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5/5/2014 Filosofia da Relatividade - 2012

Espaço, Tempo e Relatividade (2012)


Osvaldo Pessoa Jr. (USP)

Este curso de pós-graduação aborda a temática do espaço, tempo e relatividade, de um ponto de vista filosófico. O foco principal será a
teoria da relatividade restrita, formulada por Einstein em 1905. Serão estudadas questões filosóficas relacionadas à contração espacial,
dilatação temporal, simultaneidade e paradoxo dos gêmeos, dando-se alguma atenção à recepção filosófica e cultural dessas novas idéias. A
seguir, consideraremos as geometrias não-euclidianas, a teoria da relatividade geral e a noção de espaço-tempo curvo. Questões
filosoficamente intrincadas, como a teoria causal do espaço-tempo, o debate sobre o espaço absoluto e o papel das convenções, também
serão examinadas.

Informativos e Roteiros:
Cronograma (preliminar) Clique para baixar o
Bibliografia geral programa de leitura.

Atividade 1 (entregar em 29/10; revisão em classe: 22/10)


Atividade 2 (entregar em 03/12; discussão em classe: 26/11)

Experimentos Relativísticos 1: Dilatação temporal em múons (Rossi & Hall, 1940)


Experimentos Relativísticos 2: Paradoxo dos gêmeos em aviões (Hafele & Keating, 1972)
Foguete e asteroide
Dilatação e contração no interferômetro
Cinco interpretações da TRR

Linques:

Einstein for everyone (J.D. Norton - U. Pittsburgh) - excelente curso


Sonda de Gravidade B (Stanford U.) - site do experimento
Simulação 1 - Dilatação do tempo / Relatividade da simultaneidade / Voz de Einstein
Filme do experimento com múons - Dilatação do tempo, Frisch & Smith (1962), 36 mins.
Spacetime Travel - Simulações gráficas de movimentos relativísticos
The equivalence of mass and energy (Fernflores, 2001)
What if Einstein had not been there? (Lévy-Leblond, 2003)

– Última atualização: 12/11/12

Sonda de Gravidade B
http://einstein.stanford.edu/SPACETIME/spacetime4.html

http://www.fflch.usp.br/df/opessoa/Pos-Rel-12.htm 1/2
Cronograma Preliminar da Disciplina: “Espaço, Tempo e Relatividade”
FLF5089 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – sala 2007 – opessoa@usp.br
2o semestre de 2012: 2as-feiras 14:00-18:00 hs., sala 119 (Xerox: Pasta 38)

O curso aborda a temática do espaço, tempo e relatividade, de um ponto de vista filosófico.


O foco principal será a teoria da relatividade restrita, formulada por Einstein em 1905. Serão
estudadas questões filosóficas relacionadas à contração espacial, dilatação temporal, simultaneidade
e paradoxo dos gêmeos, dando-se alguma atenção à recepção filosófica e cultural dessas novas
idéias. A seguir, consideraremos as geometrias não-euclidianas, a teoria da relatividade geral e a
noção de espaço-tempo curvo. Questões filosoficamente intrincadas, como a teoria causal do
espaço-tempo, o debate sobre o espaço absoluto e o papel das convenções, também serão
examinadas.
O curso é dirigido para alunos de qualquer área, que tenham interesse em filosofia da física.
Apesar de não ser se exigir formação em física ou matemática, um pouco do formalismo das teorias
da relatividade terá que ser exposto em aula. A avaliação se baseará em um trabalho final. Alunos
com familiaridade no assunto serão convidados a ministrar seminários.

Programa (preliminar):
Aula 1 13/08 Teoria da Relatividade Restrita (TRR): o artigo de Einstein (1905).
Simultaneidade no trem de Einstein.
Aula 2 20/08 TRR: Dilatação do tempo e contração do comprimento.
Experimento dos múons. História: Influências em Einstein.
Aula 3 27/08 TRR: Diagramas de Minkowski. Intervalo espaço-temporal.
Trem no túnel. História: Lorentz e Poincaré.
- - - - - - (Semana da Pátria) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Aula 4 10/09 TRR: Cone de luz e causalidade. Paradoxo dos gêmeos.
Experimento de Haefele & Keating. História: Experimento de
Michelson & Morley e o problema do éter.
Aula 5 17/09 Interpretações da TRR: Realismo x positivismo. Espacialização do tempo.
Contração e dilatação são reais? História: As origens do éter luminífero:
Fresnel, Fizeau e Mascart.
Aula 6 24/09 TRR: E=mc² e suas interpretações. Experimento de Cockcroft & Walton.
Aula 7 01/10 Interpretações da TRR: Teoria causal do espaço-tempo de Robb.
Interpretações neo-lorentzianas.
Aula 8 08/10 Epistemologia da geometria. Geometrias não-euclidianas.
Curvatura do espaço-tempo: Teoria da Relatividade Geral.
Experimento do desvio gravitacional da luz.
Aula 9 15/10 Princípio de Mach e o espaço absoluto na relatividade geral.
Substantivalismo vs. relacionismo. Experimento da sonda de gravidade B.
- - - - - - (Viagem do professor - ANPOF) - - - - - - - - - - - - - - - -
Aula 10 29/10 Convenções na teoria da relatividade: Poincaré, Reichenbach.
Aula 11 05/11 Filosofia da ciência e teorias de espaço-tempo (M. Friedman).
Aula 12 12/11 Cosmologia: o início do tempo. Possibilidade de viagem no tempo.
BIBLIOGRAFIA GERAL
“Espaço, Tempo e Relatividade” – FLF5089 – Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
Prof. Osvaldo Pessoa Jr. (USP)

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CAPEK, M. (1963), El impacto filosofico de la fisica contemporanea. Madr: Tecnos. Orig. em


inglês: 1961.

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Dover.

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time. Cambridge: MIT Press.

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em alemão: 1917.

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em alemão e tradução em inglês: 1949.

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1
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LÉVY-LEBLOND, J.-M. (2009), “Rapsódia einsteiniana: duas ou três coisas que sei sobre Albert”, in
LÉVY-LEBLOND, A velocidade da sombra: nos limites da ciência. Trad. M.I. Ferreira. Rio de
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Ciência.

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2
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Relativity 9: 3-100. Online: http://relativity.livingreviews.org/Articles/lrr-2006-
3/download/lrr-2006-3Color.pdf

3
Atividade 1
FLF5044 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
“Espaço, Tempo e Relatividade” – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2012
Entregar em 29/10

I) Rápidas

1) Quais são os dois princípios utilizados por Einstein para a derivação de sua teoria da
relatividade restrita (TRR)?

2) O que é um evento?

3) O que diz a TRR com relação à simultaneidade de dois eventos?

4) O que é a contração dos comprimentos?

5) O que é a dilatação do tempo?

6) Pode-se dizer que tudo é relativo, segundo a TRR?

II) Problema

Num futuro longínquo, o imperador da camada de asteróides, rei Filipe, arquitetou um


plano para eliminar seu arqui-inimigo, o pirata estelar Tomás, o audaz, especializado em
roubos de diamantes gigantes. Filipe anunciou que a jóia máxima da coroa, o diamante
Eufrosine, ficaria guardado dentro do túnel furado em um pequeno asteróide usado para
prospecção de minérios. O túnel mede exatos 100 m, e o diamante fica em uma das paredes
do túnel, bem no centro do túnel.
A poderosa nave do pirata Tomás havia sido roubada da própria fábrica de foguetes do
Império dos Asteróides, e media 140 m de comprimento. Filipe sabia que o pirata não
resistiria à tentação de roubar o diamante, e que entraria túnel adentro com sua nave para
roubar Eufrosine. O plano do imperador era ligar o alarme do diamante a duas bombas que
explodiriam dos lados de fora da entrada e saída do túnel. O sinal do alarme às bombas é
enviado por microonda, que ruma com a velocidade da luz (c).
O pirata Tomás tem ao seu dispor várias janelas, de onde ele pode pegar o diamante.
Atingindo velocidades relativísticas com seu foguete, Tomás conseguirá roubar o diamante
sem que sua nave seja atingida pelas explosões?
(Quem dominar a matéria, tente resolver por conta própria, e depois compare com o
roteiro da página seguinte. Senão, vá direto para o roteiro.)

1
Roteiro de resolução:

(a) O túnel mede 100 m no referencial de Filipe, e o foguete parado mede 140 m. Que
velocidade v o foguete deve atingir (em termos de c) para “caber” (de maneira justa) no
túnel, segundo o referencial de Filipe?

1
∆x (do trem em movimento, medido da estação) = ∆x’ (comprimento próprio do trem),
γ
1
onde γ = .
v2
1− 2
c

(b) Quando Tomás passar a mão no diamante, um sinal de luz é enviado para cada bomba. A
explosão das duas bombas é simultânea? Explique.

(c) Tomás precisa calcular em que janela do seu foguete ele pegará o diamante. Ele quer fazê-
lo de tal forma que o bico do foguete chegue até a bomba B2 (sem tocá-la, para não
explodir) junto com o sinal de luz emitido do alarme do diamante. Qual é a distância da
janela escolhida em relação ao bico do foguete? (Dica: comparar as velocidades do
foguete e da luz.)

(d) Coloque-se agora no referencial do pirata voador. Ele se sente parado, e vê o asteróide
com o túnel voar em sua direção, com velocidade v (em sentido contrário). Para ele, qual é
o tamanho do túnel?

(e) Temos um aparente paradoxo! O foguete, de comprimento próprio 140 m, é agora bem
maior do que o túnel. Quando as bombas (nas pontas do túnel) explodirem, o foguete
conseguirá escapar? Explique.

2
(III) Considere o diagrama de Minkowski abaixo, relativo ao problema (II). O foguete está
desenhado em seu “comprimento próprio”, no referencial do pirata. Perceba como ele,
apesar de ser desenhado maior do que o túnel, consegue “caber” no túnel devido a uma
“rotação no espaço-tempo”.
(a) Faça um esboço do foguete visto por Filipe, no asteróide, em um instante qualquer.
(b) Faça um esboço do asteróide (com o túnel) no instante em que o bico do foguete passa
por sua entrada, conforme visto por Filipe.
(c) Marque os instantes em que ocorrem as duas explosões para o pirata voador (Tomás).
(d) Estime, olhando para o gráfico, o tempo que passou entre as duas explosões, para
Tomás, o audaz.
(e) Estime, olhando para o gráfico, a distância entre a janela em que Tomás rouba o
diamante A e o bico do foguete.

3
Atividade 2: O Percurso de Einstein
FLF5089 – Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
“Espaço, Tempo e Relatividade” – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2012
Entregar até 03/12

Responda a pelo menos 5 das questões abaixo (pode responder todas!). Sugiro dois roteiros
mínimos possíveis:
Roteiro físico: 1, 2, 4, 5, 10.
Roteiro filosófico: 2, 5, 6, 7, 8.

1) Com 16 anos, em Pavia, na Itália, Einstein terminou um artigo de física e o enviou ao seu tio
Caesar. Em linhas gerais (sucintamente), que concepção de mundo é apresentada neste artigo?
(PAIS, pp. 149-50; PATY, pp. 68-9.)

2) Qual foi o experimento-de-pensamento que ocupava o jovem Einstein, em 1896, em seu colégio
em Aarau, na Suiça? Que conclusão ele tirou? (STACHEL, p. 126; EINSTEIN, p. 55; PAIS, p. 150;
HIROSIGE, p. 53; PATY, pp. 68-9.)

3) Qual foi o resultado de suas propostas experimentais para medir a velocidade da Terra em
relação ao éter, na Politécnica de Zurique (ETH), entre 1898 e 1901? Neste período ele acreditava
na existência do éter? (PAIS, p.151; STACHEL, p. 127; HIROSIGE, p. 54; PATY, pp. 70-2.)

4) Einstein menciona que foi influenciado pelo experimento de Fizeau (de 1851). Como se deu esta
influência? (STACHEL, 130; HIROSIGE, p. 54; PAIS, p. 133-5; PATY, pp. 112-4.)

5) O experimento de Michelson-Morley teve alguma influência nas idéias de Einstein em 1905?


(PAIS, pp. 125-33, 152, 200-1; HIROSIGE, pp. 5-6; HOLTON, pp. 316-29; PATY, pp. 70-2, 115-30.)

6) Trabalhando no escritório de patentes em Berna, a partir de 1902, Einstein foi influenciado por
leituras de Hume, Mach e Poincaré. Como a concepção de espaço e tempo de Hume poderia ter
afetado Einstein? (HIROSIGE, p. 58; HUME, pp. 81, 92-3.)

7) Como a leitura de Mach, a partir de 1897, contribuiu para as idéias de Einstein? (HIROSIGE, pp.
58-66, 79-81; MACH, pp. 1-3)

8) Leia o trecho de Poincaré, de sua Ciência e Hipótese (1902), e indique como isso poderia ter
influenciado Einstein. (PAIS, pp. 153; STACHEL, p. 131 (2a citação); POINCARÉ, pp. 81-2.)

9) Por que Einstein levou à sério uma teoria da emissão? (STACHEL, p. 131.)

10) Como Einstein encarava a teoria de Maxwell e sua relação com a mecânica, antes de 1905?
(HIROSIGE, pp. 55-7.)
Bibliografia da atividade:
EINSTEIN, A. ([1949] 1982), Notas autobiográficas. Trad. A.S. Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira. Seleção das pp. 54-63 [5 folhas].

HIROSIGE, T. (1976), “The ether problem, the mechanistic worldview, and the origins of the theory
of relativity”, Historical Studies in the Physical Sciences 7: 3-82. Seleção das pp. 3-6, 51-
67, 79-81 [14 folhas].

HOLTON, G.J. (1973), “Einstein, Michelson, and the ‘crucial’ experiment”, in Thematic origins of
scientific thought, pp. 261-352. Cambridge: Harvard U. Press. Seleção das pp. 316-29 [7
folhas].

HUME, D. ([1739] 2000), Tratado da natureza humana. Trad. D. Danowski. São Paulo: Unesp.
Seleção das pp. 81, 92-3 [2 folhas].

MACH, E. ([1883] 2012), “As ideias de Newton sobre tempo, espaço e movimento”, trechos do cap.
II, seção VI, do The science of mechanics. Trad. O. Pessoa Jr. São Paulo: FFLCH-USP,
curso FLF0449. Seleção das pp. 1-3 (correspondentes a trechos das pp. 222-38 da tradução
em inglês) [3 folhas].

PAIS, A. ([1982] 1995), “Sutil é o Senhor...”: a ciência e a vida de Albert Einstein. Trad. F. Parente
& V. Esteves. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Seleção das pp. 125-35, 147-52, 200-1 [11
folhas].

PATY, M. (1993), Einstein philosophe. Paris: Presses Universitaires de France. Seleção das pp. 68-
73, 110-30 [14 folhas].

POINCARÉ, H. ([1902] 1984), A ciência e a hipótese. Brasília: Ed. UnB. Seleção das pp. 81-2 [2
folhas].

STACHEL, J. (2001), “Einstein e a teoria da relatividade”, in STACHEL (org.), O Ano Miraculoso de


Einstein. Trad. A.C. Tort. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, pp. 117-41. Seleção das pp. 126-34 [5
folhas].

Total: 63 pgs de fontes bibliográficas.


FLF5044 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
“Espaço, Tempo e Relatividade” – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2012
20

Experimentos Relativísticos 1:
Dilatação temporal em múons
Em 1940, o físico italiano Bruno Rossi e seu colega David B. Hall, da Universidade de
Chicago, decidiram estudar partículas de raios cósmicos, conhecidos então como “mésotrons”, para
determinar sua taxa de decaimento, ou seja, o tempo médio que uma dessas partículas subsiste antes
de se transformar em outras partículas.1 Paraa isso, compararam o número de partículas detectadas
no topo de uma montanha no Colorado com o número medido 1600 m abaixo. Ao fazerem esse
estudo, tiveram que levar em conta o efeito relativístico da “dilatação do tempo” no referencial das
partículas em movimento,, de forma que seu estudo foi um dos primeiros testes desta
dest previsão da
Teoria da Relatividade Restrita.2
Para estudar essee experimento, vale a pena nos concentrarmos na versão mais didática
realizada por David Frische & James Smith (1963).3 Hoje em dia, a partícula estudada por Rossi &
Hall se chama múon, fazendo parte da família dos léptons, do qual faz parte também o elétron, que
tem massa 200 vezes menor, e os neutrinos.
Os múons dos raios cósmicos são criados no alto da atmosfera, após os prótons vindos de
outras galáxias chocarem-sese com as moléculas da atmosfera, produzindo píons, que rapidamente
decaem gerando múons e neutrinos.
neutrinos Em torno de 100 múons atravessam nosso corpo por segundo,
enquanto dormimos numa praia. Os múons decaem exponencialmente com uma vida média de
 = 2,21⋅10–6 s, conforme se vê na Fig. 4, transformando-se em um elétron (ou pósitron) e
neutrinos.. O decaimento exponencial tem a propriedade curiosíssima de “não ter memória”, ou seja,
a probabilidade de um múon decair independe de quanto tempo ele já existiu.

Fig. 1: Bruno Rossi (1905-93) Fig. 2: Um antipróton colide com um núcleo do gás Fig. 3: Concepção
e sua bela gravata tricotada. neônio em um campo magnético, gerando um píon π+,
neônio, artística do múon (por
que decai em um múon µ+ (e neutrino), que decai em Sérgio Kon).4
um pósitron e+ (e dois neutrinos) (Fonte: G. Piragino,
Experimento PS179,
P CERN, Genebra, 1996).

1
ROSSI, B. & HALL, D.B. (1941), “Variation of the rate of decay of mesotrons with momentum”, Physical Review 59:
223-8.
2
O primeiro teste foi feito por Ives & Stilwell, em 1938, envolvendo o deslocamento de frequência de linhas de
espectro atômico por efeito Doppler “transverso”, para moléculas de hidrogênio (raios de canal) rumando em dois
sentidos de movimento. Os autores citaram o experimento como um teste da “teoria de Lorentz e Larmor”.
3
FRISCH, D.H. & SMITH, J.H. (1963), “Measurement of the relativistic time dilation using µ-mesons”,
mesons”, American Journal
of Physics 31: 342-55. O filme didático deste experimento está em http://www.scivee.tv/node/2415
ttp://www.scivee.tv/node/2415 .
4
ABDALLA, MARIA CRISTINA B. (2004), O discreto charme das partículas elementares,, ilustrações de Sérgio Kon,
Unesp, São Paulo, p. 69.
1
Fig. 2: Curva de decaimento exponencial do múon, medido em quase repouso no cintilador (adaptado de FRISCH & SMITH,
1963, p. 347). A marcação * indica o número de múons (30) que deveriam sobreviver ao chegar ao nível do mar, segundo
a Física Clássica, após 6,41 milissegundos. A marcação ** indica o número medido de múons no nível do mar (397),
que segundo o gráfico estaria associado a um intervalo de tempo de 0,72 milissegundos. A dilatação temporal γ é dada
pela razão desses dois valores temporais.

Frisch & Smith mediram o número de múons incidindo por segundo em um detector no alto
do Monte Washington, de altura 1907 m, e a taxa medida no MIT, ao nível do mar em Cambridge,
Massachussetts, e à mesma latitude. O detector usado foi um cintilador, que consiste de um material
que gera um pulso de luz por “luminiscência”, na passagem de uma partícula eletricamente carregada.
No experimento, o cintilador consiste de uma base de plástico, dopado com alguma substância
fluorescente que acentua a emissão de luz. Esta luz é então detectada em uma fotomultiplicadora.
Os múons medidos foram selecionados em uma faixa estreita de velocidades. Isso foi feito
colocando-se o detector abaixo de uma camada de 76 cm de ferro, no Monte Washington, de forma
que a grande maioria dos múons viajando a uma velocidade menor do que 0,9950 c (onde c é a
velocidade da luz) acaba sendo parada pela interação elétrica com os elétrons do ferro (a absorção
pelos núcleos é desprezível). A passagem dos múons pelo detector gera um pulso único, mas às vezes
um outro pulso pode ser detectado, correspondendo à emissão de um elétron no cintilador. Isso
significa que este muón foi parado e decaiu, e o seu tempo de decaimento medido e plotado na Fig. 2.
São apenas estes múons que são contados no experimento. Por outro lado, múons mais velozes do que
0,9954 c tendem a passar pelo cintilador sem serem absorvidos, apesar de deixarem um pulso no
detector: esses não são contados no experimento. Em uma hora de medição, contaram 563 ± 10
múons, ou seja, um média de 563 com um erro estimado de mais ou menos 10. Este fator teve que ser
corrigido para descontar as coincidências fortuitas entre muóns (que não pararam no cintilador) e
elétrons (que são originados de outros muóns, não registrados). Assim, o valor utilizado foi 550.
Em Cambridge, a ideia seria estimar quantos daqueles 550 múons, selecionados com
velocidade em torno de 0,9952 c, chegariam ao nível do mar. Imaginemos um conjunto de 550 múons
com mesma energia passando pela altitude do primeiro experimento e caindo sobre o detector em
Cambridge. Eles seriam parcialmente desacelerados pelos elétrons da camada de 1907 m de ar, de
forma que, para pará-los no cintilador, seria necessária uma camada mais fina de ferro do que aquela
usada em cima da montanha.

2
Fig. 6. Exemplo da leitura feita no osciloscópio.
O pulso da esquerda é o do múon, ao passo que o
da direita é o do elétron, indicando o decaimento
Fig. 5. James Smith manuseia a fotomultiplicadora, a ser colocada
deste múon específico após 2,9 milissegundos
abaixo do cintilador, de formato cilíndrico. Ao fundo veem-se os
tijolos de ferro, embaixo do qual seria colocado o detector. (FRISCH & SMITH, 1963, pp. 344-5).

Qual seria o número esperado de múons detectados a nível do mar? Para fazer esta estimativa,
é preciso levar em conta o quanto os múons desaceleram na atmosfera, e o resultado calculado por
Frisch & Smith corresponde a uma velocidade média de ̅ = 0,992 c. Assim, o tempo de queda,
medido no referencial do laboratório, pode ser calculado, considerando que a velocidade da luz é c =
2,998⋅108 m/s: ∆t = d/̅ = 1907 / (0,992 ⋅ 2,998⋅108) = 6,41⋅10–6 s .
Olhando para o gráfico da Fig. 4, vemos que, após este intervalo de tempo, o número de
múons a ser detectado no cintilador no MIT é em torno de 30 múons. Isso pode ser calculado
usando a expressão  =  ⋅
/  , para o número N de múons sobreviventes após um tempo t. No
entanto, a contagem experimental de eventos forneceu 408 ± 9 múons, o que deve ser corrigido para o
valor 397. Como explicar esta diferença entre 30 e 397?
A chave é considerar que o tempo médio de decaimento do múon tem o valor de  = 2,21⋅10–6 s
apenas no referencial de repouso do múon. De fato, os tempos de decaimento medidos (Fig. 4)
correspondem a múons a velocidades muito baixas, quase em repouso em relação ao laboratório.
Olhando para a Fig. 4, podemos estimar qual o tempo transcorrido que corresponderia a um
número final de 397 múons, ou calcular usando a expressão do decaimento exponencial, obtendo
∆t’ = 0,72⋅10–6 s . Usando agora a expressão para a dilatação do tempo, ∆t = γ⋅∆t’, obtemos para o
valor experimental do fator de Lorentz: γexp = 8,9 ± 0,8.
Vejamos agora como este resultado se compara com o cálculo relativístico para a dilatação
do tempo no referencial do múon (em relação ao laboratório). Ao invés de trabalhar com a
velocidade média do múon, é mais correto trabalhar com a energia média; como esta é proporcional
ao fator de Lorentz γ = 1 / 1 −   ⁄  , devemos estimar o valor médio de γ . Para as velocidades
inicial e final, 0,9952 c e 0,989 c, os fatores γ são respectivamente 10,2 e 6,8 , de forma que a
média é 8,4. Assim, o valor teórico a ser comparado com o experimental é γteo = 8,4 ± 2.
Vemos assim que há uma boa concordância entre o experimento e a Teoria da Relatividade
Restrita, que prevê o fenômeno da dilatação do tempo.

3
FLF5044 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
“Espaço, Tempo e Relatividade” – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2012

Experimentos Relativísticos 2:
Paradoxo dos gêmeos em aviões
Em 1972, o físico Joseph C. Hafele e o
astrônomo Richard E. Keating1 realizaram um teste da
Teoria da Relatividade, colocando relógios atômicos
em aviões a jato que circunavegaram a Terra em
sentidos opostos. Ao final do experimento, os relógios
nos dois aviões (um indo para oeste, outro para leste) e
o relógio que permaneceu em Washington mostraram
diferenças da ordem de centenas de nanossegundos.
Dois efeitos contribuíram para que os relógios
andassem em ritmo diferente.
O primeiro é efeito de dilatação temporal
cinemática da Teoria da Relatividade Restrita,
explorado didaticamente por meio do chamado
“paradoxo dos gêmeos”. Neste experimento mental,
um gêmeo permanece na Terra ao passo que o outro
viaja para uma estrela próxima e retorna depois de,
digamos, 10 anos contados na Terra: neste caso, o
viajante envelheceu apenas 8 anos, ficando dois anos Fig. 1: Hafele, aeromoça e Keating, em um
mais jovem que seu irmão gêmeo! avião comercial, com dois dos relógios
O segundo efeito é a dilatação temporal atômicos utilizados (fonte: Wikipédia).
gravitacional prevista pela Teoria da Relatividade
Geral. Considere dois pontos em repouso na superfície da Terra, um no nível do mar e outro em
uma montanha, a uma altura h, e suponha que a aceleração da gravidade seja representada
aproximadamente pela mesma constante g nos dois pontos. Neste caso, um relógio localizado na
montanha, marcando um intervalo de tempo ∆t’, caminha mais rápido do que no nível do mar, onde
o intervalo de tempo é ∆t, de tal forma que (na aproximação de campos fracos): ∆t’ = (1 + gh/c²) ∆t,
onde c é a velocidade da luz.
Comecemos analisando o efeito de dilatação cinemática da Teoria da Relatividade Restrita,
no caso do experimento de Hafele-Keating. Faremos um cálculo simplificado, diferente do
experimento real, onde os voos foram feitos fora do equador. Na Fig. 2, são desenhados dois jatos
que saem de um ponto no equador, um para oeste e outro para leste, e se reencontram no mesmo
ponto da superfície, após darem a volta na Terra, após aproximadamente 18h30min. Neste tempo, a
Terra girou em torno do seu eixo, de forma que devemos escolher um referencial externo à Terra,
associado ao espaço absoluto newtoniano, ou ao referencial fixado pela matéria do Universo.
Esses quatro referenciais podem ser desdobrados de maneira linear, como na Fig. 3. O avião
que ruma para oeste acaba tendo uma velocidade menor (em relação ao referencial inercial), já que
ele voa contra o sentido de rotação da Terra. Por outro lado, o avião que ruma para leste adquire
uma velocidade maior, e assim esperamos que sua dilatação temporal seja maior, ou seja, ele
marcará um intervalo de tempo numericamente menor entra os eventos de saída e chegada dos
aviões. Se ∆t é o intervalo no referencial parado, o intervalo no referencial em movimento com
velocidade v é dado por ∆t’ = ∆t / γ , onde o fator de Lorentz é γ = 1 / 1 −   ⁄  .

1
HAFELE, J.C. & KEATING, R.E. (1972), “Around-the world atomic clocks: predicted relativistic time gains”, Science
177, 166-8. “Around-the world atomic clocks: predicted relativistic time gains”, Science 177, 168-70.
1
Fig. 2: Ilustração de dois aviões Concorde saindo (esq.) de Alcântara, no equador, um para leste (L) e outro para oeste
(O), e retornando (dir.) após a circunavegação em cima do equador. O referencial inercial absoluto é representado
externamente, em coordenadas circulares, marcando a circunferência terrestre de 40 mil quilômetros. Os aviões têm
mesma velocidade de 600 m/s em relação à atmosfera, e retornam juntos a Alcântara, mas como a Terra gira para leste
com velocidade 465 m/s (medida na superfície do equador), o avião que ruma para oeste viaja menos em relação ao
referencial absoluto.

Devemos agora aplicar esta fórmula para os três referenciais em movimento. Como a
velocidade do avião Concorde é vA = 600 m/s, e a velocidade de rotação da Terra no equador é
vT = 465 m/s, temos que a velocidade do avião que ruma para leste é vL = 1065 m/s, e daquele que
ruma para oeste é vO = –135 m/s. A distância percorrida pelos aviões na Terra é igual ao perímetro
do planeta: 40.075 km, o que leva a um intervalo temporal de aproximadamente 66.792 s.
Adotaremos este valor para o tempo ∆t transcorrido no referencial inercial.
Calculemos agora a dilatação temporal em cada um dos referenciais em movimento, usando
∆t’ = ∆t / γ , onde ∆t = 66.792 s, e c = 3⋅108 m/s Os resultados estão na tabela abaixo, onde os
atrasos nos relógios em movimento estão expressos em nanossegundos, ou 10–9 s (um bilionésimo
de segundo).

Referencial Velocidade (m/s) Fator de Lorentz γ Atraso no relógio (ns)


Avião para oeste –135 1 + 1⋅10–13 7
–13
Equador da Terra 465 1 + 12⋅10 80
–13
Avião para leste 1065 1 + 63⋅10 421

Com isso, obtemos a previsão de alteração cinemática dos relógios em movimento em


relação à Terra:
Avião para oeste O: ∆TO(c) = +73 ns (piloto ficou mais velho).
Avião para leste L: ∆TL(c) = –341 ns (piloto ficou mais jovem).

Resta agora adicionar o efeito da dilatação temporal gravitacional. Supondo uma altura média de
voo do Concorde de h = 15 km, e tomando g = 9,8 m/s²: ∆t’ = (1 + gh/c²) ∆t = (1 + 16⋅10–13) ∆t.
Para ∆t = 66.792 s, isso corresponde a um avanço no relógio de ∆TO(g) = ∆TL(g) = 109 ns (piloto
fica mais velho). Adicionando os efeitos cinemáticos e gravitacionais:

Avião para oeste O: ∆TO = +182 ns (piloto ficou mais velho).


Avião para leste L: ∆TL = –232 ns (piloto ficou mais jovem).

2
Fig. 3: O movimento circular da figura anterior pode ser desdobrado de maneira linear. O desenho foi feito supondo as
velocidades expressas na direita, mas essas velocidades não se aplicam ao experimento dos aviões. (a) Referencial
inercial absoluto, com marcação de um intervalo de tempo ∆t = 30 s entre a posição inicial (à esq.) e a final (à dir.).
(b) O avião que viaja para oeste percorre uma distância menor, em relação ao referencial inercial, e seu relógio atrasa
2,5 s em relação ao referencial fixo. (c) Na superfície da Terra também ocorre dilatação do tempo em relação ao
referencial inercial, registrando neste exemplo um atraso de 6 s. Este intervalo ∆t” é tomado como a referência no
experimento dos aviões. (d) O avião que ruma para leste tem a mesma velocidade em relação à Terra que o primeiro
avião, só que em sentido oposto. No entanto, o atraso da marcação do seu relógio em relação à Terra (∆t’”– ∆t” = –6 s)
tem valor diferente do adiantamento do relógio do outro avião em relação à Terra (∆t’ – ∆t” = +3,5 s). Essa diferença
ocorre porque a dilatação temporal não é proporcional às velocidades, mas ao fator de Lorentz γ.

Os dados de Hafele & Keating forneceram as seguintes previsões teóricas e experimentais:

Previsão teórica Medição experimental


Avião para oeste ∆TO 275 ± 21 273 ± 7
Avião para leste ∆TL –40 ± 23 –59 ± 10

O experimento foi repetido diversas vezes.2 Em 2010, uma equipe do National Physical
Laboratory, de Londres, fez um voo de circunavegação para oeste, de Londres passando por Los
Angeles, Auckland e Hong Kong. Para uma previsão de 246 ± 3 ns, obtiveram a medição de 230
± 20 ns. A Fig. 4 mostra como a medição de tempo é obtida com os relógios atômicos de césio.

Fig. 4: Diferença temporal entre relógio


no avião e relógio em Londres, antes e
depois da viagem. Antes da partida,
verificou-se que os dois relógios estavam
bem sincronizados, com a manutenção de
uma diferença nula. Após a chegada, a
diferença marcada foi de 230 ns. Nota-se
pela inclinação do traço após a chegada
que o relógio que viajou no avião passou
a correr um pouco mais devagar que
aquele em repouso na Terra.

2
Uma descrição desses experimentos encontra-se em http://en.wikipedia.org/wiki/Hafele-Keating_experiment O relato
da versão da NPL está em http://www.npl.co.uk/news/time-flies, de onde foi tirada a Fig. 4.
3
FIGURA DE FOGUETE COM DOIS RELÓGIOS PASSANDO POR ASTEROIDE COM DOIS RELÓGIOS:

(a) Do lado esquerdo, a passagem do foguete, visto do referencial do asteroide (considerado em repouso), à velocidade 0,6⋅c.
Levando em consideração a “contração do comprimento” do foguete, a distância entre os relógios de cada sistema é a mesma, 100
m. Devido à “dilatação do tempo”, um relógio no foguete (por exemplo, II) corre mais lento do que um relógio no asteroide (III).
Isso é evidenciado pela relação ∆tAD(III) = γ⋅∆t’AD(II), entre os relógios II e III, para o intervalo de tempo entre os eventos A e D, onde
o apóstrofe indica o referencial em movimento. Os eventos B e C, de encontro de relógios, são vistos de maneira simultânea.
(b) Do lado direito, a mesma situação vista do referencial do foguete. Os quatro eventos de encontros entre relógios devem
manter as mesmas marcações temporais: tais eventos locais são “objetivos” ou “invariantes”, não se alterando com o referencial
considerado. Os outros tempos marcados podem ser calculados levando-se em conta as proporções das distâncias percorridas à
velocidade constante. Vemos que os dois relógios de cada sistema não se encontram sincronizados (ao contrário do caso anterior),
ou seja, os eventos de passagem do ponteiro pelo 0 não são mais simultâneos. Vemos que a relação ∆tAD(II) = γ⋅∆t’AD(III) mantém-se
válida (onde o relógio II está agora em repouso, e o III em movimento), ou seja, como no caso anterior, o tempo no referencial em
movimento é dilatado (ou seja, marca um valor menor de tempo).

FLF5089 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física): “Espaço, Tempo e Relatividade”


Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2o semestre de 2012 – USP
FLF5044 –Filosofia da Ciência (Filosofia da Física)
“Espaço, Tempo e Relatividade” – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. – 2012

Derivação da dilatação do tempo e da contração de


comprimentos usando o interferômetro de Michelson
1. O interferômetro de Michelson

O interferômetro desenvolvido por Albert Michelson em 1881 é um aparelho óptico no qual


a luz é dividida e recombinada, de forma a exibir interferência. Na Fig. 1, a luz provém da fonte à
esquerda, sendo representada como um trem de ondas senoidal, e incide em no espelho semi-
refletor S, onde é dividida em dois componentes. O componente que ruma para o espelho E1 é
representado por ondinhas em negrito, ao passo que o que ruma para E2 é representado por uma
linha ondulada mais fina. Esses dois componentes refletem nos espelhos e voltam (formando as
ondas estacionárias da figura). Consideremos a ondinha que foi refletida em E1, a uma distância L1:
ao retornar a S, ela é novamente dividida em dois componentes (em negrito). Algo semelhante
acontece com a ondinha refletida em E2, que percorreu a distância L2. Se L1= L2, então ocorre algo
curioso: as ondinhas que rumam para o detector D interferem construtivamente, se adicionando, ao
passo que as ondinhas que retornam para a fonte de luz se cancelam, destrutivamente. Qualquer
pequena variação em L1, por exemplo, altera essa condição de interferência construtiva em D, pois
aí a onda em negrito avança ou atrasa um pouco em relação à onda mais fina, cancelando-se
parcialmente, e alterando a intensidade detectada em D. Vemos assim que o interferômetro é
sensível a variações muito pequenas de comprimentos, menores que um micrômetro (10–6 m), ou
seja, menores que o comprimento de onda da luz visível.

Fig. 1: Interferô-
metro de Michelson.

1
2. Quando Aquiles alcança a tartaruga?

Para analisarmos o funcionamento do interferômetro em movimento, precisamos determinar


quando dois objetos a diferentes velocidades se encontram. Para isso, considere o exemplo de
Aquiles, que corre a uma velocidade c, e tenta alcançar uma tartaruga que corre a uma velocidade v,
puxando um carrinho com uma corda de comprimento L.

Fig. 2a: Aquiles alcança a tartaruga Fig. 2b: Aquiles retorna até o carrinho
no tempo ∆t1. no tempo ∆t2.

Na Fig. 2a, Aquiles e a tartaruga correm no mesmo sentido, e se encontrarão após um


intervalo de tempo ∆t1, igual à distância percorrida dividido pela velocidade. No caso de Aquiles,
∆t1 = (L+δL)/c, e no caso da tartaruga, ∆t1 = δL/v. Com isso, encontramos que δL = vL/(c – v), e
portanto ∆t1 = L/(c – v).
Na Fig. 2b, após ter alcançado a tartaruga, Aquiles dá meia volta e corre em sentido
contrário até encontrar o carrinho puxado pela tartaruga. Analogamente ao caso anterior, ∆t2 =
(L–δL)/v = δL/c, e portanto ∆t2 = L/(c + v).

3. Interferômetro em movimento

Considere que o interferômetro de Michelson está localizado dentro de um foguete, que se


desloca a uma velocidade v em relação ao referencial da estação (por exemplo, num asteroide).
Segundo a Teoria da Relatividade Restrita, a velocidade da luz c é invariante em relação ao
referencial. Podemos assim analisar a situação no referencial do interferômetro (Fig. 1) ou no
referencial da estação (Fig. 3).
Ao fazermos essa análise no braço que leva a E2 (perpendicular ao movimento da nave),
recairemos na derivação da dilatação do tempo, que relembraremos na seção seguinte. A seguir,
poderemos analisar o que ocorre no braço que leva a E1 (paralelo ao movimento do foguete),
utilizando os resultados da corrida de Aquiles e a tartaruga, obtendo a contração do comprimento.
Notemos que não estamos fazendo uma análise do experimento de Michelson-Morley, de
1887, que pressuponha a existência do éter luminífero (o que é feito nos livros didáticos), mas sim
analisando o experimento segundo a Teoria da Relatividade Restrita, com a finalidade de derivar a
dilatação do tempo e a contração temporal.

2
Fig. 3: Interferômetro de Michelson em uma nave com velocidade v em relação à estação.

4. Dilatação do Tempo

Relembremos agora como a dilatação do tempo foi derivada em sala de aula. No referencial
do foguete (Fig. 4a), a luz é emitida no evento A, percorre a distância vertical L2, reflete no espelho
e retorna, sendo detectada como o evento B. Usando a definição de velocidade média como
v = ∆x/∆t, inferimos que o tempo transcorrido entre os eventos A e B é: ∆t’ = 2L2/c.
Passando agora para o
referencial da estação, no asteroide, a
luz percorre uma distância maior com a
mesma velocidade c. Assim, o tempo
medido ∆t, entre os eventos A e B,
deverá ter um valor numérico maior. O
teorema de Pitágoras, aplicado ao
triângulo da Fig. 4b, fornece:
L22 + (½ v ∆t)2 = (½ c ∆t)2 .
Isolando o intervalo de tempo, obtemos:
૛ࡸ૛ /ࢉ
∆t = = γ∆t’ ,
ට૚ି࢜²
ࢉ²
onde utilizamos a expressão obtida
anteriormente para ∆t’, e a definição do

fator de Lorentz, γ = , que é ≥ 1.
ටଵିೡ²
೎²

Fig. 4: Esquema de derivação da dilatação do tempo.

3
5. Contração do comprimento

Consideremos agora o braço que leva a E1 (paralelo ao movimento do foguete na Fig. 3). O
evento A (na Fig. 3) corresponde ao início da corrida de Aquiles (na Fig. 2), de forma que a luz
alcançará o espelho E1 após um tempo ∆t1 = L1/(c – v). Na volta, a luz refletida, de maneira análoga
a Aquiles, retornará até o evento B no tempo ∆t2 = L1/(c + v). O tempo total entre os eventos A e B,
no referencial da estação (no asteroide), é a soma:
௅భ ௅భ
∆t = ∆t1 + ∆t2 = + .
௖ି௩ ௖ା௩
Mas esse tempo é o mesmo que o obtido para o deslocamento vertical da luz (seção 4), já que o
intervalo temporal AB é marcado pela separação dos dois feixes e pela recombinação deles.
ଶ௅మ
∆t = γ ∆t’ = γ .

Os comprimentos L2, L2’, são o mesmo para ambos os referenciais (pois está na direção
perpendicular ao movimento da nave) e, no referencial em movimento, temos L2’ = L1’ (pois neste
referencial o interferômetro está parado).
Assim, podemos igualar os intervalos de tempo, considerando L = L1 (para simplificar) e
L’ = L1’ = L2:
௅ ௅ ଶ௅′
+ = γ .
௖ି௩ ௖ା௩ ௖
Um breve cálculo resulta na expressão para a contração dos comprimentos:

L = L’ .
γ

6. Discussão

Ao observarmos o foguete passando, medimos o comprimento de qualquer objeto dentro do


foguete como sendo L. Isso é feito tomando-se dois eventos simultâneos no referencial da estação:
∆t = 0. Já no referencial do foguete este objeto é medido com comprimento próprio L’, maior do
que L. Por exemplo, seguindo o exemplo visto em aula, para v = 0,6 c, e portanto γ = 1,25, um
foguete de L’ = 125 m é medido no asteroide como tendo L = 100 m.
A dilatação do tempo é medida a partir de dois eventos que ocorrem no mesmo local do
referencial em movimento: ∆x’ = 0. Dois eventos registrados localmente por este relógio fornecem
um intervalo ∆t’ que é numericamente menor do que a medição ∆t feita no referencial da estação
(em posições diferentes). É como se o minuto marcado no referencial em movimento se dilatasse,
resultando em uma marcação numericamente menor.
Notamos que as definições usadas nos dois casos referem-se um intervalo (espacial ou
temporal) zero definido em referenciais diferentes, o que está relacionado com o fato de γ estar em
diferentes posições em ∆t = γ∆t’ e L = (1/γ)L’.
Os resultados obtidos para dois eventos A e B separados por ∆t = 0, e separados por ∆x’ = 0,
podem ser generalizados para quaisquer dois eventos através das transformações de Lorentz,
obtidas pelo físico holandês em 1899 (e por Larmor em 1900):

∆t) ,
∆x’ = γ (∆x – v∆

∆t’ = γ (∆t – ࢉ૛ ∆x) .

4
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Cinco Interpretações Básicas da Teoria da Relatividade Restrita


Numa análise preliminar, podemos dizer que há duas classes de interpretações da Teoria da
Relatividade Restrita, uma einsteiniana e outra lorentziana. A primeira, que é dominante desde a 1a
Guerra Mundial, nega que o conceito de simultaneidade tenha significado absoluto, mas ela se divide
em duas interpretações distintas com respeito à dilatação do tempo e à contração dos comprimentos:
(1) Relativismo relativístico. A dilatação e contração são reais, mas dependem da perspectiva
do referencial em questão. Um foguete possui de fato um tamanho de 125 m no próprio referencial, e
possui de fato um tamanho de 100 m no referencial do asteroide. Assim, a realidade é relativa ao
observador.
(2) Perpectivismo relativístico. O tempo próprio e o tamanho próprio são reais, independente
do referencial. As observações feitas de diferentes referenciais sofrem de “efeitos de perspectiva”,
deformando as medições de tempo e espaço. Apenas do próprio referencial é que observamos
diretamente os tempos e comprimentos reais. Não há, porém, plano de simultaneidade absoluto
concernente a dois eventos com separação tipo tempo.
(3) Convencionalismo relativístico. Uma classe importante de interpretações, iniciada por
Poincaré e Reichenbach, considera que a tese de que a luz de propaga à mesma velocidade nos dois
sentidos (pressuposto ao se definir o critério de simultaneidade entre eventos distantes) é uma
convenção arbitrária, que poderia ser modificada sem alterar as previsões empíricas da teoria. Assim,
o plano de simultaneidade adotado é uma mera convenção.
As interpretações lorentzianas são aquelas que privilegiam um dos referenciais inerciais, que
pode ou não estar associado ao éter luminífero.
(4) Relatividade relativa ao éter. Haveria um referencial inercial absoluto: porém, o estado de
movimento de um corpo em relação a este éter ocasiona a contração física deste corpo (devido a
alterações nas forças intermoleculares) e também a mudança no ritmo dos ciclos associados (que
afeta a medição do tempo). Porém, é impossível determinar experimentalmente qual é a velocidade
de um referencial em relação ao éter. O tamanho medido do foguete em relação ao asteroide é
resultado das contrações ocorridas em ambos os referenciais.
(5) Interpretação dinâmica das contrações e dilatações. Há uma tradição interpretativa que
busca encontrar uma descrição “construtiva” de porque ocorre contração espacial de corpos (ao estilo
mais de FitzGerald do que de Lorentz) e alterações de período (ao estilo de Larmor), a partir do
estudo dinâmico de processos moleculares (incluindo possivelmente a Física Quântica), sem no
entanto exigir a existência de um referencial absoluto. A abordagem “construtiva” buscaria
fundamentar os princípios da Teoria da Relatividade de Einstein, de maneira análoga a como a
Mecânica Estatística busca fundar a 2a Lei da Termodinâmica. Nesta linha, Bell salientou1 que:

Não precisamos aceitar a filosofia de Lorentz [da realidade do éter] para aceitar uma pedagogia
lorentziana. Seu mérito especial é levar adiante a lição de que as leis da física, em qualquer
referencial único, dão conta de todos os fenômenos físicos, incluindo as observações de
observadores em movimento.

1
Sobre esta interpretação, ver BROWN, H.R. (2005), Physical relativity, Clarendon, Oxford. No cap. 7, ele examina este
ponto de vista em diferentes autores, como William Swann (1930), Lajos Jánossy (1971) e John Stuart Bell (1976),
mencionando também trechos que se aproximam desta concepção em Einstein, Weyl e Pauli. A citação de Bell é retirada
do livro de Brown, p. 6, que inclui o trecho entre colchetes. O original é BELL, J.S. ([1976] 1987), “How to teach special
relativity”, em seu Speakable and unspeakable in quantum mechanics, Cambridge U. Press, pp. 67-80.

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