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Gerson Martins de Souza

Tarcísio José Pereira

Cultura Popular

Brasília-DF
2015
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forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610/98) é crime
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Diretora Geral das Unidades Educacionais: Profª. Catarina Fontoura Costa
Diretor Acadêmico da Educação Superior: Prof. José Sérgio de Jesus
Coordenador dos Cursos do Pronatec: Prof. Luiz Augusto Ramos Pedro

Autores: Gerson Martins de Souza e Tarcísio José Pereira


Revisão ortográfica: Thays Almeida Lacerda
Capa: Comunicata
Diagramação: Fernando Brandão
Normalizador: Luís Eduardo Gauterio Fonseca

ISBN: 978-85-68518-08-3
1º Edição - 2014 / Brasília-DF
Impresso no Brasil

Catalogação-na-fonte

S719
Souza, Gerson Martins de
Cultura popular / Gerson Martins de Souza e Tarcísio
José Pereira: Brasília, Projeção, 2014.
144 p. : 23 cm.

Material didático-pedagógico do Pronatec - Projeção.

ISBN: 978-85-68518-08-3

1. Cultura 2. Multiculturalismo e educação 3. Políticas


públicas I. Tarcísio José Pereira II. Título..

CDU 316.7

Serviço de Regulamentação e Normas Técnicas - Biblioteca Central / FaPro


Bibliotecário Luís Eduardo Gauterio Fonseca. CRB 01/1597

Faculdade Projeção
CNB 14 - A/E 5, 6 e 7 - SAMDU Norte
Taguatinga (DF) CEP 72115-150
Tel. (61) 3451-3873
Site: http://www.fapro.edu.br/
Apresentação

Caro estudante,
A disciplina Cultura Popular tem como objetivo principal levar a
uma discussão e aprendizado acerca dos diversos tipos de cultura, por
intermédio de uma revisão dos conceitos básicos; aliando teoria à prática
para que você, educando, possa repensar e melhorar a sua visão quanto ao
que é cultura e suas mais variadas manifestações. Trabalhar as questões
populares, mostrar a importância da cultura popular de bairro até mesmo
as tradicionais.
Este livro trará até você aluno um mundo novo de conhecimento
acerca das culturas nacionais e transnacionais onde a cultura ocupa um
espaço importante na vida de muitas pessoas inclusive a nossa; e suas
influências diárias, na culinária, esporte, lazer, e na vida cotidiana.
Esperamos que esse livro traga um mundo novo de conhecimento
e que possa, também, desmistificar um série de equívocos perpetuados
ao longo da história acerca das culturas, também que sirva de base para
reforçar as suas próprias crenças.
Bons estudos e divirtam-se!
Sumário

1. Conceito de Cultura.......................................................................................9
1.1 Ponto de partida.............................................................................................................................11
1.2 Conceito de Cultura......................................................................................................................11
1.3 Conceitos de cultura popular....................................................................................................17
1.4 Cultura popular brasileira...........................................................................................................20
1.4.1 Folclore: cultura popular, tradição...........................................................................................21
1.5 Cultura popular e cultura de massa........................................................................................23
1.6 As Manifestações Culturais.........................................................................................................23
1.7 Na prática..........................................................................................................................................24
1.8 O que aprendemos?......................................................................................................................25
1.9 Glossário............................................................................................................................................26
1.10 Referências.......................................................................................................................................26

2. Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita................ 31


2.1 Ponto de partida.............................................................................................................................33
2.2 Roteiro do conhecimento...........................................................................................................33
2.3 Cultura de Massa............................................................................................................................33
2.4 Cultura Popular...............................................................................................................................39
2.5 Cultura Erudita................................................................................................................................43
2.6 Na Prática..........................................................................................................................................48
2.7 O que aprendemos?......................................................................................................................49
2.8 Glossário............................................................................................................................................49
2.9 Referências.......................................................................................................................................51

3. Como Opera a Cultura................................................................................ 55


3.1 Ponto de partida.............................................................................................................................57
3.2 Roteiro do conhecimento...........................................................................................................57
3.3 Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura..............................................62
3.4 Intolerância/preconceito cultural............................................................................................65
3.4.1 Os desafios do diálogo num mundo multicultural ...........................................................69
3.5 Na prática..........................................................................................................................................75
3.6 O que aprendemos?......................................................................................................................76
3.7 Referências.......................................................................................................................................76

Sumário 7
4. Multicuturalismo e Educação................................................................ 81
4.1 Ponto de partida.............................................................................................................................83
4.2 Roteiro do Conhecimento..........................................................................................................83
4.3 Origens do Multiculturalismo Como Movimento Teórico e Como Prática Social...84
4.4 O Multiculturalismo e seus Dilemas: Implicações na Educação....................................88
4.5 O Multiculturalismo e as Religiões Afro-brasileiras: O Exemplo do Candomblé.....90
4.6 Candomblé, Diferenças: consciências e rejeições..............................................................91
4.7 A Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial.................................................................94
4.8 Brasília a Capital Cultural.......................................................................................................... 102
4.8.1 Monumentos de Brasília........................................................................................................... 104
4.8.2 Patrimônio Imaterial.................................................................................................................. 111
4.9 Na prática....................................................................................................................................... 113
4.10 O que aprendemos?................................................................................................................... 114
4.11 Referências.................................................................................................................................... 114

5. As Políticas Públicas e a Cultura........................................................ 119


5.1 Ponto de partida.......................................................................................................................... 121
5.2 Roteiro do Conhecimento....................................................................................................... 121
5.3 Plano Nacional de Cultura (PNC)........................................................................................... 122
5.4 Direitos Humanos e Cultura.................................................................................................... 128
5.5 Declaração de Friburgo............................................................................................................ 129
5.6 Direitos Autorais – Lei 9.610/98............................................................................................. 130
5.7 Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN ............................... 136
5.8 Na prática....................................................................................................................................... 139
5.9 O que aprendemos?................................................................................................................... 140
5.10 Referências.................................................................................................................................... 141

8 Cultura Popular
1
Conceito de Cultura

1.1 Ponto de partida


1.2 Conceito de Cultura
1.3 Conceitos de cultura popular
1.4 Cultura popular brasileira
1.4.1 Folclore: cultura popular, tradição
1.5 Cultura popular e cultura de massa
1.6 As Manifestações Culturais
1.7 Na prática
1.8 O que aprendemos?
1.9 Glossário
1.10 Referências
Cultura Popular
1.1 Ponto de partida
Caros alunos,
Estamos iniciando nossa unidade sobre cultura, aqui serão trabalhados
conceitos importantes que farão parte da didática apresentada no curso.
Com esses conceitos vocês poderão distinguir a cultura da diversidade
cultural, assim como as diferentes manifestações culturais.
Mas, você sabe o que é cultura? É a mesma coisa de diversidade
cultural? Quem produz cultura? O que são manifestações culturais? Esses
são questionamentos que são importantes para você aluno já ir pensando
e procurando as possíveis respostas que serão respondidas ao longo da
unidade.
Aqui vocês aprenderão sobre:
• Conhecer o conceito de cultura;
• Saber o conceito de cultura popular;
• Identificar as manifestações culturais;
• Entender a diversidade cultural;
• Aprofundar nas questões de cultura;
• Distinguir cultura de diversidade cultural.
Ao final, convido você a fazer um exercício de reflexão para fixação
do conhecimento e, aprofundamento das discussões acerca dessa unidade
e da disciplina.
Bons Estudos !

1.2 Conceito de Cultura


A diversidade cultural somente poderá ser protegida e promovida se
estiverem garantidos os direitos humanos e as liberdades fundamentais,
tais como a liberdade de expressão, informação e comunicação, bem
como a possibilidade dos indivíduos de escolherem expressões culturais.
Segundo Brasil (2005), ninguém poderá invocar as disposições da presente
Convenção para atentar contra os direitos do homem e as liberdades
fundamentais consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos
e garantidos pelo direito internacional, ou para limitar o âmbito de sua
aplicação.
A cultura é o conjunto de formas e expressões que caracterizarão no
tempo uma sociedade determinada. Pelo conjunto de formas e expressões,
entendem-se e incluem-se os costumes, crenças, práticas comuns, regras,
normas, códigos, vestimentas, religiões, rituais e maneiras de ser que
predominam na maioria das pessoas que a integram.

Conceito de Cultura 11
Também, o mesmo termo serve para denominar a educação e habilidades
de que dispõe um indivíduo, pessoalmente e por fora desse todo que resulta
ser a cultura.
Para ilustrar o comentário acima, um bom exemplo e o festejo que ocorre
depois da obtenção de um campeonato de futebol, costuma ser um dos rituais
mais observados em várias culturas latinas e europeias.
A variedade de culturas, assim como o variado universo de formas e
expressões que estas supõem, é matéria de estudo, principalmente de
disciplinas como a sociologia e a antropologia.
A respeito da origem da palavra e como consequência também da
utilização que se dará ao termo, mais ou menos, se remonta à Idade Média,
quando a usavam para se referir ao cultivo da terra e o gado; á que provém do
latim cultus que significa cuidado do campo e do gado; entretanto, quando se
estava no século XVIII ou Século das Luzes como também o conhecem , no
qual nasceu em muitos uma profunda vocação pelo cultivo do pensamento,
imediatamente, o termo mudou para o sentido figurado de cultivar o espírito.
A cultura pode ser de acordo com sua  classificação  tópica, histórica,
mental, simbólica, estrutural, universal, total, particular, primitiva,
desenvolvida, instruída, analfabeta, racional e ideal; entre outras, e está
composta por elementos concretos ou materiais como: alimentos, modas,
festas, artes, construções arquitetônicas e monumentos; e por outros, os
simbólicos ou espirituais, entre os que se contam os valores, as crenças, as
normas, a arte e a linguagem, sendo a partir e graças a estes que poderemos
diferenciar ou reconhecer uma cultura em respeito de outra.
Termo derivado do latin cultus, o conceito de cultura é complexo e de
difícil representação por apresentar várias definições emaranhadas em um
só termo. É um conceito que surgiu em meados do século XVII, mas só no
XIX começou a ganhar essa forma que conhecemos hoje em dia. Tal como
podemos entendê-la rapidamente se poderia definir como a conduta e os
costumes de um povo. Algumas vezes os costumes de um povo são louvados
por este mesmo povo ou por outros; e ao mesmo tempo são objeto de rejeição
e desaprovação por parte de outros povos. Além do mais, normalmente, existe
em ambos casos uma falta total de compreensão da essência e dos significados
desses costumes. Quer dizer, o povo em geral não sabe exatamente o que é a
cultura, salvo aqueles eruditos que estudam este conceito. Uma pessoa, ainda
que possa criticar um detalhe ou outro de uma determinada cultura, não é
capaz de interpretar a sua própria com exatidão ou descrever seus costumes;
porque passamos a vida toda dessa forma e fazemos quase tudo por hábito,
ou seja, por costumes adquiridos pelos mais velhos e por nosso meio
ambiente cultural.

12 Cultura Popular
Em uma concepção tradicional, cultura é a reunião de conhecimentos
e saberes acumulados pela humanidade no decorrer de seus milênios de
anos de história. Encontra-se em todas as sociedades sem distinção de
raças, lugares ou períodos. A cultura está composta por vários sistemas
estruturados de comportamentos. Os antropólogos, que sempre trataram
das questões culturais, optaram por passar de um conceito de cultura como
uma reunião de características quase casuais a um conceito que ressalta
mais as relações e as disposições sistemáticas e estruturais. Segundo
alguns deles, cultura seria um conjunto complexo de conhecimentos,
crenças, e costumes; incluindo toda expressão artística, além de todos os
hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
A partir dessa definição, a cultura apresenta duas vertentes: uma com
um componente interno (os saberes, as normas, as crenças...) e outra com
um componente externo (os comportamentos, as instituições...); ou seja,
o conceito de cultua evoluiu muito.
Desse modo, podemos resumir modernamente cultura como o
conhecimento que uma pessoa adquire e aprende por sua condição de
membro de um determinado grupo em um processo de socialização.
No final do século XVIII e no começo do século seguinte, o termo
germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos
espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization
referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os
termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo
inglês Culture, que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade”.

Conceito de Cultura 13
Segundo Barros (1932), com esta definição Tylor abrangia em uma
só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar
fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à ideia de
aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.
A cultura pode receber diferentes denominações assim como
diferentes significados, dependendo do locus ao qual se encontra a
sociedade, grupos sociais, indivíduo ou qualquer forma, esta também
desenvolverá papéis diferenciados e provocará sentimentos diversos.
Segundo Laraia (2001), há vários determinismos para a cultura, onde
cada indivíduo se posicionará perante fatores que serão determinantes
para a produção/reprodução do ethos da cultura, podendo ser biológica,
geográfica, etc.
Por essa perspectiva, pode-se afirmar que a cultura por mais seja
inerente ao ser humano, ela pode infringir em várias faculdades deste
tornando-o o único ser a apreciar com um “poliolhar”.
Para Leitão (s/d p. 7):

O conceito interpretativista percebe a cultura como sistemas


simbólicos. De acordo com Clifford Geertz, fundador dessa linha teórica,
todos os homens nascem, do ponto de vista biológico, aptos a receber um
programa que é determinado culturalmente. Assim, todos os homens nascem
dotados de um equipamento genético capaz de ser socializado em qualquer
cultura. Nesse sentido, a cultura não é um complexo de comportamentos
concretos, e sim um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas,
regras, instruções etc. Estudar uma cultura é uma tarefa difícil e vagarosa,
que envolve a interpretação de um código de símbolos como se fosse um
texto, a fim de produzir uma descrição densa. A interpretação feita pela
antropologia não é mais do que a interpretação da interpretação que os
nativos fazem do seu próprio universo cultural.

Assim percebe-se que as interpretações e as interpelações da palavra


cultura podem provocar no indivíduo incomodações, a esse respeito e
fazê-lo refletir sobre o tema desde a sua epistemiologia ao senso comum
que ambos não fugirão a sua essência do que seja a cultura.

14 Cultura Popular
As mulheres girafas, na Polinésia, que espicham os
próprios pescoços com aros de ferro deixando-os com
mais de 30 cm;
Leia Mais no  SitedeCuriosidades.com:  http://www.
sitedecuriosidades.com/curiosidade/as-culturas-e-
paises-mais-estranhos-do-mundo.html

Junqueira (2008) apud Souza (2910) nos traz que integrado em uma
sociedade, o ser humano interage invariavelmente com a natureza e outros
seres humanos. No processo de desenvolvimento e de formação, ele absorve
informação que lhe garante uma progressiva adaptação à realidade natural
e social. Este conhecimento, que é designado por conhecimento do senso
comum, está marcado pela época histórica, pelos grupos a que o sujeito
pertence, pelas atitudes e preconceitos; pela ideologia vigente, e permite-
lhe orientar-se, relacionar-se com outros e resolver seus problemas diários.
Souza (2010) afirma que sendo assim, nascer homem não significa
ser humano. O nascimento, a alimentação, e a morte são fenômenos
biológicos, mas, no caso do ser humano, são fenômenos sociais e culturais
todas as sociedades humanas criaram um sistema de crenças, valores,
hábitos e conhecimento social ao ato de nascer de alimentar, etc.
Titiev (1985, p. 13) afirma que a cultura é toda uma “série completa
de instrumentos não geneticamente adquiridos pelo ser humano, assim
como todas as facetas do comportamento adquiridas após o nascimento”.
Seehaber (2006) afirma que, para Clifford Geertz (1978) e Michel de
Certeau (2001), cultura denota um padrão de significados incorporados aos
símbolos e historicamente transmitidos. Expressões de formas simbólicas
por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem
seus conhecimentos e suas atitudes em relação à vida.
Junqueira (2008) apud Souza (2010) ressalta, complementando Titiev
(1985), que é a cultura que institui as regras e as normas que organizam a
sociedade e regem a conduta dos indivíduos.
Sendo assim, Souza (2010) a cultura constitui o veio vital coletivo das
experiências adquiridas, dos saberes práticos aprendidos e apreendidos,
dos conhecimentos sociais vividos, das lembranças histórico-míticas e da
própria identidade de uma sociedade.

Conceito de Cultura 15
Visite o site http://www.viverbrasilnet.com.
br/curiosidades-da-cultura-brasileira/ para
conhecer curiosidades da cultura brasileira.

Souza (2010) afirma que em todos os levantamentos, podemos


verificar que a cultura está diretamente ligada aos movimentos artísticos
e culturais; tais como: teatro, moda, literatura, cinema, televisão, entre
outros. A concepção assim é o próprio significado dos símbolos, que têm
formulações palpáveis de noções, abstrações de conhecimentos fixados
em formas perceptíveis, incorporações concretas de ideias, atitudes,
julgamentos ou crenças.
Hall (1999) ressalta que a sociedade vem sofrendo mudanças, em suas
paisagens de classe, gêneros culturais, gênero, etnia, raça e nacionalidade;
e que nosso passado sempre nos forneceu solidez, localização como
indivíduo social.
Para o autor, hoje essas mudanças estão transformando nossa
identidade pessoal, abalando nossas estruturas como sujeito integrado,
mudando nossas ideias e transformando nossa cultura. O sujeito sofre
constantemente essa mudança no contexto cultura e social. Nasce e cresce
em uma cultura planejada e pré-estabelecida pelos pais; e vão à busca
dessa nova cultura junto de seus pares.

A Índia onde as vacas são veneradas e protegidas como


animais sagrados;
Leia Mais no  SitedeCuriosidades.com:  http://www.
sitedecuriosidades.com/curiosidade/as-culturas-e-
paises-mais-estranhos-do-mundo.html

Segundo Pereira (2006), quando nos confrontamos com a obrigação


de reconhecer quem somos nós, buscamos refletir sobre nossa identidade.
Esta que, configurada a partir das mais diversas combinações da nossa
convivência cotidiana, se estabelece não por pontos independentes desse
processo, mas pela soma deles.

16 Cultura Popular
Neste contexto, faz-se necessário trabalharmos o conceito de cultura
popular, que se diferencia muito pouco do conceito de cultura, uma vez,
que cultura é uma terminologia geral, e cultura popular é algo mais focal,
ficando restrita a um segmento da cultura.

1.3 Conceitos de cultura popular


Há diversas definições para a expressão cultura popular; no entanto,
todas falam de alguns elementos-chave, como manifestação cultural e
produção do povo, que participa de forma ativa; resultado da interação
cultural de pessoas de determinadas regiões; entre outros.
A cultura popular nasce da adaptação do homem ao ambiente onde
vive e envolve diversas áreas de conhecimento, como artes, artesanato,
crenças, folclore, hábitos, ideias, linguagem, moral, tradições, usos e
costumes. Ela surge das tradições e costumes e é transmitida de geração
para geração, principalmente, de forma oral.
Trazendo um alerta para o fato de que cultura popular é difícil de
ser definida devido à polissemia dos termos que a compõem, “cultura” e
“popular”, Cuche (1999) a analisa como uma cultura dominada, que se
constrói e reconstrói numa situação de dominação.
O autor segue afirmando que, no entanto, mesmo sendo dominada,
é uma “cultura inteira”, baseada em valores originais que dão sentido à
sua existência, construindo-se na história das relações entre os grupos
sociais e na relação, na maioria das vezes conflitiva, tensa e violenta;
com outras culturas. Se numa sociedade existe uma hierarquia social, uma
diferenciação social, essa hierarquia e diferenciação também se refletirão
na cultura, ou seja, as culturas populares são culturas de grupos sociais
subalternos, sendo construídas numa relação de dominação.

Conceito de Cultura 17
Arantes (1999) nos traz que existe um amplo espectro de concepções
e pontos de vista que vão desde a negação (implícita ou explícita) de que
os fatos por ela identificados contenham alguma forma de “saber”, até
o extremo de atribuir-lhes o papel de resistência contra a dominação de
classe.
Abreu e Soihet ( 2003) nos mostram que, por outro lado, se cultura
popular é algo que vem do povo, ninguém sabe defini-lo muito bem.
No sentido mais comum, pode ser usado, quantitativamente, em termos
positivos - “Pavarotti foi um sucesso popular” – e negativos - “o funk é
popular demais”. Para uns, a cultura popular equivale ao folclore, entendido
como o conjunto das tradições culturais de um país ou região; para outros,
inversamente, o popular desapareceu na irresistível pressão da cultura de
massa (sempre associada à expansão do rádio, televisão e cinema) e não
é mais possível saber o que é originalmente ou essencialmente do povo e
dos setores populares.

Os índios da tribo Massai, na África, que sobrevivem


com apenas 300 calorias por dia;
Leia Mais no  SitedeCuriosidades.com:  http://www.
sitedecuriosidades.com/curiosidade/as-culturas-e-
paises-mais-estranhos-do-mundo.html

As autoras seguem nos mostrando que para muitos, com certeza, o


conceito ainda consegue expressar certo sentido de diferença, alteridade
e estranhamento cultural em relação a outras práticas culturais (ditas
eruditas, oficiais ou mais refinadas) em uma mesma sociedade, embora
estas diferenças possam ser vistas como um sistema simbólico coerente
e autônomo; ou, inversamente, como dependente e carente em relação à
cultura dos grupos ditos dominantes.
Na visão de alguns historiadores atuais, como Chartier (1995)
sempre foi impossível saber (ou mesmo não interessa desvendar) o
que é legitimamente do povo, pela dificuldade ou mesmo contrassenso
de se precisar a origem social das manifestações culturais, em função
da histórica relação e intercâmbio cultural entre os mundos sociais, em
qualquer período da História.

18 Cultura Popular
Segundo Ferreira (2014), o Brasil, hoje, é formado por uma diversidade
cultural muito grande, essa diversidade, nem sempre é respeitada ou vista
com bons olhos, contudo, ainda há uma necessidade quase que absoluta em
embranquecer as nossas manifestações culturais mais diversas possíveis
para serem aceitas como uma manifestação cultural.
Silva (1995 p. 249) afirma que:

O popular é percebido como um campo pluriclassista, mas


homogeneizado pela exploração econômica e subordinação política a que
seus integrantes são submetidos e, como tal, é percebido como portador
de um projeto político, dito histórico, que ostenta, necessariamente, a
transformação social.

Os índios com toda a sua diversidade cultural, muitos se submeteram


a venda destas para a sociedade com o intuito de serem aceitos com a
sua cultura, porém, o que houve foi uma exploração exacerbada do povo
indígena e de sua cultura como fonte de lucro para os não índios.

Na Rússia, beijar o rosto de amigos é costume.


Leia Mais no  SitedeCuriosidades.com:  http://www.
sitedecuriosidades.com/curiosidade/as-culturas-e-
paises-mais-estranhos-do-mundo.html

Nem só os índios, as comunidades quilombolas por muito tempo foram


esquecidas da sociedade e seus direitos foram quase extintos, contudo, tam-
bém foi percebido que ali havia uma diversidade cultural inestimável, toda
via, esta manifestação por pouco não fora comercializada e posta como objeto.
Para Catenacci (2001), cultura popular é produto de um contexto
determinado e de um diálogo das questões colocadas por ele. Assim,
enquanto para os folcloristas popular é tradição, para a indústria cultural é
popularidade, para o populismo é povo e para os cepecistas é transformação
(revolução). Pertinente no pensamento de Catenacci é considerar que
os conceitos de tradição e transformação, apesar da aparente oposição,
devem ser analisados como complementares, pois esclarecem melhor o
que é a cultura popular, compreendida como um fenômeno complexo e
polissêmico, marcado pela heterogeneidade.

Conceito de Cultura 19
Cultura popular  é uma expressão que caracteriza um conjunto
de elementos culturais específicos da sociedade de uma nação ou região.
Muitas vezes classificada como  cultura tradicional ou  cultura de
massas, a cultura popular é um conjunto de manifestações criadas por
um grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas. A cultura
popular é de fácil generalização e expressa uma atitude adotada por várias
gerações em relação a um determinado problema da sociedade. A maioria
da cultura popular é transmitida oralmente, dos elementos mais velhos da
sociedade para os mais novos.
A cultura popular surgiu graças à interação contínua entre pessoas
de regiões diferentes e à necessidade do ser humano de se enquadrar ao
seu ambiente envolvente. A sociologia e etnologia, que estudam a cultura
popular, não têm como objetivo fazer juízos de valor, mas identificar
as manifestações permanentes e coerentes dentro de uma nação ou
comunidade.
Alguns estudiosos indicam que cada pessoa tem no seu interior a noção
do que é popular, que é definido pela vertente de tradição e comunidade.
A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão
e é formada graças ao contato entre indivíduos de certas regiões. Pode
envolver áreas música, literatura, gastronomia, etc.

1.4 Cultura popular brasileira


A heterogeneidade é uma das características da cultura popular, muito
estudada no século XX e, portanto, no interior das Ciências Sociais podem
ser verificadas suas diferentes concepções.
A cultura popular brasileira é caracterizada por diferentes categorias
culturais, causadas pelo regionalismo.
Na cultura popular brasileira é possível verificar variações na
música, dança e gastronomia. A música sertaneja, a capoeira, o folclore,
a literatura de cordel, o samba, são elementos importantes da cultura
popular brasileira. No âmbito da gastronomia, a culinária baiana é das
mais apreciadas no Brasil, assim como a mineira, a goiana dentre outras.
A cultura popular, aqui será examinada sob um enfoque
multidisciplinar, destacando aspectos que auxiliam a compreensão desse
fenômeno complexo.

20 Cultura Popular
1.4.1 Folclore: cultura popular, tradição
Segundo Vilhena (1997:24), o termo folklore – folk (povo), lore
(saber) – foi criado pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms, em
22 de agosto de 1846, e adotado com poucas adaptações por grande
parte das línguas européias, chegando ao Brasil com a grafia pouco
alterada: folclore. O termo identificava o saber tradicional preservado
pela transmissão oral entre os camponeses e substituía outros que eram
utilizados com o mesmo objetivo – “antiguidades populares”, “literatura
popular”.
Neste contexto, a ideia de amoldar-se nas tradições populares uma
sabedoria não era nova quando a palavra folclore foi criada.
Vilhena destaca também que os intelectuais românticos valorizaram
de forma positiva a cultura popular em um momento em que a repressão
sobre ela se intensificou – final do século XVIII e início do século XIX.
Esses estudiosos, que tinham grande curiosidade com relação ao que era
bizarro, dedicaram-se a esse tema e foram “responsáveis pela fabricação
de um popular ingênuo, anônimo, espelho da alma nacional, [sendo] os
folcloristas seus continuadores, buscando no Positivismo emergente um
modelo para interpretá-lo”.
É importante destacar, porém, o contexto no qual a palavra folclore
foi gerada para podermos compreender, posteriormente, quão abrangente
é essa discussão na área das Ciências Sociais no Brasil.
Ortiz (1985) afirma que até meados do século XVII a fronteira entre
cultura popular e cultura de elite não estava bem delimitada, porque a
nobreza participava das crenças religiosas, das superstições e dos jogos
realizados pelas camadas subalternas. É claro que o mesmo não se pode
dizer com relação ao povo no universo das elites.
Ortiz (1985) destaca, ainda, a crescente preocupação das autoridades
com práticas que geram protestos, tumultos, como o carnaval – entre
outras manifestações populares. Dessa forma, o povo entra no debate
moderno e passa a interessar para legitimar a hegemonia burguesa, mas
incomoda como o lugar do inculto. Teve início nesse período o processo
de desencantamento do mundo, baseado em valores de universalidade
e racionalidade, e valorização da cultura burguesa – moderna – em
detrimento da cultura popular – tradicional.

Conceito de Cultura 21
Para Harvey (1999, p. 23), justamente em meados do século
XIX, quando o termo folclore é criado, a modernização capitalista
encontrava-se a todo vapor; e os intelectuais que se dispunham a
estudar as manifestações populares não pensavam em voltar ao passado
como os românticos, pois, com base no projeto iluminista, acreditava-
se que “o domínio científico da natureza permitia liberdade da escassez,
da necessidade e da arbitrariedade das calamidades naturais. O
desenvolvimento de formas racionais de organização social e de modos
racionais de pensamento prometia a libertação das irracionalidades do
mito, da religião, da superstição, liberação do uso arbitrário do poder,
bem como do lado sombrio da nossa própria natureza humana”.
Catenacci (2001) afirma que apontado como o pai dos estudos
folclóricos brasileiros –, Celso de Magalhães e Couto de Magalhães,
que acreditavam na investigação da origem e das características das
manifestações folclóricas como o meio mais eficiente para afirmar
a identidade nacional. Para tanto, era necessário entrar em contato
com o povo, ou seja, com as classes subalternas, os homens simples,
“deseducados” e ,ao mesmo tempo, testemunhas e arquivos da tradição.
Essas manifestações folclóricas que, segundo eles, encontravam-se
presentes principalmente no meio rural, estariam ameaçadas pelo processo
de modernização em que o Brasil estava se inserindo. Acreditava-se
nesse sentido na incompatibilidade entre as manifestações folclóricas e o
progresso, ou seja, entre os avanços da modernidade e a tradição.
Catenacci (2001) nos traz que a questão da cultura popular foi
apresentada, muito recentemente, pelos romancistas e folcloristas. No
entanto, as obras produzidas para discutir ou reivindicar uma determinada
concepção desse tema são inúmeras e diversificadas. Neste artigo, foram
apresentadas duas concepções, salientando o contexto histórico, social,
político e econômico no qual cada uma delas foi construída. Buscou-se,
ao apresentá-las dessa forma, destacar que o modo pelo qual se entende,
se define cultura popular, é ao mesmo tempo produto de um contexto
determinado e de um diálogo sobre as questões colocadas por ele. Foram
expostas, portanto, as formas com as quais os folcloristas e os membros
do movimento artístico cepecista lidaram e responderam às indagações
colocadas por seu tempo sobre o “povo brasileiro”.

22 Cultura Popular
1.5 Cultura popular e cultura de massa
De acordo com alguns autores, só é possível fazer a diferenciação
entre cultura popular e cultura de massas quando o passar do tempo separa
o que é moda e circunstância, alcançando e integrando a essência de um
povo. Neste caso, a palavra “massa” não remete para uma classe social, e
sim para um grande número de pessoas dentro de uma sociedade.
Apesar de as duas expressões serem frequentemente usadas como
sinônimos, algumas pessoas fazem a diferenciação, referindo que a
cultura de massa revela um produto ou vertente cultural que é difundido
para as grandes massas, muitas vezes para todo mundo. A cultura de
massa é frequentemente divulgada em meios de comunicação de massa, e
na maioria dos casos, é incentivada por indústrias com o objetivo de obter
lucros. Exemplo disso é Coca Cola, MacDonald’s, pizza Hurtz, etc.
Por outro lado, a cultura popular remete para diferentes manifestações
que são populares e com origem em diferentes regiões. Está mais
relacionada com a tradição e é transmitida de geração em geração.

1.6 As Manifestações Culturais


A temática envolvendo a cultura popular teve o auge da sua produção
teórica no Brasil, durante a década de 60, integrando um amplo movimento
que envolveu diversos setores da sociedade: intelectualidade, movimento
estudantil, partidos políticos progressistas, movimento operário e
camponês; classe artística em geral entre outros, e que aspiravam por
mudanças na arcaica estrutura social, articuladas em torno de um projeto
de “democratização” da sociedade brasileira.
Bakhtin (1993) analisa uma multiplicidade de manifestações da cultura
popular, dentre elas: as festas, tanto rurais como urbanas, com destaque
para o carnaval, festa popular por excelência e verdadeira expressão da
festa pública, independente do Estado e da Igreja; o banquete, o comer e o
beber bem e em abundância, ou seja, a boa mesa; as imagens exageradas
e hipertrofiadas do corpo grotesco, por exemplo, as máscaras e os
bonecos com enormes bocas; o vocabulário, marcado pelas obscenidades
e grosserias; elementos não oficiais da linguagem, sendo própria do
povo, capaz de expressar e transmitir a sua percepção carnavalesca do
mundo; os jogos, de cartas, xadrez, esportivos – boliche e pelota, e até

Conceito de Cultura 23
mesmo os infantis; as adivinhações e as injúrias, que aparecem de forma
indissociável e complementar, elementos que compõem e configuram o
carnaval.

Existem culturas em que os homens não podem fazer


a barba, principalmente nas religiões mulçumana e
judaica;
Leia Mais no  SitedeCuriosidades.com:  http://www.
sitedecuriosidades.com/curiosidade/as-culturas-e-
paises-mais-estranhos-do-mundo.html

A virada do século marca transformações em todos os níveis das


atividades humanas, o que implica importantes mudanças no âmbito da
economia, da política, e, sobretudo no âmbito da cultura, responsáveis por
uma nova configuração da sociedade do terceiro milênio. A cultura passa a
ser um locus fundamental nesse processo, tanto no que diz respeito às novas
tensões identitárias que surgem com a crise do estado nacional liberal – que
sempre manteve encoberta a questão das identidades múltiplas –, como em
relação ao papel que desempenha enquanto possibilidade de negociação a
elaboração de estratégias de subjetivação – singular ou coletiva – que dão
início a novos signos de identidade e novas possibilidades de colaboração
e contestação, no ato de definir a própria ideia de sociedade.
Silva (1995 p. 249) afirma que “o popular é percebido como um
campo pluriclassista, mas homogeneizado pela exploração econômica
e subordinação política a que seus integrantes são submetidos e, como
tal, é percebido como portador de um projeto político, dito histórico, que
ostenta, necessariamente, a transformação social”.

1.7 Na prática
1) Qual o conceito de cultura?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

24 Cultura Popular
2) Qual o conceito de Cultura popular?
_______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

3) Existe alguma manifestação cultural na sua cidade?


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_______________________________________________________

4) Você faz ou já fez parte de alguma manifestação cultural? Relate.


_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

5) Como você entende o que é cultura?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

1.8 O que aprendemos?


Nessa unidade, aprendemos muito sobre cultura e a diversidade
cultural; vimos que o termo cultura é muito amplo e por isso existe a
diversidade cultural, a cultura popular e outras denominações da cultura.
Aprendemos também que:
• A cultura pode ser passada de geração para geração;
• Muitas coisas como, objetos, língua, figura, etc. podem ser
denominadas cultura;
• A cultura popular está inserida na terminologia cultura;
• As manifestações culturais estão em toda parte, bastando olhar em
volta;
• Somos seres culturais.

Conceito de Cultura 25
1.9 Glossário
Etnográfico: A etnografia é um método de estudo utilizado pelos
antropólogos com o intuito de descrever os costumes e as tradições de
um grupo humano. Este estudo ajuda a conhecer a identidade de uma
comunidade humana que se desenvolve num âmbito sociocultural
concreto.

Hegemonia: Preponderância de alguma coisa sobre outra. É a


supremacia de um povo sobre outros povos, ou seja, a superioridade
que um país tem sobre os demais, tornando-se assim um Estado
soberano. Supremacia de uma cidade, de um Estado etc. em relação a
outros: a luta pela hegemonia celebrizou Esparta e Atenas. Figurado.
Supremacia, domínio, preponderância ou proeminência. Influência
absoluta, liderança ou superioridade. Proeminência política ou bélica
nas sociedades da Grécia antiga.

Polissêmico: é o nome que se dá quando uma palavra pode ter mais


de uma significação

1.10 Referências
ABREU, M. e SOIHET, R., Ensino de História, Conceitos,
Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003.

ARANTES, A. A.; O Que é Cultura Popular. São Paulo: Ed.


Brasiliense, 1999.

BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no


Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo - Brasília:
HUCITEC-EDUNB, 1993.

CATENACCI, V. Cultura popular entre a tradição e a


transformação. In: São Paulo em Perspectiva, 2001.

CHARTIER, Roger, “Cultura Popular”: revisitando um conceito


historiográfico. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Fundação
Getúlio Vargas, vol. 8, n.16, 1995, p. 179-180.

26 Cultura Popular
Cultura Popular. < http://infojovem.org.br/infopedia/tematicas/
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Cultura Popular. <http://www.significados.com.br/cultura-


popular/> acesso em acesso em 1/ago/2014

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Convenção Sobre A Proteção E Promoção Da Diversidade Das


Expressões Culturais. Disponível em < http://www.cultura.gov.br/
politicas5/-/asset_publisher/WORBGxCla6bB/content/convencao-
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culturais/10913> acessado em: 1/ago/2014

DE CERTEAU, M. A cultura no plural. Trad. Dobránszky, E. A.


Campinas, Papirus

GEERTZ, C. A Interpretação da Cultura. Rio de Janeiro. Zahar,


1978.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de


Janeiro: DP&A, 1999.

HARVEY, D. Condição pós-moderna. 8a ed. São Paulo, Edições


Loyola, 1999.

ORTIZ, R. Cultura popular – Românticos e folcloristas. São Paulo,


PUC-SP,

_______Cultura brasileira e identidade nacional. 2a ed. São Paulo,

SEEHABER, Liliana Cláudia. “CULTURA: LENTE PELA QUAL


SE VÊ O MUNDO”O Universo Cultural do Professor de Ensino
Religioso. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação
e Mestrado em Educação, da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, 2006.

Conceito de Cultura 27
SILVA, M. Ozanira da Silva e (Coord.). O Serviço Social e o Popular:
resgate teórico-metodológico do projeto profissional de ruptura. Ed.
Cortez; São Paulo, 1995.

SOUZA, G. de M. O preconceito intergrupal nos grupos de


Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBTT:
Impacto nas Políticas Públicas da Secretaria Especial dos Direitos
Humanos. Dissertação de Mestrado em Ciência Política do Centro
Universitário Euro-Americano – UNIEURO. Brasília, 2010.

TITIEV, Mischa. Introdução à antropologia cultural. 5ª. ed. - Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. - 419 p. : il. Antropologia /
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VILHENA, L.R. Projeto e missão: o movimento folclórico


brasileiro 1947-1964. Rio de Janeiro, Funarte, 1997.

Anotações

28 Cultura Popular
Anotações

Conceito de Cultura 29
Anotações

30 Cultura Popular
2
Cultura de Massa, Cultura Popular
e Cultura Erudita

2.1 Ponto de partida


2.2 Roteiro do conhecimento
2.3 Cultura de Massa
2.4 Cultura Popular
2.5 Cultura Erudita
2.6 Na Prática
2.7 O que aprendemos?
2.8 Glossário
2.9 Referências
Cultura Popular
2.1 Ponto de partida
Caros alunos,
Estamos iniciando mais uma unidade sobre cultura, aqui serão
trabalhados outros conceitos importantes com o intuito de aprofundamento
da disciplina, trazendo à tona as questões culturais e imergindo cada vez
mais nas diversidades culturais.
Ao final da unidade, você estará apto a:
• Diferenciar os diversos conceitos de cultura;
• Identificar a cultura popular, em especial a cultura popular
brasileira;
• Entender a cultura erudita;
• Saber identifica a cultura de massa;
• Trabalhar com as diferentes culturas;
• Respeitar a diversidade cultural e suas categorias.
Ao final da unidade, iremos fazer uma atividade de fixação do conteúdo
sobre o aprendido no decorrer desta unidade e sobre o que aprendemos do
nosso cotidiano.

2.2 Roteiro do conhecimento


Já definimos no começo de nosso livro o que é cultura e cultura
popular; neste tópico trabalharemos a cultura de massa, com sua definição
e o cruzamento dos três tipos de culturas apresentadas.
A cultura pode sofrer alterações no decorrer do percurso da história,
na sua processualidade e também nas questões ideológicas. Contudo, não
podemos esquecer que leva-se anos para poder modificar uma cultura,
ou apenas alguns dias para exterminá-la, como no caso do processo de
colonização do Brasil com o massacre dos índios nativos.
Aqui aprofundaremos nos conceitos de cultura e na sua diversidade e
ramificações, também serão tratados temas do cotidiano para apreendermos
os conceitos de cultura de massa, cultura popular e cultura erudita.

2.3 Cultura de Massa


A expressão1 ‘cultura  de massa’, posteriormente trocada por
‘indústria cultural’, é aquela criada com um objetivo específico, atingir
a massa popular, maioria no interior de uma população, transcendendo,

1 Disponivel em < http://www.infoescola.com/sociedade/cultura-de-massa/>

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 33


assim, toda e qualquer distinção de natureza social, étnica, etária, sexual
ou psíquica. Todo esse conteúdo é disseminado por meio dos veículos
de comunicação de massa.
No início do século XX, os primeiros autores a estudar os meios de
comunicação de massa foram filósofos Theodor Adorno (1903-1969) e
Max Horkheimer (1896-1973), pertencentes ao grupo de intelectuais
chamado Escola de Frankfurt. Ao analisar os meios de comunicação de
massa, os autores entenderam que esses recursos funcionavam como uma
indústria na padronização de noticias e serviços. Dentro dessa concepção,
muda o sentido e a expressão de Cultura de Massa para Indústria Cultural.
Para Adrian (2012), o desenvolvimento da cultura de massa possui
uma relação muito forte como o próprio surgimento da modernidade. O
crescimento dos meios de comunicação de massa tem origem na ascensão
do protestantismo, da democracia e principalmente do Capitalismo.
Segundo Adrian (2012), considerando que a expressão, meios de
comunicação de massa trata-se à imprensa escrita, ao rádio, à televisão
e a outras tecnologias de comunicação. Normalmente mídia e meio de
comunicação são encarados como sinônimos para referirmos à transmissão
da informação de uma pessoa ou grupo para o outro. O termo massa está
muito bem direcionado a multidões padronizadas e homogêneas, não possui
um grupo específico, mas tem significado na sociedade como um todo.
Para Tomazi (2000), podemos falar em indústria cultura a partir do
século XVIII, com a multiplicação dos Jornais no continente Europeu.
Para tanto o próprio processo de escolaridade da população ajudou no
processo. A indústria precisava de indivíduos um pouco mais qualificados,
nesse caso, o surgimento de um mercado consumidor (importância social,
econômica e cultural) segundo Tomazi, contribuiu para o desenvolvimento
do primeiro meio de comunicação de massa: o Jornal.

34 Cultura Popular
Segundo Teixeira Coelho, a indústria cultural é fruto da sociedade
industrializada, no período de consolidação de uma economia baseada no
consumo de bens. Produtos culturais em série – revistas, jornais, filmes,
livros, etc. – produzidos para o consumo em massa, são característicos
desse tipo de indústria.Os jornais acabam tendo um papel importante
dentro dos centros urbanos criados e desenvolvidos com o capitalismo
vigente. Segundo Tomazi, os jornais divulgam notícias, crônicas políticas
e os folhetins (novelas impressas), ganhando uma popularidade grandiosa.
Nesse sentido as noticiais se tornam cada vez mais acessíveis. Diferente
da antiga sociedade feudal em que o conhecimento e as noticias ficavam
reservados a pequenos grupos de privilegiados.
Para Adorno (1903-1969) e Horkheimer (1896-1973), os meios de
comunicação de massa compreendem uma proposta de alienação, diversão
ou mesmo a desorientação sem permitir a reflexão sobre as coisas. Os
autores destacam que a indústria cultural tem um objetivo: chegar aos
seus consumidores a partir da venda. Por essa razão, pode-se dizer que a
indústria cultural vai buscar legitimar tudo isso a partir de uma ideologia
que, é uma falsa consciência ou uma inversão da realidade.
Adrian (2012) destaca que a indústria cultural impõe gostos e
preferências às massas, modelando suas consciências ao introduzir o
desejo de necessidades supérfluas. Ela é tão eficaz nessa tarefa que os
indivíduos não percebem o que ocorre, impedindo, assim, a formação, de
pessoas capazes de julgar e de decidir conscientemente.
O autor segue destacando que fenômeno similar ocorre na música
popular produzida pela indústria cultural. O processo de padronização torna
as canções parecidas umas às outras e reprime qualquer tipo de desafio,
autenticidade ou estímulo intelectual na música elaborada para a venda.

Adorno e Horkheimer, representantes da chamada Escola de


Frankfurt. Para eles, não estamos diante de uma cultura de
massa; assistimos - parados – ao consumismo da indústria
cultural.

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 35


Adrian (2012) afirma que a televisão no Brasil é o Meio de comunicação
de Massa mais popular e presente nos lares das pessoas. Apesar de o rádio
ter maior abrangência, a televisão atinge quase à totalidade do território
nacional. Os produtos e serviços oferecidos nesse meio de comunicação
ainda possuem uma grande influencia entre as pessoas.
Segundo Tomazi (2000), os produtos que a TV desenvolve de alguma
forma definem o que é importante e o que não é, ou seja, o gosto, a
sexualidade, a opção política, o desejo de consumo são promovidos
prioritariamente pela televisão comercial.
Para o Caderno Humanitas (1994), se quisermos tentar compreender
os mecanismos de funcionamento da cultura de massa e o seu peso na
vida cultural, política e econômica do país; um exercício fundamental será
assistir a uma novela de TV, do início ao fim. Apesar de cada vez mais
popular a internet entre o público brasileiro, as novelas ainda possuem
uma abrangência e popularidade significativa entre as pessoas.
A razão principal do sucesso das novelas junto ao público está na
mistura entre ficção e realidade muitas vezes vivida pelos telespectadores.
Nas novelas, temos a impressão de que a ficção e o cotidiano coabitam.
Além da sua longa duração (entre oito meses e um ano), em muitos casos
a construção das intrigas é concebida de forma a fazê-las coincidir com
as datas do calendário real, as festas e as comemorações nacionais e os
eventos da atualidade. Resulta então daí uma sensação de proximidade
entre o telespectador e os personagens.

Os Meios de Comunicação de Massa


São a imprensa escrita, o rádio, a televisão e
outras tecnologias de comunicação.
A palavra “massa” implica que os meio
atingem muita gente. A palavra “meios”
significa que a tecnologia media ou intervém
na transmissão de mensagens de emissores
para receptores. Além disso, a comunicação por
meio da mídia é geralmente de mão única ou,
pelo menos, desequilibrada. Existem poucos
emissores (ou produtores) e muitos receptores
(ou membros da audiência).
Sociologia sua bussola para um Novo Mundo, p. 458, 2008.

36 Cultura Popular
As atrações pelas novelas atingem todas as classes sócias. A razão de
tal sucesso é que visando alargar ao máximo sua audiência, a rede Globo,
por exemplo, utiliza cinco aspectos importantes na produção das novelas:
Adrian (2012) nos mostra quatro exemplos neste contexto.
01. A mesma língua falada pelos telespectadores no seu dia-a-dia:
o púbico acaba se identificando com os personagens, pois seus
costumes e sua linguagem é também muito parecida, como
exemplo temos a novela Malhação e sua fala, comunicação de
acordo com o público jovem.
02. O roteiro da aspiração à ascensão social: frequentemente nas
novelas a história se passa entre dos mundos diferentes, o
núcleo conhecido como Zona Sul (em referência à região onde
reside a elite carioca), os ricos e o núcleo pobre. Sendo que os
personagens pobres sempre no final de cada novela acabam
crescendo ou prosperando economicamente. Curiosamente o
publico fica satisfeito, pois descobre que o moçinho ou a moçinha
pobre consegue vencer na vida, tanto no amor como também na
vida econômica, o que nem sempre acontece na vida real.
03. Igualdade social: frequentemente nas novelas vemos os pobres
convivendo com os ricos, coabitando um cotidiano semelhante
sem conflitos, seja no trabalho ou na família (doméstica e patrões),
uma evocação direta de uma igualdade social inexistente na
realidade.
04. O amor entre núcleos diferentes: é muito rotineiro entre as diversas
novelas, o amor entre indivíduos de classes sociais diferentes. O
público gosta da relação entre mundos tão distintos, a moçinha
pobre com o grande empresário. Nas novelas essas historias de
indivíduos tão diferentes é regra e quase uma obrigação entre os
roteiristas na busca da audiência.
O caderno Humanitas afirma que a popularidade alcançada pelas
novelas não se mede somente pelas amplas cifras do Ibope, mas também,
pelo lugar que elas ocupam nas conversas cotidianas, nos debates rotineiros,
nos rumores que elas alimentam; seu poder de unir uma discussão nacional
não somente em torno da intriga, mas em torno de certas questões de
sociedade. A identificação do telespectador brasileiro às personagens das
novelas é tão forte que os últimos capítulos tornam-se eventos nacionais
comentários obrigatórios em toda a mídia, sondagens de opinião são feitas
para saber o fim das intrigas ou da situação final das personagens.

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 37


A cultura de Massa é uma cultura que não está vinculada a qualquer
grupo específico. Ela é transmitida de maneira industrializada. Ela é
transmitida para um público generalizado e interfere tanto na cultura
erudita quanto na cultura popular.
A Indústria Cultural não produz, necessariamente, um produto
concreto. Ela vende uma ideologia, vende visões de mundo por intermédio
dos meios de comunicação de massa. A cultura de massa não surge
espontaneamente da própria massa, mas é fornecida pela classe dominante.
Essa cultura é externa à popular, não é produto dela.
Os produtos da cultura de massa são consumidos tanto pela cultura
popular quanto pela cultura erudita. A cultura de massa ignora a diferença
entre as duas culturas. Ex. reproduções das pinturas de Picasso em escala
industrial. Esse exemplo não serve para pensarmos na cultura de massa
como um meio de democratização! Porque as classes sociais não possuem
as mesmas condições educacionais. A elite intelectual tem acesso aos
meios comunicacionais para saber quem é Picasso e classes sociais muito
baixas não! A massa da população passa a conhecer o pintor, mas não
compreende esta arte em seu processo histórico.
Podemos tentar pensar a TV como uma mídia de democratização
da cultura, das diversas classes sociais, mas isto não acontece! A grande
massa que consome um produto de baixa qualidade informacional não
tem estímulo para consumir uma mídia escrita (livro), para ir a um museu,
a uma exposição de arte ou a ampliar seu repertório musical.
Esperava-se que os grandes meios de comunicação de massa
pudessem ser um veículo de democratização da cultura popular e cultura
erudita. Com raras exceções, temos canais como a TV Cultura que veicula
programas culturais, mas não consegue torná-los atraentes para a grande
massa. A grande massa prefere programas de entretenimento.

38 Cultura Popular
As expressões populares da cultura operária, do campo e da favela
são atravessadas pelos produtos da cultura de massa. No entanto, a cultura
popular existe em detrimento da cultura de massa. Porém, a grande massa
não possui consciência das ideologias da Indústria Cultural e consome um
produto de baixa qualidade informacional.
A Indústria Cultural esteve sempre ligada ao poder econômico
e financeiro. Nesse sentido, a Indústria Cultural usa de mecanismos
repressores às outras formas de manifestações populares da cultura.
O mercado da Indústria Cultural não está interessado em qualidade da
obra de arte e, sim se ela vende. “Isto não vende mais”.

2.4 Cultura Popular


Cultura popular se refere à interação entre pessoas de uma mesma
sociedade, essa varia de acordo com as transformações ocorridas no meio
social. Pode ter várias origens, já que uma comunidade pode ser composta
por pessoas de vários territórios que compartilham a cultura de sua nação
formando uma nova, e também abrange todas as classes sociais.
Abreu (2003) afirma que Cultura popular é um dos conceitos mais
controvertidos que conheço. Existe, sem dúvida, desde o final do século
XVIII; foi utilizado com propósitos e em contextos muito variados, quase
sempre submergidos com juízos de valor, idealizações, homogeneizações
e disputas teóricas e políticas. Para muitos, está (ou sempre esteve) em
crise, tanto em termos de seus limites para expressar uma dada realidade
cultural, como em termos práticos, pelo dito avanço da globalização,
responsabilizada, em geral, pela internacionalização e homogeneização
das culturas.

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 39


É inegável que com a Globalização e as mudanças que ela provoca,
observamos diversos benefícios, sobretudo no que diz respeito ao acesso
às modernas tecnologias. Na prática, porém, o alcance dessas mudanças
ainda é muito restrito, o que significa que uma parcela muito grande da
população mundial não é, e não será contemplada. Ao nos propormos
trabalhar com a Cultura Popular, não podemos desvinculá-la deste mundo
globalizado.
Ao longo da História, a Cultura Popular tem se configurado como um
instrumento fundamental, não só para a “preservação” dos grupos que a
representa, mas também, como fonte de resistência e inovações sociais.
Segundo Brandão (2007), a um primeiro olhar, cultura é tudo aquilo
que os seres humanos acrescentam à natureza de que nós somos parte e
de que partilhamos. Pois nós, seres humanos, somos seres naturais... mas
somos naturalmente humanos. Vivemos a cada momento de nossas vidas a
experiência desta dupla morada: vivemos num mundo natural que está em
nós e ao nosso redor, nesta fina camada de existência da vida na Terra a
que damos o nome de Biosfera. E vivemos em um mundo natural cada vez
mais transformado em mundo de artefatos, de equipamentos, de objetos
de uma natureza socializada e transformada em cultura.

A cultura popular diria respeito à consciência que imediatamente deságua


na ação política e cujo propósito último é a educação revolucionária das massas;
seria uma forma de trabalho revolucionário que tem por objetivo acelerar a
velocidade com que se transformam os suportes materiais da sociedade num
processo que unifica cultura e revolução. (PAIVA, 2003, p. 262).

Uma percepção adequada de nossas culturas populares deveria partir


dos seguintes fundamentos: a) elas são próprias – não são imitações
empobrecidas ou cópias de outras formas culturais mais eruditas, mais
civilizadas, etc.; b) elas são originais – pois representam criações
sempre integradas em complexos ou sistemas culturais mais amplos
e mais integrados de vida social e simbólica; e apenas a partir do
interior destes “contextos culturais” recebem o seu pleno significado e
podem ser compreendidas e avaliadas; c) elas são interativas – mesmo
quando aparentemente distantes de outras ou mesmo isoladas, “cultura
humana alguma é uma ilha”, e em todos os seus planos elas existem e se
transformam por intermédio de intercâmbios com/entre outros sistemas
culturais; d) elas são dinâmicas – elas existem na história, e vivem em

40 Cultura Popular
seu fluxo; algumas podem variar pouco e preservar com maior zelo as
suas tradições; e, de fato, a tradição é uma de suas características; mas as
culturas mudam, transformam-se, atualizam-se e, como tal, para os seus
atores e autores, são sempre atuais, pensam e representam o viver em um
momento presente; d) elas são criadas – em seus planos, elas representam
sempre uma experiência singular ou coletiva de criatividade popular. São
as obras de artistas e de artesãos, cujos nomes podem, ao longo do tempo,
terem sido esquecidos, mas suas obras são sempre, como um poema de
Cecília Meireles ou uma música de Tom Jobim ou de Villa-Lobos, obras
autorais de um artista popular.

História da Feijoada A feijoada, um dos pratos mais


famosos da culinária brasileira, se originou por meio
dos costumes dos escravos africanos. O prato consiste
na mistura de feijão preto, carne de porco, farofa, entre
outros ingredientes. Na época da escravidão, os senhores
de escravos não comiam as partes menos nobres do
porco, como orelhas, rabos ou pés, e davam tais partes
aos seus escravos. Como a alimentação dos mesmos
era baseada apenas em cereais, como milho e feijão,
resolveram pegar as partes do porco que eram rejeitadas
e juntá-las com o feijão, cozinhando tudo em um mesmo
recipiente, além de adicionar água, sal e pimentas
diversas à mistura. Estava feita a primeira feijoada. http://
www.historiadetudo.com/feijoada.html

Cultura Popular: povo, classes excluídas socialmente, classes


dominadas. A cultura popular não está ligada ao conhecimento científico.
Diz respeito ao conhecimento espontâneo e ao senso-comum.
Arte popular: um tipo de linguagem por meio da qual o homem do
povo expressa sua luta pela sobrevivência. Na arte popular, o artista é o
homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades.

(...) há que se pensar que as festas tradicionais da cultura popular também


são afetadas pelas transformações da comunicação e pela reorganização
do mercado. Nós, os antropólogos e os folcloristas, dizemos isto com um
misto de satisfação e de pesar. Mostrar um acontecimento da cultura popular

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 41


na televisão pode ter uma consequência ambígua. Pode ajudar a animar
os seus praticantes a permanecerem ativos, pode animar outras pessoas a
nele se inserirem, mas pode também transformá-lo em mercadoria. E aí as
consequências, às vezes, são trágicas, pois o mercado não põe uma mercadoria
à venda de qualquer jeito. Ele sempre vai querer apresentá-la à sua imagem
e semelhança. Daí considerarmos, quanto aos meios de comunicação e ao
desenvolvimento do turismo – os dois quase sempre conjugados –, que o
maior risco enfrentado hoje pela cultura popular é a sua espetacularização. É
preciso que todos os praticantes das festas e tradições populares tenham uma
compreensão ampla e profunda desse processo. Seja lá como for, isso tem
modificado profundamente o calendário das festas populares. Um grupo de
Parafuso, ou um grupo de Jongo, ou um de Moçambique podem se apresentar
em qualquer época do ano, inclusive fora do seu “território” de origem. A
Folia de Reis, especialmente agora com a pulverização dos Encontros de
Folias por todo o Brasil, já saiu de vez da rigidez do período natalino2

Arte popular do século XVIII é diferente da arte popular hoje, como


o rap, hip hop. A Cultura popular incorpora sempre novos elementos
sociais, no entanto, ela é também conservadora da identidade de uma
representação social ou grupo social.

Ex. o carnaval era um festa popular, com os meios de comunicação


de massa, ela se tornou em espetáculos para turistas. O artista popular
tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros e regionais. Este
artista também é afetado pela cultura de massa.

2 Jadir de Moraes Pessoa, na página 9 de seu artigo: Aprender e ensinar nas festas
populares, no Boletim de Salto para o Futuro com o mesmo título. O Boletim
incorpora outros artigos na mesma linha. Ver a bibliografial.

42 Cultura Popular
A cultura de massa procura homogeneizar todas essas expressões
culturais. Às vezes a cultura popular é uma forma de resistência em
relação à cultura de massa.
Nunca podemos dizer que a cultura erudita possui qualidade e a
cultura popular não! Elas podem ter a mesma sofisticação. No entanto,
elas não possuem o mesmo status social.

A Oktoberfest não é só cerveja, é folclore, memória


e tradição. Nessa festa podemos conhecer a riqueza
cultural alemã, revelada pelo amor à música, à dança,
à gastronomia típica e à cultura germânica. A festa
blumenauense, versão consagrada da Oktoberfest de
Munique, transformou-se, a partir de 1988, em um evento
que reúne mais de 600 mil pessoas por ano. Escrito com
base no site: http://www.oktoberfestblumenau.com.
br/oktoberfest/histo

A cultura erudita é transmitida pelas escolas e outras instituições.


A cultura popular, não, como por exemplo, a literatura de Cordel não
é usada nas instituições escolares como forma de expressão cultural e
objeto de desenvolvimento pedagógico. Existem estudos e pesquisa que
comprovam a ideia de que a literatura de Cordel poderia ser usada como
mecanismo de alfabetização infantil.
Os intelectuais discutem a cultura erudita e a popular, mas o artista
da cultura popular não! Quem define o que é erudito e o que é popular é
a elite intelectual.

2.5 Cultura Erudita


Cultura erudita: (erudito = instrução vasta adquirida pela leitura),
elite social, econômica, política. Seu conhecimento é proveniente do
pensamento científico, dos livros e das pesquisas universitárias. A
cultura popular também pode ser objeto de pesquisa e estudo da cultura
universitária.
Erudito é algo ou alguém que possui uma cultura vasta, sobre um
determinado assunto. Erudito é um adjetivo que pode estar relacionado
à música, à leitura, ou à cultura em geral. Erudito é relacionado a qualquer

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 43


coisa que seja bem elaborada, estudada, cuidada, como obras eruditas,
música erudita, violão erudito, etc.
Erudito é também, aquela pessoa que tem vontade de aprender sempre,
que está sempre estudando, procurando se aprofundar em assuntos cultos,
sobre a história do mundo, das artes, da música, etc.
Alguns sinônimos de erudito são: enciclopedista, entendido,
iluminado. Ex: Ninguém sabe mais do que ele sobre a história dos
automóveis. Ele é um verdadeiro erudito.
A cultura erudita é aquela considerada superior, normalmente
apreciada por um público com maior acúmulo de capital e seu acesso é
restrito a quem possui o necessário para usufruir dela. A cultura erudita
está muitas vezes ligada a museus e obras de arte, óperas e espetáculos
de teatro com preços elevados. Existem projetos que levam esse tipo de
cultura até as massas, colocando a preços baixos, ou de forma gratuita,
concertos de música clássica e projetos culturais.
Como o acesso a esse tipo de cultura fica restrito a um grupo pequeno,
ela fica ligada ao poder econômico e é considerada superior. Essa
consideração pode acabar tornando-se preconceituosa e desmerecendo as
outras formas de cultura. O erudito é tudo aquilo que demanda estudo
muito estudo, mas não se deve pensar que uma expressão cultural popular
como o hip-hop, por exemplo, é pior que uma música clássica.

Alguns compositores contemporâneos, como  John


Cage, Toni Frade  e  Hermeto Pascoal, inovaram no som
do piano ao colocarem objetos no interior da caixa de
ressonância ou ao modificarem o mecanismo. A um
piano assim alterado chama-se piano preparado.

Segundo Castelo Branco (2000) a cultura erudita e a cultura popular,


mesmo estando permeadas pelos meios de comunicação de massa, ainda
assim, guardam capacidade de resistência, intencional ou não. Têm,
portanto, história interna específica, ritmo próprio, modo peculiar de
existir no tempo histórico e tempo subjetivo.
Cultura erudita é o oposto da cultura popular. Cultura erudita é aquela
para pessoas com alto nível de instrução, que possuem muito estudo, uma
formação específica sobre um determinado assunto, em especial sobre
história da arte, movimentos históricos, etc.

44 Cultura Popular
A cultura erudita, produzida de poucos para poucos, é basicamente
escrita e hoje encontra-se nas universidades e nos centros de pesquisa.
Já a cultura popular dá-se de muitos para muitos, alcançando a situação
ideal quando o número de emissores coincide com o de receptores. Ela é
praticamente oral e encontra-se em comunidades, micro organizações e
alguns grupos dispersos.
A cultura de massa envolve a eletro-eletrônica e sua produção é de
poucos para muitos. Contudo, a principal diferença entre os três sistemas
culturais diz respeito à concepção de tempo. A cultura erudita tem o
tempo de reflexão, onde pode-se voltar a datas e, exemplificando, estudar
o surgimento do primeiro jornal impresso para grande público no mundo.
O tempo cíclico, característico da cultura popular, se repete porque está
atrelado à natureza, ao cotidiano, como é o caso do tempo do ciclo agrário,
da semeadura à ceifa, com pausa para o descanso da terra. A cultura de
massa é marcada pelo tempo acelerado, pois é o tempo do consumo: a lei
do maior número, no menor espaço de tempo e com o maior lucro possível.
Cultura erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional,
sobretudo na universidade. Trata-se de uma cultura produzida por uma
minoria de intelectuais das mais diversas especialidades, e geralmente saídos
dos segmentos superiores da classe média e da classe alta.
A cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital
pelo fator de viabilizar esta cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se obter
o conhecimento, portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma classe
social que por sua vez possui condições para investir nesses aspectos e em
fim obter o conhecimento. É uma cultura em que a sociedade valoriza como
superior ou dominante. No entanto em termos sociológicos existem grupos
sociais que mantêm entre si relações de dominação e de subordinação.

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 45


O Brasil é o primeiro país a sediar uma filial do ballet
Bolshoi fora da Rússia. O segundo país a ser contemplado
foi a Austrália, que terá também uma filial russa em 2006,
na cidade de Sidney.

Cultura erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacio-


nal, sobretudo na universidade. Trata-se de uma cultura produzida por uma
minoria de intelectuais das mais diversas especialidades, e geralmente saídos
dos segmentos superiores da classe média e da classe alta.
Os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma elite
social, econômica, política e cultural e seu conhecimento ser proveniente
do pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou
do estudo em geral (erudito significa que tem instrução vasta e variada
adquirida, sobretudo pela leitura). A arte erudita e de vanguarda é
produzida visando museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou
grandes exposições, público e divulgação.
Esta exige estudo, pesquisa para se obter conhecimento, portanto
não é viável a uma maioria, e sim a uma classe social que por sua vez
possui condições gerais para investir nesses aspectos e em fim obter
conhecimento.

De acordo com intelectuais, a cultura erudita é oposta à cultura de


massa, uma vez que a segunda oferece ao público uma só ideia e quem
escolhe a programação é a própria mídia por questões mercadológicas,
ligadas principalmente à ascensão econômica das pessoas. A cultura

46 Cultura Popular
erudita é ainda mais próxima à cultura popular, mas o que as diferencia é
que a popular se passa por tradição familiar ligada ao local onde vivem, e
não é aprendida em academias ou escolas.
Porém, cada vez mais a cultura erudita está atingindo diferentes
públicos da sociedade brasileira. Pode-se confirmar sua inserção na vida
dos brasileiros por meio da maior facilidade em encontrar programas
de televisão que desperte a vontade de estudar sobre um determinado
assunto que gere diferentes conhecimentos; como o propósito da TV
Cultura e Futura, e também o baixo valor para entrar em Museus e Centros
Culturais. Sem contar que alguns deles podem entrar gratuitamente, como
é o caso da CPFL Cultura, eventos da Fnac, Itaú Cultural, Caixa Cultural,
que promovem palestras, debates, exposições, entre outros.

Mercedes Batista foi a primeira bailarina negra a integrar


o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Apesar de fazer aulas com a companhia, nunca foi
escalada para uma apresentação.

Em várias localidades é apresentado nos grandes pátios, Orquestras


Sinfônicas abertas para o público, festivais de músicas e diferentes eventos
promovidos pela Secretaria da Cultura das prefeituras. Universidades
também promovem eventos culturais e científicos. Já as editorias
consideradas como “precursoras” da cultura erudita, ainda estão pouco
acessíveis para a maioria da população por seu valor final, porém os
maiores jornais do Brasil são de mais fácil acesso.
Desta forma, a cultura erudita está abrindo espaço para todos os
públicos na sociedade brasileira e trazendo a arte não só para o consumo,
mas também para o conhecimento das pessoas. Basta a sociedade ter
interesse em procurar algum desses locais para começar a vivenciar esse
diferente tipo de conhecimento e acrescentar valores, fazendo com que
cada um reflita sobre o que tem para aprender, e não mais somente o que
lhe é oferecido.
Segundo Senatore (2013), a Cultura popular e cultura erudita podem
ter a mesma sofisticação, mas na sociedade não possuem o mesmo status
social - a cultura erudita é a que é legitimada e transmitida pelas escolas
e outras instituições. É importante ressaltar que os produtores da cultura
popular não têm consciência de que o que fazem tem um ou outro nome e

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 47


os produtores de cultura erudita têm consciência de que o que fazem tem
essa denominação e é assunto de discussões; mesmo porque os intelectuais
que discutem esses conceitos fazem parte dessa elite, são os agentes da
cultura erudita que estudam e pesquisam sobre a cultura popular e chegam
a essas definições.
Segundo Menezes, a cultura popular seria aquela que é produto de
um saber não institucionalizado, que não se aprende em colégios ou
academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda
a literatura de cordel. A cultura erudita, por outro lado, pressupõe uma
elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. Isto é:
o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por
academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc., que selecionam
o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações. Bach, na
música, e Inglês, na pintura, são exemplos disso.
Evidentemente, os conceitos de popular e erudito escondem também
uma valoração. Por muitos anos, a cultura popular foi considerada inferior
à erudita; e erudito mesmo era aquilo que era europeu, de preferência
francês, inglês ou alemão. Os brasileiros eram os primos pobres, que
tinham que beber naquelas fontes para se curar de seu incurável atraso.
Esse pensamento foi se transformando ao longo dos anos, graças às
contribuições de autores que, dominando o saber erudito, reconheciam
o valor imenso da cultura popular (Gilberto Freire, Mário de Andrade e
Guimarães Rosa são alguns desses autores).

2.6 Na Prática
1) Com suas palavras defina o que é cultura?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2) Qual a diferença entre cultura popular, cultura erudita e cultura de


massa?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

48 Cultura Popular
3) Você participa ou já participou de alguma atividade cultural erudita
ou popular? Qual? Relate como foi.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

4) Dê ao menos 2 exemplos de manifestação cultural popular, erudita


e de massa.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

5) Na sua cidade há alguma dessas manifestações culturais?


Descreva-a.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2.7 O que aprendemos?


Chegamos ao fim de mais uma unidade, contudo cheio de novos
conhecimentos e com muita garra e vontade de aprendermos mais e mais.
Nessa unidade, aprendemos que:
• Há diferentes tipos de cultura;
• Cultura erudita, cultura popular e cultura de massa são diferentes;
• A cultura erudita é o oposto da cultura de massa;
• A cultura popular e erudita estão muito próximas na atualidade;
• Os meios de comunicação são um excelente difusor da cultura.

2.8 Glossário
Capital: O termo capital tem varias definições: Faz referência à cabeça,
relativo à vida de um indivíduo. Diz-se também que faz referência à
pena de morte que se define como pena capital; que é a cabeça ou parte
principal de algo: algo essencial ou uma ideia capital. O termo capital é
originário do latim derivado de caput, que significa cabeça. É um termo

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 49


que tem relação ou pertence à cabeça. Em termos econômicos, o capital
é considerado um fator muito importante no setor produtivo. O termo é
utilizado de maneira geral para descrever um valor quantitativo usado
para empréstimos ou para algum tipo de inversão. Uma das obras mais
importantes do movimento conhecido como “marxismo”, O Capital,
em suas páginas revela uma crítica férrea à economia política que
domina o mundo capitalista e expressa total desconformidade com a
maneira que os governantes usam o capital, segundo Karl Max, seu
autor. Capital aqui é o mesmo que mercado, dinheiro, poder.

Feudal: O termo feudalismo, de acordo com o dicionário de termos


básicos para a história, provém do latim “foedus”, que significa pacto
ou trato. O feudalismo é um sistema de produção no qual, dentro
de uma economia fechada e autossuficiente, de predomínio agrário
e baixa produção; os grupos sociais se estruturam de acordo com a
posse da terra, sendo a relação entre senhor e servo a que determina
a maneira de produzir; e que, ao estabelecer vínculos de dependência
pessoal, dá lugar a uma fragmentação extrema do poder político e
um leve movimento social, propiciando uma mentalidade dominada
pelos assuntos de caráter religioso. Feudal relativo ao feudo.

Homogeneizações: Homogêneo é aquilo que pertence ou que


está relacionado a ou com um mesmo gênero. O termo deriva do
latim  homogenĕus embora a sua origem mais remota nos remeta
para a língua grega. O aditivo faz referência àquilo que possui
características ou propriedades iguais. Uma mistura e/ou uma
substância homogênea, por conseguinte, exibem uma composição e
uma estrutura uniformes. Exemplos: “Ao dissolver um pouco de sal
num jarro com água, obtém-se uma mistura homogênea por meio da
dissolução da primeira”, “Esta substância é homogênea: não consigo
distinguir nenhum componente a olho nu”.

Ideologia: É um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa


ou de um grupo de indivíduos. A ideologia pode estar ligada a ações
políticas, econômicas e sociais. É um termo que possui diferentes
significados. No senso comum significa ideal, e contém um conjunto
de ideias, pensamentos, doutrinas ou de visões de mundo de um
indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e,
principalmente, políticas.

50 Cultura Popular
Supérfluas: Característica ou propriedade daquilo que transcende o
necessário; que pode ser considerado mais do que o essencial: bens
supérfluos. Que é demais, demasiado; excedente: ornamentação
supérflua. Em que há redundância; que não é necessário: argumento
supérfluo. Que se define pelo excesso; exibicionismo ou extravagância:
loja de produtos supérfluos. Algo ou alguém que apresenta caráter
desnecessário, dispensável, extravagante: o supérfluo de uma relação;
o supérfluo não serve para nada!

2.9 Referências
ABREU. Martha. Cultura Popular, Um Conceito E Várias Histórias.
In: Abreu, Martha e Soihet, Rachel, Ensino de História, Conceitos,
Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003.

ADRIAN, Nelson. Disponível em:< http://www.primeiroconceito.


com.br/site/wp-content/uploads/2012/02/culturaDeMassa.pdf> .
Acesso em: 02-09-2014.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Programa Especial/Documentário:


Cultura popular e educação. TV Escola: Secretaria de Educação:
Ministério da Educação; 2007

CASTELO BRANCO, Samantha. Cultura popular X cultura


de massa: onde Judas não perdeu as botas. Paper apresentado no
V Congresso Latino-Americano de Ciências da Comunicação
(ALAIC/2000), no GT Folkcomunicação; 2000

Cultura Popular. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/


cultura/cultura-popular.htm> acessado em 3/ago/2014

Cultura  de massa. Disponível em: HUMANITAS- Caderno do


centro de Filosofia e Ciência Humana/ UFPA – Brasil. 1980 – o centro
1994.

MENEZES, Gilberto. Cultura Erudita e Cultura Popular


– O Assunto é Consumo Cultural. Disponível em: <https://
casadeculturacdd.wordpress.com/tag/cultura-erudita/> acesso em 04/
ago/2014

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 51


PAIVA, Vanilda. História da Educação Popular no Brasil –
Educação popular e Educação de Adultos. 6ª edição. São Paulo:
Edições Loyola, 2003.

PORTAL EDUCAÇÃO. Cultura de Massa, Cultura Popular e


Cultura Erudita Disponível em: <http://www.portaleducacao.
com.br/educacao/artigos/48831/cultura-de-massa-cultura-popular>.
acesso em 04/ago/2014

SENATORE, Angela. Cultura Popular e Cultura Erudita. Disponível


em: <http://sociologiaboscardin.blogspot.com.br/2013/09/cultura-
popular-e-cultura-erudita.html> acesso em 04/ago/2014

Significado de Erudito. Disponível em: <http://www.significados.


com.br/erudito/> acesso em 04/ago/2014

SOCIOLOGIA: sua bússola para um novo mundo/ Robert Brym...


São Paulo, 2006

TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual.


2000.

Anotações

52 Cultura Popular
Anotações

Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita 53


Anotações

54 Cultura Popular
3
Como Opera a Cultura

3.1 Ponto de partida


3.2 Roteiro do conhecimento
3.3 Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura
3.4 Intolerância/preconceito cultural
3.4.1 Os desafios do diálogo num mundo multicultural
3.5 Na prática
3.6 O que aprendemos?
3.7 Referências
Cultura Popular
3.1 Ponto de partida
Caros alunos,
Estamos iniciando mais uma unidade, na primeira e segunda parte deste
trabalho discutimos o desenvolvimento, na antropologia e sociológico, do
conceito de cultura.
Mostramos também, as explicações da ciência para o processo de
evolução do homem. Em outras palavras, vimos como a cultura, principal
característica humana, desenvolveu-se conjuntamente com o equipamento
fisiológico do homem.
Nesta terceira parte pretendemos mostrar, de uma maneira mais
prática, a atuação da cultura e de que forma ela molda uma vida “num ser
biologicamente preparado para viver mil vidas”.
Ao fim da unidade você estará apto a:
• Saber a diferença cultural religiosa;
• Identificar onde atua a cultura;
• Verificar as práticas interculturais;
• Trabalhar com a diversidade cultural;
• Reconhecer a intolerância cultural.
Ao final não se esqueçam do nosso exercício de fixação!

3.2 Roteiro do conhecimento


Laraia (2001) afirma que a nossa herança cultural, desenvolvida
por intermédio de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir
depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora
dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isso, discriminamos
o comportamento desviante. Até recentemente, por exemplo, corria
e corre o risco de agressões físicas quando era identificado numa via
pública um candomblecista, e ainda é objeto de termos depreciativos. Tal
fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema
cultural. Esta atitude varia em outras culturas.
Entre algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual
era visto como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir de
mediador entre o mundo social e o sobre natural, e, portanto respeitado.
Um outro exemplo de atitude diferente de comportamento desviante
encontramos entre alguns povos da Antiguidade, onde a prostituição não
constituía um fato anômalo: jovens da Lícia praticavam relações sexuais
em troca de moedas de ouro, a fim de acumular um dote para o casamento.

Como Opera a Cultura 57


O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa,
os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são
assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação
de uma determinada cultura.
Pessoas de culturas diferentes riem de coisas diversas. O repetitivo
pastelão americano não encontra entre nós a mesma receptividade
da comédia erótica italiana, porque em nossa cultura a piada deve ser
temperada com uma boa dose de sexo e não melada pelo arremesso de
tortas e bolos na face do adversário.
Os japoneses riem muitas vezes por questão de etiqueta, mesmo em
momentos evidentemente desagradáveis. Enfim, poderíamos continuar
indefinidamente mostrando que o riso é totalmente condicionado pelos
padrões culturais, apesar de toda a sua fisiologia.

Ainda com referência às diferentes maneiras culturais de efetuar


ações fisiológicas, gostaríamos de citar o clássico artigo de Mauss, (1872-
1950) “Noção de técnica corporal”, no qual analisa as formas como os
homens, de sociedades diferentes, sabem servir-se de seus corpos.
Segundo Mauss, podemos admitir com certeza que se “uma criança
senta-se à mesa com os cotovelos junto ao corpo e permanece com as mãos
nos joelhos, quando não está comendo, ela é inglesa. Um jovem francês
não sabe mais se dominar: ele abre os cotovelos em leque e apóia-os sobre
a mesa”. Não é difícil imaginar que a posição das crianças brasileiras,
nesta mesma situação, pode ser bem diversa.
Como exemplo destas diferenças culturais em atos que podem ser
classificados como naturais, Mauss cita ainda as técnicas do nascimento

58 Cultura Popular
e da obstetrícia. Segundo ele, “Buda nasceu estando sua mãe, Mãya,
agarrada, reta, a um ramo de árvore. Ela deu à luz em pé. Boa parte das
mulheres da Índia ainda dão à luz desse modo”. Para nós, a posição normal
é a mãe deitada sobre as costas, e entre os Tupis e outros índios brasileiros
a posição é de cócoras.
Em algumas regiões do meio rural existiam cadeiras especiais para o
parto sentado. Entre estas técnicas pode-se incluir o chamado parto sem
dor e provavelmente, muitas outras modalidades culturais que estão à
espera de um cadastramento etnográfico.
É evidente e amplamente conhecida a grande diversidade gastronômica
da espécie humana. Frequentemente, esta diversidade é utilizada para
classificações depreciativas; assim, no início do século, os americanos
denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os índios Kaapor
discriminam os Timbiras chamando-os pejorativamente de “comedores
de cobra”. E a palavra potiguara pode significar realmente “comedores
de camarão”, mas resta uma dúvida linguística desde que em Tupi ela soa
muito próximo da palavra que significa “comedores de fezes”.
As pessoas não se chocam, apenas, porque as outras comem coisas
diferentes, mas também pela maneira que agem à mesa. Como utilizamos
garfos, surpreendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses e das
mãos por certos segmentos de nossa sociedade.

Vimos, acima, que a cultura interfere na satisfação das necessidades


fisiológicas básicas. Veremos, agora, como ela pode condicionar outros
aspectos biológicos e até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos
membros do sistema.
Comecemos pela reação oposta ao etnocentrismo, que é a apatia. Em
lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada
situação de crise os membros de uma cultura abandonam a crença nesses

Como Opera a Cultura 59


valores e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos
e vivos. Diversos exemplos dramáticos deste tipo de comportamento
anômico são encontrados em nossa própria história.
Os africanos removidos violentamente de seu continente (ou seja, de
seu ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos
para uma terra estranha, habitada por pessoas de fenótipo, costumes e
línguas diferentes; perdiam toda a motivação de continuar vivos. Muitos
foram os suicídios praticados, e outros acabavam sendo mortos pelo mal
que foi denominado de banzo. Traduzido como saudade, o banzo é de fato
uma forma de morte decorrente da apatia.
Foi, também, a apatia que dizimou parte da população Kaingang de São
Paulo, quando teve o seu território invadido pelos construtores da Estrada
de Ferro Noroeste. Ao perceberem que os seus recursos tecnológicos,
e mesmo os seus seres sobrenaturais, eram impotentes diante do poder
da sociedade branca, estes índios perderam a crença em sua sociedade.
Muitos abandonaram a tribo, outros simplesmente esperaram pela morte
que não tardou.
Entre os índios Kaapor, grupo Tupi do Maranhão, acredita-se que se
uma pessoa vê um fantasma ela logo morrerá. O principal protagonista
de um filme, realizado em 1953 por Darcy Ribeiro e Hains Forthmann,
ao regressar de uma caçada contou ter visto a alma de seu falecido pai
perambulando pela floresta. O jovem índio deitou em uma rede e dois dias
depois estava morto.
Laraia nos traz que em 1967, durante a nossa permanência entre
estes índios (quando a história acima nos foi contada), fomos procurados
por uma mulher, em estado de pânico, que teria visto um fantasma (um
“añan”). Confiante nos poderes do branco, nos solicitou um “añan-puhan”
(remédio para fantasma). Diante de uma situação crítica, acabamos por
fornecer-lhe um comprimido vermelho de vitaminas, que foi considerado
muito eficaz, neste e em outros casos, para neutralizar o malefício
provocado pela visão de um morto.
O autor segue nos trazendo uma visão que afirma ser muito rica a
etnografia africana no que se refere às mortes causadas por feitiçaria. A
vítima, acreditando efetivamente no poder do mágico e de sua magia,
acaba realmente morrendo.
Laraia destaca que Pertti Peito descreve esse tipo de morte como
sendo consequência de um profundo choque psicofisiológico: “A vítima
perde o apetite e a sede a pressão sanguínea cai, o plasma sanguíneo

60 Cultura Popular
escapa para os tecidos e o coração deteriora. Ela morre de choque, o que
é fisiologicamente a mesma coisa que choque de ferimento na guerra e
nas mortes de acidente de estrada.” É de se supor que em todos os casos
relatados o procedimento orgânico que leva ao desenlace tenha sido o
mesmo.
Trouxemos alguns exemplos mais drásticos referente à atuação da
cultura sobre o biológico, podemos agora prosseguir para a um campo que
vem sendo amplamente estudado: o das doenças psicossomáticas.
Neste contexto, podemos nos atrever a dizer que são fortemente
influenciadas pelos padrões culturais. Muitos brasileiros, por exemplo,
dizem padecer de doenças do fígado, embora grande parte das pessoas
ignorem até a localização do órgão. Entre nós são também comuns os
sintomas de mal-estar provocados pela ingestão combinada de alimentos.
Quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação
perigosa, certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir
simultaneamente esses alimentos.
Laraia afirma que a cultura também é capaz de provocar curas de
doenças, reais ou imaginárias. Estas curas ocorrem quando existe a fé
do doente na eficácia do remédio ou no poder dos agentes culturais. Um
destes agentes é o xamã de nossas sociedades tribais (entre os Tupis,
conhecido pela denominação de pai ou pajé). Basicamente, a técnica
de cura do xamã consiste em uma sessão de cantos e danças; além da
defumação do paciente com a fumaça de seus grandes charutos (petin), e
a posterior retirada de um objeto estranho do interior do corpo do doente
por meio de sucção. O fato de que esse pequeno objeto (pedaço de osso,
insetos mortos, etc.) tenha sido ocultado dentro de sua boca, desde o inicio
do ritual, não é importante. O que importa é que o doente é tomado de uma
sensação de alívio, e em muitos casos a cura se efetiva.

Como Opera a Cultura 61


O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como
consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais
correto e o mais natural.
Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus
casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.
O ponto basal de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a
reação, ou pelo menos a estranheza, em relação aos estrangeiros. A chegada
de um estranho em determinadas comunidades pode ser considerada como
a quebra da ordem social ou sobrenatural. Os Xamã Suruí (índios Tupis do
Pará) defumam com seus grandes charutos rituais os primeiros visitantes
da aldeia, a fim de purificá-los e torná-los inofensivos.
Laraia (2001) nos traz que o costume de discriminar os que são
diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo
dentro de uma sociedade. A relação de parentesco consanguíneo afim pode
ser tomada como exemplo. Entre os romanos, a maneira de neutralizar
os inconvenientes da afinidade consistia em transformar a noiva em
consanguínea, incorporando-a no clã do noivo pelo do ritual de carregá-la
através da soleira da porta (ritual este perpetuado por Hollywood). A noiva
japonesa tem a cabeça coberta por um véu alto que esconde os “chifres”
que representam a discórdia a ser implantada na família do noivo com
o início da relação afim. Outro exemplo, são as agressões verbais, e até
físicas, praticadas contra os estranhos que se arriscam em determinados
bairros periféricos de nossas grandes cidades.
Comportamentos etnocêntricos resultam também, em conceitos
negativos dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros
sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais.

3.3 Os indivíduos participam diferentemente de sua


cultura
A participação do sujeito em sua cultura é sempre restringida;
nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua
cultura. Este fato é tão verdadeiro nas sociedades complexas com um alto
grau de especialização, quanto nas simples, onde a especialização refere-
se apenas às determinadas pelas diferenças de sexo e de idade.
Com reserva de algumas sociedades africanas nas quais as mulheres
desempenham papéis importantes na vida ritual e econômica; a maior
parte das sociedades humanas permite uma mais ampla participação na

62 Cultura Popular
vida cultural aos elementos do sexo masculino. Grande parte da vida
ritual do Xingu, por exemplo, é interditada às mulheres. Estas não podem
ver as flautas Jacui, e as que quebram esta interdição sofrem o risco de
graves sanções. Em alguns segmentos de nossa sociedade, o trabalho fora
de casa é considerado censurável para o sexo feminino.
Existem limitações que são objetivamente determinadas pela idade:
uma criança não está apta para exercer certas atividades próprias de
adultos, da mesma forma que um velho já não é capaz de realizar algumas
tarefas. Estes impedimentos decorrem geralmente da incapacidade do
desempenho de funções que dependem da força física ou agilidade; como
as referentes à guerra, à caça, etc. Entre outras funções podemos incluir as
que dependem do acúmulo de uma experiência obtida por meio de muitos
anos de preparação. Torna-se fácil entender por que estas são interditadas
às crianças e aos jovens e reservadas às pessoas maduras, como certos
cargos políticos, etc.
Laraia (2001) nos traz que no primeiro tipo de impedimento etário as
razões parecem ser bastante evidentes, o que não ocorre com o segundo
tipo, quando tratamos das razões determinadas culturalmente. Por que
um jovem aos 18 anos pode votar, ter um emprego, ir à guerra; se não
pode casar, manipular os seus bens financeiros antes dos 21 anos sem a
autorização paterna? Por que um homem necessita ter 35 anos para ser um
senador? Qual o argumento para impedir o acesso ao mesmo cargo para
um homem de 34 anos? Por que uma jovem com 18 anos pode assistir a
um determinado filme e uma outra com 17 anos, 11 meses e 20 dias não o
pode? Por que um assassino com exatamente 18 anos pode ir a julgamento
e outro com um dia a menos de vida recebe um tratamento diferenciado?
A capoeira, assim como o carnaval, samba e futebol, faz parte do
contíguo dos grandes ícones da atualidade representativos da identidade
cultural brasileira. A capoeira é originária da experiência sociocultural
de africanos e seus descendentes no Brasil. Descreve em sua trajetória
histórica a força da obstinação contra a servidão e a síntese da expressão
de diversas analogias étnicas de ascendência africana.
Sabe-se que há muito que lutar por aqueles que estão à margem da
sociedade em especial à sociedade capitalista e burguesa. Essas minorias
em grande parte são pobres, negros, índios, quilombolas e outros tantos
que não têm condições suficientes para se afirmarem enquanto sociedade,
ou parte desta.

Como Opera a Cultura 63


Contudo, esses povos marginalizados em sua maioria detêm um poder
cultural imenso e essa cultura está tentada a desaparecer, pois a maioria
dessas comunidades são dissipadas aos poucos pela sociedade capitalista.
O Brasil, hoje, é formado por uma diversidade cultural muito
grande, que nem sempre é respeitada ou vista com bons olhos, assim,
ainda há uma necessidade quase que absoluta em embranquecer as nossas
manifestações culturais mais diversas possíveis para serem aceitas como
uma manifestação cultural.
Os índios com toda a sua diversidade cultural, muitos se submeteram
a venda a essa nova cultura introduzida, para a sociedade com o intuito de
serem aceitos com a sua cultura, porém, o que houve foi uma exploração
exacerbada do povo indígena e de sua cultura como fonte de lucro para
os não índios.
Nem só os índios, as comunidades quilombolas por muito tempo
foram esquecidas da sociedade e seus direitos foram quase extintos,
contudo, também foi percebido que ali havia uma diversidade cultural
inestimável todavia, esta manifestação por pouco não fora comercializada
e posta como objeto.
O terceiro setor, que compreende as ONGs, é uma forma de ajuda
para a preservação desse nicho cultural, contudo, não se pode esquecer
que as ONGs podem representar o Estado, e assim confundirem-se com o
papel do mesmo, isentando-o do seu papel enquanto entidade (Estado) e
transferindo as responsabilidades para as ONGs e a própria comunidade
em si.
Segundo Maia (2009), há muitas ONGs que atuam e lutam para ajudar
essas comunidades marginalizadas, porém, também há muito interesse
político por traz dessas lutas, não que seja todas, mas sabe-se que há tal
interesse.
Hoje, pode-se considerar uma conquista os ganhos com relação à
alfabetização dos índios em sua língua nativa e com material didático na
língua da comunidade; mas há de se ter uma preocupação com relação a
isto, pois muita interferência do Estado pode abrir precedentes para que
outros indivíduos possam adentrar nessa mesma comunidade e utilizar-se
destes mecanismos para se beneficiar.
Assim, há de se ter uma preocupação com as comunidades quilombolas
e indígenas; pois estas são vulneráveis e suscetíveis a cair em golpes e
passíveis de serem subtraídas as suas terras e assim perder a sua cultura.
Contudo, faz-se necessário a presença do Estado juntamente com as

64 Cultura Popular
entidades fiscalizadoras, assim como as ONGs, Associações e Conselhos
para que fiscalizem o papel do Estado e regulem o mercado; preservando
as culturas existentes, as línguas, costumes e tudo o que compõe e
caracteriza tais comunidade.

3.4 Intolerância/preconceito cultural


Preconceito cultural é uma conduta que vem se disseminando entre as
mais diversas camadas sociais. Consiste na discriminação de uma pessoa
pela sua origem ou mesmo por associações pejorativas e, na aceitação, por
parte de outros, de uma visão deturpada de determinada cultura.
Por constituir-se num grave problema, o preconceito cultural vem
sendo tratado como crime. Nesse sentido, tem-se como exemplo o
deputado Maurício Rabelo, que objetiva combater esse tipo de preconceito
com propostas de projetos ainda em trâmite no Congresso: “Para erradicar
o preconceito cultural existente no país, o parlamentar propôs uma
mudança no Código Penal, incluindo como passível de punição qualquer
discriminação envolvendo a cultura ou os valores culturais.”
Não é preciso ir tão longe para encontrar quadros de preconceito
cultural. Apesar de nós, brasileiros, sermos considerados uma nação
pobre, sem identidade, comportamento duvidoso, é possível encontrar
pessoas que têm conceitos errados em relação aos seus semelhantes aqui
mesmo, no Brasil.
Temos como exemplo a errônea ideia que se faz de um gaúcho ao
associá-los e generalizá-los chamando-os todos de gays, a associação que
se faz da preguiça com o baiano, ou da “burrice” com o goiano, também
temos a visão primitiva e subdesenvolvida que se tem da região norte,
dentre outros.
É fato que o povo Brasileiro não tem uma boa representação no
exterior. Normalmente, quando se ouve falar em Brasil, está relacionado
a mulatas, samba, Rio de Janeiro (“pontos positivos”), ou a violência,
assalto, esperteza, ignorância, subdesenvolvimento (“pontos negativos”).
Tais características fazem dos brasileiros alvos do preconceito cultural.
Infelizmente, deparamo-nos com um povo que não se conhece e que,
portanto, não tem como passar uma imagem positiva a outros países, nem
reclamar o reconhecimento de suas qualidades.
De acordo com Sonda (2012), de forma mais corriqueira e vultosa
para se fazer notar; o preconceito e a elitização cultural parecem estar se
arraigando cada vez mais fundo no âmago da juventude brasileira, não se

Como Opera a Cultura 65


fazendo necessário ampliar a busca para além dos círculos sociais mais
diminutos.
É comum despender esforço para se fazer parte de um grupo, estar
junto de nossos pares e similares; porém como se determina uma afinidade?
Compartilhar gostos musicais, artísticos, ideologias e opiniões tem
sido o caminho mais curto para a harmonia das relações sociais, onde os
semelhantes regozijam-se com a companhia alheia que lhe é conveniente
e tendem a retaliar o que lhes são estranhos ou antagônicos. Seja na
dicotomia simplória de Capitalismo x Socialismo, no embate histórico
entre as diferentes correntes literárias ou até mesmo na definição de
preferência musical, os grupos contrários se digladiam e reclamam uma
superioridade sem retórica lógica, ou seja, fugaz e egocêntrica.

O próprio conceito de superioridade é erroneamente repetido nas


conversas de bar, nas redes sociais ou no próprio ambiente acadêmico,
dando margem para uma meritocracia cultural que serve apenas de atalho
elitizador para a falta de concordância entre os diferentes setores da
sociedade, se não, vejamos: é comum ter-se que a MPB com melodia
bem trabalhada e com letra politizada é imensamente mais apropriada ao
ouvido do que o sertanejo universitário que invoca as baladas de final de
semana e a bebedeira desenfreada. Por quê? Se pensarmos que a música -
como meio de entretenimento - é capaz de agradar tanto aos fãs de Geraldo
Vandré como os de Michel Teló, denegrir uma em função da outra é, por
si só, em vão.
Diversas canções foram capazes de definir momentos históricos
do Brasil, ou até mesmo de estimular os incautos corações a lutar por
algo específico; todo mérito a tais melodias que cumpriram um papel
importantíssimo, porém não se fazem superiores a qualquer outra que
eu possa citar neste texto caso eu não considere que incitar a revolução

66 Cultura Popular
seja algo válido dentro da minha análise musical. Os critérios que
estabelecemos são exclusivamente pessoais!
Se pra mim a estrutura perfeitamente metrificada de um soneto atinge
o que eu tenho como ideal dentro da poesia, ótimo! Para outro, a livre
manifestação sobre o papel pode ser uma expressão muito mais bela e
subjetiva. Para um, a utilização de saxofone em momentos chave das
músicas do Pink Floyd são as mais contundentes formas de expressar a
genialidade, para o outro, o mixar de  diferentes batidas eletrônicas que
façam querer pular e dançar a madrugada inteira é a verdadeira arte.
A expressão da alma, dos sentimentos e desejos, a arte em si, são
todos extremamente únicos. Portanto, a interpretação de como cada uma
nos atinge é tão pessoal quanto nossos sentimentos. O equívoco-mor
repousa na tentativa pífia de sobrepujar os critérios de outrem com os seus
próprios. Daí, chegamos ao acinte de que esse ou aquele estilo musical
não é cultura, de que os comunistas não querem o bem da sociedade ou de
que Lord Byron é ofensivo no teor de sua escrita.
Temos o direito de não gostar, odiar, repudiar. Contudo não temos
razão alguma em, de forma absurdamente generalizada, repreender
o próximo pela sua escolha política, artística, musical, etc. “Eu não
compartilho sequer um dos gostos que tens, mas defenderei até a morte
o direito de tê-los” - Uma adaptação adequada da famigerada frase de
Voltaire/Evelyn Beatrice Hall.
A discussão só se dá verdadeira ao passo em que alinhamos os critérios de
análise - o que é essencialmente muito difícil. Por exemplo: qual foi o sistema
econômico com maior capacidade de se diminuir a desigualdade? Qual é o
artista que melhor soube se expressar utilizando apenas o ballet? Qual é o
baterista com maior diversidade de arranjos? E mesmo assim incorremos na
subjetividade da interpretação pessoal. No passado o Rock n’ Roll, o Punk e
a própria MPB foram motivo de chacota e desagrado social, é de se pensar!
Deixemos a livre escolha! Escutem o que quiser, leiam o que quiser.
Não sou eu o arauto da cultura, nem reconheço em qualquer outro tal
título. A expressão política e artística é sempre válida e pertencente a uma
realidade específica, quer queiramos ou não.
A questão pode se estender mais ainda: funk é criticado com tanta
veemência porque tem “teor sexual explícito” em suas letras -- exatamente
a expressão contrária à moral daqueles que dominam culturalmente o
ocidente. Assim com funk, assim com Rubem Fonseca, assim com Hilda
Hilst, assim com O Cortiço, do Aluísio Azevedo. As pessoas da classe

Como Opera a Cultura 67


média alta que adoram dizer que escuta “música boa”; é só uma caixa de
ressonância do proselitismo cultural mais vexaminoso: “funk tem letras
terríveis, contra os bons costumes, a família, o matrimônio”, etc. Sem falar
que, os gêneros musicais daqueles que não têm dinheiro são justamente
os renegados. Exemplo, o Mr. Catra não é nenhum Tom Jobim – no que
concerne ao estudo da música ou complexidade de suas canções – mas não
é menos nem mais que ele.
Esse tipo de discurso negacionista é justamente aquele que dá
subsídios para a violação do direito artístico. A música como uma arte
pode ter a função de propagar ideias, conhecimento, reflexões ou qualquer
outra coisa para os ouvintes.
Para a UNESCO (2009), os estereótipos culturais, servindo embora

para marcar limites entre grupos, comportam em si o risco de que


o diálogo possa limitar-se à diferença e que a diferença possa gerar a
intolerância. As culturas que pertencem a tradições de civilizações
diferentes são especialmente inclinadas a recorrer a estereótipos mútuos.
As tensões interculturais têm frequentemente uma relação estreita com
conflitos de memórias, interpretações opostas de acontecimentos passados
e conflitos de valores, nomeadamente religiosos. Nos casos em que não
é excluído pela vontade do poder e do domínio, o  diálogo mantém-se
como chave para resolver esses antagonismos enraizando-se conter as
suas  expressões políticas, muitas vezes violentas. A equação cultural
que todas as sociedades multiculturais têm que resolver é a de tornar
compatível o reconhecimento, a proteção e o respeito das características
culturais próprias. Desse modo, a tensão entre as diferentes identidades
pode converter-se em força propulsora da renovação da unidade nacional,
baseada numa concepção da coesão social como integração da diversidade
dos seus componentes culturais.

68 Cultura Popular
3.4.1 Os desafios do diálogo num mundo multicultural 
O diálogo intercultural depende em grande medida das competências
interculturais, definidas como o conjunto de capacidades necessárias
para um relacionamento adequado com os que são diferentes de nós.
Essas capacidades são de natureza fundamentalmente comunicativa, mas
também compreendem a reconfiguração de pontos de vista e concepções
do mundo, pois, menos que as culturas, são as pessoas (indivíduos e grupos
com as suas complexidades e múltiplas expressões) que participam no
processo de diálogo.
O êxito do diálogo intercultural não depende tanto do conhecimento
dos outros como da capacidade básica de ouvir, da flexibilidade cognitiva,
da empatia, da humildade e da hospitalidade. Nesse sentido, e com o
propósito de desenvolver o diálogo e a empatia entre jovens de diferentes
culturas, foram posta sem marcha numerosas iniciativas que vão
desde projetos escolares até programas de intercâmbio com atividades
participativas nos âmbitos da cultura, arte e desporto. Não há dúvida de
que a arte e a criatividade dão testemunho da profundidade e plasticidade
das relações interculturais, assim como das formas de enriquecimento
mútuo que propiciam, para além de auxiliarem a contrariar as identidades
fechadas e a promover a pluralidade cultural. Do mesmo modo, as práticas
e os acontecimentos multiculturais, como o estabelecimento de redes de
cidades mundiais, os carnavais e os festivais culturais podem ajudar a
superar barreiras criando momentos de comunhão e diversão urbanas.
As memórias (recordações) divergentes têm sido causa de muitos
conflitos ao longo da história. Ainda que por si só, o diálogo intercultural
não possa resolver todos os conflitos políticos, econômicos e sociais; um dos
elementos-chave do seu êxito consiste na criação de um acervo de memória
comum que permita o reconhecimento das faltas cometidas e um debate
aberto sobre memórias antagônicas. A formulação de uma versão comum da
história pode revelar-se crucial para prevenção de conflitos e para estratégias
a serem adotadas no pós-conflito, dissipando um passado que continua a estar
presente. A Comissão de Verdade e Reconciliação sul-africana e os processos
de reconciliação nacional em Ruanda constituem exemplos recentes da
aplicação política dessa estratégia de recuperação. A promoção de “lugares de
memória” (a prisão de Robben Island na África do Sul, a ponte de Mostra na
Bósnia e os Budas de Bamifanno Afeganistão) demonstra igualmente que o
que nos diferencia pode também contribuir para nos unir, ao contemplarmos
os testemunhos da nossa humanidade comum.

Como Opera a Cultura 69


O documentário “A negação do Brasil” conduz a uma imersão na
história, especialmente a contada pelos sujeitos dela. É a História com
enfoque em negros, apresentados e representados de onde estão. Lugar
este, com estereótipos que destacam aspectos negativos construídos e
reproduzidos pela história oficial. Isto é constatado na produção que
tematiza a identidade étnica dos afro-brasileiros, mas que tem revelado a
grande expressão e contribuição de negros na teledramaturgia.
Muito embora a luta pela igualdade, em todos os espaços sociais e,
econômicos e culturais; seja uma demanda de homens e mulheres alijados
destes espaços, nota-se no texto “Mulheres em movimento” que Sueli
Carneiro suscita a reflexão sobre a negligência do movimento feminista
às questões típicas das mulheres negras. Enquanto o movimento de
mulheres por muito tempo buscou direito/igualdade para trabalhar, as
mulheres negras não buscaram isto, pois sempre trabalharam. Buscaram
regulamentação, acessos a trabalhos como cinema e televisão; saúde,
educação e demais direitos sociais. Essas duas perspectivas contribuem
para a retificação de preconceitos e discriminação de negros e negras na
sociedade.
O filme filhas do vento trata da temática de conquistas e decisões
tomadas por duas jovens negras, onde um problema familiar começa
a desencadear acontecimentos que levam a caminhos distintos dos
personagens. Mais uma vez, este filme, como tantos outros, mostra
o papel secundário do negro na mídia e o não reconhecimento do seu
trabalho. Porém, o filme não trata somente do negro na mídia, há vários
elementos significantes na trama, que nos faz refletir sobre o papel do
negro na sociedade, que ainda é uma sociedade patriarcal.
O filme mostra a luta pelos espaços onde o negro fora suprimido, e
demonstra também que este pode chegar onde quiser, basta ter força e
muita garra para conseguir. Isso também é demonstrado pelo papel da Cida

70 Cultura Popular
e de sua filha Selminha. A trama também traz um olhar sobre as famílias
brasileiras, onde a família extensa e recomposta sobressai comumente
às famílias pobres e negras. Em pleno século XXl, o racismo ainda
está presente, em parte da sociedade brasileira por meio de uma visão
hegemônica procura tratar as pessoas negras como um seres inferiores,
dificultando o acesso de toda uma raça, à “cidadania de direitos” em
condições de igualdade.
Um exemplo claro é o que ocorre na mídia televisiva e cinematográfica;
em que é negado aos atores e a atrizes negras o mesmo tratamento
dispensado aos atores e atrizes brancas. Nos filmes e novelas brasileiras
os negros são tratados como seres inferiores, subordinados aos caprichos
da elite branca. Aos negros são destinados papeis de serviçais, bandidos
ou de escravos, como uma forma de restabelecer a memória e reafirmar a
subordinação e a marginalização do negro na sociedade.
Apesar de existir no Brasil excelentes atrizes e atores negros,
reconhecidos mundialmente por sua capacidade de atuação em teatro,
cinema e televisão; estes, em geral, não recebem papeis de destaque.
Nesse sentido, Lahni cita Joel Zito que diz: “A situação de negras e negros
na sociedade e na comunicação ainda é marcada pela discriminação”. No
documentário de Joel Zito Araujo, “A Negação do Brasil”, retrata com
precisão o início da trajetória do negro nas teledramaturgias brasileiras,
onde o papel deste era quase sempre de uma malando, desleixado, esperto,
e quase nunca ou nunca o herói, rico, bem vestido ou algo parecido.
O autor ainda acrescenta que o fato de não se ter protagonistas negros
ou estes estarem em papeis subalternos, são reflexos da sociedade racista
que se tem, e uma negação da sua própria realidade, onde se sabe que
a população brasileira, em sua maioria, é negra e miscigenada. Para
completar, o índio (apesar de ser minoria quando acrescida ao montante
de rejeitados e exclusos, por questões de raça, estes apresentam números
significantes). Ainda predomina um pensamento de embranquecimento
da nação e a continuidade da situação dos negros em papéis secundários
em todos os aspectos ou sem nenhum papel tanto nas teledramaturgias
brasileiras quanto na vida real.
Segundo o autor, o Brasil só deu o primeiro passo para tratar
das questões de preconceito racial nas teledramaturgias brasileiras
entre os anos 80 e 90; quando se dá o início da ascensão do negro na
teledramaturgia. Nesta ótica, Munanga (2003), fala que a partir da política
de afirmação, implantada em alguns países desde a década de 60, houve

Como Opera a Cultura 71


mudanças que foram significativas para a entrada dos afrodescendentes
aos espaços de poder, como o autor afirma. Assim, políticas empresariais
foram modificadas, universidades foram obrigadas a implantar políticas
de cotas, mídias e órgãos publicitários foram obrigados a reservar em seus
programas uma porcentagem para a participação dos negros.
Cunha (2002), relata que os negros, favelados, do Rio de Janeiro não
têm oportunidades como os brancos favelados. Quando desciam a praia,
os negros eram alvos de represarias policiais, o que leva a reflexão de
taxação, o que não ocorria com os brancos. Desse modo pessoas negras
que moram nas favelas possuem uma construção da imagem midiática
como sendo pessoas faveladas, marginais e perigosas. As pessoas brancas
que moram na favela, têm a imagem de coitadas, vitimadas, exclusas. As
causas quase sempre são as mesmas e as consequências, essas podem ser
as mais variadas, porém, todos devem ter as mesmas oportunidades.
Ayodele e Filice (2012), afirmam que desde a década de 40 já havia a
atuação de mulheres negras no teatro. As autoras relatam que muitas eram
empregadas domésticas e diaristas, e atuavam como atrizes e debatedoras
nos encontros pela causa negra e na organização da própria identidade.
Nessa época, começam as lutas pela identidade da mulher negra, em
especial aquelas que atuavam em lutas para adentrar nos espaços do teatro,
acima citado. Este era um espaço de poder na época, pois, era, assim como
atualmente, voltado para a classe branca e burguesa.
O debate por espaços cada vez maiores, dentro das teledramaturgias
brasileiras e na mídia em geral; pelos negros, índios e demais exclusos e
minorias, é um debate constante. Tal situação parece não ter um tempo
determinado para acabar, pois enquanto não houver equidade entre as
pessoas sempre haverá uma sobreposição de cor, raça, etnia, gênero entre
os seres, e por sua vez sempre haverá lutas por uma sociedade mais justa.
Para completar, o documentário “A negação do Brasil” conduz a
uma imersão na história, especialmente a contada pelos sujeitos dela.
É a História com enfoque em negros, apresentados e representados de
onde estão. Lugar este, com estereótipos que destacam aspectos negativos
construídos e reproduzidos pela História oficial.  Isto é constatado na
produção que tematiza a identidade étnica dos afro-brasileiros, mas que tem
revelado a grande expressão e contribuição de negras na teledramaturgia.
Observa-se nas entrelinhas, ou melhor, embutido nas falas dos atores
e atrizes que foi por meio de lutas e reivindicações que chegaram, ainda
que de forma tímida, ao cinema e à televisão. “É justamente contra esse

72 Cultura Popular
pressuposto e suas manifestações discriminatórias que se reergueram
formas coletivas de combate ao racismo em meados dos anos de 1940,
quando o regime político oferecia mais abertura para as manifestações civis.
Nesse período, destacaram-se duas entidades que tiveram longevidade e
expressão política significativa: a União dos Homens de Cor (UHC) e
do Teatro Experimental do Negro (TEN)” (Módulo III; p.179). O fato de
teledramaturgos ‘pintarem’ pessoas para representar negros reforça o mito
da democracia racial. Melhor entendendo: não consideravam que negros
pudessem desempenhar papeis de atrizes e atores.
No longa, quase dois irmãos, são apresentadas duas histórias distintas
de dois garotos que tiveram futuros diferentes ao logo de suas vidas e
as oportunidades dadas a cada um pelo Estado opressor, em especial no
período da Ditadura no Brasil e os rumos que cada um seguiu.
Vê-se, claramente, que o tratamento dado a um negro e a um branco
são bem distintos e o filme mostra que o negro ainda tem menos chance
que o branco.
Heilborn (2010), traz uma questão interessante que são as políticas
de inclusão tendo um papel fundamental para o desenvolvimento das
minorias, onde a grande parte dessas políticas são feitas principalmente
pela sociedade civil e o papel do Estado com as políticas públicas
afirmativas, afim de, reforçar esta inclusão e a (re) afirmação faz nos
titubear sobre o papel do Estado para tais políticas.
O papel do Estado de resguardar os indivíduos, que já sabemos que
é falho, pode ser mudado a partir das ações destes quando mudadas.
Na música cantada por Ana Carolina, “O Cristo de madeira” retrata um
pouco o que se passa no longa porém, com uma pequena diferença, o
personagem cantado, tem uma chance de mudar, insípida, mas tem, o que
não aconteceu no longa.
Carneiro (2004), ainda acrescenta que ser mulher, negra e pobre; é
muito pior, com relação ao preconceito, do que ser homem, ou seja, o
“camaleonismo” do preconceito atinge camadas diferentes de uma mesma
classe, raça, gênero e quanto mais adjetivos tem um indivíduo, maior o
preconceito sofrido por este e mais o Estado “DEVERIA” ampará-lo.
Às vezes, é necessário uma visão ufanista para poder viver e ter
sonhos, pois, com tantas posturas que se vê em relação às questões de raça
e etnia algumas vezes traz sensações de desmoronamento, e outras força
de vontade de lutar por questões afirmativas com mais afinco.

Como Opera a Cultura 73


Vendo o curta percebi que as políticas públicas afirmativas têm que
ser mais expansivas e necessita de um olhar mais clínico nas questões de
desenvolvimento e permanência. Também, se faz necessário uma política
de continuidade das já existentes, onde muitos indivíduos que conseguiram
ingressar, por exemplo, nas universidades, por intermédio das políticas
afirmativas, tem extrema dificuldade na sua permanência e continuidade
na mesma, onde muitos são absorvidos pelo mercado e poucos conseguem
alcançar patamares almejados.
Dessa forma há de se ter políticas públicas de redistribuição de renda,
continuidade e permanência das políticas afirmativas, em especial as
políticas públicas, onde o futuro de muitos depende disso e o papel do
Estado está deixando a desejar exatamente nessa questão.
A partir da perspectiva acima, compreenderemos o racismo
institucional, também denominado racismo sistêmico, como mecanismo
estrutural que garante a exclusão seletiva dos grupos racialmente
subordinados - negros, indígenas, ciganos, para citar a realidade latino-
americana e brasileira da diáspora africana - atuando como alavanca
importante da exclusão diferenciada de diversos sujeitos nestes grupos.
Trata-se da forma estratégica como o racismo garante a apropriação dos
resultados positivos da produção de riquezas pelos segmentos raciais
privilegiados na sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a
fragmentação da distribuição destes resultados no seu interior.
O racismo institucional ou sistêmico opera de forma a induzir, manter
e condicionar a organização e ação do Estado, suas instituições e políticas
públicas – atuando também nas instituições privadas, produzindo e
reproduzindo a hierarquia racial. Ele foi definido pelos ativistas integrantes
do grupo Panteras Negras Stokely Carmichael e Charles Hamilton em
1967, como capaz de produzir:

A falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado


e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica.
(Carmichael, S. e Hamilton, C. Black power: the politics of liberation in
America. New York, Vintage, 1967, p. 4).

Atualmente, já é possível compreendermos que, mais do que uma


insuficiência ou inadequação, o racismo institucional é um mecanismo
performativo ou produtivo, capaz de gerar e legitimar condutas
excludentes, tanto no que se refere a formas de governança quanto de
accountability. Ou, nas palavras de Sales Jr:

74 Cultura Popular
o “fracasso institucional” é apenas aparente, resultante da contradição
performativa entre o discurso formal e oficial das instituições e suas práticas
cotidianas, sobretudo, mas não apenas informais. Esta contradição é (...)
fundamental para entender os processos de reprodução do racismo, em suas
três dimensões (preconceito, discriminação e desigualdade étnicoraciais), no
contexto do mito da democracia racial. (Sales Jr, mimeo, 2011).

O racismo institucional é um dos modos de operacionalização do


racismo patriarcal heteronormativo - é o modo organizacional - para
atingir coletividades a partir da priorização ativa dos interesses dos
mais claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimação das
necessidades dos mais escuros. E mais, como vimos acima, restringindo
especialmente e de forma ativa as opções e oportunidades das mulheres
negras no exercício de seus direitos.

3.5 Na prática
1) O que você entende por cultura híbrida?
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_______________________________________________________
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_______________________________________________________

2) Você já presencial ou sofreu algum preconceito por conta da sua


cultura? Se sim relate.
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_______________________________________________________
_______________________________________________________

3) Descreva o que seria “Os indivíduos participam diferentemente da


sua cultura”.
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Como Opera a Cultura 75


4) Faça uma pesquisa e traga uma reportagem, relato, texto, etc., que
relate uma forma de preconceito cultural.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

3.6 O que aprendemos?


Nesse capítulo, aprendemos um pouco mais sobre a cultura e o modo
de trabalhar a diversidade cultural nos seus mais diversificados campos e
suas práticas.
Nessa unidade, você aprendeu que:
• Cada indivíduo participa de sua cultura de modo particular;
• Que pode haver discriminação dentro do próprio grupo cultural;
• Um mesmo ato pode receber nomes diferentes em culturas
diferentes;
• Cada indivíduo tem o seu papel no grupo social ao qual pertença;
• Existe a intolerância/preconceito cultural.

3.7 Referências
(Orgs.) MAGGIE, Yvonne; REZENDE, Cláudia Barcellos. Raça
como retórica: a construção da diferença. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002. Artigo CUNHA, Olívia Maria Gomes.

(Orgs.) SILVA, Petrinilha Beatriz Gonçalves; SILVÉRIO, Valter


Roberto. Educação e Ações Afirmativas: Entre a injustiça simbólica
e a injustiça econômica. Brasília: INEP, 2003. Artigo MUNANGA,
Kabengele.

A mulher negra no cinema brasileiro: uma análise de Filhas do


Vento. Disponível em: http://www.academia.edu/3493545/A_
mulher_negra_no_cinema_brasileiro_uma_analise_de_Filhas_do_
Vento Acesso em: 17/08/2013.

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Anotações

Como Opera a Cultura 79


Anotações

80 Cultura Popular
4
Multicuturalismo e Educação

4.1 Ponto de partida


4.2 Roteiro do Conhecimento
4.3 Origens do Multiculturalismo Como Movimento Teórico
e Como Prática Social
4.4 O Multiculturalismo e seus Dilemas: Implicações na Educação
4.5 O Multiculturalismo e as Religiões Afro-brasileiras:
O Exemplo do Candomblé
4.6 Candomblé, Diferenças: consciências e rejeições
4.7 A Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial
4.8 Brasília a Capital Cultural
4.8.1 Monumentos de Brasília
4.8.2 Patrimônio Imaterial
4.9 Na prática
4.10 O que aprendemos?
4.11 Referências
Cultura Popular
4.1 Ponto de partida
Caros alunos,
Estamos iniciando mais uma unidade sobre cultura, aqui serão
trabalhados conceitos de multiculturalismo e educação; as práticas de
cultura, as questões religiosas em especial a afrodescendente, e a cultura
regional de Brasília.
Ao final da unidade, você estará apto a:
• Compreender o que é multiculturalismo;
• Identificar as principais implicações do multiculturalismo;
• Ver o papel do multiculturalismo na educação;
• Apreender as questões religiosas da cultura;
• Perceber a capoeira como cultura;
• Diferenciar a cultura religiosa de matriz africana;
• Tratar com a cultura local de Brasília.
Ao final desta unidade convido a responder um pequeno questionário
de fixação dos conteúdos aprendidos nesta unidade.
Bons estudos!

4.2 Roteiro do Conhecimento


Silva e Brandim (2008) afirmam que pensar sobre multiculturalismo
e educação, pressupõe analisar concepções e experiências pedagógicas
baseadas nesse movimento teórico que se inicia em meados do século XX,
nos Estados Unidos, e que se difunde no mundo ocidental como forma de
enfrentamento dos conflitos gerados em função das questões econômicas,
políticas, e, mormente, étnico-culturais, na tentativa de combater
discriminações e preconceitos, haja vista as dificuldades de indivíduos e
grupos de acolher e conviver com a pluralidade e as diferenças culturais.
Valente (1999: 63) argumenta: “Aceitar as diferenças e enriquecer-
se com elas continua a ser um problema que hoje ninguém sabe resolver
porque supõe o reconhecimento da alteridade (...)”.
Diante dessa circunstância, Silva e Brandim (2008) destacam
que considera-se relevante situar o fato sócio-histórico e cultural
atual; marcado pelos processos de reestruturação produtiva do sistema
capitalista em escala mundial, que resulta na chamada universalização do
capital, bem como marcado pelo crescimento dos intercâmbios culturais,
que evidenciam diferenças e acirram conflitos, desperta cada vez mais
os sujeitos e os grupos alvos de discriminação para lutar em defesa das
formas plurais e diversas de ser e de viver.

Multicuturalismo e Educação 83
Fleuri (2003) assevera que economicamente, esse novo momento
histórico é representado pela chamada globalização econômica que,
em síntese, refere-se à internacionalização do capital, tendo por base
a produção, distribuição e consumo de bens e serviços; organizados a
partir de uma estratégia mundial e voltados para um mercado mundial,
visando atender, de forma padronizada, o gosto de consumidores em
todos os recantos do planeta. Salienta-se com isso, o caráter opressivo
da globalização em relação às identidades culturais diversas, sobretudo
quando se leva em conta que globalizar pode significar homogeneizar,
diluindo identidades e apagando as marcas das culturas ditas inferiores.
Culturalmente, com o vertiginoso avanço da tecnologia, mídia,
informática e a diluição de fronteiras geográficas; tem-se acelerado o
intercâmbio cultural. O mundo assume, definitivamente, as feições e as
marcas da multiculturalidade, fazendo-nos crer que estamos “condenados”
a pensar a unidade humana na base de sua diversidade cultural e nos
desafiando a desenvolver a capacidade de conviver com as diferenças.

4.3 Origens do Multiculturalismo Como Movimento


Teórico e Como Prática Social
Segundo Silva e Brandim (2008), o multiculturalismo emerge em
território estadunidense não apenas como movimento social em defesa
das lutas dos grupos culturais negros e outras “minorias”, mas também,
como abordagem curricular contrária a toda forma de preconceito e
discriminação no espaço escolar.
Inicialmente, constitui-se desvinculado dos sistemas de ensino,
incorporado na sua maioria pelos movimentos sociais, especialmente os
grupos culturais negros. O eixo orientador do movimento é o combate ao
racismo e as lutas por direitos civis.
Gonçalves e Silva (1998) situam o início do movimento no final do
século XIX, com as lutas dos afrodescendentes, que buscavam a igualdade
de exercício dos direitos civis e o combate à discriminação racial no País.
Segundo Silva e Brandim (2008), os precursores do multiculturalismo
foram professores doutores afro-americanos docentes universitários na
área dos Estudos Sociais que trouxeram, por meio de suas obras, questões
sociais, políticas e culturais; de interesse para os afrodescendentes. Entre
esses estudiosos destacam-se George W. Williams, Carter G. Woodson,
W. E. B. Dubois, Charles H. Wesley, St. Claire Drake. Baseando-se em

84 Cultura Popular
argumentos científicos procuravam preparar as populações segregadas para
exigirem igualdade de direitos, estimulando a autoestima desses grupos e
apoiando o debate intelectual sobre questões relativas à discriminação e
exclusão social.
Para Gonçalves e Silva (1998), os trabalhos acadêmicos desses
estudiosos, embora desconhecidos pela sociedade em geral, foram
divulgados em escolas, igrejas e associações afro-estadunidenses;
consistindo em pesquisas histórico-sociais e em elaboração de materiais
didáticos e novas metodologias para os diversos níveis de ensino,
fundamentados em um novo conhecimento da história dos negros.
Partindo da reflexão desses precursores, novos estudos serão realizados ao
longo do século XX, contribuindo para o desenvolvimento de pesquisas e
práticas pedagógicas, que insistem na ideia de se repensar a educação em
uma perspectiva multicultural.
Silva e Brandim (2008) afirmam que a partir dos anos 70, há um
relativo avanço nas lutas multiculturalistas, à proporção que os Estados
Unidos instituem, à custa das pressões populares, políticas públicas em
todas as esferas de poder público (federal, estadual e municipal), visando
garantir igualdade de oportunidades educacionais, de integração e justiça
social a grupos culturais diversos, tais como os não brancos, do sexo
feminino, deficientes, alunos de baixa renda, etc.

Nos anos 80 e, especialmente, nos anos 90, são fortalecidos os estudos


sobre o multiculturalismo em decorrência da ampliação da influência pós-
moderna no discurso curricular, que valoriza a mistura e o hibridismo
de culturas, a pluralidade e as diferenças culturais. A celebração da
diferença se constitui uma de suas ideias básicas. É nessa época também
que se acentuam os estudos relacionando cultura/ educação escolar nas
sociedades contemporâneas.

Multicuturalismo e Educação 85
Moreira (1999) nos traz que a base da dinâmica social vigente é a
opressão econômica e social; ressalta a crescente importância da questão
cultural no mundo contemporâneo. A cultura é vista como esfera de lutas
e de relações de poder desiguais, constituindo-se na fonte fundamental
de conflitos mundiais no cenário atual. Tais conflitos se originam das
divergências de interesses entre diferentes grupos e das tentativas de
imposição dos significados de determinados grupos em relação a outros,
com objetivo de exercer a hegemonia cultural.
Silva e Brandim (2008) destacam que esse cenário de abordagem
sobre o multiculturalismo, iniciado nos Estados Unidos vai ultrapassando
territórios e fronteiras, chegando também ao Brasil. Assim como nos
Estados Unidos, o multiculturalismo no País nasce nas primeiras
décadas do século XX sob a iniciativa dos movimentos negros. Mas,
diferentemente do que ocorreu em território norte-americano, os debates
não contaram inicialmente com a adesão das universidades, o que vem a
ocorrer somente a partir dos anos 80 e, sobretudo, dos anos 90 em diante.

Os autores nos trazem ainda que convém destacar que as lutas e os


protestos culturais de grupos afro-brasileiros só conseguiram ampliar as
alianças a partir dos anos 50, ocasionados por fatores tais como: 1) o fim
do isolamento dos movimentos brasileiros em relação aos movimentos
de libertação racial em outros países. Os congressos e conferências pan-
africanos irão possibilitar trocas de informações, visando à conscientização
do valor da cultura negra e a libertação do complexo de inferioridade em
relação às culturas brancas; 2) a criação de organizações de reivindicação
do movimento negro no País, a exemplo da Associação dos Negros
Brasileiros (ANB), Convenção Nacional do Negro Brasileiro (CNNB),

86 Cultura Popular
União Nacional dos Homens de Cor (UNHC), a criação do Teatro
Experimental Negro (TEN); 3) a atuação de organizações internacionais,
como a ONU.
Já na década de 80, com a redemocratização política cresce o interesse
pelo enfoque multiculturalista na educação e no currículo das escolas.
Além da influência exercida pelas teorias criticas e pós-críticas, as próprias
organizações internacionais de defesa dos direitos humanos firmam o
compromisso de promover uma educação para a cidadania baseada no
respeito à diversidade cultural, visando à superação das discriminações e
do preconceito.
Candau (1997) destaca que a Conferência Mundial sobre Políticas
Culturais, promovida pela UNESCO em 1982, no México, cujo papel é o de
contribuir para a aproximação entre os povos e uma melhor compreensão
entre as pessoas.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – Brasil (1997)
consta que, no plano internacional, o Brasil tem participado de
eventos importantes, como a Conferência Mundial de Educação para
Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, convocada por
organizações como UNESCO, UNICEF e Banco Mundial. O País também
é signatário da Declaração de Nova Delhi - assinada pelos nove países em
desenvolvimento de maior contingente populacional em que se reconhece
a educação como instrumento proeminente de promoção dos valores
humanos universais, da qualidade dos recursos humanos e do respeito
pela diversidade cultural.
Segundo Silva e Brandim (2008), citando o Brasil (1998) trazem que na
visão do discurso oficial, a educação para a cidadania implica a capacidade
de convivência com a cultura do outro. Ao incluir a Pluralidade Cultural
como Tema Transversal os Parâmetros avançam um passo importante em
prol de uma proposta educacional e curricular multiculturalista, na medida
em que reconhece o valor da pluralidade e a diversidade cultural, bem como
a necessidade de formar para a cidadania com base no respeito às diferenças.
Todavia, apoiando-nos em vários estudos (MOREIRA, 1996, 1998;
CANDAU; 1997; LOPES, 1999) defendemos o argumento que não basta
propor nos PCN a importância da convivência pacífica entre grupos
culturais plurais e diversos. A sensibilidade para o outro não acontece por
meio de propostas impostas. Em termos de educação multicultural isso
requer a corporificação no currículo daquilo que Connel (1998) chama
de justiça curricular, fundamentada em três princípios: 1) os interesses

Multicuturalismo e Educação 87
dos grupos em desvantagem, sem que isso venha a constituir guetos
curriculares; 2) a participação e a escolarização resultam comuns, o que
implica efetivar a democracia como um processo coletivo de tomada de
decisões; 3) a produção de igualdade, em que a cidadania participante e
os critérios contra-hegemônicos são vistos como elementos de um mesmo
processo histórico.
Portanto, o multiculturalismo se destaca como uma das preocupações
dos Estudos Culturais. A multiplicidade de culturas e a pluralidade de
identidades, em face de relações de poder assimétricas, geram a necessidade
de questionar e desafiar práticas silenciadoras de identidades culturais.
Particularmente, as questões de racismos, machismos, preconceitos e
discriminações, tão importantes para a escola e o currículo, só podem
ser analisadas produtivamente sob uma perspectiva que leve em conta as
contribuições dos Estudos Culturais.

4.4 O Multiculturalismo e seus Dilemas: Implicações


na Educação
Canen (2007) afirma que o argumento defendido é que se o
multiculturalismo pretende contribuir para uma educação valorizadora
da diversidade cultural e questionadora das diferenças, deve superar
posturas dogmáticas, que tendem a congelar as identidades e desconhecer
as diferenças no interior das próprias diferenças.
A autora segue argumentando que o multiculturalismo é um termo que
tem sido empregado com frequência, porém com diferentes significados.
Desta forma, críticos e defensores do mesmo travam, muitas vezes, lutas
e discussões em torno de um conceito que, na verdade, pode estar sendo
entendido de formas diferentes para os envolvidos em tais disputas. A
começar pelo nome: alguns apontam que o interculturalismo seria um
termo mais apropriado, na medida em que o prefixo ‘inter’ daria uma visão
de culturas em relação; ao passo que o termo multiculturalismo estaria
significando o mero fato de uma sociedade ser composta de múltiplas
culturas, sem necessariamente trazer o dinamismo dos choques, relações
e conflitos advindos de suas interações.
Nesse sentido, críticas que atribuem ao multiculturalismo a exaltação da
pluralidade cultural, mas o acusam de se omitir com relação às desigualdades
estão, na verdade, sendo dirigidas a um sentido de multiculturalismo –
folclórico – que, certamente, não é o único. O multiculturalismo crítico
ou perspectiva intercultural crítica busca articular as visões folclóricas a

88 Cultura Popular
discussões sobre as relações desiguais de poder entre as culturas diversas,
questionando a construção histórica dos preconceitos, das discriminações,
da hierarquização cultural. Entretanto, o multiculturalismo crítico também
tem sido tensionado por posturas pós-modernas e pós-coloniais, que
apontam para a necessidade de se ir além do desafio a preconceitos e buscar
identificar, na própria linguagem e na construção dos discursos; as formas
como as diferenças são construídas. Isso porque a visão pós-moderna, grosso
modo, focaliza os processos pelos quais os discursos não só representam a
realidade, mas são constitutivos da mesma.

Stolke (2002, 412) destaca que o multiculturalismo contrasta, então,


com o conceito de nacionalidade, entendido “como posse de certas
qualificações juridicamente estipuladas que tornam os indivíduos membros
de um Estado-nação e que, por sua vez, condicionam da cidadania”. Na
sequência de seu argumento Stolke associa nacionalidade à identidade
nacional, mostrando como ela se torna absolutamente integrada às pessoas
a ponto de não termos consciência de sua existência, de tão básica é na
nossa construção de identidade.
Stolke recorre a Barruel, o criador do conceito de nacionalismo que
disse em 1789:

No momento em que se reuniram em nações, os homens deixaram de


reconhecer-se uns aos outros por um nome comum. O nacionalismo, ou amor à
nação (...) tomou o lugar do amor em geral (...)Tornou-se permissível, com esse
fim, desprezar estrangeiros, engana-los, feri-los. Essa virtude foi chamada de
patriotismo (...) e, se é assim, por que não definir esse amor de maneira ainda
mais estreita? (...) Assim, o patriotismo deu à luz o localismo (particularismo)
ou o espírito de família e, por fim, o egoísmo (Stolke, 2002, p. 430).

Multicuturalismo e Educação 89
Segundo Rodrigues (s/d), para quem se prende a essa visão de
mundo prevalece como válido o radicalismo de Gobineau que, no século
XIX, considerava as misturas de raças e de culturas enfraquecedoras e
destruidoras da cultura superior dos europeus. Visão que, apesar de tudo,
ainda está presente no imaginário de muitos grupos, apesar da condenação
feita por autores, como Gilberto Freire, que afirmava que a mestiçagem
fortalece, ao invés de enfraquecer.
O multiculturalismo pretende diluir essas fronteiras, marcando-se
como o oposto do nacionalismo. A visão massificadora da humanidade,
eliminando fronteiras e barreiras é um ideal que encontramos no socialismo
utópico, e mesmo antes na visão religiosa da humanidade de raiz única,
um mundo de irmãos.

4.5 O Multiculturalismo e as Religiões Afro-


brasileiras: O Exemplo do Candomblé
Siqueira (2009) nos traz que a sociedade brasileira resulta da mistura
e do encontro de diferenças fenotípicas e culturais de seus componentes.
No encontro das diferenças revelam-se, concomitante ou separadamente,
anteposições e contraposições. Nas diferenças culturais anicham-se as
diferenças religiosas.
Rehbein (1985, p. 212) afirma que entre as múltiplas preocupações
do homem está a religiosidade. Inalienavelmente ligam-se crenças e
vivências religiosas, configuradas em expressões comportamentais. “O
ato religioso nasce no âmbito pessoal profundo e se difunde na totalidade
da experiência nas diferentes dimensões humanas”.
Entre o Passado e o Presente, o problema da continuidade do processo
civilizatório. Pode-se considerar em termos religiosos no Brasil as
permanências, as rupturas e as fragmentações das instituições e dos modos
de crer. Inserido o Brasil na cultura do Ocidente, após sua integração
no Império Português, todo o processo de colonização foi marcado pelo
transplante da crença, diluída na interioridade daqueles que chegavam e
pelo apresamento da terra feito principalmente pela Companhia de Jesus.
Com o Cristianismo se instalava no país a homogeneidade de valores
constitutivos de específica visão de mundo assente na centralização
curial, numa rígida hierarquia, numa defesa do Mesmo, pela coerção da
censura eclesiástica e inquisitorial, pela punição das consciências e dos

90 Cultura Popular
comportamentos menos ortodoxos. Sempre ao amparo da coroa – detentora
do Padroado que fez do Cristianismo base da legitimação do seu poder
político. Por intermédio do medo, instalado no imaginário, foram fincadas
as raízes de uma cultura que unia o profano ao sagrado e absorvia, como
diferenciadores, estereótipos de sangue, poder, gênero e cor, projetados do
mundo ibérico. Instalada estava, como básica, a cosmovisão eurocêntrica.
Castro (2001) afirma que as imposições coloniais para aqui trouxeram
os negros e, com eles, outra cultura e outra religião. A história da cultura
dos povos oriundos da África, transplantados para o Brasil propõe, após
si, a anteposição de níveis culturais diferentes, como diversas eram
as origens sociais dos escravos e a linguagem por eles usada tanto no
cotidiano quanto na língua cerimonial, nos casos de transes religiosos.

Siqueira nos mostra que a realidade marcava diferenças de atitudes


e de posições existenciais, pois no mundo colonial tinham-se anichado
homens possuidores de outras experiências e/ou vivências religiosas.
Instalou-se uma diversidade cultural, trazendo no seu bojo uma pluri
religiosidade.

4.6 Candomblé, Diferenças: consciências e rejeições


Siqueira (2009) ressalta que da África transplantou-se a religião depois
conhecida como Candomblé. Na memória dos escravos vieram mitos que
legitimavam a fé, e os ritos de homenagem aos seus deuses, os orixás.
Castro (2001) afirma que no fluxo contínuo da escravaria que se derramava
pelas costas brasílicas ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, vieram
os integrantes do grupo linguístico banto, de Angola e do Congo, aqueles que
provinham da África super-equatorial, da região da Costa da Mina e do Golfo
de Benin, e por fim os sudaneses, os fons de Benin, identificados como jejes
e yorubás, estes mais conhecidos como nagôs.

Multicuturalismo e Educação 91
Misturados nas senzalas, transmitiram a seus descendentes seus
valores étnico-religiosos. Na luta pela permanência, na necessidade de
crer acabaram construindo a religião possível, fruto da interação das
várias nações, eivada de hibridismos com o Catolicismo.
Lima (1984, p.19) afirma que apesar da inevitabilidade do processo de
que eram parte e das óbvias mudanças ocorridas em sua estrutura, o povo
de santo se manteve firmemente – e sofridamente – fiel às suas crenças
ancestrais e aos mitos genéticos de seus grupos; fidelidade que tem levado
alguns líderes religiosos a complicadas generalizações genealógicas e
fantasiosas interpretações com que se recriam uma história e uma carta de
comportamento ritual.
Neste sentido, Bacelar (2001, p.48 ) nos traz que além das diferenças
da cor, houve, pela sociedade majoritária, a percepção das diferenças
entre os mundos lusobrasileiro e afro-brasileiro. A forma de vida exerce
influência sobre a prática religiosa e a atitude religiosa influencia a forma
e o estilo da vida. A relação entre a religião e a cultura é sempre recíproca.
Gradativamente foram se constituindo “... imagens aparentemente
dispersas no tempo e no espaço, mais ou menos fragmentadas, constitutivas
de um quadro coerente e nitidamente negativo da condição de ser negro”.
Elaboraram-se perspectivas estigmatizantes: o negro é o outro, inferior,
não civilizado, tendo como contraponto o branco superior, portador dos
padrões da civilização europeia. Montados os arquétipos, tiveram eles
como elementos integradores a inferioridade da raça, a violência, a
desorganização familiar, a imoralidade, o atraso da civilização. Três mil
anos! Tal é no mínimo a dianteira da raça branca sobre a negra.
Para manter a ordem vigente sem alterar posições ocupadas por
determinados segmentos sociais era importante afirmar a supremacia dos
brancos e inferioridade daqueles que portassem sangue negro.
Rodrigues (1977, p. 7) afirma que o principal ponto de desprezo social
era a religião: o Candomblé, que se acreditava sinônimo de magia, feitiçaria,
curandeirismo, por usar objetos rituais exóticos e realizar sacrifícios
sangrentos, transformando a ordem pública. Espetáculo vergonhoso de
atraso numa sociedade que pretendia modernizar-se. Expressões como
esta aparecem com frequência na literatura e nos periódicos até meados
do século XIX, sensíveis que estavam os intelectuais ao choque da
temporalidade das culturas diferenciadas. Essa religião, ao desencadear
emoções primitivas “... há de constituir sempre um dos fatores de nossa
inferioridade como povo”.

92 Cultura Popular
Bastide (2001, p. 24) destaca que a rejeição ao negro – expressa ou
camuflada de compreensões e tolerâncias – não se restringe à religião.
Existe a negação do pensamento africano como um pensamento culto
porque seus fiéis, na maioria, provêm das camadas mais simples da
população. Mesmo inconscientemente não se admite que o Candomblé
fundamente e postule uma filosofia do universo e uma concepção do
homem tão rica e complexa como a ocidental. Interessa pouco se essa
religião importa para a saúde mental e a adaptação do homem ao seu
meio. Sequer, mesmo, que seja uma religião.
Segundo Santos (1986, p. 102) a religião abriga um monoteísmo
difuso em torno de Olurum, o ser supremo, criador do universo e fonte
da vida de todos os seres criados. Não se pode dominá-lo ou manipulá-lo.
Afastado dos homens, manifesta-se através das forças da natureza que
são divinizadas como orixás. Assim, o trovão e o raio se identificam com
Xangô, a tempestade e o fogo com Iansã ou Oyá, a chuva e os rios com
Oxum, a fertilidade com Iemanjá, o arco-íris com Oxumaré, as folhas com
Ossaim, as enfermidades com Obaluaiyê, a transformação com Omulu, a
fauna com Oxossi, a guerra com Ogum, as margens dos rios e riachos com
Logum-Edé, as águas paradas e os pântanos com Nanã Burukê. Os orixás,
enquanto divindades ligadas à ordem cósmica regulam as relações sociais,
a ética, a disciplina moral de um grupo ou de um segmento.

Os yorubás crêem que homens e mulheres provêm dos orixás, não


tendo, portanto, origem única e comum. As pessoas herdam dos orixás as
características, propensões e desejos, tal como está relatado nos mitos.
Prandi (2001b, p. 24-25) afirma que os mitos dos orixás encontram-se
nos poemas seculares retidos pelos babalaôs e por eles e pelos babalorixás

Multicuturalismo e Educação 93
e yalorixás transmitidos oralmente ao longo dos séculos. A temática
envolve a criação do mundo e sua divisão entre os orixás, homens,
animais, plantas, elementos da natureza e vida na sociedade. Pelo culto se
alcança o Passado e se explica a origem de tudo, pelos mitos se interpreta
o Presente e se produz o Futuro, nesta e na outra vida. No Brasil, os mitos
se mantiveram difusos na memória final.
Os mitos permitem dar voz às experiências vividas pelos ancestrais. Por
meio das recordações partilhadas se mantém a identidade religiosa do grupo.

4.7 A Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial


A Capoeira é uma arte, uma dança uma filosofia, onde o capoeirista
expressa suas vontades, anseios e por menores que no cotidiano são muitas
vezes reprimido e que nessa prática, dentro da roda, ou simplesmente
olhando, este, consegue se desvincular do mundo e adentrar em uma outra
dimensão para sanar todo o stress do dia a dia.
Essa prática, chamada capoeira, que outrora fora alvo de perseguições
e caçadas, hoje se tronou símbolo patriótico brasileiro e motivo de orgulho
para a nação e principalmente para os seus praticantes, contudo, ainda há
certa resistência por parte de uma parcela relevante da população, por essa
prática ser originalmente brasileira, escrava e negra. Essa mesma população
que renega seu passado e a formação do seu povo, o povo brasileiro.
Afirmando o trecho supracitado, Costa (p.14) diz que “por esta
razão ou qualquer outra anterior ao fato, após a Guerra dos Quilombos e
Palmares o capoeira já era um tipo característico do Brasil colonial”.
Segundo Silva (2010, p.15), relata que:

A nefasta destruição de documentação sobre a escravidão no Brasil só


adiou o reconhecimento de parte da nossa história, pois os relatos sobre
os negros (Rugendas, Debret, Câmara Cascudo, entre outros) somados à
resistência, através da manutenção da cultura afro-brasileira nos corpos dos
brasileiros, demonstram a possibilidade de compreendermos cada vez melhor
nosso passado e reconhecermos as contribuições dos múltiplos grupos que
fizeram a nossa história.

Sabe-se que muitos documentos que se tratavam do Brasil império e


da chegada dos primeiros escravos no Brasil, fora destruído ao longo da
história ou se perdendo e isso, hoje, é um dos grandes empecilhos para
os estudos da origem da capoeira e suas vertentes. Porém, a história não

94 Cultura Popular
se perdeu de tudo, muitas destas são passadas de pais para filhos e/ou
contadas em rodas de prosas pelos mais velhos.
Hoje, há muitas dessas histórias documentadas e reproduzidas em
forma de textos, cartilhas, folhetos e livros. Inclusive a capoeira entrara
para o rol de Patrimônio Cultural Brasileiro, título dado pelo IPHAN em
2008. Esse título abriu portas para que a capoeira se expandisse e a carta
de alforria, ao passo, que abrissem os olhos para a criação de políticas
públicas que contemplem a capoeira em sua estrutura por seu uma arte
genuinamente Brasileira [grifo nosso].
Nesse sentido o presente artigo apresentará um panorama sobre o uso da
capoeira como instrumento psicossocial de inclusão, trazendo em seu contex-
to um breve histórico da capoeira, o surgimento da mesma, alem da prática
desta no Brasil república e na atualidade e por fim a capoeira como objeto de
inclusão social, sempre levando em conta o objeto capoeira e a sociedade.

A capoeira, assim como o carnaval, samba e o futebol, faz parte do


contíguo dos grandes ícones da atualidade representativos da identidade
cultural brasileira. A capoeira é originária da experiência sociocultural
de africanos e seus descendentes no Brasil. Descreve em sua trajetória
histórica a força da obstinação contra a servidão e a síntese da expressão
de diversas analogias étnicas de ascendência africana.
Assim como relata Oliveira e Leal (2009, p. 44), “A história da
capoeira foi marcada por perseguições policiais, prisões, racismo, e
outras formas de controle social que os agentes dessa prática cultural
experimentaram em suas relações com o Estado Brasileiro”. Além disso,
a história da capoeira como a história do Brasil é cheia de controvérsias
e falta de documentos comprobatórios de suas práticas, suas ações, suas
falhas e tantos outros que necessitam para se ter uma consistência tanto
documental como histórica.

Multicuturalismo e Educação 95
Oliveira e Leal (2009, p. 18) faz uma síntese do capoeira e da sua
persistência como praticante dessa arte-luta:

O capoeira não tem lugar nesta galeria de heróis nacionais. Bêbado,


vadio, ocioso, mestiço, baderneiro, desordeiro, vicioso, vadio, era o
paradigma da escória urbana, pior que o preto africano ou que o índio puro.
Mas como um fantasma ele percorre em espectro as páginas do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, lugar privilegiado de construção de uma
memória nacional, em uma espécie de elogio invertido, onde a nobre classe
dos historiadores do Império usa os subterrâneos dos pés de páginas para dar
vazão aos seus “instintos mais primitivos.

Mas o capoeira nem sempre foi tratado dessa maneira como escória
da sociedade, ou como um vadio, ocioso como descrito dentre tantos
adjetivos degradantes, estes tiveram seus dias de glória e honra e deixaram
suas marcas como grandes homens e mulher cravadas na história do povo
brasileiro.
A capoeira já na década de 1930, ganha novos aspectos e sai da
informalidade, passando para outro patamar da sociedade, recebendo
assim uma credibilidade que outrora fora tirada e marginalizada. Essa
capoeira fora reformulada e remodelada, recendo uma nova caricatura e
uma nova finalidade em sua prática, assim como a seus praticantes.
Oliveira e Leal (2009) descrevem que na década de 1930, Mestre
Bimba3 e Mestre Pastinha4 reinventam a capoeira, reordenando o seu
lugar na ordem social, tirando-a do crime para o campo da educação
física, antiga reivindicação de parte da primeira geração republicana.
Essa mudança fora crucial para a (re) aceitação da capoeira novamente
na sociedade.

3 Manoel dos Reis Machado (1900-1974), capoeirista baiano conhecido por mestre
Bimba, foi responsável pela criação do Centro de Cultura Física e Regional da Bahia,
onde ensinava a capoeira. Protagonista de uma das mais importantes transformações
sofridas pela prática da capoeira nas décadas de 1930 e 1940. Representa nos dias de
hoje um dos mais significativos símbolos da cultura afro-brasileira. (OLIVEIRA; LEAL.
2009, p. 22).
4 Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889. No ano de 1941, fundou o Centro Esportivo
de Capoeira Angola, situado no Largo do Pelourinho. Pastinha trabalhou bastante
em prol da Capoeira, representando o Brasil e a Arte Negra em vários países. Em
Abril de 1981, participou da última roda de Capoeira de sua vida. Numa sexta-feira,
13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha se despede desta vida aos 92 anos, cego
e paralítico, vítima de uma parada cardíaca fatal. (CARNEIRO; 2012).

96 Cultura Popular
Conde (2007, p. 55) diz que:

O surgimento de Mestre Bimba foi, talvez, um fator de aceleração


deste processo. Ao incorporar à capoeira elementos do antigo Batuque, que
lutas asiáticas (visando “resgatar” a sua potencialidade de arte marcial),
bem como ao criar novos andamentos rítmicos para o jogo e um método
de ensino sistematizado, com níveis de graduação, Bimba foi referenciado
como a antítese do que era “tradicional” à capoeira.

O mestre, além de transferir a prática da capoeira da rua para uma


academia (recinto fechado), criou um método que sistematizou e fragmentou
o seu ensino, ou seja, formalizou a transmissão do saber da capoeira, entre
outras, com as populares “sequências”.

Nesse pequeno relato, pode-se identificar o ressurgimento da capoeira,


hoje conhecida como capoeira regional, ou capoeira de Mestre Bimba.
Além de ser um grande precursor da capoeira, Mestre bimba conseguiu
levar a capoeira das ruas para as academias e transformá-la em um
elemento da educação física, assim, regulamentando-a e transmitindo-a a
uma nova geração de capoeiristas que nascia naquele momento.
Moura (2009, p. 149-150) traz um relato de quão perseguida e
desprezada fora a capoeira no âmbito nacional, pouco antes de sua ascensão.

Gomes Carmo prossegue, destacando que a capoeiragem, no seu


tempo, era cultivada mormente nas camadas inferiores do povo carioca, e
aproveita o ensejo, para fazer um apelo a fim de que a capoeiragem fosse
disseminada, incorporada às classes mais elevadas da comunidade brasileira,
insistindo que ainda ninguém em condições de valorizar, de impulsionar a
capoeiragem a este estágio de primazia, tinha aparecido para tomar essa
iniciativa, projetando um jogo oriundo da raça e do meio, característico das
terras brasileiras.

(...) a capoeiragem deveria ser ministrada nos estabelecimentos de


ensino, nas frotas brasileiras e nos quartéis, tecendo comentários sobre os
resultados positivos desta ginástica no corpo humano (...)

O consagrado escritor patrício, recorda que em 1910, juntamente


com Germano Hasslocher e Luís Murat, esteve propenso em remeter a
Câmara dos Deputados, um projeto relativo à obrigatoriedade da inclusão
da capoeiragem nos cursos ministrados nos quartéis e nos institutos
governamentais. Desistiu, porém, desta iniciativa, por que constatou que não
era receptivas para elementos que a consideravam ridícula, pelo fato de não
ser estrangeira, ser nacional.

Multicuturalismo e Educação 97
A partir desse relato, percebe-se que foram necessários mais 20 anos
para que a capoeiragem tivesse seu espaço tímido e sufocado, como um
pontapé inicial para a sua expansão e aceitação. Conde (2007) acrescenta
“um ponto sobre os projetos de Bimba que parece consensual entre seus
alunos è a sua tentativa de ampliar o universo da capoeira. Possibilitar que
a prática rompessem barreiras sociais e étnicas, no que parece ter obtido
pleno sucesso”.
Mestre Bimba buscou arquitetar uma capoeira que pudesse ser
introduzida socialmente, fugindo do estigma marginal, e para isso usou
subsídios ligados à influência do positivismo na educação física brasileira,
a saber: o treinamento sistematizado, a fragmentação e uniformização
da técnica e uma plástica mais retilínea. Tudo isto acompanhando a
uma maior preocupação com a eficiência e eficácia da luta. De forma
análoga, Mestre Pastinha buscou edificar uma capoeira que pudesse ser
inserida socialmente, que fosse desmarginalizada, e para isso também
a institucionalizou, tirando a sua prática das ruas e criando os centros
esportivos, como sistematização do ensino, uniformes – como os abadás,
camisas e cordas -, estatutos, porém, amparada em um discurso de
valorização dos antigos fundamentos e da tradição da capoeira. Onde
nasce a capoeira Regional, do Mestre Bimba e a capoeira Angola, do
Mestre Pastinhas.
Conde (2007, p. 59-60) acrescenta:

Os alunos de Pastinha que se tornaram mestres fortaleceram esses


aspectos, buscando ampliar a penetração da Capoeira Angola. Dessa
maneira surge uma “convergência com segmentos do crescente Movimento
Negro, interessado no resgate das tradições afro-brasileiras como estratégia
afirmativa. A prática de capoeira passou a ser considerada então um veículo
adequado para a conscientização étnica e social” (Assunção e Vieira, 1998:
p.106). A Capoeira Angola também passa a ter a sua imagem aderida a idéia
de resistência à cultura de massa, homogeneizante, de fácil assimilação e
descartável. A “tradição” e “pureza” da capoeira Angola a partir dos anos
1970 começa a encontrar um nicho na contra cultura.

A Capoeira Angola traz consigo elementos da negritude, e resistência,


resgatando elementos como as ladainhas, o lamento, a capoeira rasteira,
as chamadas de angola, e outros elementos que, hoje, ainda são utilizados
em respeito e memória dos negros, que para aqui foram trazidos, assim
como, a memória do seu criador, Mestre Pastinha.

98 Cultura Popular
Esta mesma capoeira que fora perseguida, reerguida e recriada,
também, ganhou seu espaço nas páginas de livros, revistas, periódicos e
tantos outros meios de comunicação, porém, onde mais se sobressaiu foi
nas páginas das literaturas, onde esta ganhou várias facetas e personagens
diversificados.

Oliveira e Leal (2009, p. 48), destacam alguns autores que abordavam


o tema capoeiragem: “(...) (destacam-se nesse aspecto os trabalhos de
Arthur Ramos, Edson Carneiro e Gilberto Freyre). Posteriormente, a
capoeira também seria resgatada como cultura nacional, a partir das obras
de Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger”. Pode-se perceber que a capoeira
já estaria conseguindo o seu espaço na literatura e consequentemente
como cultura nacional, perdendo assim, o título de marginalização.
O capoeira, como personagem, também ganhou seu espaço nas páginas
literárias, destacando-se como “Firmo, o famoso capoeira de O cortiço,
de Aluisio de Azevedo, celebrizou nacionalmente as características do
capoeira carioca do final do século XIX. (OLIVEIRA; LEAL. 2009, p.
98)”. Além de “o cortiço” também houvera outras grandes obras que
apresentavam a presença da capoeiragem sendo ela exposta ou velada, “a
obra, Batuque, do poeta Bruno de Menezes, cuja evidência de africanidade
revela múltiplas características de ação capoeiral no poema Pai João.
(OLIVEIRA; LEAL. 2009, p. 100)”.

Multicuturalismo e Educação 99
Depois de muito lutar, a capoeira, assim como, o capoeira, ganhou
o seu espaço na legalidade definitivamente assim como disse Oliveira e
Leal (2009), a capoeira faz pouco tempo abandonou os pés de páginas
dos compêndios mais importantes da história nacional para adquirir vida
própria, tornando-se ela mesma tema de intensos trabalhos, que desvelam
planos e horizontes antes absolutamente desconhecidos da nossa
historiografia. Ainda o autor relata como tal prática saiu da informalidade
e passou a ser patrimônio cultural do Brasil:

(...) ela é uma rica expressão da cultura afro-brasileira, tanto no Brasil


como no exterior. A maior prova disso foi o registro da capoeira, em 2008,
como bem da cultura imaterial do Brasil, por indicação do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Ministério da Cultura
(IPHAN/MinC).
Seu registro foi votado no dia 15 de julho de 2008, em Salvador, capital da
Bahia, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN, conselho
este constituído por 22 representantes de entidades e da sociedade civil, e que
tem o poder de deliberar a respeito dos registros e tombamentos do patrimônio
cultural brasileiro5. O registro possibilita o desenvolvimento de medidas
governamentais de suporte à comunidade da capoeira, a exemplo de um plano
de previdência social para os velhos mestres da capoeiragem; programas
de incentivo para o desenvolvimento de políticas pelos próprios grupos de
capoeiras com o auxílio do Estado. Além disso, há do ponto de vista de uma
política estrutural para capoeira, a intenção do IPHAN, por consequência do
tombamento, de criar um Centro Nacional de Referência da Capoeira.
Entretanto, no contexto de seu reconhecimento, pouco espaço foi
reservado na mídia para a exposição ou debate acerca da história da capoeira
(...). A história da capoeira foi marcada por perseguições policiais, prisões,
racismo e outras formas de controle social que os agentes dessa prática cultural
experimentaram em sua relação com o Estado brasileiro. (OLIVEIRA; LEAL.
2009, p. 43-44).

A partir desse relato, pode-se perceber que a capoeira foi formalizada


a pouco mais de três anos, ou seja, tiveram que atuar na informalidade
por toda uma vida até ganhar a sua carta de alforria no século XXI, após

5 As informações sobre a cerimônia de tombamento da capoeira, ocorrida em salvador,


BA, tem como fonte as notícias veiculadas na imprensa nacional e local, a exemplo
dos jornais Folha de São Paulo(SP), A Tarde(BA) e Correio da Bahia(BA), assim como o
siteoficial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

100 Cultura Popular


a globalização. Seria como saldar uma dívida com a história brasileira e
com muitos, que dela, ganharam sua liberdade, sustento, fama e outros.
Tudo isso se deu graças a Mestre Pastinha e Mestre Bimba, que
lutaram e idealizaram uma capoeira diferente daquela praticada outrora
por criminosos políticos e marginais; resgatando a capoeira de “raiz”,
aquela que um dia fora praticada por escravos, que lutavam e buscavam a
sua liberdade em terras desconhecidas longe de suas casas.
Essas mesmas capoeiras produzidas por Bimba e Pastinha, que se
tornaram hegemônicas, chegaram às academias, fundaram tradições,
se institucionalizaram e se legalizaram. Tanto Bimba como Pastinha
idealizaram um capoeirista longe da criminalidade e uma capoeira que
atendesse aos anseios de ordem e progresso, tentando romper com o
estigma de uma prática marginal em que a malandragem e a vadiação
deveriam ser substituídas pela malícia e a ginga. (CONDE; 2007p. 63).
O discurso atual sobre a história da capoeira ainda parece ser
desempenhado com forte influência de Bimba e Pastinha, no que se refere
ao desejo de desmarginalização dos que querem construir o orgulho de ser
capoeira ou até mesmo do orgulho da afrodescendência. Segundo o relato
de Conde (2007, p. 66):

A trajetória da capoeira tem a inscrição de autores que pelejaram


politicamente a seu favor, que lutaram para desmarginalizá-la e que
apresentaram o capoeira como escravo oprimido, que treinava nas senzalas,
campos e fazendas para com a capoeira alcançar sua liberdade. No entanto,
os “heroificadores” da capoeira também são atravessados por versões como
a do historiador Carlos Eugênio Soares (1999), que encontra registros
históricos, remontando à capoeira uma gênese urbana, caracterizada por
uma guerra entre maltas compostas de escravos, libertos e portugueses, e
que matavam uns aos outros brutalmente em garantia de um posicionamento
territorial, identitário e social.

Ainda o autor, descreve os tipos de capoeiras que durante a


historiografia da mesma surgiram e seus adjetivos. Além de, subentender
a sua importância no processo de construção do povo brasileiro e sua
identidade como cidadão.

O capoeira que roubava, o capoeira que matava por encomenda, o


capoeira que salvava escravos, o capoeira capanga de político, o capoeira que
lutou na Guerra do Paraguai, o capoeira que venceu a legião de estrangeiros

Multicuturalismo e Educação 101


amotinados no Rio, o capoeira que lutou contra a República, o capoeira que
lutou pela abolição, o capoeira que lutou contra outros capoeiras, o capoeira
que temia lutar, o capoeira que só brincava de capoeira, o capoeira que
enfrentava vários policiais na busca de justiça, o capoeira que vadiava, o
capoeira... São todos estruturados pela capoeira e estruturantes desta mesma
capoeira. (CONDE; 2007, p. 67)

Esses capoeiras descritos trouxeram nos seus feitos, uma gama


de benefícios para nossa cultura, hoje, chamada afro-brasileira, onde
enriqueceu o nosso saber, acrescentando incondicionalmente as suas raízes
às nossas e assim, formando o que hoje chamamos de povo brasileiro,
cultura brasileira, arte brasileira, etc. esses mesmos que outrora foram
caçados, discriminados e executados, hoje, nos trazem orgulhos e prazeres
em sua arte, além de ser também um fator de inclusão social e psicomotor
para a cidadania, essa também chamada de capoeira.

4.8 Brasília a Capital Cultural


Brasília é a materialização de uma aspiração histórica da nação
brasileira. Logo após eleito presidente, Juscelino Kubitschek realiza, em
1957, o concurso nacional para o Plano Piloto de Brasília. O vencedor
foi o arquiteto e urbanista Lucio Costa, que em conjunto com o também
arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer, conceberam uma das maiores
realizações culturais do século XX. Inaugurada em 21 de abril de 1960,
Brasília cumpriu sua missão histórica de promover a integração do
território brasileiro e de interiorizar o desenvolvimento. A cidade foi o
primeiro conjunto urbano do século XX a ser reconhecida pela UNESCO,
em 1987, como Patrimônio Mundial. A principal característica de Brasília
é a monumentalidade, determinada por suas quatro escalas: monumental,
residencial, bucólica e gregária; e por sua arquitetura inovadora.
Hoje com cerca de 2,6 milhões de habitantes, Brasília é uma das
maiores metrópoles do Brasil. Além de sediar o Governo Federal é
um grande centro prestador de serviços, com acervo arquitetônico,
urbanístico e paisagístico de grande beleza e singularidade. É uma cidade-
parque, densamente arborizada, emoldurada pelo Lago Paranoá. Na sua
arquitetura inovadora encontram-se palácios, edifícios públicos, pontes,
jardins, painéis e esculturas, que reúnem o melhor da arquitetura e da

102 Cultura Popular


arte brasileira dos anos 50, 60 e 70 nas quais se incluem: a Praça dos
Três Poderes, Esplanada dos Ministérios, Palácio do Itamaraty, Palácio da
Justiça, Catedral Metropolitana, Teatro, o Museu e a Biblioteca Nacionais;
Torre de TV; Memorial JK, Palácio da Alvorada; Catetinho.
Na Praça dos Três Poderes, há esculturas de elevada expressão artística
e simbolismo que compõem o cenário da praça. Os Os guerreiros de
Bruno Giorgi, também conhecida como Os dois candangos e A justiça de
Cheschiatti. Destaque também para os painéis de Athos Bulcão presentes
em vários edifícios de destaque como o Teatro Nacional, Congresso
Nacional e Palácio do Itamaraty entre outros. O paisagismo de Burle Marx
também tem destaque nos jardins do Palácio do Itamaraty (foto), do Setor
Militar Urbano e da Super Quadra 308 sul. Além do Museu Nacional, que
reúne importante acervo de arte moderna, diversas instituições sediadas em
Brasília possuem acervos notáveis abertos ao público, como o Congresso
Nacional, Palácio do Itamaraty, Banco Central, Caixa Econômica Federal
e Centro Cultural do Banco do Brasil.
Brasília é conhecida como a capital do rock, mas o chorinho também
tem seu lugar no nacionalmente conhecido Clube do Choro. O cinema
brasileiro tem no Festival de Brasília um dos seus principais eventos
anuais. Como centro que reúne brasileiros de todas as regiões, o artesanato,
a dança e a culinária reúnem influências múltiplas. O Bumba-meu-boi
do Seu Teodoro, que se reúne na cidade de Sobradinho, é um exemplo.
A Feira da Torre de TV é um local de grande diversidade cultural, seja
no artesanato, nos números musicais ou na culinária com a presença de
pratos típicos de vários estados brasileiros, de norte a sul.
A cidade de Pirenópolis e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
são duas excelentes alternativas de turismo, a uma distância média de 150
km de Brasília. O aeroporto internacional Juscelino Kubitschek recebe
voos de todas as capitais do Brasil e também voos internacionais das
seguintes cidades: Atlanta, Miami, Porto, Lisboa, Lima, Montevidéu e
Cidade do Panamá, além dos voos internacionais em conexões com as
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O aeroporto situa-se a 10km do
centro da cidade, de fácil acesso por ônibus ou táxi. A acessibilidade por
via rodoviária também é fácil, pois de Brasília partem rodovias para as
principais cidades e regiões do país.

Multicuturalismo e Educação 103


4.8.1 Monumentos de Brasília

Praça dos Três Poderes


Situada no extremo leste do Eixo Monumental, a Praça dos Três
Poderes é um amplo espaço cívico configurado como um triângulo
equilátero, em cujos vértices foram implantados os edifícios que
representam e abrigam os três poderes da República: Congresso
Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Os demais
elementos arquitetônicos da Praça são: Panteão, Casa de Chá, Museu da
Cidade, Espaço Lucio Costa, Mastro da Bandeira, organizados em uma
composição que mantém liberada a linha do horizonte. As esculturas
dispostas sobre a Praça são de autoria de Oscar Niemeyer, Bruno Giorgi,
Alfredo Ceschiatti e José Pedrosa.

Palácio do Planalto
Limitando lateralmente a Praça dos Três Poderes, o Palácio do
Planalto se insere no conjunto de obras de Oscar Niemeyer denominadas
Palácios dos Pórticos. O prédio encanta pela beleza das colunas
definidas pelo arquiteto como “leves como penas pousando no chão”.
O Palácio do Planalto é a sede do Poder Executivo Federal e abriga o
Gabinete Presidencial do Brasil. Inaugurado em 21 de abril de 1960,
foi o centro das comemorações da inauguração de Brasília e marca a
história brasileira por simbolizar a transferência da Capital Federal
para o interior do País, promovida no Governo do Presidente Juscelino
Kubitschek.

Congresso Nacional
Ponto focal da ligação entre a Esplanada dos Ministérios e a Praça
dos Três Poderes, o Congresso Nacional representa, com a Torre de TV,
os marcos verticais do Eixo Monumental. De autoria do arquiteto Oscar
Niemeyer, sua concepção plástica contrapõe-se à linha horizontal da
cidade. Sua verticalidade é marcada pelos dois edifícios administrativos,
com 28 pavimentos: um para a Câmara dos Deputados e outro para o
Senado Federal, em contraste com a base horizontal com as duas cúpulas,
onde se localizam os plenários. É uma composição assimétrica que, nas

104 Cultura Popular


palavras do arquiteto, constitui, mais do que uma simples questão de
engenharia, “uma manifestação do espírito, da imaginação e da poesia”.

Supremo Tribunal Federal


O Supremo Tribunal Federal, edifício de autoria do arquiteto Oscar
Niemeyer, está situado na Praça dos Três Poderes, na lateral oposta ao
Palácio do Planalto. Seu volume foi implantado com a face de menor
dimensão voltada para a Praça. O corpo do edifício, uma caixa retangular
de vidro, possui três pavimentos. O Supremo Tribunal Federal é a mais
alta instância do Poder Judiciário do Brasil e acumula competências
típicas de Suprema Corte e Tribunal Constitucional. A ele compete,
precipuamente, a guarda da Constituição Federal.

Eixo Monumental
Um dos elementos definidores da forma do Plano Piloto, o Eixo
Monumental é o local onde se acentua a escala monumental proposta 
por Lucio Costa no Relatório do Plano Piloto de Brasília. As proporções
urbanísticas desta área, evidentes no afastamento entre as edificações
e nas dimensões dos logradouros públicos, realçam os conjuntos
arquitetônicos, especialmente os de caráter governamental e institucional.
Estende-se por  16 Km e é composto por seis vias de tráfego em cada
sentido, separadas por um grande canteiro central. Em seu extremo leste
está a Praça dos Três Poderes, seguida pela Esplanada dos Ministérios.
No seu lado oeste, localiza-se o parque da Torre de TV, seguido pelo
Centro de Convenções e pela Praça do Buriti, local da sede do Governo
do Distrito Federal. No extremo oeste, situa-se a antiga Rodoferroviária.

Palácio do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores, criação do arquiteto Oscar
Niemeyer e projeto estrutural do engenheiro Joaquim Cardozo, é também
conhecido como Palácio dos Arcos e, principalmente, como Palácio do
Itamaraty, herdando o nome do seu correspondente no Rio de Janeiro,
antiga capital do país. O elemento de transição que o separa do espaço
público é um grande espelho d’água, cujo projeto paisagístico de Roberto
Burle Marx incorpora tanto espécies exóticas da flora tropical quanto
esculturas de mestres brasileiros. As obras de arte integradas à arquitetura
são de autoria de Athos Bulcão, Maria Martins, Mary Vieira, Franz
Weissmann, Alfredo Volpi, Alfredo Ceschiatti, Victor Brecheret, Sérgio

Multicuturalismo e Educação 105


Camargo, Rubem Valentim, Emanuel Araújo e Pedro Correia de Araújo.
(Esplanada dos Ministérios - Bloco H. Telefone: (61) 3411-8051)

Catedral Nossa Senhora Aparecida


O partido arquitetônico valoriza a forma escultórica dessa obra do
arquiteto Oscar Niemeyer, destacando-se no local onde está implantada
pela homogeneidade do conjunto dos edifícios dos Ministérios. Esse
contraste também pode ser notado na simplicidade da construção e na
complexidade da solução estrutural e volumétrica do edifício; uma planta
circular de 70 m de diâmetro da qual se elevam 16 pilares, vedados por
uma rede de caixilhos que produzem um vitral em seu interior. Assim
como em outros edifícios monumentais da cidade, o acesso à Catedral é
desvinculado da via pública por uma rampa que atinge o subsolo, onde
se desenvolvem as atividades religiosas. Complementam o conjunto,
o campanário e o batistério. As obras de arte integradas são de autoria
de Marianne Peretti, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti e Di Cavalcanti.
(Esplanada dos Ministérios lote 12).
Foto: Kauso Okubo/2008

106 Cultura Popular


Teatro Nacional Cláudio Santoro
O Teatro Nacional Cláudio Santoro, de autoria do arquiteto Oscar
Niemeyer, destaca-se do conjunto da Esplanada dos Ministérios pela forma
piramidal que se contrapõe à forma quadrangular dos Ministérios, compondo
com o edifício do Touring Club a ligação entre o eixo administrativo e o
setor de diversões. O projeto foi estruturado em três níveis: um direcionado
à Plataforma Rodoviária, com uma passarela de ligação que desemboca em
um grande foyer/salão de exposições; um segundo nível, que constitui o das
salas de espetáculo; e um terceiro, com as funções administrativas. As obras
de arte integradas à arquitetura são de autoria de Athos Bulcão, Alfredo
Ceschiatti e Mariane Peretti. (Setor Cultural Norte, Via N2).

Torre de TV
De autoria de Lucio Costa, a Torre de TV é o elemento mais alto e
destacado da paisagem urbana. Constitui um marco visual em relação
à cidade como um todo. À época de sua construção, incluía-se entre as
edificações mais altas do mundo. Trata-se de uma estrutura metálica, com
um mirante a meia altura, sobre uma base de concreto aparente, em forma
de prisma de base triangular, de onde é possível ver  toda a cidade Está
inserida num parque, projeto original de Roberto Burle Marx, próximo à
Rodoviária, no ponto da cota mais alta do Eixo Monumental. Caracteriza-
se como um dos locais de lazer, com maior afluência de público na cidade.
(Eixo Monumental).

Foto: Nubia Selen

Multicuturalismo e Educação 107


Memorial JK
Situado próximo ao local onde se realizou a primeira missa de Brasília,
o Memorial JK foi projetado e construído para homenagear o fundador da
cidade, presidente Juscelino Kubistchek. Possui a forma de uma pirâmide
truncada de base retangular, revestida em mármore branco, tendo sua
parte superior uma cúpula de concreto aparente. O conjunto se completa
com um pedestal de 28 metros de altura, onde está colocada uma estátua
de Juscelino. Em seu interior encontram-se a biblioteca, diversos objetos
pessoais do ex-presidente e sua câmara mortuária. (Praça do Cruzeiro -
Eixo Monumental Lado Oeste).

Igreja Nossa Senhora de Fátima


Templo católico constituído por uma pequena nave, sacristia e
secretaria; com planta em forma de ferradura, cujas paredes são revestidas
externamente por azulejos de Athos Bulcão. Foi o primeiro templo
em  alvenaria  a ser erguido em  Brasília, inaugurado em 28 de junho
de 1958, uma obra erguida em apenas cem dias, com o objetivo de pagar
uma promessa da primeira-dama Sarah Kubitschek, feita para curar sua
filha. A capela foi projetada por  Oscar Niemeyer  e sua arquitetura faz
referência a um chapéu de freiras. É no ponto focal de sua unidade de
vizinhança. Ao contrário do sistema de endereçamento da cidade, nomeia
sua via como Rua da Igrejinha (Sqs 307 Bloco C – Asa Sul).

Instituto Central de Ciência – ICC


De autoria de Oscar Niemeyer, é o principal prédio acadêmico da
Universidade de Brasília – UNB. Conhecido como Minhocão,  é formado
por dois blocos unidos por uma área originalmente proposta para abrigar
laboratórios, a ser coberta por cúpulas de concreto, que não foram
construídas. Sua curvatura define as duas alas – Norte e Sul – com duas
entradas principais, onde se destacam grandes rampas curvas em balanço.
(Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte).

Parque da Cidade
O Parque da Cidade está situado a oeste da Asa Sul, numa área de 400
hectares. Um anel viário circunda todo o Parque e a grande diversidade
de ambientes permite atividades de lazer. As atividades obedecem a um

108 Cultura Popular


zoneamento: área administrativa, Pavilhão de Exposições de Brasília,
área esportiva, área cultural e área do lago. No projeto original, de autoria
de Roberto Burle Marx, previa-se a preservação da vegetação nativa,
o cerrado, em determinados locais, criando inclusive zonas para sua
proteção. Em outros espaços, optou-se pela utilização de espécies exóticas,
objetivando a criação de condições ambientais que possibilitassem a
amenização do clima quente e seco da região. Os bares, com cobertura em
forma piramidal, são projeto do arquiteto Glauco Campello.

Palácio da Alvorada
Situado em local privilegiado, à margem do Lago Paranoá, a construção
do Palácio da Alvorada é anterior à da própria cidade. Construído para ser
a residência oficial do Presidente da República, foi o primeiro palácio de
Brasília. A sofisticação, a suntuosidade e a monumentalidade são obtidas
pela escala dos espaços internos e externos, mais do que em função do
ornamento e das proporções. O grande jardim dianteiro contribui para
acentuar a horizontalidade e a monumentalidade da edificação e permite a
privacidade e a proteção pela distância, necessária à residência oficial. A
área comporta também a pequena capela lateral de forma escultórica. (Via
Presidencial, s/nº, Zona Cívico-Administrativa).

Catetinho, primeira residência presidencial


Projetado por Oscar Niemeyer, o Palácio de Tábuas foi a primeira
residência presidencial em Brasília, construída em dez dias e inaugurada
em novembro de 1956, quando o presidente Juscelino Kubitschek expediu
os primeiros atos destinados à construção da futura capital. O nome
Catetinho é uma homenagem ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro,
que abrigou durante muitos anos os presidentes brasileiros. Trata-se de
uma edificação totalmente despojada, de linhas modernistas puras, com
pilotis no térreo e um pavimento superior de planta retangular – onde se
situam quatro suítes, dois quartos, uma sala para os atos presidenciais e
um pequeno bar, todos com acesso a partir de uma circulação aberta. Aos
fundos, um anexo térreo abriga cozinha e quarto de empregada, também
em madeira. Está situado próximo a uma fonte alimentada por quatro
nascentes de água mineral cristalina, em meio a um ambiente denso de
vegetação nativa. (Rodovia Km 0 - BR 040, s/nº, Trevo do Gama).

Multicuturalismo e Educação 109


Ponte JK
A ponte tem um total de 1,2 mil metros de comprimento, 24 metros de
largura, com duas pistas e três faixas em cada uma, além de duas passarelas
laterais para uso de ciclistas e pedestres. Um dos cartões postais da cidade,
a Ponte JK foi inaugurada em 15 de dezembro de 2002. Projetada pelo
arquiteto Alexandre Chan, a obra recebeu a Medalha Gustav Lindenthal,
em 2003, da Sociedade dos Engenheiros do Estado da Pensilvânia, nos
Estados Unidos, e foi eleita como a ponte mais bela do mundo. A ponte
atravessa o Lago Paranoá e liga o Lago Sul, Paranoá e São Sebastião à
parte central do Plano Piloto, através do Eixo Monumental.

Foto: Cesar Moura

Torre Digital
Inaugurada no dia 21 de abril de 2012, em comemoração ao aniversário
da cidade, a Torre de TV Digital é a nova atração turística de Brasília. O
monumento projetado por Oscar Niemeyer tem 180 metros de altura e
pode ser visto de quase todos os pontos da cidade. O resultado é uma
proposta inovadora: a flor do cerrado. A base cilíndrica representa o caule
da flor, que exibe duas pétalas com cúpulas de vidro. Em uma das pétalas
funciona um salão para exposições, onde se encontra uma maquete de
Brasília, semelhante à exposta no Espaço Lúcio Costa na Praça dos Três
Poderes. Na outra pétala funcionará um bar/café. No 13° andar, no alto da
flor, a 110 metros de altura, fica o mirante com vista 360° do skyline da
cidade. (Lago Norte).

110 Cultura Popular


Ministério da Justiça
O Ministério da Justiça, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, segue
o mesmo partido arquitetônico e a mesma solução estrutural do Palácio do
Itamaraty. Da fachada em sequência de arcos interrompidos, em concreto
armado, estendem-se calhas na forma de conchas, que vertem água sobre
o jardim aquático de espécies exóticas, projeto de Roberto Burle Marx.
O volume envidraçado que define a área administrativa está recuado da
fachada principal. (Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Edifício sede.
Telefone: (61) 2025.3587)

4.8.2 Patrimônio Imaterial


Brasília, com sua arquitetura monumental e arrojada, também abriga
as tradicionais feiras livres espalhadas por muitos espaços públicos da
capital e regiões administrativas (antigas cidades satélites). Artesanato,
pedras brasileiras e comidas típicas (acarajé, abará, cuscuz de tapioca,
vatapá, bobó e bolo de aipim), entre outros produtos, são comercializados
na Feira de Artesanato da Torre (Plano Piloto, Eixo Monumental, ao lado
da Torre de TV). Na Feira Central de Ceilândia (QNM 02, Ceilândia
Centro, Tel.: 61.3372.5512), conhecida como ponto de encontro da
população vinda do Nordeste do Brasil, se destacam os pratos regionais
(sarapatel, buchada, mocotó e baião de dois) preparados pelas famílias
nordestinas que se estabeleceram na capital do país.
Conhecida como cidade-monumento, Brasília passou a ser Patrimônio
Cultural da Humanidade em 7 de dezembro de 1987. Concedido pela
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura –, o título determina que os bens culturais e naturais significativos
para a humanidade pertençam a todos os povos, independentemente de
localização territorial ou nacionalidade. O objetivo é preservar esses bens
para que eles possam ser transmitidos e repassados às futuras gerações.
Brasília tornou-se Patrimônio Cultural por ser um marco da
arquitetura e urbanismo modernos. Criada pelas mãos de Lúcio Costa e
Oscar Niemeyer, a cidade foi planejada para oferecer uma nova proposta
de viver e maior qualidade de vida aos seus moradores. O planejamento
em quatro esferas independentes – monumental, residencial, gregária e de
lazer – é o que dá a Brasília as características de cidade ímpar, original
e excepcional. Por isso, Brasília é hoje o único bem contemporâneo
tombado como Patrimônio Cultural.

Multicuturalismo e Educação 111


Tão diferente, tão única e tão peculiar, Brasília é inconfundível
até mesmo do espaço. Pelo menos é o que diz a tripulação da Estação
Espacial Internacional (ISS em inglês), que fotografou a capital do Brasil
no dia 8 de janeiro de 2011. Divulgada pelo Earth Observatory, site ligado
à Agência Espacial Norte-Americana – Nasa –, a foto noturna ganha
referência como um dos “melhores exemplos de planejamento urbano do
século 20”.
Além de Brasília, as cidades de Ouro Preto (MG), Olinda (PE),
Salvador (BA), São Luís (MA), Diamantina (MG) e Goiás (GO) também
são protegidas pelo Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.
Entretanto, Brasília apresenta ainda mais uma singularidade: ela possui a
maior área do mundo protegida como Patrimônio Universal. São 112,25
km2 de tombamento. Símbolo da nação brasileira, Brasília também é um
símbolo mundial.
Em 1972, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura – criou a Convenção do Patrimônio
Mundial, para incentivar a preservação de bens culturais e naturais
considerados significativos para a humanidade. O objetivo é permitir que
o legado que recebemos do passado, e vivemos no presente, possa ser
transmitido às futuras gerações.
O conceito de Patrimônio Cultural da Humanidade encerra o
entendimento de que sua aplicação é universal. Os sítios do Patrimônio
Mundial pertencem a todos os povos do mundo, independentemente do
território em que estejam localizados.
Marco da arquitetura e urbanismo modernos, Brasília é detentora da
maior área tombada do mundo – 112,25 km² – e foi inscrita pela UNESCO
na lista de bens do Patrimônio Mundial em 7 de dezembro de 1987, sendo
o único bem contemporâneo a merecer essa distinção.
O Patrimônio cultural de Brasília é composto por monumentos,
edifícios ou sítios que tenham valor histórico, estético, arqueológico,
científico, etnológico ou antropológico, e a compreensão da sua
preservação reafirma a necessidade de se executar políticas públicas
capazes de assegurar a proteção desse patrimônio.
O urbanista Lúcio Costa, autor do projeto do Plano Piloto, explicou
de maneira muito simples a criação dos elementos centrais da cidade:
“Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse:
dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”. 

112 Cultura Popular


4.9 Na prática
1) O que é multiculturalismo?
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2) Procure em sites, jornais ou revistas alguma reportagem ou


informação sobre a intolerância religiosa. Relate e apresente aos
colegas.
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3) Você conhece alguma prática cultural religiosa? Descreva.


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4) Onde surgiu a capoeira?


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5) Descreva, sucintamente, o que você sabe sobre a cultura de


Brasília.
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_______________________________________________________

6) Você participa de alguma atividade cultural? Relate-a.


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Multicuturalismo e Educação 113


4.10 O que aprendemos?
Nessa unidade, aprendemos que:
• Há um multiculturalismo;
• A educação é multicultural;
• Nossa cultura é baseada na diversidade;
• As religiões de matrizes africanas são heranças deixadas por uma
multicultura do passado;
• A capoeira é uma cultura brasileira;
• Brasília, Capital Federal é um patrimônio cultural da humanidade.

4.11 Referências
BACELAR, J. 2001 A hierarquia das raças. Negros e brancos em
Salvador. Rio de Janeiro, Pallas. 1996

BASTIDE, R. 2001 Candomblé na Bahia. Rito nagô. São Paulo,


Companhia das Letras.

BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.


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www4.planalto.gov.br/restauracao/brasilia-patrimonio-cultural-da-
humanidade>. Acesso em: 04/ago/2014

Brasília Patrimônio Cultural da Humanidade. Disponível em: <http://


meiamaratonacaixabrasilia.com.br/index.php/lorem-ipsum-ii/
patrimonio-da-humanidade>. Acesso em: 04/ago/2014

Brasília Patrimônio Cultural. Disponível em: <http://www.copa2014.


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bibliografia/11-mestre-pastinha.html acessado em <05/jan/2012>

CASTRO, Y. P. de 2001 Falares africanos na Bahia. Rio de Janeiro,


Academia Brasileira de Letras - Topbooks.

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Navegação Social. Editora Novas Ideias: Rio de Janeiro – RJ, 2007.

COSTA, Lamartine P. da. Capoeira sem Mestre: com 49 figuras.


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Inclusão. In: I Encontro Nacional de Produção Científica em Serviço
Social na Educação: Saberes e Fazeres, 2013, Cachoeira - BA.
Produções do I Encontro Nacional de Produção Científica em Serviço
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_______. A Capoeira na Escola: A Lei 10.639/2003 como Política


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LIMA, V. da C. Encontro de nações do Candomblé. Salvador,


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_______. Uma festa de Xangô. Salvador, Ufba. 1959

MOREIRA, A. F. B. (Org.). Currículo: políticas e práticas.


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Capoeira Identidade e Gênero: ensaios sobre a história social da
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Campinas – SP, 2010.

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teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

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VALENTE, A. L. Educação e diversidade cultural: um desafio da


atualidade. São Paulo: Moderna, 1999.

Anotações

Multicuturalismo e Educação 117


Anotações

118 Cultura Popular


5
As Políticas Públicas e a Cultura

5.1 Ponto de partida


5.2 Roteiro do Conhecimento
5.3 Plano Nacional de Cultura (PNC)
5.4 Direitos Humanos e Cultura
5.5 Declaração de Friburgo
5.6 Direitos Autorais – Lei 9.610/98
5.7 Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN
5.8 Na prática
5.9 O que aprendemos?
5.10 Referências
Cultura Popular
5.1 Ponto de partida
Caros alunos,
Chegamos à última unidade da nossa disciplina, aqui serão
trabalhadas as legislações com foco na cultura ou diversidade cultural.
Serão apresentados os arcabouços legais de incentivo e permanência da
cultura no Brasil.
Ao final da unidade, você estará apto a:
• Trabalhar as legislações referentes à cultura;
• Identificar os direitos culturais;
• Entender que toda cultura precisa ser preservada e respeitada;
• Distinguir patrimônio material e imaterial;
• Garantir os direitos culturais.
Ao final da unidade, convido-lhes a fazer uma atividade de fixação
dos conteúdos aprendidos na unidade.
Bons estudos!

5.2 Roteiro do Conhecimento


Segundo Dias (2014), os direitos culturais estão ligados a diversas
questões que variam da criatividade e expressões artísticas em diversas
formas materiais e não materiais. Para Cunha Filho (2014), os Direitos
Culturais são aqueles afetos às artes, à memória individual e coletiva, ao
fluxo de saberes, que asseguram a seus titulares o conhecimento e uso
do passado, interferência ativa no presente e possibilidade de previsão
e decisão de opções referentes ao futuro, visando sempre à dignidade da
pessoa humana.
Já, Pedro (2011, p. 44) defende a necessidade de incorporar os Direitos
Culturais aos direitos fundamentais e entende os direitos culturais como:

(...) aqueles direitos fundamentais que garantem o desenvolvimento


livre, igual e fraterno dos seres humanos em seus diferentes contextos de
vida, valendo-nos dessa singular capacidade que temos, entre os seres vivos,
de simbolizar e criar sentidos de vida que podemos comunicar aos outros
[por meio da cultura e das manifestações culturais.]

Logo, devemos pensar os direitos culturais como parte dos direitos


fundamentais dos cidadãos, garantidos pela Constituição, e como uma
categoria a mais dos Direitos Humanos. Como afirmou Farida Shaheed,
em uma entrevista realizada por Coelho, em fevereiro de 2010, logo após

As Políticas Públicas e a Cultura 121


um seminário sobre direitos culturais realizado em Genebra, “os direitos
culturais estão tão intimamente interligados com outros direitos humanos
que às vezes é difícil traçar uma linha divisória entre os direitos culturais
e os demais”. Além disso, a dificuldade de determinar ou limitar a
abrangência dos direitos culturais é causada, também, pela complexidade
do conceito de cultura.

5.3 Plano Nacional de Cultura (PNC)


O Plano Nacional de Cultura6 (PNC), instituído pela Lei 12.343, de 2
de dezembro de 2010, tem por finalidade o planejamento e implementação
de políticas públicas de longo prazo (até 2020) voltadas à proteção e
promoção da diversidade cultural brasileira. Diversidade que se expressa
em práticas, serviços e bens artísticos e culturais determinantes para o
exercício da cidadania, a expressão simbólica e o desenvolvimento
socioeconômico do País.
Os objetivos do PNC são o fortalecimento institucional e definição
de políticas públicas que assegurem o direito constitucional à cultura;
a proteção e promoção do patrimônio e da diversidade étnica, artística
e cultural; a ampliação do acesso à produção e fruição da cultura em
todo o território; a inserção da cultura em modelos sustentáveis de
desenvolvimento socioeconômico e o estabelecimento de um sistema
público e participativo de gestão, acompanhamento e avaliação das
políticas culturais.
A Lei que criou o PNC prevê metas para a área da cultura a serem
atingidas até 2020. As metas do Plano, em número de 53, foram estabelecidas
por meio da ampla participação da sociedade e gestores públicos. Vale
destacar que o sucesso do PNC só ocorrerá com o envolvimento de todos
os entes federados, por meio do Sistema Nacional de Cultura.
O processo de acompanhamento – também chamado de monitoramento
– da execução das 53 metas é realizado constantemente pelo Ministério
da Cultura e publicado na plataforma virtual (pnc.culturadigital.br), o que
possibilita à sociedade acompanhar a situação atualizada de cada meta e o
que está sendo feito para seu alcance. É possível personalizar a forma de
consulta das metas e definir quais metas deseja acompanhar e receber, por
email, informações sobre as atualizações.

6 http://www.cultura.gov.br/plano-nacional-de-cultura-pnc-

122 Cultura Popular


Na página (pnc.culturadigital.br) também estão
disponíveis  informações sobre o histórico do Plano e
suas metas, além de trazer as perguntas mais frequentes
e uma biblioteca onde constam documentos como os
Plano Setoriais das várias áreas da cultura e os Planos de
Cultura de estados e municípios.

Segundo o Plano Nacional de Cultura – PNC, o PNC não recebe esse


nome por outro motivo senão o de buscar abranger as demandas culturais
dos brasileiros e brasileiras de todas as situações econômicas, localizações
geográficas, origens étnicas, faixas etárias e demais situações identitárias.
Lidar com tal diversidade faz parte de nossa história. Não por acaso, o
conceito de antropofagia, originário do modernismo brasileiro, aponta
para uma peculiar capacidade de reelaboração de símbolos e códigos
culturais de contextos variados.
Diferentemente de outros povos do mundo, temos a nosso favor uma
notável capacidade de acolhimento e transformação enriquecedora daquilo
que nos é inicialmente alheio. Entretanto, os desequilíbrios entre regiões
e as desigualdades sociais – realimentadas por discriminações étnicas,
raciais e de gênero – também fazem parte da história do País.
Considerando essas duas faces da nossa realidade, o Estado brasileiro,
que representa o mais amplo contrato social vigente no território nacional,
tem o dever de fomentar o pluralismo, coibir efeitos das atividades
econômicas que debilitam e ameaçam valores e expressões dos grupos de
identidade e, sobretudo, investir na promoção da equidade e universalização
do acesso à produção e usufruto dos bens e serviços culturais.
O PNC é um plano de estratégias e diretrizes para a execução de
políticas públicas dedicadas à cultura. Toma como ponto de partida
um abrangente diagnóstico sobre as condições em que ocorrem as
manifestações e experiências culturais e propõe orientações para a
atuação do Estado na próxima década. Sua elaboração está impregnada de
responsabilidade cívica e participação social e é consagrada ao bem-estar
e desenvolvimento comunitário.
Com frequência, a política cultural é pensada com ênfase exclusiva
nas artes consolidadas. Considerando-se que a diversidade cultural é
o maior patrimônio da população brasileira, no âmbito do PNC busca-

As Políticas Públicas e a Cultura 123


se transcender as linguagens artísticas, sem, contudo, minimizar sua
importância. Uma perspectiva ampliada, que articula as diversas dimensões
da cultura, ganhou corpo e espaço na estrutura de financiamento público
nos últimos anos e é um dos pilares do Plano Nacional de Cultura.
Em âmbito internacional, os debates sobre as diferentes dimensões
da cultura se intensificaram no ano de 2001 com a adoção da “Declaração
Universal sobre Diversidade Cultural”. Naquela ocasião, a UNESCO
reiterou seu mandato como organismo multilateral responsável por
questões culturais, revisando os rumos do trabalho iniciado com a
Conferência Mundial sobre Políticas Culturais, de 1982.
Tais discussões, negociações e atividades envolveram muitos atores.
O Brasil sempre teve um papel relevante nesse cenário e tornou-se um dos
protagonistas da negociação institucional e política que levou à aprovação
da Agenda 21 da Cultura, em maio de 2004, em Barcelona, pelo IV Fórum
das Autoridades Locais pela Inclusão Social de Porto Alegre, no âmbito
do I Fórum Universal das Culturas; e da Convenção para a Proteção e a
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, em outubro de 2005,
em Paris, pela Conferência Geral da – Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Consulte o Pacto Internacional dos Direitos Civis e


Políticos (1966)

A Agenda 21 da Cultura foi aprovada por cidades e governos locais


de todo mundo comprometido com os direitos humanos, a diversidade
cultural, a sustentabilidade, a democracia participativa e a criação
de condições para a paz. Cidades e governos locais de quase todo o
mundo, entre as quais diversas cidades brasileiras, aprovaram a Agenda
21 da Cultura em suas instâncias de governo e estão adotando as suas
recomendações na implementação das suas políticas públicas de cultura.
Em 2006, o Congresso Nacional ratificou a Convenção para a Proteção
e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, tornando o Brasil
um dos seus primeiros signatários. Hoje, os países em que o tratado vigora
estão comprometidos com a implementação de políticas públicas de acesso
à cultura, em favor da proteção aos grupos culturais mais vulneráveis às
dinâmicas econômicas excludentes.

124 Cultura Popular


Além disso, têm o direito de resguardar a especificidade dos serviços,
atividades e bens culturais, retirando-os das negociações internacionais
em torno do livre-comércio. Desse modo, o segmento audiovisual pode
ser excluído de acordos de abertura de mercado, bem como as outras
linguagens artísticas e as expressões culturais.
O Plano Nacional de Cultura está sendo elaborado, portanto, em
um contexto político em que ganham força várias iniciativas voltadas
ao fortalecimento de relações internacionais mais solidárias, com as
quais o Brasil deve dialogar e contribuir. Pois estas articulações são
imprescindíveis para lidar com uma conjuntura de tensão entre o local e o
global, que expressa problemas e oportunidades inéditos.
As novas tecnologias digitais de comunicação e informação
possibilitam uma integração econômica mundial de características e
alcance sem precedentes. Porém, este processo é acompanhado por
profundos sentimentos de desconexão, insegurança e segregação.
Por outro lado, as tecnologias não favorecem somente os interesses
do grande mercado, inclusive o cultural. Elas também proporcionam
novos fluxos de experimentação artística e oportunidades de valorização
de tradições culturais específicas, combinada ao uso criativo dos mais
recentes recursos científicos e tecnológicos. Neste sentido, o PNC busca
contemplar as dinâmicas emergentes no mundo contemporâneo, sem
deixar de atender às manifestações históricas e consolidadas.

Fonte: JUNQUEIRA, Ivanilda.


Políticas Públicas Culturais e
Direitos Humanos.
UFG: Goiânia, 2014

As Políticas Públicas e a Cultura 125


O Ministério da Cultura (MinC) estabeleceu 53 metas, e a lei que
estabelece o Plano Nacional de Cultura (PNC) prevê a criação de um
comitê executivo para acompa­nhar a revisão das diretrizes, estratégias e
ações do Plano. Esse comitê deverá ser composto de representantes do(s):
• Poder Legislativo;
• Estados e das cidades que aderirem ao Sistema Nacional de Cultura
(SNC);
• Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC);
• Ministério da Cultura (MinC).
O Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC)
também terá papel fundamental na realização do PNC, pois reunirá dados
sobre as políticas culturais.
Para que seja posto em prática, o Plano depende da adesão dos estados
e das cidades, o que será feito por meio do SNC. Os estados e as cidades
que aderirem ao Sistema deverão elaborar planos de cultura e poderão
contribuir para que se alcancem as metas do PNC.

Compete ao Estado:
Formular políticas públicas, identificando as áreas estratégicas de
nosso desen­volvimento sustentável e de nossa inserção geopolítica no
mundo contemporâ­neo, fazendo confluir vozes e respeitando os diferentes
agentes culturais, atores sociais, formações humanas e grupos étnicos.
Qualificar a gestão cultural, otimizando a alocação dos recursos
públicos e bus­cando a complementaridade com o investimento privado,
garantindo a eficácia e a eficiência, bem como o atendimento dos direitos
e a cobrança dos deveres, aumen­tando a racionalização dos processos e
dos sistemas de governabilidade, permitindo maior profissionalização e
melhorando o atendimento das demandas sociais.
Fomentar a cultura de forma ampla, estimulando a criação,
produção, circula­ção, promoção, difusão, acesso, consumo, documentação
e memória, por meio de subsídios à economia da cultura, mecanismos
de crédito e financia­mento, investimento por fundos públicos e privados,
patrocínios e disponibiliza­ção de meios e recursos.
Proteger e promover a diversidade cultural, reconhecendo a
complexidade e abrangência das atividades e valores culturais em todos
os territórios, ambientes e contextos populacionais, buscando dissolver a
hierarquização entre alta e baixa cultura, cultura erudita, popular ou de
massa, primitiva e civilizada, e demais discriminações ou preconceitos.

126 Cultura Popular


Ampliar e permitir o acesso a cultura compreendendo a cultura
a partir da ótica dos direitos e liberdades do cidadão, sendo o Estado
um instrumento para efetivação desses direitos e garantia de igualdade
de condições, promovendo a universali­zação do acesso aos meios de
produção e fruição cultural, fazendo equilibrar a oferta e a demanda
cultural, apoiando a implantação dos equipamentos culturais e financiando
a programação regular destes.
Preservar o patrimônio material e imaterial, resguardando
bens, documentos, acer­vos, artefatos, vestígios e sítios, assim como as
atividades, técnicas, saberes, lingua­gens e tradições que não encontram
amparo na sociedade e no mercado, permitindo a todos o cultivo da
memória comum, da história e dos testemunhos do passado.
Ampliar a comunicação e possibilitar a troca entre os diversos
agentes cultu­rais, criando espaços, dispositivos e condições para
iniciativas compartilhadas, o intercâmbio e a cooperação, aprofundando
o processo de integração nacional, absorvendo os recursos tecnológicos,
garantindo as conexões locais com os fluxos culturais contemporâneos
e centros culturais internacionais, estabelecendo parâ­ metros para a
globalização da cultura.
Difundir os bens, conteúdos e valores oriundos das criações
artísticas e das expressões culturais locais e nacionais em todo o território
brasileiro e no mundo, assim como promover o intercâmbio e a interação
desses com seus equivalentes estrangeiros, observando os marcos da
diversidade cultural para a exportação de bens, conteúdos, produtos e
serviços culturais.
Estruturar e regular a economia da cultura, construindo modelos
sustentáveis, estimulando a economia solidária e formalizando as cadeias
produtivas, amplian­do o mercado de trabalho, o emprego e a geração
de renda, promovendo o equilíbrio regional, a isonomia de competição
entre os agentes, principalmente em campos onde a cultura interage com
o mercado, a produção e a distribuição de bens e conteúdos culturais
internacionalizados.
São fundamentais para o exercício da função do Estado:
• Compartilhamento de responsabilidades e a cooperação entre os
entes fede­rativos;
• Instituição e atualização de marcos legais;
• Criação de instâncias de participação da sociedade civil;
• Cooperação com os agentes privados e as instituições culturais;

As Políticas Públicas e a Cultura 127


• Relação com instituições universitárias e de pesquisa;
• Disponibilização de informações e dados qualificados;
• Territorialização e a regionalização das políticas culturais;
• Atualização dos mecanismos de fomento, incentivo e financiamento
à ativi­dade cultural;
• Construção de estratégias culturais de internacionalização e de
integração em blocos geopolíticos e mercados globais.

5.4 Direitos Humanos e Cultura

Dias (2014) afirma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos


(1948) é o primeiro documento internacional a fazer menção aos direitos
culturais. Ela surgiu após a Segunda Guerra Mundial como forma de
proteger a população dos excessos do Estado, bem como, garantir a
validação dos direitos individuais e coletivos. Segundo os Artigos 22 e
27 da Declaração:

Artigo 22. Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à


segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação
internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos
direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao
livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 27. 1. Toda pessoa tem o direito de fazer parte livremente da
vida cultural da comunidade, de usufruir das artes e participar do progresso
científico e dos benefícios que dele resultem. 2. Toda pessoa tem direito à
proteção dos interesses morais e materiais que lhe pertençam em virtude das
produções científicas, literárias ou artísticas da qual for autora.

128 Cultura Popular


No entanto, é preciso destacar que os Artigos da Declaração só foram,
de certa forma, concretizados após convenção ratificada pela maioria dos
Estados - Membros pelos Pactos de 1966, ou seja, pelo Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais5 e o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos6, que deram obrigatoriedade jurídica a muitas das
disposições da Declaração Universal para os Estados que os ratificaram.

5.5 Declaração de Friburgo

Foi elaborado, em 2007, um documento intitulado “Declaração de


Friburgo sobre Direitos Culturais8”, pelo Grupo de Friburgo organizado
a partir do Instituto Interdisciplinar de Ética e Direitos Humanos da
Universidade de Friburgo, na Suíça, juntamente com a Organização
Internacional de Francofonia e a UNESCO. A Declaração pode ser
reconhecida como um guia para a reflexão e implementação dos direitos
relacionados à cultura, previstos no acordo internacional sobre os Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (1966). Ela reúne e explicita os direitos
culturais que já são reconhecidos, de maneira dispersa, em inúmeros
documentos.
Assim, a Declaração abrange, em seus doze artigos, os princípios
fundamentais e as definições que o orientam; uma lista de direitos
culturais, dos quais se destacam em artigos:
• O direito à identidade e patrimônio culturais;
• A referência às comunidades culturais;
• O direito ao acesso e participação na vida cultural;
• O direito à educação e formação;
• A comunicação e informação;
• O direito à cooperação cultural.

As Políticas Públicas e a Cultura 129


Artigo 2 (Definições)
Para os fins da presente Declaração,
a. o termo “cultura” abrange os valores, as crenças, as convicções, as
línguas, os conhecimentos e as artes, as tradições, as instituições e os modos de
vida pelos quais uma pessoa ou um grupo de pessoas expressa sua humanidade
e os significados que dá à sua existência e ao seu desenvolvimento;
b. a expressão “identidade cultural” é compreendida como o conjunto
de referências culturais pelo qual uma pessoa, individualmente ou em
coletividade, se define, se constitui, se comunica e se propõe a ser reconhecida
em sua dignidade;
c. por “comunidade cultural” entende-se um grupo de pessoas que
compartilha as referências constitutivas de uma identidade cultural em
comum, desejando preservá-la e desenvolvê-la.

Ou seja, os direitos culturais devem proteger os direitos de cada


pessoa individualmente ou em grupos sociais, bem como o acesso
cultural e aos recursos necessários, a fim de propiciar a identificação, o
desenvolvimento de visões de mundo e a busca de modos específicos de
vida, principalmente, por meio da participação de todos os indivíduos e
grupos na vida cultural.

5.6 Direitos Autorais – Lei 9.610/98


É o direito do autor, do criador, do pesquisador, do artista, de controlar
o uso que se faz de sua obra. Consolidado na Lei nº 9.610, garante ao
autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.
A nova Lei do Direito Autoral, nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998,
representa um avanço importantíssimo na regulação dos direitos do autor,
em sua definição do que é legítimo o que é crime e quais as sanções a
serem aplicadas aos infratores.
A Lei do Direito Autoral permite a reprodução de uma única cópia, de
pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita pelo mesmo,
sem intuito de lucro. Logo, precisam ser respeitados 3 requesitos: que seja
de 1) pequenos trechos; 2) para uso próprio; e 3) sem fins lucrativos. O
resto é crime passível de punição.
Reprodução é a cópia de um ou mais exemplares de uma obra literária,
artística e científica. Contrafação é a cópia não autorizada de uma obra.
Sendo assim, toda reprodução é uma cópia. E copiar sem autorização
do titular dos direitos autorais e/ou detentor dos direitos de reprodução
constitui contrafação, ato ilícito civil e penal.

130 Cultura Popular


Pirataria editorial é o nome dado à reprodução ilegal de livros pelas
reprografias ilegais, que sonegam impostos e não respeitam a Lei do
Direito Autoral.
Em primeiro lugar, porque a Lei assim o diz e também porque é
apropriar-se do que é do outro. O livro é propriedade intelectual do autor,
que ganha percentual sobre a venda de exemplares de sua obra, e um bem
produzido pelo editor. Fazer cópias de livros sem autorização do autor e
do editor é roubo.
Aquele que reproduz ilegalmente um livro está sujeito, dentre outras
sanções, a (à):
• Pena de reclusão;
• Pagar indenizações;
• Ter os insumos, máquinas e equipamentos utilizados na reprodução
ilegal destruídos, etc.
O editor é a pessoa que assume a responsabilidade de produzir e
distribuir a obra. É a pessoa física ou jurídica a quem se atribui o direito
exclusivo de reprodução da obra e o dever de divulgá-la, nos limites
previstos do contrato da edição.
O Brasil avançou muito, de uns anos para cá, no campo do Direito
Autoral. No caso específico de livros, pressionado pelos autores que
exigiam uma remuneração justa por seu trabalho, e pelos editores, que
investem crescentemente em tecnologia e mão de obra para produzir livros
com qualidade. Reconhecer o direito de quem cria e de quem produz é um
avanço em cidadania e respeito à cultura do nosso país.
O Brasil está acordando para esta luta. No caso de livros, autores e
editores estão-se unidos em entidades para defender o que sabem justo.
A ABPDEA – Associação Brasileira de Proteção dos Direitos Editorias e
Autorias – existe para cumprir esta função.
A ABPDEA está encaminhando cópia deste pequeno manual a todas
as bibliotecas de universidades do país e espera estar esclarecendo as
principais dúvidas quanto à sua luta. Professores, autores, livreiros,
bibliotecários e os próprios alunos são nossos parceiros e contamos com
sua colaboração. A partir daí, a associação vai exercer rigorosamente a
função de fiscalizar e punir a pirataria.
Acontece que, mesmo no campo das obras estéticas, literárias ou
científicas, o Direito Autoral não protege ideias, planos, conceitos,
mas formas de expressão. Como disse, reiteradamente, a 1a Câmara do
Conselho Nacional de Direito Autoral:

As Políticas Públicas e a Cultura 131


Invenções, ideias, sistemas e métodos não constituem obras
intelectuais protegidas pelo Direito Autoral, porquanto a criação do
espírito objeto da proteção legal é aquela de alguma forma exteriorizada.
Assim, obra intelectual protegível, o sentido que lhe dá o art. 5o da Lei
5.988/73, é sempre a forma de expressão de uma criação intelectual e
não as ideias, inventos, sistemas ou métodos.
Segundo Tepedino (2004), A análise dos direitos autorais renderia
volumoso estudo de interessantíssimas questões. Poderíamos ainda,
em enunciação aleatória e exemplificativa, tratar dos titulares dos
direitos autorais, das obras coletivas, dos direitos conexos, dos tratados
internacionais, do sistema de arrecadação e distribuição dos direitos
pecuniários, bem como de diversas questões contratuais, além de
interessantes e atualíssimos julgados.
Na verdade, os direitos autorais estão à nossa volta muito mais do que
costumamos refletir. Em princípio, cada desenho, cada fotografia, cada
filme, programa de televisão ou peça de teatro encontram-se protegidos
por direitos autorais. E neste mundo globalizado que se torna diariamente
mais visual, onde as informações se multiplicam e o crescimento do
entretenimento fez dele uma verdadeira (e gigantesca) indústria, os direitos
autorais tendem a ser mais e mais valorizados. Vivemos a verdadeira
revolução das ideias em que o capital intelectual é o bem mais precioso.
Assim, o advento da internet ajuda a disseminação da cultura, mas
igualmente torna a proteção dos direitos autorais mais difíceis. Nunca
as possibilidades de cópia das obras alheiras foram tão abundantes
nem propiciaram resultados de tanta qualidade. A indústria da música
vem perdendo milhões, anualmente, com a pirataria de CDs e com a
possibilidade de se fazer download de músicas pela internet. O mesmo já
começa a se verificar com os filmes em DVD.

132 Cultura Popular


Diz-se que houve um tempo em que se imaginava, romanticamente,
o direito do autor como o baluarte onde se abrigaria o poeta boêmio de
modo a que pudesse viver de sua doce poesia. Se é que houve de fato
esse tempo, ele já passou. Agora, o que vale é o capitalismo que vem
transformando a arte cada vez mais em comércio. Atualmente, o direito
de autor visa, sobretudo a proteger a empresa, o lucro, o investimento,
embora seja fundamental também para os autores individualmente.
Hoje, discutem-se várias formas de flexibilização dos direitos
autorais. Exemplos disso são o software livre (que vem tirando o sono
de alguns executivos da Microsoft) e o projeto Creative Commons da
Universidade de Stanford, pelo qual criam-se mecanismos de licença por
que o autor indica que sua obra é livre para que seja distribuída, copiada e
utilizada, com a consequente eliminação de intermediários. O que parece
um abandono dos princípios dos direitos autorais revela-se na verdade
uma modernização de conceitos que tende a estimular, de maneira muito
mais efetiva, a disseminação da cultura.

Com a velocidade do mundo moderno, nunca foi tão necessário ter


flexibilização e criatividade. Novas alternativas são indispensáveis e
continuarão a ser quanto mais avanços tecnológicos presenciarmos. Só
assim os direitos autorais seguirão seu caminho de proteção da cultura
para propagação da inteligência humana.
Como relata Dias (2014), ao criar uma obra o Artigo 22, da Lei de
Direitos Autorais (LDA), estabelece aos criadores e, em alguns casos,
aos produtores uma série de direitos de cunho pessoal e econômicos
chamados, respectivamente, de morais e patrimoniais.

As Políticas Públicas e a Cultura 133


Basicamente:

O Direito Patrimonial ou O Direito Moral ou


Econômico de Personalidade
Permite ao titular dos direitos extrair Permite ao autor adotar certas medi-
benefício financeiro em virtude da das para preservar o vínculo pessoal
utilização de sua obra por terceiros existente entre ele e a obra, ou seja,
(pessoas físicas ou jurídicas), ou seja, a qualquer momento o autor tem o
os direitos patrimoniais sobre uma direito de reivindicar a “paternidade”
obra podem ser negociados pelo da obra, de se opor a toda deforma-
autor ou por seus herdeiros, a fim de ção, mutilação ou a qualquer outro
obter alguma vantagem econômica. dano à obra, prejudiciais à sua honra
ou à sua reputação.

Segundo o Artigo 24, da Lei de Direitos Autorais, são direitos morais


do autor:
I. direito de reivindicar a autoria;
II. direito de ter seu nome indicado;
III. direito a conservar a obra inédita;
IV. direito de garantir a integridade da obra;
V. direito de modificar a obra;
VI. direito de retirar de circulação;
VII. direito de acesso a exemplar raro e único.
Assim, caso uma obra tenha sido equivocadamente atribuída a outro
autor, ele pode solicitar a correção e exigir o seu nome ou pseudônimo
na obra, então, sempre que for feita a utilização de uma obra, devemos
vincular a ela o nome do autor. Tal medida impede o que chamamos de
Plágio, ou seja, a utilização de conceitos, obras de outro autor que as
formulou ou criou sem lhe dar o devido crédito. É uma forma de garantir,
também, os direitos culturais, pois permite o reconhecimento dos autores
das obras artísticas.
Diferentemente dos morais, os direitos patrimoniais sobre
determinado bem cultural ou intelectual podem ser transferidos por meio
de contratos, licenças ou cessões a pessoas físicas ou jurídicas. Sendo que
a transferência pode se dar na forma:
1. Total ou parcial;
2. Gratuita ou onerosa;
3. Pelo autor ou sucessores (herdeiros e cessionários);
4. Universal ou singular;
5. Pessoalmente ou por seus representantes.

134 Cultura Popular


No decorrer dos anos, o prazo de proteção das obras amparadas por
Direitos Autorais tendem a diminuir até cair em Domínio Público, ou seja,
transcorrido o seu tempo de proteção, um conjunto de obras culturais,
científicas, tecnológicas, etc. passam a ser de livre uso comercial por
terceiros sem necessidade de pedir autorização ou remuneração ao autor
ou aos titulares.
O tempo de duração da proteção do direito de autor é estabelecido
pela legislação de cada país. No Brasil, o direito de autor sobre uma obra
protegida “caduca” setenta anos após a morte do criador intelectual, mesmo
que a obra só tenha sido publicada ou divulgada após a morte do autor.
No caso de obras coletivas, fotográficas, audiovisuais e pseudônimas, o
tempo também é de setenta anos, porém, contados a partir da primeira
publicação ou divulgação da obra.
Já no caso de obras feitas em co-autoria, o Artigo 42, da LDA,
estabelece que o prazo de duração começa a contar após o falecimento do
último dos co-autores. Assim:

Art 42. Quando a obra literária, artística ou científica realizada em co-


autoria for indivisível, o prazo previsto no artigo anterior será contado da
morte do último dos co-autores sobreviventes. Parágrafo único. Acrescer-se-
ão aos dos sobreviventes os direitos do co-autor que falecer sem sucessores.

De acordo com a Lei de Direitos Autorais, compete ao Estado a defesa


da integridade e da autoria da obra caída em domínio público, neste caso,
o fato do tempo de proteção da obra ter se extinguido não significa que
qualquer pessoa pode fazer o uso que bem entender dela, pois apesar de
tais obras não serem mais amparadas pelos direitos patrimoniais, ainda,
são objeto de direitos morais.

As Políticas Públicas e a Cultura 135


5.7 Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN
O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é
uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, responsável por
preservar os diferentes elementos que compõem a sociedade brasileira.
Tendo como Missão promover e coordenar o processo de preservação
do Patrimônio Cultural Brasileiro para fortalecer identidades, garantir o
direito à memória e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico
do Brasil, a responsabilidade do IPHAN implica preservar, divulgar e
fiscalizar os bens culturais brasileiros, bem como assegurar a permanência
e usufruto desses bens para a atual e as futuras gerações.
A Constituição Brasileira também estabelece que cabe ao poder
público, isto é, União, Estados e Municípios com o apoio da comunidade, a
proteção, preservação e gestão do patrimônio cultural do país. Atualmente,
o IPHAN possui 27 Superintendências (uma em cada Unidade Federativa),
27 Escritórios Técnicos (em cidades com Conjuntos Urbanos Tombados),
e ainda quatro Unidades Especiais: Sítio Roberto Burle Marx (RJ), Paço
Imperial (RJ), Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular (RJ) e
Centro Nacional de Arqueologia (DF).
O IPHAN foi criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº 378, no
governo de Getúlio Vargas e, desde então, vem realizando um trabalho
permanente de identificação, documentação, proteção e promoção
do patrimônio cultural brasileiro. Já em 1936, o então Ministro da
Educação e Saúde, Gustavo Capanema, preocupado com a preservação do
patrimônio cultural brasileiro, pediu a Mário de Andrade a elaboração de
um anteprojeto de Lei para salvaguarda desses bens. Em seguida, confiou
a Rodrigo Melo Franco de Andrade a tarefa de implantar o Serviço do
Patrimônio. Em 30 de novembro de 1937 foi promulgado o Decreto-Lei
nº 25 de 1937, que organiza a “proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional”.
O IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
foi criado com o intuito de proteger: “... os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I. as formas de expressão; 
II. os modos de criar, fazer e viver; 

136 Cultura Popular


III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais; 
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”.
Rodrigo Melo Franco de Andrade contou com a colaboração de
outros brasileiros ilustres como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira,
Afonso Arinos, Lúcio Costa e Carlos Drummond de Andrade, intelectuais
e artistas brasileiros vinculados ao movimento modernista. A Semana de
Arte Moderna de 1922 trouxe à cena cultural novos valores e concepções
estéticas e culturais. O resgate de um Brasil de feição mestiça e apartado
dos padrões europeus deu início a uma nova síntese cultural que procura
abarcar as múltiplas faces da brasilidade para produzir uma cultura e
arte genuinamente nacional. Promoveu-se uma notável ressignificação
da herança cultural, valorizando-a e estabelecendo um dialogo com a
modernidade e com as manifestações e referências populares.
Dentro deste novo cenário, técnicos foram preparados e tombamentos,
restaurações e revitalizações foram realizados, assegurando a permanência
da maior parte do acervo arquitetônico e urbanístico brasileiro; assim
como do acervo documental e etnográfico, das obras de arte integradas
e dos bens móveis. As próximas etapas consistiram na proteção dos
acidentes geográficos notáveis e paisagens agenciadas pelo homem e na
salvaguarda dos bens culturais de natureza imaterial.
Foto: http://www.fcnoticias.com.br/wp-content/uploads/anita-garibaldi-e-josep-garibaldi.jpg

No decorrer desses 77 anos, o conceito de patrimônio cultural


presente, inicialmente, no Decreto-Lei nº25 vem sendo aprimorado e
ampliado. Desde 1988, por exemplo, o artigo 216 da Constituição da
República Federativa do Brasil define patrimônio cultural a partir de suas
formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver; das criações

As Políticas Públicas e a Cultura 137


científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Em seus artigos 215 e 216, a Constituição Brasileira reconhece a
existência de bens culturais de natureza material e imaterial; também,
estabelece outras formas de preservação – como o Registro e o Inventário
– além do Tombamento, que é adequado, principalmente, à proteção de
edificações, paisagens e conjuntos históricos urbanos. Os Bens Culturais
de Natureza Imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da
vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer;
celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas;
e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas
culturais coletivas).
Nesses artigos da Constituição, se reconhecee a inclusão, no
patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade,
dos bens culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira. O Patrimônio  Cultural Imaterial é transmitido de
geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em
função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história,
gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para
promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. É
apropriado por indivíduos e grupos sociais como importantes elementos
de sua identidade.
A administração desses patrimônios é feita por meio de diretrizes,
planos, instrumentos de preservação e relatórios que informam a situação
dos bens, o que está sendo feito e o que ainda deve ser realizado.
São mais de 20 mil prédios tombados, 83 centros e conjuntos urbanos,
12.517 sítios arqueológicos cadastrados, além de mais de um milhão
de objetos, cerca de 250 mil volumes bibliográficos, documentação e
registros fotográficos e cinematográficos em vídeo.

Para melhor aprofundar na legislação sobre o papel do


IPHAN leia as os Decretos n° 3.551, de 4 de agosto de
2000 e o Decreto-lei n° 25, de 30 de novembro de 1937.

138 Cultura Popular


O Iphan está presente em todos os estados e alguns municípios
brasileiros, distribuídos em 27 Superintendências e 25 Escritórios Técnicos
espalhados pelo país, além de quatro Centros Culturais. A administração
central funciona em Brasília e no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de
Janeiro.

5.8 Na prática
1) Descreva qual a importância do Plano Nacional de Cultura.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

2) Cite três competências do Estado com relação ao Plano Nacional


de cultura.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

3) Qual a importância dos Direitos Humanos para a cultura?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

4) O Que é a declaração de Friburgo?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
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_______________________________________________________
_______________________________________________________

As Políticas Públicas e a Cultura 139


5) Qual a diferença de Direito Patrimonial e Direito Moral?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

6) O que é o plágio?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

7) Qual a finalidade do IPHAN?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
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_______________________________________________________

8) Na sua cidade há algum patrimônio tombado pelo IPHAN?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

5.9 O que aprendemos?


Nessa unidade, foram trabalhados as legislações e órgãos responsáveis
pelo zelo e permanências do patrimônio cultural do nosso país. Uma vez
que, precisamos sempre preservar nossas raízes e nossa história para o
presente e as gerações futuras.
Nesta unidade você aprendeu que:
• Existem órgãos e legislações responsáveis pelo cuidado do
patrimônio;
• Há políticas públicas para tratar do patrimônio cultural;

140 Cultura Popular


• O Plano Nacional de Cultura serve para direcionar os caminhos da
preservação e permanência da cultura;
• O IPHAN é o órgão responsável pelos cuidados e tombamentos
dos patrimônios;
• Os direitos autorais abarcam também o domínio público.

5.10 Referências
BRASIL. Plano Nacional Cultural. Disponível em: <www.cultura.
gov.br/pnc>

CHAVES, Antônio. Direito de autor: princípios fundamentais. Rio de


Janeiro: Forense, 1987.

COELHO, Teixeira. Direito Cultural no século XXI: expectativa e


complexidade. In. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC – n. 11
(jan./abr. 2011) – São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2011.

DECLARAÇÃO DE FRIBURGO SOBRE DIREITOS CULTURAIS.


Disponível em: <http: http://www.unifr.ch/iiedh/assets/files/
Declarations/port-declaration2.pdf>. Acesso: 04/ago/2014

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.


Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_
bib_inter_universal.htm >. Acesso: 04/set/ 2014.

DIAS, Welbia Carla. Cultura e Cidadania na Perspectiva dos


Direitos Humanos. UFG: Goiânia, 2014

FERREIRA, Helgrim. Você sabe o que é IPHAN? Disponível em:


<http://obrasilnamala.blogspot.com.br/2013/11/voce-sabe-o-que-e-
iphan.html>. Acesso: 04/ago/2014

FILHO, Francisco Humberto Cunha. Direitos Culturais. Disponível


em: <http://www.direitosculturais.com.br/index.php>. Acesso: 04/
set/2014.

 Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível


em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10
&sigla=Institucional&retorno=paginaIphan> Acesso: 04/ago/2014

As Políticas Públicas e a Cultura 141


Iphan É Responsável Por Preservar, Divulgar E Fiscalizar Os
Bens Culturais Brasileiros. Disponível em: <http://www.brasil.gov.
br/cultura/2009/11/iphan-e-responsavel-por-preservar-divulgar-e-
fiscalizar-os-bens-culturais-brasileiros> Acesso: 04/ago/2014

LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 - PRESIDÊNCIA


DA REPÚBLICA. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso: 04/ago/2014

MINC. MINISTÉRIO DA CULTURA. Disponível em: <http://www.


cultura.gov.br>. Acesso: 04/ago/2014

PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS.


Disponível em: <http://www.cne.pt/sites/default/files/dl/2_pacto_
direitos_civis_politicos.pdf>. Acesso: 04/set/ 2014.

PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS,


SOCIAIS E CULTURAIS. Disponível em: <http://www.oas.org/
dil/port/1966%20Pacto%20Internacional%20sobre%20os%20
Direitos%20Econ%C3%B3micos,%20Sociais%20e%20Culturais.
pdf> Acesso: 04/set/ 2014.

PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos Autorais. Rio de


Janeiro: FGV Jurídica, 2009.

PEDRO, Jesús Prieto de. Direitos Culturais, o filho pródigo dos


Direitos Humanos. In. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC – n.
11 (jan./abr. 2011) – São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2011.

PORTAL DA CULTURA. Direitos autorais - Site governamental.


Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/categoria/politicas/
direitos-autorais-politicas/>. Acesso: 04/ago/2014

TEMPEDINO, Gustavo. Breves Considerações Acerca Da Lei


Brasileira De Direitos Autorais. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ: Faculdade de Direito, Rio de Janeiro, 2004

142 Cultura Popular


Anotações

As Políticas Públicas e a Cultura 143


Atenção: Até onde e permitido pela aplicação da lei, em
nenhuma hipótese a Faculdade Projeção e os autores envolvidos
na produção desta obra serão responsáveis por danos incidentais,
consequentes, especiais, indiretos, punitivos ou lucros perdidos
por imperícia técnica na execução dos itens relatados nesta obra.

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