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Leia as propostas de redação (1) e (2) e desenvolva apenas uma delas. (Pode desenvolver as duas!)
Lembre-se de que seu texto deve ser grafado à tinta, considerando a norma culta da língua, e deve
conter, no mínimo, 120 palavras e no máximo 30 linhas.
Proposta 1
Suponha que uma revista especializada em turismo o tenha convidado para escrever uma matéria
descrevendo um lugar que, como turista, você tenha visitado. A partir dessa suposição, escreva um texto
descrevendo um lugar, que pode ser uma cidade, um parque ou outra localidade qualquer. Lembre-se de
que esse tipo de matéria pode ser escrito tanto para atrair turistas quanto para afastá-los de opções de
turismo consideradas ruins. Portanto, seu texto deve ser coerente com seus objetivos de enaltecer ou de
depreciar esse lugar e deverá informar o leitor a respeito das possibilidades de lazer, de gastronomia e de
cultura, entre outras, que a localidade apresenta.
Proposta 2
Nesse texto, apresentado no fórum de discussões sobre mudanças climáticas promovido pelo site
“scienceblogs”, o autor apresenta a descoberta de petróleo na camada “pré-sal” como algo que, apesar de
importante para o desenvolvimento econômico brasileiro, pode contribuir para o adiamento da busca das
chamadas matrizes energéticas “limpas”. Assim que foi postado, houve várias intervenções de internautas
tecendo comentários sobre o texto de Carlos Pacheco. Coloque-se também como um desses
internautas e redija uma carta argumentativa, dirigida ao autor do referido texto, em que você faça
uma análise da questão com base nos argumentos por ele apresentados e em seus conhecimentos
sobre o assunto.
Proposta 2
Leia a crônica abaixo e coloque-se na posição de um adulto que teve uma experiência escolar de “menino
triste” e resolveu relatá-la em uma carta endereçada ao autor da crônica. Nessa carta, marcada por uma
interlocução bem definida, você deverá:
• relatar sua experiência escolar de menino triste;
e
• relacionar essa experiência com a posição de M-1 ou de M-2, mostrando como sua escola lidou
com a questão.
Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto lido. (30 a 35 linhas)
Duas pessoas que não conheço dialogam no ônibus e participo, em silêncio, ouvindo e pensando.
Adorável conversa a três na qual apenas dois falam.
M-1 é a moça um. M-2 é a moça dois, a interlocutora. A-T sou eu. Elas conversavam, eu ouvia e pensava.
M-1 – Nada me comove mais que olho de menino triste. Você não tem vontade de chorar?
M-2 – Ah, minha filha, eu nem olho muito. De triste já chega a vida. Finjo que não vejo e só reparo os
meninos alegres, aqueles comunicativos. Criança, para mim, tem que ser feito aquelas dos anúncios:
sempre perfeitas, fortes, gordas, engraçadinhas e modelares.
M-1 – Também acho, mas quando vejo uma criança de olho triste, não consigo me desligar do que ela
estará pedindo sem falar. Fico numa agonia danada querendo adivinhar qual é o seu problema. Tenho
certeza de que ninguém alcança.
A-T – Não adianta, moça. O inconsciente humano, assim como carrega o passado do homem e da
espécie, também tem germens de antecipação do futuro. As dores da humanidade, presentes, passadas e
por vir, já acompanham algumas pessoas. E modelam seus rostos, olhos e mensagens corporais
silenciosas...
M-2 – Deixa isso pra lá. A gente não vai salvar o mundo, mesmo. Se você ficar sempre olhando o lado
triste quem acaba na fossa é você e sem nenhum proveito. Fossa pega, menina. E quem fica na fossa não
tira ninguém dela. Sei lá. Se você ficar triste, por causa dele, o menino de olho triste vai ficar mais triste
ainda.
M-1 – Pode ser que você tenha razão. Mas se fico negando a parte triste e transformo tudo em alegria,
tenho a sensação de estar enganando minhas crianças (nessa hora, percebi que ambas eram
professoras). O que é que vou fazer, se lá no colégio sinto mais simpatia pelos que ficam quietinhos,
morrendo de medo dos outros, loucos de vontade de brincar mas sem coragem de se enturmar.
A-T – Esses vão ser assim sempre. Claro que terão, na mocidade, um período de reação, no qual tentarão
se extroverter e nesse afã seguramente hão de exagerar. Lentamente, porém, como um rio após a
enchente, voltarão para o leito de sua disposição inata e seguirão pela vida sempre olhando os brinquedos
do lado de fora da vitrina.
M-2 – Bobagem sua. Com jeito, você pode ir atraindo os mais encabulados para a brincadeira dos outros.
Se eles sentem que você está com peninha, nunca vão reagir. Vão é se basear na sua pena para ficar
ainda mais tristes.
M-1 – E você pensa que não tenho tentado? É que observei que os meninos tristes, mesmo quando
incentivados a brincar com os demais, acabam voltando ao que são, dentro da brincadeira. Os mais
alegres e soltos sempre levam a melhor. Fico pensando se não seria o caso de se inventar uma pedagogia
especial para a sensibilidade. Não há currículo? Não há nota? Não há teste de inteligência e de
habilidades psicomotoras? Se tudo isso é importante, por que a escola não inventa, também, um tipo de
currículo ou de pedagogia ou até mesmo escolas especiais para as crianças mais sensíveis? Acho que, se
a gente consegue integrá-las na média, mais do que educando estará é violentando uma parte boa delas.
Você não acha?
M-2 – Não acho, não. Se a escola conseguir formar e aprimorar sensibilidades, você acha que depois, na
vida aqui de fora, haverá a mesma compreensão para os sensíveis? Essa não. Não é o mundo que tem
que se adaptar às pessoas. Elas é que têm que se adaptar ao mundo.
A-T – Estava na hora de saltar. Desci feliz. Uma conversa como esta, de duas professoras, mostra que o
mundo pode ser salvo. Mas fiquei pensando: talvez sejam os meninos tristes que o salvarão, sempre que
a escola, um dia, os entenda e aprenda a cuidar-lhes sensibilidade e emoção da mesma maneira que se
lhes aprimora a inteligência. Mas pedagogias à parte: haverá algo mais apatetante, culposo e dolorido que
menino de olho triste?
(Artur da Távola. Mevitevendo (Crônicas). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996: 25-27.)
Escreva um texto dissertativo, em que você se posicione sobre alternativas para combater a fome
no mundo, enfocando o continente africano. Você pode utilizar trechos dos textos-base, desde que
devidamente citados.
Leia os textos a seguir, que respondem a uma problemática que atinge o mundo todo, em especial
a África. (25 a 30 linhas)
NÃO
Alimentação e desenvolvimento
RICARDO ABRAMOVAY
Desde que Josué de Castro publicou a “Geografia da Fome”, já se sabe que a humanidade é capaz
de produzir o necessário para banir do planeta o problema da subalimentação. Os progressos nos últimos
50 anos foram imensos: o consumo calórico nos países em desenvolvimento aumentou 30%. Das sete
nações com mais de 100 milhões de habitantes (China, Indonésia, Brasil, Índia, Paquistão, Nigéria e
Bangladesh), só Bangladesh mantém nível de consumo per capita muito baixo.
Em 1990, a ingestão calórica aquém das necessidades individuais básicas atingia 32% dos
habitantes da Terra. Hoje, os 850 milhões de pessoas que não conseguem preencher as necessidades
alimentares correspondem a menos de 15% da população mundial. Apesar do avanço, dificilmente o
horizonte estabelecido pela ONU de reduzir esse contingente pela metade até 2015 será alcançado. Por
quê?
A resposta que domina a cena internacional é que a fome no mundo persiste por causa do
protecionismo dos países ricos. Que essa resposta seja conveniente aos interesses do Brasil é
compreensível. Mas isso não a torna mais consistente. A fome, hoje, concentra-se em países da África
subsaariana (e, em menor proporção, na Índia e no Paquistão). A esmagadora maioria dos que não
conseguem preencher suas necessidades básicas vivem em regiões rurais, e a escassa renda que obtêm
deriva da agricultura. O debate internacional está marcado por uma polaridade fundamental.
Por um lado, há os que preconizam que em regiões rurais de países pobres, ecologicamente
frágeis, as atividades agrícolas se reduzam ao mínimo e que suas populações sejam alimentadas
principalmente com importações vindas de áreas que já se provaram mais eficientes. Os que contestam
essa associação direta entre liberalização comercial e combate à fome se apóiam em três argumentos
importantes.
O primeiro deles pergunta com que recursos os mais pobres pagariam os alimentos importados.
Importar exatamente aqueles bens que -na qualidade de habitantes do mundo rural- essas pessoas
poderiam e deveriam produzir significa perpetuar sua dependência da ajuda internacional. Mas será que
elevar a produção em regiões ecologicamente frágeis é agronomicamente viável?
Uma das mais destacadas personalidades da ciência agronômica mundial, o indiano M. S.
Swaminathan, oferece o segundo argumento e responde com um entusiasmado “sim” à pergunta. É
necessário, porém, superar as técnicas que marcaram a conhecida Revolução Verde e cuja essência está
em moldar o ambiente natural segundo as exigências das sementes que associam alto potencial produtivo
ao uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos em larga escala. O desafio é construir o que Swaminathan
chama de “evergreen revolution” (revolução sempre verde), com tecnologias que se adaptem ao meio
natural e que sejam capazes de fazer da preservação da biodiversidade uma das bases decisivas da
própria expansão produtiva. O aumento dos preços do petróleo, o encarecimento dos fertilizantes, as
exigências dos consumidores e a pressão das organizações da sociedade civil explicam mudanças
notáveis na produção agrícola contemporânea em direção a uma relação menos agressiva com os
recursos naturais.
E aqui vem o terceiro argumento dos que contestam que a liberalização comercial seja a mais
relevante premissa para acabar com a fome: a luta contra a pobreza absoluta passa, antes de tudo, pelo
acesso à terra, à educação, a novas tecnologias produtivas e, sobretudo, a instituições estáveis que
permitam melhorar a participação dos mais pobres em mercados dinâmicos e promissores.
Nenhuma das liberdades humanas básicas que compõem a essência daquilo que o Prêmio Nobel
de Economia Amartya Sen define como “desenvolvimento” resultam automaticamente da liberalização
comercial. Aumentar a produção agropecuária é fundamental, como bem sublinhou o secretário-geral da
ONU, mas o mais importante é criar condições para que os que vivem em situação de pobreza absoluta
conquistem o direito de produzir a própria alimentação.
RICARDO ABRAMOVAY, 55, é professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da USP, coordenador de seu Núcleo de Economia
Socioambiental e pesquisador do CNPq
SIM
Inflação e fome
LUIZ ROBERTO CUNHA, 62, é professor do Departamento de Economia e decano do Centro de Ciências
Sociais da PUC-Rio.