução do CFM - Geraldo Alves da Silva – 2008
3 - Política Nacional de Atenção às Urgências – MS, 2006 9 - Regulação Médica das Urgências – MS, 2006
4 - Resolução CFM n.º 1.451/1995
5 - Declaração de óbito : documento necessário e importante – MS, CFM, 2009
-Procedimentos:
É obrigatória a realização mínima dos seguintes procedimentos para determinação da morte encefálica:
a) dois exames clínicos que confirmem coma não perceptivo e ausência de função do tronco encefálico;
b) teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros
respiratórios;
c) exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica.
EXAME CLÍNICO:
- Deverá ser realizado 2 exames clínicos, por médicos diferentes mas especificamente capacitados, com
intervalo mínimo de uma hora nos pacientes com idade igual ou maior a dois anos de idade.
A. Coma não perceptivo
Estado de inconsciência permanente com ausência de resposta motora supraespinhal a qualquer estimulação,
particularmente dolorosa intensa em região supraorbitária, trapézio e leito ungueal dos quatro membros.
Obs: - A presença de atitude de descebração ou decorticação invalida o diagnóstico de ME.
- Poderão ser observados reflexos tendinosos profundos, movimentos de membros, atitude em opistótono ou
flexão do tronco, adução/elevação de ombros, sudorese, rubor ou taquicardia, ocorrendo espontaneamente ou durante a
estimulação. A presença desses sinais clínicos significa apenas a persistência de atividade medular e não invalida a
determinação de ME.
TESTE DA APNEIA: essencial p/ o dx de ME! Possui valor preditivo positivo próximo de 100%, mas há
possibilidade de efeitos deletérios p/ o pcte. Por isso deve ser o último teste a ser realizado. Legalmente, a hora da morte
é aquela do término do teste de apnéia.
A apneia é definida pela ausência de movimentos respiratórios espontâneos, após a estimulação máxima do centro
respiratório pela hipercapnia (PaCO2 superior a 55 mmHg).
Caso ocorra hipotensão (PA sistólica < 100 mmHg ou PA média < que 65 mmHg), hipoxemia significativa ou
arritmia cardíaca, deverá ser colhida uma gasometria arterial e reconectado o respirador, interrompendo-se o teste.
O teste é considerado positivo (presença de apneia) quando: PaCO2 final superior a 55 mmHg, sem movimentos
respiratórios, mesmo que o teste tenha sido interrompido antes dos dez minutos previstos.
Não é necessário repetir o teste de apneia quando o resultado do primeiro teste for positivo (ausência de
movimentos respiratórios na vigência de hipercapnia documentada).
Em crianças... o dx deve ser mais rígido, devido à imaturidade do SNC, e só é possível após 7 dias de vida.
7 dias a 2 meses = intervalo de 24 horas entre os exames clínicos + realização de 2 EEG.
2 meses a 2 anos = intervalo de 12 horas entre os exames clínicos + realização de 1 EEG.
> 2 anos = intervalo de 1 horas + realização de um exame complementar.
A EQUIPE MÉDICA:
Nenhum médico responsável por realizar procedimentos de determinação da ME poderá participar de equipe de
retirada e transplante.
São considerados capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no atendimento de pacientes em
coma, que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de ME e realizado treinamento específico.
Um dos médicos especificamente capacitado deverá ser especialista em uma das seguintes especialidades:
medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina de
emergência.
Histórico
A história dos transplantes no Brasil teve início por volta da década de 60, quando foi realizado o 1º transplante
renal. Os programas de transplante dos demais órgãos, porém, só entraram em atividade por volta de 1980.
Em 1997, foi publicada a Lei 9.434 sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de
transplante e tto. A partir de então, a decisão sobre a doação pertencia aos familiares do potencial doador. Além disso,
estabeleceu o conceito de ME como critério para constatação da morte.
No mesmo ano, o MS criou o Sistema Nacional de Transplante (SNT) e as Centrais de Notificação, Captação
e Distribuição de Órgãos (CNCDO).
O Brasil possui o maior sistema público de transplantes no mundo e atualmente cerca de 95% dos procedimentos
de todo o Brasil são financiados pelo SUS. Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás
apenas dos EUA. Os pacientes possuem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia,
acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
A rede brasileira conta com 27 Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, além de 14 câmaras
técnicas nacionais, 506 Centros de Transplantes, 825 serviços habilitados, 1.265 equipes de Transplantes, 63 Bancos de
Tecidos, 13 Bancos de Sangue de Cordão Umbilical Públicos, 574 Comissões Intra-hospitalares de Doação e
Transplantes e 72 Organizações de Procura de Órgãos.
Após a declaração da morte encefálica, a família do falecido deverá ser consultada sobre a possibilidade de
doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para transplante. Nos casos em que a doação não for viável,
por quaisquer motivos, o suporte terapêutico artificial ao funcionamento dos órgãos será descontinuado, hipótese em
que o corpo será entregue aos familiares ou à instituição responsável pela necropsia, nos casos em que se aplique.
Os hospitais deverão notificar a morte encefálica diagnosticada em suas dependências à CET da unidade
federativa a que estiver vinculada, em caráter urgente e obrigatório.
Em alguns dias (aproximadamente 5), todos os pctes com ME evoluem com PCR.
Em doador com parada cardíaca recente (até 6h) => é possível a retirada de órgão.
Se a parada cardíaca não é recente => pode ser doador apenas de tecido.
Avaliação do Doador: deve considerar a inexistência de contra-indicações clínicas e laboratoriais.
As contra indicações absolutas são:
- Pctes portadores de insuficiência orgânica que comprometa o funcionamento de órgão ou tecido que possa ser
doado, como, p.e, insuficiência renal, hepática, cardíaca, pulmonar.
- Sorologia positiva para HIV, HTLV I e II.
- Pctes em sepse ou Insuficiência de Múltiplos Órgãos (IMOS).
- Pctes portadores de neoplasias malignas, excetuando os tumores restritos ao SNC, carcinoma basocelular e
carcinoma de cérvix uterino in situ.
-Paciente com TBC em atividade.
Receptores: os pctes inscritos no Cadastro Técnico Único da Central de Transplante serão classificados por
um sistema de pontuação que inclui: compatibilidade HLA, tempo em lista de espera, idade e grande sensibilização.
Alguns critérios priorizam alguns receptores: no caso de transplante renal, a ausência de via de acesso para
tratamento dialítico; tratando-se de doador criança (<12 anos) para receptor criança (<12 anos); se o primeiro da lista
não tiver condições de saúde adequadas para receber o tranplante, o segundo da fila é chamado.
*No caso de doadores vivos: é permitido à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos
ou partes corpo, desde que a retirada não represente comprometimento a sua saúde, e corresponda a uma necessidade
terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
Pela lei, parentes de até 4º grau e cônjuges podem ser doadores; não parentes, somente com autorização judicial.
Órgãos e tecidos que podem ser obtidos de doador vivo: um dos rins, medula óssea obtida por meio da aspiração óssea
direta ou pela coleta de sangue periférico; parte do fígado, parte do pulmão e pâncreas (em situações excepcionais).
Somente será permitida a doação referida nesta Seção quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos,
tecidos, células e partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a
sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e de sua saúde mental e não cause
mutilação ou deformação inaceitável.
Obs: Antes de iniciado o procedimento, a doação poderá ser revogada pelo doador a qualquer momento.
Gestantes: não poderá doar órgãos, tecidos e partes de seu corpo, exceto medula óssea, desde que não haja risco
para a sua saúde e a do embrião ou do feto.
- A gestante será a responsável pela autorização, previamente ao parto, de doação de células progenitoras do
sangue do cordão umbilical e placentário do nascituro.
*Consentimento Familiar:
A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano, após a morte, somente poderá ser realizada
com o consentimento livre e esclarecido da família do falecido, consignado de forma expressa em termo específico de
autorização.
- A autorização deverá ser do cônjuge, do companheiro ou de parente consanguíneo, de maior idade e
juridicamente capaz, na linha reta ou colateral, até o segundo grau, e firmada em documento subscrito por duas
testemunhas presentes à verificação da morte.
- Caso seja utilizada autorização de parente de segundo grau, deverão estar circunstanciadas, no termo de
autorização, as razões de impedimento dos familiares de primeiro grau.
- A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano de falecidos incapazes, nos termos da lei civil,
dependerá de autorização expressa de ambos os pais, se vivos, ou de quem lhes detinha, ao tempo da morte, o poder
familiar exclusivo, a tutela ou a curatela.
Obs: Fica proibida a doação de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano em casos de não identificação
do potencial doador falecido. O simples reconhecimento de familiares não basta se nenhum dos documentos de
identificação do falecido for encontrado, exceto nas hipóteses em que autoridade oficial que detenha fé pública
certifique a identidade.
* Necropsia:
A necropsia será realizada obrigatoriamente no caso de morte por causas externas ou em outras situações nas
quais houver indicação de verificação médica da causa da morte.
- A retirada de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano poderá ser efetuada desde que não prejudique a
análise e a identificação das circunstâncias da morte.
- Ao doador de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano será dada a precedência para a realização da
necropsia, imediatamente após a cirurgia de retirada.
PROCESSO DE DOAÇÃO
1º Passo – Identificação do potencial doador: o processo inicia-se com a identificação de pcte com ME.
2º Passo – Notificação: normalmente a captação ocorre de forma regionalizada. Assim, a Central de Transplantes
repassa a notificação para uma OPO (Organização de Procura de Órgão) que cobre a região do hospital notificador.
3º Passo – Avaliação: durante o processo, a manutenção do potencial doador deve buscar a estabilidade
hemodinâmica, garantindo a viabilidade e qualidade dos órgãos passíveis de doação. Assim, uma vez ocorrida a
notificação, a OPO dirige-se ao hospital e avalia o doador: história clínica, sorologias para afastar moléstias infecciosas,
viabilidade dos órgãos e teste de compatibilidade com possíveis receptores.
Nesta etapa a família é abordada sobre a doação, podendo autorizar ou não a remoção de órgãos (autorização
pode ser dada por cônjuge ou parente). Se autorizada, é, então, feita transferência p/ outro hospital com melhor estrutura
para manutenção hemodinâmica do paciente.
4º Passo – Informação do doador efetivo: a OPO informa à Central de Transplante se Doador é viável.
5º Passo – Seleção de receptores: os receptores são cadastrados na Lista Única de Receptores do Sistema
Nacional de Transplantes. No momento em que uma OPO informa quanto à efetividade de um doador, a Central de
Transplante emite uma lista de receptores desta lista que são compatíveis com o doador. No caso dos rins, deve-se
realizar uma nova seleção por compatibilidade imunológica.
6º Passo - Resposta do Laboratório de Imunogenética: após a realização do teste de compatibilidade
imunológica, os laboratórios enviam a lista com os receptores compatíveis para a Central de Transplante.
7 º Passo – Equipes de Transplantes: uma vez com a lista definitiva de transplantes, a Central de Transplantes
informa a equipe de transplante sobre o doador. Cabe à equipe transplantadora a decisão da utilização do órgão doado.
8º Passo – Transplante: em caso de aprovação pela equipe de transplante, é realizada a captação e efetivado o
transplante. Terminada a captação, que ocorre no hospital em que o doador está internado, as equipes dirigem-se para
seus hospitais de origem para realizarem a transplantação. O corpo do doador é entregue à família condignamente
recomposto, de modo a recuperar tanto quanto possível a sua aparência anterior, sendo fornecida toda orientação
necessária à família.
- Estabelecer relação médico, equipe de saúde e pcte adequada: a construção de uma interação apropriada,
desde o 1º contato, implica por em prática a capacidade de empatia, compreensão e desejo de ajuda. Desta forma, é
importante demonstrar interesse e respeito, essenciais para o paciente sentir-se bem.
- Conhecer cuidadosamente a história médica: isso dará consistência às decisões clínicas e permitirá uma
comunicação mais clara. Neste sentido, quem irá revelar as notícias deverá ser o médico responsável pelo caso.
- Ver o paciente como pessoa: é importante que se vá além do conhecimento formal e saber quem é a pessoa a
quem se oferece os cuidados. Nesses momentos questões como: de onde vem esse paciente? Quais são suas motivações?
Seus medos? Projetos? – são importantes para que se possa lidar com outras dificuldades que não somente aquelas
impostas pelo adoecimento. A cuidadosa e respeitosa exploração do paciente em termos de crenças religiosas e sistema
de valores ajudarão a considerar a dimensão global do paciente.
- Preparar o setting: deve-se buscar um lugar com privacidade e conforto, onde não haja possibilidade de
interrupção, e evitar comunicar uma má notícia no corredor. É importante saber se o paciente deseja a presença de
outras pessoas durante a entrevista. Por parte da equipe médica, é recomendável a presença de outro membro da equipe
(outro médico ou enfermeiro familiarizado com o caso) durante a comunicação. A pessoa que for comunicar a má
noticia deverá manter contato visual com o paciente e usar o toque apropriadamente.
- Organizar o tempo: é necessário que se garanta um tempo razoável para preparar o pcte, comunicar a
informação, permitir um breve espaço para reflexão e possibilitar um intercâmbio entre perguntas e respostas
programando, apropriadamente, o seguimento e abordando os procedimentos terapêuticos por fazer.
- Aspectos específicos da comunicação: é importante compreender o pcte, ter uma expressão neutra e, em
seguida, informar as notícias de maneira clara. Usar tom de voz suave, pausado e linguagem sincera. O profissional
deverá assegurar-se que o paciente tenha compreendido a mensagem com clareza. Para checar o grau de compreensão
do paciente, é aconselhável que o profissional peça ao mesmo que conte as informações com suas próprias palavras.
Mesmo que uma cura não seja realista, oferecer esperança e encorajamento sobre quais opções estão disponíveis.
- Reconhecer o que e o quanto o paciente quer saber: há discordância entre o que o profissional quer dizer e o
que o pcte quer saber. Perguntar ao paciente o que ele quer saber dará a oportunidade deste colocar sua vontade. Se o
paciente mostrar que não quer falar sobre a informação, devemos deixar a porta aberta para falar em outra hora.
- Encorajar e validar as emoções: é importante que o profissional verifique continuamente com o pcte como ele
se sente, não antecipando a reação emocional do mesmo. Oferecer períodos de silêncio permite que os pacientes
processem a má notícia e ventilem emoções.
- Atenção e cuidado com a família: face à comunicação de uma má noticia, o profissional deverá ficar atento à
situação familiar do pcte e levar em conta as necessidades particulares da família em função de seus antecedentes
culturais e religiosos. A presença de um membro da família geralmente serve de apoio e suporte para o paciente.
- Planejar o futuro e o seguimento: Após ter recebido a má notícia, um paciente pode experimentar sentimentos
de isolamento e incerteza. O profissional pode minimizar a ansiedade do paciente resumindo as áreas discutidas,
verificando se houve a compreensão e formulando um planejamento ou “próximos passos” com o paciente.
- Trabalhar os próprios sentimentos: estar consciente das próprias reações, preocupações e sentimentos é
extremamente importante p/ que o profissional possa manter uma boa relação com o paciente. Por essa razão é
recomendável que depois da comunicação de uma má noticia, o profissional reserve um tempo para revisar as próprias
reações - reconhecê-las permitirá uma sensibilidade maior e melhor habilidade clinica de comunicação.
O importante é que os médicos falem a verdade, usando uma linguagem simples. Dizer a verdade não é sinônimo
de relato brutal e frio. A verdade deve ser dita com sinceridade e compaixão. Uma verdade amparada pela caridade e
esperança. Deve ser narrada de forma gradual e nunca como um golpe abrupto e violento.
É necessário que os profissionais recebam treinamento p/ adquirir habilidades p/ realizar a comunicação eficiente
de más notícias. O treinamento durante a formação médica, por exemplo, têm demonstrado bons resultados.
As evidências mostram que a atitude do profissional e a capacidade de comunicação desempenham um papel
fundamental e decisivo no modo que o paciente enfrentará seu problema.
PROTOCOLO SPIKES
- Acrônimo que preconiza seis etapas a serem seguidas para facilitar o momento de transmissão da má notícia.
ETAPA 1: Planejando a entrevista (S – Setting up the interview)
- Preparação do ambiente que deve ser privado e acolhedor.
- Busque privacidade, envolva os familiares durante a comunicação, caso o pcte deseje.
- Sente-se, mantenha o contato visual, toque no braço do paciente ou segure sua mão.
Etapa 2: Avaliando a percepção do paciente sobre seu diagnóstico e prognóstico (P – Perception)
Antes de discutir achados médicos, o médico usa perguntas abertas p/ saber como o pcte percebe a situação
médica. “O que já lhe foi dito sobre seu quadro clínico até agora?” Baseado nessas informações, poderá corrigir
desinformações e moldar a má notícia para a compreensão do paciente.
ETAPA 3: Obtendo o convite do paciente (I – Invitation)
- Avalia o quanto o indivíduo deseja saber sobre seu diagnóstico e prognóstico e avalia sua capacidade e preparo
emocional para receber tais informações.
Enquanto uma maioria de pacientes expressa o desejo de ter plenas informações sobre seu diagnóstico,
prognóstico e detalhes de sua doença, alguns outros não o fazem. Pode-se perguntar ao pcte: “Como você gostaria que
eu te informasse sobre os resultados dos exames? Você gostaria de ter toda a informação ou apenas um esboço dos
resultados e passar mais tempo discutindo o plano de tratamento?”.
MODELO DE VRALIJK
1. Transmitir a má notícia imediatamente: etapa em que a notícia deve ser precedida por um breve anúncio, sendo
então comunicada de forma tranquila, clara e compreensiva, seguida por um momento de pausa para dar ao
paciente a oportunidade de uma reação inicial
2. Responder às reações: fase que tem o objetivo de oferecer espaço ao paciente para reagir e responder a essas
reações emocionais de modo apropriado, parafraseando o conteúdo da fala e refletindo os sentimentos expostos
3. Procurar soluções e aconselhar: momento de traçar um plano conjunto e resumir o que foi decidido, garantindo
também a chance de responder perguntas que possam aparecer posteriormente, dar conforto e esperança.
Referências
1. Direito Médico, Genival Veloso França, 2014
2. Morte Encefálica: conceitos essenciais, diagnóstico e atualização – Eric Grossi Morato, 2009, RMMG
3. Entenda a doação de órgãos, Associação Brasileira de Transplante de órgãos, 2002
4. O preparo do médico e a comunicação com familiares sobre a morte, Alberto Júnior, Rolim e Morrone, 2005,
Revista de Associação Médica Brasileira.
5. Como comunicar más notícias: revisão bibliográfica, Victorino, et al, 2007, Revista SBPH.
6. Habilidade de comunicação da má notícia: O estudante de medicina está preparado? Luis Lopes, Rv.Bras.
Educação médica, 2017.
8. Resolução do CFM 2.173/2017 Sobre morte encefálica / 9. Decreto 9.175/2017 Sobre doação de órgãos.
Eutanásia (“boa morte, morte piedosa, benéfica, fácil, doce, sem dor”): provocação intencional da morte, por
ação ou omissão, a determinada pessoa que sofre de enfermidade degradante e incurável, visando privá-la dos suplícios
decorrentes da doença.
2. Voluntária: o pcte pede, implora e até mesmo suplica por sua morte. Solicitada por aquele que sofre, tem sido
descrita c/ suicídio assistido ou homicídio por requisição. O suicídio assistido é praticado pelo próprio pcte!
- Involuntária: decisão da sociedade, médico ou um indivíduo em pôr fim à vida daquele que sofre, sem que este
exprima sua vontade. Ex.: crianças com grave deficiência mental ou das pessoas dementes e inconscientes.
3. Indireta: a ação produz a morte, mas a intenção daquele que age não é a supressão da vida. Ex.: a
superdosagem de narcóticos p/ alívio da dor em pacientes com câncer terminal.
Distanásia: o oposto da eutanásia; é a idéia de manter a vida a qualquer custo, mesmo que a pessoa tratada
padeça em agonia e rejeite o prolongamento da própria vida. Há alto custo financeiro, social e psicológico para todas as
partes envolvidas (paciente, familiares e profissionais de saúde). Tratamento insisitente, desnecessário e prolongado de
um pct terminal.
Continuar um tratamento considerado fútil é contra todos os princípios fundamentais da ética medica:
contra a beneficência, pois não provê nenhum beneficio ao paciente; contra a não-maleficência, pois pode causar
sofrimento e prejuízo; contra a justiça, pois exige custos, tempo e energia que poderiam ser mais bem usadas em outros
pacientes; e ate mesmo contra a autonomia, pois ninguém quer receber uma terapia fútil que simplesmente prolonga por
horas ou dias a morte em estado vegetativo.
Ortotanásia (“morte correta”, “morte natural”): a morte se dá sem a interferência ativa de nenhum agente, sem
um prolongamento artificial executado pelo equipe de saúde, seguindo seu curso natural. EVITA A DISTANÁSIA.
Suspensão dos meios artificiais de manutenção da vida. Não promover o adiamento da morte, sem, entretanto,
provocá-la.
=> Pctes oncológicos terminais que “vão morrer em casa”.
Deve ser realizada! *Com consentimento do pcte, cônjuge ou parente. Projeito de lei aprovado em 12/2009.
Também chamada de “eutanásia por omissão”. Mas diferentemente da eutanásia, a ortotanásia é sensível ao
processo de humanização e alívio das dores, e não incorre em prolongamentos com risco de sofrimento adicional.
HÁ O DIREITO DE MORRER?
PRÓS: uma pessoa tem, ou deveria ter, o direito de decidir sobre o sofrimento que ela está preparada p/ aceitar e,
quando esse limiar for atingido, se ela tem o "direito de morrer", p/ por fim ao sofrimento. Assume o interesse
individual acima do da sociedade que, nas suas leis e códigos, visa proteger a vida. A eutanásia não defende a morte,
mas a escolha pela mesma por parte de quem a concebe como melhor opção ou a única.
“Direito de morrer” = direito do paciente de não ser submetido a terapias inapropriadas e o de receber
medicamentos para aliviar a dor, mesmo sob o risco de abreviação da vida.
*Constituição Federal: Art 1º = direito à vida e dignidade da pessoa humana; Art 5º = ninguém será submetido à
tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
O direito à vida deve ser entendido como um direito absolutamente indisponível, a ser tutelado pelo Estado até
contra a vontade do indivíduo!
*Código Penal: Art. 121= Matar alguém. Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Art. 122 = Induzir ou instigar
alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
consuma, ou reclusão de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
*Código Civil: ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de morte, a tto médico ou intervenção
cirúrgica.
* Código de Ética Médica diz que:
- São deveres fundamentais do médico: “guardar absoluto respeito pela vida humana, jamais usando seus
conhecimentos técnicos ou científicos para sofrimentos ou extermínio do homem”.
“Não pode o médico, seja qual for a circunstância, praticar atos que afetem a saúde ou a resistência física ou
mental do ser humano, salvo quando se tratar de indicações estritamente terapêuticas ou profiláticas em benefício do
próprio paciente”.
- “O médico tem o dever de informar o doente quanto ao diagnóstico, prognóstico e objetivos do tto, salvo se as
informações que puderem causar-lhes dano, devendo ele, neste caso, prestá-los a família ou aos responsáveis”.
- “Não é permitido ao médico abandonar o tto do doente, mesmo em casos crônicos ou incuráveis, salvo por
motivos relevantes”.
A eutanásia é crime, homicídio doloso (há intenção de matar), que pode chegar à condição de homicídio
privilegiado (quase todos os casos), um crime que, por sua relevância moral e social, enseja uma atenuação da pena,
mas que ainda persiste como um crime grave. O indivíduo recebe uma pena menor, de 1/6 a 1/3 da pena.
O Código penal descreve de forma análoga duas condutas da qual o indivíduo que praticar a eutanásia poderá ser
enquadrado: forma ativa e a forma passiva.
Crime de homicídio =>pena de prisão de 12 a 30 anos de reclusão.
Crime por “auxílio ao suicídio” => pena de prisão de 2 a 6 anos.
A eutanásia passiva encontra-se tipificada no Código Penal Brasileiro em seu art. 135, que prevê:
"Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco, à criança abandonada ou extraviada,
ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e eminente perigo; ou não pedir, nesses casos socorro da
autoridade pública: DIFERENTE DE ORTOTANÁSIA!
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. (3x se resulta em morte)
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se da omissão resultar lesão corporal de natureza grave, e
triplica, se resulta a morte”.
ATENÇÃO! Tanto do ponto de vista civil quanto penal, é indiferente que o pcte tenha dado seu
consentimento, ainda que assinado! O consentimento não desconsidera a conduta como crime.
Influência cristã: a maioria dos países extremamente conservadores tem fortíssimas influências cristãs, doutrina
que prega aos homens o dever de suportar suas aflições, não importando a severidade das mesmas, como provação para
herdar o “reino dos céus”. O suicídio é considerado a heresia mais grave contra a divindade.
A igreja católica mantém uma posição radicalmente contra a prática da eutanásia, alegando principalmente que “a
Deus foi dado o dom dar a vida e somente a ele caberá tira - lá”.
Na antigüidade greco-romana, o direito de morrer era reconhecido, o que permitia aos doentes
desesperançados pôr um fim às suas vidas. Tais práticas acabaram com o surgimento do cristianismo, que introduziu a
noção de sacralidade da vida, como um dom de Deus a ser preservado e cultivado.
Até o século XVII, eutanásia se referia aos meios para se alcançar a morte boa ou a morte fácil, como, por
exemplo, cultivar uma vida sóbria e de temperança, ou pela aceitação da própria mortalidade. Em 1605, com Francis
Bacon, a eutanásia passa a se integrar aos domínios da medicina com a conotação de aliviar o sofrimento de doentes
terminais, até apressando a sua morte, se preciso fosse.
Paradoxalmente, Bacon se inspirava nos conceitos humanísticos e cristãos de bem-estar e dignidade do ser
humano para defender a longevidade, livre de enfermidades e da senectude, como o mais nobre propósito da medicina e
a morte livre da dor e do sofrimento, como objeto das habilidades médicas.
O perfil do Brasil: apesar de não haver diferenças éticas, morais e legais entre suspender e não introduzir novas
medidas terapêuticas, a segunda atitude e mais freqüente, pois geralmente se prefere omissões a ações.
Não há, no Brasil a tradição de documentar a ordem de não reanimar como existe em outros países, mas foi
demonstrado que a não adoção de medidas de RCP frente ao evento terminal PCR é a forma mais comum de
limitação terapêutica. É comum o registro inverídico de medidas de RCP em pacientes que não foram reanimados.
Além disso: retirada dos métodos dialíticos, hemoderivados, fármacos vasopressores, antibioticoterapia e
nutrição parenteral total.
Os métodos terapêuticos que podem causar desconforto ou sofrimento, como sedação e analgesia, raramente
são omitidos ou retirados. A ventilação mecânica embora algumas vezes seja omitida, raramente é retirada,
possivelmente por abreviar mais rapidamente o processo de morte.
ATENÇÃO!! Deve-se salientar a importância de documentar estas decisões nos prontuários dos pacientes.
Estudos demonstraram as deficiências encontradas na documentação pelos médicos dos cuidados relativos ao fim
da vida, inclusive sugerindo a utilização de formulários específicos para esta situação, com o intuito de facilitar o
registro destes dados no prontuário.
Referências
- Revista Investidura: O direito de morrer: eutanásia, ortotanásia e distanásia no direito comparado, 2012
- Eutanásia: Direito de se fazer cessar um sofrimento; Paulo Ricardo da Conceição Alves; 2009
- Eutanásia: problemas éticos da morte e do morrer; Márcio Palis Horta.
- O que é o paciente terminal? Revista da Associação Médica Brasileira, 2001.
- Condutas de limitação terapêutica em pacientes internados em UTI, Rev Brasileira de Terapia Intensiva, 2007.
- Breves considerações sobre a Eutanásia e Distanásia, e o respeito a princípio da dignidade no momento da morte
Faculdade Editora Nacional, 2008.
- Direito Médico, Genival França, 2014.
Prontuário (promptuariu = “ lugar onde se guarda aquilo que deve estar à mão”, “despensa, armário”) é
um conjunto de documentos médicos padronizados e ordenados, destinados aos registros dos cuidados profissionais
prestados ao pct pelos serviços de saúde pública ou privado.
Responsáveis pelo prontuário: médico/instituição assistente e demais profissionais que compartilham do
atendimento.
A expressão “prontuário médico” é ambígua: parece que o prontuário é do médico ou é usado só por médicos,
podendo desencorajar profissionais não-médicos de aí fazer suas observações.
Os dados do prontuário pertencem ao paciente e à instituição que o assiste.
Funções:
- Em intercorrências que exijam intervenção de plantonistas, que ficarão cientes da evolução do quadro.
- Forma de ligação e de comunicação entre os setores assistenciais.
- Atendimento e tto mais rápido e eficiente.
- Simplifica ou dispensa interrogatórios e exames complementares já realizados, com redução do custo de
atendimento e do tempo de permanência hospitalar.
- Facilita o trabalho na elaboração da diagnóstico e instituição do tto.
- P/ o médico, é defesa legal como provas em processos nos CRM e tribunais de Justiça. É o documento de maior
valor jurídico para defesa ou acusação. Nos processos contra médicos, o acusador, geralmente o paciente, deverá
comprovar que o médico agiu com imprudência, negligência ou imperícia. Podem colher as provas que negam a
responsabilidade do médico sobre o fato em casos de registros omitidos ou irregulares, o médico pode perder a
possibilidade de comprovação de seus atos. Nesse caso, as alegações do paciente passam a ter mais validade judicial que
a memória do médico.
Quando requisitado judicialmente, o prontuário será disponibilizado ao perito médico nomeado pelo juiz.
- Possibilita ao médico-legista a emissão de pareceres periciais com mais segurança.
- Demonstra o padrão de atendimento oferecido, pela análise dos resultados.
- Ferramenta essencial em sindicâncias administrativas, éticas, judiciais e processos nos conselhos de classe.
- Fornece dados estatísticos p/ o médico e instituição, além de possibilitar investigações epidemiológicas de
interesse para a comunidade, ensino e pesquisa.
- Permite formar indicadores sobre mortalidade, morbidade, prevalência e incidência de morbidades.
- Dá elementos p/ auditorias concernentes a seguros de saúde, cooperativas médicas, medicina de grupo,
entidades convenentes de assistência médica.
- Para a equipe assistencial, permite mais interação entre os profissionais que acompanham o paciente por ser
instrumento de comunicação.
É importante e obrigatório haver nas instituições de assistência à saúde uma Comissão de Revisão de
Prontuário, p/ garantir a qualidade e ética das informações registradas no atendimento. Pode ser composta de médicos e
não-médicos pertencentes ao estabelecimento. Cabe a essa comissão:
- Verificar identificação do paciente, endereço, nome completo, data do nascimento, sexo, nome da mãe, etc.
- Avaliar anamnese, exame físico, HD, resultados de exames, diagnóstico definitivo, tto, prescrições, etc.
- Conferir anotações diárias sobre evolução do pcte, procedimentos realizados, profissionais que os realizaram.
- Verificar a legibilidade da letra dos profissionais nas anotações, assim como assinatura e CRM.
- Conferir se os prontuários de consultas ambulatoriais foram preenchidos e se o número confere com o de
consultas agendadas.
- Orientar a ordenação dos formulários, fichas e páginas no prontuário
- Orientar (e não, fiscalizar) a atuação dos profissionais!
- Convocar profissionais para esclarecimentos sobre seus registros no prontuário.
É necessário estabelecer um Serviço de Prontuário, que irá assessorar a comissão de prontuário e guardar sigilo.
É composto por:
(1) Setor de Registro: elaboração inicial do prontuário com a tomada de dados de identificação do paciente no
seu preparo para a 1ª consulta. A instituição pode exigir a apresentação de documentos p/ abertura do prontuário
(identidade, CPF etc). O pcte recebe um nº de registro que será dado ao prontuário e demais fichas e requisições.
(2) Setor de Documentação: análise dos componentes do prontuário, para que este se torne completo e assegure
que esteja de acordo com os padrões estabelecidos pela administração e comissão de prontuário.
(3) Setor de Arquivamento: responsável por preservação do prontuário, controle de entrada e saída deste,
conferição e ordenamento dos formulários. Importante p/ segurança, conhecimento, pesquisas.
O estabelecimento é o proprietário dos prontuários, devendo prover a disponibilidade das informações quando
forem objeto de necessidade de ordem médica, social, administrativa, jurídica e do próprio paciente.
Os prontuários de consultórios particulares ficarão sob os cuidados do médico responsável em arquivo
particular. Em caso de seu falecimento e de não haver herdeiro profissional, esses documentos serão incinerados por
pessoa que conviveu diariamente com o facultativo – secretária ou pessoa da família.
Pesquisas em prontuários: o setor de arquivo deve funcionar 24 horas/dia, em local silencioso, bem
iluminado, com funcionários p/ o controle de fornecimento, guarda e registro de movimentação dos prontuários
utilizados.
É infração grave retirar prontuários do arquivo e não devolvê-los por perda ou estragos. O médico será
responsabilizado eticamente como negligente.
Por quanto tempo? os documentos de papel devem ser arquivados por pelo menos 20 anos, a partir da data do
último registro. Nos casos de hospitais-maternidade, os prontuários de parto serão arquivados por 18 anos.
ATENÇÃO! Pelo Código Civil => 3 anos.
Findo o prazo, poderá ser substituído por outros métodos de registro que possam restaurar as informações nele
contidas => arquivados eletronicamente em meio óptico, magnético ou microfilmado p/ manutenção permanente. A
microfilmagem (“arquivo paralelo”) dificulta pesquisas, mas dura cerca de cem anos e pode ser refilmada. Tendo em
vista o valor dos prontuários p/ o ensino e pesquisa, sua extinção é crime e configura perda patrimonial irrecuperável.
Obs: As anotações no prontuário ou ficha clínica devem ser feitas de forma legível, permitindo, inclusive,
identificar os profissionais de saúde envolvidos no cuidado à mulher. Além disso, o médico está obrigado a assinar e
carimbar ou, então, assinar, escrever seu nome legível e sua respectiva inscrição no CRM. É importante enfatizar que
não há lei que obrigue o uso do carimbo. Nesse caso, o nome do médico e seu respectivo CRM devem estar legíveis.
Acesso ao prontuário:
Artigo 70 do CEM: "É vedado ao médico negar ao paciente acesso a seu prontuário médico, ficha clínica ou
similar, bem como deixar de dar explicações necessárias a sua compreensão, salvo quando ocasionar riscos para o
paciente ou para terceiros."
O médico fornecerá cópia do prontuário se solicitada pelo pcte ou representante legal, que poderão apenas ter
cópias do documento (em qualquer caso, o prontuário original, na sua totalidade ou em partes, não deve ser fornecido
aos solicitantes, pois é documento que, obrigatoriamente, precisa ser arquivado pela entidade que o elaborou). O
representante legal só existe em referência àqueles civilmente incapazes: menores de 16 anos; problemas mentais;
surdos-mudos que não puderem expressar sua vontade.
Doentes com distúrbios mentais têm direito ao acesso a seu prontuário, mas esse direito tem restrições, a critério
médico, para evitar danos sérios ao próprio paciente ou resguardar a segurança de outros. Por meio de requerimento ou
de recurso similar devidamente assinado, o paciente pode solicitar e obter cópia de seu prontuário e fazer dela o uso que
julgar conveniente.
Solicitação por outras entidades: é vedado ao médico fornecer acesso ao prontuário a convênios médicos e as
companhias de seguro, salvo com autorização expressa do paciente
Paciente falecido: com o óbito do paciente, o conteúdo do prontuário só será revelado por justa causa ou dever
legal; se a requisição for feita por representante legal (pcte incapaz); ou se o pcte deixou expressa sua vontade?.
Atendimento sem prontuário: transgride o CEM e pode criar processo ético-profissional.
Acadêmicos de medicina: devem receber instruções sobre a elaboração do prontuário sob supervisão de seus
orientadores tão logo tenham contato com o enfermo. É recomendável que o médico orientador também assine as
anotações feitas no prontuário por estudantes como comprovação de sua assistência prestada ao doente e ao estudante, o
que lhe será fundamental em casos de pendências judiciais e éticas.
Obs: O acesso ao prontuário pela figura do médico auditor enquadra-se no princípio do dever legal, já que tem ele
atribuições de peritagem sobre a cobrança dos serviços prestados pela entidade, cabendo ao mesmo opinar pela
regularidade dos procedimentos efetuados e cobrados, tendo, inclusive, o direito de examinar a paciente, para confrontar
o descrito no prontuário. Todavia, esse acesso sempre deverá ocorrer dentro das dependências da instituição de
assistência à saúde responsável por sua posse e guarda, não podendo a instituição ser obrigada, a qualquer título, a
enviar os prontuários aos seus contratantes públicos ou privados (Resolução CFM nº 1614/01).
Referências:
1 - Prontuário médico do paciente - Guia para uso prático, CRM-DF, 2006.
2 – Resoluções – CFM.
3 – Documentos médicos, Leonardo da Silva Fabbro, 2010.
4 – Prontuário do pcte: o papel na defesa profissional do médico, Rev Soc Cardiol, 2005.
5 - Aspectos Éticos e de Segurança do PEP, II Jornada do Conhecimento e da Tecnologia.
6- Prontuário médico e prontuário eletrônico - Cremesp 2013
Lei nº 3.268/57: “Todo aquele que mediante anúncios, placas, cartões ou outros meios quaisquer se propuser ao
exercício da medicina, em qualquer dos ramos ou especialidades, fica sujeito às penalidades aplicáveis ao exercício
ilegal da profissão, se não estiver devidamente registrado”.
Numa sociedade consumista, na qual valores, infelizmente, se diluem, a medicina deve atuar como guardiã de
princípios e valores, impedindo que os excessos do sensacionalismo, da autopromoção e da mercantilização do ato
médico comprometam a própria existência daqueles que dele dependem. Nesse sentido foram estabelecidas duas
Resoluções pelo CFM, nº 1.974/11 e nº 2.126/15, que delineiam claramente o que pode e o que não pode ser feito na
área de publicidade médica, estabelecendo a zona proibida do sensacionalismo, da autopromoção e da concorrência
desleal.
Em momento algum se procurou censurar ou cercear o direito do médico, mas sim estabelecer parâmetros que, se
observados, fortalece a ética no exercício profissional, bem como possibilita à sociedade e aos médicos instrumentos
que evitem abusos e assegurem a qualidade da assistência.
Em outras palavras: O médico tem o direito de anunciar ou fazer publicidade, porém de maneira sóbria, discreta e
comedida (prudente,moderada).
É vedado o anúncio de pós-graduação para a capacitação pedagógica em especialidades médicas, exceto quando
estiver relacionado à especialidade e área de atuação registrada no Conselho de Medicina (a residência médica e a prova
de títulos da AMB são as únicas formas de reconhecimento, pelo CFM, para fins de registro em especialidade).
Se especialista, pode-se anunciar que cuida dos sistemas, órgãos e doenças relacionados à especialidade (p.e,
dizer “Médico do coração”, em vez de cardiologista).
Obs: As mídias sociais dos médicos (blogs, Facebook, Twiter, Instagram, YouTube, WhatsApp e similares)
e dos estabelecimentos assistenciais em Medicina deverão obedecer à lei, às resoluções normativas e ao Manual da
Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame).
- É vedada a publicação nas mídias sociais de autorretrato (selfie), imagens e/ou áudios que caracterizem
sensacionalismo, autopromoção ou concorrência desleal.
- É vedado ao médico e aos estabelecimentos de assistência médica a publicação de imagens do “antes e
depois” de procedimentos, que deverão ser investigada pelos Conselhos Regionais de Medicina.
Obs: As facilidades da tecnologia, que proporcionam acesso ao atendimento à Saúde por meio de telefone,
aplicativos para dispositivos móveis (celular ou tablet) ou mesmo site, aparentemente, têm favorecido o retorno da
Medicina domiciliar. A dificuldade no acesso rápido, ao serviço público ou à saúde suplementar, está levando os
pacientes a aderir a esse tipo de atendimento.
A ideia de disponibilizar, quase imediatamente, cuidados médicos na tranquilidade e conforto do lar é uma
modalidade que está voltando ao gosto dos pacientes em diversas cidades; e os médicos e empreendedores enxergaram
nesse formato um nicho de mercado em potencial. Pacientes, especialmente crianças, idosos e pessoas com alguma
dificuldade de locomoção, por exemplo, se beneficiam da praticidade e rapidez do serviço, que pode ser agendado para
o mesmo dia. Para o médico, há a comodidade de economizar nas despesas com consultório e em todos os custos que
dele decorrem.
Existem no mercado bra-sileiro diversas plataformas digitais que colocam os pacientes em contato direto com os
médicos por meio de aplicativos para os sistemas operacionais Android e iOS de celular e tablet ou mesmo de sites. O
paciente efetua o cadastro, registrando sua localização, e opta pelo prestador de serviço de acordo com a especialidade
desejada. Desta forma, o médico especialista escolhido — que também já selecionou previamente a região onde quer
atuar — se locomove até a residência do usuário.
Resolução CFM nº 2.178/2017:Regulamenta o funcionamento de aplicativos que oferecem consulta médica
em domicílio.
O CRM entende que o atendimento domiciliar por meio de aplicativos é um ato exclusivo dos médicos, isso inclui
elaborar prontuários (em meio físico ou digital) e preservar o sigilo profissional. Os profissionais registrados neste
Conselho devem agir dentro de parâmetros éticos e seguir algumas recomendações:
- O atendimento tem que ser presencial, e nunca a distância.
- O médico tem que ser registrado no CRM e aquele que anunciar a especialidade tem que ter o registro dela neste
Conselho, que é o órgão responsável pela fiscalização dos profissionais médicos.
Dessa forma os pacientes poderão realizar pesquisa sobre o cadastro do profissional, diretamente no site do CRM, o que
permite resguardar e proteger a boa prática médica .
- O valor da consulta tem que ser estabelecido pelo próprio médico dentro de parâmetros aceitáveis e éticos.
De acordo com o artigo 58 do Código de Ética Médica, “é vedado ao médico o exercício mercantilista da Medicina”. E,
conforme a Resolução CFM 1.836/2008, “é vedado ao médico vínculo de qualquer natureza com empresas que
anunciem e/ou comercializem planos de financiamento ou consórcios para procedimentos médicos”. E que “cabe ao
médico, após os procedimentos de diagnóstico e indicação terapêutica, estabelecer o valor e modo de cobrança de seus
honorários, observando o contido no Código de Ética Médica, referente à remuneração profissional”.
- Os aplicativos não podem fornecer concorrência desleal.
Pelas normas, é proibido divulgar valores das consultas ou procedimentos médicos em anúncios promocionais, o que
pode ser caracterizado como forma desleal de angariar clientela ou concorrência desleal. Os preços devem ser
disponibilizados apenas no perfil do médico para que o interessado na contratação, ao abrir a ficha, saiba quanto pagará,
concordando, ou não, antes do atendimento. Da mesma forma, o CFM determinou que o aplicativo não divulgue ou
promova o ranqueamento dos médicos prestadores de serviço, o que promove a comercialização da prática profissional.
- Todos os médicos registrados no CRM têm direito de se cadastrar nos aplicativos.
- Cabe aos médicos a responsabilidade de observar a legalidade da instituição com a qual mantém relacionamento
profissional.
- o CFM ressalta ainda a necessidade de o médico assinar um contrato com a empresa detentora do aplicativo,
contendo os termos para a prestação do serviço. O profissional também deve exigir a definição clara de valores
do serviço. Ao diretor-técnico caberá garantir que o médico receba a remuneração acordada.
A indicação do diretor-técnico médico é imprescindível, na avaliação do Plenário do CFM, pois é esse profissional que
responderá, em última instância, pela qualidade do atendimento. Ou seja, caberá a ele, por exemplo, assegurar que todo
médico anunciado pela plataforma seja inscrito no CRM e que observe o cumprimento dos critérios para o exercício
ético da medicina, com base em parâmetros de competência, excelência, autonomia, sigilo e respeito.
Atualmente há três aplicativos nacionais (Docway, Docpad, Beep Saúde) que oferecem esse serviço. De forma
geral, são oferecidos aos pacientes interessados médicos em mais de 50 especialidades, sendo as mais solicitadas: clínica
médica, pediatria, clínica geral e medicina de família e comunidade. O preço médio da consulta é de R$ 200, dos quais a
empresa fica com um percentual definido em contrato.
Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) dos CRM possui 3 membros e tem como finalidade:
- Responder a respeito de publicidade de assuntos médicos.
- Convocar os médicos p/ esclarecimentos quando tomar conhecimento de descumprimento das normas éticas
regulamentadoras, devendo orientar a suspensão do anúncio.
- Propor instauração de sindicância nos casos de inequívoco potencial de infração ao Código de Ética Médica;
- Rastrear anúncios divulgados em qualquer mídia, inclusive na internet.
- Providenciar p/ que a matéria relativa a assunto médico, divulgado pela imprensa leiga, não ultrapasse, em sua
tramitação na comissão, o prazo de 60 dias.
Nos anúncios de clínicas, hospitais e outras instituições de saúde deverão constar o nome do diretor técnico
médico e seu CRM.
O médico pode, utilizando qualquer meio de divulgação leiga, prestar informações, dar entrevistas e publicar
artigos sobre assuntos médicos de fins estritamente educativos.
O médico deve evitar sua autopromoção e sensacionalismo, preservando, sempre, o decoro da profissão.
Autopromoção é a utilização de entrevistas e informações ao público com intenção de atrair clientela, fazer
concorrência desleal, pleitear exclusividade de métodos diagnósticos e terapêuticos, permitir a divulgação de endereço e
telefone de consultório, clínica ou serviço.
Sensacionalismo: é a divulgação feita de maneira exagerada e fugindo de conceitos técnicos, para individualizar
e priorizar sua atuação ou a instituição onde atua.
- Utilização da mídia para divulgar métodos e meios que não tenham reconhecimento científico.
- Adulteração de dados estatísticos visando beneficiar-se individualmente.
- Apresentação, em público, de técnicas e métodos científicos que devem limitar-se ao ambiente médico.
- Veiculação pública de informações que possam causar intranqüilidade, pânico ou medo à sociedade. O médico
deve transmitir às autoridades competentes e aos CRM as razões de sua preocupação. Esse comunicado deve ser
protocolado em caráter de urgência, para que sejam tomadas as devidas providências.
- Usar de forma enganosa/sedutora representações visuais e informações que induzam a promessas de resultados.
Emissão de documentos médicos: de modo impessoal e verídico, preservando o segredo médico. Poderão ser
divulgados por intermédio do CRM quando o médico achar conveniente. Em caso de pctes internados, deverão ser
assinados pelo médico assistente e subscritos pelo diretor técnico.
O médico não deve permitir que seu nome seja incluído em concursos, cuja como o “médico do ano”, “destaque”,
“melhor médico” ou outras denominações que visam ao objetivo promocional ou de propaganda, individual ou coletivo.
As homenagens acadêmicas e aquelas oferecidas por entidades médicas e instituições públicas são permitidas.
Artigo 116 CEM: o médico está impedido de participar de anúncios de empresas comerciais de qualquer
natureza, valendo-se de sua profissão.
Resolução CFM 2002: é antiética a participação de médicos como proprietários, sócios, dirigentes ou consultores
dos chamados Cartões de Descontos.
* É vedada a vinculação com estabelecimentos de estética, salões ou institutos de beleza.
Especialidades que mais recebem queixa quanto à publicidade: cirurgia plástica, dermatologia, oftalmologia.
Nos anúncios veiculados pela mídia impressa (jornais, revistas, boletins) e em peças publicitárias (cartazes,
folders, postais, folhetos, panfletos) devem ser inseridos os dados de identificação do médico ou do diretor técnico (se
estabelecimento/serviço de saúde) de forma a causar o mesmo impacto visual que as demais informações.
Emissoras de rádio, TV e internet: a empresa responsável deve disponibilizar as informações pertinentes ao
médico, devendo ser pronunciada pelo personagem/locutor principal, pausada e perfeitamente audível.
Ao conceder entrevistas, repassar informações ou participar de eventos públicos, o médico deve anunciar
possíveis conflitos de interesse que, porventura, possam comprometer o entendimento de suas colocações.
Amostras-grátis: distribuição somente por empresas a médicos em ambulatórios, hospitais, consultórios médicos
e odontológicos. É vedado distribuição de amostras grátis de vacinas e medicamentos isentos de prescrição.
Devem ter 50% do conteúdo da apresentação original, exceto dos antibióticos, anticoncepcionais e medicamentos
de uso contínuo, que deverão ter a quantidade de 100% do conteúdo da apresentação.
Em eventos científicos, pode ser distribuído aos profissionais não-prescritores e acadêmicos material científico
contendo o nome comercial do medicamento, a substância ativa e o nome da empresa.
Qualquer apoio ou patrocínio, total ou parcial, aos profissionais de saúde para participação em eventos científicos,
nacionais ou internacionais, não deve estar condicionado à prescrição, dispensação e/ou propaganda ou publicidade de
algum tipo de medicamento. Os palestrantes que estabeleçam relações com laboratórios farmacêuticos ou tenham
qualquer outro interesse financeiro devem informar potencial conflito de interesses aos organizadores dos congressos.
Referências
1. Manual de publicidade médica – 2011 / Resoluções - CFM 2015
2. Ética em Publicidade Médica – CREMESP, 2012
3. Manual de orientação ética e disciplinar - Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos, 2000
4. A dimensão bioética dos conflitos de interesses na relação entre médico e indústria farmacêutica, Ver Brasileira
de Clínica Médica, 2010.
5. Plataformas médicas digitais - Jornal do Cremesp, 2016
6. RESOLUÇÃO CFM nº 2.178/2017
Constituição Federal: É livre o exercício de qualquer trabalho, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer.
CEM: P/ o exercício da medicina, impõe-se inscrição no CRM do respectivo Estado ou DF.
- É proibido aos médicos anunciar exercício de mais de 2 especialidades, ou de especialidade ainda não admitida
pelas sociedades médicas; é vedado ao médico exercer a profissão de Farmácia simultaneamente.
- Todo aquele que mediante anúncios, placas, cartões, se propuser ao exercício da Medicina, sem ser devidamente
registrado, fica sujeito às penalidades aplicáveis ao exercício ilegal da profissão.
Código Penal: Para configurar-se crime, basta apenas o perigo, não exigindo-se lesões ou malefícios.
1) Exercer, ainda que gratuitamente, a profissão de médico, sem autorização legal ou excedendo-lhes os
limites: Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. Se o crime também tem fim de lucro => há também multa.
Ocorre em pelo menos duas situações, conforme os casos denunciados ao Cremesp. Uma delas é quando falsos
médicos utilizam nome e número de CRM e falsificam documentos de médicos legalmente registrados. Em outra
situação, médicos estrangeiros (ou brasileiros formados no exterior) exercem a profissão sem ter cumprido as exigências
legais de revalidação e reconhecimento de diploma estrangeiro pelo MEC. Sem revalidação, não podem obter o registro
profissional no CRM.
Obs: Não se pode considerar infração se a prática é justificada pelo estado de necessidade (risco iminente de
vida).Sendo assim, se um indivíduo, com certa vivência em serviços médico-hospitalares, tentasse salvar um paciente
em iminente perigo de vida, usando de meios médicos, não poderia tal situação ter a característica de crime.
Obs: exemplo de práticas excessivas: “O médico assumir a responsabilidade de tratamento dirigido por quem não
for profissional; firmar atestado de óbito de pessoa que foi tratada por leigo; atestar graciosamente, ou sem haver
examinado o doente; manipular medicamentos, não se tratando de produtos de laboratório, mediante prévia licença, por
serem exigidos os conhecimentos extrafarmacêuticos etc.(...)”
2) Inculcar (recomendar, aconselhar) ou anunciar cura por meio secreto ou infalível (charlatanismo): Pena
– detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
Obs: A expressão é derivada de ciarlare, que significa, em italiano, conversar muito, tagarelar, iludir.
O artigo 283 do Código Penal brasileiro, ao tratar do charlatanismo, vê a espécie delituosa em torno da cura
inculcada ou anunciada, através de meios infalíveis e secretos, de terapêutica simulada, diagnóstico e prognóstico falsos,
bem como de curas sensacionais e extraordinárias. O charlatão quase que atribui a si próprio, e aos seus meios, poderes
realmente miraculosos. O agente desse crime é, na maioria das vezes, o médico que, ao desviar-se dos caminhos
traçados pela ciência hipocrática, envereda por processos de mistificação, fraudulentos e desonestos.
Obs: Crime de perigo abstrato. Privativo do médico! Os médicos despreparados e ultrapassados, que não
acompanham o progresso da ciência, não são infratores, pois a ignorância, atraso e falta de motivação não caracterizam
o dolo. É o charlatanismo inconsciente. Pode ser:
- Estacionário: formou-se, porém deixou de estudar ou de se reciclar;
- Superficial: olha o paciente rapidamente, não examina e logo prescreve qualquer tipo de medicação;
- Sistemático: prescreve a mesma medicação para todos os tipos de males e doenças.
Assim, o charlatanismo é a vontade consciente e livre de anunciar e inculcar meios de tratamento, curas infalíveis,
de maneira secreta. É o conhecimento da fraude e da inverdade que se proclama, mesmo sabendo, de antemão, que essa
prática é falsa e nociva.
- Lei das Contravenções Penais: Exercer profissão ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições que
por lei está subordinado o seu exercício: Pena – prisão simples, de 15 dias e 3 meses, ou multa.
*Inscrição de médico deficiente (visual, físico): se o MEC registrar esse diploma sem nenhuma restrição, cabe
ao CRM cumprir. Se o MEC registrar restrições, sua inscrição deve ser efetivada registrando as limitações na carteira.
*Exame de qualificação ou “de ordem”: suposta finalidade de estabelecer critérios de avaliação, aplicado pelos
CRM como pré-requisito da sua inscrição. Não tem respaldo legal ou ético, pois não é com testes de múltipla escolha
que seria julgada a aptidão p/ o exercício da profissão. A tarefa de julgar a competência profissional é do MEC!
Tal postura é imobilista e simplista, sem qualquer conteúdo pedagógico, negando-se a refletir as causas
determinantes da inadequada formação do médico. É não assumir a implementação de mudanças necessárias e urgentes!
*Suspensão do registro por doença incapacitante: o CEM diz que o médico portador de doença incapacitante,
apurada pelo CRM em procedimento com perícia médica, terá seu registro suspenso enquanto durar sua incapacidade.
Durante a apuração do processo, o médico portador da doença pode indicar um médico como perito, para ter
acesso a todas as peças dos autos, para comprovar sua capacidade (encerrando a suspensão!).
P/ quem tem conhecimento de algum caso de exercício ilegal da medicina: prestar queixa em uma delegacia!
Se por acadêmicos, estuda-se punição p/ o gestor do hospital, o profissional titular do hospital e o aluno que se submeter
ao plantão. Não cabe ao conselho punir os alunos, apenas médicos já formados.
Obs: Resolução 139, o Cremesp definiu que a contratação de médicos deve ser precedida de cuidadosa
verificação da habilitação legal do profissional no Estado de São Paulo, bem como de sua identificação pessoal. Após
suspeita ou constatação de exercício ilegal, compete às instituições e empresas contratantes de médicos, além de
registrar ocorrência policial, comunicar o fato ao Cremesp, instruindo a representação com os documentos de prova ou
de indícios. Os médicos diretores técnicos e diretores clínicos dos estabelecimentos de saúde devem manter atualizados
junto ao Cremesp os cadastros de médicos que trabalham na instituição. Eles podem responder a processo ético no
Cremesp, caso sejam negligentes no momento da contratação de médicos.
RESIDÊNCIA MÉDICA
Modalidade de ensino de pós-graduação, sob a forma de cursos de especialização (53 especialidades!).
Melhor maneira de um estudante completar sua formação! Benefícios: melhor qualidade da formação quanto a
determinada especialidade (que não é contemplada na graduação), facilidade de entrada no mercado de trabalho e
melhor assistência prestada à população.
- As instituições de saúde somente poderão oferecer programas de Residência depois de credenciadas pela
Comissão Nacional de Residência Médica. É vedado o uso da expressão residência médica para designar qualquer
programa de treinamento médico que não tenha sido aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica.
- Assegurada bolsa no valor de R$ 2.384,82, em serviço de 60h/semana. (2011). Dada a inexistência de vínculo
empregatício na relação com a instituição de ensino, não tem direito ao 13º salário.
- É filiado ao Regime Geral de Previdência Social - RGPS como contribuinte individual.
- Tem direito à licença-paternidade de 5 dias ou à licença-maternidade de 120 dias. A residente precisa
cumprir um período de 10 meses antes de ter direito ao salário maternidade. Sendo assim, há 2 situações:
1ª: Período cumprido: durante a licença, a residente terá direito ao salário maternidade, que será pago pela
Previdência. A bolsa será suspensa e só voltará quando retornar às atividades p/ completar a carga horária prevista p/
conclusão do Programa.
2ª: Período não foi cumprido: durante o período da licença, a médica não terá direito ao salário maternidade pago
pela Previdência e nem à bolsa de Residência.
- O tempo de residência médica será prorrogado por prazo equivalente à duração do afastamento do médico-
residente por motivo de saúde ou licença maternidade/paternidade.
- Os programas respeitarão o máximo de 60 horas semanais, com um máximo de 24 horas de plantão.
- Direito a um dia de folga semanal e a 30 dias consecutivos de repouso, por ano de atividade. Os residentes de
um mesmo programa podem tirar férias em períodos diferentes – até mesmo antes de completar 1 ano de atividade.
Contudo, os trinta dias de férias devem ser gozados de uma só vez.
- Descanso obrigatório de 6h p/ o residente que tenha cumprido plantão noturno de 12h. Não é permitido o
acúmulo de horas de descanso para serem usadas depois. (2011)
- O plantão presencial do residente sob supervisão de preceptor capacitado é a única modalidade de plantão
reconhecida pela CNRM. Os plantões de sobreaviso são irregulares! (2010)
- Os programas de Residência compreenderão (mínimo de 10% e máximo de 20% da carga horária) atividades
teórico-práticas, sob a forma de sessões atualizadas, seminários, correlações clínico-patológicas, etc.
- O médico estrangeiro, detentor de visto temporário de qualquer modalidade, não pode cursar Residência
Médica no Brasil. Os “Programas de Capacitação Profissional para Médicos Estrangeiros” estabelecem critérios para
que os médicos estrangeiros possam cursar especialidades no Brasil, com características similares às da Residência.
- Cursos de especialização médica => não têm validação ou equivalência ao título de residência. A estes
profissionais são negadas as vantagens de obter o registro de especialista automaticamente após a conclusão do curso
junto CRM, sendo obrigados à submissão a exame probatório da sociedade de sua respectiva especialidade.
Referências
1 - Código de Ética do Estudante de Medicina – CRM, 2018
2 – Direito Médico – Genival França, 2014 / 3 – Leis e Portarias – Site do MEC
4 – Medicina Legal – Alirio Batista de Souza, 2008 / 6 – Importância da Residência Médica – CFM, 2004
7- Jornal do Cremesp