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Conteúdos:

A comunicação e a construção do indivíduo


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- A invasão da comunicação.

- A comunicação humana e não humana.

- Sociedade e comunicação.

- Comunicação verbal e não verbal.

- Comunicação como interação com o outro.

- Comunicação cultura e sociedade.

- A interação com o meio e a sociedade.

- Os elementos básicos do processo comunicativo.

- A lógica - a semântica, a sintaxe e a pragmática.

- A estrutura do silogismo.

- A argumentação na intenção comunicativa.

- O que é argumentar.

- Argumentação e persuasão.

- Retórica e Nova Retórica


COMUNICAÇÃO: INEVITABILIDADE E ELEMENTOS

Comunicar e informar

2 Quando pensamos na palavra comunicar, imediatamente percebemos que


comunicar é algo que faz parte
da vida humana.
Haverá outros sentidos para esta
palavra, mas o essencial é
aquele que nos diz que
comunicar implica sempre o
estabelecer de uma relação ou
ligação entre pontos ou pessoas.
Deste modo, a comunicação é o
sustentáculo da vida social e um
meio que possibilita e
proporciona as relações
humanas.
Assim, nenhum ser humano pode escapar à comunicação, todos vivem com ela, quer
dizer, a comunicação é inevitável.
Na verdade, todos os indivíduos emitem e recebem mensagens através de códigos,
sinais ou símbolos:

um sinal é um objeto, gesto ou ideia que permite identificar algo de modo claro
e rápido (por exemplo, o sinal de proibição, dizer adeus ou a bandeira vermelha
na praia);
 um símbolo transmite, normalmente, um sentido mais profundo do que o sinal
(por exemplo, o símbolo de uma religião, de um partido político ou de um clube
desportivo).

Podemos referir vários tipos de comunicação:


 parar com o sinal vermelho e avançar com o verde (comunicação por sinais
visuais);
 não ocupar o estacionamento para pessoas com deficiência (comunicação

3 codificada ou simbólica);
 seguir as indicações do polícia de trânsito (comunicação gestual);
 ler um anúncio num jornal (comunicação escrita);
 pedir um café ao empregado de mesa (comunicação oral).
Sabemos que o ser humano é um animal social, que vive em comunidade, inserido num
determinado contexto político, cultural e económico e, enquanto tal, tem possibilidade
de se exprimir e emitir as suas opiniões. Deste modo, todo o indivíduo deve ter o direito
e o dever a informar e ser informado.
Informar é transmitir a outra pessoa algo que ela desconhece.
Para informar, podemos escolher a informação mais importante, usando a linguagem
mais apropriada e a mensagem mais eficaz para o recetor que se pretende informar. No
entanto, também podemos não informar convenientemente nem escolher a mensagem
mais adequada, deixando o recetor com dúvidas ou mesmo mal informado.
Atualmente, o poder dos meios de informação é tão grande que a comunicação tanto
pode servir para informar como para enganar, ou manipular, ou ocultar a informação,
fazendo passar por verdadeiro aquilo que é falso, e vice-versa.
Informar e comunicar são, portanto, conceitos que se complementam. Na verdade, a
comunicação é mais efetiva quando a informação é útil e verdadeira. Mas, ainda que
não o sendo, a informação pode ser importante se permitir ao recetor retirar dela

4 consequências positivas e interessantes para si próprio.

Linguagem, língua, fala e discurso

Geralmente, os erros do pensamento manifestam-se nos erros linguísticos. As palavras e


os conceitos estão ligados entre si, tal como se ligam ao pensamento e ao ato de falar.
Muitas vezes usamos de forma indistinta termos que se referem a realidades diferentes.

É o caso dos termos linguagem, língua, fala e discurso.

 LINGUAGEM: é a faculdade humana de comunicar, ou seja, é um sistema de


comunicação que permite que uma mensagem seja trocada entre pelo menos
duas pessoas,

 LÍNGUA: é um sistema de cariz social constituído por palavras e regras


gramaticais. Sendo um património coletivo, uma língua evolui no tempo. Pode
usar-se também o termo idioma para nos referirmos a ela.
 FALA: é a língua em uso, quer dizer, o ato concreto de utilizar uma língua ou

5 idioma por parte de um sujeito falante.

 DISCURSO: é aquilo que se diz ou escreve numa determinada circunstância ou


situação, procurando produzir um efeito sobre alguém.

A linguagem que usamos com mais frequência chama-se linguagem verbal. Esta
recorre ao uso de signos linguísticos, que são vulgarmente chamados palavras.
Geralmente, as palavras apresentam duas componentes:
 uma componente material (sequência de letras e sons) denominada significante,
 uma componente não material (que se refere a um ser, objeto ou ideia)
denominada significado.
Contudo, nem sempre uma palavra significa a mesma coisa, podendo variar de
significado de acordo com o contexto e com o uso que uma determinada pessoa dela
possa fazer.
Deste modo, as palavras podem ser entendidas a dois níveis:

 conotativo: no sentido particular que uma palavra ou enunciado podem


tomar num certo contexto;
 denotativo: refere-se ao uso permanente de uma palavra, que exclui
qualquer valor subjetivo.

Principais formas de comunicação ou linguagem

Existem diversas formas de linguagem. Podemos referir algumas:


 Linguagem verbal (escrita) - manuscrita ou impressa (por exemplo, usando
o alfabeto na língua portuguesa) e em relevo (por exemplo, o braille).
 Linguagem verbal (oral) - aparelhagens sonoras, telefone, rádio,
computador, etc.
 Linguagem verbal (audiovisual) - televisão, cinema, computador, etc.
 Linguagem não verbal (gestual) - gestos dos polícias de trânsito.
 Linguagem não verbal (codificada ou simbólica) - símbolos químicos,
código de Morse, sinais de trânsito, símbolos usados na meteorologia, etc.

6  Linguagem não verbal (por sinais) - sinais de fumo e de luzes (visuais);


tambores, sirenes e assobios (acústicos).
 Linguagem não verbal (por ação) - lágrimas ou riso.

ARGUMENTAÇÃO E PERSUASÃO

A Comunicação Argumentativa

Mais do que a mera transmissão de uma mensagem, a comunicação é um processo que


visa levar os outros a aderirem às nossas ideias ou teses.
O emissor, o código e a mensagem, o meio, o recetor e a resposta são os principais
elementos do processo de comunicação. Todos estes elementos podem estar presentes
no processo argumentativo.

EMISSOR - É a fonte da mensagem, aquele que emite a mensagem.

CÓDIGO - É o conjunto de regras, símbolos, palavras ou números através dos quais se


constrói uma mensagem (aquilo que se quer transmitir), para que seja entendida pelo
recetor.

MEIO ou CANAL (de transmissão da mensagem) - É a via pela qual circulam as


mensagens. Aqui podem ocorrer interferências, que se chamam ruído. As interferências
podem estar ligadas ao emissor (perturbações na fala ou no tom de voz), podem ter a ver
com o recetor (desatenção, dificuldade auditiva, etc.), podem relacionar-se com a

7 mensagem (frases mal construídas ou confusas), com o código (uso de palavras


ambíguas) e com o canal (interferências telefónicas, falhas na internet, fotocópia de má
qualidade, etc.).

RECEPTOR - É aquele que recebe a mensagem e que a interpreta.

RESPOSTA - Consiste no retorno ou feedback, através do qual o emissor avalia a


eficácia da sua comunicação.
Grande parte da comunicação que realizamos está ligada à argumentação.
Na verdade, no nosso dia-a-dia argumentamos com muita frequência, procurando
convencer os outros a aceitarem os nossos pontos de vista, a aderirem às nossas teses, a
agirem de acordo com o que nos parece mais razoável.
Toda a comunicação argumentativa, sendo um processo onde se trocam mensagens,
pressupõe uma língua em comum e o reconhecimento pelo emissor e pelo auditório
(pessoa ou conjunto de pessoas que recebe a mensagem) da dimensão racional da
argumentação e da possibilidade de alteração do comportamento por adesão a tal
argumentação.

Segundo Aristóteles, existem três dimensões da comunicação argumentativa: a do


orador, a do auditório e a da mensagem, as quais ele denominou, respetivamente, de
ethos, pathos e logos.

A dimensão do orador (ethos) refere-se ao carácter do orador, à sua integridade e


honestidade e, neste sentido, quanto mais um orador, através da palavra, se mostrar
digno de confiança e de respeitabilidade, mais facilmente o auditório aceitará as suas
teses. Se, através do seu discurso, o orador conseguir persuadir o auditório de que as
suas qualidades morais são elevadas, mais o auditório terá em alta conta o carácter do
orador e mais provavelmente se deixará convencer pelos seus pontos de vista.

A dimensão da mensagem (logos) refere-se aos argumentos racionais organizados em


discurso, articulados pelo orador para defender o melhor possível as suas ideias. Nesta
medida, quanto melhores forem os argumentos, isto é, quanto mais coerência lógica
tiverem, mais persuasivos se tornarão. Assim sendo, a força dos argumentos em si
mesmos será a forma de o orador defender as suas teses e de obter a adesão do
auditório, levando, eventualmente, a uma alteração de comportamentos.

A dimensão do auditório (pathos) refere-se às emoções, paixões e sentimentos que o


orador consegue despertar no auditório. Deste modo, levando-o à exaltação, à euforia, à
revolta, ao sentimentalismo, à agressividade, etc., mais facilmente o orador conseguirá
convencer o auditório a aderir aos seus objetivos. Neste caso, o orador deverá possuir
alguns conhecimentos de psicologia, no sentido de melhor estimular as emoções dos
ouvintes para mais eficazmente os persuadir.
Argumentar e demonstrar

No nosso quotidiano argumentamos frequentemente, mas não utilizamos os mesmos


argumentos para demonstrar um problema matemático ou um problema social.
Assim, temos que distinguir a argumentação da demonstração.
A demostração parte de proposições indiscutíveis e a argumentação parte de
proposições discutíveis.
A demonstração é impessoal, não depende da pessoa que a apresenta nem do contexto
em que é apresentada; por outro lado, a argumentação depende muito de quem e como
argumenta, da situação em que ocorre e do objetivo que a argumentação tem em vista.
Enquanto a demonstração não pressupõe uma relação direta entre indivíduos, a
argumentação é marcada pela relação entre orador e auditório.
A demonstração aplica-se especialmente à matemática e à lógica, aplicando-se a
argumentação sobretudo nas ciências sociais e humanas, em áreas como a ética, a
política, o direito, etc.
A demonstração baseia-se na lógica formal, onde só existe verdade ou falsidade, não
havendo lugar ao meio termo; ao invés, a argumentação baseia-se na lógica informal,
em que não se está somente no domínio do verdadeiro ou falso mas também no do
plausível ou provável.
Na demonstração usa-se uma linguagem abstrata e simbólica, enquanto a argumentação
usa a linguagem natural, isto é, a linguagem do dia-a-dia.
Demonstração e argumentação não possuem a mesma lógica, procurando a
demonstração estabelecer a verdade de uma proposição de um modo evidente
necessário, enquanto o objetivo da argumentação é persuadir e convencer um auditório.
Onde a argumentação e o discurso persuasivo se revelam particularmente importantes é
nos tribunais, visto que é através do confronto de argumentos que se chega a uma
decisão. Também na política, onde se busca a adesão dos eleitores, e na publicidade,
onde se procura promover a compra de um produto, o discurso argumentativo se revela
bastante importante.
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OPINIÃO PÚBLICA E PUBLICIDADE

Televisão, publicidade e espírito crítico

A televisão nasceu em meados do século XX e está hoje presente em quase todas as


casas de muitos países do mundo.
O papel desempenhado pela televisão é tal que o seu impacto na vida das pessoas é
considerado como escola paralela.
A televisão tem uma forte influência na formação das nossas atitudes e
comportamentos.
O triunfo das imagens na chamada aldeia global e a atualidade (o direto) da informação,
isto é, o seu carácter imediato, parecem imprimir um ritmo alucinante que ameaça o
espírito crítico e a capacidade de análise e de reflexão do espectador (consumidor?)
relativamente à informação.
Assim, os media constituem hoje o chamado quarto poder.
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Quem possui o domínio da informação tem ao seu dispor enormes possibilidades que,
sem existência de um controlo rigoroso, influenciam poderosamente a opinião pública.
Muitos meios de comunicação, especialmente a televisão, promovem a distração e
alienação das pessoas, transmitindo intensivamente telenovelas, desporto, concursos
degradantes ou imagens de fanatismo religioso. Por outro lado, apresentam-se "heróis"
efémeros, que são meros produtos artificiais, e a publicidade surge em larga escala.

Deste modo, verificando-se uma quase total ausência de programas de carácter cultural,
estes meios de comunicação fomentam a degradação do indivíduo enquanto ser
pensante e possuidor de espírito crítico, contribuindo em larga medida para a
formatação da sua mente.

Em qualquer democracia o pluralismo dos media é um sinal de vitalidade e maturidade


cívica, visto que, desta forma, diferentes pontos de vista podem encontrar expressão. No
entanto, devido à centralização dos media em poucos e poderosos grupos informativos,
podemos questionar-nos acerca da liberdade em televisão.

Será que a televisão nos mostra tudo que poderia mostrar? Será que esconde
informação? Com que critérios se decide o que mostrar e não mostrar? Será que existem
pressões políticas e amizades ou conveniências que se fazem sentir na abordagem das
notícias?

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Sabemos também que a publicidade é um negócio de milhões a que os meios de


comunicação estão ligados. Podemos igualmente questionar-nos a este respeito. Será a
publicidade uma forma de manipular e denegrir o próprio ser humano?

O criador da publicidade da Benetton, Olivieri Toscani, pensa até que a publicidade


pode ser vista como um crime contra a humanidade.

Podem enunciar-se alguns crimes que, de certa forma, é possível atribuir à publicidade:
 crime de inutilidade social (às grandes empresas falta o sentido moral de
intervir socialmente no sentido de combater flagelos como a sida, o alcoolismo
ou o racismo);

 crime da mentira (a publicidade promete juventude, beleza, virilidade, sucesso,


etc., quando muito dificilmente tais objetivos serão atingidos no uso dos
produtos publicitados);

 crime contra a inteligência (a publicidade não valoriza a inteligência do


consumidor, antes explora o seu inconsciente e as suas emoções mais básicas);

 crime de persuasão oculta (pelo uso de mensagens subliminares, que o


consciente não deteta, mas que o inconsciente armazena);

 crime da adoração de ídolos (porque leva à imitação dos modelos


apresentados);

 pertencentes às comunidades maioritárias);


 crime contra a paz civil (pois transmite uma ideia de felicidade, que se afigura
inalcançável, e, por isso, geradora de frustração, competição, depressão ou
mesmo delinquência);

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 crime contra a linguagem (pelo uso de slogans, frases feitas e frases curtas que
nada dizem ou complicam o sentido das palavras).

A Opinião Pública

Chama-se opinião pública ao juízo dos cidadãos sobre qualquer assunto da atualidade.

Os governos e a oposição têm em conta a opinião pública para tomar decisões ou


defender pontos de vista.

A opinião pública pode revelar conhecimento sobre um assunto, mas também pode
corresponder a uma total ignorância, estando sujeita aos efeitos da manipulação.

A opinião pública tem a sua importância mas não se sobrepõe ao voto dos cidadãos.
A formação da opinião pública é um fenómeno complexo que está dependente de vários
fatores, nomeadamente os rumores, os grupos, a comunicação interpessoal, os guias
de opinião e a nossa tendência a escolher a informação que está de acordo com a

14 nossa opinião.

A formação e manipulação da opinião pública, o poder da publicidade e dos grandes


grupos que controlam os meios de comunicação, a ligação de todos estes mecanismos
ao poder político ou aos partidos que se vão alternando no poder, podem levar-nos a
uma reflexão bem interessante e a deixar no ar as seguintes questões:

Será que a opinião pública é mesmo aquela que se publica nos meios de comunicação?
A quem convém manter os cidadãos mal informados?
Porque é que não existem mais programas culturais e de informação e os que existem
são todos semelhantes?
Porque é que o poder político e o poder dos grupos que controlam os meios de
comunicação tem estado na mão de tão poucos?
Porque é que, em termos políticos e comunicacionais, quase não se debatem temas que
interessam aos mais desfavorecidos e às minorias?
Bibliografia

15 Esta sebenta como fonte direta e indireta de textos, opiniões, classificações e demais
explicações, da seguinte obra/manual:

SILVA, Elsa, MOINHOS, Rosa, Área de Integração, Vol. II, Lisboa, Plátano
Editora, 2007

Foi, ainda, utilizada a internet como fonte de pesquisa constante em diversos pontos da
atualidade e para esclarecimento pontual de informações e recolha de imagens
ilustrativas.

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