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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR WALDIR LEÔNCIO JUNIOR,

RELATOR DA AIJE n.º 0603024-56.2018.6.07.0000 JUNTO AO TRIBUNAL


REGIONAL ELEITORAL DO DISTRITO FEDERAL – TRE/DF

1. Proposta genérica, feita em tom coloquial. 2.


Impessoalidade, não se sabendo quem serão
beneficiados. 3. Não condicionamento ao voto
(ausência de troca). 4. Cumprimento mediante política
pública, que tem como pressuposto o exercício do
cargo (decorrência lógica e não dolo específico de agir
ilicitamente). 5. Doação, em favor do Distrito Federal,
de recursos que, no futuro (após as eleições), espera-se
que o GDF pague ao candidato (remuneração do cargo,
regalias e honorários de sucumbência). 6. Não
configuração de ilícito de qualquer natureza.
Precedentes do TSE.

AIJE nº 0603024-56.2018.6.07.0000

IBANEIS ROCHA BARROS JÚNIOR, candidato eleito ao cargo de Governador


do Distrito Federal, e MARCUS VINICUS BRITTO DE ALBUQUERQUE DIAS,
candidato ao cargo de Vice-Governador do Distrito Federal, já qualificados nos autos, vêm,
respeitosamente, à presença de V. Exa., com base no art. 22, inciso I, alínea a, da LC 64/90,
apresentar

CONTESTAÇÃO

Ao inteiro teor da Ação de Investigação Judicial Eleitoral proposta pela Coligação Brasília de
Mãos Limpas e Rodrigo Sobral Rollemberg.

I. Tempestividade

Conforme documento de ID n.º 216634, a notificação dos representados ocorreu no


dia 05/11/18, com juntada do mandado em 06/11/2018, sendo tempestiva a contestação
apresentada em 10/11/18.
II – Síntese do processo

Trata-se de AIJE ajuizada por candidato adversário, por meio da qual se pleiteia: (i) a
cassação do diploma dos representados por suposta captação ilícita de sufrágio (artigo 41-A
da lei 9504/97) e abuso do poder econômico (artigo 14, § 9º da CF e 237 do Código Eleitoral);
(ii) a aplicação de multa; (iii) a declaração de inelegibilidade.

A ação se sustenta em vídeo editado e não vai além disso, sendo as demais “provas”
cobertura da imprensa sobre o mesmo fato. A afirmação retirada de contexto pelos
representantes no vídeo editado foi “as casas que a Agefis derrubou, eu vou reconstruir com o meu
dinheiro”. A resposta audível das pessoas sobre a promessa GENÉRICA foi em tom jocoso e
não de troca de votos, pois diziam: “- Vou mandar derrubar a minha. - Eu também! - Porque
ele é milionário.”

Isso já demonstra que não se sabe quem são as pessoas que tiveram as suas casas
derrubadas pela Agefis e nem mesmo se estavam presentes. Registre-se que esta ação foi
movida PELO Governador em exercício e este também não foi capaz de trazer aos autos
quem foram as pessoas com casas derrubadas, ficando clara a impessoalidade da proposta. Os
críticos da medida podem acusá-la de ser demagógica (o exercício do mandato provará o
contrário), e, ainda que fosse, a demagogia, por si só, não se enquadra no tipo da captação
ilícita de votos ou do abuso do poder econômico1.

A partir do vídeo editado de 36 segundos e da cobertura da imprensa sobre ele, tenta-


se na presente ação configurar cenário não existente de: (a) promessa determinada e
condicionada ao voto; (b) troca imediata do suposto benefício por votos; (c) dolo específico
de comprar votos, retirando a liberdade do eleitor; (d) dispêndio de recursos financeiros
capazes de desequilibrar durante o processo eleitoral.

1 TSE. (...) Por outro lado, penso que se deva ter cautela redobrada ao aplicar o art. 41-A quando se trate de
promessa formulada a eleitores não identificados. Deve-se procurar separar a conduta ilícita, consistente na
obtenção indevida do voto mediante promessa de vantagem pessoal, da simples promessa de conteúdo político,
ainda que demagógica ou inviável. (Recurso Especial Eleitoral nº 28441, Acórdão, Relator(a) Min. José Delgado,
Publicação: DJ 29/04/2008)
Ademais, a inicial cita as participações de Ibaneis em entrevistas e debates como fatos
supostamente aptos a configuração dos ilícitos2. Contudo, ao contrário do que tentam fazer
crer os representantes, as respostas dadas – por provocação da imprensa ou dos adversários -
são a efetiva demonstração de que o vídeo editado foi apresentado fora de contexto.

II.1. Da realidade dos fatos

A pecha de “uso abusivo do poder econômico” pelo candidato Ibaneis se tornou,


desde o início da campanha, a maior bandeira dos adversários. Sendo o representado novidade
no cenário político, os demais candidatos apostaram na propaganda negativa relacionada ao
montante patrimonial declarado por Ibaneis à Justiça Eleitoral.

A tentativa de emplacar a propaganda negativa de abuso do poder econômico chegou


a ficar caricata durante a eleição. No início, diziam que não poderia ser eleito, pois é credor do
GDF e se utilizaria do cargo em interesse próprio3. Quando Ibaneis subiu nas pesquisas,
diziam os adversários que estaria comprando os resultados4, quando passou a obter o apoio
de personalidades do meio político, diziam que estaria comprando apoio.

Mais absurda foi afirmação do então candidato Fraga, em debate na TV Globo, de que
Ibaneis teria comprado a sua condenação criminal, tendo justificando sentença criminal o com
argumento, também abusivo, de que se trataria de juiz ativista LGBT5.

Diante das provocações negativas de que, sendo credor do GDF, o candidato


defenderia os seus próprios interesses, no dia 14/09/2018 (bem antes do vídeo objeto da

2 Debate na Rede Globo de 02/10/2018; entrevista no programa DFTV, de 16/10/2018; sabatina do portal G1,
do dia 16/10/2018; entrevista à Rádio BandNews, do dia 11/10/2018 e; entrevista ao C.B. Poder, de
09/10/2018.
3 https://www.valor.com.br/politica/5900947/em-debate-no-df-lider-nas-pesquisas-e-o-principal-alvo-dos-
ataques
4 A respeito do resultado do Ibope divulgado na noite de quarta (3), na qual aparece na A respeito do resultado

do Ibope divulgado na noite de quarta (3), na qual aparece na quarta posição, Fraga disse que continua confiante
quanto a ir para o segundo turno. “Na minha última eleição, eu era o terceiro, quarto, quinto colocado, e fui o
mais votado, disparadamente. Não compro pesquisa, trabalho com levantamentos internos.”
https://www.metropoles.com/distrito-federal/politica-df/ibaneis-arrota-dinheiro-e-nao-paga-os-cabos-
eleitorais-diz-fraga
5

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/10/03/interna_cidadesdf,709888/chamado
-de-ativista-lgbt-por-fraga-juiz-pretende-processar-fraga.shtml
presente ação) e sem nenhuma vedação para ampliar o seu escopo, o candidato incluiu em sua
plataforma de campanha, escritura pública6 por meio da qual declarou que abriria mão dos
valores que o GDF deverá pagar a ele no futuro, visando a execução de políticas públicas
sociais.

Tais doações se referem a recursos que ainda não integravam o patrimônio do


representado no período eleitoral – e ainda não integram, sendo que parte deles é inerente ao
exercício do cargo (remuneração e regalias do cargo), sendo óbvio que a doação está
condicionada ao seu exercício.

Em relação aos honorários devidos pelo GDF, tratou-se de proposta de doação aos
cofres públicos, vinculada à execução da plataforma de campanha do candidato, sendo certo
que o programa de governo de Ibaneis não seria cumprido por seus adversários, não
justificando a doação para outra finalidade, caso não fosse eleito.

Ainda assim, a propaganda negativa dos adversários relacionada ao patrimônio do


candidato Ibaneis seguiu recorrente, e a todo momento buscaram um ato, uma fala ou algo
que pudesse dar mínima sustentação às acusações de abuso de poder econômico e captação
ilícita de sufrágio já predispostas.

Foi seguindo essa linha que, no dia 30/09/2018 (quando Ibaneis já liderava as
pesquisas), os próprios adversários filmaram, editaram e fizeram circular o vídeo que
pretensamente daria suporte às acusações, sendo que também foram eles os responsáveis por,
a todo tempo, pautar a discussão, na tentativa de retirar votos do representado, o que surtiu
efeito, evitando que Ibaneis vencesse a eleição no 1o turno, quando obteve 41,97% contra
13,94% do segundo colocado.

6
“(...) Declaro, em respeito a meus eleitores e toda sociedade do Distrito Federal, que, quando eleito
Governador do Distrito Federal nas próximas eleições, não receberei o salário do cargo, destinando a verba para
melhorais de creches e escolas. Além disso, não farei uso da residência ou de carro oficial, bem como qualquer
outra regalia ou privilégios. Declaro, ainda, que os honorários de sucumbência devidos ao escritório
IBANEIS ADVOCACIA E CONSULTORIA referentes ao pagamento da terceira parcela do reajuste
dos servidores públicos do Distrito Federal, também serão revertidos para melhorais de creches e
escolas.”
A mídia deu cobertura diária ao fato e, por mais duras que fossem as entrevistas,
também limitadas pelo tempo, deu-se ao candidato Ibaneis a oportunidade de expor mais
detalhadamente a proposta, de forma diversa do espaço de fala limitado e coloquial que se tem
em discurso de campanha.

A esse respeito são oportunas as considerações da Desembargadora Diva Lucy, no


julgamento da RP n.º 0601679-55/TRE-DF, ao discorrer sobre a particularidade de
diferentes espaços de fala. Vejamos:

“(...) a mensagem atacada foi difundida pela televisão em tom coloquial e


conciso no horário gratuito de propaganda eleitoral. Serviu ela a evidenciar, no
limite de tempo possível, de forma direta e rápida, a discordância dos
Representados com a gestão do Governo (...) A discordância e grave desagrado
expressos com o atual Governo, considerado o ambiente em que a
mensagem foi divulgada (...) não comporta discurso alongado nem
exaustivo.
O MEIO DE COMUNICAÇÃO UTILIZADO RECLAMOU (E
RECLAMA) TEXTO RESUMIDO PARA EXPOSIÇÃO DE IDEIAS
ESSENCIAIS E DE FÁCIL COMPREENSÃO. Resulta daí que a
discordância de opinião do modo como expressada pelos Representados
atendeu ao limite do possível para a comunicação por meio de rádio e
TV, motivo pelo qual, em princípio, a mensagem divulgada guarda
compatibilidade com o meio (...).
ASSIM, TENHO QUE A LINGUAGEM COLOQUIAL UTILIZADA
PELOS REPRESENTADOS, AO EVIDENTE INTUITO DE MAIS
SE APROXIMAR DO ELEITOR, não configura injúria ou calúnia aos
Representantes.
A falta de precisão estatística na descrição dos fatos não se mostra como
configuradora de abuso ou excesso, merecedor de direito de resposta para
restabelecer os princípios da informação e da veracidade que regem a
propaganda eleitoral.”

Assim, EM TODOS OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (emissoras de TV, rádio,


imprensa escrita, blogs etc) o candidato esclareceu que se trataria de política pública a ser
instaurada mediante processo administrativo, sem que ele soubesse quem serão as pessoas que
se enquadram na situação. Tal fato ficou consignado, por exemplo, nos casos abaixo:
 Debate promovido pela TV Globo, antes do 1o turno, assim reproduzido pelo portal
“valor econômico”7,:

 denominado “fato 3” citado na inicial (ID n.º 95557, p. 10 - entrevista concedida por
Ibaneis ao DFTV no dia 16.10.18):

“(Ibaneis) Que fique bem claro, eu vou abrir um processo administrativo,


vou analisar se aquilo era irregular, porque agora até o Governador tá
dizendo que lá é passível de regularização. Se for passível de
regularização, seu vê possibilidade de legalização, vai ser feito.
(...)
(Ibaneis) Através do processo administrativo regular com
acompanhamento do poder público, onde o servidor, aqueles que tiveram
suas casas, vão ter o direito de dizer, mostrar o local, fazer o levantamento dizer
o que tinha construído, fazer todo o levantamento do custo daquilo ali. Feito
isso tudo vai ser homologado, ao invés de botar o dinheiro público, eu vou
botar o meu.”

 Entrevista concedida por Ibaneis à Band News no dia 11/10/2018 (ID n.º 98194, p.9):

(Ibaneis) (...) e essa proposta eu fiz e caso eleito eu vou cumprir, eu vou abrir
os processos administrativos, verificar se realmente aquela derrubada foi
ilegal e ela tendo sido ilegal, eu não conheço o nome de nenhum que
teve a casa derrubada, eu nunca visitei uma dessas pessoas e nem sei se
elas estavam naqueles eventos. Agora eu vou fazer e vou fazer da maneira
como que eu disse, agora eu não cheguei na casa de ninguém oferecendo
dinheiro, eu não meti a mão no bolso pra construir a casa de ninguém, eu fiz
uma proposta de campanha e todos os candidatos prometeram, então tudo que
você prometer, se eu prometer que eu vou resolver o problema de saúde, será
que todos os doentes do Distrito Federal vão votar em mim, Cláudio? Se for
assim tá fácil. É diferente isso, essa é a diferença (...).”

7 https://www.valor.com.br/politica/5900947/em-debate-no-df-lider-nas-pesquisas-e-o-principal-alvo-dos-
ataques
 Entrevista concedida por Ibaneis ao Correio Braziliense no dia 9/11/2018 (ID n.º
98194, p.12):

(Ibaneis) Eu não me dirigi a casa de nenhum desses eleitores, eu não fiz oferta
em dinheiro pra eles. Eu fiz um compromisso de que eleito, se eleito, eu vou
ver. Eu não sei nem quem são essas casas, quem são os proprietários,
não vi as pessoas e nem sei se elas estavam naquele ambiente.

 Entrevista concedida por Ibaneis ao G1 no dia 16/10/2018 (ID n.º 98194, p.14):

(Ibaneis) Como nós temos escolas todas cadastradas, nós vamos ter o
levantamento delas todas e as obras ocorrem por licitação, ao invés do
dinheiro sair do Estado, na hora de pagar as empresas que vão reformar,
eu diretamente vou disponibilizar, vou autorizar o judiciário que faça a
cessão desse crédito. Você faz através de petição no processo judicial e o juiz
você faz a cessão do crédito.

Portanto, não há nenhuma dúvida de que se trata de proposta genérica de campanha,


a ser executada mediante política pública.

II.2. Da necessária contextualização quanto à proposta de campanha relacionada à


reparação de danos (reconstrução de casas ilegalmente derrubadas)

Registre-se que, dentre outras propostas, o então candidato apresentou proposta de


reformar escolas, creches e reparar os danos causados pela derrubada ilegal de casas que
deixaram pessoas em situação de vulnerabilidade (a última proposta tem como pressuposto a
responsabilidade civil do Estado, direito que, se aquelas pessoas não vivessem no limite da
condição humana, já teriam obtido judicialmente).

A título exemplificativo, vale citar a seguinte decisão do TJDFT que considerou


ILEGAL a derrubada de casas semelhante àquelas objeto das críticas de Ibaneis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ORDEM DEMOLITÓRIA. AGEFIS.


CONSTRUÇÃO IRREGULAR. ABUSO DE PODER DO EXERCÍCIO
DA AUTOTUTELA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO E DA LEGÍTIMA
DEFESA. DECISÃO DESCONSTITUÍDA. 1. A Administração Pública
deve, no exercício de seu poder de império, coibir edificações irregulares,
tomando as medidas estabelecidas no art. 178, § 1º, da Lei nº 2.105/1998. 2.
Diante das demolições promovidas pela AGEFIS convém analisar de forma
mais percuciente o denominado "poder de polícia" e os respectivos atributos
que a Administração Pública possui para a execução de suas finalidades,
especialmente em razão da ausência de notificação dos supostos
infratores. 3. No caso, as demolições promovidas pela AGEFIS estão
fundadas no aludido atributo da auto-executoriedade, uma vez que em razão
do art. 178 da Lei nº 2.105/1998 a Administração Pública tem efetuado essas
demolições de obras supostamente irregulares de imediato, sem notificar os
eventuais infratores. 4. As demolições realizadas pela AGEFIS, no entanto, não
ocorrem somente em situações de risco à coletividade ou em situações de
flagrância. Ao contrário, a Administração Pública tem promovido
também a demolição de construções irregulares, INCLUSIVE DE
IMÓVEIS RESIDENCIAIS CONSTRUÍDOS HÁ VÁRIOS ANOS, DE
FORMA ABRUPTA E IMEDIATA sem promover a notificação dos
eventuais interessados a respeito da necessidade de desocupação da
respectiva área pública em evidente afronta ao princípio do devido
processo legal (art. 5º, inc. LIV, da Constituição Federal e artigos 2º, parágrafo
único, incisos VIII e IX, e 3º, incisos II e III, da Lei nº 9.784/1999). Tal
situação, por certo, ATENTA CONTRA OS DIREITOS
FUNDAMENTAIS DOS OCUPANTES, QUE SEQUER TÊM
OPORTUNIDADE DE APRESENTAR DEFESA PRÉVIA COM O
OBJETIVO DE SUSCITAR AS QUESTÕES QUE
EVENTUALMENTE SALVAGUARDEM O DIREITO À MORADIA,
EM SEUS DIVERSOS MATIZES, BEM COMO PARA
RESGUARDAR A PRÓPRIA INVIOLABILIDADE RESIDENCIAL.
5. Recurso conhecido e provido. (Acórdão n.1032431, 20160020356703AGI,
Relator: ALVARO CIARLINI 5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento:
19/07/2017, Publicado no DJE: 27/07/2017. Pág.: 313/319)

Além disso, vale transcrever os seguintes trechos do voto proferido pelo Des. Álvaro
Ciarlini, relator daquele processo:

"(...) De acordo com essas considerações, os atos administrativos de demolição


são juridicamente complexos, pois, a princípio, vislumbra-se que a AGEFIS
tem, por vezes, exercido o poder de império de Estado sem qualquer
critério ou observância aos princípios constitucionais do processo
administrativo (devido processo legal, contraditório e da ampla defesa), nos
termos do art. 5º da Constituição Federal. (...) Assim, a atuação da AGEFIS,
sem a prévia notificação do interessado, constitui EVIDENTE FORMA
DE ABUSO DE PODER do exercício da autotutela, uma vez que a
mencionada previsão legal, convém insistir, ofende os princípios
constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa (art. 5º da Constituição Federal).”

Dessa forma, ainda que a política promovida pelo Governador fosse de derrubada de
residências (política suspensa durante as eleições), trata-se de discussão no plano programático,
do conflito entre direito à moradia e limites ao poder de polícia do Estado.

Mais especificamente em relação à Colônia Agrícola 26 de setembro, em 2010, no


exercício do cargo de Senador, Rodrigo Rollemberg esteve no local e prometeu a regularização,
reconhecendo como indevida a consideração daquela região no plano da ilegalidade. Vejamos
a transcrição do vídeo anexo:

Rodrigo Rollemberg: (...) Nós já estamos trabalhando no ICMBio para que o


26 de setembro saia da Flona. Esse trabalho nós já estamos fazendo. Foi muito
bom eu ter vindo aqui porque eu tenho uma reunião com o presidente do
ICMbio na quarta-feira, 8 da manhã e eu vou cobrar isso dele. Infelizmente, os
governos são, como disse o Glênio, alguns mais do que outros, são lentos, né.
Mas esse problema precisa ser resolvido, porque não tem sentido
nenhum que o 26 de setembro continue fazendo parte da flona.
PRIMEIRO PORQUE ISSO AQUI FOI UM ASSENTAMENTO
LEGAL. Eu me lembro quando foi feito no Governo Cristóvão, EU
FAZIA PARTE DO GOVERNO CRISTÓVÃO QUANDO O 26 DE
SETEMBRO FOI FEITO pelo Governador Cristóvão, né. Por outro
lado, A GENTE SABE QUE AQUI SE CONSOLIDOU UMA
OCUPAÇÃO EM QUE NÃO TEM MAIS SENTIDO ALGUM, NÃO
TEM SENTIDO ALGUM DE FAZER PARTE DA FLONA. E esse
problema é importante resolver porque como foi dito aqui a gente já
(inaudível). Elas passam pela patrolagem das ruas, passam pela
iluminação, passa por uma série de questões de endereço, todas elas
superimportantes. E para resolver definitivamente, né, nós temos que
retirar o 26 de setembro da flona. Na minha opinião, isso não impede do
Governo do DF, né, de fazer gestões junto ao MP, junto à Justiça se for
o caso, junto aos órgãos que estariam impedindo isso PARA MOSTRAR
QUE ALGUMAS OBRAS É UMA QUESTÃO DE BOM SENSO
FAZER. Porque não são obras definitivas que vão impactar, mas hoje qual é
a diferença. Se você tiver uma rua patrolada até do ponto de vista ambiental é
melhor do que uma rua sem patrolar, por quê? Porque uma rua sem patrolar
faz (inaudível), vai fazer tal, e acaba promovendo erosão e assoreamento e as
consequências ambientais são piores. Acho que nesta questão é
imprescindível abrir um diálogo permanente com as autoridades. (...) E
eu vou cobrar a agilização da retirada do 26 de setembro. Que foi que
naquela ocasião, né, nos disse o Presidente do ICMBio? Que ele estava
pensando numa proposta geral, né, uma proposta que redefinisse várias áreas
de unidade de conservação no Distrito Federal, como a flona por exemplo, a
retirada de várias áreas da flona, porque não tinha porque, do ponto de vista
ambiental, permanecer. E iria incorporar outras áreas, né, de outras áreas de
valor ambiental e que hoje não estão protegidas. No entanto, o compromisso
que ele assumiu, e tá o Elísio com a gente, ele já venceu, né, e eles não
apresentaram ainda a proposta, né. E eu tenho uma reunião com ele sobre o
parque nacional de Brasília na próxima quarta-feira e vou cobrar esse
entendimento. E vou até sugerir, se vocês me permitem, né, se ele tiver
interesse, que a gente faça uma reunião com ele aqui, PARA ELE VIR
AQUI VER COM OS PRÓPRIOS OLHOS A REALIDADE ... para que
ele possa tomar as medidas adequadas (...)”

Como se nota, embora ao assumir a chefia do Executivo Rodrigo Rollemberg tenha


adotado política diversa, de derrubada das residências existentes, chanceladas por ele mesmo
anos atrás, não se pode dizer que o imbróglio jurídico e social existente chegou ao fim porque
o Governador passou a considerar populista e grileiro qualquer um que se dispusesse a tratar
como questão de política pública, até mesmo humanitária, aquelas derrubadas classificadas
como ilegais.

Assim, há discussão razoável sobre legalidade dos atos praticados pela Agefis em
diversas oportunidades, tendo sido essa uma das plataformas de campanha do candidato
Ibaneis, tal como se nota dos seguintes trechos de sabatina promovida pelo site Metrópoles8,
em 20 de agosto de 2018, muito antes dos fatos trazidos nesta ação:

“(...) Ao voltar a falar sobre instituições públicas, Ibaneis criticou a


seletividade da Agência de Fiscalização do DF (Agefis) ao promover
derrubadas no Distrito Federal. Ele classificou o órgão como um
“monstro que está engolindo a cidade e perseguindo as pessoas. Não
pode continuar sendo a Agefis do mal”, criticou.

O candidato Ibaneis tem plena consciência de que pessoas que tiveram seus
DIREITOS violados, possuem o DIREITO de obter reparação pelos danos indevidamente
causados pelo Estado. A reparação atribuída às pessoas que se enquadrarem nessa condição
sequer caracteriza benefício, mas sim DIREITO. Assim, trata-se de proposta programática,
impessoal e não condicionada ao voto.

8https://www.metropoles.com/distrito-federal/politica-df/ibaneis-rocha-e-o-quarto-sabatinado-pelo-

metropoles-acompanhe
Para execução de determinadas políticas públicas (escolas, creches e reparação de
danos, com reconstrução de casas), o candidato Ibaneis indicou como fonte de custeio os
valores que o GDF, no futuro, pagará a ele, os quais são decorrentes de salário, regalias do
cargo e honorários de sucumbência que o Governo deve ao candidato. Em síntese, ao invés
de dar calote em fornecedores, servidores ou outros, para execução de políticas públicas, o
GDF deixará de pagar o próprio Governador eleito, com a sua anuência.

Nessa hipótese, salvo entendimento diverso do futuro corpo técnico do Governo,


acredita-se que tais doações poderão ser feitas mediante transferência dos recursos a um dos
fundos públicos para que, a partir deles, as políticas públicas propostas sejam executadas,
sendo recepcionados todos aqueles que se enquadrarem na situação descrita,
independentemente de terem ou não apoiado o candidato Ibaneis.

Nunca se cogitou – nem há acusação nesse sentido, sequer por parte dos
representantes – de afastar da política pública eleitores que, livremente, optaram por declarar
apoio a outros candidatos.

Em momento nenhum houve ato negocial de realização de promessa em troca do


voto, bem como inexiste vantagem pessoal, mas sim impessoal e genérica. Em relação à fonte
de custeio, não há qualquer relação com o patrimônio hoje disponível do candidato, tratando-
se de disponibilização futura PELO GDF, os quais serão utilizados para cumprimento da
proposta de campanha, sem qualquer dispêndio durante o processo eleitoral e, portanto,
incapaz de ferir a igualdade de chances entre os candidatos.

Além disso, merece destaque a seguinte promessa realizada pelo candidato Rodrigo
Rollemberg:
A proposta de Rollemberg representa promessa DETERMINADA (distribuição de
R$ 600,00), além da promessa indeterminada (construção de casas – sem especificações), bem
como estipula que isso será feito para 50 mil famílias de locais específicos. Nesse caso,
enquanto Governador em exercício, o candidato tem acesso ao cadastro de todas as famílias
beneficiárias junto à CODHAB. Não há indicação da fonte de custeio (pública ou privada),
impedindo que se saiba se decorrente de fonte lícita.

Obviamente que, não tendo sido eleito, Rollemberg não cumprirá a promessa de
construir casas para 50 mil famílias e não distribuirá R$ 600,00 por mês a cada uma até que
fiquem prontas as casas, não se podendo dizer, sem outras provas, que houve o
condicionamento específico ao voto punível na forma do art. 41-A.

Ainda assim, por mais suspeita e demagógica que seja a promessa de Rodrigo
Rollemberg (construção de milhares de casas, pagamento de R$ 600,00), não há configuração
de captação ilícita de sufrágio ou abuso do poder econômico, haja vista não estarem presentes
todos os elementos necessários.

Da mesma forma, em relação à proposta de Ibaneis, é fantasiosa a presunção dos


representantes de que “todos os eleitores que tiveram suas casas derrubadas pela AGEFIS
estão acreditando que, votando no ora investigado, terão suas casas reconstruídas sem
qualquer dispêndio financeiro próprio ou burocracia administrativa, já que o investigado
prometeu que a reconstrução será custeada com seu próprio dinheiro” (p. 15).

III. Da não ocorrência de captação ilícita de sufrágio, art. 41-A da lei 9.504/97

Extrai-se do art. 41-A e § 1º da lei 9.504/979 que a fonte de custeio (pública ou privada)
não é o elemento caracterizador da captação ilícita de sufrágio, mas sim: (i) promessa de
vantagem pessoal; (ii) elemento subjetivo marcado pela evidência de dolo no sentido trocar
(figura negocial) o oferecimento da vantagem pessoal pelo compromisso do voto do eleitor
(capaz de retirar a liberdade do eleitor).

Neste caso concreto, não houve afronta ao artigo 41-A da lei 9.504/97, tendo em vista
que: (i) a vantagem da proposta de campanha não está quantificada, o que só ocorrerá
mediante a instauração de processo administrativo, no futuro; (ii) a proposta de campanha
genérica, de natureza impessoal, podendo participar dela eleitores de outros candidatos; (ii.1)
também é impessoal pois nem mesmo os destinatários sabem se possuem direito, haja vista

9Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei,
o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou
VANTAGEM PESSOAL de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da
candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro
ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de
1990. § 1º Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a
EVIDÊNCIA DO DOLO, consistente no especial fim de agir.
que a ilegalidade da derrubada será apurada no âmbito de processo administrativo; (iii) não
houve condicionamento ao voto do eleitor; (iv) inexiste o necessário elemento subjetivo
doloso negocial, de obter ilicitamente o voto dos eleitores; (v) trata-se de proposta e de
recursos financeiros a ser disponibilizados em momento futuro, de maneira impessoal, quando
do exercício do cargo (CF, art. 37, § 1º10).

Vale destacar que no julgamento do REspe 191-76/ES11, o TSE definiu que a


promessa de doação de um imóvel municipal à “comunidade evangélica” não configurava a
conduta do art. 41-A se “não voltadas as promessas a satisfazer interesses patrimoniais
privados”.

No julgamento do REspe 353-52/SP, o TSE considerou que a promessa genérica de


doação de cestas básicas a Igrejas Católicas e Evangélicas, dirigida indistintamente aos
eleitores, não configurava a captação ilícita de votos art. 41-A. Vejamos:

ELEIÇÕES 2008. RECURSOS ESPECIAIS. OFERECIMENTO DE


CESTAS BÁSICAS DURANTE DEBATE ENTRE CANDIDATOS A
PREFEITO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA
DE SUFRÁGIO. DESPROVIMENTO. I - Promessas de campanha
dirigidas indistintamente a eleitores sem referência a pedido de voto não
constituem captação ilícita de sufrágio, a que alude o art. 41-A da Lei nº
9.504/97. II - Recursos especiais a que se nega provimento. (Recurso Especial
Eleitoral nº 35352, Acórdão, Relator(a) Min. Fernando Gonçalves, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 07/06/2010, Página 30)

É oportuna a transcrição dos seguintes votos proferidos no acórdão acima ementado:

Ministro Marcelo Ribeiro:

(...) Clara foi a intenção do candidato de formular uma promessa com nítido
contorno de propaganda eleitoral, uma vez que se trata de intenção

10 CF, art. 37. § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
11
TSE, Recurso Especial Eleitoral nº 19176, Acórdão de , Relator(a) Min. Sepúlveda Pertence, Publicação:
DJ - Diário de justiça, Volume 1, Data 22/02/2002.
dotada de IMPESSOALIDADE, ainda que voltada para uma
comunidade (os integrantes da Igreja católica e evangélica). Destaque-
se ainda que ESSA INTENÇÃO GENÉRICA FOI DIFERIDA PARA
O FUTURO, conferindo um atributo claro de que SE ELEITO O
CANDIDATO, TEM ELE O OBJETIVO DE CUMPRIR A
PROPOSTA. Trata-se de ato do governo a ser praticado no futuro.
Julgado expressivo do Col. Tribunal Superior Eleitoral vem a confirmar a tese
aqui sustentada: “as promessas genéricas, sem o objetivo de satisfazer
interesses individuais e privados, não são capazes de atrair a incidência do art.
41-A da Lei n. 9.504/97" (TSE, acórdão n. 5.498, de 27.9.2005, reI. Min.
Gilmar Mendes). (...) De fato, promessa de campanha no sentido de
manter ou criar programa municipal de benefícios não determina a
incidência do disposto no art. 41-A da Lei n. 9.504/97, que claramente
refere à "vantagem pessoal".

Ministro Ricardo Lewandowski:

(...) O candidato fez, na verdade, uma longa preleção no que toca ao


seu plano de governo, caso eleito fosse. E, em meio à sua preleção, de fato,
prometeu 500 cestas básicas para a Igreja Católica e 500 cestas básicas para a
Igreja Evangélica. De tudo que foi dito, o que mais me impressionou foi que a
distribuição dessas cestas básicas seria deixada a critério de ambas
igrejas. Isso, portanto, e apenas isso - deixando de lado todo o contexto
em que essa frase foi proferida -, descaracteriza a incidência do artigo
41-A da Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, porque, de fato, o que se
pretende com esse artigo é exatamente que o eleitor tenha uma vantagem de
caráter pessoal. E a promessa em questão - como já foi ressaltado tanto pelo
Relator, como pelos demais Ministros que me precederam - foi de caráter
genérico, que se insere dentro, exatamente, em uma promessa feita
normalmente numa campanha eleitoral. (...)

Ministra Carmen Lúcia:


Nesse contexto, entendo que a promessa de doação de cestas básicas não
deve ser tomada como proposta concreta e dirigida a esse público
específico, mas, sim, como uma das muitas promessas feitas pelo
candidato ao responder à pergunta. (...) Assim, NÃO ESTÁ
EVIDENCIADO O ESPECIAL FIM DE AGIR, nem mesmo implícito,
necessário para a caracterização da ofensa ao art. 41-A da Lei n. 9.504/1997.

Ao apreciar o REspe 284-41/SP, o TSE reforçou o entendimento de que para


configuração do art. 41-A, embora seja desnecessária a identificação do eleitor, nessa hipótese,
deve-se ter cautela redobrada no julgamento. Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE


SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI Nº 9.504/97. NÃO-CARACTERIZADO.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO-CONFIGURADO.
DESPROVIMENTO. O recurso especial tem natureza restrita, assim qualquer
solução jurídica que se pretenda dar ao recurso deverá ter como base a moldura
fática desenhada pelo acórdão regional. Para aplicação do art. 41-A da Lei
nº 9.504/97 deve ficar demonstrado, SEM SOMBRA DE DÚVIDA, que
houve o oferecimento de bem ou VANTAGEM PESSOAL, EM TROCA
DO VOTO. A jurisprudência desta Corte não exige a identificação do
eleitor para caracterizar a conduta do art. 41-A da Lei das Eleições.
TODAVIA, NESSA HIPÓTESE, DEVE TER CAUTELA
REDOBRADA. Ausência na decisão regional de elementos que permitam
inferir a captação ilícita de sufrágio. Recurso especial desprovido. (Recurso
Especial Eleitoral nº 28441, Acórdão, Relator(a) Min. José Delgado,
Publicação: DJ 29/04/2008)

Extrai-se do acórdão acima ementado a regra de que o art. 41-A não pune a eventual
demagogia, mas sim o ilícito, sendo necessária a presença do elemento subjetivo do tipo
(motivo doloso de perseguir a finalidade ilícita, mediante troca de votos). Vejamos o voto
proferido pelo Ministro Marcelo Ribeiro:

“(...) Para que tenha aplicação do art. 41-A da lei das eleições, deve ficar
demonstrado, sem sombra de dúvida, que houve o oferecimento de bem ou
vantagem pessoal, em troca do voto do beneficiário. O artigo, por cuidar de
sanção rigorosa, para cuja aplicação não se exige sequer tenha o ato
infringente da lei potencialidade para influir no resultado do pleito,
NÃO PODE MERECER OUTRA INTERPRETAÇÃO QUE NÃO A
ESTRITA. No caso concreto, tanto a sentença quanto o acórdão entenderam,
mediante análise dos fatos e provas, que se cuidava de promessas genéricas,
que compunham plataforma de campanha política do candidato.
(...)
Não se esclareceu, tampouco, que MOTIVO levou os candidatos a
prometerem tal providência no caso de sua eleição. Os motivos podem
ser os mais diversos. Tanto podem ter prometido, apenas e tão-somente, para
ludibriar os eleitores e obter-lhe o voto, como podem ter feito por outras
razões, entre as quais cito apenas a título exemplificativo, possível abusividade
nos contratos. (...) não há no acórdão elementos a verificar a prática da conduta
descrita na lei, principalmente o elemento subjetivo do tipo.
Por outro lado, penso que se deva ter cautela redobrada ao aplicar o art.
41-A quando se trate de promessa formulada a eleitores não
identificados. DEVE-SE PROCURAR SEPARAR A CONDUTA
ILÍCITA, CONSISTENTE NA OBTENÇÃO INDEVIDA DO VOTO
MEDIANTE PROMESSA DE VANTAGEM PESSOAL, DA SIMPLES
PROMESSA DE CONTEÚDO POLÍTICO, AINDA QUE
DEMAGÓGICA OU INVIÁVEL. (...)

Ainda sobre o mesmo caso, cabe destacar que o voto vencido, proferido pelo Min.
José Delgado, aplicou o art. 41-A por entender configurada “promessa de vantagem concreta
e determinada, diretamente vinculada ao COMPROMISSO DE VOTO”12, tendo havido
“NEGÓCIO JURÍDICO REALIZADO PELO CANDIDATO”, dado completamente
distante do presente caso.

12Senhor Presidente, gostaria de fazer leitura rápida do meu voto. Lembrando que acolhi grande parte do parecer
do Ministério Público: 20. No particular, o conjunto probatório dos autos demonstrou, de acordo com a própria
moldura fática proporcionada pelo v. acórdão regional, que houve, efetivamente, a promessa de vantagem
concreta e determinada, diretamente vinculada ao compromisso de voto.
Ademais, os autores da presente AIJE trazem em suas alegações trechos selecionados
da ementa do Respe 357-70/ES13, todavia, naquele caso foi dado provimento ao Recurso
Especial justamente para afastar a aplicação do art. 41-A. Vejamos:

Ministro Fernando Gonçalves:


(...) No caso, o recorrente Dercelíno Mongin, durante a campanha eleitoral,
comprometeu-se, por meio de escritura pública, com a comunidade local a,
se eleito, realizar várias obras, nestes termos (fls. 456):
Eu, DERCELlNO MONGIN, candidato a prefeito desta cidade com
o apoio desta comunidade de taquaral, se eleito for, em meu mandato
me comprometo com esta comunidade de Taquaral a fazer as obras de
asfaltamento do sítio de DARCY MARCHIORI ao sítio EDSON
MARCHIORI, saibramento da entrada de Taquaral a casa de Dona
Anália Mozer e iluminação até onde for necessário.
No entendimento do venerando Acórdão regional, teria sido clara a intenção
do recorrente de formular promessa eleitoral com o fim de obter votos da
comunidade local. Destaque-se ainda que essa INTENÇÃO GENÉRICA
FOI DIFERIDA PARA O FUTURO, conferindo um atributo nítido de que,
se eleito o candidato, tem ele o objetivo de cumprir a promessa. TRATA-SE
DE ATO DO GOVERNO A SER PRATICADO NO FUTURO. [...] De
fato, promessa de campanha no sentido de manter ou criar programa municipal
de benefícios não determina a incidência do disposto no art. 41-A da Lei n.
9.504/97, que claramente se refere à "vantagem pessoal". [...] Deve-se ter em
conta ainda que as promessas foram dirigidas indistintamente e em nenhum
momento houve referência a pedido de voto, sendo certo, por outro lado, que
o desideratum legal é impedir, na época das eleições, a distribuição

13ELEIÇÕES 2008. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. RITO


DA LEI COMPLEMENTAR Nº 64/90. ABUSO DO PODER. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ART.
41-A DA LEI Nº 9.504/97. NÃO INCIDÊNCIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A adoção do rito
previsto na Lei Complementar nº 64/90, mais benéfico à defesa, deve ser observado nas hipóteses em que se
apura abuso de poder, cuja consequência jurídica, se julgada procedente a ação depois da diplomação, é a
declaração de inelegibilidade. Precedentes. 2. A promessa de vantagem pessoal em troca de voto é parte da
fattispecie integrante da norma, devendo se relacionar com o benefício a ser obtido concreta e individualmente
por eleitor determinado, para fazer incidir o art. 41-A da Lei das Eleições. 3. Recurso especial conhecido e
provido. (Recurso Especial Eleitoral nº 35770, Acórdão, Relator(a) Min. Fernando Gonçalves, Publicação: DJE
- Diário de justiça eletrônico, Data 30/04/2010, Página 15/16)
(incluindo-se no termo a promessa) de favores, desvirtuando o sentido do
pleito eleitoral.
Diante do exposto, conheço dos recursos e lhes dou provimento para,
reformando o acórdão regional, afastar configuração da conduta prevista
no art. 41-A da Lei das Eleições, e o do abuso do poder econômico.

Ministro Arnaldo Versiani:


Senhor Presidente, assim como ao relator, também me pareceu ter sido essa
uma típica promessa de campanha [...] A circunstância de se terem
mencionado marcos territoriais nessa promessa de campanha pareceu-me ser
apenas delimitação de área e não que determinada estrada beneficiaria a A ou
B, pois é muito comum, no interior e em municípios pequenos, um rio, uma
árvore ou pedra servirem como marcos territoriais, à falta de outras referências.
Não penso, portanto, que essa circunstância fática comprometa o
CARÁTER GENÉRICO da proposta apresentada, inclusive registrada
em cartório, ou seja, no sentido de beneficiar toda a comunidade.
Acompanho o relator.

Já o voto proferido pelo Ministro Joelson Dias no mesmo Respe 357-70/ES merece
ainda maior atenção diante da similitude dos argumentos com o presente caso em julgamento
no TRE/DF. Ao justificar o pedido de vista, o Ministro assim se manifestou:

(...) Em relação ao mérito, chamou-me também a atenção [...] o fato de que,


mais do que a promessa registrada em cartório, um dos representados teria
afirmado que realizaria as obras COM SEUS PRÓPRIOS RECURSOS.

Ao analisar profundamente a questão sob o ângulo do artigo 41-A, entendeu o


Ministro Joelson Dias pela não configuração do ilícito, nos seguintes termos:

“(...) É bem verdade, como concluiu o acórdão recorrido, que ter como
imprescindível o pedido explícito de voto significa negar aplicação ao disposto
no art. 41-A da Lei n° 9.504/97 (fls. 459-460). Também é verdade que, para a
sua configuração, a captação ilícita de sufrágio prescinde de "que o proveito ou
vantagem recaia sobre pessoas determinadas ou determináveis" (fI. 465).
Não obstante, no caso específico dos autos, acompanhando os votos
proferidos pelos ilustres ministros que me antecederam, também estimo que
O COMPROMISSO ASSUMIDO PELOS RECORRENTES DE
REALIZAREM, APÓS SUA ELEIÇÃO, obras de asfaltamento,
saibramento e iluminação de rodovia vicinal pública na comunidade de
Taquaral, CONFIGURA PROMESSA GENÉRICA, comum e razoável
em época eleitoral, direcionada indistintamente a toda uma
coletividade, AINDA QUE, EVENTUALMENTE, POSSA
COINCIDIR OU TER COINCIDIDO COM INTERESSE
INDIVIDUAL DE ELEITOR.

Além disso, restou consignado no mesmo voto que, em reunião com a comunidade,
da qual participaram aproximadamente duzentas pessoas, “os recorrentes teriam se limitado
a prometer a realização das obras”. Além disso, em momento posterior à referida reunião
foi registrado em cartório “o compromisso de campanha, acrescido então da declaração
firmada pelo ora recorrente João Paganini, à época candidato a vice-prefeito, de que
eventualmente realizaria as obras com seus próprios recursos”.

A esse respeito, assim se decidiu:

“(...) Diante das circunstâncias peculiares do caso concreto, portanto, tenho


que mesmo o registro em cartório da referida declaração, bem assim a
afirmação nela contida do então candidato a vice-prefeito, de que realizaria
as obras com seus próprios recursos, NÃO RETIRA DA
MENCIONADA PROMESSA O SEU CARÁTER DE
GENERALIDADE, NEM O SEU ATRIBUTO DE MERO
COMPROMISSO DE CAMPANHA. Tampouco lhe tira o caráter de
generalidade o fato, segundo o acórdão recorrido, "de que as benesses
oferecidas não tinham quaisquer ligações com o plano de governo
anteriormente apresentado pelos então candidatos" (fI. 464).
Afinal, penso ser natural, e até mesmo esperado, que durante a campanha
eleitoral possam os candidatos aperfeiçoar, modificar, excluir ou incluir novas
propostas em seu plano de governo, no afã, legítimo, de obter maior apoio
popular.
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E PROMESSA DE
CAMPANHA NÃO SE CONFUNDEM. O condicionamento do voto
em troca da benesse ou vantagem pessoal, ainda que tão simplesmente
ofertada, não se confunde com a mera expectativa de êxito nas eleições
com a realização de promessa genérica, direcionada indistintamente a
toda uma coletividade.

Ao citar o posicionamento da doutrina14, o voto destaca que:

A conduta do presente artigo (compra de voto) deve ser diferenciada da


promessa em busca de apoio político. O principal elemento distintivo é o
PROPÓSITO DE OBTENÇÃO DE APOIO POLÍTICO E NÃO DO
SIMPLES VOTO. Caso contrário, nenhum candidato poderia
apresentar programa de governo, fazer promessas e, sendo candidato em
exercício de mandato, implementar políticas públicas (...). No entanto, o
atendimento ou promessa de interesses puramente individuais (E NÃO
COLETIVOS OU DIFUSOS), em troca do voto caracteriza a conduta
prevista no artigo, mesmo que para diversas pessoas (...)

Diante disso, o voto em comento concluiu que:

(...) É verdade que a caracterização da captação de sufrágio não demanda a


identificação, a individualização do eleitor, podendo a promessa de vantagem
ser direcionada a um determinado grupo de pessoas. MAS PROMESSAS
GENÉRICAS, EM BUSCA DE APOIO POLÍTICO, DIRECIONADAS
INDISTINTAMENTE A TODA UMA COLETIVIDADE, NÃO
ATRAEM A INCIDÊNCIA DO ART. 41-A DA LEI N. 9.504/97.

14
RIBEIRO, Renato Ventura. Lei Eleitoral Comentada. Quartier Latin, 2006, p. 295-296.
Somente a promessa que visa a satisfazer interesses pessoais, individuais ou
privados excepciona essa regra, o que, no entanto, não foi comprovado no caso
específico dos autos.
(...)
Não há notícia no acórdão recorrido tenham os recorrentes
CONDICIONADO a realização das referidas obras apenas na área ou
imediações dos próprios imóveis DE ELEITORES QUE VOTASSEM
NELES. Ainda que coincidente com o interesse de um ou outro
indivíduo, cuja condição de eleitor nem se sabe ao certo ter sido ou não
confirmada, CONCLUI-SE TER SIDO GENÉRICA A PROMESSA
FEITA, visto que direcionada indistintamente a toda a comunidade
onde localizada a estrada vicinal em que seriam realizadas as obras. (...)
E, como mero compromisso de campanha, tenho que a promessa não
me pareceu eficaz, portanto, de retirar do eleitor a sua liberdade de voto,
revelando-se, assim, atípica a conduta imputada relativamente à
infração de captação ilícita de sufrágio do art. 41-A da Lei 9.504/97.
A simples promessa de realização de obras que, eventualmente, beneficiariam
toda a coletividade não pode ser tida como benesse ou vantagem pessoal,
própria da corrupção eleitoral, configurando apenas a assunção de
compromissos em campanha ou proposta de uma plataforma política, inerente
ao debate político-eleitoral.”

Em relação à natureza da vantagem, são oportunas as considerações do Ministro


Henrique Neves no voto vencedor no REspe 202-89/RN, segundo o qual:

(...) De acordo com reiteradas manifestações desta Corte Superior, o objetivo


do art. 41-A da Lei n° 9.504/97 é a proteção da vontade do eleitor, sendo
necessária, para a caracterização do ilícito, a comprovação, por meio de provas
robustas, da oferta ou da promessa de benesse com o fim ESPECÍFICO de
obter o voto do eleitor. Além disso, é assente na jurisprudência que a
benesse ofertada deve ser DETERMINADA, de modo a consubstanciar
VANTAGEM DIRETA ao eleitor, não sendo suficiente a mera
promessa genérica de vantagem. (Recurso Especial Eleitoral nº 20289,
Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de Assis Moura, Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Data 15/12/2015, Página 24-25)
Além disso, para configuração do art. 41-A faz-se necessária a existência de vantagem
direta ao eleitor a quem se dirige, dotada de imediatismo. Além disso, é preciso existir relação
específica de troca do benefício pelo voto (e não apoio político em sentido genérico).

Há, ainda, outro elemento presente na jurisprudência que merece ponderação no


conjunto com os demais elementos, qual seja, o momento de cumprimento da promessa. No
AgRg no AI 196.558/GO, a Corte assentou que “A exposição de plano de governo e a mera
promessa de campanha feita pelo candidato relativamente ao problema de moradia, a ser
cumprida após as eleições, não configura a prática de captação ilícita de sufrágio”15.

O acórdão prolatado no REspe 191-76/ES faz a ressalva, ao destacar o conteúdo da


promessa firmada em protocolo de intenções, de que ela seria adimplida pelos candidatos
“se eleitos”16. De forma similar, no AgRg no AI 44.498/MG, ponderou a Min. Luciana
Lóssio que haveria nítida promessa de campanha porque o panfleto delineava promessa a ser
cumprida pelos candidatos, caso eleitos17.

Por outro lado, nos casos analisados em que houve condenação, o cumprimento
promessa consistia em fato a ser implementado durante o processo eleitoral e não mediante

15 Agravo regimental. Representação. Captação ilícita de sufrágio. 1. A exposição de plano de governo e a mera
promessa de campanha feita pelo candidato relativamente ao problema de moradia, A SER CUMPRIDA APÓS
AS ELEIÇÕES, não configura a prática de captação ilícita de sufrágio. (...). Agravo regimental não provido.
(Agravo de Instrumento nº 196558, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, 30/10/2011. Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 25, Página 123)
16 (...) Não configura a captação ilícita de sufrágios, objeto do art. 41-A da L. 9.504/97, o fato, documentado no

"protocolo de intenções" questionado no caso, firmado entre os representantes de diversas igrejas de determinado
Município - travestidos de membros do Conselho Ético de um partido político - e certos candidatos a prefeito e
vice-prefeito, que formalmente se comprometem, SE ELEITOS, ao atendimento de reivindicações imputadas
à "comunidade evangélica" e explicitadas no instrumento, entre elas, a doação de um imóvel do patrimônio
municipal, se não voltadas as promessas a satisfazer interesses patrimoniais privados. (RESPE 19176, Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 22/02/2002)
17 Na espécie, a instância regional, após detida análise das provas dos autos, entendeu não estar comprovada a

alegada prática da captação ilícita de sufrágio, destacando haver, no caso "nítida promessa de campanha, eis que
o panfleto simplesmente detalhava uma das ações a serem implementadas pelos recorridos, CASO FOSSEM
ELEITOS (...). (Agravo de Instrumento nº 44498, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio, DJE 06/08/2014)
política pública condicionada ao exercício do mandato futuro. A título exemplificativo, cite-se
o REspe 236-28/RN18 e REspe 4038-03/CE19.

Portanto, é promessa legítima de campanha aquela a ser implementada por meio do


mandato que se visa alcançar, mais ainda quando feita de maneira GENÉRICA, sem distinção
das pessoas que farão jus à política pública, sem relação negocial de troca pelo voto e sem o
elemento subjetivo da conduta (dolo no fim específico de agir mediante compra de votos).

Em relação à necessidade de comprovação do elemento subjetivo do tipo, vejamos:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL


ELEITORAL. PREFEITO. VICE-PREFEITO. ABUSO DE PODER.
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. INEXISTÊNCIA. (...) A
AGRAVANTE NÃO SE DESINCUMBIU DE DEMONSTRAR O
ESPECIAL FIM DE AGIR, CONSUBSTANCIADO NO
CONDICIONAMENTO DA ENTREGA DO BENEFÍCIO À
OBTENÇÃO DO VOTO, bem como a ciência, ou ao menos a anuência, dos
agravados da ocorrência da prática de captação ilícita de sufrágio realizada por
interposta pessoa a fim de caracterizar a prática de captação ilícita de sufrágio,
descrita no art. 41-A da Lei nº 9.504/1997. 4. Agravo desprovido. (Recurso
Especial Eleitoral nº 43162, Min. Gilmar Mendes, DJE 14/09/2016)

ELEIÇÕES 2012. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. AIJE.


DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE BEBIDAS. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO. DESCARACTERIZAÇÃO. PROVIMENTO. Na espécie, das
circunstâncias fáticas delineadas no acórdão regional, depreende-se que o
recebimento da vantagem - materializada na distribuição gratuita de bebidas -
foi condicionado à permissão de colagem do adesivo de campanha, e não à
obtenção do voto. Não há como enquadrar a conduta imputada aos
recorrentes no ilícito previsto no art. 41-A da Lei das Eleições,
PORQUANTO NÃO RESTOU DEMONSTRADO O ESPECIAL FIM
DE AGIR consistente no CONDICIONAMENTO da entrega da

18 (...) 5. Ainda assim, na espécie, extrai-se do acórdão regional que as condenações estão fundamentadas em
robusto acervo probatório, consistente não apenas nos elementos de prova extraídos do caderno que seria objeto
da perícia indeferida pelo Juízo sentenciante, mas, também, em outros documentos com anotações, de próprio
punho, dos condenados, fotografias de doações, comprovantes de pagamento de contas de energia elétrica e de
água - todos apreendidos na residência da recorrente por meio de regular busca e apreensão -, bem como
declarações testemunhais que confirmaram diretamente a promessa e a doação de benefícios em troca de
voto, com gravidade suficiente para configurar a hipótese de abuso de poder. 6. Recurso especial a que se
nega provimento. (Recurso Especial Eleitoral nº 23628, Acórdão, Relator(a) Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 205, Data 15/10/2018, Página 8/9)
19 (...) Ao ter sido feita a apreensão das próteses com o nome da vereadora e dos destinatários, entendo

configurado que houve o oferecimento e a promessa desse bem em favor e em busca de algo, que seria justamente
o voto. (...) (Recurso Especial Eleitoral nº 403803, Relator Min. Henrique Neves, Publicação: 25/09/2013)
vantagem ao voto do eleitor. Recursos especiais providos. (REspe n°
63949/SP, rela. Ministra Luciana Christina Guimarães Lóssio, DJe 3.2.2015)

ELEIÇÕES 2008. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


JUDICIAL ELEITORAL. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DE
CERVEJAS. EVENTO PÚBLICO DE CAMPANHA. CAPTAÇÃO
ILÍCITA DE SUFRÁGIO. DESCARACTERIZAÇÃO. PROVIMENTO. 1.
Hipótese em que os fatos delineados no acórdão regional NÃO SE
PRESTAM PARA DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DO DOLO,
consistente no ESPECIAL fim de agir necessário à caracterização do
ilícito do art. 41-A, qual seja, o CONDICIONAMENTO da entrega da
vantagem - no caso, distribuição de cervejas em praça pública por pessoas
ligadas aos candidatos ao pleito majoritário municipal, após a realização de
evento público de campanha - À OBTENÇÃO DO VOTO DO ELEITOR.
2. Recurso especial conhecido e provido. (Recurso Especial Eleitoral nº
1366059, Acórdão, Relator(a) Min. Maria Thereza de Assis Moura, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 27/03/2015)

Portanto, o tipo do art. 41-A não criminaliza a captação de votos, própria das
campanhas eleitorais, mas apenas a captação que se dá de forma ILÍCITA, com ESPECIAL
fim DOLOSO de agir no sentido de, desviando-se campanha ordinária em busca de votos,
descambar para o campo da compra de votos.

Vale registrar que, no caso do Respe 64036/MG, o TSE reconheceu a captação ilícita
de sufrágio, mas em situação bastante robusta, na qual estavam presentes todos os elementos
do art. 41-A. Vejamos os seguintes trechos da ementa:

“(...) 5. Art. 41-A da Lei nº 9.504/1997. 5.1. O acórdão regional, a partir das
provas testemunhais, depoimentos de informantes e provas
documentais robustas e coerentes, demonstrou que: a) lotes de programa
de governo e materiais de construção foram prometidos em troca de votos
a eleitores individualizados; b) materiais de construção foram entregues
a eleitores individualizados em troca de votos; c) determinado chip de
telefone celular foi adquirido em nome de terceira pessoa para utilização pelos
funcionários do comitê eleitoral dos candidatos, inclusive pela irmã do
candidato a vice-prefeito; d) as ligações seguiam um padrão, chamadas de curta
duração, de maneira sequencial e em grande volume; e) os eleitores eram
cadastrados no comitê eleitoral nome, endereço, telefone, entre outros;
f) em reunião franqueada a qualquer um do povo, o candidato falou aos
cidadãos dos lotes que seriam "doados", ENFATIZANDO A
NECESSIDADE DE SE PREENCHER O CADASTRO PARA
OPORTUNO CONTATO; g) listas contendo nomes, endereços,
telefones, entre outros foram apreendidas no comitê pela Justiça
Eleitoral; h) materiais de construção foram apreendidos pela Justiça
Eleitoral na casa de determinada eleitora. 5.2. A decisão demonstrou não
apenas a participação indireta do candidato a vice-prefeito (ciência), a partir de
forte vínculo familiar e político, mas também a própria participação direta do
candidato a prefeito, o que revela um conjunto probatório coerente,
harmônico e seguro, que confirma com clareza os requisitos da captação
ilícita de sufrágio. 6. Recursos desprovidos. Liminar revogada. Cautelares
prejudicadas. (Recurso Especial Eleitoral nº 64036, Acórdão, Relator(a) Min.
Gilmar Mendes, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160,
Data 19/08/2016, Página 122-124)

O próprio precedente do REspe 4038-03, indicado na inicial para embasar tese de


aplicação do art. 41-A contra Ibaneis, trata do reconhecimento da captação ilícita em situação
bastante diversa e robusta. Na oportunidade tratou-se de apreensão de próteses dentárias em
laboratório, com expressa menção à candidata condenada e nomes/apelidos dos eleitores
identificados20.

Assim, a leitura contextual da jurisprudência do TSE, permite concluir que a promessa


caracterizadora da infração do art. 41-A da Lei das Eleições deve ser aquela que condiciona
o voto do eleitor à benesse determinada, individual e imediata. Vantagens prometidas que
beneficiariam eleitores do candidato tanto quanto não-eleitores do candidato, sem caracterizar
mercantilização do voto específico, não caracterizam captação ilícita de sufrágio.

IV. Da ausência de abuso do poder econômico

Ainda, não merece prosperar a tese de abuso de poder econômico trazida pelos
autores, tendo em vista a ausência dos elementos necessários para sua configuração, quais
sejam: (i) a existência de provas robustas e incontestes; (ii) benefício do candidato; (iii)
gravidade/relevância; (iv) dispêndio de recursos antes ou durante a campanha; (v) existência
de liame objetivo.

20 (...) Os documentos acostados às fls. 35136, apreendidos no laboratório de próteses dentárias de propriedade
de Francisca Altino Braga, fazem expressa menção à candidata Maria Moreira de Oliveira, ora recorrente, dali se
extraindo que este teria autorizado a confecção de dentaduras em favor dos eleitores 'Nazaré', 'Maria Pereira da
Silva, 'Fátima', 'Edigar', 'Luciene' e 'Maria Quebra Braço'. (...) A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO:
Senhora Presidente, peço vênia ao relator para divergir, por entender que o núcleo do artigo 41-A da Lei n°
9.50411997 não exige apenas a entrega do bem; ele se contenta com o oferecimento, com a promessa. Ao ter
sido feita a apreensão das próteses com o nome da vereadora e dos destinatários, entendo configurado
que houve o oferecimento e a promessa desse bem em favor e em busca de algo, que seria justamente o voto.
De acordo com o teor do art. 22, caput e XIV da LC 64/90, a aplicação das sérias
sanções ali expostas, deve estar fundada em um conjunto probatório robusto e inconteste da
ocorrência de abuso, o que não está presente neste caso. Vejamos o firme entendimento do
TSE:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE).
PREFEITO E VICE-PREFEITO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO. ABUSO DOS PODERES POLÍTICO E ECONÔMICO.
CONJUNTO PROBATÓRIO INSUFICIENTE. GRAVIDADE.
AUSÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
DESPROVIMENTO. 1. In casu, a Corte Regional, instância exauriente na
análise de fatos e provas, reformou sentença de procedência da AIJE, por
entender insuficiente o conjunto probatório dos autos para condenar os
recorridos, ora agravados, pela prática de captação ilícita de sufrágio e abuso
do poder econômico. 2. A despeito de o recorrente alegar que pretende apenas
o reenquadramento jurídico dos fatos, não há como adotar conclusão diversa
e reconhecer a prática de tais ilícitos, diante da moldura delineada no acórdão
recorrido, sob pena de revolvimento de fatos e provas, o que é inadmissível na
via estreita do recurso especial (Súmulas nos 24/TSE e 7/STJ). 3. NOS
TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR, A
CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO OU DE ABUSO DO PODER ECONÔMICO REQUER
PROVAS ROBUSTAS E INCONTESTES, NÃO PODENDO SE
FUNDAR EM MERAS PRESUNÇÕES. 4. No tocante à construção de
cacimbas, em período vedado pela legislação eleitoral e sem a prévia existência
de projeto social, o Tribunal de origem concluiu que a aludida conduta, embora
ilícita, não possuía gravidade suficiente para ensejar a cassação dos diplomas,
tampouco a inelegibilidade dos recorridos. 5. Na esteira da jurisprudência deste
Tribunal Superior, a reforma do acórdão recorrido, no ponto em que se afastou
a gravidade da conduta, demandaria o reexame de fatos e provas, procedimento
vedado pelas Súmulas nos 24/TSE e 7/STJ.6. Agravo regimental desprovido.
(Recurso Especial Eleitoral nº 75151, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 27/04/2017)

Ressalte-se que a igualdade de chance entre os candidatos NUNCA FOI AFETADA


EM BENEFÍCIO DO ORA REPRESENTADO (restando, portanto, inexistente mais um
elemento necessário para a configuração de abuso de poder).

Vale notar que as notícias, no contexto indevido em que foi colocado o vídeo pelos
adversários, PREJUDICOU o candidato Ibaneis, por exemplo, ao lançarem dúvidas
quanto à viabilidade de sua proposta (ID n.º 98197) ou levantarem, em tom ofensivo,
suposições de que estaria comprando o eleitor (ID n.º 95543 e 95548 – “Rivais acusam Ibaneis
de compra de votos ao prometer reconstruir casas”/ 95544 – “Nova máscara da velha política,
diz Rollemberg sobre Ibaneis”/ 95545 – “Ele vende a imagem do amigo rico que vai resolver
o problema do amigo pobre com dinheiro do próprio bolso. Conto do vigário.”/ 95554 – “Ele
compra votos, eu peço, diz Fraga sobre Ibaneis”/ 955546 – “Eu quero que a população saiba
a verdade sobre o que Ibaneis representa, diz Rollemberg”/ 95541 – “Não vos enganeis com
o Ibaneis. O dinheiro compra quase tudo, mas não compra uma eleição. Fora, Inganeis!”).

Até mesmo o montante de 300 milhões propagandeado no cabeçalho da petição


inicial e diversas vezes citado para configurar suposto abuso de poder econômico (ID
n.º 95557, p. 1, 10, 18, 31, 41, 42), NUNCA foi mencionado por ele ou por qualquer
documento oficial.

Nos próprios documentos acostados aos autos (ID n.º 98197 e 95549), consta
esclarecimento de Ibaneis a esse respeito, fato seletivamente omitido na narrativa da inicial.
Vejamos:
“(...) QUE FIQUE BEM CLARO QUE ESSES 300 MILHÕES É O QUE
OS MEUS CLIENTES TÊM PARA RECEBER. A MINHA PARCELA DE
HONORÁRIOS NÃO CORRESPONDE A TUDO ISSO. Ela gira em
torno de 10% desse valor, que foi o valor fixado na sucumbência.
ENTÃO, ELES [CANDIDATOS ADVERSÁRIOS] CONFUNDEM A
POPULAÇÃO DE MODO A CRIAR UM AMBIENTE QUE NÃO
EXISTE.”

Dessa maneira, é perceptível a forma como a ação distorce os fatos para tentar montar
o cenário da ocorrência de abuso do poder econômico e captação ilícita de sufrágio que nunca
ocorreram.

Em nítido comportamento contraditório, a partir de referência às notícias sobre o


vídeo editado21, o representante pretende se valer do argumento de que o fato teve grande
exposição na mídia e que, por isso, seria grave, deixando de mencionar que ele próprio foi um
dos responsáveis pela amplitude do fato.

21
Documentos de ID n.º 95555, 95554, 95553, 95552, 95551, 95550, 95549, 95548, 95546,
95545, 95544, 95542, 95541, 95540, 95539, 95538, 95537, 95536, 95534, 955483, 98198,
98197, 98196, 98195.
Ora, sem prova da existência do qualquer benefício em favor do representado, mostra-
se incabível a imputação da prática de abuso de poder. No tocante à matéria, vejamos recente
jurisprudência do TSE que estabelece a necessidade, para fins de configuração de abuso de
poder, de um conjunto probatório suficiente a fazer prova (i) do benefício do candidato e (ii)
da gravidade da conduta. Vejamos:

ELEIÇÕES 2014. RECURSOS ORDINÁRIOS. CONTRATAÇÃO DE


SERVIDORES TEMPORÁRIOS EM PROL DA CANDIDATURA DA
IRMÃ DO PREFEITO. CONFIGURAÇÃO DO ABUSO DE PODER E
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. INSUFICIÊNCIA DO
CONJUNTO PROBATÓRIO PARA A RESPONSABILIZAÇÃO DE
CANDIDATO A DEPUTADO FEDERAL. RESCISÃO DE
CONTRATOS TEMPORÁRIOS APÓS AS ELEIÇÕES E ANTES DA
POSSE DOS ELEITOS. CONFIGURAÇÃO DE CONDUTA VEDADA
NO CASO CONCRETO APESAR DE NÃO PRATICADA NA
CIRCUNSCRIÇÃO DO PLEITO. IMPOSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO
DE MULTA AO NÃO CANDIDATO. (...)
15. NAS AÇÕES QUE TRATAM DE ABUSO DE PODER, COMO A
AIME E A AIJE, EXIGE-SE, ALÉM DE QUE O CANDIDATO
TENHA SE BENEFICIADO DELE, QUE AS CIRCUNSTÂNCIAS
QUE O CARACTERIZAM TENHAM GRAVIDADE, NOS TERMOS
DO INCISO XVI DO ART. 21 DA LEI DAS
INELEGIBILIDADES. (...)
17. Embora certo que houve pedido de votos para Marcos Reátegui, NÃO HÁ
PROVA SUFICIENTE DE QUE ELE TENHA SE BENEFICIADO
DAS CONDUTAS CONFIGURADORAS DO ABUSO DE PODER
COM A GRAVIDADE QUE SERIA NECESSÁRIA PARA O
RECONHECIMENTO DA PROCEDÊNCIA DE AIJE OU AIME,
pois parte significativa da prova testemunhal é no sentido de que a exigência
de voto e trabalho em campanha se voltava para a candidata Mira Rocha,
havendo apenas pedido de votos para Marcos Reátegui. (...)
26. Recursos ordinários interpostos pelo Ministério Público Eleitoral
contra Marcos José Reátegui Souza na AIME nº 10-32 e na AIJE nº 2229-
52 desprovidos.
(Recurso Ordinário nº 1032, Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 06/04/2018)

Na linha desse entendimento, vejamos o seguinte precedente deste e. TRE/DF:

ELEIÇÕES 2014. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL.


ABUSO DO PODER DE AUTORIDADE, POLÍTICO E ECONÔMICO.
CONDUTA VEDADA. UTILIZAÇÃO DA EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS PARA FINS ELEITORAIS.
IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DO CONTRATO DE
ENTREGA DE MALA DIRETA. FRAGILIDADE DO CONJUNTO
PROBATÓRIO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
DESEQUILÍBRIO NAS ELEIÇÕES OU DE FAVORECIMENTO A
CANDIDATO OU PARTIDO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. Do conjunto probatório carreado aos autos extrai-se não haver provas
suficientes de que os Representados tenham abusado do poder de
autoridade, político ou econômico, NEM EVIDÊNCIAS DE QUE
CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS TENHAM
SIDO PRATICADAS COM O PROPÓSITO DELIBERADO DE
INTERFERIR NA NORMALIDADE E LEGITIMIDADE DO
PLEITO.
2. INEXISTENTE, TAMBÉM, DEMONSTRAÇÃO DE
DESEQUILÍBRIO DAS ELEIÇÕES OU DE FAVORECIMENTO A
QUALQUER CANDIDATO OU PARTIDO.
3. A existência de demandas similares ajuizadas em outros Tribunais Eleitorais
não permite inferir que os Representados tenham praticado ilícitos eleitorais
no âmbito do Distrito Federal.
4. DIANTE DA FRAGILIDADE DAS PROVAS APRESENTADAS
HÁ DE SE JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO COM A
CONSEQUENTE EXTINÇÃO DO FEITO, nos termos do artigo 269,
I, do CPC. (INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL n 185003,
ACÓRDÃO n 6508 de 08/07/2015, Relator: Cruz Macedo, DJE- TRE-DF,
10/07/2015)

Ausente prova de qualquer benefício, não há se falar, por decorrência lógica, em


gravidade da conduta do representado (não obstante, no tópico seguinte, tal ponto será objeto
de maiores análises a fim de descaracterizar por completo as imputações feitas pelos autores).

Adicionalmente, confere-se que a aplicação do art. 22, XIV da LC 64/90 deve vir
precedida de uma “utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral de
recurso materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar
candidato, partido ou coligação, afetando assim a normalidade e legitimidade da
eleição”22.

No caso dos autos, não houve qualquer dispêndio de recurso pelo candidato, mas tão
somente a proposta de campanha de, no futuro, perdoar a dívida que o DF possui com o
candidato, doando os valores (atualmente sequer quantificados) aos cofres púbicos para

22
(Recurso contra Expedição de Diploma nº 580, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 39, Data 28/02/2012, Página 6)
execução das políticas públicas propostas, tratando-se de disponibilidade futura, incapaz de
desigualar as chances no período eleitoral.

Acerca da não ocorrência de abuso de poder econômico em tal situação, vejamos outro
trecho de voto proferido pelo Min. Joelson Dias na ocasião do julgamento do REspe 357-
70/ES:

VOTO do Min. Joelson Dias:


“(...) Por fim, também NÃO VISLUMBRO A OCORRÊNCIA DE
ABUSO DE PODER ECONÔMICO no caso específico dos autos.
A meu ver, nada no acórdão recorrido evidencia tal circunstância, que concluiu
pela configuração do abuso de poder econômico tão somente pelo fato de
que o recorrente João Paganini, então candidato a "vice-prefeito é,
reconhecidamente, um dos mais abastados empresários do Estado do
Espírito Santo, que goza de reputação neste sentido, não só no município de
Iconha, mas em todo o Estado" (fl. 525).
Ou, ainda, porque a sua promessa de que realizaria as obras de asfaltamento,
saibramento e de iluminação com seus próprios recursos caso o recorrente
Dercelino Mongin, seu então companheiro de chapa e candidato a prefeito,
não as realizasse após eleitos, teria "sido levada em conta pela sociedade local,
no sentido de reconhecer no candidato a vice-prefeito alguém que teria
condições de cumprir as promessas assumidas, dado o seu poderio econômico"
(fl. 526).
Com a devida vênia, tenho, contudo, que SEM O USO EFETIVO, NÃO
PODE HAVER O ABUSO.
O abuso do poder econômico se caracteriza pela "utilização do poder
econômico com intenção de desequilibrar a disputa eleitoral, o que ocorre de
modo irregular, oculto ou dissimulado" (Ac. 4.410/SP, DJ de 7.11.2003, reI.
Min. Fernando Neves) e "exige potencialidade tendente a afetar o resultado de
todo o pleito" (Ac. nO 21.312/TO, DJ de 20.2.2004, reI. Min. Carlos Velloso).
Ou seja, PRESSUPÕE O DISPÊNDIO PELO CANDIDATO OU O
EMPREGO EM SEU FAVORECIMENTO ELEITORAL DE
"RECURSOS PATRIMONIAIS, PÚBLICOS OU PRIVADOS, DOS
QUAIS DETÉM O CONTROLE OU A GESTÃO EM CONTEXTO
REVELADOR DE DESBORDAMENTO OU EXCESSO" (REspe n.
28.581/MG, reI. Min. Felix Fischer, DJe de 23.9.2008).
Nesse sentido o entendimento da Corte, em outro caso semelhante:
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. ABUSO DE
PODER ECONÔMICO. CORRUPÇÃO. 1. A promessa feita pelo
candidato de que não cobraria contribuição de melhoria pelas benfeitorias
realizadas nos logradouros municipais não configura nem abuso de poder
econômico nem corrupção. Em conseqüência, não há espaço para a ação
de impugnação de mandato eletivo (REspe n° 25.984/SP, reI. Min. José
Delgado, DJ de 11.12.2006).
Nesse último caso, em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, o
Tribunal na origem entendeu - e o TSE confirmou a decisão -, não configurar
abuso de poder econômico o fato de o candidato à eleição ao cargo de
prefeito, durante a campanha, TER APENAS PROMETIDO, em
entrevista a jornal de grande circulação, não cobrar dos munícipes a
contribuição de melhoria correspondente aos asfaltamentos feitos nas
vias públicas da cidade, e dispensar outras taxas. (...)

É oportuno observar que a execução das políticas públicas propostas pelo governador
eleito, Ibaneis Rocha, não depende exclusivamente do seu dinheiro privado para merecer
execução, sendo certo que poderiam ser cumpridas, se houvesse interesse, por quaisquer dos
candidatos mediante outras fontes de custeio.

Ora, ainda que não tivesse a remuneração do cargo e créditos a receber do DF (ou
ainda que não os receba a tempo) para aplicar em escolas, creches e na política de construção
de casas, será possível a execução da política pública por meio de financiamento, geração de
divisas, verbas federais, parcerias com a iniciativa privada, dentre outras inúmeras formas pelas
quais o Estado funciona.

Inclusive, em decisão recente, o TCDF, ao apurar caótica a situação das escolas, deu
prazo de 120 dias para apresentação de plano de reforma de 90,9% das escolas do DF23.
Qualquer candidato que fosse eleito deveria buscar formas de executar tais políticas públicas,
tendo o candidato Ibaneis identificado uma fonte de custeio, baseada na remuneração do
cargo, créditos que tem a receber, mas não são as únicas formas.

Por fim, importa destacar que para a configuração do abuso de poder exige-se a
presença de um liame objetivo entre o fato e a alegação de prejuízo à normalidade e
legitimidade do pleito – o que, pelo acervo probatório dos autos, não está presente, restando
evidente que a imputação decorre unicamente de presunções dos representantes. Sobre o tema,
vejamos o seguinte trecho da obra de José Jairo Gomes24:

23 https://www.metropoles.com/distrito-federal/tcdf-da-120-dias-para-gdf-fazer-plano-de-reforma-de-909-das-
escolas
24
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2018, p. 743.
É PRECISO QUE O ABUSO DE PODER SEJA RELEVANTE,
OSTENTANDO APTIDÃO PARA COMPROMETER A LISURA,
NORMALIDADE E LEGITIMIDADE DAS ELEIÇÕES, POIS SÃO
ESSES OS BENS JURÍDICOS TUTELADOS PELA AÇÃO EM
APREÇO. Por isso mesmo, há mister que as circunstâncias do evento
considerado sejam graves (LC nº 64/90, art. 22, XVI), o que não significa
devam necessariamente propiciar a alteração do resultado das eleições.
Nessa perspectiva, ganha relevo a relação entre, de um lado, o fato
imputado e, de outro, seu consectário consistente na falta de higidez,
anormalidade ou desequilíbrio do pleito. IMPÕE-SE A PRESENÇA
DE LIAME OBJETIVO ENTRE TAIS EVENTOS.

Veja-se, portanto, que a alegação da prática de abuso de poder econômico foi feita sem
provas robustas e incontestes; de benefício em favor do candidato representando; da
gravidade/relevância; do dispêndio de recursos antes ou durante a campanha; do liame
objetivo entre o fato e a alegação de prejuízos efetivos à normalidade do pleito.

V. Da fragilidade do acervo probatório – edição de vídeo e notícias da imprensa

Optou-se por alterar a ordem dos argumentos e atacar diretamente o mérito para
demonstrar não haver dúvidas da licitude da conduta do representado.

De qualquer forma, zelando pela eventualidade, ainda que o trecho editado do vídeo
fosse capaz de configurar ilícito de qualquer natureza, é preciso deixar clara a sua
imprestabilidade para fins de prova, tendo em vista que se trata de vídeo editado, retirado de
contexto única e exclusivamente para dar sentido à narrativa dos representantes.

A esse respeito, vejamos o seguinte entendimento do TSE:

ELEIÇÕES 2014. DEPUTADO ESTADUAL. RECURSO ORDINÁRIO.


REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO.
IMPROCEDÊNCIA. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE
RECURSAL AFASTADA. ILEGITIMIDADE PASSIVA DE TERCEIRO
NÃO CANDIDATO. AUSÊNCIA DE PROVAS ROBUSTAS.
MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO REGIONAL. DESPROVIMENTO.
1. Na linha da jurisprudência firmada nesta Corte Superior, o prazo recursal do
Ministério Público Eleitoral, em virtude do disposto no art. 18, II, h, da LC nº
75/93, inicia-se com o recebimento dos autos na respectiva secretaria, o que
demonstra, no caso dos autos, a tempestividade do apelo.
2. Somente o candidato possui legitimidade para figurar no polo passivo de
representação fundada no art. 41-A da Lei n° 9.504/97. Precedentes do
Tribunal Superior Eleitoral.
3. Na espécie, O VÍDEO QUE SERVIU DE BASE PARA A
PRETENSÃO MINISTERIAL FOI APRESENTADO EM VERSÃO
EDITADA, COM CORTES EM SEU CONTEÚDO. Inexistindo a
mídia com a filmagem original, é duvidosa a idoneidade da gravação,
não havendo que se falar em prova robusta, requisito indispensável para
o reconhecimento da captação ilícita de sufrágio, nos termos da
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral. Nesse sentido: "a aplicação
das sanções previstas no art. 41-A da Lei das Eleições exige prova robusta de
que o candidato participou de forma direta com a promessa ou a entrega de
bem em troca do voto ou, de forma indireta, com ela anuiu ou contribuiu, não
bastando meros indícios e presunções" (AgR-REspe nº 385-78/SP, de minha
relatoria, DJe de 19.8.2016). 4. Na ótica da maioria, esse fundamento é, por si
só, suficiente para a manutenção do acórdão recorrido, muito embora o voto
da relatora também reconheça a ilicitude da gravação clandestina,
produzida sem a necessária autorização judicial, em ambiente sujeito à
expectativa de privacidade. 5. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(Recurso Ordinário nº 133425, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 44, Data 06/03/2017,
Página 81)

Além do vídeo editado, a representação é baseada em notícias e comentários


jornalísticos, o que, sabidamente, não configuram acervo probatório suficiente sequer para
recebimento da AIJE. Vejamos o seguinte precedente do TSE:

REPRESENTAÇÃO. INVESTIGAÇÃO JUDICIAL. ABUSO DE


AUTORIDADE. NOTÍCIAS EXTRAÍDAS DE JORNAIS.
INSUFICIÊNCIA, NA ESPÉCIE, PARA ENSEJAR A APURAÇÃO
DE QUE CUIDA A LEI DAS INELEGIBILIDADES. AGRAVO
REGIMENTAL. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS OU PROVAS.
DESPROVIMENTO. Notícias extraídas de jornais e opiniões emitidas
por profissionais da imprensa não comprovam que autoridades
governamentais estejam praticando atos de ofício, com desvio ou abuso de
autoridade em benefício de candidato, sendo insuficientes, no caso
concreto, para a abertura da investigação judicial. Não infirmados os
fundamentos da decisão, impõe-se o desprovimento do agravo regimental.
(Representação nº 1283, Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 18/12/2006)

Desta forma, os autores da ação não se desincumbiram do ônus que lhe é devido em
trazer prova que demonstre em completude as circunstâncias fáticas do discurso proferido
pelo candidato Ibaneis que foi realizado naquele evento, sendo impossível depreender a
ocorrência de promessa condicionada ao voto dos eleitores ali presentes, sendo também
inexistente vantagem pessoal e de DOLO do candidato em praticar conduta ilícita. Por essa
razão, deve ser desconsiderado do acervo probatório o vídeo juntado pelos representantes.

VI. Da ausência de gravidade jurídica na conduta

Além de não estarem presentes os elementos caracterizadores da captação ilícita de


sufrágio, abuso de poder econômico ou quaisquer outros ilícitos, ainda que estivessem, faltaria
ao presente caso o requisito “gravidade”.

No RO 222.952/AP, apreciado em 2018, o TSE reafirmou entendimento de que


também para fins de procedência de AIJE, exige-se, além de que o candidato tenha se
beneficiado dele, que as circunstâncias que o caracterizam tenham gravidade. Vejamos:

(...) 15. Nas ações que tratam de abuso de poder, como a AIME e a AIJE,
exige-se, além de que o candidato tenha se beneficiado dele, que as
circunstâncias que o caracterizam tenham gravidade, nos termos do
inciso XVI do art. 21 da Lei das Inelegibilidades.
16. "Com a alteração pela LC 135/2010, na nova redação do inciso XVI do art.
22 da LC 64/90, PASSOU-SE A EXIGIR, PARA CONFIGURAR O ATO
ABUSIVO, QUE FOSSE AVALIADA A GRAVIDADE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS que o caracterizam, devendo-se considerar se,
ante as circunstâncias do caso concreto, os fatos narrados e apurados
são suficientes para gerar desequilíbrio na disputa eleitoral ou evidente
prejuízo potencial à lisura do pleito" (REspe 822-03/PR, Rel. Min.
Henrique Neves da Silva, DJe de 4.2.2015). (Recurso Ordinário nº 1032,
Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 06/04/2018)

No que concerne à gravidade da conduta, para restar configurada, é necessário que


tenha ocorrido uma conduta em afronta à legislação eleitoral. Como visto, a promessa de uma
política pública realizada pelo poder público, a partir de recursos do poder público, advindos
originalmente do setor privado, não demonstra nenhuma irregularidade capaz de se abrir a
possibilidade de discussão da gravidade de uma conduta que não é irregular.

É oportuno que tanto em cenário de 1º turno, quando de 2º turno, o candidato ora


impugnante, Rodrigo Rollemberg, não era cotado nas pesquisas com clara aptidão para vencer
as eleições, o que apenas se manteve nos resultados finais. Vejamos o elevado nível de rejeição
do representante no início da campanha25 (dados levantados entre os dias 9 e 11/09):

Com o nível de rejeição acima de 50%, do início da campanha até o seu fim, o
candidato representante Rodrigo Rollemberg atingiu apenas 30,21% dos votos válidos no
segundo turno, tendo o candidato representado Ibaneis Rocha vencido as eleições, por ampla
vantagem, com quase 70% dos votos. Vejamos:

Ademais, como forma de demonstrar a ausência de interferência do ato praticado pelo


representado sobre o resultado das urnas, importa mencionar a pesquisa promovida entre os
dias 26/09/2018 a 28/09/2018 pela DATAFOLHA INSTITUTO DE PESQUISAS LTDA,
registrada no TSE sob o n.º DF-03047/201826:

25
FONTE:https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/eleicoes/2018/noticia/2018/09/12/pesquisa-ibope-no-distrito-federal-eliana-23-fraga-
13-rollemberg-12-rosso-10.ghtml

26https://g1.globo.com/df/distrito-federal/eleicoes/2018/noticia/2018/09/28/pesquisa-datafolha-
no-distrito-federal-ibaneis-24-eliana-16-rollemberg-12-fraga-10.ghtml
Note-se que, à época em que foi proferido o discurso na Colônia Agrícola 26 de
Setembro (no dia 30/09), o candidato Ibaneis Rocha já liderava as pesquisas com uma grande
margem em relação aos outros candidatos. Após esse evento, o referido ato de campanha foi
objeto de notícias e matérias jornalísticas pejorativas, que prejudicaram e não
beneficiaram o candidato (amplitude dada pelos próprios adversários, justamente para
prejudicar), oportunidade em que o candidato se limitou a prestar esclarecimentos.

Embora os referidos dados sejam suficientes para afastar a gravidade da conduta,


importante outro aspecto que fortalece a ausência desse critério: a pequena quantidade de
pessoas (em termos percentuais) que se beneficiariam da política pública proposta pelo
representado. Extrai-se da informação veiculada na página do MPDFT que o número
estimado de habitantes na Colônia Agrícola 26 de Setembro gira em torno de 10 mil27:

27 http://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/comunicacao-menu/noticias/noticias-2018/9940-
moradores-da-colonia-agricola-26-de-setembro-participam-de-acao-social
Ora, mesmo que se considerasse que toda população da referida região fosse
constituída de eleitores (o que, certamente, não ocorre, tendo em vista a existência de pessoas
que não votam), depreende-se que, em termos percentuais, esse número é ínfimo diante da
quantidade absoluta de eleitores em todo o Distrito Federal (2.084.356)28.

Ou seja, em termos percentuais, o máximo de eleitores que seriam atingidos pela


proposta de política pública de reconstrução de casas na Colônia Agrícola 26 de Setembro
equivale a somente 0,4% de todo o eleitorado do Distrito Federal. Ainda, levando em conta o
total de votos recebidos pelo candidato Ibaneis (1.042.574) e se considerasse, de forma
superestimada, que toda a população dessa localidade (10 mil habitantes) teria atribuído seu
voto ao representado, isso representaria um acréscimo equivalente a apenas 0,9%.

A esse respeito, vale mencionar o seguinte precedente do TSE, de relatoria do Min.


Luiz Fux, no qual, ao contrário do presente caso, houve distribuição de benefícios ainda
durante a campanha. Vejamos:

ELEIÇÕES 2016. AGRAVO INTERNO. PREFEITO E VICE. ABUSO DE


PODER. CONDUTAS REPUTADAS POR ABUSIVAS.
FORNECIMENTO DE TRANSPORTE DE ELEITORES PARA
COMÍCIO. DISTRIBUIÇÃO DE BEBIDAS NO EVENTO.
AUSÊNCIA DE GRAVIDADE. AGRAVO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.1. A gravidade das circunstâncias se afigura elemento fático-
jurídico material, suficiente e necessário, para a caracterização a prática abusiva
(i.e., de poder econômico, político, de autoridade ou de mídia), nos termos do
art. 22 da Lei Complementar nº 64/90.2. A qualificação jurídica de uma
conduta como abusiva de poder econômico demanda o exame relacional
entre (i) a própria ação praticada (e reputada por abusiva), (ii) o contexto
fático em que ela foi perpetrada (circunstâncias e elementos concretos)
e (iii) os impactos advindos desse ato (supostamente abusivo) na
axiologia subjacente aos cânones eleitorais, desvirtuando-os. 3. A
gravidade das circunstâncias materializa, no âmbito da legislação
eleitoral, a máxima da proporcionalidade, em sua dimensão de vedação
ao excesso (Übermassverbot).4. In casu, extraem-se das premissas fáticas
delineadas no aresto regional que (i) houve o fornecimento de condução
gratuita de pessoas até o comício realizado em 7.9.2016 no Centro de Tradições
Gaúchas em veículos privados (ligados ao transporte público escolar)
regularmente contratados para o serviço, que não constituíram o único meio
de transporte responsável pelo comparecimento dos eleitores no comício, e

28
http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais
(ii) a distribuição gratuita de erva-mate e água-quente aos presentes no local
durante o comício.5. À guisa de conclusões, o acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Eleitoral deve ser mantido pelos seguintes fundamentos: em primeiro,
não restou demonstrado que o uso do veículo de propriedade da prefeitura
para o deslocamento dos eleitores; em segundo, inexistem provas (ou mesmo
indícios) de irregularidade na contratação dos demais veículos junto às
empresas terceirizadas de transporte escolar; em terceiro, as provas
testemunhais colacionadas afirmam que diversos cidadãos se deslocaram ao
local em veículos próprios, de carona ou a pé, de sorte que não se pode imputar
aos Recorridos a responsabilidade única pelo comparecimento dos eleitores no
comício. Portanto, não se vislumbra qualquer ilicitude eleitoral nas condutas
apontadas nos autos. 6. Ad argumentandum, o fornecimento de transporte
gratuito para o comparecimento de eleitores a comício, bem como a
distribuição de bebidas para um número restrito de pessoas
(APROXIMADAMENTE 600 PESSOAS), NÃO EVIDENCIARAM, À
LUZ DE UM UNIVERSO DE MAIS DE 8 MIL ELEITORES,
GRAVIDADE SUFICIENTE PARA COMPROMETER A
LEGITIMIDADE, A NORMALIDADE DO PRÉLIO ELEITORAL E
A IGUALDADE ENTRE OS PLAYERS, BENS JURÍDICOS
TUTELADOS PELA PROSCRIÇÃO DE ABUSO DE PODER
ECONÔMICO. 7. Agravo regimental desprovido. (Agravo de Instrumento
nº 21054, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário de
justiça eletrônico, Data 22/03/2018)

Assim, é inconteste a ausência de gravidade suficiente a caracterizar a prática de ilícito


eleitoral, tendo em vista que a conduta representada poderia ter gerado, no máximo, influência
sobre menos de 1% de todo eleitorado do DF. Por outro lado, no primeiro turno o candidato
Ibaneis ficou na 1ª posição com 41,97%, contra 13,94% de Rodrigo Rollemberg e no 2º turno
ficou com 69,79% contra 30,21%, ou seja, com ampla margem de votos nos dois turnos.

Desse modo, confere-se que, sob o aspecto qualitativo e quantitativo, o caso dos autos
não possui fundamento para ser reputado como juridicamente grave – afastando, com isso, os
fundamentos da presente AIJE, ainda que estivessem presentes.

VII. Da ausência de participação do candidato a Vice

Por oportuno e para que sejam limitadas as consequências jurídicas de eventual


condenação (o que se admite apenas para argumentar), é importante consignar que não há
absolutamente nada que ligue qualquer ação ou omissão do candidato a Vice na chapa aos
fatos debatidos na presente ação.
VIII. Conclusão

Como visto, não estão presentes os elementos necessários para configuração jurídica
da captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da lei 9.504/97), do abuso de poder econômico (art.
22, XIV da LC 64/90 c/c art. 237 do Código Eleitoral e art. 10, § 9º da CF) ou ilícito de
qualquer outra natureza.

Merece destaque trecho de acórdão de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso no


REspe 55944/AC29, segundo o qual: “é preciso prudência quando do ajuizamento das ações
eleitorais, e na aplicação das sanções nelas previstas, sob pena de amesquinhar a
higidez do processo democrático, máxime porque se pode perpetuar um indesejável
cenário de insegurança jurídica. De fato, as inúmeras ações eleitorais não devem ser
manejadas com o propósito de macular as escolhas legítimas do eleitor, mas, ao revés, para
garanti-las, assegurando, por consequência, a liberdade de voto e, no limite, a legitimidade do
processo democrático”.

Por fim, destaque-se o que restou consignado no já citado REspe 64036/MG, no


sentido de que “para afastar legalmente determinado mandato eletivo obtido nas urnas,
compete à Justiça Eleitoral, com base na compreensão da reserva legal proporcional, verificar,
com fundamento em provas robustas admitidas em direito, a existência de TODOS os
requisitos da captação ilícita de sufrágio”. Além disso “meras conjecturas (que sequer
podem conferir suporte material a qualquer imputação) ou simples elementos
indiciários desvestidos de maior consistência probatória não se revestem, em sede
judicial, de idoneidade jurídica”.

Pelo exposto, REQUER-SE a improcedência da presente ação, conforme a seguir:

1. A improcedência do pedido de condenação por captação ilícita de sufrágio, tendo em


vista a ausência de violação ao art. 41-A da lei 9504/97;

29Recurso Especial Eleitoral nº 55944, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE
10/08/2018.
2. A improcedência do pedido de condenação por abuso de poder econômico, tendo em
vista a ausência de violação aos artigos 22, XIV da LC 64/90 c/c art. 237 do Código Eleitoral
e art. 10, § 9º da CF;

3. A improcedência da consequência de inelegibilidade ou multa;

4. Desde já se arrola e requer-se a oitiva da testemunha Juliana Gonçalves Navarro,


CPF n.º 019.390.829-86, que comparecerá espontaneamente.

Por fim, requer-se que todas as futuras publicações sejam feitas exclusivamente
em nome de Bruno Rangel Avelino da Silva, inscrito na OAB/DF 23.067.

Pede deferimento,
Brasília, 10 de novembro de 2018.

Bruno Rangel Willian Guimarães


OAB/DF 23.067 OAB/DF 59.920 / OAB/PI 2.644

Taynara Tiemi Ono Juan Nogueira


OAB/DF 48.454 OAB/DF 59.392

Rodrigo Mesquita Edward Johnson Gonçalves


OAB/DF 41.509 OAB/DF 59.088

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