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Es ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Pay Turma: CPHL A 12016 Disciplina/Matéria: DIREITO CIVIL OBRIGACOES Sesstio: 01 - Dia 05/05/2016 - 08:00 as 09:50 Professor: SYLVIO CAPANEMA DE SOUZA. 01 Tema: Direito das Obrigagdes: conceito. Fontes das obrigagdes. Estrutura da relagio obrigacional: sujeitos, objeto e patrimonialidade da prestagio, vinculo juridico e causa. Débito ¢ responsabilidade. Obrigagdes naturais. Obrigagdes reais (propter rem) ef centre obrigagdes reais, onus reais e obrigagdes com eficacia real. Obrigagdes civis e consumerista ‘A boa-fé objetiva nas relagdes obrigacionais. 1" QUESTAO: Dédito e responsabilidade so doutrinariamente diferentes? Formule um exemplo de responsabilidade sem débito e outro de débito sem responsabilidade, Analise ainda a importincia da teoria do vinculo juridico para o direito privado, bem como sua aplicagao no ordenamento juridico obrigacional nos dias de hoje. 'A fundamentaco da resposta deve ser acompanhada da indicagdo de dispositivos legais e/ou principios juridicos pertinentes. DIREITO CIVIL - CPO2 - 02 - CPI - 1° PERIODO 2016 03/05/2016 - Pagina | de 6 ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RESPOSTA: O diteito civil alemao criou a Teoria Dualista, que diferencia o débito (shuld) da responsabil (hafiung). 0 débito é a obrigagio propriamente dita, previamente definida na lei ou no negécio juridico. Todavia, a responsabilidade é a conseqiiéncia do descumprimento do dever originério. stem situagdes em que, excepcionalmente, teremos um ou outro, como se verifica nas obrigacdes naturais, em que existe 0 débito, mas o credor nao esta legitimado a exigir o seu cumprimento. Nessa hipotese, ha o débito, mas nao ha responsabilidade. No contrato de fianga, ao contrério, alguém, © idor, responsabiliza-se pelo débito de terceiro, a evidenciar a existéncia de responsabilidade sem débito. Obtempere-se que a contempordnea concepgio da obrigagio como processo polarizado ao adimplemento nao é capaz de apagar o mérito da teoria dualista. Afinal, mesmo que acertadamente reconhecida como relagaio juridica global - sob o Angulo de sua complexidade -, a obrigagio ainda & aferida em sua acpegdo estrita - sob 0 angulo de relacio simples - como um vineulo que assegura a0 credor exigir uma prestagdo, Se esta é a sua esséncia, nada melhor do que precisar a dicotomia débito/responsabilidade para compreender o cerne do proceso obrigacional. (DE FARIAS, Cristiano Chaves. ROSENVALD. Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 2. Salvador: Jus Podivm. 2014. p. 38. Aponta Marcelo Junqueira Calixto que, a doutrina tradicional via neste vinculo juridico praticamente um estado de subordinagao do devedor, que seria o Unico responsavel pelo adimplemento da obrigagdio, garantindo-o com seu patriménio. A doutrina mais recente, contudo, tem encarecido o fato de que a obrigagdo deve ser vista sob um aspecto dindmico e nao estitico, salientando ex verdadeira relagao juridica obrigacional, que tem por contetido uma série de direitos e deveres de ambas as partes. Para essa doutrina, portanto, a obrigagtio pode ser vista como um processo, no qual também o eredor assume o dever de cooperar com o adimplemento, embora, pro certo, nao possa ser obrigado & realizago da prestagGo principal. Neste sentido as palavras de Clivis do Couto ¢ Silva, segundo 0 qual "a concepeio atual de relagdo juridica, em virtude da incidéncia do principio da boa-fé, 6 a de uma ordem de cooperacdio, em que aluem a posigdes tradicionais do devedor e do eredor". E remata 0 autor dizendo que ao credor " nao caberd, a toda evidéncia, a efetivagao da obrigagao principal, porque isso é pensdio precipua do devedor. Caber-lhe-Go, contudo, certos deveres, como os de indicagdo e de impedir que a sua conduta venha dificultar a prestagao do devedor. Esse ultimo dever, como ja se mencionou, é bilateral. Se houver descumprido um desses deveres, néo poderd exigir a pretenso para haver a obrigagao principal. Dir-se-ia que a sua pretensao precluiu." Nao se quer com isso negar que a relagiio juridica obrigacional esta destinada a satisfagdio do interesse do credor, mas enfatizar a necessidade de que este também deve cooperar naconsecugao deste fim, tal como recorda DIREITO CIVIL - CPO2 - 02 - CPII - I* PERIODO 2016 (03/05/2016 - Pagina 2 de 6 re ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ( eased Pietro Perlingieri quando afirma que "a obrigagdo nao se identifica no direito ou nos direitos do ‘redor, ela configura-se cada vez mais como uma relagdo de cooperagao. Isto implica uma mudanga radical de perspectiva de letura da disciplina das obrigagdes: esta Gltima ndo deve ser considerada 0 riatuto de credor; a cooperagao, e um determinado modo de ser, substitui a subordinagio e 0 ctedor se torna titular de obrigagdes genéricas ou especificas de cooperacio ao adimplemento do devedor." CALIXTO, Marcelo Junqueira. In: Obrigagdes - Estudo na Perspectiva Civil-Constitucional, TEPEDINO, Gustavo (Org). Rio de Janeiro: Renovar. 2005. p.6 2" QUESTAO: Jodo apostou o veiculo HONDA CIVIC 2013, estimado em RS 60.000 (sessenta mil reais). com Marcio, O veiculo seria entregue se o partido politico de Jodo fosse o vencedor do pleito estadual. 0 que veio a ocorrer. ‘Apds seis meses da entrega do veiculo, restou comprovadaa fraude e dolo do pleito eleitoral. ‘Contudo, apesar do fato narrado, o carro nao foi devolvido por Marcio. Tnconformado, Jodo propée demanda na qual pleiteia, com fulero no artigo 814 do Cédigo Civil. a devolugdo do veiculo, salientando, ainda, nfo se tratar de quantia paga, mas de tradigdo de vefculo, Mitcio, por sua vez, apresenta defesa na qual alega a impossibilidade juridica do pedido, Decida, fundamentadamente, a questao. DIREITO CIVIL - CPO2 - 02 - CPII- 1° PERIODO 2016 (03/05/2016 - Pagina 3 de 6

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