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AIJE nº 0603024-56.2018.6.07.0000
CONTESTAÇÃO
Ao inteiro teor da Ação de Investigação Judicial Eleitoral proposta pela Coligação Brasília de
Mãos Limpas e Rodrigo Sobral Rollemberg.
I. Tempestividade
Trata-se de AIJE ajuizada por candidato adversário, por meio da qual se pleiteia: (i) a
cassação do diploma dos representados por suposta captação ilícita de sufrágio (artigo 41-A
da lei 9504/97) e abuso do poder econômico (artigo 14, § 9º da CF e 237 do Código Eleitoral);
(ii) a aplicação de multa; (iii) a declaração de inelegibilidade.
A ação se sustenta em vídeo editado e não vai além disso, sendo as demais “provas”
cobertura da imprensa sobre o mesmo fato. A afirmação retirada de contexto pelos
representantes no vídeo editado foi “as casas que a Agefis derrubou, eu vou reconstruir com o meu
dinheiro”. A resposta audível das pessoas sobre a promessa GENÉRICA foi em tom jocoso e
não de troca de votos, pois diziam: “- Vou mandar derrubar a minha. - Eu também! - Porque
ele é milionário.”
Isso já demonstra que não se sabe quem são as pessoas que tiveram as suas casas
derrubadas pela Agefis e nem mesmo se estavam presentes. Registre-se que esta ação foi
movida PELO Governador em exercício e este também não foi capaz de trazer aos autos
quem foram as pessoas com casas derrubadas, ficando clara a impessoalidade da proposta. Os
críticos da medida podem acusá-la de ser demagógica (o exercício do mandato provará o
contrário), e, ainda que fosse, a demagogia, por si só, não se enquadra no tipo da captação
ilícita de votos ou do abuso do poder econômico1.
1 TSE. (...) Por outro lado, penso que se deva ter cautela redobrada ao aplicar o art. 41-A quando se trate de
promessa formulada a eleitores não identificados. Deve-se procurar separar a conduta ilícita, consistente na
obtenção indevida do voto mediante promessa de vantagem pessoal, da simples promessa de conteúdo político,
ainda que demagógica ou inviável. (Recurso Especial Eleitoral nº 28441, Acórdão, Relator(a) Min. José Delgado,
Publicação: DJ 29/04/2008)
Ademais, a inicial cita as participações de Ibaneis em entrevistas e debates como fatos
supostamente aptos a configuração dos ilícitos2. Contudo, ao contrário do que tentam fazer
crer os representantes, as respostas dadas – por provocação da imprensa ou dos adversários -
são a efetiva demonstração de que o vídeo editado foi apresentado fora de contexto.
Mais absurda foi afirmação do então candidato Fraga, em debate na TV Globo, de que
Ibaneis teria comprado a sua condenação criminal, tendo justificando sentença criminal o com
argumento, também abusivo, de que se trataria de juiz ativista LGBT5.
2 Debate na Rede Globo de 02/10/2018; entrevista no programa DFTV, de 16/10/2018; sabatina do portal G1,
do dia 16/10/2018; entrevista à Rádio BandNews, do dia 11/10/2018 e; entrevista ao C.B. Poder, de
09/10/2018.
3 https://www.valor.com.br/politica/5900947/em-debate-no-df-lider-nas-pesquisas-e-o-principal-alvo-dos-
ataques
4 A respeito do resultado do Ibope divulgado na noite de quarta (3), na qual aparece na A respeito do resultado
do Ibope divulgado na noite de quarta (3), na qual aparece na quarta posição, Fraga disse que continua confiante
quanto a ir para o segundo turno. “Na minha última eleição, eu era o terceiro, quarto, quinto colocado, e fui o
mais votado, disparadamente. Não compro pesquisa, trabalho com levantamentos internos.”
https://www.metropoles.com/distrito-federal/politica-df/ibaneis-arrota-dinheiro-e-nao-paga-os-cabos-
eleitorais-diz-fraga
5
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/10/03/interna_cidadesdf,709888/chamado
-de-ativista-lgbt-por-fraga-juiz-pretende-processar-fraga.shtml
presente ação) e sem nenhuma vedação para ampliar o seu escopo, o candidato incluiu em sua
plataforma de campanha, escritura pública6 por meio da qual declarou que abriria mão dos
valores que o GDF deverá pagar a ele no futuro, visando a execução de políticas públicas
sociais.
Em relação aos honorários devidos pelo GDF, tratou-se de proposta de doação aos
cofres públicos, vinculada à execução da plataforma de campanha do candidato, sendo certo
que o programa de governo de Ibaneis não seria cumprido por seus adversários, não
justificando a doação para outra finalidade, caso não fosse eleito.
Foi seguindo essa linha que, no dia 30/09/2018 (quando Ibaneis já liderava as
pesquisas), os próprios adversários filmaram, editaram e fizeram circular o vídeo que
pretensamente daria suporte às acusações, sendo que também foram eles os responsáveis por,
a todo tempo, pautar a discussão, na tentativa de retirar votos do representado, o que surtiu
efeito, evitando que Ibaneis vencesse a eleição no 1o turno, quando obteve 41,97% contra
13,94% do segundo colocado.
6
“(...) Declaro, em respeito a meus eleitores e toda sociedade do Distrito Federal, que, quando eleito
Governador do Distrito Federal nas próximas eleições, não receberei o salário do cargo, destinando a verba para
melhorais de creches e escolas. Além disso, não farei uso da residência ou de carro oficial, bem como qualquer
outra regalia ou privilégios. Declaro, ainda, que os honorários de sucumbência devidos ao escritório
IBANEIS ADVOCACIA E CONSULTORIA referentes ao pagamento da terceira parcela do reajuste
dos servidores públicos do Distrito Federal, também serão revertidos para melhorais de creches e
escolas.”
A mídia deu cobertura diária ao fato e, por mais duras que fossem as entrevistas,
também limitadas pelo tempo, deu-se ao candidato Ibaneis a oportunidade de expor mais
detalhadamente a proposta, de forma diversa do espaço de fala limitado e coloquial que se tem
em discurso de campanha.
denominado “fato 3” citado na inicial (ID n.º 95557, p. 10 - entrevista concedida por
Ibaneis ao DFTV no dia 16.10.18):
Entrevista concedida por Ibaneis à Band News no dia 11/10/2018 (ID n.º 98194, p.9):
(Ibaneis) (...) e essa proposta eu fiz e caso eleito eu vou cumprir, eu vou abrir
os processos administrativos, verificar se realmente aquela derrubada foi
ilegal e ela tendo sido ilegal, eu não conheço o nome de nenhum que
teve a casa derrubada, eu nunca visitei uma dessas pessoas e nem sei se
elas estavam naqueles eventos. Agora eu vou fazer e vou fazer da maneira
como que eu disse, agora eu não cheguei na casa de ninguém oferecendo
dinheiro, eu não meti a mão no bolso pra construir a casa de ninguém, eu fiz
uma proposta de campanha e todos os candidatos prometeram, então tudo que
você prometer, se eu prometer que eu vou resolver o problema de saúde, será
que todos os doentes do Distrito Federal vão votar em mim, Cláudio? Se for
assim tá fácil. É diferente isso, essa é a diferença (...).”
7 https://www.valor.com.br/politica/5900947/em-debate-no-df-lider-nas-pesquisas-e-o-principal-alvo-dos-
ataques
Entrevista concedida por Ibaneis ao Correio Braziliense no dia 9/11/2018 (ID n.º
98194, p.12):
(Ibaneis) Eu não me dirigi a casa de nenhum desses eleitores, eu não fiz oferta
em dinheiro pra eles. Eu fiz um compromisso de que eleito, se eleito, eu vou
ver. Eu não sei nem quem são essas casas, quem são os proprietários,
não vi as pessoas e nem sei se elas estavam naquele ambiente.
Entrevista concedida por Ibaneis ao G1 no dia 16/10/2018 (ID n.º 98194, p.14):
(Ibaneis) Como nós temos escolas todas cadastradas, nós vamos ter o
levantamento delas todas e as obras ocorrem por licitação, ao invés do
dinheiro sair do Estado, na hora de pagar as empresas que vão reformar,
eu diretamente vou disponibilizar, vou autorizar o judiciário que faça a
cessão desse crédito. Você faz através de petição no processo judicial e o juiz
você faz a cessão do crédito.
Além disso, vale transcrever os seguintes trechos do voto proferido pelo Des. Álvaro
Ciarlini, relator daquele processo:
Dessa forma, ainda que a política promovida pelo Governador fosse de derrubada de
residências (política suspensa durante as eleições), trata-se de discussão no plano programático,
do conflito entre direito à moradia e limites ao poder de polícia do Estado.
Assim, há discussão razoável sobre legalidade dos atos praticados pela Agefis em
diversas oportunidades, tendo sido essa uma das plataformas de campanha do candidato
Ibaneis, tal como se nota dos seguintes trechos de sabatina promovida pelo site Metrópoles8,
em 20 de agosto de 2018, muito antes dos fatos trazidos nesta ação:
O candidato Ibaneis tem plena consciência de que pessoas que tiveram seus
DIREITOS violados, possuem o DIREITO de obter reparação pelos danos indevidamente
causados pelo Estado. A reparação atribuída às pessoas que se enquadrarem nessa condição
sequer caracteriza benefício, mas sim DIREITO. Assim, trata-se de proposta programática,
impessoal e não condicionada ao voto.
8https://www.metropoles.com/distrito-federal/politica-df/ibaneis-rocha-e-o-quarto-sabatinado-pelo-
metropoles-acompanhe
Para execução de determinadas políticas públicas (escolas, creches e reparação de
danos, com reconstrução de casas), o candidato Ibaneis indicou como fonte de custeio os
valores que o GDF, no futuro, pagará a ele, os quais são decorrentes de salário, regalias do
cargo e honorários de sucumbência que o Governo deve ao candidato. Em síntese, ao invés
de dar calote em fornecedores, servidores ou outros, para execução de políticas públicas, o
GDF deixará de pagar o próprio Governador eleito, com a sua anuência.
Nunca se cogitou – nem há acusação nesse sentido, sequer por parte dos
representantes – de afastar da política pública eleitores que, livremente, optaram por declarar
apoio a outros candidatos.
Além disso, merece destaque a seguinte promessa realizada pelo candidato Rodrigo
Rollemberg:
A proposta de Rollemberg representa promessa DETERMINADA (distribuição de
R$ 600,00), além da promessa indeterminada (construção de casas – sem especificações), bem
como estipula que isso será feito para 50 mil famílias de locais específicos. Nesse caso,
enquanto Governador em exercício, o candidato tem acesso ao cadastro de todas as famílias
beneficiárias junto à CODHAB. Não há indicação da fonte de custeio (pública ou privada),
impedindo que se saiba se decorrente de fonte lícita.
Obviamente que, não tendo sido eleito, Rollemberg não cumprirá a promessa de
construir casas para 50 mil famílias e não distribuirá R$ 600,00 por mês a cada uma até que
fiquem prontas as casas, não se podendo dizer, sem outras provas, que houve o
condicionamento específico ao voto punível na forma do art. 41-A.
Ainda assim, por mais suspeita e demagógica que seja a promessa de Rodrigo
Rollemberg (construção de milhares de casas, pagamento de R$ 600,00), não há configuração
de captação ilícita de sufrágio ou abuso do poder econômico, haja vista não estarem presentes
todos os elementos necessários.
III. Da não ocorrência de captação ilícita de sufrágio, art. 41-A da lei 9.504/97
Extrai-se do art. 41-A e § 1º da lei 9.504/979 que a fonte de custeio (pública ou privada)
não é o elemento caracterizador da captação ilícita de sufrágio, mas sim: (i) promessa de
vantagem pessoal; (ii) elemento subjetivo marcado pela evidência de dolo no sentido trocar
(figura negocial) o oferecimento da vantagem pessoal pelo compromisso do voto do eleitor
(capaz de retirar a liberdade do eleitor).
Neste caso concreto, não houve afronta ao artigo 41-A da lei 9.504/97, tendo em vista
que: (i) a vantagem da proposta de campanha não está quantificada, o que só ocorrerá
mediante a instauração de processo administrativo, no futuro; (ii) a proposta de campanha
genérica, de natureza impessoal, podendo participar dela eleitores de outros candidatos; (ii.1)
também é impessoal pois nem mesmo os destinatários sabem se possuem direito, haja vista
9Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei,
o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou
VANTAGEM PESSOAL de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da
candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro
ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de
1990. § 1º Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a
EVIDÊNCIA DO DOLO, consistente no especial fim de agir.
que a ilegalidade da derrubada será apurada no âmbito de processo administrativo; (iii) não
houve condicionamento ao voto do eleitor; (iv) inexiste o necessário elemento subjetivo
doloso negocial, de obter ilicitamente o voto dos eleitores; (v) trata-se de proposta e de
recursos financeiros a ser disponibilizados em momento futuro, de maneira impessoal, quando
do exercício do cargo (CF, art. 37, § 1º10).
(...) Clara foi a intenção do candidato de formular uma promessa com nítido
contorno de propaganda eleitoral, uma vez que se trata de intenção
10 CF, art. 37. § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
11
TSE, Recurso Especial Eleitoral nº 19176, Acórdão de , Relator(a) Min. Sepúlveda Pertence, Publicação:
DJ - Diário de justiça, Volume 1, Data 22/02/2002.
dotada de IMPESSOALIDADE, ainda que voltada para uma
comunidade (os integrantes da Igreja católica e evangélica). Destaque-
se ainda que ESSA INTENÇÃO GENÉRICA FOI DIFERIDA PARA
O FUTURO, conferindo um atributo claro de que SE ELEITO O
CANDIDATO, TEM ELE O OBJETIVO DE CUMPRIR A
PROPOSTA. Trata-se de ato do governo a ser praticado no futuro.
Julgado expressivo do Col. Tribunal Superior Eleitoral vem a confirmar a tese
aqui sustentada: “as promessas genéricas, sem o objetivo de satisfazer
interesses individuais e privados, não são capazes de atrair a incidência do art.
41-A da Lei n. 9.504/97" (TSE, acórdão n. 5.498, de 27.9.2005, reI. Min.
Gilmar Mendes). (...) De fato, promessa de campanha no sentido de
manter ou criar programa municipal de benefícios não determina a
incidência do disposto no art. 41-A da Lei n. 9.504/97, que claramente
refere à "vantagem pessoal".
Extrai-se do acórdão acima ementado a regra de que o art. 41-A não pune a eventual
demagogia, mas sim o ilícito, sendo necessária a presença do elemento subjetivo do tipo
(motivo doloso de perseguir a finalidade ilícita, mediante troca de votos). Vejamos o voto
proferido pelo Ministro Marcelo Ribeiro:
“(...) Para que tenha aplicação do art. 41-A da lei das eleições, deve ficar
demonstrado, sem sombra de dúvida, que houve o oferecimento de bem ou
vantagem pessoal, em troca do voto do beneficiário. O artigo, por cuidar de
sanção rigorosa, para cuja aplicação não se exige sequer tenha o ato
infringente da lei potencialidade para influir no resultado do pleito,
NÃO PODE MERECER OUTRA INTERPRETAÇÃO QUE NÃO A
ESTRITA. No caso concreto, tanto a sentença quanto o acórdão entenderam,
mediante análise dos fatos e provas, que se cuidava de promessas genéricas,
que compunham plataforma de campanha política do candidato.
(...)
Não se esclareceu, tampouco, que MOTIVO levou os candidatos a
prometerem tal providência no caso de sua eleição. Os motivos podem
ser os mais diversos. Tanto podem ter prometido, apenas e tão-somente, para
ludibriar os eleitores e obter-lhe o voto, como podem ter feito por outras
razões, entre as quais cito apenas a título exemplificativo, possível abusividade
nos contratos. (...) não há no acórdão elementos a verificar a prática da conduta
descrita na lei, principalmente o elemento subjetivo do tipo.
Por outro lado, penso que se deva ter cautela redobrada ao aplicar o art.
41-A quando se trate de promessa formulada a eleitores não
identificados. DEVE-SE PROCURAR SEPARAR A CONDUTA
ILÍCITA, CONSISTENTE NA OBTENÇÃO INDEVIDA DO VOTO
MEDIANTE PROMESSA DE VANTAGEM PESSOAL, DA SIMPLES
PROMESSA DE CONTEÚDO POLÍTICO, AINDA QUE
DEMAGÓGICA OU INVIÁVEL. (...)
Ainda sobre o mesmo caso, cabe destacar que o voto vencido, proferido pelo Min.
José Delgado, aplicou o art. 41-A por entender configurada “promessa de vantagem concreta
e determinada, diretamente vinculada ao COMPROMISSO DE VOTO”12, tendo havido
“NEGÓCIO JURÍDICO REALIZADO PELO CANDIDATO”, dado completamente
distante do presente caso.
12Senhor Presidente, gostaria de fazer leitura rápida do meu voto. Lembrando que acolhi grande parte do parecer
do Ministério Público: 20. No particular, o conjunto probatório dos autos demonstrou, de acordo com a própria
moldura fática proporcionada pelo v. acórdão regional, que houve, efetivamente, a promessa de vantagem
concreta e determinada, diretamente vinculada ao compromisso de voto.
Ademais, os autores da presente AIJE trazem em suas alegações trechos selecionados
da ementa do Respe 357-70/ES13, todavia, naquele caso foi dado provimento ao Recurso
Especial justamente para afastar a aplicação do art. 41-A. Vejamos:
Já o voto proferido pelo Ministro Joelson Dias no mesmo Respe 357-70/ES merece
ainda maior atenção diante da similitude dos argumentos com o presente caso em julgamento
no TRE/DF. Ao justificar o pedido de vista, o Ministro assim se manifestou:
“(...) É bem verdade, como concluiu o acórdão recorrido, que ter como
imprescindível o pedido explícito de voto significa negar aplicação ao disposto
no art. 41-A da Lei n° 9.504/97 (fls. 459-460). Também é verdade que, para a
sua configuração, a captação ilícita de sufrágio prescinde de "que o proveito ou
vantagem recaia sobre pessoas determinadas ou determináveis" (fI. 465).
Não obstante, no caso específico dos autos, acompanhando os votos
proferidos pelos ilustres ministros que me antecederam, também estimo que
O COMPROMISSO ASSUMIDO PELOS RECORRENTES DE
REALIZAREM, APÓS SUA ELEIÇÃO, obras de asfaltamento,
saibramento e iluminação de rodovia vicinal pública na comunidade de
Taquaral, CONFIGURA PROMESSA GENÉRICA, comum e razoável
em época eleitoral, direcionada indistintamente a toda uma
coletividade, AINDA QUE, EVENTUALMENTE, POSSA
COINCIDIR OU TER COINCIDIDO COM INTERESSE
INDIVIDUAL DE ELEITOR.
Além disso, restou consignado no mesmo voto que, em reunião com a comunidade,
da qual participaram aproximadamente duzentas pessoas, “os recorrentes teriam se limitado
a prometer a realização das obras”. Além disso, em momento posterior à referida reunião
foi registrado em cartório “o compromisso de campanha, acrescido então da declaração
firmada pelo ora recorrente João Paganini, à época candidato a vice-prefeito, de que
eventualmente realizaria as obras com seus próprios recursos”.
14
RIBEIRO, Renato Ventura. Lei Eleitoral Comentada. Quartier Latin, 2006, p. 295-296.
Somente a promessa que visa a satisfazer interesses pessoais, individuais ou
privados excepciona essa regra, o que, no entanto, não foi comprovado no caso
específico dos autos.
(...)
Não há notícia no acórdão recorrido tenham os recorrentes
CONDICIONADO a realização das referidas obras apenas na área ou
imediações dos próprios imóveis DE ELEITORES QUE VOTASSEM
NELES. Ainda que coincidente com o interesse de um ou outro
indivíduo, cuja condição de eleitor nem se sabe ao certo ter sido ou não
confirmada, CONCLUI-SE TER SIDO GENÉRICA A PROMESSA
FEITA, visto que direcionada indistintamente a toda a comunidade
onde localizada a estrada vicinal em que seriam realizadas as obras. (...)
E, como mero compromisso de campanha, tenho que a promessa não
me pareceu eficaz, portanto, de retirar do eleitor a sua liberdade de voto,
revelando-se, assim, atípica a conduta imputada relativamente à
infração de captação ilícita de sufrágio do art. 41-A da Lei 9.504/97.
A simples promessa de realização de obras que, eventualmente, beneficiariam
toda a coletividade não pode ser tida como benesse ou vantagem pessoal,
própria da corrupção eleitoral, configurando apenas a assunção de
compromissos em campanha ou proposta de uma plataforma política, inerente
ao debate político-eleitoral.”
Por outro lado, nos casos analisados em que houve condenação, o cumprimento
promessa consistia em fato a ser implementado durante o processo eleitoral e não mediante
15 Agravo regimental. Representação. Captação ilícita de sufrágio. 1. A exposição de plano de governo e a mera
promessa de campanha feita pelo candidato relativamente ao problema de moradia, A SER CUMPRIDA APÓS
AS ELEIÇÕES, não configura a prática de captação ilícita de sufrágio. (...). Agravo regimental não provido.
(Agravo de Instrumento nº 196558, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, 30/10/2011. Publicação: DJE -
Diário de justiça eletrônico, Tomo 25, Página 123)
16 (...) Não configura a captação ilícita de sufrágios, objeto do art. 41-A da L. 9.504/97, o fato, documentado no
"protocolo de intenções" questionado no caso, firmado entre os representantes de diversas igrejas de determinado
Município - travestidos de membros do Conselho Ético de um partido político - e certos candidatos a prefeito e
vice-prefeito, que formalmente se comprometem, SE ELEITOS, ao atendimento de reivindicações imputadas
à "comunidade evangélica" e explicitadas no instrumento, entre elas, a doação de um imóvel do patrimônio
municipal, se não voltadas as promessas a satisfazer interesses patrimoniais privados. (RESPE 19176, Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 22/02/2002)
17 Na espécie, a instância regional, após detida análise das provas dos autos, entendeu não estar comprovada a
alegada prática da captação ilícita de sufrágio, destacando haver, no caso "nítida promessa de campanha, eis que
o panfleto simplesmente detalhava uma das ações a serem implementadas pelos recorridos, CASO FOSSEM
ELEITOS (...). (Agravo de Instrumento nº 44498, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana Lóssio, DJE 06/08/2014)
política pública condicionada ao exercício do mandato futuro. A título exemplificativo, cite-se
o REspe 236-28/RN18 e REspe 4038-03/CE19.
18 (...) 5. Ainda assim, na espécie, extrai-se do acórdão regional que as condenações estão fundamentadas em
robusto acervo probatório, consistente não apenas nos elementos de prova extraídos do caderno que seria objeto
da perícia indeferida pelo Juízo sentenciante, mas, também, em outros documentos com anotações, de próprio
punho, dos condenados, fotografias de doações, comprovantes de pagamento de contas de energia elétrica e de
água - todos apreendidos na residência da recorrente por meio de regular busca e apreensão -, bem como
declarações testemunhais que confirmaram diretamente a promessa e a doação de benefícios em troca de
voto, com gravidade suficiente para configurar a hipótese de abuso de poder. 6. Recurso especial a que se
nega provimento. (Recurso Especial Eleitoral nº 23628, Acórdão, Relator(a) Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 205, Data 15/10/2018, Página 8/9)
19 (...) Ao ter sido feita a apreensão das próteses com o nome da vereadora e dos destinatários, entendo
configurado que houve o oferecimento e a promessa desse bem em favor e em busca de algo, que seria justamente
o voto. (...) (Recurso Especial Eleitoral nº 403803, Relator Min. Henrique Neves, Publicação: 25/09/2013)
vantagem ao voto do eleitor. Recursos especiais providos. (REspe n°
63949/SP, rela. Ministra Luciana Christina Guimarães Lóssio, DJe 3.2.2015)
Portanto, o tipo do art. 41-A não criminaliza a captação de votos, própria das
campanhas eleitorais, mas apenas a captação que se dá de forma ILÍCITA, com ESPECIAL
fim DOLOSO de agir no sentido de, desviando-se campanha ordinária em busca de votos,
descambar para o campo da compra de votos.
Vale registrar que, no caso do Respe 64036/MG, o TSE reconheceu a captação ilícita
de sufrágio, mas em situação bastante robusta, na qual estavam presentes todos os elementos
do art. 41-A. Vejamos os seguintes trechos da ementa:
“(...) 5. Art. 41-A da Lei nº 9.504/1997. 5.1. O acórdão regional, a partir das
provas testemunhais, depoimentos de informantes e provas
documentais robustas e coerentes, demonstrou que: a) lotes de programa
de governo e materiais de construção foram prometidos em troca de votos
a eleitores individualizados; b) materiais de construção foram entregues
a eleitores individualizados em troca de votos; c) determinado chip de
telefone celular foi adquirido em nome de terceira pessoa para utilização pelos
funcionários do comitê eleitoral dos candidatos, inclusive pela irmã do
candidato a vice-prefeito; d) as ligações seguiam um padrão, chamadas de curta
duração, de maneira sequencial e em grande volume; e) os eleitores eram
cadastrados no comitê eleitoral nome, endereço, telefone, entre outros;
f) em reunião franqueada a qualquer um do povo, o candidato falou aos
cidadãos dos lotes que seriam "doados", ENFATIZANDO A
NECESSIDADE DE SE PREENCHER O CADASTRO PARA
OPORTUNO CONTATO; g) listas contendo nomes, endereços,
telefones, entre outros foram apreendidas no comitê pela Justiça
Eleitoral; h) materiais de construção foram apreendidos pela Justiça
Eleitoral na casa de determinada eleitora. 5.2. A decisão demonstrou não
apenas a participação indireta do candidato a vice-prefeito (ciência), a partir de
forte vínculo familiar e político, mas também a própria participação direta do
candidato a prefeito, o que revela um conjunto probatório coerente,
harmônico e seguro, que confirma com clareza os requisitos da captação
ilícita de sufrágio. 6. Recursos desprovidos. Liminar revogada. Cautelares
prejudicadas. (Recurso Especial Eleitoral nº 64036, Acórdão, Relator(a) Min.
Gilmar Mendes, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160,
Data 19/08/2016, Página 122-124)
Ainda, não merece prosperar a tese de abuso de poder econômico trazida pelos
autores, tendo em vista a ausência dos elementos necessários para sua configuração, quais
sejam: (i) a existência de provas robustas e incontestes; (ii) benefício do candidato; (iii)
gravidade/relevância; (iv) dispêndio de recursos antes ou durante a campanha; (v) existência
de liame objetivo.
20 (...) Os documentos acostados às fls. 35136, apreendidos no laboratório de próteses dentárias de propriedade
de Francisca Altino Braga, fazem expressa menção à candidata Maria Moreira de Oliveira, ora recorrente, dali se
extraindo que este teria autorizado a confecção de dentaduras em favor dos eleitores 'Nazaré', 'Maria Pereira da
Silva, 'Fátima', 'Edigar', 'Luciene' e 'Maria Quebra Braço'. (...) A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO:
Senhora Presidente, peço vênia ao relator para divergir, por entender que o núcleo do artigo 41-A da Lei n°
9.50411997 não exige apenas a entrega do bem; ele se contenta com o oferecimento, com a promessa. Ao ter
sido feita a apreensão das próteses com o nome da vereadora e dos destinatários, entendo configurado
que houve o oferecimento e a promessa desse bem em favor e em busca de algo, que seria justamente o voto.
De acordo com o teor do art. 22, caput e XIV da LC 64/90, a aplicação das sérias
sanções ali expostas, deve estar fundada em um conjunto probatório robusto e inconteste da
ocorrência de abuso, o que não está presente neste caso. Vejamos o firme entendimento do
TSE:
Vale notar que as notícias, no contexto indevido em que foi colocado o vídeo pelos
adversários, PREJUDICOU o candidato Ibaneis, por exemplo, ao lançarem dúvidas
quanto à viabilidade de sua proposta (ID n.º 98197) ou levantarem, em tom ofensivo,
suposições de que estaria comprando o eleitor (ID n.º 95543 e 95548 – “Rivais acusam Ibaneis
de compra de votos ao prometer reconstruir casas”/ 95544 – “Nova máscara da velha política,
diz Rollemberg sobre Ibaneis”/ 95545 – “Ele vende a imagem do amigo rico que vai resolver
o problema do amigo pobre com dinheiro do próprio bolso. Conto do vigário.”/ 95554 – “Ele
compra votos, eu peço, diz Fraga sobre Ibaneis”/ 955546 – “Eu quero que a população saiba
a verdade sobre o que Ibaneis representa, diz Rollemberg”/ 95541 – “Não vos enganeis com
o Ibaneis. O dinheiro compra quase tudo, mas não compra uma eleição. Fora, Inganeis!”).
Nos próprios documentos acostados aos autos (ID n.º 98197 e 95549), consta
esclarecimento de Ibaneis a esse respeito, fato seletivamente omitido na narrativa da inicial.
Vejamos:
“(...) QUE FIQUE BEM CLARO QUE ESSES 300 MILHÕES É O QUE
OS MEUS CLIENTES TÊM PARA RECEBER. A MINHA PARCELA DE
HONORÁRIOS NÃO CORRESPONDE A TUDO ISSO. Ela gira em
torno de 10% desse valor, que foi o valor fixado na sucumbência.
ENTÃO, ELES [CANDIDATOS ADVERSÁRIOS] CONFUNDEM A
POPULAÇÃO DE MODO A CRIAR UM AMBIENTE QUE NÃO
EXISTE.”
Dessa maneira, é perceptível a forma como a ação distorce os fatos para tentar montar
o cenário da ocorrência de abuso do poder econômico e captação ilícita de sufrágio que nunca
ocorreram.
21
Documentos de ID n.º 95555, 95554, 95553, 95552, 95551, 95550, 95549, 95548, 95546,
95545, 95544, 95542, 95541, 95540, 95539, 95538, 95537, 95536, 95534, 955483, 98198,
98197, 98196, 98195.
Ora, sem prova da existência do qualquer benefício em favor do representado, mostra-
se incabível a imputação da prática de abuso de poder. No tocante à matéria, vejamos recente
jurisprudência do TSE que estabelece a necessidade, para fins de configuração de abuso de
poder, de um conjunto probatório suficiente a fazer prova (i) do benefício do candidato e (ii)
da gravidade da conduta. Vejamos:
Adicionalmente, confere-se que a aplicação do art. 22, XIV da LC 64/90 deve vir
precedida de uma “utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral de
recurso materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar
candidato, partido ou coligação, afetando assim a normalidade e legitimidade da
eleição”22.
No caso dos autos, não houve qualquer dispêndio de recurso pelo candidato, mas tão
somente a proposta de campanha de, no futuro, perdoar a dívida que o DF possui com o
candidato, doando os valores (atualmente sequer quantificados) aos cofres púbicos para
22
(Recurso contra Expedição de Diploma nº 580, Acórdão, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani, Publicação:
DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 39, Data 28/02/2012, Página 6)
execução das políticas públicas propostas, tratando-se de disponibilidade futura, incapaz de
desigualar as chances no período eleitoral.
Acerca da não ocorrência de abuso de poder econômico em tal situação, vejamos outro
trecho de voto proferido pelo Min. Joelson Dias na ocasião do julgamento do REspe 357-
70/ES:
É oportuno observar que a execução das políticas públicas propostas pelo governador
eleito, Ibaneis Rocha, não depende exclusivamente do seu dinheiro privado para merecer
execução, sendo certo que poderiam ser cumpridas, se houvesse interesse, por quaisquer dos
candidatos mediante outras fontes de custeio.
Ora, ainda que não tivesse a remuneração do cargo e créditos a receber do DF (ou
ainda que não os receba a tempo) para aplicar em escolas, creches e na política de construção
de casas, será possível a execução da política pública por meio de financiamento, geração de
divisas, verbas federais, parcerias com a iniciativa privada, dentre outras inúmeras formas pelas
quais o Estado funciona.
Inclusive, em decisão recente, o TCDF, ao apurar caótica a situação das escolas, deu
prazo de 120 dias para apresentação de plano de reforma de 90,9% das escolas do DF23.
Qualquer candidato que fosse eleito deveria buscar formas de executar tais políticas públicas,
tendo o candidato Ibaneis identificado uma fonte de custeio, baseada na remuneração do
cargo, créditos que tem a receber, mas não são as únicas formas.
Por fim, importa destacar que para a configuração do abuso de poder exige-se a
presença de um liame objetivo entre o fato e a alegação de prejuízo à normalidade e
legitimidade do pleito – o que, pelo acervo probatório dos autos, não está presente, restando
evidente que a imputação decorre unicamente de presunções dos representantes. Sobre o tema,
vejamos o seguinte trecho da obra de José Jairo Gomes24:
23 https://www.metropoles.com/distrito-federal/tcdf-da-120-dias-para-gdf-fazer-plano-de-reforma-de-909-das-
escolas
24
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2018, p. 743.
É PRECISO QUE O ABUSO DE PODER SEJA RELEVANTE,
OSTENTANDO APTIDÃO PARA COMPROMETER A LISURA,
NORMALIDADE E LEGITIMIDADE DAS ELEIÇÕES, POIS SÃO
ESSES OS BENS JURÍDICOS TUTELADOS PELA AÇÃO EM
APREÇO. Por isso mesmo, há mister que as circunstâncias do evento
considerado sejam graves (LC nº 64/90, art. 22, XVI), o que não significa
devam necessariamente propiciar a alteração do resultado das eleições.
Nessa perspectiva, ganha relevo a relação entre, de um lado, o fato
imputado e, de outro, seu consectário consistente na falta de higidez,
anormalidade ou desequilíbrio do pleito. IMPÕE-SE A PRESENÇA
DE LIAME OBJETIVO ENTRE TAIS EVENTOS.
Veja-se, portanto, que a alegação da prática de abuso de poder econômico foi feita sem
provas robustas e incontestes; de benefício em favor do candidato representando; da
gravidade/relevância; do dispêndio de recursos antes ou durante a campanha; do liame
objetivo entre o fato e a alegação de prejuízos efetivos à normalidade do pleito.
Optou-se por alterar a ordem dos argumentos e atacar diretamente o mérito para
demonstrar não haver dúvidas da licitude da conduta do representado.
De qualquer forma, zelando pela eventualidade, ainda que o trecho editado do vídeo
fosse capaz de configurar ilícito de qualquer natureza, é preciso deixar clara a sua
imprestabilidade para fins de prova, tendo em vista que se trata de vídeo editado, retirado de
contexto única e exclusivamente para dar sentido à narrativa dos representantes.
Desta forma, os autores da ação não se desincumbiram do ônus que lhe é devido em
trazer prova que demonstre em completude as circunstâncias fáticas do discurso proferido
pelo candidato Ibaneis que foi realizado naquele evento, sendo impossível depreender a
ocorrência de promessa condicionada ao voto dos eleitores ali presentes, sendo também
inexistente vantagem pessoal e de DOLO do candidato em praticar conduta ilícita. Por essa
razão, deve ser desconsiderado do acervo probatório o vídeo juntado pelos representantes.
(...) 15. Nas ações que tratam de abuso de poder, como a AIME e a AIJE,
exige-se, além de que o candidato tenha se beneficiado dele, que as
circunstâncias que o caracterizam tenham gravidade, nos termos do
inciso XVI do art. 21 da Lei das Inelegibilidades.
16. "Com a alteração pela LC 135/2010, na nova redação do inciso XVI do art.
22 da LC 64/90, PASSOU-SE A EXIGIR, PARA CONFIGURAR O ATO
ABUSIVO, QUE FOSSE AVALIADA A GRAVIDADE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS que o caracterizam, devendo-se considerar se,
ante as circunstâncias do caso concreto, os fatos narrados e apurados
são suficientes para gerar desequilíbrio na disputa eleitoral ou evidente
prejuízo potencial à lisura do pleito" (REspe 822-03/PR, Rel. Min.
Henrique Neves da Silva, DJe de 4.2.2015). (Recurso Ordinário nº 1032,
Acórdão, Relator(a) Min. Rosa Weber, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 06/04/2018)
Com o nível de rejeição acima de 50%, do início da campanha até o seu fim, o
candidato representante Rodrigo Rollemberg atingiu apenas 30,21% dos votos válidos no
segundo turno, tendo o candidato representado Ibaneis Rocha vencido as eleições, por ampla
vantagem, com quase 70% dos votos. Vejamos:
25
FONTE:https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/eleicoes/2018/noticia/2018/09/12/pesquisa-ibope-no-distrito-federal-eliana-23-fraga-
13-rollemberg-12-rosso-10.ghtml
26https://g1.globo.com/df/distrito-federal/eleicoes/2018/noticia/2018/09/28/pesquisa-datafolha-
no-distrito-federal-ibaneis-24-eliana-16-rollemberg-12-fraga-10.ghtml
Note-se que, à época em que foi proferido o discurso na Colônia Agrícola 26 de
Setembro (no dia 30/09), o candidato Ibaneis Rocha já liderava as pesquisas com uma grande
margem em relação aos outros candidatos. Após esse evento, o referido ato de campanha foi
objeto de notícias e matérias jornalísticas pejorativas, que prejudicaram e não
beneficiaram o candidato (amplitude dada pelos próprios adversários, justamente para
prejudicar), oportunidade em que o candidato se limitou a prestar esclarecimentos.
27 http://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/comunicacao-menu/noticias/noticias-2018/9940-
moradores-da-colonia-agricola-26-de-setembro-participam-de-acao-social
Ora, mesmo que se considerasse que toda população da referida região fosse
constituída de eleitores (o que, certamente, não ocorre, tendo em vista a existência de pessoas
que não votam), depreende-se que, em termos percentuais, esse número é ínfimo diante da
quantidade absoluta de eleitores em todo o Distrito Federal (2.084.356)28.
28
http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais
(ii) a distribuição gratuita de erva-mate e água-quente aos presentes no local
durante o comício.5. À guisa de conclusões, o acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Eleitoral deve ser mantido pelos seguintes fundamentos: em primeiro,
não restou demonstrado que o uso do veículo de propriedade da prefeitura
para o deslocamento dos eleitores; em segundo, inexistem provas (ou mesmo
indícios) de irregularidade na contratação dos demais veículos junto às
empresas terceirizadas de transporte escolar; em terceiro, as provas
testemunhais colacionadas afirmam que diversos cidadãos se deslocaram ao
local em veículos próprios, de carona ou a pé, de sorte que não se pode imputar
aos Recorridos a responsabilidade única pelo comparecimento dos eleitores no
comício. Portanto, não se vislumbra qualquer ilicitude eleitoral nas condutas
apontadas nos autos. 6. Ad argumentandum, o fornecimento de transporte
gratuito para o comparecimento de eleitores a comício, bem como a
distribuição de bebidas para um número restrito de pessoas
(APROXIMADAMENTE 600 PESSOAS), NÃO EVIDENCIARAM, À
LUZ DE UM UNIVERSO DE MAIS DE 8 MIL ELEITORES,
GRAVIDADE SUFICIENTE PARA COMPROMETER A
LEGITIMIDADE, A NORMALIDADE DO PRÉLIO ELEITORAL E
A IGUALDADE ENTRE OS PLAYERS, BENS JURÍDICOS
TUTELADOS PELA PROSCRIÇÃO DE ABUSO DE PODER
ECONÔMICO. 7. Agravo regimental desprovido. (Agravo de Instrumento
nº 21054, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: DJE - Diário de
justiça eletrônico, Data 22/03/2018)
Desse modo, confere-se que, sob o aspecto qualitativo e quantitativo, o caso dos autos
não possui fundamento para ser reputado como juridicamente grave – afastando, com isso, os
fundamentos da presente AIJE, ainda que estivessem presentes.
Como visto, não estão presentes os elementos necessários para configuração jurídica
da captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da lei 9.504/97), do abuso de poder econômico (art.
22, XIV da LC 64/90 c/c art. 237 do Código Eleitoral e art. 10, § 9º da CF) ou ilícito de
qualquer outra natureza.
29Recurso Especial Eleitoral nº 55944, Acórdão, Relator(a) Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: DJE
10/08/2018.
2. A improcedência do pedido de condenação por abuso de poder econômico, tendo em
vista a ausência de violação aos artigos 22, XIV da LC 64/90 c/c art. 237 do Código Eleitoral
e art. 10, § 9º da CF;
Por fim, requer-se que todas as futuras publicações sejam feitas exclusivamente
em nome de Bruno Rangel Avelino da Silva, inscrito na OAB/DF 23.067.
Pede deferimento,
Brasília, 10 de novembro de 2018.