HAAS, Ernst B. “International Integration: The European and the Universal Process” (1961) Francielle Mazocco
O artigo referido analisa como se constroem integrações, especialmente na Europa –
uma vez que o autor considera que em outras partes do mundo, a tendência é a desintegração. O autor considera a integração como uma comunidade política formada por diversos Estados que possuem valores, expectativas e ações política em comum. Haas destaca três diferentes modos de firmar um acordo de integração: pelo chamado “mínimo denominador comum”, que consiste na forma mínima de cooperação e é normalmente feita por diplomatas; “dividindo a diferença”, pela qual os conflitos são resolvidos por meio de barganhas e é mais comumente vista em organizações econômicas; e, finalmente, aumentando os interesses em comum, o que, segundo o autor, se aproximaria de uma comunidade política. Além dessas três, o autor também aborda a Diplomacia Parlamentar, que consiste na existência de uma organização contínua em que haja debates, regras de procedimento, um quadro de referência e a homologação de uma Resolução Final – sendo a ONU claramente o maior exemplo. Segundo Haas, todas essas formas de integração estão presentes na Europa, destacando a presença da Diplomacia Parlamentar e os diversos organismos regionais, como a Organização Europeia para Cooperação Econômica (OEEC) e o Conselho Europeu. Haas traz em seu artigo os fatores de fundo para a construção da integração. São eles: estrutura social – que deve ser pluralizada –, forte desenvolvimento industrial e econômico e padrões ideologicos – uma vez que políticas de integração dependem também da política nacional e da atuação de partidos e políticos. Ademais, o medo de um inimigo em comum também pode ajudar a construir uma integração, sendo citado o exemplo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que não existiria sem a existência da União Soviética. Entretanto, esse único fator não é capaz de consolidar um processo de integração. O autor acredita que as lições sobre integração passadas pela União Europeia deveriam ser um exemplo para outras regiões do globo, citando no texto o bloco soviético, o mundo árabe e a América Latina. Haas afirma que o primeiro possui apenas instituições de caráter intergovernamental e não supracional e que, diferentemente de outras regiões, neste caso a integração está nas mãos de apenas uma elite nacional. Já no caso árabe, o autor declara que também há apenas conferências intergovernamentais e secretário fracos e que nada realmente efetivo aconteceu da tentativa de integração árabe. Sobre a América Latina, Haas reconhece a existência de organizações mais articuladas mas as considera incipientes e insuficientes, e aponta a ineficiência da Organização dos Estados Americanos (OEA) em resolver conflitos relacionados a intervenções externas em conflitos civis, como nos casos da Guatemala, República Dominicana, Costa Rica e Cuba. Por fim, Haas mostra as lições que a ONU poderia tirar do caso da União Europeia. Ele proclama o caráter volátil da organização, uma vez que é formada por muitos países com culturas e graus de desenvolvimento muito diferentes – e muitas vezes, inimigos – e que, consequentemente, possuem objetivos muito diversos. O ambiente das Nações Unidas pode mudar a cada admissão de um novo membro, revolução ou eleição. O aumento de interesses comuns tem aumentado nos debates, mas o mínimo denominador comum ainda é prevalente, o que, segundo Haas, dificulta a construção de uma verdadeira comunidade política pela ONU. Ademais, o autor acredita que os processos de integração regional não são totalmente efetivos, pois, apesar de ajudarem na construção da paz regional, essa paz não alcançaria o nível global, conservando o sistema internacional atual: “uma arena para minimizar conflitos e maximizar interesses em comum na defesa do mínimo denominador comum” (HAAS, 1961, p. 392). Para analisar o artigo, é importante lembrar que este foi escrito há quase sessenta anos, em 1961. Dessa forma, é mister notar que os meios de analisar as Relações Internacionais eram ainda mais eurocêntricos que agora. Entretanto, é impossível não destacar o caráter superior que Haas dá ao bloco europeu, ressaltando todas as suas qualidades e colocando-o como o exemplo maior a ser seguido, inclusive pela ONU. O autor inclusive proclama que essas outras regiões estão fadadas à desintegração. Assim, é desconsiderado que cada Estado e região possui seus próprios interesses que, talvez, a forma de integração da União Europeia não seja a mais adequada – e de maior interesse – para todas as regiões, uma vez que elas são heterogêneas, com diferentes necessidades e valores. Contudo, cabe slientar a coerência nas ideias do autor – ainda que seu caráter possa ser dubitável.