You are on page 1of 150

Avaliando a Situação das

Crianças e das Mulheres


Angolanas no Início do Milénio

Relatório Analítico

k• •
"Ia

unicef ,4) República de Angola


Governo de Unidade e Reconciliaçad Nacion•
Instituto Nacional de Estatística
República de Angola
Governo de Unidade e Reconciliação Nacional
Instituto Nacional de Estatística

MICS
Inquérito de Indicadores Múltiplos

Avaliando a Situação das Crianças e das Mulheres


Angolanas no Início do Milénio

Relatório Analítico

unicef
,
....■••••■•■•■••■•

Reprodução autorizada, excepto para fins comerciais, com indicação de fonte bibliográfica
INE/UNICEF. Luanda, Angola, 2003
Os pontos de vista expressos nesta publicação são da responsabilidade dos autores e não reflectem
necessariamente a opinião do Instituto Nacional de Estatística.
. • . • • •
„ .•

„ •

••• '" ' .


,

••, •
Agradecimentos

INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL PELO INQUÉRITO

Instituto Nacional de Estatística (INE)

APOIO TÉCNICO

Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF

APOIO FINANCEIRO

Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional (USAID)


Office for Foreign Disaster Assistance (OFDA)
Instituto Nacional de Estatística (INE)
Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF

EQUIPA NACIONAL TÉCNICA E DE CO-ORDENAÇÃO

Kodi Samba -Coordenador Nacional- INE


Ana Paula Machado - INE
Walter Cavero - UNICEF
Jean Dupraz - UNICEF

ANÁLISE DOS RESULTADOS DO INQUÉRITO E ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO

Jean Dupraz (coordenador) - UNICEF


Ndola Prata - Consultora, Universidade de Berkeley, California
Kodi Samba - INE
Ana Paula Machado - INE
Lisa Chapman - Acção contra a Fome
Claudia Plock - Acção contra a Fome
Mary Daly - Fundo Cristão para a Infância (CCF)
Alan Cain - Development Workshop
Oscar Castillo- UNICEF
Abubacar Sultan - UNICEF
Jorge Mariscai - UNICEF
Patricia Fernandes - UNICEF

EDITORES

Patricia Fernandes UNICEF


James Elder - UNICEF

DESENHO GRÁFICO E FOTOGRAFIA

Giacomo Pirozzi
• -•
Índice

i Prefácio 13

ii Resumo dos Principais Indicadores 14

iii Metas e Objectivos Internacionais para as Mulheres e Crianças 17

iv Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 18

1 Âmbito do Inquérito 21

2 Medindo as Vulnerabilidades 23

3 Características Demográficas e dos Agregados Familiares 26

4 Mortalidade Infantil e de Menores de Cinco Anos 34

5 Malnutrição 40

6 Amamentação 49

7 lodização do Sal 54

8 Vitamina A 58

9 Malária 63

10 Doenças Diarreicas 67

11 Água, Saneamento e Higiene 70

12 Infecções Respiratórias Agudas 77

13 Cuidados Maternos 80

14 Vacinação 87

15 Poliomielite 93

16 Sarampo 96

17 Tétano Meterno e Neo-Natal 99

18 HIV e SIDA 101

19 Os Jovens e o HIV/SIDA 114

20 Contracepção 117

21 Educação Básica 120

22 Alfabetização 127

23 Crianças Órfãs e Separadas 131

24 Registo de Nascimento 135

25 Trabalho Infantil 139

Anexo - Metodologia 143

Bibliografia 148
Lista de Tabelas, Gráficos, Caixas e Mapas

1. Âmbito do Inquérito

Tabela 1.1 Amostra do inquérito e taxa de resposta
Mapa 1.1 As Seis Regiões do MICS

2. Medindo as Vulnerabilidades

Gráfico 2.1 Prevalência de nanismo por quintil sócio-económico


Gráfico 2.2 Mortalidade nas crianças com menos de cinco anos de acordo com o nível de
educação das mães
Gráfico 2.3 Proporção das crianças que frequentam o segundo nível da educação básica
segundo o quintil sócio-económico

3. Características Demográficas e dos Agregados Familiares

Tabela 3.1 Distribuição da população por idade, área de residência e índice de


masculinidade
Tabela 3.2 Tamanho dos agregados familiares segundo a área de residência
Tabela 3.3 Percentagem dos agregados familiares segundo os meios de transporte que
possuem
Gráfico 3.1 População total, por sexo e grupo etário, Angola 2001
Gráfico 3.2 Índice de masculinidade na população com uma idade compreendida entre os
O e os 50 anos de idade
Gráfico 3.3 Índice de masculinidade por Região
Gráfico 3.4 Percentagem dos agregados familiares com electricidade por Região
Gráfico 3.5 Percentagem dos agregados familiares com electricidade por quintil sócio-
económico
Mapa 3.1 Percentagem dos agregados familiares que possui um radio
Mapa 3.2 Percentagem dos agregados familiares que possui um aparelho de televisão

4. Mortalidade Infantil e de Menores de Cinco Anos

Tabela 4.1 Mortalidade infantil e mortalidade nas crianças menores de cinco anos,
Angola, 2001
Gráfico 4.1 Diferenciais de mortalidade de acordo com o nível de educação das mães
Gráfico 4.2 Mortalidade por quintil sócio-económico
Gráfico 4.3 Mortalidade por sexo
Gráfico 4.4 Mortalidade por área de residência
Mapa 4.1 Taxa de mortalidade de menores de cinco anos no mundo em 2001
Mapa 4.2 Taxa de mortalidade de menores de cinco anos em África em 2001

5. Malnutrição

Tabela 5.1 Prevalência de malnutrição do tipo nanismo, marasmo e insuficiência de peso
em crianças com menos de cinco anos, Angola, 2001

Gráfico 5.1 Prevalência de malnutrição crónica por grupo de idade
Gráfico 5.2 Prevalência de marasmo por grupo de idade
Gráfico 5.3 Prevalência de marasmo por Região
Gráfico 5.4 Prevalência da insufiência de peso por grupo de idade
Gráfico 5.5 Insuficiência de peso de acordo com o nível de educação das mães

Mapa 5.1 Prevalência do nanismo nas crianças com menos de cinco anos de idade

6. Amamentação

Tabela 6.1 Resumo dos indicadores de amamentação, Angola, 2001
Gráfico 6.1 Percentagem de crianças exclusivamente amamentadas por grupo etário
Gráfico 6.2 Indicadores de amamentação exclusiva por Região

7. lodização do Sal

Tabela 7.1 Percentagem de agregados familiares que consomem sal adequadamente


iodado
Mapa 7.1 Percentagem dos agregados familiares que consomem sal adequadamente
iodado

8. Vitamina A

Tabela 8.1 Percentagem de crianças que já receberam suplemento de vitamina A por


grupo etário e método de distribuição
Tabela 8.2 Suplemento de vitamina A de dose elevada em crianças dos 6 aos 59 meses
e mulheres dos 15 aos 49 anos
Gráfico 8.1 Percentagem das mães que receberam vitamina A de acordo com o quintil
sócio-económico dos agregados familiars
9. Malária

Gráfico 9.1 Prevalência da febre nas crianças por grupos etários


Gráfico 9.2 Percentagem das crianças com menos de cinco anos de idade e que usam
redes mosquiteiras (tratadas ou não) por quintil sócio-económico

10. Doenças Diarreicas



Gráfico 10.1 Prevalência da diarreia nas crianças por grupo etário

11. Água, Saneamento e Higiene

Tabela 11.1 Principais fontes de água para consumo doméstico (%), Angola, 2001
Gráfico 11.1 Fontes de água utilizadas pelos agregados familiares urbanos
Gráfico 11.2 Distância a que se situa a fonte de água dos domicílios nas zonas rurais
Gráfico 11.3 Distância a que se situa a fonte de água dos domicílios nas zonas urbanas
Gráfico 11.4 Tratamento dado às fezes pelos agregados familiares

12. Infecções Respiratórias Agudas

Gráfico 12.1 Proporção de crianças dos O aos 59 meses de idade com IRA observadas em
postos ou centros de saúde, por quintil sócio-económico

13. Cuidados Maternos

Tabela 13.1 Percentagem de mulheres dos 15 aos 49 anos cujos partos no último ano
foram assistidos por tipo de pessoal que prestou os cuidados pré-natais,
Angola, 2001
Tabela 13.2 Tipo de pessoal que assiste o parto: comparação entre 1996 e 2001 em áreas
urbanas
Tabela 13.3 Percentagem de mulheres de 15 a 49 anos que deram à luz no último ano por
tipo de pessoal que assistiu ao parto, Angola, 2001
Gráfico 13.1 Tipo de pessoal de saúde que presta cuidados pré-natais por quintil sócio-
económico
Gráfico 13.2 Proporção das mulheres que recebem cuidados pré-natais por parte de
parteiras tradicionais segundo o quintil sócio-económico
Gráfico 13.3 Tipo de pessoal que assiste as mulheres durante o parto segundo o nível de
instrução das mulheres

14. Vacinação

Tabela 14.1 Cobertura vacinai em crianças dos 12 aos 23 meses, Angola, 2001
Gráfico 14.1 Cobertura vacinai entre as crianças com 1 ano por quintil sócio-económico
Gráfico 14.2 Cobertura vacinai em crianças com 1 ano por nível de educação da mãe
Mapa 14.1 Cobertura vacinai total nas crianças de um ano de idade

15. Poliomielite

Tabela 15.1 Evolução do número de casos confirmados de poliovírus entre países que
registaram maior número de casos em 1999

16. Sarampo

Mapa 16.1 Cobertura vacinai contra o sarampo entre as crianças de um ano de idade

18. HIV e SIDA



Tabela 18.1 Resumo dos indicadores sobre HIV/SIDA
Gráfico 18.1 Percentagem das mulheres (15-49 anos) que conhecem as três principais
formas de prevenção do HIV por quintil sócio-económico
Gráfico 18.2 Percentagem das mulheres (15 -49) que identificam correctamente três
concepções erradas acerca do HIV/SIDA por nível de educação

Mapa 18.1 A Epidemia de HIV/SIDA: Velocidade à qual a epidemia se tem desenvolvido e
progredido na África sub-sariana
Mapa 18.2 Percentagem de mulheres (15-49 anos) que nunca ouviram falar de HIV/SIDA
Mapa 18.3 Proporção das mulheres que demonstram uma atitude discriminatória para
com pessoas que vivem com o HIV/SIDA

Caixa 1: Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGASS) sobre o
HIV/SIDA, Junho 2001
19. Os Jovens e o HIV/SIDA

Gráfico 19.1 Proporção da população dos 15 aos 49 anos com conhecimentos suficientes
sobre HIV/SIDA: disparidades entre os homens e as mulheres por faixa etária

20. Contracepção

Gráfico 20.1 Prevalência da contracepção de acordo com o nível de educação das


mulheres
Gráfico 20.2 Métodos contraceptivos utilizados pelas mulheres casadas (ou em união de
facto)

21. Educação Básica

Tabela 21.1 Proporção das crianças que ingressam na i a classe e atingem a 5a classe,
Angola, 2001
Tabela 21.2 Taxa líquida de escolarização, Angola 2001
Gráfico 21.1 Proporção de crianças frequentando os seis primeiros anos de escolaridade
por idades
Gráfico 21.2 Percentagem das crianças que frequentam os primeiros seis anos da
educação básica na idade recomendada
Gráfico 21.3 Classe Frequentada pelas crianças de 11 anos de idade
Gráfico 21.4 Frequência do ensino básico por quintil sócio-económico
Caixa 2: Despesas Públicas com o sector da Educação

22. Alfabetização

Tabela 22.1 Proporção da população com uma idade igual ou superior a 15 anos que sabe
ler e escrever, Angola, 2001
Gráfico 22.1 Taxa de alfabetização masculina de acordo com nível sócio-económico dos
agregados familiares
Gráfico 22.2 Taxa de alfabetização feminina de acordo com o nível sócio-económico dos
agregados familiares
Mapa 22.1 Taxa de alfabetização feminina

23. Crianças Órfãs e Separadas



Caixa 3: Órfãos e o impacto do HIV/SIDA

24. Registo de Nascimento



Percentagem das crianças registadas por idade e de acordo com o quintil
Gráfico 24.1
sócio-económico dos agregados familiares

Caixa 4: Campanha Gratuita de Registo de Nascimento 2001 — 2002

25. Trabalho Infantil



Tabela 25.1 Percentagem das crianças 5-14 anos presentemente a trabalhar, Angola, 2001
Gráfico 25.1 Comparação entre a proporção de crianças que frequentam a escola e
proporção de crianças que trabalham por quintil sócio-económico

Gráfico 25.2 Percentagem das crianças que trabalham por quintil sócio-económico

Anexo - Metodologia

Tabela i Tamanho da amostra dos conglomerados e agregados familiares, segundo a


área de residência
Mapa i Número de agregados familiares inquiridos por Região
Mapa ii Número de crianças e mulheres inquiridas por Região
Mapa iii Amostragem do inquérito MICS: comunas seleccionadas e inquiridas
Prefácio
O Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF) têm o prazer de apresentar a análise dos resultados do segundo Inquérito
de Indicadores Múltiplos (MIOS), que oferece uma visão global da situação sócio-
económica das crianças e mulheres angolanas no princípio do milénio, a nível
nacional e regional.

O MIOS foi levado a cabo em 2001, pelo INE como parte integrante do compromisso
do Governo Angolano em alcançar os objectivos de desenvolvimento, estabelecidos
para as mulheres e crianças pela comunidade internacional durante a Cimeira de
Desenvolvimento do Milénio e a Sessão Especial das Nações Unidas (UNGASS) para
a Infância de 2002.

Inquéritos de Indicadores Múltiplos foram efectuados entre 1999 e 2001, em 68


países no mundo, usando uma metodologia idêntica de forma a permitir
comparações entre países e um acompanhamento global do progresso feito em
relação à realização dos objectivos e metas de desenvolvimento estabelecidos para
as mulheres e crianças. Em Angola, a implementação do inquérito em 2001 constituiu
um verdadeiro desafio, especialmente no que diz respeito à fase da recolha dos
dados, que durou seis meses, de Abril a Outubro 2001 junto de 6,252 agregados
familiares na 18 províncias do País. Limitações do ponto de vista logístico e da
segurança, criaram algumas dificuldades de acesso especialmente a zonas rurais. É
desta forma importante tomar este facto em consideração quando se lêem os
resultados do inquérito.

O MIOS analisa 42 indicadores especificamente estabelecidos para avaliar a situação


das mulheres e das crianças em vários domínios, especificamente a saúde, nutrição,
água, saneamento, higiene, educação e protecção da criança. Pela primeira vez, em
Angola, o MIOS oferece também uma visão global dos conhecimentos e atitude da
população em relação ao HIV/SIDA. A análise que se segue encontra-se dividida, de
forma a tornar-se o mais clara possível, em 24 temas inter-relacionados, todos eles
tratando de aspectos cruciais para o bem-estar das mulheres e crianças.

A análise dos resultados do inquérito, nestas 24 áreas diferentes, chega num


momento oportuno na História angolana, de forma a melhorar as tomadas de decisão
nas áreas do planeamento, gestão e avaliação das políticas sociais, à medida em que
o país entra numa fase de reconstrução pós conflito. É neste contexto, que o MIOS
fornece dados de base vitais, colmatando as lacunas ainda existentes do ponto de
vista dos dados estatísticos nacionais, e capazes de informar as políticas sociais que
visam melhorar o bem-estar das mulheres e crianças, bem como da sociedade
angolana no seu todo.

Por último, queremos agradecer o generoso apoio financeiro da Agência dos Estados
Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e do Office for
Foreign Disaster Assistance (OFDA), sem o qual a realização deste precioso inquérito
não teria vindo à luz do dia.

Joaquim Flávio de Sous. outo Mario Ferrari


Director Geral Representante em Angola
Instituto Nacional de Estatística Fundo das Nações Unidas para a Infância
Tabela Resumo dos Indicadores MICS
»lição dos Indicadores Valor
indicadores
h

Probabilidade de morrer antes de atingir os cinco anos de idade 250 por 1000
Mortalidade das crianças menores de cinco anos

Probabilidade de morrer antes de atingir um ano de idade 150 por 1000


Taxa de mortalidade infantil

Prevalência de marasmo Proporção dos menores de cinco anos com um peso inferior ao recomendado
para a sua idade 31 por cento

Prevalência de nanismo Proporção dos menores de cinco anos com uma altura inferior à
recomendada para a sua idade 45 por cento

Prevalência para a insuficiência de peso Proporção dos menores de cinco anos com um peso inferior ao
recomendado para a sua altura 6 por cento

Proporção da população que usa água extraída de uma fonte segura 62 por cento
Uso de água segura para beber

Proporção da população que usa meios sanitários de tratamento das fezes 59 por cento
Uso de meios sanitários para o tratamento
das fezes

Crianças que atingem a 5a classe Proporção das crianças que iniciam a primeira classe e atingem a
quinta classe 76 por cento

Taxa líquida de escolarização Proporção das crianças em idade de frequentar o ensino primário e que
frequentam o ensino primário 56 por cento
(1° nível do ensino básico)

Taxa de alfabetização (total) Proporção da população com uma idade igual ou superior a 15 anos de
idade que sabem ler uma carta ou jornal 67 por cento

Taxa de alfabetização (masculina) Proporção de homens com uma idade igual ou superior a 15 anos de
idade que sabem ler uma carta ou jornal 82 por cento

Taxa de alfabetização (feminina) Proporção de mulheres com uma idade igual ou superior a 15 anos de
idade que sabem ler uma carta ou jornal 54 por cento

Desenvolvimento pré-escolar Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os 36 e os 59


meses de idade que frequentam um programa educacional organizado
7 por cento
para a primeira infância

Cuidados pré-natais Proporção de mulheres com uma idade compreendida entre os 15 e os


49 anos que foram vistas por pessoal médico qualificado pelo menos uma
66 por cento
vez durante a gravidez

Prevalência de contracepção Proporção de mulheres casadas com uma idade compreendida entre os
15 e os 49 anos que utilizam um método contraceptivo 6 por cento

Cuidados durante o parto Proporção de nascimentos (crianças nascidas vivas) assistidos por
profissionais de saúde qualificados 45 por cento

Proporção de agregados familiares que consomem sal adequadamente


Consumo de sal iodado 35 por cento
iodado

Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os 6 e os 59


Crianças que receberam um
suplemento de vitamina A meses que receberam um suplemento de vitamina A nos
31 por cento
últimos seis meses

Proporção de mães que deram à luz nos últimos doze meses e que receberam
Mães que receberam um suplemento
um suplemento de vitamina A antes da criança atingir a 8a semana 26 por cento
de vitamina A

Proporção de crianças com menos de 4 meses que são exclusivamente


Amamentação exclusiva 14 por cento
amamentadas

Taxa de alimentação complementar atempada Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os 6 e os 9
meses que recebem leite materno e alimentação complementar 77 por cento
Tabela Resumo dos Indicadores MICS
, ,Indicackm Definição dos indicadores Valor
- kw ,
Taxa de amamentação continuada Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os 12 a 15 89 por cento
meses e 20 a 23 meses que continuam a ser amamentadas (12-15)
37 por cento
(20-23)

Cobertura da vacinação DPT Proporção de crianças de um ano vacinadas contra a difteria,


tosse convulsa e tétano (três doses) 34 por cento

Cobertura da vacinação contra o sarampo Proporção de crianças de um ano vacinadas contra o sarampo 53 por cento

Cobertura da vacinação contra a pólio Proporção de crianças de um ano vacinadas contra a poliomielite (três doses) 63 por cento

Cobertura da vacinação contra a tuberculose Proporção de crianças de um ano vacinadas contra a tuberculose 69 por cento

Crianças protegidas contra o tétano neo-natal Proporção de crianças com um ano de idade protegidas contra o tétano
neo-natal através da vacinação da mãe 62 por cento

Gestão doméstica da diarreia Proporção de crianças com menos de cinco anos de idade que tiveram
diarreia nas últimas duas semanas, que receberam fluídos adicionais e que
continuaram a receber alimentos durante o episódio 7 por cento

Procura de cuidados apropriados para as Proporção de crianças com menos de cinco de idade que sofreram de IRAs
infecções respiratórias agudas (IRA) nas duas semanas prévias e que foram assistidas por pessoal
de saúde qualificado 58 por cento

Uso de mosquiteiros Proporção de crianças com menos de cinco anos que dormem sob uma
rede mosquiteira tratada com insecticida 2 por cento

Tratamento da malária Proporção de crianças com menos de cinco anos de idade que estiveram
doentes com febre nas duas semanas prévias e que receberam
medicamentos anti-paludicos 61 por cento

Conhecimentos sobre a prevenção do HIV/SIDA Proporção de mulheres que identificam correctamente os três
principais métodos de prevenção do HIV 17 por cento

Conhecimentos acerca de concepções Proporção de mulheres que identificam correctamente 3 concepções


erradas sobre o HIV/SIDA erradas sobre HIV/SIDA 14 por cento

Conhecimentos sobre transmissão de HIV Proporção de mulheres que identificam correctamente os meios de
mãe para filho transmissão do HIV de mãe para filho 29 por cento

Atitude para com pessoas com HIV/SIDA Proporção de mulheres que expressam uma atitude discriminatória para
com pessoas com HIV/SIDA 44 por cento

Mulheres que sabem onde obter um teste de HIV Proporção de mulheres que sabem onde obter um teste de HIV 23 por cento

Mulheres que efectuaram um teste de HIV Proporção de mulheres que efectuaram um teste de HIV 2 por cento

Registo de nascimento Proporção de crianças menores de cinco anos cujos nascimentos foram
comunicados e registados 29 por cento

Padrões de residência das crianças Proporção de crianças, em agregados familiares, com uma idade
compreendida entre os O e os 14 anos de idade que não vivem com um
dos seus progenitores 10 por cento

Órfãos em agregados familiares Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os O e os 14 1.3 por cento
anos de idade, que são órfãs vivendo em agregados familiares (ambos os pais)
11 por cento
(um ou ambos
os pais)

Trabalho Infantil Proporção de crianças com uma idade compreendida entre os 5 e os 14


anos que se encontram presentemente a trabalhar 30 por cento
Metas e Objectivos Internacionais
para as Crianças e Mulheres

Através de uma série de cimeiras, conferências e sessões gerais especiais das


Nações Unidas, a comunidade internacional desenvolveu um leque de metas e
objectivos para promover o bem-estar das crianças e das mulheres. O primeiro
destes acontecimentos foi a Cimeira Mundial da Infância, realizada em 1990, quando
os líderes mundiais se comprometeram a atingir 27 objectivos com o intuito de
melhorar a vida das crianças e das mulheres.

No princípio do milénio, o Secretário Geral das Nações Unidas informou a Assembleia


Geral sobre o progresso feito para alcançar estes objectivos, num relatório intitulado
"Nós as Crianças". Este relatório foi sobretudo baseado em informação recolhida a
nível mundial através de inquéritos levados a cabo junto dos agregados familiares, tal
como o MICS. No seu relatório, o Secretário Geral afirmou às crianças do mundo:
"Nós, os adultos falhámos de forma lamentável".

Durante a Cimeira do Milénio, levada a cabo em Nova Iorque em Setembro de 2000,


e na qual participaram 189 países, a comunidade internacional e o Governo Angolano
adoptoram uma declaração reiterando os objectivos e metas da Cimeira Mundial da
Infância e estabelecendo objectivos adicionais para serem atingidos até 2015 e de
forma a reflectir questões emergentes tais como o HIV/SIDA. Este conjunto de 8
objectivos e 18 metas foram aprovados por unanimidade e designados Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio (ODM).

Recentemente, Angola e a comunidade internacional reafirmaram o seu compromisso


para com as crianças e mulheres na Sessão Especial da Assembleia Geral das
Nações Unidas levada a cabo em Maio 2002. Durante esta sessão especial, as
nações participantes, reafirmaram a sua obrigação de agir de forma a promover e
proteger os direitos da criança, tal como se encontram definidos na Convenção dos
Direitos da Criança. As nações participantes reiteraram também o seu compromisso
em completar a agenda inacabada da Cimeira Mundial da Infância de forma a
construir uma base sólida que permita alcançar os ODM de 2015. O resultado do
documento da Sessão Especial "Um Mundo digno das Crianças", reiterou as
promessas feitas às crianças pelos governos e líderes mundiais sobretudo em quatro
áreas prioritárias: promover uma vida saudável, promover educação de qualidade,
proteger as crianças da exploração, abuso e violência e combater o HIV/SIDA. Para
cada uma destas áreas foi estabelecido um conjunto de objectivos e metas
específicas de acordo com os ODM.
Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
Objectivos e metas a alcançar até 2015

Objectivo 1: Erradicar a pobreza e a fome extremas


Meta 1: Reduzir para metade a proporção de pessoas que vivem com menos
de 1 US$ por dia.

Meta 2: Reduzir para metade a proporção de pessoas que sofrem de fome

Objectivo 2: Alcançar a educação primária universal

Meta 3: Assegurar que todos os rapazes e raparigas completem a educação


primária na sua totalidade

Objectivo 3: Promover a igualdade do género e os direitos das mulheres

Meta 4: Eliminar as disparidades do género na educação primária e secundária,


de preferência até 2005, e em todos os níveis de ensino até 2015

Objectivo 4: Reduzir a mortalidade infantil

Meta 5: Reduzir em dois terços a taxa de mortalidade das crianças menores de


cinco anos

Objectivo 5: Melhorar a saúde materna

Meta 6: Reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna

Objectivo 6: Combater o HIV/SIDA, malária e outras doenças

Meta 7: Parar e começar a reverter a tendência de propagação do HIV/SIDA

Meta 8: Parar e começar a reverter a tendência de propagação da malária e


outras doenças

Objectivo 7: Assegurar a sustentabilidade ambiental


Meta 9: Integrar os princípios de desenvolvimento sustentável nas políticas e
programas nacionais, reverter a tendência de perda de recursos
naturais

Meta 10: Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável
a água segura para beber

Meta 11: Garantir melhorias significativas na vida de pelo menos 100 milhões de
pessoas vivendo em zonas habitacionais degradadas até 2020

Objectivo 8: Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento


Meta 12: Continuar a desenvolver um sistema financeiro e comercial previsível,
baseado em regras e não discriminatório. Inclui um compromisso em
termos de boa administração, desenvolvimento e redução da pobreza
- tanto a nível nacional como internacional
Meta 13: Responder às necessidades especiais dos países em vias de
desenvolvimento. Isto inclui acesso livre de tarifas e quotas às
exportações provenientes destes países, alívio da dívida para os países
cuja dívida externa é muito elevada, cancelamento da dívida bilateral
oficial, assistência ao desenvolvimento mais generosa para os países
empenhados em assegurar a redução da pobreza

Meta 14: Responder às necessidades especiais dos países sem acesso


marítimo, bem como às dos pequenos estados-ilhas em vias de
desenvolvimento


Meta 15: Lidar de forma exaustiva com os problemas de dívida dos países em
vias de desenvolvimento tomando medidas nacionais e internacionais
para tornar a sua dívida sustentável a longo prazo

Meta 16: Em cooperação com os países em vias de desenvolvimento,


desenvolver formas de trabalho decentes e produtivas para os jovens

Meta 17: Em cooperação com as companhias farmacêuticas proporcionar


acesso a medicamentos essenciais em países em vias de
desenvolvimento


Meta 18: Em cooperação com o sector privado, tornar acessíveis os benefícios
das novas tecnologias, especialmente na área da informação e
comunicações

Correspondência entre os objectivos


"Mundo Digno das Crianças" e os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio

Objectivos do "Mundo Digno das Crianças" Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

Promover vidas saudáveis Objectivo 1: Pobreza e fome


Objectivo 4: Mortalidade Infantil
Objectivo 5: Saúde Materna
Objectivo 6: HIV/SIDA, malária e outras doenças
Objectivo 7: Sustentabilidade Ambiental

Promover uma educação de qualidade Objectivo 2: Educação primária universal


Objectivo 3: Igualdade de género e promoção
dos direitos das mulheres

Combater o HIV/SIDA Objectivo 6: HIV/SIDA, malária e outras doenças

Objectivo 3: Igualdade de género e promoção


dos direitos das mulheres

Protecção contra o abuso, Secção 6 da Declaração da Cimeira do


exploração e violência Milénio - Protegendo os mais Vulneráveis
Os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio e os
Resultados do MICS Angola em 2001

Metas Indicadores Valor

Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

Meta: Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, Prevalência da insuficiência de peso 31 por cento
a proporção de pessoas que sofrem de fome Prevalência de nanismo 45 por cento
Prevalência de marasmo 6 por cento

Objectivo 2: Atingir a educação primária universal

Meta: Assegurar que, até 2015, crianças em toda Taxa líquida de escolarização (educação primária) 56 por cento
a parte, tanto rapazes como raparigas, serão Crianças que atingem a 5a classe 76 por cento
capazes de completar a educação primária na Taxa de alfabetização (idades compreendidas entre os 71 por cento
sua totalidade 15 e os 24 anos)

Objectivo 3: Promover a igualdade de géneros e promover os direitos das mulheres

Meta: Eliminar as disparidades de género na Taxa de alfabetização masculina/feminina (idades 83 por cento/63 por cento
educação primária e secundária de preferência até compreendidas entre os 15 e os 24 anos)
2005 e em todos os níveis de educação até 2015 Taxa líquida escolarização referente ao ensino primário - 1° 55 por cento/56 por cento
nível do ensino básico (masculina/feminina)

Objectivo 4: Reduzir a mortalidade das crianças

Meta: Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a Mortalidade das crianças menores de cinco anos 250 por cada 1,000
mortalidade das crianças menores de cinco anos crianças nascidas vivas
Mortalidade Infantil 150 por cada 1,000
crianças nascidas vivas
Cobertura vacinai DPT 34 por cento
Cobertura vacinai contra o sarampo 53 por cento
Cobertura vacinai contra a poliomielite 63 por cento
Cobertura vacinai contra a tuberculose 69 por cento
Crianças protegidas contra o tétano neo-natal 62 por cento
Gestão doméstica dos episódios de diarreia 7 por cento

Objectivo 5: Melhorar a saúde materna

Meta: Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, Cuidados pré-natais 66 por cento
a taxa de mortalidade materna Cuidados durante o parto 45 por cento
Mães que recebem um suplemento de vitamina A 29 por cento

Objectivo 6: Combater o HIV/SIDA, malária e outras doenças

Meta: Ter reduzido para metade até 2015, a taxa de Conhecimentos sobre a prevenção do HIV/SIDA (população total) 20 por cento
propagação do HIV/SIDA e ter começado a inverter Conhecimentos sobre as concepções erradas acerca do 18 por cento
a tendência de propagação HIV/SIDA (população total)
Conhecimentos sobre a transmissão de mãe para filho 29 por cento
(população total)
Atitude para com pessoas com HIV/SIDA (população total) 45 por cento
Proporção da população com uma idade compreendida entre 2 por cento
os 15 e os 49 anos que efectuaram um teste de HIV
Proporção da população com uma idade compreendida entre 26 por cento
os 15 e os 49 anos que sabem onde obter um teste de HIV 6 por cento
Prevalência total de contracepção (população total)

Meta: Ter reduzido para metade, até 2015, a Uso de mosquiteiros 2 por cento
incidência da malária, e ter começado a inverter Tratamento da malária 61 por cento
a tendência de propagação da malária e
outras doenças

Objectivo 7: Assegurar a sustentabilidade ambiental

Meta: Reduzir para metade, até 2015, a proporção Uso de água segura para beber 62 por cento
de pessoas sem acesso a uma fonte sustentável
de água para beber
Meta: Até 2020, ter assegurado melhorias Uso de meios sanitários de tratamento das fezes 59 por cento
significativas nas vidas de, pelo menos, 100 milhões
de habitantes de zonas habitacionais degradadas
Âmbito do Inqué
Levado a cabo nas 18 Províncias do país, o WS abarcou 6,252 agregados familiares ou seja um
total de 29,811 pessoas. Cerca de dois terços da população foi inquirida nas áreas urbanas (66%) e
um terço nas áreas rurais (34%). Um total de 5,663 crianças com menos de cinco anos de idade e
7,089 mulheres com uma idade compreendida entre os 15 e os 49 anos responderam ao inquérito.
A taxa de resposta global foi boa, cerca de 94%. A recolha de dados no terreno teve lugar durante
um período de seis meses de Abril a Outubro 2001'.

Tabela 1.1: Amostra do inquérito e taxa de resposta


Área de Residência

Urbano Rural Total


Agregados Familiares
Número de agregados seleccionados 4,080 2,580 6,660
Número de agregados encontrados 4,056 2,568 6,624
Número de agregados inquiridos 3,852 2,400 6,252
Taxa de resposta (%) 95 93.5 94.4
Mulheres (15 a 49 anos)
Número total de mulheres em agregados 4,750 2,350 7,100
Número total de mulheres entrevistadas 4,745 2,344 7,089
Taxa de resposta (%) 99.9 99.7 99.8
Crianças (menos de 5 anos de idade)
Número total de crianças em agregados 3,693 1,974 5,667
Número total de crianças entrevistadas 3,689 1,974 5,663
Taxa de resposta (%) 99.9 100 99.9

Mapa 1.1: As Seis Regiões do MICS O inquérito fornece indicadores desagregados


a nível regional, rural e urbano. O país foi divido
em seis Regiões, cada uma das quais
constituída por 2, 3 ou 4 províncias:

• Região Capital:
Províncias de Luanda, Bengo, Kwanza Norte
e Cabinda
• Região Norte:

Províncias de Zaire, Uíge e Malanje


• Região Este:

Províncias de Lunda Norte, Lunda Sul e


Moxico

• Região Oeste:

Províncias de Benguela e Kwanza Sul

• Região Centro Sul:

Províncias de Huambo, Bié e Kuando


Kubango

• Região Sul:
Províncias de Namibe, Cunene e Huíla

cf. Metodologia em Anexo.


*111..
k‘..‘
O inquérito usou dois indicadores para medir o
nível de vulnerabilidade dos agregados familiares.

1. Quintil Sócio-Económico
arte-se do princípio que bens comuns

p se encontram em agregados familiares


de um nível sócio-económico similar, e
que os agregados familiares mais favorecidos
têm mais bens do que os mais vulneráveis.
Desta forma, o inquérito classifica os

agregados familiares angolanos de acordo


com um índice de bem-estar (relacionado
com os bens do agregado). Os agregados
familiares encontram-se assim divididos em 5 bens) enquanto o quinto grupo ou quinto
grupos iguais cada um representando 20% quintil representa os 20% em melhores
da população de acordo com critérios sócio- condições sócio-económicas (ou seja, os
económicos', O primeiro grupo ou primeiro que têm mais bens). O primeiro quintil é
quintil representa os 20% da população que referido como o mais vulnerável (ou mais
se encontram em piores condições sócio- pobre) e o quinto como o menos vulnerável
económicas (ou seja, os que têm menos (mais rico).

Gráfico 2.1: Prevalência de nanismo por quintil sócio-económico

60

50

40

30

20

10

1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

O inquérito revela que os agregados familiares sofrerem de nanismo do que as crianças


do quinto quintil apresentam sistematicamente pertencentes aos agregados mais favorecidos.
melhores condições de vida do que os É importante assinalar que mesmo entre os
agregados pertencentes ao 1° quintil, agregados do quinto quintil sócio-económico
indicando que a pobreza desempenha um os resultados obtidos pelo MIOS permanecem
papel fundamental em termos da preocupantes. Isto significa, provavelmente,
vulnerabilidade dos agregados familiares. Por que em Angola os ricos são em número tão
d in do a s vu lne ra bilida • e

exemplo, as crianças pertencentes ao primeiro reduzido que não chegam a ser relevantes do
quintil têm uma probabilidade 60% maior de ponto de vista estatístico. Por exemplo,

O índice de bem-estar foi criado com base nos seguintes critérios sócio-económicos: se algum membro do agregado
familiar possui radio, televisão, frigorífico, bicicleta, motorizada ou carro; se o domicílio tem electricidade; qual a fonte da
água consumida, qual o tipo de saneamento, quantos quartos e qual o tipo de material utilizado na construção do
domicílio. Para mais detalhes sobre a metodologia utilizada, cf. Filmar, D. e Prichett, L., 1998, Estimating wealth effects
without expenditure data -- or tears: An application to educatíonal enrolments in States of índia, Wodd Bank Policy Research
'

Working Paper No. 1994, Washington.


mesmo entre os agregados familiares mais nível de educação: aqueles que nunca
favorecidos, um terço das crianças sofre de frequentaram a escola (presumidos iletrados),
nanismo. Neste contexto, o uso das aqueles com educação primála e aqueles
expressões como "mais rico" não parecem ser com educação secundária e superior. O
adequadas. Na presente análise faz-se assim inquérito mostra que as crianças cujas mães
referência ao quinto quintil sócio-económico possuem educação secundária ou superior
como "mais favorecido" ou "menos vulnerável" são menos vulneráveis do que as crianças
e não como "mais rico". cujas mães não tiveram acesso à educação.
Por exemplo, uma criança cuja mãe é iletrada
2. Nível de educação tem uma probabilidade 60% maior de morrer
antes de atingir os cinco anos de idade do que
A população inquirida encontra-se também uma criança cuja mãe frequentou o ensino
dividida em três grupos, de acordo com o seu secundário ou superior.

Gráfico 2.2: Mortalidade nas crianças com menos de cinco anos de acordo
com o nível de educação das mães

(por 1, 000 crianças nascidas vivas)

300

250

200

150

100

50

Mães sem Mães c/ Mães c/


educação educação primária educação secundária

O inquérito revela que a vulnerabilidade relação, verificada em todo o inquérito, entre


económica dos agregados familiares afecta melhores resultados para os indicadores MIOS
fortemente a capacidade dos seus membros tanto para os agregados mais favorecidos
de acederem ao ensino. Por exemplo, as como para os mais educados, reflecte o facto
crianças do primeiro quintil frequentam o dos angolanos mais favorecidos serem
segundo nível da educação básica 16 vezes também aqueles com um maior acesso ao
menos do que as crianças mais favorecidas. A ensino e, portanto, os mais instruídos.

Gráfico 2.3: Proporção das crianças que frequentam o segundo nivel da


educação básica segundo o quintil sócio-económico

18
16
14
12
10
8
=/rr:_~=

6
4
2
44*.
• ...cor
-•

"a.

ticas De • "ficas
egados •
ir•

, • 41
" 4i;

4 fio. 4-Y
Demografia: características principais

• A população angolana é muito jovem: cerca de 50% dos Angolanos têm


menos de 15 anos de idade enquanto 60% têm menos de 18 anos de
idade.

• 93% da população tem menos de 50 anos de idade.

• A taxa de fecundidade é muito elevada: em média, 7 crianças nascidas


vivas por mulher

• A análise da estrutura populacional por idade e sexo revela um déficit


significativo de homens especialmente pronunciado nos grupos etários dos
20 aos 29 anos.

• O índice de masculinidade (ou relação de masculinidade) é de 91%: para


cada 100 mulheres angolanas existem em média 91 homens.

• A proporção da população urbana é de 66% e a da população rural de


34%, o que é quase o oposto da situação em meados dos anos 90.

• Aos 18 anos de idade um terço das mulheres angolanas já deram à luz e


aos 20 anos de idade, 68% já eram mães.

• A idade média ao primeiro casamento é de 21.4 anos para as mulheres e


24.7 anos para os homens.

• Apenas 6% da população usa métodos contraceptivos.

E
m Angola, a falta de dados cerca de 60% da população com menos de
demográficos fiáveis coloca sérias 18 anos de idade e uma elevada taxa de
dificuldades ao planeamento, gestão, fecundidade (7 crianças em média nascidas
acompanhamento e avaliação das políticas por mulher), o inquérito indica que Angola é
sócio-económicas. Uma vez que o último um país com uma população em
censo populacional foi levado a cabo em crescimento e que ainda não efectuou a
Angola em 1970, as estimativas populacionais transição demográfica. Os níveis de
deverão ser consideradas com cautela. A nível contracepção extremamente baixos (6%) e
nacional, estas são projectadas a partir do
aracte rísticas Demo • rádicas e dos Ag reg a. os anil ' are

censo de 1970 e de censos populacionais


parciais levados a cabo nas Províncias em
1983. Baseado nestes dados, o Instituto
Nacional de Estatística (INE) projectou uma
população de 13.8 milhões para 2001. Desde
o último censo, no entanto, cerca de 4 milhões
de pessoas encontraram-se internamente
deslocadas e mais de meio milhão refugiaram-
se nos países vizinhos. Para mais, a guerra e
o SIDA terão provavelmente afectado os
números totais da população angolana devido
ao seu impacto em termos de mortalidade.

Neste contexto, os dados do MIOS fornecem


um quadro actualizado das características
demográficas da população angolana. Com

uma elevada taxa de fecundidade entre as mães) são dois indicadores importantes que

adolescentes (antes dos 18 anos de idade confirmam que estamos, de facto, perante a

um terço das mulheres angolanas já são uma sociedade pré transicional.

Tabela 3.1: Distribuição da população por idade,


área de residência e índice de masculinidade

Percentagem total da população Índice de masculinidade

Grupo Etário (anos)


Oa 4 19 98
5a9 16 100
10 a 14 14 98
15 a 19 11 89
20 a 24 7 64
25 a 29 7 72
30 a 34 6 81
35 a 39 6 91
40 a 44 4 103
45 a 49 3 117
50 e acima 7 98

Urbana 66 92
Rural 34 90

Total 100 91


A pirâmide etária revela um perfil típico de ou superior a 40 anos. De facto, 85% da

uma população jovem com uma base larga população tem menos de 40 anos de

indicando uma taxa elevada de idade. A estrutura da pirâmide também

fecundidade, bem como um número indica um acentuado déficit de homens na

reduzido de pessoas com uma idade igual faixa etária dos 20 aos 29 anos.

Gráfico 3.1: População total, por sexo e grupo etário, Angola 2001

Masculino Feminino

Idade
aracterísticas Demog rádicas e dos A • re •ados Fam il iare

E 70+
65-69
60-64
II 55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
15-19
10-14
5-9
0-4

o Lr) o o Lr)

Percentagem Percentagem
índice de masculinidade, que mais pronunciado de homens nos grupos

O exprime o racio de homens para


cada 100 mulheres, indica um
pronunciado déficit de homens. A nível
etários 20 a 24 e 25 a 29. Nestes grupos
etários existem em média 68 homens para
cada 100 mulheres. O acentuado déficit de
nacional existem em média 91 homens homens na faixa etária dos 20 aos 29 anos
para cada 100 mulheres. Este racio é de idade pode também encontrar-se
característico dos países onde existiram relacionado com erros na declaração de
níveis importantes de emigração ou onde idade, uma vez que os homens jovens
ocorreu uma guerra. Em Angola, é provável podem ter receado que a informação
que o déficit de homens se encontre prestada pudesse ser utilizada para fins de
associado a uma mortalidade selectiva recenseamento militar. Apesar de menos
devida à guerra e à emigração masculina. significativo, existe ainda um déficit masculino
importante no grupo etário dos 30 aos 39.
O índice de masculinidade varia, de forma Observou-se o mesmo padrão no MIOS de
significativa, por faixa etária com um déficit 1996.

Gráfico 3.2: Índice de masculinidade na população com uma idade


compreendida entre os O e os 50 anos de idade

80

70

60

50

padrão segundo o qual existe um intensa para as áreas urbanas por razões
excesso de homens nas faixas económicas e um maior impacto da guerra
() etárias mais velhas, também nas áreas rurais.
registado pelo MIOS 1996, poderá ser
devido a informações incorrectas prestadas
pelas mulheres e homens mais velhos sobre
a idade, de forma a que os homens tendem
a sobrestimar a idade e as mulheres a a mi ¡a re
subestimá-la.
• emo • ra • loas e . os , • reg a • os

O MIOS indica que em 2001 66% dos


agregados residiam em áreas urbanas e 34%
em áreas rurais. Os padrões de residência
modificaram-se em relação aos observados
durante o MIOS de 1996, em que 42% da
população inquirida era urbana e 58% rural.
Isto reflecte sem dúvida os importantes
movimentos populacionais em direcção aos
centros urbanos entre 1996 e 2001. O índice
aractensti cas

de masculinidade é ligeiramente mais


elevado nas áreas urbanas (92%) do que nas
áreas rurais (90%), o que provavelmente
reflecte uma migração masculina mais
A estrutura populacional observada a nível em média apenas 55 homens de 20 a 24
nacional é semelhante em todas as Regiões. anos de idade para cada 100 mulheres no
Existem, no entanto, variações regionais a mesmo grupo de idade. Em comparação, na
nível do índice de masculinidade. Enquanto a Região Capital o índice de masculinidade
Região Capital tem um índice de para a mesma faixa etária é de 83%. Este
masculinidade mais elevado com uma resultado encontra-se provavelmente
proporção quase idêntica de homens e relacionado com um maior impacto da guerra
mulheres (99%), em todas as outras Regiões, na Região Centro Sul que inclui de facto as
o índice de masculinidade varia entre 86% no Províncias mais afectadas (Huambo, Bié e
Oeste e 93% no Norte. As variações são Kuando Kubango). Por sua vez, a proporção
particularmente importantes para a faixa etária relativamente maior de homens na Região
do 20 aos 24 anos de idade. Neste grupo Capital poderá dever-se mais uma vez à
etário, o déficit mais significativo é aquele migração económica em direcção à capital,
verificado na Região Centro Sul onde existem Luanda.

Gráfico 3.3: Índice de masculinidade por Região


•re •ados Fam i lia re

100

95

92%
aracte rísticas Demo! rádicas e •os

90 90%

85 _z-

80

75

Capital Norte Este Su l Centro Sul Oeste

30
Agregados Familiares: Principais Características

• O tamanho médio dos agregados familiares é de 4.8 pessoas.


• Os agregados familiares urbanos têm mais membros, em média 5.1,
comparado com 4.3 para os agregados familiares rurais.
• 82% dos agregados familiares têm pelo menos uma criança com menos de
15 anos de idade.
• 60% dos agregados familiares têm pelo menos uma criança com menos de
5 anos de idade.
• 27% dos agregados familiares angolanos são chefiados por mulheres.

• Mais de metade das mulheres chefes de agregados familiares não sabem ler
nem escrever
• 71% dos domicílios têm um pavimento de terra batida.

• 57% dos domicílios não têm quartos ou têm apenas um.

• 80% dos agregados familiares não têm electricidade.

• Apenas 38% dos agregados têm um radio e 14% uma televisão.

• As principais fontes de energia utilizadas pelos agregados para cozinhar são


a lenha (42%), o carvão (41%) e o gás (14%).

O inquérito indica que existem, em média,


têm 8 membros ou mais. O MIOS indica
4.8 membros por agregado familiar com os
um elevado nível de promiscuidade com
agregados urbanos sendo de tamanho
57% dos domicílios não tendo qualquer
ligeiramente superior aos agregados rurais.
quarto ou tendo somente um. A maioria
Cerca de 8% dos agregados familiares
das habitações (71 %) têm chão de terra
angolanos têm somente um membro, 26%
batida, enquanto chão de madeira ou
têm 2 ou 3 membros, 31% têm 4 ou 5
cimento se encontra em apenas 30% dos
membros, 21% têm 6 ou 7 membros e 14% domicílios.

Tabela 3.2: Tamanho dos


agregados familiares segundo
a área de residência

( % )

Urbano Rural Total

1 Indivíduo 7 10 8

2 - 3 Individuos 23 31 26
4 - 5 Individuos 31 31 31

6 - 7 Individuos 22 19 21

8 e mais individuos 17 8 14
com ligação à electricidade varia entre 33%
O MIOS indica que apenas 20% dos
nas Regiões Capital e Sul e 6% na Região
agregados familiares angolanos têm
electricidade. A percentagem das habitações Norte.

Gráfico 3.4: Percentagem dos agregados familiares


com electricidade por Região

35•

30

25
4
20

15

10

Este Centro Sul Norte


Sul Capital Oeste

e 21% respectivamente). É também de realçar


Existem variações significativas por quintil
que mesmo nos agregados mais favorecidos,
sócio-económico, sendo que nenhum dos
15% não têm acesso à electricidade. Por outro
agregados dos quintis sócio-económicos mais
lado ainda, o abastecimento de electricidade
baixos beneficia de electricidade. Mesmo entre
restringe-se às áreas urbanas onde 30% dos
o terceiro e quarto quintil a proporção dos
domicílios têm electricidade, em contraste com
agregados com uma ligação à rede de
somente 4% nas áreas rurais.
abastecimento de electricidade é diminuta (7%

Gráfico 3.5: Percentagem dos agregados familiares


com electricidade por quintil sócio-económico

85%
1 00

80

60

40
21%

7%
20 0% 0%

/,''/ AMEI
O
4° quintil 5° quintil
2° quintil 3° quintil
1° quintil

Centro Sul o uso de gás é praticamente nulo,


Em termos da fonte de energia utilizada pelos
sendo que o carvão e a lenha são utilizados
agregados familiares para cozinhar, o
de uma forma quase exclusiva. Apesar de na
inquérito indica que a grande maioria utiliza
Região Capital mais de metade dos
lenha e carvão (83%). O uso de gás é
agregados familiares utilizarem carvão e
limitado (14%), enquanto o uso de
lenha como fonte de energia para cozinhar
electricidade e combustível é marginal
(54%), o gás permanece importante, sendo
(menos de 3%). Nas Regiões Norte, Este e

utilizado por cerca de 40% dos agregados. O possuem um meio de transporte. O mais

uso de gás é também significativo nas Regiões frequentemente utilizado é a bicicleta (50%),
Sul e Oeste (27% e 23% respectivamente). seguindo-se o automóvel e a motorizada (33%).
Em termos dos bens dos agregados familiares, No que diz respeito aos meios de

o MIOS estabelece que 18% dos agregados informação, 38% dos agregados familiares

Tabela 3.3: Percentagem dos agregados familiares


segundo os meios de transporte que possuem
(%)

Agregados familiares Tipo de transporte


que possuem um meio Cavalo/
de transporte Bicicleta Motorizada Automóvel Carroça Burro Outros

Região
Capital 16 45 15 37 O O 3
Norte 13 66 19 12 1 O 2
Este 17 72 15 12 1 O O
Oeste 15 20 22 15 5 O 39
Sul 21 29 10 10 16 6 29
Centra Sul 30 70 17 7 3 1 3
Área de residência
Urbana 18 50 23 23 2 O 2
Rural 17 51 7 3 13 4 22
Total 18 50 17 16 6 2 9

possuem um rádio e 14% uma televisão. que possuem um rádio varia entre 25% para
Existem variações importantes por Região e a Região Este e 52% para a Região Capital.
quintil sócio-económico. A maior proporção Observam-se os mesmos padrões no que
de agregados familiares que possuem um diz respeito aos televisores, sendo que a
rádio ou uma televisão encontram-se nas maior proporção dos agregados que possuí
zonas urbanas das Regiões Capital, Oeste e um televisor se encontra na Região Capital
Sul. A proporção dos agregados familiares (28%) e a mais baixa na Região Norte (3%).

Mapa 3.1: Percentagem dos Mapa 3.2: Percentagem dos


agregados familiares que agregados familiares que
possui um rádio possui um aparelho de televisão

Região Norte
36% • os • • re • a • os ami 'a re

Região Este
25%
ara cterísticas Demo • ra dicas e

Região
Região Sul Centro Sul
36% 38%

Menos de 30% Menos de 10%

I I Entre 30% e 50% I I Entre 10% e 20%

I I Acima de 50% Acima de 20%


Menores de Cinco Mos
Indicadores

TEMA4

Mortalidade Infantil: Probabilidade de morrer entre o nascimento e exactamente um ano de
idade, por cada 1000 crianças nascidas vivas - 150
Mortalidade de
Menores de Cinco Anos: Probabilidade de morrer entre o nascimento e exactamente cinco anos de
idade, por cada 1000 crianças nascidas vivas - 250

taxa de mortalidade de menores de aniversário. A taxa de mortalidade registada


cinco anos (MM5) é o principal significa também que de 600,000 bébés
•ndicador utilizado para medir o nível e recém nascidos por ano, 90,000 não
taxa de mudança do bem estar das crianças. chegarão ao seu primeiro aniversário e
Este indicador é o resultado de uma 60,000 não chegarão ao seu quinto
variedade de "inputs": a saúde nutricional e aniversário. As principais causas de
os conhecimentos a nível de saúde das mortalidade em Angola são a malária,
mães, a disponibilidade e qualidade dos doenças diarreicas, infecções respiratórias
serviços de saúde infantis e maternais, o agudas bem como doenças preveníveis por
rendimento familiar e a disponibilidade de meio de vacina, em particular o sarampo',
comida a nível do agregado familiar, a sendo que a malnutrição se encontra
disponibilidade de água própria para implicada em metade destas mortes. A
consumo e saneamento adequado e grande maioria destas mortes poderia ser
finalmente a segurança do ambiente em que evitada uma vez que se encontram
vivem as crianças. Por outro lado, a MM5 relacionadas com doenças para as quais
mede um produto final do processo de existem intervenções rápidas e de baixo
desenvolvimento e não um "input" tal como a custo.
taxa de frequência escolar, que constitui
apenas um meio para atingir um fim. Por Quando se comparam os resultados de
outras palavras, este indicador apresenta um mortalidade do MICS 1996 com os
quadro mais preciso do estado de saúde das resultados de mortalidade do MICS 2001, a
crianças angolanas e da sociedade angolana taxa de mortalidade de menores de cinco
no seu todo. anos decresceu de 271 para 250, tendo a
mortalidade infantil diminuído de 166 para
O MIOS revela níveis alarmantes de 150 (por cada mil crianças nascidas vivas).
mortalidade das crianças. Com efeito, o Estas variações não mostram, no entanto,
inquérito indica que Angola tem um dos níveis modificações significativas na probabilidade
mais elevados de mortalidade no mundo. A de morte das crianças. A falta de
mortalidade infantil (MI) é estimada a nível progressos substanciais na redução da
nacional em 150 mortes por 1,000 crianças mortalidade reflecte os sérios problemas
nascidas vivas, e a mortalidade de menores humanitários que afectam uma grande parte
Morta lidade Infantil e de Menores de Cinco Anos

de cinco anos em 250 óbitos por 1,000 da população angolana, a falta de impacto
crianças nascidas vivas. Isto significa que em das intervenções na área da saúde e
Angola, actualmente, uma em cada quatro o investimento público insuficiente nos
crianças não atingirá o seu quinto sectores sociais'.

' Apesar de não existirem dados fiáveis sobre as principais causas da mortalidade das crianças em Angola, os dados do
Ministério da Saúde mostram que de entre as causas de mortalidade registadas a nível dos serviços nacionais de saúde
em 2000, a malária era sem dúvida a mais importante (76%) seguindo-se as infecções respiratórias agudas (7%) e as
doenças diarreicas (7%).

De acordo com o estudo de 2002 sobre o Financiamento Público dos Sectores Sociais em Angola, realizado
conjuntamente pelo Ministério das Finanças e pelas Nações Unidas, Angola é, de todos os países da Comunidade para
o Desenvolvimento da África Austral (SADO), o que despende o mais baixo montante em educação e saúde. A parcela
de recursos gastos em cuidados primários de saúde, educação primária e água e saneamento básico foi, em média, 3.2%
da despesa total do Estado entre 1997 e 2001, tendo atingido o máximo de 6% em 2001. Em média, 4.7% da despesa
nacional entre 1997 e 2001 foi gasta em educação, comparativamente a 16.7% nos 14 países da SADC. No mesmo
período, gastou-se em saúde 3.3%, em comparação com 7.2% nos membros da SADC.
Nota metodológica

Foram inquiridas mulheres em idade fértil (15-49 anos) em relação ao número


de filhos que tiveram e ao número de filhos sobreviventes. A partir destas
declarações, fez-se uma estimativa indirecta da mortalidade infantil e da
mortalidade de menores de cinco anos utilizando a técnica de Brass
modificada por Coale e Demeny (modelo para o Sul).

Os dados mais consistentes para se estimar a mortalidade em crianças são


obtidos a partir das declarações de mulheres com 20-34 anos, o que significa
que as estimativas de mortalidade do MICS de 1996 correspondiam a 1991, e
as do MICS de 2001 a 1996. As declarações de mulheres mais jovens, com 15-
19 anos, que se aproximam das estimativas de mortalidade para o ano 2000,
não se utilizam nesta análise em virtude de este grupo etário ter uma taxa de
natalidade mais baixa e maiores riscos passíveis de distorcerem os resultados.

Tal como acontece com outras variáveis demográficas, as estimativas de


mortalidade estão sujeitas a erros cometidos nas declarações das mulheres
inquiridas. A sua fiabilidade depende do nível de omissão das crianças que
vieram a falecer pouco depois de nascerem, em particular quando tal sucedeu
muito tempo antes do inquérito. Para evitar estas omissões, a metodologia
utilizada incluiu perguntas adicionais de verificação das declarações das
mães, o que aumenta a fiabilidade dos dados.

Mapa 4.1 Taxa de mortalidade de menores de cinco anos no mundo em 2001

tfr
inco An.
orta li.a •e n anta e .e enores de

Legenda
(por 1,000 crianças nascidas vivas)

Menos de 50
Entre 50 e 149
Entre 150 e 249
250 e acima
Sem dados

Fonte: State of the World's Children 2003, UNICH-


Mapa 4.2: Taxa de mortalidade de menores de cinco anos em África em 2001

Westem
Sahara

Xtt.
pe Verde
GA>

Guinea Bissau

Bera
Leone

Equatorial
Sao Tome & Princip

Legenda
O Seychelles

(por 1,000 crianças nascidas vivas)


Menos de 50
Entre 50 e 149
Entre 150 e 249
250 e acima
Sem dados Mauritius

(5)

Fonte: State of the World's Children 2003, UNICEF

nível de educação alcançado pela têm uma probabilidade 62% menor de morrer

O mãe é a característica que


proporciona o maior diferencial no
risco de mortalidade infantil e de menores de
antes do seu quinto aniversário, sendo a sua
probabilidade de morrer no primeiro ano de
vida 40% inferior à das crianças cujas mães
cinco anos. Crianças cujas mães tenham não têm qualquer nível de instrução.
frequentado o ensino secundário e superior

Gráfico 4.1: Diferenciais de mortalidade de acordo


com o nível de educação das mães

300

275
-'1

250

200
• L-

150 162
•-

100
-
orta idade Int - ntil

50

MI MM5

Nenhum Primário Secundário e superior


O nível sócio-económico do agregado crianças dos agregados familiares mais
familiar tem uma importância significativa na vulneráveis (primeiro quintil) têm uma
mortalidade das crianças angolanas. A probabilidade de morrer antes de
mortalidade tende assim a diminuir completarem os cinco anos 40% superior à
proporcionalmente à vulnerabilidade sócio- dos agregados familiares mais favorecidos
económica dos agregados familiares. As (quinto quintil).

Gráfico 4.2: Mortalidade por quintil sócio-económico

350
288
300

250

200 9n5

150
• 167

155 155
141
6129
100

50

1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

MI -- MM5

Os rapazes têm uma probabilidade de morrer observada nos outros países. No entanto, entre
no seu primeiro ano de vida 8% superior à das as crianças de 1 a 4 anos de idade, os rapazes
raparigas, situação que é semelhante à estão ainda em maior risco o que não é usual.

Gráfico 4.3: Mortalidade por sexo

300

250

200

150

100

50
inco Ano

MI MM5

■ Masculino Feminino
.Iida de In fantil e de Menores de

Nota-se ainda que as zonas rurais parte da população nestas áreas


demonstram uma mortalidade um pouco sobrelotadas.
mais elevada do que as zonas urbanas. Esta
diferença é muito pequena quando O mais baixo risco em termos de mortalidade
comparada com a que se observa em outros de menores de cinco anos encontra-se na
países, e reflecte provavelmente a Região Sul, onde é cerca de 30% inferior ao
movimentação massiva da população rural da média nacional. Na Região Centro Sul
para áreas urbanas, bem como as existe também um risco superior à média
deficientes condições de vida de grande nacional. O mais elevado risco de

Gráfico 4.4: Mortalidade por área de residência

VIAI31
300

250

200

150

100

50


MI MM5

■ Urbana Rural

mortalidade de menores de cinco anos o menor risco de mortalidade na Região Este.

ocorre na Região Oeste, onde é 64% mais As Regiões da Capital e do Norte têm cifras

elevado que o da Região Sul e 26% mais intermédias quando comparadas com a

elevado que a média nacional. É de assinalar média nacional e com outras Regiões.

Tabela 4.1: Mortalidade infantil e mortalidade nas crianças menores de cinco


anos (por cada 1,000 crianças nascidas vivas), Angola, 2001

Mortalidade Infantil Mortalidade de Menores


de Cinco Anos

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 167 288
Segundo 155 261
Terceiro 155 260
Quarto 141 230
Quinto 129 205

Sexo
Masculino 157 265
Feminino 143 234

Nível de Educação das mães


Nenhum 162 275
Primária 148 245
Morta lidade Infant il e de Meno res de Cinco Anos

Secundária e superior 116 170

Região
Capital 150 250
Norte 156 262
Este 135 217
Oeste 181 315
Sul 123 192
Centro Sul 162 277

Área de residência
Urbana 148 245
Rural 155 260

Total 150 250


\~\':~i~

~i11: .H. ~'~ _.....,


risco de mortalidade de crianças com
Indicadores

Altura por idade: também designado


O menos de 5 anos de idade devido a
infecções aumenta 2.5 vezes em
caso de malnutrição ligeira, 4.5 vezes em caso
nanismo ou malnutrição crónica. Este de malnutrição moderada, e 8 vezes em caso
de malnutrição aguda. A malnutrição está de
indicador manifesta um retardamento
alguma forma presente na morte de metade
no crescimento, como resultado de
das crianças com menos de cinco anos'. Em
dieta deficiente e/ou doença por crianças, as causas de malnutrição estão inter-
período prolongado. Trata-se da relacionadas e são complexas, havendo uma
proporção de menores de cinco anos forte relação sinérgica entre a malnutdção e
que se situam entre menos 2 e menos uma saúde deficiente. A interacção entre um
consumo dietético inadequado e a doença
3 desvios padrão da altura média para
leva a uma maior morbilidade e mortalidade.
a idade (população de referência Por sua vez, um consumo dietético
NCHS/OMS) - 45% inadequado e doenças são causados por um
insuficiente acesso a alimentos, práticas
Peso por altura: também designado de cuidados materno-infantis inadequadas,
marasmo ou malnutrição aguda. Este insuficiente acesso a água e saneamento
indicador indica uma perda recente seguros, bem como deficientes cuidados de
de peso como resultado de uma saúde. Estas causas subjacentes são
consequência da disponibilidade, uso e
doença grave ou falta de alimentação.
controlo de vários recursos.
É principalmente utilizado em
A malnutrição coloca a criança em risco de
situações de emergência, uma vez
entrar na espiral descendente de malnutrição/
que reflecte a situação nutricional no infecção. Um insuficiente consumo dietético
momento. Trata-se da proporção de leva a uma imuno-deficiência semelhante à
menores de cinco anos que ficam provocada pelo HIV e sub-sequentemente a
menos 2 e menos 3 desvios padrão uma maior susceptibilidade a infecções, e
abaixo do peso médio para a sua estas, por sua vez, a uma posterior redução no
consumo de nutrientes. Em consequência, a
altura (população de referência
criança sofre de infecções frequentes, que se
NCHS/OMS) - 6% tomam progressivamente mais graves e mais
duradoiras. A criança não consegue voltar a
Peso por idade: também referido ganhar o peso perdido durante uma infecção
como insuficiência de peso. Este antes do início da seguinte, aumentando por
indicador é uma combinação dos dois isso a probabilidade de morte.
índices anteriores (altura/idade e Foram usados três indicadores antropométricos
peso/altura) e reflecte a situação diferentes no MIOS: prevalência de nanismo
nutricional geral de uma criança, sem (altura para idade), prevalência de marasmo
tomar em consideração que a criança (peso por altura) e insuficiência de peso (peso
por idade).
pode ser baixa ou magra. É
principalmente usado em programas
nacionais de saúde, como por
exemplo em Centros Materno-
Infantis. Trata-se da proporção de
menores de cinco anos que se situam
abaixo de menos 2 e abaixo de
menos 3 desvios padrão do peso
médio para a sua idade (população de
referência NCHS/OMS) - 31%

Pelletier, et al., 1994.


Nota Metodológica
De todas as crianças com idades (nanismo e insuficiência de peso) podem ficar
compreendidas entre O e 59 meses comprometidos em casos em que é difícil
encontradas nos agregados familiares verificar a idade de uma criança por falta de
seleccionados, foram medidas e pesadas documentação.
5,127 crianças com menos de 5 anos, isto é,
mais de 90% das crianças encontradas, A Para calcular o estatuto nutricional de crianças
distribuição de crianças pesquisadas em angolanas, os dados antropométricos do MICS
diferentes grupos etários corresponde à foram comparados a uma população
distribuição geralmente encontrada em internacional de referência, usando referências
populações de países em vias de do Centro Nacional de Estatística de Saúde/do
desenvolvimento. Centro de Controlo de Doenças/Referências
Internacionais de Crescimento da Organização
As variáveis antropométricas foram obtidas da Mundial de Saúde. (NCHS, 1977). Estas
seguinte forma: referências de crescimento indicam a atura que
uma criança deve ter atingido numa certa
Idade: sempre que possível, foi usada como idade, o peso que deve ter, e o peso que deve
referência a documentação disponível, como apresentar para uma certa altura, oferecendo
por exemplo certidões de nascimento ou assim um instrumento de comparação.
cartões de vacinação. Nos casos em que não
havia nenhuma documentação disponível, A expressão em z-scores ( ou seja, o número
usou-se um Calendário de Acontecimentos exacto de desvios-padrão da mediana) é usado
para calcular a idade. na análise, uma vez que toma em consideração
tanto o peso mediano como o desvio-padrão
Peso: usou-se a Balança Electrónica 890 do da distribuição da população de referência.
UNICEF para obter o peso das crianças. O Esta expressão proporciona uma estimativa
encarregado e a criança foram pesados em más exacta do estatuto nutricional do que
conjunto, e depois o encarregado sozinho. qualquer outra expressão, como por exemplo a
Posteriormente o peso deste último foi percentagem da mediana e os percentis,
deduzido do peso total para obter o da criança. possuindo propriedades estatísticas que
permitem uma comparação de dados
Altura: Usou-se uma régua de medição nutdcionais.
standard do UNICEF para medir a atura. As
crianças com menos de 85cm foram medidas São definidos 5 níveis de malnutrição para os 3
deitadas, e as que tinham esta altura ou mais indicadores usados no MIOS ( ou seja nanismo,
foram medidas de. pé. marasmo e prevalência de insuficiência de
peso):
Não se registou a presença de edemas entre
as crianças, facto que pode comprometer a • Ausência de Malnutrição: -1 z-score
análise dos dados antropométricos, pois o • Malnutrição Ligeira: -2 z-score a < -1 z-score
edema bilateral é um indicador de Kwashiorkor. • Malnutrição Moderada: -3 z-score a < -2 z-score
As crianças que apresentam um edema • Malnutrição Aguda: < -3 z-score
bilateral são consideradas como tendo uma • Malnutrição Global: < -2 z-score
malnutrição aguda, independentemente dos
seus índices antropométricos. O edema é A combinação da Malnutrição Moderada e
causado pela retenção de água e sódio nos Malnutrição Aguda é geralmente designada
espaços extracelulares, e pode representar 5% Malnutrição Global ( ou seja, crianças cujos z-
e 15% do peso corporal. A presença do edema scores se situam a 2 ou mais desvios-padrão
está estreitamente associada a um maior risco da mediana da população de referência).
de mortalidade. Dado que o peso da criança Esta análise centra-se na malnutdção global,
pode ser influenciado pela presença de edema moderada e aguda, uma vez que a malnutrição
bilateral, os indicadores do peso por altura e ligeira é de menor importância e pertinência
peso por idade podem não reflectir a sua real para o estudo.
situação nutricional.
Os dados antropométricos foram analisados
Os indicadores que se servem da idade usando ó software SPSS e EPIINFO/EPINUT.
Nível de gravidade de malnutrição entre as crianças angolanas

p
ara determinar a gravidade da crianças angolanas no período entre 1996 e
malnutrição numa determinada 2001. A prevalência de malnutrição do tipo
população, a OMS estabeleceu níveis- nanismo e a insuficiência de peso situam-se
limite internacionais, expressos em ainda num nível muito elevado, embora a
percentagem da prevalência de malnutrição. A malnutrição do tipo marasmo se mantenha
gravidade da malnutrição foi classificada em 4 num nível médio. Este elevado nível de
níveis, do baixo ao muito alto. Quando se usa malnutrição tem enormes consequências do
esta classificação como referência, nota-se ponto de vista social e económico e constitui
que não houve nenhuma melhoria substancial um dos principais desafios em termos de
na prevalência de malnutrição entre as intervenções de saúde pública em Angola.

Classificação da OMS por Nível de Prevalência de Malnutrição (%)


Baixo Médio Elevado Muito Alto

Prevalência de Nanismo < 20 20-30 30-40 > 40


Prevalência de Marasmo <5 5-10 10-15 > 15
Prevalência de Insuficiência de Peso <10 10-20 20-30 > 30

Comparação da Prevalência Malnutrição em Angola entre 1996 e 2001

Angola 2001 Angola 1996

Prevalência de Nanismo 45% 53%


Prevalência de Marasmo 6% 6%
Prevalência de Insuficiência de Peso 31% 42%

Prevalência de Nanismo (Malnutrição Crónica)

D
efinida com base no rácio altura por uma vez que só pode ocorrer em
idade, o nanismo, ou malnutrição consequência de uma melhoria substancial
crónica, refere-se à malnutrição das condições e qualidade de vida da
resultante de distorções acumuladas no criança. Para mais, o nanismo encontra-se
estatuto nutricional da criança. O processo estreitamente relacionado com um
de nanismo tem início no útero e continua desenvolvimento mental deficiente.
depois do nascimento durante os três
primeiros anos de vida. Considera-se que Indicando 45% de prevalência de nanismo,
as crianças padecem de malnutrição o MIOS revelou que quase uma em cada
crónica por razões ambientais. No entanto, duas crianças angolanas sofre de
em muitas crianças, o nanismo deve-se a malnutrição crónica. A prevalência de
inadequadas práticas de desmame, nanismo em Angola é maior que a média
infecções repetidas e dieta deficiente. O registada em crianças de países da África
nanismo é um bom indicador do bem-estar sub-sariana, estimada em 40%, em 2001.
geral de uma população, uma vez que Usando a classificação da OMS como
reflecte o contexto estrutural que envolve a referência, Angola estava, em 2001, entre
malnutrição. Apesar de ser possível haver os 11 países africanos com uma muito
algum crescimento de compensação, a elevada prevalência de nanismo (acima de
,
mr=rwr

recuperação total é geralmente muito difícil 40%)2 .


.

2 cf, State of the Wortd's Children 2003, UNICEF.


O nanismo, tanto para as taxas de Contudo, com o aumento da idade alimentos
malnutrição crónica global como aguda, inadequados de subsituição do leite materno
aumenta com a idade até aos 12-23 meses. são introduzidos que têm como consequência
A partir do 24° mês em diante permanece a directa o crescimento deficiente. Na ausência
um nível estável. Este padrão explica-se pelo de uma alimentação adequada, a acumulação
facto de durante os primeiros meses de vida de défices por um período alargado resultará
as necessidades nutricionais da criança em crianças com uma altura inferior à
poderem ser satisfeitas com o leite materno. recomendada para a sua idade.

Gráfico 5.1: Prevalência de malnutrição crónica por grupo de idade

60

50 -

40 -

30 -

20 _

10-

0

Menos de 6-11 12-23 24-35 36-47 48-59
6 meses meses meses meses meses meses

s crianças do sexo masculino


padecem ligeiramente mais de
anismo do que as crianças do sexo
feminino (48% contra 43%), o que revela a
ausência de práticas discriminatórias no
acesso aos alimentos pelas raparigas. Esta
diferença pode dever-se também ao facto de
os rapazes terem necessidades mais elevadas
de certos micro-nutrientes, tais como o zinco,
e de serem portanto mais susceptíveis às
deficiências deste micro-nutriente.

As crianças que vivem em zonas rurais


apresentam uma maior prevalência de
nanismo do que as que vivem em áreas
urbanas, o que se explica pelas diferenças
na disponibilidade de alimentos (43% contra
50%), bem como por uma alimentação
pouco variada e um menor acesso a
serviços.

A maior prevalência de nanismo regista-se na


Região Centro Sul (55%), que inclui as
províncias mais afectadas pela guerra. A
prevalência de nanismo na Região Sul é
também muito elevada, com 53% registados.
A taxa de prevalência mais baixa verifica-se
na Região da Capital (35%) enquanto que
outras Regiões registaram uma prevalência
entre os 39% e 45%.
Mapa 5.1:
Prevalência do nanismo nas crianças com menos de cinco anos de idade

Região Norte
45%

Região
Capital
35%
Menos de 36%

Entre 36% e 50%


Região Região Este
Oeste 39%
Acima de 50% 41%

Região
Centro Sul
55%

Conforme se esperava, a prevalência de diferença entre primeiro e quinto quintis já são


nanismo decresce à medida que aumenta o
da ordem dos 37%. Estes resultados reflectem
nível sócio-económico dos agregados familiares
o estado nutricional pobre da grande maioria da
e o nível de instrução das mães. Nota-se, no
população angolana. Observa-se o mesmo
entanto, que é apenas nos agregados sócio-
padrão em relação aos níveis de educação,
económicos menos vulneráveis (quintil sócio-
sendo que a prevalência de nanismo varia entre
económico) que a prevalência de nanismo é
50% nas crianças cujas mães não sabem nem
significativamente mais baixa. Enquanto a
ler, nem escrever e 33% nas crianças cujas
prevalência de nanismo é apenas 13% mais
mães possuem educação secundária ou
baixa no quarto do que primeiro quintil, a superior.

Prevalência de Marasmo (Malnutrição Aguda)

3
efinida com base no rácio peso por
com a morbilidade e mortalidade. Por
altura, o marasmo ou malnutrição
exemplo, crianças com malnutrição aguda
aguda refere-se à malnutrição
têm uma probabilidade 20 a 40 vezes maior
resultante da perda excessiva de peso
de morrerem durante um episódio de diarreia
verificada num período recente devido a
persistente, e 4 a 10 vezes maior de
doença grave ou falta de comida. Este
morrerem com diarreia aguda.
indicador é extremamente dinâmico uma vez
que é muito sensível a variações sazonais e A prevalência da malnutrição aguda aumenta de
a transformações que possam ocorrer no forma progressiva durante os dois primeiros
ambiente da criança. Com 6% de anos de vida e decresce somente depois dos
prevalência, a gravidade de marasmo entre 35 meses de idade, o que se explica devido às
crianças angolanas pode ser considerada práticas inadequadas de amamentação e
média de acordo com os níveis-limite da alimentação das crianças em Angola. O leite
OMS. Não ocorreu nenhuma melhoria desde materno é complementado, ou mesmo
1996, altura em que o MIOS também substituído, por alimentos de teor nutricional
registou uma prevalência de marasmo de 6% inadequado, geralmente a uma idade
a nível nacional. demasiadamente jovem. Com o abandono
precoce do leite materno, as defesas
A prevalência de marasmo, embora não
imunológicas adquiridas passivamente declinam
atinja as proporções do nanismo e da
progressivamente e numa idade em que as
insuficiência de peso, é suficientemente
crianças entram cada vez mais em contacto
elevada para constituir uma preocupação de
umas com as outras começam a consumir
saúde pública, dada a sua estreita relação
alimentos preparados em más condições de
adultos, sendo que requerem uma alimentação
higiene. Ao mesmo tempo, as necessidades
regular com alimentos preparados em boas
alimentares das crianças (proporcionalmente à
sua altura e peso) são mais elevadas do que nos condições de higiene.

Gráfico 5.2: Prevalência de marasmo por grupo de idade

14

12-

1 0-

24-35 36-47 48-59


Menos de 6-11 12-23 meses meses meses
6 meses meses meses

Arn
Não há diferenças significativas entre a
o ler as taxas de prevalência da
prevalência de marasmo em rapazes e
malnutrição aguda, em particular de
raparigas por área de residência. A prevalência
alnutrição aguda grave, referidas pelo
diminui proporcionalmente ao aumento do bem
MIOS devem ter-se em atenção os seguintes
estar sócio-económico e nível de instrução.
factores. Em primeiro lugar, o inquérito não
Contudo, mesmo entre as pessoas com um
permitiu atingir crianças localizadas em zonas
índice mais elevado de bem-estar ou maior
de difícil acesso, não reflectindo por isso as
nível de instrução, as taxas de malnutrição
emergências nutricionais que ocorreram ao
aguda mantêm-se relativamente elevadas (5%),
longo de 2001 nas zonas mais afectadas pela
o que reflecte hábitos alimentares inadequados.
guerra, onde as taxas de prevalência de
marasmo, de mais de 20%, eram registadas de
Em termos de distribuição geográfica, a Região
forma comum entre crianças que frequentavam
Oeste apresenta as taxas mais elevadas de
os Centros de Alimentação Terapêutica. Em
marasmo. Infelizmente, não é possível fazer-se
segundo lugar, os dados antropométricos do
uma análise por Região de acordo com o
MIOS foram recolhidos num período que
calendário agrícola, uma vez que o
coincidiu com a época de colheita e pós-
levantamento nas diferentes províncias que
colheita (Abril-Setembro de 2001), altura em
constituem uma Região se realizou em
que havia uma maior disponibilidade de
alimentos na maior parte das províncias. diferentes períodos.

Gráfico 5.3: Prevalência de marasmo por Região

10

6
/-7

Capital Sul Este Norte Centro


Oeste Sul
Prevalência da Insuficiência de Peso
insuficiência de peso reflecte, do mesmo À semelhança do que acontece com o
modo que o nanismo, os défices nanismo e o marasmo, o nível de
utricionais e de saúde que afectaram a insuficiência de peso por grupo etário é
população no passado. Este índice representa a maior entre os 12 e os 23 meses,
massa corporal em relação à idade, sendo um decrescendo lentamente até a um nível de
composto de nanismo e marasmo. Com uma malnutrição que se pode ainda considerar
prevalência de 31%, a gravidade da insuficiência elevado. Os rapazes têm também uma
de peso em crianças angolanas é muito elevada insuficiência de peso ligeiramente maior do
de acordo com os níveis limite da OMS, sendo que as raparigas. As crianças das zonas
ligeiramente mais elevada do que a média em rurais mostram uma prevalência ligeiramente
crianças de países da África sub-sariana, maior do que as das zonas urbanas (32%
estimada em 29%, em 2001 3. contra 30%).

Gráfico 5.4: Prevalência da insufiência da peso por grupo de idade

50

42%
40
34%
30%
30
29%
29%

20 -

10 -
9%

Menos de 6 6 11 12 23
- - 24 35- 36-47 48-59
meses meses meses meses meses meses

Tal como para o nanismo e marasmo, a Em países em vias de desenvolvimento, a


insuficiência de peso decresce educação das mulheres contribui até 43% para
proporcionalmente ao aumento do nível de os factores subjacentes à malnutrição 4 . Isto é
instrução da mãe. O MIOS mostrou que as particularmente importante se considerarmos
crianças cujas mães não são instruídas são que 35% das mulheres inquiridas não
70% mais propensas a insuficiência de peso, possuíam nenhum grau de instrução, e 52%
53% sofrem de nanismo, e 40% de marasmo. tinham apenas a instrução primária.

Gráfico 5.5: Insuficiência de peso de acordo com o nível de educação das mães

40

30

20

10

Nenhum Educação primária Secundária ou


superior

State of the World's Children 2003, UNICEF.


Smith, L.C. e Haddad, L., 2000.
Tabela 5.1: Prevalência de malnutrição do tipo nanismo, marasmo e insuficiência de peso
em crianças com menos de cinco anos, Angola, 2001

Prevalência de Insuficiência de
Prevalência de Nanismo (%) Prevalência de Marasmo (%) Peso (%)
(Altura por Idade) (Peso por Altura) (Peso por Idade)

Global Aguda Global Aguda Global Aguo,


(percentagem (percentagem (percentagem (percentagem (percentagem (percentagem
abaixo de abaixo de abaixo de abaixo de abaixo de abaixo de
- 2 z-score) - 3 z-score) - 2 z-score) - 3 z-score) - 2 z-score) - 3 z-score)

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 52 28 8 2 35 10
Segundo 51 27 7 2 34 11
Terceiro 48 24 7 1 34 10
Quarto 45 21 6 1 30 8
Quinto 33 13 5 1 22 4
Sexo
Masculino 48 23 7 1 32 9
Feminino 43 21 6 1 29 8
Região
Capital 35 18 7 2 23 6
Norte 45 22 5 1 31 7
Este 39 17 6 1 27 7
Oeste 41 21 10 2 32 10
Sul 53 26 6 1 40 12
Centro Sul 55 29 5 1 31 8
Área de Residência
Urbana 43 21 7 1 30 8
Rural 50 26 6 1 32 9
Grupos Etários
< 6 meses 18 7 6 2 9 2
6 - 11 meses 30 12 9 2 29 8
12 - 23 meses 52 24 12 3 42 13
24 - 35 meses 49 24 6 1 34 11
36 - 47 meses 51 27 3 O 29 6
48 - 59 meses 52 28 3 O 30 7
Nível de Instrução da Mãe
Nenhuma 50 25 7 1 34 11
Primário 45 22 6 1 30 8
Secundário e superior 33 15 5 1 20 5

6 1 31 8
Total 2001 45 22

Comparação
África sub-sariana 2001 40 10 29
17 ;.-
.1104~air
sâti:
• Alr 421r
siar

• V. •
. • •'• • •• • • • •

Amamentação
introduzidos cedo demais o que poderá
Indicadores trazer graves consequências tendo em conta
os maus hábitos alimentares, muitas vezes a
Proporção de amamentação exclusiva: pouca disponibilidade de alimentos e a
Proporção das crianças com menos de 4 meses que preparação pouco higiénica dos mesmos.
são exclusivamente amamentadas - 14% Com um mês de idade 42% das crianças
angolanas recebem água. O inquérito indica
Proporção de amamentação complementar: ainda que cerca de um quarto de todas as
Proporção de crianças com uma idade compreendida crianças com menos de um ano de idade
entre os 6 e os 9 meses que recebem leite materno e são alimentadas a biberão. Todos estes
factores aumentam a vulnerabilidade das
alimentação complementar - 77%
crianças a infecções colocando-as também
Proporção de amamentação continuada: em risco de entrar no ciclo vicioso da
malnutrição/infecção.
Proporção das crianças com uma idade com-
preendida entre os 12 - 25 meses e os 20 - 23 meses Os dois indicadores mais importantes em
que recebem leite materno para além de outros termos de amamentação (ou seja,
alimentos - 89% e 37% respectivamente amamentação exclusiva e amamentação
complementar entre os 20 e os 23 meses)
encontram-se, em Angola, muito abaixo da
média dos países da África sub-sariana,
MICS revela práticas pobres de

O
estimada em 2001 em 35% e 51%
amamentação por parte das respectivamente?. É somente no que respeita
mulheres angolanas. Com um ano à amamentação complementar, entre os 12
de idade, a grande maioria das crianças já e 15 meses de idade, que os níveis de
não são exclusivamente alimentadas com amamentação são adequados. Não se
leite materno. Para mais, cerca de dois registaram mudanças significativas nos
terços das crianças com uma idade padrões de amamentação desde o último
compreendida entre os 20 e os 23 meses de inquérito MICS levado a cabo em 1996. No
idade já não recebem qualquer leite materno. entanto, registam-se algumas pequenas
É recomendável, no entanto, que as crianças melhorias nas áreas da amamentação
sejam exclusivamente amamentadas até exclusiva e complementar, enquanto a
aos seis meses de idade'. A idade prática de amamentação continuada até aos
recomendada para a introdução de alimentos 20 — 23 meses se deteriorou.
complementares como um suplemento do
leite materno é os 6 meses de idade, se bem Apesar do risco de transmissão do HIV de
que, de uma maneira ideal, as crianças mãe para filho nas mulheres sero-positivas,
devem ainda continuar a ser amamentadas globalmente, os benefícios da amamentação
até aos dois anos de idade. para as crianças e as mães são conhecidos
e encontram-se bem documentados. Entre
Apesar de a maioria das mães angolanas dar os benefícios mais importantes 'para as
início à amamentação, a taxa de abandono é crianças nos países em vias de
muito elevada. Aos três meses de idade desenvolvimento contam-se a redução da
apenas 14% das crianças são incidência e severidade de episódios de
exclusivamente amamentadas com leite diarreia no primeiro ano de vida, um menor
materno. Alimentos sólidos e papas são risco de infecções respiratórias, melhorias
em termos do desenvolvimento neurológico,
O leite materno constitui uma fonte completa de nutrientes bem como uma melhor protecção contra um
número significativo de doenças crónicas
durante os primeiros seis meses de vida, satisfaz metade
durante a vida. As crianças que nunca foram
dos requisitos nutricionais durante os segundos seis meses amamentadas correm um maior risco de
de vida, bem como um terço destes requisitos no segundo morrerem devido a diarreia do que as
ano de vida. crianças que o foram'.

Apesar de sc.. ■ -. ,, i...:cioialmente recomendável a amamentação exclusiva até aos seis meses de idade, o MICS
analisa as práticas de amamentação até aos quatro meses de idade.
cf. State of the World's Children 2003. UNICEF.
Feachem, R. G. and Jamison, D. T., 1991.
No segundo ano de vida, o leite materno parto, em caso de amamentação exclusiva,
permanece uma fonte importante de cálcio, (Amenorreia Lactante). Um maior intervalo
gorduras, proteínas e vitamina A. A ausência entre os nascimentos traz, desta forma,
de amamentação sustentada e frequente benefícios tanto para a saúde da mãe como
constitui um factor de risco em termos de para a da criança. Este método contraceptivo
deficiência de vitamina A. As crianças é, no entanto, usado somente por 0.2% das
que continuam a ser amamentadas no mulheres angolanas com uma idade
seu segundo ano de vida têm uma compreendida entre os 15 e os 49 anos.
probabilidade 65% a 95% menor de
desenvolverem sintomas desta deficiência Quando se analisa a curva que caracteriza a
quando o leite materno tem um nível frequência da amamentação exclusiva por
suficiente de vitamina A° O MIOS revelou idade, nota-se que apesar da maioria das
ainda que a amamentação é interrompida de crianças começarem por ser amamentadas
forma precoce entre os 16 e os 19 meses de (96%) à nascença, a taxa de abandono da
idade. Com 20 — 23 meses apenas 37% das amamentação exclusiva é extremamente
crianças continuam a ser amamentadas o elevada no primeiro mês de vida, com
que poderá resultar na diminuição das apenas 17% das crianças dos O — 1 mês
reservas de vitamina A, o que é preocupante, exclusivamente alimentadas com leite
tendo em vista a baixa cobertura da materno. A amamentação exclusiva diminui
suplementação com vitamina A em Angola. drasticamente com a idade, com apenas 6%
das crianças com uma idade compreendida
A amamentação também traz uma série de entre os 4 e os 5 meses de idade
benefícios para as mães. Amamentar uma dependendo exclusivamente do leite
hora imediatamente após o parto previne as materno. É de notar ainda, que cerca de
hemorragias pós parto e promove a metade das crianças inquiridas com menos
involução uterina. As mães que amamentam de 4 meses de idade recebem fluídos
têm um menor risco de vir a ter diabetes, adicionais tais como água e outros líquidos e
osteoporose bem como cancros que 34% recebem também alimentos
reprodutivos. Para mais, a amamentação sólidos ou papas para além do leite materno
funciona como um método contraceptivo o que aumenta a sua susceptibilidade a
altamente eficaz até seis meses após o infecções.

4 Sommer, et aL, 1996.


Gráfico 6.1: Percentagem de crianças exclusivamente amamentadas por grupo etário

18
16 -
14 -
E 12 -
a)

10
a)
8-
a)
o_ 6

4-
2-
O
Oa1 2a3 4 a 5 6 a 7 8a9

Idade das crianças em meses

área de residência das mães, rural ou amamentar por conveniência. Um outro factor
urbana, não tem uma influência que pode explicar estes resultados poderá ser
ignificativa nos padrões de ama- a maior disponibilidade de leite de substituição
mentação em Angola. Somente a alimentação nas áreas urbanas5 .
complementar e amamentação continuada nas
crianças dos 20 aos 23 meses registam uma A maior proporção de amamentação
taxa ligeiramente mais elevada nas crianças das exclusiva é praticada na Região Sul (32%) e
áreas rurais. Isto pode explicar-se parcialmente a mais baixa na Região Este (2%),
pelo facto das mulheres nas áreas urbanas Amamentação continuada (20 —23 meses) é
terem um melhor acesso ao mercado de mais praticada na Região Centro Sul (54%) e
trabalho, o que as pode levar a parar de menos praticada na Região Capital (18%).

Gráfico 6.2: Indicadores de amamentação exclusiva por Região

o -Z
Capital North East West South Centre South

Amamentação exclusiva ■ Amamentação continuada (20 a 23 meses)

As mães com um nível educacional superior probabilidade de deixar de amamentar mais


têm uma probabilidade mais elevada de cedo, o que se poderá explicar parcialmente
amamentarem exclusivamente os seus filhos, devido a melhores oportunidades de trabalho.
mas ao mesmo tempo têm também uma maior Mães que não tiveram acesso à educação ou

A implementação do Código Internacional de Marketing para os substitutos do leite materno está a ser estudada em
Angola.
com um baixo nível de instrução são as que forma a fazerem durar mais tempo uma
têm uma menor probabilidade de amamentar mesma quantidade de leite.
exclusivamente mas também as que
amamentam durante mais tempo. Este O uso de biberão é frequente em Angola mas
resultado reflecte provavelmente o facto de sobretudo na Região Sul onde cerca de
as mulheres com um nível de instrução mais metade das crianças com menos de um ano
baixo serem também socio-economicamente de idade foram alimentadas a biberão. É
mais vulneráveis e terem portanto um menor possível que nas províncias com fronteira com
acesso a leite de substituição. a Namíbia exista um melhor acesso tanto a
biberões como a substitutos do leite materno.
Mais crianças nas zonas urbanas do que nas
zonas rurais (29% contra 18%) são
Uso de Biberão alimentadas a biberão o que se pode explicar
devido a uma maior oferta de substitutos do
O uso de biberão é uma prática perigosa leite materno nas áreas urbanas, Por outro
tendo em conta que os requisitos em termos lado, as mulheres com níveis mais elevados
de higiene necessários para a sua de educação têm uma probabilidade mais
preparação segura se encontram muitas elevada de alimentar os seus filhos a biberão.
vezes ausentes em Angola. Para mais, uma Este padrão pode explicar-se pelo seu mais
criança alimentada a biberão poderá não elevado poder de compra bem como
receber todos os nutrientes normalmente possivelmente devido a melhores oportunidades
fornecidos pelo leite de substituição uma vez de emprego que as poderão levar a adoptar o
que as mães tendem a diluir o leite em pó de biberão por conveniência.

Tabela 6.1: Resumo dos indicadores de amamentação, Angola, 2001

Proporção de Proporção de Proporção de Proporção de


amamentação alimentação amamentação amamentação
exclusiva (menos complementar continuada (12 continuada (20
de 4 meses) atem pada a 15 meses) to 23 meses)

Sexo
Masculino 12 79 89 37
Feminino 15 76 90 37
Região
Capital 21 63 86 18
Norte 3 76 90 40
Este 2 78 89 33
Oeste 18 83 94 41
Sul 32 82 85 37
Centro Sul 18 79 91 54
Área de Residência
Urbana 14 75 89 35
Rural 13 83 89 43
Nível de Educação das Mães
Nenhum 11 78 88 43
Primário 15 78 91 37
Secundário e superior 19 70 86 21
Total 14 77 89 37

Comparação com a
África sub-sariana 2001 51
=

33 63
.

n.a.

Comparação
Total Angola 1996 12 70 90 48

deficiência de iodo continua a ser a
maior causa de danos cerebrais Indicador
Ap reveníveis e de atraso mental em
todo o mundo. Os Distúrbios de Deficiência
Consumo de sal iodado':
de lodo (DDIs) podem levar a uma maior taxa Proporção de agregados que consomem
de nados-mortos, anomalias congénitas, adequadamente sal iodado - 35%
cretinismo, defeitos psicomotores e
mortalidade néo-natal. Nas crianças e
adolescentes os efeitos manifestam-se
em Angola e 86% da produção de sal
através de bócio, hipotiroidismo, funções
iodizado. Em 2001, registaram-se tendências
mentais debilitadas, e desenvolvimento
similares a nível da produção de sal.
mental e físico retardado. Além disso, a
deficiência de iodo pode levar a uma
O critério usado para medir até que ponto a
reduzida capacidade de desempenho
prevenção de DDI é adequada é a proporção
escolar. A existência de DDIs mais ligeiros
de agregados familiares (> 90%) que
numa comunidade significa que muitas
consomem sal adequadamente iodado. O
crianças sem incapacidades visíveis podem
MIOS revela que 87% dos agregados
ser condenadas a sofrer de problemas de
familiares angolanos usam sal. De entre os
aprendizagem e a ter um fraco desempenho
agregados familiares que usam sal apenas
escolar.
35% consome sal adequadamente iodado,
havendo grandes disparidades regionais, de
A forma mais eficaz e mais eficiente em
11% na Região Oeste a 62% na Região Este.
termos de custo para prevenir os DDIs entre
Por outras palavras, a nível nacional, 65%
a população é garantir que o sal consumido
dos agregados familiares inquiridos consome
contenha iodo suficiente. Esta estratégia
sal que se iodado de forma adequada, poderia
possibilita atingir uma vasta maioria da
prevenir a ocorrência de deficiências de iodo.
população, uma vez que o sal é utilizado pela
O nível de consumo de sal iodado em Angola
maior parte dos agregados familiares.
situa-se portanto muito abaixo do consumo
Globalmente, o progresso com vista à
médio nos países da África sub-sariana,
eliminação de DDI através da iodização
estimado em 67% para o mesmo período'.
universal de sal parece ser um dos sucessos
mais significativos no campo das doenças
não transmissíveis. Angola adoptou, em
Agosto de 1996, a política de lodização
Universal de Sal como uma forma de
controlar os DDIs. O decreto do governo
sobre Distribuição Exclusiva de Sal Iodado,
aprovado no mesmo ano, recomenda que
todo o sal para consumo humano e animal
seja iodado.

Angola possui uma grande produção de sal


e potencialmente uma capacidade produtiva
auto-suficiente. Em 2001, havia 17 fábricas
de produção de sal nas províncias do
Namibe, Benguela, Kwanza Sul, Luanda e
Zaire, tendo 10 destas fábricas capacidade
para produzir sal iodado, A produção
nacional de sal em 2000 estava calculada
em 32,600 toneladas, sendo que apenas
30% era iodado (9,800 toneladas). As
fábricas em Benguela e Kwanza Sul
representavam 70% da produção total do sal

O sal é considerado como adequadamente iodado quando contém pelo menos 15 partes de iodo por milhão.
cf. State of the Worlds Children 2003, UNICEF.
Registam-se algumas variações por área de encontrar sal adequadamente iodado é
residência. Os agregados familiares rurais ligeiramente superior entre as famílias mais
têm relativamente menos sal disponível. Para vulneráveis (34%) do que nas mais
os que o têm, a proporção de sal favorecidas (33%). Estas conclusões devem
adequadamente iodado é menor do que nas ser realçadas no sentido em que os preços
áreas urbanas. A disponibilidade de sal pode de mercado de sal iodado e não iodado
estar relacionada com uma reduzida variam, sendo o último menos caro. Esta
diversidade e distribuição de produtos e com situação reflecte provavelmente o facto de
uma fraca acessibilidade do mercado nas que uma proporção significativa dos
áreas rurais. indivíduos mais vulneráveis ter recebido um
pacote alimentar básico providenciado pelo
As conclusões do MICS realçam que os Programa Alimentar Mundial (PAM) que
grupos mais pobres são os que menos têm geralmente inclui sal iodado. Por outro lado,
probabilidade de conseguir obter sal, e assim estes resultados reflectem ainda a fraca
consumi-lo de forma regular. Isto constitui um disponibilidade do sal iodado em Angola e a
importante factor quando se visam falta de conhecimentos sobre os seus
programas de iodização de sal. Podem ser benefícios. Se existisse um mais elevado nível
necessárias estratégias alternativas e de informação sobre a importância do iodo no
adicionais em situações em que grupos em sal não seria de surpreender ver os membros
risco de DDI não compram sal iodado através dos agregados familiares mais abastados a
dos canais normais de comercialização. procurarem sal iodado mais caro.

Embora o acesso ao sal esteja Existe uma correlação clara entre a


significativamente relacionado com as proximidade dos agregados familiares das
posses económicas dos agregados Regiões produtoras de sal e a disponibilidade
familiares, o mesmo não acontece com o de sal para os agregados familiares. A
facto do sal disponível se encontrar ou não Região Oeste, (províncias de Benguela e
adequadamente iodado. Embora 1 em cada Kwanza Sul) representa aproximadamente
5 agregados familiares mais vulneráveis não 70% de todo o sal produzido anualmente em
possua sal, em comparação com a Angola. É na mesma Região que se encontra
proporção de 1 para 20 entre as famílias o maior número de agregados familiares que
mais favorecidas, a quantidade de sal utilizam sal (93%). Observa-se a mesma
adequadamente iodado consumido é a tendência em outras Regiões onde se
mesma em cada grupo. A probabilidade de produz sal, nomeadamente Regiões Sul,
Capital e Norte, que apresentam um número
significativamente inferior de agregados
familiares que não utilizam sal, em
comparação com as Regiões Este e Centro
Sul do interior.

A proporção dos agregados familiares que


utilizam sal considerado adequadamente
iodado na testagem não se encontra
relacionada com a proximidade de
localidades onde o sal é iodado. Existe, de
facto, uma relação inversa entre a
disponibilidade de sal, consumo de sal
adequadamente iodado e Regiões de
produção. É na Região Oeste que a menor
proporção de sal adequadamente iodado é
consumida pelos agregados familiares
(apenas 11%). Isto apesar de esta Região ser
onde se produz a maior parte do sal iodado
em Angola, e onde existe, frequentemente,
uma maior disponibilidade de sal entre os
agregados familiares.
Mapa 7.1: Percentagem dos agregados familiares que consomem sal
adequadamente iodado

Região Norte
46%

Acima de 50%

Entre 30% e 50% Região Este


62%
Menos de 30%

Região
Região Sul Centro Sul
33% 30%

Tabela 7.1: Percentagem de agregados familiares que consomem sal


adequadamente iodado, Angola, 2001

Resultados de Teste
Percentagem Percentagem de Sal iodado de Sal
de agregados agregados em que forma não • adequadamente
sem sal o sal foi testado adequada iodado

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 20 78 66 34
Segundo 16 82 66 35
Terceiro 14 84 60 40
Quarto 9 89 67 33
Quinto 5 93 68 33

Região
Capital 8 90 72 28
Norte 12 86 54 46
Este 20 78 38 62
Oeste 7 92 89 11
Sul 9 91 67 33
Centro Sul 19 74 70 30

Área de Residência
Urbana 11 86 64 36
Rural 15 83 67 33

Total 13 85 65 35
vitamina A é um micronutriente
essencial para o funcionamento Indicadores
An ormal do sistema visual, para o
desenvolvimento e manutenção da Crianças que recebem suplementos de vitamina A:
integridade celular epitelial, bem como para a percentagem de crianças dos 6-59 meses que
função de imunização e reprodução. A
receberam suplemento de vitamina A de dose elevada
Deficiência em Vitamina A (DVA) compromete
inicialmente a integridade das barreiras nos últimos 6 meses - 31%
epiteliais e do sistema imunológico,
Mães que recebem suplementos de vitamina A:
seguindo-se o enfraquecimento do sistema
visual e maior índice de infecção. percentagem de mães que receberam suplemento de
Consequentemente, existe um risco vitamina A de dose elevada antes de o bebé ter 8
acrescido de morte, especialmente nas semanas - 26%
crianças.

Em Angola, a DVA constitui um importante


problema de saúde pública. Em 1998, o
Programa Nacional de Nutrição do Ministério Apenas 31% das crianças receberam um
da Saúde realizou um estudo para determinar suplemento de vitamina A em tempo
a prevalência de DVA em crianças'. A fraca oportuno (antes dos seis meses de idade).
prevalência de vitamina A (ou seja, a Para mais, somente 7% das crianças
proporção de crianças dos 6 aos 59 meses reportaram terem recebido o suplemento
com serum retinol inferior a 20 mg/100 ml) foi depois dos seis meses, enquanto que 13 %
estabelecida em 64%, muito acima do limite foram incapazes de especificar a altura em
estabelecido pela OMS 20%) a partir do que o receberam. Não há nenhuma variação
qual se considera existir um problema grave na cobertura de acordo com o género. O
de saúde pública. O nível de DVA entre as método mais comum de distribuição do
mães que amamentam foi estabelecido em suplemento da vitamina A são as JNV (83%),
77% (retinol no leite materno abaixo de a que se seguem serviços de saúde de
8úg/100m1). rotina (12%) e consultas clínicas curativas
(5%). Não houve nenhuma variação
O suplemento de vitamina A em doses significativa entre áreas rurais e urbanas, o
elevadas é um dos métodos para se que provavelmente se explica pelo facto de
melhorar a situação de vitamina A nas as JNV terem coberto tanto áreas urbanas
mulheres e crianças. Desde 1999, o como rurais. No entanto, a principal limitação
Programa Alargado de Vacinação (PAV) tem das JNV é o facto de apenas possibilitarem a
incluído a administração de uma elevada suplementação com uma dose de vitamina A
dose de vitamina A para todas as crianças por ano.
dos 6 aos 59 meses durante as Jornadas
Nacionais de Vacinação anuais (JNV) contra
a pólio. 0 protocolo nacional angolano
sobre o suplemento de doses elevadas de
Melhorar a situação em termos de vitamina A de
vitamina A recomenda que as crianças dos populações constituídas por crianças permite uma
6 aos 59 meses recebam um suplemento
de vitamina A todos os 6 meses, e que as redução média de 23% na taxa de mortalidade das
mulheres em período pós-parto recebam
uma dose 6 semanas depois do parto. O
crianças com DVA. Melhorar a situação em termos
MIOS, que analisou a cobertura do de vitamina A nas mulheres grávidas pode reduzir o
fornecimento de suplemento de vitamina A
nestes dois grupos populacionais, revela risco de morrerem durante a gravidez e parto, pois
que existe uma fraca cobertura e práticas
a vitamina A melhora a sua resistência a infecções
que não estão de acordo com o protocolo
nacional. tais como o HIV e a malária.

' Estudo sobre a vitamina A em Angola, Ministério da Saúde e UNICEF, 1998.


Uma das causas subjacentes da deficiência que as crianças provenientes de agregados
de vitamina A tem a ver com a falta de mais favorecidos. Tendo em conta que a
consciência sobre a situação por parte das principal forma de administrar vitamina A às
mães, bem como baixos níveis de educação crianças é através das JNV, as variações por
e alfabetização entre as mesmas. Estudos quintil sócio-económico indicam que,
sugerem também que existe uma forte contrariamente ao que ocorre no caso da
correlação entre a prevalência de DVAs e o pólio, as JNV não permitiram ainda reduzir a
nível sócio-económico dos agregados vulnerabilidade das populações menos
familiares'. Em Angola, as variações favorecidas. Isto reflecte o facto de as JNV
significativas observadas na cobertura de não atingirem todas as crianças em termos
suplemento de vitamina A em função da de distribuição de vitamina A.
situação económica do agregado familiar e
do nível de instrução da mãe realçam o facto Tanto no caso das crianças, como no das
de as populações que se encontram em mães, o índice de bem-estar médio tem uma
maior situação de risco terem as mais baixas maior cobertura que o quarto quintil, e
taxas de cobertura. Por exemplo, uma mesmo que o quinto, no caso das mães, o
criança cuja mãe não tenha instrução tem que pode reflectir o facto de os grupos socio-
60% menos probabilidade de receber o economicamente mais favorecidos usarem
suplemento de vitamina A do que uma mais frequentemente os serviços do sector
criança cuja mãe frequentou o ensino privado, que podem não seguir as directivas
secundário ou superior. nacionais de saúde relativamente à
administração da vitamina A. Neste sentido, o
As crianças do quintil sócio-económico mais grupo sócio-económico médio parece ser o
baixo têm 40% menos probabilidades de que mais vezes aproveita as vantagens dos
receber atempadamente o suplemento do programas nacionais implementados.

Gráfico 8.1: Percentagem das mães que receberam vitamina A de acordo com o
quintil sócio-económico dos agregados familiares

35

30

25

20

15

10


1° quintil 2° quintil 3' quintil 4° quintil 5" quintil

s resultados por Região sobre crianças A em doses elevadas, foi realizada em Agosto

O que recebem suplementos de vitamina


A devem ser cuidadosamente inter-
pretados. De facto, a terceira ronda de JNV de
de 2001, isto é, durante o período de recolha de
dados MIOS. Como os dados foram recolhidos
nas regiões em diferentes períodos, a cobertura
de vitamina A será maior onde a recolha se
2001, durante os quais foi administrada vitamina
al
. ~.

ACC/SCN. 2000.
1
efectuou em Agosto, Setembro e Outubro de que recebem vitamina A através de JNV, cujo
2001. Esta situação aplica-se particularmente ao número aumenta com a idade. Esta situação
caso da Região Sul, que apresenta a cobertura pode estar relacionada com a distribuição de
más baixa e onde os agregados familiares foram vitamina A em serviços de vacinação de
inquiridos antes das JNV. rotina, que visam principalmente crianças
com menos de um ano de idade.
Uma tendência interessante é a redução do Consequentemente, à medida que a idade
número de crianças que recebem vitamina A da criança aumenta, o fornecimento do
em serviços clínicos de rotina à medida que suplemento é progressivamente mais
a sua idade aumenta, em comparação com as dependente das JNV.

Tabela 8.1: Percentagem de crianças que já receberam suplemento de vitamina A


por grupo etário e método de distribuição

Idade Percentagem de Administrada em Administrada em Administrada durante


em meses crianças que já serviços clínicos consultas curativas JNV
receberam vitamina A de rotina

6 —11 41 21 4 75
12- 23 50 12 7 80
24 — 35 54 11 5 84
36 — 47 54 10 3 86
48 — 59 52 9 4 87

Total 51 12 5 83

Quanto à administração de suplementos de a maior parte dos partos ocorre fora dos
vitamina A às mulheres, apenas 26% estabelecimentos de saúde ou sem
receberam vitamina A antes de o seu bebé ter assistência de pessoal qualificado.
oito semanas, não tendo havido nenhuma
variação significativa entre áreas de residência Integrar o suplemento de vitamina A em
rural e urbana. A amamentação é importante simultâneo com os serviços de vacinação de
para a situação de reserva de vitamina A das rotina e as JNV continua a funcionar como
crianças, razão pela qual fornecer vitamina A a um importante meio de distribuição.
novas mães que estejam a amamentar ajuda Contudo, uma vez que as causas da
a proteger o bebé durante os primeiros Deficiência de vitamina A são diversas (por
meses de vida. O MIOS revela que as mães exemplo factores causais imediatos podem
do quintil sócio-económico mais baixo são ser o baixo peso à nascença, a amamentação
aquelas que têm uma maior probabilidade de de curta duração e a amamentação não
apresentarem baixas reservas de vitamina A. É exclusiva nos primeiros seis meses) as
também entre estas mulheres que existe uma intervenções devem ser também direccionadas
menor cobertura de vitamina A. A assistência por outros canais. Por exemplo, as
durante o parto seguida de 'acompanhamento abordagens baseadas no fornecimento de
pós-parto, e/ou o lugar de realização do parto alimentação são as estratégias a longo prazo
são certamente factores que podem estar logicamente preferidas para melhorar a
relacionados com a baixa cobertura de situação das crianças e das mulheres em
vitamina A nas mulheres. De facto, em Angola, termos de vitamina A.
Tabela 8.2: Suplemento de vitamina A de dose elevada em crianças dos 6 aos 59
meses e mulheres dos 15 aos 49 anos

Crianças que Mães que receberam


receberam suplementos suplementos
de vitamina A * de vitamina A

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 26 19
Segundo 29 23
Terceiro 33 31
Quarto 29 28
Quinto 36 26

Sexo
Masculino 31 n.a. **
Feminino 31 n.a.

Região
Capital 51 34
Norte 37 30
Este 33 22
Oeste 24 24
Sul 9 31
Centro Sul 35 16

Área de Residência
31 26
Hu':1 30 25

Nível de Instrução da Mãe


Nenhum 25 22
Primário 33 27
Secundário e superior 40 32

Total 31 26

* Este indicador apenas toma em consideração crianças que receberam o suplemento em


tempo oportuno durante o período dos 6 meses. Os outros grupos que receberam vitamina
A depois dos 6 meses ou em período desconhecido foram excluídos da análise, uma vez
que os dados sobre a administração de vitamina A podiam ter ultrapassado os efeitos
positivos da vitamina A sobre a situação da criança.
** (n,a. = não aplicável)
média cerca de 3 a 5 episódios de malária
Indicadores por ano. Em Abril 2000, durante a Cimeira
'Fazer Recuar o Paludismo" em Abuja,
Uso de redes mosquiteiras: Proporção de crianças
Nigéria, os Chefes de Estado Africanos
com uma idade compreendida entre os O e os 59 adoptaram um plano de acção global para a
meses que dormiram debaixo de uma rede prevenção, diagnóstico e tratamento da
mosquiteira (tratada ou não com insecticida) na noite doença. Medidas preventivas, especialmente
anterior ao inquérito - 10% o uso de redes mosquiteiras tratadas com
insecticida, foram propostas como uma
Uso de redes mosquiteiras tratadas: Proporção forma de reduzir a mortalidade devida à
de crianças com uma idade compreendida entre os O malária nas crianças2 .
e os 59 meses que dormiram debaixo de uma rede
O MICS analisa o uso de redes mosquiteiras
mosquiteira tratada com insecticida na noite anterior
tratadas e não tratadas bem como a
ao inquérito - 2% prevalência e o tratamento da febre nas
crianças com menos de cinco anos de
Uso de redes mosquiteiras não tratadas:
idade. No geral, o inquérito indica que existe
Proporção de crianças com uma idade compreendida
uma elevada prevalência de febre, com 25%
entre os O e os 59 meses que dormiram debaixo de das crianças reportando que tinham tido
uma rede mosquiteira não tratada com insecticida na febre nas duas semanas antes do inquérito.
noite anterior ao inquérito - 8% Apesar da maioria das crianças com febre
receber tratamento com medicamentos
Prevalência da febre: Proporção de crianças com contra a malária (63%) e tomar um antipirético
uma idade compreendida entre os O e os 59 meses como aspirina ou paracetamol (77%), a
que estiveram doentes com febre nas duas semanas prevenção contra a malária através do uso
de redes mosquiteiras é muito baixa. A nível
anteriores ao inquérito - 25%
nacional, apenas 10% das crianças usam
Tratamento da malária: Proporção de crianças com redes mosquiteiras, das quais 23% são
uma idade compreendida entre os O e os 59 meses tratadas com inseticida. Isso significa que no
total, somente 2% das crianças usam redes
que estiveram doentes com febre nas duas semanas
mosquiteiras impregnadas com insecticida.
anteriores e que tomaram medicamentos para tratar a
malária - 63% A ocorrência de febre é aproximadamente a
mesma em todas as crianças, sem variações
significativas entre grupos sócio-económicos,

E
m Angola, a malária é de longe a áreas de residência e sexo, indicando que a
principal causa de mortalidade e malária afecta de forma quase idêntica as
morbidez nas crianças. Em 2000, o crianças de todos os segmentos da
Ministério da Saúde reportou que cerca de população angolana. A prevalência da febre
75% de todas as doenças e mortes associada à malária nas crianças permanece
registadas nos serviços nacionais de saúde também consideravelmente estável entre as
estavam associadas à malária'. A malária tem várias regiões (entre 21% e 27%) à excepção
também um efeito significativo em termos da da Região Oeste onde a prevalência se situa
produtividade económica e do rendimento nos 35%, ou seja, 40% acima da média
dos agregados familiares. De facto, a doença nacional. Considerando que o inquérito foi
é a principal causa de ausências na escola e implementado durante um período de seis
no trabalho. De acordo com o Programa meses, este resultado indica provavelmente
Nacional da Malária cada Angolano tem em uma distorção sazonal.

cf. Sistema das Nações Unidas em Angola, 2002, "Angola: os Desafios do Pós-Guerra" . Tendo em conta o estado
precário do sistema de informação sobre a saúde em Angola, estes dados só deverão ser considerados como indicativos
do peso determinante da malária em termos da mortalidade e da morbidez nas crianças.

2No quadro da estratégia da redução da incidência da malária, o Programa Nacional de Controle da Malária lançou com
o apoio do UNICEF em 1998 um projecto para promover o uso de redes mosquiteiras tratadas. No princípio de 2003 o
projecto operava em 14 capitais provinciais e tinha sido distribuído um total de meio milhão de redes a preços subsidiados
e criadas 47 unidades de tratamento de redes mosquiteiras com insecticida.
A prevalência da febre por grupo etário indica valor mais baixo na faixa etária dos 48 aos 59
o mesmo padrão observado para a meses. O acréscimo de vulnerabilidade nas
prevalência da diarreia. Sendo assim, a crianças com uma idade compreendida entre
prevalência da malária atinge um valor mais os seis e os onze meses reflecte o seu estado
elevado entre as crianças com uma idade imunológico, uma vez que os anticorpos
compreendida entre os seis e os onze meses fornecidos pela mãe deixam de ser suficientes
e declina depois gradualmente até atingir o para proteger a criança a partir desta idade.

Gráfico 9.1: Prevalência da febre nas crianças por grupos etários

40

30

20

10

Menos de 6 6-11 meses 12-23 meses 34-35 meses 36-37 meses 48-59 meses
meses

Nas áreas, tais como Angola, em que a população angolana, provavelmente em


malária é comum, é recomendável tratar resultado da falta de acesso a serviços de
qualquer febre nas crianças como se se saúde. Pode considerar-se que tal como no
tratasse de facto de malária, dando à criança caso das infecções respiratórias, uma
medicamentos anti-paludicos. No geral, proporção significativa das crianças com febre
63% das crianças com febre foram tratadas não foram vistas e tratadas por pessoal de
com medicamentos anti-paludicos. Os saúde qualificado.
medicamentos mais frequentemente utilizados
são a cloroquina (57%), enquanto o uso de Existem sérias disparidades em termos do
outros medicamentos anti-paludicos como o estatuto sócio-económico dos agregados
Alofantrin e Sulfadoxin+Pyrimetamin (marcas familiares com as crianças dos agregados
comerciais Alfan e Fansidar) permanecem familiares mais vulneráveis tendo uma
marginais (7%). A cloroquina é de facto o probabilidade 3 vezes menor de usarem
medicamento anti-paludico mais acessível redes mosquiteiras (tratadas ou não) que as
em , Angola tanto em termos de crianças dos agregados familiares menos
disponibilidade no mercado como em vulneráveis. É também somente no quintil
termos de preço. É de notar, no entanto, sócio-económico menos vulnerável que o uso
que 50% dos casos de malária em Angola de redes mosquiteiras atinge o valor máximo
são resistentes à cloroquina. De uma forma apesar de se manter ainda significativamente
geral, uma percentagem relativamente baixo nos 20%, enquanto em todos os outros
elevada de crianças (20%) recebeu outros quintis o uso de mosquiteiros varia entre 5% e
medicamentos. 11%. Verifica-se uma tendência similar no que
diz respeito ao uso de redes mosquiteiras
O uso significativo de agentes antipiréticos tais tratadas com insecticida, que varia entre 11%
como o paracetamol e a aspirina, a cloroquina para o mais baixo quintil sócio-económico e
e "outros medicamentos" revela uma atitude 23% no quintil sócio-económico mais
pró-activa por parte dos encarregados das favorecido. O MIOS demonstra que aqui as
crianças nos casos de febre. No entanto, restrições sócio-económicas à possibilidade
estes resultados também indicam níveis de um agregado familiar se proteger da malária
significativos de auto-medicação entre a permanecem importantes 3 .

Este resultado merece ser salientado pois apesar de serem distribuídas a um preço subsidiado muito baixo as redes
mosquiteiras fornecidas no quadro da iniciativa "Fazer Recuar o Paludismo" não deixam no entanto, de serem vendidas.
A maior percentagem da população que utiliza crianças dormem sob uma rede tratada. O
redes (tratadas ou não com insecticida) maior uso de redes tratadas no Norte poderá
encontra-se na Região Capital (23%), um estar relacionado com o facto da iniciativa para
resultado que reflecte a maior disponibilidade a redução da incidência da malária ter sido
de redes mosquiteiras na capital do país, lançada em 2000 nas Províncias do Norte do
Luanda. Em todas as outras regiões o uso de país e em Luanda e só em 2002 se ter
redes mosquiteiras não tratadas varia entre 4% expandido para Sul. Se não existem variações
no Centro Sul e 14% na Região Oeste. Não é significativas no uso de redes mosquiteiras
no entanto na Região Capital que se regista não tratadas entre zonas urbanas e rurais (11%
um maior uso de redes mosquiteiras tratadas, contra 9%) o uso de redes tratadas é muito
mas sim na Região Norte onde 51% das mais pronunciado nas áreas urbanas.

Gráfico 9.2: Percentagem das crianças com menos de cinco anos de idade e que
usam redes mosquiteiras (tratadas ou não) por quintil sócio-económico

20

15-"/

10


1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil
;:~~ <~;
Como no que diz respeito à prevalência da
Indicadores febre associada à malária, o MICS avalia a
prevalência da diarreia nas crianças nas duas
Prevalência da Diarreia: Proporção das crianças semanas prévias ao inquérito. Estima-se que
com uma idade compreendida entre os O e os 59 as crianças tiveram diarreia se nas duas
meses que tiveram diarreia nas últimas duas semanas precedentes, tiverem tido três ou
semanas - 23% mais evacuações líquidas por dia. O inquérito
revela uma prevalência elevada de diarreia,
Tratamento das diarreias em casa: Proporção das com 23% das crianças com menos de cinco
crianças com uma idade compreendida entre os O e anos tendo sofrido de diarreia nas duas
os 59 meses que tiveram diarreia nas duas últimas semanas anteriores ao inquérito.

semanas, que receberam fluídos acrescidos e que


Para além das diferenças por grupo etário não
continuaram também a receber alimentos - 7% existem variações significativas na prevalência
da diarreia que varia entre 20% e 28%
para todos os indicadores (quintil sócio-
económico, sexo, Região e área de

E
m Angola, as doenças diarreicas residência), o que revela que a diarreia afecta
constituem uma das causas mais de forma semelhante todas as crianças
importantes de mortalidade nas angolanas. Da mesma forma que a febre tida
crianças'. A diarreia causada por germes, como um sinal de malária, a prevalência de
especialmente germes provenientes das diarreia aumenta com a idade da criança,
fezes, podem causar a morte das crianças atingindo os valores mais elevados para as
devido à malnutrição e desidratação: as crianças com idades compreendidas entre
crianças têm uma maior probabilidade de os 6 e os 11 meses (44%), idade a partir
morrerem de doenças diarreicas do que os da qual a prevalência da diarreia começa a
adultos uma vez que se tornam desidratadas diminuir. Isto reflecte o facto das crianças
mais depressa. A elevada taxa de doenças angolanas deixarem de ser exclusivamente
diarreicas verificada em Angola reflecte más amamentadas aos seis meses de
práticas de higiene, tais como o tratamento idade e começarem a receber alimentos
inadequado dado às fezes, a ausência de suplementares. É também a partir desta idade
água segura para beber, bem como práticas que as crianças começam, por razões que se
inadequadas de amamentação das prendem com o seu desenvolvimento, a estar
crianças. mais em contacto com patogenes.

Gráfico 10.1: Prevalência da diarreia nas crianças por grupo etário

50
44%
45
40
35 34%

30
25 24%
19%
20
15
10
14%
• 12%

Menos de 6-11 meses 12-23 meses 24-35 meses 36-47 meses 48-59 meses
meses
'a rrama
0
oen as

Apesar de não existirem dados fiáveis sobre as principais causas da mortalidade das crianças em Angola, os dados do
Ministério da Saúde mostram que das causas da mortalidade registadas nos serviços nacionais de saúde em 2000, a
malária era de longe a maior causa de mortalidade entre as crianças (76%) seguindo-se as infecções respiratórias agudas
(7%) e as doenças diarreicas (7%).
s
Uma vez que uma das principais causas de suplementares dados às crianças com
morte das crianças que contraem diarreia é diarreia, o mais frequentemente utilizado é
a desidratação, assim que esta começa, é água. Num contexto em que a água utilizada
essencial que a criança receba fluídos é raramente adequada para beber, é também
extras para além dos alimentos e fluídos que necessário cons. iderar a proporção muito
recebe regularmente. Apesar da maioria das baixa da população que trata a água para
crianças (98%) terem recebido fluídos, beber (19%) como um factor com uma
definidos como aceitáveis durante a importante influência nos elevados níveis de
diarreia', o MIOS indica que as práticas mais diarreia registados. O uso de Sais de
comuns de cuidar das crianças com diarreia Rehidratação Oral (SRO) é limitado, tendo
são de uma forma geral deficientes, sendo estes sido administrados a apenas 40% das
que a apenas 14% tinham sido dados crianças. As crianças dos agregados
fluídos adicionais. Para mais, somente 7% familiares menos vulneráveis têm uma
das crianças angolanas com diarreia probabilidade duas vezes maior de terem
continuaram a ser alimentadas normalmente recebido SRO (50%) do que as crianças dos
e receberam líquidos adicionais. Existe uma agregados familiares mais vulneráveis (24%).
tendência para uma melhor gestão da Observa-se o mesmo padrão em relação ao
doença nas populações menos vulneráveis, nível de educação das mães. O leite
urbanas e educadas. O inquérito revela ainda materno, conhecido por reduzir a severidade
que as crianças mais velhas tendem a e frequência da diarreia, é dado apenas a
receber cuidados mais adequados do que metade das crianças com diarreia (51%).
as crianças mais novas. Enquanto apenas Uma vez que o inquérito não mede a
4% das crianças com menos de 6 meses severidade dos episódios de diarreia nas
receberam cuidados adequados em casa, crianças, estes resultados deverão ser
esta percentagem aumenta para 11% nas considerados indicativos do estado geral de
crianças com 3 anos. saúde das crianças bem como das medidas
tomadas pelos seus encarregados durante
No que diz respeito aos líquidos os episódios de diarreia.

2 São definidos como fluídos aceitáveis; Sais de Rehidratação Oral, leite materno, leite de substituição ou papas para
chança, água e outros fluídos aceitáveis administrados em casa.
ais de metade das doenças e

EV mortes nas crianças muito jovens


no mundo são causadas por
germes contraídos através de comida e
Indicadores

Uso de água apropriada para beber:


água contaminadas ou mãos sujas. Várias
Proporção da população que utiliza qualquer uma
doenças, em particular a diarreia, bem
como uma variedade de doenças das seguintes fontes de abastecimento de água:
transmissíveis através da água podem ser água canalizada, torneira pública, furo/bomba,
prevenidas por boas práticas de higiene poço protegido, nascente protegida, água da
como por exemplo dar um tratamento chuva - 62%
adequado às fezes (colocadas directamente
numa pia ou latrina) bem como pelo Uso de meios sanitários de tratamento das fezes:
consumo exclusivo de água adequada, Proporção da população que tem, no seu domicilio
quer extraída de uma fonte segura quer
ou quintal um sanitário com uma ligação a um
purificada. A acção mais importante para
prevenir a contaminação da água ou sistema de esgoto, qualquer outro sanitário com
comida é utilizar sempre meios sanitários um sistema de descarga (público ou privado);
para o tratamento das fezes. latrina - 59%

O MIOS indica que 81% da população


Tratamento dado à água: Proporção da população
Angolana não trata a água antes de a beber, que trata a água antes de a beber - 19%
que 41% dos agregados familiares não
utilizam meios sanitários do tratamento das
fezes e cerca de 40% não extraem água de
fontes seguras, Para mais, existem causada pela deslocação massiva da
disparidades consideráveis entre áreas de população angolana em direcção aos centros
residência, sendo que os agregados urbanos provinciais e municipais. Um dos
familiares nas áreas rurais têm uma principais obstáculos é a fraca qualidade dos
probabilidade três vezes menor de usarem sistemas de abastecimento de água e a falta
meios sanitários de tratamento de excreta de fontes de energia apropriadas para
ou de tratarem a água para consumo. Os sustentar estes sistemas de abastecimento. A
agregados rurais têm também uma situação é consideravelmente mais precária
probabilidade duas vezes menor de nas zonas rurais, onde, quando se encontra
extraírem água de fontes seguras do que os disponível, a água segura provém de poços e
agregados urbanos, furos equipados com bombas manuais. As
comunidades não se encontram devidamente
Em Angola, a Direcção Nacional das Águas, equipadas para poderem gerir de forma
sob a responsabilidade do Ministério da independente o seus sistemas de abasteci-
Energia e Águas, detém a responsabilidade da mento de água, beneficiando de um apoio
gestão dos sistemas de água e saneamento, operacional reduzido por parte das
com um elevado nível de descentralização a delegações provinciais de água, em termos
nível provincial através das Delegações de peças sobresselentes e manutenção do
Provinciais da Água. O estado do sistema de equipamento. Isto constitui um entrave à
abastecimento de água encontra-se forte- implementação da nova Lei da Água,
mente afectado tanto pela destruição aprovada em 2002 e que estipula que o
significativa das infra-estruturas que ocorreu desenvolvimento e utilização dos recursos
durante os 27 anos de guerra civil, como pela hídricos deve ser levado a cabo com a
maior procura de água nos centros urbanos participação das comunidades'.

Aprovada pelo parlamento a 21 de Junho de 2002, a nova lei da água veio estabelecer os princípios orientadores que
guiam a administração e o uso dos recursos hidráulicos em Angola. De entre alguns dos elementos específicos da lei
destacam-se a promoção activa da oarticipação do sector privaoo na gestão do abastecimento da água. A Lei da Água
também define que o quadro geral do desenvolvimento e utilização dos recursos hidráulicos sejam desenvolvidos com a
participação das comunidades e prevê a criação de associações voluntárias de consumidores que estipulam que é da
responsabilidade do estado promover a participação destas associações em assuntos relaeonados com a utilização
racional dos recursos hidráulicos.
Nota
Durante a guerra, os movimentos de A destruição desproporcional da infra-
população massivos em direcção às estrutura da água e saneamento nas áreas
áreas urbanas e peri-urbanas foram fora do controle governamental bem como a
acompanhados por esforços significativos concentração dos esforços de reabilitação
por parte da comunidade humanitária pela comunidade humanitária nas áreas
para dotar a população deslocada, bem urbanas e peri-urbanas contribuiu para criar
como a população residente concentrada discrepâncias significativas entre as taxas de
nestas áreas, com um acesso à água e cobertura nas áreas rurais e urbanas. Os
saneamento adequados. O resultado resultados do MIOS ilustram estas
destes esforços encontra-se reflectido discrepâncias e mostram que nas áreas
nos resultados de cobertura de água e rurais apenas 40% da população tem
saneamento do MIOS. A população acesso a fontes de água protegidas e que
inacessível na altura do inquérito não 25% utilizam meios sanitários para
beneficiou de qualquer intervenção na tratamento das fezes (comparado com 71%
área da água e do saneamento. As e 74% respectivamente nas áreas urbanas).
avaliações rápidas das necessidades A situação nas áreas rurais é, no entanto,
críticas levadas a cabo pelo governo em considerada muito pior pelo Ministério da
2002, nas áreas anteriormente Energia e Água, que no seu relatório de
inacessíveis revelaram que a vasta maioria 2002, sobre a situação nacional da
da população nestas áreas não teve cobertura da água e saneamento, indicou
acesso a água segura para beber nem a que o abastecimento de água e
meios sanitários adequados para saneamento adequado era apenas de 15%
tratamento das fezes. e 20% respectivamente.

Fontes de Água seguras: tipos de fontes

A
pesar do MIOS indicar se a maioria da protegidos, nascentes protegidas ou água
água consumida pelos agregados da chuva.
familiares é ou não extraída de uma
fonte segura, não revela, em última análise se A origem da água consumida é muito variável
esta água pode ser consumida em de acordo com a área de residência dos
segurança. É particularmente importante ter agregados familiares. Enquanto nas áreas
este facto em atenção quando se analisam urbanas a fonte mais importante de água
os resultados do MICS2 . Cerca de 40% dos para beber é a água canalizada (42%) , nas
Angolanos bebem água extraída de uma áreas rurais a fonte mais importante são os
fonte não segura (21% consumem água lagos, rios e ribeiros (42%). A proporção
extraída de lagos, rios ou ribeiros e 17% água significativa de agregados familiares que
extraída de outras fontes não protegidas). No usam água extraída de uma fonte segura a
que diz respeito ao uso de água extraída de nível nacional (62%) reflecte, sem dúvida, o
fontes seguras, 33% dos Angolanos usam rápido processo de urbanização, com um
água canalizada (directamente nas número crescente de Angolanos residentes
habitações, torneira de vizinho, chafariz) em áreas urbanas com um melhor acesso as
• ua, Sa nea m ento e Hig ien -

enquanto 29% usam água extraída de outras fontes de água seguras. O inquérito não
fontes seguras tais como furos, poços analisa no entanto a qualidade desta água.

O indicador
indicador recomendado internacionalmente para acompanhar os progressos feitos para alcançar o acesso universal a
água segura é "uso de água segura para beber". Este indicador constata apenas se a fonte de água utilizada pelos
agregados familiares é protegida, e não se debruça sobre a pureza da água. O MICS não pode portanto indicar, se a água
utilizada pelos agregados familiares angolanos é em última análise, segura para beber.
Tabela 11.1: Principais fontes de água para consumo doméstico (%), Angola, 2001

Água canalizada Outras fontes Fontes Outras fontes Percentagem dos


(directamente nas seguras (furo, poço inapropriadas inapropriadas agregados familiares
habitações, torneira protegido, nascente (lago, rio ou (poço ou nascentes que extraem água de
de vizinho, chafariz) protegida, água ribeiro) não protegidos, uma fonte segura
da chuva) camião cisterna)

Regiões
Capital 57 6 16 21 63
Norte 13 56 17 14 69
Este 21 19 43 17 40
Oeste 57 9 18 15 67
Sul 35 25 19 21 60
Centro Sul 19 54 12 14 74
Áreas de
residência
Urbana 42 29 12 17 71
Rural 13 27 42 18 40
Total 33 29 21 17 62

Registou-se um uso mais elevado de água através de camiões cisterna verifica-se


canalizada na Região Capital (57%) e mais também na Região Este (16%) o que indica
baixo na Região Norte e Centro Sul (13% e claramente as grandes dificuldades de ter
19% respectivamente). Nas duas últimas acesso a fontes adequadas de água nesta
Regiões a maioria dos agregados familiares Região.
inquiridos extraem água de furos bem como
de poços e nascentes protegidas (56% e Nas zonas urbanas as principais fontes de
54% no Norte e Centro Sul respectivamente). água canalizada para os agregados
A pior situação em termos de consumo de inquiridos são chafarizes e torneiras em
água proveniente de uma fonte segura habitações vizinhas, seguindo-se os furos
verificou-se na Região Este onde 60% dos bem como nascentes e poços protegidos
agregados consomem água proveniente de (29%). Seguem-se os lagos, rios ou ribeiros
fontes impróprias, na maior parte lago, rio ou onde se abastecem 12% da população e
ribeiro (43%). A proporção mais elevada de finalmente a água canalizada directamente
agregados familiares que obtêm água disponível nas habitações (11%)

Gráfico 11.1: Fontes de água utilizadas pelos agregados familiares urbanos

outro água
fonte ou poço não 5%
protegidos canalizada
7% 11%

rio, lago e ribeiro


12%
•ua, Sanea mento e Hi• ien -

torneira pública
ou de um vizinho
31%

furo, poço ou
fonte protegida
29% camião cisterna
5%

Os agregados rurais inquiridos têm uma
probabilidade três vezes maior de se
abastecerem de água em lagos, rios ou
ribeiros do que os agregados urbanos. Estes
agregados têm ainda uma probabilidade duas
vezes maior de obter água de um poço não
protegido. O acesso à água canalizada é
limitado sendo que os agregados rurais
inquiridos têm uma probabilidade trinta vezes
menor de ter acesso directo a água canalizada
na habitação, uma probabilidade oito vezes e
meia menor de ter acesso a água canalizada
em quintal próprio e trinta e cinco vezes menos
probabilidade de ter acesso a uma torneira de
uma habitação vizinha. A única fonte
significativa de água canalizada nas zonas
rurais são os chafarizes públicos, dando
acesso a água a apenas 12% dos agregados.
levada a cabo por mulheres e raparigas. Em
79% dos casos são as mulheres e raparigas
Tratamento dado à água entre os 12 e os 17 anos que se encarregam
atar a água antes de a beber é um de obter a água para consumo do agregado
passo fundamental para prevenir familiar. A falta de acesso a fontes
doenças transmissíveis através da apropriadas tem portanto um muito maior
água. Os resultados do MIOS indicam que impacto em termos da carga de trabalho das
somente 19% da população trata a água antes mulheres e raparigas. Este padrão observa-
de a consumir, com importantes variações por se tanto nas áreas rurais como nas áreas
área de residência e Região. A Região onde o urbanas e em todas as Regiões. A proporção
tratamento da água é o menos praticado é a de mulheres e raparigas que se encarregam
Região Este (9%), sendo que é na Região do abastecimento da água varia a nível
Capital onde o tratamento da água para beber regional entre 73% na Região Capital e 85%
é mais praticado (29%). É preocupante na Região Oeste. As mulheres fazem este
constatar que a Região Este é também aquela trabalho 13 vezes mais do que os homens,
com o prior acesso à água extraída de fontes sendo que as raparigas têm ainda 3 vezes
adequadas. Por outro lado, a proporção de mais probabilidade de se encarregarem
agregados familiares inquiridos que tratam desta tarefa do que os homens ou rapazes
água encontra-se acima da média na Região da mesma idade.
Sul e Capital ligeiramente abaixo da média nas
Regiões Norte, Oeste e Centro Sul. É ainda de O MIOS mediu a distância a que encontra a
notar que os agregados familiares urbanos fonte de água apropriada mais próxima dos
tratam a água mais frequentemente, três vezes agregados familiares inquiridos. Os
mais do que nas áreas rurais. resultados do inquérito indicam que uma
proporção importante das mulheres e
A grande maioria dos agregados familiares
raparigas que se encarregam do
inquiridos que tratam a água antes de a
abastecimento de água devem caminhar
consumir fazem-no fervendo a água (72%).
distâncias consideráveis até à fonte de água
Este método é três vezes mais popular do que
mais próxima. É importante mencionar que
o seguinte (o uso de lixívia utilizada por 22%
quando as mulheres ou raparigas atingem a
dos agregados). O uso de cloro permaneceu
fonte de água deverão ainda fazer o caminho
limitado (6%) a nível nacional.
•ua, Sa nea mento e Hi• ie n -

de volta suportando um peso considerável.


Membros dos agregados familiares Quando o MIOS indica por exemplo, que
para 9% dos agregados familiares a fonte de
que se encarregam do água se situa entre 500 metros e 1

o
abastecimento de água quilómetro deve entender-se que os
s resultados do MIOS revelam que a membros deste agregado familiar percorrem
tarefa de obter água para cozinhar, uma distância de 1 a 2 quilómetros para se
beber ou limpar é quase sempre abastecerem de água.
Globalmente 16% dos agregados percorrem da população rural deve caminhar mais de
mais de um quilómetro para se abastecerem um quilómetro para obter água.
de água, 31 % percorrerem entre 200 metros Significativamente mais de 1 em cada 10
a 1 quilómetro e 53% menos de 200 metros. agregados urbanos obtêm água de uma
A distância percorrida pelos agregados fonte situada a mais de 2 quilómetros de
familiares confirma a tendência segundo a distância. O acesso a fontes de água
qual as zonas rurais se encontram em piores protegidas é particularmente precário no Este
condições em termos de acesso a fontes onde um terço dos agregados se abastece
adequadas de água. Enquanto a maioria dos em fontes situadas a mais de 1 quilómetro de
pontos apropriados de abastecimento de distância. A Região Capital é a Região em
água se situam a menos de 100 metros das que os agregados familiares inquiridos
habitações nas zonas urbanas (58%) a beneficiam de um melhor acesso (65% dos
maioria das fontes apropriadas de água nas agregados familiares têm acesso a uma fonte
zonas rurais (60%) situam-se a mais de 100 protegida a menos de . 100 metros da
metros das residências. Cerca de um quarto habitação), seguindo-se a "Região Sul.

Gráfico 11.2: Distância a que se situa Gráfico 11.3: Distância a que se situa
a fonte de água dos domicílios nas a fonte de água dos domicílios nas
zonas rurais zonas urbanas

entre 500
metros e 1km mais de 1km
8% 11%

entre 500
metros e
1km menos de
entre 100 13% 100 metros
e 500 41%
metros
29%

menos de
100 metros
58%

entre 100
mais de 1 km e 500
5% metros
35%
Meios sanitários
de tratamento das fezes

lobalmente o MIOS indica que uma

G elevada proporção da população


não utiliza meios sanitários de
tratamento das fezes (41%), com importantes
variações por Região e área de residência. A
situação é sem dúvida mais precária nas
Regiões Oeste e Centro Sul onde
aproximadamente dois terços da população
não tem acesso a meios sanitários de
tratamento das fezes (62%). Nas Regiões
Oeste e Centro Sul cerca de 60% da
população não dá qualquer tratamento às
fezes que são deixadas a céu aberto. Esta
proporção atinge cerca dos 50% também na
Região Este. É na Região Sul onde o acesso
ao saneamento adequado é melhor sendo
que 82% da população nesta área trata as parcial de rede de esgotos (Luanda,
fezes por meios sanitários, na sua maioria Huambo, Namibe, Lobito e Benguela).
através do uso de latrinas tradicionais (62%).
Os agregados familiares nas zonas rurais têm
A maioria da população a nível nacional não 3 vezes menos probabilidades de ter acesso
dá qualquer tratamento às fezes, sendo que a saneamento apropriado do que os
39% dos casos são deixadas ao ar livre. Em agregados urbanos (26% contra 74%). Nas
termos do tratamento das fezes os métodos zonas rurais aproximadamente cada três em
mais utilizados são as latrinas tradicionais quatro pessoas não dá qualquer tratamento
(30%) e as casas de banho com sistema de às fezes comparado com uma em cada
esgoto (14%). Globalmente, a proporção da quatro pessoas em zonas urbanas. Para
população que beneficia de uma ligação ao mais, os agregados urbanos inquiridos têm
sistema de esgoto é muito baixa, variando uma probabilidade nove vezes menor de
entre 28% na Região Capital e somente 6% estarem ligados a um sistema de esgoto e
na Região Este. É importante mencionar que uma probabilidade onze vezes menor de
somente cinco cidades em Angola possuírem uma casa de banho ligada a uma
beneficiam presentemente de cobertura fossa séptica.

Gráfico 11.4: Tratamento dado às fezes pelos agregados familiares

outros
1%
sistema de esgoto
14%

fossa séptica
8%
ar livr(
39°

latrina com
• • u a, Sa neamento e Hi• ien -

descarga manual
8%

latrina seca
30%
Infecçc
No total, 58% das crianças com IRA foram
Indicadores tratadas num serviço de saúde apropriado.
Cerca de metade destas crianças (28%)
Prevalência de infecções respiratórias agudas (IRA): receberam tratamento num hospital e a outra
Proporção das crianças com idades compreendidas metade num centro ou posto de saúde
entre os O e os 59 meses que sofreram de infecções (28%). Existem variações importantes por
respiratórias agudas nas últimas duas semanas - 8% quintil sócio-económico sendo que as
crianças mais vulneráveis têm uma
Procura de cuidados de saúde adequados para IRA: probabilidade duas vezes menor de serem
vistas por um profissional de saúde
Proporção das crianças com uma idade compreendida
qualificado do que as menos vulneráveis.
entre os O e os 59 meses que sofreram de IRA e que
Os agregados familiares mais favorecidos
foram levadas a um centro de saúde apropriado - 58% têm uma maior tendência para se dirigirem
aos hospitais (34%) do que os socio-
economicamente mais vulneráveis (18%). É
de notar que é a partir do quinto quintil
al como para as doenças diarreicas, sócio-económico que os centros e postos
as infecções respiratórias agudas (IRA) de saúde são mais frequentados, para
sobressaem como uma das mais os agregados familiares dos restantes
importantes causas de mortalidade das quintis as variações são limitadas. Estes
crianças angolanas'. Uma criança que resultados indicam que as condições sócio-
respira rapidamente ou com dificuldade económicas têm uma influência fundamental
poderá ter pneumonia, uma doença grave e em termos da probabilidade das crianças
que requer tratamento imediato. No inquérito,
foram consideradas IRA todas as situações
em que as crianças sofreram nas duas
semanas anteriores à entrevista de tosse
acompanhada de respiração difícil com ou
sem constipações. O MICS indica que 8%
das crianças com menos de cinco anos de
idade sofreram de tais doenças num período
de duas semanas anterior ao inquérito. Para
mais, uma proporção importante das
crianças (42%) com sinais de IRA não foram
vistas por um técnico ou num serviço de
saúde apropriado3 .

O grupo etário mais afectado por IRA são as


crianças dos 12 aos 23 meses (11%). As
infecções respiratórias agudas parecem
afectar tanto os rapazes como as raparigas
com a mesma intensidade e não se notaram
diferenças significativas de acordo com a
área de residência, nível sócio-económico do
agregado familiar e Região.
nfec ões •esp u rat•nas •g u•a

Apesar de não exitirem dados fiáveis sobre as principais causas da mortalidade das crianças em Angola, dados do
MinIstériq da Saúde mostram que as causas da mortalidade registadas nos serviçoS nacionais de saúde em 2000 a
malária era de longe a maior causa de mortalidade entre as crianças (76%) seguindo-se as infecções respiratórias agudas
(7%) e as doenças diarreicas (7%).

2 De uma forma semelhante à febre associada à malária e às doenças diarreicas, os resultados do MIOS sobre IRA deverão
ser analisados com precaução e somente como uma indicação do estado geral de saúde das crianças e das medidas
tomadas pelos agregados familiares para tratar as infecções. Na realidade, o diagnóstico inicial é feito pelos encarregados da
criança e está portanto sujeito às suas interpretações. Por outro lado, o inquérito não mede a severidade das infecções.

Inclui as crianças tratadas por técnicos de saúde qualificados em hospitais, centros de saúde e dispensários.
serem vistas por um técnico de saúde frequentarem os centros de saúde pode
qualificado. Também revelam a dimensão da ainda estar associada a uma concentração
vulnerabilidade da vasta maioria da de agregados mais favorecidos nos centros
população. Esta maior tendência dos urbanos, onde o acesso aos serviços de
agregados familiares menos vulneráveis para saúde é melhor.

Gráfico 12.1: Proporção de crianças dos O aos 59 meses de idade com IRA
observadas em postos ou centros de saúde, por quintil sócio-económico

50

40 -•"/

30

20

10

1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil


/.
Em termos de variações regionais, as crianças a frequentarem estes serviços nas Regiões
têm uma maior tendência a serem tratadas em Norte e Este (51% e 54% respectivamente) o
hospitais, postos e centros de saúde na que reflecte a disponibilidade de serviços de
Região Capital (65%) e uma menor tendência saúde a nível nacional.
Cuidados Maternos
s mulheres grávidas devem ser
observadas por pessoal de saúde Indicadores
apacitado pelo menos quatro vezes.
em cada gravidez e receber assistência Cuidados pré-natais: Percentagem de mulheres
durante o parto cada vez que derem à luz'. O com 15-49 anos assistidas pelo menos uma vez durante
contacto regular com pessoal da saúde a gravidez por pessoal de saúde capacitado (médicos,
capacitado' durante a gravidez, permite às enfermeiros e parteiras) - 66%
mulheres identificar, e possivelmente corrigir,
potenciais problemas de saúde. Esta Cuidados durante o parto: Percentagem de partos
assistência permite ainda às mulheres assistidos por pessoal de saúde capacitado (médicos,
grávidas receberem conselhos gerais de
enfermeiros e parteiras) - 45%
saúde sobre vacinação contra o tétano, boa
nutrição, HIV/SIDA, malária e higiene.
Também é necessário que os médicos,
parteiras ou enfermeiros, que possuem
capacidade necessária para tratar com De acordo com o MICS, o pessoal de saúde
segurança os partos normais e para qualificado em Angola assiste a menos de
reconhecer o início de complicações que metade dos partos e um terço das mulheres
requerem cuidados de emergência, assistam não são assistidas durante a gravidez. Esta
ao próprio parto. ' Este aspecto é situação é compatível com a da África sub-
particularmente importante para se abordar a sariana, onde, em 2001, os cuidados pré-
questão da mortalidade materna, considerada natais apenas tinham abrangido 66% das
extremamente elevada em Angola3 . mulheres e os cuidados durante o parto
41%. Embora não se tenha registado
qualquer melhoria nos cuidados pré-natais
desde 1996, actualmente em declínio nas
áreas urbanas, o número de mulheres
atendidas por pessoal de saúde capacitado
quase duplicou entre 1996 e 2001.

Cuidados pré-natais

D
e acordo com o MIOS, 66% das
mulheres recebem cuidados pré-
natais prestados por pessoal
capacitado, 16% por Parteiras Tradicionais
(PTs)', sendo que 19% não recebem nenhum
tipo de cuidado. Entre o pessoal capacitado
que presta assistência, a grande maioria é
constituída por enfermeiros e parteiras (74%),
seguindo-se os médicos (18%) e parteiras
auxiliares (8%). Verificam-se grandes variações
na cobertura consoante as áreas de
residência, Regiões, quintil sócio-económico e
nível de instrução. A nível nacional, a situação
é semelhante à verificada em 1996, altura em

1 Facts for Life: O MICS recolheu dados sobre a proporção de mulheres assistidas pelo menos uma vez durante a

gravidez. É no entanto recomendável que as mulheres sejam assistidas, por pessoal médico qualificado, pelo menos
quatro vezes durante cada gravidez.

2 Pessoal de saúde capacitado inclui médicos, enfermeiros e parteiras; não inclui parteiras tradicionais,
independentemente do facto de estas terem ou não recebido formação.

'Apesar de não existirem estimativas fidedignas da mortalidade materna em Angola, em 2001 o Ministério da Saúde
estimou a taxa de mortalidade materna em 1,500 por 100,000.

As PTs são consideradas pessoal não capacitado, uma vez que o MIOS não identifica se as PTs foram ou não
formadas, nem determina a qualidade da formação proporcionada.
que, segundo o MICS, 64% das mulheres cobertura pré-natal (cerca do dobro).
recebia cuidados pré-natais. Contudo, a Independentemente do grau de instrução ou
cobertura diminuiu nas áreas urbanas de 80% de bem estar sócio-económico são os
em 1996 para 71% em 2001, reflectindo enfermeiros ou as parteiras que atendem a
maiores dificuldades para as mulheres no maior parte das mulheres. O que diferencia as
acesso aos serviços de saúde, nas áreas mulheres menos vulneráveis do ponto de vista
urbanas. sócio-económico das restantes mulheres
entrevistadas é que, depois de terem sido
O inquérito revela ainda grandes disparidades atendidas por um enfermeiro ou parteira,
entre as mulheres em termos tanto de acesso muitas delas fazem consultas pré-natais com
como de capacidade para pagar serviços de médicos, enquanto as mulheres sem instrução
saúde. Quanto mais elevado é o nível de e as provenientes dos quatro quintis mais
instrução e de bem-estar, maior é a taxa de baixos são vistas por parteiras tradicionais.

Gráfico 13.1: Tipo de pessoal de saúde que presta cuidados pré-natais por
quintil sócio-econónico

70

60

50

40

30

20

10


Enfermeira/ PTs Médico Auxiliar Sem assitência
parteira

• 1° quintil 5 ° quintil

A proporção de mulheres que é vista por PTs são também muito mais utilizadas nas áreas
reduz-se na proporção inversa do bem-estar rurais (23%) do que nas urbanas (13%). A
sócio-económico e nível de instrução das percentagem de pessoal não qualificado que
mulheres. As mulheres mais vulneráveis assiste mulheres grávidas varia ainda
usam dez vezes mais PTs durante a consulta significativamente por Região, de 29% na
pré-natal do que as mulheres socio- Região Oeste, para 20% no Norte e 7% no
economicamente menos vulneráveis. As PTs Sul.
:€rrr r i
Gráfico 13.2: Proporção das mulheres que recebem cuidados pré-natais por
parte de parteiras tradicionais segundo o quintil sócio-econónico

30

25

20

15

10

1 1
1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

Nas áreas rurais, apenas metade das mulheres Regiões (76%), sendo a mais baixa no
são assistidas pelo menos uma vez durante a Centro Sul (59%). À semelhança do que se
gravidez, em comparação com os mais de dois verifica a nível nacional, as enfermeiras-
terços que recebe assistência nas áreas parteiras são as pessoas que proporcionam
urbanas. De uma maneira geral, as mulheres a maior parte dos cuidados pré-natais em
em áreas rurais ou não recebem cuidados pré- todas as Regiões do país. Contudo, as
natais (24%), ou tais cuidados são Regiões da Capital, Oeste e Sul destacam-
proporcionados por pessoal menos qualificado. se pois, contrariamente às outras Regiões, a
pessoa mais procurada depois da
A cobertura pré-natal também varia de enfermeira-parteira é o médico. Nas
acordo com as Regiões do país. O Sul tem restantes Regiões, a segunda pessoa a
uma maior cobertura do que as outras quem mais se recorre é a PT.

Tabela 13.1: Percentagem de mulheres dos 15 aos 49 anos cujos partos no último ano foram
assistidos por tipo de pessoal que prestou os cuidados pré-natais, Angola, 2001

Pessoa que prestou cuidados pré-natais


Nenhuma Total assistido
Enfermeiro/ Parteira Parteira assistência por pessoal
Médico parteira Auxiliar tradicional recebida capacitado

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 10 35 3 29 24 47
Segundo 12 43 6 22 17 61
Terceiro 10 43 6 18 23 59
Quarto 10 55 6 11 18 71
Quinto 18 64 5 3 11 86
Região
Capital 12 51 8 9 20 71
Norte 12 48 9 20 12 69
Este 14 39 2 29 15 56
Oeste 17 50 2 15 17 69
Sul 13 58 4 7 17 76
Centro Sul 3 50 6 10 31 59
Área de Residência
Urbana 14 52 5 13 16 71
Rural 7 41 5 23
u i .a dos Materno

24 53
Nível de instrução
Nenhum 7 36 6 26 24 49
Primário 12 54 5 12 17 72
Secundário e superior 23 63 3 3 9 89
Total 12 49 5 16 19 66
Cuidados durante o parto pais ou amigos (55%), a que se seguiram
enfermeiros/parteiras/auxiliares (21%) e PTs
MIOS revela um quadro completa- (12%), em 2001 a maior parte foi assistida

O mente diferente em termos de


cuidados durante o parto e do tipo
de pessoal que presta os cuidados em
por enfermeiros/parteiras/auxiliares (39%),
seguidos pelas PTs (26%) e somente depois
por pais ou amigos (24%). O número de
mulheres que não receberam assitência
relação a 1996. A nível nacional, a cobertura
aumentou de 26% para 45%. Enquanto em durante o parto também decresceu de 9%
1996 a maioria dos partos foi assistida por para 3%.

Tabela 13.2: Tipo de pessoal que assiste o parto: comparação entre 1996 e 2001 em áreas urbanas

Enfermeiro/ Nenhuma

Médico Parteira/Auxiliar PTs Pais/Amigos assistência Outro


1996 3 32 8 49 7 1


2001 7 45 20 23 2 2

Estes resultados apontam para uma maior 2001, enquanto o número de partos
consciência e uma mudança positiva de assistidos por pessoal qualificado aumentou
comportamento entre as mulheres, que apenas em 40% durante o mesmo período.
progressivamente parecem procurar mais Em áreas rurais, apenas 25% das mulheres
assistência para o parto fora do círculo foram assistidas durante o parto. Este valor é
familiar. Os resultados mostram ainda um duas vezes menor ao registado nas áreas
aumento significativo na procura de serviços urbanas, e reflecte uma maior falta de
de saúde, associado a uma rápida conhecimentos bem como de acesso a
urbanização. Finalmente, estas conclusões serviços de saúde. Embora os enfermeiros ou
revelam que o aumento da procura não as parteiras assistam mais frequentemente a
correspondeu a uma oferta de serviços de partos nas áreas urbanas, nas zonas rurais
saúde apropriados. Por exemplo, o número são as PTs que mais frequentemente
de partos assistidos por PTs em zonas prestam assistência às mulheres durante o
urbanas aumentou em 150% entre 1996 e parto. A importância de amigos ou parentes
nos cuidados durante o parto está também
longe de ser insignificante nas áreas rurais,
onde eles assistem um quarto do total dos
partos realizados. Embora a pesquisa não
permita conhecer o local de parto, pode
partir-se do princípio que os partos assistidos
por parentes ou amigos, bem como os que
não receberam nenhuma assistência e os
assistidos por parteiras tradicionais se
realizaram em casa. Isto poderá significar que
a maioria das mulheres em Angola ainda dá
à luz em casa. De facto, o MIOS de 1996
indicou que 83% dos partos ainda ocorriam
em casa.

As mulheres pertencentes aos três quintis


dos ate rno

sócio-económicos mais baixos recorrem


predominantemente a parteiras tradicionais.
É apenas a partir do quarto quintil (em que o
nível de vulnerabilidade é já mais reduzido) que
as mulheres recorrem mais frequentemente
a enfermeiros ou parteiras. Observam-se aparece como um factor determinante na
os mesmos padrões de acordo com o nível decisão por parte das mulheres de
de instrução das mulheres. Embora as procurarem ou não assistência durante o
mulheres com mais instrução recorram, na parto. A cobertura de assistência por
sua maioria, a enfermeiros ou parteiras, as pessoal qualificado durante o parto é
menos instruídas recorrem principalmente a aproximativamente três vezes mais elevada
PTs e parentes ou amigos para assistirem ao em mulheres que frequentaram o ensino
parto. A educação sobre os importantes secundário e superior do que nas mulheres
benefícios dos cuidados durante o parto sem qualquer instrução'.

Gráfico 13.3: Tipo de pessoal que assiste as mulheres durante o parto segundo
o nível de instrução das mulheres

70

60

50

40

30

20

10

Enfermeiro/ PTs Pais/Amigos Médico Não assistida


parteira

Sem instrução Secundário e superior

A análise da assistência durante o parto por média nacional, Nesta Região, quase uma em
Regiões reflecte a disponibilidade geral de cada dez mulheres nunca recebeu assistência
serviços de saúde em Angola. A cobertura mais durante o parto. Merece destaque a
elevada de cuidados durante o parto encontra- percentagem relativamente elevada de
se nas Regiões Capital e Oeste, registando-se mulheres que não recebe nenhuma assistência
a mais baixa na Região Este. A cobertura é na Região Capital, onde esta é bastante
similar à média nacional nas Regiões Norte, Sul. superior à média nacional. O MIOS indica que
O recurso a médicos na Região Capital é duas uma grande parte de mulheres na Região
vezes superior à média nacional. Nesta zona, • Capital (mais de um terço) tem os seus partos
os cuidados durante o parto são assistidos por parentes/amigos, ou não recebe
essencialmente proporcionados por nenhuma assistência. Apenas na Região Este a
enfermeiros e parteiras, e parentes ou amigos. maior parte dos partos são assistidos por
Nas Regiões Norte, Oeste, Centro Sul e Sul, os parteiras tradicionais. Paradoxalmente, na
enfermeiros ou as parteiras assistem mais Região Este os amigos ou parentes assistem a
frequentemente os partos, embora no Sul a menos partos e é ali também o segundo mais
assistência de parentes ou amigos represente baixo índice de partos não assistidos.
muito mais do que um terço dos partos.
A grande maioria dos cuidados maternos é
A maior percentagem de mulheres que não proporcionada por profissionais de nível
recebem nenhuma assistência verifica-se na médio e básico. Tomando em consideração
Região Centro Sul, onde é três vezes superior à os elevados níveis de mortalidade materna

Este padrão encontra-se relacionado com o facto de no MIOS as mulheres com educação secundária ou superior
pertencerem na sua maioria ao segmento mais favorecido da população (ou seja, ao quinto quintil sócio-económico).

existentes, durante a gravidez, o parto e o de formação para pessoal de nível médio e

período pós-parto, os dados sobre cuidados básico, de forma a manterem-se níveis

maternos sugerem a importância de acções aceitáveis de serviços maternos.

Tabela 13.3: Percentagem de mulheres de 15 a 49 anos que deram à luz no último ano por tipo de
pessoal que assistiu ao parto, Angola, 2001

Pessoa que assiste ao parto Total


Enfermeiro Parteira Parteira Pais/ Sem Outros/ assistido
Médico /Parteira Auxiliar Tradicional Amigos assistência em falta por pessoal
capacitado

Quintil
Sócio-Económico
Primeiro 3 16 4 41 29 3 4 23
Segundo 4 25 8 32 27 3 2 36
Terceiro 3 25 9 32 26 3 2 37
Quarto 7 39 8 20 23 2 2 54
Quinto 11 53 6 9 17 2 2 67
Região
Capital 10 32 8 10 30 5 5 50
Norte 3 31 12 28 23 2 2 46
Este 4 29 4 50 11 O 1 37
Oeste 9 35 5 26 24 O 1 49
Sul 7 37 3 12 35 3 4 47
Centro sul 3 32 9 20 26 9 2 43
Área de Residência
Urbana 7 38 7 20 23 2 2 53
Rural 1 19 6 40 26 5 4 25
Nível de instrução
Nenhum 3 19 7 35 30 4 2 29
~os ' aterno

Primário 6 35 7 24 23 2 2 48
Secundário e superior 12 63 6 3 10 4 2 82

Angola 6 32 7 26 24 3 2 45
S
ete das principais doenças infantis poliomielite, uma dose de vacina BCG
podem ser prevenidas através de protege a criança da tuberculose (TB), uma
vacina. Três doses de vacina DPT dose da vacina contra o sarampo protege-a
protegem a criança da difteria, tosse do sarampo e uma dose de vacina da febre
convulsa e tétano; três ou mais doses de amarela protege a criança contra a febre
vacina contra a pólio protegem a criança da amarela.'

Indicadores
Cobertura da vacina contra a TB: Proporção de crianças com um ano vacinadas contra a
tuberculose - 69%
Cobertura da vacina contra a pólio: Proporção de crianças com um ano vacinadas contra a
poliomielite (Polio 3) - 63%
Cobertura da vacina contra o sarampo: Proporção de crianças com um ano vacinadas contra
o sarampo - 53%
Cobertura da vacina contra a DPT: Proporção de crianças com um ano vacinadas contra a
difteria, tosse convulsa e tétano (DPT3) - 34%
Crianças totalmente vacinadas: Proporção de crianças com um ano vacinadas contra a DPT,
pólio, sarampo e tuberculose - 27%

Em Angola, o Programa Alargado de isso, o grupo etário mais apropriado para


Vacinação (PAV) recomenda que todas as calcular a cobertura vacinai é o dos 12 aos
crianças tenham a vacinação completa contra 23 meses, uma vez que todas as doses
a DPT, tuberculose, sarampo, febre amarela e obrigatórias de vacina devem ser administradas
pólio antes de atingirem um ano de idade. Por à criança até aos 12 meses de idade.

Calendário de Vacinação Recomendado em Angola

Idade em que a vacina Tipo de vacina


deve ser administrada

O mês BCG e dose inicial de pólio (Pólio O)


2 meses 1 a dose de DPT (DPT 1) e 1 a dose de pólio (Pólio 1)
4 meses 2a dose de DPT (DPT 2) e 1a dose de pólio (Pólio 2)
6 meses 3a dose de DPT (DPT 3) e 3a dose de pólio (Pólio 3)
9 meses Sarampo e Febre Amarela

De uma maneira geral, o MIOS indica que É apenas em relação à vacinação contra a
apenas 27% das crianças com um ano de pólio que Angola está a ter uma actuação
idade estão totalmente vacinadas contra seis significativamente boa em comparação com
destas sete doenças preveníveis 3 , havendo os restantes países da África sub-sariana.
menos crianças vacinadas contra a DPT Este desempenho positivo deve-se aos
(34%) e mais contra a tuberculose (69%). grandes esforços mobilizados pelo PAV para
Estes valores colocam Angola entre os 10 erradicar a poliomielite em Angola, através
países do mundo com a mais baixa da implementação das Jornadas Nacionais
cobertura vacinai, muito abaixo da média da de Vacinação (JNV). Estas campanhas
África sub-sariana, estimada em 46% em nacionais têm sido realizadas repetidas
2001 3 . vezes em todo o país desde 1996. Como

A vacinação contra a febre amarela não foi analisada pelo MIOS.


.
Difteria, tosse convulsa, tétano, polio, sarampo e tuberculose.
cf. State of the World's Children 2003, UNICEF.
resultado, o número de crianças vacinadas vulneráveis. Contudo, estas campanhas são
contra a pólio aumentou em mais do dobro insustentáveis sobretudo devido ao seu
desde 1996 (de 28% para 63%). Uma outra elevado custo. Sem o constrangimento da
característica da vacinação em Angola é a guerra, a abordagem através de campanha
cobertura adequada contra a tuberculose pode ser agora usada em Angola como um
(69%), o que revela uma maior consciência meio para ajudar a reconstruir os serviços de
entre as mães sobre a TB do que em relação vacinação de rotina, aumentar a consciência
a outras doenças como a DPT e o sarampo. das mães e a reduzir as disparidades entre
Este resultado pode também reflectir o facto grupos sócio-económicos e já não somente,
da vacina BCG ser dada à nascença. Os como uma solução paliativa.
níveis de vacinação contra a TB, sarampo e
DPT aumentaram em cerca de 10% desde O MIOS mostra como a abordagem tipo
1996, enquanto a pólio se destaca como a campanha, de uma maneira geral, e as JNV,
vacina que registou um aumento superior a em particular, foram um poderoso instrumento
100%. para a eliminação das disparidades entre
grupos sócio-económicos, e entre populações
As duas principais formas de administração urbanas e rurais. Entre as crianças mais
de vacinas em Angola são através dos vulneráveis, o nível de vacinação contra a
serviços de vacinação de rotina e de poliomielite é similar ao das crianças mais
actividades levadas a cabo junto da privilegiadas. Em comparação, o nível de
população tais como a deslocação de vacinação contra a DPT é duas vezes
equipas móveis de vacinação e intervenções mais baixo entre as crianças sócio-
do tipo campanha. O MIOS confirmou que os económicamente mais vulneráveis, verificando-
serviços de vacinação de rotina funcionam se a mesma tendência na vacinação contra o
de forma deficiente. A percentagem de sarampo e a tuberculose. A fraca cobertura
crianças que recebem a terceira dose de vacinai contra a DPT constitui um factor de
DPT é geralmente usada como um bom preocupação, mesmo entre a população
indicador da forma como os países mais rica (menos de 50%). Este facto não só
proporcionam serviços de vacinação de revela o fraco estado dos serviços de
rotina. Trata-se de um indicador vacinação de rotina, mas também a fraca
particularmente relevante no contexto consciência sobre doenças como difteria,
angolano, uma vez que a DPT só é tosse convulsa e tétano entre a população
administrada através de canais de serviço de angolana.
rotina. O MIOS revelou que, a nível nacional,
só um terço das crianças com 1 ano estão
totalmente vacinadas contra a DPT 3. Em
2001, dos 164 municípios existentes no
país, os serviços de rotina do PAV só
funcionavam em 91. Além disso, os serviços
de vacinação de rotina estavam
principalmente concentrados dentro ou nas
imediações das capitais provinciais e
municipais, situação que explica
parcialmente o facto de as crianças nas
zonas urbanas terem uma probabilidade
duas vezes maior de serem vacinadas contra
a DPT do que as das áreas rurais.

Estas conclusões sublinham o considerável


desafio que o sector de saúde pública em
Angola hoje enfrenta. Até que os serviços de
vacinação de rotina sejam revitalizados a
nível das comunidades, as campanhas de
vacinação dirigidas continuarão a ser a forma
mais eficaz de se atingir um maior número de
crianças, particularmente entre as mais
Gráfico 14.1: Cobertura vacinai entre as crianças com 1 ano por quintil
sócio-económico

100Y

/
80 ✓

60

40

20

Folio Tuberculose Sarampo DPT

• 1° quintil 5° quintil

O nível de instrução das mães é o factor que mais privilegiados, a cobertura vacinai contra
mais influência o facto de uma criança ser ou a DPT é a mais baixa de entre todas as
não vacinada. De uma maneira geral, uma vacinas mesmo nas crianças cujas mães são
criança angolana cuja mãe tenha atingido o escolarizadas (61%). No entanto, a cobertura
nível de ensino secundário ou superior tem nestas crianças é ainda significativamente
2.5 vezes mais probabilidades de ser mais elevada do que a cobertura contra a
totalmente vacinada do que uma criança cuja DPT entre crianças cujas mães são
mãe nunca foi à escola. Mais de 75% das analfabetas, que não chega a 25%. A
crianças cujas mães frequentaram o ensino cobertura vacinai contra a pólio demonstra o
secundário estão vacinadas contra a pólio, nível mais baixo de variações de acordo com
sarampo e tuberculose. À semelhança do a educação das mães ,o que provavelmente
que se observa entre os agregados familiares reflecte os efeitos positivos das JNV.

Gráfico 14.2: Cobertura vacinai em crianças com 1 ano por nível de educação da mãe

100 -V

80

60

40

20

Polio Tuberculose Sarampo DPT

• Nenhum Secundário e Superior

A Região Capital é onde as crianças angolanas Contudo, surpreendentemente, não é onde a


estão mais protegidas contra a tuberculose e a cobertura vacinai total é a mais elevada, pelo
pólio, e também onde a cobertura contra o facto de a cobertura de DPT3 ser muito baixa
sarampo e a DPT é mais elevada do que nas (37%) na Capital em comparação com a
Regiões Oeste, Este, Sul e Centro Sul. cobertura de DPT3 na Região Norte (57%).
Para todas as doenças preveníveis, a Região vacinação, facto que pode significar um
Norte apresenta sistematicamente uma melhor acesso aos serviços de vacinação de
cobertura superior a 50%. Consequentemente, rotina nesta zona. As variações regionais
a vacinação completa em crianças de 1 ano menos significativas registam-se em relação
nesta Região é duas vezes superior à das à tuberculose (com uma cobertura entre 64%
crianças em qualquer outra Região. É e 78%), enquanto as maiores variações
também somente na Região Norte que mais regionais se verificaram na DPT (cuja
de 50% das crianças possui cartão de cobertura varia entre 17% e 57%).

Mapa 14.1: Cobertura vacinai total nas crianças de um ano de idade

Região Norte
54%

egião Capita
28%
Acima de 40%

Entre 20% e 40% Região Região Este


Oeste 17%
28%
Menos de 20%

Região
Região Sul Centro Sul
19% 17%

Embora a cobertura vacinai varie muito de


acordo com as condições económicas do
agregado familiar, área de residência, Região
e nível de instrução da mãe, não há
variações significativas por sexo. Rapazes e
raparigas são vacinados de modo
semelhante o que revela a ausência de
práticas discriminatórias por sexo.

Finalmente, o MIOS indica que 70% das


crianças angolanas com menos de 5 anos
não possui cartão de vacinação. Mesmo
entre as crianças menos vulneráveis, menos
de 40% possui cartão de vacinação. As
áreas urbanas revelam um maior número de
crianças com cartão de vacinação do que as
áreas rurais (32% versus 24%). Este baixo
nível de cartões de vacinação deve-se ao
facto de estes não estarem disponíveis nos
postos de vacinação, de se terem perdido ou
de não serem distribuídos durante as
campanhas de vacinação.
Tabela 14.1: Cobertura vacinai em crianças dos 12 aos 23 meses, Angola, 2001
(por cartão de vacinação e informação da mãe) 4

Cobertura Cobertura Cobertura Cobertura Cobertura


da vacina da vacina da vacina da vacina da
contra a contra a contra o contra a vacinação
TB pólio 3 sarampo DPT 3 total

Quintil Sócio-Económico
Primeiro 54 63 38 23 20
Segundo 57 57 44 23 18
Terceiro 73 62 56 34 28
Quarto 70 68 55 36 28
Sexto 84 65 68 47 35
Sexo
Masculino 68 61 54 34 26
Feminino 69 65 53 34 27
Região

Capital 78 72 65 37 28
Norte 73 69 69 57 54
Este 64 60 44 24 17
Oeste 65 64 53 33 28
Sul 64 53 52 27 19
Centro Sul 69 63 42 27 17
Área de Residência
Urbana 74 64 58 39 31
Rural 57 61 42 22 18
Nível de instrução da mãe

Nenhuma 57 59 41 23 20
Primário 73 63 55 35 26
Secundário e superior 85 78 82 61 49

Total 69 63 53 34 27

Comparação 73 52 58 54 46
Total África Sub-sariana 2001

o
No MIOS pergunta-se às mães se os seus filhos possuem cartão de vacinação e, em caso afirmativo, o entrevistador
o retira do cartão a informação sobre a situação de vacinação da criança. Quando a criança não possui cartão ou este está
incompleto, as mães dão informação sobre o historial de vacinação da criança através de uma conversa com o
entrevistador.
Poliomielite

44011.11*)„.
U
m dos mais notáveis sucessos na
recente história da saúde pública em
Angola foram os progressos feitos
com vista à erradicação da pólio. Como
resultado do investimento rhassivo feito
desde 1996 para erradicar a doença, através
da implementação de repetidas Jornadas
Nacionais de Vacinação (JNV), a cobertura
vacinai da pólio entre as crianças angolanas
com 1 ano de idade aumentou para mais do
dobro entre 1996 e 2001 (de 28% para
63%).

Erradicação da Poliomielite A representante especial do UNICEF, senhora


Mia Farrow, dá a vacina da pólio a uma criança.

A erradicação da pólio implica, tanto o fim da


incidência (o número de novos casos) da doença,
como a erradicação do poliovírus a nível mundial. O diminuíram em 99% desde o lançamento da
mundo só será considerado livre de pólio depois de iniciativa global de erradicação da pólio.
três anos sem novos casos reportados causados por
poliovírus. Angola mereceu uma grande atenção uma
vez que, em 2000, estava entre os 20
países do mundo onde a pólio era ainda
endémica. Esta situação era sobretudo
A pólio é uma doença altamente infecciosa devida às dificuldades em atingir todas as
que já paralisou milhares de crianças crianças devido à guerra e ao grande
angolanas. O poliovírus propaga-se rápida e movimento de deslocados internos. Em
silenciosamente, e somente os primeiros 2002, Angola já não era considerada um
casos de paralisia alertam para a existência país endémico. Dos 1,103 casos de pólio
de um surto. Embora não possa ser curada, confirmados em 1999, o número desceu
a pólio pode ser prevenida através de vacina. para 55 em 2000, apenas 1 em 2001, e
Em todo o mundo, os casos de pólio finalmente zero em 2002.

Tabela 15.1: Evolução do número de casos confirmados de poliovírus entre


países que registaram maior número de casos em 1999

1999 2000 2001 2002

Índia 2817 265 268 1458


Angola 1103 55 1
Nigéria 981 28 56 159
Paquistão 558 199 119 89
Bangladesh 393 1 O O
Afeganistão 150 27 11 9
Etiópia 131 3 1
Sudão 60 4 1 O
RDC 45 28 O O
Somália 19 46 7 3
~~í
I7

Fonte: OMS, Janeiro de 2003.


A tendência observada em Angola é similar à devido ao regresso dos refugiados
verificada no Bangladesh e em países angolanos dos países vizinhos, serão ainda
africanos como a Etiópia, Sudão e a necessárias dispendiosas campanhas de
República Democrática do Congo (RDC), vacinação até 2005.
onde o número de casos de pólio diminuiu
sistematicamente desde 1999, tendo-se Em Angola, todas as Regiões registam níveis
reduzido a zero em 2002. Contudo, o de vacinação acima dos 50%, sendo o maior
exemplo da Nigéria e da Índia, onde os índice de cobertura na Região da Capital
casos confirmados de pólio primeiro (72%) e o mais baixo na Região Sul (53%).
reduziram drasticamente para depois Contudo, nesta Região, os resultados devem
aumentarem de novo, mostra a importância ser interpretados com cuidado, uma vez que
de manter, nos próximos anos, as JNV e a 80% do total da amostra da Região foi
cobertura vacinai alcançada. O desafio analisada antes das JNV de 2001, realizadas
consiste ainda em manter os esforços de em Junho, Julho e Agosto desse ano. Por
vacinação e vigilância nos países onde isso, não é surpreendente que esta Região
durante muitos anos não foram reportados registe o menor índice de cobertura. Esta
casos de pólio para erradicar globalmente o situação observou-se também no
vírus. Por exemplo, em 2000, a Zâmbia era fornecimento do suplemento de vitamina A a
considerada um país não endémico, sem crianças. Como foi referido, os níveis de
nenhum caso de pólio confirmado. Contudo, vacinação estão equilibrados em todas as
em 2001 registou 3 casos de pólio tendo áreas urbanas e rurais, grupos sócio-
sido ainda reportados 2 casos em 2002. económicos e sexo, embora o nível de
Com os grandes movimentos da população instrução da mãe continue a ser um factor
previstos para 2003 da Zâmbia para Angola, determinante.
COOtta O sara
„ s cliaoças dos 9dt
alêtes de 15 anos

;
O
sarampo é uma infecção virai no entanto, que este número representa
altamente contagiosa que mata mais
menos de 30% do número real de casos.
crianças angolanas do que qualquer
outra doença prevenível por meio de vacina,
O vírus do sarampo é transmitido através de
sendo provavelmente responsável, em
gotículas libertadas no ar quando uma
Angola, por 5% a 10% das mortes entre
pessoa infectada tosse ou espirra. Por ser
crianças com uma idade inferior a 5 anos.
uma doença altamente contagiosa, os níveis
A análise dos dados epidemiológicos
de cobertura vacinai têm de ser mantidos a
disponíveis mostra que 95% dos casos de
pelo menos 90%, O MIOS indica que em
sarampo ocorrem em crianças com uma
média, 53% das crianças com menos de um
idade inferior a 15 anos, a maior parte dos
ano se encontram vacinadas contra a
quais nas crianças com menos de 5 anos. A
doença. A análise do nível de vacinação por
mortalidade associada ao sarampo ocorre
grupos etários revela que apenas 42% das
essencialmente nas crianças muito jovens. O
crianças angolanas são vacinadas na idade
vírus enfraquece o sistema imunológico,
recomendada (ou seja, entre os 9 e os 12
tornando a criança muito susceptível a
meses). Os níveis de vacinação aumentam
complicações fatais causadas por diarreia,
ligeiramente com a idade, atingindo 54% em
pneumonia e encefalite. As crianças que
crianças de 1 ano, 56% entre o grupo etário
sobrevivem ao sarampo podem contrair
de 2 anos, e 60% na faixa dos 3. Contudo,
incapacidades permanentes, incluindo
aos 4 anos de idade o nível de cobertura
danos cerebrais, cegueira e surdez.
vacinai decresce para 56%.

Devido ao deficiente sistema nacional de


A proporção de crianças vacinadas cujas
informação (recolha e análise de informação)
mães são mais instruídas é duas vezes maior
para o controle da doença é difícil fornecer
do que a de crianças de mães que não
uma imagem exacta da incidência do
tiveram acesso à educação, tendência que
sarampo em Angola. Um importante número
também se verifica na análise em função da
de casos de sarampo não são reportados
situação económica do agregado familiar.
particularmente nas áreas rurais. Em 2001, o
Ministério da Saúde reportou 9,000 casos de
O MIOS indica que mais crianças são
sarampo em todo o país, considerando-se,
vacinadas nas Regiões da Capital e Norte, e
doentes, perdendo-se assim a oportunidade
de estas serem vacinadas.

Com a erradicação da pólio já à vista, é agora


possível concentrar a atenção na redução da
mortalidade por sarampo em Angola. A taxa
de mortalidade entre crianças abaixo dos 5
anos podia diminuir em cerca de 10% se
todas as crianças fossem vacinadas contra o
sarampo, o que significa que se podia salvar
a vida de mais de 7,000 crianças anualmente.
A implementação da primeira campanha
nacional contra o sarampo realizada em
Angola, dirigida a todas as crianças dos 9
meses aos 14 anos e implementada de Abril a
Maio de 2003, foi o primeiro passo
significativo nesse sentido. A campanha
também permitiu desenvolver a vigilância
epidemiológica do sarampo bem como a
cobertura vacinai de rotina tanto para o
sarampo como para a vitamina A. À
menos nas Regiões Este e Centro Sul. A
semelhança do que se observou no caso da
baixa taxa de cobertura vacinai encontra-se
pálio, a abordagem do tipo campanha é
associada a um sistema de cuidados de
todavia inerentemente difícil de manter e
saúde deficiente, dificuldades logísticas para
dispendiosa. No entanto, no actual contexto,
chegar às crianças, falta de consciência
é um poderoso instrumento, não apenas para
sobre a doença, e um elevado nível de
atingir um maior número de crianças, como
oportunidades perdidas. Por norma, nos
também para reactivar a rede de centros de
estabelecimentos de saúde não se procura
vacinação de rotina em todo o país.
verificar a situação das vacinas das crianças

Cobertura vacinai contra o sarampo entre as crianças de um ano


Mapa 16.1:
de idade

Região Norte
69%

gião Capita
65%

Acima de 60%

Região Região Este


Entre 50% e 60% 44%
Oeste
53%
Menos de 50%

Região
Centro-Sul
Região Sul 42%
52%

oo.
E
rn
tétano materno e neonatal é uma toda a vida e cobrir todas as outras gravidezes,
situação prevenível, muitas vezes uma vez que a protecção proporcionada desta
() fatal, resultante de práticas não forma dura apenas três anos.
higiénicas nos partos que expõem o cordão
umbilical às bactérias da doença. Quando as Todas as mulheres com idades
mães dão à luz em condições não higiénicas, compreendidas entre os 15 e os 49 anos
tanto a mãe como a criança correm o risco de que haviam dado à luz nos doze meses
contrair tétano, uma das principais causas de anteriores à pesquisa foram inquiridas sobre
mortalidade neonatal. A vacina contra o a vacina anti-tetânica. Considerou-se
Toxóide Tetânico (II) é administrada a protegida uma mulher que tivesse tomado
mulheres em idade fértil, ou que já estejam pelo menos duas doses nos últimos três
grávidas, a fim de proteger do tétano quer as anos, três doses nos últimos dez anos, e
próprias mulheres quer as crianças recém- pelo menos cinco doses em qualquer altura
nascidas. O Programa Alargado de Vacinação da sua vida.
(PAV) recomenda que as mulheres em idade
fértil tomem 5 doses de vacina TT de acordo De uma forma geral, 62% das mulheres que
com o seguinte calendário: tinham dado à luz nos doze meses anteriores
à pesquisa haviam tomado duas doses de
1 a dose: assim que a mulher descobre que vacina H nos últimos três anos, o que indica
está grávida que um número relativamente adequado de
2a dose: um mês depois da primeira dose mulheres angolanas estavam protegidas
3a dose: seis meses depois da segunda durante a sua última gravidez. O seu nível de
dose protecção não era, contudo, suficiente para
LP dose: um ano depois da terceira dose ou as proteger, a elas bem como aos seus
durante uma gravidez subsequente filhos, durante gravidezes subsequentes. É
5a dose: um ano depois da quarta dose ou importante notar que apenas 0.1% das
durante uma gravidez subsequente. mulheres tomou três doses de vacina H nos
últimos dez anos, e 0% fez cinco doses em
Uma rapariga ou uma mulher que tenha sido toda a sua vida. Estas surpreendentes
vacinada com cinco doses adequadamente conclusões significam que nenhuma mulher
espaçadas de vacina contra o Toxóide Tetânico angolana em idade fértil está protegida para
está protegidas para toda a vida. Os seus filhos toda a vida contra o tétano, não cumprindo o
encontram-se igualmente protegidos durante calendário nacional de vacinação
as primeiras semanas de vida. Durante a recomendado. Estes resultados indicam
gravidez, duas doses de TT proporcionam também que existem possivelmente baixos
protecção adequada à mulher e ao bebé níveis de conhecimento sobre o risco do
recém-nascido, sendo, no entanto, tétano neonatal.
insuficientes para proporcionar protecção por
As mulheres em áreas urbanas estão melhor
protegidas do que as das zonas rurais. À
semelhança do que se observou nos
padrões de vacinação das crianças, é na
Região Norte que as mulheres estão mais
protegidas (71%) e na Região Centro Sul
onde esta protecção é menor (50%). O quintil
sócio-económico a que pertencem os
agregados familiares está directamente
associado à cobertura anti-tetânica,
variando de 47% entre as mulheres mais
:tano Materno e Neonata

vulneráveis a 71% para as mais favorecidas.


O nível de instrução da mãe tem um maior
impacto sobre a probabilidade da mãe e da
criança estarem protegidas. A cobertura nas
mulheres mais instruídas atinge 82%,
comparada com 51% nas mulheres sem
qualquer instrução.


continuar a propagar-se ao mesmo ritmo, o
o fim de 2001, o HIV/SIDA era
tecido da sociedade Africana poderá
transmitido a cerca de quatro milhões
começar a desintegrar-se sob o seu peso
de pessoas anualmente na África
demográfico, social e económico 3 .
sub-sariana. Com o número de vítimas
duplicando de quatro em quatro anos,
Controlar a propagação do HIV/SIDA é sem
parece ser cada vez mais provável que os
dúvida o maior desafio de saúde pública nos
países menos afectados, tais como Angola,
tempos que correm, tanto a nível global
se encontrem apenas numa fase menos
como a nível regional. O compromisso dos
avançada da epidemia'.
Chefes de Estado Africanos em parar o
avanço da epidemia foi reafirmado em Abril
No final de 2001, a proporção de adultos
2001, durante a conferência de Abuja sobre
com idades compreendidas entre os 15 e os
HIV/SIDA. Para além do seu compromisso
49 que tinham contraído o HIV/SIDA era
pessoal na luta contra o HIV, o líderes
superior a 20% em sete países da África sub-
Africanos comprometeram - se em fixar 15%
sariana, dois dos quais fazem fronteira com
do orçamento governamental para o sector
Angola. Na Namíbia, África do Sul,
da saúde. A Sessão Especial da Assembleia
Swazilândia, Lesotho, Botswana, Zâmbia e
Geral das Nações Unidas (UNGASS) sobre
Zimbabwe 2 , a epidemia promete matar mais
HIV/SIDA levada a cabo em Junho de 2001,
de um em cada cinco adultos. Um terço das
representou também um esforço
crianças perderam já um dos pais e as suas
extraordinário da liderança política global de
chances de perderem o segundo são
agir de forma coordenada e eficaz sobre a
significativas. As consequências demográficas
epidemia do HIV/SIDA. A Declaração de
da epidemia são sem precedentes, com o
Compromisso UNGASS, assinada por
déficit populacional esperado superior ao
Angola, estabelece metas claras para a
provocado por qualquer guerra. Até ao fim do
redução do avanço e impacto do HIV/SIDA.
ano 2001, somente na África sub-sariana,
Em Angola, a questão do HIV está a ser
encontravam-se infectadas 28 milhões de
abordada ao mais alto nível de decisão
pessoas, com 11 milhões de crianças
política através da criação da Comissão
tornadas órfãs de um ou ambos os pais em
Nacional da Luta contra o SIDA, que sendo
consequência do HIV. Se a epidemia
presidida pelo Presidente da República inclui
ainda representantes de todos os
Ministérios.

Apesar da falta de informação geral sobre a


escala da epidemia em Angola existem
indícios de que o HIV/SIDA se está a
propagar rapidamente. Um número importante
de pessoas internamente deslocadas
juntamente com um importante nível de
contacto com pessoal militar, uma elevada
percentagem da população com menos de
24 anos de idade, um baixo nível de
educação e um elevado índice de pobreza
indicam que Angola tem quase todos os
factores de risco associados a uma rápida
expansão da epidemia.

Avaliação e Acompanhamento, Volume 25, Número 4, Novembro de 2002. Número especial: UNICEF e ONUSIDA,
avaliação dos programas de HIV/SIDA na África sub-sariana. Introdução Mahesh Ratei, Karen B. Allen, Robert Keatley e
Urban Jonsson.

2 0NUSIDA, 2001.
Mapa 18.1: A Epidemia de HIV/SIDA
Velocidade à qual a epidemia se tem desenvolvido e progredido na
África sub-sariana

Estimativa da proporção da população adulta com uma idade compreendida entre os 15 e os


49 anos que contraíu HIV/SIDA na África sub-sariana entre 1984 e 2001


1984 1989

o o

o o

1994 2001

oitliNoi

o
t
1k o

o
I P■ o
20% e acima
Entre 9% e 19%
Eme 2%a 8%
Abaixo de 2% ou som dadosou
.
ainda roa da Anca sub-sEviana

Fonte: ONUSIDA

Entre 1999 e 2001 foi registado um aumento prevalência registada entre doadores de
de 250% na sero-prevalência registada entre sangue em 2001 foi de 11.7% 6 .
as mulheres que frequentam as clínicas pré-
natais de Luanda (de 3.4% a 8.6%) 4 . A Apesar de um aumento significativo da sero-
elevada taxa de sífilis (19%) que serve por prevalência até ao fim de 2001, a ONUSIDA
vezes como um indicador aproximado da estimou a sero-prevalência entre a população
prevalência de HIV, é particularmente Angolana em 5.5%', uma taxa quatro vezes
preocupante. No mesmo ano foi descoberto mais baixa do que a registada na Zâmbia
que 33% das prostitutas em Luanda eram (21.5%) e Namíbia (22.5%), indicando que
seropositivas e que 34% se encontravam existe ainda uma oportunidade única para
infectadas com sífilis 5 . No Lubango, a sero- evitar o desastre dos países vizinhos.

Instituto Nacional de Saúde Publica (INSP), Programa Nacional da Luta contra a SIDA (PLNS), UNICEF, Cooperação
Italiana, OMS, 2001. O estudo indicou uma taxa de sero-prevalência da ordem dos 2.6% em Benguela e 4.4% em
Hurla, sendo que as taxas de sifilis correspondentes da ordem do 13.9% e 18.5% respectivamente.
Population Action International, 2001.
Delegação Provincial de Saúde de Huna, 2001.
Isto significaria que em 2001, cerca de 330.000 Angolanos com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos se
encontravam infectados. Projecções a partir destes dados indicam ainda que em 2001, aproximadamente 100.000
crianças Angolanas com idades compreendidas entre os O e os 14 anos de idades teriam sido tornadas órfãs devido ao
HIV/SIDA.
O MICS observou em detalhe os conhecimentos da população
Angolana entre os 15 e os 49 anos de idade sobre quatro factos simples
acerca da prevenção do HIV

• Uso consistente de preservativo nas relações sexuais.


• Ter apenas um parceiro sexual fiel e não infectado.
• Abstenção de relações sexuais.
• O HIV pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez, parto ou
amamentação.

O inquérito examinou ainda o estigma que rodeia o HIV/SIDA procurando investigar a


atitude da população sobre a doença. Especificamente, procurou saber-se o nível de
preconceito existente e a atitude dos Angolanos para com os seus compatriotas que se
encontram infectados, examinando três concepções erradas sobre o HIV e duas atitudes
discriminatórias.

Três concepções erradas:


• Pessoas com uma aparência saudável podem ter contraído HIV.
• O HIV pode ser transmitido através da picada de um mosquito.
• O HIV poder ser transmitido por meios sobrenaturais.

Duas atitudes discriminatórias:


• Acreditar que um professor que contraiu HIV ou SIDA não deve ser autorizado a
trabalhar.
• Não compraria comida a uma pessoa com HIV ou SIDA.

situação precária do sistema de situação dos países vizinhos, a única forma


saúde pública Angolano coloca o país dos Angolanos evitarem contrair HIV/SIDA,
m desvantagem quando se trata de ou seja possuirem informação suficiente de
acompanhar o impacto do HIV/SIDA. Sistemas forma a modificar o seu comportamento
funcionais de informação sobre a saúde na sexual, está ainda ausente. Globalmente, o
Namíbia e Zâmbia indicam que mais de um inquérito indica que apenas um em cada dez
em cada cinco adultos se encontra Angolanos com idades compreendidas entre
infectado. Em Angola, esta capacidade de os 15 e os 49 anos tem conhecimentos
avaliação não existe ainda. Em 2001, menos suficientes sobre a doença. As disparidades
de metade das Províncias tinham laboratórios entre os homens e as mulheres são
capazes de levar a cabo testes de HIV. No dramáticas sendo que as mulheres têm uma
princípio de 2003, em Luanda, existiam probabilidade duas vezes menor de
apenas quatro locais onde os Angolanos possuírem conhecimentos suficientes sobre
podiam ser testados e ter acompanhamento, a prevenção e transmissão do HIV/SIDA.
apesar da cidade contar com mais de 3.5
milhões de habitantes. Nenhuma outra A estratégia mais importante para limitar
província, no princípio de 2003, possuía a a evolução da epidemia é promover
capacidade de levar a cabo Testes conhecimentos adequados sobre a
Voluntários e Acompanhamento (TVA). transmissão e prevenção, que acarretem
mudanças significativas de comportamento.
É neste contexto de incerteza quanto à taxa A evolução futura da epidemia irá depender
de saro-prevalência na população angolana, sobretudo do sucesso de acções tais como
que o MIOS fornece informação a nível campanhas de informação, educação e
nacional e regional sobre a atitude comunicação - para prevenir a transmissão
conhecimentos e prática da população entre os grupos etários mais jovens. Isto é
MMICE

angolana em relação ao HIV/SIDA. Os dados particularmente relevante no contexto


do MIOS relembram que à medida que o Angolano em que 59% da população tem
tempo escasseia para Angola escapar à menos de 18 anos. O MIOS revela que
os jovens angolanos têm muito poucos de informação, educação e comunicação nas
conhecimentos sobre a doença. Por exemplo, Províncias mais afectadas pela guerra. A
apenas 21% das pessoas com idades situação não é muito melhor na Região Capital
compreendidas entre os 15 e 19 anos onde menos de uma em cada quatro pessoas
conhecem três formas de prevenção e maiores de 15 anos tem conhecimentos
transmissão do HIV, sendo que apenas 18% suficientes sobre a transmissão do HIV. É
identificaram correctamente três concepções interessante notar que é na Região Capital
erradas sobre o HIV. onde a maioria das pessoas demonstra uma
atitude discriminatória em relação a pessoas
O inquérito revela ainda variações regionais que vivem com o HIV/SIDA, e que é no
importantes. O melhor nível de conhecimentos Centro Sul onde existe uma menor proporção
sobre a transmissão e prevenção do HIV de indivíduos com uma atitude discriminatória.
encontra-se sistematicamente na Região O MICS estabelece uma correlação directa
Capital, enquanto a menor proporção da entre o nível de conhecimentos sobre o HIV e
população com conhecimento adequados se atitudes discriminatórias. As pessoas com
encontra na Região Centro-Sul. Nas conhecimentos básicos sobre transmissão e
Províncias do Huambo, Bié e Kuando prevenção do HIV tendem a ser mais
Kubango somente 3% das mulheres e 6% dos discriminatórias. Esta correlação é também
homens têm conhecimentos suficientes para visível em função do nível de bem estar e de
se protegerem, revelando a dimensão da falta instrução.

Indicadores

Conhecimentos sobre Prevenção do HIV/SIDA


Proporção das mulheres que identificam correctamente três formas de
prevenção do HIV - 17%
Conhecimentos sobre concepções erradas acerca do HIV/SIDA
Proporção das mulheres que identificam correctamente três concepções
erradas sobre HIV/SIDA - 14%
Conhecimentos sobre transmissão do HIV de mãe para filho
Proporção das mulheres que identificam correctamente as formas de
transmissão de mãe para filho- 29%
Atitude para com pessoas com HIV/SIDA
Proporção das mulheres que demonstram uma atitude discriminatória em
relação a pessoas com HIV/SIDA - 44%
Conhecimentos suficientes sobre HIVISIDA
Proporção das mulheres que conhecem as três formas principais de prevenir a
transmissão do HIV e que identificaram correctamente três concepções erradas
sobre a transmissão do HIV - 8%
Mulheres que sabem onde podem fazer um teste de HIV
Proporção das mulheres que sabem onde podem fazer um teste de HIV- 23%
Mulheres que fizeram um teste de HIV
Proporção das mulheres que fizeram um teste de HIV- 2%
Medo, Silêncio e Estigma
uanto mais elevado é o nível sócio- terem uma atitude discriminatória em relação

Q económico e educacional da
população, maior é a tendência para
uma atitude discriminatória para com as
às pessoas infectadas.

Este resultado revela a importância da


pessoas que vivem com HIV/SIDA. Por "cultura do silêncio" e do estigma social que
exemplo, a população pertencente ao quintil existe em relação à doença, um factor que
sócio-económico mais elevado tem uma muito contribui para uma rápida expansão
probabilidade sete vezes maior de ter do HIV/SIDA. A prevalência de atitudes
conhecimentos suficientes sobre HIV/SIDA do discriminatórias indica que os conhecimentos
que a população pertencente ao quintil sócio- sobre transmissão e prevenção permanecem
económico mais baixo. No entanto, o grupo parciais e confusos mesmo entre os grupos
sócio-económico mais elevado tem também que demonstram ter conhecimentos básicos
uma maior probabilidade de ter uma atitude suficientes sobre o HIV e o SIDA. Este
discriminatória em relação a indivíduos que resultado aponta ainda para a necessidade
vivem com o HIV. De uma forma similar, as urgente de encontrar formas de quebrar o
pessoas com educação secundária e superior silêncio acerca do HIV e pôr fim ao estigma
têm uma probabilidade três vezes maior do que o rodeia de forma a lutar eficazmente
que as que não tiveram qualquer instrução de contra a epidemia.

Mulheres que nunca ouviram falar de HIV/SIDA


entre as mulheres angolanas com nacional. Quase todas as mulheres que

3 idades compreendidas entre os 15 e


49 anos, um terço nunca ouviu falar
de HIV/SIDA (32%), com uma proporção
receberam educação secundária e superior
ouviram falar de HIV/SIDA (96%), enquanto
esta percentagem é menos de metade nas
muito mais elevada na zonas rurais (47%) do mulheres que não receberam qualquer
que nas zonas urbanas (26%). O número educação (45%). O mesmo padrão, apesar
mais elevado de mulheres que ouviram de menos pronunciado, observa-se a nível do
falar de HIV/SIDA encontra-se na Região bem estar socio-económico, sendo que 51%
Capital (90%) e o número mais baixo nas das mulheres pertencentes aos agregados
Regiões Este e Centro Sul (60% e 50% familiares mais vulneráveis nunca ouviram falar
respectivamente). As Regiões Oeste, Norte da doença, contra 11% das mulheres do nível
e Sul encontram-se próximas da média socio-económico mais elevado.
Mapa 18.2:
Percentagem de mulheres (15-49 anos) que nunca ouviram falar de
HIV/SIDA

Região Norte
28%

egião Capita

I Menos de 20%
10%

Entre 20% e 39%


Região Este
40%
40% e superior

Região Sul
27%

Conhecimentos sobre a prevenção do HIV/SIDA


penas 17% das mulheres com idades
agregados, Regiões, áreas de residência,
compreendidas entre os 15 e 49 anos
faixa etária e nível de instrução.
e idade conhecem 3 formas de
prevenir a transmissão do HIV, nomeadamente
O conhecimento sobre as três formas de
o uso consistente de preservativo nas
transmissão do HIV é oito vezes mais elevado
relações sexuais, ter apenas um parceiro fiel
nas mulheres com educação secundária e
e não infectado e abster-se de ter relações
superior do que nas mulheres que não
sexuais. Enquanto as duas primeiras formas
tiveram acesso a qualquer tipo de educação.
de prevenir a doença são conhecidas por
O mesmo padrão pode observar-se de
cerca de 27% das mulheres, a última foi
acordo com o nível socio-económico dos
identificada apenas por 21%. Existem, por
agregados familiares. Entre as mulheres mais
outro lado, variações colossais de acordo
vulneráveis apenas 6% conhece as três
com o nível sócio-económico dos
formas de se proteger,
Percentagem das mulheres (15-49 anos) que conhecem as três
Gráfico 18.1:
por quintil sócio-económico
principais formas de prevenção do HIV

Observa-se o mesmo padrão quando se


Os conhecimentos sobre a prevenção são
examinam os conhecimentos sobre cada
mais elevados do que a média nacional entre
forma individual de prevenir o HIV. Por
as mulheres mais jovens. Por exemplo,
exemplo, enquanto 51% das mulheres na
enquanto 19% das mulheres com idades
Região Capital sabem que o uso consistente
compreendidas entre os 15 e os 19 anos
de preservativo nas relações sexuais pode
conhecem três formas de evitar o HIV,
prevenir a infecção, somente 13% e 16% das
somente 8% das mulheres com idades
mulheres (respectivamente nas Regiões
compreendidas entre os 45 e 49 anos
Centro Sul e Norte) têm conhecimento deste
conhecem essas três formas. Com cerca de
facto. As mulheres com educação
70% da população com menos de 24 anos
secundária e superior têm uma probabilidade
de idade é, no entanto, extremamente
7 vezes maior do que as mulheres que não
preocupante notar qúe dois terços das
tiveram acesso à educação de identificar o
mulheres com idades compreendidas entre
uso de preservativo como uma forma de
os 15 e os 24 anos de idade não conheçam
prevenção (63% contra 9%). As mulheres
qualquer forma de transmissão do HIV. Na
com idades compreendidas entre os 15 e os
Região Capital, as mulheres têm uma
19 anos de idade têm o dobro da
probabilidade quatro vezes maior de
probabilidade de terem conhecimentos
conhecerem as formas principais de
adequados sobre o uso de preservativo do
transmissão do que nas Regiões Norte e
que as mulheres no grupo etário 45 a 49
Centro Sul. Os valores para as outras Regiões
anos.
encontram - se próximos da média nacional.

Conhecimentos sobre concepções erradas sobre HIV/SIDA

S
tiveram acesso a qualquer torma de
omente 14% das mulheres com educação têm uma probabilidade 10 vezes
idades compreendidas entre os 15 e
menor de identificarem correctamente estas
os 49 anos de idade identificaram
concepções erradas sobre o HIV (4% contra
correctamente três concepções erradas 42%). Somente 10% das mulheres na Região
sobre HIV/SIDA. Os mesmos padrões Centro Sul sabem que o HIV não se transmite
podem ser observados em relação aos através das picadas de mosquito, contra
conhecimentos sobre prevenção do HIV. As
44% na Região Capital. É revelador que
mulheres socio-economicamente mais
apesar dos níveis mais elevados de
vulneráveis têm uma probabilidade seis concepções erradas sobre o HIV se
vezes menor de identificarem correctamente observarem entre os grupos etários mais
estas três concepções como sendo erradas velhos, uma proporção elevada das
do que as mulheres menos vulneráveis (6%
mulheres angolanas jovens, com idades
contra 33%). Para mais, as mulheres que não
compreendidas entre os 15 e os 19 anos (84%) jovens acredita que o HIV pode ser transmitido
não conseguem identificar correctamente as através de uma picada de mosquito e 70% crê
concepções acima mencionadas como que o HIV pode também ser transmitido por
estando erradas. Cerca de 80% das mulheres meios sobrenaturais.

Gráfico 18.2: Percentagem das mulheres (15-49 anos) que identificam


correctamente três concepções erradas acerca do HIV/SIDA por nível de educação

50 -7

4 /
40

30

20 -7

14%
10

1
Sem educação Educação primária Educação Secundária
ou superior

Atitude para com pessoas com HIV ou SIDA


MIOS avaliou as atitudes pessoas infectadas. Quanto mais elevado é

O discriminatórias das mulheres para


com pessoas que vivem com
HIV/SIDA, perguntando se estas acreditavam
o nível socio-económico a que pertencem, o
seu nível educacional e finalmente o nível de
conhecimentos sobre o HIV, maior é a
que um professor que contraiu HIV ou SIDA tendência para uma atitude discriminatória,
deveria poder continuar a ensinar e se indicando um nível alarmante de preconceito
comprariam comida a alguém infectado por em relação ao HIV e SIDA e o facto de que
HIV/SIDA. Mais de uma em cada quatro quanto mais as pessoas sabem acerca do
mulheres Angolanas acredita que um HIV/SIDA maior é a sua tendência para se
professor com HIV não deveria trabalhar isolarem do problema.
(28%). Uma proporção semelhante não
compraria comida a alguém infectado. Em
termos gerais, 44% das mulheres
concordam com pelo menos uma das
atitudes discriminatórias. As mulheres em
zonas urbanas e aquelas com educação
secundária e superior têm uma maior
probabilidade de expressar opiniões
discriminatórias do que as mulheres nas
zonas rurais ou aquelas que apenas
receberam educação primária ou sem
qualquer nível de educação.

Conforme foi observado anteriormente,


existe uma correlação marcante entre o nível
de conhecimento das mulheres sobre o
HIV/SIDA e a sua atitude em relação às
Mapa 18.3: Proporção das mulheres que demonstram uma atitude discriminatória
para com pessoas que vivem com o HIV/SIDA

Região Norte
45%

Menos de 40%

Entre 30% e 50% Região Região Este


Oeste 39%
46%
Acima de 50%

Região
Região Sul Centro Sul
46% 26%

Conhecimentos sobre transmissão de mãe para filho

IV
ais de metade das mulheres transmitido através do leite materno.
Angolanas não sabem que o HIV Observam-se padrões similares aos
pode ser transmitido de mãe para verificados quanto aos conhecimentos sobre
filho. Quando se observam os mecanismos prevenção e prevalência de concepções
específicos através dos quais a transmissão erradas sobre HIV. Uma maior proporção de
de mãe para filho pode ocorrer, 55% das mulheres tem conhecimentos adequados
mulheres não sabem que o HIV pode ser sobre a transmissão do HIV de mãe para filho
transmitido durante a gravidez, 38% não sabe entre as mulheres socio-economicamente
que o HIV pode ser transmitido durante o parto menos vulneráveis, mais jovens, urbanas e
e 34% não sabe que o HIV pode ser entre aquelas que vivem na Região Capital.

Proporção de mulheres que sabem onde efectuar um teste de HIV

m teste voluntário de HIV, de rodeia o HIV/SIDA, em alguns locais, uma

U preferência associado a acompanha-


mento psicológico, permite às
pessoas infectadas procurar tratamento de
proporção relativamente importante de
mulheres que efectuaram o teste não
regressaram para obter os resultados, devido
saúde adequado e pervenir a infecção de talvez ao medo de ter contraído a doença, ou
outrem. O teste é particularmente importante de ver a sua privacidade invadida entre outras
para as mulheres grávidas que poderão ainda razões. Noutros casos, os profissionais de
tomar medidas apropriadas para evitarem a saúde, sobretudo devido à falta de treino, não
transmissão do vírus aos seus filhos. O MIOS informam os seus pacientes sobre a sua
inquiriu acerca dos conhecimentos das seropositividade oferecendo um diagnóstico
mulheres sobre onde fazerem um teste de socialmente mais aceitável, como malária ou
HIV, a proporção de mulheres que foi testada tuberculose.
. :11~10/2

e ainda a proporção de mulheres que


receberam o resultado do teste. Em resultado Fora de Luanda existe ainda um número
do medo, "cultura de silêncio" e estigma que muito limitado de sítios onde possa ser
efectuado o teste de HIV. Este factor tem faixa etária e área de residência. Por
contribuído para a falta de informação sobre exemplo, as mulheres pertencentes ao quintil
a expansão da epidemia. De uma forma socio-económico mais elevado e as
geral, menos de uma em cada quatro mulheres na Região Capital têm uma
mulheres conhecem um local onde possa probabilidade quatro vezes maior de
ser efectuado o teste do HIV (23%), com conhecerem um local onde possa ser
importantes disparidades entre Regiões, efectuado o teste do que as mulheres do
quintil socio-económico dos agregados nível socio-economico mais baixo e do que
familiares, nível educacional das mulheres, as mulheres na Região Centro Sul.

Mulheres que fizeram o teste de HIV e que receberam


os resultados
o total, apenas 2% das mulheres sim na Região Este, onde 96% destas
Angolanas fizeram um teste de HIV. mulheres receberam com efeito os
Esta percentagem varia entre 1% resultados. A situação na Região Oeste é
para as mulheres que não receberam particularmente preocupante sendo que
qualquer educação e 6% para as mulheres nove em cada dez mulheres que foram
com educação secundária e superior. É na testadas não receberam os resultados dos
Região Capital que a percentagem mais testes. Em todas as outras Regiões, a
elevada das mulheres foi testada (4%). Em percentagem das mulheres que foram
todas as outras Regiões a percentagem varia informadas dos resultados dos testes situa-
entre 1% e 2%. Apesar da maioria das se acima dos 70%. As mulheres
mulheres que efectou um teste ter recebido adolescentes são aquelas que têm uma
os resultados, isso não aconteceu com uma menor probabilidade de alguma vez terem
em cada quatro. Existem também variações sido testadas (somente 1%) o que confirma a
importantes por Região, grupos etários e necessidade de centrar os esforços para
nível de educação. lutar contra a epidemia nas camadas mais
jovens da população. É também este grupo
Surpreendentemente não foi na Região o que tem uma menor probabilidade de
Capital que a maioria das mulheres que receber o resultado dos testes efectuados
efectuou o teste recebeu os resultados, mas (somente 56%).
Fontes de Informação sobre HIV/SIDA

A
pesar de somente 14% dos (36%) e a terceira fonte de informação a
agregados familiares angolanos Igreja e encontros dentro das comunidades
possuírem uma televisão, comparado (23%). Existem ainda variações importantes
com 38% que têm um radio, o inquérito entre Regiões quanto à principal fonte de
indica que a nível nacional a maioria das informação. Enquanto a televisão é o canal
mulheres recebem informação sobre o principal através do qual a informação sobre
HIV/SIDA através da televisão (42%) com HIV é disseminada às mulheres na Região
somente 4% recebendo informação através Capital, pais, parentes, amigos, comunidades
da rádio. A segunda fonte mais importante e Igreja são a principal fonte de informação
sobre o HIV são os pais, parentes e amigos em todas as outras Regiões.

Caixa 1: Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGASS) sobre
o HIV/SIDA, levada a cabo em Junho 2001

Metas UNGASS seleccionadas

Metas de Prevenção

Até 2003, estabelecer metas temporais nacionais para atingir o objectivo global de reduzir a prelavência de HIV,
ou seja, reduzir a prevalência nos jovens de ambos os sexos (15 a 24 anos de idade) em 25%, quer nos países
mais afectados, quer a nível global, até 2005.

Até 2005, assegurar que pelo menos 90% e até 2010 pelo menos 95% dos jovens de ambos os sexos (15 a
24 anos de idade) têm acesso a informação, educação (incluindo informação transmitida por um dos seus
pares/amigos e serviços de educação e informação especialmente direccionados aos jovens). Esta informação
é essencial para que os jovens possam desenvolver as habilidades necessárias para reduzir a sua vulnerabilidade
à infecção por HIV. Estes serviços deverão ainda ser desenvolvidos em parceria com os jovens, famílias,
educadores e profissionais de saúde.

Até 2005, reduzir a proporção de crianças infectadas (20% até 2005 e 50% até 2010) da seguinte forma:
assegurar que 80% das mulheres grávidas com acesso a serviços pré-natais têm ao seu dispor informação,
acompanhamento e outros serviços preventivos. Por outro lado quer-se ainda aumentar o acesso das mulheres
infectadas a tratamento adequado para reduzir a probabilidade de transmissão do HIV. A última medida consiste
em realizar intervenções que beneficiem directamente as mulhers infectadas: testes voluntários e
acompanhamento, acesso a tratamento, especialmente drogas retro-virais e, se apropriado, substitutos do leite
materno e tratamento continuado.

Metas de cuidados, apoio e tratamento

Até 2003, assegurar que são desenvolvidas estratégias nacionais de forma a providenciar tratamento psico-social
a indivíduos, famílias e comunidades afectadas pelo HIV/SIDA.

Metas para as crianças tornadas orfãs pelo HIV/SIDA

Desenvolver até 2003, e implementar até 2005 politicas e estratégias nacionais para construir e fortalecer as
capacidades governamentais, familiares e comunitárias de forma a criar apoios para rapazes e raparigas órfãos
afectados pelo HIV/SIDA.

Assegurar a não discriminação dos órfãos para que possam exercer plenamente os seus direitos humanos
promovendo uma política activa de não-estigmatização das crianças orfãs ou tornadas vulneráveis pelo HIV/SIDA.

112
Tabela 18.1: Resumo dos indicadores sobre HIV/SIDA

Ouviu falar de Conhece as três Indentificou Tem conhecimentos


HIV/SIDA principais formas de correctamente três suficientes
prevenção do HIV concepções erradas
sobre a transmissão
de HIV

Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino

Quintil
Sócio-Económico
Primeiro 49 60 6 11 6 9 3 6
Segundo 57 72 9 20 7 17 4 11
Terceiro 63 76 11 24 8 18 5 10
Quarto 71 81 16 30 11 25 6 15
Quinto 89 92 36 44 33 43 19 26

Região
Capital 90 95 36 44 37 46 21 28
Norte 72 80 9 20 9 23 4 12
Este 60 72 15 26 10 19 6 13
Oeste 65 85 17 35 12 24 7 18
Sul 73 77 18 25 13 24 7 13
Centro Sul 50 62 9 17 5 11 3 6

Área de Residência
Urbana 74 84 21 33 17 29 10 18
Rural 53 66 8 16 7 14 4 8

Grupo Etário

15 - 19 anos 68 71 19 23 16. 19 8 11
20 - 24 anos 72 81 21 30 18 29 11 16
25 - 29 anos 71 81 18 32 14 27 8 17
30 - 34 anos 70 83 16 31 14 28 8 17
35 - 39 anos 67 83 15 31 12 27 7 18
40 - 44 anos 59 81 13 29 10 26 6 16
45 - 49 anos 56 77 8 25 8 22 4 13

Nível de Educação
Nenhum 45 42 5 7 4 5 2 3
Primário 76 78 19 24 14 20 8 12
Secundário e superior 96 94 42 45 42 44 22 27

Total 68 79 17 28 14 25 8 15
a África sub-sariana a maioria das
novas infecções por HIV ocorreram que os Jovens devem saber
entre jovens com idades
compreendidas entre os 15 e os 24. Nas • Sobre sexo e a sobre a sua sexualidade
áreas onde a expansão do HIV/SIDA está a • Conhecer os factos básicos sobre HIV/SIDA bem
abrandar ou mesmo a diminuir, isto acontece
como as habilidades necessárias para se
em primeiro lugar porque os homens e
protegerem do HIV e de outras DST (Doenças
mulheres jovens receberam as ferramentas e
os incentivos necessários para adoptarem Sexualmente Transmissíveis)
comportamentos sexuais seguros. Por • Se contraíram ou não HIV
exemplo em Lusaka, na Zâmbia, a • Como se protegerem se vivem com HIV/SIDA
prevalência do HIV nos adolescentes com
• Onde obter apoio médico, emocional e psicológico
idades compreendidas entre os 15 e os 19
se vivem com HIV/SIDA
anos diminuiu de 28% em 1993 para 15%
em 1998. Esta diminuição foi atribuída a um • Como proteger aqueles que nas suas comunidades
maior uso de preservativos e um menor vivem com HIV/SIDA
número de parceiros sexuais, devido a um • Quais são os programas de educação sobre HIV
vigoroso programa nacional que fornece desenvolvidos para os jovens e como participar
"habilidades para a vida" e serviços de saúde
• Quais são os seus direitos e quais são os
aos jovens'.
compromissos que os governos dos seus países têm
Em Angola, mais de duas décadas depois para com eles
do início da epidemia, a grande maioria dos • Como proteger e fazer valer esses direitos
jovens, homens e mulheres, permanecem
sem informação adequada sobre o HIV e
SIDA. Isto é particularmente preocupante
num contexto em que os jovens são HIV/SIDA é transmitido e de como se
sexualmente activos (aos 20 anos de idade proteger da doença. Mais do que 9 em cada
70% das mulheres angolanas já deu à luz o 10 jovens angolanos (dos 15 aos 19 anos)
seu primeiro filho). A vasta maioria da não têm conhecimentos suficientes sobre o
juventude angolana não faz ideia de como o HIV/SIDA.

■ ovens e o HIV I D •■

'Young people and H1V/AIDS: Opportunity in crisís, ONUSIDA, UNICEF, OMS, 2002.
Apesar da maioria ter ouvido falar do SIDA Os jovens são o grupo mais susceptível de ter
muitos não sabem como se transmite o HIV e conhecimentos insuficientes sobre HIV/SIDA do
não acreditam que estão em risco. Mais de que qualquer outro grupo etário. Por exemplo,
dois terços (68%) não sabem que o uso os homens mais jovens têm o nível mais baixo
consistente de preservativo pode prevenir a de conhecimentos sobre HIWSIDA de qualquer
infecção. Para mais, os jovens que têm grupo de idade da população masculina entre
conhecimento do HIV muitas vezes não são os 15 e os 49 anos. As mulheres angolanas
capazes de se protegerem porque lhes faltam com uma idade compreendida entre os 15 e os
os conhecimentos precisos, o apoio ou os 19 anos também demonstraram um menor
meios para adoptarem comportamentos conhecimento sobre a transmissão de HIV do
seguros. Isto é amplamente demonstrado que as mulheres com uma idade compreendida
pelo facto de apenas 0.6% dos homens e entre os 20 e os 24 anos, apesar dos seus
mulheres jovens utilizarem preservativos conhecimentos serem maiores do que entre as
femininos ou masculinos. mulheres dos 35 aos 49 anos.

Gráfico 19.1: Proporção da população dos 15 aos 49 anos com conhecimentos


suficientes sobre HIV/SIDA: disparidades entre os homens e as mulheres por
faixa etária

20
18 18%
16% ,
o ' 16%
16
14
13%
12
11% 11%
10
8
8"/o 8% 8% 7%
6%
:•=~111VízlfiLl

6
4 4%


15-19 anos 20-24 anos 25-29 anos 30-34 anos 35-39 anos 40-44 anos 45-49 anos

--e— Feminino —E-- Masculino


Contracepção
com uma média de 7 crianças nascidas vivas
Indicadores por mulher. A nível nacional, o uso de
métodos contraceptivos modernos, tais
Prevalência da Contracepção: Proporção das
como a pílula, preservativos, dispositivos
mulheres com uma idade compreendida entre os 15 e intra-uterinos (DIU), é mais frequente do que
os 49 anos de idade que utilizam (ou cujo parceiro utiliza) o uso de métodos tradicionais, tais como a
um método contraceptivo (moderno ou tradicional) - 6% abstinência periódica e a amenorreia lactante
(5% contra 1%).
Prevalência da Contracepção nas mulheres
casadas ou em uniões de facto: Proporção das De uma forma geral, a contracepção é mais
mulheres casadas ou em uniões de facto, com uma prevalente nas áreas urbanas, onde as
mulheres têm uma probabilidade cerca de
idade compreendida entre os 15 e os 49 anos de idade
quatro vezes maior de usarem
que usam (ou cujo parceiro usa) um método contraceptivos do que as mulheres nas
contraceptivo (moderno ou tradicional) - 6% zonas rurais. Existem também variações
regionais importantes. A proporção mais
elevada de uso de contraceptivos encontra-
se na Região Capital (15%) e a mais baixa na
o princípio do milénio, a prevalência Região Norte (2%).
da contracepção na África sub-
sariana, era a mais baixa do mundo, O uso de contraceptivos é altamente
estimada, em 2000, em cerca de 23%'. O variável de acordo com o estatuto sócio-
MIOS indica uma prevalência muito mais económico dos agregados familiares e o nível
baixa em Angola, com apenas 6% das de instrução das mulheres. A contracepção é
mulheres com uma idade compreendida sete vezes mais prevalente entre os
entre os 15 e os 49 anos utilizando (ou cujo Angolanos pertencentes ao quintil sócio-
parceiro utiliza) um método contraceptivo, económico mais elevado, do que entre os
moderno ou tradicional. O padrão de sócio-económicamente mais vulneráveis. Para
contracepção observado para as mulheres mais, o uso de contraceptivos nos quatro
casadas (ou mulheres em união de facto) é primeiros quintis sócio-económicos é muito
idêntico. Estes resultados encontram-se similar o que indica que existem barreiras
directamente relacionados com a elevada significativas, do ponto de vista do
taxa de fecundidade observada em Angola, rendimento, ao uso de contraceptivos.
on tracep ã.

cf. State of the World Children 2003, UNICEF.


As mulheres que frequentaram o ensino que as mulheres que nunca frequentaram o
secundário têm uma probabilidade dez vezes ensino. Esta tendência revela a relação
maior de usarem contraceptivos do que as entre os níveis mais elevados de educação
mulheres que não têm qualquer instrução. e uma taxa de fecundidade reduzida. De
Esta tendência confirma-se também para as facto, o MICS mostra que as mulheres que
mulheres casadas e mulheres em uniões de frequentaram o ensino secundário ou
facto. Nesta categoria, as mulheres com um superior têm em média, 2 filhos menos de
nível mais elevado de educação têm uma que as mulheres que não têm qualquer nível
probabilidade 18 vezes maior de usarem de instrução ou que frequentaram apenas a
métodos de contracepção modernos do educação primária.

Gráfico 20.1: Prevalência da contracepção de acordo com o nível de educação


das mulheres

25

20

15

10

Nenhum Primário Secundário

Entre as mulheres que utilizam métodos abstinência periódica (18%). Apesar da


contraceptivos (6%), o método mais ameaça do HIV/SIDA, o uso de
frequentemente utilizado é a pílula preservativos (masculino e feminino)
contraceptiva (34%), seguindo-se as permanece significativamente baixo, em
injecções contraceptivas (23%) e a cerca de 7%.

Gráfico 20.2: Métodos contraceptivos utilizados pelas mulheres casadas (ou em


união de facto)

Esterilização feminina
Coito interrompido
Preservativo feminino
Outros
Amenorreia lactante
Preservativo masculino
Dl U
Abstinência periódica
I njecção
■«I

Pílula

O 5 10 15 20 25 30 35
gl.
I 4
% itbk
‘.
Ao
té à reforma recente do sistema
educacional Angolano, apenas os Indicadores
rimeiros quatro anos de ensino
básico (1 a 4 classe), designados por Taxa de escolarização líquida - primeiro nível:
educação primária eram obrigatórios para Proporção de crianças dos 6 aos 9 anos que
as crianças angolanas. Com a lei de reforma frequentam no primeiro nível da educação básica
educativa aprovada pelo Parlamento em
(classes 1 a 4) - 56%
2001, o período de ensino obrigatório foi
agora prolongado para 6 anos (ou seja até à Taxa de escolarização líquida - segundo nível:
sexta classe). A reforma do ensino básico
Proporção de crianças de 10 e 11 anos que
entrará em vigor a partir de 2003. A reforma
educacional teve o mérito de simplificar as
frequentam o segundo nível de educação básica
estrutura do sistema educativo: a educação (classes 5 e 6) - 6%
primária consiste agora em seis anos
obrigatórios de escolaridade para as Proporção de crianças que atingem a 5a classe:
crianças com idades - compreendidas entre Proporção de crianças que ingressam no primeiro
os 6 e os 11 anos. A educação secundária
ano da escola primária e eventualmente atingem a 5a
consiste ainda em seis anos divididos em
dois níveis de três anos opcionais cada. Até classe - 76%
2003 a educação básica em Angola incluía
oito anos de escolaridade divididos em três
níveis. 0 primeiro nível consistia em quatro
anos apelidados de educação primária de integrar novos alunos. Os resultados do
enquanto o segundo e terceiro níveis, inquérito indicam que as crianças frequentam
apelidados educação básica intermédia eram o ensino básico numa idade tardia,
compostos de dois anos cada. Quanto à ocupando, portanto, o lugar de alunos mais
educação secundária consistia em quatro novos. Por exemplo, entre os adolescentes
anos. A idade de entrada no primeiro ano de angolanos que frequentam a escola a grande
educação primária permaneceu a mesma do maioria (85%), frequentam os seis primeiros
que anteriormente (seis anos de idade). anos do ensino básico que deveriam ser
completados, sem repetição, até aos 12
anos de idade.
O MIOS trata dos primeiros seis anos de
escolaridade, analisando as taxas de
frequência liquidas tanto para o primeiro nível
obrigatório do ensino básico como para o
segundo nível, facultativo, do ensino básico.
Analisou-se também a eficiência interna do
sistema educativo através de uma análise da
taxa de sucesso e do perfil sócio-económico
e das características demográficas das
crianças que frequentam os seis primeiros
anos do ensino básico.

O inquérito revela uma taxa de escolarização


baixa com 44% das crianças não
frequentando os primeiros quatro anos e
94% não frequentando o segundo nível do
ensino básico. Para mais, devido à entrada
tardia na escola a maioria das crianças que
frequentam o ensino básico não o fazem na
idade recomendada. Por exemplo, 70% das
crianças de sete anos não frequentam a
classe apropriada para a sua idade (ou seja a
segunda classe). O MIOS revelou também que
devido à elevada taxa de repetição, o sistema
de ensino encontra-se presentemente incapaz
O sistema educativo em Angola antes e depois de 2003


Sistema de ensino antes de 2003 Sistema de ensino a partir de 2003

Classe/Ano Idade normal de Classe/Ano Idade normal de


ingresso ingresso

Educação Primária

1° nível 18 6 anos de idade 1a 6 anos de idade


2a 7 anos de idade 28 7 anos de idade
3a 8 anos de idade 38 8 anos de idade
48 9 anos de idade 48 9 anos de idade
5a 10 anos de idade
68 11 anos de idade

Educação Básica Intermédia

2° nível 5a 10 anos de idade


68 11 anos de idade
3° nível 7a 12 anos de idade
88 13 anos de idade

Educação Secundária

ga 14 anos de idade 1° nível 7a 12 anos de idade


10a 15 anos de idade 88 13 anos de idade
11 8 16 anos de idade 9a 14 anos de idade
1 28 17 anos de idade 2° nível 10a 15 anos de idade
11 8 16 anos de idade
1 28 17 anos de idade

(Fonte: Ministério da Educação)


Quando se analisa a taxa de frequência do primeira classe chegam eventualmente à

primeiro nível de ensino básico verifica-se quinta classe, enquanto apenas 56% das

que existem variações significativas entre raparigas o fazem, indicando uma taxa mais
áreas de residência, Regiões e quintis sócio- elevada de desistência.
económicos. Um facto positivo é o de não
existirem disparidades entre rapazes e
raparigas que a nível nacional frequentam a
escola em números iguais. Este resultado
positivo vem corroborar os resultados do
MIOS 1996, que registaram diferenças
mínimas nas taxas de escolarização dos
rapazes e raparigas: a diferença registada foi
de 4%. No entanto, este valor médio
esconde importantes disparidades em
termos da taxa de sucesso escolar por
género em que as raparigas se encontram
. uca ão Basic.

em desvantagem. A nível nacional 79% dos


rapazes que ingressam na primeira classe
atingem eventualmente a 5a classe, em
contraste com 73% das raparigas. Na Região
Este, 70% dos rapazes que ingressam na
Gráfico 21.1: Proporção de crianças frequentando os seis primeiros anos de
escolaridade por idades

LZ VIN31
100

kw*,
80
79%
76%
72% 74% 7 2%
;7%
60 67%
56% 5 9%

40 45%

20
19%

35°/1

7 8 9 10 11 12 13
14 I 15 16 17 18

Idade das Crianças

Frequentando ■ Não frequentando

Gráfico 21.2: Percentagem das crianças que frequentam os primeiros seis anos
da educação básica na idade recomendada

100

80

60 -117h
11

-77-40
30%

20

O
7_, 11%

6 anos na 7 anos na 8 anos na 9 anos na 10 anos na 11 anos na


1a classe 2a classe 3a classe 4a classe 5a classe 6' classe

Frequentando ■ Não frequentando


Setenta e nove por cento das crianças de
situação cria dificuldades de ensino uma
11 anos frequentam a escola. Este grupo
vez que um mesmo currículo deverá ser
etário tem a taxa mais elevada de frequência
ensinado a alunos de idades muito
do ensino básico em Angola. Nesta idade
diferentes. A acrescer a estas dificuldades é
as crianças deveriam frequentar a sexta
de notar que em 2001 o Ministério da
classe. No entanto somente 2% das
Educação reportou uma média de 64
crianças de onze anos o fazem. A vasta
alunos por sala de aula. O número reduzido
Educaç ão Bás ica

maioria das crianças de 11 anos (91%)


de salas levou à introdução de um sistema
ainda frequentam o primeiro nível do ensino
de dois a três turnos diários o que reduziu
básico (classes 1 a 4), desta forma
drasticamente o tempo de contacto dos
ocupando o lugar de alunos mais novos. A alunos com os professores.
que a dos agregados familiares pertencentes
Gráfico 21.3 . Classe Frequentada
aos quintis sócio-económicos mais
pelas crianças de 11 anos de idade
elevados. Estes dados revelam a dimensão
da marginalização do sistema de ensino das
crianças mais desfavorecidas apenas alguns
anos de escolaridade.

O nível muito baixo de frequência do ensino


básico registado entre as crianças dos
agregados familiares mais vulneráveis está
directamente associado à entrada precoce
destas crianças no mercado de trabalho. A
taxa de trabalho infantil é de facto muito mais
2 a classe
pronunciada para as crianças dos agregados
31% familiares mais pobres (43%) do que para as
crianças do quintil socio-económico mais
elevado (17%). A estreita relação entre
rendimento e taxa de frequência está também
A falta de pessoal docente, a fraca infra- ligada à baixa taxa de registo de nascimento.
A falta de documentação priva um elevado
estrutura e baixa produtividade do sistema de
número de crianças de acederem à educação
ensino, a entrada precoce no mercado de
básica, sobretudo ao segundo nível de
trabalho, baixo rendimento familiar e falta de
educação básica sendo que uma prova de
material escolar limita o progresso normal
identidade é exigida para a inscrição nas
das crianças que frequentam o ensino
escolas das capitais municipais. O MIOS
básico. A capacidade de aceder ao ensino
indica que 48% das crianças dos agregados
básico está directamente relacionada com o
familiares pertencentes ao quintil socio-
nível socio-económico dos agregados
economico mais elevado são registadas, em
familiares. Por exemplo, ao nível da
contraste com 17% das crianças do quintil
educação primária, a taxa de frequência das
socio-economico mais baixo. O custo da
crianças do quintil sócio-económico mais
educação básica também explica esta
favorecido é duas vezes superior à taxa de
correlação. A falta de material escolar gratuito
frequência das crianças dos agregados
implica que o acesso dos alunos a material
socio-económicamente mais vulneráveis. No
escolar adequado está dependente da
segundo nível do ensino básico a taxa de
capacidade dos agregados familiares de o
frequência das crianças de um nível socio-
económico mais baixo é 16 vezes menor do comprarem no mercado.

Frequência do ensino básico por quintil sócio-económico


Gráfico 21.4:

80 Y1
70 -7
60 —77

50
/

40- 7

30

20
duca ão Bas i c.

10

3° quintil 4° quintil 5° quintil


1° quintil 2' quintil
A taxa de frequência do ensino básico
É na Região Capital e na Região Sul que a
encontra-se fortemente dependente do nível
taxa de frequência do primeiro nível de
de rendimento dos agregados familiares,
educação básica é o mais elevado (63%). A
sendo que as crianças dos níveis sócio-
taxa de frequência é mais baixa na Região
económicos mais baixos têm 120% menos
Este (44%). Finalmente as taxas de frequência
de probabilidade de frequentar o primeiro
no Oeste, Norte e Centro Sul encontram-se
nível do ensino básico do que uma criança
próximas da média nacional. Quanto à
do nível sócio-económico mais elevado. Se a
proporção de crianças que eventualmente
proporção de crianças que atingem a 5 a
atingem a 5' classe, observam-se padrões
clasetmbénoraelcidm
regionais similares, sendo que uma maior
o bem estar económico dos agregados
percentagem de crianças que atingem a 5a
familiares, as diferenças por quintil socio-
classe se verifica na Região Sul e na Região
económico são menos significativas. Uma
Capital (82%). O valor mais baixo é mais uma
criança pobre tem apenas 60% menos de
vez apresentado pela Região Este (61%). É
probabilidade de atingir a 5a classe do que
somente na Região Capital que se observa
uma criança do nível socio-económico mais
uma proporção de crianças que atingem a 5 a
elevado apesar de ter uma probabilidade
claseignftvm aordquens
120% maior de não frequentar a escola.
restantes Regiões do País, incluindo o Sul.
Verifica-se uma tendência similar na
A dimensão dos problemas do sistema de
proporção de crianças que frequentam o
ensino angolano é revelada pelo facto de
segundo nível da educação básica, sendo a
mesmo entre as camadas mais favorecidas
Região Capital aquela em que a frequência é
da população a grande maioria das crianças
a mais elevada e a Região Este onde esta é
(84%) não frequentarem o segundo nível da
mais reduzida (seis vezes menor do que a
educação básica na idade recomendada.
média nacional),

Tabela 21.1: Proporção das crianças que ingressam na 1a classe e atingem a 5a classe,
Angola, 2001

Eventualmente atingem a 5a classe (com repetições)


Atingem a 5 a
clasem
repetições
Total Masculino Feminino
Total
Quintil Sócio-Económico
Primeiro
56 56
Secundo 54 37
68 71
Terceiro 64 36
70 77
Quarto 63 39
76 83
Quinto 70 48
89 90
Sexo 88 55
Masculino
Feminino 48
Região 43
Capital
82 88
Norte 76 65
71 76
Este 62 39
61 70
Oeste 56 39
77 81
Sul 73 39
82 85

Centro Sul 65 45
75 78
Área de Residência 87 46
Urbana
77
Educaç ão Básica

82 72
Rural 45
73 71 76 45
Total
76 79 73 46

de escolarização, Angola, 2001


Tabela 21.2: Taxa liquida
Secundo nível (classes 5 a 6)
Primeiro Nível (classes 1 a 4)
Feminino
Total Masculino
Total Masculino Feminino

Quintil Sócio-Económico O 1 O
Primeiro 35 36 34 1 2
1
Secundo 45 45 44 5 1
3
Terceiro 51 52 60 3
62 60 63 4 4
Quarto 16 16 17
Quinto 77 77 77
Região 14 12 17
63 66 60
Capital 2 2 2
Norte 55 52 58 3 O
44 43 45 1
Este 8 9 6
53 54 52
Oeste. 6 8 4
Sul 63 62 64 3
56 55 56 5 6
Centro Sul
Área de Residência 8 9 7
Urbana 61 60 61 1
44 41 44 1 2
Rural
Idade das Crianças -

35 35 35 -

6 anos
7 anos 56 54 57
66 66 67
8 anos
71 72 70
9 anos 5 6 4
10 anos 8 8 7
11 anos
6 7 5
56 55 56

Total

Caixa 2. Despesas Públicas com o sector da Educação

Em 2001 os gastos com o sector da educaçao representam apenas 4.7% das despesas orçamentais totais em
Angola. Este valor foi o mais baixo em todos os países da Southem African Development Community (SADC)
cuja média das despesas no sector da educação se situa a cerca de 16.7% durante o mesmo período.

sas governamentais nos países


Percentagem dos sectores da Educação nas despe -2
membros da SADC, 1997001

educação nas despesas governamentais


Percentagem do sector da
Países
4,7
Angola 9. 6
Zâmbia 13.6
Tanzânia 22.1
África do Sul 23
Zimbabwe 23.1
2
Botswana 2 4.3
Namíbia 6.7
Média SADC 1

Juntamente com o baixo nível de despesas no sector educacional a natureza das despesas realizadas apontam
efeito 60% dos gastos no sector destinaram - se ao
ainda para um fraco nível de investimento no sector. Com
duca ão Bas i c-

pagamento de salários sendo que apenas 14% foram gastos em bens e serviços e o investimento total no sector
limitou-se a 6% das despesas totais com a educação. Ainda é importante assinalar que no período 1997-2001
apenas 39% das despesas efectuadas foram realizadas com o ensino básico.
probabilidade 150% maior de saberem ler e
escrever.
Indicador
A concentração dos recursos educacionais
Taxa de alfabetização total:
nas áreas urbanas encontra-se reflectida
Proporção da população com 15 e mais anos de idade
numa taxa de alfabetização mais elevada
que sabe ler e escrever - 67%' nestas zonas, tanto para os homens como
para as mulheres. Somente metade da
Taxa de alfabetização feminina:
população rural inquirida reporta saber ler e
Proporção das mulheres com 15 e mais anos de idade escrever, uma proporção 48% mais baixa do
que sabe ler e escrever - 54% que aquela reportada nas áreas urbanas
onde cerca de 74% da população indica
saber ler e escrever. Significativamente, as
taxa de alfabetização está directamente discrepâncias de género são também 2
relacionada com as fracas condições vezes e meia mais elevadas nas áreas rurais
e vida da população e encontra-se onde somente um terço das mulheres
normalmente associada com uma baixa indicam saber ler e escrever contra 69% dos
esperança de vida, taxas elevadas de homens.
mortalidade infantil, desemprego e sub-
sequentemente um rendimento insuficiente O MIOS revelou ainda variações regionais
para garantir as necessidades fundamentais importantes que confirmam as já verificadas
dos agregados familiares. Os resultados do para os indicadores da educação básica
MIOS indicaram que as crianças cujas mães tais como a taxa de frequência do ensino
são educadas são consistentemente menos primário. Os valores mais elevados registam-
vulneráveis do que as crianças cujas mães se para a Região Capital (79%) e os valores
não sabem nem ler nem escrever. mais baixos para a Região Este (56%).
Enquanto uma taxa de alfabetização acima
O inquérito indica que cerca de um terço da
da média foi registada para o Sul (74%) as
população não sabe nem ler nem escrever,
Regiões Oeste, Centro Sul e Norte registam
com disparidades muito elevadas entre
valores próximos da média nacional
homens e mulheres. Apenas 54% das
respectivamente (67%, 65% e 62%). No que
mulheres sabe ler e escrever em contraste
diz respeito à taxa de alfabetização
com 82% dos homens, o que significa que os
feminina, as taxas mais baixas encontram-
homens têm uma probabilidade 50% maior de
se na Região Este e Norte (39% e 47%
serem alfabetizados. As discrepâncias de
respectivamente), enquanto as taxas mais
género são mais acentuadas no grupo etário
elevadas se encontram nas Regiões Capital
mais velho (mais de 65 anos) sendo que
e Sul (69% e 66% respectivamente).
neste grupo os homens têm uma

A populacao alfabetizada inclui os membros dos agregados familiares que sabem ler e escrever com ou sem dificuldade.
Mapa 22.1: Taxa de alfabetização feminina

Região Norte
47%

Acima de 60%

Entre 50% e 60%


Região Este
Menos de 50% 39%

Região Sul
66°/0

A relação entre o acesso à educação e o bem


maior de serem analfabetas do que as
estar sócio-económico dos agregados
mulheres pertencentes ao quintil sócio-
familiares observado nos indicadores do
económico mais elevado. Se é verdade que
desenvolvimento pré-escolar e do ensino
se observa a mesma tendência a nível da
primário é, mais uma vez, confirmada no âmbito
taxa de alfabetização masculina, o efeito da
da alfabetização sendo que a proporção
pobreza é menos intenso, sendo que os
dos Angolanos alfabetizados aumenta
homens mais vulneráveis têm ainda uma
proporcionalmente ao nível de bem estar.
probabilidade 1.5 vezes maior do que as
mulheres do mesmo grupo de saberem ler e
Enquanto apenas 10% dos Angolanos
escrever. Os efeitos da pobreza nas
pertencentes ao nível sócio-económico mais
discrepâncias de género parecem indicar
elevado não sabem ler nem escrever, a taxa
que os agregados familiares tendem a dar
de analfabetismo atinge os 60% entre os
prioridade á educação dos rapazes. Quando
mais vulneráveis. O efeito da pobreza na taxa
não existem recursos suficientes para enviar
de alfabetização feminina é particularmente
à escola todos os membros do agregado
marcante sendo que as mulheres mais
parecem ser as raparigas que se encontram
vulneráveis têm uma probabilidade três vezes
privadas de frequentar o ensino.

Gráfico 22.1: Taxa de alfabetização


masculina de acordo com nível sócio-
económico dos agregados familiares


1° quintil 2° quintil 3° quintil
4° quintil 5° quintil
Taxa de alfabetização feminina de acordo com o nível sócio-
Gráfico 22.2:
econónico dos agregados familiares

100 -///

80

60

40 -7

20

o 5° quintil
4° quintil
1" quintil 2° quintil 3° quintil

Angolanos mais jovens, revelando um acesso


Apesar da elevada taxa de analfabetismo, o
à educação progressivamente mais equitativo.
MIOS revelou uma tendência positiva para a
Na faixa etária dos 15 aos 24 as mulheres têm
redução do número de Angolanos que não
uma probabilidade 32% menor de saberem
sabem nem ler nem escrever, nos grupos
ler e escrever do que os homens na mesma
etários mais novos. Enquanto apenas um
faixa etária. Apesar de ainda extremamente
terço dos Angolanos com mais de sessenta e
significativas estas diferenças na taxa
cinco anos de idade reportam ser
de alfabetização constituem uma melhoria
alfabetizados, cerca de dois terços dos
significativa em relação às diferenças
Angolanos com uma idade compreendida
observadas no grupo etário de 55 anos e mais
entre os 15 e os 24 o são. Uma segunda nota
em que as mulheres têm uma probabilidade
positiva é o facto de se verificar também uma
150% menor de saberem ler e escrever.
redução das discrepâncias de género nos

Proporção da população com uma idade igual ou superior a 15 anos que sabe ler e
Tabela 22.1:
escrever, Angola, 2001
Feminino Total
Masculino

Quintil Sócio-Económico 62 27 42
Primeiro 36 53
74
Segundo 50 65
83
Terceiro 59 73
88
Quarto 86 90
95
Quinto
Região 90 69 79
Capital 47 62
81
Norte 39 56
74
Este 53 67
85
Oeste 66 74
82
Sul 51 65
82
Centro Sul
Área de Residência 88 63 74
Urban 34 50
69

Faixa Etária 63 71
83
15-24 anos 62 73
88
25-34 anos 53 71
89
35-44 anos 30 54
78
45-54 anos 20 43
Alfabetização

64
55-64 anos 19 33
47
65 anos e mais
54 67
82
Total

irem
c I ar 1

4 A

\g„..

ças Órfãs e S
* *MO*

Iht
%• /
4 m'4 á
4 ; A k
a'
1** *41P.*A W4 • -A „
**
* • 4 A • 4,
.*, •
g, * *
dados acerca das causas da morte dos pais,
estimativas para este período, projectam um
Indicadores impacto crescente do HIWSIDA no número de
órfãos na África sub-sariana 3 .
Padrões de residência das crianças:
0-14 anos de idade que não
Número de crianças dos A proporção mais elevada de crianças que
vivem com nenhum dos pais biológicos — 10% perderam um ou ambos os pais biológicos
regista-se na região Sul (14%) e a mais baixa
Órfãos em agregados familiares/famílias: nas Regiões Capital e Este (9%). Para mais, a
Número de crianças dos 0-14 anos de idade que são proporção de órfãos é ligeiramente mais alta na
11%
órfãs de um ou ambos os pais biológicos —
áreas urbanas (11%) do que nas áreas rurais
(9%). Finalmente, o número de órfãos é
significativamente mais elevado nas crianças
com idades entre os 10 e os 14 anos de idade
m 2001, a África sub-sariana tinha a
(17%), sendo este o grupo que também inclui a
percentagem mais elevada de crianças
maioria das crianças colocadas em famílias
órfãs do que qualquer outra região do
adoptivas. A percentagem de crianças órfãs
mundo, com 12% das crianças tendo perdido
diminui com a idade. Enquanto 12% das
pelo menos um dos seus pais biológicos. Esta
crianças com idades compreendidas entre os
proporção de órfãos é o dobro da registada na 5 e os 9 perderam pelo menos um dos pais
Ásia (7%) e mais do dobro da registada na biológicos, este número encontra-se abaixo da
América Latina'. Em grande parte, os números média nacional para as crianças com idades
mais elevados de órfãos na África sub-sariana
compreendidas entre os O e os 4 anos (5%).
são imputáveis ao HIV/SIDA. O MIOS indica
que a situação angolana se encontra dentro O MIOS indica ainda que não existe qualquer
dos valores médios para a África sub-sariana
relação entre a proporção de órfãos e o
com 11% das crianças órfãs de um ou ambos quintil sócio-económico, sendo que não
os pais biológicos. Destas, 1.3% perderam a existem variações significativas entre a
mãe e o pai. Em termos mais concretos, isto
proporção de órfãos nos agregados
significa que em 2001, 730,000 crianças
familiares mais e menos favorecidos.
angolanas tinham perdido pelo menos um dos
seus pais e que 88,000 eram órfãs de
No que diz respeito às crianças que não
ambos'. vivem com os seus pais biológicos, o
inquérito indica que cerca de um terço (32%)
O inquérito parece assim indicar que a de todas as crianças com uma idade
elevada taxa de órfãos se encontra compreendida entre os O e os 14 anos não
relacionada com o impacto da guerra sendo vivem com ambos os progenitores. As
que as crianças órfãs têm uma probabilidade crianças que não vivem com nenhum dos
três vezes maior de terem perdido o pai do seus pais biológicos têm uma probabilidade
que a mãe. Apesar do MIOS não ter recolhido

program strategies.
Children on the Brink -A joint report on orphan estimates and
ONUSIDA, UNICEF e USAID, 2002,

'Estimativas são baseadas numa população de 13.8 milhões em 2001.
6 vezes maior de viverem apenas com a viverem com famílias adoptivas apesar do pai
mãe, o que é compatível com a elevada e a mãe estarem vivos, do que as crianças
percentagem de mulheres angolanas que mais jovens (0 aos 4 anos de idade)
são chefes de agregados familiares (27%). A
percentagem de crianças que não vive com Apesar do MIOS não medir o peso relativo
a família biológica não varia entre zonas rurais dos cuidados em famílias de acolhimento,
e zonas urbanas. Também se registaram em relação aos cuidados prestados em
pequenas variações entre regiões, 8% na instituições, os números totais de crianças
Região Capital e 11% na Região Oeste e acolhidas em orfanatos fornecidos pelo
Centro Sul. Significativamente, as crianças MINARS confirma o peso significativo das
na última faixa etária (10 a 14) têm uma famílias de acolhimento. Com cerca de 10%
probabilidade 27% menor de viverem com das crianças com uma idade compreendida
ambos os pais do que as crianças na entre os O e os 14 anos de idade não
categoria mais jovem (0 a 4). vivendo com os seus pais biológicos,
considera-se que em 2001 à roda de
O inquérito indica que cerca de 10% das 670,000 crianças não viviam com os seus
crianças não vivem nem com o pai, nem com progenitores'. Em contraste, no princípio de
a mãe. Cerca de metade destas crianças 2003, o MINARS considerava que cerca de
(6%) vivem com famílias de acolhimento 2,446 crianças angolanas se encontravam
apesar de tanto o pai como a mãe estarem em instituições. Apesar de ser necessário
vivos. Este resultado pode estar relacionado levar a cabo mais pesquisa para avaliar o
com as dificuldades sócio-económicas dos peso real das instituições tais como os
agregados familiares, que podem não ter orfanatos, a tendência geral é compatível
capacidade de cuidar de todas as crianças a com o padrão revelado pelo MICS em 2001,
seu cargo. Uma outra causa possível poderá segundo o qual, redes de apoio dentro das
também ser o elevado nível de crianças comunidades desempenham um papel
separadas da família devido à guerra. De fundamental nos cuidados prestados às
facto, apenas 14% de todas a crianças crianças órfãs e separadas (ou seja, crianças
residentes com famílias de acolhimento que não vivem nem com o pai, nem com a
perderam ambos os progenitores. mãe apesar de ambos estarem vivos). Neste
sentido, o MICS revela boas práticas
As crianças mais velhas (10 aos 14 anos de tradicionais de protecção das crianças
idade) têm uma probabilidade 58% maior de vulneráveis por parte das famílias angolanas.

Considera-se que as crianças com menos de 15 anos de idade representam 49% da população e que, segundo as
estimativas populacionais do INE, a população total em 2001 era de 13.8 milhões.
Caixa 3: Órfãos e o impacto do HIV/SIDA

O HIV/SIDA criou uma crise em termos do número de órfãos na África sub-saríana.


Uma das consequências mais sérias da epidemia é o número de crianças órfãs ou
sériamente afectadas. Em 2001, mais de 13 milhões de crianças no mundo
perderam um ou ambos os pais devido ao HIV/SIDA, a grande maioria das quais na
África sub-sariana5 . Dos 34 milhões de órfãos na região em 2001, 11 milhões
tornaram-se órfãos devido ao HIV/SIDA. As projecções para 2010 são
devastadoras, com 42 milhões de órfãos na África sub-sariana, dos quais 20
milhões serão provavelmente devidos ao HIV/SIDA6 . Na Zâmbia e na Namíbia, 75%
dos órfãos em 2010 dever-se-ão ao HIV. Esta crise sem precedentes irá requerer
uma aceleração dos esforços a nível nacional, regional e comunitário, especialmente
na África sub-sariana onde as crianças foram mais afectadas.

O número de órfãos devido ao HIV/SIDA irá continuar a aumentar pelo menos


durante a próxima década. Geralmente, decorre um período de 10 anos entre a
infecção por HIV e a morte devido ao SIDA. Desta forma, a taxa de prevalência
actual irá determinar a proporção de órfãos na próxima década. Devido a este
intervalo de 10 anos e à falta de informação sobre a prevalência de HIV em Angola,
o impacto da epidemia no número total de órfãos não é ainda visível. Em 2001, a
ONUSIDA estimou que em Angola 15% de todos os órfãos se devem ao HIV, sendo
que esta proporção deverá aumentar para 24% até 2005 e 34% até 2010. Por
outras palavras, poderão vir a existir, em Angola, em 2005, 197,000 órfãos devido
ao SIDA e em 2010, 331,000 órfãos.

Para além de aumentar a proporção de crianças órfãs na próxima década, o HIV terá
ainda um impacto negativo no número de crianças que frequenta a escola e tenderá
a aumentar a proporção de crianças que trabalham. A análise dos efeitos da
orfandade na educação e no trabalho infantil em 20 países Africanos, indicou que
as crianças que perderam um ou ambos os pais têm uma maior tendência para
abandonarem a escola e a entrarem prematuramente no mercado de trabalho.

O impacto do HIV/SIDA não se limita no entanto a um aumento da proporção de


órfãos. A natureza da doença, as concepções erradas acerca do HIV e o estigma a
ele associado têm um efeito mais prejudicial. Em primeiro lugar, o HIV/SIDA aumenta
a proporção de crianças que são órfãs de pai e mãe, o que acarreta um peso
acrescido para a família alargada, elemento crucial das sociedades Africanas. Em
segundo lugar, enquanto em Angola, como é frequente na África sub-sariana,
existem boas práticas de cuidados de crianças órfãs por famílias de acolhimento
devido ao peso das famílias alargadas e das redes comunitárias, dados recolhidos
em outros países Africanos apontam para o facto de ser mais difícil colocar crianças
tomadas órfãs devido ao HIV/SIDA em famílias de acolhimento do que aquelas que
rian as Orfãs e Separada

ficaram órfãs por outras causas.

ONUSIDA, UNICEF e USAID, 2002, Children on the Brink - A joint report on orphan estimates and program strategies.
". - ..,'•'•.•-•.:', ":-•••,...;.....:-. 1 :
1•'•
• , ,..,,,,;:,••, .:,...!:„.,...••••...,,....:•:•;•.:::......;..5.',...Zi.„
Norte. Enquanto a Região Este apresenta um
Indicador valor ligeiramente acima da média, as Regiões
Capital e Centro Sul são respectivamente a
Registo de nascimento: Número de crianças de 0-59 segunda e terceira Regiões onde menos
meses de cujos nascimentos foram registados — 29% crianças foram registadas em 2001. As baixas
taxas de registo obtidas para a Região Capital
contradizem a tendência geral segundo a qual
arantir o direito de todas as crianças existe um número elevado de serviços e

G ao registo de nascimento é o
primeiro passo para se assegurar
também o seu direito à cidadania, bem como
recursos centralizados em Luanda e nas áreas
circundantes.

Entre os agregados familiares que registam


a cuidados de saúde, educação e
assistência social adequados. A falta de as crianças, há tendência para um registo
capacidade para fazer valer este "primeiro tardio. Existe uma probabilidade 5 vezes
direito" da criança é particularmente maior das crianças serem registadas entre os
preocupante na África sub-sariana onde, em 4 e os 5 anos do que nos primeiros 6 meses
média, 71% das crianças até aos cinco anos de vida. Este resultado pode estar associado
de idade não tinham sido registadas. O MIOS ao facto de os encarregados aguardarem até
confirmou que a situação em Angola é típica que seja necessária uma prova legal de
da África sub-sariana. Se bem que a identidade para aceder a determinados
Convenção sobre os Direitos da Criança e a serviços sociais para efectuarem o registo de
legislação angolana garantam a todas as nascimento. Devido ás taxas muito baixas de
crianças o direito a um nome e a uma registo de nascimento, as escolas primárias
nacionalidade, os resultados do inquérito aceitam que as crianças se inscrevam sem
indicam que uma grande maioria das um documento legal de identidade, A família
crianças com menos de cinco anos não têm tende assim a procurar o registo numa fase
uma identidade legal com, em 2001, apenas mais tardia quando as crianças completam
29% dos nascimentos registados. as classes 3-4, a partir das quais é
necessária uma prova de identificação para
Existem variações regionais importantes a aceder aos níveis seguintes do sistema de
nível da proporção de crianças registadas ensino.
entre 35% ha Região Oeste e Sul e 19% no
A análise das razões dadas pelos
encarregados para não registarem as
crianças indica que o custo excessivo é a
mais significativa (34%) seguindo-se a
distância a que se situa o serviço de registo
(16%). As razões de menos peso foram a
falta de conhecimento sobre a necessidade
de registar o nascimento (6%), falta de
conhecimento sobre a disponibilidade dos
serviços (5%) e a recusa de pagar a multa
por registo tardio (4%).

A situação económica dos agregados


familiares tem uma influência directa na sua
capacidade para registar as crianças a seu
cargo: uma criança do escalão sócio-
económico mais elevado tem uma
probabilidade quase três vezes maior de ser
• e . isto de a scimen •

registada do que outra pertencente ao quintil


sócio-económico mais baixo'.

Para além da tarifa oficial de registo de nascimento os encarregados têm ainda de adicionar o custo do transporte,
potencialmente os custos paralelos do registo. Estes custos associados poderão ainda explicar a percentagem significativa
dos agregados familiares mais ricos (21%) que indicaram o elevado custo como o principal obstáculo enfrentado.
Gráfico 24.1: Percentagem das crianças registadas por idade e de acordo com
o quintil sócio-económico dos agregados familiares

50

40

30

20

10


1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

O impacto do custo é extremamente variável, • montantes a pagar, mas também a uma


sendo três vezes mais importante no Norte do valorização subjectiva do registo.
que na Região Oeste e Sul. Curiosamente, as
mães com um nível de educação superior A necessidade de se percorrer uma distância
queixam-se menos do custo do registo do significativa para se proceder ao registo de
que as mulheres que não tiveram acesso à nascimento foi a segunda maior razão
educação. Apesar de em parte se poder apontada pelos que se encarregam de
explicar este tipo de comportamento pelo crianças para não as registarem em todas as
facto de o acesso à educação (especialmente Regiões à excepção do Sul. Nesta Região, a
no caso das mulheres e no que respeita ao distância a que situam os locais de registo foi
acesso a níveis de educação mais elevados) a principal razão apontada para o não registo,
ser fortemente afectado pelo nível de indicando a falta de disponibilidade do
rendimento do agregado familiar, é provável serviço. O custo associado ao transporte é
que esteja também associado a uma maior significativo, dado que a distância a que
consciência das vantagens do registo de ficam os locais de registo foi referida como
nascimento entre as mulheres com maior nível uma das causas de as crianças não serem
de educação. No entanto, é importante referir registadas três vezes mais frequentemente
que cerca de um quarto das mães que nos agregados familiares mais vulneráveis do
frequentaram o ensino secundário indicaram que nos agregados dos quintis sócio-
que o custo do registo era demasiado económicos mais elevados. O impacto
elevado. Mesmo nesta categoria, o custo provocado pela inacessibilidade dos serviços
excessivo continua a ser 3 vezes mais de registo é confirmado pelo número
significativo do que a segunda razão apontada significativamente mais baixo de crianças
para o não registo das crianças. É possível registadas nas áreas rurais. Uma criança
que o cálculo do custo do registo de nascida numa zona urbana tem, de facto,
nascimento não esteja apenas associado aos uma probabilidade 75% maior de ser

registada antes dos cinco anos de idade do do que as raparigas, os encarregados
que uma criança da área rural. Curiosamente, queixaram-se mais da distância dos locais

apesar de não haver grandes variações de de registo no caso das raparigas. Esta
género no acesso ao registo de nascimento, constatação vem reforçar a necessidade de

com os rapazes a apresentarem uma se fazer com que o serviço esteja disponível

probabilidade 5% maior de serem registados o mais perto possível das comunidades.

Caixa 4: Campanha Gratuita de Registo de Nascimento 2001 — 2002

Os maiores obstáculos ao registo de nascimento estão ser enfrentados pelo Governo


Angolano através de uma aproximação de tipo campanha ao registo de nascimento
iniciada em 2001. A campanha começou a dar resposta aos números significativos de
crianças e adultos sem registo de nascimento promovendo o acesso gratuito ao registo
bem como aumentando os conhecimentos da população sobre as suas vantagens. Até
ao fim de 2002, aproximadamente 1.5 milhões de crianças com idades compreendidas
entre os O e 17 anos foram registadas. O sucesso da campanha foi também parcialmente
devido ao facto de se ter permitido a um número mais abrangente de entidades que
eféctuassem o registo e de se ter simplificado o processo administrativo para o registo.
Esta abordagem contribuiu para uma expansão e melhoria da qualidade do serviço com
benefícios que vão para além da implementação imediata da campanha.

A adesão massiva das famílias angolanas à campanha gratuita de registo de nascimento


é um exemplo claro de como as medidas principais adoptadas (registo gratuito, acesso
fácil por parte dos encarregados e um processo simples de registo) seriam fundamentais
mT[I l!.ilI.

para em aumentar a taxa de registo se adoptadas de forma permanente. A nova política


de registo de nascimento adoptada pelo Governo Angolano em 2001 constitui um primeiro
passo para enraizar estas medidas e tornar este direito livre e facilmente acessível pelas
crianças angolanas.
.j

14 anos a trabalhar (seja este trabalho
Indicador remunerado ou não). As raparigas trabalham
ligeiramente mais do que os rapazes (31%
Trabalho Infantil: Número de crianças de 5-14 anos que contra 29%). O inquérito estabelece ainda
se encontram, actualmente, a trabalhar' 30%-
uma correlação clara entre a vulnerabilidade
sócio-económica, a frequência da escola e o
início da vida laborai das crianças. Enquanto
o princípio do milénio os países da as crianças dos agregados familiares mais
África sub-sariana tinham a maior vulneráveis frequentam a escola em menor
proporção de crianças a trabalhar, proporção e trabalham mais, o inverso é
com 39% das crianças com idades verdadeiro para as crianças dos agregados
compreendidas entre os 5 e os 14 anos de familiares menos vulneráveis. Sendo um
idade envolvidas numa ou outra forma de obstáculo à educação, o trabalho infantil
trabalho, O MIOS revela uma tendência impede a aquisição de capacidades
similar, apesar de menos acentuada, em essenciais, e também que as crianças
Angola, com 30% das crianças angolanas entrem no mercado de trabalho, enquanto
com idades compreendidas entre os 5 e os adultos, numa posição mais vantajosa.

Gráfico 25.1: Comparação entre a proporção de crianças que frequentam a


escola e proporção de crianças que trabalham por quintil sócio-económico

90
80
70
60
50
40
30
20
10
O

1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

• Crianças que frequentam a escola • Crianças que trabalham

As crianças entre os 10 e os 14 anos têm O trabalho infantil verifica-se com mais


uma probabilidade duas vezes maior de incidência em crianças de agregados
trabalharem do que as crianças com idades familiares mais vulneráveis, sendo que as
compreendidas entre os 5 e os 9 anos. crianças pertencentes ao escalão sócio-
Particularmente, as crianças mais velhas têm económico mais baixo têm uma
uma probabilidade quatro vezes maior de probabilidade cerca de 2.5 vezes maior de
efectuarem trabalho remunerado. Este trabalharem do que as crianças de
padrão é coerente com os dados recolhidos agregados familiares em melhor situação. A
referentes à educação, que revelam uma proporção de crianças que trabalham
queda acentuada nas taxas de frequência do mantém-se de um modo geral significativa,
segundo nível do ensino primário (uma taxa mesmo no quintil sócio-económico mais
de frequência de 6% para o segundo nível do elevado, com praticamente 1 em cada 5
ensino básico, contra 56% para o primeiro crianças com um maior bem-estar económico
nível). a exercer algum tipo de trabalho.
ff .=n=

As crianças foram consideradas como estando a trabalhar se, durante a semana anterior ao inquérito,
tivessem levado a cabo trabalho remunerado ou não remunerado para alguém que não fizesse parte do
agregado familiar, tivessem efectuado tarefas domésticas durante mais de 4 horas por dia, ou tivessem
trabalhado para uma machamba ou negócio familiar.
Gráfico 25.2: Percentagem das crianças que trabalham por quintil sócio-
económico

50

40

30
28%

20

10


1° quintil 2° quintil 3° quintil 4° quintil 5° quintil

O estatuto sócio-económico dos agregados A percentagem de crianças que trabalham é


familiares também influencia o tipo de consideravelmente mais elevada nas áreas
trabalho realizado pelas crianças. Nos rurais. A probabilidade de as crianças
agregados familiares com um maior bem- trabalharem fora das cidades é, na realidade,
estar económico, as crianças têm 3 vezes 68% superior. Este padrão, associado ao
menos probabilidade de desempenhar facto de a maioria das crianças que trabalham
tarefas remuneradas e 2.5 vezes menos tenderem a fazê-lo em machambas ou
probabilidade de trabalhar em machambas negócios familiares, parece indicar que
ou negócios particulares, em comparação grande parte das crianças que trabalha está
com a média nacional. envolvida em trabalho agrícola em produções
de pequena escala. Trabalhar para a própria
Curiosamente, a percentagem de crianças família é, de facto, a forma mais comum de
pertencente aos agregados familiares com trabalho infantil em Angola, ocupando 20%
maior bem-estar económico que efectuam das crianças sem diferenças significativas
trabalhos domésticos contradiz a tendência entre os rapazes e as raparigas. De forma
geral, segundo a qual a percentagem mais preocupante as crianças começam a
baixa de crianças a trabalhar se encontra no trabalhar neste tipo de actividade muito
primeiro escalão sócio-económico. As cedo, sendo que 13% das crianças com
crianças pertencentes a agregados familiares idades compreendidas entre os 5 e os 9
em melhor situação constituem o terceiro anos trabalham para as suas famílias.
maior grupo a desempenhar tarefas Finalmente, as condições de trabalho para as
domésticas mais de 4 horas por dia e a crianças também parecem menos vantajosas
probabilidade de não receberem qualquer nas áreas rurais, onde têm uma probabilidade
remuneração pelo trabalho efectuado é quase 17% superior de não serem remuneradas pelo
a mesma que a das crianças mais pobres. Os trabalho que efectuam.
padrões de acolhimento de crianças órfãs e
separadas analisados pelo MIOS poderão Existem variações regionais significativas. A
explicar parcialmente esta tendência. De distribuição regional do trabalho infantil varia
facto, a maior percentagem de crianças que entre 21% na região da Capital e 39% na
não vivem com os pais biológicos, mas cujos região Norte. Significativamente, o Sul é a
pais estão ambos vivos, encontra-se entre os região com maior percentagem de crianças
agregados familiares com maior bem-estar que efectuam trabalho por conta de outrem
económico. O acolhimento por motivos e trabalho não remunerado.
económicos, ou como resultado de uma
separação, poderá explicar a presença, em "Trabalho Doméstico" é definido como
agregados em melhor situação económica, cozinhar, ir às compras, limpar, lavar roupa, ir
de crianças com uma mais pesada carga de buscar água e tratar de crianças. Apesar de
trabalhos domésticos. a grande maioria das crianças (70%) estarem
envolvidas em algum tipo de trabalho as raparigas são mais vulneráveis no mercado
doméstico por menos de 4 horas diárias, as de trabalho, com uma probabilidade 17%
raparigas têm uma maior probabilidade, não superior de não serem remuneradas pelo
só de desempenharem tarefas domésticas, trabalho efectuado. Para além disso, de um
mas também de serem trabalhadoras modo geral, as raparigas trabalham
domésticas (ou seja de efectuarem as tarefas ligeiramente mais do que os rapazes (7%),
acima mencionadas durante mais de quatro pelo que é previsível que este aspecto tenha
hora diárias). A análise dos dados angolanos um impacto negativo na oportunidade de
sobre o trabalho infantil também revela que frequentarem a escola.

Tabela 25.1: Percentagem das crianças 5-14 anos presentemente a trabalhar 2, Angola, 2001

Trabalho Doméstico
Trabalho
Trabalho Familiar
Trabalho Não- Menos 4h ou (negócio ou Total a
Remunerado Remunerado de 4h/dia mais/dia lavra) Trabalhar

Quintil Sócio-
Económico
Primeiro 3 5 68 10 32 43
Segundo 4 7 69 7 27 37
Terceiro 4 7 71 5 22 33
Quarto 2 6 72 4 20 28
Quinto 1 5 70 6 8 17

Sexo
Masculino 3 6 68 5 20 29
Feminino 2 7 73 7 20 31

Região
Capital 1 4 66 4 15 21
Norte 2 10 75 5 30 39
Este 1 3 60 9 14 24
Oest 1 6 73 6 23 31
Sul 8 12 73 4 19 35
Centro Sul 2 3 75 7 21 29

Área de Residência
Urbana 3 6 70 6 15 25
Rural 2 7 72 7 34 42

Grupo Etário
9 a9anos 1 5 61 3 13 20
10 a 14 anos 4 8 81 9 28 41

Total 3 6 70 6 20 30
lITIM1751ITTETi171

As crianças que relizaram qualquer tipo de trabalho pago ou não pago para alguém que não seja membro da familia, ou
que prestaram mais de 4 horas de tarefas domésticas em casa ou que tenham realizado outro trabalho familiar são
consideradas como estando actualmente a trabalhar.
Metodologia

.•kAkiO4.
U
ma metodologia detalhada bem como A recolha de dados no terreno, foi levada a
o questionário utilizado durante o cabo durante um período de seis meses de
inquérito foram apresentados pelo Abril a Outubro 2001. Os dados foram
Instituto Nacional de Estatística (INE) na sua recolhidos em três fases. Uma primeira fase
publicação estatística dos resultados do de Abril a Maio 2001, uma segunda fase de
MICS2i. A nota que se segue resume os Junho a Julho 2001 e finalmente uma
principais aspectos metodológicos do inquérito. terceira fase de Setembro a Outubro 2001.

Tabelai Tamanho da amostra dos conglomerados e agregados familiares, segundo a área de


residência


Número de Número de agregados

conglomerados familiares

seleccionados seleccionados


Fase de Área de residência Área de residência
Região Províncias recolha dos
dados

Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Capital Luanda 12 33 420 240 660


Bengo II 3 6 60 60 120
Kwanza III 3 9 120 60 180
Norte
Cabinda 3 3 6 60 60 120

Norte Malanje II 12 6 18 240 120 360


Uíge II 18 12 30 360 240 600
Zaire III 3 3 6 60 60 120

Este Moxico III 12 6 18 240 120 360


Lunda Sul III 12 9 21 240 180 420
Lunda 15 9 24 300 180 480
Norte

Oeste Kwanza 12 9 21 240 180 420


Sul
Benguela 21 12 33 420 240 660

Sul Huíla 21 12 33 420 240 660


Cunene 6 6 12 120 120 240
Namibe 6 3 9 120 60 180

Centro
Sul Bié III 12 6 18 240 120 360
Huambo II 18 12 30 360 240 600
Kuando III 3 3 6 60 60 120
Kubango

Total 204 129 333 4,080 2,580 6,660


co
o
3
o

http://www,childinfo.org .
Um total de 333 conglomerados, cada um
constituído por 20 agregados familiares, foram
seleccionados nas 18 Províncias do país, o
que corresponde a nível nacional, a 6,660
agregados familiares. Nas áreas urbanas
foram seleccionados 204 conglomerados (ou
seja 4,080 agregados) enquanto nas áreas
rurais foram seleccionados 129 conglomerados,
o que corresponde a 2,580 agregados
familiares.

O inquérito baseou-se numa amostra


probabilística multietápica. Para o seu desenho
foram utilizadas duas etapas de selecção na
área de residência urbana e três na área de
residência rural. Na área de residência urbana
a unidade primária de selecção foi a secção
censitária, seleccionada com probabilidade
proporcional ao tamanho em termos de
agregados que a compõem e a unidade Dos 6,660 agregados familiares seleccio-
secundária de selecção o agregado familiar, nados na amostra foram inquiridos 6,252 (ou
seleccionado aleatoriamente. Na área de seja 94% da amostra inicialmente seleccio-
residência rural, a unidade primária de nada) nas 18 províncias do país o que
selecção foi a comuna, a unidade secundária corresponde a um total de 29,811 pessoas.
a aldeia e a unidade terciária o agregado Um total de 7,089 mulheres com uma idade
familiar, tendo sido a comuna seleccio- compreendida entre os 15 e 49 anos, bem
nada com probabilidade proporcional à como 5,663 crianças com urna idade
população e as duas últimas seleccionadas compreendida entre os O e os 5 anos foram
aleatoriamente. inquiridas.

Mapa i: Número de agregados Mapa ii: Número de crianças e


familiares inquiridos por Região mulheres inquiridas por Região

Região Norte Região Norte


1,016 agregados 1,128 mulheres
4,876 pessoas 1,000 crianças

gião Capit
44 agregado
,659 pesso

egião Oes
1,019 agre dos Região Este Região Este
as
4,630 ssoas 1,202 agregados 1,308 mulheres
5,507 pessoas 1,166 crianças

Região Região
Centro Sul Centro Sul
Região Sul Região Sul
1,048 agregados 1,124 mulheres
1,023 agregados 1,199 mulheres 992 crianças
5,044 pessoas 1,008 crianças
5,095 pessoas

Número total de agregados familiares Número total de mulheres inquiridas


inquiridos: 6,252 (15 aos 49 anos): 7,089

Número total de pessoas inquiridas Número total de crianças inquiridas


em agregados familiares: 29,811 (menos de 5 anos de idade): 5,663
Devido a problemas logísticos e de segurança foram portanto subsituídas. No total, o
várias comunas rurais seleccionadas na inquérito teve lugar em 70 comunas e 43
amostra inicial não puderam ser alcançadas e municipalidades.

Mapa iii: Amostragem do inquérito MICS: comunas seleccionadas e inquiridas

Comunas inicialmente seleccionadas e inquiridas

E Comunas inicialmente seleccionadas e não inquiridas devido a falta de segurança ou problemas logísticos
Comunas substituídas e inquiridas
Localização das Capitais Provinciais
• A expressão utilizada para o cálculo do tamanho da amostra foi a seguinte:
Za Q
n — z x deff
onde: d
n é a dimensão total da amostra, isto é, o número de agregados familiares a inquirir nas 6 regiões
Za é igual a 1.96 valor da estatística z da distribuição normal para um nível de confiança de 95%
d é o erro absoluto admitido para as variáveis a estimar
s2 é a estimativa da variância da população para uma variável específica
deff é o factor de ajuste para o método de amostragem utilizado
Dada a inexistência de uma base operacional e geográfica actualizada em todas as províncias não foi possível a selecção das Unidades Primárias de
Selecção em simultâneo por região, sendo a amostra dos conglomerados repartida proporcionalmente a população de cada província de cada região.
Na repartição da amostra por províncias assegurou-se que em cada província fossem seleccionadas no mínimo duas Unidades Primárias de Selecção.
• A probabilidade de selecção das secções, dos agregados familiares, comunas e aldeias foi calculada da seguinte forma:
Para a área urbana a probabilidade de selecção da secção i foi dada por:
Ni
pi = sx
onde: N
Ni é o número de agregados familiares na secção i;
N é o número de agregados familiares na província e
s é o número de secções censitárias seleccionadas na província;
A probabilidade de selecção do agregado familiar j, da secção i é dada por:
= ni

N'i
onde:
N'i é o número de agregados familiares listados na secção i;
ni é o número de agregados familiares seleccionados na secção i;
• A probabilidade final de selecção de cada agregado familiar é dada pelo produto das probabilidades de selecção das unidades em cada uma das
etapas resultando no seguinte:
,fi=" f=P•• xp•
N N'i
Para a área rural de cada província a probabilidade de selecção da comuna i é dada por:
Ci
=Cx
onde: C
C é a estimativa do total da população na área rural da província;
Ci é a estimativa do total da população na área rural da comuna i;
c é o n.° de comunas seleccionadas em cada província;
A probabilidade de selecção da aldeia j, da comuna i é dada por:
1
pii – a x —
onde: Ai
a é o n° de aldeias seleccionadas em cada comuna seleccionada;
Ai é o n° total de aldeias da comuna i;
A probabilidade de selecção do agregado familiar k da comuna i, da aldeia j é dada por:
nij
Pijk —
onde: Aij
Aij é o n.° de agregados familiares na aldeia j da comuna i;
nij é o n.° de agregados familiares seleccionados na aldeia j da comuna i;
A probabilidade final de selecção de cada agregado familiar é dada da seguinte forma:
Ci a nij
fijk fil = P i x piik = cx—x--x-
C Ai Aii
• Para a área urbana o estimador do total de uma variável Y é dado pela seguinte forma:
2wiYi (1)
onde:
y é o total estimado para a variável Y;
1 ni
, • —x— é o peso de amostragem ajustado da secção i;
14' r
jr n
fi é a probabilidade de selecção dos agregados na secção i;

Yi= 21. 6 total da variável y na amostra secção i

Enquanto que para a área rural é dado por:


= 2wifYii (2)
onde: 1
J; é o total estimado para a variável Y;
1 nij
w , ; — x — é o peso de amostragem ajustado da aldeia j da comuna i;
fij n'ij
é a probabilidade de selecção dos agregados da aldeia j da comuna i;
n' ij

Y O = 2Yijk é o total da variável Y, na amostra, da aldeia j, comuna i.


O estimador dum dado ratio é dado pela expressão seguinte:
„ Y
R
etodo o • 1.

onde: X
R é o estimador para o ratio de duas variáveis, Y/X;
Y é o estimador do total para a variável Y, dado pela fórmula (1) ou (2);

Xs é o estimador do total para a variável Y, dado pela fórmula (1) ou (2).


Bibliografia
ACC/SCN (Comité Administrativo das Nações Unidas para a Coordenação, Sub-Comité para a
Nutrição), 2000, Fourth Report on the World Nutrition Situation, Genebra.

Banco Mundial, 2001, World Development.. lnvesting in Health, Washington.

Farmer, R, Connors, M. e Simmons, J. (eds.), 1996, Women, Poverty and AIDS: Sex, Drugs, and
Structural Violence, Courage Press.

Filmar D. e Pritchett L., 1998, Estimating Wealth Effects Without Expenditure Data — or Tears: An
Application to Educational Enrolments in States of índia, World Bank Policy Research Working
Paper No. 1994, Washington.

HEARD researchers, Desmond, C. e Gow, J. (eds.), 2002, Impact and Interventions: The
HIV/AIDS Epidemic and the Children of South Africa, University of Natal Press, Pietermaritzburg,
África do Sul.

Instituto Nacional de Estatistica e UNICEF, 1997, Inquérito de Indicadores Múltiplos, INE, Luanda,
Angola.

Instituto Nacional de Estatistica e UNICEF, 2002, Inquérito de Indicadores Múltiplos, INE, Luanda,
Angola.

Mann, J.M.M. e Tarantola, D.J.M. (eds.), 1996, AIDS in the World 11, Oxford University Press,
Oxford, Nova Iorque.

Ministério das Finanças e Sistema das Nações Unidas em Angola, 2002, O Financiamento
Público dos Sectores Sociais em Angola, Principia e 01M, Luanda, Angola.

OMS, Divisão para a Saúde e Desenvolvimento Infantil, 1997, lntegrated Management of


Childhood 'finasses: Information, Genebra.

ONUSIDA, UNICEF e OMS, 2002, Young People and H1V/AIDS, Nova Iorque.

ONUSIDA, UNICEF e USAID, 2002, Children on the Brink 2002 — A Joint Report on Orphan
Estimates and Program Strategies, Nova Iorque.

Patel, M., Allen, K.B., Keatley, R. e Jonsson, U., 2002, "UNICEF and UNAIDS evaluatibn of
HIV/AIDS programme in sub-Saharan Africa", Introduction, em Evaluation and Programme
Planning, Volume 25, Número 4.

Population Action International, 2001, A World of Difference: Sexual and Reproductive Health
Risks, Population Action, Washington.

Sistema das Nações Unidas em Angola, 2002, Angola: os Desafios do Pós-Guerra, UN


Common Country Assessment 2002, Business Print Centre, Pretoria, África do Sul.

Smith L.C. e Haddad, L., 2000, Explaining Child Malnutrition in Developing Countries: A Cross-
country Analysis, Research Report 111, Washington.

UNICEF, State of the World's Children 2001, Nova Iorque.

UNICEF, State of the World's Children 2002, Nova Iorque.

UNICEF, State of the World's Children 2003, Nova Iorque.

UNICEF, Setembro 2001, Progress since the World Summit for Children: A Statistical Review,
Nova Iorque.

UNICEF, Departamento de Avaliação e Planeamento, 2000, End-Decade Multiple Indicator Survey


Manual: Monitoring Progress Towards the Goals of the 1990 World Summit for Children, Nova Iorque.

UNICEF, OMS, UNESCO, FNUAP, PNUD, ONUSIDA, PAM e Banco Mundial, 2002, Facts for
Life, Nova Iorque.

You might also like