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c lássica
A letra grega , adotada universalmente
Análise de informação
Silvia Mara Hadas
Revisão de texto
Alexandre Olsemann
Capa
Bruno Palma e Silva
Projeto gráfico
Raphael Bernadelli
Diagramação
Bruno de Oliveira
Iconografia
Danielle Scholtz
Apresentação
como definidor do objeto sociológico. Deixamos, assim,
Marx para o final, porque o seu método dialético incorpora
simultaneamente os fatores objetivos e subjetivos e analisa
as dimensões da estrutura e da ação social na determina-
ção das relações sociais.
Parece complicado? Em certa medida é mesmo. A
sociologia é uma ciência complexa que resiste a simplifica-
ções. Por isso, um segundo aviso. Faça uma leitura atenta
deste material e, se for necessário, leia-o mais de uma vez.
Sublinhe o que considerar relevante. O livro é seu! Interaja
com ele. Anote as idéias principais e tire as dúvidas com
seu tutor. Aqui você encontrará as três matrizes epistemo-
lógicas e teóricas pelas quais a sociologia vem se desenvol-
vendo até os tempos atuais. Esperamos que você possa se
apropriar de cada uma delas. Tenha uma boa leitura!
Prof. Nilson Weisheimer
s umário
( 1 ) A gênese da sociologia, 13
1.1 O que é sociologia?, 16
Glossário, 191
Referências, 197
Gabarito, 199
xi
Sumário
(1)
a gênese da sociologia
Nilson Weisheimer tem graduação em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) (2001), mestrado (2004) e doutorado
(2008) em Sociologia também pela UFRGS. Atuou
como docente no Departamento de Ciências Humanas
na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e no
Departamento de Sociologia do IFCH/UFRGS. Possui
livros, capítulos de livros e artigos publicados nas temá-
ticas de sociologia, juventude, gênero e políticas públicas.
Atualmente, atua como professor-pesquisador no curso
Graduação Tecnológica em Planejamento e Gestão para
o Desenvolvimento Rural da UFRGS e é professor coor-
denador dos cursos de Ciências Sociais da Universidade
Luterana do Brasil (Ulbra).
Nilson Weisheimer
( )
(1.1)
o que é sociologia?
16
(1.2)
o s precursores da sociologia
Antes do surgimento das ciências sociais, diversos pensa-
dores, filósofos, religiosos e enciclopedistas produziram
idéias sobre suas sociedades e tentaram encontrar solu-
ções aos problemas de sua época. Apresentaremos alguns
desses autores que contribuíram para o acúmulo do conhe-
cimento, construindo a herança intelectual que resultou na
nova ciência. São eles os precursores da sociologia.
19
Os precursores helênicos
A gênese da sociologia
Os precursores medievais
20
A cultura ocidental conheceu na Idade Média o predomí-
Sociologia clássica
Os precursores renascentistas
(1.3)
d eterminantes do surgimento da
sociologia
A sociologia nasce como resultado das profundas mudan- 25
ças que marcam a passagem do feudalismo ao capitalismo,
A gênese da sociologia
Feudalismo Transformações
e a violência social.16
Uma vez constituída em classe economicamente domi-
nante, a burguesia buscou ser também a classe politica-
mente dominante. O marco da ascensão burguesa ao poder
político foi a Revolução Francesa, ocorrida em 1789. Ao
constituir um Estado independente da Igreja, a burguesia
protegeu e incentivou a empresa capitalista. Confiscou
as propriedades da Igreja, suprimiu os votos monásticos,
criou instituições civis, transferiu as funções da educação
para o Estado, aboliu as corporações de ofício, limitou os
poderes patriarcais na família, defendeu uma divisão igua-
litária da propriedade e mudou as leis, os usos e os cos-
tumes. Ao tomar o poder após a revolução, o movimento
Iluminista dividiu-se em dois grupos. Os jacobinos, por
um lado, tidos como revolucionários radicais, pretendiam
levar a revolução até as últimas conseqüências. Igualdade,
liberdade e fraternidade para todos os homens era a ban-
deira do movimento, que contrariava os interesses do setor
da burguesia ligado à família dos Bourbon, tida como con-
servadora. Esses, por outro lado, defendiam a necessidade
de frear o ímpeto dos trabalhadores para controlar e neu-
tralizar novos surtos revolucionários. Os trabalhadores
deveriam assumir, na nova sociedade industrial francesa,
suas funções e postos nas fábricas. Eles se sentiam traí-
dos pela causa da revolução e pelos iluministas, situação
que gerou revolta e se converteria em movimento operário
autônomo de matizes anarquistas, socialistas e posterior-
mente comunistas.
Diante desse quadro, os intelectuais representantes da
burguesia sentiram a necessidade de atualizar suas teorias
sociais. Visando promover a estabilização social, eles bus-
28 caram identificar as leis que regem a vida social. Tal rea-
lização somente seria possível através de uma ciência da
Sociologia clássica
Sociologia
Biologia
Química
Complexo
Geral
Física
Astronomia
Matemática
Indicações culturais
33
A gênese da sociologia
(2)
i ntrodução à obra
de é mile d urkheim
Nilson Weisheimer
( )
(2.1)
é mile d urkheim: vida e obraa
David Émile Durkheim nasceu em Epinal, departamento
de Voges, região de Lorena na França, em 15 de abril de
1858. De família judaica e filhos de Rabino, Durkheim se
tornaria agnóstico no Liceo Luis-le-Grad em pleno Quartier
Latin, entre a Sorbonne e Collèg de France e Faculté de Droit,
local considerado o centro do Iluminismo e da cultura
francesa. Em 1879, entrou na École Normale Supérieur. Em
1882, concluiu Direito na Universidade de Boudeaux, com
complementação para docência de Filosofia. No mesmo
38 ano, passou a lecionar Filosofia nos liceus de Sens e Saint-
Quentin. Em 1885, solicitou uma licença para retornar a
Sociologia clássica
(2.3)
o método funcionalista
Durkheim, ao buscar conhecer os fatos sociais como exte-
riores ao indivíduo, desenvolveu um método próprio para
o estudo científico dos fenômenos da vida social. Para
tanto, ele produziu simultaneamente rupturas com o senso 43
Indicações culturais
51
Introdução à obra de Émile Durkheim
(3)
( )
(3.1)
o rganização social e formas de
solidariedade
A divisão do trabalho social (1893) é a primeira grande obra
de Durkheim. Nela, o autor buscou tratar os fatos da vida
56 moral segundo o método positivo, distanciando-se porém
dos seus predecessores. O problema central de que parte
Sociologia clássica
Coesão Social
Solidariedade Solidariedade
Mecânica Divisão do Orgânica
(-) (+)
Trabalho
Consciência Consciência 57
Coletiva Individual
Durkheim: categorias sociológicas
fundamentais
Direito
Direito Penal
Restitutivo
Sanções Sanções
Repressivas Restitutivas
A solidariedade orgânica
61
O suicídio egoísta
62 Esse tipo de suicídio corresponde a situações em que os
valores individuais são mais fortes que as normas coleti-
Sociologia clássica
O suicídio altruísta
(3.3)
o conceito de representações
coletivas
Em Durkheim, a noção de representações coletivas é de
maior importância para seu esquema teórico e aparece em
toda sua envergadura na obra As formas elementares da vida
religiosa (1913). Vimos anteriormente que esse autor perce-
bia os fatos sociais como exteriores aos indivíduos, exer-
cendo sobre eles uma coerção. Igualmente toda crença e
todos os valores e comportamentos são construídos social-
mente. Seguindo os postulados da tradição francesa12,
iniciada com Montesquieu e Rousseau, Durkheim susten-
tava que a sociedade é mais do que a soma dos indivíduos 65
que a compõe: é uma síntese com qualidades específicas
Durkheim: categorias sociológicas
fundamentais
distintas dos indivíduos. Ou seja, os fenômenos que carac-
terizam a sociedade encontram suas explicações no todo e
não nas partes individuais, assim as representações coleti-
vas não implicam necessariamente uma consciência indi-
vidual. Isso porque:
Sagrado
Consciência Representações
Coletiva Coletivas
Profano
Solidariedade Social
t ip
o
Direito 67
Mecânica
Sociedade Repressivos
Anomia
(complexos integrados
Durkheim: categorias sociológicas
fundamentais
de fatos sociais)
o
tip
Direito
c o erç
ão
Orgânica
Restitutivo
c o erç
fu
ão
nç coerção
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s
o
Grupos e
mic
Indivíduo alt r
Instituições uís
a nô
ta
egoista
Divisão do
Suicídio
Trabalho
Morfologia Social
Indicações culturais
69
( )
(4.1)
e ducação: sua natureza
e função
74 No primeiro capítulo da obra, há a preocupacão em se ana-
lisar as definições correntes da educação e construir uma
Sociologia clássica
época apresenta.
(.)
p onto final
Durkheim aponta para a relação entre o sistema educacio-
nal e a estrutura da sociedade da qual faz parte. Sendo a
educação um processo contínuo de socialização das novas
gerações, no qual quer que esse processo aconteça, o estudo
sistemático dela, da história e do contexto que a determina
87
torna-se tanto mais importante quanto mais complexa for
Indicações culturais
88
atividades
Sociologia clássica
i ntrodução à obra
de m ax weber
Nilson Weisheimer
( )
(5.1)
m ax weber: vida e obraa
Maximillian Carl Emil Weber nasceu em 21 de abril de
1864, na cidade de Erfurt, região da Turíngia, na Alemanha.
Primogênito de oito filhos, era membro de uma família
abastada. Seu pai era advogado e político destacado do
92
Partido Nacional-Liberal. Sua mãe, uma senhora culta e
liberal de confissão protestante, era uma exemplar huasfrau
Sociologia clássica
(5.2)
o bjeto da sociologia de Weber
Para Weber, a sociedade moderna era resultado de um
longo processo de racionalização, da secularização da
95
experiência humana e da burocratização das estrutu-
ras sociais e dos comportamentos das pessoas como tra-
(5.3)
o método compreensivo
O método da sociologia compreensiva desenvolvida por
Max Weber busca a compreensão dos sentidos atribuí-
dos pelo agente (ou agentes) que executam a ação, quando
estes, levando em consideração a ação dos outros, realizam
a ação social. Assim, além de ação social, um outro con-
ceito aparece como central nessa proposta metodológica: o
de sentido. Weber estabelece sua definição.
(.)
p onto final
A sociologia de Max Weber tem como objeto de estudo a
ação social. Para garantir a objetividade do conhecimento
sociológico, ele vai argumentar a favor de uma prática
científica fundada na neutralidade axiológica e no rigor na
aplicação dos conceitos. Seus procedimentos metodológi-
cos inauguram a sociologia compreensiva. Esse nome deve-se
ao fato de que sua proposta visa à compreensão dos sen-
tidos subjetivos atribuídos pelos sujeitos que executam a
ação. Disso emerge o par conceitual ação social e sen-
tido como centrais à sua construção teórica e metodoló-
gica. Esta tem como instrumento principal o tipo ideal,
que é um recurso de análise bastante útil para testar hipó-
teses que visam à compreensão dos fenômenos sociais.
Por compreensão, Weber entende a captação do sentido ou
da conexão de sentidos atribuídos pelos sujeitos da ação,
o que permite a identificação de probabilidades típicas da
ação social.
atividades
1. O que é ação social em Max Weber?
( )
(6.1)
t ipologia weberiana da ação,
dominação e legitimidade
106
Portanto temos:
▪▪ Ação social racional com relação a fins – É
107
quando o(s) agente(s) atua(m) orientando sua ação para
atingir objetivos previamente estabelecidos e buscando
Racional em
relação a fins Racional legal Racional
ou (ordem impessoal –
Racional em Burocrática burocrática)
relação a valores
Carismática
(a rotinização do
Afetiva
Afetiva carisma conduz
(lealdade pessoal)
à burocrática ou
tradicional)
Utilitária
(sistema de status,
Tradicional Tradicional
atua por prescrições,
autoridade pessoal)
(6.2)
t eoria da estratificação social
Uma das questões centrais no pensamento da sociolo-
gia é explicar a origem das diferenças e das desigualda-
des sociais. Segundo Weber, a sociedade está estratificada
de maneira multidimensional, cujas bases são a economia,
o status e o poder. Estas fundamentam a constituição das
classes, dos estamentos e dos partidos respectivamente.
O fundamento de sua proposta é o de que não há uma
única causa para esses processos e que as dimensões mate-
rial e simbólica têm igualmente influência, contudo, e em
todas elas, a compreensão do fenômeno estaria nos agen-
tes individuais. A base de sua análise são as assimetrias
de poder na sociedade. Ele entende o poder como “a pos-
sibilidade de que um homem ou um grupo de homens
realize sua vontade própria numa ação comunitária até
mesmo contra a resistência de outros que participem da
ação”10. O poder pode ter uma base econômica ou ser fonte
de honrarias. Quando a ação se desenvolve no âmbito do
mercado, o objetivo é o poder econômico. Outrossim, é
na ordem econômica que se definem as classes. A forma
como as honras são distribuídas na sociedade estabelecem
uma distinção de outra natureza, definem a composição
dos estamentos. A organização para a obtenção de poder
114 social, independente do conteúdo da ação comunitária, é
o partido. Isso posto, conforme argumenta Weber, classes,
Sociologia clássica
Classes
Estamento
Partidos
(.)
p onto final
Encontramos na teoria sociológica de Max Weber uma
perspectiva subjetiva da ação social, da dominação e da
estratificação social, que se colocam como alternativas às
teorias objetivas, como as de Émile Durkheim. Seu proce-
dimento de análise vai das categorias particulares às uni-
versais, destacando as conexões de sentido que emergem
nos processos de interação social e dão forma aos fenôme-
nos sociais. Weber parte sempre do indivíduo e sua capa-
cidade de atribuir sentidos, tendo como parâmetro a ação
de orientação racional, a partir da qual estabelece suas
tipologias puras. Assim, ele percebe também os processos
de estratificação social, com base na atuação racional dos
sujeitos no mercado que dá forma as classes, na manifesta-
ção de estilos de vida e honrarias que estabelecem os esta-
mentos e na disputa racionalizada pelo poder que assume
a forma de partido.
Indicação cultural
atividades
1. Qual é a diferença entre poder e dominação na teoria
weberiana?
( )
(7.1)
o problema: confissão religiosa e
estratificação social
Para a construção do objeto de investigação, que resultou
numa pesquisa com fatos históricos que articula dados
empíricos do final do século XIX, resultando a obra em
discussão, Weber observou as estatísticas ocupacionais e
deparou-se com o seguinte quadro: existe uma preponde-
rância da religião protestante entre proprietários do capi-
tal, empresários e trabalhadores altamente qualificados
das empresas modernas. Diante desse diagnóstico, o autor
sugere pensarmos nessa relação: desenvolvimento do capi-
talismo moderno e confissão religiosa.
Estabelecer essa relação causal não significa que
Weber tenha ignorado que, no passado, talvez até na pró-
pria gênese do capitalismo, a confissão religiosa tenha
sido, possivelmente, conseqüência de fenômenos econômi-
cos e não a sua causa. Até porque a participação em altas
funções econômicas pressupõe que já exista a articulação
de alguns elementos para o desencadeamento do desen-
volvimento do capitalismo moderno, que o autor aponta
como sendo: a posse de capital, a posse de riqueza heredi-
123
tária, certa abastança e uma educação dispendiosa. A par-
tir de então, ele coloca uma questão histórica: “qual a razão
(7.3)
o conceito de vocação em Lutero:
o objeto da pesquisa
A noção de vocação vinculada à idéia de uma “missão dada
por Deus” desenvolve-se entre os grupos predominante-
mente protestantes, constituindo-se, assim, em produto da
Reforma. O que esse conceito tem de novo é justamente
vincular a valorização do cumprimento do dever, a partir
da realização das profissões mundanas, à possibilidade de
agradar a Deus. Por isso, sobre os preceitos protestantes,
Weber afirma:
o único meio de viver que agrada a Deus não está em suplantar
a moralidade intramundana pela ascese monástica, mas sim,
exclusivamente, em cumprir com os deveres intramundanos,
tal como decorrem da posição do indivíduo na vida, a qual
por isso mesmo se torna a sua “vocação profissional”[...].12
(7.4)
o s fundamentos religiosos da
ascese intramundana
Os representantes históricos do protestantismo ascético
eram fundamentalmente quatro:
a. o calvinismo;
b. o pietismo;
c. o metodismo;
d. as seitas anabatistas.
Calvinismo
O calvinismo surgiu como uma corrente do protestantismo
em torno da qual se travaram grandes lutas políticas e cul-
turais nos países capitalistas mais desenvolvidos – Países
Baixos, Inglaterra e França – dos séculos XVI e XVII. Seu
dogma mais característico é a doutrina da predestinação
que se constitui em elemento importante para a análise de
Weber na medida em que contribui decisivamente para
alguns efeitos histórico-culturais.
O autor trabalha com escritos confissionais de indiví-
duos ligados à moral ética nos quais os conteúdos mostram
a direção das práticas religiosas da época. Destaca-se a
idéia de decreto de Deus em sua manifestação por meio da
predestinação de alguns homens à vida eterna e de outros
à morte eterna. Relaciona-se, a partir de então, a idéia de
vocação, pois os indivíduos estão determinados a cumprir
seus deveres para com Deus. E, como já foi mencionado,
cumprir o dever divino significa dedicar-se à sua vocação
para o trabalho profissional. Mas o que interessa aqui, para
Weber, não são os fundamentos valorativos da doutrina,
e sim como ela se impôs historicamente. Daí resulta uma
relação nova com a santidade, que influencia a conduta de
132
vida dos indivíduos, pois, para Calvino, não é Deus que
existe para os homens, mas o contrário. O autor destaca
Sociologia clássica
Deus quer do cristão uma obra social porque quer que a con-
formação social da vida se faça conforme seus mandamentos
e seja endireitada de forma a corresponder a esse fim. O tra-
balho social do calvinista no mundo é exclusivamente traba-
lho para aumentar a glória de Deus. Daí porque o trabalho
numa profissão que está a serviço da vida intramundana da
coletividade também apresenta esse caráter[...].16
Pietismo
Metodismo
136
mentos trabalhados na obra mais claros ao leitor. Por isso,
era importante conhecer os fundamentos religiosos das
Sociologia clássica
138
motivação puramente econômica das ações dos indivíduos.
Foi por isso que em Ética protestante o autor trouxe elemen-
Sociologia clássica
Indicação cultural
( )
(8.1)
k arl m arx: vida e obraa
Karl Heinrich Marx, nasceu em 5 de maio de 1818, na
cidade de Tréves, província Renana da Prússia (Alemanha).
De família de origem judaica e de classe média baixa, seu
pai era advogado e sua mãe professora de piano. Em 1935,
entrou para o curso de Direito na Universidade de Bonn,
onde conheceu o filósofo materialista Ludwig Feuerbach.
Em 1936, transferiu-se para universidade de Berlin, onde
estudou Direito, Filosofia e História até 1941. Nesse período,
inseriu-se no grupo de jovens hegelianos de esquerda, que
contava com, entre outros, o jovem professor Bruno Bauer e
freqüentou as atividades do Doktor Club. Em 1841, concluiu
(8.2)
o objeto de pesquisa de m arx
Em seu percurso intelectual, Marx integrou criticamente
as contribuições da filosofia clássica alemã, do socialismo
utópico francês e da economia política inglesa. Na articu-
lação dessas três fontes, produziu um método de análise
e interpretação da sociedade de sua época. Sua contribui-
ção às ciências sociais, a partir dessas vertentes, resultou
no materialismo dialético e no materialismo histórico,
elementos principais e conjugados de caráter teórico-prá-
tico de análise do capitalismo3.
Sua concepção de sociedade enfatiza as relações
sociais de produção e de troca entre os homens e que cons-
tituem a infra-estrutura social. Elas são a base objetiva a
partir da qual os homens produzem suas representações,
148 idéias e justificativas, que são consideradas reflexos, mais
ou menos invertidos, dessa realidade. A superestrutura
Sociologia clássica
150
O método de Marx é o materialismo histórico e dialético.
É materialista porque parte de uma premissa materialista
Sociologia clássica
Concreto Pensado
Categoria de análise
Abstrato
Reflexão
várias etapas
152
Sociologia clássica
Concreto Imediato
unidade do diverso
(.)
p onto final 155
atividades
1. Qual foi objeto de estudo de Marx?
( )
(9.1)
t eoria do modo de produção
capitalista
Iniciamos esta seção buscando definir com precisão o que
é modo de produção em Marx. Você deve ter reparado
que esse conceito sempre aparece do lado de algum termo
como capitalista ou determinado. Isso ocorre porque, em sua
análise, Marx não aborda a produção em geral, mas se
refere sempre à produção em um determinado estágio de
desenvolvimento das forças produtivas da humanidade.
Aqui a primeira questão importante é não fazermos uma
leitura reducionista das categorias usadas pelo teórico, ou
seja, não reduzi-la a uma leitura econômica da sociadade,
evitando-se assim tomar o conceito de modo de produção
apenas como o processo de produção de bens materiais.
Buscamos, com isso, chamar a sua atenção para perceber
que modo de produção é um conceito teórico que inclui,
além da produção de bens materiais, outros níveis de rea-
lidade social, como o jurídico, o político e o ideológico. Ou
seja, o modo de produção é um conceito que permite a
Marx pensar a totalidade social.
O que define o caráter de um modo de produção é a
articulação existente entre as forças produtivas e as
relações sociais de produção. Essa articulação visa asse-
gurar a própria reprodução do modo de produção. Com
isso, podemos dizer que os modos de produção até hoje exi-
tentes se definem pela presença de classes sociais comple- 161
mentares e antagônicas que resultam da articulação entre
(9.2)
f ormação social
O conceito de formação social é utilizado para designar
uma totalidade social concreta e historicamente determi-
nada, com suas diferenciações internas, ou seja, refere-se
ao conjunto da sociedade, a qual possui uma dupla dimen-
são: a da infra-estrutura e da superestrutura. Esse
conceito é concernente às realidades complexas e impuras,
(diferentemente do conceito de modo de produção). Uma
formação social corresponde a uma totalidade social que
guarda em seu interior diferentes estágios de desenvol-
vimento das forças produtivas e distintas relações sociais
de produção, bem como diferentes processos de traba-
lho. É claro que nessa formação social haverá uma relação
social predominante. Tomemos como exemplo o caso do
Brasil, que é um pais continental e com grandes diversida-
des regionais, culturais e econômicas. Nele há atividades
industriais altamente desenvolvidas e integradas ao mer-
cado mundial, atividades financeiras e expeculativas e ao
mesmo tempo relações de trabalho extremamente precá-
rias e informais. No ambito da agricultura, por exemplo,
temos a produção familiar, na qual a mão-de-obra não é
remunerada sob a forma de salário e, portanto, não pode ser
caracterizada como uma produção capitalista. Ao mesmo
tempo ela se encontra integrada de modo subordinado às
agroindustrias, cujas mercadorias são comercializadas no
mercado internacional como commoditys. Essas complexas
relações de produção caracterizam a formação social bra-
sileira. Em resumo, a formação social apresenta um caráter 163
mais empírico e, ao mesmo tempo, mais complexo. Apesar
(9.3)
i nfra-estrutura e superestrutura
Uma formação social comporta uma dupla dimenção, cha-
madas por Marx de infra-estrutura e de superestrutura. A
infra-estrurura da sociedade corresponde à base material
que possui, cuja centralidade está no processo de traba-
lho, o que implica a articulação entre as forças produ-
tivas e o conjunto das relações sociais de produção. É
no nível da infra-estrutura que se determina o conteúdo
de um modo de produção social, o que é feito pelo tipo de
relação social predominante.
(9.4)
f orças produtivas e relações
sociais de produção
O processo de trabalho ocorre pela articulação entre as for-
ças produtivas e as relações sociais de produção. A noção
de forças produtivas corresponde aos fatores necessários à
produção, como o trabalho e os meios de produção. Por tra-
balho, Marx refere-se à atividade concreta, o trabalho vivo
realizado pela força de trabalho humana e que é a fonte cria-
dora de valor, e é também em sentido abstrato, como tra-
balho geral socialmente realizado. Por meios de produção,
entende-se todo o instrumento de trabalho e todos os recur-
sos necessários à sua realização. São exemplos de meios de
produção: a terra, as fábricas, as máquinas, as tecnologias e
as fontes de energia usadas na produção de mercadorias.
O desenvolvimento das forças produtivas está condi-
cionado ao desenvolvimento dos meios de produção e ao
desenvolvimento do conhecimento científico da humani-
dade. Esta persegue essa evolução do saber para suprir
suas necessidades crescentes de sobrevivência e melho-
rias de suas condições de vida. Assim, o avanço das for-
ças produtivas é o que impulsiona o próprio avanço da
humanidade e marca a sua evolução histórica, com a supe-
ração dos modos de produção por outros cada vez mais
superiores.
168 As relações sociais de produção referem-se às dife-
rentes funções executadas por indivíduos ou grupos no
Sociologia clássica
(9.5)
p rocesso de trabalho
Como vimos anteriormente, é no âmbito da infra-estru-
tura da sociedade que se realiza o processo de trabalho.
Esse conceito expressa a atuação humana sobre as forças
da natureza, submetendo-as a seu controle e transforman-
do-as em certos valores de uso, ou seja, dando forma útil
à sua vida. Segundo Marx2, os elementos componentes do
processo de trabalho são:
a. a atividade adequada a um fim, isto é, o próprio
trabalho;
b. a matéria a que se aplica o trabalho, o objeto de
trabalho; 169
c. os meios de trabalho, o instrumental de trabalho.
(9.6)
c lasses sociais
O que determina o caráter das relações sociais de produ-
ção é a forma que assume a propriedade dos meios de pro-
dução. As classes sociais resultam justamente da posição
do indivíduo nessa relação social. As classes sociais são
grandes agrupamentos humanos que se definem a partir
da posição ocupada pelos indivíduos nas relações sociais
de produção, como proprietários ou não dos meios de pro-
dução. Essas duas situações correspondem no capitalismo
às duas classes fundamentais: os capitalistas, ou burgue-
ses, e os trabalhadores, ou proletários.
O fundamento dessa proposição reside em que, para
Marx5, o homem é a personificação do processo de traba-
lho que realiza. Em termos sociológicos, implica reconhe-
cer que é sua posição no processo de trabalho que o produz
como ser social. Dito de outro modo, é sua posição na divi-
são social do trabalho como proprietário ou não dos meios
de produção que determina a sua classe social. O per-
tencimento a uma classe social corresponde a um especí-
fico modo de vida, a uma forma de manifestar sua própria
vida através do trabalho. Cada uma delas corresponde a
uma forma de obtenção do valor produzido pelo trabalho:
a do capitalista é o lucro e a do trabalhador é o salário. Na
agricultura, um terceiro agente aparece como classe social:
o proprietário fundiário, que usufrui do valor sob a forma
de renda da terra.
171
(9.7)
Valores:
Morais
Representações:
174 Éticos Ciência
Jurídicas
Superestrutura Estéticos Filosofia
Políticas
Religiosas Ideologia
Sociologia clássica
Articulação Dialética
Terras
Formação Fábricas
Social Meios de Máquinas
Produção Equipamentos
Tecnologia
Forças
Fontes de Energia
Produtivas
Trabalho
Infra-estrutura Modo de
Produção
Relações Divisão Social do Trabalho
Sociais de Classes Sociais
Produção Luta de Classes
Indicação cultural
atividades
1. Como Marx define o capitalismo?
( )
(10.1)
o contexto
Quando a Liga dos Comunistas atribuiu a Marx e Engels
a responsabilidade de redigir seu manifesto de fundação,
os dois tinham 29 e 27 anos, respectivamente, e atuavam
intensamente em atividades relacionadas à organiza-
ção do movimento operário. Ambos estavam em Londres
onde participavam de calorosas discussões com lideran-
ças de trabalhadores, políticos e intelectuais de esquerda,
nas quais buscavam compatibilizar seus estudos teóricos
com as condições da vida cotidiana dos bairros operários
nos subúrbios londrinos. Por caminhos distintos, os dois
haviam chegado às mesmas conclusões quando se conhe-
ceram em Paris, em 1844, e já haviam feito uma opção
pelo socialismo. Desde então, juntos, buscavam conferir
uma abordagem científica, recorrendo às teorias de van-
179
guarda de sua época, principalmente os últimos achados
(10.2)
a obra
O Manifesto foi redigido em quatro capítulos: I – Burgueses
e Proletários, II – Proletários e Comunistas, III – A litera-
tura socialista e comunista, e IV – Posição dos comunis-
tas diante dos diversos partidos de oposição. Embora esse
texto tenha sido escrito por Marx e Engels, cada um con-
tribuindo para sua redação com rascunhos prévios feitos
em dezembro de 1847, a redação final coube a Marx, que
terminou o texto em meados de janeiro de 1848. No iní-
cio de fevereiro daquele ano, era publicado o Manifesto
do Partido Comunista, com 23 páginas. Conforme disse
Lenin: “Este pequeno livrinho valeria por tomos inteiros”1.
É nesse texto que se encontram as principais considerações
teóricas de Marx sobre a luta de classes (elemento central
da análise da modernidade). Com o passar dos anos, o
Manifesto tornou-se um dos textos mais lidos da huma-
nidade e uma obra clássica das ciências sociais, tendo sido
traduzido para todas as línguas modernas. A seguir nos
deteremos na discussão do primeiro capítulo do Manifesto,
apresentando, simultaneamente, seu ressumo e tecendo
considerações acerca de seu conteúdo.
(10.3) 181
(.)
p onto final
A teoria de Marx demonstra que o desenvolvimento das
forças produtivas conduz à superação sucessiva dos modos
de produção. Neste livro, constam a história das socieda-
des humanas e a luta entre classes antagônicas, elementos
que desempenham papel essencial, o “motor da história”.
No modo de produção capitalista essa contradição é prota-
189
gonizada por burgueses e proletários. Segundo esses auto-
Indicação cultural
cias naturais.
r eferências por capítulo
Capítulo 1 17
COMTE, 1973, p. 38.
18
Ibid., p. 116.
1
FREIRE, 1995. 19
Ibid., p. 10.
2
ELIAS, 1994. 20
Ibid.
3
RAMOS, 1954. 21
FERNANDES, 2004.
4
PLATÃO, 2000.
5
ARISTÓTELES, 1997.
Capítulo 2
6
TRUJILLO FERRARI, 1983.
7
Ibid. 1
DURKHEIM, 2005, p. 51.
8
MAQUIAVEL, 1973. 2
DURKHEIM , 1973, p. 375
9
Ibid. 3
Ibid.
10
HOBBES, 2001. 4
DURKHEIM, 2005, p. 66.
11
TRUJILLO FERRARI, 1983. 5
Ibid.
12
MONTESQUIEU, 2002. 6
DURKHEIM, 1989.
13
Ibid. 7
DURKHEIM, 1973.
14
ROUSSEAU, 2005. 8
Ibid., p. 384.
15
ROUSSEAU, 2000. 9
Ibid., p. 395.
16
PEREIRA; GIOIA, 1994. 10
Ibid.
11
Ibid., p. 396. 5
Ibid., p. 4.
12
Ibid., p. 378. 6
Ibid.
13
Ibid., p. 396. 7
Ibid.
14
Ibid. 8
Ibid., p. 5.
15
Ibid., p. 406. 9
Ibid., p. 5.
16
Ibid. 10
Ibid., p. 6.
17
Ibid., p. 411. 11
Ibid.
18
Ibid..
19
Ibid., p. 416. Capítulo 6
20
Ibid., p. 420.
21
Ibid.
1
WEBER, 2004a.
22
Ibid., p. 432.
2
Ibid., p. 14.
23
Ibid.
3
Ibid., p. 15.
24
Ibid., p. 437.
4
Ibid., p. 16.
25
Ibid., p. 439.
5
Ibid., p. 19.
26
Ibid., p. 444-446.
6
Ibid.
27
Ibid., p. 454-458.
7
Ibid.
8
Ibid., p. 191.
Capítulo 3
9
Ibid.
10
WEBER, 1979, p. 211.
1
DURKHEIM, 1973, p. 342. 11
Ibid.
2
Ibid. 12
Ibid., p. 214.
3
Ibid., p. 362. 13
Ibid., p. 213.
4
DURKHEIM, 1988, p. 108. 14
QUINTANERO; BARBOSA; OLIVEIRA,
5
DURKHEIM, op. cit., p. 469. 2001.
6
DURKHEIM, op. cit., p. 110. 15
WEBER, 1979.
7
Ibid., p. 111. 16
Ibid.
8
Ibid., p. 113. 17
Ibid.
9
Ibid., p. 115. 18
Ibid., p. 225.
10
Ibid., p. 117. 19
Ibid., p. 226.
11
Ibid., p. 122. 20
Ibid.
12
LEVINE, 1997. 21
Ibid., p. 227-228.
13
DURKHEIM citado por QUINTANERO;
BARBOSA; OLIVEIRA, 2001, p. 18. Capítulo 7
194 14
DURKHEIM, 1989.
15
Ibid., p. 513. 1 WEBER, 2004c, p. 30.
16
DURKHEIM citado por CUVILLIER,
2
Id.
Sociologia clássica
1975, p. 33.
3
Ibid., p. 33-34.
4
Ibid., p. 35.
Capítulo 4
5
Ibid., p. 39.
6
Ibid., p. 45.
1
DURKHEIM, 1978, p.36. 7
Ibid., p. 53.
2
Id. 8
Ibid., p. 56.
3
Ibid., p. 37. 9
Ibid., p. 58.
4
Ibid., p. 38. 10
Ibid., p. 61.
5
Ibid., p. 39. 11
Ibid., p. 62.
6
Ibid., p. 41. 12
Ibid., p. 72.
7
Id. 13
Ibid., p. 82.
8
Ibid., p. 44. 14
Ibid., p. 89.
9
Ibid., p. 45. 15
Ibid., p. 89.
10
Ibid., p. 46. 16
Ibid., p. 99.
11
Ibid., p. 48. 17
Ibid.
12
Ibid., p. 49. 18
Ibid., p. 100.
13
Ibid., p. 53. 19
Ibid., p. 106.
14
Ibid., p. 57. 20
Ibid., p. 107.
15
Ibid., p. 59. 21
Ibid., p. 125.
16
Ibid., p. 65. 22
Ibid., p. 128.
17
Ibid., p. 67. 23
Ibid., p. 131.
18
Ibid., p. 69. 24
Ibid., p. 137.
19
Ibid., p. 81. 25
Ibid., p. 141.
26
Id.
Capítulo 5 27
Ibid., p. 143.
1
WEBER, 1979, 2004a, 2004b.
28
Ibid., p. 157-163.
2
WEBER, 1979, p. 182.
29
Ibid., p. 158.
3
Ibid., p. 173.
4
WEBER, 2004a, p. 3.
Capítulo 8 Capítulo 10
1
BOTTOMORE, 1987. 1
LÊNIN, 1979, p. 12.
2
MARX, 1968b, p. 136. 2
MARX; ENGELS, 2007, p. 45.
3
IANNI, 1979. 3
Id.
4
MARX; ENGELS, 2007, p. 45. 4
Ibid., p. 46.
5
MARX, 1985. 5
Ibid.
6
MARX, 1968a. 6
Ibid., p. 48.
7
MARX, 1968b, p. 135. 7
Ibid., p. 49.
8
MARX, 1985. 8
Ibid., p. 48.
9
MARX; ENGELS, citados por CASTRO; 9
Ibid., p. 49.
DIAS, 2005, p. 171. 10
Id.
10
MARX, citado por CASTRO; DIAS, 2005, 11
Ibid., p. 51.
p. 169. 12
Id.
11
Ibid., p. 166. 13
Ibid., p. 54.
12
Ibid. 14
GORENDER, 1998.
13
GURVITCH, 1987. 15
MARX; ENGELS, op. cit., p. 56.
14
GURVITCH, 1987; WEISHEIMER, 2006. 16
Ibid., p. 57.
15
MARX, citado por CASTRO; DIAS, 2005. 17
Id.
16
MARX, 1985, p. 411. 18
GORENDER, 1998, p. 52.
19
MARX; ENGELS, op. cit., p. 54.
Capítulo 9 20
Ibid., p. 47.
1
MARX, 2004, p. 37.
2
MARX, 1985.
3
Ibid.
4
Ibid.
5
Ibid.
6
MARX; ENGELS, 2007.
7
MARX, 1985.
195