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LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. 8ª Edição. Ed. José Olympio.

Rio de Janeiro: 2017. 252 p.

 O livro objetiva tirar o foco das instituições para os homens: os intelectuais, das ideias
para as estruturas sociais, práticas e mentalidades.
 “A divisão do trabalho, a cidade, instituições novas, um espaço cultural comum a toda a
cristandade e não mais representado pela repartição geográfica e política da Alta Idade
Média, eis os traços essenciais da nova paisagem intelectual da cristandade ocidental na
virada do século XII para o século XIII. ” (p.8)
 O intelectual medieval está ligado diretamente à cidade. Revolução escolar ligada à
revolução urbana – X ao XIII.
 Escola monástica (monges) e escolas urbanas (aberta a todos os estudantes leigos).
 Atração das escolas urbanas sobre o meio monástico > as ordens mendicantes
(franciscanos) se integram a elas e algumas ordens monásticas (Cister) fundam colégios
nas cidades universitárias, se rendendo ao ensino universitário.
 Os intelectuais são homens de ofício, exercem seu trabalho em troca de remuneração.
 Caráter revolucionário do currículo universitário – questão da ascensão social permitida
pelo sistema universitário (antes apenas por nascimento, riqueza e funções na Igreja).
 A promoção social se dá através de um processo novo: o exame.
 Os intelectuais como servidores da Igreja e do Estado.
 Citação 10
 As universidades são espaços onde os intelectuais, embora como servidores da Igreja e
do Estado, tem certa liberdade de pensamento e crítica, o que as vezes acaba em heresia.
 XIII ao XIV: quatro intelectuais “críticos” são destacados: Abelardo, Tomás de Aquino,
Siger de Brabante e Wyclif.
 Georges Dumezil – sistema trifuncional de poderes: clerical, monárquico e
universitário.
 A questão de o intelectual brigar pela sua valorização social, assegurar influência
política e distinção frente ao trabalho manual.
 “A compilação, hoje desvalorizada, foi, na Idade Média, um exercício fundamental da
atividade intelectual e não apenas da difusão, mas também da criação das ideias. “ (p.
12)
 Conflitos ideológicos da Universidade de Paris no séc. XIII – aspectos importantes da
“mentalidade universitária”: tendência para raciocinar, espírito corporativo,
anticlericalismo (dirigido contra as ordens mendicantes), contestação.
 [ver] ordens mendicantes citadas nas obras de Rutebeuf e Jean de Meung.
 A questão da cultura no desenvolvimento das cidades medievais, ao lado da política,
economia, etc.
 A estagnação da escolástica clássica e da teologia e o controle eclesiástico que
paralisava pela censura numerosas faculdades não ocorreu em toda parte [melhorar essa
parte].
 Clérigo: a palavra do francês tem sentido de, além de membro do clero, erudito, de
sábio.
 Os clérigos são os intelectuais medievais, diferente dos monges e dos sacerdotes, esses
intelectuais são mestres de escolas: ensinam o ofício de pensar.
 O intelectual nasce com a cidade, com o desenvolvimento comercial e industrial ele
aparece como um homem de ofício.
 Antes os clérigos podiam assumir a figura de professores, eruditos, apenas como um
aspecto secundário. Pelas classes sociais estabelecidas por Adalberon de Laon só há 3
(oratore, laboratore, belatore), as outras funções eram sempre secundárias.
 “Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só
tempo, um homem que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e de erudito,
em resumo, um intelectual – esse homem só aparecerá com as cidades.” (p.30)
 O intelectual surge de verdade no século XII.
 As cidades renascem incentivadas, em grande parte, pela demanda muçulmana, se
desenvolvem autônomas ou ligadas as pequenas cidades episcopais ou aos burgos
militares ainda no séc. X, atingindo amplitude no XII, modificando as estruturas
políticas, sociais, econômicas e culturais.
 Para Le Goff não houve renascimento carolíngio (fim do VIII-início do IX), pois a
educação foi apenas voltada para uma pequena elite. Cultura fechada e economia
fechada: (citação o renascimento carolíngio). No entanto ele contribui com o
renascimento do XII (onde sua cultura entesourada será reposta e circulação).
 Goliardos: grupo de intelectuais – Le Goff diz que para eles Paris é o paraíso na terra, a
rosa do mundo, o bálsamo do universo. (p.47)
 É difícil definir quem são eles, a maioria escreve no anonimato. Sobre eles existem
muitas lendas criadas por eles próprios e por aqueles que os criticavam.
 Foram condenados em sínodos e concílios.
 Le Goff diz que muitos historiadores modernos trataram deles como figuras caricatas,
exagerando ou na característica de boêmios, vagabundos errantes, revolucionários ou
como perigosos e desafiadores da ordem pública.
 Origem do nome: derivado de Golias (para Le Goff esta etimóloga é fantasiosa), ou de
gula.
 As fontes mais comuns para estudar os goliardos são seus poemas anônimos (Carmina
Burana) ou os textos de seus contemporâneos que a eles se referem.
 Meio de crítica à sociedade estabelecida.
 Contexto de desenvolvimento urbano, comercial, etc.
 São errantes, mas também intelectuais: origem urbana ou camponesa.
 São fruto desse contexto do XII.
 Fogem às estruturas medievais que atribuem a cada indivíduo seu lugar, são alguns
estudantes pobres que muitas vezes vivem de mendicância, outros vivem como jograis,
na corte de príncipes ou às custas de algum prelado. (Fazer ligação com Verger quando
fala da crise do XII-falta de moradia na cidade, desafios à ordem pública, etc.)
 Não se constituem uma classe, têm origem e ambições diversas.
 Le Goff parece concordar com Verger que os goliardos criticam a sociedade, mas não
querem muda-la e sim viver às suas custas. “O sonho deles é um mecenas generoso,
uma gorda prebenda, vida folgada e feliz. Querem antes, parece, tornar-se os novos
beneficiários de uma ordem social do que mudá-la. ” (p.50)
 Os temas de suas poesias criticam firmemente a sociedade da época, o jogo, o vinho e o
amor estão no centro de suas canções.
 Críticas voltadas para o eclesiástico, o nobre e o camponês. Na Igreja se voltam para os
que estão mais ligados à estruturada sociedade (social/política/ideológica), ou seja,
papas, bispos monges (chefes de uma ordem social hierárquica).
 Inspiração antipontifícia ligada a corrente dos gibelinos (na origem tratava-se de uma
disputa entre os partidários do papado, os guelfos, e os partidários do Sacro Império
Romano-Germânico, os gibelinos, após a morte do imperador do SIRG sem deixar
herdeiros no XII).
 As sátiras goliárdicas apresentam os eclesiásticos como animais: o papa como leão
devorador, o bispo bezerro, etc.
 Fortes acusações contra os monges: como concorrentes dos párocos, estes últimos
considerados vítimas da hierarquia em miséria e exploração. Crítica ao estilo de vida
afastado do século, em ascetismo e solidão (oposta à vida do goliardo).
 O goliardo como precursor do humanista do renascimento.
 Por ser homem da cidade o goliardo também satiriza o camponês e despreza o mundo
rural.
 Na crítica aos nobres, o militar tem destaque especial: “Para o intelectual urbano, as
batalhas do espírito, as justas da dialética substituíram pela dignidade as proezas
militares e as façanhas guerreiras. ” (p.57)
 Abelardo é um dos maiores poetas goliardos.
 Os goliardo foram empurrados para as margens do movimento intelectual. (p.58)
 Liberdade de espírito, dos costumes e da linguagem.
 Desaparecem com o século XIII atingidos pelas perseguições e condenações.

 Os autores e mestres modernos e medievais vão buscar nos antigos a inspiração


e a base para seus estudos e suas reflexões.
 “Os antigos são especialistas, que encontram lugar mais adequado em um
ensino especializado – o das artes liberais, das disciplinas escolares – dos que os
Padres ou a Escritura, que antes devem ser reservados à Teologia.” (p. 36)
 Para Le Goff os intelectuais medievais copiam os antigos, porém com a intenção
de acrescentar ao que eles deixaram, o famoso “anões nos ombros de gigantes”
de Bernard de Chartres.
 “O intelectual do século XII é um profissional, com seus materiais básicos, os
antigos, com suas técnicas, a principal das quais é a imitação dos antigos.” (p.
36). P
 A questão da dominação da Igreja e da Alta IM ter sido um momento de certa
estagnação da história. Os intelectuais do XII retomam o andamento da história,
estando no cenário urbano que é palco central das mudanças ocorridas naquele
período.
 A cidade como lugar de trocas, não só comerciais, como culturais e intelectuais.
Circulação de mercadorias, homens e ideias. Além dos produtos vindos do
oriente os manuscritos também chegam trazendo a sabedoria daqueles povos
para o ocidente cristão.
 Essa troca é muitas vezes devido aos combates militares, como as cruzadas, e se
destacam as regiões da Espanha e Itália como as receptoras iniciais dos
manuscritos orientais.
 Primeiro tipo de pesquisadores intelectuais especializados.
 São os pioneiros do renascimento, são feitas traduções do grego e do árabe para
o latim que é a língua científica naquele momento. Equipes de tradutores são
formadas, algumas incluindo judeus e moçárabes.
 Pedro, o venerável, abade ilustre de Cluny, forma uma das equipes
responsáveis por traduzir o Alcorão, para ele era preciso antes entender a
doutrina herética para então refutá-la. Combate no terreno intelectual,
além do militar.
 Principais representantes: Tiago de Veneza, Burgúndio de Pisa, Geraldo de
Cremona, etc.
 As contribuições do grego e do árabe chegam através da filosofia e das ciências:
matemática de Euclides, astronomia de Ptolomeu, medicina de Hipócrates,
Avicena e Galeno, a física e lógica de Aristóteles, a álgebra de Al Karismi, entre
outras. E para além da matéria também o método.
 A França herdará a cultura de Grécia e Roma através da incorporação à cultura
cristã dessas contribuições chegadas do oriente, principalmente devido as suas
zonas de trocas, como Chartres, Laon, etc.
 Em Paris professores regulares (cônegos) e mestres independentes que tinham
recebido do bispo a licentia docendi ministram aulas nos claustros ou em suas
casas particulares.
 “Paris deve sua fama primeiro à explosão do ensino teológico, que está no topo
das disciplinas escolares, porém logo, mais ainda, ao ramo da filosofia que,
usando plenamente a contribuição aristotélica e o recurso ao raciocínio, faz
triunfar os métodos racionais do espírito: a dialética.” (p.44)

 “Assim Paris, na realidade e simbolicamente, torna-se para uns a cidade-


farol, a fonte de toda a satisfação intelectual, e para outros o antro do diabo
onde se misturam a perversidade dos espíritos conquistados pela
depravação filosófica e as torpezas de uma vida voltada para o jogo, o
vinho, as mulheres.” (p. 44)
 Oposição entre os novos clérigos e os meios monásticos (que nesse momento
pregam a vida de isolamento no deserto e nas montanhas).
 Os clérigos parisienses, entretanto, veem em Paris uma Jerusalém (nas palavras
do abade Philippe de Harvengt), um local de iluminação.
 O livro trata de um tipo de erudito especificamente: o clérigo (intelectual/mestre
de escola). “Erudito e professor, pensador por ofício [...]. ”
 Primeira grande figura de intelectual moderno (no séc. XII) e primeiro grande
professor.
 Nascido em 1079 em família de pequena nobreza, se dedica aos estudos sendo
chamado de cavaleiro da dialética por Paul Vignaux. Em Paris entra em
disputas com mestres o que leva a seu afastamento, torna-se mestre e teólogo.
 Sobrinha do cônego Fulbert, aluna de Abelardo inicia com ele um romance que
levantará muitas discussões.
 Corrente antrimatrimonial no XII: o casamento cai em descrédito nos meios
nobres e nos colégios, acredita-se que o amor só existe fora dos casamentos
(como vemos nos romances da época: Tristão e Isolda, Lancelot e Guinevere).
 XII: século do desenvolvimento marial no ocidente.
 Movimentos que reivindicam para os clérigos os prazeres da carne, muito vistos
nos poemas goliárdicos.
 Abelardo escreve seu primeiro tratado de teologia que em 1211 o leva a ser
julgado pelo Concílio de Soissons. Seu livro é queimado e ele condenado ao
exílio no convento. Mais tarde foge e volta a dar aulas. Em 1136 está nas
montanhas de Sainte-Geneviéve dando aulas.
 São Bernardo (abade de Cister): “Esse apóstolo da vida reclusa está sempre
pronto a combater as inovações que lhe pareçam perigosas. Nos últimos anos de
sua vida, praticamente governa a Cristandade, ditando ordens ao papa,
aplaudindo a constituição de ordens militares, sonhando em fazer do Ocidente
uma cavalaria, a milícia de Cristo: um grande inquisidor antes da Inquisição.”
(p.69)
 Entra em disputa com Abelardo e o acusa de heresia. Abelardo se refugia em
Cluny onde Pedro, o Venerável, consegue cancelar sua excomunhão junto à
Roma e se retira para o convento de Saint-Marcel. Lá ele fica até sua morte em
1142.
 Abelardo foi um lógico e mestre da dialética, suas obras Manual de lógica para
principiantes e Sic et Non foram o primeiro discurso do método do pensamento
ocidental.
 Em seu trabalho “Todo o esforço da lógica deve consistir em proporcionar essa
adequação significante da linguagem com a realidade que ela manifesta”. (p.71)
 Sua obra Ética ou conhece-te a ti mesmo trata da introspecção e da moral, ele
subverte a questão da penitência, muito cara à Igreja medieval. “Esses
penitenciais atestam que, para o homem da Alta Idade Média, o essencial na
penitência era o pecado e, portanto, a punição. Abelardo exprimiu e fortaleceu a
tendência para inverter essa atitude. A partir daí o importante é o pecador, quer
dizer, sua intenção […].” (p. 72)
 Aliança da razão e da fé.
 “Chartres é o grande centro científico do século.” (p.74). Lá se estudam as artes
do trivium (lógica, gramática e retórica) e do quadrivium (aritmética,
astronomia, música e geometria).
 “É essa orientação que determina o espírito chartriano. Espírito de curiosidade,
de observação, de investigação que, alimentado pela ciência greco-árabe, vai
brilhar.” (p.74)
 Espírito de investigação e espírito racional.
 Crença na onipotência da natureza, que é um conjunto organizado e racional.
 Os chartrianos comentam o Gênesis explicando-o segundo as leis naturais
(Abelardo e o Hexameron, Thierry de Chartres e Segunda a física e ao pé da
letra). Dificuldades na relação entre Deus e natureza.
 Continua a dessacralização da natureza e a crítica ao simbolismo já adotada pelo
cristianismo, deixando de a considerar como deuses (sol, lua, etc.), mas como
criação de um Deus
 O homem no centro de sua ciência, filosofia e até teologia.
 Tese chartriana de que o mundo foi criado por Deus para o homem e que o
homem não foi criado por acidente (tese de São Gregório).
 O homem como racional, ele integra a razão e a fé (ensinamento fundamental
dos intelectuais do XII).
 analogia entre o mundo (macrocosmo) e o homem (microcosmo). Pensamento
revolucionário, pois trata o homem como totalidade e leva em consideração o
seu corpo.
 “A última palavra desse humanismo é, sem dúvida, que o homem que é
natureza, que pode compreender a natureza segundo a razão, também pode
transformá-la por sua atividade.” (p.83)
 O homem como artesão que transforma e cria, homo faber é o homem artesão
que coopera com Deus e com a natureza na criação.
 Honório de Autun: “O exílio do homem é a ignorância; sua pátria é a ciência.”
 Bernard de Chartres: professor, sólida formação gramatical. Bernard Silvestris e
Guillaume de Conches: cientistas. João de Salisbury: humanista e literato.
Gilbert de la Porrée: pensador e metafísico.
 Chartres formou pioneiros. Foram incorporados ao ensino tradicional da Igreja
tudo que fosse inovador, mas que não fosse contra os princípios da Igreja.
 Este intelectual só foi possível no cenário das cidades, sua função é o estudo e o
ensino das artes liberais ( que não é uma ciência, mas uma técnica).
 A ciência ligada ao ensino, deve ser transmitida aos indivíduos.
 A ferramenta do intelectual são seus livros.
 “A esses artesãos do espírito incorporados ao impulso urbano do século XII,
resta organizar-se no seio do grande movimento corporativo coroado pelo
movimento comunal. Essas corporações de mestres e estudantes serão, no
sentido estrito da palavra, as universidades. Essa será a obra do século XII.”
(p.90)
 É o século das corporações de ofício, onde os indivíduos se agrupam para defender seus
interesses.
 Independência ou privilégio? Ambiguidade citada por Le Goff que permeará a
corporação universitária.
 A universidade adquire autonomia lutando contra os poderes leigos e eclesiásticos.
 Os universitários são clérigos.
 O chanceler como chefe das escolas, que perde em 1213 o privilégio de conceder
licentia docendi, que é passado para os mestres. Em 1301 ele deixa de ser o chefe das
escolas (greve de 1229-31 a universidade deixa de pertencer à jurisdição do bispo).
 Embates com os reis (autoridade e autonomia universitária) e com os burgueses das
comunas (questão dos preços dos alugueis e dos alimentos e confusão nas cidades).
 Uso da greve para garantir direitos. Apoio civil e eclesiástico, em certa medida, devido
ao retorno econômico, centro de formação de conselheiros e funcionários, etc.
 O apoio do papado veio primeiro com Celestino III (1194) que concedeu alguns
privilégios, Inocêncio III e Gregório IX (Parens Scientiarum) que garantiram a
autonomia universitária.
 Estatutos de Roberto de Courson em 1215.
 “Sem dúvida a Santa Sé reconhece a importância e o valor da atividade intelectual; mas
sus intervenções não são desinteressadas. Se tira os universitários das jurisdições leigas
é para deixá-los soba jurisdição da Igreja: assim, para conseguir esse apoio decisivo, os
intelectuais se veem forçados a escolher o caminho da dependência eclesiástica,
contrariando a forte corrente que os empurra para o laicismo. ” (p.99)
 Para Le Goff os intelectuais se tornam agentes pontifícios.
 Corporação universitária é uma corporação eclesiástica e que lucra com os avanços
locais. Sua área de atuação é a cristandade como um todo, ela é internacional, pois seus
mestres e alunos vêm de toda parte, sua atividade não tem fronteiras e seus mestres
podem ensinar por toda parte (licentia ubique docendi).
 Organização administrativa e profissional: a parisiense pode ser tomada como típica, é
composta pelas faculdades de Artes, Direito, Teologia e Medicina (as 3 últimas
chamadas superiores dirigidas pelos mestres e pelo decano). A de Artes se baseia no
sistema de nações, o reitor é quem comanda, é a que tem o maior número de alunos.
 “O poder da corporação universitária baseia-se em três privilégios essenciais: a
autonomia jurisdicional – no quadro da Igreja, com algumas restrições locais, e o poder
de apelação do papa -, o direito de greve e de secessão, o monopólio da colação dos
graus universitários. ” (p.104)
 Os estatutos universitários regulamentam a organização dos estudos (duração,
programas, exames, etc.).
 “Pode-se dizer, grosso modo, que o ensino básico das universidades – o das artes –
durava seis anos para alunos entre os 14 e 20 anos; isso é que prescreviam em Paris os
estatutos de Robert de Courson. Compreendia duas etapas: o diploma do secundário
(baccalauréat) ao fim de dois anos, pouco mais pouco menos, e o doutoramento
(doctorat), no fim dos estudos. Medicina e Direito eram cursos para as idades seguintes,
entre 20 e 25 anos. ” (p.105)
 O ensino consistia em comentários de textos.
 Cada universidade tinha seu uso dos exames e da obtenção dos graus.
 “Os estatutos universitários compreendiam, enfim, uma série de disposições que, a
exemplo das outras corporações, definiam o clima moral e religioso da corporação
universitária. ” (p.109)
 Ritos de iniciação do “calouro” visando retirar sua selvageria campesina e o incorporar
à urbanidade universitária.
 Santos padroeiros dos estudantes, dos ofícios: representação dos santos na iconografia
assemelhando-se aos mestres.
 Sobre o manual de confessores: “Os manuais de confessores, preocupados em se
adaptar às atividades específicas dos grupos sociais, regulamentam a confissão e a
penitência segundo categorias profissionais, classificam e definem os pecados dos
camponeses, dos mercadores, dos artesãos, dos juízes, etc. Dão uma atenção
especial aos pecados dos intelectuais, dos universitários.” (p.111)
 Os livros como ferramenta base do ensino, deixam de ser artigo de luxo.
 Mudança na letra para facilitar cópias mais rápidas, diminui-se o tamanho do livro
(baratear o custo e facilitar o manuseio), diminui-se a ornamentação.
 O Método: Escolástica
 A gramática como base.
 Dialética.
 Autoridades: clássicos/doutores da Igreja
 Uso da razão – Teologia como ciência
 “Primeira questão: como viver? Como o intelectual não é mais um monge, cuja
comunidade assegura a manutenção de cada membro, tem de ganhar sua vida. Nas
cidades, os problemas de alimentação e do teto, do vestir-se e do equipamento
necessário – os livros são caros – são angustiantes. E a carreira de estudante era
muito custosa porque era longa. ” (p. 124)
 Le Goff diz que o estudante tinha duas formas de sustentar sua vida universitária: uma
bolsa doada por um mecenas particular ou subvenção de um organismo público ou
representante do poder político.
 A tendência era o mestre viver do dinheiro pago pelos estudantes.
 “A Igreja e mais especialmente o papado, chamou a si a responsabilidade de
regulamentar esse problema [dos estudos serem pagos]. Proclamou um princípio: a
gratuidade do ensino. A mais legítima das razões que motivavam essa posição era a
vontade de garantir o ensino dos estudantes pobres. Uma outra, que deixava claro um
estado de espírito arcaico e se referia ao período em só havia propriamente o ensino
religioso, considerava que a ciência era dom de Deus e consequentemente não podia ser
vendida sob simonia; e que o ensino fazia parte integrante do ministério (officium) do
clero.”.(p.126)
 Assim, a Igreja garantia também uma forma de controlar o ensino, nas
escolas catedralícias e universidades o mestre vivia dos benefícios da
Igreja, o que de certa forma o afastava da laicização.
 Fim do XIII e início do XIV: querela entre regulares e seculares (questão dos
mendicantes).
 “O problema da pobreza é bem um problema central que separa uns dos outros. A
pobreza procede daquele ascetismo que é recusa do mundo., pessimismo a respeito do
homem e da natureza. Nesse sentido, já se choca com o otimismo humanista e
naturalista da maioria dos universitários. Mas, principalmente, a pobreza entre os
dominicanos e os franciscanos têm como consequência a mendicância. Nesse ponto, a
oposição dos intelectuais é absoluta. Para eles, só se pode viver do seu trabalho.”(p.
133)
 “Mas duas tendências...até escritura (p.140)
 O intelectual medieval desaparece dando lugar ao humanista moderno.
 Crises levam a problemas financeiros que vão levar os universitários a se deslocarem
para outros centros de poder: as cortes dos príncipes ou viver de renda de um mecenas.
 “Dá enfim” (p.155)
 Hereditariedade na universidade. “Essa constituição de uma” (p.156)
 Mudanças no estilo de vida do intelectual, agora tem que levar uma vida “nobre”, com
elementos que os diferenciem dos demais (transformam seus símbolos em símbolos de
nobreza – luvas, anel, beca – sinônimo de distinção social). O título de mestre no séc.
XIV torna-se semelhante ao de senhor.
 Magister = Dominus: relação de vassalidade mestre x aluno.
 “Eis a ciência transformadora” (p.158)
 Veem os trabalhos manuais como inferiores, diferente do século XII e XIII que
aproximava as artes liberais das artes mecânicas.
 Aristocratização das universidades, separação da fé e da razão.
 “Depois de Ockam...experiência.” (p.164)
 “Não podiam...claras.” (p.166)
 Ha um retorno da “Santa ignorância” que toma o lugar da escolástica.
 Nacionalização das universidades, fortalecendo as monarquias ibéricas da Reconquista.
Principalmente criadas pelos príncipes ou papas. Essa nacionalização reduziu o nº de
pessoas de outros locais estudando nos centros principais (Paris, Bolonha) o que
deteriorou o sistema de “nações” dessas universidades.
 No fim da IM as grandes universidades se tornam potências políticas.
 Humanismo na universidade: ensino do grego e dos poetas clássicos – XIV e XV. A
primeira geração de humanistas franceses tem ligação com a universidade de Paris.
 O humanismo criticava a escolástica esclerosada – oposição entre o intelectual medieval
e o humanista do Renascimento. O humanista é mais literário do que científico.
 “A filosofia deve cobrir-se por trás das dobras da retórica e da poesia. Sua forma erfeita
é o diálogo platônico.” (p.189)
 1ª metade do XV: querela do escolástico x humanista sobre a tradução de Aristóteles.
Os primeiros mais filosóficos/científicos e os segundos mais poéticos.
 O humanista é um aristocrata, seu grupo é a academia fechada e ele ensina para uma
elite. Seu meio é a corte do príncipe.
 “A etimologia...medievais.” (p.192)
 São cortesãos, servem aos príncipes e se gabam da ociosidade.
 Volta ao campo dos aristocratas (humanistas), ao contrário dos intelectuais medievais
que viviam nas cidades.
 “Assim os humanistas abandonam uma das obrigações capitais do intelectual, o contato
com a massa, a ligação entre a ciência e o ensino.” (p.196)
 Para Le Goff o Renascimento se volta para si mesmo, é um afastamento.
 O povo fica afastado da vida cultural, uma vez que recebia orientações (já que são
iletrados) dos pregadores e artistas medievais antes formados pelas universidades, e a
imprensa inicialmente serve apenas aos alfabetizados.
 Analogia da imagem do professor (escolástico) x o erudito solitário (humanista).

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