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Esse artigo está em sua forma completa na revista Kerygma – Revista Eletrônica de Teologia do Centro
Universitário Adventista de São Paulo – UNASP. Para vê-lo lá, clique AQUI.
Como todas as coisas na vida humana, a espiritualidade está sujeita ao crescimento, ao desenvolvimento.
Não há nada estático na criação de Deus, nem em nossa vida. Queremos sempre achar segurança naquilo
que não muda.
Sinto muito, mas não há lugar estático, algo imutável, algo 100% seguro sobre a face dessa terra. O único
que é imutável é Deus (Ml. 3:6). Segurança acharemos na Pessoa e no lugar onde menos procuramos, fora
daquilo que vemos e cheiramos e apalpamos.
Mudança, desenvolvimento, crescimento ocorre em nossa vida espiritual à medida que vamos nos
confrontado com a Pessoa que é invisível, impalpável – DEUS. As experiências com a expressão de Seu Ser
vão nos dando certezas inabaláveis, que marcam as nossas ações e decisões na vida… Reconhecer o Ser
supremo e relacionar-se positiva e construtivamente com Ele é a essência do que é espiritualidade.
M. Scott Peck afirma que as pessoas se movem por quatro fases em sua jornada espiritual. Ele afirma:
“Assim como existem fases discerníveis no desenvolvimento físico e psicológico do ser humano assim
também há fases no crescimento espiritual.” Como base para o raciocínio a seguir as fases são: Anomia,
legalista, decepção e maturidade.
3) Fase da Decepção: Ao passar o tempo e experiências vão sendo feitas novas percepções entram em
vigor. Irmãos são observados e depois das primeiras experiências com Deus, uma pergunta começa a dirigir
a vida do crente: “como é a vida de um cristão que vive há muito tempo com Deus?” ou outra: “deixa eu ver
o efeito de viver a vida cristã na vida de alguém que anda com Cristo há mais tempo… Será que eu quero
isto para minha vida?”
A decepção está aguardando. A trombada entre expectativas elevadas e a dura realidade da falibilidade
humana é inevitável. Não poucas vezes esta experiência capota a fé de novos crentes.
Pouco a pouco vai observando os defeitos dos irmãos, de líderes, da igreja e se a pessoa tem uma visão um
pouco mais ampla vê os defeitos da organização como um todo. Como se isto não bastasse, se o crente for
honesto consigo mesmo e não deixar se ofuscar pelo perfeccionismo, vê suas próprias lutas e derrotas, e o
castelo de sonhos cai. A ilusão dá lugar ao real, a expectativa dá lugar ao fatual.
Nesta fase o crente se torna ácido, os seus olhos parece que se abrem para o defeito. Alguns passam a não
enxergar mais nada a não ser os defeitos. Não demora muito a atitude de impotência para mudar o sistema,
bem como a crítica se instalam minando as forças espirituais que sustentavam a vida. As disciplinas
espirituais são negligenciadas.
É nesta fase que alguns querem controlar e supervisionar para terem a percepção que as coisas não estão
fora de rumo – como se o seu rumo fosse melhor do que o rumo que outros dão… Outros desistem de lutar
nesta fase, quando percebem as sucessivas derrotas que sofrem.
Há uma tendência de se estagnar nesta fase que é cognominada de fase da areia movediça. Muitos que
caem nesta fase perdem o vigor espiritual e se permanecem na igreja, ficam ali como membros e desistem
de progredir em seu discipulado.
Por ser uma fase na qual o crente não é cooperativo com a igreja, tende a se tornar desagradável e
acontece com pessoas que já estão um bom tempo na igreja muitos negligenciam e ou descriminam,
deixando-o marginalizado. O tecido social da igreja não está preparado para pessoas assim e muitas vezes
este tecido é preparado para não aceitar a influência “deste tipo de gente”.
A situação piora por que o próprio crente que passa por esta fase e a torna visível para outros (não
esquecendo que todos passam por esta fase e nem todos a tornam visível) se tornam céticos e cínicos e têm
dificuldades de aceitar ajuda.
Num pragmatismo doentio que se implantou em meio ao cristianismo “você é ou não é” algo, ninguém
permite o desenvolvimento de um processo. Tanto por parte da igreja como por parte do crente que passa
por esta fase há desconfianças. “A igreja não muda” diz o crente decepcionado. “Ninguém consegue mudar
alguém!” diz a igreja.
É mandatória nesta fase a atenção pastoral, aproximação pessoal, baixar armas dos dois lados e trazer o
indivíduo para dentro da rede de afeto e atenção da igreja novamente, explicando-lhe a fase pela qual está
passando e que há possibilidades e necessidade de crescimento.
É necessário ajuda para entrar na próxima fase de transição.
4) Fase da Maturidade: Aqui o crente já passou pelas fases mais difíceis e começa a desfrutar com
equilíbrio e grandeza a sua vida com Deus.
Nesta fase o cristão sabe que as coisas não são perfeitas, também não tenta usar a lei como ferramenta
para arrumar o que está errado, não precisa mais criticar, pois percebe a falibilidade de tudo inclusive de si
mesmo, aprende a se importar com as pessoas e com Deus em sua vida.
É a fase do serviço maduro. O crente sabe servir e entende que faz bem para as três partes: Deus, a si
mesmo e ao próximo (cf. artigos complementares: Relacionamentos Marcados pelo Amor). É a fase na qual
conhece os seus dons e sabe utilizá-los.
Suporta a falibilidade humana em suas diversas manifestações (incluindo a crítica daqueles a quem está
ajudando). Não é que este crente não se fira ou reaja fortemente aos abusos que sofre ao tentar servir, pelo
contrário, sabe se impor e colocar limites mesmo estando ferido.
Ele aprende a ver a imagem maior. Com os olhos fixos no grande conflito entre o bem e o mal e a volta de
Jesus tem motivos e motivação suficientes para seguir avante em seu serviço a Deus e ao próximo. Não
precisa de reconhecimento e muito menos aplauso. Sabe lidar com a crítica e com o elogio sem perder a sua
comunhão íntima com Deus e com a sua igreja.
De forma nenhuma esta fase deve ser confundida com a fase de um “super-cristão”, pois ainda e sempre
está sujeito à queda e ao retrocesso.