Professional Documents
Culture Documents
discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/305306169
CITATION READS
1 9
2 authors, including:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Antonio Eduardo Leão Lanna on 24 August 2016.
RESUMO
A complexidade das ações no plano decisório da Gestão das Águas e a necessidade do atendimento simultâneo das exigências que vi-
sam à obtenção do desenvolvimento sustentável, impõem uma abordagem multiobjetivo.
O uso múltiplo das águas, o caráter multidisciplinar e subjetivo dos agentes envolvidos no processo, a aleatoriedade dos eventos hidrológicos, a in-
certeza dos processos econômicos, sociais e ambientais, a necessária consideração de aspectos de difícil mensuração, como o bem estar social, a pre-
servação do ambiente e as questões culturais e estéticas, além da tradicional eficiência econômica, caracterizam o contexto presente.
Este trabalho apresenta, descreve e compara algumas técnicas de análise multiobjetivo como importante meio de apoio à tomada de decisões diante
dos problemas de Gestão das Águas.
Três métodos são aplicados e comparados em um estudo de caso, para suporte à decisão em um Comitê de Gerenciamento, tendo como objetivo es-
tratégico o desenvolvimento sustentável em uma Bacia Hidrográfica, com um cenário configurado a partir da experiência acumulada na última dé-
cada no Rio Grande do Sul e à luz da legislação vigente para a Política de Recursos Hídricos.
Na análise desenvolvida através dos métodos ELECTRE I e II, Programação de Compromisso e Analítico Hierárquico, consideram-se a parti-
cipação de múltiplos decisores, a questão da subjetividade e o reconhecimento da incerteza como inerente ao processo.
169
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
A fase de estruturação do problema, caracterizada os vários objetivos mensuráveis, ou não, e conflitantes por
pela discussão e estabelecimento de objetivos, critérios e natureza.
processo de avaliação e alternativas de solução, antecede ao Na realidade, a solução apontada para a tomada
tema desenvolvido no trabalho, não estando incluída no de decisão, através da análise multiobjetivo, tem caráter
escopo do mesmo. Ressalta-se que a adequada estruturação fortemente político, resultado da ação conjunta de analistas
do problema é a fase mais importante no apoio à decisão e decisores.
sendo fundamental e determinante da qualidade das deci- Na análise multiobjetivo, aplica-se o Princípio dos
sões a serem tomadas. Ótimos de Pareto segundo o qual, para o conjunto das solu-
Também se pode afirmar que não há sentido na ções não-dominadas, é impossível sair-se de uma posição sem
aplicação de ferramentas precisas de avaliação para a solu- que algumas alternativas melhorem seu atendimento ao
ção de problemas mal (ou parcialmente) estruturados. conjunto dos objetivos e outras tenham, em detrimento,
Há vários processos utilizados para esse fim, po- sua eficiência diminuída.
dendo ser citados os descritos em Rosenhead (1989), Che- Porto e Azevedo (1998), citando Cohon (1978)
kland (1993), com destaque para o uso dos mapas cognitivos, define o conceito de não-dominância da seguinte forma: uma
segundo Eden e Ackermann (1998), Montibeller Neto solução não-dominada é aquela em que a melhoria de uma
(1996) e Jardim (2001). No presente artigo, parte-se de ma- função-objetivo só pode ser conseguida às custas da de-
trizes de avaliação previamente estabelecidas. Da mesma gradação de outra. No conceito multiobjetivo, cada uma
forma, não faz parte do assunto escolhido a inclusão da in- dessas soluções não-dominadas pode ser escolhida como uma
certeza, inerente ao processo decisório, devido à aleatorie- solução ótima no conceito de Pareto.
dade dos fenômenos hidrológicos e ambientais, e à com- A Figura 1 mostra, para os objetivos Z1 e Z2,
plexidade da negociações sociais, econômicas e políticas. (ambos maximização) a região viável no espaço dos objeti-
A questão da subjetividade é abordada por meio vos considerados e o conjunto das soluções não-dominadas.
de procedimentos propostos com vistas à minimização
dessa característica peculiar à análise multiobjetivo. Z1 Soluções não-dominadas
Vinte e sete alternativas de solução são avaliadas
sob quinze critérios ponderados definindo-se, através de
análise de sensibilidade, a solução de melhor compromisso
e a solução mais robusta, aquela menos sensível à variação da
ponderação dos múltiplos objetivos, além da indicação do
grupo das alternativas de maior atratividade.
Os resultados são comparados, ressaltando-se as
vantagens, desvantagens e limitações das técnicas utiliza-
das, verificando-se a aplicabilidade de cada uma delas ao
Soluções dominadas
contexto decisório dos comitês de gerenciamento de bacia Z2
hidrográfica
170
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
Outra característica de grande influência na análi- solução. O processo é concluído quando for alcançado o
se multiobjetivo, quando aplicada aos problemas dos re- nível de satisfação do decisor, atingindo-se a solução de me-
cursos hídricos, é a incerteza, função da aleatoriedade dos lhor compromisso, ou de forma mais exigente, a solução mais ro-
fenômenos hidrológicos e dos processos econômicos, so- busta. É possível que não seja atingido o nível de satisfação
ciais e ambientais. do decisor, devendo, mesmo nesse caso, ser apresentada
uma solução.
AS TÉCNICAS DE ANÁLISE Algumas técnicas nesta classe são:
MULTIOBJETIVO
· Método da Programação de Compromisso (Zeleny,
As técnicas de análise multiobjetivo podem ser 1973)
classificadas conforme a posição relativa entre analista e · Método dos Passos (Benayoun et al., 1971)
decisor, nos grupos que seguem, segundo Cohon e Marks · Método Semops (Monarchi et al., 1973)
(1975):
As técnicas de análise multiobjetivo são recentes,
Técnicas de geração das soluções não-dominadas com desenvolvimento conceitual a partir de 1970 e experi-
São técnicas que não levam em conta as preferên- ências concretas nos últimos vinte anos.
cias do decisor, onde o conjunto das soluções não-dominadas é Essas técnicas caracterizam-se pela complexidade
estabelecido pelo analista com base exclusiva nas restrições e pela controvérsia sob determinados aspectos, numa fase
físicas do problema, recomendando-se para um máximo de inicial de desenvolvimento, mas que têm demonstrado sua
três objetivos. validade em muitas situações, como meios importantes de
Pelos motivos citados, esse tipo de técnica não se- apoio à tomada de decisões na área dos recursos hídricos.
rá considerado aplicável aos problemas da gestão das á- Nos grupos decisores das questões que envolvem
guas, no âmbito deste trabalho. a Gestão das Águas, como no âmbito dos Comitês de Ge-
renciamento das Bacias Hidrográficas, as naturais diferen-
Técnicas com antecipação de preferências ças de ponto de vista, interesses, ideologias e formação dos
Nessas técnicas, as preferências são estabelecidas participantes são fatores sempre presentes que devem ser
a priori pelos decisores, pelo analista ou por consenso de valorizados no processo decisório.
ambos. De forma muito objetiva, Porto e Azevedo (1998)
Esse processo ocorre na forma de manifestação esclarecem que a idéia central das técnicas de análise multi-
antecipada do juízo de valor sobre as possíveis relações-de- objetivo é permitir que cada um dos participantes avalie as
troca entre os objetivos fixados e sobre os pesos relativos conseqüências da implementação das suas idéias, com o
de julgamento entre eles. auxílio de modelos com razoável nível de aceitação, a partir
Esses métodos, exemplificados abaixo, não garan- de uma base comum de informações.
tem a não-dominância das alternativas selecionadas, devendo
ser confirmadas por uma análise de sensibilidade. METODOLOGIA
171
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
Tabela 1 - Matriz de avaliação ção prévia das preferências, por parte dos decisores. Essa
técnica também pode ser usada para variáveis contínuas,
Alternativas
sob critérios quantitativos, ou para situações mistas.
A1 A2 A3 ..... An
A metodologia, desenvolvida por Roy (1971) sus-
C C1 C1(A1) C1(A2) C1(A3) ..... C1(An) tenta-se nos três conceitos fundamentais: concordância, dis-
r cordância e valores-limite e utiliza um intervalo de escala no esta-
C2(A1) C2(A2) C2(A3) ..... C2(An)
i C2 belecimento das relações-de-troca para a comparação das al-
t ternativas, aos pares.
...............
...............
...............
...............
...............
é C3 Segundo Gershon et al. (1982) o método se baseia
r . na separação, no conjunto das alternativas de solução, da-
i . quelas que são as preferidas na maioria dos critérios de
o . avaliação, sem causar um nível de descontentamento ina-
s Cp(A1) CP(A2) Cp(A3) ..... Cp(An) ceitável para qualquer um dos critérios fixados.
Cp A partir da matriz de avaliação, as alternativas são
comparadas, aos pares, com base em relações de preferên-
As técnicas utilizadas cia.
Nesse trabalho são apresentadas três técnicas de a>b significa que a alternativa a é preferida à
análise multiobjetivo: alternativa b
O método ELECTRE I e II (Roy, 1971), como a=b significa que a é equivalente à b
exemplo normal de técnica com manifestação antecipada de pre-
ferências. É importante ressaltar que o processo admite a
O método Programação de Compromisso (Ze- intransitividade nas relações de preferência, com base no
leny, 1973), como exemplo de técnica com articulação pro- fato de que os critérios de estabelecimento das preferências
gressiva de preferências. podem ser diferentes.
O Método Analítico Hierárquico (Saaty, 1977 e Por exemplo, podemos ter:
1980), também se caracteriza pela manifestação de preferências
a priori por parte dos decisores. a > b a é preferida a b
As justificativas para a escolha das técnicas utili- b > c b é preferida a c
zadas, são as seguintes: c > a c é preferida a a
a) O método ELECTRE, para a realização de uma Tal situação caracteriza um ciclo fechado no contex-
análise conclusiva, diante da polêmica existente to do método, determinando a mesma preferência (empa-
no meio acadêmico e entre analistas, em termos te) para as três alternativas.
de aplicabilidade à Gestão das Águas, segundo A concordância entre duas alternativas i e j é uma
Cohon e Marks (1975), Harboe (1992) e Zuffo et medida ponderada do número de critérios sob os quais a
al. (2002). alternativa i é preferida ou equivalente à alternativa j.
b) O Método de Programação de Compromisso, por O índice de concordância (0-1) é calculado pela se-
ser uma técnica bastante simplificada em termos guinte fórmula:
matemáticos e para verificação da eficácia diante
de problemas multiobjetivo complexos.
c) O Método Analítico Hierárquico por ser uma téc-
nica que reduz o risco de manipulação no processo C(i, j) = å [w(k ' ) + 1/ 2w(k")] (1)
decisório e por possibilitar a obtenção de julga- å w( p)
mentos consistentes, por meio da revisão orienta-
da.
w(k’) = pesos dos critérios sob os quais i > j
O Método ELECTRE w(k”) = pesos dos critérios sob os quais i = j
w(p) = pesos de todos os critérios
Descrição do método
Esses pesos relativos são estabelecidos através do
O método ELECTRE foi concebido para a abor- juízo de valor dos decisores, por meio da manifestação de
dagem multiobjetivo caracterizada por alternativas avalia- preferências e devem possibilitar a ponderação global de
das por critérios preferencialmente qualitativos, com fixa- cada critério de avaliação.
172
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
Também é indispensável que haja discussão e 1. Uma alternativa selecionada não pode dominar
consenso para o ajuste dos pesos com relação dos interva- outra também selecionada;
los de escala dos critérios de avaliação. 2. Cada alternativa dominada (não selecionada) deve
O índice de discordância D(i, j) representa o descon- ser dominada, pelo menos, por uma das alternati-
forto sentido pelo decisor ao escolher a alternativa i frente vas selecionadas.
à alternativa j.
Inicialmente é definida uma escala numérica co- Na solução do problema estudado, o autor mos-
mum para todos os critérios, sendo que cada critério deve tra que os procedimentos e restrições contidas no método
ter um intervalo de escala diferente. A escala é usada para ELECTRE I são passíveis de discussão e propõe melhorias
comparar o desconforto causado entre o menor valor nu- para a seleção do núcleo das alternativas de maior atrativi-
mérico (pior escolha) e o maior valor numérico (melhor dade.
escolha) de cada critério para cada par de alternativas. No gráfico do método ELECTRE I, mostrado a
O índice de discordância (0-1) é calculado como se- seguir como ilustração, o conjunto (núcleo) das alternativas
gue: de maior atratividade é constituído pelas opções 1, 3 e 5.
173
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
onde x é o vetor de decisões, p o número de critérios, X o Na prática, o valor s = 2 é o mais usado, por re-
conjunto das soluções viáveis e Zi(x) a função-objetivo pa- fletir um conceito vetorial.
ra o critério i. Quando nem todas as funções-objetivo são ex-
A solução ideal é, geralmente, inatingível (por pres- pressas em termos comensuráveis, pode-se usar uma fun-
supor a solução ótima para todos os objetivos através de ção linear de escala, com intervalo (0,1), para cada função-
uma alternativa) e serve como padrão de referência no objetivo, normalizando desvios.
processo de classificação das soluções não-dominadas. Essa
classificação é obtida pela determinação da proximidade de
Z*i - Z i ( x)
cada alternativa não-dominada com relação à solução ideal. Si (Di ) = (5)
Uma das medidas de proximidade mais usadas é a Z i* - Z i**
que segue: ** **
onde Z i é definida como Z i = min Zi(x) sujeito a: x Î
1
X i = 1, 2, ..., p
ì p sü
[ ]
s
íå a i Z i - Z i ( x ) ý
s
Ls = *
(4) Para problemas multiobjetivo com alternativas de
î i =1 þ
solução discretizadas faz-se:
Z *i O conjunto dos melhores valores das funções-
onde s = parâmetro que reflete a importância que os deci-
objetivo
sores dão as aos desvios máximos (1 ≤ s ≤ µ) e ai = pesos
Z *i* O conjunto dos piores valores das funções-objetivo
dos critérios, fixados subjetivamente pelos decisores, ou
A solução de melhor compromisso é caraterizada pelo
derivados da estrutura de preferências decorrentes do pro-
vetor dos melhores valores alcançados em cada critério da
blema.
matriz de avaliação.
1/ s
Solução Ideal ìï p é Z * - Z (x) ù s üï
Ls (xs ) = min Ls (xs ) = min íåais ê i * i ** ú ý
Z *
(Z1*,Z2*) (6)
ïî i=1 ë Zi - Zi û ïþ
2
Y
Ls
∙ ∙ ∙
Soluções de
Compromisso
Da mesma forma , a pior solução será considera-
da aquela dada pelo vetor dos piores valores da matriz de
∙ avaliação.
Finalmente, calcula-se a distância de cada alterna-
Região viável do es-
paço dos objetivos
∙ Z1 tiva até a solução ideal. A alternativa que apresentar a menor
distância é a solução de melhor compromisso.
Como já foi referido, a Programação de Com-
Figura 3 - Representação gráfica da solução ideal e das so-
promisso é um método interativo. Quando os decisores se
luções de compromisso
derem por satisfeitos, o algoritmo acaba. Caso contrário,
variam-se os pesos dos critérios e, por via de conseqüência
A solução de compromisso xs para um dado s é:
as soluções ideais, processando-se novamente o algoritmo, até
que seja encontrada uma solução satisfatória para os deciso-
min Ls(x) = Ls(x*)
res.
174
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
O Método Analítico Hierárquico avaliação. Os pesos (p1, 2; ....; p m-1,m) atribuídos pelo(s)
decisor(es), como resultado das comparações paritárias en-
Desenvolvido por Saaty (1977 e 1980), o método tre os m critérios de avaliação, são baseados em uma escala
Analítico Hierárquico fundamenta-se na comparação, aos 1 a 9, cujo os significados estão relacionados na Tabela 4.
pares, entre fatores quantitativos, ou não, com a possibili- Em Saaty (1980) pode ser encontrado um extenso
dade da verificação da consistência e validade dos julga- registro de experiências que comprovam a adequação da
mentos. escala 1-9 para julgamentos qualitativos.
Em essência, o método fornece a hierarquia (clas-
sificação) das alternativas através da comparação paritária, Tabela 2 - Matriz de avaliação
utilizando matrizes quadradas, recíprocas, positivas e irre- Método Analítico Hierárquico
dutíveis (que não têm zero) com base nas propriedades da
álgebra matricial. Critérios de Alternativas
Segundo o teorema de Perron-Frobenius, para es- Avaliação
A1 A2 ..... An
sas matrizes, todos os autovalores são nulos, exceto um, o
autovalor máximo lmáx que é igual a n (a ordem da matriz C1 w1(C1) w2(C1) ..... wn(C1)
= o número de alternativas comparadas). A esse autovalor C2 w1(C2) w2(C2) ..... wn(C2)
máximo, corresponde um autovetor único w que, normali-
zado, fornece a hierarquia das alternativas, na forma de um ..... ..... .....
....
....
vetor de prioridades (onde a soma dos componentes é sem-
pre igual à unidade). Saaty (1980) comprovou a precisão do Cm w1(Cm) w2(Cm) ..... wn(Cm)
vetor de prioridades (autovetor w) através da verificação de
casos com comparações paritárias realizadas com medidas Tabela 3 - Matriz Subjetiva
(pesos) reais. Método Analítico Hierárquico
Segundo a teoria matricial, na relação Aw = nw,
sendo A a matriz de comparação paritária, pode-se usar o Critérios de Critérios de Avaliação
artifício (A – n) w = 0 e (A – nI) w = 0, onde I é a matriz Avaliação C1 C2 C3 ... Cm
identidade. A matriz A também é unitária (todos ai,i = 1). C1 1 p1,2 p1,3 ... p1,m
A última equação possui uma solução diferente de zero pa- C2 1 p2,3 ... p2,m
ra n=lmáx quando o determinante da matriz A – n I for C3 1 ... p3,m
nulo (o que leva à equação característica de A). Quando
lmáx = n, tem-se julgamentos perfeitos e consistência to-
.....
.....
...
tal.
Cm ... 1
Na prática, é comum a ocorrência de desvios no
estabelecimento dos juízos de valor, principalmente quan-
Tabela 4 - Escala de avaliação subjetiva
do cresce um número n de alternativas comparadas, acarre-
Método Analítico Hierárquico
tando a situação lmáx > n.
O desvio entre lmáx e n é usado, conforme Saaty Intensidade de
(1980) com uma medida de consistência dos julgamentos, Importância Significado
representados pela matriz de comparação aos pares. O ín- Pi,j
dice de consistência de uma matriz quadrada é dada por IC 1 i tem a mesma importância que j
= D max - n . Tem-se consistência quando IC < 0,1. 3 i é um pouco mais importante que j
n -1 5 i é muito mais importante que j
Por exemplo, sejam n alternativas de solução de 7 está demonstrado que i é muito mais
um problema na área da Gestão das Águas conforme apre- importante que j
sentado na Tabela 2. 9 i tem importância absoluta sobre j
Todas as n alternativas são julgadas sob os m cri- 2, 4, 6, 8 valores de compromisso
térios de avaliação estabelecidos no processo.
A ponderação (pesos relativos) dos critérios de
avaliação pode ser definida pela estrutura do contexto de- Na seqüência, as n alternativas são hierarquizadas
cisório, ou fixada de uma forma menos subjetiva através da sob cada um dos m critérios de avaliação. Essas são as
matriz subjetiva da Tabela 3. chamadas matrizes tecnológicas. Por exemplo, a classifica-
O vetor de prioridades (autovetor normalizado) ção das alternativas sob o critério C1 é apresentada na Ta-
fornecerá a hierarquização (ponderação) dos critérios de bela 5.
175
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
Tabela 5 - Matriz Tecnológica - Critério C1 ridades, por meio do vetor dos pesos relativos dos critérios
Método Analítico Hierárquico de avaliação (w1, w2, ..., wn), apresentados na Tabela 7.
....
....
....
....
....
.....
......
......
wn,1 wn,2 ... wn,m wm Pn
An 1
APLICAÇÃO
O vetor de prioridades (autovetor normalizado)
fornecerá a classificação das alternativas sob o critério C1.
A análise multiobjetivo é aplicada ao problema
O autovalor máximo lmáx, da mesma forma, possibilitará
decisório destinado à seleção e ao ordenamento das ações
a verificação da consistência dos julgamentos.
de intervenção no contexto de uma bacia hidrográfica, com
Aqui, as matrizes tecnológicas são formadas a
vistas ao Desenvolvimento Sustentável.
partir dos dados wi(Cj) i = 1, ..., n i = 1, ... m, da matriz de
O ambiente de decisão é o Comitê de Gerenci-
avaliação. Na matriz apresentada, pressupõe-se a utilização
amento da Bacia Hidrográfica do rio Gravataí, com pla-
de variáveis quantitativas, todas mensuráveis, conhecendo-
nejamento plurianual, escala quinquenal.
se o desempenho de cada alternativa de solução, sob cada
Trata-se de um caso hipotético, mas configurado
um dos critérios de avaliação. Não havendo a matriz de a-
a partir de uma base de real dados, obtida por meio de en-
valiação, as matrizes tecnológicas são formadas de modo
trevistas e contatos com a vivência do problema no Rio
idêntico ao usado para a matriz subjetiva, usando-se a esca-
Grande do Sul e de conformidade com a visão e prescri-
la 1-9.
ções instituídas pela Lei Federal 9433 e pela Lei Estadual
Os m vetores de prioridades (classificações) for-
10350.
mam a matriz de prioridades, com n linhas e m colunas a-
O problema foi estruturado a partir da proposta
presentada na Tabela 6.
de processo de materialização de ações exemplificado em
Lanna (1998), para o objetivo em questão e concebido para
Tabela 6 - Matriz de Prioridades
testar e comparar os três métodos de análise multiobjetivo
Método Analítico Hierárquico
para um cenário complexo, com um número elevado de al-
ternativas de solução, com múltiplos decisores no âmbito
do contexto decisório de um Comitê de Gerenciamento de
C1 C2 ..... Cm Bacia Hidrográfica e sob vários critérios ponderados de
avaliação.
w1,1 w1,2 ..... w1,m A subjetividade, característica inerente do proces-
w2,1 w2,2 ..... w2,m so decisório, deve ser considerada no estabelecimento dos
pesos relativos dos critérios de avaliação fixados para o es-
.........
.........
.........
.........
tudo de caso.
177
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
178
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
D20
D1 D2
DECISORES
(COMITÊ)
Nível 1
DECISORES
D1 D2 D20
Nível 2
(COMITÊ)
CRITÉRIOS DE
C01 C02 C03 C04 C05 C06 C07 C08 C09 C10 C11 C12 C13 C14 C15
AVALIAÇÃO
Critérios Sociais Critérios Ambientais Critérios Econômicos
Figura 5 - Ponderação dos critérios de avaliação - Método Analítico Hierárquico - Estrutura de hierarquização
179
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
...
...
...
...
...
...
...
...
180
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
26 18
Concordância 0,500 0,143 22 21 27
Para a obtenção do núcleo (conjunto reduzido das Figura 7 - Classificação das alternativas
alternativas não-dominadas), gerado pelo ELECTRE I, inici- Método ELECTRE - Pesos originais
almente utilizou-se a chamada preferência normal, comu-
mente usada, através da fixação aleatória de p=0,6 e q=0,4.
O resultado apresentou um núcleo com as 18 (de- Método da Programação de Compromisso
zoito) alternativas não-dominadas, 1– 2 – 3– 4 – 5 – 6 – 10 –
11 – 12 – 13 – 14 – 15 – 19 – 20 – 21 – 22 – 23 – e 24, o O problema foi resolvido pelo método da Pro-
que caracteriza um número ainda muito elevado de alterna- gramação de Compromisso, a partir da matriz de avaliação
tivas para a análise. previamente estabelecida.
Isso se deve à estrutura complexa do caso estuda- Os pesos relativos e os valores limites usados para
do, deliberadamente constituída de muitas alternativas de os critérios de avaliação, extraídos da matriz de avaliação,
solução, com avaliações semelhantes, o que torna difícil a estão apresentados na Tabela 15.
classificação.
Adotando o critério proposto por Schäffer (1999)
e levando em conta a estrutura de preferências do caso es- Tabela 15 - Parâmetros da Programação de Compromisso –
tudado, foram fixados valores menos estritos para p e q, Estudo de caso Pesos originais
gerando-se um núcleo com um número satisfatoriamente
menor de alternativas não-dominadas, 1 - 2 - 3 - 4 - 6 - 10 - 11 - 14 -
15 - 19 - 20 - 21 - e 24 . Critério de Peso Melhor Pior
Deve ser observado que, comparando os dois nú- avaliação Relativo valor valor Medida
cleos gerados pelo ELECTRE I, utilizando as preferências (Zi*) (Zi**)
“normal” e fraca, no núcleo menor não aparece a alternativa C1 0.130 8.5 3.7 Subjetiva
23, embora tratando-se de uma importante alternativa de
C2 0.133 11.1 0.13 103 vagas/ano
solução, como será mostrado adiante.
Registre-se, então, que alternativas importantes e C3 0.052 13.1 0.09 103 hab.at./ano
válidas de solução podem ser eliminadas indevidamente a- C4 0.025 8.8 4.9 Subjetiva
través do ELECTRE I, no processo de filtragem para a re- C5 0.042 8.6 4.6 Subjetiva
dução do conjunto de alternativas para a análise, em casos C6 0.094 8.7 3.8 Subjetiva
semelhantes ao apresentado. C7 0.039 700 60 ha prot/ano
Vê-se na seqüência, que a aplicação do C8 0.086 1800 65 ha cons./ano
ELECTRE II para o universo das 27 (vinte e sete) alterna- C9 0.016 1180 10 nº com.
tivas do problema (e não apenas para as não - dominadas ge- prot/ano
radas pelo ELECTRE I), resgata a alternativa 23 com uma
C10 0.028 800 10 ha presen/ano
boa classificação no ordenamento final.
Na Figura 8, estão representados os gráficos de C11 0.072 19.9 122.5 106 R$/ano
preferência fraca (e núcleo) e de preferência forte. C12 0.036 4.4 32.8 106 R$/ano
Observe-se que, na página anterior, as alternativas C13 0.062 20 1 %
22 (dominada apenas pela alternativa 19) e 23 (dominada C14 0.096 2.40 0.39 109 R$
apenas pela alternativa 20), embora não constantes no nú- C15 0.089 5 1 %
cleo (gerado pelo ELECTRE I), foram resgatadas pelo
ELECTRE II, sendo classificadas em terceiro lugar.
181
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
13 10 4
16
14 1 7 19 27 21
17 22
25 24 12
11
20 26 6
2 8 23 3 9 18 15
4
1
19 25 22 21
20
3
2 8 23 26 15 18
11 16 13 6 9
5
17 14 10 12
22 25 2 3 5 7 9 15 17
20 19 21 4 8
23 26 11 12 13 16 18
10 14
24 27
182
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
A classificação das alternativas está mostrada na de acordo com os quinze critérios de avaliação estabeleci-
Tabela 16 e na Figura 9. dos.
Visando uma apresentação mais sucinta e clara,
Tabela 16 - Classificação das alternativas apresenta-se a sistemática usada para a comparação das al-
Método da Programação de Compromisso ternativas aos pares, por exemplo, para o critério C1: dimi-
Estudo de caso - Pesos originais nuição das doenças de veiculação hídrica, apresentada na
Tabela 17.
Alternativa Classificação (s = 2)
1 0,20 Tabela 17 - Comparação das alternativas de solução para o
2 0,19 critério C1-Método Analítico Hierárquico -Estudo de caso
3 0,20
1 2 3 ... 25 26 27
4 0,20
1 1 8.5/8.2 8.5/6.4 ... 8.5/6.0 8.5/5.4 8.5/4.0
5 0,21 2 1 8.2/6.4 ... 8.2/6.0 8.2/5.4 8.2/4.0
6 0,22 3 1 ... 6.4/6.0 6.4/5.4 6.4/4.0
7 0,22 ...
.......
.......
.......
............
8 0,22 ...
9 0,23 ... 5.8/6.0 5.8/5.4 5.8/4.0
24 ... 4.2/6.0 4.2/5.4 4.2/4.0
10 0,20
25 1 6.0/5.4 6.0/4.0
11 0,19 26 1 5.4/4.0
12 0,21 27 1
13 0,23
14 0,22
15 0,24 Todos os julgamentos apresentam consistência
total (IC = 0) e isso se deve à utilização dos dados da ma-
16 0,24
triz de avaliação do caso estudado, previamente estabeleci-
17 0,25 da
18 0,25 O produto da matriz de prioridades formada pelos
19 0,15 quinze auto-vetores normalizados das matrizes tecnológicas
20 0,13**...**;;* pelo vetor de prioridades dos critérios de avaliação, fornece a
21 0,18 classificação das alternativas de solução, apresentada na
Tabela 18 e na Figura 10:
22 0,16
23 0,16
24 0,20 Tabela 18 - Classificação das alternativas - Método Analítico
25 0,17 Hierárquico Estudo de caso Pesos originais
26 0,17
27 0,22
* Solução de melhor compromisso C1 C2 ... C14 C15
1 0.055 0.010 ... 0.012 0.053 0.130 0.031
2 0.053 0.004 ... 0.012 0.027 0.133 0.035
Método Analítico Hierárquico 3 0.042 0.012 ... 0.088 0.027 X 0.052 = 0.036
...
..........
..........
..........
..........
..........
..........
..........
183
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
2
27 12
21 6 4 13
20 23 19 22 14 25 15 3 5 10 17 16 7
24 9 1 8
26 11
18
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª
Figura 10 - Classificação das alternativas - Método Analítico Hierárquico - Estudo de caso - Pesos originais
Comparando os resultados da solução do pro- Tabela 19 - Pesos relativos dos critérios de avaliação para a
blema estudado, observa-se que os três métodos classifi- análise de sensibilidade - Estudo de caso
cam o mesmo grupo das alternativas de maior atratividade
( 20 – 19 – 22 – e 23) que se revezam nas primeiras posi- Critérios de Ênfase Soci- Ênfase Ênfase E-
ções, com a alternativa 20 classificada como a solução de me- Avaliação al Ambiental conômica
lhor compromisso, pelas três técnicas apresentadas. O mesmo C1 0.21 0.07 0.07
acontece com as alternativas de menor atratividade ( 16 – 7 C2 0.21 0.07 0.07
– 8 – 17 e 18), que se revezam nas últimas posições. C3 0.07 0.02 0.02
Essas alternativas, na prática, seriam descartadas C4 0.04 0.01 0.01
do processo decisório. C5 0.07 0.03 0.03
As demais alternativas de solução revezam-se no Soma 0.60 0.20 0.20
grupo das classificadas na faixa central. C6 0.07 0.21 0.07
Isso se deve à complexidade intencionalmente es- C7 0.03 0.08 0.03
truturada para o caso estudado, com um número elevado C8 0.07 0.20 0.07
de alternativas de solução avaliadas de forma semelhante, C9 0.01 0.03 0.01
sob múltiplos critérios e vários decisores. C10 0.02 0.06 0.02
Para a obtenção de resultados mais consistentes, Soma 0.20 0.60 0.20
foi realizada uma análise de sensibilidade, através da altera- C11 0.03 0.03 0.11
ção da ponderação dos critérios de avaliação considerados. C12 0.02 0.02 0.07
C13 0.03 0.03 0.10
Análise de sensibilidade C14 0.06 0.06 0.07
C15 0.05 0.05 0.15
O problema foi resolvido pelos três métodos de Soma 0.20 0.20 0.60
análise para três ênfases diferentes de ponderação dos cri-
térios de avaliação apresentados na Tabela 19, com base
nas exigências para o desenvolvimento sustentável: eqüida- Classificação das alternativas – solução mais robusta
de social, preservação ambiental e crescimento econômico.
A seguir, são apresentadas as classificações obti- A classificação final das alternativas, para o
das pelos três métodos de análise e para os pesos relativos caso estudado, foi obtida através dos resultados encon-
dos critérios de avaliação, para cada ênfase. trados com a ponderação original dos critérios de avalia-
ção e por meio da análise de sensibilidade com a escolha da
Na Figura 11, a classificação das alternativas pelos solução mais robusta.
três métodos, com ênfase social. Diante do elevado número de alternativas de so-
lução consideradas no estudo de caso, foi adotada uma sis-
Na Figura 12, a classificação das alternativas pelos temática para a separação das alternativas de maior atrati-
três métodos, com ênfase ambiental. vidade (filtragem), que constitui uma sugestão para a so-
lução de problemas multiobjetivo semelhantes ao caso
Na Figura 13, a classificação das alternativas pelos estudado.
três métodos, com ênfase econômica.
184
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
6 5 1
2 4
20 11 12 9 8 7
24 22 10
23 14 15 13 18 16
25 17
19 21 27
26
Programação de Compromisso (s=2)
4 6 9
11 5 8 17 1 3
2 26 14 10 24 15 16 7 18
23 20 12 19 13 21
22 25 27
Analítico Hierárquico
27
12
23 20 24 13 19 6 1
11 26 22 2 15 21 3 9 7
14 5 17 4 8 25 18
10
16
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª
Figura 11 - Classificação das alternativas pelos três métodos -Estudo de Caso Análise de sensibilidade -Ênfase social
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª
ELECTRE I e II
13
3 1 5 15
4
19 2 10 7 8
22 14 6 17 16
21 11 12 9 18
24 23 25 26
20
27
2 15
21 3 4 5 6 14
20 19 22 23 26 10 8 13 17
25 27 12 7 9 16
11 18
24
Analítico Hierárquico
5
23
12 10 2 3 1 17
20 21 22 24 26 25 27 11 16 8 7
14 15 9 18 13 4
19
6
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª
Figura 12 - Classificação das alternativas pelos três métodos -Estudo de caso Análise de sensibilidade –Ênfase ambiental
185
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
Em síntese, a escolha do conjun to reduzido A Tabela 22 indica a solução mais robusta, ou seja,
das soluções de maior atratividade, para a obtenção da a alternativa menos sensível à alteração de estrutura de
classificação final, pode ser feita através da identificação ponderação dos critérios de avaliação.
das alternativas classificadas nas cinco primeiras posições A Tabela 23 especifica e descreve as estratégias
nos três métodos, para todas as ponderações dos critérios e ações de intervenção que compõem as alternativas de
de avaliação. solução de maior atratividade na solução do caso estuda-
Para cada classificação também leva-se em con- do.
ta o núcleo gerado pelo ELECTRE I.
Por esse critério verifica-se que, para pro- Comparação dos resultados
blemas complexos como o do caso estudado, alter-
nativas de solução importantes, desclassificadas pelo As classificações obtidas pelos três métodos, pa-
ELECTRE I (núcleo), são resgatadas para o proces- ra as quatro ponderações dos critérios de avaliação das
so decisório, como a alternativa 23, dominada apenas vinte e sete alternativas foram comparadas para a verifi-
pela alternativa 20. cação da semelhança dos resultados.
A Tabela 20 resume os dados usados na siste- A Tabela 24 mostra o resultado das compara-
mática proposta e indica o conjunto reduzido das alterna- ções realizadas entre os três métodos para as quatro pon-
tivas de maior atratividade, para o caso estudado. derações dos critérios de avaliação.
A Tabela 21 indica a solução de melhor compromisso Para cada método e todas as ponderações dos
e as alternativas classificadas em 2º e 3º lugares, para cada critérios de avaliações, verificou-se a solução de melhor com-
ponderação dos critérios de avaliação. promisso a solução mais robusta, e as alternativas colocadas
A partir dos dados é também possível a identifi- em segundo e terceiro lugares.
cação das alternativas com menor atratividade (a serem Consideradas as classificações obtidas pelos três
descartadas do processo decisório) e a classificação das métodos, com as quatro ponderações dos critérios de a-
alternativas restantes, de menor eficiência. valiação, confirma-se a alternativa 20 como solução mais ro-
186
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
busta, seguida da alternativa 19 em segundo lugar e a 23 Tabela 22 - Solução mais robusta - Estudo de caso
em terceiro.
Solução mais robusta 2ª Colocada 3ª Colocada
Tabela 20 - Conjunto reduzido das alternativas de solução
Alternativa 20 Alternativa 19 Alternativa 23
de maior atratividade - Estudo de caso
Tabela 23 - Estratégias e ações de intervenção das
alternativas de solução de maior atratividade - Estudo de
caso
Pesos ori- Ênfase Ênfase am- Ênfase eco-
ginais social biental nômica
Estra- Ações de interven- Alternativa
1 1 1 1
tégia ção 19 20 21 22 23 24
2 2 2 4
3 3 3 6 Eqüi- A3) estímulo a em-
ELECTRE I 4 10 6 14 dade preendimentos de X X X X X X
(Núcleo) 6 11 10 15 social mão-de-obra inten-
Alternativas 10 19 14 19 siva
não-dominadas 11 20 15 20 Pre- B1) implantação de
14 21 19 21 serva- sistemas de trata- X X X
15 20 24 ção mento e efluentes
19 21 ambi- B2) criação de re-
20 23 ental servas florestais e X X X
21 24 proteção de matas
24 ciliares
19 19 5 6 Cresci- C1) construção de
Alternativas mento re-servatórios e di- X X
20 20 14 14
do núcleo con- econô- ques
21 21 20 15
firmadas pe- mico C2) investimentos X X
23 20
los três méto- para implantação
21
dos de áreas irrigadas
24
Alternativas 22 22 11 3 C3) crédito para fi- X X
adicionadas 23 23 26 23 nan-ciamento e in-
pelos três mé- 24 vestimentos indus-
todos triais
19 19 5 3
20 20 11 6 A alternativa 23, eliminada pela alternativa 20
21 21 14 14 no núcleo gerado pelo ELECTRE I, ressurge na terceira
Conjunto fi- 22 22 20 15 posição na classificação final.
nal reduzido 23 23 23 20 Analisando as classificações mostradas na Tabe-
24 26 21 la 24, confirma-se o agrupamento das alternativas, com
23 um grande número de empates quando é utilizado o mé-
24 todo ELECTRE, devido às avaliações exclusivamente
qualitativas. Também, para os métodos Programação de
Tabela 21 - Solução de melhor compromisso para cada Compromisso e Analítico Hierárquico, ocorreram alguns
ponderação dos critérios de avaliação - Estudo de caso empates, em menor quantidade, devido à precisão mate-
mática usada no processamento. Para o método da Pro-
gramação de Compromisso foram usadas duas casas de-
cimais no cálculo da proximidade da solução ideal, para
Classificação classificação. Para o método Analítico Hierárquico, fo-
Ponderação dos
Solução de me- 2ª 3ª ram utilizadas três casas decimais no cálculo das priori-
critérios de avalia-
lhor compro- Colocada Colocada dades do vetor de classificação. Os empates ocorridos
ção
misso nesses dois métodos podem ser diminuídos, ou elimina-
Pesos originais 20 19 23 dos, por meio do aumento da precisão matemática do
Ênfase social 20 e 19 21 22 cálculo. Isto é impossível quando se utiliza o método
Ênfase ambiental 23 20 11 ELECTRE.
Ênfase econômica 20 21 19
187
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
Tabela 24 - Comparação das classificações para os três métodos e as quatro ponderações - Estudo de caso
Outras constatações relevantes devem ser desta- Os três métodos referidos foram estudados e
cadas. aplicados a um caso complexo, com vinte decisores e
O método ELECTRE classifica, com consis- vinte e sete alternativas de solução avaliadas sob quinze
tência, as alternativas 3 e 6 no grupo daquelas de maior critérios, com quatro estruturas de peso relativos.
atratividade, diferentemente dos outros dois métodos. Foi estabelecida como meta maior o desenvolvi-
mento sustentável de uma bacia hidrográfica, através da con-
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES sideração de três estratégias básicas: eqüidade social, preser-
vação ambiental e crescimento econômico.
A análise multiobjetivo possibilita, através dos O aspecto da subjetividade, inerente ao julga-
métodos ELECTRE I e II, Programação de Compromisso e mento humano, foi levado em conta na fase de estabele-
Analítico Hierárquico, a consideração simultânea dos as- cimento dos pesos relativos dos critérios de avaliação, a-
pectos sociais, ambientais e econômicos no complexo través da utilização do método Analítico Hierárquico, por
contexto decisório dos comitês de gerenciamento de ba- meio da verificação da consistência e revisão dos julga-
cia hidrográfica. mentos.
Além dos dados quantitativos, mensuráveis e A alternativa 20, composta pelas ações de inter-
avaliados através de variáveis contínuas, os métodos utili- venção de estímulo aos empreendimentos de mão-de-
zados possibilitam a consideração da subjetividade, per- obra intensiva, de implantação de sistemas de tratamento
mitindo a introdução dos aspectos qualitativos do pro- de efluentes e de investimentos para a implantação de á-
cesso decisório, através de variáveis discretas, por meio reas irrigadas, foi classificada como a solução mais robusta.
de escalas adequadas de avaliação.
188
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
189
Aplicabilidade de Algumas Técnicas de Análise Multiobjetivo ao Processo Decisório no Âmbito dos Comitês de Gerenciamento de Bacia
Hidrográfica
Por outro lado, é importante ressaltar as limita- JARDIM, S. B. Mapas cognitivos: um caminho para construir
ções do trabalho apresentado. estratégias. Revista Análise, Porto Alegre, v. 12, n. 2, p.
As técnicas de análise multiobjetivo foram apli- 89-119, set. 2001.
cadas a matrizes de avaliação previamente estabelecidas. KEENEY, R.; WOOD, E. F. An illustrative example of the use
Na realidade, as matrizes de avaliação represen- of multiattribute utility theory of water resources
tam um dos resultados do importante processo de estru- planning. Water Resources Research, Washington, v. 13,
turação do problema, que deve anteceder à aplicação das n. 3, p. 705-712, 1977.
técnicas de análise multiobjetivo. LANNA, A. E. L. Introdução. In: PORTO, R. (org.) Técnicas
Outro aspecto importante diz respeito à análise quantitativas para o gerenciamento dos recursos hídricos. Por-
multiobjetivo sob incerteza, em função da aleatoriedade to Alegre: Editora da Universidade, 1998.
de eventos inerentes ao contexto decisório na Gestão das MONARCHI, D. E.; KISIEL, C. C; DUCKSTEIN, L. Interac-
Águas. tive multiobjective programming in water resources: a
Tanto a fase de estruturação dos problemas, case study. Water Resources Research, Washington, v. 9,
como a análise sob incerteza não foram abordados por n. 4, 1977.
não fazerem parte do objeto do presente trabalho. MONTIBELLER, G. N. Mapas cognitivos: uma ferramenta de
Fica a recomendação para o desenvolvimento apoio à estruturação de problemas. 1996. Dissertação
de estudos e pesquisas com maior alcance e profundidade (Mestrado em Engenharia), Universidade Federal de
sobre esses relevantes aspectos. Santa Catarina, Florianópolis, 1996.
PORTO, R. L.; AZEVEDO, L. G. T. Sistemas de suporte a
REFERÊNCIAS Decisões Aplicados a Problemas de Recursos Hídri-
cos. In: PORTO, R. (org.) Técnicas quantitativas para o
BENAYOUN, J.; MONTGOLFIER, J.; TERGNY, J. Linear gerenciamento dos recursos hídricos. Porto Alegre: Editora
programning with multiple objective functions: step da Universidade, 1998.
method (STEM). Mathematical Programming I. Amster- ROSENHEAD, J. Rational analysis for a problematic world: prob-
dam, p. 366–375, 1971. lem structuring methods for complexity, uncertainty
CHARNES, A.; COOPER, W. Management models and industrial and conflict. Chichester:
application of linear programming. New York: John Wiley, John Wiley & Sons, 1989.
1971. ROY, B. Problems and methods with multiple objective func-
CHECKLAND, P. B. Systems thinking, systems practice. Chichester: tions. Mathematical Programming. Amsterdam, n 1, v.
John Wiley & Sons, 1993. 15, p. 234-281, 1971.
COHON, J. L. Multiobjective programming models and planning. New SAATY, T. L.. A scaling method for priorities in hierarchical
York: Academic Press, 1978. structures. Journal of Mathematical Psychology, New York,
COHON, J. L.; MARKS, D. H. A review and evaluation of v. 15, n. 3, p. 234-281, sept. 1977.
multiobjective programming techniques. Water Re- SAATY, T. L. The analytic hierarchy process. New york: McGraw-
sources Research, Washington, v. 11, n. 2, p. 208-220, Hill, 1980.
apr. 1975. SCHAFFER, A . Estudo da distribuição dos índices de concordância e
DUCKSTEIN, L.; OPRICOVIC, S. Multiobjective optimiza- discordância do método ELECTRE. Porto Alegre:
tion in river basin development. Water Resources Re- PUCRS, 1999.
search, Washington, v. 16, n. 1, p. 14-20, 1980. SIMONOVIC, S. P. A systems approach to criative water re-
EDEN, C.; ACKERMANN, F. Making strategy. London: SAGE sources engineering. IWRA-ABRH-CTH-USP.
Publications, 1998. Workshop Internacional. São Paulo, 1998.
GERSHON, M.; DUCKSTEIN, L.; MCANIFF, R. Multiobjec- SINGER, E. M.; HARRIS, V. Reduzindo a subjetividade da
tive river basin planning with qualitative criteria. Wa- ponderação de critérios na análise multicriterial para
ter Resources Research, Washington, v. 18, n. 2, p. 193- recursos hídricos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
202, apr. 1982. RECURSOS HÍDRICOS, 9., 1991. Anais... Rio de
HAIMES, Y. Y., HALL, W. A. Multiobjectives in waterworks Janeiro: ABRH, 1991. v. 2, p. 493-499.
systems analysis: the surrogate worth trade-off ZELENY, M. Multiple criteria decision making. Columbia: Univer-
method. Water Resources Research. Washington, v.10, sity of Santa Carolina, 1973.
n.4, pp. 615-624, 1974. ZUFFO, A. C. et. al. Aplicação de métodos multicriteriais ao
HARBOE, R. Multiobjective decision making techniques for planejamento de recursos hídricos. Revista da ABRH,
reservoir operations. Water Resources Bulletin, Bethesda, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 81-102, jan./mar. 2002.
v. 28, n. 1, p. 103-110, feb. 1992.
190
RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 8 n.4 Out/Dez 2003, 169-191
ABSTRACT
191