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MODERNISMO
E DISCURSOS
PÓS-MODERNOS
NO BRASIL
Modernism and Postmodern Discourses in Brazil
Resumo São duas as perguntas que guiam este ensaio. A primeira é: o que significa
ser moderno? Para respondê-la, parto dos debates contemporâneos sobre a moder-
nidade nos contextos europeu e anglo-americano para revelar uma constante forma
de exclusão, uma “abstração seletiva”, que é a não consideração da América Latina e
do Brasil como parte da modernidade. A segunda questão indaga: o que significa ser
moderno no Brasil? Ela nos remete à estética do modernismo e aos discursos pós- AMÓS NASCIMENTO
modernos no Brasil, nos quais também se revela uma grave abstração seletiva: a não Estudos musicais em Buenos
Aires (EMEC), mestrado em
consideração da diversidade cultural brasileira, antes enfatizada pelo modernismo.
ciências sociais e religião
Com base nessa dupla constatação, chamo a atenção para a necessidade de se estabe- pela Umesp, estudos doutorais
lecer novos sentidos de moderno, pós-moderno e seus respectivos generativos, a par- em filosofia na Unicamp e
tir do reconhecimento e eliminação das abstrações seletivas apontadas. na Frankfurt-Universität
asnascim@unimep.br
Palavras-chave MODERNIDADE – MODERNISMO – PÓS-MODERNO – AMÉRICA LA-
TINA – BRASIL – ABSTRAÇÃO SELETIVA.

Abstract There are two general questions guiding this essay. The first is: what does
it mean to be modern? To answer this question, I start with the contemporary de-
bates about modernity in the European and Anglo-American contexts, in order to re-
veal a continuous form of exclusion, a “selective abstraction”, that is the disregard of
Latin America and Brazil as part of modernity. So the second question asks: what
does it mean to be modern in Brazil? This leads us to the aesthetics of modernism and
the post-modern discourses in Brazil, in which we find a new form of selective abs-
traction: they overlook the Braziian cultural diversity, once emphasized by moder-
nism. Based on this double finding, I try to call the attention upon the need to de-
velop new meanings of modern, post-modern and their generatives, based on the re-
cognition and elimination of selective abstractions.

Keywords MODERNITY – MODERNISM – POSTMODERN – LATIN AMERICA – BRA-


ZIL – SELECTIVE ABSTRACTIONS.

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Muita saúva e pouca saúde,


os males do Brasil são.
MÁRIO DE ANDRADE, Macunaíma

D
esde há muito profetizado como tempo de uma nova
odisséia, 2001 talvez seja uma data adequada para um ba-
lanço do que seja a modernidade. Novos tempos podem
ser motivo para questões e reflexões, ainda mais ao se tratar
de década e século novos que anunciam mais um milênio
em alvor. Mas o que são anos, décadas, séculos e milênios?
Marcos temporais relativos, é claro, pois pensaríamos o
tempo de outro modo, caso tomássemos o calendário chi-
nês, judaico, guarani ou juliano. O que há de novo, e o que é passado? Talvez
nada veríamos de novo, senão o eterno retorno do que já se conhece. Quanto
de bom e o que há de males no que o choque do novo traz? Depende da
perspectiva que se toma. Mais além dessa relatividade podemos, porém, re-
fletir sobre essa data e nos servir desse marco contingentemente ocidental, do
qual somos privilegiadas testemunhas, a pretexto de retomar duas questões
pontuais: o que significa ser moderno? o que significa ser moderno no Bra-
sil?
Em resposta a tais indagações proponho, de início, uma breve retros-
pectiva histórica sobre três milênios de modernidade européia, para assim re-
velar o que denomino “abstrações seletivas”. Estas nada mais são do que uma
infundada forma de exclusão, e ocorrem ao se dar maior relevância ontoló-
gica, epistemológica ou lingüística a dados obtidos por mera pressuposição,
enquanto se relega como irrelevante o que temos mais diretamente à mão:
uma experiência sensível que é de antemão excluída. E que há de mal nisso?
O fato de se dedicar grande esforço teórico – inconsciente até – para evitar
as ilusões da percepção por meio de uma abstração, em um processo de isolar
e excluir por antecipação aquilo que não se quer ver. E aqui jaz o problema:
se reconhece desde o início haver algo que não se quer conhecer, fechando-
se sem justificativas ao novo, à diferença e à diversidade.
Antídotos a esse mal de raiz ideológica existem. Um deles á abertura
cultural. Outro é, sem dúvida, uma abertura à dimensão estética, pois a sen-
sibilidade e a acuidade perceptiva com razão ajudam a curar os males das abs-
trações. Eis aqui teses caras ao modernismo, à vanguarda e também aos dis-
cursos pós-modernos que, ao privilegiar a estética, buscam corrigir os exage-
ros da epistemologia moderna. Por isso proponho a retomada de alguns de-
bates sobre a estética no Brasil, seguindo a linha que nos leva do modernismo
à pós-modernidade. Mas não nos iludamos! Também na estética, nos discur-
sos pós-modernos e mesmo no Brasil, ocorrem abstrações seletivas que afe-
tam o sentido das possíveis respostas às duas questões levantadas.

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O QUE SIGNIFICA SER MODERNO? continente moderno por excelência, ao inaugurar


Para responder essa primeira questão, parta- novo projeto político universal, tão criticado no sé-
mos, como indiquei, do contexto europeu, muitas culo XX.2
vezes visto como sinônimo de modernidade. Não A terceira possibilidade de resposta,
porque devamos cair na cilada de absolutizar essa contemporânea ao milênio que se inicia, nos remete
convenção. Mas sim porque a partir de uns poucos a várias pessoas que definem, defendem ou criticam
dados algumas respostas esquemáticas podem ser a “modernidade”. Assim o fazem, tanto à luz da cul-
apresentadas, à guisa de introdução. tura ocidental desses dois milênios – tempo mínimo
Uma primeira acepção do moderno nos re- na história humana – como em vista de uma reali-
mete à linguagem litúrgica e ao tom decididamente dade mutante e plural, marcada por múltiplas lin-
metafísico da clássica indagação das Confissões de guagens e complexas tecnologias. Se Jürgen Haber-
Agostinho: quid est tempus? O tempus modernus, mas e Anthony Giddens sejam talvez mais conhe-
inaugurado pelo advento do cristianismo, nada seria cidos como defensores da modernidade, há em
senão o tempo marcado pela história da salvação, oposição a eles a linha pós-moderna de Jean-Fran-
oposto às religiões dos pagani e à pluralidade de çois Lyotard, de movimentos feministas, pós-colo-
conceitos tradicionais gregos hoje olvidados – niais e representantes de versões variadas de críticas
cr noj , ˙mera , shmeron, kair j , aíon e outros. Mo- a esse legado.3
dernus, o tempo presente impregnado de futuro e O que signifca, então, ser moderno? Para
medido pela unidade básica dos anni domini (A.D.) muitos, é o remeter-se ao lastro cultural europeu,
no Calendarium Gregorianum, foi o marco do pri- privilegiando algum ponto nesses três milênios de
meiro milênio. Tanto que Cassiodoro identificou o história. Essa reconstrução esquemática é ampla, ge-
que lhe era contemporâneo, o século VI, como mo- ral e irrestrita. Pode ser acusada de privilegiar narra-
dernis saeculis, embora muitos nos dias de hoje defi- tivas eurocêntricas em detrimento de outras tantas
nam essa mesma época e seu universalismo missio- possíveis; de pretender cobrir, em três parágrafos,
nário como os séculos das trevas, como Idade Mé- três milênios de modernidade. Leva-nos, porém, ao
dia a ser superada por algo superior.1 âmago da questão a qual me dedicarei: ser moderno
Uma segunda noção, já no segundo milênio, significa ver a modernidade em relação a algo espe-
nos leva à ciência, e não mais à teologia. Também cífico, e implica uma diversidade nem sempre reco-
aqui se denominavam moderni os lógicos e nhecida nos debates atuais sobre o tema, quando
matemáticos que, em oposição aos antiqui, defen- neles se revela uma forma de exclusão, uma abstra-
deram uma nova ratio e a logica modernorum. Pas- ção seletiva. Mencionarei brevemente cinco debates
sando pela Renascença, a Reforma e a Revolução atuais sobre a modernidade e a pós-modernidade,
Científica, esse protesto chegaria a Descartes, cujo nos quais limitações e abstrações podem ser indica-
Discours sur la méthode começa por defender a “aná- das e criticadas, à medida que nos aproximamos
lise dos modernos” contra a “álgebra dos antigos”. mais e mais de questões pertinentes ao contexto
A questão da racionalidade chega também à cultura, brasileiro:
à arte – da ars nova no século XIII à famosa querelle 1. A polêmica entre Jürgen Habermas e Jean-
des anciens et des modernes, com Charles Perrault, François Lyotard ocupa lugar central nas
em 1687 –, à moral e à política, com a substituição discussões sobre a modernidade, e nela se
do latim por novas linguagens nacionais atreladas a apresenta uma primeira abstração, que se
distintos territórios, e com o desenho de estruturas refere justamente à ênfase na Europa cen-
formais de saber. O tema perpassa o século XVIII,
novos descobrimentos e as novas ciências, chegan- 2 Sobre isso cf. DESCARTES, 1965; KLINE, 1972; e DE RIJK, 1968, cf.
do ao ponto no qual a Europa se afirma como o 1, p. 16ss; bem como HALL, 1966, pp. 34-128; KUHN, 1972, cap. XIII; e
JAUß, 1964.
3 Cf. HABERMAS, 1985a; e GIDDENS, 1990 e 1991; LYOTARD,
1 Cf. FREUND, 1957; NASCIMENTO, 1997; e bibliografia ad finem. 1979. Para uma visão geral, cf. BERTENS, 1995.

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tral e à ausência de referência e considera- ca que o Brasil exerce no continente, bem


ção a uma série de outros temas e autores como a particularidade lusitana com relação
relevantes para essa temática.4 à herança hispânica.10 Somente com grande
2. O debate ampliou-se com vasta literatura abstração é que se pode separar o Brasil da
na Europa e nos Estados Unidos,5 mas América Latina.
mesmo entre as pessoas que se dedicaram a 4. É necessário, então, refletir sobre como
corrigir e complementar a discussão epistê- esse tema foi tratado no próprio contexto
mica, incluindo a arte, a questão da mulher, brasileiro.11 Desde as considerações pionei-
a política local e a produção econômica,6 ras de José Guilherme Merquior, até as po-
observa-se outra grande abstração. Vê-se a lêmicas envolvendo a estética concretista e
exclusão do que se define como a América a discussão sobre a cultura popular e a cul-
Latina – e de outras regiões vistas como tura de elite no Brasil, trava-se intensa dis-
periféricas –, embora a discussão sobre a cussão sobre o sentido da modernidade e
modernidade seja própria à história recente da pós-modernidade no país.12 Mas tal dis-
do continente.7 cussão muitas vezes abstrai a realidade e
pluralidade social, econômica, política e cul-
3. Há, deveras, aspectos históricos, especí-
tural brasileira.
ficos à cultura e à estética latino-america-
5. Por sorte, há alternativas, se nos voltamos
nas, que devem ser trazidos a público.8 Mas
para a diversidade inerente à modernidade.
não estão livres das abstrações, pois, em Tais discussões partem da discussão sobre a
toda a literatura produzida de modo alter- modernidade e a pós-modernidade no Bra-
nativo na América Latina, observa-se a falta sil retomando uma vez mais a tradicional
de atenção para a situação do Brasil. Embo- questão sobre a identidade nacional, mas
ra o mesmo possa ser dito sobre o Equador, vendo-a sob a perspectiva da cultura popu-
o Paraguai e o Haiti,9 não se deve negar a lar e as formas plurais que ela encerra.
especificidade e a presença cultural e políti- Poderíamos, portanto, tentar corrigir as abs-
trações com um simples apelo à sensibilidade para
4 Lyotard, conhecido inicialmente no meio filosófico por seu livro La phé-
noménologie (1954) e seu envolvimento com os movimentos libertários na com a pluralidade no próprio conceito de moderni-
Argélia desenvolveu uma série de críticas à modernidade antes de lançar dade. Mas mesmo nessa fórmula simples, que po-
seu manifesto La condition postmoderne (1979), no qual critica Habermas
por sua filosofia do consenso, que não seria tão distinta do positivismo. deria caracterizar tanto a modernidade como a pós-
Habermas, que ganhara destaque no ambiente acadêmico primeiramente modernidade estética e cultural – a abertura multi-
por sua análise da esfera pública e da relação entre conhecimento e inte-
resse, publicou Theorie des Kommunikatven Handelns (1981a), e apresen- cultural, a crítica aos discursos universalizantes e a
tou resposta indireta a Lyotard. Escreveu “Die Moderne: ein primazia dada à voz dos excluídos –, outras sérias
unvollendetes Projekt”, incluído em Kleine politische Schriften I-IV
(1981b) e Der Philosophische Diskurs der Moderne (1985a), chegando à formas de abstração podem ser descobertas em pro-
conclusão de que a crítica da modernidade pelo pós-modernismo era simi- cesso ad infinitum. Isso nos revela o desafio de vol-
lar à crítica da modernidade pelo neo-conservadorismo. Sobre o neo-con-
servadorismo, cf. STEINFELS, 1979. Respostas a Habermas então em
LYOTARD, 1986 e 1993. Sobre o debate entre Habermas e Lyotard, cf. 8 A primeira referência histórica ao termo pós-moderno deu-se por volta

RORTY, 1984; e NASCIMENTO, 1989. de 1904, conforme registrado na Antología de la Poesía Española e Hispa-
5 Cf., por exemplo, RORTY, 1983. noamericana, publicada por Federico de Onís, em 1934. A teologia da
6 Cf. KAMPER & REIJEN, 1987; e BERTENS, 1995; além de HAS- libertação também se afirmou pós-moderna, já no início da década de
SAN, 1987; HARVEY, 1989; HUTCHEON, 1988; e GILROY, 1993. 1970, sobretudo na obra de Enrique Dussel e Gustavo Gutiérrez. Cf. tam-
7 KOEHLER (1977), por exemplo, destaca esse ponto. LYOTARD bém as discussões atuais em RINCÓN, 1995; e a coletânea de HERLIN-
(1979, p. 11) menciona a reconstrução histórica feita por Koehler, mas GHAUS & WALTER, 1994. Essas discussões têm tido impacto no
depois se concentra em questões relativas à ciência, embora sua referência contexto anglo-americano, sobretudo em razão da crescente influência da
aos estudos de Lévi-Strauss sobre os nativos brasileiros e à discussão sobre comunidade latina e hispânica nos Estados Unidos. Cf. BEVERLEY,
o entendimento histórico da tribo dos Cashinaua sejam fundamentais 1995; e YÚDICE, 1991.
9 Cf. sobre isso CASTRO-GÓMEZ, 1997.
para sua posição. Cf. LYOTARD, 1979, pp. 37-43 e 48. WELSCH (1987,
10 Cf. aqui NASCIMENTO & SATHLER, 1997.
p. 13) também menciona o contexto latino-americano, mas não extrai daí
maiores conseqüências, chegando a afirmar que esse fato é irrelevante ao 11 Duas tentativas nessa direção podem ser encontradas em RINCÓN,

entendimento da pós-modernidade. Cf. minha crítica, em NASCI- 1995; e PERRONE, 1996.


MENTO, 1995. 12 Cf. MERQUIOR, 1980a; e MORICONI, 1994.

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tar ao ponto de partida de uma das formas especí- mente, de analfabetismo.14 E tal fato era, sem dúvi-
ficas de ser moderno, a modernidade estética do da, um bloqueio ao desenvolvimento e à
modernismo no Brasil, e nos manter atentos para modernização. Isso valia até mesmo para a estética,
evitar que discursos pós-modernos repitam inad- tanto no modernismo representado pela “Semana
vertidamente as abstrações ou exclusões já discuti- de Arte Moderna” de 1922, sobretudo na figura de
das e criticadas no passado. Mário de Andrade, quanto na estética da fome. Ne-
las se deve buscar as reflexões mais originais sobre o
O QUE SIGNIFICA SER sentido de uma modernidade estética e cultural ge-
MODERNO NO BRASIL? nuinamente brasileira.15
A pergunta sobre a modernidade no Brasil Também a teologia da libertação pode ser ana-
surge em relação intrínseca com a questão referente lisada pelo mesmo prisma, pois tornou-se um movi-
à identidade nacional. Aparece já no século XVIII, mento de proporções continentais, tendo vários bra-
como eco das idéias iluministas, e ganha maior en- sileiros em sua liderança.16 Veja-se, por exemplo, a
vergadura no século seguinte, no bojo dos movi- proposta apresentada por Leonardo Boff no livro
mentos por independência. É fundamental no início Igreja, Carisma e Poder. Segundo ele, há um modo la-
do século XX, sobretudo em meio a vários movi- tino-americano, e, mais especificamente, um modo
mentos regionais e regionalistas. E surge depois brasileiro de ser religioso, o qual envolve a necessida-
como parte do nacionalismo desenvolvimentista, de de entender e interagir com culturas diferentes, le-
cujo significado ainda hoje está em debate. Depois vando, assim, a um processo de sincretismo que deve
do impacto da teoria de dependência e das discus- ser reconhecido como genuíno da cultura brasileira, e
sões sobre a cultura nacional no âmbito do ISEB, o adaptado a uma forma de religião contextual.17 Nesse
tema marca sua presença no contexto da teologia e caso, trata-se de levar em consideração a cultura po-
filosofia de libertação. Em todos esses casos fica cla- pular e os elementos europeus, africanos e indígenas
ro o interesse por temas muitas vezes olvidados nos que se articulam na arte e na cultura, tendo sua ex-
debates atuais. pressão no catolicismo popular.
Para evitar muitas digressões, tomemos um Não basta ver a pós-modernidade como rea-
simples exemplo. Sem dúvida, não se pode negar ção cultural à modernidade econômica e social, mas
deve-se diferenciar a temática e a perspectiva espe-
que a teoria da dependência traz em seu bojo uma
cífica da qual se trata. Quando se fala da moderniza-
reflexão sobre o processo de desenvolvimento e
ção industrial, pode-se a ela contrapôr um tipo de
modernização econômica, em princípio aplicável a
pós-modernidade. Se é ressaltada a dimensão estéti-
todo o continente. Mesmo assim, em seus desdo-
ca, é do modernismo e sua contrapartida que se de-
bramentos, a teoria reconheceu ser necessário dife-
veria falar. Por essa razão, faz-se necessário discutir
renciar a realidade econômica da Argentina e da
a visão interna brasileira sobre a pós-modernidade,
Guatemala, da Colômbia e do Brasil, argumentando
observando inclusive as relações possíveis com os
que embora todos estivessem na periferia, depen-
debates realizados a partir do modernismo, que
dentes dos centros econômicos, seu respectivo ca-
buscou de maneira radical uma resposta à questão
minho para a democracia e o desenvolvimento seria sobre o sentido de ser moderno no Brasil. Aqui tais
diferenciado.13 Paulo Freire também partiu do nacio-
nalismo desenvolvimentista na proposta de uma 14 FREIRE, 1974. Para uma crítica do nacionalismo desenvolvimentista

nova pedagogia, mas conseguiu dialogar com outras em Freire, cf. PAIVA, 1980. A contrapartida estética dessa proposta pode
ser vista no “teatro do oprimido” de Augusto Boal.
realidades sociais de países que compartiam com o 15 ANDRADE, 1987. Sobre a relação com o cinema, cf. JOHNSON,

Brasil um alto índice de pobreza e, conseqüente- 1982.


16 Entre os expoentes brasileiros se poderia mencionar Rubem Alves,
Hugo Assmann e Clodovis Boff.
13 Esse argumento foi levantado notadamente por CARDOSO, 1975 e 17 BOFF, 1981. Para uma crítica dessa posição cf. NASCIMENTO &
1980. SATHLER, 1997.

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termos se aplicariam, em primeira instância, sobre- locais. Tais abstrações são ainda mais aberrantes
tudo à estética proposta por Mário de Andrade. In- quando se vê que nelas está a pré-condição para o
cluiria também o iconoclasmo das iniciativas poéti- entendimento de modernidade e pós-modernidade.
cas experimentais e provocativas oriundas do movi- Se a primeira das abstrações seletivas aqui re-
mento inaugurado por Oswald de Andrade – a an- veladas se dá no eixo franco-alemão, e a segunda, no
tropofagia –, que, de certo modo, divergiam das contexto anglo-saxão, a terceira surge no próprio
estritas diretrizes do movimento modernista apre- âmbito latino-americano, já que o Brasil, sobretudo
goadas por Mário de Andrade. A meu ver, porém, em virtude de sua particularidade lingüística e he-
Mário sintetizou – em uma fórmula estética, o Leit- rança portuguesa, parece muitas vezes ter sido des-
motiv elíptico e lapidar de Macunaíma – a questão considerado quando se trata das reflexões sobre a
sobre o sentido de ser moderno no Brasil: “muita modernidade e pós-modernidade cultural e estética.
saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”. Poder-se-ia argumentar que o problema é lingüísti-
Com essa afirmação apresento uma possível co ou, ainda, a constante falta de intercâmbio e in-
resposta à questão “o que significa ser moderno no formações entre os países. Esse argumento perderia
Brasil?”. Talvez signifique reconhecer os males do sua força ao nos lembrarmos de como a teoria da
país e trabalhar um novo ideal pluralista de moder- dependência, a pedagogia de Paulo Freire e a teolo-
nidade, cujo princípio seja o reconhecimento da gia da libertação tiveram sua origem no Brasil, tra-
contingência histórica e a não exclusão do próprio taram a questão da modernidade em suas respecti-
horizonte hermenêutico que condiciona o processo vas áreas e se tornaram conhecidas em todo o con-
de percepção e elaboração dos mais variados discur- tinente e além dele. Além do mais, o diálogo inter-
sos. Vê-se que as noções de modernidade, cultural é uma condição para entender o conceito de
modernização e modernismo são respostas múltiplas pós-modernidade e os discursos pós-modernos no
ao sentido do que é ser moderno no Brasil. E aqui Brasil: Na literatura hispano-americana, o termo
mostra-se a relevância do modernismo ao nos pro- “pós-modernismo” caracterizava uma tendência do
por um princípio interessante: partir da estética para início do século XX; no Brasil, foi utilizado inicial-
denunciar os males do Brasil, condição para que as mente para se referir à geração artística atuante após
“abstrações seletivas” possam ser sempre questiona-
1945; mas depois que a noção de pós-modernismo
das.
ganhou progressiva relevância nas discussões cultu-
Para compartilhar os passos da reflexão que se rais anglo-americanas – após a década de 1940 – e no
fez necessária para se chegar a tal afirmação, propo-
contexto latino-americano – especialmente no
nho, a seguir, que vejamos em mais detalhes a rela-
México, Argentina e Peru, na década de 1960 –, en-
ção entre o modernismo e os discursos pós-moder-
contramos novos desdobramentos globais de tais
nos no Brasil. Mostrarei de modo específico os
discussões.18 Por isso entendo o pós-modernismo
pontos nos quais as abstrações seletivas se revelam.
como parte da pós-modernidade em geral. A partir
dessa premissa, é possível observar como os discur-
DO MODERNISMO AOS DISCURSOS sos pós-modernos no Brasil se apresentam como
PÓS-MODERNOS BRASILEIROS variações sobre o tema do modernismo: o diag-
Já vimos que a discussão sobre modernidade nóstico dos males do Brasil a partir de um diálogo
e pós-modernidade é bastante ampla, havendo sido intercultural nem sempre explícito.
retomada, no contexto europeu, desde o ponto de
Uma das primeiras discussões sobre a pós-
vista metafísico até a dimensão epistemológica e dis-
modernidade no Brasil foi iniciada por José Gui-
cursiva, passando, na atualidade, por uma série de
lherme Merquior, que usou o termo pós-moderno,
contextos culturais específicos nos quais são encon-
em um artigo publicado no jornal O Estado de
tradas “abstrações seletivas”, que indicam a afirma-
ção de propostas universais sem o conhecimento ou 18 Cf. RINCÓN, 1995, p. 103ss, especialmente o capítulo “Los comien-
reconhecimento de outras culturas e experiências zos del debate sobre lo postmoderno en el Brasil”.

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S.Paulo em 7 de novembro de 1976, para tecer co- dentes e polêmicas ao pós-modernismo caracterís-
mentários em relação à situação cultural e filosófica tico da estética pós-estruturalista.21 Seguindo uma
do país. Para tanto, voltou-se justamente à literatura tradição brasileira de crítica literária e cultural que
do modernismo brasileiro, ressaltando as contri- remonta aos ensaios de Sílvio Romero e aos mem-
buições importantes de escritores como Mário de bros da Escola de Recife no século XIX, Merquior
Andrade, Manuel Bandeira e Jorge de Lima, e con- era acima de tudo um polemista, dedicado a abrir
trastando-os com o que se produzia ao mesmo uma discussão controvertida sobre o estado da arte
tempo na Europa. Isso é documentado no artigo brasileira, especialmente o da literatura. Tais contro-
“Modernisme et après-modernisme dans la littéra- vérsias levaram a debates igualmente polêmicos so-
ture brésilienne”, apresentado tempos depois no bre o significado de identidade nacional, indicando,
Colloque de Cérisy.19 Há, nesse artigo, um enfoque portanto, uma continuidade com relação às ques-
um tanto vago sobre Mário do Andrade como au- tões que haviam caracterizado tanto o modernismo
tor brasileiro modernista, cuja característica maior é cultural de Mário de Andrade como a moderniza-
definida por Merquior em termos quase psicanalíti- ção econômica propugnada por Celso Furtado e
cos, já que ele busca na biografia do autor moder- Fernando Henrique Cardoso. É, por conseguinte,
nista elementos psicológicos – origem mulata, ten- no marco amplo do debate sobre a cultura e a iden-
dências homossexuais, complexo nacionalista dian- tidade nacional que as discussões sobre o sentido da
te da cultura estrangeira e outros – para tentar ex- modernidade e da pós-modernidade no Brasil,
plicar suas opções artísticas. Seguindo essa mesma como as lideradas por Merquior, devem ser enten-
linha em “A estética do Modernismo do ponto de didas.
vista da história da cultura”, em Formalismo e Tra- Outro dos vários desdobramentos na questão
dição Moderna, Merquior se debate com propostas sobre a pós-modernidade no Brasil pôde ser observa-
estéticas de origem européia, tendo a questão dos do no final da década de 1970 e início dos anos 80, e
males do Brasil como pano de fundo.20 À luz de acompanhado semanalmente, já que se deu nas pági-
Mário de Andrade, em quem Merquior vê o epígo- nas de jornais importantes, especialmente a Folha de
no de uma brasilidade, um dos males do Brasil é não S.Paulo. Tal debate envolveu, em primeira instância,
ser visto externamente como moderno. Seu argu- intelectuais ligados à teoria da literatura e da comuni-
mento ou reivindicação perante o público externo – cação, como Roberto Schwarz, Augusto de Campos,
explicável, ademais, por sua condição de diplomata Haroldo de Campos e Mário Chamie, entre outros.
– é, nesse caso, bem simples: o Brasil também pode De um lado do debate se encontravam Au-
ser moderno! gusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio
Merquior não só desenvolveu uma discussão Pignatari, reunidos sob o mote da “poesia concreta”
interna concernente à produção literária brasileira em São Paulo. A exposição “Arte Concreta” no
na primeira metade do século XX, mas igualmente Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956,
tentou vê-la à luz e em contraponto com as estéticas vale como continuidade e radicalização do manifes-
européias da década de 1960, representadas pelo es- to modernista. Em sua primeira fase, a poesia con-
truturalismo, o pós-estruturalismo emergente e a creta valeu-se do exemplo da música (a musique
Escola de Frankfurt. Foi um dos primeiros a escre- concrète de Varèse, a Klangfarbenmelodie das com-
ver sobre a estética estruturalista e sobre a estética posições seriais de Anton Webern e a estética da in-
de Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Walter determinação, de John Cage), da poesia (o simbo-
Benjamin, como ainda a expressar críticas contun- lismo de Stéphane Mallarmé, a poesia épica de Ezra
Pound e a poesia pictórica, desde a poesia visiva até
19 Cf. artigo de Merquior no caderno Suplemento Cultural de O Estado
e.e. cummings), além das artes plásticas modernistas
de S.Paulo, n.º 4, 7/11/76; e MERQUIOR, 1980b. Já em 1974, Merquior
utilizava-se do termo além moderno para referir-se à obra de Gilberto
Freyre. 21 Cf. idem, 1967, 1969 e 1983. Para uma visão crítica sobre Merquior, ver
20 Cf. MERQUIOR, 1977; além de suas outras publicações correlatas o suplemento especial da Caderno Mais! (15/jul./01) dedicado a seu pen-
(1979, p. 27ss., e 1981). samento.

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(de inspiração em Kandinsky e Mondrian), para de- verdade, embora o grupo concretista tenha sido
dicar-se a experimentos com a visualidade não-re- identificado com tendências estéticas pós-moder-
presentacional do poema impresso. Depois, voltan- nistas, especialmente devido à defesa de uma poesia
do-se para a semiótica de Max Bense e a teoria da in- pós-utópica, sua relação era de crítica ao pós-mo-
formação de Abraham Moles, a poesia concreta tra- dernismo e defesa de uma radicalização do moder-
balhou com certo formalismo alguns elementos nismo, como pode ser observado em uma série de
internos ao poema, como a sintaxe, a fonética e a artigos polêmicos publicados no Folhetim, entre
métrica.22 1982 e 1987, especialmente nos ensaios “Poesia e
De outro lado, não necessariamente como modernidade 1. Da morte da arte à constelação” e
um grupo coeso, se via Roberto Schwarz, Flora Sus- “Poesia e modernidade 2. O poema pós-utópico”
sekind e Mário Chamie, entre outros, que se opu- (em 7 e 14/10/1984). A posição concretista era de
seram à concepção neo-concretista de pós-moder- crítica ao conservadorismo e tradicionalismo literá-
nidade. Já na década de 1960 o concretismo havia rio, bem como à exacerbação ideológica de novos
sido o alvo principal da “poesia praxis” dissidência movimentos. Nada expressa melhor essa posição
inaugurada por Chamie, que acusava o autoritaris- do que o poema satírico de Augusto de Campos,
mo poético da estética concretista. Baseando-se na que praticamente encerrou o debate. Entitulado
leitura que faz da rapsódia Macunaíma em um livro “Póstudo”, o poema é um epigrama que joga com a
publicado em 1970, Intertexto, Chamie publicou polissemia das palavras mudo e tudo, remetendo a
uma série de artigos no início da década de 80, nos idéias como mudança, emudecimento, totalidade e
quais enfatizou a diversidade e a multiplicidade de pretensão, entre outras, de modo a apontar as aporias
linguagens, propondo assim uma leitura de pós-mo- da pós-modernidade.25 O poema é organizado de
dernidade que seria a alternativa à posição dos ir- forma gráfica, permitindo múltiplas leituras. Apesar
mãos Campos. Para Chamie, o dito “os males do da dificuldade de transcrevê-lo em suas formas e ti-
Brasil são” é fundamental: é “não só um documento pos originais em “letraset”, podemos ao menos in-
do herói (segundo o modelo de Pero Vaz Caminha) dicar sua estrutura:
sôbre o descoberta e ‘conquista’ da grande cidade, QUIS
mas ainda um testamento humano, político e social MUDAR TUDO
que oferece a chave maior do texto de um livro do-
MUDEI TUDO
minado pela pretensão de radiografar o inconsciente
AGORAPÓSTUDO
coletivo nacional”.23
EXTUDO
A discussão focalizou certos detalhes técni-
cos do modernismo e do concretismo na poesia. MUDO
Também aqui Mário de Andrade foi o principal O impacto desse poema pode ser medido de
ponto de referência, pois enquanto Chamie desta- várias formas. Uma delas em um cartoon da série
cava no guru modernista a valorização da diversida- “Radical Chic”, de Miguel Paiva, publicado no Su-
de, ele era levado pelos “concretistas” à condição de plemento de Domingo do Jornal do Brasil. Posando
símbolo da modernidade e precursor de todo expe- com ares de intelectual, a jovem retratada nos dese-
rimentalismo que poderia ser rastreado também nas nhos pondera: “Quando os Beatles se separaram eu
estéticas pós-modernas.24 Tal afirmação não encer- já era pós-hippie! Depois eu fui pós-romântica, pós-
ra, porém, aceitação tácita do pós-modernismo. Na tropicalista, pós-chique, pós-brega, pós-apocalípti-
ca, pós-política, pós-xiita, pós-punk, pós-tudo... Já
22
23
Uma recente análise dessa trajetória é dada por PERRONE, 1996. me sinto meia pré-histórica!”. Isso mostra o impac-
Cf. CHAMIE, 1970, pp. 384-385; e SUSSEKIND, 1995.
24 Haroldo de Campos trabalhou essa questão em vários momentos, to cultural do poema. Por outro lado, porém, houve
inclusive em sua participação na edição crítica de Macunaíma, preparada uma ampla reação que testifica o seu impacto inte-
por Telê Ancona Lopez, e na tradução deste livro a outros idiomas. Cf. o
artigo “Mário de Andrade: a Inspiração Estutural”, em CAMPOS, 1992,
pp. 167-182. 25 Para detalhes cf. RINCÓN, 1995, e PERRONE, 1996.

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lectual. Roberto Schwarz foi o primeiro a reagir, no 17 de novembro de 1985, surge na superfície a dis-
artigo “Marco Histórico”, publicado no Folhetim, cussão estética sobre a identidade nacional, reme-
denunciando o caráter autocongratulatório e os ares tendo-nos à estrutura básica da frase original de Má-
de superioridade, decididamente elitistas, que carac- rio de Andrade. Se em 1927, Mário de Andrade diria
terizariam uma arte de vanguarda totalmente des- de modo um tanto críptico: “muita saúva e pouca
compromissada com as questões sociais.26 A expres- saúde, os males do Brasil são”, Rouanet, porém,
são mudo seria, segundo Schwarz, sintomática de tal afirma “o problema do Brasil é...” e preenche as
posição, pois indicaria o silêncio da vanguarda sobre reticências com o termo irracionalismo, adjetivo
os fatos históricos e sua inconseqüência diante das fundamental que a seu ver revelaria o caráter nacio-
questões ideológicas do momento.27 Mário Chamie nal. Para ele a modernidade seria a condição para se
e Flora Sussekind somaram-se ao coro dos descon- aplicar o predicado racional ao povo brasileiro. Ao
tentes.28 refletir sobre o debate filosófico e epistemológico
Este não foi o primeiro nem o último lance da na Europa e no Brasil, em Ética e Racionalidade Mo-
polêmica sobre o pós-modernismo e a pós-moder- derna, Manfredo de Oliveira propôs uma leitura
nidade no Brasil. Sérgio Paulo Rouanet envolveu-se complementar à leitura de Rouanet, baseando-se na
na discussão tecendo considerações filosóficas so- filosofia de Jürgen Habermas e Karl-Otto Apel, e
bre o sentido do “pós”. Foi no jornal O Estado de discutindo o impacto da crise de racionalidade e
S.Paulo que Rouanet tratou o tema, voltando-se suas conseqüências éticas em geral.29
tanto para os pontos apresentados por Merquior, Finalmente, poderíamos indicar algumas outras
com relação ao significado de modernidade e mo- discussões mais independentes dos debates iniciados
dernismo, quanto para o debate desencadeado pelos por Merquior, mas que também surgiram como res-
defensores da poesia concreta. Tanto em um caso posta às reivindicações e aos temas acima menciona-
como em outro, porém, ele deixa de lado as dos. Silviano Santiago e Eduardo Coutinho tomaram
considerações internas para dedicar-se a temas mais partido da pós-modernidade, desenvolvendo novas
genéricos. Volta-se a Max Weber, Michel Foucault e considerações mais além desse debate. Em 1986, dois
Jürgen Habermas, a fim de entender o projeto eu- autores resumiram as discussões básicas em termos
ropeu de modernidade como um projeto de crítica de crítica cultural: Jair Ferreira dos Santos, em O que
racional. Em duas composições para os periódicos é Pós-Moderno, e José Teixeira Coelho Neto, em Mo-
Tempo Brasileiro e Revista Brasil, com os títulos derno Pós-Moderno. A eles se juntou Luiz Costa Li-
“Do Pós-Moderno ao Neo-Moderno” e “A Verda- ma, que em “Pós-modernidade: contraponto tropi-
de e a Ilusão do Pós-Moderno”, assim como em vá- cal” e numa série de outros textos reunidos em Pen-
rios de seus livros, especialmente A Razão Cativa: as sando nos Trópicos, desenvolveu uma crítica da pós-
ilusões da consciência, de Platão a Freud e As Razões modernidade, indicando que a discussão européia so-
do Iluminismo, Rouanet resume as linhas básicas do bre esse conceito se baseava em categorias muito ge-
debate sobre a pós-modernidade na Europa e nos néricas e teria pouca relevância para o contexto brasi-
Estados Unidos, tentando conectá-lo com a discus- leiro, devendo ser “tropicalizada” para poder ganhar
são brasileira. um sentido local. Um dos males do Brasil, a seu ver,
Tudo isso pode parecer distante da discussão era esse resquício eurocêntrico. Atentando a essas
interna prévia no Brasil. No entanto, em um texto discussões, Otília Arantes desenvolveu paulatina-
menos mencionado, “Verde-amarelo é uma cor do mente sua análise da discussão e sua aplicação especí-
nosso irracionalismo”, publicado no Folhetim, em fica no campo da arquitetura, trazendo uma perspec-
26
tiva própria a público em A Arquitetura depois dos
Cf. SCHWARZ, “Marco Histórico”, depois incluído em Que Horas
são? (1989). Modernos, concentrada mais no papel e no lugar da
27 Augusto de Campos publicou sua réplica no Folhetim, em 7 de abril de arquitetura como marco de modernidade. Em um
1985, sob o título “Dialética da maledicência”.
28 Cf. SUSSEKIND, 1995; e as ponderações de Chamie na Folha de
S.Paulo (1985). 29 Cf. ROUANET, 1985, 1986a, 1986b e 1987; OLIVEIRA, 1989 e 1993.

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país como o Brasil, que tem Brasília – cidade moderna Ao se tratar os debates sobre a modernidade
por excelência – como capital, essa autora indica: tra- e a pós-modernidade no Brasil, percebe-se, toda-
ta-se também de uma arquitetura da periferia! Esses via, algumas “abstrações seletivas”, particularmen-
são alguns poucos exemplos da pluralidade e da si- te quando se deixa de examinar a cultura popular,
multaneidade dos assuntos básicos relativos às dis- a situação econômica e as histórias locais. Isso não
cussões da modernidade e da pós-modernidade no significa, porém, a inexistência de discussões sobre
Brasil e sobre o impacto teórico dessas discussões.30 tais temas. Há, deveras, extensa produção intelec-
Podemos ver, portanto, que há uma tradição tual sobre eles e é mister relembrá-la aqui. Interes-
de debate sobre o tema no Brasil, estendendo-se sa-me sobretudo a insistência no termo popular,
desde as décadas de 1910 e 1920, com as primeiras que indica a mudança de perspectiva, pois a ênfase
iniciativas em torno do modernismo, radicalizando- já não recai sobre a cultura de elite, como parecia
se na década de 1950, com as propostas de vanguar- ser o caso nas discussões iniciais sobre a pós-mo-
da, até chegar aos debates das décadas de 1970, 1980 dernidade no Brasil.
e 1990, quando se discute mais especificamente a Nesse ponto podemos inserir a reflexão
pós-modernidade, e em diálogo com o que se dis- filosófica, em especial a contribuição de Marilena
cutia na Europa, na América do Norte e na América Chauí, com sua leitura política do debate e sua crí-
Latina. Não há, pois, razão para que se abstraia o tica ao modelo de identidade cultural nacional.
contexto brasileiro ao se tratar a modernidade e a Chauí denunciou as categorias desse debate como
pós-modernidade. Todavia, há outra abstração ine- fabricadas por uma elite que quis integrar a nação ao
rente ao debate brasileiro, pois Merquior havia de custo das formas alternativas da vida cotidiana.
fato se voltado a intelectuais de elite, sem nenhuma Opondo-se ao elitismo, ao populismo e ao conser-
consideração quanto à importância de expressões vadorismo que refletiram uma tradição comparti-
culturais populares no Brasil, que tinham sido o ob- lhada, a seu ver, por Merquior, ela apresentou outra
jeto de estudo e preocupação nos projetos de mo- linha de crítica de modernidade. Apontou a ideolo-
gia política conservadora de conciliação e integração
dernidade, modernização e modernismo. A varieda-
na história brasileira – a mitologia verde-amarela –,
de cultural, sobretudo popular, e a realidade social,
expôs a reivindicação para a democratização do país
que haviam sido o ponto de partida da teoria da de-
como parte dessa vertente popular e, complemen-
pendência, da pedagogia dos oprimidos ou da teo-
tando essa série de argumentos, insistiu também na
logia da libertação acabaram “esquecidas”. A discus-
valorização do papel das mulheres nesse processo.31
são sobre a pós-modernidade no Brasil, seguindo os
Em Conformismo e Resistência: aspectos da cultura
passos de Merquior, pareceu limitar-se a questões de
popular no Brasil (1986), Chauí começa por discutir
forma, sem discutir alguns aspectos sociais, econô-
o próprio conceito de cultura, articulando-o com o
micos, históricos e políticos condicionantes dos
de “popular” e definindo a cultura popular como
processos culturais e artísticos. Essa abstração sele- “prática local e temporalmente determinada, como
tiva indica uma contradição interna no debate bra- atividade dispersa no interior da cultura dominante,
sileiro. Faz-se necessário, portanto, avançar um como mescla de conformismo e resistência”.32 A
pouco mais na discussão, a fim de tentar corrigir argumentação de Chauí tocava, além do mais, a di-
essa limitação e encontrar modelos que possam sa- mensão política e econômica do processo de mo-
nar tal problema. dernidade. Segundo ela, a característica fundamental
do pós-modernismo seria a ideologia do capitalismo
AS “ABSTRAÇÕES SELETIVAS” DOS neoliberal, atuando como forma de fragmentação e
DISCURSOS PÓS-MODERNOS NO BRASIL valorização do contingente.

30 Cf. SANTOS, 1986; COELHO NETO, 1986; COSTA LIMA, 1991; 31 Cf. CHAUÍ, 1984.
e ARANTES, 1993. 32 Idem, 1986, p. 43.

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Outra contribuição ao debate sobre a dupla amparada especialmente na América hispânica, e


tensão entre modernidade e pós-modernidade, e en- omite a parte que foi colonizada por Portugal, isto é,
tre cultura de elite e cultura popular, no Brasil foi o Brasil. Por outro lado, a discussão brasileira foi di-
dada por Renato Ortiz. Ele seguiu a orientação an- tada por membros de uma certa tendência elitista e
tropológica de Roger Bastide e pesquisou a interação centrada em cidades como São Paulo e Rio de Ja-
entre os africanos e europeus no Brasil, para assim neiro. Uma contingência interna relativa à parte da
mostrar como surgiu no caso um processo genuina- cultura popular nesse todo não foi reconhecida e
mente brasileiro, não encontrado em nenhum outro surge, finalmente, como alternativa complementar
lugar. Também segundo Ortiz, isso se expressa aci- aos debates aqui apresentados.
ma de tudo na arte popular e na religião. Neste caso Todas essas conclusões podem ser vistas
o argumento é óbvio, e se distingue da linha que ob- como um saldo positivo de nossa discussão. Mas,
servamos anteriormente ao discutir a situação brasi- até mesmo se corrigidos todos esses aspectos, ainda
leira, pois, para Ortiz, a questão da modernidade e da há outro desafio. Olhando o todo, podemos obser-
pós-modernidade nos remete ao seguinte ponto: te- var a preocupação com projetos diferentes de mo-
mos uma identidade cultural, com base na qual defi- dernidade e pós-modernidade, cujo intuito é definir
nimos nossa posição com relação à modernidade.33 o que o Brasil é ou deve ser. Mais especificamente,
Portanto, podemos concluir que a oposição interna busca-se uma forma de caracterizar a identidade
entre cultura popular e cultura de elite é intrinseca- brasileira moderna. Por mais positivas que sejam tais
mente ligada à questão da modernidade. iniciativas, elas não respondem pela pluralidade con-
Esses exemplos já nos dão uma visão panorâ- seqüente de vários “Brasis”. Para melhor lidar com
mica de um debate constante no contexto brasilei- esse tema, devemos manter nossos olhos abertos
ro, que apontaria para correções às abstrações já de- aos aspectos de pluralidade e identidade, muitas ve-
tectadas. Ao discutir a modernidade e a pós-moder- zes implícitos nos acirrados debates.
nidade no Brasil, poderíamos, então, seguir as linhas É à luz dessa constatação que se faz necessá-
esboçadas acima e trazer outras histórias desconhe- rio propor uma via diferente, intrínseca à discussão
cidas que complementariam a discussão européia, acima, mas que ainda não veio à superfície de modo
anglo-americana, americana, latina e brasileira, de contundente. Isso nos leva à conclusão.
modo a integrar essa dimensão no contexto mais
amplo de diálogo intercultural. Sobre essa base, po- MUITOS DISCURSOS (PÓS-MODERNOS)
deríamos ter uma visão geral e, ao mesmo tempo, E POUCO MODERNISMO
específica do impacto da modernidade e da crítica a Colocamos no início deste artigo duas ques-
ela em diferentes contextos, tentando assim elimi- tões fundamentais: “o que significa ser moderno?” e
nar a insistente abstração seletiva que pudemos de- “o que significa ser moderno no Brasil?”. Como
tectar em todos os casos. guia para as possíveis respostas, tomamos o dito de
Contudo, precisamos reconhecer que, ainda Macunaíma: “muita saúva e pouca saúde, os males
que as iniciativas acima descritas pudessem ser críti- do Brasil são”. Com base nas considerações até ago-
cas com relação a aspectos específicos da moderni- ra desenvolvidas, podemos chegar a conclusões
dade e da modernização, estas também estavam li- mais gerais que nos ajudam a tentar respondê-las.
mitadas por certas contingências que precisam ser Já mostramos, ao longo do texto, uma varieda-
reveladas: a discussão sobre a pós-modernidade na de histórica nas concepções do ser moderno e seus ge-
arena internacional reduz o escopo e a contribuição nerativos. Há também variedade semântica, por ex-
da América Latina, a discussão latino-americana é tensão e por contradição: modernus, modernidade,
modernização, pós-modernidade e pós-modernismo.
33 Em A Morte Branca do Feiticeiro Negro (1990), Ortiz estudou o caso da Modernização seria um processo socioeconômico, ao
umbanda como uma religião genuinamente brasileira. Cf. também
ORTIZ, 1975. Quanto à sua discussão sobre a cultura e identidade nacio-
passo que modernismo denotaria um movimento es-
nal, cf. idem, 1980, 1985 e 1988. tético; modernidade e pós- modernidade são, por sua

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vez, termos mais gerais e paradigmáticos, dentro dos sal e inclusiva a evitar que alguém mais fique de fora.
quais as dimensões de estética, economia e política, Uma visão de universalidade se apresenta, portanto,
entre outras, podem ser diferenciadas. Utilizamos os como grande desafio, talvez inalcançável, que nos
adjetivos moderno e pós-moderno mais livremente, serviria como ideal de crítica às abstrações!
sem, no entanto, deixar de reconhecer a multiplicida- A conclusão nos leva, portanto, a constatar o
de histórica e conceitual acima mencionada. perigo constante de “abstrações seletivas”, mesmo
Também indicamos a variedade cultural, pelo quando nós, com as melhores das intenções, assu-
menos no contexto ocidental representado pelas mimos a posição pós-moderna de valorizar a di-
Américas e pela Europa. É evidente que o sentido mensão particular e contingente. Se por um lado, do
do ser moderno e as variadas concepções de moder- ponto de vista internacional, essa constatação nos
nidade se referem não somente a determinados mo- mostra a existência de várias outras acepções de mo-
mentos históricos, do ponto de vista cronológico, dernidade e pós-modernidade nos distintos conti-
mas também a localidades e esferas distintas de ex- nentes e culturas às quais nos referimos em nossa
pressão cultural, mais evidentes do ponto de vista discussão – e a tantas outras às quais não fizemos
geográfico. As abstrações seletivas surgem precisa- referência –,34 por outro, ela nos leva ao âmago da
mente por conta da falta de atenção a tais condicio- questão da modernidade e da pós-modernidade no
nantes históricos e geográficos, os quais determi- específico contexto brasileiro. Nesse segundo caso,
nam a modernidade. Não é sem razão que marcos somos desafiados a novas e constantes reflexões crí-
de conquista territorial, como a queda de Constan- ticas sobre o Brasil, já que o maior problema da mo-
tinopla e a “descoberta” da América, são considera- dernidade e dos discursos pós-modernos no Brasil é
dos marcos históricos da modernidade. precisamente a abstração seletiva e contraditória do
Vimos que a visão universal que se quer pro- próprio objeto que deveria dar norte à discussão: a
pagar como positiva e própria à modernidade enco- pluralidade interna da moderna cultura brasileira, já
bre muitas vezes tal diversidade. Não consegue per- enfatizada pelo modernismo.
cebê-la. Por isso, devemos reconhecer algo positivo Por fim, justamente em vista da necessidade de
na estética dos discursos pós-modernos, que nos ideais que não nos deixam sucumbir à tentação do
abrem os olhos para as contingências internas aos particularismo de discursos pós-modernos e que nos
contextos descritos. Isso se aplica também ao caso tornem mais sensíveis à inclusão, espero poder deixar
do Brasil! Mas existem claras abstrações seletivas, já pelo menos um apelo: que os novos tempos, como o
que a discussão se limitou muitas vezes a questões novo milênio que se inaugura, nos levem a refletir de
regionais que não fazem eco às reivindicações ex- modo novo sobre a modernidade, e a lutar para evitar
pressas nos debates sobre a cultura popular ou a que seletivas abstrações mantenham o que há de pior
identidade nacional. É óbvio que as sucessivas abs- em três milênios de modernidade, que é a persistência
trações seletivas aqui apontadas não são necessaria- de variadas formas de exclusão. No caso do Brasil,
mente mero resultado de eurocentrismo, xenofo- tais abstrações e exclusões nos levam a um diag-
bia, etnocentrismo ou posturas que teriam sua ori- nóstico sério: sofremos de um mal, que é o moder-
gem nas tensões entre culturas ou nações. De fato, nismo inconseqüente, pois, apesar do progresso –
pode-se acusar o debate franco-alemão de um certo real e aparente – e das tentativas de integração de vá-
eurocentrismo, pode-se ver a reação latino-america- rias expressões como parte da identidade nacional,
na a esse debate como um complexo de inferiorida- perniciosas tradições de exclusão ainda persistem. O
de regional. E é possível ver o debate brasileiro modernismo foi subsumido na percepção estética
como resposta elitista ao esquecimento do Brasil no dos discursos pós-modernos somente de modo par-
cenário internacional. Sempre há, portanto, um dis- cial, e assim não consegue perceber e revelar os per-
curso pós-moderno específico e particular, que se sistentes “males do Brasil”, e descobrir formas de su-
volta contra uma modernidade específica. Mas em
todos os casos, é óbvia a limitação do debate às par- 34 A mesma discussão tem se dado no contexto africano e asiático, nos
ticularidades, sem que se dê uma visão mais univer- trabalhos de, por exemplo, Theo Grossberg e Gayatri Spivak.

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perá-los. Um dos males dos discursos pós-modernos


no Brasil é ser muito pós e pouco moderno.

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