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27/03/2017 Anotações sobre o pensamento de Bakhtin

ANOTAÇÕES SOBRE BAKHTIN
 
Verbetes do curso "Tópicos de Lingüística V",
 ministrado pelo Prof. Dr. João Wanderley Geraldi,
sobre o pensamento de Mikhail M. Bakhtin,
anotados entre julho e novembro de 2003
 
Wilson David
wilsondavid@cpfl.com.br
 
À guisa de apresentação
 
 O  gênero  "Anotação"  só  se  justifica  no  ambiente  de  aula,  e  tem  como  primário  o  mundo  da  vida  e  da  cultura
interconectados pelo ato responsável (Postupok) de mediação do mestre em infinita dialogia com o aluno. O estudante,
cujo  Eu  se  desloca  para  o  lugar  do  sujeito  da  empatia,  subsume  novamente  esse  Eu  que  volta  enriquecido,
humanizado, despertado. Como escreveu Maria Zambrano, Y el maestro ha de ser quien abra la possibilidad, la realidad
de outro modo de vida, de la de verdad. La ignorancia despierta es ya inteligencia em acto. Ignorancia y saber circulan
y  se  despiertan  igualmente  por  parte  del  maestro  y  del  alumno,  que  sólo  entonces  comienza  a  ser  discípulo:  Nace  el
diálogo.
 
O Professor Jorge Larrosa, catedrático eminente da Universidade de Barcelona, Espanha, durante uma palestra
no  Centro  de  Convenções  da  Unicamp  em  agosto  de  2003,  apresentou  as  categorias  essenciais  da  obra  de  Maria
Zambrano, escritora pouco conhecida no Brasil e ainda não traduzida em Língua Portuguesa. Para ela, ler é defender a
solidão em que se está, solidão específica que é uma comunicação.
 
O ato responsável de escrever e ler se justifica porque temos falado demais, e na oralidade as palavras circulam
depressa  demais,  sentimo­nos  fora  de  nós  mesmos,  nossas  palavras  nos  atacam.  Dizemos  as  palavras  e  as
perdemos.  A  leitura  e  a  escrita  são  meios  de  deter  o  tempo  crônico,  veloz,  que  nos  arrasta.  No  ler  e  no  escrever
podemos  sentir  as  palavras  de  uma  forma  diferente,  mudamos  nossas  relações  com  as  palavras,  para  que  alguma
coisa seja tirada do silêncio.
 
Para Maria Zambrano, estudar tem a ver com a amizade com as palavras. A sala de aula é o lugar da voz e, tal
qual as clareiras dos bosques, é onde aprendemos a ouvir. A voz do destino se ouve mais do que a figura do destino
se vê.  Ao ler temos que ir ao encontro da palavra, que também vem até nós. Mas se entramos distraidamente numa
aula, a palavra que nos é destinada chega melhor, pois não estamos preocupados com outras coisas, ou seja, nossa
abertura e disponibilidade é maior. A palavra dita é fluida, o espírito é vivo, pertence ao mundo da vida. A letra escrita é
morta e precisa de nossa vida para viver. Esses conceitos remetem a Aristóteles, para quem o  que está na voz é o
símbolo dos padecimentos da alma. Há elementos da voz que não podem ser escritos: gemidos, balbucios, sussuros.
Um  bom  estudante  vai  à  aula  para  ouvir,  não  para  perguntar.  O  mestre  não  é  alguém  a  quem  perguntar,  mas
ante quem procedemos ao ato responsável de perguntar a nós mesmos o que não sabemos. A finalidade do professor é
produzir conversa, dialogia. Na sala de aula, a conversa tem qualidades específicas, há acontecimentos e acasos, mas
temos que tirar algum resultado de conhecimento.
 
Esta  coleção  de  verbetes  é  uma  organização  em  ordem  alfabética  de  anotações  feitas  durante  as  aulas  do
Professor Dr. João Wanderley Geraldi, durante o curso "Tópicos de Lingüística V", ministrado no segundo semestre de
2003  no  Instituto  de  Estudos  da  Linguagem  da  UNICAMP.  Sua  apresentação  como  trabalho  final  do  curso  tem  como
objetivo fixar os conceitos principais discutidos durante as aulas, e assim transformá­los em uma ferramenta de auxílio
à memória. Oxalá estas anotações sejam válidas como fontes primárias para outros estudantes.
 
 
Acontecimento: A nova unidade real do mundo deixa de ser produto de mente abstrata (mundo das idéias)
definição a partir para  ser  experimentada  no  concreto.  Partindo  desse  pressuposto,  Bakhtin  começa  a
de sua concretude estudar os romances de Goethe,  mostrando  a  noção  de  acontecimento  como  componente
essencial  e  irremovível,  e  não  mais  fragmentos  de  tempos  determinados.  A  noção  de
acontecimento adquire essencialidade única, unitária, geograficamente localizada, uma vez
que o acontecimento é da ordem do humano, interfere no humano e na natureza justamente
por ser geograficamente localizado.
 
Alteridade e São  duas  categorias  essenciais  em  Bakhtin.  Quando  escrevemos  temos  no  horizonte  um
Dialogismo interlocutor,  digo  o  que  construí  e  o  Outro  entende  e  pode  fazer  uma  outra  construção  em
cima disso e me retornar. Daí a Responsabilidade. No processo de dialogia de Bakhtin, os
sujeitos do diálogo  se  alteram  em  processo  (devir).  O  Diálogo  é  uma  corrente  inserida  na
cadeia  infinita  de  enunciados  (atos)  em  que  a  dúvida  leva  a  outro  ato  e  este  a  outro,
infinitamente.  O  enunciado  afirmado  por  alguém  passa  a  fazer  parte  de  todos  os
enunciados,  numa  cadeia  infinita.  O  mundo  ético  é  fluido  e  concreto,  enquanto  que  a
historicidade  do  ser  em  evento,  participante,não  é.  O  centro  de  valores  se  dá  fora  do
humano  em  toda  a  humanidade,  considerando­se  a  natureza  como  centro  irradiador  da
verdade. A identidade é dada pela alteridade.

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Análise do Bakhtin  faz  a  descrição  da  arquitetônica  real,  e  somos  levados  a  perguntar  qual  seria  a
discurso importância dada à estrutura e ao ato individual e concreto. Na análise de um discurso real,
teríamos  que  reconhecer  a  incapacidade  de  se  fechar  um  modelo,  para  não  termos  a
pretensão de dizer "O discurso é isso", como Pravda. Os manifestos na cadeia infinita  de
enunciados não têm fechamento, apesar de serem reais e acabados, pois podemos indicar
possíveis vazios. Por exemplo, na sala de aula, o momento de "Eureka" do aluno é único e
cada um tem o seu. Esse momento pode se dar até anos depois do momento da aula.
 
Assinatura, Transcendente  significa  "fora  dos  limites  do  possível  "(  Divino).  Transgrediente  significa
Transcendência e "fora do que está sendo pensado ". Para a Sociologia Funcionalista, cada um faz um papel
Transgressão determinado,  e  por  esse  ponto  de  vista  podemos  construir  um  álibi  da  existência.  No
entanto,  quando  transgrido  um  papel,  assumo  que  aquele  era  um  papel.  Em  Bakhtin
assoma o conceito de assinatura, que é fazer o papel responsavelmente, ato responsável,
no  qual  não  tenho  álibi  de  minha  existência.  Esse  reconhecimento  da  unicidade  de  minha
participação (assinatura) é a própria ação realizada, ação única minha nesse mundo.
 
Ato da Empatia Ato necessário mas insuficiente na contemplação estética como um todo. Na contemplação
estética  nós  "nos  perdemos"  inteiramente  no  objeto  da  percepção  de  maneira  que  não
somos mais capazes de separar o observador da percepção.

Ato histórico Ato realizado em um tempo particular e em um lugar particular por um indivíduo particular,
ato único (once ocurrent), singular, "o um e somente".

Auto­atividade Operação ativa do Ego, espontaneidade (Kant).
 
Barthes "Eu não falo a língua:  a língua fala em mim". Portanto, sou porta­voz de minha formação,
não tenho responsabilidade. Sob esse ponto de vista, é irrelevante qualquer discurso, pois
todos  os  discursos  estão  previstos.  Bakhtin  não  concorda,  pois  para  existir  começo,  é
preciso  rompimento  com  o  já  dito.A  noção  da  indeterminação  na  Física  é  difícil  de  se
introduzir nas Ciências Humanas, pois esta só reconhece o "já dito".
 
Cadeia infinita de Entramos  na  cadeia  de  enunciados  falando,  e  a  palavra  alheia  pode  se  transformar  em
enunciados palavra própria, assumimos como própria mas é dada para mim (esquecimento da origem).
"Eu  dou  com  esse  mundo"  em  cuja  cadeia  infinita  de  enunciados  há  a  noção  de
possibilidade de ruptura, de mudarmos nossas direções. O sujeito é participativo na própria
interpelação e, se negasse a existência de uma estrutura prévia, não se poderia "dar com o
mundo". Na cadeia infinita de enunciados, a cultura é objetiva e a vida é concreta.
 
Categoria da Nos  romances  de  Walter  Scott,  Bakhtin  encontra  a  noção  cronotópica  que  incorpora
irreversibilidade elementos  do  folclore  (histórico­popular),  o  olhar  o  espaço  com  perspectiva  de
do tempo temporalização.  Se  pensarmos  o  tempo  como  desespacializado,  o  tempo  se  torna
reversível,  como  voltar  ao  tempo  zero,  sempre  fixo,  como  a  verdade  científica  (Istina­
tempo da ciência moderna). Por exemplo: tomo consciência do surgimento de uma estrela
depois e calculo o tempo pela noção de espaço, pela distância entre eu e ela. Assim, tempo
e  espaço  são  diferentes  e  não  cronotópicos.  Porém,    X  não  pode  voltar  a  ser  Y,  pois  o
tempo  é  irreversível:  uma  molécula  de  água  em  que  um  cientista  trabalha  incorpora  esse
trabalho, tem historicidade.
 
Categoria de Aptidão  de  Goethe  de  ver  o  movimento  invisível  do  tempo,  o  espaço  se  modificando
Tempo e tornando a história indissociável da comunidade. Por exemplo, em Roma, um arquiteto pode
Movimento em olhar  para  as  ruínas  de  duas  formas:  a) Recuperação  ­  voltar  ao  "status  quo  ante",  com
Goethe olhar presente para o passado e não para o futuro, esquecendo­se de que o ambiente não é
mais o mesmo; e b) Ruínas: constrói­se em cima um centro cultural em que a parte antiga
é incorporada ao novo, é decoração do mesmo. Com as idéias do passado no presente, as
ruínas  não  são  um  corpo  estranho  no  presente,  mas  sim  um  lugar  necessário  na
continuidade do tempo histórico. O passado está no presente e é produtivo, criador e ativo,
funcionando  como  base  e  alavanca  de  uma  transformação.    Uma  cidade  funciona  como
local  dos  poderes,  como  em  Roma,  onde  a  circularidade  na  arquitetura,  as  formas
arredondadas,  remetem  à  noção  de  eternidade  do  Poder  Temporal  e  Espiritural  (Coliseu,
Vaticano).  Diante da ruína de uma igreja, não posso imaginar um mundo ateu.
  As categorias de caracter, fusão do tempo, marca do tempo no espaço, tempo que remete
ao  lugar  concreto  de  sua  realização,  a  atividade  criadora  do  tempo,  o  tempo  ligado  ao
espaço  e  ao  tempo  em  si,  nos  remetem  às  noções  de:  a)  Plenitude:  os  locais  não  são
neutros com relação aos acontecimentos, existe integridade e enxergar no espaço a marca
do tempo que tem uma forma e dá ao espaço um sentido; e b) Necessidade: presente nas

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leis  da  criação  do  homem,  que  explicamas  diferenças,  por  exemplo,  entre  os  países
nórdicos e a Espanha.
 
Categoria do Na cronotopia de Rousseau, encontramos o componente romântico, idílico, o mito do "bom
tempo em selvagem", porém o tempo histórico é o da decadência. O passado é idílico, ideal, e o devir
Rousseau é voltar a ser o que se deixou de ser.

Categoria Sintática Numa  frase  de  publicidade  tal  como  "Compre  agora  e  economize",  a  categoria  sintática  é
e Categoria um período composto por coordenação com dois verbos. Já a categoria semântica nos faz
Semântica pensar  em  oração  condicional  também,  devido  ao  significado  implícito  que  remete  ao
conjunto  de  modos  de  vida:  compre  agora  pois  amanhã  o  preço  vai  subir,  implicando  em
economia, excedente de capital para acumular, que não pode ser gasto sem necessidade.
 
Cisão da Bakhtin  oferece  uma  crítica  à  cisão  da  eventicidade  do  ser  em  duas  partes:  1)  a
eventicidade do experiência vivida, os atos (inclusive o de pensar), realizados no mundo da vida, que é o
ser mundo  da  realização  da  atividade,  de  atos  realizados  que  são  impenetráveis  em  sua
unicidade;  e  2)  o  mundo  da  cultura,  mundo  dos  sentidos,  dos  atos  interpretados,  dos
conteúdos,  tratado  pelo  autor  como  uma  realidade  objetiva,  uma  unidade  estruturada  na
atividade  objetivada.  A  cultura  é  apresentada  como  unidade  objetiva  de  atos  objetivados.
Exemplo:  se  dizemos  "Senti  dor",  estamos  abstraindo  esse  sentimento  objetivamente
através de um enunciado criado graças à linguagem, que é a atividade semi­estruturada da
experiência vivida,  pertencente  ao  mundo  da  cultura.  No  mundo  da  vida,  o  sentimento  de
dor  é  uma  experiência  vivida  impenetrável,  pois  ninguém  pode  sofrer  em  lugar  de  outro.
Assim, esse sentimento é único, singular e irrepetível em cada pessoa. 
 
  A cisão de princípios entre o conteúdo semântico de um ato­atividade e a realidade histórica
de  sua  existência  (vivência  real)  é  comum  ao  pensamento  teórico­discursivo  (filosófico  e
científico­naturalista), à representação­descrição histórica e à intuição estética. Essa cisão
faz o ato­atividade perder o seu caráter integral e a unidade de sua constituiçao viva e sua
autodeterminação.
 
Cognição Juízo  verdadeiro  que  afirma  um  valor  ou  nega  um  desvalor  ("afirmação­negação"  de
Rickert).  Para  o  neokantismo,  é  a  identificação  ou  reconhecimento  de  um  dever
transcendente,  o  reconhecimento  de  valores  ou  a  condenação  de  desvalores.  Na  área  da
cognição,  se  a  unidade  real  da  língua  é  a  interação  verbal,  caímos  na  responsabilidade
singular.  A  Arte  (Literatura)  é  o  lugar  das  diferenças,  pois  a  obra  de  arte  se diferencia dos
outros  objetos,  inclusive  na  interação  verbal,  em  que  encontro  um  conjunto  de  processos:
tema (único) e significação (repetição). A filosofia de Bakhtin aponta a diferença na Ciência,
e não a semelhança, considerando  que  o  ponto  de  abstração  é  apenas  o  pressuposto  que
vai da semelhança para a diferença. Questiona, assim, o modo de fazer Ciência, admitindo
verdades  particulares  e  não  universais,  pois  reescrevemos  a  vida  em  cada  Ato.  ("O
caminho se faz ao caminhar", verso de Antonio Machado, poeta espanhol).
 

Conquista Para conhecer a realidade finita, empírica, essa realidade precisa de conformar à estrutura
copernicana de da  mente  humana,  e  não  a  mente  à  realidade.  Os  objetos  devem  ser  vistos  conforme  o
Kant pensamento humano.  Trata­se  de  um  conceito  de  "consciência  universal".  Kant  definia  a
razão  enquanto  fórmula  do  raciocínio.  Nos  anos  20,  essa  filosofia  colocava  a  ciência
(mundo  teórico)  como  justificável  e  inviolável  (o  real  é  o  que  enxergo).  Para  Bakhtin,  é  o
mundo da estrutura que quer se passar como o todo, pois a descoberta de um elemento "a
priori" em nossa cognição não abre um caminho para fora da cognição. É preciso criar um
subjectum  teórico  para  essa  auto­atividade  transcendente,  um  subjectum  historicamente
não­real.  São  sem  esperança  as  tentativas  de  superar,  de  dentro  da  cognição  teórica,  o
dualismo da cognição e da vida, o dualismo do pensamento e da realidade única concreta.
À medida que entramos no conteúdo destacado do ato cognitivo (ato de abstração), somos
controlados por suas leis autônomas. Assim, não estamos mais presentes nele como seres
humanos individualmente e responsavelmente ativos.
 
Consumidor e Se vivo como consumidor, vivo uma vida desencarnada, prevista pela cultura de massa, ao
Usuário contrário do usuário, que faz  seus  caminhos,  suas  táticas.  Qualquer  peça  de  um  conjunto
tratado  como  massa  é  substituível.  Os  sistemas  de  avaliação  dos  consumidores  não
incorporam  os  processos  de  vida.  O  consumidor  é  passivo,  enquanto  que  o  usuário
transforma o produto em instrumento de nova produção.
 
Contemplação Uma  obra  é  estética  quando  há  um  acabamento.  A  contemplação  estética  é  holística
estética (enxerga o todo). Na unicidade  do  ato  da  contemplação,  sabemos  se  uma  obra  é  clássica
(começamos a dar sentido), enxergamos a beleza (é bela), e no olhar construímos o objeto.
A visão estética (estetização) é a tentativa de lançar­se no não­ser, pretende ser uma visão
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A visão estética (estetização) é a tentativa de lançar­se no não­ser, pretende ser uma visão
filosófica do ser unitário e único em sua eventicidade e está condenada a fazer passar uma
parte abastratamente isolada  como o todo real. A filosofia do esteticismo põe dentro do Eu
a  contemplação.  Para  Bakhtin,  ao  contrário,  compreender  o  objeto  é  compreender  o  meu
dever  em  relação  a  ele  (Responsabilidade).  O  conteúdo  da  contemplação  é  dado  pela
cultura  (conjunto  de  categorias,  mas  o  Ser  contemplativo  é  o  lugar  para  onde  me  desloco
quando  dou  sentido  ao  objeto,  e  volto  subsumido  pelo  ser­único­em­evento,  e  volto
enriquecido,  com  responsabilidade,  com  pensamento  participativo.Na  decisão  que  tomo,
tenho responsabilidade frente a um horizonte de possibilidades (faço, não faço).  Esse Ser
da  contemplação  estética  sou  eu  mesmo  e  não  sou  eu.  Devo  compreender  o  objeto  em
relação ao meu ser (evento único).
 
  Analisando  o  mundo  da  visão  estética,  percebemos  que  o  mundo  da  Arte  está  mais  perto
do mundo unitário e único. No romance, o ser humano é representado por um herói. Como
no  poema  "Separação",  escrito  em  1830  por  Pushkin,  há  dois  centros  de  valores,  dois
centros reais e concretos: o herói e a heroína. O centro dela é subsumido pelo autor­herói e,
pela  interpenetração  dos  dois  centros,  do  ponto  de  vista  dele  a  pátria  é  distante  (Itália)  e
esta  terra  é  estrangeira,  porque  do  ponto  de  vista  dele  ela  está  partindo.  Ela  está
retornando,  mas  ele  transforma  o  retorno  em  partida.  Como  leitor  sou  observador  desses
dois  centros,  pois  estou  fora  de  mim  e  observando  quem  está  fora  de  mim  (exotopia  em
relação ao autor e ao herói). O retorno a mim mesmo é conseqüência da leitura, e traz algo
para  minha  formação.  O  que  eu  sou  subsume  o  meu  eu­leitor,  que  subsumiu  os  outros
centros  de  valores  (herói,  narrador).  Esse  objeto,  do  ponto  de  vista  de  seu  conteúdo,  será
único  para  cada  leitor  (empatia  estética).  É  inescapável  que  a  recepção  se  encontra  na
exotopia.  Assim,  a  crítica  literária  sempre  se  constitui  numa  disciplina  prática,  não
científica.
 
Crise dos Se  na  singularidade  a  verdade  adquire  peso  no  nível  do  evento  (Pravda),  será  que  temos
paradigmas que  abandonar  a  garantia  dos  enunciados  da  ciência  ?  Será  que  temos  que  apostar  mais
contemporâneos nas  enunciações  do  que  nos  enunciados  (verdades  transitórias)  ?  Bakhtin  assume  um
contra­método e  nos  leva  a  perguntar  o  que  é  "conhecer"  e  como  dar  conta  do  "conhecer"
diferente  do  "viver".  A  história  da  Ciência  é  a  história  do  método  e  o  questionamento  ao
modo  de  fazer  ciência  nos  leva  à  perda  das  garantias.  .  Ex:  o  método  de  construção  da
trama  na  literatura  policial  em  que,  a  partir  de  indícios  descobrimos  quem  é  o    autor  do
quadro  ou  do  crime,  e  há  um  só  ponto  de  solução  para  o  enigma.  Para  enxergar  indícios,
deve  haver  uma  hipótese:  a  dúvida.  No  discurso  da  interação,  temos  um  conjunto
heteróclito de indícios, em que todos eles indicam para todos. A saída metodológica pelos
paradigmas indiciários na literatura leva à solução do enigma, mas na unicidade do ato cada
uma das possibilidades é singular.
  Considerando­se a cultura como produto dos atos da vida, a crise contemporânea se deve
ao abismo entre o motivo do ato realizado e seu produto, uma vez que de dentro do produto
não  se  corrige  o  ato  praticado  sem  o  conflito  de  interesses,  sem  antagonismos  ou
respeitando­se  o  interesse  mútuo.  Somente  a  responsabilidade  pode  dar  conta  da  cisão
desses  dois  mundos:  o  da  vida  e  o  da  cultura.  Assim,  todo  enunciado  universal  não  é
essencial  para  o  momento  da  concretude,  pois  o  universal  não  explica  o  singular.  Bakhtin
valoriza  a  experiência  singular  e  única,    indicando  que  a  experiência  de  excluirmos  a
experiência trouxe desencanto (crise dos paradigmas).
 
Cronotopia  As questões  cronotópicas  são  questões  do  tempo  e  espaço  na  literatura  e  estética.  Na
tipologia,  a  natureza  aparece  como  estática  nos  romances  de  viagens  e  como  pano  de
fundo  nos  romances  de  provas.  Nas  biografias  o  tempo  é  o  ciclo  de  vida  do  sujeito,  e  no
romance  de  formação,  encontramos  vários  tipos  de  conseqüências  dos  outros  três,  como
no  Realismo  do  Século  XVIII.  A  visão  do  tempo  na  antiguidade  se  dava  pelo  ciclo  das
estações (circularidade = Fênix). Goethe introduz a noção de enxergar o tempo na natureza,
que  não  é  estática  e  contém  as  marcas  do  correr  do  tempo.  O  espaço  adquire  do  tempo
histórico as marcas, é marcado por indícios do passado e do presente. O passado diante de
mim,  marcado  na  natureza  pela  criação  do  homem.  O  artista  decifra  os  desígnios  mais
complexos  do  homem:  criações,  ruas,  casas.  O  tempo  não  é  só  cíclico,  mas  histórico.
Essa descoberta de Goethe é elogiada por Bakhtin, é a humanização do humano.
 
  O  tempo  cíclico  se  resolve  na  imutabilidade,  a  morte  produz  vida,  o  que  permite  o
desenvolvimento do romance  realista.  Ex:  A  festa  de  São  João  retorna  todo  ano,  o  tempo
cíclico se  renova  e  permanece  o  mesmo,  mas  a  festa  deste  ano  é  a  soma  de  todas  as
outras. Cronotopos, como leitura do tempo e espaço, é uma crítica à idéia de classificação
dos  fenômenos  quando  introduz  o  conceito  de  multitemporalidade.  Não  vê  o  processo  de
classificação por justaposição, mas sim por filiação.
 
Deixis As  categorias  dêiticas  alto,  acima,  abaixo,  finalmente  (deixis  espaciais  e  temporais)  e
outras expressões dependem de conceitos ou do contexto. Ex: João e Paulo têm a mesma
altura: ambos são anões. João é tão alto quanto Pedro: têm 1,90 m.
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altura: ambos são anões. João é tão alto quanto Pedro: têm 1,90 m.
Denotação e A  denotação  está  associada  ao  mundo  da  cultura,  e  a  conotação  ao  sentido  no  ato
Conotação concreto.  Para  Bakhtin,  o  trabalho  do  ato  denota  as  conotações.  No  trabalho  poético  ,  no
trabalho não referencial, não pragmático "conotativo', denotamos a conotação todo o tempo,
pois o ato concreto da contemplação estética é denotativo.
 
Determinação da Para Bakhtin, qualquer espécie de orientação prática da minha vida é impossível no interior
teoria pela vida do  mundo  teórico.  A  verdade  teórica  é  um  processo  no  interior  da  teoria  com  suas
prática, e da vida categorias  de  validade.  A  teoria  pode  estabelecer  verdades  eternas  universais,  mas  só
prática pela teoria. naquela  teoria.  Ex:  para  Ptolomeu,  o  sol  girava  em  torno  da  Terra.  Toda  teoria sonha com
um  mundo  para  sua  realização  (teoria  para  a  prática),  mas  a  vida  prática  (inacabada)
interfere  na  teoria.  Bakhtin  não  funda  uma  estética  com  base  analítica  prévia  pois  o  ato
concreto não é um reflexo, mas sim o fundamentos dos valores, e não o oposto. Assim, os
valores são produtos históricos dos atos concretos. O ser humano é o centro real, concreto,
tanto espacial como temporal.
 
Deus de Bakhtin Interpretação de base religiosa: a inter­relação se dá no evento do Ser em processo. Ser é o
lugar do sujeito da empatia; o Ser em processo é o ser unitário em evento, dentro do qual
me determino, é "Deus", em que determino a relação eu­outro. Na religião, Deus é "Aquilo
que É", mas em Bakhtin, é "o Que É­em processo", a visão de um Deus que evolui. Deus
pode  me  instituir,  mas  o  homem  pode  criar  Deus  como  hipótese  necessária.  (Ver  "Ser
Único").
 
Dever Aquilo que deve ser (dever), o que é (eu devo), é colocado diante da vontade como válido e
assim  funciona  como  um  chamado  ou  como  uma  imposição  à  ação.  Para  Kant,  as
máximas  são  leis  universais  porque  a  forma  da  máxima  é  uma  proposição  teórica,  é
"dever",  é  algum  modo  de  "é",  imperativo  com  conteúdo  em  virtude  do  qual  ele  é
endereçado a uma pessoa motivada por um desejo subjetivo específico.
 
  O  "princípio  do  dever"  ou  "obrigação"  abstratos  tem  demonstrado  uma  perversidade
assustadora, pois demonstrou não haver nada na mente para impedí­lo de conceber o dever
como o dever­ser na ausência de qualquer dever (Nietsche). A ética absolutizada é incapaz
de  sair  do  confinamento  de  um  círculo  lógico.  Qualquer  motivação  real  será  "extra­ética".
Uma  pessoa  que  escolheu  ser  "ética"  não  é  particularmente  boa,  amável.  É
autocomplacente  (egocêntrica)  ou  auto­acusatória  (também  egocêntrica).  Essa  ética
solitária  é  um  modo  de  relacionar­se  com  valores,  e  não  uma  fonte  de  valores.  O  dever
como  a  mais  alta  categoria  formal  é  um  equívoco,  pois  a  correção  técnica  não  resolve  a
questão de seu valor moral. O dever, no mundo da vida, é ligado à responsabilidade. Para a
teoria, ele pode ser um juízo válido ou não válido, verossímil ou inverossímil, verdadeiro ou
falso. A afirmação de um juízo como verdadeiro é relacioná­lo a uma certa unidade teórica,
e  essa  unidade  não  é  a  única  unidade  histórica  de  minha  vida.  O  dever  funda  a  presença
real de um juízo dado sob dadas condições na consciência, na concretude histórica de um
fato individual, mas não funda a teórica veridicidade em si.
Dever da Não  decorre  da  determinação  teórico­cognitiva  da  veridicidade,  pois  o  momento  do  dever­
veridicidade ser pode apenas ser introduzido de fora e fixado nela (Husserl). Não existe dever estético,
científico  e  dever  ético:  há  apenas  aquilo  que  é  esteticamente,  teoricamente,  socialmente
válido.  Tais  validades  são  instrumentos  do  dever.  O  dever  ganha  validade  dentro  da
unicidade de minha vida responsável e única. O dever não tem um determinado conteúdo,
não  tem  um  conteúdo  especificamente  teórico.  O  que  se  chamam  "normas  éticas"  são
asserções  sociais,  ou  seja,  tudo  o  que  possui  validade  fornece  o  chão  para  várias
disciplinas especiais, nada sobrando  para  a  ética.  Não  existem  normas  morais  que  sejam
determinadas e válidas em si como normas morais. Existe sim um sujeito moral com uma
determinada estrutura.
 
Devir Estamos  na  vida  sem  um  álibi,  em  eterno  vir­a­ser.  Todo  ato  contém  uma  ética  e  uma
estética,  revela  uma  cognição,  um  modo  de  ver  o  mundo.  O  modo  de  falar  o  mundo,
significar  o  mundo  ontológicamente,  dizer  essencialidades,  definir  pelas  essencialidades.
No ato responsável,  definimos  nossa  vida  por  modos  ontológicos  (como  vivemos?)  e  não
processuais  (o  que  é"  viver"?).  São  as  respostas  que  damos  no  mundo  da  vida  que
concretizam o mundo da cultura. Pelo conceito de "memória do futuro" , o passado está à
minha frente, o futuro está dentro de mim, é o que está a se realizar (devir).
 
Emergência dos Foucault  estudou  a  emergência  dos  mecanismos:  como  surgiram  e  se  modificaram
mecanismos historicamente, o papel do poder, as marcas do poder em nós, a irrecusabilidade da teoria
de que as relações entre os homens são relações de poder (ver "História da Sexualidade).
 
Ensaio e erro  Na época contemporânea, os sistemas de computação estão nos colocando questões que
havíamos  esquecido,  como  a  do  "ensaio  e  erro".  A  única  categoria  em  que  essa  questão
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aparecia era no diagnóstico médico. As crianças também nos têm  mostrado essa questão.
 
Epistemologia Estudo  crítico  dos  princípios,  hipóteses  e  resultados  das  ciências  já  constituídas,  e  que
visa a determinar os fundamentos, o valor e o alcance objetivo delas.

Equipolentes Que têm o mesmo valor.

Estrutura do A  "Estrutura"  ou  "Construção",  ou  organização  do  mundo­evento  é  "arquitetônica",  resulta
mundo da interrelação arquitetônica. As relações­eventos, ou relações entre eventos têm o caráter
de "devir" (eventos em processo).

Ética Para Bakhtin, a ilusão da ética absoluta e auto­suficiente, a consciência da "intelligentsia",
ou  o  domínio  da  "ética  como  tal",  da  "ética  pura",  é  apenas  uma  certa  posição  formal.
Inquire sobre o conteúdo "material" dessa posição, o que deve fazer o sujeito, e em relação
a que, ou seja, no que o "dever" em si está baseado. Essa "ética" é fundada pelo fato  do
dever,  é  dependente  dele.  Na  área  da  Ética,  Bakhtin  aposta  no  singular,  e  na  área  da
Estética, aposta só no singular.
 
Evento do ser O  evento  do  ser  é  um  conceito  fenomenológico,  por  estar  presente  ele  mesmo  em  uma
consciência  viva  como  um  evento  (em  processo)  e  uma  consciência  viva  orienta­se
ativamente  e  vive  nele  como  um  evento(em  processo).  O  ser  é  um  evento  em  processo
(eventicidade).
 
Exotopia Excedente de visão pelo lugar que ocupo.

Expressibilidade A  linguagem  cresceu  a  serviço  do  pensamento  participativo  e  dos  atos  realizados.  A
do ato Verdade (Pravda), a verdade do evento, a experiência que me afeta, pode ser alcançada e
comunicada. (Benjamin/ Jorge Larossa). Mais do  que racional, a verdade é responsável e
comunicável. O ato é expressível, ou seja, o saber feito de experiência é transmissível. O
modo  de  ser  transmitido  não  é  pela  racionalidade  da  expressão,  mas  pela  experiência  do
ouvinte.
 
Expressibilidade A  palavra  expressa,  por  sua  entonação,  minha  atitude  valorativa.  A  palavra,  mais  do  que
do valor representar,  contém  uma  atitude  de  valoração  do  objeto  referido  (Retórica  ­  "Ethos"  do
orador, além do "dispositio" que  é a organização do discurso). Uma verdade nada vale sem
o  sentimento  de  verdade.  Nada  é  mais  vazio  do  que  uma  verdade  sem  esse  sentimento
(entonação).
 
Fenomenologia de Para  Edmundo  Husserl  (1859­1938),  a  luta  obrigatória  pela  verdade  não  pode  ser  derivada
Husserl da  epistemologia.  Expressa  reação  ao  "Psicologismo"  que  acreditava  que,  sob  a  base  de
uma doutrina, sobre uma parte do "real", é possível formar o conceito do "todo" do mundo
teórico.  O  conceito  da  unidade  indivisível  da  experiência  vivida  e  a  intenção  contida
nela(evento,  eventicidade  ações  realizadas)  é  similar  aos  conceitos­chaves  de  Bakhtin,
mas este acentua o problema da responsabilidade.
 
Fidelidade da Toda análise do discurso que procura o que é repetível não conta a verdade do discurso. A
experiência verdade  (Pravda) é algo a ser alcançado.

Filosofia Estetização  da  vida  que  dissimula  a  desconformidade  evidente  do  teoretismo  puro,  pois
contemporânea da significa a inclusão do grande mundo teórico no "pequeno mundozinho" também teórico da
vida fusão de elementos teóricos e estéticos, como na filosofia de Bergson. O ponto fraco reside
na indivisão metódica dos elementos heterogêneos da concepção. A filosofia da intuição é
confusa,  embora  a  intuição  seja  elemento  necessário  da  cognição  racional  (teoretismo).
Para  Bergson,  restaria  a  contemplação  estética  pura  (dose  homeopática  do  pensamento
participante  real).  Para  Bakhtin,  o  ser­evento  único  em  sua  unicidade  escapa  da
contemplação  estética  (  o  produto  desta  fica  abstraído  do  ato  real  da  contemplação).  O
mundo  da  visão  estética,  fora  da  relação  com  o  sujeito  real  da  visão,  não  é  real,  embora
seu conteúdo semântico esteja inserido no sujeito vivo.
 
Filosofia da Classificação histórica das filosofias.
Cultura
Filosofia da Vida Ramo  da  Filosofia  que  define  a  realidade  absoluta  como  "Vida",  opondo  a  realidade  viva
(Henry Bergson) irracional, percebida através  da  experiência  vivida  ou  através  da  intuição,  àquele  modo  do
ser  que  foi  formado  pela  cognição  abstrata  e  analítico­intelectual.  Intuível­palpável  é  o
oposto  de  conceitual  ou  abstrato.    Filosofia  impensável  para  o  materialismo  e  positivismo
do  Século  XIX,  por  valorizar  os  momentos  da  experiência  imediata  da  alma  mais
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compreensiva (desde Schelling). Para Bakhtin, a Filosofia da Vida inclui o mundo teórico no
interior  da  unidade  da  vida­em­processo­de­devir,  mas  não  passa  de  uma  estetização  da
vida.  A  obra  estética  tem  uma  categoria  de  acabamento,  mas  a  vida  só  tem  um  devir  em
cada  um  de  nós.  Em  Bergson,  tenta­se  encontrar  através  da  afetividade  o  sentido  (Ser),
mas  assim  ele  é  reduzido  a  uma  determinação  estético­teórica.  Para  Bergson,  o  sujeito  é
determinado  por  uma  teoria,  não  condicionado  pelas  suas  condições,  e  assim  opõe  a
intuição filosófica à cognição intelectual, analítica, mostrando que a saída é assumir a visão
estética. Para Bakhtin, a vida de cada ser é menor do que a teoria, mas somos mais do que
a teoria prevê.
 
Filosofia do Ato A Filosofia do Ato de Bakhtin seria uma introdução a um tratado de Filosofia Moral (Prima
Filosofia), na qual a sustentabilidade não seria o conjunto de confissões, mas a alteridade:
seu objeto é a relação do eu­para­mim, outro­para­mim, eu­para­outro. Normalmente a Ética
não  parte  da  concretude  de  um  ato,  mas  de  uma  abstração  (valores  universais).
Associamos a concretude ao conceito jurídico de tipificação de um ato, ou à ocorrência de
um enunciado típico (type talking).
 
Filosofia niilista de Nietsche  pode  ser  considerado  anti­platônico  e  anti­cristão,  agressivo  e  niilista,  exalta  a
Nietsche "vida"  como  aparência  e  ilusão,  repudiando  o  "mundo  verdadeiro"  do  'invisível  e  imutável
ser espiritual". O conceito do "eterno retorno" opõe­se à concepção européia de progresso.
A vida é aceita como ilusão, ausência essencial e fundamental de significado e que provoca
êxtase orgiástico (dionisíaco)
 
Filosofia primeira Ontologia fundamental, ciência que investiga  o  ser  e  os  atributos  que  pertencem  a  ele  em
de Aristóteles virtude de sua própria natureza. A prova ontológica da existência de Deus é que ela decorre
necessariamente  do  conceito  de  Deus.  Expressa  a  luta  contra  a  construção  lógica  do
sujeito puramente cognitivo, tendo em vista as relações participantes agindo sob o sentido
da  liberdade,  a  compreensão  dos  objetos  envolvidos  partilhando­os  ou  simpatizando  com
eles.
 
Forma Unidade de ordenação, "a priori" de um complexo sensível.

Função da Arte A  arte,  quando  tem  uma  função,  deixa  de  ser  arte.  Por  exemplo,  a  utilização  da  cultura
clássica  pelo  Nazismo.  Pela  perspectiva  do  monismo,  definimos  o  ruim  pelo  conceito  de
bom (relação entre opostos), portanto se há um mau poeta é porque existe um mau leitor.
 
Fusão entre Crítica do fantasma romântico, joga para o componente realista e no final dá uma definição
passado e do  caráter  cronotópico,  marcando  o  ponto  de  vista  do  homem  contemplador,  na  lógica
presente inexorável  de  sua  existência  histórico­geográfica.  A  criação  do  homem  tem  finalidades
cívicas,  políticas  humanas,  e  necessidade  de  coerência  com  o  espaço  em  que  se  está
(coerência entre o mundo da vida e da cultura).
 
Generalizar Universalizar, tornar genérico.

Gêneros literários Os  gêneros  são  desenvolvidos  em  função  da  complexidade  da  sociedade.  Assim,  quanto
mais  complexas  as  sociedades,  mais  gêneros  há.  O  gênero primário  é  o  diálogo  face  a
face. O gênero secundário é a escrita (carta e romance , que por sua vez, são primários do
romance epistolar). O gênero Anotação não tem sentido fora da sala de aula., cujo gênero
primário  é  o  conjunto  de  outros  gêneros.No  século  XIX  a  moda  era  a  Botânica,  gênero
essencialmente  classificatório.  Nas  sociedades  mais  complexas,  identificamos  o  gênero
terciário, que poderia ser a retomada e a consciência da retomada dos gêneros primários, o
hipertexto  (ver  trabalhos  de  Antonio  Carlos  Xavier).  Há  gêneros  que  apresentam  uma
circularidade  (circulação)  entre  os  gêneros  erudito  e  popular.  O  gênero  de  Goethe  é  o
discurso da mobilidade, do não estático. Uma das categorias essenciais em Bakhtin é que
o pensamento não resulta do estudo da literatura, mas traz para o seu pensamento  várias
categorias de adensamento. Assim, busca na fala de Goethe uma  categoria  que  interessa
ao seu pensamento.
 
Habituação A habituação estética é objetivante, não é pura nem isenta, não garante o conhecimento do
estética ser único na sua eventualidade,  mas  apenas  a  visão  estética  de  um  sujeito  indeterminado
em sua passividade.  Para  Bakhtin,  compreender  o  objeto  é  compreender  o  meu  dever  em
relação a ele (meu postulado moral).
 
Imagens ou São as formações derivadas.
configurações

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Implicitação Todos  os  sentidos  são  conseqüência  do  que  é  dito,  por  quem  é  dito,  para  quem  é  dito
(subentendidos) (alteridade).  Os  efeitos  são  a  soma  de  todo  o  contexto.  O  autor  é  responsável  pelos
implícitos.  Dicro  corresponde  ao  cálculo  do  que  é  implicitado  que  é  responsabilidade  do
ouvinte,  e  não  do  autor.  Se  dizemos  "O  atual  Rei  da  França  é  calvo"  (não  existe  Rei  da
França),  digo­o  em  função  do  contexto  pragmático  e  o  ouvinte  extrai  um  sentido  pelo  qual
não  sou  responsável.  A  implicatura  pressupõe  a  conversação  e  explorando  a  regra  quero
dizer a implicatura (princípio de relevância).
 
Insatisfação com A  insatisfação  com  a  filosofia  moderna  leva  os  adeptos  a  recorrerem  ao  materialismo
as filosofias histórico, que se esforça em construir seu mundo de tal modo a reservar um lugar nele para
modernas a  execução  de  ações  reais  determinadas,  concretamente  históricas.Outros  procuram
satisfação na teosofia, na antroposofia e em outras doutrinas similares.
 
Interação estética A  relação  autor­contemplador  está  prevista  na  criação,  mas  pode  não  se  realizar  no
contemplador. A interação no processo de construção  se  dá  entre  Autor­Herói­Ouvinte.  O
processo é social, não tem nada a ver com a Psicologia. No processo de contemplação, a
interação se dá entre Ouvinte (contemplador) ­ Autor ­ Obra. Nessa posição, o contemplador
é  ao  mesmo  tempo  um  sujeito  físico  e  um  ouvinte  genérico  (antropomorfizado).  O
contemplador  não  define  se  é  Arte  ou  não  (nem  o  Autor).  O  processo  de  construção  do
objeto  implica  na  relação  Autor­Herói­Ouvinte,  explicitação  dos  presumidos,  usos
metafóricos,  produção  de  estranhamento.  Toda  obra  estética  está  vinculada  às  condições
reais  de  vida,  de  sua  produção.  Se  não  saímos  enriquecidos,  transformados  pela
contemplação  estética,  então  o  objeto  é  trivial  (saímos  empobrecidos).  O  valor  não  é
calculado a partir da validade intrínseca da obra de arte, mas sim com relação ao devir. A
trivialidade da vida  produz  objetos  triviais,  estéreis,  direcionados  a  consumidores,  e  não  a
usuários.
 
Interconexão Conexão com o mundo da cultura de dentro do evento, que só pode se dar em mim, no ato.
Os  conceitos  têm  acoragens  históricas  diferentes  para  cada  um.  Se  essas  ancoragens
variam, o conceito não é fundamental, mas por isso mesmo é essencial. O elemento que dá
a  conexão  é  o  tom  emocional­volitivo,  que  tem  a  ver  com  a  alteridade,  o  livro  arbítrio  e  a
responsabilidade. É inconsistente pensar que a cultura separa o sentido das coisas, pois o
mundo cultural e simbólico não está fora da natureza (é natural atribuirmos significados).

Juízo de valor A  construção  de  um  juízo  de  valor,  que  é  uma  atribuição  de  valores,  não  esgota  a
experiência vivida, já que se constitui  num  ato  individual  de  pensamento.  O  ato  de  pensar
em caminhar enquanto se caminha dá sentido ao ato de caminhar, é constituinte desse ato,
mas  é  um  mero  encadeamento  formal.  "Valorativo"  é  todo  juízo  que  expressa
valor.Submetemos  um  objeto  ao  plano  valorativo  do  "Outro":  Ele  é  caro  para  mim  (eu  o
amo),  não  porque  ele  é  bom,  mas  ele  é  bom  porque  é  caro  para  mim.  O  amor
desinteressado transforma o herói no objeto de uma tensão amorosa interessada.  A  forma
de  um  juízo,  que  é  o  momento  transcendente  na  composição  de  um  juízo,  constitui  o
momento  da  atividade  de  nossa  razão:  somos  nós  que  produzimos  as  categorias  de
síntese.Se  o  juízo  é  desligado  da  unidade  histórica  do  ato­procedimento  real,  e  remetido
para uma determinada unidade teórica, na sua faceta semântica não há lugar para o dever e
para  o  evento  real  e  único  do  ser.  A  tentativa  de  ultrapassar  o  dualismo  é  infecunda.  O
conteúdo  isolado  do  ato  cognitivo  se  desenvolve  por  livre  arbítrio,  lei  autônoma  que  nos
coloca fora do ato pela abstração, como responsáveis e individualmente ativos.
 
Justificidade Qualidade  de  ser  justificado  teoricamente  ("Aja  segundo  a  máxima  que  você  possa  ao
mesmo tempo desejar que  se torne uma lei universal, fazendo uma lei universal através de
sua  máxima").  Assim,  uma  máxima  é  o  princípio  funcional  da  ação,  a  fundação  real  de
nosso ato.
 
Linguagem e O futebol comparado com a Linguagem:  Fonema (o movimento), Sentença (jogada), Texto
Futebol (partida), Discurso (futebol) e Segmento (jogo).

Maria Zambrano "Todo homem é uma promessa : a de realização de si mesmo".
(1904­1991)

Momento O momento é tratado como o constituinte de um todo dinâmico.

Mundo da Teoria Conjunto  de  princípios  e  orientações.  A  teoria  é  acabada,  fechada,  e  não  pode  explicar  o
mundo  inacabado,  interativo,  que  se  transforma  em  ações  realizadas.  Ex:  na  análise  do
discurso, a superfície textual é paráfrase de outra, que é de outra, e assim por diante, e as
diferenças não são significativas, pois o discurso se reduz ao "já dito".A unicidade não se
dá no mundo da teoria e a dúvida é um valor distintivo.
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dá no mundo da teoria e a dúvida é um valor distintivo.
 
Não­álibi no Ser Não  posso  ser  aliviado  da  responsabilidade  pela  execução  de  um  ato  por  um  Álibi.("Eu
estava no lugar da execução desse ato").

Ontologia Estudo das essencialidades, das fixações ­ metáfora das raízes.

Oposição a Platão A  imutabilidade  do  "verdadeiramente  existente'  é  oposta  à  mutabilidade  do  que  "apenas
parece  existir"  (não  objetiva,  uma  simples  constatação).  Há  diferença  entre  níveis
ontológicos: pela escolha ativa, um ser humano deve fugir do que apenas parece e procurar
alcançar  o  que  é  verdadeiro.  Mito  da  Caverna:  só  vemos  a  sombra,  a  sombra  que  é  o
mundo  real.  Para  Bakhtin,  essa  teoria  é  um  rascunho  grosseiro  em  relação  ao  ato  único,
apenas  o  seu  sentido  abstrato.  Cada  ação  praticada  reescreve  a  vida  na  forma  de  ação
definitiva.  No  entanto,  "definitiva"  é  definição,  não  tem  nada  a  ver  com  completude.  .  No
mundo  das  idéias  de  Platão,  o  essencial  não  é  visível  aos  olhos.  No  entanto,  o  Deus
invisível  criou  o  mundo  visível,  então  temos  que  ter  o  cuidado  de  olhar  para  o  visível,  a
natureza.
 
Par mínimo Na  Língua,  a  mudança  de  um  traço  muda  o  sentido  da  palavra.  A  sonoridade  da  Língua
Portuguesa é fonêmica (pato / bato).

Pensamento Pensamento  engajado,  compromissado,  envolvido,  relacionado,  "interessado",  não­


participativo indiferente. Na Teologia, prevalece a noção de conceito de onde se tira o real. Ex: no século
XV,  Santo  Anselmo  pregava  que,  se  podemos  imaginar  um  Ser  Perfeito,  então  esse  Ser
existe  (prova  da  existência  de  Deus).  Para  Kant,  ao  contrário,  não  podemos  tirar  de  um
conceito inadequado a existência do real. O conceito é maior que o real, acrescenta coisas
ao real, ou seja, é inadequado. Em Bakhtin o pensamento participativo é o adensamento do
princípio  do  não­álibi  da  existência:  na  minha  existência  eu  participo,  ocupo  um  lugar  no
meu ser (ser­evento único), coletivo, que implica em categorias substantivas (substância) e
não  atributos.  Ocupo  um  lugar  no  Ser  único  coletivo  e  irrepetível  (como  o  conceito  de
Deus),  um  lugar  que  não  pode  ser  ocupado  por  outro,  e  imprevisível,  porque  se  estivesse
previsto  o  meu  lugar  nesse  Ser  Único  eu  não  teria  responsabilidade.  Assim,  não  posso
construir um álibi para minha existência.
 
Possibilidade Possibilidade fortuita ou causal. Para Bakhtin, eu existo no mundo da realidade inescapável
contingente e não no mundo da possibilidade contingente (do fortuito).

Postuplenie Termo  em  russo  que  representa  a  realização  única,  contínua,  de  atos  ou  ações
individualmente responsáveis.

  Um de todos aqueles atos que fazem de minha vida única inteira um realizar ininterrupto de
atos,  que  compõem  a  vida  como  ação­realizada,  em  contínua  realização.  A  vida  inteira  é
um  complexo  ato  ou  ação  singular,  em  que  os  momentos  conteúdo­sentido  e  histórico­
individual são unitários e indivisíveis.
 
Postupochnaia Relizador, capaz de realizar.

Postupok ­ Ato Ato  ou  ação  intencionalmente  realizada  por  alguém,  ou,  meu  próprio  ato  ou  ação
responsável individualmente  responsável,  singular  e  único,  ato  de  dever  do  pensamento.  "Fato  post
factum" é o termo que designa o ato que já foi realizado. O ato é vivo, integral, inexorável,
ligado  ao  ser­evento  único  e  singular  (participante  vivo  e  real  do  evento).  A  faceta
semântica do ato é autodeterminar­se na unidade do domínio semântico da Ciência, Arte e
História, que são domínios objetivos que comungam com o ato. O Ato, como Jano Bifronte,
olha em sentidos opostos: para a unidade objetiva do domínio cultural e para a singularidade
irrepetível  da  experiência.  Ambas  as  faces  só  se  definem  em  relação  a  uma  unidade
singular no evento único do ser realizável: o teórico e o estético devem ser definidos como
seus elementos.
 
Pragmatismo É uma instância similar ao teoreticismo, que incorpora a cognição teórica na vida única do
ser, concebido em categorias biológicas, econômicas e outras, em que dos atos sai­se para
a teoria.
 
Pravda e Istina Pravda  é  o  Conceito  de  VERDADE  com  Responsabilidade,  com  validade,  verdade  a  ser
alcançada na realização, associado à categoria marxista da totalidade,  à responsabilidade
dentro do próprio ato, inescapável, irrevogável e irremediável no contexto em que o realizo.
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dentro do próprio ato, inescapável, irrevogável e irremediável no contexto em que o realizo.
Istina é o conceito verdadeiro válido em si, como por exemplo a verdade de um enunciado.
Istina pode ser supostamente  o  real,  mas  a  verdadeira  realidade  da  língua  é  abstrata:  "La
Langue".  O  gesto  de  dizer  "X  é  Y"  ocorre  quando  me  desloco  para  o  lugar  ocupado  pelo
sujeito da pesquisa, e esse deslocamento pode dar a "iluminação de um relâmpago".  Uma
verdade  autônoma  do  pensamento  pode  ser  apresentada  como  Pravda,  mas  é  Istina.  .
Pravda  exige  como  seu  complemento  a  dúvida.  Somos  remetidos  à  descontinuidade  das
formações  discursivas  (inflexão  no  interior  da  forma  discursiva),  assim  como  à
descontinuidade  das  descobertas.  Todo  o  processo  de  construção  da  ciência  moderna
afastou  a  ética,  pois  fala  do  real  (Istina)  e  é  conceito  abstrato,  não  essencial  ao  ato
singular,  único,  responsável.  Quando  transformamos  a  verdade  autônoma  (Istina)  em
verdade de cognição, sua validade a transforma em Pravda.
 
Preocupação de A  interação  concreta  tem  lugar  na  vida  e  na  Língua,  nos  atos  em  que  a  unidade  da
Bakhtin com o eventicidade  do  ser  pode  ser  rompida  a  partir  de  três  possibilidades:  1)  o  pensamento
concreto teórico discursivo, 2) a descrição­exposição narrativa (histórica) e 3) a intuição estética.
 

Produto da É participante do ser­evento real (realizado  ou  encarnado)  através  da  mediação  de  nossos


atividade estética atos de efetiva intuição estética. Ao vivenciarmos um produto da atividade estética (objetos
dados como acabados), há um momento de deslocamento do Eu para a posição de "sujeito
da empatia" no mundo da contemplação. O sujeito é subsumido pelo Eu e volta enriquecido.
Esse enriquecimento é um processo de humanização do humano, que pode ser considerado
como  o  encontro  de  minha  responsabilidade  enquanto  unidade  centro  de  sentido  e  o  não
álibi do ser em evento (devir).
 
Psicologismo Considerado grosseiro por Bakhtin, pois o ato cognitivo em si não se reduz ao sentido dado
pela psicologia. Ex: estudos psicológicos da obra literária.

Questão 1 ­ Se o cognitivo é uma variante do social e se o que sabemos sobre um corpo físico qualquer
Método das é  da  ordem  do  cognitivo,  então  como  fica  a  divisão  entre  ciências  da  natureza  e  ciências
Ciências sociais e humanas? Resposta: em uma fórmula científica para qualquer esfera, a ideologia
deve  ser  encontrada  com  métodos  sociológicos.  Na  esfera  da  ciências  da  ideologia,  é
impossível  o  rigor  e  a  precisão  das  ciências  humanas,  mas  o  método  sociológico  chegou
perto. As ciências  da  natureza  dizem  respeito  também  a  seres  que  estão  fora  do  humano
(corpos  físicos  e  químicos).  Os  objetos  das  ciências da natureza  estão  dentro  e  fora  da
socidade  humana  (leis),  mas  essas  ciências  não  podem  ser  deixadas  às  suas  leis
imanentes.  As  leis  chegam  aos  corpos  de  fora,  por  definição  cognitiva  dos  corpos  da
natureza.  Já  as  ciências  sociais  e  humanas  se  justificam  só  por  e  para  a  sociedade,
dentro  da  sociedade.  Assim,  as  formações  ideológicas  são  interna  e  imanentemente
sociológicas,  dentro  do  processo  dialógico  (Ex:  Direito).  A  divisão  entre  os  métodos  é
sustentada  pela  diferença  dos  objetos:    os  objetos  empíricos  definem  métodos  para  si
mesmos; a linguagem é o método das ciências humanas.
 
  O  problema  para  Bakhtin  parte  da  separação  entre  Cultura  (arte,  ciências,  etc...)  e  Vida,
mais a Comunicação (relação com o Outro ­ estética). O objeto de arte não tem imanência
própria e pensamos a obra de arte no contexto da comunicação estética, entre sujeitos. O
método sociológico é adequado para estudar fenômenos ideológicos humanos (por e para a
sociedade).  Não  pode  se  dar  o  mesmo  rigor  dos  métodos  científicos.  A  ciência  parte  da
cultura, e não dos objetos. Nas ciências humanas a maior exatidão é atribuída à época, e
do mesmo modo atribuímos à época a maior aproximação das ciências da natureza. Se não
posso ter outro método que não seja o científico (sociológico), o conhecimento que produzo
sobre  os  objetos  só  existem  como  cognição  humana.  Assim,  todo  conhecimento  está
subordinado  à  sociologia  (primeiros  rudimentos  para  mostrar  que  ciências  exatas  são
humanas,  incluindo  a  ciência  como  objeto  da  sociologia).  Ex:  raramente  num  curso  de
Física há um curso de metodologia científica (Ciências Humanas), para que leve o aluno a
refletir que ciências exatas são ciências humanas.
Questão 2 ­ Noção Se a obra de arte é da ordem da comunicação artística e ela se realiza (conclui plenamente)
de conclusão na criação e na permanente recriação, não requerendo outras objetivações, mas participa da
plena. corrente única da vida social, como compreender a noção de conclusão plena ?  Resposta:
Se  o  enunciado  não  estiver  completo,  não  poderá  haver  interação  (recriação)  completa.
Deve  haver  acabamento  para  que  possa  haver  visão  holística  que  leve  à  conclusão  da
interação,  ato  que  torna  aquela  obra  uma  coisa  "artística".  A  conclusão  só  pode  ser
compreendida  como  Pravda,  dentro  da  cadeia  infinita  de  enunciados,  pois  se  dá  num
momento  único.  O  objeto  de  arte,  sendo  acabado,  permite  ser  recriado.  Ressalta­se  a
diferença entre "recriar" e "completar".
 
Questão 3 ­ Se  o  modo  de  interação  Que.  "fixa"  uma  obra  de  arte  ("a  comunicação  estética  organiza
Relação uma  obra  de  arte"),  então  é  a  relação  específica  responsável  pela  construção:  a)  Esta
relação está prevista na criação?  Poderia não estar prevista e face aos modos de relação
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responsável pela relação está prevista na criação?  Poderia não estar prevista e face aos modos de relação
construção poder  vir  a  ser  considerada  "obra  de  arte"?  (Ex:  os  Cantos  Védicos,  ou  as  esculturas  da
Ilha de Páscoa, ou os mitos Tapajônicos.).b)  Quando prevista na criação e não realizada na
recepção,  como  é  que  fica  ?.  Resposta:    Se  todo  artista  vislumbra  um  interlocutor  no
processo  de  criação,  então  a  relação  está  prevista  nesse  processo  mas  pode  não  se
realizar  como  prevista,  mas  sim  no  processo  de  interação  é  que  haverá  suas  realizações
possíveis.  No  caso  dos  Cantos  Védicos,  das  Esculturas  de  Páscoa  e  nos  mitos
Tapajônicos,  o  acabamento  lhes  confere  o  status  de  obra  acabada:  rima,  entonação,
simetria da escultura, desenhos na cerâmica.
 
  Partimos  do  pressuposto  de  que  o  processo  de  comunicação  artística  organiza  a  obra  de
arte.  Esse  processo  participa  da  corrente  contínua  da  vida  social,  é  sua  característica.  A
diferença  é  que  no  discurso  da  poesia  não  se  pode  tomar  o  presumido  como  totalmente
presumido.  Na  vida  o  pressuposto  é  extra­verbal.  A  comunicação  estética  expõe  o
presumido,  tem  acabamento  mas  não  se  fecha.  Na  arte  temos  que  explicitar  um  conjunto
de valores (não tudo). Por exemplo, nos poemas modernos as relações não são expressas
entre  os  versos  (não  há  "porquês",  elementos  de  coesão  textual).  Mas  a  ausência  de
explicitação é a presença do ausente. Toda e qualquer análise do discurso quer explicitar o
conjunto de valores. Assim, não há enunciado estético sem explicitação de valores.
Questão 4 ­ Quanto mais amplos os horizontes, mais permanentes e constantes são os presumidos no
Constância dos discurso da vida, a que fenômeno isso pode remeter ? Resposta: Remete ao fenômeno da
presumidos Naturalização Cultural, pois o mais constante e permanente é naturalizado. Temporalizamos
a biologia: descanso à noite, almoço, jantar, como se fosse biológica a sua existência. Por
esse  processo  construímos  as  abstrações,  produzimos  o  estranhamento  explicitando  um
valor  que  nos  parece  óbvio.  Os  temas  tratados  por  aqueles  que  têm  a  fala  permitida:
professores,  médicos,  padres,  sempre  têm  valor  pois  seus  discursos  estão  naturalizados
culturalmente.  A  poesia  e  a  arte  se  perguntam  o  tempo  todo  "Quem  somos  nós?"  e,  ao
explicitarem  esses  valores  produzem  estranhamento  no  leitor.  Ultrapassam  o  nível  das
exposições ideológicas do tipo "nós somos assim".
 
Questão 5 ­ Se uma palavra, por seu conteúdo semântico não pré­determina a entonação, como explicar
Valoração que  a  valorização  (valoração=apreciação)  determina  a  seleção  da  palavra  ?  Resposta:  a
determinando a categoria  básica  é  a  interação,  que  remete  a  uma  relação  entre  parceiros  (dialógica,
seleção dissenso).  Nas  interações  o  que  fazemos  são  julgamentos  de  valor,  fazemos  sobre  esse
mundo valorações que se dão nas interações. Tem a ver com o contexto, inclusive certas
valorações  naturalizadas.  Não  é  o  item  lexical  que  define  a  escolha,  mas  a  interação
determina a seleção das palavras. Se há valoração e critérios de seleção é porque os itens
lexicais  se  revestem  de  valores.  A  valoração  se  revela  pela  entonação,  mediante  a
entonação.  O  signo  é  sempre  ideológico  e  assim  se  reveste  de  valorações.  Ex:  a  palavra
'bem"  é  mais  ou  menos  neutra.  Onde  se  usa  "bem",  não  se  usa  "mal".  Não  usamos
qualquer  signo  para  qualquer  entonação.  As  palavras  são  "comprometidas",  têm
compromisso. O que importa é "por que apareceu este signo e não outro". As construções
são neutras enquanto construções nossas, pois posso selecionar. No processo literário isso
é exemplificado pela construção da metáfora.
 
  A literatura produz estranhamento por explicitar demais a naturalização cultural. Ao escolher
o  item  lexical  que  contradiz  a  valoração,  produzo  o  estranhamento.  Assim  a  linguagem
estética  é  produtora  da  desnaturalização  da  linguagem.  Ex:  palavras  como  "esclarecer",
"obscuro",  "judiação",  o  verbo  "dar"  no  passado  (Deu  para  eu  passar  de  ano.  Pare  de
encher o tanque que já deu). No sistema pronominal, a segunda pessoa do singular VOCÊ 
(de  Vossa  Mercê,  Vosmecê)  é  conjugada  na  3ª  Pessoa  do  singular.  Toda  escrita  tem  o
caráter de explicitar contextos, desvendar o presumido. Uma só palavra pode ser dita com
entonações  diferentes  (Vaya=vá  lá  ­  verbo  tratado  como  advérbio,  expressão  adverbial,
quase  uma  interjeição).  O  dêitico  flecha  algo  no  nosso  mundo  cultural,  tem  sentido
histórico,  julgamento  valorativo  sobre  o  contexto  cultural.  Se  dissermos  "Olha,  está
nevando!",  expressamos  uma  representação  do  fenômeno  natural.  Se  dissermos  "Olha,
ainda está nevando!", o dêitico flecha nas perspectivas culturais, "já era para ter parado de
nevar".
Questão 6 ­ Qual a diferença entre o discurso na vida e o discurso na poesia se em ambos há um jogo a
Diferenças entre o três ? Resposta: No discurso da vida o falante e o ouvinte (contemplador) são co­partícipes
discurso da Vida e do processo estético. O assunto (ele, de fora). No discurso da arte temos o Autor, o Herói
o discurso da (ele)  e  o  Ouvinte  contemplador,  que  é  a  voz  social  incorporada  pelo  autor  a  si  mesmo.
Poesia. Assim, na Arte, o Ouvinte não é trazido ao processo estético, ele é do processo estético. O
público  (mercado)  não  é  ouvinte  nem  contemplador.  Se  o  autor  ouvisse  o  público,  só
repisaria  valores.  Assim,  na  Literatura,  a  relação  autor­herói­ouvinte  se  dá  num  sujeito
social  só,  o  autor,  exemplo  da  dispersão  do  sujeito.  Somos  os  primeiros  leitores  de  nós
mesmos,  e  os  primeiros  contempladores.  Portanto,  há  três  grandes  diferenças  entre  o
discurso na vida e na arte: 1) a explicitação dos presumidos na Arte; 2) na parte formal, o
processo  de  produção  formal  de  estranhamento  através  da  escolha  de  um  item  lexical,
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processo  de  produção  formal  de  estranhamento  através  da  escolha  de  um  item  lexical,
como  por  exemplo  a  utilização  da  linguagem  telegráfica  na  literatura;  e  3)  a  internalização
do ouvinte no autor estético.
 
Razão teórica e A razão teórica é um elemento da razão prática. O mundo teórico resulta da mais completa
Razão prática abstração  do  fato  de  minha  existência  e  do  sentido  moral  desse  fato  ("como  se  eu  não
existisse ­ se ele fosse único, eu não existiria"). Partindo do ato­procedimento, e não de sua
transcrição  teórica,  chegamos  ao  seu  conteúdo  semântico  viável,  que  se  enquadra  nesse
ato,  pois  decorre  no  ser.  O  conteúdo  semântico,  abstraído  do  ato­procedimento,  pode  ser
uno,  mas  não  o  ser  singular  em  que  vivemos  e  morremos,  em  que  decorre  nosso  ato
responsável, e assim esse conteúdo semântico é alheio à historicidade viva.
 
Realismo O  tempo  histórico  nas  obras  de  Goethe,  Rabelais  e  Dostoievski,  mecas  de  Bakhtin,  foi
Séc.XVIII construído  a  partir  dos  romances  do  Renascimento.  Em  Rabelais  destaca  o  riso  e
carnavalização  como  uma  crítica  ética  do  mundo  medieval.  Bakhtin  encontra  em
Dostoievski  o  gênero  polifônico,  como  consciência  imiscuível  de  diferentes
individualidades,  sendo  os  personagens  o  lugar  da  reflexão  da  questão  da  ação.  Em
Goethe,  os  traços  específicos são: a)  Visibilidade  (concretude  objetiva  marxista)­  o  que
não  é  concreto  é  não  substancial  e  temos  que  olhar  para  a  natureza;  b)
Multitemporalidade­  em  cada  recorte,  a  diversidade  tem  conceito  temporal:  o
contemporâneo  é  diacronia  essencial  como  manifestação  do  passado  e  germe  do  futuro.
Ressalta a visão humana do devir.
 
Relação do A leitura que fazemos hoje dos Cantos Védicos é estética e não religiosa. Mas, quando há
homem com o manifestação religiosa, há manifestação ética, jurídica, que se revela por objetos­símbolos.
Sagrado A Religião é o lugar do ético, contém conjunto de símbolos dessas relações do homem com
o  sagrado  que  podem  ser  esteticizadas.  No  processo  de  esteticização,  o  ouvinte  é
internalizado  pelo  Autor  na  produção  estética.  Todo  processo  de  esteticização  é  um
processo  em  que  o  autor  internaliza  os  valores;  o  ouvinte  é  constitutivo.  A  relação  com  o
Sagrado  é  simbolizada  por  Mitos,  Crucifixo,  Taça  (Graal),  Gestos.  As  milhares  de  cruzes
que se fazem a partir da Cruz de Cristo são objetos estéticos, que remetem à Cruz original,
ou  seja,  a  cruz  numa  igreja  é  a  representação  de  uma  cruz  que  não  existe  mais
concretamente. Quando produzo uma cruz, incorporo o ouvinte religoso. O símbolo da Cruz
não  remete  ao  próprio  objeto  (um  crucifixo)  porque  ainda  tem  validade  como  símbolo
religioso. O mármore é o material da escultura, mas a escultura não é o mármore.
Relativismo Nega  a  autonomia  da  verdade  e  tenta  torná­la  alguma  coisa  relativa  e  condicionada  com
respeito  à  sua  veridicidade.  Para  Bakhtin,  a  autonomia  da  verdade,  sua  pureza  e  auto­
determinação  do  ponto  de  vista  do  método,  estão  completamente  preservadas.  Como
"pura" pode participar responsavelmente no Ser­evento. A validade da verdade é suficiente
em  si,  absoluta  e  eterna.  Cada  um  de  nós  assumindo  a  posição  exotópica  e  sendo  um
centro de valores, chegamos ao relativismo absoluto.
 
Representação A  representação  não  nos  permite  construir  um  álibi.  Por  exemplo,  a  representação  da
responsabilidade política não exime o sujeito da responsabilidade do ato. Com relação aos
valores  universais,  seu  embasamento  ontológico  é  uma  possibilidade  vazia  frente  à
concretude do ato.
 
Responsabilidade (Respondibilidade ­ Answearbility) ­ Para que não ocorra a cisão da eventicidade, é preciso
que  o  ato  (postupok)  adquirida  um  plano  unitário  para  refletir­se  no  vivido  e  no  sentido:  a
responsabilidade. A responsabilidade (ou "respondibilidade") contém a alteridade, a resposta
do  outro,  o  ser  que  eu  construo  com  o  outro.  Essa  responsabilidade  tem  uma  direção
específica,  relacionada  com  o  mundo  da  cultura,  dos  enunciados  e  da  significação,  nunca
superior  à  direção  moral  do  ato.  A  palavra  russa  postupok  contém  o  sentido  de  "ato
responsável",  traduzido  em  Espanhol  como  "ato  ético".A  responsabilidade  envolve  o
desempenho  de  um  diálogo  existencial  e  toma  o  lugar  do  "dever"  ou  "obrigação".  A
Responsabilidade  é  a  categoria  fundamental  no  pensamento  de  Bakhtin  (não­álibi  do  ser  ­
responsabilidade que reside no seu lugar, "sui generis" na existência). Devo responder com
a  minha  vida  por  aquilo  que  experimentei  e  compreendi  na  arte.  Esse  conceito  está
associado  à  dialogia,  à  alteridade.    à  urbanidade  (polis  grega),  ao  contrário  do  rural,  que
remete à solidão, à individualidade.
 
Responsabilidade Como professor, não posso encontrar álibi para minhas aulas. Sem risco não há educação
do Professor possível.  Na  educação,  a  recepção  ao  recém­chegado  deve  ser  "O  que  você  me  traz  de
novo?". No entanto, no processo atual da educação brasileira, o professor pertence à rede
estadual  ou  federal  de  educação,  e  não  a  uma  escola  em  particular.  Assim,  ele  não  cria
relação  de  alteridade  nem  responsabilidade.  Os  professores  ficam  se  removendo  de  uma
escola para outra em busca do local ideal, de sua "Pasárgada".
 
Responsabilidade O  Ato,  refletindo­se  em  ambos  os  sentidos  no  plano  uno  (no  seu  próprio  sentido  ­  "ser"  ­
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Responsabilidade O  Ato,  refletindo­se  em  ambos  os  sentidos  no  plano  uno  (no  seu  próprio  sentido  ­  "ser"  ­
Especial e Moral adquire unidade de responsabilidade de duplo sentido: pelo seu conteúdo (responsabilidade
especial) e pelo seu ser (responsabilidade moral). A responsabilidade especial é o elemento
de  ligação  da  responsabilidade  moral  única  e  una,  a  primeira  é  momento  constituinte  da
segunda  e  devem  entrar  em  comunhão.  Assim,  ultrapassamos  a  desagregação  infeliz  e  a
falta de interpenetração mútua da vida e da cultura.
 
Saber e Conhecer Conhecer  é  identificar;  saber  é  chegar  a  uma  plena  cognição.  Conhecer  e  vir  a  saber
envolvem cognição e racionalidade. Compreender e reconhecer, em Bakhtin, envolve o ato
emcional­volitivo.  Para  nós,  na  modernidade,  conhecer  exige  abstrair:  construímos
modelos. No entanto, está em crise o conceito do que é "universal", do que é "objetividade"
e "predictibilidade". É a crise contemporânea dos paradigmas.
 
Ser Único Similar ao conceito de Deus: Ser construído por todos nós, ser genérico. Cada um de nós é
a  relização  dessa  generalidade  e  o  realiza,  construindo.  Há  duas  leituras:  o  Ser  Divino
(teológico),  do  qual  temos  uma  parte  que  também  é  um  todo  (Dessertou  em  oposição  ao
Estruturalismo  de  Foucault),  e  o  Ser  porque  nós  existimos  e  somos  a  relização  única  e  o
constituímos,  a  somatória  de  todos  nós  (ver  "Sociologia  do  Cotidiano",  de  Agnes  Heller).
Bakhtin, em defesa do concreto todo o tempo, constrói uma categoria do Ser, "somatório de
todos nós". A ação que faz o ser torna o ser mais completo: o ser único, a cada ato único,
é  produtivo  do  Ser  Único.  Ajudo  a  dar  completude  a  esse  Ser,  construo  uma  coisa
proveitosa  e  nova.  Nossas  ações  criativas  criam  o  Ser  de  que  eu  participo.  Assim,  a
questão da Criação é trazida para dentro da Ética e mostra como uma espécie de ontologia
o  centro  de  responsabilidade  do  Ser  Único:  o  que  é  universal  adquire  obrigatoriedade  no
sujeito individual. Antes  de  Bakhtin,  só  colocávamos  a  questão  da  criação  na  Estética;  a
partir de suas teorias, passamos a integrá­la na Ética. (Ver "Deus de Bakhtin")
 
Sistemas éticos Primeira  crítica:  toda  ética  atual  é  um  conjunto  de  normas  com  base  em  sistemas  de
normas científicas, cuja fundação é externa à própria norma: o que é ético é acrescentado
enquanto norma.Ex: Direito: crime contra a segurança do Estado ­ sou obrigado a não fazer
nada contra a norma jurídica, e a transformo em norma ética, ou seja, acrescento à norma
jurídica  a  norma  ética,  validada  como  ética.  Assim,  extraímos  de  fora  a  fundamentação
ética.  Já  a  questão  do  livre  arbítrio  é  uma  questão da prima filosofia. Segunda crítica:  por
ser  obrigatoriedade  científica  e  não  um  livre  arbítrio,  a  norma  ética  deve  ter  validade
universal  (  a  passagem  da  norma  científica  para  a  norma  ética  tem  efeito  e  validade
universais,  aplicável  a  toda  e  qualquer  consciência).  DEVER  é  uma  categoria  da
consciência  e  não  pode  ser  categoria  da  teoria,  pois  desse  modo  deixa  de  ser  validade
interna  da  consciência.  Por  exemplo:  o  princípio  da  vida  é  um  bem  e  é  dever  de  todos
conservar a sua vida, e a dos outros. Se a vontade me determina fazer determinada coisa,
eu assumo que tenho que fazer essa coisa.Na Ética Formal a ação real é desterrada para o
mundo teórico com uma exigência vazia de legalidade, ou seja, a vontade se submete à lei.
Sociedade e Sociedade  é  o  "lugar  de  ser",  a  unidade  constituída  pela  diversidade  (multiplicidade  de
indivíduo vozes  multiplicada  de  tempos  (presente,  futuro  e  passado  no  Ato).  O  indivíduo  é  uma
categoria  da  psicologia,  a  parte  psicológica  do  sujeito,  a  parte  menor  que  inclui  a
corporalidade.  Para  Bakhtin,  o  momento  do  ser  é  de  transitividade  e  aberta  eventicidade,
não  compreendido  pela  intuição  estética,  pelo  pensamento  teórico­discursivo  e  pelo
psicologismo, pois esses domínios objetivos, separados  do  ato  que  os  põe  em  comunhão
com o ser, não são realidades com respeito ao seu sentido e significado.
 
Sugestões para 1)       Modo polifônico de construçao da novela de TV obriga o narrador a alterar por completo
estudos o roteiro ­ dialogam personagem e autor. 2) Não existe mais o mundo sem a TV e sem
relação com o sucesso. 3) Por que toda novela que remete ao rural tem mais sucesso,
se a população brasileira é cada vez mais urbana, se a cultura de massa é urbana ? 4)
As  palavras  se  descolam  das  coisas,  tomam  caminhos  diferentes;  as  palavras
constroem  sobre  as  coisas  (co­paginação  entre  Bakhtin  e  Foucault).  5)  Comparar  a
linguagem  dos  personagens  que  vivem  à  margem  da  sociedade  em  João  Antônio  e
Rubem  Fonseca  (como  em  João  Antônio  a  linguagem  é  plena  de  subentendidos  e  em
Rubem  Fonseca  os  palavrões  remetem  à  imagem  que  a  classe  média  tem  dos
marginais).
 
Sujeito como sede A  contemplação  estética  tem  sede  no  sujeito,  próxima  da  razão  prática.  Na  teoria  não
da contemplação podemos  utilizar  conjunto  de  elementos  heteróclitos,  e  por  isso  a  tentação  é  maior.  Para
estética. Bakhtin,  isso  demonstra  que  a  estética  não  esgota  o  Ato  único  em  sua  unicidade,
eventicidade e devir.

Sujeito polifônico Categoria  essencial  em  Dostoievski,  conforme  os  estudos  de  Bakhtin,  e  presente  na
atualidade  nas  novelas  de  televisão  (obras  polifônicas).  Na  Literatura,  representa  a
estrutura,  e  não  o  ser  único  em  sua  eventicidade,  unicidade.  O  sujeito  polifonicamente
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estrutura,  e  não  o  ser  único  em  sua  eventicidade,  unicidade.  O  sujeito  polifonicamente

constituído  é  o  que  dá  o  sentido  à  Arte,  pois  volta  a  si  mesmo  enriquecido.  Porém,  só
posso  usar  minha  formação  polifônica  se  eu  existir  (evento  em  processo  de  devir).  As
vozes  que  me  constituem  hoje  não  me  permitem  ler  Camões  como  um  homem  do  século
XVI o faria. O Ser (Deus), o lugar da polifonia que me constitui, e que constituo o que me
constitui  (cultura)  denota  a  responsabilidade  com  o  futuro.  A  cultura  é  o  lugar  do  'homo
loquens",  sendo  a  palavra  uma  ponte  entre  locutor  e  inter­locutor,  e  eles  não  são  donos
dessa palavra.
Tecnologia O mundo da Tecnologia conhece sua própria lei imanente e fugiu da tarefa de compreender
o  propósito  cultural  de  seu  impetuoso  desenvolvimento.  Os  instrumentos  são  perfeitos  de
acordo com sua lei interna,  mas a Técnica, desligada da unidade singular e entregue à lei
imanente  de  seu  desenvolvimento,  pode  assumir­se  como  força  horrível  e  destrutiva,  a
serviço do mal e não do bem. O exemplo são os armamentos, cuja utilidade inicial racional
seria a defesa e se tornaram força depauperante e destrutiva. O mundo da técnica nega­se
a refletir o seu objetivo cultural. Abstrai­se do que dá vida ao ato, o que é arbitrário, o novo,
o criativo em vias de consumar­se em ato. A orientação prática é inviável no mundo teórico,
e assim é impossível agir com responsabilidade.
 
Totalidade Categoria fundamental em Bakhtin: mesmo não tendo intenção tenho responsabilidade. Na
unidade  (o  todo  individido)  não  há  nada  que  seja  subjetivo  ou  psicológico.  Em  sua
responsabilidade,  o  ato  coloca  diante  de  si  sua  própria  verdade  (verdade  sintética),  de
dentro do próprio ato. Ex: o discurso em sua materialidade lingüística não pode ser dividido
em partes (conceito de "recortes"). O todo é individido (fatualidade). Uma sentença pode ser
segmentada,  mas  não  posso  atribuir  ao  segmento  o  sentido  da  sentença.  Não  há  ato
elocucional  sem  haver  perlocução;  a  perlocução  é  parte  necessária  do  efeito  a  ser
alcançado  pelo  discurso.  O  tema  é  individual  e  real.  Isso  coloca  Bakhtin  mais  na  tradição
que  vem  da  retórica  do  que  na  tradição  que  vem  da  estrutura.  (exposício=  significação,
disposício= tema).
 
Unicidade sui A  unicidade  não  pode  ser  pensada,  só  pode  ser  experimentada  passionalmente.  Na
generis representação  emocional­volitiva,  a  cognição  é  apenas  um  componente.  "Ser"  é  definível
nas categorias da  comunhão  real  (do  ato),  categorias  da  experiência  autêntica  e  passional
da unicidade concreta do mundo.

Validade "Válido"  significa  "estar  em  vigor",  em  uso,  operativo  em  força  ou  efeito.  Podemos
considerar  a  validade  das  categorias  e  dos  juízos  sintéticos  "a  priori".  É  um  conceito
fundamental para a Filosofia, as Ciências e toda a cognição em geral. A validade teórica do
conteúdo­sentido  (imaterial),  um  juízo  universalmente  válido,  é  uma  unidade  teórica  do
domínio teórico aplicado. Seu lugar nessa unidade determina a sua validade. A avaliação de
um  pensamento  inclui  o  momento  constituído  pela  validade  teórica  de  um  pensamento
como  juízo,  mas  não  se  esgota  nesse  ato.O  juízo  teoricamente  válido  é  impenetrável  à
minha  auto­atividade  individualmente  responsável.  Distinguimos  a  forma  (categorias  da
síntese)  e  o  conteúdo  (o  assunto,  o  dado  experimental  e  sensual),  que  podem  ser
chamados de objeto e conteúdo, mas a validade permanece impenetrável ao ato individual,
que é a ação realizada por aquele que pensa.
 
Valor da obra de A  obra  de  arte  é  um  objeto  real  que  possui  valor  (realidade­objeto),  mas  é  um  valor  não
arte idêntico  à  sua  realidade.  A  tela  e  a  tinta  não  pertencem  ao  valor  que  ela  possui.  Os  bens
são  realidades­objetos  vinculadas  com  valores.  No  entanto,  os  valores  são  separados  do
valor psíquico de avaliação. Valores estão associados à realidade, mas não são o mesmo
que avaliações reais ou bens reais. A obra estética tem uma forma de acabamento: o autor
introduz uma categoria de acabamento.
 
Veridicidade É o fato de ser verdadeiro em si.

Vida, Idéia, A  Vida  (singular)  em  sua  totalidade  é  uma  atuação  complexa.  A  Idéia  é  uma  atuação
Procedimento individual  responsável  que  integra  a  vida  como  atuação  ininterrupta.  O  Procedimento  é  a
idéia mais o seu conteúdo, que a torna íntegra. Na historicidade concreta de sua realização,
os elementos semântico e histórico­individual (factual) são unos e indivisíveis.
 
 
 
 
Referências bibliográficas
 

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00006.htm 14/15
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BAKHTIN, Mikhail M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
___________ Para uma filosofa do ato. Tradução de Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza de Toward a
Philosophy of the Act. Austin: University of Texas Press, 1993.
 
GERALDI, João Wanderley. Alteridades: Espaços e Tempos de Instabilidades. Artigo escrito para os alunos do
curso "Tópicos de Lingüística V", IEL, Unicamp, novembro de 2003.
 
LARROSA, Jorge/ FENOY, Sebastián. Maria Zambrano: L'Art de les Mediacions (Textos pedagògics). Barcelona,
Publicacións de La Universitat de Barcelona, 2002.
 
SOUZA, Geraldo Tadeu. A Construção da Metalingüística (Fragmentos de uma Ciência da Linguagem na obra de
Bakhtin e seu Círculo). Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
USP. São Paulo, 2002.
 
VOLOSHINOV, V.N./M.M.BAKHTIN. Discurso na vida e discurso na arte. Tradução inédita de Cristóvão Tezza do
artigo "Discourse in Life and Discourse in Art", apêndice in Voloshinov, V.N. Freudianism: a marxist critique. New
York: Academic Press, 1976;
 
 
 
WILSON DAVID
01/12/2003

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00006.htm 15/15

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