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Prevenção e enfrentamento às

diferentes formas de
violência sexual e de gênero
O que é violência?

 A violência corresponde ao uso da força física


ou psicológica para controlar outra pessoa,
para constrangê-la, obrigá-la a fazer algo
contra sua vontade, tolher sua liberdade por
meio de ações ou omissões que implicam em
consequências como morte, lesões, danos
morais e patrimoniais, sofrimentos físicos,
psicológicos e sexuais.
Formas de violência relacionada à
sexualidade e ao gênero

 Violência sexual
 Abuso sexual/ violência sexual na infância
 Exploração sexual
 Estupro
 Assédio sexual
 Homofobia, lesbofobia, bifobia, transfobia
 Violência obstétrica
 Violência doméstica
 Violência conjugal
 Feminicídio
Violência doméstica
Dados sobre violência doméstica

 Em pesquisa realizada em 2010 , 40%


das mulheres entrevistadas relataram
ter sofrido alguma forma de violência no
espaço doméstico.
 50% das que foram agredidas relataram
não terem pedido ajuda nem contato
para ninguém sobre o que aconteceu.
 De acordo com dados da mesma
pesquisa, a cada dois minutos cinco
mulheres são agredidas fisicamente no
Brasil.
Múltiplos fatores
• Muitas mulheres não reconhecem a situação vivida como violenta
• Muitas mulheres viveram situações de violência anteriores, inclusive
desde a infância
• Muitas mulheres têm muito medo de como será viver sem o parceiro,
tanto emocionalmente quanto financeiramente
• Muitas mulheres têm naquele relacionamento o espaço no qual
investiram muitos sonhos, expectativas e dedicação
• Muitas mulheres consideram a agressividade do parceiro natural,
esperada, justificável, como algo próprio por serem homens
• Muitas mulheres não conseguem buscar ajuda por sentirem-se culpadas
e envergonhadas
• Muitas mulheres não buscam, necessariamente, a separação
• Muitas mulheres oscilam de um desejo claro de punição para um desejo
claro de reaproximação e reconciliação
Espaço de escuta e acolhimento

Ele me ama muito, por isso tem


muito ciúmes, não suporta me ver
longe. Quando perde o controle e
me agride, é porque sofre muito
ao imaginar que pode me perder.
Espaço de escuta e acolhimento

Desde que o conheci, ele é


esquentado, estourado. Às vezes
ele me bate quando está
nervoso... Mas depois se
arrepende.
Não faz por mal.
Espaço de escuta e acolhimento

Ele começou a me bater quando


perdeu o emprego, estava muito
nervoso e frustrado. E, além de tudo,
eu fiquei grávida! Era muito peso
para ele aguentar.
Sei que quando nosso filho nascer,
quando ele olhar para carinha do
nosso bebê, nossa relação vai mudar.
Espaço de escuta e acolhimento

No mês passado teve um dia que ele me bateu


tanto, tanto, pensei que ia morrer. Fui até a
casa da minha mãe, pedir ajuda. Ela e minhas
irmãs me deram colo, entenderam. Disseram
que eu preciso me esforçar mais, que preciso
salvar meu casamento. Que mulher sozinha,
na minha idade, é infeliz. Que ele me ama e
cuida muito de mim, só me bate por causa
das bebedeiras. Eu tento levá-lo para a Igreja,
para ele parar de beber, ele foi algumas vezes,
mas não volta. Não sei o que fazer.
Espaço de escuta e acolhimento

Me sinto muito sozinha. Devem pensar


que estou com ele porque mereço,
porque gosto de apanhar, porque não
me dou valor. Tenho muita vergonha
de conversar com as pessoas. Eu o
amo, mas a cada tapa, a cada soco, a
cada chute, eu já não sei mais quem eu
sou. Não tenho ninguém para
conversar.
Ideais de Amor
• Complementariedade
(“somos feitos um para o outro; “não existo sem você”; “você é o ar que eu
respiro”; “a vida não faz sentido sem você”)
• Felicidade e satisfação ilimitadas
(“nasci para te fazer feliz”; “quando amamos, tudo faz sentido, os problemas
deixam de existir”; “felizes para sempre”)
• Dedicação irrestrita, sacrifício, renúncia
(“sou capaz de tudo por você”; “quem ama abre mão de qualquer coisa”)
• Expectativa de salvação
(“o amor muda tudo”; “com o amor vencemos todas as dificuldades”)
• Relação entre feminilidade e romantismo
(“toda mulher é feita para amar, para sofrer pelo seu amor e para ser só
perdão”)
• Naturalização do sofrimento
(“não há amor sem dor”; “amar é sofrer”)
Lei Maria da Penha

 Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher (...) e estabelece medidas de assistência e proteção
às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Maria da Penha

 Em 1983, Maria da Penha Maia Fernandes, sofreu um tiro


de espingarda que a deixou paraplégica. O tiro aconteceu
em sua casa e o atirador foi seu marido, Marco Antonio
Heredia Viveros. Após ficar hospitalizada por quatro
meses e passar por várias cirurgias, Maria da penha
retornou para casa. Marco Antonio tentou então
eletrocutá-la enquanto ela tomava banho. O agressor
continuou em liberdade por quase 20 anos, o processo
final foi concluído apenas em 2002, por recomendação de
órgãos internacionais.
Desafios

 Precariedade das condições básicas para que as medidas


previstas na lei possam ser cumpridas
 Dificuldades em como as mulheres em situação de violência são
atendidas nos serviços disponíveis
 Imbricações entre machismo e racismo
 Naturalização da agressividade da masculina e da submissão
como feminina
 A lei não se reduz às medidas punitivas, abrange também
medidas protetivas e preventivas
 Importância da abordagem sobre gênero nas escolas
Violência sexual
O que é violência sexual?

 A violência sexual é uma forma de violência


que ocorre quando uma pessoa é forçada a
envolver-se sexualmente sem o seu
consentimento, por meio de violência física,
manipulações, chantagens, coerções e/ou
ameaças
Projeto Unbreakable
◦ A seguir serão apresentadas imagens do “Projeto Unbreakable”,
com frases que foram ouvidas por diferentes pessoas em situações
de violência sexual.
◦ As imagens exemplificam aspectos que são comuns em situações de
violência.
Projeto Unbreakable
“É fofo como você resiste assim, agindo como se você não
quisesse”.
Projeto Unbreakable
“No dia seguinte ele me falou: ‘Você disse não, mas seu corpo
me disse sim’. Eu pensava que era minha culpa. Ele tinha 28
anos, eu tinha 18”.
Projeto Unbreakable
“Você não pode beber algo com alguém e esperar que isso
não aconteça”.
Projeto Unbreakable
“‘O que você estava vestindo? Por que você não lutou para
ele se afastar ou gritou? Você geralmente leva garotos em
casa?’ – o policial”.
Sobre o consentimento

Fonte da imagem: site da revista Lampeão


A importância do diálogo
◦ Romper o silenciamento
◦ Dialogar para prevenir
◦ Receber informações e esclarecimentos como fator de
proteção
◦ Importância de espaços de diálogo e confiança para
que as violações possam ser identificadas e os
direitos possam ser protegidos
◦ Enfrentamento às diferentes formas de violência
◦ Problematização da naturalização da violência
“Carnaval, expressão de origem latina que
significa “desculpa de encalhadas para cair
na farra”. E elas caem mesmo. Aquela sua
amiga que passou o ano sem pegar ninguém
e já está subindo pelas paredes encontra a
solução para todos os problemas nessa
época. Dá pra classificar o tipo de apetite
sexual das moçoilas de acordo com a festa.
As mais tímidas gostam de ver o desfile na
avenida e dar a impressão de que estão ali só
pra isso, mas, no fundo, querem achar
alguém pra fazer sexo selvagem pela
madrugada afora. (...) Já a mulher que vai
para micareta, além de beijar todo mundo,
organiza um bacanal sem limites à noite. Ao
final, todas voltam para suas vidas normais e
guardam na memória as aventuras dessa
semana mágica”.
(Sexy, fevereiro de 2012, p. 18).
Violência sexual na infância
Imagine que você trabalha em uma escola, com crianças.
Imagine que Nara, uma das crianças, tem se comportado de um jeito
diferente. Está mais retraída, evita brincar com as outras crianças. Se assusta
quando uma pessoa nova entre na escola. Fica apreensiva quando alguém se
aproxima dela.
Fonte das imagens: vídeo “O segredo”.
Em uma atividade com a turma toda, você pede para que façam um desenho.
Ao observar Nara desenhando, vê que está nervosa, agitada. Quando termina
seu desenho. Nara rasga a folha de papel, com raiva.

Fonte das imagens: vídeo “O segredo”.


Você não sabe o que está acontecendo com Nara, mas se preocupa, imaginando
que as atitudes que ela têm tido podem ser a forma que encontrou de pedir
ajuda.

Fonte da imagem: vídeo “O segredo”.


Assim como Nara, muitas crianças que sofrem violência têm medo de contar
para alguém. Elas podem ter sido ameaçadas, chantageadas. Elas podem ter
medo de serem punidas, ou de ninguém acreditar nelas.
Fonte da imagem: vídeo “O segredo”.
“Como posso ajudar Nara?” – você se pergunta.
No vídeo sobre a história de Nara, a professora se aproxima e começa a
conversar com ela.
Fonte da imagem: vídeo “O segredo”.
- Nara, eu gostaria de saber por que você rasgou
o seu desenho.
- Eu rasguei para o homem mal não pegar a
menininha de novo.
- E por que o homem estava perseguindo a
menina?
- Ela iria revelar um segredo. Um terrível e
doloroso segredo.
...

- Essa menina que estava na sua história, será


por acaso alguém que eu conheço.
- Conhece.
- Ah, que interessante. E ela é da nossa escola?
- Sim.
- E ela é da nossa turma?
- É.
- Só mais uma pergunta. – e cochicha no ouvido
de Nara – eu estou segurando a mão dessa
menina?
Fonte do diálogo e das imagens: vídeo
“O segredo”.
A professora a abraça e diz que deve ter sido muito difícil para Nara passar
por tudo o que passou. Nara está assustada, sente-se culpada. A professora
repete, com sensibilidade, que Nara não fez nada de errado, que nada é culpa
dela. Diz que conversará com seus pais para que seus direitos possam ser
protegidos.

Fonte da imagem: vídeo “O segredo”.


O que a história de Nara nos mostra
sobre situações de violência sexual
contra crianças?
◦ O pedido de segredo é algo muito comum em situações de violência
sexual. Pode acontecer com promessas ou com chantagens e
ameaças.
◦ Na maior parte das ocorrências de violência sexual, o agressor é
uma pessoa próxima, que a criança conhece.
◦ Um importante fator de proteção é que as crianças saibam que
podem contar sobre o que acontece com elas para alguém em quem
confiam.
◦ Saber em que situações é necessário não guardar segredo é algo
que pode ser conversado na família e na escola.
Exemplo: Livro “Sem mais segredo”
Fonte: livro “Sem mais segredo”
Fonte: livro “Sem mais segredo”
Estatuto da Criança e do Adolescente

Artigo 13: “Os casos de suspeita ou


confirmação de maus-tratos contra criança
ou adolescente serão obrigatoriamente
comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de
outras providências legais”.
Atitudes importantes
• Conversar com a criança em um espaço que
tenha privacidade
• Transmitir confiança
• Valorizar que a criança fale sobre o que está
acontecendo
• Ressaltar que a criança tem direitos e que
esses direitos devem ser protegidos
• Contar sobre os encaminhamentos
necessários

Atitudes a serem evitadas


• “Você tem certeza que isso aconteceu
mesmo?”
• “Pode confiar em mim, eu não vou contar
para ninguém!”
• “Prometo que vai ficar tudo bem!”
• “Que monstruosidade! Estou horrorizada!” Fonte das imagens: vídeo “O segredo”.
Como acontece a violência sexual
contra crianças?
◦ A violência sexual não vem necessariamente acompanhada
de violência física
◦ Pode ser que a aproximação aconteça com promessas de
presentes e recompensas relacionados a situações agradáveis
e desejadas pela criança
◦ Pode ser que a aproximação aconteça com chantagens e
ameaças
◦ Um traço em comum é o pedido de segredo, a instrução de
que a criança não pode contar para ninguém o que está
acontecendo
O que é a violência sexual contra
crianças?
◦ Quando o corpo da criança é tocado ou estimulado de outras formas com a
finalidade de obtenção de prazer sexual por parte do adulto;
◦ Quando a pessoa adulta pede para que a criança toque o corpo dela ou
estimule de outras formas com a finalidade de obtenção de prazer sexual;
◦ Penetração na vagina;
◦ Penetração no ânus;
◦ Exibição de imagens ou vídeos com conteúdos sexuais;
◦ Gravação de vídeos ou imagens da criança com conteúdos de nudez e/ou
em situações sexuais;
◦ Quando as práticas acontecem com finalidades comerciais, de obter lucro,
são chamadas de exploração sexual.
◦ Alguns exemplos relacionados à exploração sexual são o tráfico de pessoas,
o turismo sexual e a pornografia infantil.
Disque 100
O Disque 100 funciona 24 horas, inclusive nos finais de semana e
feriados. As denúncias podem ser anônimas, o sigilo é garantido. As
ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem
direta e gratuita para o número 100 ou pelo site
www.disque100.gov.br.
Projeto Unbreakable
◦ A seguir serão apresentadas imagens do “Projeto Unbreakable”,
com frases que foram ouvidas por diferentes pessoas em situações
de violência sexual.
◦ As imagens exemplificam aspectos que são comuns em situações de
violência.
Projeto Unbreakable
“Querida, o que te faz acreditar que você tem o direito de
dizer não para mim? Eu sou uma pessoa adulta e você é
uma criança”.
Projeto Unbreakable
“Se você contar para alguém, eu demito seu papai”.
Projeto Unbreakable
“Se você me deixar tocá-la ____ vezes por dia, eu deixarei suas irmãs em
paz. Mas... Você não pode contar nunca!” – Ele estava dizendo a mesma
coisa para minhas irmãs mais novas. Eu sou a mais velha e foi no meu
aniversário de 11 anos que tudo começou.
Obrigada ‘papai’ = ( ”
Projeto Unbreakable
“Você não é nada”.
Projeto Unbreakable
“Seja uma boa garota. Não diga nada, ok?” Silêncio.
Projeto Unbreakable
“Me dê um beijo de boa noite”.
Projeto Unbreakable
“Eu te amo”.
Diálogo sobre sexualidade como
fator de proteção
◦ Quando a sexualidade é transmitida como um tema proibido,
cercado por censuras e tabus, a criança encontrará dificuldades
para saber sobre seus direitos e para reconhecer as situações em
que precisa de ajuda
◦ O diálogo sobre sexualidade propicia o aprendizado de informações
sobre o próprio corpo, sobre o desenvolvimento, sobre a saúde e
sobre os direitos, com espaço para que a criança possa esclarecer
dúvidas com pessoas em quem confia
◦ O diálogo sobre sexualidade pode acontecer de forma didática, em
uma linguagem simples e acessível para a criança
Exemplo: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
Fonte: www.pipoefifi.com.br
O diálogo sobre sexualidade é
importante porque abrange:
◦ A transmissão de informações sobre o corpo, sobre a
saúde e sobre o desenvolvimento humano;
◦ A valorização das múltiplas expressões humanas, com
o reconhecimento de diversas formas de ser, agir,
sentir e construir relações;
◦ A problematização de estereótipos, preconceitos e
discriminações;
◦ A conscientização sobre direitos e a prevenção de
situações em que direitos são violados, como nas
situações de violência sexual.
A importância do diálogo
Violência no parto
Violência contra gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e
transexuais
Violência contra gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais

 No Relatório 2015 sobre Assassinatos de pessoas


lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis no
Brasil, são publicados dados sobre assassinatos
marcados por extrema violência: uso de armas de
fogo, facas, foices, machados, espancamentos,
enforcamentos, degolamentos e carbonização.
 Em 2013 foram registrados 312 assassinatos, ou
seja, 1 homicídio a cada 28 horas, sendo importante
considerar como o número pode ser maior devido às
dificuldades de notificação.
Nós precisamos do debate
sobre sexualidade e gênero
nas escolas!
Código de Ética

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