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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
NÚCLEO DE ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS
E DO MEIO AMBIENTE

UFBA

Água Subterrânea - Aquíferos


Curso de Especialização “Tecnologias Geoambientais
Aplicadas à Exploração dos Recursos Físicos da Terra
e ao Desenvolvimento Sustentável”

Prof. Ari Medeiros Guerra


Prof. José de Castro Melo
Curso de Especialização “Tecnologias Geoambientais
Aplicadas à Exploração dos Recursos Físicos da Terra
e ao Desenvolvimento Sustentável”

Salvador – Bahia
“A água cai, canta, corre,
rega, escorrega,
nada, navega,
refresca, frutifica,
vive, floresce,
fecunda, banha, inunda,
alegra, alimenta,
água, sua,
vai, vem, vagueia,
dá-se, desce,
endurece,
dissolve, se esconde,
desaparece.

Um dia vira rio,


Depois vira mar.

Torna-se planta e flor,


pinta-se vermelha no coração,
se entristece em lágrima,
reluz ao sol,
até que um dia
deita cansada.
Evapora,
sobe, sobe, sobe ...
e vai para o céu
brincar de nuvem”.

Antônio Carlos Queiroz Mascarenhas


Ementa
Conceitos básicos de hidrogeologia: As águas subterrâneas no Ciclo Hidrológico – origem e
ocorrência. Os aqüíferos. Níveis e superfícies hidrostáticas, zonas de recarga, influências
geológicas. Movimento das águas subterrâneas, Lei de Darcy, gradiente hidráulico, velocidades
de fluxo. Os coeficientes hidrogeológicos, K,T, S. Aqüíferos Sedimentares, fissurais e cársticos.
Poços tubulares. Poluição dos Aqüíferos: qualidade natural das águas subterrâneas. Poluição e
contaminação. As fontes de contaminação. As substâncias poluentes: índices e indicadores.
Normas nacionais e internacionais. Propagação e atenuação de contaminantes. Vulnerabilidade
nos aqüíferos. Perímetros de proteção. Noções de remediação.

Objetivos
 Propiciar ao aluno pós-graduando conhecimentos gerais na área dos Recursos Hídricos
Subterrâneos voltados ao entendimento dos mecanismos de poluição dos mananciais por
atividades antrópicas.
 Desenvolver a habilidade de observação, manuseio e interpretação de dados específicos da
área, técnicas atuais e trabalhos em equipe.

Metodologia
 Exposições com recursos audiovisuais, trabalhos em equipe e debates.

Conteúdo Programático

Conceitos Básicos de Hidrogeologia.


Distribuição das Águas no Globo Terrestre.
As águas subterrâneas no ciclo hidrológico, origem e ocorrência. Zona saturada e não
saturada. Conceito de porosidade. Aqüíferos livres e confinados: Níveis hidrostáticos, zonas
de recarga, exutórios, influências geológicas Permeabilidade – Movimento das águas
subterrâneas, Lei de Darcy, gradiente hidráulico, perdas de carga, velocidades de fluxo.
Superfície hidrostática, relação com as águas superficiais.
Os coeficientes hidrogeológicos K,T e S.
Aqüíferos sedimentares, fissurais e Cársticos.
Os poços tubulares: níveis hidrostáticos, rebaixamentos, cones de depressão, interferências.

Poluição dos Aqüíferos.


Qualidade natural das águas subterrâneas. Conceito de poluição e contaminação. Origem e
mecanismos naturais de concentração de sais nas águas subterrâneas.

i
ÍNDICE

1. NOÇÕES BÁSICAS DE HIDROGEOLOGIA .......................................................... 1

1.1. Água Subterrânea – Origem e Ocorrência – O Ciclo Hidrológico ...................... 1


1.2. Zona Saturada e Não Saturada ............................................................................ 3
1.3. Porosidade das Rochas ........................................................................................ 4
1.4. Os Aqüíferos ......................................................................................................... 7
1.5. Movimento das Águas Subterrâneas ................................................................... 10
1.6. Parâmetros Hidrogeológicos – K, T. S. ................................................................ 16
1.7. Poços Tubulares ................................................................................................... 19
1.8. Reservas, Potencialidades e Disponibilidades ................................................... 23
1.8.1. Conceituação .......................................................................................................... 24
1.8.2. Metodologia de Avaliação ....................................................................................... 25
1.8.3. Reservas, Potencialidades e Disponibilidades no Estado da Bahia – Avaliação
Preliminar ................................................................................................................ 27

2. POLUIÇÃO ANTRÓPICA DOS AQÜÍFEROS ......................................................... 29


2.1. Qualidade Natural das Águas Subterrâneas ....................................................... 29
3. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 55

ii
1. NOÇÕES BÁSICAS DE HIDROGEOLOGIA

1.1. Água Subterrânea – Origem e Ocorrência – O Ciclo Hidrológico

A Hidrogeologia é a ciência que estuda as águas que se encontram no interior do subsolo


ocupando os espaços vazios existentes nas rochas. Da mesma forma, entende-se como
Hidrologia, a ciência que estuda as águas na superfície terrestre. Admite-se também a Hidrologia
como a ciência que estuda as águas, no sentido mais amplo, águas superficiais e subterrâneas.
Neste caso, poderíamos utilizar os termos Hidrologia de Superfície e Hidrologia Subterrânea,
adotado por muitos autores, para estudar respectivamente as águas superficiais e subterrâneas.

Quase toda água subterrânea existente na Terra tem sua origem no Ciclo Hidrológico, ou seja,
das águas precipitadas sobre a superfície dos continentes, parte delas se infiltram, indo compor as
chamadas reservas subterrâneas, que por sua vez, circulam continuamente retomando a
superfície, e desta, novamente à atmosfera (Figura 1). Este ciclo se passa em 3 domínios
distintos: Atmosfera, Superfície Terrestre e Subsuperfície, segundo a equação básica:

Pt = (E+T) + R + I,

em que:
 Pt – precipitação total.
 E – evaporação.
 T – transpiração.
 (E+T) – evapotranspiração.
 R – escoamento superficial.
 I – infiltração.

M E T E R E O L O G IA

NUVEM

P
T
P

E
E
E
R R
HIDROLOGIA
I
I
OCEANO

Figura 1

1
Uma pequena fração das águas admite-se como originadas continuamente a partir de reações
químicas, de origem magmática ou mesmo cósmica, são as chamadas águas novas ou juvenis,
de volume desprezível no contexto do ciclo Hidrológico. Outra pequena fração das águas pode
temporariamente se posicionar fora do Ciclo Hidrológico, aprisionadas em reservatórios
subterrâneos fechados. São as chamadas águas conatas ou fósseis.

Distribuição das águas no Globo Terrestre - Estima-se que o volume total das águas existentes no
Globo Terrestre situa-se em tomo de 1,5 x 109 km3, deste, apenas 3%, aproximadamente, 1,5 x
107 km3, representariam as águas doces (Figura 2). A evaporação total anual é estimada em
400.000 km3, que por sua vez é igual às precipitações no mesmo período, o que daria
proporcionalmente, 100.000 km3/ano, sobre a superfície dos continentes.

Figura 2

2
1.2. Zona Saturada e Não Saturada

A água ao se infiltrar no solo passa verticalmente por duas zonas distintas, Zona de Aeração e
Zona Saturada, conforme mostra a Figura 3.

Fig. 03

Superfície do solo Água do solo

Zona de água do solo


Poço
Nível de ascenção
ZONA Zona intermediária capilar
Água pelicula e
DE água
gravitacional
AERAÇÃO vadosa ou rasa

Água capilar Rio


ZONA Zona de água Água subterrânea Superfície
DE Franja capilar freática
subterrânea
SATURAÇÃO
Impermeável

- Representação esquemática da distribuição vertical da água no solo e subsolo, mostrando as diversas


zonas de umidade (modificado de Bear & Verruijt 1987)

Fonte Feitosa, et alii (1997)

Figura 3

Zona de Aeração - nesta zona os espaços porosos estão parcialmente ocupados por água. Esta
zona varia grandemente em espessura e profundidade e é normalmente subdividida em 3 faixas
distintas:

a) Faixa do solo;
b) Faixa intermediária;
c) Franja capilar.

Estas faixas variam em espessura e seus limites não são muito bem definidos, havendo também
uma transição gradual de uma faixa para outra. A umidade retida na Zona de Aeração é mantida
basicamente por forças de atração elétrica e por forças de capilaridade. As águas mantidas por
forças de atração elétrica são denominadas de águas de Retenção e são de 2 tipos: água
Higroscópica e água Pelicular.

 Água Higroscópica – são águas fixadas nos grãos por fenômenos de adsorsão e só podem
ser liberadas sob a forma de vapor. Não podem ser utilizadas pelas plantas;

 Água Pelicular - são águas que envolvem os grãos sólidos e as águas higroscópicas. São
mantidas por tensão superficial. Podem ser removidas por centrifugação.

 A água Capilar – é aquela mantida por forças de capilaridade e ocorrem predominantemente


na zona imediatamente acima do topo da zona saturada, a franja capilar.

3
Do ponto de vista hidrogeológico, esses tipos de água não apresentam maior interesse, pois não
se movem por ação gravitacional, não podem ser extraídas por bombeamento.

Na faixa dos solos a umidade mantida é de particular interesse para a agricultura, pois, fornece a
água reclamada para o desenvolvimento das plantas. Sua profundidade varia com o tipo de solo.

 Zona de Saturação – situa-se imediatamente abaixo da Zona de Aeração e se caracteriza


pela total saturação dos espaços vazios. A água gravitacional ou livre circula livremente por
ação da gravidade, passando pela Zona de Aeração indo compor a Zona de Saturação. Nesta,
a água circula exclusivamente por ação da gravidade, transmite a pressão hidrostática e pode
ser extraída por bombeamento.

1.3. Porosidade das Rochas

A porosidade representa a relação percentual de vazios existente em determinado volume de um


meio poroso qualquer.

Vv
P x 100
Vt

 P – porosidade
 Vv – volume de vazios
 Vt – volume total da amostra.

Com referência às rochas pode-se estabelecer 3 classes de porosidade distintas (Figura 4).

a) Porosidade intersticial – porosidade intergranular ou entre partículas granulares, própria das


rochas sedimentares. Ex. : arenitos, siltitos, etc.;
b) Porosidade fissural – produzida por fraturas, juntas ou fendas, própria das rochas duras. Ex.:
granitos, quartzitos, etc.;
c) Porosidade cárstica – porosidade por cavidades, cavernas e canais de dissolução, típica das
rochas solúveis - produzida pela ação da água sobre a rocha. Ex.: calcários, dolomitos, etc.

Figura 4

A porosidade intergranular ou intersticial é típica das rochas sedimentares. Neste caso, o volume
de vazios depende da granulometria da rocha: tamanho dos grãos, grau de seleção, arranjo,
presença de finos e cimento, compactação, etc.

No caso da porosidade por fraturas ou fissural, o volume de vazios depende da densidade e


abertura das fraturas existente na rocha. O mesmo acontece com a porosidade das rochas
solúveis que depende do grau de carstificação do corpo rochoso.

4
Em determinadas situações uma formação qualquer pode apresentar mais de uma classe de
porosidade. Ex.: um arenito muito compactado alem da porosidade intergranular característica,
pode se apresentar com uma porosidade secundária por fraturas.

A porosidade quanto sua origem pode ser primária ou secundária. Ela é primária, quando tem sua
origem concomitante com a formação da rocha. Ex., as rochas sedimentares: arenitos, siltitos, etc.
Ela é secundária, quando sua origem ocorre após a formação do corpo rochoso.

Ex.: granitos, quartzitos – meios fissurais.


Calcários, dolomitos – cárstes.

Independente das classes, a porosidade pode ainda ser considerada de dois tipos: Total e Efetiva.

 Porosidade Total – é definida em termos percentuais como a relação entre o volume de vazios
existente na rocha e o volume total desta.

Vv
P x 100 (I)
Vt

 Vv – volume de vazios contidos na rocha;


 Vt – volume total da rocha ou amostra.

 Porosidade Efetiva – o conceito de porosidade efetiva ou eficaz está relacionado ao volume de


vazios interconectados existentes na rocha. Em Hidrogeologia considera-se como espaço
vazio interconectado aquele capaz de ser ocupado por água gravitacional, assim:

Vvi
Pe  x 100 (II)
Vt

 Pe – porosidade efetiva.
 Vvi – volume de vazios capaz de ser ocupado por água gravitacional.
 Vt – volume total da rocha ou amostra.

Estes conceitos nos levam a associar dois outros conceitos essencialmente importantes nos
estudos e avaliação das águas subterrâneas: Vazão específica e Retenção específica.

 Vazão Específica - volume de água gravitacional, em percentuais, existente em um certo


volume de rocha.

Vag
Sy  x 100 (III) b
Vt

 Sy – vazão específica.
 Vag – volume de água gravitacional.
 Vt – volume total da rocha ou amostra.

 Retenção Específica – volume de água retido na rocha, ou amostra, após a liberação da água
gravitacional.

Vr
Rs  x 100 (IV)
Vt

 Rs – retenção específica.
5
 Vr – volume de água retido.
 Vt – volume total da rocha ou amostra.

Dos conceitos expostos, (I, II, III e IV), tem-se:

P = Sy + Rs

Pe = Sy.

A permeabilidade diz respeito a maior ou menor facilidade que tem um fluido de circular através
de um meio poroso. Os fatores físicos intervenientes na permeabilidade são os mesmos da
porosidade, já citados. Entretanto, existe uma relação inversa entre o valor da porosidade e o
valor da permeabilidade das rochas, ou seja, quanto menor a granulometria da rocha maior será
sua porosidade e menor a permeabilidade.

No Gráfico da Figura 5 é mostrada a relação entre a porosidade total, a porosidade efetiva ou


vazão específica e a retenção específica em relação a granulometria da rocha. Deste, observa-se
que:

 quanto mais fina a granulometria, maior será a porosidade, maior a retenção específica e
consequentemente menor será a permeabilidade;
 quanto mais grosseira for a granulometria, menor será a porosidade total, menor a retenção
específica e consequentemente maior será a permeabilidade.

50 %

40 % Porosidade

30 % Porosidade
Eficaz

20 %

Retenção específica
10 %

0 %

Adaptado de Castany (1971)


Adaptado de Castany (1971).
Figura
Figura 5 5

6
Deve-se ressaltar, entretanto, que esta relação não decorre especificamente do tamanho dos
grãos e sim do conjunto de fatores físicos condicionantes, que em conjunto influenciam a
porosidade total, e que, variam com a granulometria. Desta forma, matematicamente pode-se
demonstrar que volumes iguais de grãos, cada volume com granulometria diferente, apresenta a
mesma relação de vazios (porosidade total), desde que apresentam grau de seleção máximo e o
mesmo tipo de arranjo.

Ex.: 1 m3 de areia com grãos de 2 mm de diâmetro e 1 m3 de seixos de 2 cm de diâmetro,


possuem a mesma relação de vazios (porosidade total), desde que dispostos em um mesmo
tipo de arranjo.

As argilas, por serem as rochas de menor granulometria, (> 0,05 ), são as rochas de maior
porosidade, podendo atingir até 55%, entretanto sua permeabilidade (> 10-7 cm/s), é considerada
na prática, como impermeável.

1.4. Os Aqüíferos

Os aqüíferos são reservatórios subterrâneos naturais cujo meio poroso tem a capacidade de
armazenar e transmitir água. Neste caso, denomina-se de Aquiclude a rocha ou meio poroso, com
capacidade apenas de armazenar, sem transmitir água. Ex. : as argilas.

Quanto à classe de porosidade, os aqüíferos podem ser do tipo: Intergranulares, Fissurais ou


Cársticos. Figura 6 (A, B e C).

Sandstone
Land surface
Water table

Springs
Springs

A
Shale B

Springs

Figura 6

7
Os aqüíferos não são reservatórios estanques, suas águas circulam continuamente e recebem
recarga através das precipitações pluviométricas sobre suas áreas de recarga, conforme ilustrado
na Figura 7. Além das águas provenientes diretamente das precipitações pluviométricas, um
aqüífero pode também receber recarga através das transferências entre aqüíferos ou mesmo
através de recarga artificial.

Figura 7. Representação esquemática do ciclo hidrológico. E = evaporação; ET = evapotranspiração; I =


infiltração; R = escoamento superficial (deflúvio) (modificado de Bear & Verruijt, 1987).
Fonte: Feitosa (1997).

De acordo com as pressões hidrostáticas a que estão submetidos, os aqüíferos podem ser
classificados em dois grandes grupos:

a) Aqüíferos livres ou não confinados – Neste caso a superfície hidrostática no interior do


aqüífero coincide com o topo da camada saturada. Estes aqüíferos são também denominados
de aqüíferos freáticos. Nesta situação, todos os pontos da superfície hidrostática estão
unicamente sob pressão atmosférica. A maioria dos aqüíferos Fissurais e os Cársticos, se
enquadram como livres;

b) Aqüíferos Confinados - Neste caso, a superfície hidrostática virtual, situa-se sempre acima do
topo da camada saturada. A pressão hidrostática do topo da camada saturada será sempre
maior do que a pressão atmosférica, decorrente do confinamento a que está submetido o
aqüífero por uma camada impermeável ou mesmo semi-permeável. Em suas áreas de
recarga esses aqüíferos se comportam sempre como livres (Figura 8).

O grau de confinamento em um aqüífero confinado pode variar em função da maior ou menor


impermeabilização das camadas confinantes, topo e base. Se pelo menos uma dessas camadas
for semi-permeável, o aqüífero recebe a denominação de aqüífero drenante.

8
Figura 8. Representação esquemática dos diferentes tipos de aqüíferos, de acordo com o sistema de
pressão de suas águas e com a natureza das camadas que os delimitam no topo e na base
(modificado de Bear & Verruijt, 1987).
Fonte: Feitosa (1997).

9
Os aqüíferos confinados são também denominados de aqüíferos Artesianos, em referência a
"Artois", região da França onde foram perfurados os primeiros poços surgentes.

Os níveis hidrostáticos em um aqüífero artesiano, conforme mostrado na Figura 8, pode se


posicionar acima ou abaixo da superfície do terreno. As áreas em que os níveis hidrostáticos se
situam acima da superfície do terreno são chamadas de áreas de artezianismo surgente. Os
poços tubulares aí perfurados jorram naturalmente.

Uma mesma formação geológica pode apresentar mais de uma camada aqüífera, com diferentes
níveis de confinamento. Neste caso, podemos denominar o conjunto de sistema aqüífero.

Do ponto de vista litológico, os aqüíferos podem ser classificados como Sedimentares, Fissurais e
Cársticos.

Os Sedimentares são associados às rochas sedimentares, de porosidade intergranular. São os


mais importantes em função da maior porosidade das rochas sedimentares, consequentemente
de maior capacidade de armazenamento de água. Ex: arenitos, siltitos, conglomerados, etc. As
areias inconsolidadas possuem porosidade variando entre 30 e 40%. Os arenitos, entre 10 e 20%.
Os siltitos, entre 40 e 50%.

Os Fissurais são associados às rochas duras, de porosidade formada por fraturas (meio fissural).
São de baixa capacidade de armazenamento pelo baixo índice de porosidade e limitada
profundidade. As fendas abertas tendem a se fecharem rapidamente tornando-se regeladas com a
profundidade. Rochas típicas de Embasamento cristalino como granitos, gnaisses e migmatitos,
em geral possuem porosidade média em tomo de 1 a 3%. Metassedimentos como quartzitos e
metarcósios podem chegar localmente até 10%.

Os Cársticos são associados às rochas solúveis como os calcários e dolomitos. Têm porosidade
formada por espaços vazios produzidos pela dissolução do corpo rochoso pela ação da água. São
canais de dissolução, cavernas e fendas associadas. A porosidade neste tipo de rocha pode
atingir a casa dos 15%. Desta forma, a capacidade de armazenamento nesse tipo litológico é
superior ao do meio estritamente fissural. Temos também neste caso, limitações de profundidade.
Os processos de carstificação ou dissolução da rocha decrescem gradativamente com a
profundidade.

1.5. Movimento das Águas Subterrâneas

As águas subterrâneas se movimentam continuamente desde as suas áreas de recarga até os


exutórios naturais. Para tanto, o corpo rochoso ou formação deverá ser dotado da propriedade
denominada permeabilidade.

O movimento das águas através dos meios porosos foi inicialmente estudado por Henry Darcy
(1856), com a criação da chamada lei de Darcy, demonstrada utilizando um cilindro contendo
areia selecionada, conforme esquema abaixo, ficando demonstrado que a vazão de escoamento é
diretamente proporcional à seção A do meio poroso e inversamente proporcional a distancia ou
comprimento L do meio.

10
Q = K A H/L

Q/A = K H/L

V = K H/L

V = Ki

Q – descarga em m3/s
A – seção transversal em m2
H – altura de carga em m
L – comprimento da coluna de areia
K – coeficiente de proporcionalidade, no caso
= 0,0003 m/s
H/L – gradiente hidráulico.

O meio poroso criado por Darcy tinha uma porosidade P = 38% e K = 0,0003 m/s.

K = f (características granulométricas do meio poroso).

Q – descarga em m3/a

K é um coeficiente de proporcionalidade que representa a condutividade hidráulica, depende das


propriedades granulométricas do meio poroso como também das propriedades do fluido,
especialmente o peso específico () e da viscosidade (). É uma função do tipo: K = C d2 /.

A lei de Darcy, conforme vimos, foi demonstrada em condições especiais, a sua aplicabilidade nos
meios naturais, entretanto preconiza condições ideais, como:

a) Meio poroso homogêneo e isotrópico;


b) Fluxo em regime laminar;
c) Substrato horizontal e impermeável.

Em Hidrogeologia o coeficiente de permeabilidade verdadeiro ou intrínseco, (ki), que depende


exclusivamente das características do meio poroso, é pouco utilizado, é usado para avaliar a
permeabilidade o coeficiente K de Darcy (condutividade hidráulica).

Ki = Cd2 ou K = ki /

K tem a dimensão física de uma velocidade, L2t-1, enquanto o ki de uma área, L2.

 Velocidades de Fluxo Subterrâneo.

A lei de Darcy considera como área A, uma seção do meio poroso transversal ao sentido do fluxo.
Na realidade a água circula unicamente através dos espaços vazios representados pela
porosidade do meio, ou seja, Am.

11
Segundo Darcy,

V = Ki ou V=Q/A.

V representa uma velocidade aparente.

A velocidade real seria:

Vr = Q/Am ou Vr = Ki/m
Vr = V/m

m – porosidade total
Vr – velocidade real

Como em verdade a água circula somente através da porosidade efetiva (água gravitacional),
teremos:

Ve = Q/Ame = Ki/me
Ve = V/me

me – porosidade efetiva
Ve – velocidade real efetiva

As velocidades do fluxo subterrâneo são naturalmente bastante baixas, regime laminar, gradientes
hidráulicos também baixos. Exceto em determinadas situações em aqüíferos cársticos ou mesmo
fissurais e nas proximidades de obras de captação como poços tubulares em operação.

O gradiente hidráulico é definido como a perda de carga por unidade de comprimento, representa
pendente da superfície hidrostática, conforme ilustrado abaixo:

A
Sup .
Hid
ros
tát
ica
H
H1

C B

H2

L
~ sen
i = H 1 - H 2 / L = tg = (ângulo muito pequeno)

12
 A Superfície Hidrostática

A superfície hidrostática ou superfície piezométrica é a superfície de equilíbrio das águas


subterrâneas. Nos aqüíferos livres é também denominada de superfície freática. Em um mesmo
ponto ou em corte, denomina-se de nível hidrostático ou nível piezométrico. No interior das obras
de captação é denominado de nível estático.

Se o aqüífero é livre a superfície hidrostática sempre coincide com o topo da zona saturada. Nos
aqüíferos confinados esta superfície se posiciona de maneira virtual sempre acima do topo da
zona saturada, até mesmo acima da superfície do terreno. A forma desta superfície assume
contornos irregulares de acordo com o movimento das águas subterrâneas, que também são
influenciados por vários outros fatores, como:

 Condições geomorfológicas e estruturais da região;


 Características físicas do aqüífero: litologia, permeabilidade, porosidade, espessura, etc.;
 Condições de recarga e circulação.

A superfície hidrostática não permanece estável, sofre flutuações ao longo do tempo.


Normalmente este fato está relacionado principalmente com variações nas taxas de recarga.
Pequenas oscilações podem ocorrer durante o dia por oscilações barométricas, efeito de marés,
tempestades, cargas superficiais, etc.

Denomina-se isopiezas as isolinhas representativas dos níveis hidrostáticos. São linhas de igual
altura piezométrica. As linhas de fluxo indicam a direção do fluxo subterrâneo, são sempre
perpendiculares às equipotenciais ou isopiezas (Figura 9).

Com referência a relação de troca entre os corpos de águas superficiais e subterrâneos temos
fundamentalmente 3 situações básicas: O aqüífero alimenta o manancial superficial.; O aqüífero
recebe .recarga do manancial superficial; Não ha relação de troca. Com base nestes casos várias
situações intermediárias poderão ocorrer .O terceiro caso, a não relação de troca, ocorre
unicamente em situações especiais em que o manancial superficial se situa sobre rochas
impermeáveis. Algumas situações de troca são mostradas nas ilustrações que se seguem (Figura
10a, b, c, d).

13
Nível hidrostático

Transpiração
Fonte
Rio alimentado
por água
subterrânea

20 15 10


20
10

i = 20 - 10 = tg
L

Figura 9

14
Nível
Rio

Figura 10 a. Em um aqüífeo livre, as águas


subterrâneas alimentando diretamente
o manancial superficial.

Nível
Rio

Figura 10 b. O aqüífero recebendo recarga direta do


manancial superficial.

IMPERMEÁVEL

IMPERMEÁVEL

Figura 10 c. O manancial recebendo recarga de um


aqüífero confinado

Figura 10 d. Sistema misto

15
1.6. Parâmetros Hidrogeológicos – K, T, S.

Conforme abordado no capítulo anterior, em Hidrogeologia é utilizado o coeficiente K de Darcy


para avaliar a permeabilidade dos aqüíferos, impropriamente chamado de coeficiente de
permeabilidade. Em verdade trata-se da Condutividade Hidráulica, que tem a dimensão de uma
velocidade, (LT-1).

Da fórmula de Darcy, K = Q/iA, na unidade de tempo poderíamos definir o K como sendo o


volume de água livre (gravitacional), que percola na unidade de tempo, através de uma área
unitária da formação, sob um gradiente unitário, à temperatura de 20oC.

Este coeficiente tanto depende das propriedades do meio poroso como das características físicas
do fluído, especialmente da viscosidade () e do peso específico ().

Com referência ao meio poroso:

K = f(, s, m, t).

 – granulometria;
s – superfície dos grãos;
m – porosidade;
t - temperatura

Em Hidrogeologia leva-se em conta que a água, especialmente a água doce,  e  são próximos
de 1, nas condições normais variam muito pouco, assim sendo:

K  ki

As unidades mais usuais para K, é o cm/s (CGS) e o m/s (MKS). Neste caso, os valores da
condutividade das rochas sedimentares variam de 102 a 10-9 cm/s, conforme tabela abaixo:

 Valores de K em cm/s

102 101 100 10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 10-6 10-7 10-8 10-9
Pedregulhos e Areias puras Areia muito fina
Cascalhos Areias + cascalhos Siltes Argilas
sem fino sem finos Areias argilosas
Muito boa Boa Pobre Impermeável

 Transmissividade -T .

Por definição, Theis (1935), a transmissividade do aqüífero, seria a quantidade de água que escoa
através de uma faixa vertical de largura unitária e altura igual a espessura da camada saturada,
sob um gradiente unitário.

De Darcy: Q = KiA, em que A – área unitária.

No caso da transmissividade, por definição, A será a área da faixa vertical de largura


unitária e altura igual a espessura da camada aqüífera, conforme Figura 11.

16
Superfície do terreno

Nh

Topo da camada saturada

Figura 11. Representação da transmissividade.

Q = K i L b,

Onde: L – largura unitária e b – espessura saturada

Ao produto Kb, convencionou-se chamar de transmissividade. Tem uma dimensão física L2T-1, e é
expressa em cm2/s ou em m2/s.

Em função da transmissividade, a fórmula de Darcy ficaria: Q = TiL.

 Coeficiente de Armazenamento – S.

A capacidade de um aqüífero em armazenar e transmitir água está relacionada às propriedades


da água, (peso específico, viscosidade e compressibilidade), e de características do meio poroso,
(porosidade, permeabilidade e compressibilidade).

O coeficiente de armazenamento S é por definição, o volume de água que pode ser drenado ou
introduzido em um prisma vertical, de seção unitária e altura igual à espessura da camada
saturada, quando se faz variar a carga hidráulica de uma unidade (Figura 12).

17
Unit cross - sectional area
Unit decline of
potentiometric Potentiometric
surface surface
Unit cross - sectional area

Unit decline of
water table Water table

Confinig Stratum

Aquifer Aquifer

Impermeable Impermeable
(a) (b)

Figura 12. Representação esquemática do armazenamento em (a) confinado e (b)


aqüíferos livres (Segundo de Ferris et al., 1962).
Fonte: Freez e Cherry (197).

Da mesma forma, o armazenamento específico Ss de um aqüífero, é definido como sendo o


volume de água liberado por um volume unitário do aqüífero, ao se baixar a carga hidráulica de
uma unidade.

Desta forma, S = Ss x b, sendo b = espessura saturada.

Trata-se de um número sem dimensão, pois resulta da relação entre dois volumes, (água e
rocha). Nos aqüíferos sedimentares assume os seguintes valores:

 Aqüíferos livres: 0,05 a 0,3 ou 5 a 30%;


 Aqüíferos confinados: 10-3 a 10-6.

Convém notar, que o mecanismo de liberação de água nos aqüíferos confinados é bem
diferenciado dos aqüíferos livres. Nos aqüíferos livres a água ao ser liberada, passa a deixar
vazios no meio poroso. Já nos aqüíferos confinados, por estarem sob pressão maior do que a
atmosférica, ao se liberar uma certa quantidade de água se produz apenas um alívio de pressão,
permanecendo o meio poroso com os poros totalmente saturados. A água neste caso é liberada
em decorrência da expansão da mesma produzida pelo alívio de pressão e pela compressão
litostática sobre o arcabouço do meio poroso produzindo redução nos vazios.

18
1.7. Poços Tubulares

Inúmeras são as obras e estruturas destinadas à captação das águas subterrâneas: galerias,
drenos radiais, trincheiras, poços escavados, ponteiras, poços tubulares, etc. De todas a mais
importante e mais difundida é sem dúvida o poço tubular profundo. Trataremos neste capítulo, a
nível informativo, as características técnicas de um poço tubular, as tecnologias atualmente
disponíveis para sua execução e o comportamento hidráulico dos aqüíferos nas vizinhanças de
um ou mais poços em operação.

Um poço tubular é uma obra de engenharia que requer tecnologia, pessoal e equipamentos
especializados. Um poço tubular, a depender de suas características construtivas e profundidades
alcançadas, pode envolver somas consideráveis de recursos financeiros.

Dentre os métodos de perfuração, os mais utilizados atualmente, destacamos:

 Método à Percussão;
 Método Rotativo;
 Método Pneumático.

A escolha do método depende basicamente das características geológicas da área e do projeto do


poço a ser executado.

As rochas, sob o ponto de vista da captação de águas subterrâneas, podem ser divididas em 2
grandes grupos:

 Rochas cristalinas, duras – que apresentam porosidade por fraturas ou dissolução. Ex.:
granitos, gnaisses, quartzitos, calcários, etc.
 Rochas sedimentares – que apresentam porosidade intergranular. Ex.: arenitos, siltitos
folhelhos, etc.

A técnica de construção de poços tubulares passa necessariamente por duas fases distintas:

 Perfuração – escolha do equipamento correto e execução da sondagem propriamente.


 Completação – é a fase de acabamento, dimensionamento e aplicação do material filtrante e
de revestimento e o desenvolvimento.

A execução de poços em rochas cristalinas ou duras é mais simples. As áreas de rochas


cristalinas, fissurais ou cársticas, via de regra, apresentam vazões limitadas e profundidades da
zona saturada reduzida. Os poços, neste caso, são perfurados em diâmetros reduzidos. Por se
tratar de rochas duras, fraturadas, não necessitam de revestimento ou material filtrante. Apenas
revestimento superficial de proteção. Em rochas sedimentares, a execução dos poços já exige
tecnologia mais sofisticada. As rochas sedimentares são friáveis e exige revestimento total do furo
com colocação de material filtrante adequado. As formações sedimentares podem produzir
grandes vazões o que exigirá maiores diâmetros de revestimento e muitas vezes maiores
profundidades.

 Projeto do Poço

A elaboração de um bom projeto de poço envolve o conhecimento prévio de uma série de fatores
relacionados com as características hidrogeológicas do aqüífero e a própria demanda do projeto a
ser abastecido. O perfil apresentado na Figura 13 se refere a um poço tubular perfurado em rocha
sedimentar. Neste, podemos visualizar os principais elementos construtivos: diâmetros de
perfuração, câmara de bombeamento, filtros, pré-filtro, proteção sanitária, etc.

19
Figura 13. Perfil de um poço tubular em rocha sedimentar.

20
 Hidráulica de Poços.

Ao se concluir um poço, o nível das águas subterrâneas no seu interior, (nível estático), se
estabiliza no mesmo nível das águas no aqüífero. Ao se dar início ao bombeamento, o nível
estático, (NE), decai gradativamente tendendo a uma estabilização em um nível inferior chamado
de nível dinâmico, (ND). Na circunvizinhança do poço bombeado, cria-se uma zona de
descompressão em forma de um cone invertido, chamada de cone de depressão. O formato do
cone de depressão varia de poço para poço, dependendo de vários fatores, como: características
do aqüífero, (livre ou confinado, permeabilidade, espessura, Transmissividade), vazão explorada,
tempo de bombeamento, etc.

Nas Figuras 14a e b, são mostrados esquematicamente os perfis dos cones de depressão de
poços bombeando aqüífero livre e confinado, respectivamente. Nestes, podemos observar os
seguintes elementos:

a) Nível estático (NE) e nível dinâmico (ND) – Denomina-se nível estático, o nível de equilíbrio da
água no interior do poço, com o aqüífero em repouso, ou seja, antes do bombeamento. O nível
dinâmico seria o nível da água no interior do poço, em um tempo qualquer, durante um
bombeamento.

Nos aqüíferos livres, tanto os níveis estáticos como os níveis dinâmicos se posicionam abaixo
da superfície do terreno. Nos aqüíferos confinados surgentes, o nível estático se posiciona
sempre acima da superfície do terreno.

b) Rebaixamento (s)- É a distância que vai do NE ao ND.

c) Cone de depressão - Zona de descompressão em forma de cone invertido, que se forma ao


redor de um poço em bombeamento. Nos aqüíferos livres, a superfície que limita o cone de
depressão se situa sempre abaixo da superfície do terreno e corresponde ao topo da zona de
saturação, rebaixada ao redor do poço por efeito do bombeamento. Nos aqüíferos confinados
a superfície do cone de depressão situa-se sempre acima do topo da zona saturada, (topo da
camada aqüífera), e em muitos casos acima mesmo da superfície do terreno.

d) Raio de influência (R) - Distância horizontal que vai do centro do poço ao limite de
interferência do cone de depressão.

Quando os raios de influência de dois ou mais poços em bombeamento se encontram, haverá o


que se denomina de interferência, o cone de depressão de um interfere no outro produzindo
assim, rebaixamentos adicionais, caso se mantenha a mesma taxa de vazão nos poços. Na
Figura 15 é mostrada esta situação.

21
Superfície do tereno

R NE Nível freático

Cone de depressão
ND

Fluxo

Figura 14a. Aqüífero livre.

Raio de influência
Nível hidrostático

S Superfície do terreno

ND
Camada impermeável

Fluxo

Figura 14b. Aqüífero confinado.

22
Figura 15. Interferência entre dois poços bombeados ao mesmo tempo com
vazões Q1 = Q2. Fonte: Freeze & Cherry.

1.8. Reservas, Potencialidades e Disponibilidades.

A potencialidade hídrica de uma determinada região pode ser avaliada basicamente de duas
maneiras:

1. Com base nas descargas médias de longo período dos rios ou rede de drenagem;
2. Com base na pIuviometria – quantidade de chuva precipitada em um determinado período.

Uma maneira de se avaliar o efeito da distribuição do potencial hídrico entre regiões distintas é
através do conceito de Disponibilidade Social, ou seja: Potencial de água (superficial, subterrâneo
e de reuso), dividido pela população, dado em m3/hab. /ano.

Tem sido verificado que uma disponibilidade social entre 1.000 e 2.000 m3/hab. /ano tem se
mostrado suficiente para usufruto de um desenvolvimento sustentável (agricultura 70%, indústria
20% e doméstico 10%).

Em 90% do território nacional temos precipitações entre 1.000 e 3.000 mm/ano, que produz uma
descarga média nos nossos rios de 5.610 km3/ano, o que representa aproximadamente:

 14% do deflúvio mundial, (40.673 km3/ano);


 54% do deflúvio da América do Sul.

Deste potencial aproximadamente 80% se situa na Região Amazônica, onde se concentra apenas
5% de nossa população.

23
O problema da escassez de água resulta na maioria das vezes da má distribuição das reservas,
precipitações, agravado por eventos críticos como (secas, inundações e a má gestão), que podem
imprimir efeitos dramáticos sobre a economia, saúde e segurança de uma determinada região.

O Nordeste Brasileiro é certamente a região mais pobre em recursos hídricos do país, o estado de
Pernambuco tem a menor disponibilidade social, 1.320 m3/hab./ano.

O estado da Bahia com uma confortável disponibilidade social de 3.028 m3/hab. /ano, sofre com
os problemas resultantes da má distribuição espacial das precipitações, fenômenos das secas
periódicas e em especial os problemas de planejamento e gestão (incluem-se aí as reservas em
águas subterrâneas).

A avaliação precisa das reservas subterrâneas de uma determinada bacia ou de um aqüífero


qualquer, implica necessariamente em um nível de conhecimento adequado, ou seja, estudos
básicos de natureza hidrogeológica em nível de detalhamento compatível. Isto nem sempre
acontece em nosso meio, exatamente por falta de investimentos no setor. Há sempre falta de
dados e informações, e os existentes, são muitas vezes, precários ou pouco confiáveis.

1.8.1. Conceituação

a) Reservas

 Reserva Permanente – Rp (L3).

Denomina-se de reserva permanente, ao volume hídrico acumulado em um sistema aqüífero, em


função da porosidade efetiva e do coeficiente de armazenamento, não variável em decorrência da
flutuação sazonal da superfície hidrostática ou potenciométrica.

 Reserva Reguladora ou Renovável – Rr (L3T-1).

Denomina-se reserva reguladora, o volume hídrico acumulado no meio aqüífero, em função da


porosidade efetiva ou do coeficiente de armazenamento e variável anualmente em decorrência
dos aportes de água superficial e do escoamento subterrâneo.

b) Potencialidade – Po(L3T-1).

Entende-se como potencialidade de um determinado aqüífero, o volume hídrico que pode ser
utilizado anualmente, representado pelas reservas reguladoras, mais, eventualmente, uma parcela
das reservas permanentes, passíveis de serem explotadas, durante um determinado espaço de
tempo.

Convencionalmente é adotado como limite máximo de utilização da reserva permanente o


percentual de 30%, a ser distribuído em 50 anos, ou seja, 0,6% ao ano, durante 50 anos.

c) Disponibilidades – D(L3T-1).

Entende-se como disponibilidade a quantidade de água que pode ser extraída anualmente de um
aqüífero sem que se produza efeitos indesejáveis de qualquer ordem. Representa uma parcela da
Potencialidade, D < Po. Divide-se em virtual e efetiva.

24
Os efeitos indesejáveis podem ser de ordem econômica, de caráter hidrogeológico ou de conflito
de usos.

 Disponibilidade Virtual – Dv: Representa a disponibilidade máxima de um aqüífero, neste caso,


Dv = Po.
 Disponibilidade Efetiva – De: Representa o volume anual passível de ser explotado através
das obras de captação existentes no aqüífero, pode ser de dois tipos: Disponibilidade
instalada e disponibilidade atual, (Dei e Dea).
 Instalada – Dei: Volume anual passível de explotação através das obras de captação
existentes no aqüífero, com base na vazão máxima de explotação – ou vazão ótima – e em
regime diário de bombeamento de 24 horas, em todos os dias do ano. Dei < Dv = Po.
 Atual – Dea: Volume anual atualmente explotado nas obras de captação Instaladas em um
aqüífero. É na maioria dos casos inferior a disponibilidade instalada. Dea < Dei < Dv = Po.

1.8.2. Metodologia de Avaliação

a) Reserva permanente

 Aqüíferos intersticiais livres.

Rp = A x b x ,

em que:
Rp - reserva permanente;
A – área de ocorrência;
b – espessura saturada;
 – porosidade efetiva.

 Aqüíferos intersticiais confinados – conhecendo-se os parâmetros dimensionais e


hidrodinâmicos do aqüífero.

Rp = (A x h x S) + (A x b x )

em que:
h – carga potenciométrica do aqüífero confinado;
S – coeficiente de armazenamento.

 Aqüíferos fissurais - neste tipo de aqüífero por existir grande dificuldade de avaliação, em
virtude da grande variação na profundidade da zona saturação, da heterogeneidade na
distribuição das fraturas no corpo rochoso e muitas vezes o baixo nível de conhecimento,
Duarte (1998), propôs uma formulação empírica:

Rp = 10 (A x P x I),

em que
A – área de ocorrência do aqüífero;
P – precipitação média;
I – taxa de infiltração – estimada para o Nordeste entre 0,15 a 1%.

25
 Aqüíferos Cársticos

Rp = A x b x 

em que:
A – área de ocorrência do aqüífero;
b – espessura saturada.
 – porosidade efetiva média do aqüífero.

b) Reserva Reguladora

 Aqüífero intersticial – bacias sedimentares.


Dispondo-se do mapa potenciométrico e da condutividade hidráulica do aqüífero, calcula-se a
vazão de escoamento natural (VEN).

VEN = Rr = K x b x I x i.

em que:
K – condutividade hidráulica;
b – espessura saturada;
l – largura da frente de escoamento;
i – gradiente hidráulico.

 Com base na variação dos níveis hidrostáticos interanuais.

Rr = A x s x 

em que:
A – área de recarga;
s – variação de nível hidrostático anual;
 – porosidade efetiva.

 Conhecendo-se a taxa de infiltração.

Rr = A x P x I.

em que:
P - precipitação média;
I – taxa de infiltração.

 Aqüíferos fissurais e cársticos.

Rr = A x P x I.

em que:
A – área de ocorrência;
P – precipitação média;
I – taxa de infiltração média.

26
c) Potencialidade.

 Aqüífero intersticial – bacia sedimentar

Po = (Rp x 0,006) + Rr.

 Aqüíferos fissurais e cársticos.

Po = Rr x 1,15 – ou Po = (Rp x 0,002) + Rr.

d) Disponibilidade

 Aqüífero intersticial – bacia sedimentar

Dv < Po = (Rp x 0,006) + Rr.

Obs.: a disponibilidade será sempre uma parcela da Po, fixada após estudos específicos de
ordem econômica, hidrogeológica ou de conflito de uso.

 Aqüífero fissural.

Dv < Po = Rr .I, 15.

e) Disponibilidade Efetiva

 Instalada – Dei.

Dei = n x Qm x 8.760

em que:
n – número de poços e outras captações existentes.
Qm – vazão média ou vazão ótima.

Obs.: na falta de avaliação da vazão ótima ou vazão máxima das obras de captação, utiliza-se
as vazões constantes das fichas de ensaio executados na época em que foi perfurado o
poço ou executada a obra de captação.

 Atual – Dea.

Dea =  Qma

em que:
Qma – vazão média de exploração atual.

1.8.3. Reservas, Potencialidades e Disponibilidades no Estado da Bahia – Avaliação


Preliminar

A Tabela 1.1 apresenta avaliações preliminares das reservas, potencialidades e disponibilidades


no Estado da Bahia, por Domínios Aqüíferos. Para efeito de avaliação o Estado foi dividido em 3
grandes Domínios Hidrogeológicos: o sedimentar – envolvendo todas as bacias sedimentares e
ocorrências aluviares mais importantes; o fissural – envolvendo as rochas cristalinas do
Embasamento e as metassedimentares; o cárstico – ocorrências dos calcários Bambuí no estado
da Bahia.

27
Tabela 1.1. Reservas e disponibilidades de água subterrânea no estado da Bahia.

Domínios Rr Po = Dv De
Rp (m3)
Aqüíferos m3/ano m3/ano/km2 m3/ano m3/ano/km2 m3/ano % Po
Sedimentar
23,952 x 1011 21,088 x 109 143,066 x 103 26,906 x 109 182,537 x 103 368,724 x 106 1,37
( 1,474 x 105 km2)
Fissural
13,479 x 109 13,690 x 108 5,410 x 103 15,825 x 108 6,261 x 103 174,880 x 106 11,05
( 3,025 x 105 km2)
Cárstico
13,998 x 1010 23,960 x 108 31,610 x 103 27,550 x 108 36,360 x 103 25,280 x 107 9,17
( 0,757 x 105 km2)

Rp – Reserva permanente Rr – Reserva reguladora Po – Potencialidade Dv – Disponibilidade virtual De – Disponibilidade efetiva

28
2. POLUIÇÃO ANTRÓPICA DOS AQÜÍFEROS

Entende-se normalmente por poluição, toda alteração na qualidade física ou química natural de
um manancial ou corpo de água. A palavra poluição deriva do Latim polluere, que significa
manchar ou sujar. A palavra contaminação provém também do Latim contaminare, que significa
misturar, infectar. Considera-se contaminada toda água que contiver alterações como a presença
de organismos patogênicos, substâncias tóxicas ou propriedades outras nocivas à saúde humana
ou ao meio ambiente. Ex.: bactérias, vírus, metais pesados, resíduos radioativos, etc. Nestas
condições, toda água contaminada é também poluída, mas nem toda água poluída é
contaminada.

A água é o principal vetor de transporte dos poluentes através da circulação superficial e


subterrânea. Até mesmo os poluentes lançados na atmosfera retornam à superfície e através das
zonas de recarga alcançam os aqüíferos pela ação das águas de recarga. Até mesmo os corpos
de água superficiais podem ser contaminados pela circulação das águas contaminadas de um
aqüífero.

Em contraposição ao efeito negativo de ser o vetor de transporte dos poluentes, a água por ser
considerada o “solvente universal” desempenha o papel natural de dissolver, diluir, carrear e
facilitar as reações químicas no meio ambiente, possibilitando a gradual regeneração de áreas
contaminadas.

2.1. Qualidade Natural das Águas Subterrâneas

As águas subterrâneas, nas condições ambientais, são límpidas, inodoras e apresentam


temperatura e composição química constantes para um mesmo local e a uma mesma
profundidade. A composição química, naturalmente, eliminando-se a ação antrópica, depende dos
condicionantes climáticos e da composição mineralógica e demais características da rocha ou
formação aqüífera. Nas águas subterrâneas a maioria dos componentes químicos dissolvidos
estão sob a forma iônica.

Os componentes maiores, sempre presentes nas águas subterrâneas, são os seguintes: Ca2+,
Mg2+, Na+, K+ e Cl_, SO42-, CO32-, HCO3- e NO32-. Na Tabela 2.1 é mostrado os constituintes
maiores, menores e traços das águas subterrâneas segundo Davis & De Wiest, 1966 – in: Freeze
& Cherry, 1979.

a) Aporte e concentração de sais nas águas subterrâneas.

A qualidade química das águas subterrâneas é tão importante quanto o aspecto quantitativo. O
mecanismo de aporte e concentração de sais é na maioria das vezes, bastante complexo e se faz
basicamente por duas vias:

i) Por fatores climáticos – precipitação, evaporação – os componentes químicos são


transportados pelas águas atmosféricas e precipitam com as chuvas. O enriquecimento em
componentes químicos nas águas atmosféricas se faz através dos aerossóis, dos resíduos
lançados na atmosfera por poeiras e emanações vulcânicas, etc. O processo de
concentração na superfície da terra se faz pela evaporação contínua ao longo do tempo.

29
Assim, a cada período chuvoso, os sais concentrados em superfície se infiltram indo
incorporar às águas subterrâneas. Este processo é influenciado pelas condições climáticas
locais como a temperatura, o índice pluviométrico, coadjuvado pelas características físicas
do meio poroso como a permeabilidade na superfície do terreno, as condições da
drenagem subterrânea, entre outros. O maior índice de salinização, consequentemente,
ocorre nas regiões de clima de maior aridez, com elevada evaporação. É evidente que os
sais concentrados por esta via refletem a composição da principal fonte de origem, a água
do mar.

Composição média da água do mar


(em mg/l)

Componentes Químicos Concentração


Na 10.556
Mg 1.272
Ca 400
K 380
Sr 8
Cl 19.980
So4 2.649
HCO3 140
Br 65
F 1
Total 35.451

Como os ions dominantes na água do mar são os cloretos e o sódio, justifica-se a grande
concentração de cloretos de sódio nas águas subterrâneas do nosso semi-árido. Através
de análises das águas de chuvas, tem-se comprovado que elementos tipicamente de
origem marinha como (Na, Mg e Cl), decaem nas águas de chuvas à medida que se afasta
do litoral, aparecendo outros de origem tipicamente continentais como (K, Ca, SO 4). Na
Tabela 2.2, é mostrado a composição Química de água de chuva no Nordeste.

ii) Por fatores geológicos – composição mineralógica – cada tipo de rocha reage de
maneira diferenciada à ação intempérica da água sobre seus minerais, resultando na
liberação de ions dissolvidos na água subterrânea. Desta forma, rochas ricas em minerais
mais solúveis se decompõem mais facilmente, liberando seus elementos na água. Estas
reações se fazem preferencialmente através de determinados ácidos como: ácido
carbônico, ácido nítrico, ácidos orgânicos, etc. Assim, a presença do CO2 na água,
desempenha papel importante nesse processo.

Exemplo: Os calcários são rochas solúveis que enriquecem facilmente as águas


subterrâneas em sais de cálcio e magnésio, como nas reações abaixo:

CO2 + H2O  H2CO3 (ácido carbônico).


H2CO3 + CaCO3  Ca(CO3H) 2 (solúvel em água).

30
Tabela 2.1
Classification of dissolved inorganic constituents in groundwater

Major constituents (greater than 5 mg/l)


Bicarbonate Silicon
Calcium Sodium
Chloride Sulfate
Magnesium Carbonic acid

Minor constituents (0.01 – 10.0 mg/l)


Boron Nitrate
Carbonate Potassium
Fluoride Strontium
Iron

Trace constituents (less than 0.1 mg/l)


Aluminum Molybdenum
Antimony Nickel
Arsenic Niobium
Barium Phosphate
Beryllium Plantinum
Bismuth Radium
Bromide Rubidium
Cadmium Ruthenium
Cerium Scandium
Cesium Selenium
Chromium Silver
Cobalt Thallium
Copper Thorium
Gallium Tin
Germanium Titanium
Gold Tungsten
Indium Uranium
Iodide Vanadium
Lanthanum Ytterbium
Lead Yttrium
Lithium Zinc
Manganese Zirconium
Source: Davis and De Wiest, 1966. In: Feeze & Cherry, 1979.

Tabela 2.2. Composição química de água de chuva no Brasil (em ppm).

Local Chuva Ton. /


Data pH K Na Ca Mg Cl NO3 NO2 Total
Coleta (mm) km2
19.02.72
Caruaru 87,8 6,5 0,28 1,17 1,05 0,25 4,80 0,87 0,06 8,84 0,7
28.01.73
Serra 21.12.72
260,2 5,9 0,20 0,51 0,57 0,07 1,90 0,91 0,02 4,18 1,1
Talhada 29.01.73
19.12.72
Araripe 235,0 6,0 0,12 0,40 0,37 0,10 0,90 0,71 0,02 2,62 0,6
31.01.73
Fonte: Rebouças, 1973.

31
2.2. As Fontes de Contaminação

As fontes de contaminação dos aqüíferos, quanto as origens dos poluentes podem ser
classificadas em seis grandes grupos:

a) Ambientais
b) Domésticas
c) Industriais
d) Atividades Agrícolas
e) Atividades Mineradoras
f) Atividades Petrolíferas (exploratória, industrial e distribuidora).

Como fontes de origem ambiental podemos citar a intrusão de água salgada nos aqüíferos
costeiros. Em decorrência da ação do homem com a construção de captações ao longo do litoral é
provocado o desequilíbrio natural fazendo com que a interface de água salgada avance para o
interior do aqüífero. Outra possibilidade de poluição deste gênero é provocada pelo contato ou
interação entre camadas aqüíferas por poços construídos de maneira inadequada, ou por
fenômenos de descompressão produzidos por intenso bombeamento (Figura 2.1).

Figura 2.1

Fonte: Skinner e Porter (1995).

Quanto a distribuição espacial, as fontes podem ser classificadas em pontuais e difusas. São
exemplos de fontes difusas os grandes projetos de irrigação, chuvas ácidas, etc.

Quanto à temporalidade de lançamento dos contaminantes no meio ambiente as fontes também


podem ser consideradas contínuas e descontínuas ou intermitentes (Figura 2.2). Na Fig. 2.3 é
mostrado vários tipos de fontes de contaminação.

32
Figura 2.2. Fontes contínuas e descontínuas ou intermitentes.
Fonte: Freeze e Cherry (1979).

Os poluentes, ou substâncias poluidoras podem ser agrupadas em 5 (cinco) grandes grupos:

1. Orgânicos
Químicos 2. Inorgânicos
Físicos 3. Biológicos
Biológicos 4. Radioativos
5. Termais

Para avaliação do grau de contaminação ou comprometimento de um aqüífero são utilizados


muitos índices ou indicadores, entre estes temos:

Grupos Índices
DBO, DQO, TOC, TOD, STD, TS, SS, pH, Cor, Odor, Turbidez, BTEX, TPH.
Orgânicos
STD = TS – SS.
Dureza, STD, TS, SS, pH, Cloretos, CE, Cor, Turbidez, SAR, NH4, NO2, NO3, N, PO4, SO4,
Inorgânicos
ABS, LAS.
Biológicos Coliformes totais, Coliformes fecais, DO.
Físicos Temperatura, Curries, , , .

33
Figura 2.3. Vários tipos de fontes de contaminação.

34
A Agência Ambiental Americana, (EPA), estabeleceu em 1981, a Relação dos Poluentes
Prioritários, conforme apresentado a seguir.

Ao lado dos Índices e Indicadores, existem os Padrões para os mais variados tipos de utilização
da água (abastecimento humano, animal, industrial, agrícola, etc.). Os limites estabelecidos para
uma mesma substância ou contaminante nos Padrões nem sempre coincidem a depender do
País ou Organismo. Alguns padrões são mais rigorosos que outros, até mesmo dentro do mesmo
País. Em anexo: Resolução CONAMA – 003 (1984), norma Canadense (1995).

2.3. Mecanismos de Propagação e Atenuação dos Poluentes nos Aqüíferos.


Processos Físico-Químicos e Biológicos

a) Processos Físicos

1. Advecção ou Convecção

Responsável pela migração dos poluentes decorrente do fluxo subterrâneo (obedecendo a lei de
Darcy).

Vr = Ki/m ou Ve = Ki/me.

K – condutividade hidráulica.
me – porosidade efetiva.
i – gradiente hidráulico.
Ve – velocidade real efetiva.

2. Dispersão

Responsável pelo espalhamento do poluente no meio poroso.


Espalhamento ocorre devido a difusão molecular a dispersão mecânica, além dos processos de
filtração e evaporação.

 Difusão Molecular

 Ocorre em função da energia termo-cinética das partículas de poluentes dissolvidas no fluido;


 A difusão se dá com ou sem a presença de fluxo;
 Este mecanismo de transporte é diretamente proporcional ao gradiente de concentração
química, resultando daí, um fluxo de poluentes em direções de menores concentrações
químicas;

Fo = - Do dc/dx.

Em que,
Fo - fluxo de massa.
Do – coeficiente de difusão.
C – concentração de soluto.
dc – gradiente de soluto.
dc/dx – gradiente de concentração na direção x.

 Em solos finos de baixa condutividade hidráulica, a difusão molecular pode se tornar o


principal mecanismo de propagação dos contaminantes, excedendo o efeito da advecção;
 A difusão molecular é também função da temperatura.

35
Relação dos poluentes prioritários definidos pela EPA (1981).

1. Metais e Inorgânicos  Benzo (a) pireno (Benzopireno)


 Antimônio  Indeno (1,2,3 Cd) pireno
 Arsênio  Dibenzo (a, h) antraceno)
 Asbestos  Benzo (ghi) pirileno (1,12-Benzopirileno)
 Berílio  Acenafteno
 Cádmio  Acenaftileno
 Cobre  Antraceno
 Cianetos  Criseno
 Chumbo  Fluoranteno
 Mercúrio  Fluoreno
 Níquel  Naftaleno
 Selênio  Fenantreno
 Prata  Pireno
 Tálio 2.7 Policlorados Bifenílicos
 Zinco  PCB-1016 (Aroclor 1016)
 PCB-1221 (Aroclor 1221)
2. Orgânicos  PCB-1232 (Aroclor 1232)
2.1. Éteres  PCB-1242 (Aroclor 1242)
 Éter bis (clorometílico)  PCB-1248 (Aroclor 1248)
 Éter bis (2-cloroisopropílico)  PCB-1254 (Aroclor 1254)
 Éter 2-cloretil vinílico  PCB-1260 (Aroclor (1260)
 Éter 4-clorofenil fenílico 2.8. Policlorados Halogenados
 Éter 4-bromofenil fenílico  Cloreto de Metila (Clorometano)
 Bis (2-cloroetoxi) metano  Cloreto de Metileno
2.2. Ftalatos  Clorofórmio (Triclorometano)
 Ftalato de Dimetila  Tetracloreto de Carbono
 Ftalato de Dietila  Cloroetano
 Ftalato de Di-n-octila  1,1-Dicloroetano
 Ftalato de bis (2-etil hexila)  1,2-Dicloroetano
 Ftalato de butil benzila  1,1,1-Tricloroetano
2.3. Compostos Nitrogenados  1,1,2-Tricloroetano
 n-Nitrosodimetilamina  1,1,2,2-Tetracloroetano
 n-Nitrosodifenilamina  Hexacloroetano
 n-Nitrododi-n-propilamina  Cloreto de Vinila (Cloroetileno)
 Benzidina  1,2-Dicloropropano
 3,3-Diclorobenzidina  1,3-Dicloropropileno
 1,2-Difenilhidrazina  Hexaclorobutadieno
 Acrilonitrila  Hexaclorociclopentadieno
2.4. Fenóis  Brometo de Metila
 Fenol  Diclorobromometano
 2-Clorofenol  Diclorobromometano
 2,4-Diclofenol  Clorodibromometano
 2,4,6-Triclorofenol  Bromofórmio (Tribomoetano)
 Pentaclorofenol  1,1-Dicloroetileno
 2-Nitrofenol  1,2-Trans-dicloroetileno
 4-Nitrofenol  Tricloroetileno
 2,4-Dinitrofenol  Tetracloroetileno
 2,4-Dimetilfenol 2.9. Pesticidas
 p-cloro-m-cresol  -Endosulfan
 4,6-Dinitro-o-cresol  -Endosulfan
2.5. Aromáticos  Sulfato de Endosulfan
 Benzeno  -BHC (Hexaloreto de Benzeno)
 Clorobenzeno  -BHC
 1,2-Diclorobenzeno  -BHC
 1,3-Diclorobenzeno  -BHC
 1,4-Diclorobenzeno  Aldrin
 1,2,4-Triclorobenzeno  Dieldrin
 Hexaclorobenzeno  Endrin
 Etilbenzeno  Endrin Aldeido
 Nitrobenzeno  Heptacloro
 Tolueno  Clordano
 2,4-Dinitrotolueno  Toxafeno
 2,6-Dinitrotolueno  4,4’DDT (Diclorodifeniltricloroetano)
2.6 Hidrocarbonetos  4,4’DDE (Diclorodifeniltricloroetano)
Aromáticos Polinucleares  4,4’DDD (Diclorodifeniltricloroetano)
 2-Cloronaftaleno 2.10. Compostos Oxigenados
 Benzo (a) antraceno (1,2-Benzantraceno)  Acroleina
 Benzo (b) fluoranteno
 Benzo (k) fluoranteno (11,12-Benzofluoranteno) DIVERSOS
 3,4-Benzofluoreteno  Isofurano

36
 Dispersão Mecânica

 Causa o espalhamento dos poluentes devido as variações de velocidades do fluido no meio


poroso.
 É o processo pelo qual algumas moléculas da água e da substância poluente dissolvida se
movem mais rapidamente do que o valor médio de percolação.

b) Processos Químicos

A depender do solo e do contaminante, diversos processos químicos podem ocorrer causando um


retardamento ao fenômeno de transporte dos poluentes em solos. São processos químicos:
adsorção e desorção, precipitação e dissolução, reações de oxi-redução, reações ácido-base,
complexação e quelação.

 Adsorção – Desorção

 As reações adsorção-desorção podem causar uma transferência real de poluentes da fase


líquida para a fase sólida;
 As reações de adsorção-desorção se dão por troca iônica (cátions e ânions) e pela adsorção
nas superfícies de óxidos metálicos e na matéria orgânica presente no solo. Nos argilo-
minerais, a capacidade de troca de cátions é maior do que a de ânions;
 O retardamento que ocorre durante a migração de poluentes é totalmente atribuído ao
processo de adsorção.

 Reações de Precipitação-Dissolução

 Seus efeitos são mais relevantes quando se trata de contaminação por metais pesados e
metais de transição;
 Dependem do pH, temperatura, concentração do poluente e de outras substâncias presentes.

Na Tabela 2.3 é mostrado os vários fenômenos que controlam a migração de poluente através
dos meios porosos.

Nas Figuras 2.4 a 2.7 é mostrado o efeito da densidade na propagação dos poluentes através
dos meios porosos.

c) Processos Biológicos

 Ação de bactérias, fungos, algas constituintes dos solos;


 Esses organismos transformam poluentes através de inúmeros processos: oxidação-redução,
mineralização, imobilização;
 A maior parte dos produtos finais são menos perigosos no tocante à contaminação das águas
subterrâneas;
 São considerados processos bioquímicos: oxi-redução, mineralização, imobilização,
decomposição orgânica, transpiração/respiração, síntese de células.

d) Formação de Complexos e Quelação

 A formação de complexos se dá pela combinação de moléculas ou átomos mais simples em


condições químicas especiais de pH e temperatura de cada composto;
 No processo de quelação, moléculas são formadas em torno de um átomo de metal (estrutura
anelar) que permanecem em solução;
 As moléculas complexas de substâncias orgânicas podem ser biodegradadas acarretando
numa liberação de seus constituintes.

37
Tabela 2.3. Migração de poluentes através de meios porosos.

 Diversos fenômenos controlam o transporte de massa em meios porosos, onde a massa


considerada é a de alguma substância tóxica dissolvida (poluente), movendo-se com algum
fluido (água) nos vazios do meio poroso (solo) seja ele saturado ou não;

 O movimento de poluentes não depende apenas do fluxo do fluído no qual estas substâncias
estão dissolvidas;

 Grande número de variáveis afetam os mecanismos de transporte de poluentes.

Contaminantes Solo Ambiente


 Tipo de poluente
 Tipo do solo
 Concentração e outras
 Mineralogia
substâncias presentes
 Densidade (variação com  Hidrogeologia
 Distribuição granulométrica
temperatura)
 Viscosidade (variação com  Condições
temperatura)  Estrutura do solo aeróbicas/anaeróbicas
 pH
 Polaridade (relacionada à  Minerais acessórios  Temperatura (variação com
constante dielétrica) o tempo e profundidade)
 Solubilidade (variação com  Capacidade de troca iônica
temperatura)  Microorganismos presentes
 Radioatividade (relacionada  Tipo de cátions adsorvidos
à meia vida do poluente  Potencial de óxido redução
radioativo)  Tipo e teor de matéria
 DBO orgânica presente
 DQO

38
Figura 2.4. Efeitos de densidade na migração de soluções contaminantes em campo de
fluxo uniforme.
a) levemente mais denso que água subterrânea;
b, c) contaminantes mais densos que a água.
Fonte: Freeze and Cherry (1979).

39
GAS

CHEMCORP

GASOLINE
ESTORAGO
TANK

GASOLINE

GROUND WATER
IN PERMEABLE
SANDSTONE
als
chemic r
Toxic than wate
d en ser

Figura 2.5. Efeito da densidade do contaminante.


Fonte: Skinner e Porter (1975).

DNAPI
Residual

Silt lens
Dssolved
Contam loonis Ground-Water
Flow
Residual
Saturation
DNAPL Pool
SAND
AQUIFER

CLAY

Figura 2.6. Comportamento do DNAPL em ambientes geológicos heterogêneos.

40
Tanque

Tanque

Tanque

Legenda

Mic roc arbonetos residuais (ac im a do nível freatic o)

Mic roc arbonetos em fase livre

Mic roc arbonetos residuais (abaixo do nívell freatic o)

Figura 2.7. Espalhamento de hidrocarbonetos devido a flutuações do lençol


freático.

41
2.4. Conceitos de Vulnerabilidade e Risco

O conceito de vulnerabilidade começou a ser utilizado a partir dos anos 70, para indicar a
suscetibilidade relativa dos aqüíferos frente a contaminação antrópica. Seria a aptidão de um
determinado aqüífero frente a ação de um contaminante qualquer.

O risco de contaminação de um aqüífero qualquer pode ser entendido como a probabilidade da


água deste aqüífero ser alcançada por um contaminante, a níveis inaceitáveis, em decorrência de
uma atividade antrópica. Esta probabilidade resulta da interação entre a vulnerabilidade do
aqüífero e a carga contaminante lançada em superfície. Desta forma, para que haja realmente
risco deverá haver necessariamente a existência de um corpo receptor, a presença de um
contaminante em concentrações perigosas e que possa haver a possibilidade de contato do
contaminante com o corpo receptor (Figuras 2.8 e 2.9).

Existem muitos métodos de se avaliar a vulnerabilidade de um aqüífero. Um deles é o método


americano denominado “Drastic”, ou “Potencial de poluição da água subterrânea frente à
Vulnerabilidade”:

D Depth Profundidade do nível freático


R Recharge Recarga que recebe o aqüífero
A Aquifer Litologia e estrutura do meio aqüífero
S Soil Tipo de solo
T Topography Topografia do terreno, pendente
I Impact Natureza da zona saturada
C Conductivity Condutividade hidráulica

RISK COMPONENTS

Figura 2.8. Componentes de risco na contaminação de um aqüífero.

42
VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO
Inacessibilidade hidráulica
Capacidade de atenuação

IX O
CARGA CONTAMINANTE

O
BA UIT
M
Concentração, mobilidade, persistência

IXO
B A
Carga hidráulica

O
AD
ER
OD
M

O
AD
EV
EL

O
EM
TR
EX

RISCOS DE CONTAMINAÇÃO DE
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Figura 2.9. Esquema conceitual do risco de contaminação de água subterrânea (modificado de Foster,
1987).
Fonte: Foster e Hirata (1993).

43
Este método de avaliação foi concebido para grandes bacias norte-americanas e se baseia em
índices de natureza complexa e que envolve um grande número de variáveis. Reside aí sua
grande dificuldade de aplicação. Existem outros métodos mais simples. Através da construção de
mapas de zoneamento qualitativo da vulnerabilidade, classificando-a em categorias, ou mesmo,
através de índices da vulnerabilidade estabelecidos a partir da resolução da equação de
transporte de massa em uma direção. Qualitativamente pode-se estabelecer que um aqüífero livre
de nível hidrostático raso é mais vulnerável do que um de nível mais profundo; que um aqüífero
confinado é muito menos vulnerável que um aqüífero livre; que um aqüífero aluvionar é muito
vulnerável; que um aqüífero cárstico é extremamente vulnerável; etc.

2.5. Monitoramento e Gestão

A necessidade de se proteger e preservar a qualidade dos mananciais subterrâneos implica


necessariamente em um adequado programa de gestão de suas águas e como ferramenta deste,
os planos de monitoramento, destinados a acompanhar e avaliar a evolução da qualidade de suas
águas. Entende-se assim, como monitoramento, um programa tecnicamente concebido, com
vistas à avaliação contínua da qualidade das águas de uma determinada área (bacia hidrográfica,
sub-bacia, aqüífero, pólo industrial, etc.), onde são avaliados, além dos parâmetros hidroquímicos,
parâmetros outros como os de ordem hidrodinâmicos, que nos possibilitem antever possíveis
mudanças. Para tanto se utilizam como ferramentas os poços de monitoramento e de muitos
outros instrumentos, inclusive os de medidas indiretas como os métodos geofísicos.

Desta forma, um plano de monitoramento pode ser estritamente preventivo, quando inserido no
contexto de um programa maior de gestão de recursos hídricos de uma determinada área. Pode
também fazer parte de planos de recuperação ou acompanhamento de áreas já contaminadas,
em fase de estudos, de recuperação ou simplesmente de acompanhamento. Sua escala de
abrangência espacial ou temporal varia de pequena, média ou grande. Ex.: um plano de
monitoramento da qualidade das águas do Estado da Bahia, um plano de monitoramento de uma
Bacia, de uma formação aqüífera, ou simplesmente de uma área mais restrita: um pólo industrial,
um posto de gasolina, etc.

A escala espacial ou temporal, bem como, a estrutura da rede de monitoramento deve atender
aos objetivos a que o mesmo se destina.

Um bom programa de Gerenciamento implica necessariamente em um adequado conhecimento


técnico dos mananciais e de suas áreas de entorno, nos vários aspectos, como o geológico, o
hidrogeológico e suas possíveis interações com o meio antrópico. Não se deve confundir
monitoramento, no sentido mais strito, com projeto de estudo, análise de risco, ou projeto de
remediação. Embora este possa fazer parte de qualquer um deles. O monitoramento não se
restringe unicamente à zona saturada e sim, também, ao não saturado. Em determinadas
situações se confunde com procedimentos de estudos, especialmente quando se trata de área já
contaminada.

Planos de monitoramento em escala regional ‚ atribuição típica de organismos governamentais e


geralmente assume um caráter preventivo e quase sempre faz parte de um projeto maior.

Em 1991, os EUA criou o programa “Farma* a* Syst" – Programa de Ajuda na prevenção da


contaminação das águas Subterrâneas e Superficiais por atividades agropecuárias (Vide Anexo).
Tal programa partiu do pressuposto que a melhor forma de proteger e melhorar a qualidade das
águas ‚ sempre é a adequada gestão, e que agricultores não possuem a mesma capacidade que
as indústrias de estabelecer programas de proteção ambiental. Por este programa são
estabelecidos princípios básicos como:

44
 Redução do consumo de água e agroquímicos nas atividades agropecuárias;
 Uso de defensivos menos danosos ao meio ambiente ou plantas mais resistentes;
 Proteção das áreas mais sensíveis.
 Substituição de práticas agrícolas inadequadas.

a) Dispositivos e Mecanismos de Monitoramento

Na zona saturada os dispositivos mais comuns de tomada de amostras e observação são os


poços tubulares construídos para tal finalidade. Estes poços possuem características específicas
com relação ao material, profundidades, diâmetros, projeto de completacão, acabamento de boca,
etc. São chamados de poços de monitoramento. São chamados de poços de monitoramento
multiníveis, quando destinados a observação de diferentes níveis com um mesmo furo. Na Figura
2.10 é mostrado o posicionamento de alguns poços de monitoramento em relação a uma área
contaminada.

Wa ste so urc e

N
DUM O
PING

A B C D

ta ble
War ter
Wa te ta ble
River Sannd
Sa d
aquif
aq err
uife
Le ac ha t plum e

bed
le be
Shale
Sha c kk
droroc

Figura 2.10. Efeito do comprimento dos filtros sobre a amostragem de qualidade das águas. O piezômetro
A intersecta a água contaminada, porém, a concentração nas amostras será menor que a real,
devido à diluição. A concentração medida em B é representativa da situação real. C e D
aportam informação sobre a situação do nível piezométrico, porém não cortam a pluma
contaminante (Fetter, 1993).

45
A zona não saturada possui comportamento bastante diferenciado da zona saturada, nessa, além
de amostras de solo coleta-se também a água ou umidade contida neste solo ou mesmo
componentes gasosos. Para tanto utilizam-se dispositivos especiais como os coletores de
amostras de solo, lisímetros para coleta de soluções, coletores por sucção, etc.

No que se refere ao conhecimento geológico de subsuperfície, além dos perfis de sondagem, se


utilizam cada vez mais dos métodos geofísicos: elétricos, eletromagnéticos, sísmicos, geo-radar,
etc., que possibilitam a tomada indireta de informações do subsolo.

Uma vez bem estudado o meio geológico e hidrogeológico com parâmetros como estratigrafia,
constituição litológica, porosidade, permeabilidade, velocidades e direções de fluxo, gradientes
hidráulicos, zonas de recarga e descarga, relações hidráulicas superfície e subsuperfície, têm-se
as bases para um bom programa de monitoramento ou mesmo de remediação. Os Fluxogramas
2.1 e 2.2 a seguir mostram as etapas e procedimentos de monitoramento de uma área qualquer e
para avaliação de um sítio contaminado.

Na montagem de uma rede de poços de monitoramento há que se considerar a seguinte


distribuição espacial:

a) Poços de montante (gradiente acima do foco) – se destina a estabelecer a qualidade da água


antes da passagem pelo foco (poço branco);
b) Poços de jusante – destinados a avaliar o movimento e a qualidade das águas que procedem
do foco;
c) Poços de zonas de contato – zonas de mistura das águas naturais e as águas de lixiviação;
d) Poços de localizações especiais – são poços destinados a investigar situações especiais fora
da área próxima do foco, porém em situação suspeita.

2.6. Recuperação de Áreas Contaminadas

Quando o sistema de controle preventivo, (Monitoramento), de uma área, acusa a ocorrência de


contaminação das águas subterrâneas a níveis considerados perigosos para a saúde humana ou
meio ambiente, nesse instante, deve-se acionar o plano de medidas emergenciais para que sejam
evitados os riscos.

São Medidas Emergenciais:

1. identificar e eliminar a fonte primária;


2. implantar alguma forma de controle da Pluma Contaminante, evitando sua propagação para o
meio ambiente.
3. identificar e eliminar fontes secundárias, se existirem realmente.

Obs.: O controle de uma pluma significa retardar o seu movimento ou simplesmente isolá-Ia do
meio, (Captura da Pluma). Normalmente através dos seguintes procedimentos:

a) por controle hidrodinâmico (barreira hidráulica, inversão de fluxo, etc.) Figuras 2.11 e 2.12;
b) por contenção física (barreira impermeável) Figuras 2.13.

Uma vez controlada a pluma, passa-se definitivamente para o processo de tratamento e


recuperação das áreas afetadas (Remediação).

46
MONITORAMENTO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

ESTABELECE PADRÕES PARA PROTEÇÃO DO AQUÍFERO


PARÂMETROS A SEREM ANALISADOS
CONCENYTRAÇÕES LIMITES
LOCAIS E PERÍODOS DE CONFORMIDADE

IMPLEMENTAR PLANO DE MONITORAMENTODE


DETECÇÃO

COLETA SEMESTRAL
DIREÇÃO E VAZÃO DO AQUÍFERO - ANUAL
DETERMINAR ACRÉSCIMOS ESTATÍSTICAMENTE
SIGNIFICATIVOS NAS CONCENTRAÇÕES DE POLUENTES

ACRESCIMOS ACRÉSCIMOS
ESTATISTICAMENTE ESTATISTICAMENTE
SIGNIFICATIVOS NÃO SIGNIFICATIVOS

IMPLEMENTAR PLANO DE MONITORAMENTO DE


CONFORMIDADE
COLETA TRIMESTRAL
DIREÇÃO DO FLUXO E VAZÃO DO AQUÍFERO - ANUAL
AMOSTRAGEM DE PARÂMETROS ADICIONAIS
DETERMINAR SE OS PADRÕES DE QUALIDADE FORAM
EXCEDIDOS

EXCEDIDOS PADRÕES CONFORME PADRÕES

IMPLEMENTAR PLANO DE AÇÃO

Fluxograma 2.1

47
FLUXOGRAMA COM AS ETAPAS PARA AVALIAÇÃO DE UM SÍTIO CONTAMINADO

Identify Site

Define Objectives

Establish Site Conceptual Model

Assemble Avaliable Information

Identify Required Information

Colect Data from Site

select methods

implement methods

interpret data

Reporting

Remediate?

No Yes

monitor select methods

implement and monitor

terminate?

No Yes

Another Continue
Method?

Inserir Fluxograma 2.2

48
Trece Wells
1500.
One Well Q/BU= 1000m
1000. 800
1000.
Q/BU= 2000m 1600 600
Y 1200
500. 400
800 500.
400 200
Meters

Regional flow

Meters
0 X Regional flow
0.
X
-500.
-500.

-1000.
-500. 0. 500. 1000. 1500. -1000.
2000. 2500.
Meters

-1500.
-500. 0. 500. 1000. 1500. 2000. 2500. 3000.
Meters
Two Wells
1500.
Q/BU= 2000m
1600 Four Wells
1000. 1200 1500.

800 Q/BU= 1000m


800
500. 1000. 600
400
400
Meters

Regional flow
0 500. 200
X
Meters

Regional flow
-500. 0.
X

-1000. -500.

-1500. -1000.
-500. 0. 500. 1000. 1500. 2000. 2500. 3000.
Meters
-1500.
-500. 0. 500. 1000. 1500. 2000. 2500. 3000.
Meters

Figura 2.11. Curvas tipos para 1-4 poços para determinar a zona de captura.

Leaking
tank
Stagnatio Original water table
point

Capture zone

Figura 2.12. Controle de uma pluma contaminante mediante modificação do esquema


de fluxos por bombeamento em um poço.

49
pluma contaminante mediante barreiras impermeáveis que alcançam o leito
Figura 2.13. Planta e perfil de um depósito de lixo antes e depois da total contenção de sua
Cutoff
wall
A A A’
A
100 95 90 85 80
Ground Water elevation
Ground-water flow path
A
A

50
Water
table Clay
c over
100

rochoso impermeável.
95
A’ A
90
85 Water
80 table
Cutoff wall
Ground-Water
Key into
Flow direc tion
bedroc k
Confining layer Confining layer
Procedimentos:

a) em aqüíferos rasos e contaminantes do tipo LNAPL:


 valas de contenção;
 Valas ou escavações com bombeamento. Figura 2.14 e 2.15.
b) Em aqüíferos com superfícies hidrostáticas mais profundas.
 Poços de extração – Poço‚ bombeado com a finalidade de captar a pluma pelo cone de
depressão. As águas contaminadas, assim bombeadas, são tratadas na superfície e
devolvidas ao meio ambiente. (Contenção com Tratamento). Nestes casos o tempo de
bombeamento pode ser longo. O sistema comporta um poço ou mais de um, bombeando
ao mesmo tempo. Esquema igual ao apresentado na Figura 2.12.
c) Procedimentos com contenção física – Nestes casos a contenção ‚ feita mediante a
construção de barreiras físicas impermeáveis, normalmente constituídas de argamassa de
cimento ou de bentonita, 0,5 a 2 m de espessura, profundidade variável. São utilizados
também dos poços de injeção de impermeabilizante, (Grouting), mais apropriado para rochas
fraturadas. Como nos demais casos deve-se associar um processo de tratamento ou remoção
dos produtos contaminantes.

2.7. Técnicas de Tratamento das Águas Contaminadas na Superfície

Uma vez capturada ou controlada a pluma, a água contaminada bombeada deve passar por
processos de tratamento em superfície para que possa ser devolvida ao meio ambiente.

As técnicas utilizadas neste caso são várias: Separação por ar (Air Stripping), Absorção por
carbono, Resinas absorventes ou trocadoras, Osmose reversa, Tratamento químico, Tratamento
biológico etc.

O processo de absorção por Carbono ou por Resinas Absorventes ‚ eficaz para várias substâncias
contaminantes voláteis e não voláteis, entre outras, metais traços, orgânicos mais densos e outros
inorgânicos.

Produtos químicos – são utilizados visando: reações de precipitação, neutralizações, Oxi-redução,


troca iônica, etc.
Outros Procedimentos de Remediação

1. Biorremediação – Pode combinar com a técnica da ventilação do solo, (Soil Vent) e outras
técnicas - Oxigena e ajuda a liberar os voláteis;
2. Biorremediação Acelerada – consiste em se adicionar no solo contaminado nutrientes para
os microorganismos. São utilizados: peróxido de hidrogênio H202, fosfatos, amônia, nitrato,
cálcio, magnésio, potássio e alguns metais. A dosagem depende da população de
microorganismos. É considerada uma técnica cara;
3. Vitrificação – Processo de tratamento em situ – consiste em transformar a mistura solo com
resíduos tóxicos em vidro, através de eletrodos de alta temperatura, se produz a fusão e
posterior solidificação da mistura, transformando-a em um produto similar à obsidiana (vidro
vulcânico);
4. Traslado Físico – consiste na escavação do solo contaminado e seu traslado para
localizações mais adequadas ou para tratamento. É um procedimento normalmente caro,
sobretudo quando envolve grandes volumes.

51
Oil watr separator
or
product storage Skimmer
pump and
controls

Skimmer

Product layer

Impermeable
layer

Ground water flow

Figura 2.15 - A vala interceptora do produto contaminante. O produto é retirado


Figura 2.14. Vala interceptora sem
diretamente do produto contaminante.
necessidade O produto é retirado
de um bombeamento diretamente
que afete o fluxo sem
necessidade de um bombeamento que afete o fluxo natural. A barreira impermeável à
natural. A barreira impermeável à jusante, assegura a não miração do produto.
jusante, assegura a não-migração do produto.

Oil- water
FLOATWG
FREE PRODUCT separator

Flosting
studge
C D pum p
E

A
Produc t flow

B Ground-water flow

Figura 2.16. Escavação para a recuperação de produtos flutuantes sobre uma superfície piezométrica
superficial. A: bomba para captar o produto. B: bomba para rebaixa o nível C: separador
água-produto. D: tanque para o produto. E: condução da água contaminada para tratamento.
À direita a recuperação se realiza com uma bomba flutuante.

52
2.8. Remediação da Zona não Saturada

Na zona não saturada na maioria das vezes se instala as fontes primárias e secundárias de
contaminação das águas subterrâneas. Sem a eliminação destas fontes o tratamento das águas
subterrâneas torna-se ineficaz.

As técnicas utilizadas são as já abordadas como a ventilação e extração de vapor para produtos
voláteis, a biorremediação e outras. As técnicas mostradas esquematicamente a seguir são
utilizadas tanto para os solos contaminados quanto para as águas.

53
TECNOLOGIAS DE REMEDIAÇÃO SOLO – ÁGUA SUBTERRÂNEA

Aeróbica

Biorremediação

Anaeróbica

1. In Situ “Pump & Treat” Vários métodos

Extrator de Vapor
do Solo

Aeróbica
Biorremediação

Anaeróbica

“Secure Landfill”

2. Ex Situ

“Land Farming”

Incineração

Métodos Termais Pirólise

Vitrificação

Com Ácidos

Biológico

Lavagem de Solo
“Soil Washing”
Surfactantes
“Leachate tratment”
Químico

54
3. BIBLIOGRAFIA

ABRH. 1991. Hidrologia Ambiental. ADUSP. SP.


CASTANY, G. 1971. Tratado Prático de las Águas Subterrâneas. Edciones Omega. Barcelona.
COSTA, W. D. 1998. Avaliação de Reservas, Potencialidades e Disponibilidades de Aqüíferos. X Cong.
Bras. Águas Subterrâneas. São Paulo.
CUSTÓDIO, E.; LLAMAS, M.R. 1965. Hidrologia Subterrâneas. 2v. Edciones Omega. Barcelona.
DNPM. 1987. Curso de Controle Ambiental na Mineração. DNPM. Brasília.
DOMENICO, A.; SCHWARTZ, F.W. 1990. Physical and Chemical Hydrogeolgy. John Wiley Sons.
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_________. 1994. Applied Hydrogeology, 3a ed. Prentice Hall.
FOSTER, S.; HIRATA, R. 1993. Determinação do Risco de Contaminação das Águas Subterrâneas: um
método baseado em dados existentes. IG Bol. 10. SP.
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FREEZE, R. A.; CHERRY, J. A. 1979. Groundwater. Prentice Hall.
GUIGER, N. 1996. Poluição das Águas Subterrâneas e do Solo por Vazamentos em Postos de
Abastecimento. Waterloo Hydrogeologic.
IBRAM. 1992. Legislação Minerária e Ambiental. Brasília.
JOHNSON DIVISION. 1972. Água Subterrânea e Poços Tubulares. 3ª ed. CETESB. SP.
MATTHESS, G. 1982. The Properties of Groundwater. Willey Sons. N. York.
NOONAN, D.; CURTIS, J.T. 1990. Groundwater Remediation and Petroleum. A Guide for Underground
Storage Tanks. Lewis Publisher Inc. Michigan.

55
ANEXOS

56
Anexo I

Resolução CONAMA 20/86

57
Anexo II

Norma Canadense de Qualidade das Águas

58
Anexo III

Norma Alemã de Qualidade das Águas

59
Anexo IV

Padrão de Qualidade das Águas para Abastecimento – EPA – 1975

60
Anexo V

Os Ciclos do Carbono e do Nitrogênio

61
Anexo VI

Programa “Farm *A* Syst”

62

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