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A SOBERANIA DE DEUS

Por Rodrigo Gonçalez

Texto base: “​Lembrai-vos disto e tende ânimo; tomai-o a sério, ó


prevaricadores. Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu
sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim;
que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade,
as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá
de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o
Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu
também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei​” (​Isaías
46.8-11)​​.

EXÓRDIO

Umas das doutrinas menos pregadas nos púlpitos das nossas igrejas é a
Doutrina da Soberania de Deus​​, talvez a mais importante doutrina
revelada nas Sagradas Escrituras. Muito por falta de conhecimento, outras
vezes por medo de não serem bem aceitos e entendidos, ou por precaução
para com os seus próprios ministérios, os homens ordenados a pregar não o
fazem completamente ou em parte.

Porém, em toda a Escritura Deus se revela ao homem pecador como


Soberano, eterno Criador dos céus e da terra, que possui tudo e todos sob o
seu domínio. O nosso Deus decide a sorte que é lançada (​Provérbios 16.33​​)
e também inclina o coração do Rei conforme lhe apraz (​Provérbios 21.1​​).
Aliás, “​É ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece
reis… o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens​” (​Daniel 2.21,
4.17​​). Um Deus que não é soberano, que está sujeito às atitudes humanas e
que abandonou a história, não corresponde ao Deus que se revelou por
intermédio do Senhor Jesus Cristo.

Se negamos a soberania de Deus, negamos ao Senhor Jesus Cristo, negamos


que ele é o Rei do reis e Senhor dos senhores, negamos a nossa salvação e de
fato negamos a fé.

Para que entendamos como Deus exerce a sua soberania pessoalmente na


história, vamos expor esse pequeno texto do profeta Isaías, o filho de Amós.
Isaías era um cidadão de Jerusalém altamente estimado, que desfrutava do
acesso à corte real, e era um conselheiro de confiança do Rei Ezequias. Seu
ministério se estendeu do ano da morte do Rei Uzias em 740 a.C. (senão
antes) até o reinado do idólatra Rei Manassés, em cuja perseguição ele foi
provavelmente martirizado. A tradição conta que ele foi morto serrado ao
meio (Hebreus 11.37). Aparentemente, não pregou publicamente depois que
Manassés subiu ao trono em 698 a.C., mas confirmou sua mensagem à forma
escrita preservada nos capítulos de 40 a 66.
1. O QUE DEUS DETERMINOU, ELE IRÁ CUMPRIR.

Quando Ele diz “​eu sou Deus, e não há outro… não há outro semelhante a
mim...”​ , Deus está reafirmando a sua plena e completa autoridade individual,
intrínseca e particular. Ele não divide a sua glória com ninguém. Ao mesmo
tempo, Ele está afirmando a veracidade e certeza de suas palavras, que se
cumprirão absolutamente. Não há espaço para dúvidas, questionamentos,
indefinições. Ele é Deus, e o que Ele decretou vai acontecer.

Nestes versículos (e em outros anteriores), Deus está reafirmando a sua


promessa de que o povo de Israel seria invadido por um exército inimigo, e
após essas invasões seria exilado em outra nação; porém, após um período
certo de tempo, Ele haveria de levantar um libertador para o povo de Israel,
então exilado na Babilônia pela constante desobediência. Jerusalém e Judá
seriam completamente destruídas, muitos seriam levados cativos e apenas um
remanescente pobre seria deixado na cidade. Daniel e seus três amigos são
alguns deles que foram para o exílio babilônico.

O Senhor reitera seu aviso por meio do versículo em que diz por meio do
profeta: “​Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o
Senhor, faço todas estas coisas​” ​(Isaías 45.7)​​.

Mas, por quê Deus avisou sobre a destruição e de fato o fez? Por causa do
pecado consciente e constante do povo de Israel, a saber, pelo menos:
idolatria e assassinato de pessoas inocentes (ver II Reis 21:10-16);
práticas do mal (ver II Reis 24:18-20); ​ouvidos fechados à voz de Deus
(ver Jeremias 3:13); ​zombarias e desprezo para com os profetas de
Deus (ver II Crônicas 36:15-17); ​desonestidade, injustiças para com os
pobres, assassinatos, transgressões do Sábado, perseguições aos
verdadeiros profetas de Deus e cultos praticados ao deus sol
(Jeremias 9:14; 17:19-27; 22:1-5; Ezequiel 8:1-18).

O exército babilônico fez três grandes e devastadoras incursões sobre


Jerusalém: 606, 597 e 586 a.C. Ou seja, em vinte anos Judá e Jerusalém
foram invadidas e destruídas completamente. Quase um século após a
profecia do profeta Isaías!

O exílio do povo de Israel na Babilônia possui duração exata, determinada por


Deus: ​70 anos (Jeremias 25.11)​​. Então, nos capítulos 45 e 46 de Isaías,
Deus promete levantar um libertador, e este será ​Ciro, o Persa. Um homem
ímpio, que não conhece ao Senhor, conforme bem descrito em ​Isaías 45.4​​,
mas que ainda assim levaria o sobrenome de “Ungido”.

Ciro (o Grande) assumiu o trono em 559 a.C. Ele foi criado por um pastor
depois que o seu avô, Astiages, rei dos Medos, ordenou que ele fosse morto.
Aparentemente, Astiages havia sonhado que Ciro o sucederia como rei antes
da morte do monarca. O oficial encarregado da execução, ao invés de
assassiná-lo, levou o menino para as colinas e o entregou aos pastores.
Quando adulto, Ciro organizou um exército persa (até então um povo
tributário dos Medos) e se revoltou contra o seu avô e pai (Cambises I).

Em 539 a.C., Ciro conquistou a Babilônia (aproximadamente 150 anos após a


profecia de Isaías!). Em uma noite de 5/6 de outubro de 539 a.C., Ciro
acampou em volta da Babilônia com seu exército. Enquanto os babilônicos
festejavam, Ciro desviou as águas do Rio Eufrates. Eles atravessaram o rio
com a água na altura da cintura e entraram sem lutar, visto que os portões
estavam abertos. Em seguida, os registros bíblicos informam que Ciro
ordenou que os Judeus voltassem à Palestina (Esdras 1), pondo fim ao
período do cativeiro Babilônico. Ciro permitiu que os judeus exilados
voltassem e reconstruíssem o templo em Jerusalém (2 Crônicas 36.22-23;
Esdras 1.1-4). Ciro também ofereceu aos judeus uma concessão real para a
reconstrução do templo (3.7).

2. A SOBERANIA DE DEUS ENGLOBA DOMÍNIO DA HISTÓRIA.

Quando Deus afirma expressamente “​que desde o princípio anuncio o que há


de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam”,​ ele
não está simplesmente querendo dizer que Ele, por ser Deus, pode prever o
futuro por causa da sua onisciência, ou seja, porque Ele simplesmente
conhece todas as coisas. Vai muito além disso!

Se Ele anuncia o futuro, foi porque Ele determinou o futuro desde a


eternidade, segundo o bom conselho da sua vontade, que é exatamente o que
o apóstolo Paulo afirma em ​Efésios 1.11​​. Essa assertiva é confirmada pela
posterior afirmação “​que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda
a minha vontade​”. Ou seja, tudo o que Deus decretou, Ele irá cumprir. Isso
não depende em absolutamente nada das circunstâncias em que estão
inseridas a sua criação. Não depende de pensamentos ou atitudes humanas.
Uma vez que Ele determinou, irá acontecer segundo o seu conselho, segundo
a sua sempre perfeita, boa e agradável vontade.

A Soberania de Deus engloba domínio. Não o domínio do homem, mas o


supremo, eterno e glorioso domínio de Deus.

Por isso, confiamos que os decretos de Deus não se atrasam, nem se


adiantam. Tudo ocorre no tempo ​kayrós de Deus, ou seja, no tempo oportuno
e muito bem determinado. Essa é a expressão utilizada pelo Senhor Jesus
segundo relatada pelo evangelista Marcos, por exemplo, para dizer que sua a
encarnação havia ocorrido no tempo determinado e oportuno de Deus:
“​Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o
evangelho de Deus, dizendo: ​O tempo está cumprido,​ e o reino de Deus
está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”​ (​Marcos 1.14,15​​).

3. A SOBERANIA DE DEUS GOVERNA OS MAIS APARENTES E


INSIGNIFICANTES DETALHES.

Neve, chuva, frio, calor e vento, todos estes são obra de Deus. Então, quando
Jesus se encontra no meio de uma tempestade furiosa, ele simplesmente fala:
“​Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança​”
(​Marcos 4.39​​). Não há vento, nem tempestade, nem furacão, nem ciclone,
nem tufão, nem monção, nem tornado sobre o qual Jesus não possa dizer:
“​Aquieta-te​”, e tal fenômeno não obedeça. O que significa que, se tais eventos
ocorrem, é a vontade de Deus que ocorram. “​Sucederá algum mal na cidade,
sem que o Senhor o tenha feito?​” (​Amós 3.6​​).

E quanto aos outros sofrimentos desta vida? “​E disse-lhe o Senhor: Quem fez
a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?
Não sou eu, o Senhor?​” (​Êxodo 4.11​​). E Pedro disse aos santos sofredores na
Ásia Menor: “​Que aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiem
suas almas a um Criador fiel enquanto fazem o bem​” (​1Pedro 4.19​​). “​É
melhor sofrer por fazer o bem, se é que isso deve ser a vontade de Deus, do
que por fazer o mal​” (​1Pedro 3.17​​).

Quer soframos por uma deficiência ou pela maldade de outros, Deus é quem
finalmente decide se viveremos ou se morreremos. ​Deuteronômio 32.39:
“​Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato,
e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão”​ .

Quando nos voltamos do mundo natural para considerar o mundo das ações
humanas e da escolha humana, a soberania de Deus ainda é incrivelmente
extensiva. Você deve votar nas eleições políticas — nos candidatos e nas
emendas. Porém não há ilusões que exaltem o homem como se meros seres
humanos fossem a causa decisiva em qualquer vitória ou perda. Somente
Deus terá esse papel supremo. “​É ele quem muda o tempo e as estações,
remove reis e estabelece reis… o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos
homens”​ (​Daniel 2.21, 4.17​​).

E não importa quem seja o próximo presidente, ele não será soberano. Ele
será governado. E devemos orar por ele para que saiba disso: “​Como ribeiros
de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu
querer, o inclina​” (​Provérbios 21.1​​). E quando ele se envolver em assuntos
estrangeiros, ele não será decisivo. Deus o será. “​O SENHOR frustra os
desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do SENHOR
dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações”​
(​Salmos 33.10-11​​).

Quando as nações fizeram o seu pior absoluto, a saber, o assassinato do Filho


de Deus, Jesus Cristo, elas não escaparam do controle de Deus, mas estavam
cumprindo a mais doce oferta dele no seu pior momento: “​Realmente nesta
cidade havia reunidos contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste, tanto
Herodes como Pôncio Pilatos, juntamente com os gentios e os povos de
Israel, para fazerem o que quer que a tua mão e o teu plano tivessem
predestinado a acontecer”​ (​Atos 4.27-28​​). O pior pecado que já aconteceu
fazia parte do plano de Deus, e por esse pecado, o pecado morreu.

“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram
escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando
nem um deles havia ainda” (​Salmos 139:16).
5. APLICAÇÕES.

O que a soberania de Deus implica para as nossas vidas? Por que essa
doutrina é preciosa para nós? Porque Deus é soberano:

1) Admiremos a autoridade, liberdade, sabedoria e poder soberanos de Deus.

2) E nunca lidemos com a vida como se fosse um assunto superficial ou leve.

3) Maravilhemo-nos com a nossa própria salvação — que Deus a comprou e


operou com poder soberano, e que não pertencemos a nós mesmos.

4) Lamentemos a mentalidade antropocêntrica e que desvaloriza Deus de


nossa cultura e de grande parte da igreja.

5) Sejamos ousados ​diante do trono da graça, sabendo que as nossas orações


pelas coisas mais difíceis podem ser respondidas. Nada é difícil para Deus.

6) Alegremo-nos que nosso evangelismo não será em vão porque não há


pecador tão endurecido que a soberana graça de Deus não possa alcançar.

7) Fiquemos alegres e calmos nesses dias de grande agitação, porque a vitória


pertence a Deus, e nenhum propósito que ele queira realizar pode ser
frustrado.

Soli Deo Gloria!

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