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Literatura Brasileira e Portuguesa II

Aula 6
Modernismo e a Geração de 1930
Objetivo:

Pretende-se que, ao final da aula, o aluno reconheça


as características da segunda fase do Modernismo no
Brasil, bem como o contexto no qual ela surgiu e seus
principais representantes.
Palavras-Chave: Século XX; vanguardas europeias;
transição; Modernismo.
Livros da disciplina
http://unopar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788581439662
Segunda fase modernista ou fase da consolidação
(1930-1945)
O melhor momento da poesia brasileira aconteceu na
segunda fase do modernismo. Ela se caracteriza pela
abrangência temática em virtude da racionalidade e
questionamentos que norteavam o espírito dessa geração.
Nessa fase, o grande foco da prosa de ficção foram os
romances regionalistas e urbanos. Preocupados com os
problemas sociais, a prosa dessa fase se aproximou da
linguagem coloquial e regional,
mostrando a realidade de diversos
locais do país, ora no campo, ora na
cidade.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Mineiro de Itabira, Drummond é um dos poetas mais
importantes do século XX, seja por sua constante busca por
novas expressões poéticas, sejam pelas reflexões que
empreendem em seus textos literários.

(Disponível em: https://bit.ly/2B9rrDo Acesso em: 13 ago. 2018.)


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Foi poeta, contista e cronista. Um dos Sua vocação para a poesia surgiu da
escritores mais populares do país. tentativa de resolver, através de
Com certeza, você já ouviu os versos: versos, problemas existenciais
“E agora, José?” ou “Tinha uma internos: angústia, incompreensão e
pedra no meio do caminho.” inadaptação ao mundo.
A poética de Carlos Drummond
A Rosa do Povo (1945), contexto de
Ditadura no Brasil e 2ª Guerra
Ironia, humor, referências familiares e
Mundial. Trata dos sentimentos
biográficas, ressignificação do
humanos e suas atitudes diante do
local de origem, temática da
horror. Sua posição política fica
alienação, aspecto social e político.
evidente.
“A flor e a náusea”
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco
pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os
negócios,
garanto que uma flor nasceu.
“A flor e a náusea”
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
[...]

(ANDRADE, Carlos Drummond de. “A flor e a náusea”. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio,
1978, p. 14, 15 e 16)
Vídeo

Drummond

https://www.youtube.com/watch?v=rd1_dLXT1jo – acesso
em 17 de ago. 2018
Cecília Meireles (1901-1964)
Foi jornalista, professora, pintora e De vertente intimista, possui forte
uma das mais importantes poetas influência da psicanálise com foco
do Brasil. Escreveu também na temática social. Bebeu na fonte
poemas infantis. dos simbolistas, apresentando
muitos poemas de cunho musical.
A poética de Cecília Meireles
Sua poesia costuma tematizar os O culto da beleza imaterial, a
sentimentos de ausência e do nada, preferência pela abstração, o desapego
e grande parte de seus poemas do ambiente real, a dissimulação
pode ser considerada isenta tanto do lirismo, a predominância de motivos
de cor local quanto de data. musicais e pictóricos.
“Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias, (Disponível em:


https://bit.ly/2KPtewW
não sinto gozo nem tormento. Acesso em: 13 ago. 2018.)
Atravesso noites e dias
no vento.
“Motivo”
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo. (Disponível em:
https://bit.ly/2NJIPA7
Sei que canto. E a canção é tudo. Acesso em: 13 ago. 2018.)

Tem sangue eterno a asa ritmada.


E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
(MEIRELES, Cecília. “Motivo”. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4694.
pdf Acesso em: 13 ago. 2018.)
Romanceiro da inconfidência
Publicado em 1953, conta a História de Minas do início
da colonização no século XVII até a Inconfidência Mineira,
revolta ocorrida em fins do século XVIII, em Vila Rica, atual
Ouro Preto.
A interpretação lírica da história serve de ponto de
partida para uma reflexão filosófica e metafísica sobre a
condição humana.
Vinicius de Moraes
(1913-1980)

(Disponível em: https://bit.ly/2nE4BtP


Acesso em: 13 ago.2018)

Sua obra apresenta duas fases principais:


década de 30: poesia intimista, religiosa, de reflexão.
década de 50: poesia sensual, emotiva, embora sem
abandonar o princípio da reflexão.
“Senhor, eu não sou digno”
Para que cantarei nas montanhas sem eco
As minhas louvações?
A tristeza de não poder atingir o infinito
Embargará de lágrimas a minha voz.
Para que entoarei o salmo harmonioso
Se tenho na alma um de-profundis?
Minha voz jamais será clara como a voz das crianças
Minha voz tem as inflexões dos brados de martírio
Minha voz enrouqueceu no desespero...
[...]
(MORAES, Vinícius. “Senhor, eu não sou digno”. Disponível em:
https://bit.ly/2MMLCZm Acesso em: 13 ago. 2018)
Vídeo

Vinícius declama o poema “Soneto da fidelidade”

https://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc – acesso em
17 de ago. 2018
Jorge de Lima (1893-1953)

Foi artista plástico,


professor, médico e poeta.
Conhecido como “príncipe
dos poetas alagoanos”

(Disponível em:
https://bit.ly/2w0lkva
Acesso em: 13 ago. 2018)

Trabalhou com uma


diversidade de temáticas,
como religião e
regionalismo.
“O acendedor de lampiões”
Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

Um, dois, três lampiões, acende e continua


Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se
acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
“O acendedor de lampiões”
Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua


Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
(LIMA, Jorge de. “O acendedor de lampiões”. Disponível em:
https://bit.ly/2vHAG8C Acesso em: 13 ago. 2018)
Atividade 1

Tendo por base a poesia da segunda geração


modernista observada até aqui, responda: quais elementos
a aproximam da fase heroica e quais elementos a
distanciam da primeira fase do modernismo?
O romance de 1930
O “Romance de 30” reúne diversas obras de caráter
social da segunda fase do modernismo no Brasil (1930-
1945).
Esses romances são chamados de regionalistas, porque
abordam aspectos de algumas regiões do país, como a seca
do Nordeste.
Uma literatura ficcional crítica e revolucionária, que
apresenta uma nova estética, pautada nos temas humanos,
psicológicos e sociais do país.
Linguagem coloquial, popular e
regionalista.
José Lins do Rego (1901-1957)
Notabilizou-se por adotar uma Por vezes, escreveu como quem
linguagem coloquial, porém carregada simplesmente copia a vida. Menino de
de emoção e afetividade. O tema engenho (1932), tem muitas passagens
central de sua obra é ascensão, apogeu que retratam a si próprio e as pessoas
e decadência dos engenhos de cana- que viviam no engenho de seu avô.
de-açúcar.
A obra de José Lins do Rego
.
Fogo morto (1943) é a sua grande Sua obra é dividida em: ciclo da cana-
obra. Dividida em três partes, de-açúcar; ciclo do cangaço, misticismo
e seca; obras consideradas
. apresenta três protagonistas, e o independentes; memórias
engenho retratado é o Santa Fé,
. infantil.
e Literatura
improdutivo, ou seja, de “fogo morto”.
Rachel de Queiroz (1910-2003)
Precoce, iniciou-se no jornalismo aos Foi com a publicação do romance O
16 anos, sob o pseudônimo de Rita quinze (1930) que a
Queluz e aos 17 anos já publicava seu escritora despertou a atenção da crítica
primeiro romance, História de um literária. Em 1977, tornou-se a primeira
nome (1927). mulher a fazer parte da ABL.
A obra de Rachel de Queiroz
Preocupou-se em retratar de maneira
realista e com muita espontaneidade Sua linguagem é fluente, tornando a
. nos diálogos os problemas sociais, narrativa dinâmica. .Escreveu romances,
como a seca. Escreveu textos de caráter teatro, crônicas e Literatura infantil.
introspectivo e político.
. .

(Disponível em:
https://bit.ly/2MhowOc
Acesso em: 13 ago. 2018)
Graciliano Ramos (1892-1953)
É considerado o melhor romancista Em 1936, em Maceió, foi preso,
moderno brasileiro. Seguindo a linha acusado de atividades subversivas e 10
introspectiva, uniu o regional ao anos após sua soltura, escreveu o livro
universal, destacando-se entre os Memórias do cárcere, que mistura
autores nordestinos da época. memória e invenção.
A obra de Graciliano Ramos
. Vidas secas (1938), retrata a vida de uma
Ao contrário dos seus contemporâneos, . Fabiano, Sinhá
família de retirantes:
adotou uma linguagem direta, objetiva Vitória, “o menino mais velho”, “o menino
e desprovida
deputado de adjetivação.
pelo Partido Comunista mais novo” e a cachorra Baleia. Anseios,
frustrações, sonhos e sofrimento vêm à
. tona enquanto a família foge da seca.

(Disponível em:
https://bit.ly/2MbOORM
Acesso em: 13 ago.
2018.)
São Bernardo (1934)

Vai além de uma simples narrativa de possível traição.


Trata-se de uma narrativa em que se tem o fim de um
tempo (o coronelismo) e o início de um novo modo de lidar
com os negócios.
Graciliano faz uma análise do capitalismo em confronto
com uma visão mais socialista.
Vidas Secas (1938)
[...] Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta,
esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo,
picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao
binga, pôs-se a fumar regalado.
— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza
iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não
era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas
dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e
os cabelos ruivos; mas como vivia em terra
alheia, cuidava de animais alheios,
descobria-se, encolhia-se na presença dos
brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém
tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a,
murmurando:
— Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho,
capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação
medonha — e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu
cigarro de palha
— Um bicho, Fabiano.
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto,
passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de
mucunã. Viera a trovoada. E, com ela,
o fazendeiro, que o expulsara. [...]
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali.
Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas
criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os
mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso,
era como as catingueiras e as baraúnas. [...] Deu estalos com
os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as
mãos grossas e cabeludas. Fabiano recebeu a carícia,
enterneceu-se:
— Você é um bicho, Baleia.

(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo: Ática, 1987. p. 53-5 )


Jorge Amado (1912-2001)
Escritor profissional, escreveu mais de Preocupou-se em retratar toda uma
30 romances, traduzidos para 48 sociedade, analisando seus tipos
idiomas e publicados em 60 países, marginalizados. Foi criticado por usar
chegando a vender cerca de 20 milhões uma linguagem muito próxima ao falar
de exemplares. do povo.
A obra de Jorge Amado
Obra dividida em: Romances proletários Diversificou os temas, explorando o
deputado
(retratam pelo
a vidaPartido Comunista
urbana em Salvador), cenário do estado da Bahia: sensualidade,
. política dos coronéis, luta pela posse de
Ciclo do cacau (exploração do trabalhador
terras cacaueiras, menores abandonados,
nas fazendas de cacau) e Depoimentos seca, cangaço, os pais de santo, fanatismo
líricos e crônicas de costumes. religioso, consciência política.
.

.
(Disponível em:
https://bit.ly/2nzSfmx
Acesso em 13 ago.
2018.)
Vídeo

Jorge Amado fala do povo brasileiro

https://www.youtube.com/watch?v=7nbMDJImr0o – acesso
em 17 de ago. 2018
Érico Veríssimo (1905-1975)
Versátil, explorou vários tipos de Sua grande obra é a trilogia O tempo e
romances, como o social de fundo o vento (1949-1961), na qual, reconta a
psicológico, o realista-fantástico e o história do seu estado, RS, desde a
social de fundo político. E, neles origem, no séc. XVIII, até a década de
valorizou o caráter da mulher, 1940, por meio da história das famílias
mostrando toda a sua força e sua fibra. Terra Cambará e Amaral.
A obra de Érico Veríssimo
Algumas de suas . personagens, .
No entanto, seus romances tiveram
como Clarissa e Vasco, reaparecem em grande aceitação do público leitor,
diferentes momentos e obras, levando levando-o a uma. popularidade
a crítica a acusá-lo de ser redundante e semelhante à de Jorge Amado.
. superficial.

(Disponível em:
https://bit.ly/2nCcoIG Acesso
em: 13 ago. 2018)
Atividade 2

Tendo por base a prosa da segunda geração modernista


observada até aqui, responda: quais elementos a
aproximam da fase heroica e quais elementos a distanciam
da primeira fase do modernismo?

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