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CAPA

RIQUEZA E POBREZA NO CAMPO BRASILEIRO


NO LIMIAR DO SÉCULO XXI
Nazareno Godeiro
Sumário

Introdução........................................................................................p. 4
Capítulo I -– Agronegócio, modernização e desnacionalização no campo
Brasil, o país do latifúndio e da pobreza no campo..........................p. 6
A contrarreforma agrária dos governos petistas..............................p. 6
O agronegócio no Brasil e a modernização da agricultura................p.8
A modernização capitalista no campo..............................................p. 8
O Brasil como fornecedor de alimentos, energia e
matérias-primas para o mundo ....................................................... p. 9
O agronegócio subjuga a agricultura familiar...................................p. 11
Domínio estrangeiro no campo brasileiro........................................p. 12
Capítulo II - Governo Dilma apadrinha o agronegócio via BNDES....................... p. 13
O setor sucroalcooleiro no Brasil e em São Paulo............................p.15
O que está por trás da crise das usinas na safra 2011/2012?...........p.17
Os donos da cana: o domínio multinacional do setor........................p.19
Os principais grupos e seu faturamento.............................................p. 21
A exploração dos trabalhadores e do povo:
cana não traz desenvolvimento social ................................................p. 23
As dívidas seculares dos usineiros da cana com o Brasil....................p. 24
A “crise” da citricultura brasileira e o oligopólio multinacional.........p. 28
Capítulo III - Por uma campanha nacional em defesa da reforma agrária,
do assalariado rural e dos pequenos produtores!............................... p.30

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Apresentação
Este texto é produto da discussão entre a Federação dos Empregados Rurais
Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) e a Central Sindical e Popular (CSP-
Conlutas), com apoio e participação importante do Instituto Latino-Americano de
Estudos Socioeconômicos (ILAESE). Pretende-se dar subsídio para uma melhor
compreensão da real situação do campo brasileiro e, com isso, municiar as organizações
de trabalhadores do campo e também da cidade, para reforçar a luta da classe
trabalhadora em defesa de uma verdadeira Reforma Agrária no país, que privilegie a
produção de alimentos para todo o povo brasileiro e os interesses dos trabalhadores do
campo, preservando o meio ambiente.
Pretende-se com este texto ajudar a que se dissemine esta discussão em todas as
dimensões da vida da sociedade brasileira. Nas fábricas e em todos os locais de trabalho
e moradia, nas escolas, universidades, nos parlamentos e nas casas legislativas, nas
igrejas e um longo etcetera. É preciso criar um debate crítico na sociedade para que
possamos reunir força para pressionar os governantes a promoverem uma profunda
mudança, uma verdadeira inversão de valores nas políticas para o campo aplicadas hoje
no país.
Vivemos-se em um dos países mais privilegiados do mundo em termos de potencial e
capacidade de produção de alimentos. Existem terras boas e em grande quantidade, e
água e clima favoráveisl, o que permitiria ao Brasil produzir não só alimentos não só
para todo o povo brasileiro, como também para ajudar a alimentar irmãos de outros
países. No entanto, atualmente contam-se aos milhões o número de pessoas que não tem
como que se alimentar digna e diariamente. Importa-se feijão da China, e os preços dos
alimentos são “acusados” (corretamente, aliás) de alimentar a inflação; enquanto as
terras férteis - ao invés de serem utilizadas para produzir mais alimentos, e assim baixar
os preços -são utilizadas para produzir soja (exportada para a Europa para servir como
ração de gado) ou açúcar e etanol nas grandes usinas de São Paulo, Minas Gerais e do
Nordeste!
Os Trabalhadores Sem-Terra continuam a vagar aos milhões pelo país, vivendo em
acampamentos em beira de estrada em busca de um pedaço de terra onde possam
trabalhar e produzir alimentos1. Já o assalariado agrícola, que trabalha para as grandes
empresas do agronegócio, é submetido a uma exploração extrema, com baixos salários e
condições de trabalho absolutamente precárias. A situação dos Sem-Terra contrasta com
a imensidão de terras (boa parte griladas, poisem sua maioria eram terras públicas que
1
Cerca de 70% dos alimentos consumidos no país vêm da pequena produção.

2
foram griladas) concentradas nas mãos dos latifundiários e das grandes empresas do
agronegócio. A miséria em que vive o empregado rural contrasta com a imensa riqueza
acumulada pelos donos das empresas onde trabalham; controladas, em sua maioria, por
grandes grupos capitalistas estrangeiros.

Os governos anteriores, notadamente os do PSDB, privilegiaram os interesses do


latifúndio e do agronegócio de forma inconteste. No entanto, infelizmente os governos
do PT não atuaram diferente neste quesito. Os dois mandatos de Lula e o governo da
presidenta Dilma intensificaram e aprofundaram a opção pelo agronegócio contra a
Reforma Agrária e contra os interesses dos trabalhadores que são explorados por estas
empresas.
Naquilo que em muito se assemelha a uma troca, o agronegócio contribuiu com mais de
40 milhões para a campanha eleitoral do PT e da candidata Dilma nas eleições de 2010,.
Por sua vez, o governo federal tem destinado todo tipo de ajuda a estas empresas,.
Ddesde empréstimos milionários pelo BNDES - a juros de “pai para filho” e - que nem
sempre são pagos, - passando por uma leniência completa no que diz respeito à
cobrança de dívidas tributárias destas empresas atée pel a concessão de incentivos e
isenções fiscais que reduzem a arrecadação de impostos do país, poréme só aumentam o
lucro destes grandes grupos econômicos. Como se a saúde financeira das empresas
fosse mais importante que a saúde do povo, que está desprotegido pelofrente ao caos
que impera na saúde pública por falta de recursos.
Os pequenos municípos do interior, onde se encontram estas grandes empresas, também
são penalizados por esta situação. Ao abrir mão de impostos e contribuições devidas por
estas grandes empresas o governo reduz também o volume de recursos que é repassado
a estes municípios menos populosos, como por exemplo, o Fundo de Participação dos
Municípios (FPM). Assim, as pequenas cidades que têm a obrigação de garantir os
direitos sociais básicos, como saúde, educação, moradia e saneamento aos seus
habitantes (muitos deles empregados node agronegócio) têm cada vez menos recursos
para tal, vivendo crises recorrentes.
E o outro grande perdedor nessa situação é o meio ambiente. Da mesma forma que estas
empresas demonstram total desprezo por qualquer tipo de obrigação social, seja para
com seus empregados oue a comunidade onde esta instalada, seja em relação à
necessidade de produção de alimentos para o povo, tampouco demonstram qualquer
apreço pela preservação ambiental. A vitoriosa pressão que fizeram, vitoriosa, para
aprovar o Novo Código Florestal foi só uma das expressões da prática do agronegócio.
Outra expressão, tão emblemática quanto esta, foi a que se viu na televisão: um avião
que espalhava veneno em uma plantação numa grande fazenda despejou veneno sobre
uma escola, mandando para o hospital dezenas de crianças intoxicadas.
Por último, mais do que fazer a crítica a esta situação, este texto pretende também
mostrar que há alternativas. Há formas diversas de utilização dos recursos naturais do
país, de forma a que se privilegiem os interesses não só dos trabalhadores do campo,
mas de todo o povo pobre do país. São essas alternativas que queremos expor aoTrata-se
deste ponto ao final do trabalho, quando pretende-se debaterpara debater essas ideias
com os trabalhadores e com toda a sociedade essas ideias e alternativas apresentadas.
E talvezquem sabe seja este mesmo o objetivo principal deste livro,: ajudar a criar
condições para unir em uma mesma luta os trabalhadores do campo e da cidade, uma
luta para mudar para melhor a situação que vivemos em torno do objetivo de mudar a

3
situação que se vivencia na atualidade; e a partir da qualpara sepoderemos avançar na
construção de uma outra realidade no campo brasileiro. Uma luta que venha somar-se às
demais que se travam nopor todo o país, contra toda forma de exploração e de opressão,
por uma sociedade justa, igualitária e socialista.
José Maria de Almeida,
São Paulo, setembro de 2014

Brasil, o país do latifúndio e da pobreza no campo


No Brasil, o último censo agropecuário, realizado em 2006, constatou um aumento da
concentração de terras nas mãos dos ricos. Apenas 1% dos proprietários (47 mil grandes
empresas/famílias) domina quase a metade das terras do Brasil. Do outro lado, 2,4
milhões de camponeses pobres têm que se virar com cerca de 2% do território, em
propriedades de menos de 10 hectares2.

O Brasil é o segundo país com maior concentração de terras do mundo. Perde apenas
para o Paraguai. Além disso, estima-se que cerca de 5 milhões de camponeses pobres
não tenham acesso à terra. A população rural do Brasil é de 30 milhões de pessoas e
mais da metade é composta de pobres e de miseráveis. A renda média do trabalhador
rural é de 80% do salário-mínimo3.

São quase três milhões de famílias de camponeses 4 que estão na pobreza absoluta, com
renda familiar mensal de meio salário-mínimo. Contando seis pessoas por família, tem-
se um contingente de 18 milhões de pobres no campo5.

Resumindo, de cada 10 propriedades rurais no Brasil, uma representa o agronegócio,


duas têm uma renda próxima do salário-mínimo do DIEESE6 e sete são pobres e
miseráveis.

Enquanto o Brasil converte-se num dos principais produtores de alimentos do mundo,


baseado em monoculturas para exportação, as dificuldades aumentam para milhões de
pequenos proprietários rurais que permanecerem ntiram seu sustento do campo.
2
Fonte: IBGE, censo agropecuário 2006 (BRASIL 2009, p. 107)
3
Valor do salário-mínimo em outubro de 2014: R$ 724,00.
4
Neste texto estamos trabalhando o conceito de camponês pobre como sinônimo de trabalhador rural. Os
camponeses pobres constituem um setor do campesinato que é semiproletário: para sobreviver tem que assalariar
parte da família e complementar renda com o Bolsa-Família.
5
Fonte: Dados do IBGE, Alves et al. (2012).
6
Em outubro de 2014, o salário-mínimo do DIEESE corresponderia a R$ 3079,31.

4
A Contrarreforma agrária dos governos petistas
Havia muita esperança do povo brasileiro de que o PT no governo garantiria justiça no
campo, distribuindo terra e oferecendo condições para plantar e colher aos milhões de
pobres ruraisdo campo. Porém, Lula e Dilma continuaram a obra de Fernando Henrique
Cardoso, privilegiando o grande agronegócio, moderno, latifundiário e multinacional
em detrimento dos milhões de Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Observe o gráfico.

Fonte: INCRA. Fonte: DT/Gab-Monitoria - Sipra Web 31/12/2013– elaboração ILAESE

Se faltasse terra no Brasil, isso poderia se justificar. Porém, o censo agropecuário


desmente isto. Por isso, não é de estranhar a continuidade dos conflitos no campo:.
segundo oO relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelou que: 34
trabalhadores rurais foram assassinados no país em 2013, isto é, um morto a cada 10
dias no governo Dilma. Assim, é unânime na esquerda em geral a análise dosobre a
situação do campo brasileiro nos últimos 10 anos:

Nos últimos dez anos, não houve avanços em termos de reforma agrária. Nos últimos dez
anos, se ampliou a concentração da propriedade da terra. E pior, concentrou-se inclusive
nas mãos de empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma
não conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas,
algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o governo
Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do agronegócio, que produz,
ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e aumenta a pobreza no campo7.

O agronegócio no Brasil e a modernização da agricultura


O conceito de agronegócio, também chamado de ou Complexo Agroindustrial (CAI),
compreende desde a produção de matérias-primas e máquinas, agropecuária,
agroindústria, até a distribuição dose alimentos, através dos supermercados. Em 2012
foi o setor mais dinâmico da economia e representou 33% do PIB, 37% dos
empregos e 42% das exportações. É o único setor, junto com a mineração, que tem
superávit comercial no comércio exterior, cobrindo o rombo deixado pelos outros
setores, especialmente pela indústria metalúrgica, eletroeletrônica, informática, química
e de fabricação de máquinas.

Por ser um setor-chave na economia brasileira tem sido a prioridade dos governos
petistas: ostenta crescimento com índices chineses nos últimos 10 anos. A colheita de
grãos da safra 2012/2013 foi um recorde, cerca de 186 milhões de toneladas, segundo as
estimativas da CONAB. E 2014 promete ser melhor. O rendimento da produção
agropecuária, principal setor do agronegócio, saltou de R$ 182 bilhões, em 2003, para
R$ 394 bilhões, em 2013. Um crescimento de 10,5% ao ano desde a chegada do PT ao
governo federal8.

7
Entrevista com João Pedro Stédile concedida ao jornal ABCD MAIOR em 13 de dezembro de 2012.

8
Fonte: ABIA 2013.

5
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), o faturamento
do setor cresceu 12% em 2012 e 12% em 2013. Portanto, as grandes empresas do setor
estão ganhando rios de dinheiro. Conforme a Revista Exame, Maiores e Melhores 2014,
em 2013 as 400 maiores empresas do agronegócio somaram um faturamento de R$ 536
bilhões e lucros de R$ 10 bilhões, um crescimento de 43% frente ao ano de 2012.

A modernização capitalista do campo


Este crescimento espetacular do agronegócio brasileiro resultou do aumento da
produtividade, ou seja, da produção com mais máquinas e menos trabalhadores,
produzindo mais toneladas por hectare. Em 30 anos a produção agrícola cresceu 205% e
a área plantada apenas 27%, como demonstra o gráfico a seguir.

Fonte: CONAB, 2011 – Elaboração:ILAESE

Este salto na produtividade se deu com a diminuição de trabalhadores ocupados no


campo: o número de trabalhadores caiu de 23,3 milhões em 1985 para 16,4 milhões em
2006, de acordo com o IBGE. O neoliberalismo destruiuacabou com quase sete milhões
de postos de trabalho no campo brasileiro. Esta “modernização” conservadora, além de
atacar os é destrutiva de postos de trabalho do campesinato pobre, e também é destrutiva
para o meio do ambiente, que é subordinado às tecnologias das multinacionais. O Brasil
já é o campeão no uso de agrotóxicos. A área cultivada com todos os transgênicos
utilizados no país - incluindo soja, milho e algodão – atingiu 42 milhões de hectares na
safra 2013/14. Ou seja, a safra brasileira já está utilizando dois terços da safra brasileira
são cultivados decom sementes transgênicas.

O Brasil como fornecedor de alimentos, energia e


matérias-primas para o mundo

A onda neoliberal que varreu o mundo no final do século passado transformou o Brasil.
Em 20 anos o país foi se ”especializando” na extração e na produção de produtos
primários enquanto a China se convertia na “fábrica” do mundo. A participação do
Brasil no comércio mundial representa apenas 1% do total. Mas em contrapartida o país
já representa 7% do comércio mundial de alimentos. O Brasil já é o segundo maior
exportador de alimentos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos; e também
conta com a maior área disponível para a expansão da atividade agrícola, conforme a
ONU.

Segundo um estudo da agência Ernst & Young, intitulado: Brasil sustentável –


Perspectivas do Brasil na agroindústria – 2009:

Considerando os principais players nos mercados de alimentos e matérias-primas


agrícolas, o Brasil é o país em que foram observados os maiores ganhos de produtividade
no setor agropecuário entre 1960 e 2005. Nesse período, a produtividade elevou-se a uma

6
taxa de mais de 2% ao ano, marca superior à verificada em países como: a China (1,8%),
a Índia e a Argentina (1,5%), os Estados Unidos e o Canadá (0,8%).

São cinco os produtos que já representam cerca de 80% das exportações


agropecuárias brasileiras: soja (em grande parte transformada em ração de gado no
exterior), carnes, açúcar, etanol, café. Esse processo é todo controlado por algumas
poucas empresas (todas elas estrangeiras), que formam um verdadeiro oligopólio
mundial: três empresas (Monsanto, DuPont e Syngenta) controlam 53% do mercado mundial
de sementes; cinco companhias (Syngenta, Bayer, Basf, Dow e Monsanto) controlam 69% dos
agroquímicos9 e cinco empresas (Cargill, Marubeni, Bunge, Archer Daniels Midland e Louis
Dreyfus) controlam 90% do comércio de cereais.

O Brasil é o maior exportador de minérios do mundo e é o principal exportador


de: soja, carne, açúcar, café, suco de laranja e tabaco. Oapesar disso, o Brasil
estácontinua prisioneiro da produção em larga escala para o mercado mundial,
secundarizando os alimentos para o povo brasileiro. Importa-se feijão preto da China,
banana da Tailândia, maçã do Chile, cebolas da Espanha, limão do Uruguai. O Brasil é o
maior importador de trigo do mundo e o volume de produção de feijão, arroz e
mandioca se mantém o mesmo há 20 anos, enquanto aumenta a população. Além disso,
os preços dos alimentos são determinados pelo mercado mundial, em dólar. O preço da
laranja subiu mais de 100% em 2012, enquanto milhões de toneladas de laranjas
apodreciam nos pomares no interior de São Paulo.

O país é o maior produtor de carne bovina e se ufanaorgulha deem ter o maior


frigorífico do mundo, mas o brasileiro não pode comprar carne. Os grandes produtores
estão interessados em produzir commodities, produtos básicos para exportação em
grande escala para o mercado mundial. Por isso, 70% da produção de feijão, 87% da
mandioca, 46% do milho, 34% do arroz, e 58% do leite são produzidos pelos pequenos
produtores agrícolas.

Cada vez se torna mais difícil produzir estes itens porque os custos da terra e da
produção são altíssimos, determinados em uma competição com grandes multinacionais
que têm todo o crédito do mundo. Assim, vê-se aumentar vão aumentando as
importações de produtos da cesta básica do brasileiro, comcomprados base ema preços
deo mercado internacional. Com a perda da soberania nacional, perde-se a soberania
alimentar.
Ao mesmo tempo eEm 2013, em relação ao volume de terras cultiváveis, a produção da
cana-de-açúcar ocupou 10,5 milhões de hectares (15%) enquanto a de soja ocupou 27
milhões de hectares (55% do total).

Está ocorrendo uma contrarreforma agrária no Brasil, distanciando-nos da soberania


alimentar e retornando a umalevando na prática à recolonização do Brasil, que
novamente se volta napara a produção de produtos primários para exportação.

O agronegócio subjuga a agricultura familiar

9
http://www.carosamigos.com.br/index.php/economia-2/4186-as-multinacionais-que-controlam-o-agronegocio

7
Em 2006, segundo o último Censo Agropecuário, existiam no Brasil 4,4 milhões de
pequenas propriedades rurais com menos de 100 hectares, sendotendo a maioria delas
com menos de 10 hectares. Este total está subdividido da seguinte forma: sete de cada
10dez pequenos proprietários são pobres ou miseráveis, com renda mensal abaixo do
salário mínimo. Três de cada 10dez são de “classe média”, com renda média mensal de
aproximadamente R$ 3 mil, e sobrevivem produzindo ou arrendando terras para o
agronegócio.

Nesta situação de pobreza, sem ajuda do governo e com crédito limitado, dependendo
dos atravessadores e das grandes redes de supermercado para comercializar seus
produtos, é impossível competir com o grande agronegócio multinacional. O
agronegócio desarticula a agricultura camponesa e subordina a pequena propriedade,
obrigando-a a trabalhar para os ricos. Generaliza-se o arrendamento de terra do pequeno
proprietário ao grande agronegócio, prendendo o camponês ao capitalista, através do
endividamento e da dependência, pela falta de alternativas. Por isso, a área ocupada
pelas pequenas propriedades não para de cair: diminuiu de 9,9 milhões de hectares para
7,7 milhões de hectares entre 1985 e 2006, uma; área equivalente a 200 mil
propriedades de 10 hectares.

Somente a cultura da soja ocupa uma área de lavoura três vezes maior que toda a área
ocupada por 2,4 milhões de famílias camponesas, que possuem propriedades com menos
de 10 hectares. No entanto, a agricultura familiar, ainda de acordo com o censo de 2006,
produziu cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, empregando 74% dos
trabalhadores rurais. Na agricultura camponesa, em cada 100 hectares, trabalham 15
pessoas. No agronegócio, a cada 100 hectares gera-se emprego para apenas duas pessoas.
Porém, com alto grau de mecanização, insumos agrícolas, crédito farto e terra à vontade,
o agronegócio pode alcançar uma produção de 1000 toneladas por operário enquanto a
pequena produção familiar, sem crédito nem insumos e com pouca terra, muitas vezes
alcança uma produção de 1 tonelada por pessoa10.

O crédito para a agricultura familiar é de cerca de 10%, enquanto o agronegócio fica com
90% dos financiamentos, informasegundo informe do próprio Banco Central. Assim, é
impossível concorrer. É completamente desleal. Esta é a fonte da quebra e da
subordinação da pequena propriedade em aodetrimento do agronegócio multinacional.

De pouco adianta distribuir terra para o camponês pobre se isto não fizer parte de um
plano global que conectea todo o complexo agroindustrial com a produção camponesa.
A produção para o autoconsumo é a reprodução da miséria. Por isso,É por esta razão
que o projeto de Reforma Agrária baseado apenas na distribuição de terra aos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra está em crise o projeto de Reforma Agrária baseado na
distribuição de terra aos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.

Desta crise abrem-se duas perspectivas: ou o Estado controlará todo o Complexo


Agroindustrial e realizará um projeto de reforma agrária segundo o interesse do povo
10
Soja e favelas. Frei Luc Vankrunkelsven – http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index2.php?
option=com_content&do_pdf=1&id=1012r

8
brasileiro ou a pequena produção camponesa se subordinará ao agronegócio;, fenômeno
que já está ocorrendo. Por isso, não se pode analisar osa agricultuoraes familiares como
um grupo homogêneao. Ao contrário, dentre estes, os camponeses pobres se alinharão
com os assalariados rurais e os operários da cidade para lutar contra a burguesia,
enquanto um setor de pequenos proprietários se passará para o lado do agronegócio,
como já ficou patente na batalha do Código Florestal Brasileiro, em que boa parte dos
pequenos produtores do Rio Grande do Sul estava com o agronegócio.

Sem apoio do governo e jogados ao léu, os próprios assentados terminam não


conseguindo por não firmar-se na terra por falta de condições para: plantar, colher e
comercializar. Um levantamento feito pelo INCRA, no final de 2011, constatou que de
790 mil famílias assentadas: 43% tinham abandonado os lotes e outros 35% tinham
transferido ilegalmente as terras.

Domínio estrangeiro no campo brasileiro


Os 20 anos que consolidaram o domínio do agronegócio no campo brasileiro também
produziram uma mudança na propriedade rural brasileira. Três dezenas de grandes
empresas, a maioria multinacionais de propriedade de bancos internacionais,
substituíram a velha administração familiar dos latifundiários e coronéiscoroneis por
administrações “modernas”, de propriedade de bancos internacionais.

O capital nacional, que era dono de 90% dos negócios, ou se tornou um sócio
minoritário no negócio ou se converteu em mero gerente do capital multinacional. Isto
se passou com grandes nomes da agricultura e do comércio, como as famílias: Biagi,
Junqueira e Rezende Barbosa, ou Abílio Diniz.

Bunge, Cargill, Archer Daniel Midland (ADM), Louis Dreyfus dominam a


comercialização da maior parte da produção agrícola brasileira. Coopersucar, Raízen,
Louis Dreyfus (LDC), ETH Bioenergia e Tereos monopolizam a produção de cana-de-
açúcar e etanol. A citricultura é monopolizada pela Cutrale (fornecedora da Coca-Cola),
Citrosuco e Louis Dreyfus. Carrefour, Walmart e Bom Preço dominam a
comercialização. O frigorífico JBS domina a produção de carne bovina, BRFoods
domina aves e suínos. Monsanto, Syngenta e DuPont dominam a tecnologia de
sementes transgênicas. Ambev emcontrola o setor de bebidas. Nestlé e Unilever
dominam os alimentos industrializados. Basf, Heringer e Bayer monopolizam o a setor
agroquímicoa. Suzano, Fibria e Klabin dominam o mercado de madeira e celulose. A
Souza Cruz domina oa produção de fumo. PortantoOu seja, cerca de 30 empresas
dominam todo o Complexo Agroindustrial brasileiro, desde os insumos, passando pela
produção agropecuária até a comercialização dos produtos.

O faturamento, conforme a revista Exame Maiores e Melhores 2014, destas 30


empresas, conforme a revista Exame Maiores e Melhores 2014, alcançou a cifra
aproximada de R$ 274 bilhões em 2013, o que corresponde a cerca de 30% de todo o
PIB do Complexo Agroindustrial, que chegou a R$ 1 trilhão, emno ano de 2013. Nesta
rápida listagem, mMais de 70% delas das empresas listadas são multinacionais. Poucas

9
empresas são de capital nacional e mesmo estlas já contam com capital internacional na
sua carteira, como é o caso da ETH Bioenergia e da BRFoods.

A burguesia brasileira entregou a soberania nacional com Collor e FHC rendendo-se ao


neoliberalismo, que serviu para, no fundo, entregarou o domínio dos principais ramos
da econômicoseconomia para os grandes grupos internacionais. Essa burguesia
Ppreferiu se associar - em péssimas condições - com ao capital internacional a se unir ao
movimento dos trabalhadores do Brasil e garantir a soberania nacional num
enfrentamento com o imperialismo. Neste ato, demonstrou sua falência histórica como
classe.

Dominada por multinacionais e banqueiros, a produção agropecuária servirá para


alavancar a taxa de lucros destes grandes conglomerados em detrimento da alimentação
do povo brasileiro. Hoje, a terra e a produção de alimentos fazem parte da especulação
financeira mundial, através dos grandes bancos internacionais. O valor do hectare na
lavoura brasileira saiupassou de R$ 1.188,30 em 1994 para R$ 7.490,40 em 2010.

De acordo com o INCRA,existiam 34.632 imóveis em mãos de estrangeiros em 2008,


numa área total de 4.037.667 hectares, muito abaixo da quantidade real que chega
próximoperto dos 10 milhões de hectares. Temos, portanto, uma área superior àa umada
Alemanha, umada França e umada Argentina em posse de estrangeiros no Brasil.

Governo Dilma apadrinha o agronegócio via BNDES


A abertura da agricultura brasileira para as multinacionais se iniciou com o governo
Collor e Fernando Henrique Cardoso (FHC). O massacre de Eldorado dos Carajás
mostrou a disposição da burguesia brasileira, através de FHC, em derrotar o movimento
camponês e abrir caminho para o domínio multinacional do Complexo Agroindustrial.
Porém, não foi o governo FHC que derrotou o movimento camponês e o projeto de
reforma agrária,; que até então era apoiado pela maioria da população brasileira.

Surpreendentemente, a derrota do projeto de rReforma aAgrária se deu sob o governo


Lula. Foi uma derrota que se deu a frio, com luvas de pelica e não pelaatravés da
repressão ao movimento, embora a repressão nunca tenha deixado de atuar nos conflitos
no campo. FoiEssa derrota foi surpreendente porque se esperava algo diferente do
governo do PT. O próprio Lula havia declarado na campanha presidencial de 1998:

“Ganhando as eleições, vou levantar as dívidas dos usineiros no Banco do Brasil e vou desapropriar
as terras deles para fazer assentamentos11.” 12

Chegando ao governo em 2003, Lula mudou de opinião e se juntou a estes mesmos


usineiros declarando:

11
Ver a edição do jornal Gazeta Mercantil de 1º de Setembro de 1998, p. A10.
12
Ver a edição do jornal Gazeta Mercantil de 1º de Setembro de 1998, p. A10.

10
"Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do agronegócio neste
país, estão virando heróis nacionais e mundiais13.”14

Assim, o governo petista foi promotor do agronegócio no Brasil, inclusive responsável


pela desnacionalização e pela recolonização do país. O governo petista direcionou todas
suas forças econômicas para patrocinar, através do BNDES, o agronegócio num modelo
baseado na monocultura para exportação, e sob domínio multinacional.

Até 1990, os desembolsos do BNDES para o Complexo Agroindustrial não chegavam


nem a R$ 1 bilhão por ano. A partir de 1990, os desembolsos subiram para uma média
de R$ 6 bilhões por ano, dirigidos ao nascente agronegócio. Porém, o grande salto de
financiamento se deu sob o governo Lula, que financiouapoiou esse setor emcom cerca
de R$ 18 bilhões por ano em créditos o agronegócio.

Se, ao contrário, o governo do PT optasse por honrar sua promessa de campanha,


direcionaria os R$ 136,8 bilhões que financiaram o agronegócio durante os dois
mandatos de Lula para a realizarrealização de uma Reforma Agrária no país, como
havia prometido. Tal valor seria suficiente para assentar 1 milhão e 700 mil famílias de
Sem-Terra, considerando o valor de R$ 80 mil necessário para assentar uma família em
2012, segundo o INCRA.

Evidentemente, essa opção significaria um enfrentamento com os latifundiários,


banqueiros e grandes empresários nacionais e multinacionais. Significaria uma opção
por outro modelo, apoiado num plano para garantir a soberania alimentar e nacional do
país. As grandes empresas do agronegócio retribuemiram a opção dos governos petistas,
doando somas milionárias napara a campanha eleitoral da Dilma para a presidência em
2010. Sua campanha gastou R$ 135 milhões e recebeu R$ 111 milhões dos grandes
empresários, sendo R$ 45,8 milhões de grandes empresasos grandes empresários do
agronegócio, entre as quaiscomo :Tereos, Maggi, BRFoods, Bunge, AMBEV, Bertin,
Cooxupé, Cosan Coca-Cola, JBS, LDC, São Martinho, Cutrale, Bazan, ETH, Usina
Caeté, etc15.

O Agronegócio em São Paulo


São Paulo é responsável por um terço do PIB agroindustrial do Brasil e é o maior
produtor mundial de suco de laranja. É também o segundo maior produtor mundial de
soja e cana e é, ainda, grande produtor de café. Segundo a Revista Exame, o
agronegócio participa com 22% do PIB do Estado de São Paulo. No que tange às
exportações, os produtos do agronegócio geram U$ 9,8 bilhões ao Estado, enquanto
aviões e veículos geram U$ 2,5 bilhões.

13
Presidente Lula chama usineiros de heróis - da Folha Online - 20/03/2007 - 20h08.
14
Presidente Lula chama usineiros de heróis - da Folha Online - 20/03/2007 - 20h08.
15
Fonte: TSE.

11
Este peso econômico do setor terminaacaba influenciando as decisões políticas. Em 30
de março de 2012 foi aprovado umo projeto de lei 687/2011, por influência do
governador Geraldo Alckmin, que regularizou as propriedades de até 450 hectares no
Pontal do Paranapanema. Tal decisão transferiu a maior parte das terras da região aos
usineiros, que ocuparam terras do Estado e agora foram beneficiados. Trata-se deÉ uma
grande transferência de muita renda para os ricos, pois o hectare está valendo uma
fortunamuito valorizado no Estado. O governador Nnão forami tão rápidos para garantir
terra para 4 mil famílias que se encontram nos acampamentos existentes à beira das
estradas do Pontal do Paranapanema.

Quando há Se fosse uma ocupação de terra ou urbana, como foi o caso do Pinheirinho
em São José dos Campos, a PM seriaé usada para “cumprir a lei” e expulsar os
trabalhadores. QMas quandto se trata de grandes usineiros, muda-se a lei para
legalizarregularizar a situação desses grileiros, que ocuparam ilegalmente terras do
Estado.

De acordo com uma pesquisa16, nas cidades paulistas em que mais se desenvolveu o
agronegócio entre 1990 e 2008 verificou-se um aumento da pobreza e o acirramento da
luta de classes. Por isso, a luta no campo nunca parou durante todo este período no
Estado de São Paulo: entre 1988 e 2009 ocorreram 1.312 ocupações de terra com 193
mil famílias. Os usineiros buscam desarticular a luta no campo cooptando os pequenos
agricultores e assentados para produzir cana-de-açúcar para eles e desta forma
desarticular a luta de classes, dividindo os camponeses e assalariados agrícolas.

O setor sucroalcooleiro no Brasil e em São Paulo


A cultura da cana ocupa cerca de 15% da superfície agrícola do país, sendo o cultivo
mais importante depois da soja e do milho. O sistema de produção envolve mais de 330
usinas. A cana-de-açúcar é a cultura de maior peso em São Paulo e ocupa 4,3 milhões
de hectares ou 73% das lavouras do Estado. O interior de São Paulo se tornou um
imenso canavial. Assim, o salto de produção da cana no Estado foi resultado direto da
linha neoliberal no campo.

Além disso, o avanço da cana vai deixando um rastro de mortes e mutilações noem seu
caminho. Entre 2004 e 2007, morreram 21 trabalhadores na região de Ribeirão Preto - ,
São Paulo, por excesso de esforço durante o corte da cana. A vida útil de um cortador de
cana varia de 10 a 15 anos, semelhante à dos escravos negros no período escravocrata.17.
O censo agropecuário de 2006 mostrou que o avanço do agronegócio paulista
expulsou cerca de 440 mil pequenos agricultores de suas terras no Estado de São
Paulo, já que o censo de 1985 indicava a existência de 1.357.113 pequenas
propriedades e identificou apenas 914.954 em 1995. O ataque aos pequenos agricultores
está diretamente ligado ao aumento dos lucros do agronegócio, já queO o setor

16
Estudo aponta crescimento da pobreza com avanço do agronegócio em SP - ;matéria publicada em 27 de
setembro de 2012 no Valor Econômico.

17
http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/07/art1-2008-2.pdf

12
sucroalcooleiro utiliza 72 mil pequenos produtores na produção de cana-de-açúcar como
forma de baratear os custos de produção.

Junto com a concentração da terra nas mãos dos usineiros, a mecanização das lavouras
de cana está originando a acabando com perda de milhões de postos de trabalho dos
assalariados agrícolas. Estima-se que a mecanização da colheita já alcançachega a 75%
em São Paulo e nas usinas das multinacionais já há 100% de mecanização. Em menos
de 20 anos houve um salto espetacular na mecanização do plantio e da colheita da
cana, expulsandoresultando na expulsão de 180 mil cortadores de cana. Uma
máquina pode colher até 1.000 toneladas de cana por dia, podendo substituir uma
centena de trabalhadores.

Os gráficos a seguir - com dados do Ministério da Agricultura, relativos à safra de


2003/2004 a 2010/2011, e com a projeção do Departamento de Agronegócio da FIESP
para a safra de 2022/2023 - indicam a situação da produção de cana-de-açúcar, açúcar e
etanol (álcool combustível).

Fonte: Ministério da Agricultura. Safra 2022 é estimativa da FIESP. Elaboração: ILAESE

O crescimento da produção de cana-de-açúcar no Brasil entre 2003/2004 ea 2010/2011


foi de 94,8%, isto é, crescimento médio anual de 11,8%. Este crescimento se manteve
nas safras de 2012 e 2013. Ao mesmo tempo, a projeção da FIESP é de um crescimento
anual, entre 2003 e 2022, de 10,3% ao ano. Portanto, um crescimento em níveis
chineses em 20 anos!

Visto em perspectiva de 20 anos, o mesmo se passa com o etanol, que gozou de um


crescimento médio de 11,1% entre as safras deno período entre 2003/2004 e a
2010/2011, com um crescimento total de 89% nestes oito anos. Entre 2003 e 2022, a
projeção da FIESP para a produção de etanol é de crescimento anual de 13,9% ao ano.

Em suma, do ponto de vista empresarial, há uma situação muito boa do setor


sucroalcooleiro, com taxas de crescimento “chineêsas”18. Alguém está ganhando
muito dinheiro nacom essa história. São aAs grandes empresas multinacionais que
estão engolindo as usinas nacionais e familiares tornando-se um negócio
multinacional. As pequenas usinas, de capital nacional, estão quase todas em
regime pré-falimentar e serãosão engolidas pelo capital multinacional. Mas após
esses anos de crescimento espetacularPorém, já se inicia ramos surgem sinais de
desaceleração da economia mundial e a economia brasileira começa a sentir e os efeitos
da crise mundial, que veminiciada desdeem 2008.

Esta desaceleração da economia vai impulsionar a quebra das usinas endividadas, assim
como a concentração da terra nas mãos dos usineiros e a mecanização do plantio e da
colheita da cana, gerando desemprego em massa. No período de bonança no setor, que

18
Uma referência às altas taxas de crescimento da economia chinesa nas últimas décadas (N. do E.).

13
veiodurou de 2006 a 2010, foram abertas 87 novas usinas. Desde 2011 já fecharam 44 e
há ameaças de se fecharemfechamento de mais 60 usinas no próximo período.

Somente em 2010, o BNDES forneceu R$7,4 bilhões para aliviar o setor,; e durante os
oito anos do governo Lula, o total de empréstimos obtidos pelos usineiros chegou a
R$28,2 bilhões. A grande choradeira que a qual estamos escutandoos usineiros estão
fazendo tem como objetivo de evitar o pagamento de suasas dívidas milionárias destes
usineiros, conseguindo o perdão do BNDES, o que vem ocorrendo desde a ditadura
militar e foi manteve-semantido nos governos do PT.

O que está por trás da crise das usinas na safra 2011/2012?


Para concorrer com as grandes multinacionalist as usinas de capital nacional são
forçadas a fazer grandes gastos com a modernização das usinas, têm que se endividar
para garantir o crescimento da produtividade e da mecanização. Para isso, elas são
forçadas a se endividarem.; o que exige altos gastos na modernização das usinas.

A desaceleração da economia mundial e brasileira, (que saiu de um crescimento de


7,5% em 2010 para 0,9% em 2012), somada à dificuldade dos usineiros para
“rolarem19” as dívidas, provocou uma crise no setor.

As dívidas do setor pularam de US$ 7 bilhões em 2006 para US$ 25 bilhões em 2011,
conforme a revista Exame, ocasionando fusões e aquisições e uma diminuição dos
investimentos no setor, o que provocouprovocando a queda da produção de: cana,
açúcar e etanol.

Os usineiros também tiveram um grande prejuízo na crise de 2009 especulando com


derivativos20(mesmo sistema que levou à quebra das empresas nos Estados Unidos). As
perdas financeiras alcançaram R$ 4 bilhões. Enquanto ganhavam “rios de dinheiro”
especulando e jogando na produção tudo ia bem para essas empresas de capital
nacional. até Mas com a criseque um dia muitas dessas empresas que não puderam mais
honrar seus compromissos e foram compradas. Assim, o grupo Nova América, dono da
marca União, foi comprada pela Cosan em 2009, que por sua vez se associou àa Shell,
para formar a Raízen.

A venda de etanol, que em 2008 e 2009 havia superado a venda de gasolina no Brasil,
começou a cair e a boa remuneração do açúcar no mercado internacional levou as usinas
a priorizarem a produção de açúcar em detrimento do etanol.
Fonte: Conab, UNICA e ANP

19
A “rolagem” é a prática de adiar o pagamento de uma dívida através da troca dos títulos vencidos da
dívida inicial por títulos novos, com um prazo de pagamento maior. Geralmente é feita através do
entrega de novas garantias ou de maiores dividendos aos credores (N. do E.).

20
Derivativos são instrumentos financeiros, negociados nas bolsas de valores, que derivam de outras matrizes; são
expectativas de concretização de um negócio no mercado futuro.

14
Isto levou o Brasil a importar 1 bilhão de litros de etanol dos EUA, pela primeira vez,
em 2011. Para um setor que era a redenção do país e apontava empara ser o maior
produtor de energia “limpa” do planeta esse revés foi um duro golpe. Também levou a
uma queda forte na safra de 2011/2012, em todos os seus pressupostos, menos no
crescimento da área de cana plantada21. Em 2013 já tivemos uma recuperação da
produção de cana, etanol e açúcar, superando os recordes de 2010. Um estudo do Itaú
BBA indica também que houve um crescimento de 10% em 2014 nesse setor.

Fonte: UNICA, ALCOPAR, BIOSUL, SIAMIG, SINDALCOOL, SIFAEG, SINDAAF, SUDES e MAPA.

Estudo do Itaú BBA indica, também, um crescimento de 10% em 2014.

A decisão das usinas produzirem cana para exportação ao invés de etanol custou muito
caro ao povo brasileiro, já que se foiviu obrigado a importar US$ 4,5 bilhões de
gasolina em 2011 e 2012.

Os donos da cana: o domínio multinacional do setor


Um estudo realizado por Alexandre Figliolino, diretor comercial de açúcar e etanol do
Itaú BBA, em agosto de 2012, afirmava que os grupos multinacionais podem aproveitar
esta crise atual para crescer nas próximas safras e absorver as empresas em dificuldades,
num montante que atinge 1/3 do total, sendo que 18% delas já estão falidas.

Usinas – grupos por saúde financeira

Ótimos Bom Ruim Péssi


mo

12 grupos 30 grupos 26 grupos -

232 milhões* 185 milhões* 104 milhões* 116 milhões*

36% 29% 16% 18%

Fonte: ITAUBBA -* capacidade de moagem

Doze grupos estão em ótima situação e devem absorver as empresas em crise. Está se
formando uno setor um oligopólio no setor.

Fonte: Itaú BBA – agosto de 2012

Em cinco anos mudou completamente a fisionomia do setor mudou completamente. Os


cinco maiores grupos do setor - todos de capital nacional, com capacidade de moagem
de 77 milhões de toneladas de cana - foram absorvidos pelo capital internacional, que se
apossou das usinas nacionais e converteram-se nos cinco primeiros grupos do

21
Relatório final da safra 2011/2012 - Região Centro-Sul – ÚNICA, maio- 2012.

15
setoraumentaram ainda mais sua dominação no setor, compassando a uma capacidade
de moagem de 184 milhões de toneladas de cana.

As 5 maiores empresas por capacidade de moagem – 2005/2006 e 2010/2011

2005/2006 2
0
1
0/
2
01
1

36 milhões de ton Cosan 65 milhões de ton Cosan Shell

11 milhões de ton Vale do Rosário 37 milhões de ton LDCSEV

10 milhões de ton Usina da Pedra 41 milhões de ton* ETH

10 milhões de ton São Martinho 21 milhões de ton Guarani Petrobras

10 milhões de ton Carlos Lyra 20 milhões de ton Bunge

15 milhões de ton Capacidade média 33 milhões de ton Capacidade média

100% acionistas brasileiros 1


0
0
%
co
m
ca
pi
ta
l
es
tr
an
ge
ir
o

Fonte: Itaú BBA - expansão até 2014

Os grandes grupos transnacionais são os verdadeiros ganhadores deste jogo. Por isso, há
o choro de um setor falido que podetenta ganhar do governo o perdão de suasas dívidas
e ser comprado por multinacionais, sem pagar os direitos dos trabalhadores. Ou seja, na
perda, quer ganhar de todos os lados.

Os principais grupos e seu faturamento


As empresas estrangeiras são proprietárias de mais de 100 usinas (em ordem alfabética):
Açúcar e Álcool Fundo de Investimento e Participações (constituído por fundos de
investimento Carlyle, Riverstone, Global Foods, GoldmanSachs, Discovery Capital e

16
DiMaio Ahmad), Abengoa (Espanha), Adecoagro (do grupo Soros, EUA/Argentina),
ADM (EUA), BrazilEthanol (EUA), British Petroleum (Inglaterra), Bunge (EUA),
Cargill Inc (EUA), Clean Energy (Inglaterra), Glencore (Suíça), InfinityBio-Energy
(Inglaterra e outros, controlado pelo Bertin), Louis Dreyfus (França), Mitsubishi
(Japão), Mitsui (Japão), NobleGroup (China), ShreeRenukaSugars (Índia), Sojitz
Corporation (Japão), Sucden (França), Kuok (China), Tereos (França) e Umoe
(Noruega).

A Raízen, fusão da Cosan com a Shell,com valor de mercado estimado em US$ 20


bilhões, e responsável por uma produção anual de 2,2 bilhões de litros de etanol e de 4
milhões de toneladas de açúcar teve um faturamento de cerca de R$ 42 bilhões em
2013, crescimento de 7%, lucrando cerca de R$ 900 milhões em 2013.

A Louis Dreyfus LDC Bioenergia obteve faturamento de R$ 12 bilhões em 2013,


apresentando crescimento de 17,7%.

A ETH, joint venture da japonesa Sojitz e grupo Odebrecht e que conta com o
BNDES como sócio com 16% das ações, apresentou um prejuízo de R$ 793 milhões na
safra encerrada em 31 de março de 2012. Porém, este prejuízo é contábil, pois joga
como custo todas as aquisições de usinas que tem feito.É interessante analisar dados
desta empresa já que reproduz o que acontece em todas:

“O setor está em fase de reestruturação, e as pequenas empresas estão dando lugar a grandes corporações,
que investem em greenfield22 na mecanização, gerando mais e melhores empregos. Por nos instalarmos
em novas localidades, recebemos incentivos fiscais de alguns estados para a implantação de usinas dentro
de suas fronteiras. No ano safra 2010-2011, a ETH recebeu R$ 1,5 bilhão em forma de incentivos fiscais,
divididos entre seis unidades23”.

A Tereos -Açúcar Guarani-Petrobras Biocombustíveis apresentou um faturamento de


R$ 8 bilhões em 2013.

A Bunge apresentou um faturamento de R$ 27 bilhões de reais em 2013, crescimento de


17% ante 2012.

A seguir, observa-se o faturamento líquido dos 400 maiores grupos do agronegócio


brasileiro, publicado na Revista Exame Maiores e Melhores 2014, com crescimento de
19% em 2013.

Fonte: Exame - Maiores e Melhores,2014

Houve uma retomada dos lucros das 40 maiores empresas do agronegócio brasileiro em
2013, que alcançou quase R$ 10 bilhões, 43% mais que em 2012.

22
Geralmente qualificados no mercado financeiro como investimentos em projetos ainda inconsistentes, que
podem, inclusive, vir a ser de ordem puramente especulativa.
23
Balanço 2011 da ETH Bioenergia. p. 19

17
A exploração dos trabalhadores e do povo: cana não traz
desenvolvimento social
O setor é composto por cerca de 400 indústrias, 70 mil fornecedores de cana, quase 1
milhão de trabalhadores diretos e áreas de canaviais que se espalham por 15 milhões
de hectares no Brasil.

Para cada emprego direto são utilizados dois trabalhadores em regime temporário para o
plantio e colheita da cana. Cada colheitadeira substitui 120 cortadores de cana e
emprega entre oito e 10 trabalhadores no corte mecanizado. Entre 2007 e 2010 houve
uma queda de 21% do pessoal ocupado de forma temporária no corte da cana. Em 2011
foram reduzidos a 170 mil trabalhadores.

Diminuiu o número de boias-frias e aumentou o número de operários agrícolas. De


acordo com a FERAESP, “estima-se que até 2014 cerca de 180 mil cortadores de cana
irão perder seu emprego no Estado de São Paulo. Porém, a mecanização e a expansão
do setor sucroalcooleiro podem criar 75 mil empregos nas fases: agrícola e industrial”.

“O açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte”, afirma a


pesquisadora Maria Cristina Gonzaga, da Fundacentro, um órgão do Ministério
do Trabalho. Os relatos deTendo por sintoma uma câimbra generalizada no corpo,
seguida de morte, em razão de o esforço excessivo no trabalho, causou pelo menos
21 mortes nos canaviais paulistas entre as safras de 2004 e 2007, segundo
denúncias do Serviço Pastoral do Migrante em Guariba.

Nos anos 80, os trabalhadores cortavam cerca de 4 toneladas e ganhavam o


equivalente a R$9,09 por dia. Em 2007, para ganhar R$6,88 por dia já era
necessário cortar 15 toneladas. Para cortar 10 toneladas de cana por dia, estima-se
que cada trabalhador precise repetir cerca de 10 mil golpes de facão.

Em 2006, uma fiscalização do Ministério Público do Trabalho de SP vistoriou 74 usinas


e todas foram autuadas. Havia até trabalhadores em situação de escravidão. Para
analisar a situação do setor e a superexploração dos trabalhadores, basta verificar o caso
da Raízen (Cosan/Shel), a maior empresa do setor24:.

A Raízen tem ampliado o sistema de terceirização da produção canavieira. Com a


terceirização em atividades fins, a empresa quer reduzir custos superexplorando os
trabalhadores comatravés do rebaixamento dos salários, da implementação do
pagamento por produtividade etc. Os operadores de máquinas são obrigados a realizar
jornadas que chegam a 12 horas diárias. Em 31 de março de 2010, a Cosan tinha 41 mil
empregados, sendo 27 mil temporários. A empresa foi inserida na “lista suja” do
trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 31 de dezembro de
2009.

24
Dados fornecidos pelo estudo: Monopólio da produção do etanol no Brasil: A fusão Cosan-Shell.Carlos Vinicius
Xavier, Fábio T. Pitta e Maria Luisa Mendonça. Outubro, 2011

18
Em 2008 foi constatado, em uma fiscalização do MTE: “falta de água potável nos
locais de trabalho, falta de equipamento de proteção individual, falta de lugar propício
para alimentação, ausência de banheiros na lavoura, entre outros”. Outros casos de
irregularidades também foram constatados:são: trabalhadores sem registro em carteira,
sem dias de folga, e contrataçõesão irregulares por meio de “gatos”25.

Em Araraquara, o Ministério Público do Trabalho (MPT) processou a Raízen por


utilizar esquema fraudulento de terceirização na contratação de tratoristas via “gatas”,
com objetivo de reduzir custos de produção, violando a Súmula 331 do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), que proíbe a terceirização em atividades-fins da empresa.
O Ministério Público pediu, em março de 2012, o prazo de 60 dias para o fim da
terceirização no corte mecanizado.

"A comparação de holerites permite aferir que a terceirização dá-se com precarização, eis
que os salários dos trabalhadores registrados pela empresa terceirizada correspondem, em
média, a apenas 63% do salário pago pela Raízen", demonstra o procurador26.

Resumindo, o custo baixo da produção de etanol é resultado da superexploração dos


trabalhadores. Pode-se concluir que aumentou a superexploração dos trabalhadores com
o controle multinacional do setor sucroalcooleiro. A “modernização” do setor e a
mecanização do plantio/colheita servem para encobrir o aumento da exploração e
obrigam os trabalhadores a sujeitarem-se a condições degradantes de trabalho por haver
uma multidão de desempregados no setor, pressionando o salário para baixo.

O mecanismo da terceirização e da rotatividade é a principal arma que a patronal utiliza


para aumentar a exploração dos assalariados rurais. Por isso, no Estado de São Paulo, o
custo de produção é de US$ 165 por tonelada e na União Europeia este custo é de US$
700 por tonelada.

As dívidas seculares dos usineiros da cana com o Brasil


O Proálcool foi criado em 1975 para industrializar o etanol e substituir a gasolina, já que
o país perdia muito dinheiro importando este combustível. Para entender o volume de
investimento, vale a citação de um trecho do texto de Pedro Ramos, professor do
Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental da Unicamp, intitulado Financiamentos
subsidiados e dívidas dos usineiros no Brasil: uma história secular....atual?:

“O montante de recursos aplicados pelo Proálcool, desde sua criação, foi de US$ 10,5
bilhões, sendo US$ 5,9 bilhões (56%) financiados por recursos públicos e o restante
oriundos dos próprios empresários”. (Ricci, 1994:64).

25
“Gatos” são agenciadores de mão de obra rural temporária, responsáveis por obter trabalhadores,
transportá-los até a lavoura e controlar seu trabalho. Graças à intermediação dos “gatos”, as grandes
empresas evitam de contratar diretamente os trabalhadores rurais, se livrando dos encargos
trabalhistas e outras responsabilidades (N. do E.).

26
A ação foi protocolada na 3ª Vara do Trabalho de Araraquara e aguarda julgamento (Jornal de Araraquara,
21/4/12)

19
Mais adiante diz que:

“Com base nos dados e indicações disponíveis, pode-se estimar que o montante de
subsídios explícitos e implícitos nos financiamentos setoriais aos tradicionais e novos
produtores de cana de açúcar e de álcool, no período de 1975 a 1989, tenha chegado a
US$ 500 milhões anuais.”

Com o fechamento do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) se perdoou uma dívida dos
usineiros que correspondia a US$ 2,4 bilhões. DepoisMais adiante, o professor
complementa dizendo que

“Lucon e Goldenberg (2009:125) escreveram que os subsídios na produção do etanol


brasileiro, estimados em US$ 30 bilhões entre 1975 e 2000, reduziram o custo de
produção por um fator de três, tornando o etanol competitivo”.

Há também as renegociações e perdões das dívidas antigas, realizadas pelo governo Lula.
No jornal Folha de São Paulo de 28 de maio de 2008, no caderno de economia (p. B1),
consta a matéria: “Pacote do governo envolve R$ 75 bi em dívidas que podem ser
renegociadas ou abatidas com desconto de até 80%.”E no jornal O Estado de São Paulo
de 17 de abril de 2009 consta a seguinte matéria: “Dívida das usinas é de R$ 40 bi”,
sendo que R$ 28 bilhões eram dos usineiros paulistas.

Durante o governo Lula, os investimentos do BNDES para o setor sucroalcooleiro


chegaram a R$ 28,2 bilhões, sendo R$ 7,4 somente em 2010. SuperouSuperaram o valor
da ajuda dada a todos os outros setores da economia brasileira. Boa parte das empresas
pegou este dinheiro do Estado e foi especular com derivativos. Ganharam muito dinheiro
apostando contra o dólar até 2008. Com a crise, as empresas do setor perderam R$ 4
bilhões. Até agora estão pagando o preço daessa aventura. Por isso, o governo premiou o
setor liberando empréstimos no início de 2012 no valor de R$ 4 bilhões. Dessa forma, o
apoio estatal às usinas vai desde incentivos fiscais, créditos subsidiados, garantia de
mistura de 25% de etanol na gasolina até a rolagem de bilhões de dívidas, entre entre
outros benefícios. Resultado: a dívida do setor chegou a R$ 42 bilhões na safra
2013/2014.

O governo federal anunciou, no dia 23 de abril de 2013, um pacote de medidas


para “ajudar” o setor. As medidas juntaram-se ao já anunciado aumento da
mistura do etanol anidro na gasolina, de 20% para 25%, desde 1º de maio de 2013.
O incentivo fiscal é a criação de um crédito presumido de PIS e Cofins ao produtor
rural. Os dois tributos respondem por R$ 0,12 para cada litro do etanol. A previsão
é de que o benefício irá gerar uma renúncia fiscal de R$ 970 milhões em

20
201327.Depois de tudo isso, esse dinheiro vai direto para o grande usineiro
multinacional e não diminuirá o preço dos produtos.
O governo federal também pretende renegociourenegociar as dívidas de 500 mil
produtores rurais, cujo valor chega a R$ 11,5 bilhões, através da lei 12.788/12, de
janeiro de 2012. As dívidas serão descontadas entre 33% a 70% do valor das
dívidas. Assim, o governo busca aliviar a situação de endividamento de parte das
empresas do setor, como podemos vervisualiza-se no gráfico abaixo.

Fonte: Itaú BBA – agosto 2012

UmaTrata-se de uma situação complicada, em que a dívida supera em três vezes o lucro
operacional em 2012. Note-se que as cinco melhores empresas têm lucro superior às
dívidas enquanto as cinco piores empresas têm dívidas sete vezes superiormaiores
aoque seu lucro operacional anual. Isto é, tem situação falimentar. Porém, uma análise
mais apurada mostra que o lucro operacional das empresas (margem EBITDA 28) foi de
30% do faturamento, sendo que as grandes tiveram um lucro operacional de 42% do
faturamento. Isto significa que os trabalhadores estão produzindo bem na usina,
porém,mas que as dívidas financeiras e os gastos com apostas especulativas estão
quebrando as empresas.

Resumindo a análise das firmas do setor, realizado pelo Itaú BBA, chegamos ao
seguinte quadro conclui-se que:

a) Grupos que estão ótimos: 12 grandes grupos com pleno acesso ao capital, com
capacidade de moagem de 232 milhões de toneladas de cana, representando 36%
das usinas do Centro-Sul do país.
b) Grupos que estão muito bem: 30 empresas nacionais com excelente
performancedesempenho operacional e endividamento adequado, com
capacidade de moagem de 185 milhões de toneladas de cana, representando 29%
das usinas do Centro–Sul.
c) Grupos em recuperação e muito endividados: 26 grupos, com capacidade de
moagem de 105 milhões de toneladas de cana, representado 16% das usinas do
Centro-Sul.
d) Grupos em situação falimentar: altamente endividados que vão ser comprados
ou vão fechar. Representam 18% das usinas do Centro-Sul.

27
Extraído de: http://www2.planalto.gov.br/imprensa/noticias-de-governo/governo-anuncia-medidas-de-incentivo-
para-setor-sucroalcooleiro-e-industria-quimica
28
Da sigla em inglês: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, que corresponde em português
a: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

21
Ou seja, 35% dos grupos do setor sucroalcooleiro do Centro Sul estão “mal das pernas”,
sendo que dois em cada 10 grupos estão falidos e vão ser engolidos pelos grupos em
melhor situação financeira.

Podemos concluir que os usineiros do Brasil viveram à custa da exploração dos


trabalhadores e do financiamento estatal. Por isso, seria mais do que justo que todas as
usinas que fechassem passassem a ser incorporadas pelo Estado brasileiro, como parte
de um Plano Nacional de Produção de Alimentos, sem venenos, que garanta a soberania
alimentar do povo brasileiro.

Todo o parque sucroalcooleiro custou muito ao povo brasileiro. Sua estatização sob
controle dos trabalhadores rurais e do povo só pagaria a grande dívida social que os
usineiros têm com o país.

A “crise” da citricultura brasileira e o oligopólio


multinacional
O Brasil é o maior produtor mundial de laranja seguido por: Estados Unidos, México,
Índia e China. A indústria da laranja tem um peso importante no agronegócio paulista.
Em 2011 rendeu R$ 4,8 bilhões dos R$ 59 bilhões do valor da produção agropecuária
do Estado. Deste montante, 98% do produto é exportado. Formam a base econômica da
citricultura: 10 indústrias, cerca de 10 mil produtores, e 400 mil trabalhadores diretos e
mais de um milhão de trabalhadores indiretos.

Desde o início da crise internacional em 2008/2009, a citricultura brasileira entrou em


também em “crise”, também com a diminuição do consumo de suco de frutas nos países
ricos, principal mercado das exportações brasileiras. Além disso, o setor sofre com
sobretaxas para entrar no mercado estadunidense.

Fonte: CitrUSDA e Consultoria M. Arnstrat

Em 1995 existiam 24 mil citricultores., hHoje, segundo dados do Instituto de Economia


Agrícola (IEA), são pouco mais de 10 mil. Há quebra e abandono da produção da
laranja pelos pequenos produtores.

Quem está provocando esta crise é um oligopólio de três empresas multinacionais que
dominam o setor: a Cutrale (fornecedora da Coca-Cola mundial), a Louis Dreyfus e a
Citrosuco (união do grupo holandês Fischer com a Votorantim).

EssasAs indústrias estão deixando de comprar a laranja dos produtores e passando elas
mesmas passaram a produzir metade das suas necessidades. Com isso, pressionam o
preço do produto para baixo, quebrando os pequenos produtores de laranja. O custo de
uma caixa de laranja de 40 quilos é de cerca de R$ 12,00. Porém, a indústria oferece
apenas R$ 7,00, sendo que o preço no supermercado atinge cerca de R$ 20,00.

22
A expectativa da CONAB para a safra de 2013/2014 é deque tenhahaverá um
excedente de 6 milhões de caixas de 40 quilos de laranja que não serão compradas.
O que significa deixar laranja apodrecendo no pé, para que não baixe o preço do
produto. É a expressão da barbárie da produção capitalista. São três grandes
multinacionais determinando que se estrague alimento para manter o preço internacional
alto, enquanto milhões de brasileiros não podem consumir suco de laranja. Na safra de
2011/2012, 10% da laranja produzida se perdeu.

Esta é a consequência do domínio dase multinacionais dominarem sobre a produção de


alimentos. Elas formaram um cartel, juntando as maiores indústrias para determinar de
quem compravam a laranja e o quanto compravam. Determinam também quanto cada
um produz. Tudo com objetivo de regular o mercado e determinar os preços de acordo
com a vontade destas grandes empresas. A Polícia Federal e o Ministério Público
abriram um processo desde 2006, que se estende até hoje29.

Destaca-se também que estas três empresas são responsáveis por mais de 90% do
mercado da laranja. Este cartel é responsável pela expulsão dos pequenos produtores do
setor. Também é responsável prelopelo brasileiro quase não consumir suco de laranja, já
que prefere exportar suco para os Estados Unidos e para a Europa por uma preço maior,
enquanto despeja refrigerante – preferencialmente Coca-Cola - na mesa dos brasileiros.

Além de forçar a saída de pequenos produtores, um estudo do IEA, aponta que foram
fechadosessas empresas fecharam em torno de 25 mil postos de trabalho em São Paulo.
Essas empresas tampouco respeitam os direitos trabalhistas. A Cutrale foi processada
pelo MPT por realizar descontos salariaisl abusivos, por demitir uma funcionária
grávida, por atrasar o pagamento de salários etc. A Cutrale, ainda, está sendo processada
por utilizar mão de obra terceirizadaa terceirização de mão-de-obra na colheita da
laranja, comatravés de falsas cooperativas, para flexibilizar os direitos trabalhistas,
reduzindo salários e, sonegando encargos.

Segundo a FERAESP, “Em todas as safras, mais de 10 mil empregados trabalham de


duas a três horas por dia nos pomares da empresa, sem receber o adicional da
sobrejornada.”.

Até quando as multinacionais farão isto impunemente?

Por uma campanha nacional em defesa da Reforma Agrária, do assalariado rural e


dos pequenos produtores!POR UMA CAMPANHA NACIONAL EM DEFESA DA
REFORMA AGRÁRIA, DO ASSALARIADO RURAL E DOS PEQUENOS
PRODUTORES!

29
Segundo a legislação brasileira, a formação de cartel é crime, e pode ser punida com uma multa que
varia entre 1 a 30% de seu faturamento bruto no ano anterior ao processo (N. do E.).

23
CHEGA DE PRIVILÉGIO AO LATIFÚNDIO E AO AGRONEGÓCIO
MULTINACIONAL!Chega de privilégio ao latifúndio e ao agronegócio
multinacional!

É necessária uma campanha que una todas as organizações do campo e as centrais


sindicais em defesa dos operários agrícolas e da pequena produção camponesa,
privilegiando a mobilização direta dos trabalhadores, independente dos governos, em
detrimento das negociações de cúpula e independente dos governos. Uma campanha de
denúncia e desgaste do agronegócio multinacional, apresentando um modelo alternativo
de produção agropecuária.

É preciso formar uma nova geração de lutadores, que entenda a natureza das
transformações ocorridas no campo brasileiro, no espírito da luta de classes, da
soberania nacional em ruptura com o domínio das multinacionais e pela transformação
social.

Chegou a hora de valorizar o operário agrícola, verdadeiro criador da riqueza do


agronegócio. É necessário incorporar o assalariado agrícola como sujeito social da
transformação do campo brasileiro, junto com o pequeno produtor rural, que são,
ambos, ambos aliados dos trabalhadores da cidade. Esse é o arco de alianças estratégico
que permitirá a vitória da nossa luta. O capital nacional preferiu vender sua alma ao
agrobusiness e está na trincheira oposta.

O balanço dos últimos 20 anos de luta pela Reforma Agrária demonstrou que só
rompendo com o modo de produção capitalista se conseguirá mudar o modelo do
agronegócio. Nenhum governo ou empresário promoverá esta mudança radical no
campo brasileiro. A Reforma Agrária e o fim da fome no país só serão possíveis como
resultado de uma luta que unifique os assalariados rurais, os pequenos produtores rurais
e os trabalhadores da cidade.

O balanço dos últimos 12 anos demonstrou que não se conseguirá romper com o
agronegócio sem romper com o governo de Frente Popular, que consolidou, financiou e
protegeu o novo modelo agroindustrial no país em oposição ààs custas da Reforma
Agrária.

Por isso,

É PRECISO EXIGIR DAS EMPRESAS DO AGRONEGÓCIO:É preciso exigir


das empresas do agronegócio:

- Um contrato coletivo nacional dos operários agrícolas;

- Fim da tTerceirização na cContratação de mão- de- obra rural por parte de Uusinas e
dDestilarias e/ou companhias agrícolas anexas;

- Fim do Contrato de Safra, com adoção do contrato de trabalho por prazo


indeterminado;

24
- Fim do Ssistema de Mmetas, adotando-se um sistema/cronograma de participação dos
trabalhadores nos lucros das empresas;

- Jornada de trabalho de 40 horas semanais e jornada diária máxima de 8 horas;

- Controle da pesagem de cana cortada – Adoção de um sistema de aferição e /controle


da pesagem da cana cortada, e da produção dos trabalhadores de modo a garantir
segurança e transparência nas informações relativas ao salário percebidorecebido por
cada trabalhador;

- Alimentação – Iimplementação de um programa de alimentação aos trabalhadores do


setor com vistas a assegurar-lhes plenitude nutricional;

- Migrantes – Estabelecer formas e meios de contratação de trabalhadores migrantes, de


modo a coibir: a atuação de intermediários, o transporte clandestino, o aliciamento
ilegal, e os alojamentos e /moradias precárias, comatravés de medidas de prevenção. Em
outras palavras, garantindo a proteção da saúde dessa população;

- Compra de toda produção contratada ao produtor;

- Contra a pulverização de: agrotóxicos e venenos;

- Boas condições de segurança no trabalho;

É PRECISO EXIGIR DO GOVERNO FEDERAL:É preciso exigir do governo


federal:

- Que rompa sua união com os usineiros e obrigue o agronegócio a respeitar o operário
agrícola, o pequeno produtor, a natureza e a soberania nacionais;

- Que não financie nenhum centavo a mais para o agronegócio multinacional;

- Que acabe com as isenções e desonerações ao agronegócio;

- Que respeiteo os direitos dos trabalhadores e /pequenos produtores garantindo: um


contrato nacional dos trabalhadores, sem “gatas”, registrando (em carteira de trabalho)
os trabalhadores, criando um piso nacional com jornada de 40 horas, com condições de
segurança, garantindo um atendimento- de saúde, o cuidado com o migrante, que a não
deprede aproteção da natureza e que trabalhe em parceria com a pequena produção
camponesa). E que todos estes itens sejam condições para qualquer financiamento a
empresas rurais por parte do Estado e dos bancos públicos.

- Que estatize todas as usinas e grupos do setor sucroalcooleiro em regime falimentar,


colocando-as sob controle dos trabalhadores e das organizações sociais do campo, sem
indenização, e incorpore as usinas e suas terras a um Plano de Reforma Agrária, para

25
produzir alimentos sadios, sem agrotóxicos, para a população 30. Indicar-se-á aoPela
indicação ao governo das usinas inadimplentes, devedoras do fisco e com pendências
trabalhistas e exigirápor sua estatização pelo Governo Federal.

Para isso, é preciso fazerRealizar-se-á uma campanha de esclarecimento à


população mostrando que as usinas têm dívidas monstruosas com o Estado e com
os trabalhadores. Portanto, nada mais justo que sejam estatizadas, sem
indenização.

- Que estatize o cartel da laranja (Cutrale, Louis Dreyfus e Citrosuco), dentro do plano
global de Reforma Agrária e de garantia de alimentos baratos para a população pobre.
Que garanta a compra antecipada de toda a produção dos pequenos produtores de
laranja.

Deve-se começar comIniciar-se-á uma campanha exigindo que a Cutrale, Louis


Dreyfus e Citrosuco não demitam mais nenhum trabalhador e garantam os direitos
dos pequenos produtores. Caso o cartel do suco de laranja insista em explorar seus
funcionários e “quebrar” os produtores de laranja, exigir-se-á que o governo
estatize o conjunto do setor de citricultura, começando pelas multinacionais.
A ESTRATÉGIA DE LONGO PRAZOestratégia de longo prazo:

Se estas multinacionais, que dominam o campo brasileiro, não se subordinam às


decisões do Brasil e da classe trabalhadora e insistem em explorar e destruir o ambiente
para enriquecer o primeiro mundo, propõe-sepropomos:

1. A nacionalização e estatização das grandes empresas do agronegócio, sob


controle dos trabalhadores, incluindo as grandes redes de supermercados,
eliminando os atravessadores, estatizando a comercialização pelos governos
federal, estadual e municipal. Todo assalariado agrícola passará a ser empregado
estatal. A agroindústria estatal será parte importante de um plano geral de
Reforma Agrária e ajudará a criar uma nova vida no campo, além de garantir um
plano de soberania alimentar para do povo brasileiro. A justificativa da
estatização e da desapropriação: a riqueza destas empresas se fez com
financiamento público, através do BNDES, e com calote de dívidas;

2. A garantia de um plano nacional de produção de alimentos para acabar


com a fome, com produção diversificada de alimentoso, sem veneno, a preço de
custo, produzidos em comunhão entre grandes agroindústrias estatais, - resultado
30
O governo não tem como contra-argumentar esta proposta, pois o BNDES é sócio da maioria das empresas do
agronegócio, como ao JBS, que é o maior frigorífico do mundo. Também é sócio dna Lácteos Brasil, resultante da
fusão do laticínio gaúcho Bom Gosto e da Leitbom, onde aplicou R$ 700 milhões. É sócio também da BR Foods e.
Aacaba de fazer uma sociedade com empresa Graalbio, com gasto de R$ 600 milhões, para pesquisar o etanol de
segunda geração e um largo etc. Porque não assumir o controle deas 60 usinas do Brasil que estão em dificuldades e
justamente devem ao governo?

26
da estatização do agronegócio, funcionando sob controle dos operários agrícolas,
- e a pequena produção camponesa, organizada em cooperativas. É preciso
começar resgatando o saber do campo e a experiência secular do povo;

3. A nacionalização da terra, onde todo o solo do país passa para o Estado,


sendo de todos e de ninguém. A terra, assim como a água, o ar, o mar, não deve
ser propriedade de ninguém, para que todos possam usufruir. Só assim ela
poderá cumprir sua função social. Terra produtiva é a que oferece: educação,
saúde, trabalho e soberania. A nacionalização do agronegócio já colocará nas
mãos do Estado 260 milhões de hectares, que se juntará às àa metade das terras
do país que já são do Estado. A terra mudará de mãos: do latifundiário e do
agronegócio que detêm 80% das terras, para o Estado, única forma de cumprir
sua função social.

4. Como parte de um plano de Reforma Agrária, entregarentregar-se-á a terra


em usufruto aos pequenos camponeses que queiram trabalhar na terra, com
as seguintes condições:

- A terra não pode ser alienada nem arrendada, nem passada de herança, pois
será um bem público;

- As definições das formas do usufruto da terra, como o tamanho dos lotes, por
exemplo, serão decididas por congressos de operários agrícolas e pequenos
produtores locais e suas organizações;

- Os pequenos produtores organizados em cooperativas e as organizações locais


decidirão tudo em assembleias dentro de um planejamento nacional de produção
agropecuária, tratando de evitar a produção patronal, ainda que de pequeno
porte;

- A centralização de um plano nacional de Reforma Agrária não entra em


contradição com a iniciativa local, da utilização do saber do campo, com suas
especificidades locais. A centralização nacional deve rimarse combinar com
iniciativas coletivas locais;

- Como parte do plano geral de garantir a soberania alimentar do povo brasileiro


só se exportarão alimentos depois de supridas as necessidades internas. Havendo
excedente,; exportar-se-á a preço de custo para países pobres;

5. Uma verdadeira Reforma Agrária incorpora três aspectos: terra, condições


para plantar e comercializaçãopara comercializar. Isto só é possível
rompendo com o domínio dos bancos. Por isso, deve-se nacionalizar todos os
bancos, formando um banco único estatal, que financie todo o plano de
Reforma Agrária, financiando as necessidades deentendido como: crédito,
eletricidade, construção de casas, hospitais, escolas etc;

27
6. Suspender o pagamento dos juros e amortização da dívida interna com os
grandes bancos para financiar a Reforma Agrária. Hoje o país gasta cerca de
R$ 900 bilhões com especuladores e banqueiros, para rolar a dívida interna
pública, que está exaurindo toda a riqueza do Brasil. A maior parte dos títulos
desta dívida está nas mãos de grandes bancos internacionais e nacionais. Toda
esta riqueza deve ser revertida para o desenvolvimento do Brasil e dos
trabalhadores, em ruptura com o imperialismo e a burguesia nacional.

28
CONTRACAPA VERSO

Sugestões de excertos

“A burguesia brasileira entregou a soberania nacional com Collor e FHC rendendo-se ao


neoliberalismo, que, no fundo, entregou o domínio dos principais ramos econômicos
para os grandes grupos internacionais. Preferiu se associar em péssimas condições com
o capital internacional a se unir ao movimento dos trabalhadores do Brasil e garantir a
soberania nacional num enfrentamento com o imperialismo. Neste ato, demonstrou sua
falência histórica como classe”. p. 13.

(...)

Surpreendentemente, a derrota do projeto de Reforma Agrária se deu sob o governo


Lula. Foi uma derrota que se deu a frio, com luvas de pelica e não pela repressão ao
movimento, embora a repressão nunca tenha deixado de atuar nos conflitos. Foi
surpreendente porque se esperava algo diferente do governo do PT. O próprio Lula
havia declarado na campanha presidencial de 1998:

29
“Ganhando as eleições, vou levantar as dívidas dos usineiros no Banco do Brasil e vou
desapropriar as terras deles para fazer assentamentos.”

Chegando ao governo em 2003, Lula mudou de opinião e se juntou a estes mesmos


usineiros declarando:

"Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do
agronegócio neste país, estão virando heróis nacionais e mundiais”

(...) “O açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte”, afirma a
pesquisadora Maria Cristina Gonzaga, da Fundacentro, um órgão do Ministério do
Trabalho. Os relatos de câimbra generalizada no corpo, seguida de morte, em razão de
esforço excessivo no trabalho, causou pelo menos 21 mortes nos canaviais paulistas
entre as safras de 2004 e 2007, segundo denúncias do Serviço Pastoral do Migrante em
Guariba.

Nos anos 80, os trabalhadores cortavam cerca de 4 toneladas e ganhavam o equivalente


a R$ 9,09 por dia. Em 2007, para ganhar R$6,88 por dia já era necessário cortar 15
toneladas. Para cortar 10 toneladas de cana por dia, estima-se que cada trabalhador
precise repetir cerca de 10 mil golpes de facão. p.23

30

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