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In this article, we will look at some fundamental concepts in Particle Physics through the detailed study of a
specific process of Quantum Electrodynamics (QED): the Bhabha scattering. It occurs in the interaction between
an electron and its antiparticle, the positron, one of the basic QED processes. Our choice for work this process is
due to the wealth of details provided by the two possibilities (channels) of interaction which serve to illustrate the
calculation of interference between possibilities. Furthermore, this process is used to determine the luminosity of a
particular collider, which ensures greater accuracy in measurements of other relevant quantities for the analysis
of interactions between particles. Finally, comparing the QED prediction with the experimental results of the
DESY-PETRA-TASSO experiment.
Keywords: particle physics, elementary processes, quantum electrodynamics.
ligados detectáveis devem ter um estado final branco - o propagador do elétron e do fóton devido ao escopo deste
chamado singleto de cor. trabalho, para maiores detalhes vide [11–14]. Já na seção
Um exemplo deste tipo de interação é realizado no 3, fazemos uma revisão sobre algumas grandezas básicas
Grande Colisor de Hádrons (LHC: Large Hadron Colli- utilizadas modernamente na Física de Partículas, bem
der). As partículas produzidas nesse tipo de colisor pos- como a atual forma de cálculo, através dos diagramas
suem diferentes propriedades, tais como spin, massa, e de Feynman. Na seção 4, apresentamos os cálculos do
carga elétrica. No momento da análise da colisão, diferen- processo de forma detalhada, principalmente o termo
ciar uma partícula X de todas as outras requer detectores de interferência, normalmente não incluído nos livros
específicos e simulações entre a estrutura do detector e a texto da área. Finalmente, elencamos algumas conclu-
física subjacente. Ainda, devemos lembrar que processos sões relevantes e aplicações do processo dentro das atuais
envolvendo partículas e antipartículas também surgem colaborações nos aceleradores de partículas, como o ILC.
nesse tipo de colisão, porém, desta vez, regidos pela teoria
Eletrofraca: unificação da teoria eletromagnética (QED)
2. Introdução à Eletrodinâmica Quântica
com a teoria para as interações fracas, responsáveis pelo
decaimento nuclear beta e também pelo decaimento do A eletrodinâmica quântica (QED, do inglês Quantum
píon e do múon, entre outras. Desta forma, dizemos que Electrodynamics) é a teoria que unifica os fenômenos ele-
processos analisados pela teoria eletrofraca resultam num tromagnéticos, como ondas de rádio e radiações, com a
sinal experimental com menos ruído. O Colisor Linear física quântica, levando a aplicações práticas na eletrô-
Internacional1 (ILC: International Linear Collider) coli- nica, computação e descreve as interações entre quarks
dirá elétrons e pósitrons e utilizará o processo Bhabha e léptons. Ainda, devemos salientar que a QED é quase
para determinar a sua luminosidade [1]. Além disso, pro- toda a base da química que conhecemos. Além disso, é
curará determinar as propriedades do Bóson de Higgs, uma teoria Abeliana, ou seja, os campos de gauge comu-
Dimensões extras e a partícula supersimétrica mais leve. tam entre si ([Aµ , Aν ] = 0) pertencendo ao grupo U (1),
A utilidade mais próxima de nós do estudo desse tipo de sendo estes os campos eletromagnéticos. Por Abeliano,
processo pode ser visto em [2] o qual trata da antimatéria dizemos que os mediadores de campo (os fótons), não
na medicina moderna. Por fim, devemos lembrar que há possuem carga e, portanto, não podem interagir entre
estudos igualmente importantes nesta área como estados si. Nos diagramas de Feynman temos vértices, ponto
ligados, decaimentos, oscilações de neutrinos e medidas de ”contato”, entre partículas/anti-particulas com o pro-
de momentos dipolares magnéticos e elétricos. pagador do bóson que media a interação. Este vértice
Neste sentido, propomos trabalhar a transposição ex- surge ao aplicarmos o princípio de Gauge2 nos campos
terna do conteúdo, aquela onde o pesquisador traz os fermiônico. Para termos uma ideia de como o obtemos,
conhecimentos da área para um nível acessível ao estu- partimos do Lagrangeano para partícula livre de spin
dante interessado nesta área da Física, inserindo novas 1/2 (Dirac) dado por
visões para temas já apresentados nos primeiros anos da
graduação, ou novos conceitos apresentados pela primeira LDirac = ψ̄(iγ µ ∂µ − m)ψ. (1)
vez [3]. Nosso foco, neste artigo, é discutir fundamentos
da Física de Partículas Elementares, através dos pro- A transformação de gauge local (dependência de coorde-
cessos da Eletrodinâmica Quântica (QED) [4–9], haja nadas tipos espaço em α(x)) ocorre da seguinte forma:
vista que os processos básicos de interação entre elétrons,
ψ (x) → eiα(x) ψ(x) e ψ̄ (x) → ψ̄(x)e−iα(x) (2)
0 0
ou entre o elétron e sua antipartícula - o pósitron - são
importantes em diversos ramos de aplicação da Física,
como por exemplo a Física das Radiações [10], onde a Vale lembrar que existem outros tipo de transforma-
aniquilação e produção de pares são utilizadas para o ções de gauge, como a global. Em que α, desta vez, não
diagnóstico e tratamento de doenças. Este é o princípio depende de coordenadas tipo espaço. Retornando a de-
da tomografia por emissão de pósitrons (PET). Em par- rivação, substituindo (2) em (1) e tomando a derivada
ticular, vamos nos dedicar ao estudo de um processo que parcial, obtemos:
inclua estes dois aspectos: o processo Bhabha, que pode
(3)
0
∂µ ψ → eiα(x) ∂µ ψ(x) + ieiα(x) ψ(x)∂µ α(x)
ser interpretado como uma aniquilação entre elétron e
pósitron seguida da produção do par. O segundo termo de (3) quebra a invariância de LDirac .
Por esse motivo, este texto básico se destina a es- Uma forma de contornar esse problema, é modificar a
tudantes de graduação interessados na fenomenologia derivada parcial para derivada covariante de forma a
dos processos da Física de Partículas, como uma leitura satisfazer a invariância de gauge local
introdutória que apresenta as grandezas fundamentais
envolvidas nestes. Para tanto, na seção 2, apresentaremos 0 0
Dµ ψ → eiα(x) Dµ ψ, (4)
o princípio de Gauge aplicado a QED e sua aplicação
ao processo Bhabha. No entanto, não vamos derivar o
2 ”Asequações de movimento são invariantes sob uma transforma-
1 https://www.linearcollider.org/ILC ção de Gauge local”.
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 40, nº 3, e3318, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0395
Nóbrega e Mackedanz e3318-3
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0395 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 40, nº 3, e3318, 2018
e3318-4 Espalhamento Bhabha: Um Estudo Detalhado
o que mostra que a massa é uma grandeza invariante. O medida em unidades de área. Pelas dimensões envolvidas
último passo usa as definições para energia e momentum na Física de Partículas, definimos uma unidade especial
relativísticos. A partir destas relações entre os momenta chamada barn, em que 1 barn = 10−28 metros2 .
iniciais, podemos construir relações úteis no referencial Para determinar corretamente a seção de choque, deve-
CM, também invariantes. mos lembrar que a representação ocorre num espaço de
A forma como os 4-momenta são transferidos entre os transferência de momentum, chamado de espaço de fase
estados inicial e final permitem definir grandezas inva- do processo. Considerando um processo 1 + 2 → 3 + 4,
riantes, denominadas variáveis de Mandelstam. Elas existe uma taxa de transição por unidade de volume
apresentam relações que envolvem a energia, o momen- deste espaço de fase Wf i . Em outras palavras, esta é a
tum e o ângulo de espalhamento das partículas iniciais e densidade de probabilidade do processo ocorrer. A seção
finais do processo. Tomando uma das partículas (e seu de choque é proporcional a esta densidade, considerando
momentum) como base, podemos ter três combinações, o fluxo de partículas incidentes e o número de estados
vistas como canais de transferência de momentum: ani- detectados ao final do processo.
quilação (canal s) e espalhamento (canais t e u), definidos Considerando cada um destes termos em separado,
como: iniciamos com o número de estados finais. Para defi-
nir o número total destes, vamos considerar uma porção
s = (P1 + P2 )2 = (P3 + P4 )2 finita do espaço de fase, uma caixa cúbica de lado L. Em
t = (P1 − P3 )2 = (P2 − P4 )2 (15) cada dimensão linear, o número de estados possíveis é
2π ∆p, onde o fator 2π surge das condições de contorno
L
u = (P1 − P4 )2 = (P2 − P3 )2
periódicas do problema. Como este espaço considerado é
No limite relativístico, a massa invariante das par- isotrópico, o número total de estado disponíveis dentro
tículas envolvidas no espalhamento Bhabha pode ser desta caixa é (2π)
V
3 ∆ p. O número de partículas em cada
3
considerada como nula (Pi2 = m2i ≈ 0) e, aplicando a unidade de volume é definido como 2E, de forma que o
relação energia-momento 13, obtemos número de estados permitidos por partícula é
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onde |~ p1,2 | e |~
pi | = |~ p3,4 |.Assim, a seção de choque
pf | = |~
diferencial (dependente do ângulo de espalhamento θ)
para o processo é dada por [24]:
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0395 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 40, nº 3, e3318, 2018
e3318-6 Espalhamento Bhabha: Um Estudo Detalhado
Figura 3: Canais com as contribuições de aniquilação (canal s) e espalhamento (canal t) para o processo Bhabha
onde o fator 14 surge devido à média sobre todas as Podemos verificar que os dois diagramas têm expressões
possíveis configurações de spins das partículas incidentes4 similares finais, apenas mediante a troca s ↔ t. Esta
Com isso, e utilizando as relações de completeza pre- observação é importante para que possamos verificar
sente no apêndice A1.1 e A1.2, tanto para o pósitron que os dois termos presentes na interferência terão este
quanto para o elétron5 , obtemos mesmo comportamento.
Para concluir o cálculo deste processo, devemos obter s
8e4 termo de interferência. Na primeira parte dele, juntamos
< |M1 |2 >= [(p1 ·p3 )(p2 ·p4 )+(p1 ·p4 )(p2 ·p3 )],
(P1 + P2 )4 as expressões já definidas acima e temos
(30)
na aproximação relativística que estamos utilizando. Re- e4
M1 M∗2 = [ū(3)(γ µ )v(4)] [v̄(2)(γµ )u(1)]
escrevendo esta expresão em termos das variáveis de ts | {z }| {z }
Mandelstam (Eqs. 15), encontramos a b
ν
2 × [ū(1)(γ )u(3)] [v̄(4)(γν )v(2)]
t + u2
| {z }| {z }
< |M1 |2 >= 2e4 (31) c d
s2
Como a,b,c e d são números, vamos reordená-los de
No caso do diagrama 2, onde a troca de momentum desse maneira conveniente. Logo:
diagrama ocorre no canal t, ou seja, t = (P1 −P3 )2 , temos
e4 e4
2 M1 M∗2 = [a · d · b · c] = [ū(3)(γ µ )v(4)]
−e ts ts |
M2 = [ū(3)(γ ν )u(1)][v̄(2)(γν )v(4)] (32)
{z }
a
k2
× [v̄(4)(γν )v(2)] [v̄(2)(γµ )u(1)] [ū(1)(γ ν )u(3)]
e sua conjugada | {z
d
}| {z
b
}| {z }
c
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 40, nº 3, e3318, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0395
Nóbrega e Mackedanz e3318-7
1 e4 2Ef eixe ):
< |M1 M∗2 | > = 2 ] (36)
ν µ
T r[γµ
P
1γ P
3γ P
4 γν
P
4 ts | {z }
α2 (1 + x)2 + 4 (1 + x2 ) (1 + x)2
C dσ
= + − (40)
Aplicando a propriedade da notação slash(apêndice A.3.8’) dΩ 2s (1 − x)2 2 (1 − x)
em C da Eq 36:
A figura 5 mostra a seção de choque diferencial calcu-
< |M1 M∗2 | >=
1 e4
(−2)T r[
P ν lada através da Eq. 40. Nesta figura foi comparada a curva
3γ PP
4 γν
P]
teórica com os dados obtidos pela Colaboração Tasso7 .
1
4 ts | {z } 2
D
Ainda, se a energia de centro de massa fosse da ordem
Fazendo uso da propriedade das matrizes gama(apêndice da massa do bóson Z (mZ = 91.1876 GeV) [24], teríamos
A.3.7) em D6 na equação acima: um diagrama idêntico ao do canal s exceto pela troca de
1 e4 γ por Z. O bóson Z(neutro) e W ± (carregado) são bósons
< |M1 M∗2 | >= (−8(P1 · P4 )T r[
PP
32] massivos descritos pela teoria Eletrofraca. Sendo esta
4 ts
responsável pelo decaimentos radioativos. Desta forma,
Por fim, aplicando o teorema do traço (apêndice A.4.4), teríamos 3 diagramas mais as suas respectivas interferên-
obtemos cias.
1 e4
< |M1 M∗2 | >= (−32)(P1 · P4 · P3 · P2 )
4 ts Para obtermos a figura 4, os dados experimentais de-
ou, em termos das variáveis de Mandelstam vem ser dividos por s (energia de centro de massa ao
quadrado), pois é desta forma que os dados experimentais
u2 estão no artigo experimental.
− < |M1 M∗2 | >= 2e4 (37)
ts Além disso, integrando a equação(35) no ângulo sólido
Como a troca do diagrama 1 pelo 2 levou a resultados |cos(θ)| < 0.84, obtemos a seção de choque total em
similares em suas amplitudes de espalhamento, exceto relação a energia de centro de massa, como é mostrado
pela troca s ↔ t, podemos considerar a mesma troca na figura 5.
para a segunda parte do termo de interferência, o que Este resultado, confrontando teoria e experimento, é a
leva a um valor igual ao obtido no primeiro. Assim, a principal avaliação de nosso cálculo. Antes de afirmarmos
soma deles resulta em: a boa descrição dos dados experimentais, é importante
u2 ressaltar que esta etapa nos permite grandes avanços
− (< |M1 M∗2 | > + < |M1∗ M2 | >) = 4e4 (38) na teoria e na fenomenologia da Física de Partículas.
ts
Esta comparação deve ser vista, então, como o principal
Com isso, a amplitude total de Lorentz é: resultado de qualquer cálculo de processos na Física de
Altas Energias.
2
t + u2 u2 + s2 u2
< |M|2 >= 2e4 + + 2 (39)
s2 t2 ts
5.1. Simetria de Cruzamento
Substituindo as variáveis de Mandelstam (Eq. 15) por
sua relação com os ângulos de espalhamento, a Eq. (39) A simetria de cruzamento8 pode ser usada para se obter
torna-se a amplitude de espalhamento através de outro processo,
"
4 θ ou seja, trocando a partícula P pela sua anti-partícula
4 cos ( 2 ) + 1 (1 + cos2 (θ))
2
< |M| > = 2e θ
+ P̄ . Além disso, também permite a obtenção de um decai-
4 2
sen ( 2 ) mento do processo A → B̄ + C + D a partir de A + B →
C + D. Cabe salientar que o número leptônico sempre
#
cos4 ( θ2 )
− 2 7 Neste
sen2 ( θ2 ) mesmo experimento foi descoberto o glúon [26] em 1979,
o mediador da força forte, descrito pela cromodinâmica quân-
6 Lembrando que agora P1 P2 são escalares e, portanto, saem do tica(Quantum Cromodynamics - QCD).
traço. 8 Ou crossing symmetry.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0395 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 40, nº 3, e3318, 2018
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√
Figura 5: Seção de choque total em termos da energia de centro de massa ( s).
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9 https://github.com/fabiokopp
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