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MM. JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CONCEIÇÃO DO COITÉ - BA.

JOÃO MOREIRA DE SENA, brasileiro, casado, motorista, CPF


nº 223.341.225-72 e RG nº. 137115202 SSP/BA, residente e
domiciliado à Segunda Travessa Manoel Bandeira, 82, CEP
48.730-000, Centro, no município de Conceição do Coité/BA, por
meio de seu advogado infrafirmado, constituído conforme
procuração em anexo, vem ajuizar a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO C/C


PEDIDO LIMINAR

Em face da AGERBA - Agência Estadual de Regulação de


Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da
Bahia, pessoa jurídica de direito público, estabelecido no
Centro Administrativo da Bahia (CAB), 4ª Avenida, nº 435, 1º
andar, CEP 41745-002, Salvador/Bahia, pelas razões de fato e
direito a seguir expostas.

I - DA JUSTIÇA GRATUITA

Consoante o disposto nas Leis 1.060/50 e 7.115/83, o autor


declara para os devidos fins e sob as penas da lei, ser pobre,
não tendo como arcar com o pagamento de custas e demais
despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua
família pelo que requer os benefícios da justiça gratuita.

– Bahia, CEP. 48.730-000.


Telefone: 75 99957-6860
E-mail: wagnerfrancesco@gmail.com
II - DOS FATOS

O autor, na data 15 de maio de 2018, estava retornando


para o município de Conceição do Coité quando foi abordado por
agentes da AGERBA - Agência Estadual de Regulação de Serviços
Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia,
sendo autuado pela suposta prática de prestação de transporte
rodoviário intermunicipal de passageiros no Estado da Bahia em
linhas não abrangidas pelo objeto de concessão ou permissão.

O autor apresentou os seus respectivos documentos e,


diante da tentativa de argumentar que não havia nenhum
passageiro no veículo e que o mesmo estava retornando para sua
cidade de origem, Conceição do Coité, foi ignorado pelos
agentes autuadores que lavraram o Auto de Infração de número
79628, em anexo, sendo o motorista considerado infrator do
artigo 40 da Lei 11.378/09.

O autor não apresentou recurso administrativo, pois


perdeu o Auto de Infração que foi coagido a assinar, e, por
esta razão, sofreu com a revelia decretada pelo colegiado da
Agerba, conforme art. 45 e 47 da lei 11.378/09. Diante disso,
lhe foram aplicadas as sanções de recolhimento do valor da
multa pecuniária de R$ 4.048,40(quatro mil e quarenta e oito
reais e quarenta centavos) conforme artigo 40, II, “a”,
conforme a Resolução da Agerba nº. 25/2011 e de acordo com o
art. 48 da lei 11.378/09, sob pena de inscrição em dívida
ativa, conforme o artigo 81 do decreto 11.832/09. Fora
determinado também que o veículo fosse apresentado
imediatamente ao posto da Agerba mais próximo para o
cumprimento da penalidade de apreensão pelo prazo descrito,
conforme o art. 40, II, “b” da lei 11.378/09, combinado com os
critérios descritos no art. 84 do decreto 11.832/09.

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Uma vez transitada em julgado na Instância
Administrativa, e se valendo da Constituição Federal, art. 5º,
XXXV, segundo o qual o Poder Judiciário não será excluído
quando houver lesão ou ameaça a direito, resolveu o autor
ingressar com a presente demanda com o intuito de comprovar
suas alegações e alcançar a anulação do requerido auto de
infração.

III - DA FUNDAMENTAÇÃO

III.1 – DA VERDADEIRA VERSÃO DOS FATOS. VEÍCULO SEM


PASSAGEIRO. ART.40 DA LEI 11.378/09. NÃO CONFIGURAÇÃO.
PREENCHIMENTO IRREGULAR DO CAMPO “OBSERVAÇÕES” QUE ACARRETA EM
NULIDADE DO AUTO.

Na situação apresentada, se verifica que não houve


qualquer irregularidade que justificasse a lavratura do Auto
de Infração de número 79628, vez que o autor não prestou
serviço de transporte rodoviário de passageiros, como
demonstraremos adiante, bem como na instrução do processo.

Para melhor compreensão do que venha a ser Transporte


Rodoviário Intermunicipal de Passageiros, o artigo 4º da Lei
11.378/2009 esclarece que:

O Sistema de Transporte Rodoviário Intermunicipal de


Passageiros do Estado da Bahia - SRI - compreende os
serviços de transporte realizados entre os pontos
terminais, considerados início e fim, transpondo
limites de um ou mais municípios, com itinerários,
seções, tarifas e horários definidos, realizados por
estradas federais, estaduais ou municipais, abrangendo
o transporte de passageiros, suas bagagens e
encomendas de terceiros.

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Do acima exposto, não resta dúvida sobre o que venha a
ser Sistema de Transporte Rodoviário Intermunicipal, sendo
este uma prestação de serviço, meio de sustento, seja
transportando passageiros (clientes), suas bagagens ou
encomendas.

De fato, o autor não transportava passageiros (clientes)


de um destino a outro, pois, no momento da autuação, estava
com o carro vazio.

Importante que se diga, os agentes da AGERBA não deram ao


motorista a oportunidade de se defender, pois iria ser
argumentado que não havia passageiros no veículo. Tanto não
havia mais ninguém no veículo que no momento da autuação do
motorista não foi feito nenhum transbordo e não foi anotado
nenhum CPF ou documento de qualquer passageiro, a fim de que
se comprovasse a infração ora combatida.

Para que haja a infração prevista no artigo 40 é mister


que haja passageiros no veículo, o que, conforme já dito, mas
repetido para reforçar, não havia. Mas se por mero exercício
teórico aceitarmos que havia passageiros no veículo, ainda
assim não haveria o cometimento da infração prevista na lei
11.378/09. Senão vejamos.

Conforme já citado, o art. 4º da lei 11.378/09 deixa


clara as características para que um serviço seja prestação de
transporte rodoviário intermunicipal. Assim, para que haja a
prestação deste serviço, deve 1) o serviço ser realizado em
pontos terminais, 2) existirem itinerários, seções, tarifas e
horários definidos.

Os dois pontos acima não são presumidos, mas devem ser


comprovados pela Agerba quando da lavratura do Auto de

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Infração. Ora, um carro que esteja levando várias pessoas por
si só não configura a infração do art. 40 se este serviço não
for feito diariamente, com pontos terminais fixos, com tarifas
e horários definidos. Assim, um carro que esteja transportando
várias pessoas, mas de modo esporádico, para algum evento
específico num local e data determinada, não comete a infração
do artigo 40 da lei citada, pois não é um serviço realizado
com ponto terminal e não existem itinerários e nem horários
definidos.

Deste modo, deve o auto de infração ser tido por nulo por
força do artigo 281, I, do Código de Trânsito. Segundo este,

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da


competência estabelecida neste Código e dentro de sua
circunscrição, julgará a consistência do auto de
infração e aplicará a penalidade cabível.

Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e


seu registro julgado insubsistente:

I - se considerado inconsistente ou irregular;

Como já bem enfatizado aqui, não havia passageiros no


veículo, mas, ainda que houvesse, a infração cometida seria a
do artigo 231, XIII, do Código de Trânsito e não a do artigo
40 da lei 11.378. O auto de infração 79628 é irregular, pois
errou na tipificação da infração, autuando o agente por uma
infração que não cometeu e, se tivesse cometido, não seria a
exposta no Auto.

Bom que se diga, o campo 3 “Observações” que existe no


Auto de Infração existe para ser preenchido corretamente. Nos
termos da Resolução 390/2011 do Contran, Anexo I, Campos do
Auto de Infração, o campo “Observações” é destinado ao
registro de informações complementares relacionados à infração

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e o campo é de preenchimento obrigatório. Por ser de
preenchimento obrigatório não basta que se escreva qualquer
coisa nele, mas que seja preenchido de modo correto. Naquele
campo deveria ser inserido a informação de quantos passageiros
havia no veículo, se eles foram abordados, se confirmaram que
pagaram alguma tarifa e etc. Nada disso foi feito e, assim,
resta tão somente a palavra do agente autuador contra a
palavra do cidadão, ora autor.

Em que pese agente autuador goze da presunção da


veracidade de seus atos, esta presunção não é absoluta e deve
vir acompanhada de provas – sua palavra não é prova
suficiente, do mesmo modo que o testemunho exclusivo de um
policial, no campo criminal, não é suficiente para a
condenação de um réu. Portanto, o campo “observações”, de
preenchimento obrigatório, não foi corretamente preenchido e
somente isto já tornaria o Auto de Infração 79628 nulo, pois
irregular e inconsistente, nos termos do art. 281, I, do
Código de Trânsito.

IV - DA IRRAZOABILIDADE NA APLICAÇÃO DA MULTA

Superada a questão do equívoco na imputação da infração do


artigo 40 da lei estadual 11.378/2009, se faz necessário
atentar para o peso da penalidade aplicada.

A requerida, sem amparo legal, com base em suposta


irregularidade, imputou ao autor penalidade gravíssima,
quando, ainda que verdadeiros fossem os fatos, o que se nega,
poderia fazer uso de quaisquer outras penalidades previstas no
artigo 32 da lei estadual acima citada, como a advertência por
escrito, entretanto aplicou uma multa no valor de R$
4.048,40(quatro mil quarenta e oito reais e quarenta centavos)
e, cumulativamente, a penalidade de apreensão do veículo de

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placa JQW 9077, Renavam 941337871, por 20 (vinte) dias, o que
representa verdadeiro excesso.

Caso tivesse havido infração, o que se nega, sendo


necessária a aplicação da penalidade multa, esta deveria
ocorrer nos termos do artigo 231, VIII, do Código de Trânsito,
assim transcrito:

Transitar com o veículo efetuando transporte


remunerado de pessoas ou bens, quando não for
licenciado para esse fim, salvo casos de força maior
ou com permissão da autoridade competente: Infração:
média; Penalidade: multa; Medida Administrativa:
retenção do veículo;

Assim, o artigo 231, VIII, do Código de Trânsito Brasileiro


deve ser interpretado à luz do artigo 267, da lei 9.503/97,
que afirma expressamente que

Poderá ser imposta a penalidade de advertência por


escrito à infração de natureza leve ou média, passível
de ser punida com multa, não sendo reincidente o
infrator, na mesma infração, nos últimos doze meses,
quando a autoridade, considerando o prontuário do
infrator, entender esta providência como mais
educativa.

Desde modo, se mostra irrazoável a aplicação de uma


penalidade gravíssima quando, se a infração tivesse ocorrido,
o que se nega, caberia a penalidade de advertência em razão de
ser infração média.

V - DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Nos termos do artigo 300 da lei 13.150/2015,

A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e

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o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.

Para a concessão de Tutela de Urgência se faz necessária


de um desses dois requisitos: a probabilidade do direito e o
perigo de dano o risco ao resultado útil do processo.

DA PROBABILIDADE DO DIREITO

A situação descrita, onde se demonstrou que não houve


transporte rodoviário de passageiros, evidencia que no momento
em que o autor foi multado não havia passageiros no veículo.
Portanto, os elementos indicativos da ilegalidade da autuação,
levando em consideração também a irregularidade no
preenchimento do Auto de Infração, traz à tona circunstâncias
de que o direito aqui buscado muito provavelmente existe.

DO PERIGO DE DANO

O autor motorista e faz uso do seu veículo para se


deslocar a trabalho. A apreensão do seu veículo lhe amputaria
o direito de ir e vir e também lhe causaria prejuízos
econômicos. Ainda mais, houve, em 2016, a revogação do artigo
262 do Código de Trânsito que determinou que a apreensão, por
ser penalidade, só pode ser aplicada com o devido processo
legal e após o trânsito em julgado da sentença.

Não bastasse isso, há o perigo de dano econômico ao autor,


caso o mesmo, assalariado como a maioria dos trabalhadores do
país, tenha que pagar a quantia de R$ 4.048,40 (quatro mil
quarenta e oito reais e quarenta centavos) a título da
infração de trânsito que ora protestamos, pois irregular. Este
valor, ao ser pago pelo autor, poderá causar prejuízos para o
sustento seu e de sua família.

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VI - DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

1. Deferimento dos benefícios de assistência gratuita;


2. Seja concedida tutela de urgência para suspensão da
exigibilidade da penalidade de apreensão do automóvel
de placa JQW 9077, bem com seja deferida tutela de
urgência para suspensão do pagamento da multa no valor
de R$ 4.048,40 (quatro mil quarenta e oito reais e
quarenta centavos).
3. Anulação do Auto de Infração, vez que, conforme
demonstrado, não houve transporte irregular de
passageiros, pois não havia passageiros no momento da
autuação e, além disso, o Auto de Infração foi
preenchido de modo irregular, o que, pela força do
artigo 281, I, do Código de Trânsito, deve ser
considerado nulo.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova


admitidos em direito, especialmente pela produção de prova
testemunhal e por tudo o mais que se fizer indispensável à
cabal demonstração dos fatos articulados na presente inicial.

Dá-se à causa o valor de R$ 4.048,40 (quatro mil quarenta


e oito reais e quarenta centavos).

Termos em que pede deferimento,

Conceição do Coité, 02 de outubro de 2018

Wagner Francesco
OAB/BA 58.110

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