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Ano 3 • nº 16 • julho de 2011 • www.tnsustentavel.com.

br

Eficiência Energética • Comercialização de Energia • Legislação Ambiental • Reciclagem

Editorial

Inovação sustentável
O poder das conexões
Duas palavras fazem parte do universo dos negócios de sustentabilidade, o qual, em sua opinião, está confuso e
de hoje: inovação e sustentabilidade. Duas necessidades e pouco entendido.
duas dificuldades que podem ser resolvidas se apostarmos Para Capra, o maior obstáculo para a implantação de
no desenvolvimento das conexões corretas entre elas. atitudes sustentáveis está na falta de vontade política e de
Vemos que nos mercados de petróleo, gás e biocom- uma liderança.“Acho que o único modo de melhorar uma
bustíveis a inovação e a sustentabilidade estão associadas sociedade é a união entre governo, empresários e a popu-
aos investimentos nas tecnologias para o meio ambiente. lação”, advertiu.
Mais um exemplo de conexão correta para obter resul-
E isto, segundo Jairo Martins, superintendente geral da
tados concretos é a parceria entre a IBM e o Ministério da
Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), em entrevista à
Ciência e Tecnologia (MCT) para o desenvolvimento do pro-
TN Petróleo, não é o ideal. Ele enfatiza que enquanto a
jeto Comunidade Ciência. O projeto prevê a criação de um
questão ‘inovação para sustentabilidade’ não fizer parte
portal colaborativo para compartilhamento de informações
do planejamento estratégico das empresas e se desdobrar
e estudos sobre a biodiversidade nacional pela sociedade.
em metas e bônus dos executivos e profissionais, o atual Acreditamos, assim, que a união entre empresa, socie-
cenário não vai mudar. Ou seja, relacionamentos certos dade e governo poderá direcionar o irreversível movimento
para alcançar os objetivos desejados. da sustentabilidade para o caminho da prosperidade e do
Isto confirma os resultados da segunda edição da sucesso.
Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (Cici),
realizada entre 17 e 20 de maio em Curitiba (PR). Nela, o Lia Medeiros
físico e escritor Fritjof Capra falou sobre o conceito atual Diretora do Núcleo de Sustentabilidade da TN Petróleo

Sumário

74
CICI 2011
78
IBM/MCT
80
Prefeitura e Coppe/UFRJ

Inovação e Portal da Rio quer reduzir gases de


sustentabilidade biodiversidade efeito estufa em 18,2%

TN Petróleo 78 71
suplemento especial
Entrevista especial
Jairo Martins, superintendente geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)

Inovação da gestão para


um mundo sustentável
A necessidade de um desenvolvimento sustentável em todas as suas
dimensões juntamente com a gestão de inovações para esse fim tornou-se, na
última década, tema importante na gestão das empresas. Neste cenário, Jairo
Martins, superintendente geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), conta
à TN Petróleo como a gestão da inovação pode reverter a insustentabilidade do
desenvolvimento econômico atual. por Maria Fernanda Romero

TN Petróleo – Em pesquisa realizada gadas a inovar em todos os estágios


pela FNQ, em maio de 2011, foram re- da sua cadeia de valor. Desde a con-
gistrados que 27% dos entrevistados cepção dos seus produtos e serviços,
apontaram a gestão como a principal passando pela produção, até chegar
preocupação das empresas em que ao cliente ou consumidor, que já vêm
trabalham, enquanto 22% indicaram exigindo processos e negócios sus-
a sustentabilidade e 19% a redução tentáveis. As empresas – a começar
de custos. Por que as empresas ain- por seus líderes e gestores – preci-
da não perceberam a importância da sam internalizar a preocupação com a
sustentabilidade, considerando o baixo sustentabilidade, bem como a cultura
índice de organizações que, de fato, da inovação para a competitividade
investem no tema? sustentável. Assim, internalizar e
Jairo Martins – Em sua maioria, associar a causa da sustentabilida-
Foto: Divulgação

as organizações ainda estão pensando de à cultura da inovação potencializa


apenas no lado econômico e não no e torna mais eficaz e responsável o
tripé da sustentabilidade, que demanda modelo de gestão.
uma empresa economicamente sólida, enquanto a questão ‘inovação para
socialmente correta e ambientalmen- sustentabilidade’ não fizer parte do Você acredita que inovação asso-
te responsável. Enquanto dominar o planejamento estratégico e se desdo- ciada à sustentabilidade alavanca a
pensamento pelo viés econômico, cujo brar em metas e bônus dos executivos competitividade e o desenvolvimento
sucesso é medido pelo PIB (calculado e profissionais, o atual cenário não vai sustentável?
apenas com base na geração de rique- mudar. Hoje, as empresas enxergam a Hoje em dia, a sustentabilidade
zas, sem se preocupar com a forma sustentabilidade como um subconjunto está passando a ser prioridade para
pela qual é obtida), o atual modelo de da gestão, e não como parte integrante a sociedade e a fazer parte da agen-
desenvolvimento insustentável não do processo de gestão como um todo. da das organizações. Quem não se
vai mudar e não serão incluídas na preocupar com os impactos socio-
pauta das organizações as questões Como a inovação pode contribuir para ambientais vai ser influenciado, em
socioambientais. a implantação da sustentabilidade nos pouco tempo, pela falta de recursos
A pesquisa revela que as empresas modelos de gestão das empresas? naturais e ter sua reputação afetada
estão conscientes da importância de Para enfrentar os desafios do ce- tanto no mercado quanto na socie-
inovar para a sustentabilidade. Mas, nário atual, as empresas serão obri- dade, tendo em vista que clientes e

72 TN Petróleo 78
consumidores estão cada vez mais criando um consumo mais consciente, tanto do seu negócio, quanto das comu-
exigentes e conscientes em relação embasado em preocupações com a nidades, do país e do planeta.
às causas sustentáveis. Então, inovar escassez dos recursos naturais. Inovar, nesse sentido, quer dizer
na forma como vai agir em prol da As empresas que adotam práti- criar formas diferenciadas de gerir a
sustentabilidade pode contribuir para cas de excelência em gestão já per- empresa e fazer os mesmos produtos
a organização se destacar no mercado ceberam que o poder, antes na mão sem poluir; usar materiais susten-
e aumentar sua competitividade. da distribuição, passa para a mão do táveis no processo produtivo; criar
consumidor. Em pouco tempo, o cliente tecnologias sustentáveis inspiradas
Em sua opinião, como está a gestão vai passar a questionar cada compra em soluções da natureza; incentivar os
da inovação para sustentabilidade no com base nas dimensões da susten- funcionários a consumirem de maneira
setor de petróleo e gás? tabilidade. Entender essa nova ordem mais consciente (tanto no trabalho,
Após os acidentes ambientais e do mercado e agir serão os grandes quanto em casa e nas ruas); promover
sociais ocorridos recentemente em desafios da gestão das empresas. campanhas internas e externas de uso
algumas regiões do mundo, o setor de racional de recursos naturais, etc. Para
petróleo e gás passou a ser olhado pela Em geral, o tema ‘inovação’ é associa- isso é preciso que a empresa interna-
sociedade de uma forma mais crítica. do às áreas de tecnologia ou pesquisa e lize a cultura da inovação e que seus
Pensou-se que a tecnologia estava to- desenvolvimento. Em que outras áreas, líderes criem ambientes propícios ao
talmente dominada e, de repente, numa a inovação deve estar envolvida? surgimento de soluções inovadoras
infeliz coincidência de fatores técnicos A sustentabilidade, assim como a
e humanos, percebeu-se, literalmente, inovação, não deve ser preocupação de Como aprender a inovar?
que ‘o buraco era mais embaixo’. Foi apenas uma área da empresa. Devem O primeiro passo é desenvolver a
um aprendizado penoso, em que o meio permear toda a organização, fazendo consciência de que a sustentabilidade
ambiente foi o mais sacrificado. Não parte da sua cultura. Para que isto é condição sine qua non para que o
há dúvidas de que a inovação para a aconteça, as organizações precisam futuro das próximas gerações seja
sustentabilidade passou a ser item es- ter uma visão sistêmica de sua gestão garantido. Comunicar-se com clareza
tratégico para a gestão das empresas e compreender que a inovação deve e objetividade é o que garante à equipe
que atuam no segmento. acontecer também na liderança, nas total assimilação dos valores e princí-
ações de marketing, no modelo de pios da organização. Da mesma forma,
Quais os principais desafios desta negócios, nas vendas, na produção, cria um ambiente favorável à inovação
gestão? nos serviços, na área financeira e nos e abre espaço para ouvir o que cada
Um dos principais desafios para setores de recursos humanos, ou seja, um tem a dizer. Assim, estabelece-se
as organizações e a sociedade é saber na gestão como um todo. uma relação de confiança entre o líder
cooperar e promover a inovação na e seu grupo, criando uma sintonia
gestão para conquistar a sustenta- De que forma a inovação está inter- de ideias e um ambiente encoraja-
bilidade. Vivemos em uma sociedade ligada à sustentabilidade? dor para que todos se sintam parte
de consumo que alimenta a economia. Inovação é processo; e sustentabi- relevante do processo de trabalho. É
Essa combinação é insustentável e lidade é um estado a atingir. Assim, a muito importante que a alta direção
traz um desafio para a gestão, que de- cultura da inovação será um instrumento das organizações se comprometa a
manda muito mais do que a criação de para que a empresa atinja mais rapida- criar um ambiente propício à cultura
produtos que não poluam o ambiente. mente o seu estado de sustentabilidade. da inovação. Em um processo criativo
Para atingirmos uma economia mais Mais do que simplesmente criar novos para inovar, deve-se ser mais tolerante
sustentável, é fundamental que haja produtos, serviços e tecnologias, é fun- a experiências e tentativas... e até aos
uma mudança de cultura e de atitu- damental que a empresa promova a erros. O importante, nesses casos, é
de das pessoas e das organizações, inovação com foco na sustentabilidade, não persistir no erro.

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TN Petróleo 78 73
suplemento especial
CICI 2011

Inovação e
Foto: Agência Fiep

sustentabilidade
A integração e mobilização popular por meio das redes sociais para tornar
as cidades melhores e mais sustentáveis foram o grande mote da segunda
edição da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (Cici), realizada
entre 17 e 20 de maio em Curitiba (PR). por Rodrigo Miguez

O
evento contou com a presen- dedicação, vontade política e foco o melhor crescimento das cidades
ça de 500 municípios e cer- no trabalho a ser desenvolvido. Ele está na governança colaborativa,
ca de 3,5 mil participantes, afirmou: “A cidade que não tem quando todos, governo, empresas
que discutiram o desenvolvimento um sonho, não pode ser inovado- e cidadãos, trabalham em sintonia.
das cidades com uso da inovação ra.” Lembrando a proximidade da “A vontade de fazer e a participa-
para promover a sustentabilida- Copa do Mundo de 2014, o arqui- ção da população são importantes
de. Durante os quatro dias de teto afirmou que o principal pro- aliados para o desenvolvimento
conferência, o público pôde ver blema das cidades-sede não são os das cidades”, afirmou.
palestras de importantes nomes estádios, e sim sua infraestrutura, Ele citou o exemplo de diver-
do cenário internacional, como o ou seja, ao melhorar aeroportos e sas cidades do mundo. “Curiti-
arquiteto e urbanista Jaime Lerner, mobilidade urbana, grande parte ba provou que
o ex-assessor do atual presidente dos problemas para os jogos estará a solução para
dos Estados Unidos, Parag Khan- resolvida. uma cidade se
na, e também o físico e escritor Fri- Pensando no reflorescimento reinventar não
tjof Capra, autor de livros como O das cidades e como as mesmas po- está apenas no
Tao da física e Ponto de mutação. dem fazer para se reinventar, Pa- dinheiro, e sim
Jaime Lerner, durante sua rag Khanna foi outro importante na vontade polí-
palestra, uma das mais aguarda- personagem. Ele chamou a aten- tica, juntamente
das pelo público, mostrou que é ção do público logo no primeiro com o apoio da população”, afir-
possível melhorar a realidade de dia de evento. Segundo Khanna, mou. Khanna também lembrou
qualquer cidade em três anos com um dos pontos fundamentais para a conectividade atual do mundo

74 TN Petróleo 78
globalizado, que está mudando a Fritjof lembrou, ainda, que a
cara das cidades, e fazendo com evolução da humanidade sem-
que os governos e governantes se pre esteve ligada a uma cadeia
adaptem a essa nova realidade, em de redes, nas suas mais diferen-
que todos participam do processo tes formas, como no DNA e em
de transformação das cidades. membranas, que se repetem a todo
momento, assim como acontece
Conexão é poder nas redes sociais. “As redes sociais
“Dar poder às pessoas é conectá- são muito importantes hoje, por
-las”, esta frase sintetizou a palestra isso, é fundamental entendê-las
do físico e escritor, Fritjof Capra, para ter a compreensão a respeito
na Cici. Segun- do relacionamento entre as pes-
do ele, o sistema soas”, afirmou. “O movimento das
de poder ainda informações nos meios de comu-
ex i s t e n t e n a s nicação leva ao compartilhamento
empresas está de boas ações, ideias e valores”,
em decadência. completou.
A união e parti-
A cidade que não Em simultâneo à Cici, mais
cipação de todos tem um sonho, uma vez foi realizada a Confe-
os envolvidos é a melhor forma de rência Internacional sobre Redes
demonstração de poder, ou seja,
não pode ser Sociais (Cirs), quando foram dis-
a melhor maneira de dar poder é inovadora. cutidos os rumos das redes sociais
conectar as pessoas e não contro- Jaime Lerner, e seus benefícios na divulgação de
arquiteto e urbanista
lá-las. “As pessoas não podem ser políticas sustentáveis na sociedade
controladas, mas sim inspiradas e obstáculo para a implantação de civil. A interação do público foi
persuadidas”, afirmou. atitudes sustentáveis está na falta incrementada nesta edição, com a
Capra falou ainda sobre o de vontade política e de uma li- Cicity, uma cidade virtual, criada
conceito atual de sustentabili- derança. “Acho que o único modo para o evento e mostrada em gran-
dade, o qual, em sua opinião, de melhorar uma sociedade é a des televisores – os participantes
está confuso e pouco entendido união entre governo, empresários podiam passar seus crachás pelos
pela sociedade. Para ele, o maior e a população”, advertiu. leitores de códigos de barras e ver

Católica do Paraná (PUC-PR) que

Universidades Inovadoras instalou há dois anos o seu Tecnopar-


que, em Curitiba. A inauguração foi
Grandes fomentadoras de novas manta de pneu reciclado para se fazer realizada junto com a abertura do pré-
ideias, as universidades tiveram seu o revestimento acústico do imóvel. dio da Nokia Siemens Network (NSN)
espaço garantido na Cici 2011 para Além disso, o empreendimento que se instalou no parque graças à
promover os projetos inovadores e sus- abrigará o Centro Regional Integrado de sua presença na capital paranaense
tentáveis que estão sendo desenvolvi- Expertise de Educação para o Desen- desde 1974, e também com o benefício
dos no meio acadêmico. A Universidade volvimento Sustentável (Crie Curitiba). da aproximação da empresa com os
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) O centro é uma rede de representantes universitários.
apresentou o futuro escritório mode- das universidades do estado do Paraná O PUCPR Tecnoparque conta
lo sustentável (já em construção) da e foi aprovado pela Universidade das com 22 mil m² destinados a abrigar
instituição, que será sede da primeira Nações Unidas (UNU) e Unesco, sendo empresas voltadas para a inova-
Empresa Junior da UTFPR. o primeiro do país e fazendo parte de ção tecnológica e serviços, e que
Criado totalmente sob o conceito uma rede de mais de 80 aprovados de venham a desenvolver pesquisa, de-
de edificação verde, a casa está sendo RCEs (Regional Centres of Experitises) senvolvimento e ensino em conjunto
construída por mais de 50 empresas no mundo para atender as demandas da com a universidade. Entretanto, de
doadoras de tecnologias sustentáveis e Década da Educação para o Desen- acordo com o professor Luiz Marcio
materiais de baixo impacto ambiental. volvimento Sustentável 2004-2015, Spinosa, diretor-executivo do Tec-
Dentre as inovações do ‘escritório ver- decretada pela ONU. noparque da PUC-PR, o objetivo da
de’ está o menor uso de água e energia Quem também está investindo na instituição é que o espaço chegue a
da casa, e também a utilização de inovação é a Pontifícia Universidade ter 50 mil m² em 2016.

TN Petróleo 78 75
suplemento especial

Fotos: Agência Fiep


quem estava presente nas mes-
mas palestras. Além disso, como
em 2010, em todos os ambientes
de palestras havia telões com as
twittadas do público.

Energias renováveis
O futuro da energia no mundo
também foi discutido nas pales-
tras. O economista norte-ameri-
cano Jeremy Rifkin defendeu a
necessidade de mudança no pa- ça na produção energética, com Negócios da GE Energy, Fernando
drão de geração de energia, que investimentos em energia limpa Rodrigues, o momento atual é de
vai exigir o abandono da depen- e renovável. aliar a qualidade de serviços com
dência do sistema econômico dos Aqui no Brasil, esses investi- a sustentabilidade.
combustíveis fósseis. Para isso, é mentos ainda são tímidos, mas A Cici mostrou esse ano que é
necessário adotar uma nova visão vêm crescendo substancialmente possível termos de fato políticas
econômica, com base na obtenção nos últimos dois anos. Além das sustentáveis ativas e eficientes so-
de energia do sol, vento, movimen- fontes, os equipamentos prove- mente com a mobilização popular,
to das marés e do calor produzido dores de energia devem ser pro- por todos os meios, seja em uma
pela própria terra. Ele lembrou vidos de tecnologia que favoreça conversa ou divulgando ideias nas
que diversos países da Europa já a eficiência energética. Para o redes sociais, junto com vontade
estão correndo atrás dessa mudan- gerente de Desenvolvimento de política.

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76 TN Petróleo 78
ProtagonIstas
de uma
nova economIa
rumo à rio+20
Protagonismo, convergência
e transição para uma economia
includente, verde e responsável.

das. Participe.
ita
Vagas lim

Realização
De 7 a 9 de agosto,
no Centro Fecomercio de Eventos
Inscreva-se: www.ethos.org.br/ce2011
Informações: (11) 3897-2400
TN Petróleo 78 77
suplemento especial

Portal da biodiversidade
IBM e Ministério da Ciência e Tecnologia criam
WikiFlora, dentro do projeto Comunidade Ciência

A
IBM firmou, em junho, par-
ceria com o Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT)
para desenvolvimento do projeto
Comunidade Ciência. O anún-
cio prevê a criação de um portal
colaborativo para compartilha-
mento de informações e estudos
sobre a biodiversidade nacional.
A concepção e o desenvolvimento
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil

do projeto estão sendo realizados


por voluntários da IBM como
parte das ações do centenário da
companhia, celebrado no dia 16
de junho deste ano.
O projeto surgiu com base
em ferramentas de colaboração e
rapidamente evoluiu para traba-
lhar conceitos de Ciência Cidadã,
buscando incentivar a cooperação O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e o presidente da IBM Brasil, Ricardo Pelegrini,
entre estudantes, comunidades, durante a assinatura da parceria.
educadores e cientistas em estu- em projetos científicos e educacio- vo catalogado com mais de 2.500
dos ligados à diversidade biológi- nais”, explicou o pesquisador. espécies da Amazônia, o que
ca. O portal, batizado de Wiki- A proposta partiu de uma ideia representa apenas uma fração do
Flora contará com ferramentas de do ministro Aloízio Mercadante total da biodiversidade contida na
redes sociais, wiki e referências de criar uma enciclopédia digital região. A reserva florestal locali-
geográficas do conteúdo. para registros de dados botâni- zada em Manaus funciona como
“Professores e alunos vão cos do Brasil. “Uma das formas um grande laboratório, que dá
poder se registrar e participar de de criar um caminho alternativo suporte a pesquisas e elaboração
redes temáticas, para a sustentabilidade, que não de propostas para a exploração
além de desen- seja só combater o desmatamen- sustentável. Segundo o ministro,
volver projetos to, é conhecer a biodiversidade, existe a necessidade de se criar
em parceria com mostrar a importância que ela uma grande interlocução com a
pesquisado- tem para a farmacologia, para a comunidade científica para que
res de ponta”, alimentação e a riqueza que todo haja adesão ampla ao projeto,
afirmou Sergio esse material genético tem para o além de desenvolver protocolos
Borger, diretor Brasil e para o planeta”, afirmou o para preservar os direitos de auto-
de Estratégia e ministro. ria aos cientistas e colaboradores.
Operações do Laboratório de Pes- O acervo científico será forma- A criação do portal permitirá,
quisas da IBM Brasil, responsável do por parcerias com instituições por exemplo, que a população co-
pelo projeto. “A sociedade em a serem selecionas pela IBM e o nheça melhor a Amazônia, maior
geral será beneficiada. Utilizare- MCT. A catalogação terá início floresta tropical do mundo, e sua
mos tecnologias colaborativas e pela Reserva Experimental Adol- biodiversidade. Ele permitirá a
de georreferenciamento de forma pho Ducke, do Instituto Nacional catalogação de espécies e a inte-
que os estudantes, professores e de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ ração com conteúdos já existentes
pesquisadores possam colaborar MCT) na qual existe valioso acer- em acervos.

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suplemento especial

Rio quer reduzir gases


de efeito estufa em 18,2%
Plano de ação e inventário da Prefeitura e Coppe/UFRJ definem metas de redução de
carbono até 2025. Workshop discute no Rio oportunidades, soluções e tecnologias para
reduzir emissões de CO2 na indústria, construção civil e transportes até 2016.

A
Secretaria Municipal de
Meio Ambiente do Mu-
nicípio do Rio de Janeiro
acaba de lançar uma versão atu-
alizada do Inventário de Emis-
sões dos Gases do Efeito Estufa,
em parceria com a Coppe/UFRJ,
Foto: Banco de Imagens Stock.xcng

um dos principais centros de


pesquisa do assunto. Com isso,
o Rio de Janeiro é, novamente,
pioneiro em matéria ambiental,
tornando-se a primeira cidade
da América Latina a atualizar a
pesquisa. no perímetro urbano, o estudo das pela política climática da
O documento resultou na representa um material inesti- cidade, como a duplicação da
criação do Plano de Ação para a mável para orientar a política malha cicloviária, a expansão do
Redução de Emissões dos Gases de desenvolvimento da cidade. programa de reflorestamento, a
de Efeito Estufa da cidade do No documento, a Prefeitura e a instalação do Centro de Trata-
Rio de Janeiro, que vai embasar Coppe/UFRJ traçaram distintos mento de Resíduos e a racionali-
a palestra que o secretário de cenários de emissões dos gases zação dos Transportes coletivos,
Meio Ambiente e vice-prefeito do efeito estufa, indicando rumos entre outros.
do Rio, Carlos Alberto Muniz, que poderão ser tomados. As metas, no entanto, po-
fará no próximo No cenário B, que considera derão ser potencializadas com
dia 14 de julho, medidas em andamento, tais a implementação de outras
na abertura como o novo Centro de Trata- medidas viáveis, mas que ainda
do workshop mento de Resíduos, corredores dependem de aprimoramento
Oportunidades exclusivos de ônibus (Transcario- tecnológico, como é o caso da
de Negócios, ca, Transolímpica e Transoeste), captura do biogás no setor de
Soluções e as reduções estimadas são de resíduos, ou de projetos ainda
Tecnologias 8,3% em 2012, 13,5% em 2016, em avaliação pelos técnicos da
para uma Copa e uma Olimpíada 13% em 2020 e 11,8% em 2025, Prefeitura, como a implementa-
mais Verdes, na sede da Socie- comparadas às emissões de ção de lâmpadas LED na ilu-
dade dos Engenheiros e Arquite- 2005, ano base do estudo. Tais minação pública. Nesse caso, o
tos do Estado do Rio de Janeiro metas estão atreladas também cenário mais otimista (cenário
(Seaerj). às medidas previstas no Pla- C) aponta para uma redução nas
Segundo a Secretaria, muito no de Ação da Cidade do Rio emissões de 12% em 2012, 18,2%
mais do que uma radiografia das de Janeiro para a redução dos em 2016, 18,7% em 2020 e 17,5%
emissões de dióxido de carbono gases, previamente estabeleci- em 2025.

80 TN Petróleo 78
Ibama vai lançar

Foto: Banco de Imagens Stock.xcng


Relatório de
Qualidade do Meio
Ambiente na Rio+20
O Ibama (Instituto Brasileiro

Conversores de energia para do Meio Ambiente e dos Recursos


Naturais Renováveis) lançará, na

parques eólicos Conferência Mundial sobre Desen-


volvimento Sustentável, a Rio +20,
em junho do ano que vem, o Relató-
Icsa do Brasil vai investir R$ 100 milhões para fabricação rio de Qualidade do Meio Ambiente
de conversores de energia para parques eólicos (RQMA) 2011. O documento ainda

A
está em fase de elaboração e tem
Icsa do Brasil, especializada processo de inovação para se ade-
como meta formatar mecanismos
em conversores de energia quar às condições ambientais do
de aperfeiçoamento contínuos de
eólica, fechou contrato de Brasil, à temperatura e também à
integração de captura e análise de
R$ 100 milhões para fabricar con- umidade. Os conversores produ-
dados que possam ser utilizados
versores de energia para parques zidos na fábrica de Minas Gerais
para a gestão ambiental.
eólicos em Santa Catarina, Bahia serão exportados para países como A intenção do instituto é usar o
e Ceará. Os primeiros 15 conver- Venezuela e Argentina. relatório para contribuir na preserva-
sores de frequência full power de ção, na melhoria e na recuperação do
potência industrial ficaram prontos
Foto: Divulgação

meio ambiente, afirma o Ibama.


no último mês de maio, já os outros O RQMA abordará temas prioritários na
serão entregues até o mês de julho Política Nacional de Meio Ambiente e
de 2012. na agenda atual do Ministério do Meio
Os equipamentos fabricados Ambiente (MMA), tais como mudanças
não precisarão de um sistema de climáticas, perda de biodiversidade,
engrenagem, como costuma ocor- desmatamentos, resíduos sólidos, eco-
rer com os outros tipos do apare- nomia verde e sustentabilidade.
lho. Para produzir os conversores, O relatório poderá ter a con-
a Icsa fechou parceria (que envolve tribuição de qualquer organização
transferência de tecnologia) com a não governamental ou instituição de
empresa alemã Vensys. ensino e pesquisa superior, além de
A forma de produção dos equi- instituições dos governos municipal,
pamentos, porém, passou por um estadual e federal.

AGOSTO 22 a 23 – Brasil
Brazil Energy Frontiers 2011
7 a 9 – Brasil
Conferência Ethos – Protagonista Local: São Paulo
de uma nova economia Tel.: +55 11 3704-7733
Local: São Paulo eliana.marcon@acendebrasil.com.br
Feiras e Congressos Tel.: +55 11 3897-2400 www.brazilenergyfrontiers.com
www.ethos.org.br/ce2011
JULHO SETEMBRO
26 a 28 – Brasil 17 a 19 – Brasil 27 a 29 – Brasil
4ª FIBOPS – Feira Internacional Strategy Execution Summit 2011 Sustentável 2011 – 4º Congresso
para Intercâmbios das Boas Práticas – Influenciando o pensamento Internacional sobre Desenv. Sustentável
Sociambientais estratégico no Brasil e América Local: Rio de Janeiro
Local: São Paulo Latina Tel.: +55 21 2483-2250
Tel.: +55 11 3257-9660 Local: São Paulo cebds@cebds.org
institutomais@institutomais.org Tel.: +55 11 4134-8200 www.cebds.org.br/cebds/
www.fibops.com.br www.symnetics.com.br sustentavel2011.asp

TN Petróleo 78 81
suplemento especial

A perspectiva ambiental
nas novas Rodadas da ANP
As consequências do acidente com a plataforma da BP no Golfo do México foram
sentidas globalmente pela indústria petrolífera, em especial suscitando questionamentos
a respeito da segurança das operações e da proteção do meio ambiente

N
o Brasil, preocupados com os possíveis catastróficos danos ambientais
advindos da exploração e produção de petróleo e gás, como o que
ocorreu com a Plataforma da BP, nota-se uma tendência dos órgãos
ambientais em aumentar o rigor da fiscalização e buscar medidas efetivas
de proteção ambiental e segurança.
É, portanto, nesse contexto, que o Ministério do Meio Ambiente (MMA),
através da ministra Izabella Teixeira,[1] já deixou claro que pretende tornar
mais rigoroso o processo de licenciamento ambiental para a exploração de
petróleo. O maior rigor decorreria das medidas de modernização das licenças
ambientais concedidas no Brasil, que o MMA pretende implementar para
o setor de petróleo e gás, segundo declarações da ministra.
Quando o assunto é o risco ao meio ambiente na exploração e produção
de combustíveis fósseis, devem ser considerados não apenas os riscos à
natureza, mas também os sociais. Nesse particular, os riscos naturais mais
significativos são observados na exploração offshore. Contudo, não menos
importantes são os impactos sociais, que na exploração onshore merecem
peculiar atenção.
Nesse ínterim, de preservação do meio ambiente e exploração de petróleo
e gás, é que a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) desempenha papel de destaque na regulação do setor, impondo ao
concessionário, através do contrato de concessão, a observância de diver-
sos requisitos ambientais, em especial os previstos na cláusula 21, que
dispõe sobre meio ambiente, e harmonizando os interesses sociais do país
com a geração de riquezas e o direito fundamental do cidadão a um meio
ambiental saudável.
Esse posicionamento da ANP é importante no processo de desenvolvi-
mento do Brasil, na medida que a regulação procura equilibrar os interesses
econômicos com as garantias constitucionais, como a preservação do meio
ambiente. Ademais, é através do contrato de concessão que a ANP poderá
exigir do concessionário maior racionalidade da utilização dos recursos
Maria Alice Doria é
sócia do escritório naturais e buscar melhores tecnologias para a execução das atividades.
Doria, Jacobina, Rosado A partir da Resolução CNPE n. 08/2003, que estabelece a política de
e Gondinho Advogados produção de petróleo e gás natural e define diretrizes para a realização de
Associados.
licitações de blocos exploratórios ou áreas com descobertas já caracterizadas,
a variável ambiental passou a ser parte indissociável na definição das áreas
ofertadas e está dentre as ações estratégicas da agência reguladora. Não
apenas isso, a partir da polêmica Oitava Rodada,[2] os critérios ambientais
Patrícia Guimarães
é advogada da área
ambiental do escritório 1
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/01/21/mma-diz-que-estuda-regras-mais-rigidas-para-
Doria, Jacobina, Rosado e -setor-de-petroleo-923579934.asp.
Gondinho Advogados. 2
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2006/11/28/286818277.asp.

82 TN Petróleo 78
passaram a contabilizar pontos na qualificação técnica
das empresas concorrentes na licitação.
É notória, portanto, a crescente preocupação da agên-
cia reguladora do petróleo com a problemática ambiental
enfrentada por seus concessionários. Em vista disso,
são elaboradas Guias de Licenciamento pela ANP em
conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as quais
indicam os níveis de exigências para o licenciamento
ambiental de pesquisa sísmica e de perfuração de po-
ços para determinada área e orientam a elaboração de
estudos ambientais.

Foto: Banco de Imagens TN Petróleo


Com a criação das Guias Ambientais, o concessioná-
rio, antes da licitação, pode avaliar os riscos ambientais
para a área a ser concedida.
Observa-se, também, a preocupação com o meio
ambiente na cláusula 22 que trata de seguros, já que
ali se prevê a contratação de seguro para a cobertura
de danos ambientais para a operação e execução das
atividades do concessionário, durante toda a vigência Um aspecto importante a ser registrado é que a ANP
do contrato de concessão. Note-se, nesse particular, que não analisa, quando da ofertas dos blocos, as particula-
a adoção de procedimentos de segurança e mitigação ridades locais, que mais tarde podem significar custos
de danos poderá diminuir os riscos a serem assumidos extraordinários aos concessionários. Dessa maneira,
pela seguradora diminuindo o valor do prêmio a ser pago as particularidades locais dos blocos ofertados mere-
pelo concessionário. cem atenção dos licitantes. Isso porque a existência de
Toda essa preocupação da ANP foi refletida no novo eventual unidade de conservação de proteção integral
modelo do contrato de concessão que será utilizado já ou terra indígena, na área a ser explorada, inviabiliza
para a Décima primeira Rodada, rodada essa que sofreu essa exploração.
com atrasos decorrentes da falta de licença para explo- Portanto, em que pese a manifestação do Ibama pré-
ração da bacia do Solimões, na região Norte do país. -avaliando as áreas a serem concedidas pela ANP, os
Assim, de acordo com o novo modelo do contrato de órgãos ambientais estaduais e municipais além da Fun-
concessão, no caso dos licenciamentos em que houver dação Nacional do Índio (Funai) e Fundação Cultural
audiência pública, a ANP deverá receber os estudos Palmares devem ser consultados, de forma a resguardar
ambientais previamente à data da audiência. Tal dispo- os interesses do concessionário ao concorrer na licitação
sição não havia previsão no modelo contratual anterior. para determinado bloco.
Outra inovação envolve o envio, pelo concessioná- Note que o empreendedor pode encontrar problemas
rio, de cópia da licença ambiental em até 30 dias da decorrentes da localização de áreas exploratórias em
obtenção da mesma para a ANP, podendo esse prazo zonas de amortecimento de unidades de conservação.
ser, inclusive, reduzido quando a cópia da licença se Isso porque as zonas de amortecimento de UC são áreas
fizer necessária para instruir algum procedimento de ambientalmente sensíveis, que demandam cuidados espe-
autorização junto à ANP. ciais, de maneira a garantir seu propósito na conservação
De toda forma, a alteração mais significativa, na do meio ambiente, e por essa razão, as atividades a serem
perspectiva ambiental, é a previsão de que o órgão am- ali desenvolvidas precisam estar previstas no plano de
biental deverá ser comunicado quando da ocorrência manejo da UC. Entretanto, não são todas as UCs que
de qualquer acidente com derramamento ou perda de possuem um plano de manejo, o que compromete uma
óleo ou gás e outros incidentes. Isso porque, no modelo análise segura da viabilidade na exploração da área.
anterior, apenas a ANP precisava ser comunicada. Não Sendo assim, é patente que o Brasil desfruta de atri-
havia previsão expressa de comunicação ao órgão am- butos ambientais importantes que o órgão regulador
biental e muitas vezes os incidentes eram controlados da indústria do petróleo, a ANP, já procura preservar e
pela própria empresa de forma independente, sem se resguardar, haja vista as alterações e inclusões signifi-
utilizar talvez da técnica mais indicada para o controle cativas no novo modelo do contrato de concessão. No
da situação. A necessidade de comunicação ao órgão entanto, ainda é necessária uma atuação ambiental mais
ambiental ficava a cargo da legislação estadual que nem unificada em nível federal, estadual e municipal de forma
sempre é clara nesse sentido e levava a interpretações a proporcionar maior segurança aos concessionários e
dúbias, o que causava enorme insegurança no controle ao próprio meio ambiente, o qual é prejudicado pelas
de poluição ou outros acidentes. incertezas oriundas das lacunas legislativas.

TN Petróleo 78 83
suplemento especial

Os perigos dos
resíduos da indústria de petróleo e gás para
as pessoas e para o meio ambiente
A indústria de petróleo e gás natural concentrou-se apenas na redução do conteúdo de óleo,
com o intuito de recuperar a parcela com valor comercial e o aumento das preocupações
mundiais com o meio ambiente e a necessidade de adaptação ao contexto da globalização
da economia. As empresas começaram a despertar para as questões ambientais e a
sustentabilidade de suas operações. Mas a escassez dos recursos naturais tem forçado as
empresas a buscarem soluções racionais para evitar o desperdício e melhorar a eficiência.

D
urante algum tempo, a indústria de petróleo e gás natural se preo-
cupou com os resíduos oleosos e se concentrou apenas na redução
do conteúdo de óleo, com o intuito de recuperar a parcela com valor
comercial. Ao final dos processos, restavam os resíduos sólidos ou semissó-
lido, conhecidos como borra oleosa e o solo contaminado com petróleo que,
por não possuírem valor comercial, eram acumulados em lagoas ou diques,
causando infiltrações no solo e contaminação ao meio ambiente.
Depois disso, com o aumento das preocupações internacionais com o
meio ambiente e a necessidade de adaptação ao contexto da globalização
da economia, as petrolíferas começaram a despertar para as questões am-
bientais e a sustentabilidade de suas operações. Soma-se a isso a escassez
dos recursos naturais, que tem forçado as empresas a buscarem soluções
racionais para evitar o desperdício e melhorar a eficiência.
No Brasil, a legislação ambiental, a partir da lei dos crimes ambientais,
vem se desenvolvendo e sendo utilizada como instrumento de regulamentação
da conduta ambiental. Essa conduta tem sido exigida pela sociedade como
resposta aos diversos acidentes ambientais ocorridos no passado e cujos da-
nos ao meio ambiente poderiam ter sido evitados, através do monitoramento
adequado dos processos produtivos e da existência de procedimentos para
atendimento às situações de emergência.
Não há dúvida de que as operações de extração e processamento de
petróleo e gás oferecem uma série de ricos ao meio ambiente e à segurança
humana. Os acidentes ambientais decorrem de falhas humanas causadas
pela manipulação direta de equipamentos ou em virtude de um gerencia-
mento operacional inadequado, envolvendo a manutenção e a segurança
das instalações. Em consequência, as companhias de petróleo e gás desen-
volveram algumas metodologias como aumentar a eficiência operacional,
intensificar o uso de matérias-primas mais econômicas, reduzir os custos
Mauricio Ferraz de
Paiva é engenheiro logísticos, modernizar as instalações e sistemas de segurança industrial,
eletricista, especialista expandir a atuação em mercados de alto potencial e promover investimen-
em desenvolvimento em
tos nas atividades de pesquisa. Por fim, acabaram buscando a necessidade
sistemas, presidente do
Instituto Tecnológico de de desenvolver ferramentas de gestão, que permitam mitigar os impactos
Estudos para a Norma- ambientais das atividades da indústria de petróleo e gás.
lização e Avaliação de
Na verdade, atualmente, já existem meios exequíveis de gestão e ge-
Conformidade (Itenac) e
presidente da Target Engenharia renciamento de resíduos químicos, em que a engenharia de saúde e segu-
e Consultoria. rança, sempre com base nos conhecimentos da área de química, promove

84 TN Petróleo 78
a consciência preventiva, especificamente no que se
refere à nocividade de produtos perigosos em ambientes
de trabalho, levando-se em consideração as instalações
operacionais e os possíveis riscos ocupacionais. O tra-
tamento de resíduos é viável. Contudo, para que esse
gerenciamento tenha êxito é necessário desenvolver uma
consciência ética em relação ao uso e ao descarte de
produtos, visando à prevenção da poluição e à redução,
reaproveitamento e recuperação de materiais.

Foto: Cortesia British Petroleum


Para tentar melhorar todos esses problemas, entrou
em vigor a norma NBR 16725: 2011/Resíduo químico –
Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente
– Ficha com dados de segurança de resíduos químicos
(FDSR) e rotulagem. Ela foi elaborada no âmbito do Co-
mitê Brasileiro de Química (ABNT/CB-10) em função do
Decreto n. 2657, de 3 de julho de 1998, que promulgou a precaução, dentre outros dados. Dessa forma, podem
Convenção 170 da Organização Internacional do Trabalho contribuir para a prevenção de danos ao meio ambiente
(OIT) e estabeleceu algumas responsabilidades referentes e às pessoas. O gerador do resíduo químico deve tornar
ao fornecimento de informações sobre os resíduos que disponível ao receptor e usuário um rótulo e uma FDSR
devem constar no rótulo e na FDSR. completos, nos quais devem ser relatadas informações
O rótulo e a ficha com dados de segurança de resíduos pertinentes quanto a segurança, saúde e meio ambiente.
(FDSR) fornecem informações sobre os vários aspectos O gerador tem o dever de manter o rótulo e a FDSR
de resíduos químicos quanto a proteção, a segurança, sempre atualizados e torná-los disponíveis ao receptor e
saúde e meio ambiente. Assim, eles são os meios do usuário. O rótulo e a FDSR constituem apenas parte da
gerador de resíduos transferir informações essenciais informação necessária para a elaboração de um programa
sobre os seus perigos (incluindo informações sobre o de segurança, saúde e meio ambiente. Seus textos devem
transporte, manuseio, armazenagem e procedimentos ser escritos em português (Brasil), de forma legível, em
de emergência) ao receptor deste, trabalhadores, em- linguagem compreensível, de maneira clara e concisa.
pregadores, profissionais da saúde e segurança, pessoal Frases comuns são recomendadas. A FDSR não é um
de emergência, agências governamentais, assim como documento confidencial, não sendo necessário informar
membros da comunidade, instituições, serviços e outras a composição completa do resíduo químico, porém, para
partes envolvidas com o resíduo químico, possibilitan- não comprometer a saúde e a segurança dos usuários e
do que eles tomem as medidas necessárias relativas à a proteção do meio ambiente, as informações referentes
segurança, saúde e meio ambiente. aos perigos dos resíduos, ainda que consideradas con-
Além disso, o rótulo e a ficha com dados de segurança fidenciais, devem ser fornecidas.
de resíduos (FDSR) são meios de o gerador de resíduos Para a elaboração da FDSR são exigidos conheci-
químicos perigosos transmitir ao receptor informações mentos técnicos do resíduo químico em relação aos
essenciais sobre os seus perigos, abrangendo trans- requisitos dessa norma. O gerador e o receptor são os
porte, manuseio, armazenagem e procedimentos de responsáveis por escolher a melhor maneira de informar
emergência. Com essa iniciativa, trabalhadores, em- e treinar seus trabalhadores, quanto ao conteúdo de uma
pregadores, profissionais da saúde e segurança, pessoal FBSR. Quando formular as instruções específicas para
de emergência, agências governamentais, assim como o local de trabalho, o gerador e o receptor devem levar
membros da comunidade, instituições, serviços e outras em consideração as recomendações pertinentes da FBSR
partes envolvidas com o resíduo químico podem tomar de cada resíduo químico.
as medidas necessárias relativas à segurança, saúde e Importante dizer que a principal finalidade do rótulo
ao meio ambiente. e da FDSR é dar condições para que os resíduos possam
A norma ABNT NBR 16725:2011 define certos re- ser armazenados, transportados e destinados dentro
quisitos em relação à forma e ao conteúdo do rótulo de das melhores práticas de segurança, proteção ao meio
resíduos e da FDSR, devendo ser ressaltado o papel ambiente e à saúde das pessoas, já que os geradores
fundamental da rotulagem que é uma forma eficaz de de resíduos deverão atender aos requisitos da norma.
fornecer informações essenciais de segurança ao tra- Ela complementa a legislação específica vigente sobre
balhador e aos demais usuários envolvidos na armaze- resíduos químicos e, após 18 meses da sua publicação,
nagem, logística e destinação de resíduos químicos. As as fichas e os rótulos de resíduos devem ser elaborados
informações para o rótulo e a ficha incluem: identificação de acordo com ela. A classificação dos resíduos como
do resíduo químico e telefone de emergência do gerador, perigosos ou não perigosos é feita tomando-se por base
composição química, informação do perigo e frases de o texto da NBR 10004:2004.

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