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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA
REGISTRADO(A) SOB N°

ACÓRDÃO i MUI um um um um um um mu m m
*03211648*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação n° 991.05.006114-4, da Comarca de Guarulhos,
em que é apelante FRANCISLENE ASSIS DE ALMEIDA sendo
apelados ALFA SERVIÇOS E BOMBEAMENTO LTDA e CIMENTO
TUPI LTDA.

ACORDAM, em 16 a Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "DERAM PROVIMENTO EM PARTE AO RECURSO. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos


Desembargadores JOVINO DE SYLOS (Presidente) e
COUTINHO DE ARRUDA.

São Paulo, 03 de agosto de 2010.

CÂNDIDO ALEM
RELATOR
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO N°: 18670


APEL.N 0 : 7.010.603-1
COMARCA: GUARULHOS
APTE. : FRANCISLENE ASSIS DE ALMEIDA
APDOS. : ALFA SERVIÇOS E BOMBEAMENTO LTDA E CIMENTO TUPI
LTDA.

'INDENIZAÇÃO - Dano Moral - Equívoco no protesto de duplicata, já quitada


- Protesto pelo banco endossatário - Endosso mandato - Responsabilidade
do endossante - Dano moral caracterizado - Indenização devida no importe
de R$ 15.300,00, correspondente a 30 salários mínimos - Valor de referência
estabelecido por esta E. Câmara como razoável para compensar o ilícito - A
partir da prolação do Acórdão deverá incidir, sobre referido valor, juros de
mora e correção monetária.

SUCUMBÊNCIA - Ônus - Pedido da parte atendido em parte - Afastada a


responsabilidade da co-requerida empresa Alfa para responder pelo protesto
indevido - Sucumbência rateada entre as partes - Recurso provido em parte.*

Cuida-se de recurso de apelação de r. sentença, cujo relatório


se adota, que julgou improcedente ação de indenização por danos morais oriunda
da cobrança de valores já quitados, condenando a autora ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% do
valor da causa.
Aduz a autora, ora apelante, que: inobstante o pagamento da
duplicata, seu nome foi indevidamente inscrito nos cadastros de proteção ao
crédito, além de protestado o título; tal circunstância causou-lhe inúmeros danos; é
necessária a fixação de indenização no valor correspondente a vinte vezes o valor
do título protestado.
Em contrarrazões os recorridos pleiteam a manutenção da r.
sentença.
Recurso processado.
É o relatório, no necessário.
Ao que consta na inicial, a autora adquiriu 26,5 m3 de concreto
usinado da empresa Cimento Tupi S/A e contratou o serviço de locação de bomba
da empresa Alfa Serviços e Bombeamento Ltda, sendo que o valor total,
correspondente a R$. 3.894,50, foi pago, no dia 2 de dezembro de 2001,
diretamente à empresa Alfa, parceira da Cimento Tupi S/A, conforme faz prova o
recibo defl. 13.
Após receber o valor em questão, a empresa Alfa Serviços de
Bombeamento Ltda. procedeu ao depósito bancário da quantia de R$ 3.312,50, em
favor da empresa Cimento Tupi S/A (fl. 112).
O documento de fl. 100 comprova que a empresa Cimento
Tupi S/A, no dia 15 de janeiro de 2002, solicitou ao Banco Banespa, a quem tinha
cedido a duplicata em questão, a adoção das providências necessárias para sustar
o protesto e devolver o título no valor de R$ 3.312,50, tendo como sacada
Francislene Assis de Almeida.
Contudo, tal solicitação não foi suficiente para evitar o irregular
protesto de duplicata, já paga pela autora, ocorrido no dia 17 de janeiro de 2002 (fl.
16).

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Ao contrário do que sustenta a co-requerida Cimento Tupi S/A,


não se pode atribir a responsabilidade pelo protesto irregular à autora, por ter esta
efetuado o pagamento da duplicata a quem não era seu legítimo credor.
Isto porque, a autora pagou de boa-fé a terceiro que
aparentava possuir poderes para receber referido vaior, já que, ao que consta, as
empresas em questão, Alfa Serviço de Bombeamento Ltda. e Cimento Tupi S/A.
realizam em parceria o serviço de fornecimento de concreto usinado.
Assim, não há dúvidas de que, agindo da maneira que agiu, a
empresa Cimento Tupi S/A. causou prejuízo moral a sua cliente, que se viu
frustrada ao ver, injustamente, seu nome remetido aos órgão de proteção ao
crédito, podendo ser desconsiderada e minimizada perante pessoas e vendedores,
por nada poder comprar, visto estar seu nome negativado injustamente.
Por tratar-se de endosso-mandato (fl. 16), a responsabilidade
pelo protesto indevido do título é do endossante, no caso, a empresa Cimento Tupi
S/A, uma vez que o endossatário, Banco Banespa, praticou os atos na qualidade
de representante do verdadeiro proprietário do título, por conta e em nome de tal
pessoa. Eventual responsabilidade do banco, decorrente de sua conduta
negligente, deverá ser apurada em ação própria.
Esse lesionamento moral, suportado pela autora, merece
compensação financeira para minorar o seu sofrimento psicológico, o valor fixado,
deve levar em consideração os dissabores, frustração, desencanto e
constrangimento experimentados pela apelante, por ter seu nome mantido no
referido órgão de proteção ao crédito de maneira irregular.
A indenização, neste caso, não serve apenas para reparar a
lesão causada à vítima, mas também para frisar o caráter inibitório desta, a fim de
que fato semelhante não ocorra novamente. Sobre o tema CARLOS ALBERTO
BITTAR: "Neste sentido é que a tendência manifestada, a propósito, pela
jurisprudência pátria, é da fixação de valor de desestímulo como fator de inibicão a
novas práticas lesivas. Trata-se, portanto, de valor que sentido no patrimônio do
lesante, o possa fazer conscientizar-se de que não deve persistir na conduta
reprimida, ou então deve afastar-se da vereda indevida por ele assumida. De outra
parte, deixa-se, para a coletividade, exemplo expressivo de reação que a ordem
jurídica reserva para os infratores nesse campo, e em elemento que, em nosso
tempo, se tem mostrado muito sensível para as pessoas, ou seja: o respectivo
acervo patrimonial" ("Reparação civil por danos morais: a questão da fixação do
valor", Caderno de doutrina/julho 96, Tribuna da Magistratura, Associação Paulista
da Magistratura)
A boa doutrina pondera que inexistem caminhos exatos para
se chegar à quantificação do dano extrapatrimonial, não se podendo desprezar a
atuação do Juiz a fim de que se alcance a equilibrada fixação dentro da necessária
ponderação e critério (RT 631/34-36). A função da paga em dinheiro não é a de
repor matematicamente um desfalque patrimonial, mas apenas a de representar
para a vítima uma satisfação igualmente moral, ou seja, psicológica, capaz de
neutralizar ou anestesiar em alguma parte o sofrimento impingido ao prejudicado.
A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal
satisfação em justa medida, de modo que tampouco signifique enriquecimento sem
causa da vítima. A estimação deve ser deixada ao prudente arbítrio do Juiz,
levando em conta a gravidade objetiva do dano, a personalidade da vítima, a

APEL.N0: 7.010.603-1 - GUARULHOS - VOTO 18670 - CMB/AMJ/HBM


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gravidade da falta, a personalidade e condições do autor do ilícito (RT 650/66).


Conforme o Recurso Especial n° 8.768-SP, a III Conferência Nacional de
Desembargadores do Brasil, efetivada em dezembro de 1.965, na Guanabara, na
sua 2 a conclusão, firmou o entendimento que "o arbitramento do dano moral fosse
apreciado ao inteiro arbítrio do Juiz que, não obstante, em cada caso, deveria
atender à repercussão econômica dele, à prova da dor e ao grau de dolo ou culpa
do ofensor" e que Orozimbo Nonato e Hahnemann Guimarães Philadelpho
Azevedo, no Anteprojeto do Código das obrigações de 1.941, recomendavam que
a reparação pelo dano moral deveria ser moderadamente arbitrada. Essa
recomendação tinha por finalidade evitar a perspectiva de lucro fácil e generoso
ou, mesmo, o locupletamento indevido.
De acordo com o entendimento desta Colenda Câmara, ante a
análise, repercussão e extensão dos fatos, a indenização deve ser fixada em R$
15.300,00, correspondente a 30 salários mínimos atuais, já considerados correção
monetária e juros de mora, valor este que bem compõe a lide e satisfaz as
exigências subjetivas e objetivas da autora. A partir da prolação do acórdão,
deverá incidir, sobre referido valor, juros e correção monetária.
Saliente-se, por fim, que a responsabilidade pelo pagamento
da referida indenização é atribuída apenas à empresa Cimento Tupi S/A,
responsável pela emissão indevida de duplicata já paga ao protesto; não se
vislumbrando, por tal fato, nenhuma responsabilidade da empresa Alfa Serviços de
Bombeamentos Ltda. que apenas recebeu o valor da duplicata e repassou-o ao
seu legítimo credor.
No tocante à sucumbência, tendo em vista a improcedência do
pedido em face da co-requerida empresa Alfa Serviços e Bombeamento Ltda.,
deverá a autora arcar com o pagamento de metade das custas processuais e
honorários advocatícios, do patrono desta, que ora arbitro em R$ 1.000,00, valor
este a ser corrigido monetariamente a partir da publicação deste acórdão. A co-
requerida empresa Cimento Tupi S/A., por sua vez, arcará com o pagamento da
outra metade das custas e honorários advocatícios do patrono da autora, também
arbitrados, por equidade, em R$ 1.000,00.
Ante isso, dá-se provimento em parte ao recurso.

CAmmOALEUr7
/ Relator

APELN 0 : 7.010.603-1 - GUARULHOS - VOTO 18670 - CMB/AMJ/HBM


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