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Direito da Responsabilidade

Conceito de Responsabilidade Civil – consiste na necessidade imposta a quem transgride as suas obrigações,
adotando um comportamento diverso do que lhe era prescrito, e por tal forma causa prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica, de colocar à sua custa o ofendido no estado em que ele
se encontraria se não fosse a lesão sofrida.

1. Espécies de Responsabilidade Civil


Existem três espécies básicas:
 Pré-contratual – deriva da violação dos princípios da boa fé durante o processo de negociação (art. 227º).
 Contratual – ocorre sempre que preexista uma relação jurídica obrigacional e aquele que nesta ocupa a
posição do devedor não cumpra pontualmente, desta forma é preciso fazer uma separação básica entre o
não cumprimento não imputável ao devedor (do art. 790º ao 797º) e o não cumprimento imputável ao
devedor (do art. 798º e o 808º).
 Extracontratual – surge devido à violação de direitos alheiros de carácter absoluto como os direitos de
personalidade, direitos reais, de autor e etc (art. 483º).
 Subjetiva – depende de um pressuposto de culpa e para haver responsabilidade subjetiva têm de
estar presentes todos os pressupostos porque se um deles não estiver presente, não há
responsabilidade subjetiva mas sim objetiva (art. 483º, nº1).
 Objetiva – não depende do pressuposto de culpa apenas consiste na obrigação de certa pessoa
reparar os danos a outra mesmo que não haja culpa, só importa que a conduta tenha causado dano
(art. 483º, nº2).
 Responsabilidade pelo risco – a razão da responsabilidade resulta do facto de alguém
utilizar instrumentos perigosos ou desenvolver atividades perigosas, mas sempre no
pressuposto de haver previsão legal, isto é, a lei associa essa atividade à obrigação de
reparar os danos causados pela prática da mesma (exemplo: arts. 503º e 493º, nº2).
 Responsabilidade por factos lícitos – refere que se alguém causa um dano em estado de
necessidade então o dano está justificado e a conduta é lícita, mas responde por danos na
mesma. Ou seja, uma pessoa mesmo que não tenha utilizado instrumentos perigosos ou
praticado atividades perigosas responde sempre pelos danos que causou (exemplo: arts.
339º, nº2 e 500º)

2. Efeito da Responsabilidade Civil


O efeito da responsabilidade civil consiste na obrigação de indemnizar. O sentido dessa obrigação foi
definido pelo art. 562º. A responsabilidade também pode ser direta (a autoria da conduta lesiva e a adstrição
da obrigação de indemnizar coincidem com a mesma pessoa) ou indireta (o responsável da obrigação de
indemnizar não é o mesmo que praticou a conduta lesiva) – exemplo: arts. 491º, 500º e 800º.
A obrigação de indemnizar consiste na reconstituição da situação que existiria se não se tivesse
verificado o evento lesivo e por isso, pode destinar-se à reconstituição natural ou à compensação em dinheiro
(pagamento de uma quantia pecuniária ao lesado, art. 566º, nº1). A primeira tem prioridade sobre a segunda.
A indemnização em dinheiro para reparação de danos patrimoniais tem como critério de cálculo a
diferença entre a situação patrimonial real e atual do lesado e a sua situação patrimonial atual mas virtual ou
seja aquela que existiria “se não existissem danos” (art. 566º, nº2).
Por força do disposto no art. 801º, na responsabilidade contratual, a indemnização tanto pode (à escolha
do credor lesado) ter em vista a reparação pelo interesse contratual negativo como pelo interesse contratual
positivo.
Na responsabilidade pré-contratual a indemnização far-se-á, de modo geral, atendendo ao interesse
contratual negativo: o lesado terá direito a ser ressarcido pelos prejuízos correspondentes “às vantagens que
teria obtido somadas aos danos e despesas que teria evitado se não tivesse iniciado as negociações, depois
injustificadamente interrompidas pela contraparte ou celebrado um contrato inválido”.

3. Responsabilidade extracontratual por factos ilícitos


O princípio geral desta matéria encontra-se consagrado no art. 483º.
Consequentemente, o efeito da responsabilidade civil refere que “aquele que com dolo ou mera culpa,
violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios,
fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação” (nº1), que “só emite obrigação de
indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados pela lei” (nº2).
Os pressupostos existentes:
 Facto (ação ou omissão) 1º Dano
 Ilicitude 2º Conduta
 Culpa 3º Nexo de causalidade
 Dano 4º Ilicitude
 Nexo de causalidade 5º Culpa

4.1 Conduta
A conduta consiste no facto voluntário dominável e controlável pela vontade do agente, ou seja, tem
de ser um facto humano de onde sempre que estejamos perante um facto que provoque dano e, por isso, temos
de saber quem o praticou. Os ciclones, inundações e todas as situações que provoquem danos por causa de
força maior ou circunstâncias fortuitas invencíveis não respondem.
Os factos englobam as ações e as omissões. Relativamente às omissões, nem todas dão lugar à
responsabilidade civil. Só dão esse lugar quando por força da lei ou do negócio jurídico haja obrigação de a
praticar. A lei toma posição no art. 486º.
No caso dos interditos e dos menos quem será responsabilizado pelos seus atos serão os
progenitores/curadores tal como indica a lei. Isto faz com que aos menores/interditos não lhes é imputada a
conduta de uma ação.

4.2 Ilicitude
A ilicitude consiste na violação de direitos e interesses legalmente protegidos.
Atendendo ao disposto no art. 483º, nº1, a ilicitude poderá revestir duas formas:
 Violação do direito de outrem – cabe a violação de qualquer direito absoluto (personalidade,
real, de autor, etc). Caberá ainda a violação de um direito de crédito quando se conside
concebível essa violação cometida por terceiro.
 Violação de qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios – está em
causa a proteção de interesses particulares que se não consubstancie na atribuição ou
reconhecimo de direitos subjetivos. Para o seu preenchimento supõe-se:
 Que o dano resulte da violação de uma normal legal, o que significa que se torna
necessário demonstrar a respetiva existência e não apenas que certo interesse foi lesado.
 Que o referido interesse faça parte dos fins da norma violada, o que traduz a ideia de
que se deve tratar de um interesse diretamente protegido por tal norma e não de uma
tutela meramente reflexa.
A expressão utilizada no art. 483º, nº1 “direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios” deve entender-se como uma expressão única sem distinção de partes. É também
infrutífera a distinção entre violação de direito subjetivo e violação de interesse legalmente protegido uma vez
que, por uma via ou por outra, está preenchido o pressuposto da ilicitude.
A responsabilidade extracontratual resulta, assim, da transgressão do princípio da intangibilidade da
esfera jurídica alheia.
A violação do direito de outrem ou violação de qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios não gera automaticamente a ilicitude da conduta lesiva, como resulta da própria letra do nº1
do art. 483º.
O que leva à exclusão da ilicitude:

 Causas gerais
 Exercício do direito
 Exercício do dever
 Causas especiais (excluí dever de indemnizar)
 Legitima defesa
 Ação direta
 Estado de necessidade
 Consentimento do lesado
Na responsabilidade extracontratual há ainda casos especiais de ilicitude:
 Art. 484º
 ART. 485º - no que toca à emissão de “conselhos, recomendações ou informações”, a regra é no
sentido de não responsabilizarem o seu autor pelos prejuízos que a respetiva observância tenha causado
ao aconselhado, mesmo que aquele tenha atuado imprudentemente ou sem a diligência ou a atenção
requerida.
Todavia, excepcionalmente, o seu autor de tais “conselhos, recomendações ou informações” poderá
incorrer na obrigação de indemnizar:
 Se tiver atuado dolosamente (art. 485º, nº1/in fine/a contrário).
 Se tivesse o dever jurídico, legal ou negocial de aconselhar (como sucede tipicamente com o
advogado – art. 485º, nº2 e os restantes requisitos estabelecidos pelo o nº1 do art. 483º
estiverem preenchidos.

4.3 Culpa
A culpa consiste num juízo de reprovação sobre a conduta do agente. Não basta que se verifique uma
violação ilícita de um direito ou interesse juridicamente protegido de outrem. Impõe-se ainda que se tenha
procedido com dolo ou mera culpa, ou seja, não havendo culpa não há responsabilidade civil mesmo que
existam danos (art. 483º refere que só existe responsabilidade independentemente de culpa quando a lei o
especifique).
 Na responsabilidade civil extracontratual a prova de culpa cabe ao lesado de acordo com o art. 487º,
nº1.
 Na responsabilidade civil contratual presume-se a culpa do agente no não cumprimento.
 Na responsabilidade civil extracontratual admitem-se situações de presunções legais de culpa.
Modalidades de culpa (art. 483º):

 Dolo
 Direto – o agente quer um resultado, age para obter esse resultado e é esse o resultado
que se verififca.
 Indireto/Necessário – o agente não quer esse resultado, mas sabe que esse resultado
pode ser uma consequência da sua conduta.
 Eventual – o agente não quer o resultado, admite que o resultado possa ocorrer, mas
conforma-se com a possibilidade de isso não acontecer. Ou seja, apesar de admitir como
possível, aceita correr o risco.
 Mera culpa
 Negligência consciente – o agente representa o resultado como
possível mas acredita que o mesmo não se vai realizar e, por isso,
age.
 Negligência inconsciente – o agente age porque não tem
consciência da sua negligência e age por descuido.

4.4 Prova e presunções legais de culpa
Incumbe ao lesado a prova de culpa do autor da lesão, exceto se houve presunção legal de culpabilidade
(art. 487º, nº1). Efetivamente, a lei consagra presunções de culpa do responsável, que implicam uma inversão
do ónus da prova (art. 350º, nº1). Mas as presunções são ilidíveis mediante prova em contrário (art. 350º, nº2).
Presunções legais de culpa:
a) Um primeiro exemplo verifica-se quanto aos danos causados por incapazes, presumindo-se a
existência de culpa da parte das pessoas que, em virtude da lei ou de negócio jurídico, estavam
obrigadas à sua vigência. Estas respondem, portanto, “salvo se mostrarem que cumpriram o
seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido”
(art. 491º).
b) Doutrina idêntica se consagra, para o proprietário ou possuidor, a respeito dos danos derivados
de edifícios ou outras obras que ruírem, no todo ou em parte, como consequência de vício de
construção ou defeito de conservação. Mais uma vez, somente deixará de haver
responsabilidade por esses danos, se o proprietário ou possuidor provar uma de duas coisas:
que não existiu culpa sua, “ou que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os
danos” (art. 492º, nº1).
c) Por fim, a última hipótese refere.se a danos causados por coisas ou animais. Também existe
presunção de culpa em relação à responsabilidade de quem detenha coisa móvel ou imóvel com
dever de vigiá-la, ou haja assumido o encargo de vigilância de quaisquer animais, pelos danos
causados por essas coisas ou esses animais. De novo afasta-se a responsabilidade através da
prova da falta de culpa ou de que os danos se teriam igualmente verificado (art. 493º, nº1).

Cumpre salientar que a lei prevê, no referido preceito, os danos produzidos pelas coisas ou
pelos animais. Se é o agente que provoca os danos com o emprego das coisas ou dos animais,
então vigora o regime geral de responsabilidade civil.

4.5 Pluralidade de responsáveis


A respeito da culpa, considera.se ainda o cado de serem vários os autores, instigadores ou auxiliares
do ato ilícito. Quando tal ser verifique, todos eles respondem pelos danos que hajam causado (art. 490º), e a
sua responsabilidade é solidária (art. 497º) como adiante apreciaremos.
4.6 Dano
Dano: corresponde ao prejuízo efetivo criado pelo lesado e sem dano não há responsabilidade civil,
quer seja porque não existe ou porque não se consegue provar. Para provar a existência de dano é necessário
comparar a situação real atual e a situação atual virtual, basta que hajam diferenças para haver dano.
Espécies de dano:
 Lucro cessante: é o benefício que muito provavelmente o lesado teria obtido se o dano não
tivesse ocorrido (benefício que o lesado deixou de obter por causa do facto ilícito, mas que
ainda não tinha direito à data da lesão).
 Dano emergente: é o prejuízo causado nos bens ou nos direitos pertencentes ao lesado).
 Dano real: é a ofensa que efetivamente o lesado sobre (a substração ou a destruição da coisa,
o sofrimento causado pelo ferimento, a afetação da reputação, o prejuízo decorrente da
contratação da marca), ou seja, é a perda que efetivamente é sofrida.
 Dano de cálculo: é o conjunto de consequências económicas que se repercutem no património
do lesado devido ao dano real. Dentro deste, distinguem-se danos emergentes e lucros
cessantes.
 Dano patrimonial: é aquele que é suscetível de avaliação pecuniária (lucros cessantes + danos
emergentes).
 Dano não patrimonial: é aquele que não é suscetível de avaliação pecuniária.
 Dano pessoal
 Dano físico: dano causado pela integridade física.
 Dano psíquico: dano produzido sobre a integridade psicológica.
 Dano biológico: é aquele que afeta as qualidades físicas e intelectuais do lesado no
presente e no futuro, tem implicações nos danos patrimoniais em virtude de se proteger
sobre a capacidade de trabalho, diminuindo a sua aptidão para obter rendimentos.
 Dano direto: é aquele que se produz de imediato na esfera jurídica do lesado.
 Dano indireto: é uma consequência eventual ou remota daquela conduta, ou seja, é uma
consequência do dano direito.
 Dano presente: é aquele que se verifica no momento em que se pede a reparação.
 Dano futuro: é aquele que no momento em que se pede a reparação apenas se prevê que esta
se pode concretizar.
 Certo
 Eventual
 Dano puramente económico: são as situações em que no rigor da expressão dano, este não
existe. Existem é perdas que são motivadas por despesas que não se teriam efetuado ou lucros
que não se obtiveram devido a uma imprevisão (exemplo: em ações que irão gerar um
benefício, mas não geram porque houve má informação – art. 485º).
 Dano de ricochete: sempre que um lesado direito suporte danos materiais enquanto
um lesado indireto sobre danos puramente económicos (exemplo: A foi contratado para
rebocar o navio de B; C afunda tal navio; A fica assim impossibilitado de obter o
benefício que poderia ter conseguido através do cumprimento do contrato de
rebocagem celebrado com B.
 Danos transferidos: quando um dano que recai sobre um lesado primário se translada
para um lesado secundário (exemplo: B, empregado de A, foi ferido por C, ficando
impossibilitado de trabalhar durante três meses; se A tiver o dever de, não obstante,
pagar o salário de B, sobre um dano puramento económico.
 Encerramento de mercados públicos, corredores de transporte ou infraestruturas
públicas: autoestradas, mercados, aeroportos, portos, são equipamentos que não
pertencem a ninguém em particular, mas, no entanto, podem existir indivíduos cujas
vidas estejam estreitamente deles dependentes. O seu encerramento pode provocar,
nessa medida, a ocorrência de danos económicos (exemplo: A procede a uma descarga
de produtos químicos num rio, por isso, todo o tráfego de navios nos corredores
marítimos fica impedido durante duas semanas, como consequência, os
transportadores fluviais devem fazer percursos terrestres ou marítimos mais demorados
e onerosos).
 Confiança depositada em informação ou conselhos financeiros: se estes ou aquela
forem descuidadamente prestados, daí podem resultar danos puramente económicos
(exemplo: C, contabilista, realiza uma auditoria à sociedade B, cotada em bolsa,
exagerando largamente a seu valor financeiro. A, investidor, compra ações daquela
sociedade pagando o dobro daquilo que elas realmente valem).
Pelo dano de morte a indemnização é do que falece, mas como falece deixa de ter personalidade, logo
deixa de ter deveres e direitos. A indemnização do falece passa para a esfera jurídica dos sucessores (art. 496º,
nº2). O dano começa no processo que conduz à morte e daí se explica que apesar de já não haver personalidade
jurídica, o falecido continua a ter direito à indemnização porque no tempo que medeia entre o início e o fim
do processo, a pessoa ainda está viva.
Dentro dos danos pessoais existem os danos de nascimento com deficiência, tais como:
 “Wrongful birth action”: quem intenta a ação são os pais, alegando que a falta de informação
atempada impediu-os de decidir entre manter a gravidez ou interrompe-la, que não tem prazo.
O direito violado é o direito à paternidade ou maternidade.
 “Wrongful life ation”: quem intenta a ação é a criança incapaz por intermédio dos pais (art.
1878º, nº1). Não se pode invocar que se os pais soubessem os pais teriam interrompido a
gravidez, logo a criança invoca que se tivesse tido oportunidade de se pronunciar teria preferido
não viver.
O direito violado é o direito de não viver, daí o pedido de indemnização porque o incapaz vê o
seu direito violado.

4.7 Ressarcibilidade dos danos não patrimoniais


Entende-se que os danos não patrimoniais, embora insuscetíveis de uma verdadeira e própria reparação
ou indemnização, porque inalienáveis pecuniariamente, podem ser, em todo o caso, de algum modo
compensados. E mais vale proporcionar à vítima essa satisfação do que deixá-la sem qualquer amparo.
Nos termos do art. 496º, nº1 é permitida a indemnização dos “danos não patrimoniais que, pela sua
gravidade, mereçam a tutela do direito”. Este artigo não os enumera, antes confia ao tribunal o encargo de
apreciar, no quadro das várias situações concretas, socorrendo-se de fatores objetivos, se o dano não
patrimonial se mostra digno de proteção jurídica.

4.8 Nexo de causalidade entre o faco e o dano


Nos termos do art. 563º, além do facto e do dano, exige-se que entre os dois elementos exista uma
ligação onde o facto constitua causa do dano. Ou seja, o nexo de causalidade pressupõe um nexo entre o dano
e o facto. Haverá nexo de causalidade sempre que a condição de dano não se verificar. E temos de verificar,
segundo o nosso ordenamento jurídico, se este pressuposto é preenchido na integra. E é analisado também
pelas teorias seguintes:
 Sine qua non – suprir mentalmente a ação do agente e ver se se verifica o resultado/se o
resultado se concretiza. O resultado era o mesmo se a ação tivesse ocorrido ou não ou o
resultado não era o mesmo.
 Teoria da causalidade adequada – se um homem médico com todas as informações que o
agente tinha, conseguia prever o resultado. Tem duas vertentes uma positiva e uma negativa.
Na positiva cabe ao lesado provar que o facto é uma causa adequada da produção de dano. Na
negativa, o lesado só tem que provar que daquele facto não se provou o dano.
 Teoria do risco – um resultado dever imputado quando criar ou aumenta um risco proibido
que se concretiza no resultado típico.
 Teoria da causa virtual – é a causa real ou hipotética que é apta a provocar um determinado
dano mas não o provoca porque o dano é causado pela causa real, causa que provoca
imediatamente dano (no nosso ordenamento jurídico NÃO admite que o autor da causa real
seja obrigado a indemnizar).
 Causa virtual – a causa real tem de ser uma causa virtual. Uma relevância positiva é que não
se admite no nosso ordenamento jurídico. Uma negativa é que admite que em determinadas
circunstâncias o autor da causa real possa responder pelos danos causados.
Este último pressuposto da responsabilidade é ainda referido no art. 483º, nº1 e proclama o agente
adstrito a indemnizar “pelos danos resultantes da violação”.
O nexo de causalidade entre o facto e o dano desempenha, consequentemente, a dupla função de
pressuposto da responsabilidade civil e de medida da obrigação de indemnizar.
Quando o dano se apresenta como resultado direito e atual do facto ilícito, o problema não oferece
margem para grandes dúvidas.

4.9 Obrigação à indemnização


A responsabilidade civil pressupõe a ocorrência de um dano, de um prejuízo para alguém.
A obrigação de indemnizar está consagrada nos arts. 562º e 572º. Mas a indemnização deve ser
entendida no sentido definido pelo primeiro artigo referido.
Como já foi referido, a obrigação de indemnizar pode destinar-se à reconstituição natural ou à
compensação em dinheiro (art. 566º, nº1). A primeira tem em vista a reposição da situação do lesado no estado
natural mais próximo possível daquele que existia antes de o dano ter acontecido. A segunda destina-se a
compensá-lo monetariamente.
A reconstituição natural tem prioridade sobre a compensação em dinheiro, salvo:
 Se for material ou juridicamente irrealizável.
 Se não for apta à total reparação dos danos.
 Se for excessivamente custosa para o devedor.
Carece de sentido conceder ao lesado/credor o direito de optar entre a restauração natural e a
indemnização pecuniária (na suposição de ambas serem exequíveis). Esta última destina-se à reparação de um
dano e não serve para o lesado dela fazer o que entender ou o que lhe for mais conveniente.
Acresce que, sendo possível, a restauração natural se o lesado pudesse preferir a indemnização em
dinheiro, isso significaria, no fundo, que o dano real não corresponderia ao dano aparente (exemplo: o dono
do automóvel destruído pudesse, em vez da sua reposição, proferir o correspetivo valor pecuniário, poder-se-
ia concluir que tal objeto não teria para o lesado o valor conjeturado, mas outro menos ou mesmo nulo.
O que antecede significa que nem o lesado tem o direito de escolher a forma de indemnização que mais
lhe convier nem o autor do dano se pode livrar da obrigação de restauração natural impondo a indemnizar por
sucedâneo pecuniário, mediante a simples demonstração de que a primeira lhe custa excessivamente.
A indemnização em dinheiro para a reparação de danos patrimoniais tem como critério de cálculo a
diferença entre, por um lado a situação patrimonial real e atual do lesado e, por outro lado, a sua situação
patrimonial atual mas virtual, ou seja aquela em que presentemente estaria “se não existissem danos”.
Como a indemnização deve abranger danos emergentes e lucros cessantes daqui resulta que, na
respetiva determinarão se cabe levarem em consideração ou não “a situação abstrata mas a situação concreta
do lesado”.
No cálculo da indemnização compete ao tribunal avaliar “se a indemnização deve ser totalmente
concedida, reduzida ou mesmo excluída” quando para a produção do dano tiver eventualmente concorrido um
facto culposo imputável ao próprio lesado (art. 570, nº1). Vale então dizer que a culpa do lesado pode eliminar
ou atenuar a responsabilidade do lesante.
O autor do dano considera-se em mora “independentemente da interpelação… se a obrigação provier
de facto ilícito” (art. 805º, nº2, alínea b) ). Entra-se em mora na responsabilidade subjetiva a partir do instante
em que ocorreu o facto gerador da obrigação de indemnizar.
Quando se trata de responsabilidade objetiva a exigibilidade da obrigação de indemnizar fica
dependente da interpelação.
“Tratando-se, porém, da responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco…, devedor constitui-se em
mora desde a citação” (art. 805º, nº3, 2ª parte), assume-se à partida, no fundo, que a obrigação de indemnizar
fica liquidada logo que o lesado apresenta a petição inicial, nela discriminar os danos que, no seu entender,
devem ser reparados.
A obrigação a indemnizar, quando consista numa prestação em dinheiro, é uma obrigação pecuniária.
E como regra, está sujeita ao princípio nominalista do art. 550º.
O perigo de desvalorização monetária inexiste, na medida em que os juros moratórios (art. 806º) se
começam a vencer a partir da cita ao autor do dano para a ação da indemnização.

4.10 Sujeitos da relação de indemnização


Quem está obrigado a reparar os danos resultantes do facto ilícito trata-se da pessoa ou pessoas às
quais, nos termos da lei, se atribuir a conduta constitutiva da responsabilidade, podendo responder-se por facto
de outrem (art. 491º) – como se já abordamos no subtema da culpa.
Tem o direito de exigir a indemnização fundada em responsabilidade civil o lesado, ou seja, a pessoa
titular do direito ou interesse violado pela conduta do lesante. E essencialmente para este efeito, de resto, que
a responsabilidade civil está instituída e por isso ela é fonte de obrigações.
Na responsabilidade extracontratual é de salientar, neste capítulo, o regime contido no art. 495º.
Antes de mais, no caso de a lesão causar a morte, terceiros têm crédito contra o lesante pelas “despesas
feitas para salvar o lesado e todas as demais, sem excetuar as do funeral” (nº1), sendo semelhante a hipótese
da lesão corporal (nº2).
Exemplo também do credor de alimentos (art. 495º, nº3 – art. 567º, nº1).

4.11 Obrigados à indemnização


Esta constatação não levanta qualquer dificuldade quando a autoria do dano seja imputável a uma única
pessoa. Ao invés, o problema torna-se algo mais delicado quando várias sejam as pessoas a quem o dano deva
ser imputado.
Na responsabilidade civil extracontratual “se forem várias as pessoas responsáveis pelos danos, é
solidária a sua responsabilidade” (art. 497º, nº1), independentemente do grau de participação que cada qual
teve na produção dos referidos danos.
Na responsabilidade contratual, faltando indicação legal ou negocial em sentido contrário, tem-se
entendido que, sendo vários os obrigados à indemnização, todos respondem conjuntamente (art. 513º, à
contrário).
A responsabilidade é solidária quando todo ou uma parte determinada do dano sofrido pelo lesado é
imputável a duas ou mais pessoas. Em particular, a responsabilidade é solidária quando:
 Uma pessoa participa conscientemente ou instiga comportamentos ilícitos de terceiros que
causam danos ao lesado.
 O comportamento ou atividade independentemente de uma pessoa causar dano ao lesado e o
mesmo dano é também imputável a outra pessoa.
 Uma pessoa responde pelo dano causado por um auxiliar, sendo este igualmente responsável.
Internamente, porém, pode algum/alguns dos intervenientes ter direito de regresso contra os
demais uma vez que todos são responsáveis mas “na medida das respetivas culpas e das consequências
que delas advieram” (art. 497º, nº1). Ainda que, de qualquer maneira, como é regra no direito civil,
sempre que há uma comunhão ativa (art. 1404º) ou passiva, na falta de indicação em contrário,
presumem-se “iguais as culpas das pessoas responsáveis” (art. 497º, nº2, in fine).

4.12 Autoria
Quando existe comparticipação:

 Autoria
 Autor (imediato) da conduta: genericamente é quem domina a sua realização (quem
tenha ou controle o domínio do facto).
 Partícipe: é quem teve intervenção na realização dessa conduta ou na sua motivação
não a domine. O autor mediato é aquele que controla o processo, mas através de outrem.
 Participação
 Instigador: é aquele que dolosamente determina outrem à prática de uma conduta ilícita.
 Cúmplice: é aquele que dolosamente presta colaboração a outrem para a produção de
uma lesão na esfera jurídica alheia.
A autoria pode ser:
 Mediata: é quem planeia e executa.
 Imediata: um executa materialmente e o outro domina essa execução (exemplo: A pede a B
para ir buscar um computador dizendo que é dele mas não é, B acredita que é de A e vai busca-
lo).
A autoria pressupõe que alguém domine um facto.
Co-autoria: pressupõe uma pluralidade de intervenientes, sendo que todos respondem pelo
mesmo facto, ou seja, quando duas ou mais pessoas dominam em conjunto a realização do facto em
que cada um executa uma parcela de ação. Mas a ação na totalidade não é admissível sem a quota-
parte de cada um, ou seja, pressupõe decisão comum e, principalmente, realização comum.
Autoria acessória: existem dois ou mais intervenientes, mas cada um tem uma conduta que é
suficiente para produzir o dano e, portanto, todos intervêm independentemente dos outros.
Autoria concorrente: situação em que há duas ou mais pessoas que contribuem para o dano,
mas independentes das demais e todas tendo praticado um ato capaz de praticar o dano.
Na responsabilidade civil extracontratual “se forem várias as pessoas responsáveis pelos
danos, é solidária a sua responsabilidade” (art. 497º, nº1), independentemente do grau de participação
que cada qual teve na produção dos referidos danos.
Na responsabilidade civil contratual, faltando indicação legal ou negocial em sentido inverso,
tem-se entendido que, sendo vários os obrigados à indemnização, todos respondem conjuntamente (art.
513º).
4. Pressupostos da responsabilidade civil subjetiva
Os pressupostos/condições da responsabilidade civil são:
 Conduta lesiva
 Ilicitude
 Culpa do agente
 Dano
 Nexo de causalidade

4.1 Conduta

Antes de mais, é necessário que o dano indemnizável seja o produto de uma conduta
imputável a alguém.
Uma vez que é sobre a referida conduta que assenta o juízo de ilicitude e de culpa,
ela deve ser objetivamente dominável ou controlável pela vontade humana.
A suscetibilidade de domínio da conduta pressupõe uma capacidade natural mínima
e um animus mínimo.

Em primeiro lugar pressupõe que o comportamento em causa está no limiar da


aptidão humana para o dominar: ações reflexas, factos naturais ou casos fortuitos ou de
força maior, por exemplo, não são humanamente controláveis - logo, não são conduta.

Em segundo lugar, o domínio da conduta pressupõe também uma dose mínima de


voluntariedade. Assim pelo menos não existindo a chamada vontade de ação, uma
conduta aparentemente dominável não será na realidade uma conduta (ao menos, para efeitos de
responsabilidade civil).

Ação/inação

Em tese, a conduta lesiva tanto pode consistir numa ação como numa omissão.

Na responsabilidade civil contratual, tanto importa a natureza da conduta lesiva. O


que releva é a natureza da obrigação assumida.
Na responsabilidade pré-contratual também tanto importará a natureza da conduta
lesiva desde que esta seja contrária à boa-fé (o que significa que tudo depende do dever
concretamente decorrente desta).
Ao invés, a responsabilidade civil extracontratual, uma vez que pressupõem um
dever de não ingerência na esfera jurídica alheia, surgirá sempre que esse dever seja
violado, isto é, sempre que se pratique a ação que devia ter sido omitida.
Assim, a omissão somente poderá gerar estas espécies de responsabilidade quando
exista o dever jurídico de praticar certa ação e este não tenha sido cumprido.

De harmonia com o disposto no art. 486º do CC, o dever de atuacão pode resultar:
 Da lei
 Do negócio jurídico Omissão
 Do dever geral de prevenção do perigo

4.2 Imputação objetiva
Para que o agente seja responsável tem de haver um nexo de causalidade entre o facto e o dano
(art. 563º). O art. 563º consagra a teoria da causalidade adequada.
 Se houver CSQN e não houver TCA então não há responsabilidade.
Teoria da causalidade adequada: nexo de causalidade sempre que daquele facto resultem
dano.
Teoria da condition sine qua non: refere que só é responsabilizado o agente se o facto sem o
qual a condição não se teria verificado.
Para a Teoria da Causalidade Adequada o facto tem de ser apto a provocar o dano, ou seja, em
condições normais/prováveis e previsíveis que daquele facto resulte aquele tipo de dano (exemplo: se
na brincadeira A fizer um corte no braço de uma pessoa e esta morre. Para a TCA não é provável que
pelo corte a pessoa venha a morrer, logo não há nexo de causalidade se a pessoa fosse hemofílica então
já seria provável e havia nexo de causalidade).
Nexo de causalidade à luz da teoria da causalidade adequada:
 Vertente positiva: o lesado tem que provar que o facto é efetivamente uma causa adequada da produção
do dano, ou seja, tem de provar que o facto será apto a provocar danos (exemplo: os familiares do
lesado teriam de provar que o susto era uma causa de provocar o dano, mostrando até a previsibilidade).
 Vertente Negativa (é a vertente que vigora em Portugal): o lesado só tem de provar que o facto foi a
condição sem a qual o dano não se teria verificado. Cabendo ao lesante demonstrar que o dano só
ocorreu em virtude de condições anómalas e extraordinárias
Havendo nexo de causalidade na vertente negativa permite-se ao lesante demonstrar que o dano
só ocorreu devido a condições anómalas e extraordinárias que se colocaram entre o facto e o dano.
Teoria do risco refere que é difícil transportar para a responsabilidade civil porque todas as
condutas humanas envolvem riscos e qualquer conduta envolve perigo de dano. Os perigos de dano
são aceitáveis (quem os desenvolve não pode ser responsabilizado), por isso, é que não nos referimos
à teoria do risco para a determinação da responsabilidade civil.
Causa virtual: é toda a causa real ou hipotética que é apta a provocar um determinado dano
mas que não o provoca porque o dano é efetivamente provocado por outra causa denomina de causa
real. Pode iniciar o seu processo antes ou depois da causa real (exemplo: A dá veneno a um cavalo
para lhe causar morte; antes do cavalo morrer de veneno, B dá um tiro no cavalo e este morre de tiro;
causa real – tiro, causa virtual – veneno).
A causa real pode ter:
 Relevância positiva: diz-nos que recai sobre o autor da causa virtual a obrigação de indemnizar, este
regime não é aplicável porque não foi praticado nenhum dano, logo não se indemniza na
responsabilidade civil.
 Relevância negativa: traduz-se na possibilidade de o autor de causa real eximir-se à responsabilidade
através de invocação da existência de uma causa virtual, este regime só é admitido excecionalmente
(arts. 491º, 492º, 493º, nº2) embora este é que se aplique em Portugal.

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