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Conceito de Responsabilidade Civil – consiste na necessidade imposta a quem transgride as suas obrigações,
adotando um comportamento diverso do que lhe era prescrito, e por tal forma causa prejuízo ao titular do
correspondente interesse tutelado pela ordem jurídica, de colocar à sua custa o ofendido no estado em que ele
se encontraria se não fosse a lesão sofrida.
4.1 Conduta
A conduta consiste no facto voluntário dominável e controlável pela vontade do agente, ou seja, tem
de ser um facto humano de onde sempre que estejamos perante um facto que provoque dano e, por isso, temos
de saber quem o praticou. Os ciclones, inundações e todas as situações que provoquem danos por causa de
força maior ou circunstâncias fortuitas invencíveis não respondem.
Os factos englobam as ações e as omissões. Relativamente às omissões, nem todas dão lugar à
responsabilidade civil. Só dão esse lugar quando por força da lei ou do negócio jurídico haja obrigação de a
praticar. A lei toma posição no art. 486º.
No caso dos interditos e dos menos quem será responsabilizado pelos seus atos serão os
progenitores/curadores tal como indica a lei. Isto faz com que aos menores/interditos não lhes é imputada a
conduta de uma ação.
4.2 Ilicitude
A ilicitude consiste na violação de direitos e interesses legalmente protegidos.
Atendendo ao disposto no art. 483º, nº1, a ilicitude poderá revestir duas formas:
Violação do direito de outrem – cabe a violação de qualquer direito absoluto (personalidade,
real, de autor, etc). Caberá ainda a violação de um direito de crédito quando se conside
concebível essa violação cometida por terceiro.
Violação de qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios – está em
causa a proteção de interesses particulares que se não consubstancie na atribuição ou
reconhecimo de direitos subjetivos. Para o seu preenchimento supõe-se:
Que o dano resulte da violação de uma normal legal, o que significa que se torna
necessário demonstrar a respetiva existência e não apenas que certo interesse foi lesado.
Que o referido interesse faça parte dos fins da norma violada, o que traduz a ideia de
que se deve tratar de um interesse diretamente protegido por tal norma e não de uma
tutela meramente reflexa.
A expressão utilizada no art. 483º, nº1 “direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios” deve entender-se como uma expressão única sem distinção de partes. É também
infrutífera a distinção entre violação de direito subjetivo e violação de interesse legalmente protegido uma vez
que, por uma via ou por outra, está preenchido o pressuposto da ilicitude.
A responsabilidade extracontratual resulta, assim, da transgressão do princípio da intangibilidade da
esfera jurídica alheia.
A violação do direito de outrem ou violação de qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios não gera automaticamente a ilicitude da conduta lesiva, como resulta da própria letra do nº1
do art. 483º.
O que leva à exclusão da ilicitude:
Causas gerais
Exercício do direito
Exercício do dever
Causas especiais (excluí dever de indemnizar)
Legitima defesa
Ação direta
Estado de necessidade
Consentimento do lesado
Na responsabilidade extracontratual há ainda casos especiais de ilicitude:
Art. 484º
ART. 485º - no que toca à emissão de “conselhos, recomendações ou informações”, a regra é no
sentido de não responsabilizarem o seu autor pelos prejuízos que a respetiva observância tenha causado
ao aconselhado, mesmo que aquele tenha atuado imprudentemente ou sem a diligência ou a atenção
requerida.
Todavia, excepcionalmente, o seu autor de tais “conselhos, recomendações ou informações” poderá
incorrer na obrigação de indemnizar:
Se tiver atuado dolosamente (art. 485º, nº1/in fine/a contrário).
Se tivesse o dever jurídico, legal ou negocial de aconselhar (como sucede tipicamente com o
advogado – art. 485º, nº2 e os restantes requisitos estabelecidos pelo o nº1 do art. 483º
estiverem preenchidos.
4.3 Culpa
A culpa consiste num juízo de reprovação sobre a conduta do agente. Não basta que se verifique uma
violação ilícita de um direito ou interesse juridicamente protegido de outrem. Impõe-se ainda que se tenha
procedido com dolo ou mera culpa, ou seja, não havendo culpa não há responsabilidade civil mesmo que
existam danos (art. 483º refere que só existe responsabilidade independentemente de culpa quando a lei o
especifique).
Na responsabilidade civil extracontratual a prova de culpa cabe ao lesado de acordo com o art. 487º,
nº1.
Na responsabilidade civil contratual presume-se a culpa do agente no não cumprimento.
Na responsabilidade civil extracontratual admitem-se situações de presunções legais de culpa.
Modalidades de culpa (art. 483º):
Dolo
Direto – o agente quer um resultado, age para obter esse resultado e é esse o resultado
que se verififca.
Indireto/Necessário – o agente não quer esse resultado, mas sabe que esse resultado
pode ser uma consequência da sua conduta.
Eventual – o agente não quer o resultado, admite que o resultado possa ocorrer, mas
conforma-se com a possibilidade de isso não acontecer. Ou seja, apesar de admitir como
possível, aceita correr o risco.
Mera culpa
Negligência consciente – o agente representa o resultado como
possível mas acredita que o mesmo não se vai realizar e, por isso,
age.
Negligência inconsciente – o agente age porque não tem
consciência da sua negligência e age por descuido.
4.4 Prova e presunções legais de culpa
Incumbe ao lesado a prova de culpa do autor da lesão, exceto se houve presunção legal de culpabilidade
(art. 487º, nº1). Efetivamente, a lei consagra presunções de culpa do responsável, que implicam uma inversão
do ónus da prova (art. 350º, nº1). Mas as presunções são ilidíveis mediante prova em contrário (art. 350º, nº2).
Presunções legais de culpa:
a) Um primeiro exemplo verifica-se quanto aos danos causados por incapazes, presumindo-se a
existência de culpa da parte das pessoas que, em virtude da lei ou de negócio jurídico, estavam
obrigadas à sua vigência. Estas respondem, portanto, “salvo se mostrarem que cumpriram o
seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido”
(art. 491º).
b) Doutrina idêntica se consagra, para o proprietário ou possuidor, a respeito dos danos derivados
de edifícios ou outras obras que ruírem, no todo ou em parte, como consequência de vício de
construção ou defeito de conservação. Mais uma vez, somente deixará de haver
responsabilidade por esses danos, se o proprietário ou possuidor provar uma de duas coisas:
que não existiu culpa sua, “ou que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os
danos” (art. 492º, nº1).
c) Por fim, a última hipótese refere.se a danos causados por coisas ou animais. Também existe
presunção de culpa em relação à responsabilidade de quem detenha coisa móvel ou imóvel com
dever de vigiá-la, ou haja assumido o encargo de vigilância de quaisquer animais, pelos danos
causados por essas coisas ou esses animais. De novo afasta-se a responsabilidade através da
prova da falta de culpa ou de que os danos se teriam igualmente verificado (art. 493º, nº1).
Cumpre salientar que a lei prevê, no referido preceito, os danos produzidos pelas coisas ou
pelos animais. Se é o agente que provoca os danos com o emprego das coisas ou dos animais,
então vigora o regime geral de responsabilidade civil.
4.12 Autoria
Quando existe comparticipação:
Autoria
Autor (imediato) da conduta: genericamente é quem domina a sua realização (quem
tenha ou controle o domínio do facto).
Partícipe: é quem teve intervenção na realização dessa conduta ou na sua motivação
não a domine. O autor mediato é aquele que controla o processo, mas através de outrem.
Participação
Instigador: é aquele que dolosamente determina outrem à prática de uma conduta ilícita.
Cúmplice: é aquele que dolosamente presta colaboração a outrem para a produção de
uma lesão na esfera jurídica alheia.
A autoria pode ser:
Mediata: é quem planeia e executa.
Imediata: um executa materialmente e o outro domina essa execução (exemplo: A pede a B
para ir buscar um computador dizendo que é dele mas não é, B acredita que é de A e vai busca-
lo).
A autoria pressupõe que alguém domine um facto.
Co-autoria: pressupõe uma pluralidade de intervenientes, sendo que todos respondem pelo
mesmo facto, ou seja, quando duas ou mais pessoas dominam em conjunto a realização do facto em
que cada um executa uma parcela de ação. Mas a ação na totalidade não é admissível sem a quota-
parte de cada um, ou seja, pressupõe decisão comum e, principalmente, realização comum.
Autoria acessória: existem dois ou mais intervenientes, mas cada um tem uma conduta que é
suficiente para produzir o dano e, portanto, todos intervêm independentemente dos outros.
Autoria concorrente: situação em que há duas ou mais pessoas que contribuem para o dano,
mas independentes das demais e todas tendo praticado um ato capaz de praticar o dano.
Na responsabilidade civil extracontratual “se forem várias as pessoas responsáveis pelos
danos, é solidária a sua responsabilidade” (art. 497º, nº1), independentemente do grau de participação
que cada qual teve na produção dos referidos danos.
Na responsabilidade civil contratual, faltando indicação legal ou negocial em sentido inverso,
tem-se entendido que, sendo vários os obrigados à indemnização, todos respondem conjuntamente (art.
513º).
4. Pressupostos da responsabilidade civil subjetiva
Os pressupostos/condições da responsabilidade civil são:
Conduta lesiva
Ilicitude
Culpa do agente
Dano
Nexo de causalidade
4.1 Conduta
Antes de mais, é necessário que o dano indemnizável seja o produto de uma conduta
imputável a alguém.
Uma vez que é sobre a referida conduta que assenta o juízo de ilicitude e de culpa,
ela deve ser objetivamente dominável ou controlável pela vontade humana.
A suscetibilidade de domínio da conduta pressupõe uma capacidade natural mínima
e um animus mínimo.
Ação/inação
Em tese, a conduta lesiva tanto pode consistir numa ação como numa omissão.
De harmonia com o disposto no art. 486º do CC, o dever de atuacão pode resultar:
Da lei
Do negócio jurídico Omissão
Do dever geral de prevenção do perigo
4.2 Imputação objetiva
Para que o agente seja responsável tem de haver um nexo de causalidade entre o facto e o dano
(art. 563º). O art. 563º consagra a teoria da causalidade adequada.
Se houver CSQN e não houver TCA então não há responsabilidade.
Teoria da causalidade adequada: nexo de causalidade sempre que daquele facto resultem
dano.
Teoria da condition sine qua non: refere que só é responsabilizado o agente se o facto sem o
qual a condição não se teria verificado.
Para a Teoria da Causalidade Adequada o facto tem de ser apto a provocar o dano, ou seja, em
condições normais/prováveis e previsíveis que daquele facto resulte aquele tipo de dano (exemplo: se
na brincadeira A fizer um corte no braço de uma pessoa e esta morre. Para a TCA não é provável que
pelo corte a pessoa venha a morrer, logo não há nexo de causalidade se a pessoa fosse hemofílica então
já seria provável e havia nexo de causalidade).
Nexo de causalidade à luz da teoria da causalidade adequada:
Vertente positiva: o lesado tem que provar que o facto é efetivamente uma causa adequada da produção
do dano, ou seja, tem de provar que o facto será apto a provocar danos (exemplo: os familiares do
lesado teriam de provar que o susto era uma causa de provocar o dano, mostrando até a previsibilidade).
Vertente Negativa (é a vertente que vigora em Portugal): o lesado só tem de provar que o facto foi a
condição sem a qual o dano não se teria verificado. Cabendo ao lesante demonstrar que o dano só
ocorreu em virtude de condições anómalas e extraordinárias
Havendo nexo de causalidade na vertente negativa permite-se ao lesante demonstrar que o dano
só ocorreu devido a condições anómalas e extraordinárias que se colocaram entre o facto e o dano.
Teoria do risco refere que é difícil transportar para a responsabilidade civil porque todas as
condutas humanas envolvem riscos e qualquer conduta envolve perigo de dano. Os perigos de dano
são aceitáveis (quem os desenvolve não pode ser responsabilizado), por isso, é que não nos referimos
à teoria do risco para a determinação da responsabilidade civil.
Causa virtual: é toda a causa real ou hipotética que é apta a provocar um determinado dano
mas que não o provoca porque o dano é efetivamente provocado por outra causa denomina de causa
real. Pode iniciar o seu processo antes ou depois da causa real (exemplo: A dá veneno a um cavalo
para lhe causar morte; antes do cavalo morrer de veneno, B dá um tiro no cavalo e este morre de tiro;
causa real – tiro, causa virtual – veneno).
A causa real pode ter:
Relevância positiva: diz-nos que recai sobre o autor da causa virtual a obrigação de indemnizar, este
regime não é aplicável porque não foi praticado nenhum dano, logo não se indemniza na
responsabilidade civil.
Relevância negativa: traduz-se na possibilidade de o autor de causa real eximir-se à responsabilidade
através de invocação da existência de uma causa virtual, este regime só é admitido excecionalmente
(arts. 491º, 492º, 493º, nº2) embora este é que se aplique em Portugal.