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Edson Martins2
Uipirangi Franklin da Silva Câmara3
RESUMO
O presente artigo é fruto das pesquisas realizadas no Núcleo de Iniciação Científica do curso de
Direito do Centro Universitário OPET no ano de 2017, na linha de pesquisa Direito, Religião e
Gênero. Os pesquisadores procuraram estudar a presença de elementos religiosos na legislação
brasileira, entendendo ser a religião um fenômeno social e universal, presente na história do Brasil
desde o inicio da sua colonização. Desde a Constituição do Império, passando pelas constituições
republicanas, a religião está bem presente nelas. A maioria traz elementos religiosos em seu
preâmbulo, denotando a religiosidade de seus formuladores. Embora em todas as constituições
do período republicano preveja a separação entre Igreja e Estado, na prática muita coisa ainda
não foi separada. Dois exemplos da interferência da religião é o uso de símbolos cristão em
prédios públicos e os argumentos religiosos usados para barrar a descriminalização do aborto.
ABSTRACT
This article is the result of the research carried out at the Nucleus of Scientific Initiation of the Law
course of the University Center OPET in the year 2017, in the research line Law, Religion and
Gender. The researchers sought to study the presence of religious elements in Brazilian
legislation, understanding that religion is a social and universal phenomenon, present in the history
of Brazil since the beginning of its colonization. From the Constitution of the Empire, through the
republican constitutions, religion is very present in them. Most have religious elements in their
preamble, denoting the religiosity of their formulators. Although in all the constitutions of the
republican period it foresees the separation between Church and State, in practice much has not
yet been separated. Two examples of religious interference are the use of Christian symbols in
public buildings and the religious arguments used to stop the decriminalization of abortion.
1 Este artigo é fruto das pesquisas do Núcleo de Iniciação Científica, linha: Direito, Religião e Gênero, do curso
de Direito do Centro Universitário OPET – UNIOPET, no ano de 2017.
2 Licenciado em Pedagogia pela UFPR, bacharel em Teologia pela Faculdade Batista de São Paulo, especialista
em Educação a Distância pelo Centro Universitário SENAC-RJ, mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista
do Rio de Janeiro, mestre em Educação pela UFPR e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de
São Paulo. Professor nos cursos de Direito e Pedagogia do Centro Universitário OPET - UNIOPET. Email:
edsonmartins9@gmail.com
3 Doutor e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em Filosofia
e Teoria do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialista em Tecnologias Educacionais
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Project Management in Executive Education Program pela George
Washington University. MBA Internacional em Gestão de Pessoas pela FGV e George Washington University.
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista
do Paraná. CEO da Educriare Planejamento e Consultoria Educacional. Professor de Sociologia Jurídica, Filosofia
Geral e Filosofia do Direito do Centro Universitário OPET - UNIOPET. E-mail: ucamara@gmail.com
MARTINS, Edson e CÂMARA, Uipirangi Franklin da Silva. Direito e Religião no Brasil. In: ANIMA: Revista
Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba-PR. Ano X, n. 17, jul/dez-2017. ISSN 2175-
7119.
INTRODUÇÃO
Mas, como se define a religião? Não é uma tarefa fácil, havendo muitos fatores a
se levar em conta. Do ponto de vista etimológico, a palavra religião está ligada ao termo
latino religare, que indica um profundo relacionamento entre o ser humano e a divindade.
Mas como a etimologia não consegue traduzir todo o significado que muitas palavras
possuem, uma boa definição é a que é oferecida por Birnbaum (1987, p. 1058): “Religiões
são sistemas de crença, prática e organização que transformam uma ética que se
manifesta no comportamento de seus seguidores.“
É difícil estabelecer um consenso a respeito do tema. Geralmente, as definições
encontradas remetem ao Cristianismo, religião majoritária nos países ocidentais e que
não retratam as outras tantas religiões de outras partes do mundo.
Mas se não é possível fazer uma definição precisa da religião, é possível apontar
alguns elementos constitutivos de uma. Segundo Giddens (2005, p. 427) um traço comum
a todas as religiões é a existência de rituais ou cerimônias. Estas ações são distintas das
ações praticadas no cotidiano e só fazem sentido dentro do contexto religioso. As
MARTINS, Edson e CÂMARA, Uipirangi Franklin da Silva. Direito e Religião no Brasil. In: ANIMA: Revista
Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba-PR. Ano X, n. 17, jul/dez-2017. ISSN 2175-
7119.
cerimônias possuem diversas funções, desde a chamada da divindade, nas religiões afro,
até a iniciação e a aceitação no grupo, no caso do batismo.
Para um melhor entendimento do que é um rito e seu significado, é importante
saber que,
Um dos rituais religiosos mais comuns é o culto, definido por Marconi e Presotto
(2001, p. 165) como sendo,
Mas por conter a religião tantas nuances, subdivisões e interpretações, uma única
definição dificilmente daria conta de esgotar o seu sentido. Assim, muitos preferem
discorrer sobre os mais variados aspectos da religião e suas consequências.
Um destes aspectos é a discussão acerca do sentido da religião, de qual seria a
sua função no mundo social. Muitos estudiosos escreveram sobre o papel e a função da
religião, dentre eles, Peter Berger, Karl Marx, Jean Jacques Rousseau e Max Weber.
Para Berger (1985) a sociedade com todas as suas instituições, cultura, normas e
aparato legal é uma construção humana, aí incluídas as religiões. Assim, chega-se à
conclusão de que a sociedade é produto do ser humano e este é quem produz a
sociedade, em um movimento dialético. Para ele, a principal função da religião é ajudar na
construção de um mundo social, de um mundo que faça sentido para as pessoas.
Berger (1985) afirma que o maior temor dos seres humanos é a anomia social, que
ele define como caos ou falta de sentido. Ao sacralizar aspectos complexos da vida
humana, como as crises, o sofrimento, as enfermidades e a morte, o ser humano cria um
cosmos sagrado, em que mesmo as coisas mais difíceis de explicar acabam possuindo
um ou mais sentidos, trazendo segurança ao que crê e tornando o mundo mais
significativo.
Já para Karl Marx a religião é um elemento importante de convencimento social,
fazendo parte do que ele denominava de “superestruturas”, que são as instituições de
modo geral, agrupando a política, o judiciário, o sistema educacional e artístico e tudo o
que envolve a sociedade. Estas estruturas sociais serviriam para combater mudanças
sociais radicais e manter as estruturas de privilégios das classes dominantes
(PONZILACQUA, 2016).
No meio religioso em geral, Marx ficou com a fama de inimigo da religião
principalmente pela frase de que ela é “o ópio do povo”, uma metáfora para os efeitos
nocivos que a religião causa na mente dos trabalhadores, que devido às doutrinas
religiosas, que justificam teologicamente as desigualdades sociais, não permitem que
estes trabalhadores sejam conscientizados da exploração a que estão sendo submetidos.
Ou seja, para Marx, a religião impede que os trabalhadores se tornem revolucionários
(PONZILACQUA, 2016).
Isto é bem exemplificado nas palavras de Giddens (2005, p. 431), ao escrever que
segundo Marx,
MARTINS, Edson e CÂMARA, Uipirangi Franklin da Silva. Direito e Religião no Brasil. In: ANIMA: Revista
Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba-PR. Ano X, n. 17, jul/dez-2017. ISSN 2175-
7119.
A Constituição previa que ninguém seria perseguido por motivos religiosos, desde
que não desrespeitasse o Estado e nem ofendesse a moral pública. Embora o texto legal
abrigasse proteção para as religiões não católicas, na prática, era muito difícil uma
religião diferente prosperar naquele tempo, visto que todas as instâncias sociais estavam
dominadas pelo espírito do Catolicismo.
Isto se dava, porque:
O que se conclui na leitura da Constituição de 1824 é que ainda que o texto legal
abrisse brechas para a existência da pluralidade religiosa, na prática tal não acontecia,
pois, o súdito que não professasse a fé católica seria privado de vários direitos essenciais.
Muito embora o preâmbulo da Constituição não possua valor normativo, ele possui
um valor simbólico. Evidencia a força da religião cristã (tanto na vertente católica, quanto
nas crescentes igrejas evangélicas) no Estado brasileiro. Esta visão religiosa irá refletir de
forma clara alguns dilemas enfrentados pela sociedade brasileira, em que valores
seculares colidem com valores religiosos, gerando tensão, na maioria das vezes.
Como já foi visto até aqui, a religião católica chegou com os primeiros colonizadores
e sempre esteve presente no cotidiano do povo brasileiro e embora desde a primeira
Constituição republicana haja a norma explícita de separação entre religião e Estado, a
presença do Cristianismo nas mais diversas esferas seculares se faz presente. É como se
o Estado, em muitos casos, fosse cristão, o que acaba gerando alguma tensão, conflitos
éticos e situações bastante complexas. Ver-se-á nas páginas seguintes, como exemplo,
duas destas situações.
Mesmo sendo o texto constitucional muito claro, é muito comum encontrar pelo
Brasil afora símbolos cristãos, como crucifixos (influência católica) e bíblias (influência
evangélica) em prédios públicos. Tal prática tem provocado algumas reações, pois de
acordo com Fonseca (2015), a laicidade estatal pressupõe distanciamento de
preferências religiosas, pois mesmo que o Cristianismo possua o maior número de
seguidores no Brasil, existem muitas outras religiões e estas possuem os mesmos
direitos.
Em defesa da existência de símbolos cristãos em órgãos públicos, evoca-se o
número expressivo de fiéis que professam o Cristianismo, sendo inegavelmente a religião
da maioria dos brasileiros. Rebatendo tal argumento, Almeida (2008, p. 104) afirma:
A análise desse processo permite-nos perceber que sob o aparente caos das
mobilizações coletivas e da virulência dos debates e disputas emerge uma
configuração relativamente padronizada que associa, articula atores,
acontecimentos. A análise também nos permite compreender como atores e
instituições estabelecem alianças e produzem justificativas na defesa de suas
posições no jogo de uma controvérsia. As controvérsias são situações dinâmicas
de confronto, mas também são momentos de construção ou de reconstrução de
determinado ordenamento social.
Ao final deste artigo, seus autores puderam concluir que a religião, de uma forma
ou outra, está presente em todas as sociedades, em todas as épocas e lugares. É um
fenômeno social e universal. No Brasil, a história do descobrimento e da colonização está
intimamente ligada à presença marcante e vigorosa da Igreja Católica, que ocupava (e
ainda ocupa) grandes espaços sociais.
Foi possível, ainda, analisar a dificuldade em se conceituar a religião, conhecer
seus principais componentes e o seu significado na visão de grandes pensadores, como
Peter Berger, Karl Marx, Jean Jacques Rousseau e Max Weber.
Viu-se que para Berger, a religião tem a função de dar sentido ao mundo,
afastando a ideia de caos, de anomia. Para Marx, a religião é alienante, instrumento de
dominação que as elites usam para se perpetuarem no poder. Rousseau via a religião
como um freio social, quando se alia ao Estado na manutenção da ordem, mas que
deveria ser vista com cautela, pois ela mesma pode subverter a ordem social. Já Weber
via a religião de uma forma mais positiva, imputando a ela o poder de trazer inovações
sociais.
O artigo permitiu apresentar um breve panorama das constituições brasileiras e a
presença da religião em cada um dos textos constitucionais. Observou-se que em todas
elas havia a preocupação do legislador em manter a separação entre a igreja e o Estado,
mas que na prática isto não ocorreu de forma efetiva.
Por fim, os pesquisadores selecionaram dois exemplos de como a religião acaba
pautando algumas discussões no Brasil. O primeiro é o uso de símbolos religiosos em
prédios públicos, inclusive os da justiça, que deveriam zelar pela laicidade do Estado, mas
não o fazem. O segundo exemplo é a polêmica acerca do aborto no Brasil, previsto na
legislação em três distintos casos: risco de morte para a mãe, gravidez mediante estupro
MARTINS, Edson e CÂMARA, Uipirangi Franklin da Silva. Direito e Religião no Brasil. In: ANIMA: Revista
Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba-PR. Ano X, n. 17, jul/dez-2017. ISSN 2175-
7119.
REFERÊNCIAS
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WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões no mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
MARTINS, Edson e CÂMARA, Uipirangi Franklin da Silva. Direito e Religião no Brasil. In: ANIMA: Revista
Eletrônica do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba-PR. Ano X, n. 17, jul/dez-2017. ISSN 2175-
7119.