Considerado um dos mais importantes sociólogos brasileiros
Nasceu em São Paulo em uma família pobre Trabalhou como auxiliar de barbearia, copeiro, garçom, etc. Ingressou na USP em 1941 e doutorou-se em 1951 Colaborou em diversas pesquisas com o Sociólogo francês Roger Bastide Professor na Universidade de São Paulo Aposentado compulsoriamente em 1964 com a chegada da ditadura Foi para o Canadá e para os Estados Unidos, onde lecionou em como universidades como Yale, Columbia e Toronto Ao voltar para o Brasil participou ativamente de movimentos como Diretas Já Eleito Deputado Federal em 1986 pelo Partido dos Trabalhadores Ajudou na elaboração da constituição de 1988 Reeleito como Deputado Federal em 1990 Faleceu em 1995 após realizar um transplante de fígado
RESUMO
A obra “Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina”,
publicada em 1973, está dividida em três partes: “Padrões de Dominação Externa na América Latina”; “Classes Sociais na América Latina” e por fim “Sociologia, modernização autônoma e Revolução Social”, sendo utilizado para a elaboração deste trabalho apenas a segunda parte. Nessa secção Florestan irá falar sobre os fatores que levaram países, possuidores de um mesmo sistema econômico (capitalismo), a alcançar resultados tão distintos. Para tal, o autor desenvolve seu pensamento em três temas principais: existem classes sociais na América Latina? ; capitalismo dependente e classes sociais; classe, poder e revolução social. Para responder a pergunta do primeiro tema Fernandes diz que “As classes sociais não ‘são diferentes’ na América Latina. O que é diferente é o modo pelo qual o capitalismo se objetiva e se irradia historicamente como força social.” e, portanto, a estrutura das classes sociais não devem ser apreendidas a partir dos moldes “clássicos” europeu. Segundo o sociólogo os países latino-americanos não possuem estruturas de crescimento próprio que possibilitem as transformações necessárias para que alcancem uma ordem societária do capitalismo tipicamente "clássico". Isso não quer dizer, porém, que os países da América Latina não desenvolveram um tipo de estratificação de classe inerente do capitalismo. Assim, é necessário que os estudos a cerca das classes sociais nesses países sejam realizados tendo em mente seus dinamismos e suas realidades particularidades. Em outras palavras, é importante estar ciente de que países colonizadores são diferentes dos países que foram colonizados e explorados, "(...) enquanto se manteve, o antigo sistema colonial impediu que o mercado e o sistema de produção assimilassem as formas e os dinamismos da economia e da sociedade de mercado, importantes no mundo metropolitano. As transformações que ele sofreu, sob o império do pacto colonial, não visam a uma revolução dentro da ordem que transferisse o controle do "capitalismo político monopolizador" (...) das metrópoles para as colônias: elas se voltavam para o aperfeiçoamento da exploração colonizadora e da própria ordem colonial, que precisavam ser reajustadas às modificações do capitalismo da Europa e às realidades cambiantes do mundo colonial" [p.47]. O autor também diz que as classes sociais sul- americanas não conseguem preencher suas principais funções destrutivas e construtivas dentro da sociedade, o que acaba por aprofundar a concentração de poder e riqueza pela classe dominante enquanto aumenta as desigualdades sociais vividas pela classe trabalhadora. Em seguida Florestan aborda o segundo tópico, onde irá discorrer sobre o capitalismo dependente e a sociedade de classes. Para o sociólogo capitalismo dependente é uma especificidade do capitalismo. Em sua obra, capitalismo dependente se apresenta como um sistema econômico que não se integra da mesma forma que sob o capitalismo avançado, visto que coordena e equilibra estruturas econômicas em diferentes estágios de evolução econômica, conferindo em diferentes níveis, aspectos arcaicos e modernos em distintos setores. O autor também diferencia o capitalismo “clássico” ou “normal” do capitalismo presente na América Latina. O primeiro seria “o modelo que envolve condições e efeitos que não se concretizaram historicamente da mesma maneira ou que se manifestaram ao nível estrutural de outra forma e com outra intensidade, como: crescimento econômico auto-sustentado; modernização tecnológica autônoma e acelerada; expansão para fora, com a apropriação da riqueza de outros povos e a incorporação deles aos dinamismos econômicos, culturais e políticos das nações capitalistas em expansão neocolonial e imperialista; impulsões diferenciadoras do processo de acumulação de capital e seus sucessivos impactos na reorganização do sistema de produção; a articulação econômica, sociocultural e política das revoluções agrícola, urbana e industrial, e sua seriação em seqüência; racionalização do direito, da administração e das funções econômicas do Estado; formação e consolidação de uma ordem civil burguesa, suficientemente homogênea e fluida para instituir a. "hegemonia burguesa", mas bastante, aberta para canalizar a competição e o conflito, em escala setorial e nas relações de classe, de acordo com padrões de conciliação que fortaleciam o monopólio social do poder e do Estado pelas classes dominantes; desintegração da cultura de “folk”, que era uma "cultura de pobreza", e proletarização das camadas destituídas, transformadas em classe operária e ativamente empenhadas, como tal, no uso da competição e do conflito nos planos econômico, sociocultural e político; emergência da conciliação como mecanismo político de acomodação dos interesses de classe, de diferenças regionais e de atividades partidárias conflitantes; dualidade da política econômica, simultaneamente "nacional" e "mundial", isto é, voltada para o desenvolvimento econômico interno e a integração nacional da economia através da conquista de hegemonia econômica, cultural e política sobre outros povos, submetidos a uma dominação neocolonial ou imperialista” (pp. 44-45). Enquanto o segundo traz em sim as marcas da apropriação e expropriação sofrida durante o período colonial, uma economia que não é autossustentada e um sistema dificilmente autônomo. Mas ambos apresentam o componente da acumulação de capital para expansão das economias centrais e dos setores sociais dominantes. A economia capitalista dependente está sujeita a uma depleção de suas riquezas, sejam elas existentes ou potencialmente acumuláveis, o que não permite o monopólio do excedente econômico por seus próprios agentes privilegiados. Isso faz com que a classe de trabalhadores e destituídos da população fiquem sempre submetidos aos mecanismos de sobre-apropriação e sobre-expropriação capitalistas.