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06/11/2018 Parte 2: Irrigar os campos – uma luta de duas décadas

Hidráulica na Coreia do Norte


Parte 2: Irrigar os campos – uma luta de duas décadas
por Kim Soobok

Continuação da Parte 1

Durante a ocupação da Coreia pelo Japão (1910-1945),


o governo colonial retirava todo o arroz da Coreia em
benefício do Japão, deixando quase nada para os
coreanos. Ter arroz com caldo de carne naquela época
era um luxo pelo qual toda a gente ansiava. Assim,
imediatamente após a libertação, o aumento da
produção de arroz tornou-se a principal prioridade
agrícola da Coreia do Norte.

Segundo Jo Byeong-heon, sul-coreano perito em


assuntos norte-coreanos, a Coreia do Norte construiu
40 mil quilómetros de canais de irrigação, bem como
cerca de 1700 reservatórios e 25 mil estações de bombagem no período a seguir à libertação. No princípio da
década de 1960, o país construiu mais 50 mil estações de bombagem nas áreas agrícolas e irrigou
completamente toda a sua agricultura.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a Coreia do Norte
sistematicamente produziu 3,5 a 4,3 milhões de toneladas de cereais por ano durante a década de 1960, bem
como 5 a 6,5 milhões de toneladas nas décadas de 1970 e 1980. Esse número ascendeu firmemente para as
9 milhões de toneladas/ano em 1993, mas decaiu para 2,6 milhões em 1996, na altura da Marcha Árdua.

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Quando a alta súbita nas importações de combustíveis e a escassez de electricidade no princípio da década
de 1990 paralisaram as estações de bombagem e a água já não podia chegar às terras agrícolas, a Coreia do
Norte procurou respostas na ciência. Ela precisava de meios de irrigar sua agricultura sem depender da
electricidade e chegou a uma ideia simples mas radical. A ideia baseou-se no princípio da gravidade. Oitenta
por cento da terra da Coreia do Norte é constituída por montanhas e terras altas onde a água da chuva se
acumula naturalmente. Assim, os seus cientistas consideraram: se se puder conduzir a água dos cumes das
montanhas para que fluam até as áreas agrícolas, já não serão mais precisas as estações de bombagem que
consomem tanta electricidade.

Assim, a Coreia do Norte começou a construir barragens em cotas altas, nas montanhas, e escavou centenas
de quilómetros de canais a fim de conduzir a água para as planícies. Sem combustíveis para alimentar
equipamento pesado, a construção, sobretudo em terreno montanhoso acidentado, foi toda feita por trabalho
humano. Unidades voluntárias de dezenas de milhares de trabalhadores, agricultores, jovens e mulheres das
províncias e cidades de todo o país vieram participar juntos neste projecto massivo de construção.

A construção principiou em 1999 e um novo projecto de canal foi completado em média a cada três anos.
Transportar betão e equipamentos por centenas de quilómetros para o local da construção através de
estradas más e com tempo inclemente não foi uma façanha fácil. E alimentar, vestir e abrigar dezenas de
milhares de voluntários exigiu um nível de organização notável.

As equipes de construção, sobretudo jovens, aguentaram condições penosas nas montanhas, onde as
temperaturas facilmente caem para 40º Celsius negativos nos meses mais frios do inverno. Elas cavaram
túneis, centímetro a centímetro, para conduzir a água através das montanhas. Empurraram vagonetas cheias
de entulho e rochas através de caminhos longos e estreitos, muitas vezes em subida, e transportaram
materiais pesados com água até à cintura. Um vídeo norte-coreano de locais de construção recentes mostra
pessoas que parecem sólidas e bem equipadas, mas em vídeos anteriores a maior parte dos trabalhadores
parecia esquelética e estava de mãos nuas. Muito longe das suas famílias, eles cuidavam-se uns aos outros
quando ficavam doentes.

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N Korea waterway construction

O Estado cuidou dos filhos dos homens e mulheres que se voluntariaram para a construção dos canais nos
seus muitos infantários por todo o país e nos centros de cuidados infantis próximos dos estaleiros de
construção. Também estabeleceu áreas de descanso e recreação para os tempos livres das equipes de
trabalho. Canções dedicadas à construção de canais descreviam-nos como heróis nacionais e o governo
central homenageou aqueles que morreram a trabalhar nos canais como mártires revolucionários, concedendo
as mais altas honras às suas famílias.

Se realmente entendermos o que custou ao povo da Coreia do Norte construir os "canais de fluxo natural" sob
as mais amargas condições durante a Marcha Árdua, então entenderemos a resiliência que hoje fortalece a
sociedade norte-coreana.

Eis alguns dos canais que a Coreia do Norte completou nas últimas décadas ou que estão actualmente em
construção:

Canal Gaechon-Lago Taesong

A construção do canal Gaechon-Lago Taesong começou em Novembro de 1999 e foi completada em Outubro
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de 2002. Ele estende-se por 100 milhas [160,9 km] e consiste de 90 canais em túnel e 21 reservatórios (ver
Figura 1).

Milhares de trabalhadores voluntários construíram uma barragem maciça em Daegak-ri na Cidade de


Gaechon e escavaram canais através de Sunchon, Pyongwon, Daedong e Jeungsan até o Lago Taesong na
Cidade Nampo. A barragem em Daegak-ri eleva o nível da água do Rio Daedong e, deste modo, a água pode
fluir naturalmente para várias regiões na Província Pyongan Sul, a jusante, através de canais feitos pelo
homem, sem a utilização de energia eléctrica

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O canal irriga 245 mil acres [99.147 hectares]. A província já não precisa das 380 estações de bombagem e
530 bombas de água que utilizava anteriormente e pode portanto poupar 60 megawatts-hora de electricidade
por ano. O canal também proporciona água potável e ajuda a província a cumprir seus objectivos gerais de
gestão da água, incluindo a prevenção de inundações na bacia do Rio Jaeryong. A província também
construiu numerosas pequenas e médias hidroeléctricas ao longo do canal.

Canal Baekma-Cholsan

O canal Baekma-Cholsan é constituído por uma barragem em Baekma no Município Pihyun, Sinuiju e 174
milhas [280 km] de canais (ver Figura 1). A construção começou em Maio de 2003 e foi completada em Maio
de 2005. O canal irriga aproximadamente 112 mil acres [45.325 hectares] e aumentou a produção anual de
cereais em 100 mil toneladas por ano.

Canal Rio Chongchon-Pyongan Sul

A construção começou em Fevereiro de 2016 e ainda está em curso. Ele começa no Lago Yeonpung, bem
conhecido como área de repouso para os cientistas do país, próximo da Cidade de Gaechon, 65 milhas [105
km] a norte de Pyongyang. Ele conduzirá a água da região superior do Rio Chongchon para regiões não
alcançadas pelo canal Gaechon-Lago Taesong: Gaechon, Sonam, Dokchon, etc (ver figura 1).

Canal Mirubol

A região Mirubol costumava bombar água do Rio Namgang, um afluente do Rio Daedong, e do Rio Ryesong.
Mas dizem que a terra nesta região era tão estéril que os seus aldeões estavam sempre a adiar o seu cultivo.
Assim, o lugar é chamado Mirubol, o que significa "adiar". Isso agora mudou com a construção do Canal
Mirubol, uma formidável conduta de 137 milhas [220 km] construída para redireccionar o caudal das
cabeceiras do lendário Rio Rimjin e criar canais em túnel através das vastas e escarpadas Montanhas
Ahobiryong. Ele conduz a água do Reservatório Risang, de onde flui para várias regiões a fim de irrigar 63 mil
acres [25.495 ha] em três municípios – Goksan, Singye e Suan (ver Figura 2). Foram eliminadas 80 das 106
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bombas de água anteriormente usadas para irrigar a região e assim o canal poupa 27 MWh de electricidade
por ano.

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Canal 1 a Sul da Província Hwanghae

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O canal começa no Lago Jangsu e flui através de Haeju, Gangryong e Byoksong, acabando então em Ongjin
(ver figura 3). A construção começou em Janeiro de 2012 e foi completada em Novembro de 2016. O canal
estende-se por 76 milhas [122 km] e consiste de 30 túneis de água e mais de 400 estruturas, tais como pontes
de condutas subterrâneas. Irriga mais de 24 mil acres [9.712 ha].

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Canal 2 a Sul da Província Hwanghae

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Actualmente em construção, o Canal 2 a Sul da Província Hwanghae começa em Cheongdan e acabará em


Yonan (ver Figura 3).

Outros projectos de gestão da água

Os veios de água subterrâneos escoam entre camadas de rocha. A Academia Nacional de Ciências da Coreia
do Norte desenvolveu um aparelho que pode detectar veios de água a 300 metros abaixo do solo. Graças à
localização destas fontes de água profundas a Coreia do Norte construiu centenas de cisternas por todo o
país a fim de armazenar água para a prevenção de secas.

Cientistas norte-coreanos também desenvolveram métodos agrícolas que consomem menos água. Exemplo:
utilizando canteiros secos para arroz; plantando menos plantas mas com maiores espaços entre sementes – o
que realmente rende mais grãos; e transformando arrozais (paddies) onde a água é inacessível em campos
para culturas de sequeiro. Além da gestão da água, a Coreia do Norte está também a reorganizar explorações
agrícolas com o objectivo de mecanizar a agricultura.

Graças a estes esforços, a Coreia do Norte recuperou-se decididamente da sua crise alimentar da década de
1990 e está a progredir ano a ano rumo ao seu objectivo da auto-suficiência alimentar. O país agora voltou
sua atenção para a melhoria da qualidade da dieta popular através da diversificação de fontes de proteína,
vegetais frescos e lacticínios.

Na parte 3 apresentarei o progresso da Coreia do Norte na produção de fertilizantes e a sua correlação directa
com o aumento da produção alimentar.

07/Fevereiro/2018

A seguir, Parte 3: Enriquecer o solo – Produzir para além da subsistência

O original encontra-se em www.zoominkorea.org/...


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Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


19/Fev/18

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