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CenDoTeC

ProsPER Cône Sud

PANORAMA DAS
QUALIFICAÇÕES E CERTIFICAÇÕES
DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS NO BRASIL

DOMINIQUE PALLET – CIRAD PROSPER


CATHERINE BRABET – CIRAD PROSPER
ODAIR MACHADO DA SILVA FILHO – Esalq - USP

São Paulo, Outubro 2002

APOIO :

ESALQ - USP
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

Comentários preliminares

Esse documento foi realizado dentro do projeto ProsPER do CIRAD (Centre de


Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement ) tendo
como objetivo mostrar o panorama das certificações de qualidade de produtos
agropecuários no Brasil. Um enfoque maior é dado aos produtos orgânicos que têm uma
vivência maior e atualmente representam maior volume de produção. Os outros tipos
de certificação mais recentes mas parecem promissórios, estão também sendo
tratados. O tempo de estudo não permitiu incluir de uma maneira exaustiva todos os
tipos de certificação públicos e privados existentes no Brasil. Os autores* ficam
abertos às comunicações e propostas que poderiam ser incluídas em versões
posteriores desse documento.

A pesquisa foi feita durante o período de julho a setembro de 2002, tendo como
base a análise e síntese de dados obtidos através da bibliografia disponível,
informações na internet, contatos e visitas a órgãos e instituições “chaves”.

O presente trabalho contou com o financiamento da FAO (Oficina Regional para


América Latina y El Caribe) caracterizando-se como um complemento sobre a situação
no Brasil a um documento já editado sobre certificação & selos de qualidade de
produtos alimentícios na América do Sul.
Os autores agradecem as instituições seguintes pelo apoio concedido :
- Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica : CenDoTeC;
- Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” : ESALQ;
- Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual de Campinas : FEA-
Unicamp;
- EMBRAPA Meio Ambiente : Cnpma.

Palavras chave : Certificação, Qualidade, Segurança alimentar, Agropecuária,


Orgânicos, Brasil.

* Comunicações sobre esse documento podem ser mandadas para : Dominique PALLET // Cendotec Av Prof. Lineu Prestes, 2242 // IPEN-
CNEM/SP // Cidade Universitária // 05508 – 000 São Paulo – SP Email : pallet@cendotec.org.br
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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

1. OS ORGÃOS BRASILEIROS.
1.1. MINISTÉRIOS.
1.2. ABNT.
1.3. INMETRO.

2. A CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA
2.1. HISTÓRICO BRASILEIRO E SITUAÇÃO ATUAL.
2.2. NORMAS.
2.3. PRINCIPAIS CERTIFICADORAS E SELOS NO BRASIL.
2.4. MECANISMOS DE CERTIFICAÇÃO PARA EXPORTAÇÃO.
2.5. PRODUTOS CERTIFICADOS.
2.6. POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS.

3. OS PROGRAMAS DE CERTIFICAÇAO PARA A EXPORTAÇÃO.


3.1. A PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS (PIF).
3.2. A RASTREABILIDADE DA CARNE EXPORTADA.
3.3. A SOJA CERTIFICADA SEM OGM.
3.4. O EUREPGAP.
3.5. O COMÉRCIO JUSTO.

4. AS DENOMINAÇÕES DE ORIGEM E INDICAÇÕES DE PROCEDÊNCIA.

5. AS CERTIFICAÇÕES AGRÍCOLAS SOCIOAMBIENTAIS.


5.1. O IMAFLORA.
5.2. A CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA.
5.3. O MANEJO SUSTENTÁVEL DO IBAMA.

6. OS SELOS PRIVADOS DE PRODUTORES AGROPECUÁRIOS BRASILEIROS.


6.1. PROGRAMAS DE QUALIDADE DA CARNE BOVINA.
6.2. PROGRAMAS DE QUALIDADE DO CAFÉ.

CONCLUSÕES

BIBLIOGRAFIA

ABREVIAÇÕES & CONTATOS

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

INTRODUÇÃO

O Brasil, assim como muitos outros países tipicamente agrícolas, está buscando
diferenciar seus produtos no mercado, oferecendo maior qualidade e segurança dos
mesmos aos consumidores. Tal anseio é devido ao desenvolvimento em direção à
proteção de seus alimentos, seus conhecimentos e habilidades (know-how) e devido à
necessidade e demanda mundial de produtos mais saudáveis, ecologicamente corretos,
rastreáveis, dentre outros.

Tal demanda deve-se também às grandes crises alimentares recentes, tais como:
“vaca louca” (Encefalopatia Espongiforme Bovina – BSE), febre aftosa, dioxinas, etc.;
sendo que hoje os profissionais buscam, através de técnicas de controle de doenças,
sistemas de produção, qualidade e segurança dos alimentos, melhorar a imagem da
agricultura, restaurar a confiança dos consumidores, além de ir em direção a uma
agricultura com a redução da utilização de defensivos e insumos, que respeite mais o
meio ambiente e que leve produtos saudáveis e seguros para os consumidores.

Tanto os aspectos relativos à segurança alimentar quanto o excesso de oferta de


produtos no mercado mostram, como única alternativa, a busca pela distinção
qualitativa (estética, valores nutricionais, aspectos ambientais, rastreabilidade, etc)
do produto para a aquisição da confiança do consumidor, levando-se em conta seus
gostos e preferências.

O presente estudo descreve, de forma geral, a atual situação do Brasil acerca das
certificações e da busca pela qualidade de seus produtos agropecuários.
Em primeiro lugar, para um maior esclarecimento do funcionamento geral da
certificação no Brasil, foram descritos os organismos responsáveis pelos processos. A
seguir são descritos os sistemas de certificação. O sistema orgânico de produção e
certificação que atualmente é o tipo de certificação de produtos agropecuários mais
desenvolvido no Brasil é mais detalhado. Os outros tipos de certificação que estão em
pleno desenvolvimento e rápido crescimento são também detalhados.

Explicações quanto as siglas podem ser encontradas no final do documento.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

1. OS PRINCIPAIS ORGÃOS BRASILEIROS ATUANDO NAS NORMAS E


CERTIFICAÇÕES.

Dentro dos processos de certificação e verificação da qualidade de produtos


alimentícios, dois órgãos brasileiros merecem posição de destaque, sendo eles a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Devido a falta de normas referentes a produtos agrícolas e agropecuários, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tomou frente na
definição de parâmetros, liderando o desenvolvimento de normas referenciais para
carnes, frutas e outros produtos agrícolas e pecuários, sendo que tais normas estão
em processo de discussão e aceitação, constituindo-se ainda como Instruções
Normativas. No Ministério são ainda discutidos em conjunto com os órgãos
relacionados, projetos de lei voltados à agricultura orgânica. O esquema geral abaixo
mostra essa organização de forma resumida:

Orgãos Envolvidos

Ministérios

Acreditação Normas
INMETRO ABNT

* Outros Normalização
Nacionais

Certificadoras
Base para normas
brasileiras
Nacionais Internacionais
Utilização das normas para certificação e credenciamento
junto aos acreditadores internacionais
Internacionais

Certificação

Produtos Sistemas
* Outros – Universidades (UNESP,
ESALQ, FEA, etc.), Institutos de
Pesquisa, especialistas, colegiados

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

1.1 MINISTÉRIOS.

Os Ministérios atuam diretamente na elaboração de normas junto aos colegiados


nacional e estaduais para a discussão de normas referentes a agricultura orgânica , no
credenciamento de empresas certificadoras e na verificação da aplicação das normas
junto aos colegiados.
O Brasil conta com um total de 21 Ministérios. Dentre eles, no que se refere a
certificação de produtos e sistemas, os mais importantes são: Ministério do Meio
Ambiente (MMA), Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC) e o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Tais Ministérios são
responsáveis pela elaboração de normas junto aos órgãos, instituições e profissionais
competentes.

1.2 ABNT.

Fundada em 1940, a ABNT é o órgão responsável pela elaboração de normas


técnicas no Brasil, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico
brasileiro. É uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida como Fórum
Nacional de Normalização – Único – através da resolução nº 7 do CONMETRO
(Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), de
24/08/1992. Além disso, a ABNT é representante brasileira exclusiva das seguintes
unidades internacionais:
• ISO – International Organization for Standardization
• IEC – Internacional Electrotechnical Comission

e das entidades de normalização regional:


• COPANT – Comissão Panamericana de Normas Técnicas
• AMN – Associação Mercosul de Normalização

Ainda, a ABNT é credenciada pelo INMETRO, o qual está em acordo quanto ao


reconhecimento junto aos membros do International Acreditation Fórum (IAF) para
acreditar sistemas de qualidade (ISO 9000), Sistemas de Gestão Ambiental (ISO
14001), e diversos produtos e serviços.
Sua estrutura geral, bem como seus certificados encontram-se no site:
www.abnt.org.br/certif_body.htm.
Quanto às normas ISO, a ABNT traduz tais normas e difunde aos interessados
através de guias que podem ser adquiridos junto a ABNT.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

1.3 INMETRO.

O INMETRO é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior, criado em 1973, para substituir o Instituto Nacional
de Pesos e Medidas (INPM) e ampliar significativamente o seu raio de atuação a
serviço da sociedade brasileira. Seu objetivo é fortalecer as empresas nacionais,
aumentando sua produtividade por meio da adoção de mecanismos destinados à
melhoria da qualidade de produtos e serviços (www.inmetro.gov.br)
Dentre as competências e atribuições do INMETRO destacam-se: gerenciar os
sistemas brasileiros de credenciamento de Laboratórios de Calibração e de Ensaios e
de organismos de certificação e de inspeção, fiscalizar e verificar os instrumentos de
medir empregados na indústria, no comércio e em outras atividades relacionadas à
proteção do cidadão e do meio ambiente e coordenar a participação brasileira em
organismos internacionais relacionados com os seus objetivos.
Ainda, o INMETRO representa o Comitê Brasileiro de Certificação - CBC (criado
pela resolução CONMETRO n.8 de 24/08/92) na ISO e, assim possui, além das
responsabilidades atribuídas a seus membros, a de divulgar, avaliar e preservar a
aceitação, o uso e integridade da marca ISO. A ABNT é o organismo de certificação
brasileiro, credenciado pelo INMETRO, para atuação em certificação de sistemas de
garantia de qualidade no país e também de produtos.
O CONMETRO tem competência para expedir atos normativos e regulamentos
técnicos, nos campos da Metrologia e da Avaliação da Conformidade de produtos, de
processo e de serviços.
A certificação é feita por Organismos de Certificação Credenciados (OCC) no
Sistema Brasileiro de Certificação. Quando um produto, por não estar de acordo com
os requisitos da norma, puder afetar a saúde ou a segurança do consumidor, o
INMETRO ou outro órgão governamental pode tornar a certificação desse produto
obrigatória (compulsória).
A certificação de produtos ou serviços, sistemas de gestão e pessoal é, por
definição, realizada pela terceira parte, isto é, por uma organização independente
credenciada pelo INMETRO para executar essa modalidade de Avaliação da
Conformidade.
A certificação dos Sistemas de Gestão atesta a conformidade do modelo de
gestão de fabricantes e prestadores de serviço em relação aos requisitos normativos.
Os sistemas clássicos na certificação de gestão são os de gestão de qualidade,
baseado nas normas NBR ISO 9000 e os sistemas de gestão ambiental, conforme as
normas NBR ISO 14000.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

2. A CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA

A agricultura orgânica determina como fundamento básico o respeito ao meio


ambiente; rotação de culturas regulares, a biodiversidade, a policultura, relações com
o solo nas criações animais, dentre outros.

2.1 HISTÓRICO BRASILEIRO E SITUAÇÃO ATUAL.

O processo de certificação no Brasil surgiu informalmente, a partir do trabalho de


ONGs (associações e cooperativas de produtores e consumidores) no estabelecimento
de normas internas próprias para a produção e comercialização e na criação de selos
que garantissem a qualidade de seus produtos. Logo em seguida, surgiu a necessidade
de certificação dos produtos por instituições de reconhecimento internacional visando
a exportação. Para que isso fosse possível, a produção, o armazenamento e o
transporte teriam que obedecer aos padrões internacionais.
A certificação de produtos orgânicos no Brasil teve início a partir da organização
de uma Cooperativa de Consumidores no Rio Grande do Sul (Coolméia) em 1978. Em
1990, o IBD, que hoje é o mais importante certificador orgânico brasileiro, era o
primeiro órgão certificador com reconhecimento internacional e fazia a sua primeira
exportação.
Em 1995, o Governo Federal instituiu o Comitê Nacional de Produtos Orgânicos
(CNPO) com o intuito de aproximar as normas de agricultura orgânica em nível
nacional, com composição paritária entre o Governo e Organizações Não-
Governamentais (ONG) que atuam com agricultura ecológica. Fazem parte do CNPO
representantes de ONGs das cinco regiões do país, MAPA, da Empresa Brasileira de
Pesquisa em Agricultura (EMBRAPA), do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e de
Universidades.
Em maio de 1999, entrou em vigor a Normativa nº 007/99 do MAPA, com o
objetivo de estabelecer as normas de produção, tipificação, processamento, envase,
distribuição, identificação e certificação de qualidade para produtos orgânicos de
origem animal e vegetal.
Essas iniciativas surgiram em resposta as exigências de alguns países como o Japão
e da Comunidade Européia, que passam a condicionar a importação de alimentos à
existência de certificação de qualidade ambiental, o que se constitui em barreira não
tarifária por parte dos países importadores.
Caso o Brasil não agilize o processo de desenvolvimento de normas legais que
caracterizem a agricultura orgânica brasileira, devido ao Mercado Comum dos países
do Sul (Mercosul) e ao fato de países como Argentina, Uruguai e Paraguai já possuírem
tais normas, as mesmas serão impostas ao Brasil para acelerar o processo.
O Colegiado Nacional de Agricultura Orgânica, composto de 10 membros, sendo
cinco representantes de órgãos governamentais e cinco de órgãos não-governamentais,

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

é coordenado pelo MAPA e tem como atribuições principais o credenciamento de


instituições certificadoras, a coordenação, supervisão e fiscalização das atividades
dos colegiados estaduais e do distrito federal. Os colegiados nacional e estadual têm
como principal função assessorar e acompanhar a implementação de normas e padrões
nacionais para a produção orgânica de alimentos ou matéria-prima de origem vegetal
e/ou animal (BNDES, 2002).
Cabe ao Colegiado Nacional, previsto na Instrução Normativa 007/99, e
atualmente em fase de definição, estabelecer quem pode e quem não pode certificar
produtos orgânicos no Brasil (www.iea.sp.gov.br/agro-cert0501.htm).

2.2 NORMAS PARA A PRODUÇÃO ORGÂNICA.

A Instrução Normativa nº 007 de 17 de maio de 1999, com base na Portaria do


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) nº 505 de 16 de outubro
de 1998, em seu item 1.1, considera “sistema orgânico de produção agropecuária e
industrial todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso dos recursos
naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a
auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a
minimização da dependência de energias não-renováveis e a eliminação do emprego de
agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, Organismos Geneticamente
Modificados (OGM)/transgênicos ou radiações ionizantes em qualquer fase do
processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos privilegiando
a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os
estágios da produção e da transformação, visando:
• A oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de
qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do
agricultor e do meio ambiente;
• A preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou
transformado, em que se insere o sistema produtivo;
• A conservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, da água e do
ar e,
• O fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de
produtos orgânicos.”

Todo produto obtido em sistema orgânico de produção agropecuária ou industrial


seja in natura ou processado, é considerado orgânico. Lembramos que de acordo com o
regulamento CEE 2092/91, as plantas comestíveis ou partes comestíveis de plantas
(frutos, sementes, talos, folhas, raízes etc.) que cresçam de forma espontânea em
áreas naturais, florestas e áreas agrícolas são consideradas um produto orgânico,
quando as áreas onde são encontradas não tenham sido tratadas com produtos
químicos e/ou sintéticos, durante três anos precedentes à colheita. A colheita não

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

poderá afetar a estabilidade do ecossistema nem prejudicar a conservação das


espécies nativas.
O conceito abrange os processos atualmente conhecidos como “ecológico,
biodinâmico, natural, sustentável, regenerativo, biológico, agroecológico e
permacultura”. Produtor orgânico, segundo a Instrução, pode ser tanto o produtor de
matérias-primas como seus processadores.

As empresas certificadoras surgiram com o intuito de protegerem a agricultura


orgânica de fraudes, sendo que a norma base utilizada para tal foi a norma européia
ISO 65 (que se refere à certificação de produtos) que é reconhecida pela IFOAM.
Comparando-se a Normativa nº 007/99 as exigências da IFOAM, verifica-se que a
norma brasileira ainda se mostra incompleta visto a falta de base e regulamentos
concretos. O Colegiado Nacional pretende formar um regulamento sólido para a
agricultura orgânica no Brasil, pois as empresas que seguem somente a normativa
brasileira não são reconhecidas pela IFOAM (nem pela América do Norte, nem pelo
Japão).

2.3 PRINCIPAIS CERTIFICADORAS E SELOS NO BRASIL.

Atualmente, o Brasil possui um mercado de produtos orgânicos em pleno


desenvolvimento. Conta-se hoje com um total de 14 empresas certificadoras de
produtos orgânicos (8 nacionais e 6 estrangeiras), sendo que 8 delas possuem
reconhecimento internacional e algumas outras buscam junto à IFOAM, DAR, RVA,
principalmente.
O esquema abaixo mostra como funciona o sistema de certificação das
certificadoras nacionais no Brasil e logo em seguida, a Tabela nº1 mostra todas as
certificadoras existentes hoje, de acordo com site www.planetaorganico.com.br e
BNDES 2002:

MAPA

Instrução Normativa nº 007/99

Certificadoras

Selos

Emissão de Certificado
para comercialização

Mercado Interno

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

País de Norma
Certificadora Localidade ACREDITAÇÃO
Origem reconhecida
1 - AAO Brasil São Paulo Nacional

2 - Coolméia Brasil Porto Alegre Nacional

3 - APAN Brasil São Paulo Nacional

4 - ANC Brasil Campinas Nacional

Rio de Janeiro -
5 - ABIO Brasil Nacional
RJ
Espírito Santo -
6 - Chão VIVO Brasil Nacional
ES
7 - Instituto DAR, DAP,
Brasil Botucatu - SP Internacional
Biodinâmico (IBD) * IFOAM
8 - Fundação Mokiti
Brasil Rio Claro - SP Japão
Okada (FMO) *
9 – ECOCERT * França Porto Alegre – RS Internacional COFRAC
10 - BCS Öko-
Alemanha Piracicaba - SP Internacional DAR, IFOAM
Garantie *
11 - Farm Verified
EUA Recife - PE Internacional IFOAM
Organic (FVO) *
12 - SKAL
Holanda São Paulo - SP Internacional RVA
International *

13 - IMO Control * Suiça São Paulo - SP Internacional IFOAM

14 - OIA Brasil * Argentina São Paulo - SP Internacional IFOAM

Tabela nº1 Lista das empresas Certificadoras


Fonte: www.planetaorgânico.com.br e BNDES 2002.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

Aqui estão seus respectivos selos numerados de acordo com a numeração da


Tabela nº1 acima:

6
1 11

2 7 12

3 8
13

4
9
14

5
10

http://www.planetaorganico.com.br/qcertif.htm

As estrangeiras buscam junto ao colegiado nacional e estadual o reconhecimento


dos órgãos competentes brasileiros.
A seguinte pesquisa foi baseada em entrevistas a empresas e centros de pesquisa,
pesquisa na internet; Fica claro que as maiores empresas do setor constam nas
estimativas além de, por razões de sigilo comercial, algumas certificadoras não nos
permitiram ter de forma mais clara a distribuição do número de produtores, suas
respectivas áreas e cultivos e todos os reais custos referentes à certificação.
De acordo com o site www.planetaorganico.com.br, as principais empresas
certificadoras de produtos orgânicos no Brasil atualmente são o IBD, AAO, Fundação
Mokiti Okada;, com menor importância cita-se a BCS, SKAL, FVO, ECOCERT e OIA
Brasil.
As certificadoras utilizam-se de normas de produção orgânica ou natural, sendo
que a base dessas normas é o CODEX ALIMENTARIUS da Organização Mundial do
Comércio (OMC).
As normas advindas foram a ISO 65 e CEE 2092/91, basicamente.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

2.4 MECANISMOS DE CERTIFICAÇÃO PARA EXPORTAÇÃO.

Para entrar nos mercados europeu, americano e japonês, a certificação deve


corresponder às orientações da IFOAM e às normas específicas de cada região. O
esquema a seguir mostra o sistema de forma geral:

IFOAM, DAR, DAP,

Normas Européia CEE


2092/91 e Mundial ISO 65

Certificadoras
Exportadoras

Selos Emissão de
Certificado para
comercialização

Mercado Externo

De acordo com pesquisa desenvolvida pelo BNDES, o Brasil já exporta vários


produtos como a soja, café, açúcar, cacau, castanha-de-caju, suco concentrado de
laranja, óleo de palmeira, manga, melão, uva, derivados de banana, fécula de mandioca,
feijão, gergelim, especiarias (canela, cravo-da-índia, pimenta-do-reino e guaraná),
óleos essenciais (utilizados como essências no preparo de sorvetes, perfumes, bolo,
etc.); segundo algumas certificadoras, carne de aves e bovina e cachaça também
(BNDES, 2002).
Segundo a FAO, o mercado mundial de produtos orgânicos crescerá 20 vezes até
2005, atingindo a cifra de US$ 100 bilhões.
As empresas que certificam produtos destinados à exportação podem ser encontradas
na Tabela nº1 da página 10 do presente trabalho, marcadas com asterisco(*).

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

2.5 PRODUTOS CERTIFICADOS.

As ARCOS (Agências Regionais de Comercialização) trabalham junto ao IBD


(Botucatu – SP) para a certificação dos alimentos produzidos por cerca de 5 mil
famílias de trabalhadores rurais com mais de 50 projetos de assentamento no
Maranhão, Rondônia, Pará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Ceará e Piauí. Os
principais produtos a serem certificados pelo IBD são: soja, trigo, café, cacau,
castanha-de-cajú, mel, óleo de babaçu, açúcar mascavo, hortícolas, guaraná, urucum,
palmito, manga e banana. A Suíça comprou em 09/2002 15 toneladas de cacau orgânico
brasileiro certificado pelo IBD e produzido por 9 assentamentos do INCRA na Bahia.
O preço no mercado internacional foi cerca de 40% maior (www.agrisustentavel.com).
Alguns projetos já certificados pelo IBD com o apoio das ARCOS são os
assentamentos Dandara dos Palmares e Zumbi dos Palmares, ambos na Bahia, com
produção de cacau e guaraná (REVISTA ARCOS, 11/2001).
O IBD é a principal empresa certificadora, com cerca de 60% do mercado orgânico
brasileiro. De acordo com Sr. Jorge Vailati (gerente de certificação do IBD), a
procura aumenta a cada dia por parte dos produtores.
Em parceria com o Instituto ELO (www.elo.org.br) e sendo que ambos residem em
Botucatu – SP, a ABD (Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica –
www.abd.com.br) entra no mercado com o intuito de cobrir a deficiência de
consultores na área oferecendo cursos fundamentais e treinamento para consultores e
pequenos produtores.
Os principais produtos certificados pelo IBD encontram-se no site
www.ibd.com.br, destacando-se a soja, cafés especiais, cana-de-açúcar, erva-mate,
açúcar, manga, citrus (www.montecitrus.com.br - suco e polpa de laranja, fruta fresca,
óleo essencial), hortaliças, frutas tropicais, cereais, mel e carne bovina. Nesse último
produto, em agosto de 2002 o Frigorífico Independência que já é certificado pelo IBD
recebeu a certificação sueca KRAV (www.krav.se), possibilitando a exportação para a
Suécia (www.ibd.com.br - notícias 2002).
Na Associação de Agricultura Orgânica (AAO – www.aao.org.br), para associar-se
paga-se uma taxa de R$30,00 semestrais, que não dependem de forma alguma do tipo
de propriedade, volume de produtos. Os principais produtos certificados são café,
frutas e hortaliças.
O selo outorgado pela AAO não é de reconhecimento internacional, ao contrário do
IBD, que é associado ao IFOAM e acreditado pelo DAR.
A BCS Öko-Garantie, que controla 50% dos alimentos orgânicos na Alemanha,
possui acreditação internacional, porém no Brasil ainda não é tão expressiva. Seus
principais produtos são cogumelos, café, frutas, hortaliças, carne de javali. Segundo
eles, para que uma empresa exporte produtos orgânicos, a BCS deve certificar que a
empresa saiba separar produtos orgânicos de convencionais no processo de
comercialização, pois caso contrário o selo não é concedido.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

De origem Argentina, a OIA (www.certificationoia.com) ainda está se


estabelecendo no Brasil, tendo poucos produtos certificados e a maioria em
andamento. A OIA Brasil visa tornar-se independente o quanto antes da OIA
Argentina; de acordo com eles, “Tudo está em processo de adaptação”, para isso. Com
o intuito de acelerar os trâmites e ganhar espaço no mercado o quanto antes, a OIA
Brasil se associou a AAO, permitindo que os produtos certificados por essa
Associação possam ser comercializados no mundo inteiro.
Com diversas certificações que a SKAL Brasil (skalbrasil@daventria.net) quer
conquistar seu espaço no mercado e a certificação orgânica é vista como “carro
chefe”, tendo como principais produtos em processo de certificação o mel, fibras
têxteis e o peixe.
A Fundação Mokiti Okada (FMO – certcmo@terra.com.br) vem desenvolvendo a
Agricultura Natural no Brasil desde 1979. A produção é destinada ao mercado japonês
que aceita somente o selo FMO, sendo que a mesma não é acreditada nem cadastrada
na IFOAM.
A ECOCERT, com sede na França e acreditada pela COFRAC (Comitê Francês de
Acreditação), foi criada em 2001 no Brasil (ECOCERT BRASIL) tendo concedido seu
primeiro certificado a Cooperativa do Rio Grande do SUL (COTRIMAIO –
www.cotri.com.br) para a cultura da soja. Atualmente, produtos como frutas,
hortaliças e cereais estão em processo de certificação.

2.6 Em direção à Europa e EUA

O IBD é o certificador mais importante, certificando mais de 60% da superfície


orgânica em 2000. Seu produto é aceito nos três maiores blocos comerciais do mundo,
ou seja, Europa, EUA e Japão, devido ao credenciamento junto a IFOAM (acreditado
desde 1995) e acreditação do DAR e DAP (ambos alemães – norma ISO 65/EM 45011).
A BCS Öko-Garantie, já possue credenciamento junto ao USDA (United States
Department of Agriculture) (USDA-NOP-final rule – www.ams.usda.gov/nop/), o que
garante a exportação para o mercado norte americano. A SKAL International está em
fase de se credenciar nesses órgãos.
Como a maioria das empresas exportadoras segue as normas ISO 65, não há
grandes dificuldades para que seja seguida a norma européia CEE 2092/91, que
possibilita o comércio em direção à Comunidade Européia.

2.7 Em direção ao Japão

A Fundação Mokiti Okada (FMO), situada em Rio Claro, é uma fundação religiosa
que segue os ensinamentos de seu idealizador Sr. Mokiti Okada. Ela não é reconhecida

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

pela IFOAM, entretanto suas normas são suficientes para a exportação em direção ao
Japão.
A SKAL International busca seu credenciamento junto ao JAS
(www.maff.go.jp/soshiki/syokuhin/hinshitu/organic/eng_yuki_top.htm) e a BCS Öko-
Garantie já o possui. Tal credenciamento assegura a exportação, sendo que o órgão
japonês audita freqüentemente a certificadora para verificar a sua conformidade.

2.8 POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS.

O financiamento para a produção sob manejo orgânico encontra extrema


dificuldade para que se adapte ao modelo de crédito agrícola brasileiro, baseado no
financiamento na compra de insumos, sementes: despesas típicas do pacote
tecnológico dos anos 70. A agricultura orgânica utiliza menos insumos, mais mão-de-
obra e menos maquinário, sendo que o modelo não se adequa ao seu perfil.

O programa Pronatureza, operado pelo Banco do Brasil, tem como objetivos o


financiamento de projetos que utilizem práticas ecologicamente sustentáveis e para
investimentos agropecuários que reabilitem áreas degradadas ou em processo de
degradação. Esse foi o primeiro programa a contemplar o financiamento das despesas
com certificação para a utilização do selo orgânico.
Ainda, o Banco do Brasil lançou o programa BB Agricultura Orgânica com o objetivo
de ajudar o produtor que desenvolve a agricultura orgânica, apoiando esses produtores
já certificados pelo IBD ou pela AAO. Os serviços oferecidos incluem convênios de
integração rural, crédito para a agricultura familiar, cédula de comercialização para o
produtor rural, leilão eletrônico com as bolsas de alimentos do país e parceiros com
empresas do agronegócio.
O crédito do Banco do Brasil exige que o produto seja certificado por uma
entidade certificadora em acordo de parceria com o Banco.
(www.agronegocios-e.com.br).

O Banco do Nordeste desenvolveu o Programa de Financiamento à Conservação e


Controle do Meio Ambiente (FNE Verde), apoiando a agricultura orgânica e atendendo
a todas as atividades ligadas ao meio ambiente, com a utilização de recursos do Fundo
Constitucional do Nordeste. Os limites de financiamento variam de acordo com o
tamanho do empreendimento. Em dezembro de 2001 foi lançado o Programa de
Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica do Nordeste, com ênfase na estruturação
da cadeia produtiva e tendo o crédito como elemento de apoio
(www.banconordeste.gov.br).

O BNDES tem concedido financiamentos através das suas linhas tradicionais


(FINAME-Agrícola, BNDES - Automático, etc.) e dos programas regionais. O

16
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

Programa de Recuperação de Solos (Prosolo) admite o uso de adubação verde como


item financiável.

Foi criado em 1990, pelo Governo Federal, o Programa Brasileiro de Qualidade e


Produtividade (PBQP). Para orientá-lo estrategicamente, criou-se o Comitê Nacional
da Qualidade, composto pelos Ministros da Casa Civil da Presidência da República, do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do
Trabalho e Emprego, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), Instituto de Defesa do Consumidor, dentre outros. Tal Programa beneficia
a criação de novas certificadoras, busca a conformidade de produtos nacionais as
normas e regulamentos, desenvolvimento da infra-estrutura para a qualidade e a
produtividade no País, etc. Maiores informações disponíveis junto ao Departamento de
Competitividade Sistêmica e Estudos Econômicos (e-mail: pbqp@mdic.gov.br).

A organização não governamental Widar, fundada em 1994 por de um grupo de


voluntários, busca a aplicação ética de dinheiro sendo uma financiadora de caráter
sócio-ecológico. Ela financia agricultores, sobretudo os de baixa renda, pequenos
comerciantes, negócios agroindustriais de pequeno porte e voltados à agricultura
orgânica. Além disso, a ONG procura aplicar e ensinar a pedagogia social. Maiores
informações : widar@netpoint.com.br).

A Resolução 2.879, de 08/08/01, do Banco Central do Brasil, determina


tratamento prioritário ao atendimento de propostas de financiamento a projetos que
contemplem a produção agroecológica ou orgânica, conduzidos por produtores que se
enquadrem no grupo C do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF – www.pronaf.org.br): agricultores familiares com renda anual entre
R$ 1,5 mil e R$ 10 mil. Também aumenta em até 50% o limite do crédito se os
produtores forem certificados conforme as orientações contidas na Instrução
Normativa nº 007/99, do MAPA. A maioria dos bancos aderiram os sistema (BNDES,
Banco do Nordeste, Nossa Caixa, Banco do Brasil.

O Banco Nossa Caixa S.A. (www.nossacaixa.com.br) possui alguns programas de


financiamentos porém não específicos para a produção orgânica. O Banco ABN AMRO
REAL S.A. (www.bancoreal.com.br) idem.

17
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

3. OS PROGRAMAS DE CERTIFICAÇÃO PARA A EXPORTAÇÃO.

3.1 A PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS (PIF).

A Produção Integrada (PI) de Produtos Agropecuários surgiu na década de 90


como uma resposta a demanda da sociedade por produtos de alta qualidade e
produzidos de forma a assegurar uma produção agrícola sustentável. Inicialmente, a
Produção Integrada visava otimizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) nas fruteiras
de clima temperado da Europa, técnica esta que vislumbra a redução do uso de
agrotóxicos baseada em controles culturais, químicos e biológicos (Embrapa Meio
Ambiente, 2002).
Todas as normas desse sistema foram elaboradas na Espanha, na região de Múrcia.
Em 27 de setembro de 2001 foi criada uma Instrução Normativa de nº20
(www.agricultura.gov.br/html/frutas01.htm) aprovando as Diretrizes Gerais para a
Produção Integrada de Frutas (DGPIF) e as Normas Técnicas Gerais para a Produção
Integrada de Frutas (NTPIF), determinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA). Em 15 de outubro de 2002 o Ministro da Agricultura Marcus
Vinicius Pratini de Moraes, com o intuito de impulsionar as exportações brasileiras,
publicou a normatização da PIF, sendo que essas regras deverão estar concluídas no
prazo máximo de um ano. Sabe-se que, a partir de 2003, a Comunidade Econômica
Européia irá permitir o ingresso em seus mercados somente produtos gerados sob
esse regime.
O esquema da certificação PIF pode ser resumido no esquema logo abaixo:

MAPA

Instrução Normativa nº 20

SINMETRO
Avaliação de
Conformidade da
Produção Integrada de
Frutas - SINMETRO
Certificado de
Conformidade

Produtos : Maçã

18
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

A PIF já vem sendo adotada no Brasil desde 1998, quando iniciaram-se


experimentos com maçã nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, após com
manga e uva na região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Em 2001, integraram-se ao
sistema, a cadeia produtiva de pêssego na metade sul do Rio Grande do Sul, Serras
Gaúchas e região de Porto Alegre, mamão no oeste baiano e norte do Espírito Santo;
banana no Vale do Ribeira (SP), entre outros (www.extranet.agricultura.gov.br).
Atualmente pesquisadores (Embrapa, ESALQ/USP, UNESP, etc), juntamente com
o MAPA estão elaborando as normas PIF, direcionadas para cada cultura. A primeira
produção PIF com normas prontas, já reconhecidas pelo MAPA e certificada pelo
SINMETRO no Brasil foi desenvolvida para a maçã no Sul do país, com o apoio da
Embrapa; Uva e Vinho, EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
de Santa Catarina S/A) e da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM).
Ainda para o ano de 2002, está prevista a inclusão das culturas do coco, melão,
caju, limão, goiaba e abacaxi ao sistema
(www.agronline.com.br/agronoticias/noticia.php?id=196).

3.2 A RASTREABILIDADE DA CARNE EXPORTADA.

A rastreabilidade é definida como: “Capacidade de encontrarmos o histórico de


localização e utilização de um produto, por meio de uma identificação registrada”
(SANZ e FONTGUYON, citado por Antôno Carlos Lirani – INTERALL Informática –
aclirani@interall.com.br ). A Rastreabilidade é então uma ferramenta a serviço da
qualidade e da segurança alimentar, incluindo conceitos como: tratos culturais,
sanitários, ambientais, responsabilidade social, etc.

O Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, cerca de 165 milhões de


cabeças, mas as exportações não ultrapassam os 10% da produção.
Em 2001, um Programa de Promoção da Carne Bovina Brasileira no Exterior foi
lançado conjuntamente pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento), pela ABIEC (Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de
Carnes, www.abiec.com.br ), pela APEX (Agência de Promoção de Exportações,
www.apexbrasil.com.br ) e pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura, www.cna-
rural.com.br ). Focando basicamente o mercado europeu, o programa pretende
conferir maior projeção e confiabilidade ao produto brasileiro. Ele visa mostrar aos
mercados internacionais a qualidade sanitária da carne bovina brasileira, que,
produzida em regime de pasto, não conhece os problemas que tanto afligem os
pecuaristas europeus (como o problema da vaca louca), assim como elevar as
exportações do setor em 20%, saltando do patamar de US$ 1 bilhão, em 2001, para
US$ 1,2 bilhão, em 2002. Pecuaristas, industriais e exportadores estão envolvidos
nesse programa. A promoção não se limita às ações convencionais de divulgação
(campanhas publicitárias em televisão e mídia impressa e degustações do produto).

19
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

Para destacar a superioridade do produto nacional, dezenas de formadores de opinião


(jornalistas e veterinários europeus, principalmente) estão sendo convidados a
participar de caravanas e constatar, in loco, o elevado padrão tecnológico de fazendas,
abatedouros e frigoríficos brasileiros.
Finalmente, o programa criou um selo de identidade do produto brasileiro, a marca
"Brazilian Beef". Esse selo constitui um certificado de origem e especificações do
produto, permitindo sua rastreabilidade - o que atende às exigências dos principais
mercados consumidores internacionais.

No inicio de 2002, foi instituído pela Instrução Normativa nº 1 de Janeiro de 2002


do MAPA o SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem
Bovina e Bubalina) para permitir que os animais destinados ao abate estejam aptos
para serem exportados para União Européia na primeira etapa e para outros mercados
e mercado interno. Esse sistema define ações, medidas e procedimentos para
identificar, registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos
nascidos no Brasil ou importados (www.sirb.com.br/sisbov_1.html).

O SISBOV e sua Base Nacional de Dados (BND) são gerenciados pela Secretaria
de Defesa Agropecuária (SDA) do MAPA, sendo que a mesma expedir instruções
complementares necessárias para a sua operacionalização, pois a normativa nº 1/2002
estabelece normas e definições de caráter bastante genérico para o SISBOV.
A SDA e responsável pela normalização, regulamentação, implementação, promoção
e supervisão das etapas de identificação e registro dos animais, e de credenciamento
das entidades certificadoras junto ao SISBOV.
O CIDC (Coordenação Interdepartamental de Credenciamento) foi instituída pela
Portaria SDA n°18 de Abril de 2002 para avaliar as solicitações de credenciamento
das entidades certificadoras, em conformidade com os requisitos e critérios contidos
na Instrução Normativa SDA n° 21 de fevereiro de 2002.
As entidades certificadoras são responsáveis pela identificação e registro das
propriedades e dos animais no Cadastro Nacional do SISBOV, assim como pelo
controle operacional dessas etapas.
Divulgadas no Diário Popular/RS, as primeiras empresas a receberem a habilitação
para a certificação da rastreabilidade bovina e bubalina são a Planejar (RS), Gênesis
(PR), Certificações Brasil (SP) e o Serviço Brasileiro de Certificação (SP). Embasadas
na Instrução Normativa SDA nº21 /2002, as empresas AGRICONTROL S.A,
BIORASTRO CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS LTDA, TRACER
CERTIFICAÇÃO DE ORIGEM ANIMAL LTDA, BRASIL CERTIFICAÇÃO LTDA,
PLANEJAR PROCESSAMENTO DE DADOS LTDA, INSTITUTO GENESIS e o
SERVIÇO BRASILEIRO DE CERTIFICAÇÕES LTDA tem seus credenciamentos junto
a SDA para a certificação do SISBOV :
( http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/sisbov.htm ).

20
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

O SISBOV aplica-se, em todo o território nacional, às propriedades rurais de


criação de bovinos e bubalinos, às indústrias frigoríficas e às entidades
certificadoras, tendo os seguintes prazos limites para o registro da propriedade
rural:
- junho de 2002: para criatórios voltados à produção para o comércio
internacional com os países da União Européia.
- dezembro de 2003: para criatórios que exploram animais cuja produção esteja
voltada para os demais mercados importadores.
- dezembro de 2005: para todos os criatórios produtores de bovinos e bubalinos
localizados nos estados livres de febre aftosa ou em processo de declaração.
- dezembro de 2007: para os criatórios de bovinos e bubalinos dos demais
estados.

O documento de identificação dos animais registrados no SISBOV é emitido pelas


entidades certificadoras com informações fornecidas pela BND. Esse documento deve
constar (Instruções normativas SDA n°47/2002) :
- Números do animal, do SISBOV e na certificadora
- Pais de origem, raça, sexo
- Data e propriedade (com município e estado) de nascimento
- Data e propriedade (com município e estado) de identificação
- Identificação da certificadora e logotipo do MAPA
As outras informações registradas no BND são entre outras :
- Sistema de criação e alimentação;
- Registro das movimentações;
- Comprovação de informação adicional para a certificação;
- Dados sanitários (vacinação, tratamentos e programas sanitários).
No caso de animais importados, deverão ser identificados o País e propriedade de
origem, datas da autorização de importação e de entrada no País, números de Guia e
Licença de Importação e propriedade de destino.

Com a introdução do sistema de rastreabilidade SISBOV, desde a fazenda ate o


consumidor final, , o Brasil, que foi pioneiro na certificação em nível de frigorífico
desde a década de 50, procura consolidar sua posição atual de exportador de carne
segura e de qualidade com um produto garantido e diferenciado para os consumidores
e desta forma conquistar a liderança do mercado mundial.

A OIA Brasil acreditada pela IFOAM, e suas normas e procedimentos de certificação


de rastreabilidade de Origem e Conformidade, também cumpre com as exigências do
SISBOV (www.oiabrasil.com.br).

21
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

3.3 A SOJA CERTIFICADA SEM OGM.

O Brasil é o segundo produtor mundial de soja (20 %) após os EUA (47 %), e o
segundo exportador mundial de soja depois dos EUA para grãos e Argentina para as
tortas e óleo. Cinco dos estados brasileiros representam 83 % da área cultivada e da
produção de soja nacional : Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul e Goiás.
A Europa é a primeira importadora mundial de grãos e torta, juntamente à Holanda
(primeiro importador de grãos) e à França (primeiro importador de tortas).

Na Europa, se observa uma recusa crescente dos OGM para a maioria dos
consumidores. Um nível de rotulagem obrigatório foi fixado para os alimentos
contendo mais de 1 % de OGM, salvo os produtos considerados equivalentes aos
produtos similares (regulamentos 49/2000/CE e 50/2000/CE).
Na França, frente a essa situação, os operadores das cadeias alimentares de
qualidade, em particular o das carnes, proclamaram seus desejos em banir os OGM da
alimentação animal. Para responder às necessidades protéicas das rações animais, a
França importa então o essencial (70 %) para o seu consumo de soja brasileira, onde
os OGM são proibidos.
Os importadores franceses pedem que a soja seja controlada, rastreada e
certificada, e que essa caminhada engloba, sobretudo as tortas. Efetivamente, o
Brasil ainda não introduziu oficialmente as variedades geneticamente modificadas em
seu território e em 1999, o estado do Rio Grande do Sul (RS) foi decretado « região
sem OGM » : proibição de todas culturas OGM em seu território. Mas
entretanto sabe-se que as sementes OGM utilizadas entram no Brasil
contrabandeadas da Argentina.

No ano 2000, o grupo Carrefour implementou a cadeia da soja não OGM com
proveniência do Brasil para a alimentação animal : 850 produtores de soja do estado
de Goiás abriram um contrato onde os controles efetuados ao longo da cadeia são
feitos por um órgão internacional de certificação, a SGS (Sociedade Geral de
Sindicância). O custo geral para essa cadeia é avaliado pelo Carrefour como sendo de
20 euros a tonelada (tomando como preço de base 150 euros a tonelada).

Também, cooperativas francesas procuraram a conexão direita a certos


produtores homologados brasileiros, visando se prevenir contra possíveis especulações
das traders nesse segmento do mercado. Essa parceria visa o acordo e o
favorecimento dos produtores, além também da implementação de um sistema de
qualidade : rastreabilidade da soja até o triturador e certificação.
Desde 2000, um clube de cooperativas francesas se abastece em soja não OGM
sob a forma de torta através de uma cooperativa brasileira do estado do Paraná, a
Coamo. À demanda do clube francês e com o seu apoio técnico, um sistema de

22
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

rastreabilidade e de controle foi implantado na cooperativa brasileira levando-se em


conta o que já existia para reduzir custos da Coamo (Cooperativa Agropecuária
Mouraoense Ltda). A certificação desse sistema foi feita por BVQI a cargo dos
compradores. As transações comerciais de soja aumentaram progressivamente sendo
inicialmente 7000 ton/mês, e em janeiro de 2002, 25.000 ton/mês. A soja rastreada e
certificada não OGM recebe um valor adicional de 3-4 US$/ton.

Contando com o apoio do CRITT-Crisalide e Enitiaa (Ecole Nationale d’Ingénieurs dês


Tecniques dês Industries Agricoles et Alimentaires), um sistema de rastreabilidade
da soja não OGM foi também implementado na Cotrimaio (www.cotri.com.br), uma
cooperativa brasileira do estado do Rio Grande do Sul. Esse sistema, mais sofisticado
do sistema da Coamo, foi certificado pela ECOCERT. Todos os custos de
rastreabilidade e certificação foram assumidos pela cooperativa.

3.4 O EUREPGAP.

O padrão EUREPGAP (EUREP – Euro Retailer Produce Working Group/ GAP – Good
Agricultural Practice\www.skalint.com) foi constituído nos princípios de prevenção e
análise de riscos (APPCC), agricultura sustentável, Manejo Integrado de Pragas (MIP),
tecnologia aplicada no campo (agricultura de precisão), tendo sido criado por
supermercados europeus com objetivos comuns de assegurar alimentos seguros,
ambientalmente corretos e saudáveis aos consumidores. O padrão proporciona acesso
facilitado dos produtos certificados ao mercado externo, além do marketing
intrínseco ao selo (www.skalint.com).
No Brasil, a única empresa acreditada pelo INMETRO para a certificação
EUREPGAP é a Latu Sistemas (empresa Uruguaia). De acordo com o Sr. Emílio M.
Cirillo, a certificação de manga, limão, maçã, caqui e kiwi já estão em processo, porém
ainda há uma enorme deficiência de profissionais capacitados neste mercado. A
emissão do selo pode demorar de 4 meses a 3 anos, sendo que a Latu Sistemas fará
auditorias semestrais após a emissão do selo. Uma taxa anual será cobrada do
certificado para cobrir os gastos, emissão de certificados e auditorias.
Abaixo segue esquema que torna mais fácil o entendimento da certificação
EUREPGAP:

EUREPGAP

Normas EUREPGAP

EN 45011 (ISO 65)

INMETRO
Auditorias anuais da
equipe EUREPGAP
23
Latu Sistemas S A

Em andamento
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

24
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

3.5 O COMÉRCIO JUSTO.

O Comércio Justo (fair trade) baseia-se em uma forma de relacionamento


comercial, iniciada entre instituições de países desenvolvidos e produtores de países
em desenvolvimento, que busca expandir o acesso ao mercado para a produção de
pequenos grupos, com a eliminação de intermediários e a justa remuneração para quem
produz. Muito difundido em países como Estados Unidos e Inglaterra, o comércio
justo tem hoje uma significativa participação na vida econômica de vários países em
desenvolvimento (http://www.akatu.net).

A Associação Mundaréu é uma organização sem fins lucrativos que visa promover o
desenvolvimento humano sustentável; a melhoria das condições de vida de pessoas
excluídas do mercado formal de trabalho por meio da criação de oportunidades de
geração de renda e à prática do comércio justo (fair trade). Os produtos são
produzidos por diversas associações e podem ser vistos e adquiridos pelo site
http://www.mundareu.org.br.

25
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

4. AS DENOMINAÇÕES DE ORIGEM E INDICAÇÕES DE PROCEDÊNCIA.

A promoção de certas regiões brasileiras está sendo feita através da produção e


certificação de produtos típicos com características peculiares.

A produção de vinhos utiliza-se tradicionalmente do nome da região geográfica


onde é produzido (Bordeaux – França, por exemplo) como selo de qualidade para vinhos
de maior prestígio. A lei de Propriedade Industrial nº 9.279 de 14/05/1996,
estabeleceu as indicações Geográficas no Brasil, contemplando duas modalidades: a
Indicação de Procedência e a Denominação de Origem. A competência para o
estabelecimento das condições de registro das Indicações Geográficas é atribuída ao
Instituto Nacional de Procedência Industrial – INPI.
Considera-se Indicação de Procedência o nome geográfico – do país, da cidade, da
região ou da localidade do seu território - que se tenha tornado conhecido como
centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação
de determinado serviço. Já na Denominação de Origem, o nome geográfico designa
produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou
essencialmente ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos.

Em 1995 foi criada a Associação dos Produtores de Vinhos finos Vale Dos Vinhedos
– APROVALE; tal projeto na Serra Gaúcha no Estado do Rio Grande do Sul (RS) foi
estruturado como uma Indicação de Procedência com os objetivos de agregar valor e
gerar riqueza, além de proteger e desenvolver a região e seus produtos.

O Programa “Pro-cachaça” (Programa Qualidade Cachaça de Minas) tem por


objetivo estabelecer normas de certificação de identidade, qualidade e origem da
cachaça de minas, além de executar o controle e a fiscalização da produção relativa as
empresas que aderirem ao Programa. O Programa “Certicafé” tem como intuito
promover o aumento das lavouras de café no Estado, garantindo a qualidade e
competitividade do café mineiro, sendo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) o
responsável pela elaboração dos processos e procedimentos para a Certificação de
Origem e Qualidade do café (utilizando-se da Portaria nº 165/95 de 27/04/1995).
Ambos são dirigidos pelo Governo de Minas Gerais (MG), região sudeste do Brasil.
Maiores detalhes estão no site : www.agridata.mg.gov.br.

26
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

5. AS CERTIFICAÇÕES AGRÍCOLAS SOCIOAMBIENTAIS.

5.1 O IMAFLORA.

Desenvolvido pelo IMAFLORA, o Programa de Certificação Agrícola


Sócioambiental (IMAFLORA/CAN) visa reconhecer e estimular o bom manejo dos
sistemas de produção agrícola, através da diferenciação voluntária de unidades
produtivas ambientalmente saudáveis, socialmente justas e economicamente viáveis;
empregando técnicas e sistemas apropriados para a realidade ecológica e sócio-
econômica da região, acompanhando a evolução da ciência e conhecimento disponíveis.
A conformidade aos padrões dá acesso a utilização do certificado selo ECO-OK.
Esse programa ainda está em fase inicial, avaliando apenas as operações agrícolas de
cana-de-açúcar, café, sistemas agroflorestais e agricultura em geral
(www.imaflora.org).
Até o momento a empresa não certificou CAN (selo ECO-OK) no Brasil, porém
vários produtores estão em processo de certificação para os produtos: banana, cacau,
fitoterápicos e café. A Certificação Agrícola Sócioambiental para a cana-de-açúcar
não deu certo devido a falta de demanda do mercado. Como novidade, o IMAFLORA,
em parceria com a Rede Mata Atlântica desenvolveu certificado agrícola (selo
Sócioambiental ECO-OK) em região de Mata Atlântica com o intuito de promover sua
preservação (www.clubedofazendeiro.com.br).

5.2 A CERTIFICAÇÃO PARTICIPATIVA.

Devido as grandes crises na agricultura brasileira, a dificuldade na obtenção de


crédito, os altos custos referentes à certificação; muitas certificadoras incentivam a
“Certificação Participativa”. A Rede Ecovida de Agroecologia (mogli@onda.com.br ou
guapuruvu@ig.com.br) desenvolveu tal modelo que se baseia “na responsabilidade e nos
valores éticos de cada produtor que compõe o núcleo regional”. Os grupos que se
formam são orientados por entidades de acessória técnica e comissões de ética das
associações de produtores e/ou cooperativas. Dessa forma, é possível o acesso de
pequenos agricultores à certificação. De acordo com dados fornecidos pela SKAL
Internacional, esse modelo de certificação chega a 50% das certificações feitas pela
empresa. Já o IMAFLORA dá como sugestões : a certificação participativa, o pedido
junto ao IMAFLORA de ajuda ao pequeno agricultor (Fundo Social2) ou o casamento do
produto ao mercado (produzir por encomenda).
Ainda a certificadora BRTÜV promove a certificação integrada dos sistemas ISO
e HACCP que quando feitas juntas reduzem os custos ao cliente
(www.brtuv.com.br/Integradas.htm).

27
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

O Banco do Brasil, com o programa BB Cooperfat Integrado valoriza e fortalece o


pequeno empreendedor. O intuito é promover projetos integrados em cooperativas ou
empresas agroindustriais, financiando até 90% do projeto (www.agronegocios-
e.com.br).

5.3 O MANEJO SUSTENTÁVEL DO IBAMA.

Está sendo implantado no IBAMA o Programa Flora que tem como objetivo
promover a conservação de espécies nativas e garantir o seu uso racional
(http://www.ibama.gov.br/). Tal medida refere-se às seguintes espécies: Xaxim ou
samambaiaçu-imperial, Plantas (flores) de potencial econômico do cerrado, Plantas
Ornamentais e Plantas Medicinais.

O IBAMA apóia-se na Portaria nº 122-P de 19/03/1985 referente a coleta,


transporte, comercialização e industrialização de plantas ornamentais, medicinais,
aromáticas e tóxicas, oriundas de floresta nativa, dependem de autorização do
IBAMA. As espécies mais comumente comercializadas são aquelas pertencentes
principalmente às famílias Orquidaceae, Bromeliaceae, Cactaceae, Euforbiaceae,
Dicksoniaceae e Araceae. A Portaria nº 37-N, de 3 de abril de 1992, relaciona a lista
oficial de espécies da flora brasileira ameaçada de extinção.

2 O IMAFLORA Possue um Fundo Social de Certificação. Tal fundo é composto de 5 à 7% do


pagamento feito pelos grandes produtores, sendo que esse valor é revertido aos pequenos.

28
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

6. OS SELOS PRIVADOS DE PRODUTORES AGROPECUÁRIOS BRASILEIROS.

6.1 PROGRAMAS DE QUALIDADE DA CARNE BOVINA.

A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) desenvolveu o Programa


Qualidade do Nelore Natural (PQNN) que visa produzir gado Nelore somente com
pastejo e suplementação mineral normal, sem uso de hormônios e demais produtos,
sendo que o controle é feito tanto no campo como no frigorífico de abate através dos
parâmetros : idade, peso e acabamento da gordura. Alguns frigoríficos como o
FRIGOVIRA já incentiva o Nelore Natural pagando R$0,50 a mais por arroba de carne
abatida (http://www.brastro.com/nelore/Novidades/novidades.asp).
Esse programa conta atualmente com 278 associados (produtores de gado
comercial).
A empresa ainda não exporta seus produtos. O selo utilizado pela empresa pode ser
visto abaixo:

http://www.brastro.com/nelore/pqnn.asp

A rede Carrefour desenvolveu um selo “Garantia de Origem Carrefour” que é de


extrema importância nas relações clientes – Carrefour – produtores. Para que um
fornecedor possa inscrever seus produtos nessa norma de qualidade, ele deve
responder à uma série de exigências e desenvolver sua produção com o objetivo de
satisfazer as necessidades das parcerias atuais e futuras. Esse selo refere-se às
características de sabor, salubridade, aspecto, produção ecológica e socialmente
correta (www.carrefour.com.br).

O Grupo Pão de Açúcar utiliza-se dos serviços da Fundação de desenvolvimento


pecuário (Fundepec) que é pioneira no Brasil na certificação de carne bovina, tendo
obtido certificado ISO 9002 e acreditação pelo INMETRO, na certificação e
qualidade de sua carne (www.grupopaodeacucar.com.br).

O “Programa Embrapa Carne de Qualidade” (Embrapa em parceria com o MAPA –


www.cnpgc@embrapa.br), também desenvolvido objetivando a segurança alimentar e
rastreabilidade da carne produzida, é dividido em 3 módulos:

29
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

Módulo 1 – Estabelecimento de um fluxo de produção de carne de boa qualidade;


fase experimental com animais criados e terminados na própria Embrapa. Terá
padrões relacionados à maciez.
Módulo 2 – Implantação do Sistema APPCC em todos os processos; alianças
mercadológicas. Manejo de pastagens, degradação do solo, preocupação quanto a
contaminações e impactos ambientais, controle sanitário de doenças e parasitas.
Módulo 3 – Modos e alternativas de uso do produto na alimentação humana
(porções, pratos semiprontos, etc).

6.2 PROGRAMAS DE QUALIDADE DO CAFÉ.

Diante dos problemas referentes a qualidade dos padrões de comercialização do


café, problemas de adulteração do produto gerando a desconfiança dos consumidores
mostrou a necessidade da criação de um mecanismo que assegurasse aos consumidores
que o produto comprado era 100% café, surge a Associação Brasileira da Indústria do
Café – ABIC.
Para tal, a ABIC desenvolveu um Código de Ética da Indústria de Café sendo ele
um conjunto de regras e condutas a que todas e cada uma das indústrias de café
devem respeitar visando a moralidade do setor no inter-relacionamento empresarial e
em face da sociedade, independentemente de tempo, lugar ou grupo
(http://www.abic.com.br). O selo apresenta-se abaixo:

A CACCER – Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado coordena 9


associações abrangendo 55 municípios e é uma entidade certificadora do genuíno Café
do Cerrado Mineiro. Reconhecido internacionalmente por sua alta qualidade, o Café do
Cerrado Mineiro é a perfeita tradução de Respeito Sócio-Ambiental, Tecnologia e
Confiabilidade. Seguem abaixo alguns dos selos utilizados pela empresa tanto para
exportação como mercado interno: (fonte: http://www.cafedocerrado.org/ )

30
Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

CONCLUSÕES

O Brasil encontra-se em intenso desenvolvimento de estratégias que protejam


seus produtos. Muitos órgãos estão concentrando esforços para a promoção,
certificação e qualidade dos produtos brasileiros, tais como o MAPA, MMA, BNDES,
Banco do Brasil, outros bancos, ONGs, etc.

A agricultura orgânica sofre da falta de legislação, de definição de parâmetros,


que dificulta a exportação dos produtos brasileiros por não ter reconhecimento
internacional. Outro fato refere-se a falta de profissionais capacitados tanto para a
produção que para a certificação. O produtor é atraído no setor orgânico pelo
diferencial de preços entre esses produtos e os convencionais e pela perspectiva de
exportar. Porém a falta de organização, conhecimento técnico e empresarial, falta de
recursos, dificuldade da manutenção durante o período da conversão muitas vezes
acabam com os pequenos produtores inexperientes.

As perceptivas de exportação de produtos agropecuários na Europa fazem que os


produtores e os órgãos brasileiros implementem novos planos de certificação a nível
nacional para responder as normas oficiais da Europa. É o caso do rastreamento da
carne bovina e da produção integrada de frutas por exemplo.

Através da demanda do setor privado Europeu também estão se implementando no


Brasil regras de certificação de produtos alimentares como é o caso do Eurepgap, o do
comércio justo (Max Avelar).

A demanda do mercado interno brasileiro cada vez mais forte para produtos de
qualidade e diferenciados deixa um espaço para o desenvolvimento das Denominações
de Origem. Mesmo não existindo ainda regras federais, vários produtos locais
aparecem com esse selo : vinhos, cachaça, café...

A preocupação com o manejo sustentável se iniciou com os produtos madeireiros


(Imaflora) mas agora também tem aplicações na certificação sócioambiental dos
produtos alimentícios provenientes do extrativismo o do manejo sustentável agrícola.

Enfim, no Brasil existem vários selos privados pertencendo a associações de


produtores, como é o caso do café e mais recentemente da pecuária bovina.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

BIBLIOGRAFIA

ABNT –1997- Guia 65 – Requisitos gerais para organismos que operam


sistemas de certificação de produtos; 9p.

BNDES SETORIAL - ORMOND, J. G. P.; DE PAULA, S. R. L.; FILHO, P. F.; DA ROCHA,


L. T. M. –2002- Agricultura Orgânica: Quando o Passado é Futuro.– Rio de
Janeiro – RJ.

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IMAFLORA, EMBRAPA MEIO AMBIENTE, FASE –2000- Certificação


Socioambiental do setor sucroalcooleiro. São Paulo – SP - 195p.

NICOLAS, B.; CARFANTAN, J. Y.; PALLET, D. –2001- La Filière Biologique


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REVISTA FRUTAS E LEGUMES –2002- Orgânicos: mercado potencial precisa


corrigir deficiências na produção e comercialização. Ano II nº 13 –
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REVISTA ARCO –2001- PRODUTOS ORGÂNICOS: UM MERCADO QUE CRESCE AO


RITMO DE 30% AO ANO NO BRASIL, 26P. NOVEMBRO, ANO I, Nº1.

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

ABREVIAÇÕES & CONTATOS

AAO: ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA - www.aao.org.br


ABIO: ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES BIOLÓGICOS – www.abio.org.br
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - www.abnt.org.br
ANC: ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA NATURAL DE CAMPINAS -
anc@correionet.com.br
APAN: ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE AGRICULTURA NATURAL -
www.apan.org.br
APPCC: ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE
ARCOS: AGÊNCIAS REGIONAIS DE COMERCIALIZAÇÃO –
www.agenciadecomercializacao.com.br
BCS ÖKO-GARANTIE: CERTIFICADOR ALEMÃO PRESENTE NO BRASIL -
gbacchi@terra.com.br
BNDES: BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL –
www.bndes.gov.br
BVQI: BUREAU VERITAS QUALITY INTERNATIONAL -
sergio-blasco@br.bureauveritas.com
CBC: COMITÊ BRASILEIRO DE CERTIFICAÇÃO
CENDOTEC: CENTRO FRANCO-BRASILEIRO DE DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA E
CIENTÍFICA – www.cendotec.org.br
CIRAD: CENTRE DE COOPERATION INTERNATIONALE EN RECHERCHE
AGRONOMIQUE POUR LE DEVELOPPEMENT – www.cirad.fr
CNPO: COMITÊ NACIONAL DE PRODUTOS ORGÂNICOS
COFRAC: COMITE FRANÇAIS D’ACCREDITATION – www.cofrac.fr
CONMETRO: CONSELHO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E
QUALIDADE INDUSTRIAL.
COOLMÉIA: COOPERATIVA DE CONSUMIDORES NO RIO GRANDE DO SUL -
www.coolmeia.com.br
DAR: DEUTSCHE AKKREDITIERUNGSRAT – www.dap.de
DAP: DEUTSCHES AKKREDITIERUNGSSYSTEM PRÜFWESEN GMBH
EMATER: EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E DE EXTENÇÃO RURAL -
www.emater.tche.br
EMBRAPA: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA EM AGRICULTURA -
www.embrapa.br
ESALQ: ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” – PIRACICABA –
www.esalq.usp.br
EUREPGAP: EURO RETAILER PRODUCE WORKING GROUP / GOOD AGRICULTURAL
PRACTICE - www.eurep.org
ENITIAA: ECOLE NATIONALE D’INGENIEURS DES TECNIQUES DES INDUSTRIES
AGRICOLES ET ALIMENTAIRES
FSC: FOREST STEWARDSHIP COUNCIL – www.fscox.org

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Panorama das Certificações de Produtos Agropecuários no Brasil

IAF: INTERNATIONAL ACCREDITATION FORUM – www.iaf.nu


IBD: INSTITUTO BIODINÂMICO - www.idb.com.br
IFOAM: INTERNATIONAL FEDERATION OF ORGANIC AGRICULTURE MOVEMENTS
IBAMA: INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS - http://www.ibama.gov.br/
IMA: INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA
IMAFLORA: INSTITUTO DE MANEJO E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL E AGRÍCOLA
www.imaflora.org
INCRA: INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA –
www.incra.gov.br
INMETRO: INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E
QUALIDADE INDUSTRIAL - www.inmetro.gov.br.
INPI: INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL – www.inpi.gov.br
INPM: INSTITUTO NACIONAL DE PESOS E MEDIDAS
ISO: INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – www.iso.ch
LATU SISTEMAS: EMPRESA URUGUAIA DE CERTIFICAÇÃO - www.latu.org.uy
MAPA: MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO -
www.agricultura.gov.br
MERCOSUL: MERCADO COMUM DO SUL.
MMA: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – www.mma.gov.br
OCC: ORGANISMOS DE CERTIFICAÇÃO CREDENCIADOS
OGM: ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS
OIA: ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL AGROPECUARIA -
www.certificacionoia.com
ONG: ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS
PI: PRODUÇÃO INTEGRADA – PIF – PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS
RVA: RAAD VOOR ACCREDITATLE – ÓRGÃO HOLANDÊS DE ACREDITAÇÃO
SISBOV:SISTEMA BRASILEIRO DE IDENTIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE ORIGEM
BOVINA E BUBALINA www.faespsenar.com.br/faesp/comunicação/sisbov.htm
SKAL: EMPRESA CERTIFICADORA HOLANDESA - skalbrasil@daventria.net
UNESP: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SÃO PAULO
UNICAMP: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – www.unicamp.br
USP: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – www.usp.br

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