You are on page 1of 12
again 1990 ‘unui: Ea Roi Urine toate parte dee os pe er reproturid por ‘jcr mason autrragh esr do ioe efebore, Hen Loy A revolugho urbane/ Henri Lefebvre: lead de Sergio Mains. Belo Horizonte a UFMG, 1999. 178p,- (Humans) ‘Tradugdo de: La revolution wrbaine 1. Sociologia urbana 2. Feonomia turban 3. Unbunizagdo 1 Matns, Sérgio UThulo ML Série pp: 3073, CBU, 3641225 Catalogaeao na publicagio: Divisio de Planejamento, ‘e Divulgacie da Libliotcs Universitaria - UEMG ISBN 85-70411952 uprronagao DE Texto “Au Mala de Moraes Ss a | ap Marco lio sre fto de Rabon Mating g (premade de mz) IVISKO DEEPROWAS an Valero Fico Nari Stl Sous cs RODUGAO GHAFICA E FORAIATAGRO ‘Waren de Mite Sano ‘hv, Anti Carlos, 6627 Ala ditt esiblotes Cena - Tere ‘CaspsPampulha «31270901 ~ Belo HonromterMG "Tale I) 3499-4680 Fase (3D ODT sna Hdiors@bu.uibe upwards ie | LUNIVERSIDADE FADHRAL DE AIINAS GRASS ' Telos: A Lis Ania Gazzala Visser: Marcos rst Viana CCoNSHIO EDITORIAL ees Laie Pao ices, Baie Resende Dann Caos Annis Ue ano Helo aa Mgt Sting it Ovo ands Aa, Nar Helens Danascon esha gale Hone Cans Guna, Sans Mera lal inc, Wander Ate Minds Pee) Cfationa Machida Conti, Lonard Bact Casa, Laci fmt ets ‘hm sams, Marts Aguero Stor Pas, Aart dan Gras Sane "vars, haurin Nunes Via, Newton Birt de Soe, Reina ‘arinino Marys, Redo Canta moni Pid NIVEIS.E DINENSOES (0 fendmeno urbano, tal como se oferece & anilise atual- mente (ou, se se prefere, tal como resiste a ela) depende de nogdes metodologicamente jé conhecidas: dimensdes, niveis. Essas nogées permitem introduzir uma certa ordem nos con- fusos discursos concernentes & cidade e a0 urbano, discursos que misturam textos contextos, niveis € dimensdes. Desses conceitos, pode-se dizer que permitem estabelecer cédigos distintos, justapostos ou superpostos, para decifrar a men- sagem (0 fendmeno urbano considerado como mensagem). Ou ainda, que sto Iéxicos (leituras) do texto ¢ da escrita urbanos, «saber, do plano, de um lado, e, do outro, das “coisas urbanas", sensiveis, visiveis, legiveis no terreno. Pode-se dizer que ha uma leitura no nivel geogrifico, uma leitura econdmica, uma leitura sociol6gica etc., do texto urbano? Sem divida. F evi« dente que © ordenamento dos fatos por tais conceitos nao exclui outros discursos, outras classificagdes, outras leituras, ‘outras seqiiéncias (geopolitica, organizacional e adminis- trativa, tecnolégica etc.). Com relagio ao problema da con= vergéncia, j4 tomamos posi¢to precedentemente, ao menos provisoriamente. Diacronicamente, no eixo espago-temporal, indicamos forte= mente (sem ir até 0 corte absoluto) os niveis aleangados pela Formagao econdmica e social, ou, como freqiientemente se diz, empregando-se um termo um pouco vago, pela “socie- dade”. Em resumo, o rural, o industrial, 0 urbano, suceclem-se. Trata-se agora de um quadro sincronico que se refere a este Ultimo termo. Neste quadro, distinguiremos um nivel global, que assinalaremos como G; um nivel misio, que indicaremos por M; e um nivel privado (P), 0 do habitar, No nivel global se exerce o poder, o Estado, como vontade € representagilo, Como vontade: o poder de Estado 08 que detém esse poder tém uma estratégia ou estratégias politicas. Como representaco: os homens de Estado tm uma concepsao politica ideologicamente justificada do espago Cou uma auséncia de concepao que deixa o campo livre aos que propéem suas imagens particulares do tempo e do espago). Nesse nivel entram em aco, com estratégias, ldgicas, das quais pode-se dlzer, com algumas reservas, que sto "I6gicas de classe", pois em geral consistem numa estratégia levada fs suas tiltimas conseqiiéncias. Nesse sentido, com algumas reservas, pode-se falar de uma “s6cio-l6gica” e de uma “ideo-l6gica”. O poder politico dispde de instrumentos Cideol6gicos e cientificos). Ele tem capacidades de ago, podendo modiificar a dlistribuigao dos recursos, dos rendimentos, do “valor” criado pelo trabalho produtivo (ou seja, da mais-valia). Sabe-se que nos paises capitalistas atualmente existem duas estratégias principais: © neoliberalismo (que permite o maximo de iniciativa 4 empresa privada e, no que conceme ao “urbanismo", aos promotores imobilidrios e aos bancos) ¢ o neodirigismo (que acentua uma planificagao, pelo menos indicativa, que, no dominio urba- nistico, favorece a intervengao dos especialistas ¢ dos tecno- cratas, do capitalismo de Estado). Sabe-se também que existem compromissos: 0 neoliberalismo deixa algum lugar ao “setor” pliblico e as agdes concertadas clos servigos de Estadio; © neodi- rigismo apenas prudentemente apodera-se do “setor privado”. Sabe-se, enfim, que setores e estratégias dliversificados podem coexistir: tendéncia ao ditigismo, e até A socializagiio na agricul- tura — liberalismo no imobilidrio —, planificagio (prudente) na inckistria, controle circunspecto dos movimentos de fundos etc, Esse nivel global é 0 das relacdes as mais gerais, portanto, «as mais abstratas e, no entanto, essenciais: mercado de capitais, politica do espaco, Ele nio deixa de reagir mais e melhor no pratico-sensivel € no imediato. Esse nivel global, 20 mesmo tempo social (politica) e mental (légica e estratégia) projeta-se numa parte do dominio edificado: edificios, monumentos, projetos urbanfsticos de grande envergadura, cidades novas. Projeta-se também no dominio nao edificado: estradas e auto- estradas, organizagao geral do trinsito e dos transportes, do tecido urbano € dos espacos neutros, preservagio da “natu- reza", sitios etc. Esse é, portanto, o nivel do que chamaremos © espago institucional (com seu corotirio: © urbanism i tucional). O que supde senZio um sistema, ou sistemas de agdes bem explicitos, a0 menos uma acio sistematizada (ou ages ditas “concertadas”, conduzidas sistematicamente). Por si 86, a existéncia de tais I6gicas, de tais sistemas unitirios no nivel do Estado, mostra que a velha separagio “cidade- campo” esta a caminho da desaparigio. Isso nao significa que ela esteja superada. Pode-se mesmo perguntar se 0 Estado, que pretende assumir essa missio, € capaz de levé-la a contento. A divisio social do trabalho, a que passa pelo mercado (de produtos, de capitais e do proprio trabalho), nao parece mais funcionar espontaneamente. Ela invoca 0 controle de uma poténcia superior de organizagio: o Estado. Inversamente, essa poténcia, instituico suprema, tende a perpetuar suas prOprias condigdes, a manter a separagao do trabalho manual © do trabalho intelectual, como a dos governados e dos gover- nantes e, talvez, a separacio entre a cidacle e o campo. Pode-se entio perguntar se aqui ndo se insinuam contradigdes novas no Estado. Enquanto vontade, o Estado nao vai transcender separagao cidade-campo? Isso o levaria a fortalecer os centros de decisao até transformar os nticleos urbanos em cidadelas do poder. Simultaneamente, ele nao vai representar a urbit= nizagao € o planejamento geral do territrio cle maneira descen= \ralizada e, desde entio, separi-los em zonas das quais algumas serio destinadas 2 estagnago, ao deperecimento, ao retorno a “natureza”? © Estado organizaria, assim, para utiliziclo, desenvolvimento desigual num esforgo em dirego 4 homo= geneidade global. © nivel M (misto, mediador ou intermediirio) ¢ 0 nivel especificamente urbano. E o nivel da ‘cidade”, na acepgio corrente do temo. Suponhamos que o pensamento opere destacando (retirando), do plano de uma cidade (muito grande para que essa abstracdotenha um sentido), de um lado 0 que depende do nivel global, do Estado e da sociedade, a saber, 08 edificios, tais como ministérios, prédios piblicos, cates drais, e, de outro lado, 0 que depende do nivel P, os imévels privados. Restara, no plano, um dominio edifieado @ oulie nto edificado: ruas, pragas, avenidas, edificios pOblleos como os das prefeituras, as igrejas parcquials/asiaaaa Retirou-se, em pensamento, destacando-se do gh 7 Wie: depende diretamente das instituigdes e instincias superiores, © que persiste sob 0 olhar da reflexao conserva uma forma relacionada com 0 sitio (0 meio imediato) e com a situagio (o meio’distante, condigdes globais). Esse conjunto especifi- camente urbano apresenta a unidade caracteristica do “real” social, 0 agrupamento: formas-fungdes-estruturas. A esse respeito, pode-se falar de duplas funcdes (na cidade da cidade: fungdes urbanas relacionadas ao territério circundante € fungdes internas), assim como de estruturas duplas (por exemplo, as dos “servigos", do comércio, dos transportes; uns a *servico” da vizinhanga: aldeias, burgos, cidades menores € outros a servico da vida urbana propriamente dita). Chegamos ao nivel P, considerado (equivocadamente) modesto, senao negligencidvel. Aqui, s6 o dominio edificado pode ser consicerado: os iméveis (habitagdes: grandes prédios de apartamentos, casas, acampamentos e favelas). Sem medo de recair numa controvérsia jf longa, colocaremos fortemente em oposicao o babitare o habitat. Este tiltimo termo designa um “conceito”, ou melhor, um pseudoconceito caricatural, No final do século XIX, um pensamento (se & possivel dizer) urbanistico, tio forte quanto inconscientemente redutor, pos de lado ¢ literalmente entre parénteses, 0 habitar, Ele concebeu @ habitat, funcio simplificada, restringindo o “ser humano” a ns atos elementares: comer, dormir, reproduzir-se, Nem a0 menos se pode dizer que os atos funcionais elementares sejam animais. A animalidade tem uma espontaneidade mais complexa. Nao se pode lidar com o nivel P opondo sumaria- mente o “microssocial”, ou o molecular, a0 “macrossocial”, grandes agregados ou grandes estruturas. Ele naio € somente © lugar de “agentes” menores, econdmicos e sociolégicos, tais ‘como a familia, 0 grupo de vizinhos € das relagées “primarias” (ermos empregacos pela ecologia ¢ pela escola americana dita de “Chicago"). Precisamente, 0 habitat, ideologia e pritica, rechagou ou recalcou 0 babitar na inconsciéncia. Antes do habitat, o habitar era uma pritica milenar, mal expressa, insu- ficientemente elevada 2 linguagem € a0 conceito, mais ou ‘menos viva ou degradada, mas que permanecia concreta, ou seja, 20 mesmo tempo funcional, multifuncional, transfun- cional. No reino do habitat, desapareceu do pensamento deteriorou-se fortemente na pritica o que fora o habitar. Foi preciso a reflexio metafilos6fica, de Nietzsche ¢ de Heidegger, para tentar a restituiglo desse sentido: 0 babitar. O habitat, ideologia e prética, chegava inclusive a reprimir as caracteris- ticas elementares da vida urbana, constatadas pela ecologi: mais sumiria: a diversidade das maneiras de viver, dos tipos urbanos, dos “patterns”, modelos culturais € valores vinculados As modalidades ou modulacdes da vida cotidiana. O habitat foi instaurado pelo alto: aplicagao de um espaco global homo- géneo e quantitative obrigando o “vivido" a encerrar-se em caixas, gaiolas, ou “maquinas de habitar’. Ainda que nao se possa assimilar 0 babitarao inconsciente dos psicélogos e psicanalistas sem reservas nem precaugdes, a analogia é certa. A tal ponto que o desconhecimento do habitar pode servir de ilustraglo A teoria do inconsciente. Para reencontrar o habitar ¢ seu sentido, para exprimi-los, 6 preciso utilizar conceitos € categorias capazes de it aquém do “vivido" do habitante, em dirego a0 nto-conhecidlo e 20 desco- nhecido da cotidianidade — e além, em directo a teoria gera, ilosofia ¢ & metafilosofia, Heidegger assinalou o caminho dessa restituigio a0 comentar as palavras esquecidas ou incom preendidas de Hélderlin: “O homem habita como poeta.” Isso quer dizer que a rela¢io do “ser humano” com a natureza € com sua prépria natureza, com o “ser” e seu proprio ser, reside no habitar, nele se realiza € nele se 1é. Em que pese essa critica "poética” do “habitat” € do espago industrial poder ser considerada como uma critica de direita, nostalgica, “passia- dista”, ela nao deixou de inaugurar a problematica do espago. ser humano nio pode deixar de edificar e morar, ou seja, ter uma morada onde vive sem algo a mais (ou a menos) que cle proprio: sua relaglo com o possivel como com o imagi nario. A filosofia ia buscar essa relacaio além ou aquém do real’, do visivel ¢ legivel. Ela acreditava encontri-ta transcendéncia ou numa anéncia, uma € outra veladas. Ora, € por sua evidéncia que essa relagio é velada, Basta olhar para que o véu caia. Essa relagio reside na morada no habitar, do templo e dos palicios 4 choupana do lenhador, a cabana do pastor. A casa e a linguagem sto os dois aypeetos complementares do “ser humano". Acrescentemos: 0 diseuiso as realidades urbanas, com suas diferengas ¢ relagdes, sere ¢/ou evidentes, O “ser humano” (nao di

You might also like