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Dicionário da
Civilização Grega
Tradução:
Carlos Ramalhete
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Mossé, Claude, 1924-
M87d Dicionário da civilização grega / Claude Mossé;
tradução Carlos Ramalhete, com a colaboração de
André Telles. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004
mapas ;
CDD 938.003
04-1122 CDU 94 (38) (038)
NOTA PRELIMINAR NOTA PRELIMINAR
“
C ivilização” vem do latim civis, cidadão. Em grego, “cidadão” se diz polites,
aquele que pertence à pólis, à cidade-estado, de onde vem o termo “política”. Basta
dizer que a civilização grega é antes de mais nada civilização da pólis, civiliza-
ção política. Daí a escolha deliberada dos temas estudados neste dicionário,
orientados antes de tudo pelo que constituiu a especificidade da civilização
grega: a dimensão política presente não apenas no nível dos acontecimentos,
mas igualmente no plano religioso e artístico e nos diversos domínios da vida
intelectual. Quando Aristóteles definiu o homem grego como um zoon politi-
kon, um “animal político”, foi precisamente esta realidade que ele expressava.
Civilização da pólis, portanto, acima de tudo. Mas também, segundo nos-
sas fontes e em função desse primado da vida política, civilização de uma pólis
que durante dois séculos manteve a hegemonia, apesar de ser apenas uma
dentre as centenas de cidades-estado que compunham o mundo grego: Atenas.
É bem verdade que a dominação exercida por Atenas sobre o mundo grego é
relativamente tardia, já que começou no raiar do século V a.C.* A epopéia e o
pensamento filosófico e científico nasceram na Jônia, na Grécia asiática, onde
inicialmente se produziu o despertar da civilização depois dos “séculos obs-
curos”.
O período denominado “arcaico” conheceu um notável impulso da arte e
da poesia, tanto na Grécia ocidental, nascida da expansão dos séculos VIII-VII,
quanto nas ilhas do mar Egeu. Foi em Atenas, porém, que se estabeleceu a
democracia, regime político original no qual ainda hoje buscamos inspiração,
ainda que nossa democracia seja diferente da dos atenienses. Foi também
Atenas que se tornou o centro incontestável da vida literária e artística e do
movimento das idéias nos dois séculos do apogeu da civilização grega. Daí o
lugar privilegiado atribuído a ela nesta obra, escolha deliberada que rejeita
antecipadamente a acusação de “atenocentrismo”.
* Como todas as datas mencionadas neste dicionário referem-se ao período antes de Cristo,
doravante será omitida a abreviatura “a.C.” (N.E.B.)
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que se torna senhor da cidade ao prometer uma nova divisão das terras à custa
daqueles, minoritários, que detinham a maior parte. Enquanto isso, em outros
lugares a tirania era evitada — ou adiada, como em Atenas — por um esforço de
instituição de uma legislação destinada a diminuir as desigualdades ao criar
leis comuns a todos e instituições apropriadas a fazê-las respeitar.
As tiranias foram relativamente duradouras, mas acabaram por desapare-
cer no fim do século VI, enquanto eram instauradas instituições que diferiam
de uma cidade para outra, mas que mesmo assim apresentavam traços co-
muns: magistraturas eletivas e freqüentemente anuais, um ou mais conselhos,
encarregados de submeter as decisões comunais a uma assembléia dos mem-
bros da comunidade cívica, que por vezes apenas as aprovava ou, como em
Atenas após as reformas de Clístenes, podia discuti-las e emendá-las.
Foi esse mundo de cidades-estado livres e autônomas que enfrentou, no
início do século V, a ameaça persa. As Guerras Médicas, ou Medas, constituem
um momento essencial na história do mundo grego. Afinal, desse confronto
nasceriam a hegemonia ateniense e a civilização clássica estreitamente asso-
ciada a ela. Desde meados do século VI, os persas tratavam de submeter a seu
domínio os países situados na vasta região que vai do planalto do Irã às
margens do Mediterrâneo. A Mesopotâmia, a Ásia Menor e depois o Egito
caíram em suas mãos, assim como as cidades-estado gregas, que haviam bri-
lhado durante dois séculos e visto o nascimento do pensamento científico e
filosófico. Na aurora do século V, algumas dessas cidades, como Mileto, revol-
taram-se e apelaram aos gregos da Europa. Apenas os atenienses responde-
ram a esse apelo, participando portanto da tomada e do incêndio de uma das
capitais reais, Sardes. Uma vitória sem futuro, mas usada por Dario como
pretexto para lançar em 490 uma expedição contra Atenas, que terminou em
desastre para o corpo expedicionário persa face aos hoplitas atenienses na
planície de Maratona. Dario morto, seu filho Xerxes retomou o projeto, em
escala muito maior, unindo à expedição marítima um gigantesco exército de
mercenários recrutados em todas as províncias do império. Foi esse exército
que transpôs o desfiladeiro das Termópilas e tomou a Acrópole de Atenas,
abandonada por seus habitantes a conselho de Temístocles. Fora Temístocles
a dotar a cidade de uma frota de guerra, a qual esmagou a frota persa na
investida de Salamina em 480, forçando o inimigo a bater em retirada sob os
olhos de Xerxes. No ano seguinte os gregos, sob o comando do rei espartano
Pausânias, venceram, em Platéia, contingentes persas que haviam permaneci-
do na Grécia. Para a maioria deles, especialmente para os espartanos, hostis às
expedições marítimas, a guerra terminara. Os atenienses, entretanto, não
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viam assim, e tendo constituído com os gregos das ilhas e do norte do Egeu
uma aliança, a Liga de Delos, trataram de libertar do jugo persa as cidades
gregas da Ásia e cooptá-las. Dessa aliança nasceria o império ateniense. Encar-
regando-se da defesa comum, os atenienses exigiram dos aliados o pagamen-
to de um tributo anual que alimentava o tesouro da liga, inicialmente deposi-
tado em Delos e, a partir de 454, em Atenas. Esse tributo serviria para a
manutenção de uma grande frota, mas permitiu também a Péricles, já o
político mais importante de Atenas, fazer da cidade, especialmente de sua
Acrópole, uma maravilha arquitetônica, enquanto Atenas se tornava um cen-
tro da vida intelectual e artística para o qual convergiam sábios, filósofos e
artistas de todo o mundo grego. Esta grandeza, contudo, tinha o seu revés.
Atenas exigia cada vez mais de seus aliados, e não hesitava em recorrer à força
para manter os recalcitrantes na aliança. Guarnições atenienses foram estabe-
lecidas no território das cidades aliadas, e lotes de terra ali conquistados eram
distribuídos a esses soldados. Magistrados atenienses exerciam uma vigilân-
cia estreita sobre a vida política das cidades do império, e por toda parte
Atenas incentivava a instauração de regimes democráticos à imagem do seu.
Péricles justificava essa hegemonia com a superioridade do sistema ateniense:
“Em resumo, ouso dizer, nossa cidade, em seu conjunto, é uma lição viva para
a Grécia.”
Esse discurso foi pronunciado por Péricles quando, havia já um ano, Ate-
nas e seus aliados enfrentavam a liga dos Estados do Peloponeso reunidos em
torno de Esparta. A Guerra do Peloponeso, iniciada em 431, destruiria esta
hegemonia aparentemente invulnerável. Embora os atenienses tenham per-
manecido por muito tempo os senhores do mar, não conseguiram impedir os
lacedemônios e seus aliados de todos os anos invadirem o território ático,
vítima de seguidas devastações. Um armistício firmado em 421 pôs fim provi-
soriamente às operações, mas a guerra foi reiniciada assim que os atenienses
tentaram a desastrosa expedição à Sicília. Dessa vez, graças aos subsídios per-
sas, os peloponésios puderam reunir uma frota comparável à ateniense, e foi
no mar que os atenienses sofreram a derrota que levou ao fim de seu império.
Logo depois do desastre da Sicília os adversários da democracia haviam, uma
primeira vez, tomado o poder durante alguns meses, em 411. Mas os democra-
tas, especialmente os soldados e marinheiros da frota fizeram a tentativa ma-
lograr. Uma segunda vez em 404, quando a frota lacedemônia estava ancorada
diante do Pireu, os oligarcas apoderaram-se da cidade e fizeram o terror reinar
por vários meses. Em outra ocasião ainda, os democratas conseguiram expul-
sá-los da cidade e restabelecer o regime democrático.
14 INTRODUÇÃO
E DE SEUS CORRELATOS
ARISTIDES Temístocles
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16 LISTA DE ENTRADAS DE VERBETE E DE SEUS CORRELATOS
18 LISTA DE ENTRADAS DE VERBETE E DE SEUS CORRELATOS
EUPÁTRIDAS Areópago