Professional Documents
Culture Documents
ANGOLA
APO N TA M EN TO S SÔ BR E A OCU PAÇÃO
E IN ÍCIO DO ESTABELECIM ENTO DOS PORTUGUESES
N O C O N G O , AN GO LA E BENGUELA
E X T R A Í D O S DE D O C U M E N T O S H IS T Ó R IC O S
COLIGIDOSDOR
ALFREDO DE ALBUQUERQUE FELNER
COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
Iq33
r
L>estiodiçSo
^ tiraranj-se
umerados c rubricados
i
ANGOLA.
APONTAMENTOS SÔBRE A OCUPAÇÃO
E INÍCIO DO ESTABELECIMENTO DOS PORTUGUESES
NO CONGO, ANGOLA E BENGUELA
E X T R A Í D O S DE D O C U M E N T O S H I S f f Ó R I C O S
COLIGIDOS POR
FUVJP-BIBLtOTeC«o
140
* 950140»
COIMBRA
IM P R E N S A D A U N IV E R S ID A D E
l 933
AOS EXCELENTÍSSIMOS SENHORES
Maio de iq33.
Maio de tg33.
ALFREDO DE ALBU Q U E R Q U E FELNER.
PARTE I
ZAIRE E C O N G O
1 — Os nossos descobrimentos
U — O reconhecimento do Zaire
III — A ocupação do Congo
V. •...... - ■
-.-7
_ :.-S\•..: •
- :•
-ï !
•••=/ -
As vitórias de Aljubarrota e Valverde tinham abalado profundamente
o prestígio de Castela e engrandecido o nosso. Os castelhanos, ora
pedindo tréguas, ora quebrando-as para recomeçarem as hostilidades,
se não sofriam derrotas como as que lhe foram infligidas naquelas me
moráveis batalhas, também não alcançavam vitórias que ihes dessem o
direito de imporem as condições da paz, que nós também não adqui
ríamos, embora cada vez mais se consolidasse o nosso poder, pelo
número de fidalgos que, com as suas terras, reconheciam a autoridade
de D. João I.
Lutava-se, mas sentia-se, de parte a parte, a necessidade de terminar
a luta. Se, mais que o espírito da época, a bravura do Condestável e a
emulação entre os fidalgos, criando uma permanente excitação, torna
vam improfícuas as mútuas. transigências para a paz, esta, contudo,
impunha-se, e João das Regras, contrariando todos os ardores belicosos
da nobreza, empenhava-se pára a conseguir com todo o seu espírito de
político inteligente e de legista, demonstrando a D. João I a sua ne
cessidade, não só para a consolidação da independência do reino, mas
para a sua reconstituição, dentro dos princípios do moderno direito de
então, condição essencial para aqueles poderem subsistir.
Estabelecida emfim, a paz, tão sinceramente D. João I a desejava,
que pensava, se ela perdurasse, « ordenar hnüas festas rreaaes que durem
t todo hum anuo, pera as quaaes mandarey comtidar todollos fidalgos e
« gentijs homeés que teuerem jdade e desposiçam pera tal fe ito que ouuer
« em todollos rregnos da christandade e ordenarey que nas ditas festas
« aja notauees justas e grandes torneos e muy abastosos conuites seruidos
«de todallas viandas que se per todo meu rregno e fora delle possam auer.
« E desy danças e outros jogos seram tantos e taaes que assi delles como
« de todallas outras cousas as gentes que o virem tenham que sobre a f
*
4 Angola
« g r a n e^a e as nom se possam fa \ e r outras mayores. E com esto darey
« ta n ta s e ia m g ra n d es da d iu a s prinçipalm ente aaquelles estrangeiros que
« a g r a n d e z a e d o çu ra d o s benefícios que lhes eu assi fe \ e r lhes ponha
« n e ce ssid a d e d e os apregoarem grandem ente antre todollos seus am igos e
° em f i tn d e s ta s cousas f a r e y m eus filh o s caualeiros » (i).
O s três Infantes, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique com o irmão
m ais velho, C onde de Barcelos, discutiam esta intenção do pai, não se
co n fo rm a n d o com o serem assim armados cavaleiros. Preferiam, antes,
erem o c a siã o de praticar qualquer feito de armas pelo que o merecessem
d o q u e, contudo, não viam probabilidades, visto estar firmada a paz
co m C astela. João Afonso da Azambuja, vèdor da fazenda e homem
re sp e ita d o pelo seu conselho, surpreendeu-os nesta conversa, sugerindo
q ue fôssem lem brar a D. João I, irem antes tom ar Seuta, cidade do
n o rte da Á frica, que êle sabia ser muito importante pelas informações
q u e recebera, tendo lá mandado tratar do resgate de uns cativos.
D a sugestão 8o Mestre João Afonso; do apoio dado pelo Condes-
tá vel à idea, qu e mais parecia revelação d e D e u s ; e pelo entusiasmo
com que, no conselho reünido em Sintra, formado pelos antigos valentes
de A ljubarrota, João Gomes a aprovou, gritando: russos, a lé m ! exor
ta n d o assim os velhos que ali estavam reünidos e incitando-os à con
quista, esta realizou-se e, nela, o Infante D. Henrique foi armado
cavaleiro .
Se as nossas anteriores viagens às Canárias, pelo menos as do
tem po de D. Afonso IV, não bastassem para que existisse no espírito
de D. Henrique a idea das navegações, a conquista de Seuta, então a
fornecedora à Europa de mercadorias vindas de regiões desconhecidas,
incitou-lhe êsse desejo. As informações que colheu em Seuta, diziam -lhe
que ca ravan as vindas de longe, da África oriental e central, conduziam
p a ra ali aquelas m ercadorias, que os navegadores e negociantes de
V en eza iam negociar e, o Infante, regressando a Portugal, foi eetabele-
cer-se em S. V icente, com o fim, diz-nos A zurara, de « a lly f a ç e r hüa
« v illa esp ecy a l p e r a trato de m ercadores , e p o r q u e todollos navyos q u e
« a tra v essa ssem d o leva nte p era o poente, p odessem a lly f a \ e r d evisa, e
« a ch a r m an tim en to e p illo t o s . . . ».
O s gen oveses, que desde essa época não deixaram de recear a nossa
co n co rrê n cia , ofereceram -lhe g ra n d e p r eço p e la V illa do Iffa n te, que êle
J f} Crónica da tomada da cidade de Seuta por El-Rey Dom Joham o Primeiro, composta
por omes Eannes de Azurara. Ed. da Acad. das Sciências de Lisboa, cap. viu.
Parte I — Zaire e Congo 5
rejeitou, para se dedicar com os seus escudeiros, o pessoal de que se
cercou e as suas embarcações, ao estudo dos problemas geográficos,
que, depois das noticias que o irmão, o Infante D. Pedro, lhe trouxera
da sua viagem pela Europa, o absorviam por completo, como bem nos
deixou descrito o seu cronista: «Oo quantas ve^es o achou o sol asseentado
« naquelle lugar onde o leixara o dya dante, vellando todo o arco da
« noite sem receber nhuú descanso, cercado de gentes de diversas naçooés,
t nom sem proveylo de cada huú daquelles, ca nom era a elle pequena
« folgança achar com que aproveitasse a todos ,
« Consiiro como recebyas a todos, como os escudavas, como passavas a
a mayor parte dos dyas e noites antre tantos cuydados, por dares proveito
a a muytos, pollo qual conheço que as terras e os mares som cheos de teus
« louvores, ca tu per continuadas passageés fizeste ajuntar o levante com o
« poente, por que as gentes aprendessem a comudar as riquezas » (i).
# #
/1
*
* *
#
* *
• •
(1) T ô rre do Tombo. Chancelaria de D. Afonso V. Liv. 26 fl. 102 v. Liv. 2.® dos Místicos
3
fl. i i e i , e liv. 1 dos Reis fl. 61 v. Está publicado por Albano da Silveira nos Anais Marítimos
e Coloniais no número já referido.
(2) Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. Ed. da S. G. L., anotada por
Epifânio Dias.
3
( ) Duarte Pacheco Pereira no Esmeraldo diz que «pouorou com fundamento da nauegaçam
da Índia», pág. i . 5
Parte / — Zaire e Congo i3
maior desenvolvimento, e, organizada assim esta forte base, que ia dos
Açores à Madeira e Arguim, até á Mina e S. Tomé, com reconheci
mentos até ao rio de Santa Catarina, resolveu continuur estes, prolon
gando-os pela costa até encontrar a ponta sul do continente Africano
que, sabia bem pelas informações que já tinha da Etiópia Oriental,
havia de encontrar.
Nessa época, o que o Mundo era, já nós sabíamos, senão com
precisão, com suposições que muito pouco se afastaram da verdade.
Em 72-74 João Vaz Côrte Real e Álvaro Homem, tinham descoberto a
Terra Nova dos Bacalhaus, e a existência de terra — ilha ou ilhas, ou
continente, ao Ocidente, era para os nossos cosmógrafos uma probabi
lidade que êles tinham quási como certeza.
Em 1482 (1) manda sair Diogo Cão para percorrer a costa da
África para o sul, dando-lhe padrões, para que deixasse assinalada a sua
passagem. »
Nesta sua primeira viagem, descobriu Diogo Cão o Rio Zaire, onde
colocou o primeiro dos padróes que D. João II lhe dera, e continuando
para o sul, foi colocar o segundo padrão no cabo a que chamou de
S. Agostinho, na Baía de Santa Maria.
Voltando numa segunda viagem, em princípios de 1485, foi até ao
Cabo Negro onde colocou o terceiro padrão e, depois de seguir ainda
um pouco mais para o sul, regressou a Portugal.
No ano imediato partia Bartolomeu Dias para descobrir o Cabo da
Boa Esperança, ao mesmo tempo que Pero da Covilhã e Afonso de
Paiva eram mandados por terra à índia.
*
• *
escol dos nossos navegadores. Dá-lhes como missão, que torna pú
blica, o irem firmar as relações comerciais e políticas com os reis da
índia, mas ocultamente, hoje não o podemos duvidar(j), recomenda-lhes
que sigam pelo mar de longo, o que êles fazem e, sem terem feito agoada
em Cabo Verde, e sem que houvesse tempestades que os obrigasse a
desviarem-se da derrota que Vasco da Gama indicara, metem as prôas
a oeste e vão descobrir o Brasil, de que mandam a notícia para Lisboa
ao mesmo tempo que continuam a sua derrota para a Índia.
Nos anos seguintes continuamos os reconhecimentos da quarta parte
da terra e, duma dessas expedições, faz parte, num cargo subalterno,
Américo Vespucio. As nossas navegações para o Brasil, por ordem de
D. Manuel, constituíam segredo, com que Américo Vespucio se não
conformou e mandou contar para a Europa as descobertas, que, cheio
de vaidade, a si próprio atribuía. Resultou dêste facto não só o ter-se
mais tarde dado o seu nome às terras descobertas, como tornar-se
desde logo conhecida a navegação, o que a pirataria aproveitou, indo
para o Atlântico ocidental esperar as nossas naus que vinham da índia
carregadas das mais ricas mercadorias.
Com o fim de as defendermos, organizamos esquadras que faziam
cruzeiro nas costas do Brasil, ocasionando uma considerável despêsa.
Não era o bastante e era necessário evitar que os piratas ocupassem
qualquer porto da costa para base das suas operações, e, D. João III,
tratou então, de promover o povoamento do litoral, doando porções
do território que constituiu em capitanias, com o direito de os donatários
as explorarem e a obrigação de as povoarem, para o que publicou
disposições facilitando êsse povoamento.
As riquezas da índia eram arrancadas à custa de guerras e cada
nau que regressava, representava muito sangue derramado e muita
vida perdida. Nem todos se afoitavam a essa aventura. Moçambique
e Angola, além de ficarem longe, o seu clima mortífero, como o da
Guiné, nãõ convidava à fixação do colono, e, assim, auxiliada pelas
medidas de D. João III, fàcilmente se encaminhou a emigração portu
guesa para o Brasil.
Essa colonização, desde o seu início, nunca teve por fim a pilhágem
\
e o roubo, como nunca tiveram essas características, as colonizações
que fizemos, da Madeira, Açores, Cabo Verde e S. Tomé. Era a natural
(1) Introdução à História da Colonisação Portuguesa do Brasil, pelo Dr. António Baião
4
(2) História da Colonisação Portuguesa do Brasil — Os primeiros donatários, pelo Dr Pe-
ro Azevedo, vol, m, fase. vm, pág. 193.
II
O R E C O N H E C IM E N T O D O ZAIRE
3 3
(1) Da Asia de João de Barros, Dec. 1.*, liv, .°, cap. .°. È paia notai que os cronistas
modernos dizem que Diogo Cão mandou ao rei do Congo quatio dos seus homens, mas nem
Barros, nem Garcia de Resende: «por certos christãos*, nem Rui de Pina: apor mensageiros
christãos» fixam tal número.
(2) Rui de Pina: «O qual Capitam de indústria, e ordenação d'El-Rei».
3
Io Angola
caíques de hoje, raros sc a tre v e m a ir a té Boma e nenhum v v
Noqui at
Mas seguiram rio acima o. à medula que avan çavam por entre ^
num erosas ilhas, que a curiosidade os levaria a reconhecer, devem
ler
com eçado a sentir algumas milhas antes de V ivi um su ssu ro(i) de
n ão poderiam supor a causa c qnc lhes deixaria uma profunda
im
pressão. Mas foram sempre avançando com a mats extraordingrjg
e assombrosa coragem, com aquele desprendim ento da vida q^
só os nossos possuíam e, então, perante o enorme turbilhão de ág^g
que corre apertada entre os rochedos e se despenha em sucessiVas’
quedas, tiveram de reconhecer a im possibilidade de continuarem
navegar.
Impotentes, a sua sciência e êles, e sem recursos perante a fôrÇg
indomável da natureza, quiseram deixar m arcada aquela terra para 0
seu rei e, não Tevando padrões, foram ao alto de uns rochedos qlle
surgiam entre os cachões e nêles gravaram para lodo o sempre, por
amor do seu rei, que consubstanciava a idea da sua Pátria, a cruz qUe
os guiava, tendo à direita o escudo das quinas, sem os castelos e, a
esquerda, a inscrição:'
A Q U I CH EG A RA M OS NA
V IO S DO E SC LA R E C ID O
REI DOM JO Ã O O SE
G .° DE P O R T U G A L . D .° C A A O ( 2 )
P .° A N N E S . P .° D A C O S T A
(1) «It is a series of vehement, rushing, tumultuous, and vexed waters precipitated with
remarkable force and energy, and seemingly eager to escape out of their constricted and deep
mountain prison. While working, even eight miles away, a whiff of wind from .he southward
would bring the sound of Yelala Falls startlingly clear. The Congo and the founding of its
free state by H . Stanley . — London, 1885 , vol. i, pág. 2o3.
(2) aDiogo Cão, e não Diogo Cam, é que ele próprio íiz inscrever nos padrões e é como
dizem os documentos». .
«Cam é uma variante tôla de preconceito genealógico».
Luciano Cordeiro. Descobertas e descobridore$9 Diogo Cão . *BoI. da S. G. L.», 11.* série,
n.° 2, pág. 155 .
./
P jr te / — Zaire e Congo *9
Gonçalo (?) A lvares , A n tão, parecendo lerem $ido feilos por pessoa >
*
diferentes (i).
E, durante quatro séculos, parece que, respeitando a polmca de
segredo e a vontade dominadora do homem que foi o Homem da sua
época e o maior da nossa história, ninguém viu ou smibe ler a fhfcrtçfo
dos rochedos de Yelala!
(i) Portugal. Dicionário histórico, bibliográfico, etc., por Esteves Pereira e Guilherme
Rodrigues. — Lisboa, 1906, vol. ir, B C., pãg. 720. Cao (Diogo). .i i
Revista O Occidente, 28.0 ano, n * 944, de 20 de Março de 1905, pág. 62,2.* col., com quatro
gravuras.
Atendendo a que são hoje raros muitos dos números da revista O Occiãcnte, e à conve
niência de se retinirem, tanto quanto possível, os elementos de estudo que se encontram
dispersos, reproduzem-se as gravuras de O Occidente.
Como delas se vê, no corpo principal da inscrição, estio, além do nome de Diogo C ão.
apenas cs de Pedro Anes e Pedro da Costa, devendo concluir-se que os restantes não foram
gravados na mesma ocasião, porquanto um piloto da categoria de Pedro de Escobar tinha
direito a que o seu nome ficasse junto do Mestre e éle não deixaria de ocupar um dos princi
pais cargos na expedição.
Parece, assim, que, nesta viagem, Diogo Cão foi acompanhado por Pedro Anes e Pedro da
Costa e que, em outras viagens, Álvaro Peres, Pedro de Escobar e os outros teriam ali man
dado gravar os seus nomes.
O autor do artigo da revista O Occidente diz que esta inscrição data da segunda viagem de
1 ^
Diogo Cão, em 1484. Sendo assim, é de estranhar que Martim de Boémia, que o acompanhou
nessa segunda viagem, não tivesse também mandado gravar o seu nome e, no seu Globo, não
fizesse referência às quedas do Yelala, nem ao facto de ter chegado até àquele ponto, aventura
que não seria tao corrente que não merecesse ser citada.
Também o autor do artigo de O Ocidente, diz que a inscrição foi destruída. É falso, existe,
e o Govêrno do Congo Belga dispensa os possíveis cuidados para a sua conservação.
t y
20 Angola
suposições da cp oca, do grande lago do interior da Á frica , de onde
nasciam o N ilo e outro rio grande, que sou be en tão ser o Z a ire , bem
com » veiu ao conhecim ento da marcha m igratória dos co n g u eses, do
interior sobre a costa. Mais uma \cz o Preste J o ã o se ihe d eve ler
apresentado como uma realidade e, o Z a ire, co m o um n o v o cam inho
para se conseguir a ligação com os estados d aq u ele p rín cip e .
A os pretos, a par de lhes proporcion ar tô d as as d iv e rsõ e s e bem
estar, procurou fázer-ihes sentir o valor da nossa c iv iliz a ç ã o , das nossas
riquezas e o poder de que dispúnhamos, de form a, n ã o só a deslum
brá-los, como a criar néles a necessidade d as nossas re la ç õ e s. E , assim ,
com preendendo bem o efeito futuro do cum prim ento da p ro m essa do
regresso, dentro do prazo m arcado por D io g o C ã o , trato u de a p re s s a r
a segunda viagem deste nosso ousado n aveg ad o r.
A repatriação e o tratam ento dispensado aos in d ígen as p rod u ziram
o efeito previsto*por D. João II. D iogo C ã o «fo i festejado mais como
conhecido e amigo que como estranho» e, por tal form a o rei do C o n g o
ficou reconhecido á maneira com o procedem os p a ra co m os seu s, e
deslumbrado com o que êstes lhe co n taram , que p ed iu a D io g o C ão
para trazer a Portugal os seus em baixadores e, com eles, a lgu n s outros
indígenas para serem educados.
Foram êstes confiados aos padres dos Loios, em cu jo con ven to
estiveram mais de dois anos, até que «já desmentido a opinião de brutos
e se encontrando capaçes do Bautismo», e então se p ro c e d e u a essa
cerimónia sendo, D. João II e a Rainha D. Leonor o s p a d rin h o s do
mais importante deles, o « Caçuta» (Nsaku), que p assou a ch am ar-se
D. João(i), e dos outros, os m ais ilustres fidalgos d a c o rte , de quem
tom aram os nomes.
R ealizado o baptism o, tratou D. João II de reen viar os p re to s para o
C o n g o ,'p a ra o que mandou preparar uma arm ada de três n a v io s , cuja
capitania-m or confiou a G onçalo de Sousa, fid a lg o da su a c a s a e o
com ando dos outros navios a Fernão de A v e la r e A fo n so de M ou ra,
levando com o pilotos Pero de Alem quer e P ero E s c o b a r (2).
1
(1) João de Barros, Dec. i.*, . ni, cap. m, diz que se ficou chamando D. João da Silva, e
no cap. ix chama-lhe D, João de Sousa. Rui de Pina e Garcia de Resende chamam-lhe D. Joáo
da Silva.
(2) Barros, Dec. cit. No recente trabalho do sr. Quirino da Fonseca Os Portugueses no
mar vem mencionada a pág. 187 uma relação das embarcações saídas de Portugal nos anos de
1498 e 1489, da qual consta que as caravelas capitaneadas por Afonso de Moura e Fernão de
Avelar levavam cada uma 64 pessoas.
Parie 1— Zaire e Congo 2 1
Para a evangelização do gentio do Congo foram pedidos padres
a uma das três ordens: S. Francisco (i), S. Domingos ou S. João
Evangelista (Loios), afirmando o cronista de S. Domingos (2) que
«foi por Prelado, e primeiro Vigairo da Cristandade de Congo, o
«Padre Fr. João de Sancta Maria», o que é confirmado por João de
Barros (3), e afirmando igualmente o cronista dos Loios que a sua ordem
forneceu cinco dos seus padres, tendo por superior Fr. João de
Santa Maria, «religioso de grandes letras, e virtudes, e calificado talento »,
sendo os restantes: Fr. João de Portalegre, Fr. António de Lisboa,
Fr. Rodrigo de Deus, e Fr. Vicente dos Anjos, a quem chamavam
« Manicongo », pelo fervor com que empreendeu a jornada e se houve
nela (4).
Saiu a armada de Lisboa, a 17 de Dezembro de 1490, levando, com
os frades, operários de diversos ofícios, agricultores e os pretos e, além
de vários presentes para 0 rei e rainha do Congo, todcfc os paramentos,
imagens, etc., necessários para 0 serviço religioso. Na ocasião da saída
havia peste em Lisboa e, durante a viagem, alguns casos se manifesta
ram, falecendo, quando chegavam a Cabo Verde, Gonçalo de Sousa e
o preto D. João de Sousa, além de outros.
O falecimento de Gonçalo de Sousa deu lugar a questões sôbre a
sucessão, questões que foram resolvidas por Fernão de Góis, capitão
da ilha de S. Tiago, sendo eleito capitão-mor Rui de Sousa, sobrinho
de Gonçalo de Sousa e que o acompanhava como simples particular (5 ),
depois do que seguiram viagem para 0 Zaire, onde fundearam a 29 de
Março de 1491.
Desembarcaram nas terras do soba Manisonho, tio do rei do
Congo, que os recebeu com as maiores demonstrações de alegria,
pedindo logo para ser baptisado. A 3 de Abril, dia de Páscoa, cele
brou-se nas terras de Manisonho a primeira missa e cerimónia de
baptismo, recebendo o soba o nome de Manuel e seu filho mais novo
o de António.
Poucos dias depois, os nossos iniciaram a marcha para a Embala1
(1) Rui de Pioa e Garcia de Resende, nas crónicas que escreveram de D. João II.
3
(2) História de S. Domingos de Fr. Luís Cacegas, reformada por Fr. Luís de Sousa, ." ed.,
a.* parte, vol. ui, pág. 454.
3
( ) Barros, na Dec. citada, chama-lhe apenas Fr. João.
(4) O céu aberto na terra, pelo padre Francisco de Santa Maria, Liv. t.°, cap. svni.
5
( ) Barros, Dec. cit.
Angola
Uo r u ( i) , em A i B an ou Mbâji{2), que, por corrupção, diziam Embasse
e a que mais tarde chamámos S. Salvador.
« f a n t o que el-Rei foi avizado que o Embaixador, e Vigário cami-
« nhavão, despachou dous capitães, que os fossem receber, hum traz
« o u tr o , a meio caminho, e quando chegarão à Cidade de Ambasse, em
«que tem sua Corte, e residência, foi cousa de ver o numero infinito de
« povo, que se juntou a recebcl-os: parecia estar todo o Reino junto, e
« afíirma-sé que erão mais de cem mil homens. Sahirão postos em
«arm as a seu modo, partidos em três bandos, ou esquadrões: tocando
«infinitos instrumentos, que a não serem barbaramente dezentoados,
« arremedavão na ordem que irazião très procissões de muito concerto:
«porque marchavão a dous por fileira: e ao estrondo confuso dos ins
tru m en to s, ajuntavão vozes em louvor do Reino, e gente de Portugal,
«começando huns, e seguindo outros: e despois respondendo todos em
«alarida, que ferfci no Ceo; Como chegarão aos nossos, tomarão-nos em
« meio, e fizeraÕ volta pera casa d’el-Rei; continuando as mesmas
« vozes e festas. Eistava el-Rei em hum estrado alto, em cadeira de
«marfim, a cabeça cuberta com hum modo de Mitra feita de folha de
«palma de obra meuda, e não desengraçada; nú da cinta pera cima,
«da cinta até aos pés cuberto com hum pano de algodão no braço
«esquerdo atochada huma manilha de latão; do hombro pendurado
«hum cabo de cavalo branco: e de muita seda, peça, e louçainha, que
« naquellas partes só aos Reis pertence; como em Europa coroa de ouro.
« N’esta postura esperou o Embaixador, e Vigairo, e recebendo-os com
«honras, e gasalhados desacostumados, ouviu alegremente a proposta,
«e recados gerais da embaixada: e logo apoz elles quiz, que à vista, e(i)
(i) Barras depois de descrever o desembarque no pôrto do Sonho, no Pinda ou em S.t0 An-
tonio, e a scena do baptismo do Manisonho, diz que Rui de Sousa tinha mandado aviso ao rei
dp .Congo, da sua chegada, e escreve: Vindo o recado delRey pera irem a elle,leixou Rui de
Sousa a gente necessária pera guarda dos nauios & cõ a outra se parlio pera a cidade onde
eVe estaua: indo em sua companhia hum capitão do príncipe D. Manuel (refere-se ao Manisonho,
que assim se ficou chamando depois do baptismo) com dujentos homems de sua guarda & outros
queseruiam de leuar à cabeça toda a fardagem, etc.
f 2) M Bari-á-ucanu, em Iingua do Congo, cfr. Luciano Cordeiro e Capelo e Ivens. Mbaji a
ekongo, Ravenstein, The slrange advenlures o f Andrew Batlell, London mdcccci, The Hakluy1
Society.
Existe na Biblioteca Nacional, Reservados, Mss. 8080, uma cópia, talvez do século xvm>
das primeiras 43 fls. de uma História do Reino do Congo, que deve ter sido escrita em fins do
século xvi, princípios do xvu (depois do governo de João Furtado de Mendonça), por um padre
que foi cura no Sundi, no Congo, e esteve também em Angola. No capítulo 19 «Em que se
conta a entrada que fè ç o capitão Rui de Sousa, na cidade de Congo«, escreveu o autor: »Che
gados Rui de Sousa e os mais chrislãos a Pangala, que he como arrabalde da cidade«, etc.
-» -í,-...
.s ' .
24 Angola
habitação, ao que êles anuiram, aproveitando a ocasião para iniciarem
a construção da primeira igreja(i), o que tudo teve lugar no dia 3 de
Vtaio de 1491, recebendo o rei o nome de D. João e baptisando-se com
éle outros sobas importantes que o acompanhariam na guerra.
Na embala faltavam alguns materiais para a construção da igreja,
mas o rei do Congo, tão empenhado estava nela, que pôs milhares de
carregadores a transportarem pedra e madeira e, por tal forma corre
ram os trabalhos, que os nossos operários a 1 de Julho de 1491 a tinham
concluída.
O clima do Congo começou a fazer-se sentir nos nossos. Padre
João faleceu, e os outros padres estavam também doentes. O baptismo
da rainha tinha ficado combinado para o regresso do rei, mas era tal
o seu fervor, que com receio de que durante esse tempo os padres
podessem falecer, pediu para ser baptisada antes da partida dq rei, ao
que todos anuíram, realizando-se a cerimónia e recebendo o nome de
Leonor.
Seguiu, então, o rei para a guerra, sendo acompanhado por alguns
dos nossos e, como êle e parte dos seus já eram cristãos, Rui de Sousa
confiou-lhe um estandarté com uma cruz que D. João II lhe mandara
e que tinha sido oferecido pelo Papa Inocêncio VIII para a Santa
Cruzada.
O rei subjugou os rebeldes, que, dizem os cronistas, exagerando,
eram mais de oitocentos mil e regressou satisfeito, atribuindo a v i t ó r i a
ao auxílio de Deus, depois do que «tornando à cidade espedio-se R u i
de Sousa pera este reyno, leixandolhe pera a conuersão dos pouos f r e y
«Antonio, que era a segunda pessoa depois de fr e y João , e outros quatro
«fr a d e s : & assi algüs homerns leigos p era os acompanharem, & outros pera
«entrarem o sertão da terra com algüs naturaes, como e lR e y dom João
ffmandaua p era descobrir 0 interior d ’aquelle grão reyno, & passarem
ff alem do grão lago que dissemos » (2).
tem Historia por escripto sabem as que bastão de todos os reis passados, porque ainda que no
Zaire estejão duas Ilhas povoadas chamadas Ango-biba de cima, e Ango-biba de baixo, nunca os
senhores delias forão sujeitos, nem aos reis do Congo, nem aos reis Ansiecos. ..
(1) Hence this, the oldest church o f S . Salvador, became known as E g reja da Vera C n i-
e tc ... Ravenstein, cit. nota (4) a pig. tog. Também o autor anónimo da História do Reino do
Congo, referida, dedica um capítulo a este assunto. Anexos doc. n.° I.
(2) Barros. Dec. cit., e Garcia de Resende. Crônica de D . João II, cap. clxi .
Parte I — Zaire e Congo z5
*
* *
(1) História de S. Domingos, cit., vol. ui, 2.J parte, livro vi, cap. vi.
(2) Barros, referência anterior.
3( ) Garcia de Resende, Crónica de D. João II, cit.
O sr. Quirino da Fonseca, no seu recente trabalho Os Portugueses no mar, escreve a
3
pág. i i : Entrando no Rio Zaire, foram os nossos amigavelmente recebidos pelo negro potentado
dessas regiões do litoral, mas pretendiam êles, sobretudo, avistar-se com o poderoso soberano
indígena do vasto Reino do Congo, e que residia no sertão. Eis pois, os navios de Rui de Sousa,
subindo todo o curso navegavel mas dificultoso do Rio, até junto das cataratas de Yelala,
distando bem go milhas da fo\ e ali fundeiam para estacionar; depois, os marinheiros portugue
ses, tornados exploradores sertanejos, marcham durante 23 dias, por terra virgem de caminhantes
5
europeus, internando-se cerca de o léguas, até alcançarem o local onde habitava o magnifico
Rei do Congo.
Como se vê das transcrições feitas de Barros e Resende, esta versão não tem fundamento
Rui de Sousa fundeou os seus navios no Pinda e, deixando apenas a gente necessária para a
sua guarda, foi com a restante e acompanhado de Manisonho e da gente deste, até Embasse
donde, depois de combinar o ataque aos Anpcos, voltou ao porto para dar ordem aos navios é
gente deles, para irem servir o rei do Congo. Esta ordem aos navios c gente dèles não podia
Parte I — Zaire e Congo *9
■*
# *
is
1
ser senão para subirem o rio, como devem ter subido, batendo os Anjicos, mas não se conclui
daqui que chegassem ao Yelala e ali estacionassem. O facto de entre os nomes gravados se i
encontrar o de Pedro Escobar, piloto de Rui de Sousa, também nos não obriga a concluir que
K- os navios dêste lá estivessem, porque teria também mandado gravar o seu nome, o dos capitães
%
S-- •dos navios e o do outro piloto, Pedro de Alenquer.
(1) Pigafeta.
,)0 Angola
Pattsa Aquitino(i)j não quis ser cristão, como também não quiser
ser baptisados alguns outros pretos importantes, muito embora ^
pequeno número, mas o suficiente para, chefiados por êle, constituirá
o núdeo de resistência e, no futuro, de revolta, contra a acção eva!^
gelizadora dos frades.
Além deste esbôço de resistência, um outro, e bem mais importante
se apresentava. O rei preto tinha, conforme o costume, várias mulheres
e só uma foi baptisada e reconhecida como rainha, o que provocou
o natural ciúme e inveja de parte das outras, que, passadas as festas e
recolhido o rei da guerra a que tinha ido, começaram intrigando e
excitando a resistência dos não-cristãos à supremacia que iam tomando
a rainha Leonor e o filho Afonso.
Por outro lado o rei, a-pesar-das exortações dos frades, não se
conformava com o ter de viver só com uma preta. Tantas vezes caiu
em pecado e, tantas os frades o obrigaram a penitências para o
absolverem, que êle, velho relapso e sem emenda, se começou a afastar
do convívio dos padres e a implicar com o filho Afonso.
Ou porque o gentio da província do Sundi, se revoltasse, ou
porque o pai o expulsasse, D. Afonso foi para lá viver, sendo acompa
nhado por dois frades, Fr. António e Fr. Rodrigo, que assim conseguiam
dois dos fins da sua missão: não deixarem ò herdeiro do reino fora da
sua constante acção e reconhecerem o interior, como lhe fôra determi
nado por D. João II.
Com a ausência do herdeiro D. Afonso redobraram as intrigas, a
ponto de convencerem o pai que êle, apesar-de distante, voava de noite
e vinha dormir com uma das suas pretas. O velho rei, furioso com a
ofensa do filho, resolveu usar dum feitiço para descobrir a verdade e,
tendo-se convencido de que a acusação era falsa, mandou-o vir a
Ambasse e reconciliou-se com êle.
Regressou D. Afonso ao Sundi e, animado pelas boas relações em
que ficara com o pai, começou a perseguir os seus súbditos que tivessem
ídolos em casa e não acatassem a religião cristã. Novas queixas e
intrigas contra êle, mas desta vez o pai resolveu matá-lo, bem como a
outro preto D. Gonçalo, seu adepto, e mandou-os vir à sua presença
ao que êles não obedeceram, passando a viverem a monte.
Entretanto o pai adoece, fazendo prever que breve faleceria e a
preta rainha I). Leonor, que sempre se manteve boa cristã e ajudando
(1) Nenhum cronista da época nos indica a data certa, mas pela carta que D. Afonso es
creveu a D. Manuel descrevendo vários sucessos do seu reinado, pode deduzir-se que foi em fins
55 56
de i o , princípios de i o . Lopes de Lima numa memória sôbre o Gongo, que publicou nos
5
Anais Marítimos e Coloniais, diz que o velho Manicongo faleceu em 1 og e o filho D. Afonso
58
lhe sucedeu nessa data. Esta informação é errada, porque em i o , quando foram para o Congo
os frades dos Lóios, já 0 D. Afonso era rei, pelo menos havia dois anos. Capelo e Ivens
D e Angola à Contra Costa e outros escritores que do Congo se têm ocupado, cometeram o
mesmo êrro.
(2) História do Congo de Paiva Manso, cit. a pág. 2 8 4 . Doc. números m-rv-v e vi.
34 A n g o la
$3
(1) Lopes de Lima, numa notícia sobre o Descobrimento eposse do Reino do Congo, etc.,
5 3
que publicou nos Anais Marítimos ô Coloniais, .®série, iSqi, n.° . Parte não oficial pág. diz
que em seguida à missão de 1490, D. João II mandou estabelecer uma fortaleza, com seu feitor
e alcaide e gente de ordenança na foz do Zaire (pág. 96). Não se encontra documento algum
que confirme esta informação.
(2) Esmeraldo de Siíu Orbis « ... de pello como veludo, e ddles com lauores como çatim
velutado. . . ; e em toda ha outra Guinee nam ha terra em que saybam fa%er estes panos senan
neste Reyno de C on g tto ..» Estes panos correram, mais tarde, como moeda de Angola,
3
( ) Arquivo Nacional da T orre do Tombo. Livro n dos Reis, fl. 18S v.
(4) António Carneiro era secretário de Estado e obteve a doação da Ilha do Príncipe.
João da Fonseca seria, possivelmente, seu sócio e administrador em África; Arquivo Nacional
5 5 3
da Torre do Tombo, gav. i , maço i , doc. i e maço 14, doc. 43. Vide Anexos doc. n.°“_2 e . 3
5
( ) Atribuindo ao rea! branco o valor actual de esc. #72 (6). Lúcio de Azevedo, Épocas
de Portugal Econômicoy Apêndice, nota E, pág. 483, aquela renda corresponde a esc. 2v?.$oo%>oo.
(6) Muito embora ainda não houvesse bispo em S, Tom é, o auto de arrematação consigna
a obrigação do pagamento daquela importância para êsse fim. Cunha Matos na Geografia
.36 Angola
Esta intensificação de vida comercial não resultava sòmentc
acção dos capitães dos navios e em proveito dêstes e dos moradores
S. Tomé. Alguns mercadores nossos estariam estabelecidos no Zair^
com relações no interior, de forma a poderem arranjar o carregamentQ
dos navios e, embora não haja documentos que se refiram a êste facto
podemos, com segurança, deduzi-lo do desenvolvimento que tomou
sucessivamente, a evangelização dos indígenas (i), pois a ocupaç§0
religiosa não se faria sem a ocupação comercial, além de que comer
ciantes eram, na sua quási totalidade, os próprios frades e padres.
*
• *
54
Histórica das ilhas de S. Tomé, etc. diz: «Em / o já se achava erigida uma freguesia nesta
ilha com o titulo de Nossa Senhora da Graça, a que também chamavam de Ave-Maria e tinha
um vigário pago pela fazenda real».
(1) Damião de Góis, Crónica de D. Manuel p.» i.» cap. 76, diz que em 1504 D. Manuel man
dou para o Congo homens letrados na Sacra Teologia e com eles mestres de lêr e escrever etc
(2) O Céu aberto na terra, já citado. ’
3
( ) Damião de Góis, Crónica de D. Manuel, 2.* parte, cap. xxx,
(4) O Céu aberto na terra, já referido.
Parte I — Zaire e Congo ò7
os padres que depois acompanharam êsses pretos em 1490, 0 certo é
que tudo nos Índica não ter sido a ordem dos Lóios quem forneceu os
padres dessa primeira missão, mas ames, talvez, a de S. Domingos,
conforme Barros e o cronista da ordem, Fr. Luís de Sousa, nos deixaram
indicado (1).
A segunda missão de i 5 o 8 , só o cronista dos Lóios a revindica
para os seus, mas como já tinha dado por vigário da primeira o fr. João,
comum das três, viu-se na necessidade de declarar que era a segunda
vê2 que êle ia ao Congo, quando o que parece certo, é que o fr. João
da primeira missão faleceu pouco depois de lá chegar, segundo nos
deixou escrito João de Barros, o mais autorisado dos nossos cronistas,
não podendo, portanto, ter feito parte da segunda.
O preto D. Afonso que mais tarde foi rei do Congo, recebeu
dos frades da missão de 1490 uma educação regular, tendo, pelo
menos por dois, Rodrigues Annes e António Fernaitdes, grande es
tima e veneração, e não se pode admitir que na carta narrando a
D. Manuel vários sucessos do seu reinado(2), ao referir-se a fr. João
de Santa Maria, se este fôsse 0 mesmo da primeira missão, não mos
trasse conhece-lo já de tempos anteriores, tanto mais que o procedimento
dêste clérigo, em i 5 o 8 , em comparação com o que se lhe atribui em
1491, deixa muito a desejar.
Nessa mesma carta, ao referir-se à chegada da missão de i 5 o8 ,
escreve: « e em tam dãly a pouco tempo chegaram os padres de Santa
« loya, que nos sua Allte\a mandam •>. Se tivesse sido educado pelos
frades de S. Elói, não é crível, dada a educação recebida, que
ignorasse o nome e o sexo do santo da invocação do convento dos
seus mestres. Assentemos, pois, como o mais verosímil, que os padres
da primeira missão deviam ser da ordem de S. Domingos e os da segunda
da ordem de S. João Evangelista (Lóios).
Um outro ponto em que os cronistas não concordam, é no destino
que tiveram os frades das diversas missões, inclinando-se a que deram
a vida em sacrifício da propagação da Fé.
Garcia de Resende e fr. Luís de Sousa, dizem-nos que os da missão
de 1490 faleceram todos no Congo. Fr. Francisco de Santa Maria
diz-nos que faleceram fr. João de Portalegre e fr. António de Lisboa,
3
(1) Ravenstein, ob. cit., pág. 108 nota ( ) inclina-se para a informação de Garcia de Resende
de que eram da ordem de S. Francisco.
(2) História do Congo, cit. doc. xn, já referido.
40 Angola
vantagens que para Portugal adviriam duma política de atrac -
resolveu enviar para o Congo, em 15 3
1 , Simão da Silveira, dand^0*
um regim ento (i) onde o seu plano está claramente exposto/ ° ^
Depois das instruções comuns a todos os regim entos sôbre as ree
que deveriam ser observadas pelos diversos navios da armada, quan^
a navegação, mantimentos, etc., entra em detalhes sôbre o desembarq^
e a marcha para o local onde o rei estiver, recomendando se faça
melhor ordem, não consentindo aos nossos tratarem mal a gente ^
terra, para nos receberem com prazer.
Em seguida, passa às audiências, estabelecendo a sua ordem e 0s
assuntos a tratar: a entrega de cartas(2) e as encomendas e saudaçõeSi
explicando ao rei do Congo que só assim costuma proceder par^
com príncipes cristãos, pois a infiéis não manda saudar. Depoi^
no dia seguinte, faria a entrega dos presentes, dizendo-lhe que os
enviava de mufco bom grado, por êle D. Afonso 0 merecer, corno
rei dum país onde se deu início à evangelização, para a qual êle
D. Manuel, trabalhava, principalmente, com navegações pelo mar, não
só até ao Congo, mas muito mais longe, e, que, a propósito, lhe falasse
nas cousas da índia, e das gemtes e armadas que nella trafeemos, e de
todo o que se la f a \ .
Manifestasse a satisfação que teve com a vinda a Portugal do primo
D. Pedro e em receber as suas cartas, descrevendo a vitória alcançada
sôbre os seus inimigos e o milagre que Deus lhe fêz na batalha que
com êles travou, esperando que em reconhecimento dos favores divinos,
continui trabalhando pelo desenvolvimento da fé cristã. Querendo
comemorar êsse facto, lhe enviava a carta de armas, e lhe explicasse
a sua significação e uso.
Lhe dissesse, que tendo o primo D. Pedro manifestado quanto êle
D. Afonso desejava lhe enviasse alguém para organizar os serviços
de justiça e cousas de guerra, como estavam estabelecidos em Por
tugal, o enviava a êle Simão da Silveira para êsse fim, com um
letrado para o ajudar, levando o livro das ordenações, com tôdas as
indicações sôbre o modo de julgar e apreciar as causas, tanto crimes,
(1) Arquivo Nacional da T ôrre do Tombo. — Leis. Maço 2, n.° 25. Apesar-de publicado
em «Alguns documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e
conquistas dos portugueses, pág. 279 a 289. Entendemos conveniente repetir a sua publicação,
5
por ser já hoje rara aquela obra. Anexos doc. .
(2) N ão-se encontra na T ôrre do Tom bo. Damião de Góis publicou-a na Crónica de
5
D . Manuel, e o Visconde de Paiva Manso transcreveu-a na História do Congo, pág. , doc. vnt.
■J
* •
(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Livro das Ilhas, fl. 6o v. Fernão de Melo. Carta
da alcaidaria mór do Castelo que em a dita Ilha se fizer para êle e para quem for capitão dela.
5
i de Dezembro 1499.
44 Angola
a desnecessidade de despesas duma ocupação militar e, previu melho
que a suserania que estabeleceu perduraria para sempre. ° r’
Se pelo lado político o regimento nos leva a estas considerações
pelo lado comercial, não deixa de bem nos revelar o carácter do
monarca. Em cada linha resalta a avidez do lucro e a esperteza
t velhaca. Aquele prólogo de instruções a Simão da Silveira sóbre o que
tem~a~fazer e dizer desde o desembarque, marcando-lhe a sequência
das conversas, graduando-as pela importância dos assuntos, e por dias,
para terminar no que mais o interessava, a retribuição, que parecendo
ser a última cousa a tratar, passa a ser a p rim eira: « Logno dês que
«chegardes, começarês, a negociar com el rey, o mais onestamente que
apoderdes, o aviamento da tornada dos navios», vale por tudo quanto
os historiadores possam ter escrito apreciando o seu carácter. Depois,
entrando então, abertam ente, na parte do negócio, ensina a Sim ão da
Silveira o que deve dizer «como de voso » e «ssem lhe dizerdes cousa
« alguma de nossa p a r te » e conclui m agistralm ente, afirm ando que
depois do que disse, o preto deve m andar carregar os n avios o mais
abastadamente que poder e de m aneira que êle, D. M anuel ain da tenha
mais m otivos para se interessar pelas suas cousas, posto que a sua
in ten çã o non he d aver proveito de fazenda, sooniente do acrecentaniento
daJee.
N ão p ôd e fugir D. M anuel a dar, ainda, neste documento, a nota
das ostentações; por um lado, recomendando a Simão da Silveira que
lh e fale tias cousas da Jndia e das gemtes e armadas que nela tracemos,
e d e todo o que s e la fa ^ para que o preto veja bem qual o seu poder e
valor; p o r outro, esquecendo já os lucros e a ganância, com a preocu
pação das grandezas, é êle próprio que manda oferecer ao preto, pagar
as despesas com a em baixada que diz para mandar ao Papa, tendo,
talvez, já delineada na m en te, a que anos depois mandou com Tristão
da Cunha e, p o ssiv elm en te, não co n h e ce n d o ainda o rinoceronte com
que nessa em ba ixa d a qu is representar a Á frica , pensou que um preto
educado para b isp o , deveria produzir o mesmo efeito e causar igual
adm iração.
•*
* *
(1) O preto D. Afonso parece que vestia à europeia. Na carta documento xu da Historia
do Congo, êle queixa-se do sapateiro português que lá tinha e que lhe dera cabo de uma porçSo
de peles, sem ter feito calçado capaz, e do alfaiate que apenas lhe arranjara uma loba e umas
mangas de veludo, de má vontade. Na carta documento xxv acusa ao feitor de S. Tomé, ter
recebido uma porção de vestimenta que lhe mandou D. João III. O filho, tendo sido educado
em Lisboa, é provável que também vestisse á europeia. Outros reis que se seguiram parece que
reservavam os trajes europeus para as cerimónias oficiais e fora delas trajavam á indígena.
Nem toda a corte os acompanhava no vestuário. Dapper dá interessantes informações sôbre
trajes e costumes, sobretudo dos militares, que usavam bonés ornamentados com grandes e
vistosas plumas e, sôbre o tronco nu, cruzando-se do hombro para a axila, correntes de ferro
em aneis delgados da grossura de um dedo pequeno. Nas marchas usavam tambor e cometa.
(2) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Carta de sentença da confiscação dos bens de
522 3
João de Melo, feitor de S. Tomé, 19 de Dezembro de t . Livro 2.0 dos Reis fl. to a 106 e
3 3
Gaveta 1 , maço , doc. 17.
46 A ngola
embora não se podesse considerar o Congo como uma f * •
tínhamos estabelecido na Guiné e na Mina. ieU° na Co*o
Se a parte política do regimento que Simão da Silveira levo
estava assim prejudicada, D. Manuel, sempre venturoso, não perdi1’
a parte comercial, pois o preto D. Afonso carregava os navios da
armada: os que tinham chegado primeiro, com quinhentos escravos
e ainda um refôrço de trinta para as falhas e, já ficava pronto 0
carregamento que devia seguir no « Gaio».
Não fizeram falta as sugestões de Simão da Silveira, nem f0j
necessário que outro, como cousa sua, lhe insinuasse o que tinha a
fazer. O preto, por motuo próprio e, apesar-de tôdas as desintelj.
gências dos nossos, carregou o mais abastadamente quepoude os navi0s
e, no seu procedimento é que francamente se pode afirmar, não
havia intenção ge aver proveito de fazenda, soomente do acrecentamentQ
da fe e , pois fôra com essa intenção, pela educação recebida do$
dois frades, António Fernandes e Rodrigues Annes, que mandava os
escravos.
D. Manuel devia ter ficado satisfeito com a boa compreensão que o
preto D. Afonso manifestava dos seus deveres de retribuição dos
serviços que lhe eram prestados e, logo que chegaram os primeiros
navios com o carregamento, tratou de mandar outro, dando ordem
ao seu tesoureiro para «fa\er promptas certas fazendas » (i) afim-de as
enviar como presente, certamente na mira de que o navio voltaria
carregado, também o mais abastadamente que fôsse possível.
Nêsse navio ia Manuel Vaz, que quando chegou ao Congo, foi
informado das scenas desgraçadas passadas entre os nossos. Fôra
o caso que Diogo Fernandes, o letrado que fôra na armada de Simão
da Silveira, ao vêr Álvaro Lopes nomeado feitor, quis ser corregedor,
cargo que então reünia os serviços de administração de fazenda com os
de justiça, e, tais intrigas moveu, que auxiliado pelos padres, obteve
que o preto D. Afonso o nomeasse para esse cargo e lhe desse um
escrivão.
A nomeação do corregedor era conseqüência fatal da nomeação do
feitor. Feita a primeira deturpação do regimento de D. Manuel a Simão
da Silveira, as outras eram inevitáveis e a orientação que D. Manuel(i)
(i) Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico, p. i.% maço 16. Doc. iô
de i 5 de Setembro de i5i4. Não foi publicado pelo Visconde de Paiva Manso na Historiado
Congo. Anexos. Doc. 6.
Parie I — Zaire e Congo 47
esboçava na exploração das nossas conquistas da Guiné inferior, tinha
de ser completamente posta de parte. No regimento de Símão da
Silveira não havia corregedor, mas sim um letrado *pera niso vos
« ajudar . . . e em todos os jui\os, asy de feitos crimes, como cyvees, ora
«seja d amtrc a geente nosa que levaaes, como da geente de la da terra ,
« ser a comvosquo o letrado que levaaes: e, quando ambos nam fordes
« acordados, se eixecutara aquello em que vos asentardes. . .
Não sabemos se Álvaro Lopes explorava o D. Afonso; se o fazia,
era por forma que êste ainda ficava satisfeito e o defendia e elogiava.
Desses favores ou expoliações, nasceram os ciúmes do Diogo Fernandes,
que, de uma vêz, na presença do rei D. Afonso, espancou o Álvaro
Lopes. Jurou êste vingar-se, ameaçando-o de morte, o que cumpriu
pouco tempo depois (i) assassinando-o e indo em seguida refugiar-se
na igreja de S. Salvador, onde foi entregue a Manuel Vaz que o levou
para S. Tomé, não se sabendo quem o substituiu, nvn ao Diogo Fer
nandes, nos lugares de feitor e corregedor.
Estes e outros exemplos levaram o preto D. Afonso às suas costu
madas reclamações, e autorisaram-no a escrever «este rreyno a nossa
«fee ainda sam como vidro por máos emxempros que os homens que cá veo
« ensynar dar »(2) numa carta para D. Manuel, que resolveu por isso
encarregar Rui de Aguiar, vigário em S. Tomé, de ir ao Congo e
providenciar sôbre cousas de relegião, parece que sem outro resultado,
além de um novo pedido de paramentos e mais artigos do culto (3 ).
*
* #
(1) Carta de 4 de Março de 1S14 do rei do Congo para D. Manuel. História do Congo de
Paiva Manso. Doc. xv, pág. 34 a .36
(2) História do Congo de Paiva Manso. Doc. xin.
3
( ) O Ms. História do Congo, parte transcrita no documento I dos Anexos, termina com o
capítulo 29: Como el-rei Dom Manuel mandou a Congo por vigário ao padre Ruy de Aguiar, e
Antonio Vieira e Baltasar de Castro, seus creados». O copista interrompeu a copia deste capi
tulo quando começava a transcrever a carta que 0 padre Ruy de Aguiar escreveu a D. Manuel
relatando o que se passara no Congo: Saberá V. A. em como este Rey D. Afonso não tra\ o
sentido senão em Nosso Senhor e em suas pégadas: ordenou agora que todo o homem pagasse
dijimo. É possível que ainda se encontre outra cópia completa ou talvez 0 exemplar autentico
da História do Congo acima referida. Se assim suceder será tratado em nota êste assunto.
48 Angola
Quando Portugal e Castela regularam por meio de tratados e
si celebrados os descobrimentos feitos, as outras nações da E u r ^
por incompetência e inaptidão, desinteressaram-se do caso. u * *
a pouco e pouco, genoveses e flamengos, e depois holandeses, fr^5’
ceses e os outros, foram aprendendo a navegar até à Guiné
iam lá com os seus navios para o resgate. Já não era exequivel *
ordem de D. Afonso V aos capitães dos navios que iam à Guiné, para
tom arem os navios estrangeiros e deitarem as tripulações ao mar(i)
D . M anuel contentava-se em conservar como D. João II, no maior
segredo, tôdas as descobertas e informações da Africa, e em proibir
fazerem-se cartas de marear além do rio M anicongo (2), medida
platónica e que só teve como conseqüência erros para a geografia e
para a história.
A cobiça dos estrangeiros era agora excitada com as notícias que
por todo o muçdo se espalharam, das riquezas que tomáramos em
M alaca e das que nos advinham da sua p osse: o cravo das Molucas , a
n o i de B a n d a , o sandalo de Timor , a canfora de B orn eo , 0 ouro d e fy *
matra e do L eq u io , e as gommas, aromas , e mais mercadorias p eaosas
da China , do Japão , de Sião , de P e g ii , etc. além do que já tínhamos com
a posse de Gôa e de Ormuz.
A embaixada de Tristão da Cunha ao Pápa em 5 145 se mostrava a
nossa opulência, não deixava de mostrar também a todos os que assis
tiram a esse deslumbrante espetáculo, o desvario da nossa administra
ção, de que Afonso de Albuquerque já dera a primeira prova, quando,
embriagado pelos fu m o s da tomada de M aláca, mandara sair um bando
em elefantes ricamente ajaezados, espalhando às mãos cheias pelos
habitantes índios, nos intervalos em que se calavam as trombetas, as
novas moedas de ouro, prata e estanho, que estabelecia para os ne
gócios.
A tom ada de M aláca, enchendo de glória e riquezas os seus assal
tantes, provocou a inveja e, como conseqüência, a intriga dos que lá
não tinham podido estar. Por um lado, os inimigos de Afonso de Albu
querque, não podendo suportar a justa glória que o seu nome adquirira,
intrigavam-no com D. Manuel, levando o monarca a demiti-lo e subs
titui-lo pelos que êle expulsara da índia pelos seus crimes. Por outro
(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tom bo. Chancelaria de D. Afonso V liv 32fl 63 6 de
Abril de 14S0. ’ ' * ' ’
3
{2) Idem, Leis, maço 2, doc. n.° 12. i de Novembro de 1504.
■... <•
(•) Damião de Góis. C rônica de D . Atanuel, 4.* parte, cap. uv, A esta viagem de Gregório
de Quadra se refere também Cadornega na »D escripçam do reino do C o n g o e t c transcrita
por Paiva Manso na H istória do C o n g o , pág. 265.
Parte I— Zaire e Congo 31
a quall peço a vossa alteia escreva a elRey de comguo que carregue este W
descobrymenlo. . . (i).
Alguns obstáculos se devem ter levantado, pois que o projectado
descobrimento não se efectuou, pelo menos pelo rio acima, mas não foi t
pôsto completamente de parte e, em i 536 , Manuel Pacheco, tendo
passado pelo Congo, o rei D. Afonso o deteve por «que query mandar
fa\er dom braguantis acyma daquella quebrada que o Rio tem pera Eu
dar aviamento a se daly Ir descobrir o llaguo » c, como demorasse a
remessa de Portugal «de certos aparelhos e cousas para elo necesarias
que lia tinha mandado pedir a Vossa Alte\a » ocupou-o no cargo de seu
ouvidor, mas «tem elRey de comguo aguora Ja madeira llavrada pera
dous braguantis e dame muita esperança que este anno se ade fa\er ho
descobrimento do llaguo (2).
Nesta carta, Manuel Pacheco refere-se áquella quebrada que 0 rio
tem, o que prova que se sabia da existência das catawtas, onde anos
antes Diogo Cão tinha chegado, e refere-se ainda a serem os bergantins
feitos acyma da quebrada para que ele desse aviamento a se dally Ir
descobri) 0 llaguo, o que mostra o conhecimento que se linha da nave
gabilidade do rio Zaire além das cataratas e da impossibilidade de
transpor estas com embarcações, para o que a construção dos bergantins
se efectuava num ponto além delas e daí se iniciava a viagem, para a
descoberta do lago.
Para assim se poder organizar a viagem pelo Zaire, sem dúvida
alguma que devem ter sido feitos reconhecimentos por todo o interior.
Não sabemos onde chegaram êsses reconhecimentos, nem sabemos se
realizámos a viagem nos bergantins, mas o pouco que sabemos, é mais
que suficiente para mostrarmos ao mundo que não valia a pena
glorificar Stanley por ter feito, com os elementos que a civilização do
século xix lhe proporcionava, um pouco mais, senão o mesmo, que nós
fizemos quatro séculos antes (3).
Se Stanley passou no Yelala sem notar 0 imorredouro padrão que1
55
(1) Paiva Manso, História do Congo, doc. xxvni, pág. .
(2) Idem, Idem, doc. xxxvui, pág. 66.
3
( ) Em Le Congo, edição belga da narrativa de Duarte Lopes, publicada por Pigafeta, M.
Lepn Cahnn, no prólogo, escreve:
«Si Stanley, avant son départ, avait lu la même description de l Afrique imprimée en i 5ÿ8,
il eut été droit au Congo sans discutir et sans tâtonner, et eut suivi, en toute connaissance de
cause, ta route que le Portugais Edouard Lopes n'était pas le seul a pratiquer, bien longtemps :
avant lu i...
S i M. M. Serval et Griffon du Bellay, et après eux M. de Bra^a, lorsqu ils ont explore
52 Angola
Id deixámos, (jcomo poderia ele, ao lançar as primeiras fundações d
cais de Leopoldville, reconhecer que tinha sido ali a carreira
fizemos os dois bergantins? de
Que se chamem cataratas de Stanley em vez de «Diogo Cão», qUe
se chame Leopoldville em vez de «carreira de M anuel Pacheco », ^qUe
nos im porta, se não há povo algum no mundo, que, ao escrever, a
sua história, possa sentir, mais do que nós, o maior orgulho e o maior
desvanecimento pela nossa grande raça ? E é com a fôrça que nos dá o
valor dos nossos antepassados, que nós estamos fazendo hoje êste Por
tugal Enorme. É com esta fôrça que nós temos caminhado sempre para
a frente, apesar-de tôdas as contrariedades, apesar-de nos amesqui-
nharm os a nós próprios. É esta enorme fôrça que faz de nós, pequenos
em número e pobres em dinheiro, grandes e ricos em trabalho e perse
verança e nos permite manter por direito conquistado por essas duas
qualidades, o eiforme império colonial que temos, a-pesar-de tôdas as
intrigas e com binações para nos espoliarem, que se desfazem, não
porque seja impossível encontrar uma solução que satisfizesse a todos
as ambições, mas porque acima de todos êsses interêsses e tôdas essas
m aquinações, há um obstáculo invensível: — o que fizemos e o que
estamos fazendo.
Leopoldville! Stanley-pool! d-Que nos importa se hão-de lá estar
ainda, forçosamente, os vestígios do plano onde se assentaram as quilhas
dos dois bergantins e isso tem mais valor que os nomes geográficos?!
#
* #
58
l ’estuaire de l ’O g o -Q u é et l e Gabon, avaient étudié le v ieu x livre de i g . . . ils auraient connu
l ’emplacem ent des cataractes du C o n g o , que M . S ta n le y a signalés d e u x cent quatre vingt douje
ans après E d o u ard L o p e f, et en amont desquelles il fau t rep rend re la navigation interrompue
du fle u v e qui conduit d e l ’A tlantique au bassin du N il et à l ’ O céan Jndian. Malheureusement,
le s érudites que lisent le s v ie u x livres ne voyag en t g u è r e , et les voyageurs qui vont étudier di
rectem ent l e terrain ne lisent p as.
Parte I — Zaire e Congo 5ò
(i) O Padre Francisco de Santa Maria no Céu aberto na terra escreve: «Tres anos depois
58 5
(refere-se a t o e portanto i u) houve terceira missão, em que forão acompanhando ao prin
cipe D. Henrique, quatro conegos nossos, Fernando de S. João, Bartolomeu de S. João, António
de S. João, e por prelado Sebastião de Santa Maria, dos quaes só este ultimo voltou, etc.». Há
manifesto engano na data, pois que não só em lõii o filho D. Henrique não era ainda Bispo,
52
como em i de Fevereiro de i o, ainda não tinha partido para o Congo, como se vê da carta
de D. Manuel, para D. Miguel da Silva, seu enviado a Roma, obter a bula da dispensa de idade
em que diz ae queryamos que fosse faqer fruyio aos Reynos de seu pay, o qual com muyia
yustancia nolo tem enviado pedir por ser já velho e desejar de ho ver frutificar em seus dias na
christandade». História do Congo, Paiva Manso, doc. xxm pág. 47.
54 A n gola
dos mulatos (i 5 1 5 e 1 5 17), outras se tomaram com respeito ao resgate;
à melhoria de administração fiscal; à ampliação do foral da povoação,
que foi elevada a cidade, c ao desenvolvimento da acção religiosa,
criando novas dignidades e assegurando-lhes melhores ordenados e
prebendas.
Para o Congo não havia modificações porque não podia ser outra
cousa além do depósito de negros para as necessidades da mão de
obra, que os colonos de S. Tomé tinham organizado e que assim con
tinuaria na sua exclusiva dependência.
O s p ortu gu eses residentes no C ongo não se conform avam com essa
s itu a ç ã o de d ependência e levaram o D. A fonso a protestar, sugerin
d o -lh e a idea do engrandecim ento do seu reino. Assim o vemos,
à m ed id a que as relaçães com P ortu gal se tornaram m ais íntimas,
p ro p o r a D . M anuel «m andenos d a r a ilha p o is he su a , maneira que
com e lla terem os^ m u ito descanso e nam cu id e sualte^a qu e lha pedimos
p o r n en h u m resp eito , se nam p o r com e lla a crecenta rem os a crystandade ,
p o r q u e sua lte^ a sabra q u e hos m oços nam p o d em aprem der também onde
tem s u a s tnays e p a y s, como apartados d e lle s e, p or este respeito , manda
rem o s h u m hom em d e 1toso sa n g u e e sualtcça m anda hum p a d te bom e
v e r tu o so , p era q u e am bos regam a dita ilha , p rin cy p a lm ente no espintoal e
d esp ois no tem p ora ll etc.» (i), ao que D. M anuel nunca lhe deu resposta,
e êle passou tôda a vid a a protestar contra os males que fazia a gente
da ilha.
D epois do falecim ento de Sim ão da Silveira, vem os o preto D. Afonso
nom ear os feitores e os corregedores, e parece que D. Manuel, porque
nunca considerou o Congo senão como um estado suserano e para não
com p licar a situação com S, T om é, lhe confirm ou a faculdade de poder
escolher, entre os portugueses lá residentes, aqueles que deveriam
exercer os diversos cargos. Mas essa organização administrativa era
tô d a dêle, rei do C ongo. G uiado pelos portugueses, o preto foi tomando
um a relativa independência de S. T om é e, depois da sentença contra
João de M elo e reversão de S. T om é p ara a C oroa, essa independência
m ais se salienta, sem contudo poder ser tom ada com o rebeldia,
p assan d o a corresponder-se oficialm eníe com autoridades administra
tiva s e judiciais, em vez de lhes dirigir as cartas humildes dos primeiros
tem pos, acom panhadas de presentes de p eç a s e manilhas, para que o
atendessem .
,jr ,jr
56 Angola
« obrygar, por muytos rrespeytos de que nos m uy certificado somos,
« prinçipallm ente por que a elles tiam pertemçe o tal! cuydado, polia pouco
«parte que ueste Reino tem. O quall he tam por tu gês e tam leal a
« nosso serviço , como esse proprio que V. A . de direito sobre deo e se
« g u a r d a , porque em nos nam ha lugar a jm gratidam e ssomos em perfeito
« conhecym ento dos muytos benefiçios espirituaes e corporaes por nos
« rrecebidos, e nam he em nos tamto esqueçimento que nam estimemos mais
« os agrauos da nossa própria e verdadeyra m ãy , que os comtrafeytos e
«jm fig idos mytnos da fa llssa madrasta , ajüda que todos em huma fe e e ley
« conform es sejamos, etc.» (i).
Faltava-lhe o poder fazer padres e se os tivesse podido fazer, como
fazia feitores e corregedores, outra teria sido, talvez, a história do
Congo.
Não era por o esquecermos, que lhe não mandávamos os padres.
As relações conj o Congo iniciaram-se e mantiveram-se, emquanto
pensámos que pelo Zaire se poderia chegar ao Preste João. Mas êsse
problema resolvera-se pela Etiópia Oriental, depois duma luta de anos,
duma tenacidade assombrosa, de sacrifícios e heroísmos inconcebíveis,
conseguindo D. Rodrigo de Lima avistar-se com o rei da Abissínia e
trazer Zagazabo como seu embaixador. O Congo perdera assim o
interesse maior, o que não significava que fôsse desprezado ou aban
donado, como não podería ser o filho que confessava, entre lamenta
ções, que, a-pesar-de tudo, preferia os agravos da própria e verdadeira
mãe, aos fin g id o s mimos duma madrasta.
É que tínhamos ido muito longe nas descobertas e conquistas,
e lutavamos como nunca nenhum povo foi capaz de lutar para as man
termos. Lutavamos em toda a terra então conhecida.
Já não era só a Mina. Era tudo, desde Sagres ao Cabo e do Cabo
ao Suez, a Arábia, a Pérsia, a índia, a China, o Japão e a Oceania, e(i)
(i) Arquivo Nacional da Torre do Tom bo. Corpo Cronológico, parte i.*, maço 34. Doc.
n.° 127. De 25 de Agosto de i 526. Está no índice com a referência: <Manicongo (Rei de).
D. Afonso. C arla dando parte a E l R e y enviar nove fra n ceses de do^e que aprisionara, ficando
os tres p elas partes de que eram dotados». Passou despercebido ao Visconde de Paiva Manso e
desconhecido até ao presente, tendo um alto valor pela declaração do primeiro rei do Congo,
de que o seu reino era tão português como o próprio Portugal. Vide Anexos doc. n.° 8.
32
Em outro documento da mesma data (Corpo Cronológico, parte 1.*, maço , doc. 99) e a
cujo assunto, talvez êste, com as suas doces palavras, servisse de preâmbulo, o Rei do Congo,
tendo-se esquecido , entre tamto servyço de D eus , pede a D. João III para prover o filho ao bis
pado do Congo, e mandar-lhe o sobrinho D. Afonso, que havia muitos anos estava em Portugal
a estudar e lhe constava ter-se ordenado, para seu coadjutor. Anexos, doc. n.° 9. Não foi men
cionado pelo Visconde de Paiva Manso.
vxßT--'1~
I
58 Angola
jubão de « conlray fr y s a d o », debruado de veludo e pespontado a seda,
com bandas de tafetá e barras de veludo, e calças de pano Royxl
davam pe, e outras darmentym pretas davampe , tudo numa arca, mas já
ia longe o tempo em que se contentava com presentes de fato e garrafas
de vidro, como lhe mandava o Fernão de M elo; não era isso o que êle
agora queria, mas sim padres, pelo menos cinqüenta, para distribuir
pelas diversas províncias do seu reino, e poder assim o filho D. Henri
que, Bispo de Utica, que então já lá estava, percorrê-las devidamente
acompanhado, sem os receios que m anifestava, com o bom pai «nos
« tememos de nollo matarem com peçonha o qu e seria p a ra nos grande
«■ door e sentymento e nam vyviryamos apos elle m uito, etc.» (i).
Pensava o rei do Congo com a acção religiosa conter os desregra
mentos provocados na sua gente pela nossa ocupação comercial, que,
tendo-se espalhado por todo o interior, com lojas fornecidas dos
principais artigcfc ao gosto do gentio, dava lugar a este fugir da cidade
para os locais onde essas lojas estavam, para mais fàcilmente adquirir
êsses artigos com a moeda de que podia dispor, — outros negros que
faziam cativos, deitando a mão aos que encontravam , sem quererem
saber se eram ou não livres, e chegando por vezes a agarrarem os
filhos dos fidalgos e os próprios parentes do rei.
Queixava-se êle de que os comerciantes, aceitando como escravos
todos os negros que os outros lhes levavam para a permuta, não
só lhe despovoavam o reino, mas davam lugar, perante as reclamações
que dos seus recebia, a não tomar o devido procedimento, mandando
soltar os negros livres, porque não queria molestar os brancos, e
assim, para obviar a estes inconvenientes apossem os p o r ley que todo
« homem bramco que Em nossos rreynos E ste u e r e conprara peças por
« qualquer tnaneyra que seja, que primeiro ho fa ça ssaber a tres fidallgos
« e oficiaes de nossa corte em quem Este casso com fyam os, a saber a
« dom pedro manipawça E a dom manoell manissaba nosso merinho mor
« E gonçalo pires nosso armador mor pera verem as ditas peças se
«ssam catiuos se forras e ssemdo p er elles despachados ao diante
«nam teram nenhuuma duvyda nem E m bargo e as poderam leuar e
« Em barquar »(2).
Pedia, então, o preto D. Afonso, a D. João III, « d o qu e deste casso
« lhe parece recebermos muyta merce nollo emviar di\er p e r sua carta , etc,*
2
(0 5
História do Congo, Paiva Manso, doc. xxvi, pág. o a 52.
56 58
(2) Idem, idem, doc. xxrx pág. a .
Parle I— Zaire e Coup 5p
e não consta de documento algum que D, João III lhe manifestasse 0
seU desagrado ou determinasse aos feitores a revogação da ordem.
A condição de escravo era um estado social da época e não o
Revemos ver com o espírito de quatro séculos depois. O que temos
que apreciar é o facto do respeito que nos merecia então a liberdade
individual e que tão injustamente temos sido acusados de oprimir (i).
Não esqueçamos que o rei do Congo, embora inteligente, e com uma
base de educação, era guiado e assistido por portugueses, que cie
escolhia para os principais cargos do seu reino, e que a medida por
êle tomada, lhe foi sugerida e indicada por algum dos nossos que
ocupava um dêsses cargos, talvez o Gonçalo Pires, a quem êle se
refere como sendo o seu armador-mor, cargo que devia corresponder
ao de chefe de serviços de marinha de hoje.
Nem só a falta de padres preocupava o rei do Congo. Ele queria
educar e civilizar a sua gente e estava convencido d# valor da nossa
civilização e, das vantagens que dos nossos usos poderia usufruir,
e por isso pedia também físicos, boticários e cirurgiões, porque,
com a falta dêsse amparo morriam muitos dos já cristãos, mas
«a outra gemte pella mayor parle se curram com emas e paõos e outras
«maneiras de sua antiguidade, os quaees se uiuem nas ditas entas e
«cirymonias poem toda sua cremça e sse morem creem que vâao ssalluos
«e que he pouco serviço de deus», e ainda insistia para que lhe man
dassem pedreiros e carpinteiros, para poder acabar os edifícios que
tinha começado, e entre outros a igreja de Nossa Senhora da Vitória (2),
0 que D. João III lhe satisfez (3), talvez devido aos bons ofícios de
Jerónimo Leão, criado da Rãínha D. Leonor, outro português que
residia alguns anos no Congo, dos quais sete ao serviço de D. Afonso,
e a quem êste fazia as melhores referências, pedindo a D. João III que
o tornasse a mandar e lhe desse todo o crédito e aceitação nas cousas
que lhe contasse, « deste Reyno e partes da tiopia, porque delle melhor
«que doutra pessoa que a ellas veesse pode com verdade seem informado
«asy polia antyga experiencia que da terra tem, como por seu saber e
«despriçam seer pera yso ssoficiente».
(1) V ide referên cia a n terio r a medidas de liberdade de escravos e escravas determinadas
por D. M anuel para S. T o m é .
(2) V ide A n exos, d o c cit. Ravenstein na nota a pág. 109 do seu livro já citado, relaciona
várias igrejas co n stru íd as depois da de Vera Cruz, mas nenhuma sob a invocação de Nossa
Senhora da V itó ria
3
( ) Arquivo Nacional. Corpo Cronológico. Parte i.*, maço 38. Doc. m, de 26 de Janeiro
de 1528.
Angola
Náo conseguindo ter padres em número suficiente para educarem
os seus parentes e se espalharem pelo seu reino, resolve mandar um
grupo dos seus para Portugal, uns para aprenderem a ler e escrever,
outros para receberem ordens menores e ainda outros para irem a
Roma « e darem f f é das cousas ssamtas e boas que llá virem c as aprem -
« derem e deserem aos que as vystas nam tem ; » aproveitando a ocasião
para repisar queixas antigas contra um António Vieira, a quem, ainda
no tempo de D. Manuel, confiara vinte moleques para serem educados
em Portugal e de que êle se foi desfazendo na viagem, deixando uns
nos Pangelungos, outros em S. Tomé, chegando a Lisboa só com dez,
dos quais não tornou a ter notícias (i).
Aqueles parentes que êle indicava para irem a Roma, deviam acom
panhar a embaixada que resolvera mandar ao Papa Paulo III, prestan
do-lhe a sua obediência.
A civilizaçã# trouxera-lhe modos de ver e de se conduzir, bem
diferentes dos doutras épocas. Quando foi da sua subida ao trono,
D. Manuel, porque tinha um fim político a atingir, convenceu-o a
mandar uma embaixada ao Papa, oferecendo-se para pagar as despesas,
e, agora, depois de passarmos dezenas de anos a ensinar-lhe cerimónias
da côrte, a incutir-lhe que êle era um principe cristão como os outros,
que por ser rei, era parente com tratamento de irmão do nosso rei;
que, como êle, tinha o direito de usar títulos: p er gi~aça de deos R ey do
« Comguo e Ibumgu Cacomgo e Agoyo daquem e dalem a^ary Senhor
« dos ambundos damgolla daquisyma e musuaiiru e de matamba e muyllu
« e dos angicos e da comquista dopau\o alaumbu, etc. não o convidámos,
nem nos oferecíamos para as despesas.
Noutro tempo, êle mandara os seus principais e D. Manuel se
encarregara de os vestir e educar para irem a Roma, sem que lhe
passasse, então, pela mente a despesa a fazer e sem mesmo saber o que
significava a despesa. Agora, a civilização, ao par que lhe criara
a necessidade de, por vaidade e por interêsses políticos, se ostentar
como pessoa importante, ensinara-lhe o valor do dinheiro, que êle
não tinha, mas apenas os búzios da ilha de Luanda, que não corriam
na Europa e que de nada serviam aos seus embaixadores, a quem já
não classificava de principais da sua terra, mas de fidalgos, e a quem
tratava por duques e condes.
,
( i) História do Congo Paiva Manso, doc. xl , pág. 70.
Parte I— Zaire e Congo 61
4 i
\
t t
ma «
Ó2 Angola
que enviava para Portugal, até que, nos últimos dias do seu reinado,
termina pela acusação a Fr. Álvaro, o nvertuoso padre frey Álvaro»,
corno êle ironicamente lhe chama, que ordenara num dia de Páscoa, a
sete ou oito homens brancos com espingardas, que na ocasião em que
êle estivesse na missa fizessem fogo para o matarem, no que era coni
vente um outro português, Álvaro Pessanha, que se vira obrigado a
expulsar do Gongo (i).
*
* *
P a r te I — Z a ire Congo
63
; \
64 Angola
do escravo, mais nos seduziam, dando lugar a que loucamente nos
lançássemos na sua pesquisa.
Baltazar de Castro, que, quando foi para Angola, ouvira falar
na viagem de Gregório de Quadra pelo Zaire, ainda se refere a essa
exploração, na carta que do Congo escreveu a D. João III, mas já não
era o Zaire o que mais nos interessava. O que queríamos eram as
ricas e fabulosas minas de prata, chumbo e cobre, a que alguns se
referiam em segrêdo contado a muitos, e espalhado até chegar a Lisboa,
o que levou D. João III a mandar Rui Mendes, indivíduo entendido em
minério e que nisso negociava em Portugal, na Fiandres e na Alemanha,
para o Congo, como feitor das .minas, levando consigo, além de fundi
dores, ferramentas e mais material necessário.
Escandalizou-se o rei D. Afonso com a chegada de Ruy Mendes
para tratar das minas, e logo «em sua corte demtro em seus paços man-
« dou fa\er fornalhas e asemlar temdas, homde se fundio a vea ssobre
«que lia escreveo a Vossa Altera e lhe tem lia mandado amostra asy
«do que se fundio como da vea » e resolveu mandar os fundidores às
minas de cobre e chumbo e «seu desejo he folguar ter com que syrva
« Vossa Altera e porem esta tam medroso de ouvyr dt\er que Vossa Al-
« te\a senhorea a Imdea e que hotnde ha ouro ou prata ally manda lloguo
«fa\er for/elejas que algüas ve^es mo tem dado em Reposta ao que lhe
« Requeiro » (1).
Parece que Rui Mendes não achou as riquezas que se apregoavam
e retirou para Lisboa sem que as minas entrassem em exploração, como
ainda não entraram até hoje, o que prova que era entendido no assunto,
mas não pensavam do mesmo modo os seus fundidores e, entre êles,
um alemão, Gimdarlache, que se deixou ficar no Congo, depois do seu
regresso e que, depois de várias viagens, taes cousas contou a Gonçalo
Nunes Coelho, que no Congo residia de há muitos anos, e desempe-
nhára os cargos de ouvidor, provedor e escrivão do rei do Congo, que
êste «por me parecer cousa Imposiuell lhe dei Juramento se 0 que de{ia
« 0fa ria cen o. . . o qual me certificou que era moor 0 proveito de cobre
«chumbo e prata que a Remda de toda espanha » (2).
Foi esta opinião do alemão Gimdarlache, que ficou prevalecendo e,
com o andar dos tempos, avolumou-se o valor das minas e estas12
(1) História do Congo, Paiva Manso doc. xxxvn pág. 66, e Luciano Cordeiro, Memórias do
Ultramar.
(2) Idem, idem, doc. xu, pág. 72.
Parte 1— Zaire e Congo 65
deram-se por todo o Congo e Angola, passando, a-pesar-de tantas
eStelR]sóes sofridas pelo que se julgaram ricos com as suas descobertas,
^sèr a constante preocupação de novos sertanejos que foram vindo e
até de muitas das nossas autoridades.
*
* *
(1) Carta de D. Diogo, rei do Congo a D. João III *despoes da morte delRey meu ssnhor e
am. Paiva Manso, doc. xlvui, pág. 83 .
(2) Vide Anexos doc. n.° 10. Lista dos Reis do Congo segundo Ravenstein.
9
66 Angola
trinchante e resposteiros, etc., ao passo que êle apenas levara uns
coadjutores e talvez uns fâmulos, que em pouco tempo desaparecera^
e não pôde renovar.
A certa altura scntiu-se deprimido. Não exercia sôbre os da sua
côr, o domínio c persuasão que exerciam os padres brancos; não tinha
dos padres brancos o respeito devido à sua dignidade e hierarquia(i).
Por outro lado, o pai, como D. João III lhe não enchia o Congo
de padres, — cinqüenta lhe pediu duma só vez, começou a amuar-se,
a queixar-se de que o abandonavam, que já não tinham consideração
para com êle, mas orgulhoso do engrandecimento que nós tínhamos
dado ao seu reino, aceitando que era tudo por êle e para êle; conhe
cendo pelas histórias cheias de fantasia que os nossos, aos serões, lhe
deviam ter contado, o que era a vida da Europa e na índia; conven
ceu-se de que, na verdade, era um rei e que o filho, sendo um bispo,
tendo estado em*Roma, conhecendo cardiais e outros altos dignatários,
era uma pessoa de alta importância e vítima, também, da pouca
consideração que êle julgava que a D. João III mereciam os assuntos
da África.
Soube que falecera um Papa e fôra eleito outro e disseram-lhe,
talvez o filho, que os reis católicos tinham por costume prestar
obediência aos novos pontífices. Recordava-se que D. Manuel, quando
o fêz rei, lhe mandara um papel para assinar, que era uma dessas
cartas de obediência e via que D. João IÍI nada lhe dizia sôbre o
assunto. O despeito atormentava-o, feria-lhe a sua vaidade. Era»
sinceramente, um crente, um cristão católico, apostólico, romano, rei
dum grande e rico país, ,1porque motivo não cumpria os seus deveres
para com o Sumo Pontífice?
E resolveu, então, mandar uma embaixada a Paulo III, com uma
carta, que, se atentamente a apreciarmos, é um documento da sua re
beldia, porque, propositadamente, êle não quis copiar a anterior, que
mandara no tempo de D. Manuel e em que confessava que sendo enga
nado p elo demónio, adorando ídolos, D. João 11 e depois dele D. Manuel,
o apontavam divinalmente de tamanho erro , e deu-lhe uma redacção
diferente, em que não há a menor referência a Portugal, quando natural
(1) Ravenstein, obra citada, diz que o Bispo de S. Tomé, D. Diogo Vilhegas, que o tinha
ordenado quando esteve em Roma, nos seus últimos momentos, manifestara o desejo de que
lhe sucedesse na cadeira episcopal e que o Papa, antes de lhe satisfazer o desejo e porque se
tratava de um nativo, quis vê-lo e ouvi-lo, pelo que D. Henrique seguiu para Roma, falecendo
na viagem em i 53$ ou antes.
Parte I— Zaire e Congo ó7
seria, querendo mosirar os progressos da fc católica no seu reino, que
se referisse à acção dos padres portugueses e dos reis D. Manuel e
D. João III.
ãSoube D, João III dêste facto e não lhe ligou importância? Talvez
não soubesse, porque anos depois, em 553, também não soube que o
rei D. Diogo I, que então governava o Congo, queria prestar obediência
ao Papa, e foi por uma carta do comendador-mor D. Afonso, de Roma,
que teve disso conhecimento.
Como se poderiam conseguir as relações entre o Congo e Roma sem
o intermédio de Portugal, são mistérios da política da época, mas o
facto de se ter realizado uma vez com sucesso, leva-nos a poder
admitir que já anteriormente se procedera da mesma forma, porque, no
que se não pode acreditar, é que a corte de Lisboa sancionasse tão
manifesto desrespeito, e o encarasse como simples manifestação de os
tentação e vaidade, não lhe ligando maior importância^ quando, pouco
antes, era por intermédio de um seu embaixador especial, que fazia
chegar até junto de Clemente Vil, o padre Francisco Álvares com as
notícias do suposto Preste João.
Durante trinta e cinco anos do seu govêrno, o preto D. Afonso
enviou para Lisboa, quási todos os anos, pretos para serem educados e
além dêstes, outros vinham e voltavam com portugueses, constituindo
todos uma camada de civilizados, onde entravam muitos letrados e
outros com parte dos conhecimentos então exigidos para padres e que
não tinham chegado a receber ordens, que não viam de bom grado,
não a subordinação do Congo a Portugal, porque, realmente, não se
podia dizer que existisse, mas o facto dos portugueses disporem do seu
reino como dêies próprios, negociarem e percorrerem todo o país e os
vizinhos, onde tinham verdadeiro domínio.
Por outro lado sabia-se no Congo o que se passava em S. Tomé.
A pequena povoação que os portugueses tinham estabelecido, já fôra
elevada a cidade; tinha uma Sé Catedral, um bispo, cabido, etc., e uma
agricultura desenvolvida, que fazia a riqueza dos proprietários.
Transformara-se num importante centro de comércio e navegação,
suplantando a Mina e tôda a Guiné, e do seu porto irradiavam pára o
sul os navios, não se contentando já em irem negociar e resgatar
escravos ao Congo, mas até Luanda e para além Quanza, o que preju
dicava o negócio do Zaire.
Se pelo lado do rei do Congo a situação era esta, pelo lado dos
portugueses também não era melhor.
68
Angola
Desde que em lugar do delegado do rei de Portugal, assistindo ao
rei do Congo, e dirigindo os portugueses que lá residissem sem a menor
intervenção daquele, se criou o de feitor, e depois se deixou que 0
preto os escolhesse e nomeasse, como seus empregados, a quem
pagava para dirigir os portugueses, os factos deviam tomar, fatalmente
a feição que tomaram.
Se a grande maioria dos feitores, por educação e patriotismo, se
soube conduzir no seu lugar, alguns houve que o não souberam e, no
desejo de benesses e proventos, procuravam agradar ao preto, com
prejuízo dos seus compatriotas.
Quando de Portugal não atendiam a pedidos do rei do Congo,
incutiam-lhe que era em S. Tomé que interceptavam a correspondência,
facto que, na verdade, por vezes se deu. Depois atribuíram a intrigas
dos que estavam no Congo, em cartas que escreviam para o rei,
costume muito «osso desde o princípio das conquistas e que os reis
consagraram, respondendo por vezes aos mais humildes e sem categoria
para prestarem informações, o que os colocava na dúvida sôbre a
verdade dos factos, decidindo-se na maioria dos casos, por acreditarem
que todos tinham razão, sem que contudo os punissem.
Os feitores, para se defenderem, aconselhavam o rei a que estabe
lecesse a censura na correspondência que os moradores mandavam
para Portugal e, como não havia correio organizado, mandavam espias
a sítios certos, por onde deviam passar os portadores das cartas, para
lhas apreenderem «por que nesta terra ham p o r moor erro espreuer a
«vossa altera que fa \ e r huum gram de crime e Aesta caussa tem guardas
anos portos e pasageens da qui ate sonho que sam quaremta legoas, e
«todallas cartas que vaão pera o Reino e Ilha e dela vem see tomam
a e tracem a Sua R ea l Senhoria (era o preto rei) eperdoe deus A quem em
atam errado auiso o meteo. . .» (i).
Se o conteúdo das cartas desagradava, seguiam-se as vinganças
com inquirições e castigos, que iam até à confiscação de bens.
Deram-se êstes casos precisamente com o último feitor que serviu
com o preto D. Afonso, Fernão Rodrigues Bulhão, o que motivou o
protesto dos negociantes portugueses que residiam na capital, em
número de sessenta ou setenta, que ameaçavam retirarem-se se não
fôssem tomadas providências.
#
# #
(i) Synopsis Annalium Socielatis Jesu in Lusitania ab anno 1540 usque ad annum
Authore R. P. António Franco Societatis ejusdem sacerdote. Ano m dccxxvi — In Lusitania
Ano 1547 Nostri in Congo praedicant pág. 22.
Parte 1— Zaire e Congo 7l
«ando as suas relações pelo interior, trazendo desde Angola até ao
2aire, para embarcarem no Pinda, os seus escravos e mercadorias,
sobrecarregados para a venda, com as despesas duma tão longa
viagem.
Naturalmcnte, surgiu aos de S. Tomé a idea de evitarem êsse
encargo, procurando um pôrto da costa, mais próximo do local do
resgate, e, primeiro no Ambris, depois no Dande, chegaram ao Quanza
c ainda mais para o sul, pondo lá feitores seus ou aproveitando os que
tinham no interior do Gongo, prejudicando assim os comerciantes esta
belecidos no Pinda.
A princípio, a cobrança dos impostos correspondentes a todo o
movimento comercial da Mina e Congo centralizava-se em S. Tomé;
mas, desenvolvendo-se o Congo, reconheceu-se, a necessidade de
arrematar em separado os seus impostos e, embora não se encontre
nos arquivos qualquer auto dessas arrematações, (i)* não nos deve
restar dúvida de que, de certa época em diante, elas se fizeram,
porque o rei preto D. Afonso, numa carta que escreveu a D. João III
em 1540, a propósito dos pilotos dos navios já não 0 procurarem,
nem quando chegavam, nem quando partiam, diz «nom sey se 0 causa
«ter vosa altera 0 trato arrendado» (2), mostrando bem que até ali o
não estava.
Devia haver, pois, dois arrematantes, um em S. Tomé, outro no
Congo, mas este cerceado nos rendimentos que lhe deviam dar os es
cravos e mercadorias exportados pelos portos que os navios de S. Tomé,
exploravam, estabelecidos em mais de trezentas milhas da costa.
Avalia-se bem o prejuízo que daqui advinha para êle e para os portu
gueses estabelecidos no Congo, o que os levou ao protesto.
Os negociantes queixaram-se e 0 feitor eo corregedor encaminharam
a solução para que o preto D. Dtogo mandasse proceder a uma inqui
rição, da qual se averiguam os prejuízos sofridos pelos diversos expor
tadores e, entre êles, Jorge Vaz, padre da Companhia de Jesus, que
pouco antes tinha chegado e já ficara com sessenta ou setenta peças
por embarcarem (3).
*
* *
(1) História do Congo, Paira Manso, doc. lii, pág. 91, 28 de Janeiro de 1549.
55
(2) Idem idem, doc. l v i , pág. 99, março 1 o.
i
<
Parte 1 —Zaire e Congo
f
0 âo, lhe Pe^‘a ^ue mandas$e fazer uma devassa para se averiguar
das cousas de que o acusavam (1).
* •
ari"
*
As queixas enviadas para Lisboa, quer pelo capitãoraor de S. Tomé,
Barros de Paiva, quer pelo preto D. Diogo, não tiveram a solução que
deveriam ter (2).
Era fácil concluir-se delas que a pretendida rebeldia do preto rei do
Congo era apenas a luta entre os nossos. O rei do Congo não era
mais do que uma das muitas ficções, de que sempre usámos e ainda
usamos, com que encobrimos as nossas lutas pessoais e de interêsses.
Preferíamos, em vez de denunciá-las claramente, convencermo-nos de
que, na verdade, existia um preto que se permitia ter ê atrevimento de
se dirigir em termos desrespeitosos ao nosso rei e que mandava cortar
as orelhas, mãos, etc., aos nossos, quando afinal 0 preto apenas servia
para, em nome dêle, um grupo governar e perseguir outro (3).
Em Lisboa preferiam dar ao caso foros de acontecimento para ser
tratado entre monarcas, 0 de Portugal e 0 do Congo, e êste, seguindo
nesta orientação, procurou habilitar-se com os documentos legais para
í
as suas reclamações e mandou proceder a uma devassa (4) sôbre o
crime de traição praticado pelo seu tio D. Pedro, por êle destronado,
documento que é interessante, porque revela da parte de quem o
sugeriu e de quem 0 organizou, 0 tal respeito pelas ficções, pois que
nêle não há a menor referência aos verdadeiros instigadores do preten
dido crime de traição, e tudo se passa entre pretos, como se fossem só
êles a manobrar todo aquele trama. Fecha a devassa com a junção
de uma carta apreendida ao preto D. Afonso e por êle dirigida a um
parente D. Rodrigo, homisiado em S. Tomé.
Da leitura da devassa e da carta do capitão mór de S. Tomé,
(1) Arquivo Nacional da Tône do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.*, maço 82.
doe. 48: Não publicado por Paiva Manso. Anexos, doc. n." ii.
{2) Mais tarde, em 1610, deram-se casos idênticos no Congo a propósito do estabelecimento *
de uma fortaleza no Pinda, e os governadores do Reino, então, resolveram-no mandando
chamar a Luanda todo 0 clero que estava no Congo, sem fazerem constar os fins, e prendendo
e mandando para 0 Reino 0 confessor do rei do Congo, um padre mulato, Diogo Rodrigues
Pestana, deão da Sé do Congo.
( 3 ) «Nil novi sube sole».
(4) História do Congo, Paiva Manso, doc. lvu, de 10 da Abril de i 55 o, pág. tot.
76 Angola
B arro s de P a iv a co n clu i-se que o preto D. P edro procurava re-haver 0
trono que lhe fôra tira d o pelo D. D iogo e p ara isso tinha reüniões
se rea iza va m na igreja. Um dos padres desconfiou das conversas
co n fesso u um dos im plicad os e in du ziu-o a «que descobrise tudo a suà
« Real Senhoria, porquanto erra caso de traiçam e toquava e Sua Reai
«pesoa » (t).
P re sa a m aio r parte dos conspiradores que estavam no Congo, 0
D . P e d ro refugiou-se na igreja, a p roveitan d o o p rivilégio do coito, que
tínham os transferido para as con qu istas e, o outro, D. Rodrigo, fugiu do
C o n g o e veio a L isboa, donde D. João III o m andou para S. Tom é (2),
e aí, subsidiado pelos seus, bem tratad o e em liberdade, tratava dos
negócios do D. Pedro, que lhe recom en dava procurasse obter uma bula
do P ap a reconduzindo-o no trono: « Irmam, eu vos emcomendo não vos
« esqeçaees de nos, vos a muito tempo que estaees lia e em vos esta toda
« ajuda pera nosfipera vos serdes hum tam mao homem. Ja não atentemos
« a perda de nosa geração, pois Inda vos estaees asim e não temos oulra
« esperança se não em vos, por que vos estaees na parte da verdade, nos
« cuidamos que vos mãodaseis ya a ellRe de portugall que mãodase a
« Roma pera nos soquorrer com huma santa bulia pera tirar aquelle tredor
«porque este tredor não tem outro medo se nam da bulia... Jamais agora
« elle tem mãodado a Roma hum homem branquo a buscar huma bulia
«pera quando vier a bulia matamos a todos gerallmente » (3 ), e êle, se
não conseguiu a bula, conseguiu que Barros de P a iv a escrevesse a
D. João III, aconselhando-lhe a não m andar os navios ao rei do Congo
m as àqueles, sempre mais ou menos rebeldes, que êle contava entre os
seus vassalos e que, com o auxílio das relações directas connosco,
tom ariam im portância e prestígio em detrimento do D. Diogo, que
veria o seu reino perder em unidade e engrandecim ento.
Confirm a-se por esta carta o que já por factos anteriores se sabia
55
(1) História do Congo, P aiva Manso, doc. l v u , de 10 de A bril de i o, pág. 101.
(2) Na Bibl. Nac. Reservados. C olecção Pom balina, n.° 647, sob o n.° 6. Papel avulso de
noticias, etc., lê-se a fl. 16 v. á m argem : Alvaras — Dom Rodrigo parente dei R ey do Congo
« fq y mandado p or el R e y Dom João a ilha de São Thome até se ordenar delle outra cousa, da
a qual ilha 0 dito Dom Rodrigo quis fu g ir para Congo, e f o i tomado no caminho, por outro
« navio que o capitão da ilha mandou, e porque desta fugida se segurarão inquietações no Reyno
do C ongo, o dito R e y mandou pedir ao de P ortugal que castigasse Dom Rodrigo, mandael
« R e y se tire devassa da dita fu g id a e do que nella passou, e se lhe mande serrada, e sellada
«para faqer o que lhe parecer ju stiça por alvará dei R e y feito em Lisboa a outo de março
«de i 56o.
55
Deve ter havido engano na referência à data dêste A lvará, que deve ser i o.
3( ) C arta apensa à devassa, e apreendida ao D. Pedro, já referida.
Parte / — Zaire e Congo 11
com respeito à facilidade de relações dos pretos reis do Congo com a
Santa Sé, e à convicção em que estavam de que o Papa tinha no seu
reino mais poder que o rei de Portugal e que, por uma simples
bula, podia depor o seu rei e nomear outro, ao passo que as cartas
e exortações do rei de Portugal e dos seus delegados, não tinham
diais que o valor de um conselho, sem obrigação de ser acatado e
seguido. *
A denúncia de que o D. Diogo mandara a Roma um homem branco
para obter uma bula em determinadas condições, tem algum funda
mento.
O comendador-mor D. Afonso, em uma carta que de Roma enviou
a D. João III, dizia: e depois me veo dar conta Jacome da fonseca que
«hum que nesa corte de Vossa Alte\a fa\ as cousas delRey de Congo
«lhe mandaua procuração para dar obedientia em seu nome ao papa
«eu lhe dise que não fizese nada até Vossa Alteia otaber e ordenar o
« que for seu serviço, etc.» (i).
Entre os poucos documentos que ficaram nos arquivos nacionais,
apareceu uma minuta de uma carta de obediência de D. Diogo ao Papa
Paulo III, minuta que servira para outra carta do preto D. Afonso com
o mesmo fim e que tem as duas datas — 1533 e 1547— . Não se pode
afirmar se o preito de obediência foi prestado nessa ocasião, como
também se não sabe qual a resposta de D. João III ao seu mordomo-
-mor em Roma, sôbre 0 assunto, mas 0 que se vê é que havia hum que
nesa corte de Vossa Alte\a fa\ as cousas delRey do Congo, que mandava
dizer a Jácome da Fonseca para prestar obediência e que o facto não
passou a êste por muito natural e corrente, e foi pedir instruções ao
comendador-mor sôbre a sua execução.
O procurador do rei do Congo devia talvez ser Ambrósio de Azevedo
e, se não conseguiu as bulas que 0 D. Pedro dizia que êle vinha obter,
conseguiu alguma cousa mais importante, que foi a não aprovação de
D. João III à política de represálias contra 0 preto D. Diogo, que os de
S. Tomé e os padres da Companhia de Jesus preconizavam e, assim,
evitar o esfacelamento do reino do Congo, que fatalmente se teria dado
pela perda da sua unidade, se favorecêssemos a rebeldia dos Anzicos e
de fidalgos que se julgavam com direito ao trono.
D. João III, pelo contrário, procurou ainda mais uma vez, trazer o
preto D. Diogo ao bom caminho pela religião.1
*
* *
(0 558
Carta do Padre Diogo Rodrigues para a Rainha D. Leonor, de 16 de Outubro de i .
3
Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte t.*, maço to . Doc. 11, não
publicado por Paiva Manso. Anexos, doc. n.# 12.
8o Angola
As prédicas do púlpito para a evangelização dos gentios, não lhes
bastavam , queriam que êles se convertessem cumprindo com fervor
todos os preceitos e deveres e, em especial o da confissão, com que os
seus contrários tinham conseguido armar tôda a intriga da cons
piração.
O preto D. Diogo não se conformava, nem aceitava esta nova
maneira de ser religioso. Daí a luta para o deporem, o que não con
seguiram, e, antes se viram forçados a abandonar o Congo e esperarem
ocasião e meio mais oportunos para a execução do seu plano colonial,
de que não desistiram.
Nem a realeza como nós a tínhamos criado, deixando ao rei todos
os direitos sôbre os seus e reservando para os nossos todo o comércio
e exploração do país; nem a religião como os frades a tinham ensinado,
baptisando indígenas sem se certificarem da sincera contrição do êrro
em que viviam<ce contentando-se com a substituição dos ídolos e
crenças nas adivinhas dos feiticeiros, pelas imagens dos santos e rezas
implorando os milagres, lhes convinham. Queriam mais. A religião
não se oferecia, impunha-se, e os que a não aceitassem, eram inimigos
do Rei e de Deus, por graça de quem aquele governava, tendo o dever
de lutar pelo extermínio desses inimigos. O comércio era uma mani
festação da vida dos povos que viviam dentro da lei do Estado, que
era a lei de Deus, e não podia ser nunca o engôdo para as conversões.
A escravatura não era um comércio; era o direito dos que viviam
na lei de Deus, sôbre os seus inimigos, para os forçarem à conversão.
Os reis na impossibilidade de só pelas suas fôrças assegurarem as
suas descobertas e conquistas, tinham implorado o auxílio divino por
intermédio da Santa Sé, a quem confiaram a regularização dos seus
direitos. Acima deles, ficou havendo o Papa, a quem todos os povos
conquistados tinham de manifestar a sua obediência e acatamento e,
a religião era o primeiro dever dos povos. A Companhia de Jesus,
formada por homens de tôdas as nacionalidades, não pertencia a
nenhuma, para só servir exclusivamente a Deus. Era o seu exército,
inteligente e ousado, que vinha tomar conta do Mundo Novo, para dar
unidade à civilização Era dentro destas normas que seria orientada
a política colonial das nações que tinham feito os descobrimentos e,
para garantia da sua execução, tinham-se assenhoreado da direcção de
todos os negócios do Estado de Portugal e Castela.
O Congo, como os nossos mercadores e os frades o tinham feito
era um pecado vivo, bradava aos Ceus, estava cheio de mulatos, na
'■ Ç -
*
# «
%
82 Angola
Do conjunto de tôdas estas qualidades creou-se no espírito do
negro, um tipo de português, que se tornou necessário à sua vida,
porque, embora em seu proveito próprio, lhe aumentou a importância
e o prestigio entre os povos vizinhos com que estabelecia relações, e
o dominava, sem lhe fazer sentir o domínio.
Entrámos no Zaire com o fim do Preste João para por êle chegar
mos à índia, mas, entretanto, dava-se o contrário, atingíamos a índia
e de lá fomos ao preste João. Desde então, o Congo perdeu para
Portugal todo o interesse político, mas manteve-se pela unidade e en
grandecimento que lhe deram os nossos que lá andavam e que,
alheados desse interesse político, e como resultante do seu próprio,
tinham formado o esqueleto duma nação, que se estendia desde a foz
do Zaire, pelo seu curso, muito para além de Brazaville; pela costa
para o norte até ao Cacongo e para o sul, até Benguela Velha senão
mais além; pa& leste, pelo menos até aos limites do Sundi nas mon
tanhas de Cristal, dos Panzelungos nas montanhas do Sol e da Batta
nas montanhas do Salitre; e ainda mais para o sul e para leste, até aos
reinos de Angola e de Matamba, onde tinham deixado, como marca
que os séculos não conseguiram apagar, o trilho bem nítido dos seus
passos, em duas linhas de penetração ainda hoje as mesmas, partindo
de S. Salvador: uma, pelo Ambriz aos Libongos e a Luanda, outra,
monumento do nosso valor e da nossa audácia, pelo Dembe ao Encoge
e a Duque de Bragança e a Ambaca. Tudo os nossos tinham per
corrido e, em tôda a parte onde havia núcleo importante de indígenas,
tinham levado mercadorias para o comércio, tinha negociado e tinham
ido padres, que cravando no solo uma tosca cruz de troncos, aí
levantavam um altar, diziam missa, baptisavam e prègavam a doutrina
cristã, recolhendo os proventos que lhe davam.
Assombra como tudo isto se fêz. Os documentos que se encontram
lêem-se e relêem-se para bem se interpretar o que neles está escrito;
comparam-se com outros e as referências são certas, não podendo
duvidar-se da evidência. Começamos então a fazer passar pela nossa
imaginação as diversas scenas da vida dos nossos, sentimos o sol que
os queima e o clima que os debilita, e vemo-los nas lutas contra os
naturais, sem outra ajuda e outro recurso que os de si próprio podiam
vir. Sem querer, transportamo-nos ao presente e aos recursos que
a civilização nos trouxe e, então, a dúvida renasce e julgamos impos
sível tôda essa obra. Enganámo-nos, certamente, tornamos a lêr e a
conferir, mas a verdade impõe-se.
«r
í í
i'
*5
1 —•Os Ambundos, Reconhecimentos e resgates. Peneirarão.
O sobado do Dongo
\\ — A donataria de Angóia.
^ ._O Governo Gera\.
\ \ j _Actividade económica e situação iinanceira.
ï
I
(1) Fr. Bernardo Maria Connecatim, missionário capuchinho italiano, que foi Prefeito das
Missões de Angola e Congo, no prólogo da sua « Collecçâo de observações grammaiicaes sobre
a língua Bunda ou Angolense, etc.
9o Angola
cra a província meridional do Congo, e ouiros, que um fidalgo
(»ongo sc foi oli estabelecer e, instigado pelos portugueses, se revoho°
contra o seu rei, o do Congo, formando um reino áparte. ^
A verdade, baseada nos documentos que nos ficaram, é que o rej
do Congo D. Afonso nunca conheceu o reino de Angola e, apenas c
sempre, os am bundos, entre os quais houve um fidalgo de nome Mun^a
que comarcava com um seu filho e o queria matar, pelo que êle lhe
foi fazer guerra, tendo para esse fim convidado alguns portugueses (9
Talvez já então existisse a família N g o la , mas o rei do Congo D. Afonso
nunca lhe deu relevo especial e incluia-a entre os ambundos.
Até 18 de Janeiro de í 526 (2), nas cartas e outros documentos
intitulava-se apenas R e y do com go e Senhor dos Am bungos. Em 18
de Março dêsse mesmo ano (3) acrescentou ao título «e da conquista
d e p a çoallum bo» talvez por ter só então efectuado, definitivamente
a anexação ao íeu reino dêsses povos, com quem, como sabemos, êle
esteve em guerra logo no início do seu reinado (4). Na carta que então
escreveu, pede cinqüenta padres para espalhar pelo seu reino e se
nhorios e, ao indicar por onde os vae espalhar, cita apenas as suas
províncias: su n d y , bam ba} banta, huernbo e g a n g a e não se refere a
m bundos, n d on g os , ou n g o lo s ; notando-se contudo, como adiante
veremos, que alguns anos antes tinha mandado dizer a D. Manuel que
o Ngola lhe mandara pedir padres para se fazer cristão, e depois disso
se deram os factos narrados por Baltazar de Castro (5).
Em 28 de Janeiro de i 53o ( 6), ao mandar as manilhas de prata é
que refere terem-lhe sido enviadas por um fid a lg o da minha terra que
s e cham a m atam ba e de presumir é, sendo a prata de Cambambe,
que êle já então estendesse até lá a sua terra d e M atam ba , incluindo
nela o N g o la .
Só na carta de 1 5 de Fevereiro de 1 53 2 (7) é que, pela primeira
vez, se apresenta com todos os títulos : R e y d e Com guo Ibungu e
ca com g o e m g o y o (ou agoyo) da q uem e datem a\ary Senhor dos am
bu n d os e d a m g o lla d a q u isy m a m u su a ru e d e matamba e mulylu (ou
(1) É difícil localizar com precisão a região ocupada pelos Anzicos. Pelas informações do
nosso Duarte Lopes e de outras coligidas por Dapper, teria por limite ao norte os desertos da
Núbia e ao sul a província do Dongo e do Sunde do Congo. Eram um agrupamento de t3
reinos, sendo o seu chefe o mais poderoso dos da África e conhecido pelo grande Macoco. Os
jagas eram uma das suas tribus.
(2) Andrew Batell em 1601 encontrou um acampamento de jagas nas margens do Cuvo e
viveu com éles durante vinte e um meses. Adventures, pág. 19.
02 A n gola
(i) Ravenstein, ob. cit., pág. 142 nota (1) diz que as terras do Dongo, que vieram a cons
tituir o reino de Angola, foram conquistadas por um jaga da Matamba, Ngola a nzinga, que as
doou a um filho, Ngola mbandi e fundando-se em Cavazzi dá a seguinte relação dos reis de
3
Angola: t.° Ngola, o ferreiro, musuri, 2.0 Nzunda ria ngola, sua filh a; .° Tumba ria ngola,
outra filha que casou com Ngola kiluanji kia Samba e foi um grande guerreiro ; 4.0 Ngola ki
5
luanji; .° Ndambi ngola; 6.° Ngola kiluanji kia ndambi, outro grande guerreiro; 7.0 Nzinga
ngola kilombo kia kasende ; 8.° Mbandi ngola kiluanji; 9.° Ngola m bandi; 10 0 Nzinga mbandi
ngola (rainha Ginga, D. Ana de Sou sa); 1 1 D. Barbara da Silva que casou com D. António
3
Carrasco nzinga a m ina; 12.0 D. João Guterres Ngola kanini,* i .° D. Francisco Guterres
Ngola kanini; 14.0 D. Victoria, a que Gadornega chama D. Verónica.
O Visconde de Paiva Manso, História do Congo, dá uma outra relação extraída de Cador-
nega, que difere um pouco desta.
Parte I I — Angola 9*
ordens, procurando ganhar a vida pela catequização dos
sendo> etn» Seral>bem ace‘tes Pe*a sua tolerância, naturaf-
gra<j uada conforme as dificuldades do negócio. O rei do Congo,
^Afons©» tendo recebido uma severa educação religiosa e sendo
P- e-5ivamente fanático, não devia ver com bons olhos esta difusão do
C*Cóc«° Por tod ° 0 interior, feito com povos que não eram verdadeira-
nC^ote cristãos. Pelo que se passara corasigo, calculava ser pela acção
^reiosa* de preferência às guerras, que conseguiria manter entre os
fC inhos o prestígio da sua autoridade. Se não proibiu, deve ter
^ cUltado essa difusão, como claramente se vê do seguinte período
sua c a rta : « Como nosso Reyno se vay a perder em tamia maneira...
&0 que causa a muita solltura que vossos feytores e oficyaes dam aos
„ homens e m ercadores sse vyrem a este Reynos assentar com llogeas
„ mercadorias... as quaes se espalham por nossos Reynos e Senhorios em
„ tamta avomdança que muitos vassallos que tynhamos htfnosa obediencya
gse aleuantam delia , etc., (i) terminando por pedir, como remédio, que
mandem padres.
Os padres e frades das diversas ordens, que se internavam até
Angola, não tratavam de impor, violentamente, um credo religioso, mas
apenas fazerem compreender, aos que aceitassem a conversão à fé cristã,
as vantagens que daí lhes advinham, sendo a principal a facilidade de
negócio com os brancos e, assim, o sóba grande de Angola— (N'goía
Inéne)— , embora sem convicção e sem fé, incitado pelos mercadores
que no interesse do desenvolvimento das suas transações a isso o
induziam, resolveu mandar dizer ao preto D. Afonso rei do Congo,
que queria ser cristão e, para êsse fim, lhe mandasse padres, pois que
era êle que os tinha no seu reino.
Avalia-se bem o que, para o papel político que o preto D. Afonso
tinha a ambição de desempenhar, representava êste pedido do mais
importante dos sobas ambundos e, com que vaidade êle o transmitira a
D. Manuel, provando-lhe, assim, a sua importância e fazendo jus às
considerações especiais que queria lhe dispensassem,para ser de entre
os reis de que o rei de Portugal era senhor, aquele que as suas coisas mais
estimava, melhor tratava, etc.
Passavam-se estes factos em 15 19 e D. Manuel, tendo já percorrido
tôda a gama das vaidades e das glórias, pouco interesse lhe despertaria
a conversão à religião cristã de mais um preto, embora fôsse o soba-
(1) Esta oferta de manilhas de prata não é a que consta no doc. xxx da H istória do Congo
de Paiva Manso, mas ve-se no R e g im e n to dado por D. Manuel a Manuel Pacheco.
(2) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Livro de Leis e Regimentos de D. Manuel
fl. 144 v. No índice: « R e g im e n to p a r a M a n u el P a ch eco capitam do navio enviado ao descobri
m en to do re in o d e A n g o la , sobre o que p ra tica ria e do m esm o modo o seu escrivão na viagem no
d ito reinoa. Publicado em « A lg u n s docum entos no A rquivo N acion al da T ôrre do Tombo acerca
d a s n a v e g a çõ e s e conquistas dos p o rtu g u e se s », pág. 436-441 mas porque essa obra é já pouco
vulgar e convem coordernar os documentos mais importantes, se publica de novo. Anexos doc. i . 3
Parte U — Angola 9$
(t) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte 1,* maço 90
Doc. 126.
(2) Parece que o D. Henrique, mais tarde cardeal-rei, pois Diogo de Soveral era seu moço
de câmara.
Parle 11— Angola 99
rreceber escamdallo somente com muyla pa\e amiçade Irate com elles o
„ quall trato lhe tenho dado per hum ano que hade começar do dya que
fl0 rresgate for asemtado em diamle e na armaçam que hora pera ho dito
i( nyo ele dyto Amrique Pae\ vay fa\er pelo contrato que amtrc nos he
efeito eu sam obrigado a por as duas partes de todo ho gasto que se nela
«flíer e elle dyto Amrique Pae\ a hüa e pela dita maneyra avemos de
«fiqar no proveyto e rresgate delia per a que ele saya com hum terço e eu
„ com os dous (i).
Vê-se não ser a primeira vez que mandava ao rio da Longa
porquanto diz: ora novamente mando, e que tinha principalmente era
mira o resgate de ouro e prata, tendo sido informado da sua abundân
cia. Esta informação não a pode ter obtido senão das viagens dos
nossos pelo interior, e, assim, vemos que, já nessa época, deveriam ter
ido a Cambambe e ao Lombige, supostas minas daqueles dois metais,
ou então, mais para o sul até ao Gunza dos Ambuillts, também tido
durante muito tempo como região rica em cobre, e que, possivelmente,
confundiam com o ouro.
Devemos, ainda, concluir, que se a exploração da costa chegava ao
Longa e mais para o sul, os portos intermédios e principalmente a ilha
de Luanda e o Quanza, eram também explorados e freqüentados pelos
navios, o que deu lugar ao protesto dos negociantes do Congo em 1548,
e á inquirição mandada efectuar pelo preto rei D. Diogo.
O protesto dos do Congo parece não ter sido ouvido e, dificilmente
0 governo em Lisboa 0 poderia atender. O Congo, era vasto, sem
dúvida; pelo menos o rei fazia estender a sua acção por muitas léguas
para 0 sul, mas a centralização do movimento marítimo no Pinda, tor
nava-o acanhado para 0 desenvolvimento que estava adquirindo o
negócio do escravo, em vista das necessidades do Brasil e índias de
Castela. S. Tomé, que tinha centralizado os fornecimentos, perante a
procura do artigo, não se conformava com a limitação do negócio ao
porto do Pinda e, por outro lado, os portugueses do Congo, que pelo
seu audaz esforço iam levar mercadorias e trazer escravos dos Àtnbiin-
dos, e do Ocango e Pamba, a centenas de léguas no interior, não queriam
perder êsse monopólio.
Esta luta de interesses transformara-se facilmente em luta política,
pela entrada dos jesuítas em acção. O Congo e tôda a Baixa Etiópia
(1) Arquivo Nacional da T ôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.* maço 78. D oc.21.
Traslado do Regimento que E l Rey deu ao escrivão da viagem e armação que manda façer no
Reyno de Bemguella a 7 de Junho de 1546. Anexos, Doc. n.e 14.
IOO Angola
pertencia-lhes, mas só o conheciam peias informações colhidas dos que
por id tinham andado, insuficientes para detalharem o plano da sua
acção. Queriam tomar posse e foram encontrar uma colonização
defeituosa e os indígenas educados pelos clérigos das diversas ordens,
que, transigentes e pouco zelozos, sacrificavam a inviolabilidade dos
preceitos e regras, aos vícios inatos nos convertidos, verdadeiros pe
cados que êsles não ocultavam e, alguns, até patenteavam com gala.
Mantinha-se essa colonização, principalmente à custa do negócio do
escravo, que os seus primeiros missionários verificaram donde vinham
e aprenderam, com larga prática e não menos proveito, a maneira de
os adquirir. Com um negócio assim, ao alcance de tôda a gente,
disperso por todo o interior onde ia quem queria, não era fácil adqui
rirem o domínio que desejavam. Só a religião, exercida e acatada com
todo o respeito e disciplina, para poderem ter efeito as interdições e
excomunhões, <çue eram a sua arma, poderia dar-lhes êsse domínio,
mas reconheciam ser tarde para o poderem impor. A corrupção
lavrava muito fundo e até mesmo os que os ouviam, nem tomavam a
sério as suas intenções. Em Portugal com a sua primitiva atitude de
humildade e desinteresse, explorando a boa fé e crenças das populações
cançadas de sofrerem todas as prepotências dos frades e das ordens
religiosas, fácil lhes foi ganharem terreno, a confiança e mesmo a estima
geral, e, com tôda a ousadia, imporem a sua autoridade.
Mas, no Congo, o meio era diferente, e tinham sido forçados a re
tirar perante a resistência oposta às suas tentativas da escalada dos
cargos políticos junto do rei. De nada lhes serviu o rigor com que
puniram os seus por terem prevaricado, antes pelo contrário, êsse
rigor acarretou-lhes mais ódios, pois veio mostrar que acima das leis
e usos e costumes da Nação, havia os preceitos da sua Ordem que o
Rei acatava, deixando estabelecerem-se sanções para factos que cons
tituíam a vida de todos os dias dos seus súbditos em África e até aí
eram impunes.
Ante os dois partidos ou grupos que se guerreavam, os do Congo
e os de S. Tomé, inclinaram-se a favor dêstes, o que era lógico, não
por simpatia com a sua causa e concordância com as suas intenções e
planos, mas apenas porque, auxiliando-os, provocavam a derrocada dos
outros, única solução a adoptar para poderem tomar posse da Baixa
Etiópia. Com o Congo como estava, com o Rei sem os ter por con
fessores, de forma a exercerem uma acção forte na política do reino, é
que eles nada podiam, e, assim, não só lhes foi fácil provocarem os
Parle 11— Angola /o r
(1) Chron. da Companhia de Jesus na Prov. de Portugal, cit., cap. xxvn,p. 2* 1.6.°
102 Angola
O engrandecimento político do rei do Congo, que se confessava
■ sob a nossa suserânia, elevando-o, avolumando a sua importância, para
que tôda a Europa e Roma em especial o vissem e sentissem bem,
tinha sido a nossa política de mais de meio século. De repente tudo
mudava. Desfazíamos êsse potentado e procuravamos crear, vizinho
dêle, um outro, apresentando-o com muito mais valor, e a que só
faltava, para o ter realmente, fazer-se cristão. Tentá-lo por intermédio
do rei do Congo era impossível, porque os jesuítas tendo reservado
para si o papel de evangelizadores de todo o mundo que descobríramos,
se tinham incompatibilizado com o rei do Congo. Era necessário pro
vo car a quebra das boas relações existentes entre o rei do Congo e o
N g o la , insinuando a êste não ser necessária a intervenção daquele
para manter relações comerciais com os portugueses e, bastaria diri
gir-se ao rei de Portugal, enviando os seus embaixadores, como aquele
fazia. r
A atitude sugestionada ao N g o la e por êle adoptada, além do
prejuízo que causava ao negócio dos portugueses, feria o rei do Congo
na sua vaidade, e, os nossos que lá residiam, aproveitaram êste facto,
incitando-o a romper a guerra contra o N gola , oferecendo-se eles
próprios para o auxiliarem, dirigindo e combatendo com a sua gente,
possivelmente contra os outros portugueses que estavam no Dongo, tal
era o estado de desespero.
Em 1 5 5 6 , as tropas do Congo avançaram até ao rio Dande, onde
as do N g o la as esperavam, ferindo-se a batalha com prejuízos para
aquelas, que tiveram de retirar (i), e então, o Ngola, hesitante, sem
compreender a cena que se estava desenrolando, « Porem vendo o Rey,
« q. lhe fa lta v a o comercio com os Portugueses (porque o interesse era o
« D e o s qu e governava a este R ey, e ainda agora por nossos peccados pre-
« dom ina em a lg un s Príncipes christãos) cuydando que cessava por nam
« ter em suas terras sacerdotes , como dãtes, os mandou pedir, etc »(2), ao
que os de S. Tomé, esperando já êste desfecho, por estarem no segredo
do trama urdido, acudiram pressurosos a enviarem a notícia para a12
Parte I I — Angola io 3
(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.* maço toi.
Doc. 65 , (Não publicado por Paiva Manso) Anexos documento o.° i 5.
(2) Idem. Parte r.*, maço io3, Doc. n . Anexos, Doc. n* 12 já referido.
(3 ) Bibl. Nacional, Reservados. Colecção Pombalina, ms. 6-çj, Papel avulço de noticias ms.
artigos de resoluções q. tomarão os Snrs. Reys de Portugal, fi. 20 á margem: Angola. Vide
Anexos, Doc. n.° 16.
104 Angola
se estava fazendo, diminuía e não acrescentava o tráfico da Ilha e não
era isso o que lhes tinham prometido.
Viam que se não tratava de obter uma maior expansão comercial,
mas uma conquista de almas para a Igreja, conquista que se queria
fazer dentro de preceitos até então não usados com pretos. Para que
era a consulta sôbre se o novo soba estaria disposto a converter-se?
O que era preciso era mandar-lhe os padres, e emquanto estes tratavam
da catequese, o comércio trataria das suas transacções; cada um faria
o seu negócio, pensavam os de S. Tom é.
A resposta do novo soba de Angola não se fez esperar, Que sim,
que queria ser cristão e estava mesmo ancioso para receber o Santo
baptismo, mandaram dizer os de S. Tom é, que serviam de interme
diários e, a Rainha D. Catarina, ao tratar do assunto com os embaixa
dores, recebeu deles o pedido para os padres da Companhia irem para
Angola.
D. Catarina estranhou, certamente, a indicação dos pretos, mas
já conhecia os processos dos jesuítas e conhecia também, desde o
tempo do marido, a acção que eles se propunham a desempenhar na
vida colonial. Tinham ido para o Brasil com Tom é de Sousa e era
natural que também fôssem para Angola. Sem maior esfôrço, os jesuítas
viram coroados do melhor exito os seus planos. Angola ia ser sua
pois que a evangelização do gentio lhe fôra confiada Não eram
precisas tropas, nem guerras, visto o soba declarar que se queria
converter, e todo o território ser de há muito conhecido dos nossos
sertanejos, que por lá residiam e tinham estendido a sua acção comer
cial desde o Luango ao Cuanza e desde a costa ao Pumbo. Mas essa
acção comercial, pela forma como tinha sido estabelecida, acompanhada
da acção religiosa em que os frades também vendiam os sacramentos e
prometiam, como bonus, as bem-aventuranças do Ceo, negociando para
si, é que não convinha. Pela religião, queriam exercer o domínio
político efectivo e, a acção comercial seria encaminhada e dirigida por
eles ad majorem D e i gloriam.
A Companhia de Jesus solicitada para êste fim, indicou de entre os
seus, os padres Agostinho de Lacerda, castelhano e Francisco de Gouvea,
português, para juntamente com os irmãos Manuel Pinto e António
Mendes, constituírem a missão a Angola. Por outro lado a Regência
em Lisboa confiou o encargo de os ecompanhar a Paulo Dias de
Novaes, nomeando-o somente capitão da caravela que os conduzia e
levando também um caravelão da Companhia.
Parte U—Angola io5
instruções dadas a Paulo Dias (i), se as compararmos com as
conhecemos do tempo de D. Manuel, mostram bem quanto diferente
gj-a a mentalidade da época. Paulo Dias não se pode dizer que fôsse
um embaixador; ia apenas acompanhar os padres e dizer ao rei de
^ngola o fim a que êles iam. De resto, dirigia a navegação, e se o rei
de Angola se não quizesse fazer cristão *os ditos Padres da Companhia
, farão nisto o que levão determinado pelos deputados da mesa da coits-
«ciência e o que os Doutores e o decreto dispõem». Eram só eles a
mandar e dirigir tudo e até asendo caso que no navio em quehis, e outro
acaravelão da nossa Companhia, vá algnma pessoa ou pessoas que os
«padres da Companhia de Jesus que comvosco vão, souberetn ifelles e de
«suas vidas, lhes pareça que para o efeito a que vão não convem irem as
i(taes pessoas em sua companhia, hei por hem que deixeis ficar as ditas
apessoas em São Tomé».
Nunca nenhum dos embaixadores de D. Manuel f#i assim subordi
nado ao clero que conduzia nos seus navios. Pelo contrário; Manuel
da Silveira tinha instruções para dirigir e vigiar a conduta do clero
que levava e do que estava no Congo e Manuel Pacheco, se levou
algum padre, ia quási como móvel ou utensílio e recomendava-se que
no caso de o desembarcar em qualquer terra, Baltasar de Castro o
tomasse a rol juntamente com os paramentos.
* *
( : ) V id e a n o t a an terio r.
Parte II— Angola 107
(1) Paiva Manso. História do Congo, Doc. ux, pág. 112, í o de Fevereiro de i 56o.
(2) Synopsis Amalium Societatis Jesu in Lusitania, etc. R. P. António Franco, cit, pág. 63 .
24. Navis posl appulsum ad insulas Hesperidumdivi Thomae, ac Pindam in ostio Zairefluminis,
ubi liqualum & aquatum descendêre, etc. Apesar desta referência, como vemos pela carta,
acima, não foi só para fazerem aguada que foram ao Pinda, mas terem comprimento com el rei
do Congo.
(3) Anexos, Doc. n.° 16 cit., fl. 17.
lo B Angola
utilizarmos onde nos conviesse, honra-nos sobremaneira e, sem isso,
não teríamos sido o que somos hoje.
Emfim, a missão que Paulo Dias ia levar a Angola, tendo saído do
Tejo a 22 de Dezembro de 15 5 9 , chegou à barra do Cuanza em 3 de
Maio de i 5 6 o.
*
* *
(t) O documento donde extraímos esta indicação, tem a seguir a quatro dias comsigo: «e
depois meses, etc.», sem dizer que Paulo Dias saísse dali para outro ponto onde fosse a embala
ou a côrte do rei.
(a) Era o preto fidalgo que ficava encarregado de tratar com os portugueses.
(3) Os jesuítas, Synopsis Annalium, dizem-nos que Cabassa distava6o léguas da praia onde
I IO Angola
A s etnbalas dos sobas em Angola eram então, como são ainda hoje
u m a série de cercados de troncos de árvores entrelaçados, com uma
ú n ica passagem de com unicação, no meio dos quais se encontra um
recin to m ais ou menos vasto, a instalação do soba. Decorridos os
dias que a etiqueta impunha de espera aos visitantes, para poderem
ser recebidos pelo soba, foram os nossos apresentados ao A n g o la
K il u a n g i , que os recebeu assentado numa cadeira quadrada, tecida de
p alm a e revestida de tabuas, « estando cingido com uma f a i x a d e pano
a^ ul, e várias outras de diferentes cores que o circundavam p o r d eb a ix o
d o s b r a ç o s » e tinha um corno de vinho na mão e hua cabaça g ra n d e ju n to
d e s i e sem pre bebia p o rq u e esta he toda a fid a lg u ia entre elles ter que
b e b e r ». Os dignatários que o cercavam entregavam-se ás mesmas
libações, que o cronista da Com panhia de Jesus, encobrindo preposita-
dam ente o verdadeiro sentido, aprecia escrevendo que entre aqueles
b a rba ros era estti a m elhor maneira de significar a s u a profunda d e fe -
ren cia p a r a com hospedes tão ilustres , como eles consideravam os nossos.
A recepção não desanimou os nossos. O rei de Angola, em vista
dos presentes que lhe levám os, entre outros, uma mula bem arreiada,
um a vestim enta de seda vermelha e um barrete, mostrou-se satisfeito
e, em bora, quanto à sua pessoa, se limitasse a prometer que se faria
cristão, foi contudo ordenando que vinte pequenos fossem entregues ao
P ad re Gouveia para os educar e, tão bem impressionado ficou Paulo
D ias com o que se passou, que resolveu mandar pedir ao sobrinho
Luís D ias, que tinha ficado no acampamento no C uanza, lhe mandasse
os vestidos , e a bacia e os f o lie s de fe r r e ir o , que tinha trazido para a
fundição.
M as, a-pesar-disto, passaram -se cinco ou seis mêses, sem o preto
rei de A ngola consentir na retirada dos nossos que compunham a
co m itiva de Paulo Dias. A os que tinham ficado no acam pam ento
constára terem sido feitos prisioneiros e lhes fôra tom ada tôda a fazenda
que levavam , e, sendo escassos os mantimentos, receando serem
atacad os e sofrerem a mesma sorte dos outros, resolveram levantar
ferro e retirarem com a caravela para S . Tom é.
T in h a algum fundamento as suas suspeitas e receios. Satisfeita a
curiosidade do preto com respeito ao presente que Paulo Dias lhe
e s t a v a o a c a m p a m e n t o , n a s m a r g e n s d o C u a n z a e q u e d e s te p o n t o a M a s a n g a n o , e r a m 39 légu as.
D e v e , p o r ta n to P a u lo D ia s t e r p e r c o r r id o 21 lé g u a s d e M a s a n g a n o á e m b a la e e s t a ser o n d e
h o je é A m baca. P e la d is tâ n c ia do d o cu m e n to , to lé g u a s , a e m b a la s e r ia e m M b a k a , n as
m a r g e n s d o L u c a l a , o n d e e m 1 6 1 4 , c o n s tr u im o s u m fo r te .
» *■ »,
,1
!
I 12 Angola
* #
« que hoje conserva o mesmo nome e terras em o mesmo sitio, dando a obediência como Vassallo
<r que he do Príncipe nosso senhor, a fortaleza de Cambambe que fic a perto das terras de qui-
«longa e Rio Mocos como sova daquella lotação. A quem ordenou aquella piedosa e affeiçoada
a Infanta com lodo o segredo mandasse faqer uma canoa que se faq de hum pao chamado mufuma
« Carcanada. . ■ com ordem da dita Infanta que feita que fosse a dita embarcação a levasse pelo
« Rio Mocos ao do Coamqa e mettesse nella aquelles Portugueses e sustento necessário para a
o viagem, e lhes dessem fu g a p or aquelle espaço\o Rio Coamqa abaixo, entre estes Portugueses
• entrava Paulo Dias de Novaes, por cuja cauja faqia a filh a daquelle R ei estes estremos, que
« são os poderes do amor l que até huma Gentia os conhece, muito pode uma afeição ».
Como se vê esta versão em nada corresponde á verdade que se conhece dos documentos
. jeferidos. Registamo-la apenas por ser curiosa.
Parte II— Angola II.?
(i) Carta do Padre Francisco de Gouveia para o Padre Do. Mirão. Das Relações de An
gola, tiradas do Cartono do Collegia dos Padres da Companhia em Paris. Boi. da S. G. L.,
IT 4 Angola
naiuralmentc a gente de S. Tom é e os comerciantes de Lisboa, arma
dores, etc.
Não se tendo conseguido a conversão ao cristianismo do preto rei
de Angola, nem por isso a propaganda religiosa deixava de se fazer
entre os indígenas, senão com alguns bons resultados, pelo menos com
simpatia e, a propósito de um violento incêndio que destruiu tôda a
povoação do soba, escreve ainda o Padre Gouveia : « o que mais espanto
«f e \ f o y estarem as nossas casas pegadas com os muros de E l R ey, não
« lhe fa zen d o nenhuma das ve\es o fo g o nada, antes vinha sempre morrer
« na nossa testada como milagrosa, e que ninguém o vira que o não atri-
« buisse a grande m ila g r e ... Todos nos difião que a Ig reja e as cousas
« que de D eu s n’ ella tínhamos nos guardavão e por isso foig a vã o muytos
« de nos ter por visinhos por se verem livres do fo g o e crer que por isso
«fo r ã o livres como elles também creem por estarem a p a r da Igreja, prin-
« cipalmente hur% gentio fid a lg o parente de E l R e y bem valoroso capitão
« mór deste R e y ».
Esta aceitação e reconhecimento do milagre pelos indígenas, não
representava por forma alguma a sua crença ou a sua fé. Para eles,
dentro do seu espírito, ficou existindo um feitiço com mais valor do
que os que usavam, o que, à primeira vista, parecendo uma boa indi
cação a explorar, tinha os seus inconvenientes... porque também por
vezes sacrificavam os feiticeiros.
Do que depois se passou com Paulo Dias é que não há notícias e,
a-pesar-de o Padre Gouveia o incluir quando conta que os espancavam,
que não lhes davam de comer, que os obrigavam a coser as capas e
outros vestidos de Portugal e a brear as almadias em que o preto se
lavava, o que deve ser pôsto em dúvida, Paulo Dias nas horas vagas
foi-se entretendo com a bacia e foles de ferreiro, e outro papel mais
importante passa a desempenhar, porque em 1 5 6 5 , nos diz ainda o
Padre Gouveia, o preto de Angola o mandava a Lisboa com um seu
escravo (já lhe não chamava fidalgo) «a visitar Sua A lte ia mandando-lhe
« de presente quarenta argolas de cobre e trinta e cinco dentes de Alifante
« c quarenta paos que cá lhe chamão Quicongo que é muito estimado n’estas
« terras e assi manda mais certos escravos mãdando pedir p or isso milhares
de cousas » (i).
No Gongo tinha, entretanto, morrido o preto D. Diogo, sucedendo-
(t) Carta do Padre Francisco de Gouveia ao Colégio. Boi. da S. G. L., n.° 7, 4.* série,
pág. 338 .
Parte 11— Angola I iS
\he um filho que foi assassinado pelos portugueses, e a este, seu irmão
p. Bernardo, muito afeiçoado aos nossos, de quem escrevia António
Vieira numa carta para a Rainha D. Catarina: neste Rei Dom Barnardo
«que agora reina em Comgo e he mansebo muy llargo e mm he syo\o
e como os seus antepassados que erão syo\os do Reino damgolla que mm
gquerião com Reys de portugall descobríse o Reino damgolla e nem que-
grião que soubese o que havia nelle, etc__(i). Esta mudança de Rei
fio Congo e de política deve ter tido repercussão importante no Dongo,
e a ela devemos ligar a viagem de Paulo Dias a Lisboa.
A confirmar esta suposição, vemos ainda António Vieira, na carta
referida, escrever: «também este paullo dias que veo por embayxador
«damgolla tall como estes deve sua Altera demandar qua por que sabe o
(tfeyto da terra asym damgolla como de Comgo, etc.» o que nos mostra
a preponderante acção que Paulo Dias desempenhava junto do preto
de Angola, sendo escolhido para seu embaixador junto^io rei do Congo,
e que, a sua vinda a Lisboa não foi para urgentemente buscar socorros
a-fim-de sufocar qualquer revolta, como algures se tem escrito e repro
duzido, mas tratar de outros assuntos, talvez expor a oportunidade de
se tomar uma solução definitiva sôbre Angola, cujas dificuldades êle
teria aplanado, indo ao Congo, devendo lá ter estado em fins de 65 ou
princípios de 66.
Foram, pois, os acontecimentos do Congo, que desde há muitos
anos se vinham agravando e que tiveram a sua eclosão com as mortes
violentas do rei D. Diogo e do primeiro filho que lhe sucedeu, que mo
tivaram a vinda de Paulo Dias a Portugal, passando primeiro pelo
Congo, para, como embaixador do preto de Angola, tratar com o novo
rei D. Bernardo de assuntos que interessavam àquele.
Diz-nos António Vieira que o preto D. Bernardo não era cioso do
reino de Angola, como os seus antepassados, que não queriam que os
reis de Portugal descobrissem o reino de Angola. Nesta referência,
está talvez a chave do mistério da viagem de Paulo Dias. Os reis do
Congo deixavam de se importar com o facto do Rei de Portugal esta
belecer directamente a sua acção em Angola, deixavam de ser ciosos,
isto é, acabava a lenda e reduzia-se às devidas proporções a grandeza
do Congo.
*
* •
(i) O facto de incluir a ilha de Luanda nos seus domínios é ainda um ponto a esclarecer.
Não pode haver dúvida alguma de que, nem a ilha, nem a parte do continente fronteiro, perten
ciam ao soba do Dongo. Possivelmente os nossos, quando chegaram ao Zaire e ao mesmo
tempo que estabeleciam relações com o Manicongo, foram percorrendo a costa para o sul, che
gando à ilha das Cabras de Duarte Pacheco, onde encontraram os zimbos. Tinham das conchas
e dos búzios uma noção de valor como moeda, pois que o seu negócio na Alta Etiópia fôra re
servado para a coroa. No Congo não havia moeda e era necessário criá-la para as transacções.
Foram talvez os nossos que lembraram ao Manicongo o estabelecimento da sua casa da moeda
na ilha das Cabras, a que depois chamámos de Luanda e que não era habitada por gentio algum,
de importância.
1 18 Angola
trando a fertilidade do solo e era, ainda mais, um clima superior ao do
Congo e permitindo uma mais longa permanência do europeu.
Ainda a situação política lhe facilitava a realização do grande sonho
que em segredo acalentava, da posse, para si e para os seus, de tôda
aquela riqueza.
Forçado o rei do Congo a aceitar o Dande como limite sul do seu
reino, ficava todo o vasto território para o sul, até além do Cuanza,
ocupado por diversas tribus, os dembos, os ngolas, os gingas, os quis-
samas e os libolos, além de alguns jagas independentes espalhados, que
não constituíam uma unidade política e dos quais um ou outro, se tinha
tornado mais notável, pela importância e prestígio de que se souberam
cercar, aproveitando as relações com os portugueses.
Com o Ngola, soba do Dongo, adquirira Paulo Dias as melhores
relações. Fomentara a sua independência do rei do Congo e era êle
que vinha agoi% acompanhar o seu embaixador ao rei de Portugal.
Esta circunstância facilitava-lhe a realização dos seus desejos. As difi
culdades dos primeiros donatários do Brasil não era provável que se
repetissem ali. Além de uma população indígena já habituada à con
vivência com o português, era o tráfego da escravatura, corrente entre
os indígenas, sem ser necessária a luta para os agarrar, antes pelo con
trário, eram os diversos chefes de tribus que vinham propor a troca,
por mercadorias, dos seus prisioneiros e condenados à morte.
A terra estava também povoada de brancos. Além dos que viviam
junto da embala do soba, já na ilha de Luanda, cujo pôrto passara a
ser freqüentado pelos nossos navios, havia portugueses estabelecidos,
que se encarregavam da recepção das mercadorias que os navios des
carregavam e dos pretos para serem exportados. Alguns operários
nossos, carpinteiros e calafates, se tinham ali fixado e, parece que devia
também haver clérigos, pois que existia uma ermida ou pequena igreja,
certamente mandada erigir de ordem do rei do Congo ou do duque Ma-
nibamba, que governava na ilha. As caravanas seguiam de Luanda
para o Dongo e para o Ambriz, pelas carreteiras abertas pelos nossos
comerciantes, através de regiões em que eram muito raras as lutas com
os seus habitantes.
Ao seguir viagem para Lisboa, Paulo Dias deveria ter ponderado
tôdas estas circunstâncias e formado o seu plano, cuja boa execução,
tanto a respeito de pretos como de brancos, julgava garantida, muito
embora pudesse dizer dêstes, pela experiência do que com êle se tinha
passado, o que Duarte Coelho dizia a respeito dos condenados que po-
Parte II — Angola 119
voavam a sua donatária no Brasil: « s ã o p io r e s cá n a te r r a q u e p e s t e »
ou o que, um pouco mais tarde Domingos de Abreu de Brito dizia a
respeito dos que povoavam Angola e Congo: « h a ta n ta s to r p e z a s q u e
p o r v e r g o n h a d a p a t r ia n ã o a p o n to » ( i ) .
M as havia uma dificuldade. Èle linha ido a Angola acompanhando
os padres da Com panhia de Jesus. Destes, um falecera, outro ficara lá,
e regressava êle que tinha de relatar a missão dos outros e a sua. ^Sôbre *
os resultados obtidos, era justo e licito pedir um a recom pensa para si?
í E a Com panhia de Jesus?
II
A D O N A T A R IA de angola
Jfc
p ia s d e ^ o v a *s ^eve íer chegado a L isboa em fins de 1 566
ios d e l ^ ' ^ overnava o reino, com o regente, o Cardial
e 0 esP^r^ ° ^os ^dgentes estava ocupado nas lutas poli-
J e í i í i as fa c ç ô es de M artim Gonçalves e da R a fth a D. Catarina.
iícâS ^cios u^.ramar eram Um*Pesa(kl°
---- ^ Fm a us
para os governantes. Fouco
Pouco
09sS^í,e^áqC1<ter seguido para Angola em 1559 a3 missão da Companhia de
^epa‘s r0Apanhada
áepois por Paulo
ínpan^a^a ,^°r ^au^° Dias, tinha chegado
^ as>dnha chegado aa Lisboa
Lisboa 0
0 padre
padre
ms aC An Silveira, e exnnc*»r« ^ •
jgSus 8^ nçalo da Silveira, e expusera 0 plano de converter ao cristia- i,
;esaíta
.*<5uRa °x^ de Monomotapa, na África Oriental, no que tinha a maior
nis*50 0 pizia-se que havia ali as mais afamadas minas de ouro, e
eSperaíl£ ue na «serra de Fura se desfe\ de umapedreira, misturada
C0 Í l t n etn pouco tempo, mais de quatrocentos mil cru\ados; e alguns
«& oUf"0> es piram pelo amago do tronco de arvores achar-se veia de
«pofWê’ rj crescendo por dentro d}elle; e cavando no logar onde a ar-
«ouf° ^tepe em breve tiraram de\ ou do{e mil cruzados, etc. (1). O plano
<íJ/°re a Gonçalo fôra aceite e êle partira com recursos para a sua
do *a mas fôra infeliz, pois 0 rei do Monomotapa mandara-o
eXpea'v g sse desastre conhecera-se em Lisboa emquanto andava em
íriat3la a outra missão da Companhia, cujas noticias recebidas também
A”Seram animadoras, como já ficou referido.
{ *
na°Com 0 regresso de Paulo Dias a situação a respeito de Angola mo- ; ?
rtiíicava-se. Não wera tão má como se supunha, e tanto que êlejapre-
va um embaixador do rei pedindo muitas cousas e trazendo um
^esente de cobre, marfim e escravos e paus de quicongo, emquanto o
Padre Gouveia lá ficava a tratar da evangelização.
Francisco Barreto, que viera de Moçambique, também estava em
16
122 Angola
Lisboa, e queria organizar uma grande expedição militar para ir vingar
a morte do Padre Silveira e apossar-se daquelas imensas riquezas.
Para Angola nada disso era preciso. Bastava a organização duma
capitania e que Paulo Dias fôsse o novo donatário.
Por entre o fervilhar da mais nefasta intriga política e desorganiza
ção que nos levou à perda da nacionalidade, um e outro, Barreto e
Paulo Dias, por conta da mesma entidade, a Companhia de Jesus, pro
curavam fazer vingar os seus pontos de vista acerca dos territórios que
cubiçavam. Pouco depois de D. Sebastião assumir o governo, Barreto
conseguiu em 1569 sair com a sua expedição para a conquista do Mo-
nomotapa e, se algum auxílio para isso recebeu da fazenda real, pouco
foi, porque a maior parte do dinheiro levantou-o por empréstimos em
Portugal, como se sabe pelas dívidas que deixou. Paulo Dias ficava,
entretanto, esperando que a Companhia de Jesus convencesse o escrivão
da puridade e verdadeiro rei ainda nessa época, Martim Gonçalves da
Câmara, a dar-lhe a donataria de Angola.
Só 0 conseguiu em 1571 (1), certamente depois de muita luta, por
que contra a corrente das aventuras de além-mar, e ainda mesmo sem
encargos para o erário, e, como que prevendo a catástrofe que se apro
ximava, se opunham os partidários da Rainha D. Catarina, levando
esta a queixar-se ao Cardial Alexandrino da acção desgraçada que os
áulicos exerciam sôbre o neto, conduzindo-o à loucura das conquistas,
sendo necessário afastar dêle Martim Gonçalves.
Obtida a doação, Paulo Dias não seguiu logo para Angola. Uma
das cláusulas estabelecia: «partirá deste Reynno para efeituar este ne-
«gocio antes de se acabar 0 contracto da ilha de S. Tomé que ora corre
« de maneira que quando lá chegar seja 0 dito contracto acabado », e,
talvez por isso mesmo êle tivesse de esperar a proximidade do termo
do contrato ou, e essa será a razão mais provável da demora da sua
partida, pela necessidade de arranjar dinheiro para a sua emprêsa, visto
a doação ter-lhe sido feita com a cláusula expressa de: «sem de mynha
«fazenda lhe aver de ser dado ajuda alguma de dinheiro nem doutras
« cousas » e ainda de se lhe não fazer empréstimo algum de armas, na
vios, munições, nem mantimentos.
O financiamento deve ter-lhe sido difícil. Emquanto êle procurava1
(1) Épocas de Portugal Económico, Lúcio de Azevedo, pág. 199. O mitical correspondia a
46^,41346. Lima Felner: Tabela ia correspondência dos pesos da índia aos antigos pesos portu
gueses, etc.
• (2) Épocas de Portugal Económico, Lúcio de Azevedo, Apêndice, pág. 199. 1
124 Angola
colonos, não fazia derivar todo o esfôrço para as guerras contra os na
turais.
Parece que não foi por este meio que Paulo Dias conseguiu o ca
pital que precisava, mas pelo pai e amigos da família, entre estes Jorge
Silva (i), e, segundo dizem alguns cronistas, ainda pelo Cardial D. Hen
rique.
A sua doação impunha-lhe, entre outras, a obrigação de levar para
Angola 400 homens que possam p elejar com suas arm as , nos quaes entra
rão oito pedreiros, quatro cabouqueiros, sèis taipeiros, um fis ic o , um bar
beiro e levará mantimentos para um ano para toda a dita g ente e só para
isso era importante a despesa a fazer, que, por um orçamento apresen
tado alguns anos depois por Domingos de Abreu de Brito pode ser
assim calculada:
Vestimenta
400 corpos de algodão com gualteíros e rebuços, a 6 cruzados cada 2.40o
800 pares de alpergatas e 400 borrachas de 2 canadas, a 200 reis cada 200
Arm am ento:
400 espingardas de 5palmos com bolços, cargas, formas e munições,
a [$400 réis cada............................................................................. 1-400
400 espadas com tira-colos, a 2 cruzados cada u m a ........................... 800
Munições:
70 quintais de pólvora para espingardas e 40 quintais para bombardas 1.5oo
100 quintais de chumbo ............................. ......................................... 5oo
Diversas:
400 passagens de Lisboa a Angola, a 3#000 réis cada uma. . . . . . 3.ooo
400 pipas de aguada, a 960 réis c a d a .................................................... 9^°
Soldo de 400 homens, a 6^400 réis por a n o ........................................ 6.400
Mantimentos — 20 cruzados por homem e por a n o ........................... 8.000
6 cavalos, calculando:
Custo.......................................... 40 cruzados
S e l a ................... 10 »
Arma.......................................... 5 »
F rete.......................................... 3o »
Alimentação.......................... . i5 »
100 » . ................. 600
Soma — cruzados . . . 25.760
(1) Como consta de um dos capítulos dos regimentos dados aos governadores de Angola.
Parie 11— Angola u5
(1) Paulo Dias não precisava de navios para as comunicações com o Brasil e o reino,por
que essas eram asseguradas pelos que possuía a Companhia de Jesus, que, certamente, consentiu
em que se incluísse essa cláusula na carta de doação, porque contava com a sua frota.
I 26 Angola
que íamos descobrindo, tendo com eçado pela M adeira, qUC constituiu
a nossa primeira donataria, seguindo-se depois as das ouiras ilhas do
A tlântico até S. T om é.
A o m esm o tempo que se faziam doações, criavam -se noutros pontos
feitorias, m ostrando assim saberm os dar a cada colónia a organização
apropriada ao seu desenvolvimento. Dentro destes princípios, modifi
cad os e adaptados às circunstâncias, fomos constituindo as bases da
ciência da colonização.
N o reinado de D. João II, caracterizado pelo engrandecimento das
prerogativas reais, vemos, quanto às conquistas, manterem-se algumas
das doações e reverterem outras à posse da coroa, quando as condições
políticas o indicavam. No de D. Manuel, em plena*febre da índia, só
o comércio do oriente nos preocupa, mas aí, nunca pensámos em fazer
colónias de povoamento e somente feitorias. N o reinado de D. João III,
a necessidade cft nos defendermos dos piratas franceses, levou-nos a
cuidar do Brasil, que, apresentando-se em condições absolutamente
diferentes do oriente, não tendo aquelas características especiais para
o desenvolvimento do comércio e estabelecimento de feitorias, foi por
nós aproveitado para o povoamento, pelo processo de donatarias, base
da nossa grande obra de colonização.
Não foi a penúria dos cofres do Estado que nos levou à aplicação
do sistema das donatarias ao Brasil, como erradamente se tem escrito.
É certo que se dá a coincidência das doações com êsse estado de pe
núria, mas desfalcada e empenhada sempre esteve a fazenda real desde
D. João I, e as dívidas sucediam-se e acumulavam-se de reinado para
reinado, sem que tal facto tivesse alguma vez tido qualquer influência
na nossa obra de colonizadores.
As donatarias constituíam, pois, um sistema colonial que, a seguir
a nós, as outras nações copiaram e que se conservou até hoje, embora
modificado, sob a forma de companhias magestáticas. Nas cartas de
doação estabeleciam-se os direitos e deveres dos donatários e em docu
mento separado, no foral, fixavam-se os foros e outros tributos que os
brancos e indígenas tinham de pagar ao rei, à ordem de Cristo e ao
donatário.
As cartas de doação, quer para a África quer para o Brasil, eram
tôdas iguais, quanto aos poderes administrativos e judiciais que o rei
transferia para o donatário, e só diferiam na extensão doada. O rei
reservava para a coroa determinados negócios, como o do pau Brasil
no Brasil e o dos negros em África. De resto, todo o outro comércio
Parle I I — Angola 1 27
(1) Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal Económico, pág. 77. «A unidade era a peça da
« índia, de 7 quartos (de vara), i,j 5 metros estatura regular do negro adulto. Tre\ peças façiam
128 A n g o la
« uma tonelada supondo-se ocuparem a bordo outro tanto espaço de carga ordinaria. P ara a
« conta, mediam-se os negros, somando as alturas, e dividindo o total pela craveira, 5,25 metros,
« tinham-se as toneladas. D este modo todas as idades entravam na avaliação da partida, sem
«p r e ju ijo do comprador nem do vendedor. N a pratica recorria-se ás médias. D uas creanças
8
n de 4 a anos contavam-se p o r uma p e ç a ; três pretinhos de 8 5
a i só p o r dois. D ava-se tam-
« bem desconto á idade. D o s 35 aos 40 anos dois negros valiam uma p eça . Com os de idade su-
«p e r io r deviam se r as transacções escassas ».
(1) Com o se vê da carta de doação não há uma palavra a respeito de descobertas de minas
e sua exploração, quando sabemos que da parte de Paulo Dias e dos jesuítas que o mandavam,
havia esperança, senão a certeza, de as ir encontrar. Foram eles que propositadam ente as en
cobriram ou o secretário das mercês que não quis incluí-las na doação ? É mais provável a
primeira hipótese, porque as minas, sem referência especial, podem-se considerar incluídas nos
resgates e tratos.
Parte I I — Angola I2 Ç
*
* #
(1) Ravenstein, ob. eit., pég. 144, diz que os jesuítas que acompanharam a expedição eram
dirigidos pelo Padre Baltazar e que foram também tres dominicanos,
{2) Academia Reai das Ciências de Lisboa, Collecção de Noticias para a Historia e Geo-
graphia das Nações Ultramarinas, Tomo I L1
O Catalogo está publicado sem indicação do autor. D. Miguel António de Melo, sendo Go
vernador de Angola, em 1799, em o oficio n.° 107 de 19 de Setembro desse ano para o Ministé
rio, oficio que está ou esteve na Secção Ultramarina da Biblioteca Nacional, Angola, Caixa 159,
índica que o Catalogo foi feito pelo Coronel do Regimento de Luanda, João Monteiro de Mo
rais, e que dele viu uma cópia, que, além dos erros do copista, tinha outros do autor. £ Será o
Catalogo publicado pela Academia uma dessas cópias, ou o original?
Existe na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa um ms: Historia de Angola de
dicada a S. Altera Sereni$sima) o Princepe Regente Nosso Senhor por Elias Alexandre da Silva
Corrêa, cavalleiro professo na Ordem de Christo & sargento môr d'Infantaria de Milícias na
Capital do Rio de Janeiro. 1782. In-S.® pequeno, em belo cursivo e óptimo papel, muito bem
encadernado e conservado, de onde, à primeira vista, parece que o Catalogo foi copiado com
alterações de redacção e de alguns períodos, eliminação de outros e mesmo de alguns capítulos
inteiros, pois que a Historia de Angola está feita com maior desenvolvimento e com informa
ções muito interessantes.
Sucede, porém, que a Historia abrange até ao ano de 1782, ao passo que o Catalogo não
ultrapassa o ano de 1764. Inocêncio, quando trata da Collecção de Noticias, não indica o autor,
nem menciona João Monteiro de Morais como autor de qualquer obra. Sôbre Elias Correia,
que conhece apenas por Elias Alexandre e Silva, indica-o como sendo militar na Ilha de Santa
Catarina no Brasil, e natural, segundo diziam, do Rio de Janeiro, e como autor de uma obra
que não tem relação alguma com Angola, impressa em Lisboa em 1778.
3( ) Sumario e descripção do Reino de Angola e do descobrimento da ilha de Loanda, etc,
Anno de M D LX X K II, Biblioteca Nacional, Reservados, Mss. 294.
P arle I I — Angola i3 i
homens, pouco mais ou menos, dos quaes eram a maior parte delles cha-
tins, çapateiros e alfayates, uns delles apegaram em seus ojicios, outros
por suas industrias se tornaram nas mesmas embarcações, etc.; e o padre
jesuíta Garcia Simões, que melhor podia esclarecer o assunto, numa
carta para o Provincial (i), escreve: aos vinte do dito mês (Fevereiro)
tivemos vista da ponta desta Ilha de Loanda e de alguns navios que esta
vam ancorados no Porto em chegando, as nossas cinco vellas ao Porto
foram as tres que comnosco vieram que tomaram São Thomé, redacção
muito pouco clara e que deixando em dúvida o número de embarcações
e não se refere ao de homens.
Garcia Mendes Castelo Branco, um dos primeiros conquistadores de
Angola, e companheiro de Paulo Dias (2), diz-nos que foram 700 ho
mens, ficando-se na ignorância dos motivos que induziríam Paulo Dias
a levar tal número de homens, quando não era obrigado a mais de
quatrocentos, que deveríam chegar para a execução dos seus planos,
ainda mesmo que no número destes entrasse a prestação de auxílio ao
Ngola contra o tal seu vassalo poderoso Quiloange Qucacoango, que lhe
prometera, muitos anos antes, quando regressou a Lisboa da sua pri
meira estada em Angola.
A viagem deve ter corrido sem incidentes e logo que fundearam os
navios, os portugueses residentes na ilha, cheios de justificada curiosi
dade, foram a bordo cumprimentar os que vinham, saber notícias, e,
certamente, certificarem-se das intenções de Paulo Dias.
Como atrás ficou dito, a ilha de Luanda tinha já então alguns ha
bitantes brancos, em número tal, que justificava a existência duma
igreja com o seu cura (3 ), e deveria ter um número regular de indíge
nas, parte do Congo, que ali se empregavam na apanha do búzio, e
parte de Angola, atraídos pelo negócio com os portugueses.
Paulo Dias tinha o maior interêsse em expor, não só aos portugueses
que residiam em Luanda, mas a todos os que estavam em Angola, e em
especial aos que viviam junto da embala do soba, as condições em que
vinha, o que representava a sua doação, os seus direitos, autoridade e
(1) Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 4 / série, n.®7, pág. 340. Continuação
dos documentos copiados em Paris e que difem respeito ao cartorio dos Padres da Companhia de
Jesus .
(2) Biblioteca da Ajuda, God, 5i-vw-a5, fl. 79. Publicado por Luciano Cordeiro. Memória
do Ultram ar . D a Mina ao Cabo N eg ro . III.
3
( ) Carta do Padre Garcia Simões para 0 Provincial, de 20 de Outubro de 1575. B o i , da S ^
G .L ., 4,1 série, n.° 7, pág. 344, eL u d an o Cordeiro, Memórias, Relação da Costa da Guiné. Esta
igreja era mantida pelo rei do Congo.
i 32 Angola
poderes de que vinha investido. Procurou logo reüni-los e mandou
para êsse fim chamá-los, mas tal era ainda, entre os nossos, a autori
dade do rei do Congo, e por tal forma se compreendia a vinda de Paulo
Dias como um ataque a essa autoridade, que tendo os do interior ma
nifestado receio de repre2álias por parte do rei do Congo, Paulo Dias
lhes enviou carta d e seg u ro e assi os a ju n tou p a ra se in form ar da terra e
d a disposição em qu e estava (i).
Apresentaram -se com tôda a ostentação, com os seus escravos, com
suas arm as, arcos e frechas, espadas e adargas, acom panhados por al
guns pretos fidalgos. Interessante deveria ser o espectáculo oferecido
por esta reünião de sertanejos, na m aioria hom isiados, procurando no
negócio em Angola os meios de fortuna que dessem o esquecim ento
dos seus crimes e, mais interessante a sua atitude perante Paulo D ias
que lhes vinha impor a lei e a autoridade, quando êles viviam fora de
uma e de outra,«sem lhe sentirem a falta. Iam pagar determinados im
postos, iam ter juízes para o cível e para o crime, com alçada d e m orte
natural em escravos e gentios e a si mesmo em piã is cristãos hom es livres e
nas pessoas d e m or collidade d e de\ anos de d eg red o ate cem cruzados d e
m ulta, e êles, que tinham saído de Portugal para fugirem à alçada da
justiça, encontravam-se agora debaixo da sua acção, pelo facto da terra
em que viviam ter passado a constituir doação a Paulo D ias quando,
muito antes dêle estavam lá, e nenhuma lei, nenhuma autoridade lhes
reconhecia os seus serviços.
Muitos já tinham esquecido a vida de brancos e adoptado a dos
negros. Poucos vestiriam como os pretos fidalgos do Congo, cap a, pe
lote, gibão de chamalote, calças de bristol (2) e borzeguins de côres
berrantes. Alimentavam-se de feijão, pirão, cola e azeite de palm a e
bebiam vinho de palmeira e berlunga de milho. Os do interior tinham
por vezes galinhas do mato, capados e algumas lebres e caça grossa,
que abatiam. Para os da ilha de Luanda êsse alim ento era m ais raro,
mas em com pensação tinham peixe e, entre estes, o o n g u lo ( 3 ), cuja
carne, posta de vinha de alhos, nenhuma diferença fazia do porco e
tinha toucinho grosso como um porco bem cevado.
tíQue lhes vinha trazer Paulo Dias de benefício? N ada, era apenas
uma sujeição, de que já se tinha dasacostum ado e daí, um natural e 1
(1) Diz o Padre Garcia Simões na carta citada que a cola era o alimento predilecto, não
só dos indígenas, mas também dos brancos.
(a) Padre Garcia Simões, carta citada.
3
( ) Carta citada.
(4) Esta informação do Padre Gouveia vem confirm ar o que já atrás^ficou exposto, que os
ambundos e depois os Ngolas, não ocupavam o território até ào mar. Este Manicabunga de-
Parte I I — Angola i35
Dizem os cronistas que o rei do Congo, quando soube da chegada
de Paulo Dias, mandou gente sua avisar o rei de Angola: que olhasse e
soubesse que a vinda do Governador e mais portugueses a esta terra era
para lhe fa çer guerra e flnalmente para lhe tomarem seu Reyno, tendo o
soba de Angola resolvido mandar cortar a cabeça a todos os portugueses
e ao Padre Gouveia, que ainda lá residia, mas por fim convenceu-se de
que essa informação não podia ser verdadeira, nada fazendo contra os
nossos, antes pelo contrário, até, tendo adoecido o Padre Gouveia, en
carregou os seus curandeiros e feiticeiros de o curarem, o que não con
seguiram, falecendo o Padre, e, tão grande foi o seu desgosto, tão sin
cero seria o seu arrependimento pelo que pensara fazer, que o manifes
tou, distribuindo, conforme o costume de ainda hoje, bois e mantimentos
pelos seus vassalos para chorarem o Padre, e prendeu os embaixadores
do rei do Congo, enviando-os presos a Paulo Dias, que os mandou
para S. Tomé. *
No Congo estava ainda Francisco Gouveia, que tinha lá ido com
tropas de Portugal para defender o rei do Congo da invasão dos Jagas
e reeonquistar-lhe o seu território, tarefa que estava terminada. Assim,
e pouco verosímil que a intriga partisse do rei do Congo, mas antes,
talvez, de algum dos seus duques, o que governava a província de
Bamba, muito habitada por mulatos e padres negros, e que viviam em
questão permanente com o rei de Angola por causa das fronteiras, se
não partiu dos próprios portugueses a quem não podia agradar a
doação feita a Paulo Dias e, como já ficou referido, de há muitos anos
se vinha opondo à acção dos que procuravam tirar a Angola tôda a
interferência do Congo.
O certo é que a intriga não surtiu o efeito desejado e Paulo Dias e
os portugueses continuaram va viver na melhor harmonia com o rei de
Angola, ocupando-se nos seus negócios e, em especial os padres, tra
tando da evangelização, muito embora fôsse opinião geral que a con
versão destes barbar os não se alcançará por amor senão depois que por
armas forem sogeitos e vassalos d’el-Rey nosso senhor (i) o que bem
veria ser umja g a , talvez o Calunga e não Cabunga, que mais tarde regressou a Cassange, onde
passou a fazer parte das famílias reinantes, Culaxingo e Gonga.
Abreu de Brito diz-nos que a uma jornada de Luanda habitava o fidalgo Cassange e, anos
mais tarde, no governo de JoSo Correia de Sousa, ainda um Cassange vivia nas proximidades
de Luanda, e foi atacado por êsie governador, travando-se a célebre guerra da Ensaca de Cas
sange. Ainda a confirmar a suposição de que fôsse jaga, está o facto de ter comido os brancos,
que não era costume entre indígenas do Congo.
(i) Carta do Padre Garcia Simões, citada.
Parte I I — Angola í 37
i36 Angola
todos os lados, pelos colonos e pelos padres, para entrar no caminho
mostra a disposição dos espíritos e a orientação que viriam a imprimir da conquista pela fôrça, para o que êle, como se calcula, não estava cm
à acção de Paulo Dias, aqueles que com êle mais privavam. condições, necessitando de algum refôrço do reino.
Esta opinião não era seguida por Paulo Dias, que não via motivo Entretanto, e devido à persistente campanha da necessidade da
para iniciar as guerras. O seu plano era assegurar-se das boas relações guerra, estas boas relações alteravam-se, e pela Páscoa de 577, em uma
com o Congo e com o Angola, a cujo rei parece que prestou auxílio povoação para 0 interior, onde residiam cêrca de cem portugueses com
contra um seu vassalo rebelde, o soba de Quiioango (i) pelo que nada pretos cristãos do Congo, os indígenas, em grande número, cercaram-
fazia prever um rompimento de hostilidades, nem se tendo, para tal, -nos, o que deu lugar a que os nossos tivessem de se defender, vencendo
preparado, pois que parte dos portugueses que trouxera andavam ne os sitiantes, que, sofridas algumas mortes, levantaram o cêrco, pedindo
gociando peto interior. pazes. As caravanas dos portugueses eram assaltadas pelos caminhos,
O negócio continuou por espaço de alguns anos, com pa{ e amizade, roubando-se-lhes as fazendas, e o rei do Congo, querendo mostrar a
em que iamos com grande prosperidade, e o gentio estava muito contente sua dedicação e instigado pelo seu secretário que era português, Garcia
do bom trato e correspondência que com eles tínhamos, e das mercadorias de Gusmão, manda 0 seu sobrinho Manibamba, com muita gente de
que lhes levavamos para o resgate das peças, marfim e fru to s da terra, e, guerra, atacar a libata dos assaltantes. Paulo Dias ao sabê-lo, receando
assim, com muita confiança ia nossa gente pela terra dentro a fa \er res represálias e atendendo a que muitos portugueses esta?am pelo interior
gates efeiras (2)1.
com fazendas e escravos e não tinham tempo para se recolherem a
Eram constantes as chegadas a Luanda de caravanas com escravos
Luanda, manda pedir ao rei do Congo que faça retroceder o M ani
para embarcarem, calculando-se que por ano saíam cerca de 12.000 (3 ),
bamba, o que assim sucedeu e atem-se que se 0 não impedisse, estivera
muito embora êste número pareça exagerado e não condiga com o apu
°Je de posse de quasi toda A ngola e suas minas » (1).
ramento que fêz Domingos de Abreu e Brito (4).
Estava lançado fogo ao rastilho. Paulo Dias tinha de ceder, e, pe- j
Por vezes o negócio do escravo, pelo interior, se dificultava, e os rante a insistência dos pedidos de mais escravos para a América e, pe- í
portugueses insurgiam-se e pediam a Paulo Dias para matarem os ale- rante a dificuldade que se fazia sentir para os obter, não pôde deixar
vantados, o que muitos faziam, mesmo sem licença, e os padres eram
de concordar que a conversão daqueles barbaros não se alcançaria p o r
os primeiros a acompanharem êste protesto contra a orientação de Paulo
amor e sô sujeitos pelas armas, como dizia 0 padre jesuíta Garcia Si
Dias, apreciando-o: « Verdade he se 0 nosso governador tendo já possibi-
mões. Nesta ordem de ideas e em nome dos mais humanitários prin
<s.lidade, vendo como estas terras lhe cabem por sua doação, elle poderá
cípios e fins, o caminho era só um — a guerra. \ Como êle se veria longe
«fa\er 0 que difiamos; mas elle está ainda muyto tenro e muy devagar,
e com saüdade do tempo em que julgava que obteria a sonhada riqueza;
«esperando que Sua Altera 0 bafeje e favoreça ... (5).
das minas com a bacia e os foles de ferreiro! *
Uns anos antes, um dos seus colegas e 0 mais fervoroso apóstolo do
cristianismo na América, preconizava, para catequizar o gentio « espada Mas não podia ser uma guerra geral de conquista pela fôrça, como
e vara de ferro, que é a melhor prégação » (6) e outros receitavam « tres os seus instigadores queriam, pois não tinha os homens necessários
P P : pau, pão e pano » (7) e, assim, Paulo Dias se via assediado por para êsse fim e, se os tivesse, se só essa conquista satisfazia a ambição
dos que o acompanhavam, não a julgava êle necessária para a realiza
ção do seu sonho da posse das minas. Necessitava dar execução ao
(1) Catalogo dos Governadores de Angola. Esta informação foi colhida pelo autor do Ca
talogo numa carta de Garcia Mendes Castelo Branco, a que já se fêz referência. plano, que de há muito tinha concertado para a construção dos castelos,
(2) Garcia Mendes Castelo Branco, cit.
que serviriam de apoio à sua penetração. Iria por partes. Manter-se-ia
3( ) Carta do Padre Garcia Simões de 7 de Novembro de 576. Boi. da S. G. L., n.° 7,4.*
rie, pág. 347. nas melhores relações com o rei de Angola e, entretanto, fora do reino
(4) Mss, cit.
ou sob ado propriamente dêste, no território que constituía a p rovin d a
5( ) Padre Garcia Simões, carta cit.
6( ) Lúcio de Azevedo, ob. cit., pág. 254.
{7) Idem, pág. 267.
(i) Nota à carta referida do Padre Simões, pág. 348.
18
1 38 Angola
da lia m b a , êle iria dar com eço à construção dos fortes, procedendo
co m tô d a a diplom acia.
E ra-lhe determ inado que um dos castelos seria no pôrto onde lhe
p a recesse que pudessem ir navios estrangeiros e, com o êsse pôrto não
p od ia d eixar de ser Luanda, onde tinha o seu arraial ou fundamentos
de futura cidad e, ali mandou construir hum fo r t e d e taipa e assestada
s u a a rtilh e ria e he hum m onte qu e entra com húa g ra n d e p e llo m ar na
q u a l p o n ta estam os situados p or ser bom sitio (i), obra muito passageira
e de nulo va lo r m ilitar, mas que servia para poder dizer que tinha cum
p rid o a cláusula da sua doação.
Seguidam ente, como o gentio dos arredores nos incom odava, m an
d o u d a r o g u o v ern a d o r uma g u erra a qua$an$e hüa jo r n a d a da villa de
1 M a n d a . . . e ch eg a n d o a g u erra que o guovernador m andara a Quasan^e
v en cerã o aos in im ig o s tom ando os g nardos (gados) mantimentos, e p o r
q u e não leva vã o % rdem d e se g u ir a victoria se retirarão p arecendo-lhe q.
tin hã o g a n h a d o a terra & na prim eira noite derão os inim igos com socorros
so b r e e lle s os m a ta rã o & a m enor p a rte delles cativarão & etc. (2).
D e ve ter sido por êste m otivo e para se não sujeitar a outro desas
tre, que P a u lo D ias não aceitou o oferecimento do rei do Congo a que
atrás se faz m enção e assim se explica a referência que se encontra em
um a nota, extraída duma carta do Padre Baltazar do ano de 577, onde
se diz que o m otivo foi « ou p o r não confiar delles ou p o r esperar de co
b r a r a lg u m p ed a ço d e credito p erdido na g u erra passada com estes M u ci-
canga-çes, etc.» ( 3 ).
E sta g u e r r a p a ssa d a , não deve ser outra senão a sortida que mandou
fa ze r a Q ua sa n \e (4), a um dia de viagem de Luanda, e deve ter tido
lu gar em 576. Depois disso, reconhecendo Paulo Dias a insuficiência
dos m eios de que dispunha, vendo o gentio dia a dia a revoltar-se e a
d ificultar a vida dos portugueses pelo interior, terá exposto a situação
a seu P a i, pedindo-lhe para arranjar um novo e importante reforço.
D esta v e z parece que foi o Cardial D. Henrique o financiador, tendo
em prestado vinte mil cruzados para o recrutamento dos soldados e
com pra de m unições e fazendas (5 ), importância que corresponde entre
2 .0 0 0 e 2.400 contos de hoje, que se não obteriam muito fàcilmente
• *
Mas Paulo Dias é que não podia já parar no caminho que encetara
e, emquanto não chegava o refôrço pedido, foi tratando da fundação
« dos tais castelos que êle pensou em aproveitar, não para em redor se
construírem povoações, mas como postos de étape para a marcha sôbre
Cambambe — as minas de prata, que nunca tinham deixado de ser o
seu principal objectivo. Queria, como ficou dito, fazer tudo na melhor
paz e harmonia com o rei de Angola, com quem até aí não tinha tido,
parece, a menor desavença.
« Aos ires annos da estada do Guovernador na villa de Loanda, cor-
« rendo todo este tpõ com o Rey Danguolla como levava por seu Regi-
« mento; determinou de entrar pella terra dentro com este titulo de ami-
«\ade, etc.» (i) e assim, saindo de Luanda, dirigiu-se às margens do
Cuanza a um sítio a que chamavam Tombo, e depois para Calumbo (2).
Mas o rei de Angola é que não compreendeu as suas pacíficas intenções
e quando Paulo Dias estava em Calumbo, avizou-o de que não tomava
estas suas entradas pela terra dentro à conta de amizade e que o ia
atacar, pelo que Paulo Dias se internou, indo construir um forte em
Anzelle ( 3) para melhor poder resistir.
(0 Carta do Padre Baltazar Afonso, de 4 de Julho de 58i. Boi. da S . G . L ., n.® 7, 4.® série,
Parte I I — Angola 143
(1) Carta do Padre Baltazar Afonso, citada. É muito possível que êste combate fôsse com
o soba da Quiçam a— Mochima Quitangombe, a que se refere Garcia Castelo Branco.
(2) Abreu de Brito e Ravenstein chamam-lhe Macunde. Os jesuítas chamaram-lhe Mo
cumba
144 Angola
nheiros, animando os pretos que os acompanhavam, seguia-os, indo
-dar a umas furnas, onde estava o grosso das fôrças inimigas.
Estavam perdidos; mas Manuel João não se atemoriza. Os inimigos
-eram tantos e já tão próximo apertando-os no cêrco, que os nossos nem
já podiam utilizar as espingardas. Manuel João iança-se na luta corpo
a corpo, entre a massa dos indígenas, que caíam aos golpes da sua va
lente espada. Uma azagaia atravessa-lhe um pê. Manuel João cai e
está impossibilitado de se levantar. O gentio vem então sôbre êle e,
ali o decepa e esquarteja. Os outros quatro valentes e os pretos que
os acompanhavam tiveram igual sorte, e o inimigo entoa os seus cân
ticos de vitória.
No acampamento adivinha-se o que se está passando e, concen
trando-se para a defesa dum provável ataque, passam assim a noite, e
pela madrugada recolhem ao arraial da Mucumba a dar a Paulo Dias
a infausta novaf
Ao mesmo tempo o socorro do Congo, de 5 o portugueses e alguns
milhares de indígenas, é desbaratado ao chegar à fronteira de Angola
e, ao passo que os negros, animados com as vitórias, se tornam ousados
e atrevidos, os nossos desanimam, e cançados duma luta que durava
mais dum ano, procuram por todos os meios alcançarem embarcações
que os levem Cuanza abaixo até Luanda.
A situação de Paulo Dias era desesperada. Não só a gente lhe fal
tava, mas já não tinha munições. Numa das travessias do rio, volta
ra-se uma embarcação com duas peças de artilharia e alguns quintais
de pólvora. Estávamos em Junho de 5 8 1 e da metrópole não se espe
rava socorro rápido, a-pesar-de já pedido.
*
# *
dira, até talvez ao próprio Paulo Dias e a Luís Serrão, que, sem reagi-
g ire m , deixavam desertar quantos queriam.
Censurando os que apareciam em Luanda vindos de Mocumba, ex-
probando-lhes a falta de patriotismo, declarou-lhes que visto que todos
fugiam iria para lá êle que não era soldado, e conseguiu que desses
corações insensíveis para tôda a dedicação que não representasse um
lucro, nascesse a revolta contra os seus próprios actos. Exortando-os,
aproveitando hàbilmente êsse despertar dum resto de sentimentos no »1 ^
bres, arvorou-se em chefe militar, reüniu homens, mantimentos, armas,
I ^
munições e pólvora, tudo quanto havia que pudesse servir para uma
resistência, pequena ou grande que fôsse, e partiu numa embarcação,
Cuanza acima, a levar a Paulo Dias não só o refôrço material máximo
que se poderia obter, mas o revigoramento da sua energia e dos seus
bravos companheiros. • í
Quando no acampamento souberam da sua vinda^êles que mal po
diam sair para assaltarem alguns indígenas onde arranjassem com que
: i
entreter a fome, vieram esperá-lo ao caminho, desembarcaram-no num
ponto por onde se atalhava para chegar ao acampamento e, distribuindo
por todos as cousas que levavam, conduziram-nos a Mocumba no meio
da maior alegria, onde chegaram no dia de S. João de i 5 8 i .
Ainda duravam as manifestações de regozijo, quando se sentiu o
grito de alarme, «arma, arma». Todos se armaram e sairam ao en
contro do gentio, que não esperando ser atacado, acostumado a atacar l
os nossos que se limitavam à defesa, fugiu sofrendo algumas perdas,
pelo que daí para o futuro nunca mais nos atacaram, antes foram os
nossos que tomaram êsse papel, e, com tão bons resultados, que muitos
fidalgos indígenas se apresentaram, prestando obediência a Paulo Dias.
Entre êles, veio o soba da Songa (1), que se fêz cristão e passou a cha-
mar-se D. Paulo, e que Paulo Dias nomeou capitão mor da gente da
terra, com o direito a se poder assentar em alcatifa, diante dêle e de
todos os Governadores que lhe sucedessem. A apresentação deste
fidalgo era importante, pois que além duma das suas filhas ser mulher
t
do rei de Angola, tinha na côrte grande conceito, sendo um dos macotas
mais considerados e que o rei mais atendia.
Readquirido o antigo prestígio, Paulo Dias a-pesar-de só poder
contar com pouco mais de um cento de portugueses, pois que os res
tantes tinham sido mortos ou inutilizados em combates ou pelo clima,
(1) Carta do Padre Baltazar Barreira para o Provincial, de 20 de Novembro de i 583. Boi.
da S. G . L ,, n.° 8, 4.* série, pág. 371. Vê-se da leitura desta carta que Paulo Dias saiu da Mo
cumba dois anos depois de lá chegar, e portanto em Novembro de i 582, e que 0 combate em
que o Angola foi derrotado, teve lugar, depois disso, em dia de Nossa Senhora, — por isso no
meiam esse dia Nossa Senhora da Vitória, o qual outro nao pode ser senão o de 2 de Fevereiro
583
de 1 , visto a carta ser datada de Novembro desse ano. A-pesar-dísso Ravenstein indica o
ano de 1584.
\
*
* %
1
Havia dois anos que Paulo Dias estava em Massangano sem socorro
algum de Lisboa, nem soldados, nem pólvora. Mas era desta, sobre-
148 A ngo la
tudo, que mais carecia, pois havia tão pouca, que já lhe sobravam sol
dados.
O Padre Barreira, que acom panhava as guerras, e que, indepen
dente da direcção dos negócios religiosos tinha parte activa nos assuntos
guerreiros, Já providenciara para que se fôsse a S. T o m é b u sca r a lg u m
r e m e d io d e p o lv o r a p a r a lh e a cu d irem , com etendo êsse encargo ao Padre
B a lta za r A fo n so . É que a situação não perm itia delongas e, com a d e
m ora h avid a, gran d e número dos sobas que tinham prestado v a ssa la
gem , esperan do que o rei de A ngoía fôsse vencid o, p assaram -se n o v a
m ente p a ra êle, ou m antinham -se indecisos, o que b a sta va p a ra o rei
d e A n g o la se en cher de ânim o e esperanças de v ir a d erro tar os nossos
em algum co m b ate. A p o sição ocu p ad a em M assa n g a n o era explên-
d id a : « e stã o e n tr e d o n s R io s m u jrto f o r t e s q u e so o p o r h u a p o n ta lh e
p o d e m e n tr a r p o r terra , q u e d o u s tiro s d e fe n d e r ã o a e n tr a d a , m a s to -
m a l- o s - h ã o á fon/% , e a s m ã o s a ca b a n d o d e s e g a s t a r e ssa p o u c a p o lv o r a
q u e te m (r).
B a lta za r Afonso, em vista dos apuros em que os nossos se encon
travam , pôs-se em viagem para S. Tom é e a cinqüenta léguas de Luanda,
encontrou um n avio da arm ada que Felipe I m andara em socorro de
A n g o la e, p o u co s dias depois, a nau capitaria, e expondo-lhes a situação
em que se e stava, pediu-lhes fôssem com a m aior b revidade, seguindo
êle, entretanto, p a ra S. T om é, onde poucos dias depois a rrib av a a nau,
que v en to s e correntes contrárias p a ra ali levaram n ovam ente. D eses
p e ra d o s com m ais este contratem po e atendendo â urgência dos socor
ros, m eteram num navio setenta a oitenta sold ad os, algum m an tim ento,
d ez q uin tais d e pólvora e arcab u zes, fazen d o segu ir p a ra L u an d a, em -
q u a n to a nau co n tin u a va a sua viagem ch eia de con tratem p os, ten d o
g a sto d e S. Tom e' a L uan d a, cêrca de três m eses, de m an eira que ch e
g a ra m a L u a n d a em Setem bro, q u an d o tinham c o m e ç a d o as p rim eira s
c h u v a s e o esta d o sa n itá rio era péssim o, tendo a d o e c id o p a rte da g e n te
q u e vin ha.
Ê ste socorro era comandado por João Castanho Vellez. Compu
nha-se de p o u co mais de 200 soldados, mantimento, pólvora, munições
e arm am ento, sendo êste muito ordinário. Vinha com êles o Padre
D io g o da C osta , tam bém da Companhia de Jesus e, certamente, mais
algum p esso a l da Com panhia.
(1) Boi. da S. G. L., n.° 8, 4.* série, pág. 3/ 3. Carta do Padre Baltazar Afonso de t6 de Abril
de 1584.
• 'X
U Sf
(1) Assim o dizem os vários cronistas que se referem à sua ida a Angola, mas a verdade é
que nenhum dos regimentos ou instruções que lhe foram dados trata de assuntos de fazenda.
(2) Boi. cit., pág. 374, fim da carta.
i5 o Angola
(i) B oi. cií. C arta do Padre Barreira de 27 de Agosto de i 585, pág. 379-
i 52 Angola
os presos da guerra, quando apareceu um grupo dos jagas batendo as
palmas em sinal de quem pede para ser perdoado e quer prestar vas
salagem. João Castanho parou para os receber, sem tomar a menor
atitude de defesa. Estavam sossegadamenie tratando as condições da
paz, quando, repentinamente, lhes aparece um numeroso grupo de jagas
e em tal quantidade e com tal rapidez, que nem tempo tiveram os
nossos para pegarem nas espingardas e tomarem qualquer defesa,
sendo agarrados por êles que logo ali os mataram, decepando-os.
Alguns negros que escaparam vieram dar a triste notícia ao forte,
onde apenas tinham ficado oito ou nove homens em condições de com
bater, pois que o resto estava doente. Sabendo que os jagas vinham
atacá-los, resolveram enterrar a artilharia e queimar o fa to que não
podiam transportar e retirar para o acampamento onde estava Paulo
D ias, que, em vez da notícia da posse das desejadas minas de Cam-
bam be, recebei# o de mais êste desastre. -
Mas não desanimou e nem o podia fazer, porque naquelas circuns
tâncias seria a liqüidação desastrosa de todo o seu esfôrço e dos que o
acompanhavam. A notícia do desastre sofrido, produzira logo os seus
efeitos entre muitos fidalgos indígenas que, se não estavam por nós,
pelo menos, com o mêdo, nos não hostilizavam. O rei de Angola apro
veitou o momento e combinou novo e decidido combate. Paulo Dias,
sabendo-o, reüniu o resto dos seus valentes companheiros, fazendo in
cluir nêles os velhos soldados conhecidos entre os indígenas por sambos,
elefantes (i) tal era a devastação que operavam quando apareciam.
Eram os nossos cerca de 140, acompanhados por grande número de
auxiliares negros, cêrca de de\ mil frecheiros que chamamos chorymbaris
q u e se deitarão com os nossos e muytos delles christãos homem valentes e
d e m uytos ardis , a seu modo e a gente de quarenta sobas que estavam
por nós.
Em Setembro de 5 8 6 , o rei de Angola, com os sobas que lhe eram
fiéis e os seus aliados iniciou, no maior segredo, a marcha para nos
atacar, e por tal forma, que quando os nossos se dispunham a passar
para o Lucala, souberam que a gente do Angola já o tinha passado
com três poderosas colunas, uma delas comandada pelo Angola-Ca-
(i) A carta publicada no Boi. da S. G. traz esta grafia, mas é de presumir que houvesse
êrto na transcrição, porque o termo empregado deveria ser nzambos» de N’zamba — elefante.
R egra s de F r. Vetralla, já cit., pág. 106. Abreu de Brito chama-lhe gutijos, talvez de N ’gnjo
Parie 11— Angola i53
lunga, o jaga que tão traiçoeiramente tinha morto João Castanho e
aqueles que o acompanhavam, c outra pelo soba da Matamba.
Luís Serrão comandava os nossos e, conhecendo já a táctica dos ne
gros, receando os contra-ataques de que tinham usado na guerra ante
rior, mandou Francisco de Sequeira com uma parte da tropa atacar os
primeiros escalões de indígenas que apareceram e que eram os do rei
de Angola, e por tal forma êsse ataque se efectuou, que o inimigo ficou
dividido, uma parte completamente desbaratada e outra com grossas
perdas, mas pôde fugir. No dia seguinte os nossos passaram o Lucala
e foram então encontrar o outro escalão, que era a gente da Matamba,
e os atacou como Luís Serrão calculava. Êste, batendo-os, obrigou-os
à retirada, e, perseguindo-os, matou-lhes o chefe, um dos sobas mais
poderosos, que se fazia acompanhar, diz a fantasia do cronista, de qui
nhentas guerreiras, molkeres todas vestidas com seus ferragoulos ricos de
Portugal, cousa que elles tem por grande estado (i). •
O momento era azado para prosseguir na conquista, d Mas como,
se não tínhamos gente P De Lisboa não vinham os socorros pedidos e
os portugueses que se empregavam na guerra eram poucos para manter
aquela avançada de Massangano, que cobria os que estavam em Luanda,
permitindo-lhes o seu negócio, mas reduzido por tal forma, na parte que
dizia respeito à província da liamba, que foram forçados a explorar os
resgates pela costa para o sul do Cuanza, dando-lhes bastante desen
volvimento.
Constituía todo êsse território a doação ou capitania de Paulo Dias,
que, por falta de meios, a não podia explorar como pensara, vendo-se
na necessidade de recorrer ao concurso dos portugueses estabelecidos
em Luanda, que, animados pelos bons negócios efectuados, se oferece
ram para irem fundar um presídio em Benguela Velha. Paulo Dias
aceitou a oferta e encarregou o seu parente Lopes Peixoto de os dirigir,
tendo as melhores esperanças no bom resultado desta expedição, por
que, segundo um dos cronistas (2): El-Rey de Benguella já mandou os
dias passados pedir sua amisade ao Governador e quer ser sogeito a E l Rey
de Portugal.
Seguiu Peixoto com os cinqüenta moradores (3 ) para Benguela,
onde chegaram e desembarcaram sem oposição, escolhendo o local para(i)*3
(i) Boi. da S . G. L,, cit. Carta do Padre Diogo ao Provincial de Portugal de 3i de Maio
de i 586, pág. 382.
(a) Idem, pág. 383.
3
( ) Abreu de Brito, Mss. cit.
20
i 54 A n g o la
uma fortaleza, cuja construção, de pau a pique, logo iniciaram e leva
ram a efeito.
A atitude dos indígenas de nada fazia suspeitar, mas um dia, estando
quási todos os portugueses despreocupadamente na praia, apareceram-
-lhe de súbito os gentios em atitude ofensiva, atacando-os e sem lhes
darem tempo a recolherem-se ao pequeno forte e armarem-se para se
defenderem, sendo todos assassinados e a fortaleza saqueada, roubando
tôda a fazenda que tinham para o seu negócio. Apenas escaparam
dois, que numa pequena embarcação vieram a Luanda dar a notícia.
Pouco depois de sofrer mais êste desastre, sucumbia Paulo Dias de
Novais (t), em Massangano, aos efeitos de dezoito anos de Angola,
cheios de lutas e trabalhos, e sem ter conseguido atacar na sua embala
o soba do Dongo, rei de Angola, que tão tenazmente se opunha ao seu
sonho da posse das serras de Cambambe, luzentes de prata, cuja exis
tência lhe foi confirmada, quando êle, alquimista, nos seus tempos de
cativo, na sua cubata, disfarçadamente, não fôsse o soba perceber-lhe
as intenções, experimentava na bacia, com os foles de ferreiro, as pedras
que apanhava durante o dia!
*
* *
(i) Faleceu em 1589, contra o que diz o autor do Catalogo dos Governadores.
Parte I I — Angola l55
(t) Não deve passar sem reparo a insistência dos cronistas da Companhia em atribuírem
sempre à acção do rei do Congo, junto do Ngola, as cenas de carnificina e roubo, de que eram
ameaçados ou foram vítimas os portugueses. A primeira vez que Paulo Dias foi a Angola, vemos
um dos irm ãos a dizer-nos que os portugueses foram todos presos e roubados. Anos depois,
volta Paulo Dias a Angola e logo de entrada vêm as queixas contra o rei do Congo, que se jus
tificou como pôde. Passados três anos, durante os quais alguns favores confessam que nos
prestou o rei do Congo, em mais de uma carta se encontram referências a atitudes dúbias e
prejudiciais aos nossos interêsses por parte do rei do Congo. Ódio velho...
la) B o i. da S . G . L ., cit.
y;
»
#
..
i ,
. • < :
í'
V I;
j
158 /In^o/a
forma, não havia sujeições, não havia cativos nem escravos, mas so
mente a retribuição a dar pelo soba ao procurador ou amo, pela pro
tecção eficaz junto das autoridades, pela defesa constante dos seus in
teresses e dos seus direitos.
O sistema era tão bem aceite entre os indígenas, que estes, quando
iam para as guerras, já pensavam, no caso de serem derrotados, em
quem haviam de pedir para am o, e, em geral, pediam os padres, por
que: « tin ha m e n tre os n eg ro s g ra n d e fa m a d e sere bôs hom es, & am paro
« & p r o te y ç a m d e brancos e p r e to s », « . . . os quaes nam aceytauam isto
« m a is, q u e p a r a os cõsolarem , & a q u ie ta r e m . . . A n tes os p a d res m uytas
« ve%es r ep u g n a r ã o aos te r: m as o G ouvernador os obrigaua a isso, nem
rí «p o r resp ey to d os p a d r es, n ê do p ro u ey to qu e disso tiuessem , que era assa{
«p o u c o , nem p o r lh e f a \ e r nisso f a u o r & honra, senão p o r respeyto do bem
« d a co n q u ista & do serviço p r o p n o d e sua M a g esta d e, p ois com isso tinham
« o s S o b a s s o g e j ^ s & quietos » (i).
Não há dúvida que aos indígenas não podia repugnar o processo,
porque êles próprios o empregavam. Já em i 56o, quando a primeira
missão dos jesuítas chegou a Angola, o soba deu os nossos ao G o n g o -
cin \a , que ficou sendo nosso amo, como lhe chamava o Padre Garcia,
quando a ê!e se referia. O sistema era, pois, corrente, e os indígenas,
tendo de pagar um tributo, tanto se lhes dava que fôsse ao soba como
ao governador, desde o momento que um dêstes os garantisse das pre
potências e ataques do outro.
Poderia Paulo Dias, à falta de fazendas e de dinheiro, ter pago os
serviços que capitães e padres lhe prestavam, dando terras em sesma
ria, como o autorizava a sua carta de doação, mas não havia em An
gola possibilidade de o fazer, porque ninguém queria, então, terras, mas
sim pretos que nela habitassem, como frutos que as mesmas dessem, e
êsses é que passaram a ser sesm ados, dados de juro e herdade, como
no Brasil tinham sido a ldea dos. O processo foi precisamente o mesmo
e conduzido ao mesmo fim, e Paulo Dias por tal forma foi convencido
de que era assim que deveria proceder, que em pouco tempo tinha dis
tribuído todos os sobetas que avassalara, dizendo àqueles a quem por
(i) R e la ç a m annual das covsas que fed era m os p a d res da Com panhia de Jesus nas p artes
d a Ín d ia O rie n ta l <£ no B ra sil, A n g o la , C abo Verde, & e tc .. . . nos annos de seiscentos <Si dons &
seiscen to s & ire s & etc — p e lo p a d re F ern am G u erreiro. L x . Anno M D C V. C a p . V II. D a s
125
cp usas d o R e in o d e A n g o la , fl. e segs. Biblioteca Nacional, Res. 445 P. e edição da Imprensa
d a U niversidade de Coim bra.
P arte I I — Angola i 5ç
esta forma remunerava os serviços prestados, que tal doação era válida,
porque era conforme ao regimento da Mesa da Consciência.
*
ft *
(1) História do Congo, Paiva Manso, cit., Doc. lxiv, pág. 120. Esta missão foi incumbida a
Sebastião da Costa, que foi portador de uma carta para 0 rei D. Álvaro, mas que não pôde
entregar por ter falecido na viagem. Duarte Lopes refere-se a esta embaixada.
(2) História do Congo, citada.
160 Angola
O pedido estava dentro da orientação dos princípios decretados
p elo rei nas C ôrtes de Tom ar.
É certo que o terceiro estado, — o povo, — tinha instado pela suspen
são dos m onopólios e contratos sôbre o comércio das conquistas, lem
brando que ficassem livres e pagos à fazenda os direitos que a lei es
tabelecesse. M as, pelo seu lado, a nobreza pedia que os bens da Coroa
que vagassem fôssem providos em pessoa do mesmo sangue e, sendo
possível, do mesmo apelido, para honra e acrescentamento da fidalguia
portuguesa e conservação das famílias ilustres, e que só se provesse as
capitanias das conquistas em fidalgos e não em letrados (1).
O pedido do povo implicava uma alteração no sistema de cobrança
de receitas, que se não coadunava com a pobreza dos cofres da Real
F azenda e, assim, os partidários de Felipe II, que tão desveladamente
tinham preparado a aceitação, por tôda a nação, do seu novo rei, não
quiseram entrarrem reformas que poderiam trazer complicações e apre
sentaram-lhe com o fórmula que evitava atritos, tudo conciliava e êle
aceitou: que continuariam para todos os ofícios, tanto da Casa Real
com o do governo, a serem nomeados só os portugueses; se não faria
m udança alguma no que até ali se praticava, e não seriam dadas cida
des, vilas, lugares, jurisdições ou direitos reais, senão a portugueses, e
os que vagassem , não seriam tomados para a Coroa, mas providos nos p a
rentes d os qu e os ocupavam (2), capítulos estes que eram os de maior
im portância, por dizerem respeito aos interêsses individuais, que, assim
respeitados, constituíam a condição necessária para a boa paz e melhor
concórdia.
E ra difícil satisfazer a renovação integral da doação, — património
e terras, como lhe fôra feita, dada a falta de meios de Paulo Dias para
a m anter, para o que pedia o refôrço de gente por conta da Fazenda
Real.
Pelas suas instâncias para o refôrço, expondo o perigo em que es
tava de tudo se perder e das enormes riquezas que se adquiririam com
a conquista, adoptou-se uma solução intermédia, deixando-lhe ficar o
■ patrimônio, — a capitania das 35 léguas da costa, do Cuanza para o sul,
e passando o restante território à acção directa do Estado, com os seus
funcionários, de que êle continuaria a ser o primeiro.12
*
* *
( t ) T ô r r e do T o m b o , t. i.« de L eis, fls. 91 v . ' e 1. 9.” dos Felipes, fls. 348 e seguintes. A n e
xos, doc. n.» 1 8 -1 9 ,e 2 0 : «P o d e r e a lç a d a q u e le v a o l.o j o ã o m o r g u a d o q u e v a y to m a r R c s i d é ç i a
a o s o u v y d o r e s q u e e s tã o n o R . no d a n g o lla , a que se seguem instruções sobre serviço de ju s tiç a
e descobrim ento de minas». C o m o se vê, nenhum dêstes docum entos d iz respeito a serviço s
de fazenda, m as contudo havia em A n go la um Proved or de F a zen d a co m um E sc r iv ã o , que era
G asp ar Ferreira, que estando ausente, foi nom eado para interinam ente exercer o seu c a rg o ,
L o p o D elgado, m oço da câm ara de E l-R ei, em 1 583. B iblioteca N acion al, S e c ç ã o U ltram arin a ■
de A n g o la , c/145, Anexos, doc. n.° 1 1. Q u an to a contrato sôbre os direitos de escravos, con sta
do mss. da B ib lio teca Nacional, de Dom ingos de A breu de B rito, já referido, qu an d o tra ta d o
rendimento dos escravos, que nos últim os quatro anos ( 1 g» m enos 4== 1 5 588 ) o s direitos esta
vam arrem atados.
21
TÓ2 Angola
meirinhos, escrivães e mais oficiais necessários para administrarem jus
tiça, conhecendo o ouvidor das causas em apelação e aplicando os
juízes penas e tomando resoluções até aos limites que se fixavam, e
ainda que Paulo Dias e seus sucessores a qu e (quem) esla capitania e
governança (refere-se à parte não incluída nas 35 léguas) vier (a per
tencer) usem inteiram ente de toda a ju r d iç ã o p od er allçada nesta doação
continda a si e da maneira que nella he declarado, e t c . . . . e « que nas
terras da dita capitania (Cuanza para o sul) não entre nem possa entrar
em tempo a llg u m corregedor pera nellas usar d e ju rd içã o allgum a per
nenhum a via nem modo que seja e porem eu p oderei quando me bem p a
recer m andar allçada e prover em tudo o m ais que m e pareçer que cum pre
a meu serviço e bem da ju stiça e bom governo da terra, etc. . . . ».
Nas instruções dadas a João Resende, determ inava-se-lhe: « P ri-
« m ram ente tanto q. chegardes ao dito R .no dangola dareis ao g .i0T a minha
« carta q. p era e l& le u a is . . . E não entendereis na p .a do dito g .dor no q.
« tocar á m ateria da ju s t .a ne nas cousas p o r elle fe ita s e ordenadas p or-
« quanto p o r a lg ü s ju s to s resp.tot q. m e a isso m ouê o ey asy p .° b ê . . . . E y
«por bê q. tom eis c.i0 p er apellação ou agrauo de todos os casos que não
« couberê na alçada do dito g .ior conforme a sua doação E não auocarets
« os fe ito s . . . D a reis ordé praticando pr.° cõ o dito g .d0T q. nas matérias de
' « ju st.a se g u a rd e daquy en diante as ordenações do R .n0 e t c .. . . E p°uereis
« q. d a q u y en diante se ponhão em arecadação a s fa \ .das dos defuntos dando
« nisso a ord é q. vos parecei- . . . e sendo algüas f a { .das dos ditos defuntos
« gastadas p or or d ê do g .dor não entendereis na arrecadação delias ./. sp
it m ente fa r e is p o r os autos em guarda em poder dos offi.es A q. pertence,
« etc__ E inform am os éys se no dito R .”° dangola andão a lg ü s homes
« casados q. fo s s e destes reynos e quanto tpõ ha e q. não queré vir fa \ e r
« vida com suas molkeres nê p°veremnas do necessário ./. vivendo m al e
« desoluta m en te. . . e parecendovos q. algüs dos ditos homões viuê tão de-
« solutam ente q. conué ao serviço d e noso sõr e nem ao bom exem plo f a
it lerd elo s em barcar o podereis fa \ e r comonicando p rim .ro com o g .d0T sê
« m o fa z e r d e s sabr et c. . . . ».
Sê é certo que em'tâdas estas intenções sobressai o desejo de não
melindrar Paulo Dias por algüs ju sto s respeitos que me a isso movem, não
é menos certo que, sôbre matéria de justiça e arrecadação de rendi
mentos, — o exercício do poder público, — êste foi-lhe completamente
anulado, porquanto passou a haver uma entidade, corregedor, provedor
ou ouvidor, que não era nomeada por Paulo Dias mas pelo rei, e que,
levando ordens para nada averiguar do passado, nem ao menos do des-
P arteil— Angola i63
tino dos bens dos defuntos, tinha o encargo de estabelecer os serviços
conforme as leis e regimentos do reino, donde se deduz que náo deviam
estar nessa conformidade.
Era uma esponja sôbre o passado e vida nova para o futuro, com a
expulsão dos portugueses cafrealizados que por lá se encontrassem e
ordem na administração da justiça. Era emfim um processo de liquidar
a última donataria que existia e de a fazer reverter para a Coroa Real,
sem fazer alardes, e deixando ainda o donatário indeciso sôbre o papel
que ficava representando.
Estas resoluções tomadas pelos governadores em Lisboa, são da
tadas de Outubro de 1583 , e João (Morgado, que levava consigo os
alvarás, bem como a carta para Paulo Dias, a que em um deles se faz
referência, só chegou a Angola em Setembro de 1584. É muito provável
que, entretanto, Paulo Dias tivesse tido quem o avisasse do que se pas
sava, e êle, deitando contas à sua vida de dez anos, 1 econhecesse que
nada tinha feito, e, nem ao menos garantido aos seus o direito de lhe
poderem suceder na parte que constituía o patrimônio. <jOnde estavam
os castelos, as igrejas, os cem moradores com suas mulheres e filhos,
sendo alguns lavradores, que se obrigara a fazer estabelecer entre o
Dande e o Cuanza? Nada tinha feito nesse sentido, e só guerras, em
que sacrificou a vida de mais de seiscentos portugueses (até 1584) e
desbaratara talvez não menos de cem mil cruzados. ^Quais eram os
quatro ou cinco lotes de terreno que demarcara na área das trinta e
cinco léguas da sua capitania? Nem pensara nisso, nem sabia mesmo
por onde havia de começar, porquanto, à data, apenas conhecia a Qui-
çama que assolara por várias vezes.
Mas era necessário fazer qualquer cousa nesse sentido antes de re
ceber a carta que sabia João Morgado trazia. Assim, em 1 5 de Agôsto
de 1584, para remediar a situação, publicou um edital «a q. chama de
claração e nomeação dos reguengos do seu morgado » (1), no qual vem
declarar que os locais que escolhia para os três castelos a construir
entre o Dande e o Cuanza, eram: para o «primeiro, e mayor Castello
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Livro de Consultas e Partes do Conselho Ul
53
tramarino, n.° 21, 1753-1754, fls. 1 v.° e seguintes (Arquivo da Marinha e Ultramar, n.® 24). É a
consulta do Conselho Ultramarino sôbre um processo de habilitação à capitania de Angola, de
um sucessor de Paulo Dias. Do Parecer do Conselheiro Rafael Pires Pardinho, se vê que o
edital de Paulo Dias abrange de fls. 48 a 54 v.° do Processo de Habilitação. Deve ser um docu
mento precioso, mas não foi possível encontrá-lo em nenhum dos nossos Arquivos públicos.
Extrai-se da consulta o Parecer do Conselheiro Pardinho, que é interessante. Anexos, doc. n.®aa.
; 1Ó4 Angola
• na Costa do M ar para o porto de Loanda, em q. estava a villa de
• S. P a u lo, por ser acomodado a estancia, e defenção dos navios q. a elle
«fossem , e p .a o segundo Castello por lhe parecer mais convenf o citio nas
•terras de Cambambe p .a mayor segurança das minas de prata q. aly
• havia, e p .a o terceiro a Banca e citio de Moagaloambe p.a segurança e
• defenção das terras do rn.° de Angola q. se havião conquistado »; « . . .
«querendo escolher e segurar as vinte legoas de Costa q. se lhe concederão
•p.a elle e seus sucessores poderem cultivar, beneficiar, aforar, e tc ., nas
«35 da Capp.nia as nomea e separa em quatro partes, pellos sinaes da
«costa do mar, e Rios que nelle desaguão, e por onde elles corressem, e
«dahy p .a sima, e certão linha direita até o mar de Mossambique sem no-
«mear, expressar, ou declarar povoação, villa, ou Ig r.a que tivesse feito,
«ou fu n d a d o .em qualquer dos taes Rios, ou na distançia de toda a Capp”ia.
N ã o h á d ú v i d a q u e P a u l o D ia s e s t a v a a in d a d e n tr o d o s p r a z o s es
t a b e l e c i d o s n a A i a d o a ç ã o , p o is q u e te n d o d e z a n o s p a r a fa z e r o s c a s
te lo s , o p r a z o só fin d a v a e m 20 d e F e v e r e ir o de i 585; e te n d o v in te
a n o s p a r a e s c o l h e r e d e m a r c a r o s lo te s n a á r e a d a s u a c a p ita n ia , e ra m
a p e n a s d e c o r r id o s d e z. M a s o q u e ê le n ã o tin h a e r a te m p o p a r a , d e
S e t e m b r o a F e v e r e i r o , c o n s t r u ir o s c a s te lo s q u e d e v ia m ser d e p e d ra e
c a l, q u a n d o d e m a is a m a is , d o is , o d e C a m b a m b e e o d a Ban\a, n ã o
e s t a v a m o c u p a d o s , e ta m b é m n ã o e r a d e m a r c a ç ã o o q u e fiz e r a co m
r e s p e i t o a ô s lo t e s n a c a p it a n ia , q u e ia m d e A n g o la a M o ç a m b iq u e . O
s e u e d i t a i e r a a p e n a s o p r o t e s t o p la t ó n ic o d e q u e m s e v i a lu d ib r ia d o
p e lo s G o vern ad o res do R e in o , q u e sem lh e a n u la r e m c la r a m e n te a
d o a ç ã o , p r o c e d ia m c o m o s e t iv e s s e r e v e r t id o p a r a a C o r o a , e p elo s
conselheiros e m A n g o l a , q u e o e n r o d ilh a r a m em g u e r r a s , q u a n d o o
c e r t o e r a q u e e le «ainda muyto tenro e muy d e v a g a r » n ã o q u e r ia fa z e r
o q u e lh e d i z i a m , e a is s o r e s is t iu d u r a n t e tr ê s a n o s .
C o n t u d o P a u l o D i a s c o n t i n u a v a a s e r a in d a o C a p it ã o - M o r e G o
v e r n a d o r d e A n g o l a , m u it o e m b o r a d e si p a r a si r e c o n h e c e s s e q u e já
n a d a e r a e s ó t i v e s s e a a c o m p a n h á - l o o d e s g o s to q u e o fo i m in a n d o e
q u e , e m m a is q u a t r o a n o s , lh e t r o u x e o s o s s e g o d a m o r te . F o r a m q u a tr o
a n o s d e u m a l u t a q u e a s s o m b r a p e lo v a l o r e p e la t e n a c id a d e e p e r s is
tê n c ia . À c o n q u i s t a d e C a m b a m b e e d a e m b a la d o D o n g o tu d o s a c r i
fic o u , o s s e u s e a si p r ó p r io , e, c o m t a n t a m a io r v ir t u d e , q u e é c e r to
n ã o p o d e r j á e s p e r a r p a r a s i c o u s a a lg u m a e s ó t r a b a lh a v a p a r a s a lv a r
a q u e le s q u e tin h a a r r a s t a d o n a su a a v e n tu r a .
S e d u a s b a t a lh a s , g l o r io s a s , a d e M a s s a n g a n o e m 85 e a d o L u c a la
e m 8 6 , lh e p õ d e m t e r d a d o a lg u n s m o m e n to s d e e s p e r a n ç a s , d o is fo r-
Parte I I — Angola ÍÓ5
(0 Domingos de Abreu de Brito no mss. cít. escreveu: <*Pela qual re$ão lhesoçedeo em seu
lugar & guoverno Luís Serrão, capitão môr que hem então do campo petlo deixar assi o Guo-
vernador passado em seu testamento com a qual eleição o Reino & conquistadores forão todos
muito satisfeitos
O autor do Catálogo dos Governadores diz que Luís Serrão foi eleito pelos capitães e mais
pessoas principais.
É certo que Paulo Dias, pela carta de doação, podia deixar pessoa que não fosse de tttenos
qualidade que ele para proseguir na povoação desta terra a capitania e nao tinha consigo pa
rente em condições de poder ser encarregado desse trabalho e que pudesse ser aceite pelos ou
tros capitães.
(2) Por informações que obsequiosamente prestou o Ex.w®Sr. D. António Xavier da Gama
Pereira Cominho, d ig C o n se rv a d o r do Registo Comercial no Porto, Paulo Dias de Novais
faleceu sem filhos e sem que tivesse sucessores pela linha paterna, pelo que passou a Casa, por
sentença do Juízo das Justificações, para seu primo direito, Jorge Nogueira de Novais, filho de
Fernao Pires, irmão de sua mae e de D. Jnês Nogueira, da família dos Nogueiras de Santarém,
Principais do Reino. Jorge Nogueira de Novais era bastante idoso e pouco sobreviveu a Paulo
Dias. Sucedeu-lhe seu filho Rodrigo de Resende Nogueira de Novais, um dos revolucionários
de 1640, a quem D. Afonso VI confirmou a Capitania de Angola em 19 de Outubro de i 656
13
(Tõrre do Tombo, . .° das Portarias, fl, 279; Annaes Marítimos e Coloniaes, 4.* série, 1S44,
36
n.° 1, parte não oficial, pág. ), sem que contudo tomasse posse. Sucedeu-lhe o Capitão Gaspar
de Carvalho Resende de Nogueira de Novais, de quem nada consta sôbre a Casa de Paulo Dias,
e, depois, um filho, também Rodrigo de Resende Nogueira de Novais, que reclamou a capitania,
obtendo como recompensa o hábito de Cristo com 12# de tença, acrescentada mais tarde para
1
86# (Tôrre do Tombo, Chancelaria da Ordem de Cristo, . 73.°, fl. 256 e Chancelaria de
1
D. Afonso VI, . 48.®, fl. 45). A este sucedeu Gaspar de Carvalho de Resende Nogueira de No
vais, que teve um filho, Rodrigo Nogueira de Perdigão de Resende e Novais, que de novo pediu
1
a capitania de Angola, não chegando a obtê-la (Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, . 21.°
dos Portes do Conselho Ultramarino, fl. i 53 v.°). Faleceu sem filhos, e a Casa de Paulo Dias
passou para sua sobrinha, a 2.* Marquesa de Soydos, casada com o Marquês de Soydos, em
cuja família se conserva.
v\>
♦
* *
(1) Luís Serrão deveria ter o seu acampamento muito perto da fronteira da Matamba,
senSo mesmo além e para admirar é a sua ousadia. Abreu de Brito diz-nos que ficava a 70 lé
guas de Massangano. Ravenstein, num dos mapas que publicou, raarca-o como devendo ser
pròximamente no ponto que as nossas cartas actuais designam por Cango. Em qualquer dos
casos era uma louca temeridade um tal avanço entre gentio rebelde.
22
y y *'
yar -r
f t
170 Angola
iam três de cavalo, levando por seu capitão a Francisco de Sequeira,
pessoa que por seu esforço merecia. Iniciada a marcha desta fôrça,
teve Luís Serrão notícia da concentração do gentio, e tendo mandado
contra-ordem a Francisco de Sequeira, preparou-se para o combate,
que teve lugar a 28 de Dezembro de i 5go,— dia dos Inocentes, como
recorda Abreu de Brito, sofrendo grossas perdas que 0 obrigaram a
retirar.
Dizem os cronistas (1) que propositadamente e com o fim de evitar
a perseguição imediata do inimigo, Luís Serrão abandonou o arraial de
Angoleme-Aquitambo, deixando lá a fazenda trazida por vinte e quatro
naus que estavam no pôrto de Luanda, fazenda que acompanhava as
guerras, confiada pelos negociantes de Luanda aos conquistadores, a
maioria dêles seus empregados, ou como tais indo nas guerras, com o
fim de, quando se venciam as batalhas ou se tratava das pazes com o
inimigo, a trocSrem por escravos.
A pilhagem do arraial demorou três dias, dando assim tempo a que
Luís Serrão pudesse efectuar a retirada em ordem, embora em marchas
mais que forçadas, vindo na vanguarda João da Viloria com quarenta
arcabuzeiros, depois a guerra preta, e por fim a retaguarda, sob o co
mando de Luís Serrão. Chegados a Aquimbolo, aí encontraram Luís
Raposo apenas com 12 dos 78 soldados que trazia de refôrço, parece
que por ter tido luta pelo caminho. Continuando a retirada, chegaram
a Mbamba Tungo, onde j á tínhamos tido um presídio e estava a duas
léguas de Massangano, sendo ponto de fácil abastecimento; porém,
como o poder dos inimigos fosse tamanho não deixava de haver perigo de
serem no tal forte cometidos, pelo que retiraram aipda para Massangano,
onde um mês depois faleceu Luís Serrão.
Foi bem desastrosa esta campanha de Luís Serrão, e os poucos dos
nossos que escaparam da morte, ficaram cativos (2). André Ferreira
Pereira, que por eleição lhe sucedeu, recebeu o pesado encargo de se
defender dos ataques de todo o gentio das cercanias e da liamba e
Ngulungo, chefiados por Muzi Zemba (Muge Asemba) (3), contra nós
revoltados. Ora acolhendo-se aos muros de Massangano, ora perse
guindo-os até às suas libatas e raziando-os, André Ferreira soube
y^~.' ■ "*.....
O GOVÊRNO GERAL DE ANGOLA
( i) B ib lio te ca N acion al, Reservados, mss. 334, já cit. Sumário e descrição, etc., recente
m en te ed itad o p e la Im prensa da Universidade de Coimbra.
(a) M ss. cit.
Parte I I — Angola tj5
17 Ó Angola
h a v ia as serras de ouro, e com Moçambique, de forma a «por esta via &
■ahordem poder V. M s dt ter todos os avisos da ín d ia que neçessario f o r }
«pera o que f a le y & tratey com as mais antiguas pessoas do Reino, & assi
««com algQs escravos soasos que são como salteadores de Portugal & pella
« cota de suas jorn a d a s di{em como se sabe çerto que da villa de Loanda,
« ao R io lucala que he aonde se perdeo esta derradeira batalha serem cento
« & çinco leg uoa s , & dahi as serras de ouro de manopota são somente cem
« leguoas, & de Manopota a Mosambique são du\entas que vem a ser tre-
« sentas as quães ha negros soasos que vivem de caminhar que sem carga
« andão a vinte leguoas cada dia que fica sendo na jornada quinze d i a s . ..
« & por esta via em todos os tres meses de cada hum anno com tão pouco
« custo poderá V. M s.de saber e pussuir 0 de q. trato que não parece ser tam
«p ouco proveitoso ». Não esquecendo de referir que « São as terras destes
« R eynos tão fo rtife ra s em cantidade que produ\em de si mesmo canas da-
« çucar que dão Aperanças que as darão com menos trabalho sendo culti-
« vadas & desta maneira poderá aver esperanças que seja outro segundo
« B ra sil porque na terra a aguaas e lenha em abastança, & quanto aos
« escravos sobejão pera as minas & pera os engenhos, & pera as fundições
& pera a g u e r r a . . . » conjunto de indicações que constituíam,um vasto
plano de colonização.
Term ina Abreu de Brito por lembrar que « devia de aver por bem
v que todos os serviços que neste Reino D anguolla fossem feito s gratifi-
« callos como se fossem feito s em Á frica (refere-se ao norte da África) per
« quanto os homês não andão menos arriscados por os que captivão em
« Á frica tem esperanças de em algum tempo serem resgatados com fa \ .da
« de V. M s.de ou com bens que os cavaleiros posuem, e çerto que com R e-
« \ão são estes conquistadores (os que batalhavam em Angola) nas guerras
v dignos de mais louvor que os mesmos malteses por que nelles ha espe-
« rança de resgates, e os tães conquistadores sabem çerto que quando lhes
« as victorias não ventão conforme a seus esforços pretendem acabar as
« vidas vendendoas cada hum per si como verdadeiros portugueses por que
« se os inim igos os captivão vivos não tem esperanças de Resguates & os
« com é comidos em panellas as quães tra\em a guerra e lhas amostrão di-
« fedo estas são as panellas em que vos avemos de comer co fid o s . . . » pelo
que eram dignos de toda a atenção e cuidado, visto em defesa dos
bens da Coroa, passarem fomes e misérias, por não lhes pagarem os
seus soldos, classificando-os de verdadeiros Romanos; e, comparando
a vida dos moradores de Luanda, que tratavam do negócio, com a dos
conquistadores, que andavam na guerra, lembra que, ao passo que
Parte I I — Angola l 77
aqueles enriqueciam, os conquistadores empobreciam, e ainda por cima
os moradores « como poderosos & moradores no porto & escalla de todas
« as naos e navios onde se desembarca os mantimentos & f a {.*“ da qual
« escolhem e tomão o melhor pera si, e do somenos e podre & mal tratado
a envião arriba a conquista e dobrão duas veies o dinheiro . . . » verdades
estas que parecem escritas para época que não vai muito longe.
«
• #
(1) O sr. Forjaz de Serpa Pimentel, em um artigo Um anno no Congo, publicado no n.°6a
de Fevereiro de 1899 da revista Portugal em África, transcreve do tnss. existente na Biblioteca
178 A n gola
da Sociedade de Geografia de Lisboa — Historia de Angola por Elias Alexandre da Silva C or
5 3
rêa— 1872 — N.o iç — Res. Prai.° A. N.o z — a informação de que: i bondo valia io lifucos,
5 5
100 fundas, 100.000 zimbos, #>ooo réis; i lifuco, 10 fundas, 10.000 zimbos, oo réis; i funda,
5 25 20 5
1.000 zimbos, o réis A funda subdividia-se ainda em equivalente a , , 12 e réis. Abreu
3
de Brito no mss. a que nos estamos referindo diz que dois lifucos valiam oo réis e que um
covo «he cantidade como quando se d ij 10.000 crujados». Pelo auxílio prestado pela expedição
de Francisco Gouveia ao Rei do Congo, obrigou-se êste a dar ao Rei de Portugal o quinto do
zimbo pescado na ilha de Luanda. Não consta que qualquer governador tivesse procedido à
arrecadação deste rendimento, quando se sabe que todos se queixavam das hostilidades do Rei
5
do Congo. Diz António Diniz numa memória coligida no cód. t-viit-aS da Biblioteca da Ajuda
e publicada por L. Cord. nas Memórias do Ultramar; «e se se começou a cobrar não achei re-
«ceita que se fizesse de tal recebimento». Talvez fôsse assim; o que sucedeu f o i . . . perder-se a
receita do recebimento. Era dos tempos.
(1) João Lúcio de Azevedo, ob. cit.} pág. 487. Valor aproximado da moeda de diferentes
épocas em escudos de 1928. Por essa tabela aquele lucro corresponde a esc. 3.885.141^00 de
hoje.
Parte I I — Angola 179
ziam na Casa dos Contos em Lisboa, mas no Brasil, onde o contratador
tinha os seus procuradores e onde havia alfândega, que Luanda ainda
não tinha. O procurador, ou feitor do contratador no Brasil, avença
va-se para o pagamento dos direitos, de forma que quando o navio,
vindo de Angola, chegava ao Recife, como já o carregamento não rendia
mais dinheiro por direitos, visto a avença, não o vistoriavam, e o feitor
em Luanda, tendo carregado quanto podia, cobrando dos carregadores
os direitos devidos, só manifestava o que queria, não dando a conhecer
o valor do seu negócio. Assim, pode-se calcular o lucro dos contrata
dores em mais 5 o %■
Era preciso remediar estes inconvenientes com uma fiscalização
mais eficaz, propondo nomear-se um procurador para fiscalizar os em
barques na ilha, e outro para andar nas guerras e arrecadar o quinto
das presas, de que ninguém dava contas.
Lembrava Abreu de Brito arrendar-se em separado o trato dos es
cravos de Angola, do de Benguela, bem como o do marfim, que era em
muita quantidade, e terminava aconselhando, quanto ao reino de Ben
guela cujo resgate « era tão grandioso e havia dêle tão grandes esperanças,
« que se di{ia seria igual ao de Angola » conviria que se feitorizasse por
dois ou três anos, para se calcular por quanto se devia arrendar, e ainda
q u e: « vossa magestade pode mandar hum dos Eluslres de P ortug al por
« viso R ey, por que desta maneira provendo V. Ms.de outro sr. guovernador
«para o Reyno de Conguo & outro visorrey pera os Reynos D anguolla,
« com esta fa çellida de se posuira Conguo, Anguola , Bengella , as minas
«d e Manapota, abrir sse o caminho de Mosambique . .. ».
*
* *
(i) D. Francisco de Almeida foi nomeado por carta régia de 9 de Janeiro de 1392. Tôrre
do T om bo, Chancelaria dos Felipes, 1. 23.°, fis. i 38 v.°. Chegou a Luanda a 24 de Junho de
,592. ^Ravenstein).
1 82 Angola
ordenado de Governador e, outro m otivo o levaria a aceitar, e talvez
pedir, ésse cargo. Náo se conhecem as instruções que lhe deram. Ape
nas se sabe, por referências dos cronistas, que Felipe II, de acôrdo com
as indicações de Domingos de Abreu de Brito, mandou equiparar os
serviços de Angola com os da África e índia (1) e «p reg oa r em i 5 q 3
um a provisão que a toda a pessoa que 0 fo s s e servir em A n g o la lhe fa r ia
honra e m e r c ê s », e que D. Francisco de Almeida, além de 400 infantes
e 5 o cavaleiros (2), levou um mineiro, um fundidor, um serralheiro, um
ferreiro e ura mestre de fazer carros e reparos de artilharia (3 ), o que
não deixa dúvidas sôbre a ordem que deve ter recebido, ou o contrato
que deve ter feito, para a conquista das minas.
ri Seria a despesa de sua conta ou de conta da Coroa ? O facto de
a nom eação recair em pessoa que dispunha de avultada fortuna e a
m aneira com o mais tarde se procedeu com a nomeação de outra para
idêntico cargo, autorizam a deduzir que a despesa seria de conta de
D. Francisco de Alm eida, muito embora Felipe II o auxiliasse no anga-
riamento da gente necessária para a conquista e lhe concedesse uma
parte, talvez a maior, para o compensar dos riscos da empresa.
A execução de um plano de administração, embora sob a forma de
sociedade para a exploração de Angola, entre o Governador e a Coroa,
com exclusão dos que lá estavam, depois da política de Paulo Dias e
dos interesses criados à sua sombra, que os cinco anos que se seguiram,
sem governo e sem lei, transformaram em direitos, não podia ser bem
recebida, e, forçosamente, encontraria a maior resistência da parte da
queles que consideravam e de facto tinham Angola como sua fazenda.
P ara se chegar a Cambambe era necessário bater os indígenas, e
êsses, tinham donos ou amos, tinham sido sesm ados, com o vimos, e cons
tituíam uma exploração rendosa. Os principais amos eram os jesuítas (4),
(1) E sta referência encontra-se no Catálogo dos Governadores e em uma carta de Baltazar
Rebelo de A ragão, de i 63i , publicada por Luciano Cordeiro, Terras e Minas Africanas, pelo
que parece ser verdadeira, mas só em 20 de Agôsto de 1600 é que aparece um alvará dando a
equiparação dos serviços. Possivelmente este alvará serviu para o Governador João Rodrigues
Coutinho arranjar gente para Angola. A equiparação dos serviços prestados não era uma dis
posição permanente da lei, mas um favor que o Rei concedia em determinados casos.
(2) Catálogo dos Governadores de Angola.
3 5 25
( ) Biblioteca da A juda, Cód. i-vin- , fl. t i ; Luciano Cordeiro, Escravos e Minas de
Á frica, VII, 1619.
(4) O s padres da Com panhia de Jesus que estavam em Angola, não querendo receber re
m uneração pelos seus serviços, tinham, por provisões de 1 583 e 1387, direito ao seu sustento,
mas pago em S. Tom é, por não haver em Angola rendimentos da Fazenda Real. P o r um alvará
de 1592, visto então já haver em A ngola rendimento do contrato, passaram os dezasseis padres
que lá estavam a receberem pela fôlha do contratador. Anexos, doc. n.° 23 .
P a rle I I — Angola 1 83
a quem D. Francisco de Almeida, pelas instruções recebidas, não podia
reconhecer êsse título, ou antes, posse, pelo que êles, vendo-se prejudi
cados nos seus interesses e supostos direitos, que â primeira vista não
deixavam de parecer legítimos, por representarem a recompensa obtida
por serviços prestados, embora escondendo os manejos para a organi
zação de uma teocracia em que se substituíam ao poder real, insurgi
ram-se e iniciaram a luta contra D. Francisco de Almeida, que, dizem,
teve de ceder ou contemporizar, para poder dar comêço de execução
ao seu plano de conquista.
Só assim, depois de graves e irritantes contendas, conseguiu marchar
para o interior com o seu exército, cujo efectivo, como vimos, era menos
de metade do que Abreu de Brito julgava como indispensável para se
efectuar ràpidamente, mas com ordem, a conquista de Angola, base de
qualquer plano de administração que se quisesse executar.
A marcha iniciou-se estando já adiantada a estaçáo própria, e os
soldados, após as primeiras chuvas, começaram a ser dizimados pelas
febres e por tal forma, que obrigaram D. Francisco de Almeida a retirar
com urgência para Luanda, onde de novo se desencadearam, e com
mais violência, as questões com os jesuítas, vendo-se D. Francisco de
Almeida forçado a fugir para o Brasil, abandonando o govêrno.
Já vimos que D. Francisco de Almeida se tinha feito acompanhar
de mineiros, fundidores, etc., e êste facto, ligado ao de trazer um con
tingente de tropas inferior ao necessário para uma ocupação regular,
claramente denuncia, à falta de documentos que o esclareçam, que o
plano concertado pelos Governadores em Madrid e em Lisboa, tinha
principalmente em vista arrancar de Angola o máximo de receitas e
proventos, relegando para segundo plano os problemas de administração
da colónia.
O contingente levado por D. Francisco, se tivesse iniciado a marcha
para o interior em Julho, poucos dias depois de ter desembarcado, po
deria, começando por bater a Quissama, ocupar as minas de sal de
Adenda, e, reforçando-se com a guarnição de Massangano, atacar Cam-
bambe e apossar-se das supostas minas de prata.
Era isso o que interessava e para o que chegavam as tropas vindas.
Que mais havia em Angola? O rei de Angola? Estava lá muito para
o interior e as riquezas que possuía eram os escravos, que os nossos
pombeiros lá iam resgatar sem maiores dificuldades. Não interes
sava sob qualquer outro aspecto que se encarasse. Visto que Abreu
de Brito tinha escrito que as minas de prata em vantagem são mais
184 Angola
qu e as do Peru, êsse é que era 0 ponto principal da exploração em An
gola.
N ão se tratava de montar uma administração mas uma pilhagem,
em que Felipe II de Espanha admitia sócios, com a condição de acei
tarem a distribuição feita por êle ou seus delegados, e não como a
Com panhia de Jesus estava fazendo, não só arrecadando para si tôdas
as receitas, mas ainda substituindo-se ao poder real e negando a êste
o direito de intervenção em Angola.
*
* *
(1) Pela narração feita por Battell (Ravenstein, op. cii.), parece que esta segunda marc
sôbre o Bengo se deve ter realizado em 1597, sendo comandada por João da Vilória, que com
bateu mais de dois anos na região de Engazi, actualmente Dembos.
Parte I I — Angola 1 85
entretanto os do sul atacaram Massangano, que, sempre heróica, soube
resistir, até que o valente Baltazar Rebêlo de Aragão, o Bangalambata,
como lhe chamava o gentio, foi mandado em seu auxílio e derrotou os
atacantes, perseguindo-os até à Quissama, onde foi fundar à sua custa
um outro presídio, em lugar do que D. Jerónimo de Almeida deixara na
Adenda, que melhor garantisse a posse das minas de sal.
Mais nos não dizem os cronistas da época sôbre a acção de João
Furtado de Mendonça, e, contudo, parece fora de dúvida que por i6oi
ou 1602, êle foi em viagem de negócio pela costa para o sul, chegando
a Benguela, onde fundeou as suas embarcações, e, desembarcando, fêz
construir um fortim de madeira para se defender, com cinqüenta homens
que levava, de qualquer possível ataque dos naturais. Entrando em
negociações com êles, ràpidamente adquiriu grande quantidade de vacas
e esplêndidos carneiros, milho e madeira de Cacongo, com que fêz car
regar uma embarcação, e em poucos dias mais tinha qi#inhentas cabeças
de gado, muito cobre e marfim, com que carregou mais três embarca
ções que levava, e regressou então a Luanda (1).
*
* *
(1) Ravenstein, op. cit. Por ser interessante, sobretudo sôbre alguns costumes do gentio
de Benguela, transcreve-se êste capítulo de Ravenstein. Anexos, doc. n.° 24.
*4
■ 4^.
t
1 86 Angola
negros, de princípio, nas ilhas do Mediterrâneo, principalmente na Sar
denha e ao sul de Espanha, na Andalusia, onde eram numerosos. De
pois, á medida que as colónias espanholas se desenvolveram, passaram
os possuidores de licenças a irem adquiri-los a Cabo Verde e por fim o
Duque de Lerma pensou e bem, que melhor seria fazer o contrato com
um português, visto as nossas conquistas da Baixa Etiópia serem ma
nancial inexgotável.
João Rodrigues Coutinho, fidalgo português da melhor linhagem (i),
obteve em 1600 que o contrato dos assentos passasse para êle, obri
gando-se a fornecer anualmente às colónias espanholas 4.250 escravos
e dando à Coroa de Espanha 162.000 ducados (2).
Das conquistas portuguesas, a que melhor podia satisfazer este im
portante fornecimento era a de Angola, e, para essa, mandavam-se go
vernadores e capitães aquele reino com intento de conquistar as minas de
prata de Cambajtibe — dando juntamente os resgates dos escravos muito
fructo, com o que aquelle governo fo i tido em mais estimação (3), e, assim ,
João Coutinho deve ter calculado, que tendo colocação garantida para
os escravos que comprasse, maiores lucros obteria se os pudesse res
gatar directamente, dirigindo êle as guerras. De dedução em dedução,
deve ter terminado por concluir, que tendo de andar pelo interior em
guerras para fazer escravos, também podia chegar às minas de Cam-
bambe, e, terminando por propor o contrato da conquista das minas de
prata, regularizando ou encobrindo tudo com o cargo de Governador,
proposta que foi aceite, por parecer que a dita conquista das minas se
poderia fa\er com menos despesa por via de contrato (4).
(1) João Rodrigues Coutinho,,irmão de Frei Luís de Sousa (D. Manuel de Sousa Coutinho),
era filho de Lopo de Sousa Coutinho, fidalgo cultor das letras e das ciências físicas e matemá
ticas e de tanta consideração que nA presença e gravidade da pessoa era talt que o rei se com-
punha quando falava com êle». Lopo Coutinho era bisneto do 2.0 Conde de Marialva, e, como
58
se sabe, em i r, entre os fidalgos que Felipe II mandou perseguir e prender por desafectos à
usurpação espanhola, figuram os filhos do Conde de Marialva. A concessão de mercês por Fe
lipe 11 a João Coutinho, quando o seu ódio pelos inimigos foi a ponto de enclausurar senhoras
fidalgas da família Vimíoso, Meneses, Marialva, etc., dá lugar a poder admitir-se, dada a cor
rupção de costumes da época, que a concessão do contrato tivesse em vista a paga ou compra
da sua adesão.
856
(2) C o le c ç ã o d e tratados de B o r g e s d e C astro , i , tômo II, págs. 44/45 e G. Scelle, L a
63
tr a iie n é g r iè r e a u x In d es d e C a s tille . Por morte de João Coutinho passou o contrato, em i o ,
para o irmão Gonçalo Vaz Coutinho, que em i 6 i 3 também chegou a ser nomeado Governador
de Angola, sendo ainda assentista, mas não tomou posse.
3
( ) Biblioteca da Ajuda, Cód. 5 i -vui- 25, fls. 119. Luciano Cordeiro, Memórias. Relação da
Costa da Guiné. Luciano Cordeiro indica para esta Relação a data de 1607, mas deve ser entre
1604-1606.
{4) A carta régia que nomeia Coutinho é igual à de todos os outros, sem menção de po-
Parie U — Angola 18 7
Mas não se contentou com isto e mais pediu, dando-lhe Felipe 111
de Espanha maiores prorogativas que nenhum dos seus antecessores teve,
pois levou a faculdade de distribuir mercês de hábitos de Cristo e no
mear moços da Real Câmara, além de se ter renovado a provisão equi
parando os serviços de Angola aos do norte da África e da índia tudo
para promover a conquista das minas de prata de Cambambe, para cujo
efeito levou um grande socorro de munições e de gente (1).
Para completa elucidação dêste negócio convém frisar que um dos
mais importantes lucros dos assentos e com que se fazia face à renda a
pagar à Coroa de Espanha, era o proveniente do contrabando feito
pelos navios do assentista, contrabando não só realizado nas Antilhas,
mas desde Espanha até lá, com escala pela Mina, Angola e Brasil e
ainda com ligações com as naus da índia arribadas a Luanda para su
postas reparações, pagas, à falta de dinheiro moeda, vendendo a fazenda
que transportavam. Pode-se, assim, fazer uma idea n^is perfeita desta
complicada engrenagem administrativa comercial; do pessoal que metia;
dos creados que o Governador teria de levar; dos lugares que tinha de
arranjar para os empregar... e da moralidade da época.
Era um Governador nestas condições, tendo por assim dizer o mo
nopólio de todos os negócios, e, por isso mesmo, dependendo de tôda
a gente, que convinha aos que exploravam Angola, e, de entre todos,
aos jesuítas, que o apreciavam, dizendo que era fidalgo tão bem acondi
cionado & magnifico & de tanta prudência em saber levar aquela gente,
porque nao se podia opor à sua acçao sôbre os indígenas e desmedida
ambição do mando, antes pelo contrário as aproveitava porque lhe fa
cilitavam o cumprimento do seu contrato. E hoje, que se conhecem
claramente as intenções de João Coutinho ao ir como Governador para
Angola, melhor se pode avaliar o fundamento das lamentações dos je
suítas nas suas crónicas, sôbre as medidas tendentes a estorvar ou im
pedir a sua acção sôbre os indígenas e o fim por que as contrariavam,
ao passo que louvavam João Coutinho, que sem ter feito mais do que
desembarcar e pôr-se em marcha para 0 interior, como todos os outros*1
deres extraordinários, nem referências ao contrato, que nSo foi possível encontrar mas que,
sem dúvida* existiu, porque G. Scelle o indica. André Battel, quando descreve as suas aventuras
no tempo do Governador João Coutinho (Ravenstein, op. c*/.), conta que êste se obrigara a cons
truir três castelos, um em Demba, nas minas de sal; outro em Cambambe, e outro na Baía das
Vacas (Benguela).
(1) Fêo Cardoso, Memórias, De um requerimento de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre o
socorro que precisava levar para Angola e a que adiante se fará referência, consta que JoSo
Rodrigues Coutinho levou mil homens, muitos cavalos, armas e munições.
iB 8 Angola
• #
*
* *
f e .f a o d i t o D . M a n u e l P e r e i r a p a r a n ã o t o m a r o d i t o d i n h e i r o q u e o m a n d o u d i s p e n d e r d i z e n d o
que e r a p a r a p a g a m e n to de seu s ord en a d os, e tc .. . - com o n o s tr e s la d o s d o s d it o s m a n d a d o s
& c o n h e c im e n to s e m f o r m a s e d e c la r a ; e tc .» . B ib l. N a c i o n a l . Secção U lt r a m a r in a . A n g o la .
C a i x a 14 5 .
(1) B ib lio te c a d a A ju d a , C ó d . 5 i - v m - 2 5, fl . 4 2 ; L u c ia n o C o r d e ir o , M e m ó r i a s do U lt r a
m ar. T erras e M in a s a fr ic a n a s . « A s p r o v ín c ia s q u e e u e n tr e i n o d e s c o b r im e n t o q u e fa z ia
p a r a M a n o p o t t a , p o r m a n d a d o d e D . M a n u e l P e r e ir a , s ã o g r a n d e s e m u i r ic a s d e m a n tim e n to s ,
e m u ito s r io s ; t e r r a m u it o fr ia e s a d i a ; h a m u ita s a r v o r e s d e H e s p a n h a , c o m o : o l i v e i r a s , p a r
r a s , f i g o s , a l e c r i m e o u tr a s h e r v a s ; e g e n te p o u c o g u e r r e i r a ; s ã o g r a n d e s c r e a d o r e s e la v r a d o
r e s ; h a m u i t o c o b r e e fe r r o e d iz e m h a v e r m u ita p r a t a ; t e e m u m rei q u e c h a m a m c h i c o v a , e tc .» ,
(2 ) A r e fe r ê n c ia a e s t a c a r t a e n c o n t r a -s e e m r e g i m e n t o s d a d o s p o s te r io r m e n te .
3
( ) Com o s e v ê , a in d a n e s ta d a t a , 1 6 1 1 , se c h a m a v a a L u a n d a p o v o a ç ã o e n ã o c id a d e .
L o p e s d e L i m a d iz , c o n t u d o , q u e n o g o v ê r n o d e M a n u e l C e r v e ir a L u a n d a fo i fe ita c id a d e , o
q u e s e n ã o c o n h e c e p o r d o c u m e n t o a lg u m .
Parle I I — Angola rçS
a barlavento de Luanda, e tinha um ponto roais sadio que todos os outros
da costa, com muitas águas e boa baía, o que já de há muito se sabia.
Êste conjunto de informações, sendo muito interessante, não dava
com precisão o local das tais ricas minas de cobre. Manuel Cerveira,
em Madrid, segurava-se, não divulgando o seu segrêdo, com o que
esperava negociar a sua liberdade e algumas mercês; os ministros, por
seu lado, não estando ainda dispostos a esquecer, embora tivessem
perdoado os crimes de que era acusado, arrancavam-lhe o que podiam,
que transmitiam a D. Manuel Forjaz, recomendando-lhe que activasse
a descoberta, para o que êste fez sair duas embarcações a percorrerem
a costa.
Deve ter sido sua a informação de que o cobre se não achava num
ponto certo e determinado, mas começava a seis ou sete léguas da
costa e, por tôda ela para o sul, era tanto, que « os mesmos negros sem
terem aparelho o fundem em covas que faiem na terra fafbndo campainhas,
e argolas que resgatão para outras Provindas». Esta informação, em
que avolumava, propositadamente, a riqueza do cobre para desfazer
nos serviços de Manuel Cerveira e, ao mesmo tempo, referia outras
riquezas, dos escravos e do marfim, que o interessavam e bem sabia,
pelas notícias dos seus empregados, que eram certas e positivas, deu
lugar a que Madrid lhe determinasse «por carta de sete de março dous
de outubro de seiscentos e de\ enviasse ao dito Reino de Benguella hüa
pessoa de m.ta confiança, e pratica das cousas daquellas partes q. se infor
masse muy ao certo destas cousas; e q. em particular levasse a carguo
fa \er resgate de todo o cobre que achasse... E por ter entendido que
seria de importância para êste negocio enviarense de qua alguas roupas
das com que se resgatão naquellas partes avendo comodidade para jsto se
lhe enviarião as que parecessem necessárias, etc...».
Esta determinação vinha mesmo a propósito para o desenvolvi
mento dos seus negócios e, agora, já não precisava das fazendas do
sócio Argomedo, pois era o govêrno que lhas fornecia. As contas êle
as faria...
Pouco tempo se poderia ter gozado deste rico negócio, pois que
faleceu em 12 de Abril de 1611, mas foi, sem dúvida, êle quem talvez,
se não em mais larga escala, com mais regularidade, iniciou o negócio
pelo Bié, Bailundo e Benguela, trazendo de lá, além de escravos e mar
fim, grande quantidade de gado, porquanto quando faleceu, constavam
do seu espólio, entre outros bens: « 180 vacas afóra 3 o que mais vieram
de Benguela e grande copia de carneiros e ovelhas, 600 negros escravos
196 Angola
marcados com a marca do governador , negros pombeiros d e muito preço
e outros soltos casados, i 3 o pipas de vinho das Canarias, fa rin h a s de
P o rtu g a l e do B ra sil, marfim, massa, aceite, tapessarias, fe r ro , estanho,
panno d e linho , tacula, espingardas, um colar d e ouro e prata, etc.», o
que tudo lhe foi roubado pelo capitão Manuel da Costa, que sua viúva
indicava com o seu empregado (1).
Se a sua acção como negociante, como vemos, foi na realidade be
néfica pelo desenvolvimento que deu ao comércio com o interior, a sua
acção como governador não podia deixar de ser apreciada como a mais
imoral e, por tal forma, que estando ainda em Luanda, foi lá mandado
André Velho da Fonseca para proceder a averiguações, não só sôbre
os seus actos, mas também sôbre os dos seus antecessores.
Depois de João Rodrigues Coutinho e emquanto se não fazia novo
contrato, esteve encarregado da arrecadação das receitas um feitor,
Duarte Dias Lôlfo, que faleceu, dando a sua morte lugar a graves de
sordens, por todos se quererem apoderar dos bens que encontravam.
Os padres da Companhia de Jesus, como sócios de João Rodrigues
Coutinho, tinham no seu colégio os livros das contas do seu con
trato (2), só os entregando por intimação do sindicante André Velho,
que, por êles e por outras inquirições a que procedeu, foi apurando os
devedores aos cofres do Estado e obrigando-os a entrarem com os dé
bitos. O Governador D. Manuel Pereira teve de entrar com 2 . 5 oo cruza
dos, mas havia mais e maiores irregularidades por êle cometidas (3 ),
pelo que, supunha André Velho, teria de o prender e m andar preso
para o reino, e pedia para lhe confiscarem e arrestarem todos os seus
(1) B ib lio teca Nacional. Secção Ultramarina. Angola. C aixa 145. C artas de A n dré V e
lh o da Fonseca, que foi a deligencia do serviço de S. Mag." e A uto de perguntas feitas a João
de A rgo m ed o . V id e Anexos. Doc.°* n.0* * ^ 3o, 3 t.
(2) A n exos. D o c. n.° 3 s.
3
( ) N ’ go la Kiluangi K ia Ndambi. Ravenstein. Op. cit.
(4) V id e referência a pág. 140 sôbre esta povoação.
5
( ) Ravenstein, pág. 142, nota 1.
K4*K .,^
198 Angola
A-pesar-do castigo infligido, a rebelião continuava e agora lança
vam -se em massa sôbre Cambambe, investindo-a de surpresa por
diversos pontos ao mesmo tempo, obrigando a sua reduzida guarnição
a actos do mais extraordinário heroísmo e bravura, até chegarem tro
pas em seu socorro, que obrigaram os indígenas a levantar o cerco e
# retirarem.
Bento Cardoso foi em sua perseguição e fundou em 1614, junto ao
Lucala e nas terras de Ambaca, 0 primeiro presídio que tivemos com
êsse nome e mais tarde foi mudado para onde hoje ainda está.
Nestes combates Bento Banha Cardoso recebeu vários e graves
ferimentos, ficando cego de um ôlho e perdendo três dedos da mão, o
que não o impediu de continuar as campanhas, procurando manter os
indígenas em obediência. Assim, além dêstes combates com o N’gola
Quiloangi, teve de defender um soba nosso vassalo dos ataques de um
outro do Congo que com consentimento do Rei o foi atacar; bateu o
soba Nambu-a-ugongo, que, passando o Dande e o Bengo, vinha assal
tar os nossos territórios e o gentio da Tunda pelos constantes roubos
que cometiam, além de ter tido de atacar um navio holandês, que se
colocara em determinado ponto à entrada da barra de Luanda, de
forma que, sem poder ser molestado pelos tiros de defesa de terra,
impedia tôda a comunicação com o pôrto. Da sua acção resultou o
avassalamento de oitenta sobas (1).
Entretanto voltou a Angola Manuel Cerveira Pereira, agora já
desafrontado das acusações que lhe moveram e contando com todo o
apoio de Filipe III (2). Não era, verdadeiramente, o govêrno de An
gola que o fazia voltar, mas sim preparar-se «.etn Angola das cousas
necessários para melhor e mais facilm ente se poder commeter este negocio ,
(a conquista de Benguela), para o que « no ynterim q se detiver em
L oanda apercebendosse para a dita conquista tinha os poderes de gover
nador (3 ).
Nesta ordem de ideias encarregou da quietação do Dongo a Paio
de Araújo de Azevedo, emquanto êle em Luanda tratava do que lhe
era preciso para os seus fins; mas, porque encontrou dificuldades em
* #
5 53
(i) Paiva Manso, História do Congo, págs. 1 1—1 . Doe." ixixni, ixsxiv, uxsxv.
26
202 Angola
mente não governava nem o Congo nem o Ngola, fazendo-se conces
sões de terrenos, regulando-as conforme as posses dos colonos e pre-
conisava-se o desenvolvimento das culturas de algodão e cana de
açúcar, concedendo-se aos agricultores maiores privilégios e favores dos
que se dão aos do BrasiL
Na intenção de acabar com todos os abusos de outros tempos, não
só se assentava em manter era absoluto a proibição de se darem soba-
dos em pagamento de serviços ou sob qualquer pretexto, para os indí
genas não veremse cativos de taes pessoas contra justiça e Direito, mas
resolvia-se proibir também que o negócio da compra dos escravos se
fizesse fora das feiras e que aja nas ditas feiras homens trancos aynda
que seja com pretexto de guardar justiça e meter em ordem.
E, por fim, com respeito a Benguela, na intenção de nos certe-
ficarmos do seu valor, sobretudo em minério, consentia-se que Manuel
Cerveira se encarregasse da sua descoberta e exploração, mais como
mercê pessoal e particular do que encargo administrativo, muito em
bora a Coroa o auxiliasse com material de guerra e disposições for
çando os brancos condenados por determinados crimes e os pretos a
irem servir sob as suas ordens.
Vê-se, assim, que as directrizes estabelecidas para as Conquistas
da África Ocidental, tanto na parte respeitante às relações com os
povos indígenas, quer os submetidos, quer os inimigos ou independen
tes, como na que dizia respeito à colonização, aproveitamento e explo
ração do solo pelos europeus, indicavam existir um plano de adminis
tração colonial, não discutimos se aquele que mais nos convinha, se
bom, se mau, mas que assentava em princípios diferentes do que
tínhamos adoptado para o Brasil.
Com o sempre, a dificuldade estava na escolha do homem ou ho
mens a quem confiar a execução, para a qual não bastava energia e
rispidez, mas era necessário bom senso e, sobretudo, um carácter não
contaminado pela podridão da sociedade em que se vivia.
O governador escolhido para substituir D. Manuel Pereira Forjaz,
foi Francisco Correia da Silva, para quem se fêz um regimento com
data de 26 de Setembro de 1611 (1), mas não chegou a ser nomeado
(1) Êste regimento é o mais antigo que se encontra, Está na Biblioteca da Ajuda, Cod,
63
5i-vm-2t, fl. 186 a 195. Sofreu umas pequenas emendas, em 26 de Abril de i t , para servir a
D. G onçalo V az Com inho, que não obstante não ter chegado a ir a Angola, não deixou de
receber um adiantamento de mil cruzados e uma ajuda de custo de 6oo#ooo réis, que tudo lhe
foi perdoado em atenção aos seus serviços. (Bibl. Nacional. Secção Ultramarina. Papéis de
Parte I I — Angola 203
e, em seu lugar, por portaria de Abril de 1612, foi D. Gonçalo Couíi-
nho e que estava na posse do negócio dos asientos com a côrte de
Madrid, mas essa nomeação ficou também sem efeito. O m esmo
regimento com pequenes alterações foi dado em 3 de Setembro de
1616 a Luís Mendes de Vasconcelos, que efectivamente seguiu para
Angola como capitão e governador daquele reino.
#
• *
35
Angola. Anexos. Doc. n.° ). Na Biblioteca Nacional, Res. F. G., n.° 7627, está uma minuta
do regimento que serviu a Luís Mendes de Vasconcelos e foi emendada para depois servir a
5 3
João Correia de Sousa. Ainda na Biblioteca da Ajuda, Cod. i-vm- o se encontra o original
do regimento dado a Fernão de Sousa. Publica-se o primeiro, com a indicação das alterações
36
mais importantes que lhe foram feitas para os outros governadores. Anexos. Doc. n.“ .
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina. Caixas de Angola. «Sabre a falia de gente,
armas e munições q. ha no Reyno de Angola e pouca quantidade q. destas cousas se lhe dá p.*
levar. Anexos. Doc. n.° 37.
204 Angola
(i) Idem, idem. Carta do Bispo D. Manuel Baptista, de 7 de Setembro de 1619, informando
sôbre coisas de Angola. Anexos. Doc. n.° 38 e carta de Luís Mendes de Vasconcelos, de 28
Agosto de 1617, Anexos. Doc. n.® 39. Nesta carta, a primeira, talvez, que Luís Mendes escre
veu de Angola para o Rei, e de que apenas existe uma cópia feita por Cristovam Soares, Luís
Mendes censura asperamente os seus antecessores, contra quem diz que vai proceder judicial
mente pelos roubos que praticaram. A respeito dos jagas diz que é muito contra o serviço de
Deus e de S. Mag.i<1 terem-se inirodupdo em Angola, e que governadores e moradores se têm
servido deles como de cães de caça, que lhes tracem escravos e, talvez sangrando-se, diz que o
querem persuadir de que Angola, se não pode sustentar sem o concurso dos ja g a s, mas que isso
só dá lugar a não prosperar o reino.
Parte U — Angola 205
ft
ft *
(1) Luciano Cordeiro, Memória do Ultramar, 1620-16297. Impostos, abusos dos governa
dores, etc. Relatório de António Bezerra Fajardo.
(2) Capítulo do Regimento.
I
206 Angola
pregar-se nossa santa fee etn seu Reyno... ao mesmo tempo que em
* outro, e a propósito dos sobas doados aos jesuítas e dos que se avas
salassem, se determinava ficassem somente sogeitos a minha fazenda ar
recadando se para ella os tributos q. costumavâo pagar para do precedido
delles se fa\er pagamento aos soldados ordenando como 0 meu feitor os
recolhesse para ella e se carregasse sobre elle em receita, etc.
* 1 Criar uma receita para a Real Fazenda à custa dos rendimentos do
Ngola, poís que todos aqueles sobas lhe eram tributários, e viver com
êle em paz e amizade, tratando em primeiro lugar, ainda por cima, de
'i f o convencer a deixar prègar, entre os seus, a nossa Santa Fé, seria 0
* cúmulo de patetice do Ngola. É claro que passou a ser 0 mais terrí
vel anti-clerical da sua época e nós, porque: e para conclusão e remate
deste Regimento não tendo mais que vos di{er senão lembrar vos que 0
primeiro lugar naquele Reino tenha a conversão que sempre deve proceder
I e antepor se a t&las as mais cousas, passámos a ter de 0 converter por
■i todos os meios, encobrindo com mais esta ficção e por defeito de uma
educação fradesca, a solução hábil e inteligente que dêmos ao pro
blema da nossa ocupação em Angola, e que consistiu em, a pouco e
pouco, trazermos à nossa obediência os sobas tributários do Ngola,
isolando êste, quebrando-lhe o prestigio entre os seus, para por fim só
a êle termos de combater, mas então em condições muito mais favo
ráveis para nós.
*
* »
rf.
Luís Mendes, com p és de lã, santificando-se e dizendo m al dos ante
cessores, fe ^ -se na volta e lançou-s em toda a desordem, diz-nos indignado
o Bispo Fr. Manuel Baptista. Foi o caso que, chegando a Luanda e
orientando-se sôbre a marcha dos diversos assuntos do govêrno,
soube, quanto à conquista, ter-se revoltado o soba Caíta Callabalanga,
devido a sem ra\oens que lhe fêz Francisco Antunes da Silva, que, por
influência de sua prima casada com o célebre capitão mór Paio de
A raújo e pela deste, junto de Manuel Cerveira Pereira, fôra feito capi
tão mór da fortaleza do Ango (1). Êste facto de mero vasculho de
senhoras vizinhas, tom ava, então, no govêrno de Angola, foros de
5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, Cód. i-vm- o- i. Govêrno de Angola de Fernão de Sousa,
tom o i, fl. 414- Lembrança do estado em q. achy a E l R ey de Angolla e do principio de guerra
que lhe deo o g .®r luis m ej.
P a rie I I — Angola 207
(1) Vidé, pág. 91. — Sôbre origem dos jagas, Ravenstein (Adventures, pág. 149-153) tendo
estudado tôdas as opiniões emitidas, não conseguiu tirar uma conclusão segura.
(a) Ravenstein, A d ven tu res, pág. 28-35.
2o 8 Angola
Passaram-se alguns anos sem darem maior sinal de si, até que çj0
grupo com que Kinguri seguiu da Lunda para o sul, apareceram
alguns no Libolo, e vemos que se relacionaram com um governador
que conheciam por D. Manuel (i), que deve talvez ser D. Manuel Pe
reira Forjaz, que comQ comerciante hábil os tivesse aproveitado para
encaminhar os seus negócios para o Bié, se não foi antes Manuel Cer-
veira Pereira que estabeleceu essas relações mais íntimas, pois o vemos
com entendimentos com o Cafuxe, que jaga era, entendimentos que,
possivelmente, se não limitaram à suspensão de hostilidades a troco de
algumas peças, mas iriam até ao auxílio de gente para atacar os ngolas
e os Ambuilas.
Fôsse como fôsse, os jagas passaram a ser dessa época em diante,
os auxiliares das guerras contra os outros indígenas e, por assim dizer,
uma espécie de matilha que se lhes assolava e de efeitos tais, que o
Bispo, D. Fr. í$anuel Baptista a propósito das campanhas de Luís
Mendes escrevia: «havendo jagas as guerras são sem nenhum perigo e
com descrédito dos portugueses, todos são de parecer que os haja, dando
por causa bastante qualquer mentira, pela muita gente que cativam, man
timentos e gados que tomam, que é o que os lá leva, primeiro que o ser
viço de V. M.de» (2).
*
* *
( 1) Ravenstein, Advenures.
(2) Anexos. D oc. 38 cit.
3
( ) Idem, idem.
Parle II — Angola 209
63
(1) Ravenstein, nota (4) a pág. i diz que 0 sítio escolhido foi o da Praça Velha, dos
mapas modernos, ao sul da actual Ambaca.
5
(2) Biblioteca da Ajuda. Cod. i-vm- o. 3
3 0
( ) Catálogo refere que nesta guerra com o Ngola, Luis Mendes, ao entrar em batalha,
formou a sua tropa ao uso da Europa e, advertido pelo seu capitão-mor Pedro de Sousa Coelho
dos inconvenientes que tal formação tinha em face do modo de pelejar dos indígenas, Luis Men
des insistiu, mas reconhecendo em breve o erro, determinou ao capitão-mor que adoptasse a
disposição tactica que entendesse.
Se este facto fosse verdadeiro, o Bispo Fr. Manuel Baptista, que em tudo e por tudo cen
sura Luís Mendes, não deixaria de 0 aproveitar. Deve talvez haver um fundamento para esta
versão no facto de Luis Mendes se opor a aceitar o concurso dos jagas nos combates e, possivel
mente, correndo mal para as nossas tropas qualquer ataque efectuado, atribuíram o insucesso
à falta dos jagas e Luís Mendes deixou-se persuadir de que êles eram indispensáveis. Como foi
autor da Arte Militar, os cronistas julgaram mais verosímil que êle quisesse aplicar às guer
ras da África os preceitos que desenvolvera na sua obra para as guerras na Europa, e dai a ver
são que todos reproduziram.
27
210 Angola
5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, Cód. i-vm- o, ref.°, fl. i . Instrução secreta dada a Fernão
de Sousa. 2g-Março-624.
(2) O autor do Catálogo, Lopes de Lima nos Ensaios e Ravenstein, para só citar os mo
dernos, copiaram de algures a informação de que Luís Mendes de Vasconcelos, com o medida
de m oralidade, proibira que os moradores brancos, mulatos e negros calçados fossem às feiras
no interior, e Ravenstein, em nota, indica que Livingstone, no Missionary Traveis 1857, pág. 371,
lhe chama lei ditada por motivos humanitários. Esta medida estava tomada pelo governo de
Portugal ou de Madrid, em regimento anterior ao de Luís Mendes, pelo menos no de 1611 para
Francisco C orrêa da Silva, e constituía o capítulo 21.°, sendo portanto absolutamente falsa a
inform ação. P o r acaso deu certo, pois no tempo dêle, estando fechadas as feiras, não iam lá
brancos, nem outros quaisquer, mas não seria Luís Mendes, depois dos escravos que arranjou
que proporia essa medida moralizadora.
Parte 11 — Angola 211
(1) E sta informação consta do único documento que se encontra do governo de João
Correia de Sousa. Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Angola. Caisa 145,— documento
que está bastante danificado e com dificuldade se pode ler. Vide Anexos. Doc. n.° 40.
(2) L uís Mendes de Vasconcelos escreveu uma obra muito interessante: Do Sitio de Lis
boa, sua grandeza, Povoação e Commercio, Diálogos de Luís Mendes de Vasconcelos, em que
são tratados assuntos económicos coloniais. Oliveira Marreca, apreciando-a no Panorama,
1842, pág. 379, i.° vol., escreveu: O discernimento com que discursou em assumpto como era o
das colonias, é para notar, se rejlectirmos que, ao tempo em que se publicava a sua obra (1608),
não tinha ainda aparecido o primeiro escripto economico que viu a luj na Europa— 0 tratado
do italiano Antonio Serra, impresso em iõ i 3 . Mas sem este auxilio, o bom siso do escriptor
portugueq, e alguns capítulos da Política de Aristóteles, que cila, revelaram-lhe verdades que só
muitos anos depois foram apregoadas e desenvolvidas pela escola italiana, e pelos economis
tas in g lejes e franceqes .. Contrahida a questão a estes termos, pode asseverar-se que Vascon
celos a tinha olhado, como passados mais de dois séculos,*a olharam Ricardo e outros economistas.
212 Angola
comércio com o interior e a situação tornava-se grave, não só para
comerciante de Luanda, como para o próprio Estado, pela falta do
rendimento proveniente da exportação dos escravos e marfim.
João Correia de Sousa, que sucedeu a Luís Mendes, assumia o g0_
vêrno em circunstâncias difíceis e, não podendo tratar com o Samba
Antumba ou António Correia, que nenhum indígena reconhecia como
rei de Angola, teve de mandar o Padre Dionísio de Faria Barreto e um
Manuel Dias, intérprete, para convencerem o Ngola Mbandi a fazer-se
cristão e a sair das ilhas do Cuanza e vir íungarse à terra firme.
As negociações foram bem sucedidas e emquanto o padre Dionísio
ficava junto do Ngola, Manuel Dias veiu com as três irmãs dêste, a
Ginga Ambonde, a Cambo e a Quifunge , a Luanda para confirmar ao
governador as condições de paz, garantidas pela conversão ao cristia
nismo das três pretas. Lê-se nas crónicas que foi revestida do maior
aparato a recepfão que João Correia de Sousa preparou à embaixada
do N gola Mbandi e conta-se que, tendo-se esquecido de mandar pôr
um tamborete ou alcatifa para se assentar a embaixadora Ginga Am
bonde,, esta chamou uma das escravas que a acompanhava e mandan
do-a ajoelhar, se assentou no dorso emquanto durou a recepção e, ter
minada esta, como a escrava se não movesse da posição em que estava,
chamaram-lhe a atenção para que a levasse, ao que respondeu que a
deixava por lhe não ser permitido tornar a usar de tal assento.
Estabelecidas e assentes as condições da paz, tratou-se seguida
mente da conversão ao cristianismo da embaixadora Ginga e suas
irmãs, o que se realizou com grandes festas e pompa, recebendo a
Ginga o nome de D. Ana de Sousa, depois do que regressou aos seus
domínios, acompanhada então por Bento Rebêlo em vez de Manuel
Dias, a dar conta ao irmão do que se passara, levando para êle valio
sos presentes e um auto que se elaborou com as condições tratadas,
auto de que se remeteu outro exemplar para a Côrte em Madrid, pe
dindo a aprovação real.
Emquanto esperava a resposta de Lisboa ou de Madrid, João Cor
reia de Sousa teve de liquidar a situação criada pelos atrevimentos de
um soba Cassange que vivia em uns matos próximos de Luanda, a que
chamavam a Ensaca do Cassangi, e que mandava a sua gente não só
assaltar as comitivas que saíam de Luanda, mas até as próprias casas
dos habitantes, roubando-lhes os escravos quando estes iam à agua na
lagoa dos Elefantes, de que os habitantes se abasteciam.
Êste gentio da Ensaca do Casangi devia ser jaga, pois tinha as mais
Parte II— Angola 2 l3
(1) Historia das Guerras Angolanas de Oliveira Cadornega. Capitulo i.° da 1.* pane do
i.° tômo, pág. 62. Exemplar da Academia das Sciências de Lisboa. Anexos. Doc.0 n.° 41.
5 3
No cód. i-viu- o da Biblioteca da Ajuda, a fl. 2, está um mapa do sítio da Ensaca onde
se deu esta guerra, que é interessante. Paiva Manso, Historia do Congo, publica a pág. 174 o
doc. ora que se refere a esta guerra.
(2) Paiva Manso, História do Congo, doc. c-m, refere uma guerra dada pelo capitão Sil-
214 Angola
« *
* *
vestre Soares, com auxílio dos jagas, a Engombè e Cabanda, e ainda a destruição do Bango com
consentimento do rei do Coango. Este rei do Coango é aquele de quem se conta que prendera
cinco mercadores portugueses que apareceram no seu reino e ficaram escravos dos makokos
m as tais calamidades sucederam no reino depois disso, que êle resolveu libertá-los e mandá-los
«o rei do Congo, compensando-os com presentes dos prejuízos que sofreram.
(i) Biblioteca da Ajuda. Cod. 5 i - yjji - 3 o , ref.°. Instrução secreta.
Parie I I — Angola 2r5
ca dos os bens (i), prisão e confiscação que os cronistas da época (2)
ligam e atribuem à questão com os jesuítas, mas que talvez antes tives
sem como causa principal a remessa de escravos para o Brasil e a
guerra com o rei do Congo, de que êsfe se queixara (3) e que, como
represália, muito possivelmente induzido pelos Jesuítas que com Gas
par Álvares se refugiaram no Congo, resolveu pedir aos holandeses,
por intermédio de algum dos capitães dos navios que freqíientavam o
Pinda, para efectuarem um ataque a Luanda, prometendo auxiliá-los
no desembarque com sua gente que tinha na ilha.
Serenada a agitação em Luanda, os jesuítas não perderam a opor
tunidade de tratarem dos seus interêsses, e Gaspar Álvares foi fazendo
o seu testamento, com data de 23 de Fevereiro de 1623, declarando
que estou metido de dés dias nesta Companhia de Jesus donde sou noviço
e que não posso fa\er este testamento em publica forma, nem o posso
aprovar por embarasar me escondido por hum aleive f d ç o e fa lço teste
munho que 0 Governador João Correia de Sousa me levantou, não
obstante o que 0 tabelião o aprovou em 27 de Outubro de 1623 e, no
dia imediato, o Bispo D. Fr. Simão Mascarenhas, sendo Governador
Geral, lhe lançava 0 Cumpra-se 0 que toca ao pio.
Era precisamente o que tocava ao pio que interessava à Compa
nhia de Jesus, pois Gaspar Álvares, àparte uns pequenos legados a
pessoas de família, à Misericórdia de Lisboa e a um amigo ou empre
gado, legava a sua fortuna, avaliada em 400.000 crusados, à Compa
nhia, parte em legados com fins determinados, como para estabelecer
um seminário no Congo; outro em Luanda, onde tivessem ensino,
sustento e vestir, pelo menos 12 rapazes filhos de homens pobres, e
um hospital, e outra parte em escravos, terras, dinheiro, etc., proce
dendo assim, segundo escrevia o Governador Fernão de Sousa (4),
porque sendo o maior mercador que ouve e avera nesta Ethiopia e não
podia por melhor meyo pagar ao gentio 0 que lhe devia que com aplicar
sua fazenda a obras pias e seminários, em que os filhos e descendentes
do gentio aprendão e alcancem verdadeira noticia da nossa santa fé .
(1) Figanière a pág. 247 do seu Catálogo dos Manuscritos Portugueses existentes no Mu
seu Britânico, cita um documento que diz respeito à confiscação dos bens de João Correia de
Sousa, Governador de Angola.
(2) Cadornega. Na parte do cap cit.
3
( ) Paiva Manso, História do Congo. Doc. cu e cm.
(4) Carta do Governador Fernão de Sousa, de 25 5 36
de Dezembro de 162 , a fi. ç do-
5 3
Cod. i-vm- o da Biblioteca da Ajuda.
t
1
2 l6 Angola
A -p esa r-d o cumpra-se d o G o v e rn a d o r G e ra l, F e lip e 111, p eias recla
•mações rece b id a s, m an d o u qu e o s jesu ítas restituíssem to d o s os be '
I de que se tinham a p o d e ra d o , com o fu n d am en to de que o testament
não fôra feito em p ú b lica -fo rm a e servira m de testem unhas o Reitor €
o u tro s re lig io so s da C o m p a n h ia , além de que p a r a entrarem na posse
d o s b e n s tin h a m co rro m p id o os o ficiais de defu ntos, d an d o a ca d a um
» m il c ru s a d o s ( i).
* A o s o ficia is de defuntos e ausentes qu e in tervieram no caso foi
d a d a o rd em de p risão, m as a-p esar-d e to d o o segred o tiveram quem
o s a v isa sse e fugiram . D o seu la d o , o G o vern a d o r G eral F ern ão de
S o u s a p rom etia que o in ven tário da fazend a de G asp ar A lvares se
fa r ia e in form ava, não se tem perdido em estar esta fazenda em mãos
dos Padres da Companhia porque nelles está mais segura que em The-
'I
\oureiros e se o testamento se anullar, acha-la-hão os herdeiros sem que
bra, nem demeiiSiyção, porque a arrecadão e beneficiaô como sua, e não
a despendem como fa\em os Thesoureiros, em que V. Mag.de manda se
tenha grande consideração porque os nomeiaõ os Bispos, seus provisores,
em homens pobres que a recebem para não dar conta dela (2).
O inventário foi tendo demoras até que esqueceu, e a Companhia
de Jesus ficou de posse da herança, não tendo nunca cumprido as dis
posições de Gaspar Álvares quanto aos seminários e hospital.
(1) C on ta-se que tôda esta questão de G aspar A lvares foi originada na intervenção dos ,
jesuitas para o livrarem de um a situação ridícula após uma cena de amores, mas fôsse qual •]
fosse a origem , o certo é que já anteriorm ente G aspar Á lvares era um bemfeitor da Com panhia ;
de Jesus e tinha direito a ser considerado fundador, por ter fundado, ou à sua custa estabele
cid o , em L u an d a, uma escola de português e latim dirigida pelos padres da Com panhia, ao que
êle se refere no seu testam ento.
, * U m a có p ia deste testam ento deveria encontrar-se, pelas indicações deixadas pelo V isconde
de P aiva M anso, no A rquivo do Ministério da Marinha e Ultram ar, provisòriam ente incorpo
rad o na B iblioteca N acional, S ecçã o U ltram arina, no processo Ofícios dos Bispos de Angola,
i j 5 3 - i 8 2 5 , Março de 1773. P o r qualquer m otivo êsse processo foi organizado por m aços com
•* ! o u tro s títulos, e, isolado entre êles, encontrou-se uma relação dos bens apreendidos aos jesuí
tas em A n g o la , quando se deu execução ao decreto pom balino que os expulsou de P ortugal e
seus dom ínios.
Nessa R elação dos rendimentos, certos, etc., datada de 27 de Julho de 1760 e assinada pelo
escrivã o da fa2enda A n tón io Ferreira C ard oso, Anexos. D oc. n.° 42 se transcreve o testamento
d e G asp ar Á lv ares, com tôdas as aprovações e cumpra-se e também se trancreve a provisão da
Mesa da C on sciência e Ordem de O utubro de 1624, em que se m andava que a Com panhia de -
Jesus restituísse os bens de que se apossou e se procedesse ao seu inventário o que nunca se 1
cum priu, a-pesar-das ordens dadas.
5
O origin al dêste últim o docum ento encontra-se a fls. 19 do C ód. t-v m - o da Biblio3
I teca da A ju d a , já referido, e no mesm o cód ice se encontram ainda outros docum entos refe
ren tes ao assunto.
(2) B ib lio te ca da A juda. C ód . 5t-vm -3o, cit., fl. 320. C arta para a Mesa da Consciência
I.
[ P a rle 11— A n g ola 2 l7
*
* #
í r
Bem pouco, a final, e bem possível de resolver dentro das atribuições f -
e poderes do Governador Geral, se o assunto se não ligasse com os
J
cativos feitos por Luís Mendes de Vasconcelos, a que já se fêz refe
i
rência, e eram em tal número que ocupavam, com o seu acampamento
uma parte importante da província da liamba.
As condições de paz estipuladas com a Ginga em nome do irmão,
consistiam: em lançarmos fora das suas terras o jaga Caçange que o
f-
5 3
(t) Biblioteca da Ajuda. Cód. i-vm- o, já citado fl. 414.
28
t-
r
A n g o la
2 r8
guerreava; em lhe restituirmos os sobas e os quisicos de sua obediência,
que Luís Mendes lhe tinha tomado, porque não podia ser rei sem vas
salos e sem cativos que o servissem e, íinalmente, que retirássemos o
presídio de Ambaca para qualquer outro ponto, porque estando dentro
das suas terras e a um dia da sua povoação e côrte, se não podia con
servar, porque para êle era um desprestígio e um impedimento para o
comércio, peia cubiça dos brancos, que assim devassavam as suas
terras.
Estas condições foram aceites em conselho da Câmara e ouvido o
Bispo e Padres, concordando todos com elas e também com o se re
tirar o presídio de Ambaca para a Luínha, o que tudo poderia ser de
terminado pelo Governador, se não houvesse, como já ficou dito, o
obstáculo da restituição de alguns sobas e dos quesicos, avassalados por
Luís Mendes, que representavam uma importante fonte de receita para
a Fazenda R eaf
*
# *
mâ:
Parte II— Angola Hl
vão, para )u*gar das causas, e tudo organizado e a postos para a par-
tida, em um sábado, sete de Fevereiro de 1626, iniciou 0 quilombo a
fliarcha, ao som de guerra, com toque de caixas, trombetas e pífanos,
seguidos de infanteria, e da gente de cavalo, e à frente, a cavalo, o
capitão mór Bento Banha Cardoso, que 0 governador Fernão de Sousa
acompanhava, até à Lagoa dos Elefantes, precedendo o guião com a
sua escolta.
Não se esqueceu Fernão de Sousa de dar um regimento ao capitão
indr, e por êle vemos que um dos fins que se tinha em vista com a
guerra, era a investidura do Airequíioange, como rei do Dongo, cujo
trono se acharia vago, depois do ataque que se ia dar à Ginga, pela
prisão desta ou pela sua fuga (1).
Do auto de vassalagem a que deveria proceder, constaria que Aire-
quüoange, Rei do Dongo, por si e por todos os seus sucessores, se obri
gava a pagar de feudo e baculamento cem peças da Ilidia; a abrir fei
ras e tê-las sempre correntes nos locais que fôssem indicados; a dar
ajuda de guerra para castigo dos sobas rebelados, sempre que lhe fôsse
pedida, obrigando-os a pagar os baculamentos que devessem, e respon
sabilizando-se pelos dos sobas em sua obediência. Pela nossa parte
tomavamos o compromisso de 0 defender dos seus inimigos e dos jagas
quando lhe infestassem 0 reino; de lhe largarmos os quiqicos e os sobas
que estavam na obediência do reino quando Luís Mendes lhe fêz a
guerra, e a mandarmos retirar 0 presídio de Ambaca para 0 local onde
anteriormente estava.
Assim resolvia Fernão de Sousa, com habilidade e inteligência, as
dificuldades que adivinhava pela demora da Metrópole na resolução de
um assunto de tal gravidade, se tivesse tido a infeliz ideia de fazer a
consulta.
Os restantes capitulos do regimento provam 0 conhecimento que
tinha do meio em que vivia e as atenções que lhe merecia a política
indígena, pois não só proibia que se fizessem exigências de qualquer
ordem aos sobas amigos, como levava 0 seu cuidado até a recomendar
que as marchas do quilombo se não fizessem, a não ser em casos espe
ciais, pelo território ocupado por êsses sobas.
33v.
(1) Biblioteca da Ajuda. Cod. cit., 2.* vol., fl. t
222
A n g o la
• *
(i) Biblioteca da Ajuda, Cod. cit., t.° vol., fls. aio a 274. A meu filho Gonçalo de Sousa
e a seus irmãos.
Parte I I — Angola 2
Só a 7 de Junho chegou Bento Banha em frente das ilhas do Cuanza
ocUpadas pela Ginga e sua gente, procurando reconhecer o ponto por
0ndc devia fazer a entrada. Contra as ordens de Fernáo de Sousa,
j etflorara-se na marcha, justificando-se com a necessidade de arranjar
mantimentos e castigar uns sobetas que se não tinham avassalado,
eit)bora não fôssem rebeldes declarados. Fernão de Sousa compreen
dido a verdadeira causa da demora, foi dando ordem ao juiz de
Ruanda para verificar se deveriam ser considerados boa presa os cati
vos, que determinara lhe fôssem todos presentes e ao capitão de
jvlassangano que procedesse da mesma forma a respeito dos que ah
pâssâsscm»
Preparadas as lanchas para o ataque, iniciou-o Bento Banha pela
ilha do Mopoio, onde não estava a Ginga, o que sabia pelos avisos
que tivera dos seus capitães, especialmente Lopo Soares, que lhe fize
ram ver os inconvenientes da demora de oito dias gdfctos em recados
com a Ginga. Não os atendeu e, atacada a ilha de Mopoio e desbara
tados e aprisionados os que nela estavam, foi Bento Banha atacar por
último a da Ginga, que-já, entretanto, tinha fugido com tôda sua fazenda
e grande parte da gente, tendo queimado os mantimentos para que os
nossos os não aproveitassem. Contra todos os preceitos Bento Banha
não iniciou logo a perseguição, talvez, por ter que manter a ordem na
apanha dos cativos, e dêsse facto resultou não a aprisionar, o que
deveria ter sido fácil, pois tinha pouca gente a acompanhá-la e essa
mesmo tão desmoralizada, que ela própria, com receio, ou para ganhar
tempo, mandou ao capitão mór um Macm\e para prestar obediência,
o que não foi aceite. Depois de novas conversas, Bento Banha inti
mou-lhe a entrega dos brancos, o que ela cumpriu, e a seguir a dos
quimbares a que se negou, e então, já refeita do susto e vendo a
indecisão dos nossos, fugiu, ficando Bento Banha Cardoso a colher
informações sôbre o ponto onde se poderia ter refugiado, tendo pedido
ao Aire e ao comandante de Ambaca lhe mandassem gente para poder
efectuar a perseguição.
Fernão de Sousa, informado do que se passava, reüniu o Conselho
e expondo-lhe a sua opinião, resolveu-se dizer a Bento Banha, que se
sabia onde a Ginga estava e via possibilidade de à ligeira a assaltar e
fazer prisioneira, o fizesse, mas de contrário, que tratasse de compor o
reino e proceder à eleição do novo rei.
Tentou ainda Bento Banha a perseguição e, assim que obteve tro
pas frescas, partiu com oitenta soldados e os cavalos de que dispunha,
A n g o la
224
c em quatro dias, a bom andar, devia ter chegado muito próximo das
margens do Cuango, em Samboquizenzele (t), onde colheu informações
sôbre o destino da Ginga, averiguando que depois de expulsa de vários
sobados e severamente batida pelos Malembas, que lhe mataram muita
gente, se refugiara no Jaga Casa, seu antigo inimigo agora reconciliado.
Na impossibilidade de a aprisionar, retirou Bento Banha para Ambaca
a tratar da regularização do reino do Dongo.
Durante a guerra tinha falecido o soba Aire Quiloange, e Bento Ba
nha Cardoso que precisava arranjar um rei, aproveitou o Soba Angola
Aire, um dos muitos descontentes da Ginga e, sem consultar o governo
geral, mas com o voto dos padres jesuítas e dos seus capitães, proce
deu à sua eleição como Rei debaixo das condições estabelecidas e com
as formalidades que lhe tinham sido recomendadas para o outro, o que
tudo se realizou a 12 de Outubro de 1626, mas não desfazendo logo o
quilombo para r*elhor poder garantir a consolidação do novo rei.
Entretanto Sebastião Dias, um dos seus mais valentes capitães,
tinha partido em perseguição da Ginga, com um pequeno núcleo de
tropa, e chegando á Quina pequena, suspendeu a marcha pelo receio
de ser atacado pelo Angola Quizua, soba muito poderoso, retirando
para Ambaca a reünir-se ao quilombo de Bento Banha Cardoso.
*
* #
Angola Aire não provinha de família nobre, pois sua mãe era es
crava da Quifungi, uma das irmãs da Ginga, e os indígenas não se con
formavam com a sua eleição para rei. Grande parte deles tinha aban
donado o Dongo, refugiando-se nas Malembas e Matambas, e outros
ficaram, mas não lhe prestavam obediência, antes, como o Ambuíla,
fomentavam a revolta, dando guarida a rebeldes.
Bento Banha com a preocupação de lhe reconstituir o reino, arran
jando-lhe vassalos e cativos, mandara recado a Massangano para
recolherem ao Dongo todos os escravos, qui\icos e forros que tinham
fugido no tempo da guerra ao Quiloange e pedido a nossa protecção,
mas Fernão de Sousa avisado, não consentiu, e ordenou a Bento Banha
que se preparasse para obrigar o Ambuíla a entregar os rebeldes que
tinha recolhido, contentando-se com essa entrega se êle a fizesse, e
Par/e / / — Angola
das de uma tia e onze pessoas importantes da terra, a quern o Gover
nador Fernão de Sousa recebeu com honras especiais, fazendo-as
acompanhar, desde a Lagôa onde tinham acampado, pela sua guarda
comandada por um capitão, c recebendo-as no palácio com cerimonial y .
próprio, que não deixa de ser interessante relatar, não só como estudo
da pragmática da época, mas para melhor apreciarmos a que ponto
levavamos o culto das ficções, pois que outra cousa não eram estas
Vf ' f r Æ
considerações e contumélias com os pretos do Dongo transformados
em Família Real.
Fernão de Sousa mandou preparar para a recepção no seu palácio
a sala do trono. Na sua antecâmara lançou-se uma grande alcatifa,
peça indispensável nestas cerimónias, e a que nem todos tinham direito.
Junto à parede, uma cadeira de espaldar forrada de veludo carmezim,
onde se assentou, vestido de pardo, com sintilho, bastão cadea de ouro e
espada dourada. Encostados à parede e ladeando-o? as pessoas da
sua côrte, os- capitães e principais da terra. Entraram as irmãs da
Ginga, acompanhadas da velha tia, que devia ser interessante, e das
pessoas do seu séquito, naturalménte vestidas apenas com o páku, a
cabeça ornamentada com o jinguindu, enfiadas de missangas ao pes
coço, e manilhas de cobre nas pernas (t). Então, como hoje, não se
lavariam e contentavam-se em untar o corpo com óleo de palma e pó
de tacula, ou antes talvez com pó de carvão, como costumam fazer nas
ocasiões de luto e esta deveria ser uma delas. Estavamos a 20 de
\\ \
Junho de 1629, no comêço do cacimbo, em que o calor ainda se faz
sentir e pode calcular-se o arôma espalhado na ante-câmara, depois de
uma marcha a pé desde a Lagôa ao Palácio. Mas era tudo família
real !
As irmãs da Ginga avançaram até onde estava Fernão de Sousa e
«chegandosse a mj me levante] hü pouco da Cad.ra, e as recebi cô os bra
ços abertos em sinal de amor e Cortesia» e mandando-as sentar na alca
tifa, honra especial, pela lingoa que estava de joelhos, lhes disse que as
recebia com muito gôsto, e com mais se, elas e a irmã, tivessem vindo
quando lhes pediu que o fizessem, mas que se não desconsolassem,
porque eram casos da fortuna e prometia tratá-las bem. Em seguida, y
/ r
levantando-se, e estando todos de pé e descobertos, as despediu. .f „
Terminada a cerimónia retirou-se a Familia Real do Dongo, a quem
Fernão de Sousa mandou vestir, confiando as irmãs da Ginga aos
"v / r
(0 Populações indígenas de Angola, pelo dr. Ferreira Diniz.
23o A ”g ° la
cuidados de D. Ana da Silva, esposa do capitão-mór Paio de Araújo
de Azevedo.
* #
(1) Biblioteca Nacional. Reservados. Pergaminho solto com a cota X 3/,. Anexos. Doc.
n.° 43. ^Reprodução).
(2) Idem, idem. Reservados. F. G. Mas. 254. Anexos. Doc. n.®44.
P a rte I I — Angola 2ÒX
acção hesitante para com o soba do Dongo, o da Matamba e outros
que foram aparecendo, acção que os Ministros, nos regimentos dados
aos governadores, deixavam sempre indefinida, e que perduraria, se
Luis Mendes, por ambição ou com o verdadeiro sentido político, não
discutimos porque a época tudo permetia, não tivesse compreendido
que era necessário conquistar e incluir no território de Portugal todos
êsses sobados, para não suceder o mesmo que estava sucedendo com
o Congo, e levou séculos a liquidar.
Ao golpe audacioso de Luís Mendes de Vasconcelos, que lhe acar
retou as inimizades do clero e uma sindicância que durou anos, se
guiu-se uma política de espectativa para com o Dongo e com a Ginga,
pelo receio das acusações dos partidários da bôa paz. Fernão de
Sousa encontrou, dependente da resolução real, um longo processo de
consultas. Lisboa ou Madrid nada decediam e foi com inteligência
que êle, conjugando e ligando os diversos capítulos tio seu regimento,
arranjou pretexto e bem justificado, para impôr um rei ao Dongo, e
fazer a guerra à Ginga, com tôdas as formalidades legais de consultas
à câmara e aos padres, e recebendo os agradecimentos e louvores de
Filipe III e seus ministros pela forma como procedera, louvores que se
estenderam ao capitão-mór Bento Banha Cardoso e se referiram prin
cipalmente à acção militar, que teve na verdade, episódios interessan
tes pelo valor e admirável esfôrço dos nossos, sobretudo na persegui
ção da Ginga, deixando no esquecimento, senão mesmo absolutamente
incompreendida, a parte política da eleição do novo rei, e a criação
no reino de um lugar de Meirinho da côrte e campo, com o fim de pren
der os demandados, tomar as fazendas desencaminhadas, e a pólvora,
armas e vinho, cujo negócio tinha sido proibido por instruções de Fer
não de Sousa, e de resolver os mocanos com os quimbares e pombeiros,
ocasionados das transacções nas feiras.
#
* #
(1) Undar era a confirmação ou reconhecimento do soba pelo governador geral, e era
feita com determinado cerimonial em Luanda. Biblioteca da Ajuda. Cód. 5 i - y iu -3 o referido.
Anexos. Doc. n.° 45.
I Parle I I — Angola 233
*
* *
E o Congo ?
Era o contraste das duas políticas, a dos Descobrimentos e a da Co
lonização. Ficaram ali agarradas uma à outra, paredes meias; de um*3
3
(1) Biblioteca da Ajuda. Cod. 5i-vm-3o, fl. aov.
3o
i
lerem as Ordenações ao rei do Gongo e ensinarem-lhe a comer à mesa e
a vestir-se à europeia, para lhe criarem uma côrte como a sua, etn-
quanto êle, pela sua parte, o apresentava na Santa Sé como autêntico
Princepe m eu muito amado irmão , mas dizendo-lhe para em paga carre
gar de escravos, o mais avantajadamente que pudesse os navios que
para esse fim m andava; do outro D. João III e os seus ministros, ini
ciando a colonização do Brasil, abandonando as conquistas da África
e não definindo orientações sôbre a administração dos territórios da
M ina e da Baixa-Etiópia, que deixaram à exploração dos negociantes
de escravos para as índias de Castela. De um lado D. Sebastião, sin
ceridade e pureza, trabalhando para glória de Deus, não aceitando ao
rei do Congo as ofertas de território e de tributos, em paga de lhe ter
mos expulsado Os ja g a s , porque o seu intento não era a conquista do
Congo, mas aumentar a cristandade, e como recompensa só aceitaria
e lhe pedia que mantivesse os caminhos sempre abertos para os padres
portugueses poderem percorrê-los, prègando a fé, convertendo e bapti-
zando indígenas, edificando igrejas (j); de outro Paulo Dias, auxiliado
pelos seus inteligentes capitães, os padres jesuítas, avançando pelo in
terior de Angola com as suas aguerridas tropas, asssolando e devas
tando tudo, matando tantos indígenas, que para o acreditarem, man
dou cortar-lhes os narizes e enviou-os para Luanda para que os con
tassem, fazendo milhares de presas e comprando milhares de escravos,
a troco de fazendas que as suas próprias tropas transportavam já com
êsse fim, como transportavam pelouros e zagalotes.
De um lado ficou a ideia velha — o reino do Congo, como nós o
tínhamos formado; como o nosso, cristão e catequizado por um clero
ignorante; administrando-se por algumas das nossas leis, velhas de um
século e à fôrça adaptadas ao m eio; com uma côrte em que à pragmá
tica da Europa acrescentara a gentílica, com ostentações de luxo, com
intrigas e lutas políticas como as nossas, emfim, um reino independente
e livre, mas mulato, esforço da nossa raça em terra preta, odiando-nos
a nós e à terra. Do outro lado, ficou a ideia nova, uma Angola que
os jesuítas fizeram dependência do Brasil para fornecer escravos para
(i) O cónego Braz Correia, que exerceu uma grande acção política junto dos reis do
Congo, afirmava ter visto e lido uma carta de D. Sebastião para o rei do Congo D. Álvaro, no
5 3 3
sentido indicado. Biblioteca da Ajuda, Cód. t-vm- o- i. — Relatório de Fernão de Sousa
de fi. 18 v. a a8 do 2.0 vol.
P a r te I I — Angola 235
*
« *
que o ret do Congo já não era o vassalo humilde dos outros tempos e,
assim, se conseguiu que o preto D. Álvaro II resolvesse mandar a Roma
o seu embaixador D. António de Nigrita, Marquês de Funesta, para
prestar obediência ao Papa Paulo V, e êste facto, de tão repetido, já
corriqueiro e banal, merecia ao Papa tal relevo, que mandava cunhar
uma medalha para o comemorar (1).
*
* *
(1) Medalhário do Vaticano. Reprodução da medalha. Anexos. Doc. n.« 47. O Marquês
de Funesta faleceu em Roma e Paulo V mandou-o sepultar na igreja de Santa Maria Maior,
com um. epitáfio louvando-o, tal o apreço em que o tinha. Paiva Mansp, História do Congo.
DOC. L.XXIX. /
65
(2) Lei de 18 de Março de t o . Por alvará de 16 de Junho de 1606, foi esclarecido que a«1
proibição se não estendia aos naiuraes do reino de Castela e dos mais de Espanha.
vA
240 AnS0la
a parte bem recebidos (j), chegaram também ao Pinda onde não en
contraram obstáculo ao seu negócio, sendo bem acolhidos e festejados
pelo Manisonho, o Duque do Sonho, com o se intitulava o preto que
governava a região e, possivelmente, pelos portugueses que lá esta
vam.
O governador de Angola, então D. Manuel Pereira F o rja z, preve
nira para Lisboa da freqüéncia dos navios holandeses na costa e esta
dia nos portos do Congo e outros para o Norte, pelo que o Conselho
da índia resolveu impor a ocupação militar do Ilheu dos C a va lo s, em
frente do Pinda, construindo-se ali uma fortaleza. F ilip e II, recebida e
estudada a proposta, aprovou-a, e indicou com o entendia se devia pro
ceder, não só na ocupação do Ilheu, mas tam bém p a ra os la n ça r d a lly e
reduzir aquelle comercio ao estado a n tig o (2).
Não se sabe se foram seguidas as indicações de Filipe II ou outras,
mas o certo é q»e mais de uma tentativa se fêz nesse sentido, pois que
além da nomeação de António G onçalves Pita para capitão-m ór do
Congo, e instruções especiais para se entender com o rei do Congo,
ainda o D. Á lvaro, sôbre a construção da fortaleza, se encontram refe
rencias â ida de d u as caravelas com ca l e aviam entos , m as que com a tor
menta de S . L u c a s deram â costa (3 ).
*
* *
(1) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Escravos e Minas de Africa. VIU. Gaspar
da Rosa.
(2) Paiva Manso, História do Congo. D oc. u a x u
3
( ) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Escravos e Minas de Africa. V IU . Cit.
Farte 11— Angola 241
conselhos, parecendo que não só ao Governador Geral de Angola, mas
a tôda a gente que de lá vinha, a côrte os pedia, no desejo de encontrar
uma solução.
A ida de António Gonçalves Pita em 1610 falhara por completo.
Parece que êle levara pedreiros e material para a construção da for
taleza, mas teve a feliz ideia de deixar tudo em Luanda e ir só,
para tratar do caso com o rei do Congo que, depois de o ouvir, não só
negou a autorização, como o mandou pôr fora do reino, atribuindo-se
o facto a sugestões do seu confessor, o padre Diogo Rodrigues Pestana,
Deão da Sé.
Já de há muito que havia queixas contra êste padre (1) e parece que
antes de se darem estes factos com António Gonçalves Pita, quando
também em 1610 chegou ao Congo uma missão de quatro padres de
S. Domingos, o Deão Pestana os intrigou por tal forma com 0 Rei do
Congo, que êste, a-pesar-de os ter mandado pedir e*de os festejar à
chegada, por tal forma os tratou depois, que os padres tiveram de
retirar para não morrerem de forne, pois lhes negava os alimentos (2),
e assim, para arranjarem dinheiro para a viagem, tiveram de vender
uns livros religiosos que tinham levado para a catequização, tendo
sido o Deão Rodrigues Pestana quem carinhosamente lhos comprou.
Quando depois se deram factos semelhantes com António Gonçalves
Pita, foi necessário tomar uma resolução enérgica, e como o Deão
Pestana não viria a Luanda se o chamassem isoladamente, resolveu o
Bispo chamar todo o clero que estava no Congo, só assim conseguindo
prendê-lo e mandá-lo para Lisboa.
Tinha entretanto, António Gonçalves Pita, vindo para Luanda, de
onde escrevera para Lisboa a contar o que se passára, pedindo lhe
indicassem o que tinha a fazer, mas tendo acabado 0 Conselho da índia,
e distribuídos os seus trabalhos pela Mesa da Consciência, a do Desem
bargo, e a da Fazenda, etc., nunca ninguém mais pensou no pobre
capilão-mór, nem no Congo. E é engraçado que a própria Mesa da
(1) Filipe II refere-se ao seu procedimento na carta já citada, Paiva Manso, História do
Congo, doc. Lxxxi e igualmente o Bispo Fr. Manuel Baptista no doc. xci.
(2) História de S , Domingos por Fr. Luís de Sousa, segunda parte, livro iv, caps, xu e xm.
Garcia Mendes Castelo Branco, um dos capitães de Angola do tempo de Paulo Dias e muito
afeiçoado aos Jesuítas, pelo menos na política dos aforamentos dos sábados, numa Relaçao da
3
Costa da África (Luciano Cordeiro, Memórias damina ao Cabo Negro, iv-pág. o), referindo-se
à saída do Congo dos Padres de S. Domingos, escreveu; nãopoderam lá caber, nem o rei fafia
caso deli es que deveram fa^er cousas>pelas quaes o rei não gostou d’ elles e aconselhava a que
se mandassem para o Congo treze padres jesuítas, sendo um deles o Bispo.
2 42 Angola
Consciência dirigia cartas ao Bispo, em Luanda, preguntando com que
autorização retirara o clero do Congo, e o Conselho da Fazenda pre-
guntava ao Governador Geral por que m otivo fechara o com ércio com
o Congo (t).
Era pois necessário apresentar de novo o problem a da expulsão dos
holandeses do Pinda e da vigilância a exercer na costa de Angola,
aparecendo então os variados projectos, não só p ara o Pinda, mas
também para as minas do Bembe, aconselhando-se o ataque simultâneo
por terra e por mar. Por terra, seguiria o exército form ado por todos
os portugueses e auxiliares indígenas, pelo Bengo em direcção a
Cabonda, e daí ao Bembe, onde se fortificaria ao mesmo tempo que
tratava da extracção do cobre; e pelo m ar seguiriam , além dos navios
com pelo menos duzentos hom ens p ara a guarnição da fortaleza,
dois outros com a alim entação indispensável para êsses homens durante
algum tempo, p^is seria m ais que certo os indígenas do Sonho não
virem fazer feira ao Pinda, por a isso se opôr o Rei, que recom endava
ao Manisonho que im pedisse a en trad a dos portugueses no Zaire (a).
#
# *
(1) Luciano Cordeiro, Memórias, Produções, Comércio e Governo do Congo, etc. segundo
Manuel V ogado Sotom aior.
(2) Luciano Cordeiro. Idem, idem.
Parte I I — Angola 243
(1) Bibt. Nac., Secção UH., Papéis de Angola, 1619. Relatório datado de 7 de Setembrç
de 1619 do Bispo D. Manuel Baptista sobre os holandeses. Anexos doc. n.° 48.
(2) Paiva Manso, História do Congo. Doc. xcv.
3
( ) Rei. cit. Anexos. Doc. n.° 48. È este 0 único documento em que se encontra a notícia
da expulsão dos holandeses, porquanto o rei do Congo D. Álvaro III, em carta de 24 de Outu
5
bro de 161 para Filipe II, História do Congo, doc. xcv, atrás citado, apenas diz que mandou
despedir e botar fora de suas terras e estados os holandeses esperando que o Conde do Sonho o
cumpra e quando ele asi o não faça, eu o castigarei como a desleal em meu serviço. Pouco
tempo deve ter durado esta expulsão dos holandeses, e devem ter regressado, porque no governo
de Fernão de Sousa foram novamente expulsos.
2 44 Angola
#
# *
P a rle I I
ff
* ff
verificar o estado da conquista. Soube que ali tinham estado uma nau í«
a .í -
e dois patachos de guerra holandeses, que andavam às presas, tendo
resgatado com os do presídio, fazendo aguada e recebendo refrescos,
sem que nenhuma das autoridades tivesse esboçado a menor oposição,
t
antes pelo contrário, parece que com o seu consentimento, pelo que
*P
Fernão de Sousa, mandando levantar auto da ocorrência, trouxe presos
:i
X'
246 Angola
para Luanda o capitão-mór, um capitão de infantaria e uni sargento,
principais responsáveis, ficando presos outros em Benguela.
Em viagem para Luanda, chegando à Ponta Mofina já um pouco
pela tarde, o piloto receando dobrar a ponta por causa de um baixo
que existia, fundeou o patacho.
Na manha seguinte navegavam para Luanda, quando se aproximou
um barco que o Bispo D. Fr. Simão M ascarenhas, que governava a
colónia, mandou ao encontro de Fernão de Sousa, com o aviso para
demandar a barra da Corimba, por na baía de Luanda se encontrar
uma esquadra holandesa, composta de uma nau de trezentas toneladas
com 22 peças de artilharia, dois patachos com 12 peças cada um, um
navio e uma lancha com roqueiros (1), que esperavam o patacho em
que êle ia.
Poucos dias antes, o Bispo, surpreendido pelo aparecimento dos
navios holandesas, organizara a defesa de Luanda com seis navios,
determinando fôssem atacar os holandeses, mas tão mal apetrechados
foram e em tão grande desordem, que, sem pelejarem, deram à costa
dentro da baía, fugindo as tripulações, queimando os holandeses três
deles que tinham aprisionado, e mandando o Bispo queimar os outros
para lhes não caírem nas mãos, perdendo-se tôda a carga que tinham a
bordo.
Conforme a indicação enviada a Fernão de Sousa, o patacho em
que viajava entrou pela barra de Corim ba, e, fundeando, foram os
padres da Com panhia de Jesus buscar o governador e conduziram-no
a Luanda, onde o Bispo lhe fêz entrega do govêrno. Tom adas as
medidas de defesa necessárias, souberam os holandeses por um flamengo
Trombeta (2), que viera da Baía degredado para Luanda e que fugira
para eles, da entrada de Fernão de Sousa pela Corimba e que se
preparava para lançar fogo à nau holandesa. Levantando ferro diri
giram-se para a Corim ba, mas Fernão de Sousa prevendo o ata
que, mandou com rapidez fazer duas fortificações e, quando os ho
landeses, mandaram uma lancha sondar a barra, foram recebidos a
tiro, não tentando a entrada, e seguindo para o sul das Palmeirinhas
e depois para a barra do Cuanza, terminando por retirarem de
todo.
*
* *
(t) Bibl. da Ajuda. God, 5t-vm-3o. Carta de Fernão de Sousa para o Governo de aS de
Setembro de 1624, fl. o v. 33
t
248 A n g o la
(1) Constantino Cadena veio para Angola com Fernão de Sousa, que o nomeou capitão-
-mór de Cambambe. A exploração da mina de chumbo em Cambambe durou ainda por muito
tempo e da situação da mina se fez um auto ou certidão, que Cadena mandou para Fernão de
5
Sousa. Anexos. Doe.« n.oi249 e o, e ainda sôbre o assunto há uma carta de Fernão de Sousa
5
de a de Dezembro de 1626 a fl.335 5 3
do cód. t-viu- o da Bibl. da Ajuda.
5 3 36
(2) Bibl. da Ajuda. Cód. t-vm- o, fl. o . Carta de to de Dezembro de 1624.
I
'S.
y
os holandeses forçariam a entrada do canal, e completou a organização
da cidade, não esquecendo guardar a saída para o interior com receio
dos que fugissem. *. ■ i
atingir, matando, o valente Baltasar Rebelo de Aragão, que então era pro
vedor de fazenda e não obstante a sua idade, estava ali prestando serviço.
Ao outro dia, i de Novembro, os holandeses iniciaram uma tenta
y.
tiva de desembarque, vindo grande número de lanchas em direcção
à terra, mas sem definirem bem o ponto onde o queriam fazer, na
â
esperança de que acudindo os nossos a determinado local, eles o
pudessem efectuar noutro. Fernão de Sousa deu, porém, ordens ter
minantes para nada se alterar, e esperassem que os holandeses defe
nissem os seus planos, ao mesmo tempo que recomendava rompessem
o fogo os fortes que estivessem mais perto das lanckas, pelo que os
holandeses, tendo sofrido algum dano nas embarcações em que se
transportavam, recolheram a bordo das naus.
Durante a tarde dêsse dia e ainda no seguinte continuou o tiroteio
de parte a parte, sem que da nossa houvesse qualquer ferido e havendo
da dos holandeses a morte de um português, Diogo Rodrigues Teixeira,
que aprisionaram quando ia em um batelão acudir à Sua armação, e
ferimentos graves em dois dos seus, além de alguns navios bastante
danificados.
Vendo que nada conseguiam, os holandeses retiraram com os seus
navios para a ilha, fora do alcance da artilharia dos fortes, onde pro
cederam à reparação e limpeza dos mais necessitados e, logo que
efectuaram a do patacho e a da urca, mandaram-nos sair para irem ao
sul resgatar refrescos, e pouco depois saiu o patacho pequeno carregado .\ j
*
« •
í: {
Jk
» I
i5 o A n g o la
(i) O pedido para os holandeses nos virem atacar com a promessa de os auxiliarem, foi
feito pelo rei D. Álvaro II, como represália pela guerra cjue lhe deu o governador João Correia
de Sousa e foi também, quando governava o preto D. Álvaro II, que os jesuítas e Gaspar A l
vares se relugiaram no Congo, fugidos de Luanda pelas questSes com Correia de Sousa.
Entretanto falecera D. Álvaro sucedendo D. Garcia, que não estava no segrêdo da combinação.
-4 \
•ï-
r ta-
t!
252 A n g o la
dindo-Jhc para informar se o navio lá tinha chegado, a-fim*de proceder
no caso contrário.
Como se vê, tudo corria o melhor possível para a realização do
plano de Fernão de Sousa de impedir aos holandeses o comércio com
o Congo e Luango, se entretanto, no Pinda, não se tivesse amontoado
6 marfim, por os portugueses o pagarem mal, em relação aos holan
deses, visto ser artigo de negócio exclusivo da Coroa, com preço deter
minado e sem margem para lucros !
Pretos e brancos, interessados no negócio, protestavam, e o Conde
do Sonho resolveu o caso mandando ao Luango pedir aos holandeses
que enviassem lá um navio. Fernão de Sousa soube-o e lá volta com
cartas de ameaças, para o Sonho e para o rei, pedindo ao Bispo para
o auxiliar com as excomunhões e censuras. A correspondência era
dirigida ao Ouvidor do Congo, para a fazer seguir ao seu destino e
com instruções sôbre a forma como deveria proceder, mas foi interce
tada a meio caminho, no Ambris, e levada ao Chantre Vicente Dias
Milheiro, confessor do rei do Congo, que, com a cumplicidade de
Baltasar Lopes de Andrade, que na ausência do ouvidor, desempenhava
êsse cargo, dirigiam a manobra para o regresso dos holandeses ao
Pinda.
Nesta preocupação constante se passava a maior parte do tempo.
Ora eram os avisos do Brasil da saída para Angola das naus holan
desas, ora eram estas percorrendo a costa à caça de presas, e, se por um
lado, no mar, com a fraca defesa de que dispúnhamos, se conseguia
impedir muitos dos ataques, em terra, como se vê, havia uma grande
corrente a favor dos holandeses, porque o caso era diferente pois não
iam aos portos do Luango e Pinda para roubarem e saquearem nem
fazerem presas, pois os próprios pretos o não consentiriam, mas levavam
mercadorias diferentes das nossas, animando o negócio, pagando
melhor que os mestres dos navios do contratador.
Mais tarde, enfraquecida um pouco a preocupação de lhes evitar o
negócio, foi possível, aos holandeses, dispondo de uma regular esquadra
e de bastante gente, desembarcarem em Luanda e apossarem-se da ci
dade. Depois disso, consumado êsse facto, perdidos para a Coroa de
Castela o rendimento da exportação de escravos de Luanda, levou anos
para que a Restauração se decidisse a rehaver Angola, visto que nunca
tinha conhecido os rendimentos que dali lhe poderiam vir.
Organizada a esquadra, distribuídos os lugares de comando, não se
fêz mais nada, e o Conselho Ultramarino então creado, muito clara-
P a r te I I — A n g o la *53
>
i
F
V
/
i
1
í
/r'
r
IV
■*
# #
(i) Tendo D. João II, em 1494, reclamado contra o facto de negociantes espanhóis terem
ido resgatar à Guiné, os reis de Espanha atenderam prontamente a reclamação e determinaram
por cédula de 4 de Fevereiro de 1496 a prisão de Alonso de Macedo negociante de Cádiz, que
maior responsabilidade tinha no caso. (Navarrete, Col. dipl. Supl. I, n.° 3o).
Parte I I — Angola ^7
mas era preferível encontrar o ouro e a prata, que os tornaria ricos
mais depressa. Em qualquer caso era preciso o trabalho, que por si
não podiam dar, e procuraram levar o índio a prestá-lo. Nas minas o
trabalho era em extremo violento e os índios desacostumados a exe
cutá-lo, fugiam, internavam-se, evitavam o contacto e relações com os
ocupadores. Estes, perseguiam-nos e forçavam-nos, empregando os
meios violentos. As suas dificuldades constaram entre os outros ocu
padores de regiões onde pela ausência de minas, e por a exploração
agrícola estar longe de atingir a intensidade que mais tarde teve,
os índios se conservavam em boas relações, que êles aproveitaram
para os conduzir e venderem como escravos àqueles que deles necessi
tavam, e, assim, afinal, todos tinham encontrado minas para explo
rarem.
Pouco tempo durou êste negócio de escravatura dos'índios. Era
breve êles lhes faltaram e, por extrema necessidade, ?ubstituiram-nos
por brancos, que não puderam suportar o trabalho. Lançaram depois
mão dos escravos que tinham na Andalusia (1). Eram, na maioria,
mouros, também não convinham, pois dificilmente se convertiam ao
cristianismo, e pensavam, poderia constituir um perigo a propagação
do seu credo religioso entre os índios.
Os reis de Castela chamaram o negócio a si e êles próprios man
daram comprar a Lisboa 100 negros, que de sua conta fizeram trans
portar à America para serem vendidos (2). Os resultados foram
esplêndidos tanto para os colonos que os compraram, como para os
reis que os venderam, tornando-se necessária a continuação de re
messas.
Não convinha, contudo, aos reis terem êsse negócio sob a sua acção
directa e, feitos os cálculos aos lucros, resolveram vender licenças para a
importação de escravos negros na América, ficando assim a Coroa com
um rendimento certo e sem mais trabalho que arrecadá-lo.
Regulamentada a concessão de licenças, a população de Sevilha
passou a dedicar-se, em grande maioria, ao negócio de escravos, que
tomou um enorme desenvolvimento, mais pelo contrabando que se
passou a fazer, sobretudo com as colónias portuguesas de Cabo Verde,*3
(1) Ortiz de Zuniga nos Anais de Sevilha refere que o Arcebispado de Andalusia rinha
grande número de escravos e em Sevilha se tinha estabelecido um mercado importante, além
de que também havia negros livres, a quem era permitida uma organização especial, com um
maioral, capelas e confrarias.
(a) George Scelle, La traite négrière aux Indes de Castille. Paris 1906, t.* vol., pág. ta6.
33
i5 8 Angola
Guiné e Mina, do que pelo fornecimento dos existentes em Espanha,
em condições de serem utilizados na América, que em pouco tempo se
esgotaram.
Era já impossível deixar de atender às necessidades dos colonos da
América, tanto mais que se iniciava a campanha contra os maus
tratos infligidos aos índios, e a favor da sua libertação, de que
Fr. Bartolomeu de Las Casas foi o precursor, fortemente secundado
pelos frades dominicanos, a cuja ordem pertenceu.
*
* *
! i
t
)
26o Angola
•
# *
(i) George Scelle, op. cit. Doc. n.° 5 a pág. 758 do 1.“ vol.
26 4 Angola
didos, etc. pois tudo dependia dos negociantes espanhóis residentes em
Sevilha, fazerem ou não algum negócio.
A seguir, em 1 5 3 8 , faz-se em Espanha um largo contrato para
fornecimentos de escravos com dois alemães conhecedores do negócio,
os quais por sua vez o transferiram para o português André Ferreira
que se estabeleceu como feitor em Nova Espanha. Por qualquer mo
tivo zangaram-se, mas o Ferreira estava de posse da licença e continuou
negociando por sua conta. O contrato transformara-se assim, em um
negócio directo de Lisboa ou das possessões portuguesas, com as ilhas
espanholas, sem intervenção da Espanha, e 0 govêrno espanhol infor
mado do facto, ordenou a expulsão do André Ferreira e de todos os
portugueses que residiam nas índias de Castela. A população protesta,
as autoridades, integradas no espírito da população, cumprem a ordem
só depois de ter exposto a injustiça da expulsão de um indivíduo útil,
que prestava refèvantes serviços aos colonos; e o município de S. Do
mingos, dirigindo-se ao Rei, diz-lhe que viu com desgôsto a medida
tomada da expulsão do português que era tão util ao país, esperando
que fôsse permitido êle voltar, e que se não desse crédito a pessoas que
falavam com paixão (1), querendo referir-se ao comércio de Sevilha e
marcando bem claramente a animosidade que sempre existiu entre os
colónos ciosos da sua liberdade, e o comércio pugnando pelos seus
previlégios.
Os portugueses entretanto, conhecedores das boas disposições da
população das colónias espanholas, aproveitaram a ocasião para, por
meio do contrabando, se compensarem dos prejuízos sofridos pela
expulsão, e as próprias autoridades espanholas eram as primeiras a
fechar os olhos a êsse contrabando, como em 1541, em Porto Rico
perante dois navios portugueses carregados de escravos, que lá apare
ceram.
Segue-se um longo período, até i 5 8 o, em que a Espanha está envol
vida em guerras na Europa e não tem ocasião de fazer contratos para
o fornecimento de escravos, mas em compensação vende lotes formidá
veis de licenças, que passaram a constituir uma forma de empréstimos
ao govêrno.
Os portugueses continuam como sempre, a desempenhar o principal
papel no fornecimento de mão de obra para as colónias espanholas. Não
só é a Lisboa que os compradores de licenças se dirigem para assegu-
34
#
* •
vios negreiros, e donde depois saíam para os diversos portos das coló
nias espanholas.
O negócio deveria ser por tal forma rendoso e estava tanto na am
bição de todos, que o nosso Duarte Lopes, regressando do Congo e dc
Angola em 1589, procurar Felipe II para lhe apresentar um projecto
de fornecimento geral de mão-de-obra para tôda a América, portuguesa
e espanhola, consistindo na organização de um monopólio de que, na
turalmente, êle seria o administrador geral. Havia dois contratadores,
um em Sevilha, outro em Lisboa, o primeiro para Cabo Verde e rios
da Guiné, o segundo para S. Tomé, Congo e Angola. As licenças no
primeiro grupo custavam a 20 ducados cada, porque os pretos eram de
melhor qualidade, as do segundo custariam só 15 ducados.
Felipe II, mostrando 0 maior interesse pelo projecto, mandou-o apre
ciar pelos do seu Conselho, que estudando-o atentamente, parece terem
chegado à conclusão, aliás fácil, de que só favorecia dfc portugueses, a
quem entregava 0 monopólio de todo 0 comércio com as colónias espa
nholas, pelo que foi pôsto de parte (1), não obstante Duarte Lopes se
esforçar por mostrar a vantagem que teriam os negreiros de Sevilha
com a reserva de Cabo Verde para os seus negócios, com 0 que não os
seduziu, pois 0 instinto, mais que a basófia, lhes fêz ver que êles não
eram marinheiros para estas viagens, e tudo redundaria em beneficio
dos portugueses.
Em oposição ao projecto de Duarte Lopes, apareceu o do Consulado
de Sevilha e o asiento com Reinai, 0 primeiro a que verdadeiramente
se pode dar êste nome, feito depois da usurpação, e que se tornava exe
quível, porque os reis de Espanha tinham agora, não só a fiscalização,
mas tôda a acção sôbre 0 procedimento das autoridades portuguesas.
O asiento com Reinai obrigava-o a levar anualmente às colónias es
panholas 4 .25 o escravos, dos quais devia desembarcar vivos pelo menos
3 .5oo, sob pena de uma grave multa, e obrigava-se ao pagamento de
100.000 ducados por ano. Os escravos, vindos dos locais onde era cos
tume buscá-los, podiam ser embarcados em Sevilha, Cádis, Lisboa, ou
Canárias, em navios com tripulações portuguesas ou castelhanas, com
a condição de terem um piloto diplomado, e seriam visitados nos portos
espanhóis pelos juízes ordinários que então se criaram, e em Lisboa
pela entidade que 0 Rei designasse.
(1) Talvez depois disto Duarte Lopes se retirasse desiludido para Génova, onde, ao passo
que expunha aos negreiros genoveses os seus planos, contou a Pigafeta as suas aventuras e a
história do Congo, que êste publicou.
2 7o Angola
Aos holandeses, já então revoltados contra a Espanha, era proibida
qualquer participação neste negócio.
Era esta a situação do negócio dos negros para as colónias espa
nholas no fim do século xvi e vemos que desde o início da sua ocupação
na América, se tiveram de servir dos navios e marinheiros portugueses
e dos negros das colónias portuguesas, muito embora debaixo do cons
tante mêdo de que lhes cubiçássemos as suas riquezas, adoptando, para
o evitar, medidas de excepção que de nada lhes serviram.
#
* #
y * v , ^
'O V
f- * - S/
■■ -W
Parte I I — Angola 27 1
terra, como entre êles havia fêmeas, juntaram-nas com machos, pondo-os
em roças apartados, todos em suas casas, formando, assim, os primeiros
casais das povoações e, com pequenos auxílios que o Governador lhe
dava, do\e vaquinhas para criação e para os meninos lerem leite, com o
serviço dos poucos escravos que tinham, os seus rendimentos e o valor
do seu trabalho, criaram o primeiro núcleo de crianças e foram cha
mando ao seu convívio outros índios. Dos escravos que se importavam •»
da Mina e S. Tomé, também alguns lhes foram dados, e se lhes dessem
mais três ou quatro. . . antes de um ano se sustentariam cem meninos e
mais (i).
Quando em 1547 0 Provincial em Lisboa conseguiu que fôsse para
0 Congo a primeira missão, composta dos Padres Cristóvão Ribeiro,
Jácome Dias e Jorge Vaz, soube que este último, pouco depois, logo em
Maio de 548, na inquirição a que o Rei do Congo mandou proceder
por os de S. Tomé desviarem 0 negócio do Congo p£*a Angola, apa
receu como uma das vítimas dêsse desvio do negócio, porque tinha
sessenta ou setenta peças para embarcar e ficaram deteudas por falta de
embarcação de que hos donos delas tem recebido muyta perda. E, ao
passo que a Companhia procedeu com todo 0 rigor, castigando seve
ramente o Padre Cristóvão Ribeiro por umas negociatas que fizera, não
lhe aceitando a justificação de que precisava ganhar alguma cousa para
a família que tinha em Portugal, não houve igual procedimento contra
0 Padre Jorge Vaz, que continuou gozando 0 melhor conceito, donde
talvez se possa concluir que 0 embarque dos sessenta escravos, se não
a ida da missão, foi uma pequena experiência que a Companhia de
Jesus mandou fazer no Congo, para saber como 0 negócio corria, e com
o que podia contar para a colonização do Brasil.
A-par-das dificuldades que encontraram para o embarque de pretos,
não foram menores as que se lhes depararam para a catequização, a
ponto de os obrigarem a abandonar 0 Congo. No cumprimento da sua
missão evangelizadora lançaram os olhos para Angola, para onde os de
S. Tom é tinham desviado a corrente do tráfico dos negros.
No Brasil, pela sua acção nas povoações que formavam com os ín
dios catequizados, opunham-se a que os colonos os utilizassem no seu
trabalho, e criando, assim, para êles, um ambiente de simpatia entre os
índios, dificultavam a obtenção da mão-de-obra, aumentando a neces
sidade do resgate do negro da África. Ao contrário de Fr. Bartolomeu
3
(1) História da Colonização Portuguesa do Brasil, .“ vol., Introdução, pág. xx.
-o
>' U <
27 2 A n g o la
t . *
t3
i
274 Angola
mas ficara para si, em paga dos serviços que prestara, com todos os
sobas, isto é, estava na posse da população indigena, de que podia pôr
e dispor. E, ligando agora a história de Angola com a do Brasil, e
com a das índias de Castela, vê-se que, dificultados na América os ca
tiveiros e encaminhados os colonos no sentido de suprirem a falta de
mão-de-obra com a compra do escravo africano, só os padres da Com-
* panhia, que eram os amos dos sobas em Angola, os poderiam vender,
tendo nessa venda incalculáveis lucros.
#
* *
(1) Arquivo da Tôrre do Tombo, livro 2.“ de Leis, fls. 26 v.» e 27, que nlo está publicada.
Anexos, doc. n.* S2.
3 3
(2) Idem, idem, fls. o a i. Anexos, doc. o.* . 53
Parte I I — Angola 2j5
licença do Governador e consentimento dos jesuítas. Os fornecimentos
de mão-de-obra seriam satisfeitos pelos padres, não podendo o gentio
trabalhar por mais de dois meses, findos os quais se lhes faria o paga
mento pela própria autoridade, não se permitindo quaisquer deduções
nos salários, pelo dinheiro ou fazendas que os patrões dissessem ter-lhes
abonado, nem ainda mesmo que o provassem. O Ouvidor Geral, uma
vez por ano, faria devassa sôbre aqueles que cativassem gentios con-
tràriamente ao que ficava estabelecido.
*
* *
*
• *
i .u , s
280
Angola
(1) George Scelle,op. eit., dá esta arrematação realizada em 1610, tendo sido concorrentes
Nuno Dias Coelho, Gaspar da Rosa, Duarte Pinto Delvas, Henrique Gomes da Costa e António
Fernandes Delvas, Borges de Castro, na Colecção de Tratados, tomo II, págs. 44-45, indica para
0 contrato com António Fernandes Delvas o ano de i 6i 5.
(a) Esta informação, que é igualmente colhida em George Scelle, nao parece certa, por
quanto encontra-se na Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. 249 a fl. a3, um docu
mento RelaçaS dos arrendam <«* que se aS feito na renda das «Licenças» e que se publica, Ane
xos, doc. n.° 55, no qual o seu autor, o quinto contratador das licenças escreve que havia três
anos <jue o arrendamento estava em execução.
y? " Jfür*
jT'
% Parte 11 — Angola
t.
282
Angola
atacavam o R ei pelo seu lado fraco e atormentavam-lhe a consciência,
fazendo-lhe ver que a maioria do comércio português era de cristãos
convertidos, cristãos novos, quando não judeus confessos, sendo de
recear as conseqüências desgraçadas que podia trazer para a propa
gação das doutrinas cristãs, a presença dêstes ímpios nas colónias es
panholas.
A fôrça do ataque, e as armas de que se serviam, não fazem mais
que provar o enorme ascendente que tínhamos tomado em matéria de
colonização e que fomos nós não só os mestres e os inspiradores, mas
os próprios obreiros de tôda a colonização da América espanhola e
portuguesa, porque nem isso os espanhóis sabiam ser.
i ■ '*?'**■ *•
mas sim na penetração feita pelo destemido pioneiro português, que se
não limitava a subir o Rio da Prata, mas da terra do Brasil, que lhes
ficara ao norte, se internara até Potosi, levando escravos para se poder
trabalhar com actividade indispensável as minas, e carregando a prata
e o ouro, sem o quintar, descia então o rio da Prata e embarcava nos
navios em Buenos Aires.
w
Era um escândalo o que se passava. Em 612 saíra de Luanda João
do Campo, natural de Vila do Conde, com um navio carregado de
peças de escravos e fingiu-se arribado a Buenos Aires, aonde com todo
(1) Biblioteca Nacional, Mss. cit., fl. 11. Anexos, Doc. n.° 5 y.
(2) Na Biblioteca da Ajuda, cód. 5 i-VIII-a5, fl. 20, está um documento que deve ser cópia
de uma informação prestada sôbre o contrabando que se fazia. NSo tem data nem assinatura,
mas os factos apontados coincidem com os da cédula de Setembro de i 6 t3 . Anexos, Doc.
n.° 5 8 .
fc „
*
284 Angola
sulta entender-se la buem acojida que hallan en el rio de la plata estes
navios.
Tinham de proceder com tôda a energia, porque não podia haver
dúvida alguma de que nada disto se passaria, se as autoridades espa
nholas nSo fôssem coniventes na fraude. Era preciso averiguar tudo
como se passara, mas sobretudo saber-se como desaparecera o ouro e
a prata, quem os levara, em que navio, para onde e com que licenças.
Queria-se tudo bem averiguado, os infractores presos e processos ins
taurados para serem julgados.
*
# #
(1) George Scelle dá a data de a de Novembro, mas nSo publica esta cédula, nem indica
onde a viu. No protesto a que se aludia, que se encontra na Biblioteca Nacional, mss. cit.,
5
fl. i ia, Anexos, Doc. n.» g, a referência a esta cédula tem a data que indicamos.
P a rte 11— Angola 2^5
(I) B ib lio te ca N acion al, mss. cit., fl. 16. A n exo s, D o c . n.° 6o.
fS .
y /
ï /
■ f f
-{:fs.
y -■
- y ! ‘l í r " S: Í : <*J • ' / /V-
'.- >V ^
t* r„ i* ■
: ' fy ; ":<• '■ '.•• H
1'-.
Parte I I — Angola
para se navegarem escravos, tendo de lhe ser notificado, bem como aos
oficiais da Real Fazenda nas Colónias, para cessar imediatamente com
essas vendas e vir prestar contas (t).
Se o Rei confirmara o arrendamento com o António de Eivas, a
Junta dos Escravos é que se não conformava com essa resolução e,
aproveitando o facto de não ter ainda sido publicada a cédula ou pro
visão, propôs, em i6t i, ao Rei, a sua anulação, y que quando lo estu-
biera venceria la utilidá y neçeçidá publiqua dei bveno governo y estado
de las jndias, tão graves eram os motivos que encontrava, a-pesar-de
que se limitava a classificá-los de danos que an resultado y pueden re
sultar a la conservacion y estado de las yndias y comercio, de algunas
condiciones cõ que asta aora ha andado esta renta ... y de dar se a por
tugueses, sem outra indicação.
Propunha a Junta que se alterassem determinadas condições do
contrato e que se arrendasse de novo a persona que ncfsea português ny
estrangero si no natural desta corona e que entretanto se nomeasse per
sona castellana que o administrasse. O Rei, porém, conhecendo já no
que dava a administração dos seus bens entregues aos funcionários da
Coroa, não se conformava com a proposta.
A Junta reforçou as suas objecções e agora, precisando a causa dos
danos, chama a atenção do Rei para a cláusula que permitia ao contra
tador jmeda despachar y enbiar a las jndias quantos mbios qui{iere si
limitació•, en flotas e fuera delias, contra lo dispuesto por las ordenanças
de la casa de la contratacion y ansi mismo puede satír de Lisboa donde no
ay ministros ante quie se hajan los registros y tienga la ynteligencia que
se requiere ny que ajan de dar cuenta de los ciçesos que permitierê, pelo
que saíam navios sobre navios carregados de mercadorias que iam
vender aos portos da América, / siege el dafio grande de la gran cãtidá
de plata y oro que se saca y lleva a reinos estranhos y la perdido de los
mas caudalosos mercadores y tratantes deste comercio cõ que los de mas
estan tan desjlaqueçidos y desanimados que todos se van retirando. . . ao
que o Rei terminou por concordar, mas com a condição expressa de
que se não largasse de mão o assunto e se fizesse depressa o arrenda
mento (2).
(1) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit., fls. 21 e 22. Em 1625, gover
nando em Angola Fernão de Sousa, ainda a Côrte em Madrid lhe mandava ordem para reünir
os papéis que houvesse sôbre os negócios de Gonçalo Coutinho e do irmão, pata se poderem
encerrar as contas e verificar-se se a Coroa ainda devia dinheiro ou tinha a receber.
(2) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit., fls. 42.
37
s
290 Angola
Parece que o caso não era, conludo, tão fácil de resolver como a
Junta dizia, c a-pesar-dc se poder invocar a utilidade e necessidade p ú
blica do bom gouêrno, devem ter perdido muito tempo em combinações,
pois só no fim de três anos é que o mandaram suspender (1), e ainda
assim, procederam primeiro com tôdas as cautelas, sendo mandado a
Lisboa para tratar do assunto com as autoridades e os interessados,
Afonso de Molina (2).
■*
♦ *
(1) Lúcio de Azevedo, op. cit. As indicações para estes rendimentos constam do docu
mento a fl. 34 do mss. da Biblioteca Nacional a que se tem feito referência. Anexos, Doc.
63
n.° .
(2) Biblioteca Nacional, ms. cit., fls. 45. Anexos, Doc. n.° 64.
2Ç2 Angola
sflíam sem êle, c por mais rigorosas que fôssem as disposições tomadas
pura o evitar, lo cicrto es que los mercadores portugeses por sus ganancias
los an de llevar aventurandosse a todo rriesgo: y los castellanos p o r sus
ncçessidades los an de recoger: y los ministros infriores p o r sus provechos
lo an de desemular: y solo la Haçienda de V. M g * y su real servid o son
los que pierden y an de perder en quanto durar esta nueva ordem.
r Entrando em detalhes sôbre a execução da medida, faziam ver que
era impraticável, porquanto a viagem de 200 a 3 oo negros, que era o
número que constituía uma armação, desnudos en cueros, presos, y e n c a -
denados, con la comida y bebida por tanta tassa, causava a morte da
maior parte dêles pelas doenças que se desenvolviam. E se êsse facto
se dava, navegando os negros em temperaturas que um pouco se asse
melhavam às das suas terras, muito maior mortandade seria de esperar
quando começassem sentindo as temperaturas da Europa e quando
desembarcassetrf em Sevilha no inverno, onde não poderia haver para
com êles os cuidados que se tinha a bordo.
Mas, ainda outros maiores inconvenientes havia e consistiam na
impossibilidade de regular a saída das armações dos portos da África,
de forma a chegarem a Sevilha a tempo de poderem partir com as
frotas, a de Fevereiro e a de Junho, pois além das incertezas das nave
gações, havia a contar com as demoras inevitáveis nos despachos e
arranjos dos negros para a continuação da viagem, sendo impossível
haver tempo de restabelecer os doentes para se não perder no valor da
armação, pois que os que ficassem a ser tratados, quando curados,
transformavam-se em ladinos pelo convívio com os europeus e já os
espanhóis os não queriam nas colónias, nem as autoridades consentiam
que fôssem, com mêdo de que incitassem os outros escravos à revolta,
sendo portanto valores perdidos, causando o encarecimento dos outros,
crescendo el preçio en cantidad excesiva y intolerable para los moradores
. de las jn d ia s , con que vendrian a buscar antes los que les llevasen sin rre-
gistro, e era êsse, afinal, o resultado certo que se tirava de tôdas estas
medidas de repressão.
O encarecimento do escravo era inevitável e daí um prejuízo com
pleto para tôda a economia das colónias espanholas, mas que à Uni
versidade dos Comerciantes da Andaluzia era indiferente, porque lhe
parecia poder arranjar colocação para as mercadorias que depois da
paz afluíram a Sevilha, afora as receitas extraordinárias do tráfego.
Cada negro tinha cêrca de 35 #ooo réis de despesa de entrada em Se
vilha e 6036000 réis de saída, fora o mantimento e roupa que muitas
Parte I I — Angola 29 ^
vezes h avia necessidade de com prar, o que, adicionado ao custo, cêrca
de 6oa>ooo réis postos a bordo no local do resgate, e aos prejuízos re
sultantes das mortes, que calculavam em m ais de 5 o #/#, davam ao
negro, entregue na colónia espanhola, um valor não inleriOT a so o s o o o
réis, quando idos directam ente dos portos do resgate, se vendiam a lHo
e 200 pe^os de prata ensayada, que eram , quando m uito, to o s o o o réis,
que das ín d ia s p a ra E sp an h a tinham 20 °/0 de quebra.
E e ra prin cipalm en te o encarecim ento resultante das m ortes em
viagem , que m ais p re o c u p a v a o n egreiro, que, n o seu interèsse, tinha
p a ra com o n eg ro cu id ad o s esp ecia is p a ra que chegasse com v id a.
Os maus tratos aos negros eram mais dos fazendeíTos a quem eram
vendidos, e a quem tinham de prestar serviço, que dos negreiros que
os levavam , pois que estes tinham todo o empenho em que chegassem
ao seu destino, gordos, anafados e bem dispostos, e lhe morressem o
menos possível.
O negócio tinha as suas contrariedades e exigia muito cuidado e
mesmo uma certa arte, para ser bem sucedido.
O primeiro momento difícil, talvez mesmo dos mais difíceis, era a
saída do pôrto donde os escravos eram naturais. Vinham para bordo
algemados, desnudos en cuero, presos, y encadenados, e em geral eram
logo recolhidos em um dos porões. Mas, por vezes, não tinha havido
tempo de arrumar a outra carga, parte do porão estava ainda ocupada
e alguns dos negros ficavam na coberta, distinguindo-se da carga pelos
gritos de revolta que soltavam. Era preciso vigiá-los com bastante
cuidado, pois que recolhida a âncora e quando a brisa começava a en
funar as velas, e o navio se movia lentamente para largar do pôrto,
um grupo de encadenados da mesma corrente, sem darem qualquer in
dicio de combinação que os vigias pudessem perceber, à medida que o
navio se afastava e viam sumir-se as últimas árvores, como que atraídos,
puxados, levantavam-se num esfôrço arrastando a corrente, aproxima-
vam-se da amurada e, com a presteza e uniformidade de quem obedece
a uma voz que manda, debruçavam-se lançando-se em massa no mar,
sem um esbracejamento de salvação, antes resolvidos a chegarem com
o pêso das cadeias mais depressa ao fundo, para mais depressa acaba
rem, por não poderem suportar a dor da saudade da sua terra.
294 Angola
A bordo eram recolhidos nos porões. Os navios negreiros tinham
para êsse fim duas cobertas de pequena altura e quási sem ventilação,
onde os negros eram arrumados, contando-se um negro por tonelada
de arqueação, mas chegando a levar-se mais, tudo dependendo da
afluência de carga. Aí comiam, dormiam e satisfaziam as suas neces
sidades, sendo necessário conduzi-los ao convés para se proceder à
baldeação e limpeza das cobertas. Tinham que vir por turnos e mesmo
assim vigiados, para evitar os suicídios em massa, muito vulgares.
Procurava-se distraí-los e fazer-lhes esquecer a vida de cativeiro a ,
que estavam destinados, e em geral a tripulação tocava e cantava, para f
os dispor melhor e perderem aquela profunda tristeza. Alguns cobra- -
vam ânimo para afrontar as agruras da vida, mas outros, e eram tantos,
quando recolhidos na coberta, os que dormiam próximo do costado do
navio, combinavam-se para com as unhas escavarem na madeira, e, a
pouco e pouco, éhibora com os dedos já a sangrarem, iam ainda esca- ;
vando mais, até que um primeiro buraco aparecesse, e então, retinidos i
num ou em dois dêles as fôrças já exaustas dêles todos, mas naquele
momento revigoradas, a tábua era arrancada, o navio tinha um rombo,
o mar inundava tudo e êles morriam com a tripulação, seus algozes...
Outras vezes era a revolta, outras a greve da fome, e como evitar
tudo isto, indo os negros divididos pelos diversos navios da frota, a
cujas tripulações era indiferente que chegassem vivos aos portos de
destino ? <:Quem havia de prodigalizar à mercadoria aqueles cuidados
que ela requeria, quem havia de curar o doente, quem cuidaria da sua
alimentação, que chegava a ser apropriada para a engorda, uma tem
porada antes da chegada aos portos onde deveriam ser vendidos?
A nueva orden era inexeqüível, mas não era fácil revogá-la.
*
* *
63 65
(i) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit, fl. . Anexos, Doc. n.0 . Este
documento, datado de 2t de Agosto de 1614, tem à margem umas anotações que parecem es
critas ou inspiradas pelo António de plvas. Uma fôlha que lhe serve de capa tem a indicação
nJunta. 21 de Agosto de 1614, dei pM de hay-Âa y p d e confesssor de V. MgA sobre lo tocante a
la renta de esclavos negros».
r - , '> ■ W " -
2 ÇÓ Angola
abertos, c nos quais se faria a repartição dos escravos, conforme as
ordens do Conselho das /ndias.
Com referôncia à navegação por Buenos Aires e Rio da Prata, man
tinham-se as mesmas restrições, para lá só poder ir navio com carga
S ? * que tivesse tido despacho e registo na Casa da Contratacion em Sevilha
ou Cádis, e no de otra parte, dando las Jiansas nesesarias para el retorno.
O número de escravos a importar também era reduzido de 4250 a
3 ooo, pois tinham a preocupação de que havia negros em demasia e
que era necessário diminuir o seu número para evitar as revoltas. O
Conselho de Portugal objectou que não havia negros a mais, nem o seu
número influía para as revoluções, que tinham outra causa, e dava
como exemplo o que fazíamos no Brasil, cuja prosperidade tão cobiçada
pelos espanhóis, era devida à abundância de mão de obra, inteligente-
mente mantida pela liberdade de comércio (1), mas só conseguiu que
mudassem o limite para 3 5 oo.
O novo contrato foi finalmente apregoado em 1614, em Madrid (2),
tendo, além das condições atrás indicadas, sanções severas para os der-
rotariamentos e arribadas. Apresentaram-se muitos concorrentes portu
gueses, mas António de Eivas fêz os seus protestos, conseguindo obter
.1 qne lhe reconhecessem o direito de preferência, pelo que em 27 de Se
tembro de 16 1 5 assinou o novo asiento, em que a renda era de u 5.ooo
ducados, mas exigiu e conseguiu que se consignasse no seu contrato a
cláusula de que era definitivo , firm e e irrevogável, e o Govêrno se obri
gava a não aceitar qualquer outra proposta, ainda mesmo mais vanta
josa que a sua.
Para melhor fiscalização do contrabando, o Govêrno espanhol tinha
estabelecido um conjunto de medidas com o fim de o evitar, fixando o
número de licenças que o contratador poderia vender para se compensar
dos negros que falecessem, e obrigando-o a dar à Contratacion uma nota
das que utilizava para seu negócio pessoal e das que vendia, o que tudo
não podia exceder 5 ooo. Os adquirentes destas apresentavam-nas nos
locais onde carregavam os negros, e pediam um certificado do número
dêles que embarcavam, para o entregarem aos funcionários dos portos
das colónias espanholas. Estes, por seu turno, passavam, em duplicado,
uma declaração dos que tinham desembarcado, declaração que entre
gavam ao feitor do asientista, que era obrigado a apresentá-la ao Con-12
WS*ï—
X
eX
P a rte I I — Angola 19 7
(i) Para Cartagena mandou como feitor Jerónimo Requeixo com dois guardas, e como
guarda-mor um G. Pinto e mais tarde tomou conta da feitoria seu filho José Fernandes de
Eivas. Para Vera-Cruz mandou Vaz de Gusmão e tinha agentes até no México. George Scelle,
op. c i f .
I
• V f'
.( , ,
*
\
)
f
*
(1) Esta D. Helena Solis era uma importante negociante, exportando para Angola parece
que de sociedade com o Argomedo, como adiante se verá, o que indica que foi também sócia
do D. Manuel Pereira. Um dos seus navios estava no pôrto de Luanda quando os holandeses
nos atacaram, e ela perdeu tôda a carga.
(a) Foi talvez por esta e outras do mesmo género, que João Correia de Sousa foi metido
no Limoeiro, onde faleceu, sendo-lhe confiscados todos os bens, o que contudo não impediu
que se filiasse a causa da sua prisão na questão que teve com os jesuítas por motivo do testa
mento de Gaspar Álvares*
I
r | % 'V
3 oo A n gola
Em 1624, com os sucessos dos holandeses no Brasil, 0 asientista
Lamego pediu a prorrogação do contrato para se compensar dos pre
juízos sofridos (1), o que lhe foi concedido até i 63 i , ano em que, pôsto
de novo em arrematação, foi adjudicado ainda a dois portugueses, mas
daí em diante, a orientação, já por vezes esboçada e levada a efeito, de
0 próprio Rei de Espanha defraudar o asientista, assume proporções
escandalosas e sem respeito por contratos, nem por leis, fêz-se doação
a D. Fernando, irmão do Rei e Arcebispo de Toledo, de i. 5oo licenças
de escravos para Buenos Aires, dando lugar à anulação do asiento por
parte dos portugueses.
Deu-se depois a Restauração, e termina assim, para nós, a parte
que nos interessava, das medidas tomadas pela Espanha para a regu
lamentação do mais importante dos negócios que absorveram grande
parte das actividades, não só dos homens de comércio, mas dos pró
prios governos <fas nações da Europa, até princípios do século xix.
» -
# #
(i) Em carta de ao de Setembro de i6a6, cód. Si-vm*3o da Biblioteca da Ajuda, cit., infor
mava Femão de Sousa que o contratador n5o tinha rido prejufzo algum com a ocupação dos
holandeses no Brasil, pois que em vez de mandar os navios para lá e arriscar-se a perdê-los
com as fazendas que levassem, os mandou todos para as índias de Castela, com maiores lucros.
/ y.
<;■> /,■ '
: ff.
- .4 y
'M Hr j* .
f\ ^ . ' 4 í\ y/ . X >v
V
?f „
,
•,y
'V V S: í f ■ .: .. ■ ?'
s ! ‘f J /yV:
yy
rh f/ .
i' ■
.A àlL — r
• y ;
/ ..
fj, ‘
- *frjr V J,
Parte I I — Angola Jor
ff /'■
; * .. s
imnnttnc n Governador seguia-se o asienlista ou contratador dos
p , que em geral era o representante de um grupo de capitalistas. ' f
Havia ainda os concorrentes ao asiento ou à arrematação dos impostos
que nao tinha obtido a adjudicação, e se estabeleciam com negócio de "//■
sua conta, para prejudicarem o arrematante, e os particulares, pequenos y -■
negociantes, uns com armazéns para a venda dos produtos e que tinham '/ / '
os seus pumbos que mandavam às feiras no interior, e outros que faziam f .s
0 negócio volante, mais ou menos clandestino e sempre sujeito a grandes ;
riscos, que se contratavam como soldados para as guerras, tendo para s .:/ * y ■
êsse efeito os seus serviços devidamente montados. / ' ' . ..
Os primeiros a que nos referimos, os grandes negociantes, incluindo />■
f s*
o Governador, eram representados pelos seus feitores, a quem vinham - Y s
consignados os navios com as mercadorias para o negócio e, descarre
gadas as que eram para Angola, recebiam escravos para o Brasil, ou
para as colónias espanholas.
A maior parte do fato, fazendas de vara e côvado como diziam,
embora vindo de Portugal, não era de indústria nacional, que se limi
tava aos buréis, baetas, belartes e algumas saragoças da Covilhã e
Portalegre, ou aos setins, tafetás e veludos de Lamego, além dos linhos
de Guimarães, tudo fazendas de pouco consumo para indígenas, que
preferiam os panos vistosos que recebíamos de Anvers (i), ou os algo
dões da índia, como os beirames que eram extraordinàriamente apre
ciados.
Além do fato para os resgates, importava-se também fazendas para
presentes aos reis e sobas indígenas, e para vestimenta dos europeus,
sendo também a maior parte estrangeira e já importada em Portugal (2),
e os géneros alimentícios, farinhas, conserva de carnes, queijos, vi
nhos, azeites, etc.
As mercadorias eram despachadas em Lisboa e recebidas a bordo
dos navios por meio de conhecimentos, nos quais, já então, se mencio
navam as irregularidades que se encontrassem na embalagem, não
(1) Anvers tinha-se tomado o mais importante pôrto comercial da Europa e com que
mantínhamos as mais estreitas relações desde D. João I. Diz Rebflo da Silva que exportávamos
5
anualmente i. ao.ooo ducados ou 608.000^000 réis e importávamos, incluindo o que depois se
guia para a índia e Brasil, t,800.000 ducados ou 740.000^000 réis, constituídos principalmente
por estofos de lá e seda, flanelas, tapetes e alcatifas.
3
(a) Scherrer, Histoire du Commerce, t II, Les Espagnols, pág. ao , diz que em Portugal
os direitos de importação eram menores do que em Espanha, de maneira que os portugueses,
além do fornecimento para as suas colónias, faziam a maior parte do das espanholas, por po
derem vender mais barato que os negociantes de Sevilha.
3 o2 Angola
tomando o capitão a responsabilidade pela deterioração que sofressem
com os acidentes de viagem. Para o fa t o , e, em geral, para as fazendas
melhores, usava-se a embalagem em pipas iguais às do vinho, em vez
dos caixotes que hoje se empregam. Encom endavam -se as pipas, sem
se dizer ao tanoeiro que eram destinadas a transportar fa t o , para que
êle se esmerasse no calafetamento como se fôssem para conduzirem lí
quido, e assim se conseguia que, embora os porões metessem água, esta
não danificasse as fazendas que vinham dentro das pipas.
O negócio era bastante rendoso. Ruim seria a transacção que, a
pronto, desse menos de ioo% > e a prazo de um ano, menos de 3 oo% »
com a faculdade de dobrar, se o pagam ento não fôsse efectuado no dia
marcado.
Havia larga facilidade de crédito e era corrente, os negociantes de
Luanda, entregarem milhares de cruzados de fazendas, a indivíduos
que, quer em guerras, quer em viagem de negócio, iam para o interior
colocar a mercadoria, sem outra garantia além de um assinado, ou a
simples promessa de liquidação a pra/.o certo, avalizada pela sua maior
ou menor habilidade para tratarem com os indígenas e poderem levar
a cabo uma transacção rendosa.
Mas marchas para as guerras, a condução do f a t o requeria cuidados
especiais, como os requeria nos acantonamentos, por ser o ponto de pre
ferência visado pelos indígenas nos seus ataques de surpreza. Deci
dido o combate e efectuados os prisioneiros, logo ali se negociavam,
com aqueles a quem, tinham sido distribuídos, a trôco do fa to , e eram
mandados com a devida segurança para Luanda.
O comerciante, se não era exportador, vendia-os a quem o fôsse,
em geral aos feitores dos grandes negociantes, depois do que passavam
à ilha de Luanda, para quintais ou acampamentos, sendo marcados e
devidamente tratados, ou, por melhor dizer, beneficiados , para bem
parecerem e irem gordos e com resistência para bordò dos navios,
onde com as demoras das viagens e as faltas dos mais elementares
preceitos higiénicos, muitos sucumbiam. Em geral, um escravo bom,
era pôsto a bordo entre 25 a 3 o mil réis, deixando um lucro de mais
de too °/0.
Além dêste negócio do escravo em larga escala, havia as pequenas
encomendas de Lisboa, e era corrente as casas fidalgas e os comerciantes
abastados, escreverem para Luanda, ao Governador, se era das suas
relações, ou a qualquer comerciante que conhecessem, para lhes man
darem alguns negros, em geral para o serviço das cadeirinhas e dos
Parte I I — Angola 3o 3
coches, enviando antecipadamente para o pagamento, vinho, farinha*
azeite, ou carnes ensacadas (i).
O despacho dos escravos era objecto de favores especiais do Go
vernador, pois muito embora os direitos estivessem arrematados e de
vessem ser recebidos pelo arrematante, que se obrigara a pagar o valor
da renda na metrópole, na moeda corrente no reino, o Governador
exigia, por vezes, ao arrematante, que lhe entregasse determinada im- •
portância em letra sôbre o Brasil, que se não precisava utilizá-la para
si próprio, negociava entre os da sua feição.
O frete era, em geral, pago ao armador no pôrto do destino, e pelo
número de peças embarcadas e não pelas que chegavam vivas (2).
*
* *
•
As necessidades de mão-de-obra para o Brasil e colónias espanholas,
pelo desenvolvimento dado à exploração agrícola, aumentavam de ano
para ano. Muito embora o govêrno de Madrid, com receio das suble
vações, procurasse restringir a importação de escravos nas suas coló
nias, o certo é que além do número que fixava aos asientistas, entravam
muitos mais clandestinamente.
Em Angola, no tempo de Paulo Dias e ainda, em parte, no de
D. Francisco de Almeida, para satisfazer os pedidos de escravos, era
com sério risco de vidas que se faziam as guerras, porque os nossos
eram poucos, os auxiliares indígenas ou a guerra preta eram diminutos,
e muitas vezes sucedeu aos nossos, a-pesar-de todo 0 seu valor, não
poderem desembaraçar-se do cêrco feito por muitos milhares de indí
genas, que, por assim dizer, os atabafavam e os venciam.
Começamos, depois, a ter como auxiliares os jagas, que, como já
vimos, podiam ser comparados a uma matilha de cães de caça, que não
só descobriam onde estavam os indígenas, mas ainda os vinham trazer
aos nossos acampamentos. Do serviço por êles prestado, resultou ver
dadeiramente a ocupação da Conquista, pela submissão do Rei de An-
5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, cod. i-VIII- o/ i cit. Lembranças do q. se me encarregou no
reino q. hei de dar reqSo nelle. Fls. 394/401 do tômo I.
(2) Poucos documentos existem que nos possam dar utn idea das transacções comerciais
da época. Nos papéis de Angola, maço de 1609, da antiga Secção Ultramarina da Biblioteca
Nacional, hoje Arquivo Colonial da Junqueira, está uma carta de Francisco Demax, feitor de
João de Argotnedo, sócio do Governador D. Manuel Pereira, que é interessante e se publica.
Anexos, doc. n.° 66.
Angola
gola e dos outros sobados importantes, mais ou menos independentes,
pois todos receavam, dada a extraordinária mobilidade d os ja g a s , que
de um momento para outro, ao nosso mandado, êies aparecessem, ar-
razando plantações, queimando palhotas e prendendo os moradores.
A situação criada ao Rei de Angola e à Ginga foi lição proveitosa
para todos os outros, e, muito embora ainda no futuro se continuasse
r a registar manifestações de rebeldia, o certo é que eram pontos isolados
e nunca gerais, como nos primeiros tempos da ocupação.
Foi assim que, a pouco e pouco, se foram abrindo as feiras aonde
os chefes indígenas mandavam vender os seus escravos e mantimentos,
a trôco das mercadorias que os pum beiros lhes levavam, e, tomadas as
medidas de repressão dos abusos dos brancos (i), o negócio desenvol
veu-se, informando o Governador Fernão de Sousa resgatarem-se nas
feiras, em cada semana, duzentas a trezentas peças, o que dava cêrca
de doze mil porr ano, considerando de tais vantagens as feiras, que en
tendia dever-se perdoar, quando houvesse algum motivo que o justifi
casse, o pagamento de imposto — baculam ento, ao chefe indígena, e não
se lhe fazer guerra, desde que se comprometesse a manter aberta a
feira, pois que o seu rendim ento montava mais para a Fazenda R e a l . . .
porque se fa lta s s e a escravaria deste R ein o , acabava-se o comércio de que
V. M agestade é senhor (2). F oi nesta orientação que êle criou o cargo
de mamquitanda das feiras, dando-lhes regimento e mandando fixar os
preços conforme os costumes da terra (3).
Como conseqüência do estabelecimento das feiras, veiu a facilidade
da vida comercial pelo interior, espalhando-se os aviados pelos pontos
que julgavam melhores e mais próprios para o comércio, montando
pequenas casas, a princípio simples palhotas, depois à medida que os
negócios o permitiam, modificando-as de forma a terem um melhor
conforto e, por fim, desviando, por meio de levadas, a água do rio pró-
ximo e fazendo o arimo.
Chegaram a ser muitos os brancos espalhados pelo interior, o que,
se por um lado representava o desenvolvimento da colonização, por
outro trazia inconvenientes, e graves, à boa ordem que era necessário
manter, sobretudo na defesa dos indígenas, o que levou Fernão de
Sousa a tomar medidas extraordinárias, mandando recolher os brancos 1*3
*
# *
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., Bandos a fis. 120 a 129 do tômo II. Anexos, does. n.°* 70,
71, 72, 73 e 74.
(2) Extraído do tômo II do cód. da Biblioteca da Ajuda, cit., damos a nota de tôdas as
concessões de que se encontra a minuta do título. Anexos, doc. n." 75.
3
( ) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Produções, comércio e govêmo do Congo e
de Angola, segundo António Diniz, II, 1622.
39
3o6 A ngola
A origem do mal estava, principalmente, no valor arbitrado ao que
se convencionou chamar moeda, o \imbo e os panos (i). O \imbo no
decorrer dos tempos e sobretudo em Luanda, pela descoberta de outras
minas além da existente na Ilha, caiu em desuso e em descrédito, ficando
como moeda corrente os panos, que se obtinham no Luango e no Congo,
aonde se ia exclusivamente para o resgate do que se chamava a panaria,
pois tendo-se de há muito desviado para Luanda e para as feiras esta
belecidas em diversos pontos pelo interior, a corrente de escravos que
noutros tempos ia ao Pinda, não valia a pena resgatar os que ficavam,
os Angicos, que pela sua negação para o trabalho e difícil adaptação a
meios diferentes, pouco ou nenhum valor tinham.
Ficou, pois, o pano como moeda, estabelecendo-se-lhe, em relação
ao real, dois valores, um, o corrente, outro o do bom dinheiro ou peças
da índia. Assim, um pano valia duzentos réis em moeda corrente, ou
apenas cem em Som dinheiro e, por esta forma, a um operário, que além
da alimentação, recebia uma jorna de dois mil réis, pagava-se-lhe com
dez panos, mas, querendo comprar um escravo, que valia 12$ooo réis,
de bom dinheiro, tinha de se entregar 120 panos. Esta mesma relação
existia também para a pataca espanhola, que passou a ser moeda cir
culante em vista das relações de Angola com as índias de Castela, e
uma pataca valia mil e quatro centos réis, ou sete panos em moeda cor
rente, ou três panos e meio, ou sete tostões, em bom dinheiro ou peças
da índia (2).
Este câmbio, que não estava oficialmente reconhecido e confirmado,
acarretava prejuízos importantes, em especial para a Fazenda Real,
pelos diferentes valores que podiam ser dados à moeda, quando se tra
tava de recebimentos, ou de pagamentos.
Os impostos que não estavam arrematados, originados na vida
própria da terra, como os baculamentos, os dízimos, as multas por
transgressões e condenações, eram cobrados directamente pelo Estado,
por intermédio do seu feitor, e pagos em panos, em escravos, ou ainda
em mantimentos e fazendas, tudo correspondendo a réis. Nestes últi
mos casos, como o feitor não tinha verbas para dispender na alimen
tação e tratamento dos escravos, nem na guarda e beneficiação dos
mantimentos e fazendas, reduzia por sua conta tudo a panos, para 0
(1) História do Reino do Congo, cap. IV, cit. Anexos, doc. n.° i.
5 3 3
(a) Biblioteca da Ajuda, cód. i-VHt- o/ i dt. Carta de Femão de Sousa para a Mesa de
5 3 1
Desembargo do Paço, de t de Agôsto de 1624, a fls. oo, tômo .
’.’ l - h
f ? ■
ff'
Parte I I — Angola
V
3o8 Angola
partes, comummente he p obre, ou cubiçoso, e quando o não f ô r , o clim a he
tal que os destem pera . . . » (i), com entário cheio de verdade.
Nos termos da lei, o Provedor e o Tesoureiro procediam ao inven
tário c arrolamento dos bens dos falecidos, empregando nisso tôda a
diligência, embora com a mais reservada das intenções. Tinham de
se pagar dos seus ordenados e dos p roes e p reca lços, em ouro e prata e do
melhor que ha. D o que fic a fa ç e m leilão, e havendo cousa d e proveito tem
de tras de si quem lança por eles e s e lh e arrem ata. O qu e não serve , que
são ruins moveis, caças, maus escravos e velhos, se arrem atam em gen te
perdida, que os tomam para trapaças e fic a em credito e débitos. Q uando
os Theçoureiros dão contas, fa ç e m entrega com os débitos e créditos, e de
Theç° em The f vão passando de uns a outros, e ao tempo d a arrecadação,
como agora acontece, não se p o d e cobrar dos devedores, p o rq u e uns são
mortos e outros caem em pobresa, e os qficiaes ficam p a g o s, desculpando-se
que não podem ter em ser escravos, p o rq u e m orrem e fo g e m , nem remetem
ao reino o valor delles por não aver a q u i dinheiro, nem ordem p a ra pas
sarem letras (2).
Assim, de tudo isto, resultava que estavam atulhadas de panaria as
casas que o feitor da Real Fazenda tinha para êsse fim, como igual
mente estavam as que o Provedor e o Tesoureiro de defuntos e ausentes
tinham para 0 mesmo efeito, sem que contudo houvesse maneira de ou
o Estado ou os herdeiros e os credores dos defuntos, verem o seu di
nheiro, porque eram panos e só tinham valor na terra.
Fernão de Sousa, pouco depois de assumir o governo, colhendo
informações sôbre os fundos da Real Fazenda, encontrou que passavam
de 200.000 cruzados ( 3 ) em poder do feitor e propôs que se não con
vertessem mais direitos em panos, antes se transferissem para o Brasil
todos os que o feitor tivesse a receber.
Era uma forma interessante de arranjar cam biais para o Estado.
Os direitos eram uma receita própria da colónia e como tal deveriam
ser satisfeitos na moeda que corria, o pano, com o valor de réis que lhe
tivesse sido atribuído. Havendo panos em demasia, e que o Estado
talvez não podia consumir nos quatro anos próximos, resolvia-se cobrar
essa receita em ordens do mesmo valor, réis, sôbre o Brasil, e transfe
ri-la assim para uma outra colónia, onde corria a moeda metropolitana,(i)*3
*
* *
#
* *
(1) Biblioteca Nacional, Reservados, Fundo geral, mss. caixa 29, n.* 35. Relação das festas
ÿue a Residência de Angola fe f na beatificação do beato padre Francisco Xavier da Companhia
de Jesus. Anexos, doc. n.» 77.
3 12 Angola
moeda de 18 mil rs), e o segundo de outro par de meias de sêda, a quem
fizesse o melhor soneto sftbre qualquer milagre do santo ou alguma
das suas virtudes.
Além disto haveria ainda uma grande procissão ou talvez melhor,
um vistoso cortejo alegórico, festas na igreja, e à noite queima de um
deslumbrante fogo de artificio, marcando-se a realização para a oitava
do santo.
*
• *
»•
rv;"\.v •
3 i4 Angola
roupão dc veludo verde e amarelo, coberto de rendas de ouro, apanhado
com um cendal de tafetá carmesim, enrolado com um rico colar de
ouro, e um gibão de tabé com volta e punhos de fio de ouro. Os outros
anjos vestiam com o mesmo luxo e riqueza, diferindo apenas nas côres.
No pavimento do carro iam ainda as quatro virtudes, Fé, Esperança,
Caridade e Culto Divino, em que o santo se esmerou, cada uma delas
tão ricamente vestidas como os anjos e também cantando lôas ao santo.
O carro era puchado, em primeiro lugar, pela Europa, índia, Japão
e China, que nem por desempenharem o papel de animais de tracção,
deixavam de ir vestidos com o mesmo luxo e desmedida riqueza. Assim,
a Europa levava um turbante de rosas e boninas, tecidas em fios de
prata e ouro entressachadas de pérolas, cercado com uma banda de
tafetá amarelo, com pontas de prata que caíam sôbre as costas, e na
parte que correspondia à cabeça coberta de peças de ouro com rubis e
esmeraldas, e nó meio um diamante de muito preço. A parte que cor
respondia às costas era coberta com vinte cadeias de ouro, e a parte
da testa, com duas ordens de peças de ouro e finas pérolas, assentes
sôbre fitas de diversas côres. Sôbre estas duas ordens, tinha mais oi
tenta peças de ouro, à maneira de corações, com remates de pérolas.
No remate do turbante uma safira muito grande, engastada em ouro,
e que servia de calvário a uma cruz de ouro coberta de pérolas finas.
Vestia vasquinha de damasco carmesim, coberta de passamanes de
ouro, e que lhe dava p o lia canella do p e e ; por cima uma opa de veludo
verde, bordada a ouro. O gibão de tela de ouro, cingido com um colar
de ouro. Ao pescoço uma cadeia de ouro de quinze voltas, com um
relicário; atravessava-lhe o peito um colar de ouro, do q u a l levava de
p en dura do um tresado dourado. As meias de seda vermelha; os sapatos
brancos, brincados com fios de ouro e prata e grãos de aljôfar.
A índia vestia no mesmo género, mas em vez do turbante, levava
uma trunfa, amarelo, branco e vermelho, tecida de grãos de aljôfar e
granadas finas, engastadas em ouro. Tinha uma joia com dez dia
mantes finos, e mais acima um pelicano de ouro, lendo no peito um
rubi. Sôbre o pelicano uma baleia de ouro, e sentado nesta um Neptuno
com o seu tridente na mão direita, e na esquerda, em vez do borquel,
uma esmeralda fina. O mar que cercava a baleia era feito de esme
raldas finas. Neptuno levava a baleia enfreada com cadeias de ouro,
entressachadas de finas esmeraldas. Rematava a trunfa um relicário
de ouro e uma pera de âmbar coberta de ouro lavrado; no m ais corpo
da trum fa estavaó quatro relicários d e ouro , em propoçaõ sercados com
-
-*j!(f? 'j> I-',- V
Parte 11 — A n g o la
#
# *
r V:
<- *".
- '■ - V #■ ,,, O . ' s " .
it ' f f t •■’.
. VV*t" Ss ' , O
I j V '
-, > : ‘ J d í .*)«■ ‘ t*. /- ,1 : ; : “
1 «rtNi
i®?*!
*
* *
... Yi • I íítfjir J
320 Angola
Sabemos bem, que embora ricos, os jesuítas fugiam sempre de ostenta
ções, e apregoavam a maior pobreza. 0 que foi deles, foi o trabalho
e a direcção, no que deveriam ser orientados por Luís Mendes de Vas
concelos.
Sem dúvida que de entre todo aquele ouro, tôdas as riquíssimas
jóias, os diamantes, as esmeraldas, os rubis, as pérolas, o âmbar, o
aljôfar, os treçados de prata, os crucifixos de meio palmo em ouro, etc.,
uma parte seria dos jesuítas e adquirida nos seus negócios de escrava
tura e de contrabando para o Rio da Prata, mas a restante e de-certo
a m aior, era a dos moradores de Luanda, e representava o resultado
das suas transaeções com as naus que vinham da índia carregadas de
especiarias e jóias, com os navios que arribavam a Buenos Aires e re
gressavam com ouro e prata.
Mal se pode conceber o que seria necessário de movimento comer
cial, para promover tôda esta riqueza e um bem estar, que se pode
dizer geral, dos moradores de Luanda. 0 que é certo é que êsse mo
vimento comercial existiu e somente devido ao nosso trabalho e à nossa
actividade.
No meio da nossa derrocada, depois de termos perdido a indepen
dência, de deixarmos de ser um povo livre, de nos terem feito perder a
frota de guerra que creáramos para as nossas necessidades e para nos
deféndermos dos corsários que atacavam as nossas naus, com o resto
que nos ficou, que nada era para os outros, nós soubemo-nos manter,
e quando todo o mundo nos supunha mortos, e caíam como corvos na
índia, que tivemos de lhes abandonar, nós fomos, com os recursos de
Angola, fazendo o Brasil, depois de termos, pelo menos até à Restaura
ção, feito também a colonização das Conquistas de Castela.
Ninguém nos igualou em trabalho e em actividade. Nenhum povo
da Europa fêz mais nem melhor do que nós, embora dispondo de re
cursos superiores.
■ * T ■■ J Í
*i 'Í!
M
'’! vM n ; . }J-'- ■
f * 11 ■*'.«
■4
i
\ ;
*
P A R T E \U
BENGUELA
\I
I — Primeiros reconhecimentos. \
U — -O Governo Geral do reino de Benguela.
\
V
4‘
"Î
Mill.
$
1í
i
I i
I
j
PRIMEIROS RECONHECIMENTOS
í
Os antigos diziam que o reino de Angola confinava pelo sul com o i
I
País dos Cafres, e consideravam a região para o sul do Cuanza, até ao
Golfo das Vacas, como pertencendo ainda a Angola, havendo alguns,
como o nosso Duarte Lopes, que estendiam os seus lifinites ainda mais
além, até ao Cabo Negro (i).
Não se compreende muito bem em que se baseavam para esta as
serção, mas deviam talvez fundamentá-la, não no papel político do
Ngola, querendo dizer que a sua autoridade de Rei se estendia por todo
êsse vasto território, mas porque da mesma família da Ginga, e dos
outros ja g a s que viviam na região a que chamávamos Angola e consi
derávamos um reino, eram aqueles que se tinham estabelecido além
Cuanza, como os Quembo, Songo, Holo, Quioco, Biênos e ainda os do
Humbe (2), a-fora várias pequenas guerrilhas que se não tinham gru
pado e viviam independentes, pela costa na foz dos rios, e pelo interior,
formando, no conjunto, o país de Benguela, que uns queriam que
tivesse o seu limite norte no rio Cuanza, outros no da Longa e o sul no
Cabo Negro (3 ).
Pela tradição entre os indígenas, parece ponto assente que um ja g a
Quinguri, desavindo-se com a família na Lunda, abalou com os seus
partidários na direcção de Quimbundo, passando as nascentes do
Cuanza e seguindo para o norte pela sua margem esquerda, foi acam
par no Libolo, onde depois de algum tempo de permanência, resolveu
passar o Cuanza e procurar o Governador Geral a quem se apresentou
36
(1) Dapper, Description de i’Afrique, pág. i.
4
(2) Henrique de Carvalho, O jagado de Cassange e Expedição portuguesa ao Muattanvua,
Capelo e Ivens, De Angola á contra-costa e De Benguela ás terras de lacca.
3
( ) É muito possível que pelo facto da donataria de Paulo Dias se estender além Cuanza
t
até Benguela Velha, se acostumassem a incluir tôda a região no reino de Angola.
tf
3i4 Angola
c ofereceu os seus serviços- Estes foram aceites, fixando-se-lhe a resi-
dencia na Lucam ba, sítio que ficou assim ch am ad o por as sem entes que
deram ao Quinguri, e êle lançou á terra, n ad a terem p rod u zid o, por
não prestarem.
Governava então A ngola D. M anuel P ereira F o rja z e d evia ser êle
o g overnad or D . M a n u e l que a trad ição indígena d iz que recebeu o
Quinguri, não só porque foi a partir de então, que os ja g a s , antigos
inimigos nas guerras de Paulo D ias, p assaram a ser os nossos auxi
liares, com o foi durante o seu govern o, que o valente B altasar R ebêlo
de A ragão se propôs fa zer a viagem ao M onom otap a, ou ta lvez a
travessia da África, para o que, certam ente, m uito d everia ter concor
rido as informações do Q uinguri, junto a outras que já então se tinha
do interior, por muitos dos nossos o terem percorrido, quer seguindo o
curso do Cuanza, quer desem barcando em algum p on to da costa e
internando-se para negociarem .
*
* *
(1) T em -se feito muita confusão com a Baía da T ô rre e a Baía das Vacas. Lopes de Lima
(Ensaios,livro 3 parte a.a, nota ( i) a pág. 29), criticando a Relação da Conquista de Benguela,
diz que a Baía da T ô rre está a treze léguas ao sul daquela onde foi fundada a cidade de Ben
guela e que o autor da Relação, sendo mais guerreiro que geógrafo, errou neste pom o. Assim,
para Lopes de Lim a, a Baía da T ôrre seria a de S. Francisco. Luciano Cordeiro (Benguela e
o seu sertão, nota a págs. 8 e 9) não vendo m otivos para se pôr em dúvida a ciência do autor
Parte I I — Angola ,315
Da tripulação, como já se disse, fêz parte um inglês Andrew Batteil
e por êle sabemos que foi de bom rendimento essa viagem, trocando-se
contas de vidro por vacas e carneiros (t), bigger than our English sheep
e por madeira chamada Cacongo que se assemelhava ao pau Brasil. A
quantidade de gado era tal, que em dezassete dias tinham adquirido
quinhentas cabeças e o Governador, em mais de dez dias, carregou três
navios. As contas de vidro com que se fazia o negócio eram azues e de
uma polegada de comprimento, e o gentio dava uma vaca por quinze
contas.
Citando, apenas por curiosidade, a informação de Andrew Batell de
que os indígenas « they are beastly in their living, f o r they have nten in
2Pomen*$ apparel, whom they keep among their mves », registamos a sua
observação de que as serras que encontrou no seu percurso, constituíam
uma cordilheira que vinha desde as montanhas de Cambambe, que
tinham minério de cobre em grande quantidade, que^)s indígenas não
trabalhavam senão na parte que precisavam para obter os seus adornos,
que para as mulheres consistiam em colares no pescoço e pulseiras nos
braços e pernas.
Batteil tornou a participar de outras viagens de negócio pela costa
e, de uma delas, o mestre da embarcação vendo um grande arraial in
dígena nas margens do rio Cuvo, desejoso de averiguar o que era,
aproximou-se e soube que se tratava de um acampamento de ja g a s .
Entrando em relações, desembarcou com o Batteil e os portugueses
que levava, fazendo largo negócio, enchendo o navio de escravos, que
da Relação, cita a opinião de Pimentel, que arruma a Baía da Tôrre na mesma latitude, com
pequena diferença de minutos, em que está Benguela e a da Castilho, que encontrando ura erro
de 22' para menos, nas latitudes observadas por Pimentel, supõe que a Baía da Tôrre é a actual
dos Elefantes. Andrew Batteil, cujas aventuras foram pela primeira vez publicadas por Samuel
63
Purchas em i i , e portanto antes de escrita a Relação, diz-nos que depois de terem estado
numa baía que estava a 12°, foram para a Baia das Vacas, que é a que os portugueses chamara
Baia da Tôrre, «because it tkat a rock like a tower» e aí, owe rode on the north side o f thé rock,
in a sandy bay» que deve ser a actual de Benguela, parecendo assim que a das Vacas ou da
Tôrre era a do sul da «rock like a tower*, talvez a de S. Francisco. Anexos, doc. n.° 24, refe
rido.
(1) É bom frizar que a primeira referência que se encontra a vacas e carneiros é nesta
viagem a Benguela. Batteil que percorreu o Congo e tôda a Angola, só em Benguela refere a
existência de carneiros, que achou melhores ou pelo menos tão bons como osinglêses. Dapper
quando descreve o reino de Benguela regista a informação de que as vacas eram também tão
boas ou melhores que as francesas. Não se conhecendo comparação alguma feita por português
dos carneiros e das vacas de Benguela com as do seu país, talvez se possa concluir que o mo
tivo era por nSo os poderem comparar, visto serem oriundos de Portugal, possivelmente^levados
ainda antes de Paulo Dias, quando os colonos de S. Tomé iniciaram as suas explorações pela
costa para o sul do Zaire.
320 Angola
compraram a real, quando em Luanda se não obtinham por menos de
doze mil réis (i).
Batteli como se vê, não ia só, nem teve outros ingleses a acompa
nhá-lo, pois que os não cita, mas sim portugueses, alguns mulatos, se
gundo diz, e de concluir será também que não sendo negociante e ape
nas um degredado e estrangeiro, não teria o capital necessário para
manter à sua custa uma armação, e trabalhava por conta de qualquer
português. A viagem não era, pois, de sua iniciativa, mas um facto
corrente, de há muitos anos já entre portugueses.
Da descrição que faz, averigua-se que estiveram, êle e os portugue
ses, durante cinco meses com o jaga, auxiliando-o nas suas guerras e
fazendo negócio, e tendo o navio fundeado em Benguela Velha, fizeram
três viagens a Luanda para levar a carga que tinham resgatado. Quando
regressaram pela quarta vez, não encontraram o acampamento do jaga,
mas foram ter, êle sempre com os portugueses e nunca só, com o soba
Mofarigosat, nome bastante estropiado e de impossível identificação,
que os não quis deixar sair, mas os portugueses conseguiram demovê-lo
deixando-o a êle, Batteli, por ser inglês, como refém.
Fugindo da embala deste soba, foi para Dala Cachibo, onde encon
trou de novo o jaga da viagem anterior, com quem andou bastantes
meses, até que, depois de muitas marchas, foi parar ao nosso conhecido
soba Langere, próximo de Cambambe.
Verifica-se de tudo o que fica referido que a costa pelo menos até
Benguela, e o interior, quando mais não fôsse, na parte do Amboim,
Seles e o curso do rio Cuvo, eram percorridos pelos nossos comerciantes
para o seu negócio, não sendo de admirar que chegassem ao Bailundo
e Bié.
Como se sabe, também por tradição indígena, o território desde o
Bié até além do Humbe, talvez ao Cuanhama, constituiu o importante
sobado do Humbi-inéné (2), que aliado dos Ngolas, tinha decidido
prestar a estes auxílio contra nós (3), o que não conseguiu levar a
efeito, por a isso se opôr o seu vassalo, soba do Bié. ^O que levaria
êste a tomar essa atitude? ,;Não seriam as relações que mantinha com
os portugueses que freqüentavam a sua embala, fazendo negócio, que
5 55 (58
(1) Biblioteca da Ajuda, cod. i-VIH-at, fi. i a e 160/1— «Regimento de q. ha de
usar Belchior Roif que V. M agf hora manda ao descobrimento da terra da Cafraria• e «Regi
mento q. parece se deve guardar no descobrim10 e descripção da costa, do cabo Negro té o de
boa esperança».
(2) No cód. acima referido, a fls. 63
e 64 e 78 a 89, eacontra-se o regimento e instruções
para o uso das agulhas, que mostravam o verdadro merediano em qualquer paragem sem ne
nhuma diferença de noriestear e norestear como te agorafiçerâo todas as outras...
328 Angola
*
» *
havia prata, era certo, mas a culpa não era dêle, pois nunca o afirmara.
E, entretanto, tendo ouvido a um ou outro sertanejo, referirem-se à
quantidade de manilhas de cobre que usavam as pretas de Benguela
nos braços e nas pernas, passou a garantir, como se êlc próprio lá
tivesse ido ver e já o tivesse explorado, que havia muito cobre em um
ponto determinado e que só êle conhecia.
Ao mesmo tempo, chegou a Luanda o Governador efectivo D. Ma
nuel Pereira Forjaz, e um dos seus primeiros actos foi mandar Manuel
Cerveira Pereira preso para Lisboa e a CÒrte que resolvesse sóbre as
acusações que lhe eram feitas (t).
3
(1) T ô rre do T om bo, livro .“ de Leis, fls. 16. Anexos, doc. n.® 78.
(2) Idem, livro35 32
.® de Felipe II, fls. v.°. Idem, n.® 79. O autor do Catálogo dos Go
vernadores de Angola e Lopes de Lim a dizem que foi nomeado conquistador e povoador do
Reino de Benguela além de Governador, transferindo assim para Manuel Cerveira o mesmo
titulo que tinham arranjado para Paulo Dias. Com o se vê dos documentos referidos êsse título
nunca existiu.
3
( ) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145. «De S. M. a
D. Luis da Silva sobre se enviaré os cavallos a M.‘ i Cerveira Pereira». Anexos, doc. n.” 80.
Parle III— Benguela 333
assim, com o resto da gente que lhe ficara da que trouxera de Portugal,
arranjou 2 5 o homens, saindo de Luanda em 2 de Abril de 1617, com
destino ao sul, com quatro navios e um pataxo, tendo deixado muito
recomendado ao Governador interino e ao Ouvidor, mandassem prender
e lhe restituíssem os fugitivos.
*
# *
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619, caixa 145. Carta de Manuel
Cerveira, de 6 de Março de 1618, a Felipe II, com um apêndice de 1 de Junho do mesmo ano.
Anexos, Doc. n,° 81. Ver também Luciano Cordeiro, Memórias, onde vera copiado o documento
de fls. 53 do cód. 5 i - v iu -2 5 da Biblioteca da Ajuda, Relação da Conquista de Benguela. Na carta
acima, Manuel Cerveira di2 a Felipe III, depois de lhe descrever a viagem que f %z pela costa,
5
para que veja melhor a disposição dela e do que viu até à altura de i ° e meio, lhe manda o
roteiro. Este documento muito interessante e a que Luciano Cordeiro se refere,^dizendo
existir num dos arquivos nacionais, sem o indicar, está na Biblioteca de Évora, cód. n.# t
onde foi copiado. Anexos, Doc. n.* 82.
334 Angola
Manuel Cerveira juntava à sua provada energia e coragem um génio
arrebatado. Os que com êle serviam tinham de pautar o seu procedi
mento de forma a evitar-lhe as iras, porque não olhava aos meios de
repressão de quaisquer actos que o contrariassem, para o que tinha
os poderes necessários até à morte natural. Para a expedição a Ben
guela, dificilmente arranjara brancos que o acompanhassem, e, os que
levou de Lisboa, ao conhecerem-lhe o carácter e a crueldade com que
punia quaisquer faltas, trataram de fugir em Luanda, escondendo-se
enquanto a expedição não partiu. Poucos ficaram dos que trouxera de
Portugal e teve de completar o mínimo dos que necessitava, com con
denados que arranjou em Luanda, levando, ainda assim, cêrca de 2 5 o
homens brancos e mulatos.
A chegada a Benguela realizou-se no começo do cacimbo e pode-se
calcular quais seriam os seus efeitos em gente acostumada ao clima de
Luanda, de temperaturas mais elevadas. Adoeciam com freqüência e
morreram cêrca de 3 8 , a maior parte dos velhos de Angola, e um
irmão, um cunhado e um sobrinho de Manuel Cerveira. O receio do
clima, o rigor da disciplina a que eram obrigados, os maus tratos que
recebiam, levaram, os que ficaram, a combinarem fugir, para o que
obtiveram a cumplicidade do piloto de um pataxo que Manuel Cerveira
tinha em Benguela. Uma noite o clérigo, o cirurgião e outros, em
barcaram no pataxo, fazendo-se o piloto à vela, mas o vento falhou-
-lhes. Manuel Cerveira tendo mandado um batel em sua perseguição,
que os aprisionou e trouxe a Benguela, deu morte natural ao cirurgião
e ao piloto, e tendo entregado o clérigo ao vigário, que era um frade
de S. Francisco, ficou aquele preso e foram-lhe confiscados os bens,
mas poucos dias depois estava solto e he o maior amotinado que aqui
temos.
A energia na repressão da tentativa de fuga, deu para dois meses
de respeito, no fim dos quais, um alferes e o piloto de um outro pataxo,
que Cerveira mandara próximo de Benguela carregar mantimentos, ao
saberem do malogro de uma revolução em que estavam comprome
tidos, em vez de regressarem, seguiram para Luanda, onde contavam
com a protecção de todos, pela má vontade e talvez ciúme, que havia
contra Manuel Cerveira. Os que ficaram, prepararam nova rebelião,
mas dessa teve Manuel Cerveira denúncia a tempo, e, embora um
dos cabeças de motim fugisse para o mato aonde desapareceu, o outro
foi agarrado e sofreu morte natural, perdoando aos restantes, como
mais tarde teve de perdoar quando os seus subordinados de novo se
Parte I I I — Benguela 355
( i) Era contrário do que diz o autor do Catálogo, Manuel Cerveira nesta carta refere-se a
seis cavalos que trouxe à sua custa, e não a um qualquer dado de presente por Felipe IIL
336 Angola
Dias Ferreira foi forçado a aceitar perante as necessidades que sabia
haver cm Benguela.
As autoridades de Luanda não contentes em manifestarem o seu
desinterêsse pelo socorro pedido para Benguela, ainda falavam em
fo rm a que dava ocasião a que todos odiassem as cousas da Conquista,
arranjando pretextos com que mais tarde pudessem justificar não
terem efectuado as prisões requeridas, e afirmando que o cobre en
viado por Cerveira a Felipe III, tinha êle levado de Luanda e fingia
que o tinha apreendido em Benguela.
Quando Lourenço Dias Ferreira regressou a Benguela, deu parte a
Manuel Cerveira do ocorrido em Luanda, entregando-lhe uma decla
ração escrita, sôbre a qual Cerveira mandou proceder a auto, ou
vindo todo o povo de Benguela (i), enviando mais tarde para Felipe III
a declaração e o auto, para que pudesse bem avaliar do procedimento
de Luiz M endeí de Vasconcelos.
Entretanto Manuel Cerveira, que não podia estar inactivo, tendo
sabido que se fixara perto de Benguela um chefe ja g a , procurou rela
cionar-se com êle, o que lhe foi fácil pelos conhecimentos já anterior-
mente estabelecidos nas guerras do interior de Luanda.
Não tendo em vista uma ocupação regular, mas apenas tornar-se
temido e respeitado para que não lhe estorvassem a posse das minas
de cuja existência estava convencido, era com os assaltos que trazia à
obediência os diversos chefes indígenas, e nenhum melhor auxiliar po
deria ter que o ja g a que se fixara perto de Benguela. Em pouco tempo
êle era o seu capitão mor de guerra preta, e por tal forma lhe dispen
sava a sua confiança, e o encheu de autoridade e prestígio, perante os
outros indígenas, que o ja g a se convenceu da importância do seu papel,
exigindo que o gentio só a êle obedecesse. Quis Manuel Cerveira levá-lo
por bons termos a convencer-se da sua situação de simples auxiliar,
mas o ja g a já se julgava com a fôrça necessária para lhe resistir e, rou
bando-lhe os escravos que tinham feito, revoltou-se, obrigando Manuel
Cerveira a ir atacá-lo, destruindo-lhe a povoação, apoderando-se dos
seus haveres e capturando-lhe grande número de indígenas e os escra
vos que já tinha roubado.
Esta vitória, desfazendo o poderio do ja g a , que todos os indígenas
temiam, levaram o Peringue e o Catumbela a pedirem o nosso auxílio
(i) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145. Anexos, Does.
n ." 83 e 84.
Parie 111— Benguela .337
para se desembaraçarem dos muximbas (maquimbes) que os atacavam
e estavam estabelecidos a três dias de Benguela. For com éles Ma
nuel Cerveira e assaltando as libatas dos muximbas, não pôde prender
mais que uma velha, porque a gente tôda teve tempo de fugir, mas
apanhou-lhes mil cabeças de gado vacum e outras tantas ovelhas e car
neiros, além de muito mantimento.
A situação em Benguela, a-pesar-da pouca gente branca de que dis
punha, estava garantida quanto às relações com os indígenas vizinhos,
de quem nada havia a temer, mas não era êsse o seu fim, e muito em
bora fôsse enriquecendo com gado, mantimentos e escravos que sempre
ia arranjando, a sua ambição era apoderar-se das minas de cobre, pre
cisando para isso muito mais gente, e sobretudo brancos mineiros, pois
tinha a intenção de fazer lavra e fundição nas minas.
Se as relações com os indígenas se achavam assim asseguradas, as
com os brancos não se tinham modificado, e era permanente a ameaça
da revolta contra Manuel Cerveira. Cinco dos seus, entre êles um padre
da ordem de S. Francisco e um clérigo preto da terra, aproveitando-sc
do facto de estar convalescente de uma doença grave, e em que, mesmo
assim, determinara para certo dia a morte de um branco que fôra sen
tenciado, foram procurá-lo e pedir-lhe que perdoasse a execução, ao
que êle não acedeu. Alquebrado pela doença, cansado da luta que
sustentava havia quási três anos, foi fácil aos cinco, atacarem-no, ferí—
rem-no, amarrarem-no e, depois de lhe roubarem tudo, meterem-no a
bordo de um batel desmantelado, com um mastro e uma vela velha e
rôta, e apenas com uma vasilha com água e sem mantimento algum,
deixarem-no ir aonde o mar o quisesse levar.
A energia indomável do valente lutador, que o era e dos maiores,
fôssem quais fôssem os seus defeitos, só poderia ser subjugada pela
mais repugnante das infâmias, a que o mar se não quis associar, pois
a corrente levou o batel até Luanda, donde tiraram, no fim de cinco
dias, o corpo quási inanimado de Manuel Cerveira, de que os Padres
da Companhia de Jesus tomaram conta e, com os seus cuidados reani
maram. Então, e já na posse de tôda a sua energia, de tôda a sua
vontade tenaz e dominadora, êle, sempre com o mesmo pensamento,
sempre com a ambição da conquista das minas, escrevia a Felipe III (t)
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619. Manuel Cerveira Pereira. Carta
85
de 24 de Janeiro de 1619. Anexos, Doc. n.° .
43
:^7 f •' y
✓ V
• /'.+'■
t
- —r -*■ ■■ i <
338 A n g o la
*
# *
(1) Informação prestada em Lisboa a 7 de Setembro de 1619 pelo Bispo D. João Baptista
a Felipe II, sobre assuntos de Angoia e Congo. Anexos, doc. n.° 4 9 > c^*
340 Angola
A gente que acompanhou os que foram na primeira expedição,
negava a existência do minério, e o próprio M anuel Cerveira, di
zia-se, o afirmava porque « d e ouvido sabia avelloti e porque, pedindo
aos indígenas para lhe trazerem algum as pedras do terreno onde iam
buscar o cobre, êles lhe levaram « dous cestos d e terra « q. tinha mis-
torado a ^inhaure que era sinal d e co b r e . . . » (i). É certo que apare
ciam os indígenas usando manilhas de cobre e estimando-as bastante,
mas «o fu n da m en to que tomaram p a ra d iferem qu e o havia, p elo os na-
«turaes tra\erem, é esse mesmo tomo eu p a ra diçer qu e o não ha, ou
«muito pouco, porque onde se estim am as cousas m uito, como fa \ e m ao
«cobre os naluraes de Benguella, é s ig n a l qu e há m uito pouca s ou nenhu-
« m a s ... e, como os naturaes o tiram sem m eter cabedal nenhum e com
«muita fleim a , e se contentam fa ^ e r um a m anilha em um m e{ e leva-la ao
«seu rei, e são muitos , vem elle a ju n t a r essa quantidade com as mais que
«por decurso d ot tempo tinham vindo a seu s a n tecessores. . . e a mim m e
«parece que m andar M a n u el d a S ilveira o m etal apurado f o i p o r achar
«mina de pouco rendim ento e não qui\ m andar mostras, que isto fa ^ quem
iSÔ quer contemporisar com S u a M a g e s ta d e », com o judiciosamente ex
punha Bento Banha Cardoso (2).
Fôsse como fôsse, demorou-se M anuel Cerveira, algum tempo, ainda
que pouco, em Luanda, esperando as ajudas prometidas e nada conse
guindo, nem vindo resposta do reino, regressou a Benguela em Março
de 621 e, comentava o Padre M ateus Cardoso, « D eus 0 a jud e q. assas
patientia tem mostrado, e lle he p o r natureza capitão e soldado e em tudo
venturoso e se se dera a ju d a a esta Conquista d e B en g u ella estivera oje
muito prospera, m as a té g o r a f o j de^em parada ».
A resposta por fim chegou. A-pesar-de tôda a intriga movida à
roda deste negócio, ainda mais uma vez a Côrte ordenava que se pres
tasse o auxílio pedido por M anuel Cerveira e lhe fôsse enviado pelo
Governador João Correia de Sousa, que seguia para Angola, mas, pa
rece, não se conhecia ainda o resultado da fundição das pedras.
Manuel Cerveira, em vista do pequeno efectivo que tinha em Ben
guela, receava a coligação do gentio para um ataque, e, ao mesmo
tempo, convencido de que se viesse o reforço de gente que pedira, nunca
seria por tal forma grande que desse para manter uma guarnição sufi-
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola. Anexos. Doc. n.° 94.
Parle III—Benguela 343
Os anos foram passando, parece que sem acontecimento de reíávo.
Os Governadores de Angola abandonavam o colega de Benguela aos
seus recursos próprios, e êle entretinha a sua actividade nos negócios
que arranjava, sem deixar de insistir para a Côrte na exploração das
minas.
Fernão de Sousa, nomeado Governador de Angola, levava na Ins
trução Secreta (1) que lhe deram, a indicação para averiguar das van
tagens das minas, devendo para ésse efeito fazer a viagem por Benguela
e no caso de convir explorá-las, fornecer de Angola a gente necessária.
Cumprida a ordem expôs a sua opinião (2), começando por não
concordar com a escolha do local para a povoação, pois se a in
tenção era explorar as minas, a cidade deveria ser no pôrto de Sum-
beambuila, que ficava mais perto das supostas minas, além de que o
clima era melhor, e havia sobas e negros com quem negociar e os sol
dados folgare de estar nelle, e podiaõfa\er a guerra pewi tirar algü pro
veito que não ha em Benguella.
Repetia a conhecida versão da ignorância de Manuel Cerveira a
respeito do local das minas, porque não sabia nuiis que di^er q. as avia
em Benguella, e de que as pedras enviadas foram escolhidas uma a
uma, das que trouxe da única cova que abriu no monte onde dizia
haver minério de cobre. Fazia-se eco da insinuação, que a própria
Côrte devia saber ser falsa, de que Manuel Cerveira tratou som.te de
seus particulares resp.iot movido do Rendimento da mina do sal, e da pes
caria do fimbo, e do Quicongo, que he madr.a q. vai nesta cidade a tres
mil rs. 0 quintal que lhe ficava aly mais a maó pera o esfruetar, como
largamente se vê dos ditos das testemunhas, a que não dey juramento
porque temy que jurasse falço pela paixão com que estavaõ contra M .el
Serveyra, mas esta bastantem.u averiguada a verdade. Esta insinuação
deveria ter ferido fundo 0 velho combatente, que pôs à disposição do
Rei o dinheiro para lhe mandarem 0 socorro que pedia, e de que os
Governadores de Angola se utilizaram, sem terem para com êle a menor
consideração!
Lembrava Fernão de Sousa no caso do Rei resolver que Manuel
Cerveira continuasse na descoberta das minas, deveria mandar se mu
dasse para Sumbeamballa e que da feitoria de Luanda o provejão os go-
5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. i-vm- o. Doc. a fls. i já referido.
5
(2) Hem, idem. Carta de i de Agõsto de 1624 a fls. 295. Além desta carta e tratando do
3
mesmo assunto, escreveu Fernão de Sousa duas outras, uma a i de Julho, outra a 29 de Se
tembro de 1624.
344 Angola
fcrnadores do nesses ° como sefa ç aos presídios, por ser grande a despesa
com a duplicação de pessoal, armazéns. etc., e lambem he pera concide-
rar se deve F. Aígd' prover o lugar porq. está mt.° velho e cego, e não
trata de mais q. de conservar o titulo de conquistador e governador, sé
pagar aos saldados mais q. hO alqueire e meyo de farinha do Brasil cada
t mes.
i
yp. *. ,*
P arte I I I — Benguela
se desenganar có as minas e de enganar a V. Mg.de, ou proveja V. M g.
o lugar, porq. applkando V. Mg.dt o Rendimento da mina de sal, có elle
se fará a despeça da Conquista, mandando q. se faça estanque c que não
venha desse R.m, por q. té grande saca e vai nesta cidade cada alqueire
mil rs. porq. he tão Rica a mina q. se afirma que se não pode esgotar porq.
arrebenta o mar naquelia Bahia por baixo e não se pode tirar tanto que
mais se não congelle logo . . . E para marcar bem a nota da demência e
incapacidade do pobre xManuei Cerveira, informava: em companhia de
Hector Henriques e de sua mulher trouxe as duas sobrinhas da mulher
de Manoel Serv.a có que cohabitava das portas a dentro, e pera có essa
occasião tirar o q. avia do Escandalo q. davão, polo que não conve que
Hector Henriques torne a Benguela nê suas cunhadas.
Depois desta informação compreende-se melhor o que detinha Ma
nuel Cerveira em Luanda, e o levava a pedir a Fernão de Sousa que
deixasse voltar para Benguela o seu capitão-mor pftitor Henriques,
contando, que êle levaria consigo as duas sobrinhas da mulher. Em fins
de Setembro ainda Fernão de Sousa tornava a informar (i) que Mauuel
Cerveira se ficava aviando, tendo-lhe, para o efeito, mandado aprontar
um navio, e pedia a resolução do que se devia fazer com respeito a
Benguela, pois, no estado em que estava, corria grande perigo se os
holandeses lá voltassem, porque não he sitio defensável nã te quê o de
fenda, antes se pode m.‘° recear que se entregue aos inimigos polo grande
odio q. todos té a M.el Serv.“, justificação que Fernão de Sousa, infe
lizmente, não pôde aplicar às tristes ocorrências de Luanda, com o
ataque dos holandeses no Governo do Bispo, dias antes de chegar, nem
às que se deram consigo, e que tiveram uma causa bem diferente.
Por motivo da separação do Governo de Benguela do de Luanda,
cultivou-se muito em Angola o ódio a Manuel Cerveira, e, certamente,
não deixava de haver da parte dos seus subordinados, alguns motivos
para se revoltarem, mas havia-os também para com todos os chefes de
então, que antepunham os seus interesses aos da população que gover
navam, para o que bastava que, a-pesar-das disposições em contrário,
provessem os seus empregados e apaniguados nas vagas que se davam
nos cargos administrativos.
Dizia Fernão de Sousa não ser possível socorrer Manuel Cerveira
de Luanda, porque, querendo mandar-lhe os degredados vindos do
Reino, êles fugiram todos e mandando-os prender, internaram-se no
(i) Biblioteca da Ajuda, cód. 5 i-vm-3o. Carta de 28 de Setembro a fls. 3 o3 v.° do tômo I.
44
3 46 Angola
65
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., carta de Felipe IV de 22 de Agosto de t a , a fl. 40 do
tomo I.
33
(2) Idem, idem, carta de 26 de Abril de 1626, fl. o v,0, tomo I.
‘
seu Tenente a hú Antonio Pinto que desse Reymo veyo comigo degredado
pera este pollos patacos que se deraô aos Ingleses da Nao da Índia no
cabo de boa esperança. Efectivamente, pouco antes de falecer, mandou
Manuel Cerveira para Benguela, como seu substituto, a Aotónio Pinto,
levando os soldados da revolta e que estavam presos em Luanda, com
ordem para enforcar dois quando chegasse por alturas da Corimba e
de perdoar aos outros, o que António Pinto não cumpriu na parte do *
enforcamento, levando todos para Benguela.
Fernão de Sousa tinha mandado pedir a Manuel Cerveira, quando o
soube gravemente doente, que fizesse lembrança de tudo o que tocava
âquella conquista e ao servi“ de Vossa Mgdt e de sua real fazenda, a
que não diffirio, pelo que êle Fernão de Sousa se não quis intrometer,
aproveitando contudo a ocasião para dar o remoque fina!, uporq.
V. M ag.de defumo a Conquista e governo de Benguella até o cabo de
boa esperança deste governo por Imã provirão feita Bn X I de fe -1 11
vreyro de M D C X V polas ra\oês nela declaradas, e a Manoel serveyra
mandou V. M ag.‘ dar Regimento de goverQr cõ hordé que falecendo na
jornada, e estando já cõ effeito na conquista podesse nomear pessoa pera o
proseguir, e no tal caso a dita pessoa exercitaria seu cargo e daria conta
a V. M ag.de de sua elleição e do estado em que ficava a conquista, polo
que somente trattarey do pagamento dos soldados dorrendimento da mina
de Sal, até Vossa Mag.ie, mandar ordem, por não aver em Benguella
official da façenda que o faça, né de justiça que a admenislre, de que tenho
por vias aviçado largemente».
Nem mais era preciso fazer ou dizer, e assim se liquidou a tenta
tiva de independência de Benguela, da acção de Luanda.
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 1de Junho de 1627 a fls. 337, tômo I.
(2) Instruções anexas à carta anterior. Anexos, doc. n.° 97.
35o A n g o la
não nomeado pela Côrte, com as prorrogativas especiais, e a arrogância
inerente á pretendida confiança que Manuel Cerveira apregoava o Rei
lhe testemunhara. E assim, ao mesmo tempo que dá conta do que fêz
c dos auxílios prestados, não deixa de pôr cm relevo os sacrifícios do seu
pupilo e informa: nesta ocasião gastou lopo soares muito de sua fazenda em
seis pagas que fe \ adiantadas aos soldados, em socorros e ajudas que lhes
deu e a dividas a que se obrigou polo acompanharé, e affirmase que vaj em
penhado em mais de z5o~ cruzados, merece que V. M a g .e lhe agradeça
porq. da de V. M a g * se não despendeo mais que as armas, e monições,
que se não poderão escu\ar. E no intento claramente manifestado de
estabelecer a ordern na administração da Conquista, dizia: Pareceme
que tera a Conquista bom successo có o fa v o r de D s e de V. M a g e, se os
Governadores deste R .m lhe assistiré deixando y r a ella embarcações, f a
zendas de resgate, e soldados que não estiveré obrigados a esta, e quiseré
y r povoar, ou mftitar nella , provendoa de Armas, e monições quando lhe
faltaré. Mande V. M a g * declarar se ha de fica r separada deste governo
ecomo ha de correr o Governador cõ o Capitão mor de Benguela, porq. a
til0 de cada hü defender sua jurisdição poderão suceder desordens em
grande desserviço de V. M a g * eperda de Real Fazenda e evitar se hão
cÓ V. M ag .* o mandar Resolver. Aos Capitães, Mestres, e s.ri0S dos navios
q. vieré do R.no pera este, mande V. M ag.e se notefique tome Benguela, e
ahy saberão se está a costa limpa, e este porto de ynim igos, e virão cô
mais recato, e segurança , e os degradados que trouxerê entregue ao capitão
mor porq. são de mais serviço naquela Conquista que nesta, e trazendo
soldados de paga virão pera os fortes desta cidade a onde são necess0* pera
sua deffensão, e que não tragão sal por ter o de Benguela inayor rendi
mento, e despesa (i).
Era esta, sem dúvida alguma, a boa orientação que desde o prin
cípio se deveria ter seguido na colonização de Benguela, mas, como se
viu, foi posta de parte, dando lugar a ficarem completamente improdu
tivos os esforços e despesas de tantos anos. Muito concorreu para isso
o génio irrascível e conflituoso de Manuel Cerveira, e a falta de con
fiança, e até mesmo justificado receio de violências, que os seus actos
inspiravam, não permitindo a ninguém aventurar-se a resgates em Ben
guela, pois tôda a exploração constituía monopólio seu. Mas alguma
cousa se poderia ter conseguido se Luiz Mendes de Vasconcelos e João
Correia de Sousa, pelos seus actos como Governadores, tivessem gran-
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de i de Junho referida. Em um outro documento
a que se fará referência, indica-se a data de 27 de Maio.
J?
r- * ' .• ^
k í.í/& ;»-•>- '■ .':££>.i3p
352
Angola
(1) Biblioteca da Ajuda. Fl. 429 do tômo I. Anexos, doc. n.° 98.
Parte I U — B enguela 353
estava cansada e doente, pelo que insistiu para Luanda Jbe mandar
gente, o que Fernáo de Sousa não pôde satisfazer, e se limitou a infor
mar para o Govêrno: porque estou falto delia, mande V. M a g * que os
degredados que vieré pera esta conquista venhão pera a de Benguella, e
que os navios em que vieré a tomé e os deixe entregues ao conquistador,
porque serve nella e nesta não,por seus vidos e depravados costumes. . . e
dos recolhimentos se mandem molheres dirigidas a Benguela pera casare “*
com soldados e povoaré, por aver nesta ddade muitos filhos de moradores
cõ dotes e convir mais alimpala de gente setnelhante que acrecetüala cô
ella (i).
Como Lopo Soares não obtivesse os reforços pedidos e a situação,
uma vez iniciado o sistema de guerras, exigisse uma pressão constante
sôbre os indígenas não avassalados, resolveu em 3 de Setembro partir
com 75 portugueses e cêrca de 15oo negros ambundos e jagas, a dar
guerra a Cabamba, senhor das terras do Luqueco, qifk hera 0 mais po
deroso e temido negro que té gora se sabe em todas estas partes, cujo
exército, concentrado para nos receber, foi desbaratado, tendo consigo a
mor quantid' de g.“ de guerra q. nüca se vio neste R"a e lhe matarão grã
quantd' e captivarão muitas peças e tomarão quatro ou sinco mil cabeças
de gado pouco mais ou menos, depois do que regressou a Benguela, tendo
dos nossos sido feridos dois portugueses, e dos negros, além de muitos
feridos apenas um morto.
Entretanto já havia um outro soba em cujas terras, dizia-se, exis
tiam as verdadeiras minas de cobre, muito mais ricas do que as desco
bertas por Manuel Cerveira, e êsse, tendo sido desalojado do seu so-
bado, viera pedir a Lopo Soares Lasso que o ajudasse a expulsar o
usurpador, prometendo-lhe entregar as minas e quinze sobas que ainda
tinha seus partidários. Lopo Soares nada podia fazer, visto estarem as
minas a oito jornadas de Benguela e não ter gente para ir atacar o
gentio, de quem esperava forte resistência, e ainda deixar guarnecido o
presídio, de forma a poder opor-se a qualquer ataque, que de um mo
mento para o outro poderia ter lugar, dos navios holandeses que anda
vam pela costa.
Recorreu a Fernão de Sousa expondo-lhe 0 que se passava, mas
êste também nenhum socorro lhe podia dispensar e limitou-se a renovar
para o Govêrno a satisfação do pedido que há tanto tempo vinha fa
zendo, para que ordenassem aos mestres dos navios que saíssem do
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 10 de Julho de i6»8, a fls. 3 + 3 de tômo 1 .
45
354 Angola
reino, o desembarque cm Benguela dos degredados que trouxessem,pera
o Conquistador se desenganar se a cobre, e avendo se m udar para Qui-
combo, onde desembarcou y n d o desta cidade, q. he sitio m elhor e mais
sadio cõ rio em que entrão embarcações e está das minas húa jornada.
Mande V. M .ag tomar resolução nisso, e não sendo as minas de proveito
se fa ç a despeda quanto baste pera se conservar a povoação, e resgate, porq.
as guerras o não são por aquella parte ( i).
Perdidas as esperanças de poder receber qualquer auxílio de Luanda
e não podendo resistir à natural tentação e legítimo orgulho de vir a
ser êle, no fim de tantos anos, a obter para a Coroa Real as ambicio
nadas minas, resolveu acomodar-se com a gente que tinha e a 25 de
Novembro partiu para Sumbes, onde chegou a io de Dezembro e deu
no quilombo (q. he arrayal) dos inim igos q. se puserão em fu g id a , os quais
seguio quatro dias sem os alcançar, e se tomarão nessa guerra m il p .as ca~
ptivas pouco mais ou menos, e se reduzirão a obediência de S . M a g .e e se
fi\ e r ã o f.0> desta forta leza tre\e sovas algüs dos quaes são m ui poderosos e
té m.t0‘ outros seus vassallos e cõ isto f o i o dito s.or ás minas de cobre, de
que tomou posse por S . M a g ", mansa e pacificam J* e tirou delias amostras
do metal q. mandou a S . M a g * cõ os autos q. disso f e \ , e cÕ isto tornou a
este prefidio o derrad.ro de M arço d e Õ2g, s é perda n é morte de nenhü
português, posto q. dous fo r ã o fe r id o s na guerra q. deu a Cahuri.
Fernão de Sousa, referindo o caso para o Governo, dizia que pelas
informações que lhe deram, eram estas as minas verdadeiras de Ben
guela, e estavam junto ao rio Cuvo, sendo outras as de Manuel Cer-
■»
veira. Achou-se presente hü hom ê ve\inho da cidade d e Toro de jn d ia s de
Castella que fo r a goarda da mina e fu n d id o r e rrefinador de prata: D isse
me que p ella experiencia qu e tinha d e metaes (posto que não fu n d ira nunca
cobre) lhe parecerão estas minas as mais ricas que avia visto, pollo que de-
monstravão na bocca, e entrada, p orque hera hü serro muito poderoso, e
que as betas corriaõ todas a leste, a lesnordeste, e a nornordeste, e ao norte,
e demonstravão sere fu n d a s, e a que corria a leste que he a que os negros
vão seguindo hera a principal e corria a beta para baixo, e que o menos
grossor delia seria de hü palm o em duro, e que avia muitas outras que os
negros difião hera tudo metal. E querendo precisar melhor o valor das
minas, acrescentava: o capitão A n dré A n tuneç di% que o sitio das minas
he hüa serra cousa grande que corre a leste, e que a entrada por onde os
(i) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de u de Setembro de 1628, a fls. 343 v. do
tômo 1.
P a rte I J J „
'Benguela
«rvr
355
egro$ cntrão a fa z e r cobre demora a ponente e q u e a entrara d en tro e vira
11uiia s betas differentes, e que a m ayor delia s terá d e g ro sso m ais d e h fi
*alrrt° e ° lltra a mey ° palm o, e a tres dedos e q u e hüas são d e cor verd e e
oUtras avaliadas, e q u e os negros diqião que toda a terra hera cobre, estão
frfta leê ° a CU^° e attco do mar, mas não soube di\er se hera nave -
rapei- $ d ° b °as terra$ pera povoar, sem ear e fa b rica r , mas t ê p o uca lenha,
«tribos concordarão qu e o serro he m uito duro e q. se não p oderá rom per
sé fiiá tey ro s e in stru m ei,tos.
35
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 29 de Março de 1629, a fi. o do tomo I.
(2)de Idem.
quista Resposta
Benguetía, etc., àa consulta 3 de tômo
fls. 34-5 do de Junho
II. 633
de sôbre 0 que poderá vir a ser a con
356 Angola
com a liberdade de agir em matéria de negócio, visto este, além de ser
regulado pelas conveniências do Governador e Conquistador, não ofe
recer 89 vantagens que tinham os do norte, cm Luanda ou no Congo,
por o gentio do sul não conhecer o resgate das peças. Assim, eram for
çados a empregar a sua actividade na exploração da terra, nos aritnos
que faziam, e que pouco rendimento, relativamente, lhes davam. Quando
iam às guerras, era raro fazerem escravos, e só tinham como compen
sação algum gado que lhes coubesse na divisão das presas efectuadas,
o que na época ainda não constituía lucro que satisfizesse, sobretudo
comparando-o com o dos moradores de Luanda, obtido com as peças.
*
• »
3 5
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de t de Dezembro de 1628, a fls. io do tômo I.
(2) Idem. Carta de 10 de Dezembro de 1629, a fl. 386
do tômo I.
(3) Nio se conhece o relatório que deve ter sido enviado em resposta à carta de 1628,
mas conhecem-se dois outros, organizados sôbre as informações daquele. Còd. referido a
fls. 10-8 e 43-5 do tômo II, de que se transcreve a parte respeitante a Benguela. Anexos^
Parte III— Benguela ^7
tugueses lá residentes, não poderiam apregoar ter tomado pelas armas
uma fortaleza, nem feito uma conquista.
Na verdade era difícil manter a conquista de Benguela, dada não
só a falta de gente para se defender eficazmente a povoação de qual
quer ataque dos inimigos de Espanha, mas ainda a impossibilidade de
a socorrer, ràpidamente,, de Luanda, a setenta léguas de distância,
admitindo que de Luanda, sempre à espera de um ataque das esqua
dras holandesas, pudessem dispensar quaisquer tropas, munições e ar
tilharia para êsse efeito.
Tirando a Benguela a categoria de presídio e desmantelando a for
taleza, ficava uma povoação de pescadores, como dizia Fernão de Sousa,
inferior em condições de pôrto, salubridade e negócio a qualquer outra
mais para o sul ou para o norte, ou mesmo próxima, como a baía de
Catumbela, designação que então abrangia o pôrto do Lobito, cujas
esplêndidas condições já conhecíamos, pois FernSo d#Sousa dizia nelle
podê estar trinta naos com as proas em terra, entre mangaes, emfundo de
dezoito braças, sem as poderem ver os navios que vãofacendo viagempara
o porto de Loanda, e ainda por cima com um rio de bela água, muito
superior à de Benguela. E é de notar que a-pesar-de tôdas estas con
dições de superioridade, o facto de Manuel Cerveira Pereira ter sido
forçado ao desembarque em Benguela, obrigou também, por uma série
de circunstâncias, todos os outros que se lhe seguiram, a não abando
narem a povoação formada, sobretudo por ser dali mais fácil o acesso
para o interior, e não para as minas.
Em Benguela, como em tôda a parte onde desembarcámos, não nos
limitámos ao simples estabelecimento de relações comerciais com o
gentio da terra, fôssem quais fôssem as intenções com que efectuássemos
êsses desembarques. Assim, vemos Manuel Cerveira Pereira desem
barcar, ocupar e fundar Benguela, para lhe servir de base, embora dis
tante, para a conquista das minas de cobre, e lançar-se, entretanto, nas
guerras, não só contra o jaga que fizera seu tandala, e se estabelecera
a leste de Benguela, mas ainda com os sobas do sul que governavam
os muximbas. Depois de Manuel Cerveira veio Lopo Soares Lasso, e
muito mais longe levou a nossa penetração, estabelecendo as mais
pacíficas relações com o soba da Aí la, cuja gente vem onde estão as
salinas poucas legoas de Benguela, onde está hum Sova Senhor da-
quella administração do sal, que chamão a seus vassallos os Mondom-
bes, que hé o gentio mais fie l aos vassallos portugueses que há em todas
aquellas Provindas Confinantes, ali vem, como diremos resgatar, o de
358 Àngola
que necessitâo, trazendo em desconto seu marfim , e outras coutas da sua
terra. ■ (»)-
Sem esfôrço se aceita a acção do português nestas relações pacífi
cas, e estamos a vê-lo sustentando longa conversa, em língua em que
mal se exprimia, com o gentio da caravana, derretendo-se com alguma
das pretas, mimoseando-a com o presente de quaisquer bugigangas,
e ao prepararem-se para o regresso, abalar em sua companhia com
aquela confiança extraordinária que tudo e todos lhe inspiram, con
fiança que, a-final, parte de si próprio, é a manifestação da nobreza
e lealdade do seu carácter e se transmite e impõe aos que o vêem e es
cutam. E êle aí vai, no meio da caravana, margens do Caporolo fora
até à serra da Numpaca, que trepa pelos trilhos do gentio, e ei-lo no
planalto, alegre, satisfeito e muito admirado do clima e do panorama
extraordinário que se lhe apresente diante dos seus olhos, das cousas
novas que está fendo e no completo alheamento das conseqüências
que o seu acto possa trazer, e do seu valor. A-par-destas relações,
assim tão cordeais, também outras estabeleceu Lopo Soares, em que
teve de impôr a nossa autoridade pela fôrça das suas tropas, a sobas
estabelecidos a quarenta léguas para o interior, chegando assim a Ca-
conda, e deixando marcado o trilho, a que pouco mais tarde chamá
vamos o caminho de Jkfenongue, cujos treques (2) são páginas escritas
com o suor do nosso trabalho e a audácia do nosso temperamento, que
hão-de ficar para todo o sempre a documentar o valor de uma grande
Raça.
Mas não parou em Caconda o trabalho desenvolvido, no sentido de
penetração por Lopo Soares Lasso, e indo fazendo aquella Conquista do
Reino de Benguela , muitas jornadas pello sertão dentro, chegára a este
caudaloso rio Cunene, e que da outra banda delle tinha suas terras e Se
nhorio hum R ei ou potentado por nome Mu^umbo a Calunga , que quer
di{er no seu idioma a boca ou beiços do mar; e este appellido era em re\ão
de ter seu dilatado Senhorio, em aquelle tão espaçoso rio, que tem aquelle
gentio para si e a boca do mar pela grandeza que tem; deste R ey ou sova
teve fa lia por seus inviados, o dito Capitão mor Conquistador, e elle dese
java muito de ter communicação com a nossa gente Portuguesa; e man-
(1) A n tó n io d e O liv e ir a C a d o r n e g a , H is t o r ia G e r a l d a s G u e r r a s A n g o la n a s , 3 .» v o l. E x
tra to d o e x e m p la r e x is te n te n a B ib lio te c a d e P a ris . A n e x o s , d o c . n.° 100.
( i ) N o su l d e A n g o la ch a m a -se t r e q u e a o p e rc u rs o d o ca m in h o fe ito se g u id a m e n te , se n d o
a e xte n sã o e d u ra ç ã o su b o rd in a d a à s c o n d iç ó e s q u e o te rre n o o fe re ç a p a ra um acam pam en to-
c o m o á gu a, p a sto s, l^nha, p r o x im id a d e d e g e n tio , e tc.
»Vsr*"''
(1) C a d o m e g a , D o c . a n t. c it .
(2) Catálogo dos Governadores do Reino de Angola.
---« t — T '
assim a partido por não serem entrados aforça de Armas e . . . que havião S
feito capitulação e pacto em seu rendimento, . . . e m que estarião os Mora
dores e Soldados na Cidade e Povoação de boa pa\ com o seu Governa V.
dor (2), situação que os de Luanda, tendo outros recursos, não soube
ram, nem procuraram obter.
Os holandeses parece terem cumprido as condições da capitulação
e, entre êles e portugueses, vivia-se em relativa harmonia e paz, e até
um Commissario da bolsa catholico havia casado na dita cidade (Benguela) »
com htima nossa Portuguesa, pessoa honrada assistente naquelle Reino (3).
Os portugueses cultivavam os seus arimos, faziam 0 seu negócio no in
terior, tudo levando a crer que sem os holandeses se intrometerem, e
limitando a sua acção, como ocupadores, a afastarem os navios portu
gueses do negócio com a terra. Os moradores portugueses desloca
vam-se conforme as necessidades das suas ocupações, e mantinham
relações com Luanda e com o Brasil por intermédio dos navios ho-
m
* >*i
( t) Fernão de Sousa, Relatórios atrás referidos,
(2) Cadornega, op. cit., tômo I, parte III, cap. IV, págs. 238. Exemplar da Academia das
Ciências. Anexos, doc. n.° 102.
3
( ) Cadornega, ibidem.
46
ir?
1
302 Angola
J a r j J - « r s e das suas embarcações, conseguindo alguns com os seus né
• *
(t) Revista de Historia, n.° 45 de 1913. Duas tentativas da reconquista de Angola em 164S,
por Artur Viegas.
(a) Cadornega dá Nicolau de Lemos Landim como sendo o Governador dos portugueses
em Benguela quando lá passou o Governador Geral Pedro César de Meneses, informando-nos,
quando conta a retirada para Caconda, que Manuel Pereira era Capitão-mor e Governador por
morte do Landim.
Os documentos publicados na Revista de História indicam Manuel Pereira como Capitão-
mor em Benguela e nenhum se refere a Nicolau de Lemos Landim. É certo que o cargo de
Capitão-mor em um govêrno independente, como era o de Benguela, não correspondia ao de
Capitão-mor de presídio, e poderia haver os dois funcionários, o Governador e o Capitão-mor,
aquele como chefe superior e êste como comandante directo das tropas. Mas como o maior
número não considerava Benguela como um Govêrno e apenas um presídio, fica-se na dúvida
sôbre a verdadeira significação do Capitão-mor de Benguela no caso presente, e sôbre se Lemos
Landim ainda existia quando se deram os factos narrados.
Parte III — Benguela
seria gente nossa pelo barco latino, despedio logo hum soldado filho da
terra a saber onde desembarcando: o qual os alcançou mais de 3 o leguãS
j e Benguela, indo elles já marchando por terra: q. ouvindo recado e
oferecimento dos nossos não fiçerão nenhum caso, mas tomarão o soldado
e o levaram consigo...
Desembarcadas em Quicombo as fôrças que as naus conduziam, 4
“T
internaram se para chegarem a Massangano, mas em breve se envoíve-
ram em lutas com 'ansjagas, que, reünindo-se em grande número, des
barataram os nossos, matando com requintes da maior maldade cérca
3
de io portugueses, e foi o tal soldado filho da terra que casualmente
escapou e vem a Benguela dar a triste nova.
i
Pouco epois era nomeado Francisco de Souto Maior, Governador
de Angola, para on e partiu com um socorro de tropas em quatro naus
e um arco, e ten o chegado a alturas do Cabo Negro e tomado o
rumo para o norte, ao fundearem nas Salinas, em ?3 graus, á noite,
viram fogos na praia e mandando gente em batéis reconhecer o que
seria, touxeram dois soldados, portugueses, de Benguela, que a li anda-
dava,n p escan do, ausentes do presidio holandês, cuja sujeição os m oles
tava (!/■
Os soldados voltaram para terra e um dêles foi a Benguela dar a
noticia, aos nossos do que se passara. O capitão-mor Manuel Pereira
dirigiu se ogo a aia arta, onde era esperado, e tendo conversado
com o Governador Souto Maior, retirou para Benguela, mandando ao
Governador um prát.co da costa e um oficial de guerra preto, para
língua.
A esquadra do Governador Souto Maior, passando de noite ao largo
de Benguela, para não ser notada dos holandeses, dirigiu-se a Catum-
bela, onde o capitão-mor Manuel Pereira tornou a ver-se com o gover
nador: o q u a l d eixo u ao mesmo capitão mor cartas para o P .° C esar pera
lhas encam inhar p e r terra a M assangano ou per mar por via dos olande{es
com o recato necessário q. elles o não soubessem ; como se fe \ .
Seguiu viagem o Governador Souto Maior com os seus navios para
o Quicombo, onde encontrou António Gomes de Gouveia, importante
negociante de Benguela, que o esperava com Matias Teles Barreto, um
dos salvos da carnificina do-sja g a s, sendo por êles informado estarem os
restantes portugueses da expedição salvos e socorridos em mantimentos
e fazendas pelo Gouveia e também pelo capitão-mor Manuel Pereira.
ó
3 4 /4^o/a
Preparadas as instalações para a tropa, guarda de mantimentos,
munições e mais artigos da expedição, desembarcou Souto Maior a sua
gente c dispôs-se a assentar arraiais em Quicombo. Tratou-se com os
sovas q. fizessem as casas: ■ fizeram-nas e um grande armarem, hua boa
casa pera hospital, casas para o g o v F e pera outras muitas pessoas. Os
indtos do Brasil Jiseram casas pera cavallos, ajudaram em tudo muito bem
os soldados, jiseram a força d efa xa ria e terra e ficou perfeita: ajudou a
gente do mar: os carpinteiros fizeram hua barcaça pera trazer a artilheria
e pelejar se fo r necessário: os pedreiros fizeram hua casa de pedra e barro
pera a polvora . .. Fez 0 governador um reduclo na praia pera guarda
delia e traçou outro na boca do rio: só restava acodir S. M . con o socorro
necessário de gente e munições bastantes, porq. está isto disposto a ser hum
império muito maior e melhor q. o de A n g o la . . .
Preparava-se, como se vê, o Governador Souto Maior, para primeiro
ir vingar a horrífei morte dada pelos ja g a s aos portugueses do socorro
de Teixeira de Mendonça e Lopes de Sequeira, e depois ir ligar com
os nossos que estavam em Massangano e pelo interior, fazendo base
marítima, e talvez futura capital do reino, em Quicombo. Entretanto
chegaram duas lanchas vindas de Massangano com cartas do Gover
nador Pedro César e um assento da Câmara, requerendo que Souto
Maior seguisse para o Cuanza, se fortificasse no morro dos Nambios onde
acharia guerra branca e preta pera sua guarda , porq . assi convinha ao
serviço del-Rey e conservação de toda aquella conquista e em vista do que
com lastima de deixar o porto, a povoação e a fortaleza também principiados
ou acabados; e as boas comodidades q. a lli havia pera grandes intentos o
Governador Souto Maior resolveu partir para o Cuanza.
E interessante notar-se que as cartas de Pedro César e da Câmara
de Massangano, eram já em resposta às enviadas por Souto Maior, por
intermédio do capitão-mor de Benguela, Manuel Pereira, que confiara
uma delas a um soldado nosso, que em Benguela embarcou para êsse
fim em um navio holandês, sem que ninguém suspeitasse do fim da sua
viagem, e nem sequer de que Francisco Souto Maior estava navegando
com os seus navios para o Quicombo.
Entretanto, o capitão-mor de Benguela, desconhecendo o que tinha
sido resolvido em Massangano e contando com o estabelecimento dos
nossos no Quicombo, preparava-se para abandonar Benguela com os
portugueses que lá estavam, conforme tinha combinado com o Gover
nador Souto Maior, que, na intenção de se estabelecer no Quicombo,
pensara e bem, que melhor seria reünir ali todos os portugueses. Para
P arte 1H — Benguela 365
o fim de os auxiliar mandou-lhes o Governador Souto Maior o navio
Santa Caterina para Catumbela e pouco depois teve notícia de que os
nossos já vinham a caminho, dispostos à marcha de trinta léguas de
Benguela ao Quicombo.
Com a resolução de abandonarmos Quicombo, a gente de Benguela
ficava colocada numa triste situação, pois tinha deixado as suas casas,
os seus arimos, na idea de se juntarem aos portugueses, e, de repente,
viam-se isolados, não podendo voltar para os holandeses e sem o
menor socorro no caso de serem atacados, sem o menor auxilio para
dominarem a natural revolta dos seus escravos, no momento em que
estes notassem a sua fraqueza e os vissem em uma situação tão crí
tica.
Na maior parte degredados por crimes cometidos na Metrópole,
viam-se banidos da sociedade de Luanda, que já então os não queria
admitir no seu convívio. Revoltados permanentes contn a acção e poder
dos chefes a quem ameaçavam de morte, em poucos anos tinham cons
tituído uma vida àparte da de Angola, regendo-se, por assim dizer,
por leis próprias. Pelo seu trabalho, pela orientação dada aos negó
cios, todos tinham um relativo bem estar e muitos alguns bens de for
tuna, um pouco fora do vulgar. Gente nestas circunstâncias, à voz de
um chefe que apela para os seus sentimentos patrióticos, fazendo-lhes
ver a necessidade de reünião dos esforços e da acção de todos os
portugueses para se conseguir a expulsão dos holandeses, não hesita, e
reünidos os seus bens, os seus gados e os seus escravos, colhido um
ou outro produto da terra, uma noite, no meio do maior silêncio e
sem que os seus preparativos tivessem causado a menor suspeita, todos,
incluindo o comissário holandês que casara com a portuguesa, aban
donam as suas casas de Benguela e póem-se em marcha para o Qui
combo por Catumbela.
Ao fim de alguns dias de marcha e quando esperavam o sossêgo e
a paz entre os compatriotas que constituíam o refôrço trazido por Souto
Maior, receberam a notícia de que estes abandonavam o Quicombo.
Desalentados, sós e isolados no meio do mato, vendo inutilizado todo
o seu sacrifício no abandono do que tinham, e representava anos de
trabalho, procuram num derradeiro arranco de provada energia, reagir
para não morrerem ali com as suas mulheres e os seus filhos, e valen
do-se do seu prestígio próprio, adquirido entre o gentio na luta pela
vida, resolvem seguir para Caconda. Depois de cinco dias através de
uma região talvez ainda não percorrida, pois que o trilho que seguiam
366 Angola
pnra leste cra mais ao sul, e em que bem se avaliam os sofrimentos su,
portados nas circunstâncias em que a marcha era efectuada, chegam
ao Quilombo do jaga Caconda.
O cansaço da viagem, as doenças já adquiridas em alguns anos de
vida naquelas paragens, agora agravadas com a mudança para um
clima absolutamente diferente, acabou-lhes com a pequena resistência
que podiam oferecer, e a chegada a Caconda em que todos estavam
padecendo muitas misérias, faltas do necessário, com mortes de seus com
panheiros, cangados da aspereza do sertão , poderia ter sido um completo
desastre, se o soba o tivesse querido. Ao contrário, o soba acolheu-os
sem hostilidade e êles ali ficaram estabelecidos, começando uma nova
vida e não desistindo da ligação com os portugueses de Massangano,
mandaram hum negro por terra do Reino de B enguella, atravessando
aquellas províncias dos Sumbis e Libollo, e fo i o primeiro que semelhante
caminho fe\, era*Negro inteligente, de hum Morador daquelle Reino, au
torizado, que havia occupado postos mayores, por nome Antonio Gomes de
Govea, o qual vinha por poder aturar tão dilatado caminho com alparcas
de couro crú nos pés.
O negro, que outro não era senão aquele já nosso conhecido, que
escapara do ataque aos portugueses do socorro de Teixeira de Men
donça e Lopes de Sequeira, cujo nome não valeu a pena registar, bas
tando que se soubesse quem era o dono, veyo a sahir a nossa fortaleza
de Cambambe, onde entregou uma carta do Governador Manuel Pereira
para o Governador Pedro César de Meneses, com o relatório do que
ocorrera. Assim, aquele veio a tomar conhecimento dos factos pas
sados no sul e verificado que a profecia de Fernão de Sousa (i) de que
indo o inimigo aquelle porto (Benguela) com pouco poder se fa r a Sôr da
povoação e estando provida de tam Roim gente a entregarão logo, e a que
se Retirar polia terra dentro a degolará o gentio, não se realizara, antes
falhara por completo, porquanto a tomada de Benguela se não fêz com
tão pouco poder como êle pensava, e a roim gente que a provia,.soube
vender cara a sua posse aos holandeses, e ainda, resolvendo abandonar
a terra com sacrifício dos seus interesses e para prestar a sua coope
ração sem que lha solicitassem, ao retirarem pelo interior o gentio os
não degolou, antes os recebeu sem hostilidades.
Cerveira não acreditavam, mais se fêz sentir nêles a violência com <jue
os forçaram a ir para ali, e, como era natural, veio a repulsão por
qualquer tentativa de ocuparem a sua actividade na exploração da
terra. Mas, a pouco e pouco, as circunstâncias modificaram -se. Ma
nuel Cerveira, enquanto esperava os auxílios pedidos, foi levando para
lá a cunhada e a sobrinha, suavtsando um pouco as agruras da vida.
Os Governadores foram mandando algumas das degredadas que vinham
do Brasil ou de Portugal, e os colonos, uns foram casando, outros
amancebando-se com as pretas, aparecendo em pouco os mulatos e
estabelecendo-se assim um prelúdio de família; veio a acomodação ao
meio pela exploração do arimo, sem que contudo a parte política da ocu
pação se desenhasse por um outro maior interêsse, em que o Estado
pudesse ter participação, como seria, segundo os princípios da época,
o resgate das peças.
O estabelecimento de uma povoação de portugufees em qualquer
ponto da costa, não interessava ao Estado pelo facto simples da ocu
pação. Se não havia um interêsse imediato e de vulto, para o Estado,
na cobrança de quaisquer impostos ou direitos de exportação, a ocu
pação do território em si era um facto sem importância.
Era o que se estava dando com Benguela. A ocupação ou o esta
belecimento dos portugueses tendia a desenvolver-se. A aversão que
de princípio manifestavam por os tirarem daquele meio de Luanda, ou
do mato, a pouco e pouco foi acalmando. O morador passou a sen
tir-se, através de tôdas as misérias e privações, senão bem, numa vida
diferente, uma vida pelo menos de sossego, que lhe dava o abandono
em que a povoação vivia da acção do Estado, desamparada, entregue
aos próprios habitantes, e sem que a sua posse e a defesa da cubica es
trangeira trouxessem a mais leve preocupação às autoridades, que
faziam convergir tôda a sua acção em Luanda, aos grandes problemas
das lutas com os indígenas e depois aos do Congo.
Fôra o ciúme dos Governadores de Angola pelas considerações que
a Côrte dispensava a Manuel Cerveira, que provocaram este abandono,
que a separação dos governos mais veio vincar, e Fernáo de Sousa, que
conheceu a Benguela de Manuel Cerveira, do convívio íntimo com as
naus holandesas que atacavam Luanda, que conheceu as imoralidades
da vida particular de Manuel Cerveira, e as misérias, fisicas e morais,
dos moradores, sem que visse as tais prometidas riquezas, nem vanta
gens em rendimentos para o Estado, foi o primeiro a expor a situação
para a Côrte a-fim-de se acabar com aquele espectáculo degradante.
47
òyo Angola
fifc bem sentia que, a-pesar-dc tôdas as dificuldades, alguns mora
dores pareciam ter vencido, e a sua vida organizara-se dentro de umas
bases que êle próprio Fernão de Sousa não saberia bem definir se eram
de felicidade, se de miséria, mas que eram uma cousa assente, em que
êles estavam conformados.
Não os queria contrariar. Que ficasse lá quem quisesse, dizia êle,
mas que se desmantelasse a fortaleza, para não ficar ao Estado a obri
gação de manter e defender mais aquele presídio, de que não precisava
para cousa alguma, e quando o pudesse socorrer, não seria de utilidade ,
porq a guerra que se da p ello sertão de B e n g u e lla , não fte neçessaria , nem
delia resulta a fo r tu n a de V. M a g .e além de que os sobas som ente tratão
das suas sementeiras , e de criaçoens de g a d o em qu e a fa z e n d a d e V . M a g .e
não intereça cousa algum a p orq . as pregas se repartem p o llo s soldados
officiaés e capitão mor e V. M a g d e s p e n d e a polvora e m uniçoens.
A-pesar-de t$da esta insistência e do fundamento das suas razões,
pois que, incontestavelmente, uma povoação no C u vo, ou no Quicom bo,
muito melhor serviria ao fim de ocupação e exploração das minas de
cobre do que Benguela, nunca houve maneira de se conseguir o aban
dono desta. Os colonos ou m oradores revoltavam -se e queriam assas
sinar o capitão-mor; êste enforcava os cabeças, enquanto outros, com
prometidos, fugiam, se não pelo mar, o que nem sempre lhes era possível,
internando-se e indo procurar asilo entre o gentio, que terminava por
os matar; pois, a-pesar-de tudo isto e a-pesar-da insistência e dos es
forços de Luanda, das invejas e dos ódios para se escangalhar Benguela,
não só nunca o conseguiram, com o no momento crítico, no momento
preciso e exacto, em que esse abandono, como o previra Fernão de
Sousa, se deveria dar e justificava, pelo aparecimento dos holandeses,
não para o negócio que estavam acostumados a fazer, mas para ocu
parem a povoação, aquele punhado de famintos que a doença mal dei
xava ter em pé, rotos, sem valor moral, nem físico, reünem-se em tôrno
de um chefe que os chama, quando contra todos se revoltavam, e, todos
juntos, oferecem a mais heroica, a mais nobre, a . . . única das resistên
cias de Angola à ocupação holandesa, e que estes reconheceram e pre
miaram, concedendo honras especiais!
O que operou o milagre ? <:O mêdo do interior, para onde Fernão de
Sousa previa que fugiriam e seriam assassinados pelos indígenas? Bem
sabemos que não, porque fartos de o percorrer, sós e sem ares de guerra,
estavam êles.
A acção enérgica do Chefe? Estavam acostumados ás revoltas.
P an e I i f — Benguela 371
O m ilagre fê-lo a terra cultivaa
m ente la n ç a d a por êle, germ- ,aaa Pe*° b raço do b ra n c o ; fê-lo a se-
pela su a m ulher, fôsse das ç ” 8 a 305 seus olh o s; as h e rva s sa c h a d a s
com q ue se arnanceb a sse ; o ° ^ ''ert' <^as dos recolhim entos, fôsse p reta
p a ra o seu filho, bran co ou mn. ^ "1° a v a c a , que lhe d a va o leite
c b o rreg o , tu d o ig u a l ao da nossa** fô ss e > nema,
a o ca rn e iro ,
chana
c a s a l, a em v á r z e a . 0 arimo
f q«e transform ara o em
sustenta necessário para a vida h u n f ^ í e ’ ° a T e r r a desde que lhe deu o
r o m ã s,metoans melancias,fi„os T “’ *™*0
e refresco das uvas,
0
- E foi a ssim , qu e, a-p eSar- de V 0 ™lla gre fê-lo a C o lo n iz a ç ã o !
fo m o s p a r a le ste além d o C unene ond PeSas Para resgatar, nós
r a d o d a d a m a n e g ra , e p ossivelra’e nt ,Um dos n ossos ^ fico u enam o-
sul, fi H u i l a . , a m esm a fo rm a, fo m o s p a ra o
Q u e g r a n d e p o v o ! i O r gulhe
p 0 r q u e n in g u é m a fe z m e lh o r! a nos&a ° b r a e con tin u em o -la ,
FIM
j1
•
DOCUMENTO N-* 1 #
Congo he um Reino Christão situado na Ethiopia Occidental da banda do sul: sua Costa
se estende da boca do Rio espantozo Zayre até alem do Rio Coania por espaço de cinco
gráos: terá de comprimento conforme a opinião dos Portuguezes a quem naquelle Reyno
chamão Mundellas, que quer dízer homens brancos, duzentas legoas, que se estende da Costa
do mar athe os últimos fins de Ocanga, que he a Província mais Oriental sujeita aos Reis deste
Reino, e aonde ha Rey por st, e de largura terá oitenta legoas, que he do Rio Zayre (ao longo
do qual corre o comprimento do Reino para o Leste) athe ao Reino de Angola; confina pela
parte do Oriente com os Carolos que confmSo com gemes sujeitas ao Pftste JoSo das índias,
Rey dos Abíssinos, e com os Mosongos, que conforme elles dizem, tem trato com os Mos-
sambiques, ou Midindanos, porque em Ocanga trazem a vender uns pannos chamados songos,
que por moeda correm em São Paulo de Loanda, nos dizem tem conununtcação com humas
gentes que babem (sic| o Muu, que he o mar grande: os quaesvem vir huns Lungos, que são em
barcações muito grandes, para onde nasce o Sol, e tomarem para onde elle se poem (sic), que
devem ser sem falta as nossas naos da índia; da parte do Ponente confina com o mar Oceano,
aonde esta a nobre (posto que moderna) povoação ou cidade de são Paulo de Loanda, a qual
impropria-mente chamamos Angola, por que esta na Costa do Reino do Congo, e nao na de
Angola, está fundada como se verá com o favor Divino. Da parte do Norte confina com o Rio
Zaire, posto que da outra banda delle tem os Reis do Congo algSas terras, que lhe pagão tri
buto, como s5o Songo, e Macinga, e outras; e da parte do Sul com o Reino de Angola; be o
Reino do Congo em si fértil e abundante de todas as coisas daquellas partes necessárias para
a sustentação da vida humana, posto que os moradores delle se contemão com pouco vivendo
conforme a Ley natural de suas sementeiras e creaçoes: do mar athé á Província da Bata he
algum tanto áspero, e tem algumas serras, posto que não trabalhozas, nem asperas demasiada
mente, nem de modo que impidão o caminhar da Bata athe Ocanga (onde residem ordinaria
mente muitos portuguezes, e tem seu sacerdote) tudo sáo campinas. He regado de rios caude-
losissimos, abundantes, e algüs que se pode navegar por muitas legoas: tem grandes Matas a
que chamão infindas, as quaes os antigos deixarão de industria para lhe servirem de fortalezas,
nas quaes ha boa copia de povoaçoís no intimo delias, as principaes são as do Sonho, Bamba
e a de Ibar. He bastante-mente povoado, mas já o foi muito mais, porem com a entrada dos
jagas, que o destruirão, e com as guerras civis que teve El Rey Dom Álvaro 2.* com seus Thtos
ficou menos cabado (sic) de gente, como succederá em os Reinos onde semelhaates desaven-
turas succederem.
Antiga-mente não havia Rey no que se chama hoje Reino de Congo, mas estava repartido
entre muitos Senhores, ou Régulos, que a dita Província tinhão entre si repartida como ainda
hoje ha na Província Ambundana, e cada Senhor o era da sua terra absoluto com misto e
mero Império em cada huma das Províncias em que está hoje repartido o dito Reino: havia
hum que chamavão Mani, que vai tanto como Senhor, na Cidade de Congo, onde no tempo
presente está EIRey, e assim he de quem todo o Reino tomou o nome: Residia o Summo Pon*
376 Angola
titice (faltando ao nosso modo) daquella Gemilidade cham ado Mani-Cabunga, cujos successores
ha^ e durfio ainda em Congo com o mesmo m ulo de Cabunga, c he huma famitía e geração
entre os Moxicongos muito honrada, a este Mani-Cabunga acudião a pedir remcdio em suas
necessidades, e agoa para suas sementeiras, e com sua licença semeavao e recolhíão quando
era tempo, ainda que conforme tenho para mim quando tinhão necessidade de agoa pedião ao
Cabunga a pedisse a Deos, porque ídolos nunca os houve entre esta geme, nem outros costu
mes bárbaros, como se verá no capitulo seguinte.
............................................................................. è ’ ...............................
Cap. i 3 Como se conquistou Cmgo por Motino-Bene
filho de El Rey de Bungo
Depois de termos uactado do sitio, Rios, Animaes e mais coisas particulares do grande
Reino do Congo será rasão escrever coroo foi conquistado, e o que estava repartido em muitos
Régulos, ou Senhores veio a ficar debaixo de hum domínio de hum só Rey e Senhor: tomara
ter muita faculdade para contar esta historia, que emprehendi, mas acceitará de mim o leitor
a boa vontade, e a verdade ainda que nua, e sem ornato de palavras. Ha ao longo do Zaire
da banda do Norte hum pequeno Rio chamado Bungo, no qual haverá trezentos e cincoenta
annos reinou hum Rey, que teve muitos filhos, e vendo o mais mosso delles por nome Motino-
bene que para tantos irmãos era pouco o que seu Pay tinha, e que eile não podia vir a reinar
senão por morte de todos elles, levado de hum desejo de mandar (vicio communx entre todo
o genero de gentes por mais barbaras que sejão) determinou como valerozo que devia ser
ajuntar a gente que podesse, e com ella passar o Zaire da outra banda e conquistar a grande
Província de Congo, que repartida estava em differentes Senhores, ou Manis: não o enganou
o pensamento, nem lhe sahirão em vão seus altos pensamentos e valerozos conceitos; porque
ajuntando huma grande multidão de mancebos muito maior do que eile imaginava em breves
tempos passou da outra banda do caudalozo Rio em Canoas, ou Almadias, e em poucos annos
sujeitou e meteo debaixo de seu senhorio tudo o que hoje he o Reino de Congo, ou a maior
parte delle, o que não devia de ser sem succederem muitas batalhas e recontros com mortes,
e destruição de muitas gentes assim dos naiuraes, como dos Conquistadores, das quaes coisas
não ha nenhuma noticia.
Cap. 14— Como Motino-bene misturou por via de casamento 0$ seus com os
naturaes da terra> e repartio 0 Reino por seus capitais
Depois que o valerozo Motino-bene teve conquistado todo, ou a maior parte do Remo se
foi aposentar em hum outeiro quatro legoas da Cidade de Congo e nelle iez repartição do
que tinha ganhado entre os seus capitaês dando a cada hum huma Província ficando-lhe os
senhores proprietários tributários, isto nao por vida, mas emquanto fosse sua vontade do dito
Motino-bene, o qual costume ainda hoje se uza entre os Reys daquelle Reino, dando ordem
que todos os seus se cazassem com os naturaes da terra, os nobres com os nobres, e os plebeos
com as plebeas, chamando-se todos pelo nome antigo de Moxicongos. Elle com o resto a
gente que lhe ficou se foi para a Cidade de Congo, da qual o Rey toma o nome, onde residia
378
Angola
0 Ponu/ue ilaquello Gentilidade cham ado M aoi-Cabunga, e se cazou com uma filha sua, e
ficua por nbsolujo Rey e Senhor de todo aquelle grande Reino. C om este m odo segurou 0
Rcin« Motino-bene, e o deixou a seus descendentes, que são os que hoje reinao quinze (afora
clle) «eis gentios e nove christaÕs, tom ando todos os R eis por titulo honrozo e de excellencia
0 nome de Motíno prim eiro fundador daquelle Senhorio, assim com o os Im peradores se chamão
Cegares de C c z a r e os Reis T u rco s Othom anos de Orhemano fundador prim eiro daquella Caza,
e assim se chacnão os Reis do Congo M ani-Congo M oiino, Senhor do C on go e M otino pela
cauza que se disse, o outeiro onde se fez a repartição do Reino por M otino-bene se chama
ainda hoje M ongo-Caila, o Outeiro da Repartição. Ha ainda no Bungo Reis os quaes se com -
municâo com os do Congo mandando-se presentes huns aos outros, reconhecendo-se por esta
via por parentes procedidos todos de hum mesmo e proprio tronco.
Passadas todas estas coisas deo E l R ey cargo a certos Fidalgos, que mandassem ajuntar
pedra para se fazer huma Igreja, os quaes as quaes ajuntarão perto de mil homes para a tra
zerem ao lugar onde se havia de fazer, e assim se começou a dita Igreja a edificar aos seis dias
de Maio da era de 1491 e se acabou no prim eiro dia de Julho logo seguinte, a qual se fez no
terreiro em que hoje está a Sé, com o titulo de Sao Salvador, he muito formoza e grande com
sua Capella-mor com dois altares no frontespício delia, tem mais outra Capella no corpo da
Igreja da parte do Evangelho da invocação do Santíssimo Nome de Jesus, na qual de presente
está huma Imagem de Nosso Senhor Crucificado, de boa grandeza e mui devota, a Igreja he
de tres naves, os esteios de formozissimos mastros e o tecto forrado de madeira coberto de
feno, que posto que se achou pedra de que se fazer cal, n lo se achou barro suficiente a se
fazer telha. Em quanto a Igreja se fazia praticavão os padres com El Rey em as coisas da
nossa Sancta Fé, ensinando-lhe o que havia e devia de crer, e o mais necessário para receber
o Sancto Baptismo, o que elle ouvio com grandíssimo contenta-mento esperando que a Igreja
se acabasse para se Baptizar; porem parecendo-lhe que era muito esperar para os desejos que
tinha de se fazer christão mandou chamar os Frades e lhes perguntou se podia receber o Sa
grado Baptismo em outra parte fora da Igreja, e sendolhe dito que sim respondeo, pois isso
«4r $ - %. -
Apêndice
assim he, amanhã sem falta o hei de receber, o que athc agora nao fiz cut *
mente havia de ser no Templo, e minha mulher e filhos emats vassailos meus depois >
e os Religiosos vendo que pedía de coração o Saxicto Baptismo lhe dísserão, que ttído pro
cedia da mfio do Senhor, que lhe desse pelos desejos que lhe influía muiias graças e louvores.
DOCUMENTO N.# a
Ao primeiro dia de Julho de myll b*üij na cidade de Lixboa na praça da tonoarja diante
das cassas do trauto das Ilhas que tem Ruy Penteado (Feitor das Ilhas e escrauos de Gujnee
pressente mym Aluare Anes scripuam por parte de Joham da Fonsseca e Antonio Carneiro
foy rrequerido ao díeto feitor que lhe auuessc por arrematada a rrenda dos quartos e vyn-
tenas e dízimos das Ilhas de Satn Tome e Ilha do Princepe e esto per virtude de huü aluara
dei rrey nosso Senhor que elies tinham ffecto lanço e lhe era rrecebido cõ certas comdtçooes
antre as quaaes eram que andasse o dicto lanço oyto dias em pregam. /E porquanto o tempo
era fora e mais segundo ele feitor podya veer pela apressentaçam do dicto lanço lhe man
dasse arrematar as dietas Ilhas ssegundo sse no dicto lanço e arrendaj^emto conthynha E o
dicto fíeitor vyo a dieta apressentaçam e deas que o dicto lamço andara em pregam per Joham
Aluarez porteiro do concelho da dieta cidade e condiçam do dicto arremdamemto e o tempo
seer fora e sse fazer delegemcia no apregoar da dieta rrenda E o rrequerimemto que lhe ora
faziam por parte do dicto Joham da Fonsseca e Antonjo Carneiro fez vyr pressente ssy An-
tam Lopez porteiro do comcelho por quanto o dicto Joham Aluarez que ja trouuera esia
rrenda em pregam era fora da cidade e lhe mandou apregoar as dietas Ilhas nos trezentos
mill reaes pelas condiçoes do arremdamemto e andou em pregam pressente mym escripuam
assy e pela guisa que a damtes os outros dias o outro porteiro trouue dizendo quem quiser
lançar nos quartos e vyntenas e dizimos da terra das Ilhas de Sam Tome e do Princepe dam
por ellas em cada huü anõ trezentos myll reaes em saluo pera elrrej nosso Senhor e esto
por dous anos que sam seiscentos mjll reaes segundo as condiçoões do lanço venhassem ao
dicto Ruy Penteado e rreceberlhea o lanço e visto per o dicto fíeitor nom achar quem mais
lançar que o dicto Joham da Fonsseca e Antonjo Carneiro primeiros lançadores e a ffee do
porteiro e assy de mym escripuam ouue por arrematadas as dietas Ilhas aos dictos Joham da
Fonsseca e Antonjo Carneiro assy e pella guisa que sse coimem em o dicto sseu arrendamento
e lanço e mandou ao dicto porteiro que apregoasse as dietas Ilhas dandolhe huã vez e duas e
duas e mea e mais huã pequenjna e nom achou quem mais lançasse E mandou que lhe desse
tres e assy lhe ouue as dietas Ilhas por arrematadas por os dictos dous anos como dicto he e
assynaram aqui e ouueram em ssy por rrecebidas a dieta arremataçam per as condiçoes de
sseu arremdamemto testemunhas que pressentes foram Francisco Coruynell Frolentim e Joham
Gomez criado do Senhor Iffanue morador nesta cidade a Sam Njcolaao e Gonçalo Vaaz cu-
tileiro morador na cotelarja E outros E eu Aluare Anes scripuam da dieta feitorja que esto
escrepuy. //. Antonio Carneiro — Johão da Fonseca — Aniam Lopef — Ruy Penteado./.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Gaveta i>, Maço M, o ®43).
DOCUMENTO N.° 3
Nos el Rey ffazemos saber a quamíos este nosso aluara virem que per Joham da fomseca
e Amtonio Carneiro nos ffoy ora ííeito lamço em as nossas remdas e direitos das nossas Ilhas
de Samtomee e do Primcepe — a saber—quartos e vimtenas e dizimos da terra asy como a
nos pertençem por dous annos que sse começaram de Sam Joham que ora vem desta era pre
semte de b°üij em diamte por preço e comthia de trezentos mill reaes coca estas condiçooes
adiamte decraradas — a saber — primeiramente com comdiçam que o vigário da Ilha de am
38o Angola
TU^msc .i;a pellos dízimos da dita Ilha os quatorze mill rcacs que lhe hy temos dados sem sse
JííJcs tla/cr descomto t com comdiçam que elles ssejam obrigados a pagar os mantimemtos
hordenodos na dita Ilha como pagaram estes dous annos passados e com a comdiçam que elles
ffoçam o pagamemto da dita remda em duas pagas de cada anno — a saber — huGa per pascoa
e outra per ssom Joham ao nosso almoxarife dos scrapvos ou a quem nos mamdarmos e com
comdiv&rh que esta remda amde em pregam nesta cidade oyio dias que se começaram do dia
que dor apresetmado este lamço ao nosso ffeítor em diamte e lamçamdo outrem sobrelles
nveram suas alças hordenadas aa custa de quem ssobrelles mais lamçar posto que nam tenham
dado ftiamça aa decima parte e nom lamçamdo outrem sobrelles que emtam lhe ffiamça dita
remda rrematada pello dito preço o qual lamço visto per nos o avemos por boo e lho rrecebe-
mos coro as comdiçooes ssobredicas e elles o rreceberão asy e sse obrigarom per sy e per
sseus beis de o assy comprirem e maroterem e por seguramça dello asinarom no livro dos
iamços homde este fica treladado e porem mamdamos aos vedores de nosa fazenda e ao dito
almoxarife e feitor das ditas Ilhas que em todo o ffaçam jmteiramente comprir e guardar sem
duujda que nelo pomham flecto em Lixboa a bij dias de Julho Gaspar Roíz o ffez de briiíj / os
ditos trezemros mill reaes nos ham de dar em cada huu anno / E estes xiiij reaes sera aquelo
que per nosa carta lhe ja teemos dado ora seja mais ora menos .//■
Hey. — o baram.
ffoy apressentado este lanço oje que he quimta feira vynte dias de Junho de briiij per o
quall lanço logo dicto dia Ruy Penteado mandou meterem pregam per Joham Alurez porteiro
do concelho o quall o apregoou perante mim Aluare Anes scripuam da feitorja das ilhas ./*
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Gaveta x5, Maço i3, n.w3 i).
DOCUMENTO N.° 4
treUado do auto e enqujrjçam sobre as cousas que Gonçalo Royz fez nestas partes de
Gujne //
Anno do nacymemto de nosso Senhor Jesus Christo de mjll e qujnhentos e honze anos
aos xj dias do mes de Dezembro / em a jlha de Sam Thome / narmada do Senhor Fernam de
Mello do conselho dei Rey nosso Senhor e capjtam e governador desta sua jlha de Sam Thome /
Estando hj ho dito Senhor logo per elle foy dito que ora a elle era certificado per muitas pes
soas que avera ora cinquo aüos pouco mais ou menos ou ho tempo e dias e mes era que se
achar em boa verdade / vymdo Gonçalo Royz em hü navyo per nome chamado feco de quera
pylioto Jeronimo Fernandez Ganchyno pera ho Rjo Reail e doutra vez vyera no navyo galocha
de quera pylioto Martím Vicente / Estes dous navyos botara a ho mar as crjamças de mama
vyuas por as maes nom morerem / e agora avera dous aüos pouco majs ou menos ou ho tempo
e dias e mes e era que se achar em boa verdade / quando foy a maníquogo lejxara aquj a
gemte dos seus navyos doentes e lbe leuou suas fazendas e os botou por estas praias como ja
tem de custume como fez espycyallmemte a hü homem per nome Coelho e assy ho dito Gom-
çaío Roíz lhe leuar a fazemda e ho lejxar esbulhado de todo ho sseu / em tall maneira que
emsurdeceo e amdou asy estes dias ate que faieceo e assy outros muitos e por assy ser emfor-
mado ho dito Senhor capjtam das ditas pesoas e vemdo como ja ho dito Gonçalo Roíz ho
tynha por custume / a fazer assemelhamtes cousas assy como fez Antonio Fernandez e Apariço
Anes e a Gonçalo Vazquez creiygos de mjssa e Diogo Lopez e assy outros muitos e mandou
a mim espriuam que assy ho espreuesse eu Jorjaffonso esto trelladey //
tendo na sua nao eaquj (f0 m° FarnaftdL * tes[emunha que sabe T ,%ho
fjomde se comeenou co® ei,°m ieyxa r . }’8a)'ro que esIeue r. q G°ttÇaUo Roía
por ser pyUotodo dno Z ^ ^ ^ e J ^ t a j l e T Z l o m T Z ° ,rou« -
Comgoo a Gonçalo Va2 CraiyB eile Cni!ini]a e que L o S3he Z 3 3 C°«uo
5
do diro auto all nom iisse * £ * ®jsa e s b u j ^ * “ ^ q u e onça/o r L Í ' ? ^ ^ 8 (sÍ^
eu ; 0r;e -------
Afonso esto sprevy
sprevv // UstUme Per n âdo toda sua ^ jxoü em terra de
£
E depoys
dW , disto
d,-,,, a
, ^ df [ f" 'a * ' »» “ * « - • » . . . .
de Sam T o m e /. Joha® R0iz b do
í o L h ^ ^ i ade e l r o ddP ' ■ „ ‘ ^
n Poeiro ^ « ,esremufljla
. S ní« i a
ntos sam as segu/mte
- 5seus ditos sesní^^ ^ *^Slc) Oüüi,írt 0 ®iíl e ojtínk
Irem GoflCúfo
Item Gonçalo MendeJ Z o l Z ^ Z sT j S° tabaiiam P ^ u m a m 0* m a >lba
,he íoram dados p o lb di,0 0UuZ " â ' ííla de Sam Tu ^ / eS' as ^ m u n h a s
rado pollo modo e feta pereUmr, ° r e Pergünt, , Til°me /Uracjo
auto ourra cousa sabe so®eat. \ 9Ue era o que rf u P°!fo au‘ ° que lh SaJ” ° s avangelhos que
Ouro este Coelho qUe em Z Z “ »» C o t ^ C "í ° ^
dito Coelho E que amdou asy n Z Íe hS Z o 1 ° ^ ° R< * * qUe do d» °
por -
por esta pouoafam E® taJ, / 0 rry ° do OuroLo’ “2 Se P^dc-o En bem 7
Praa do " ° do
ai fazemda
fazemda do Coelho ou nam fa qtie ewsurdv/ f CSÍa praa hü dia ^omUa vomtade do
que leyxara b ^ ag og r ^
m ^ e t eZ Z *^ ?Z * * -™
soldo lo} o quall gromette d h te (eJ * ym m «ho botarL n°m saba e mais f f n ° R°yz huo“
R°f z !íU0ü
Deus rrecramando
rrecramando ho ho dito
dito lgrom eStenunba
Unha hoho ‘iuera
tiu ° ‘ a/ na P«a
Pfaa e -lhe nom
mâJSc d,sse
^ ^ 6 8 restemunha - ! f
tros e■ que «“ lhe
" * nom
■ »» pagara
? , £ : hr o Ts e t ^ j- * • C £ si or »R “^» *6 "** C i ? S í ^ ^ SS£U i
Conçalo do Ro,z
Roiz esbulhara e tomara
tornara t/e mais disn disse elh
elk ft 8
6 ass^
âi ° “ vyo dJ P° r amor de 1
eyxara em
e ho leyxara em terra
terra ee lheTe»3
lh* i 333 fazen<ía nUe9 r
ue Gonr 9
testesSionI
T ^ mnha ua o u v L qU£ hy*ara ou' i *
disse e do cusiume per que foy peças a r n a n y ih Z V*Z metera no sseu n ^ C° m° ° díto
esprevy
- / .//.■ //■ ^ r Pergu®tâdo
P^um tado d /Jba J e i e outras
°Uíras cousas e 1 ^ 1 <7° ^ ^
íiem Anton/o Nunex
item An tonlo Nunez moradf, j restemur
rest«munha niii 6u t0r- a!i nom
foram m dados per Joham doba® Roiz ba b °LL jj dni
Íh i ^iÜla testemunh . >& Afonso es«>
*
Tarado pollo modo
e decrarado modn e» h r..„
t .. <S,C> °uuidor ea0er
S!C* OUuÍdor n ha ba)Urado
)Urado a°s samtos > ,
9
ira verdade / que ouvira dizer PergUmta “ « era ho o83” ^ 0 P0ll° aut» q u e T ”®8^ 05 qUe ihe
ras ao mar por lhe nom Z P° reSía vii!a g e ^ w ,Ue dêiío sabya d L Z n t0Í° !oy
eiie vyra nesta jlha h s ma f<? reín as ntaes e mais Z * qUe ^onÇaHo Rob i 6 Iestwnunba que
Gon/alo Roiz q le for T ^ ^ C c f t ^ ^ 35 C
U Roiz o Z a m Í a d a ^ t í i do 3^ C f a d f J j ° dC o ed C 6m
r 'd
»
382 Angola
colo Mendez e do dito cas0 nom disse e do costume per que foy perguntado disse elle tes
nill E eu Jorjafonso este esprevy .//.
te m u n h a
íiem Luís Esteuez çapaiero testemunha jurado aos samtos avamgelhos que lhe foram
dados pollo dito ouujdor e perguntado poUo auto que lhe todo foj lydo e decrarado que era ho
que deflo sabya disse elle testemunha que era verdade que do dito casso all nom sabe somente
que vyo aquj andar hü mamcebo que se chamaua Diogo Coelho doemte e fazendo cousas por
esta vylla como homem surdo e que ouvyra dizer que emsurdecera por ho lejxar aquj Gonçalo
Roiz e que sabe elle testemunha como ho dito Coelho morera da dita doudtce e doença e
por aquj lejxar ho dito Gonçalo Roiz lejxara aquj hO Christouam Aluarez marinheiro e outro
sseu preto os quaes sse perderam no navyo em Benjm e do dito casso all nom disse e do cus-
tume per que foj perguntado disse elle testemunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy ,//.
Item Amdre Conçalluez morador na dita jlha testemunha jurado aos samtos avamgelhos
que lhe foram dados pollo dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe todo foj lydo e de
crarado pello meudo e feta pergumta que era ho que dello sabya disse elle testemunha que
era verdade que elle testemunha vyra aquy quamdo hjam pera os rrios ho dito Diogo Coelho
mujto satn e sessudo e que depois que viera dos rrjos Gomçalo Roiz ho rrecolhera na sua
nao e ho lançara da praa do rrjo do Ouro mujto doente pera a morte e esteuera na dita
praa hü dia e hüa noute aos tanoes ate que ho trouxeram a esta pouoaçam ssem ter nada e
pollo aquj ieyxar ho dito Cançalo Roiz sem nada e doemte ho dito Diogo Coelho ensurdycera
amdamdo por esta psçioaçam doudo e quamdo quer que ho alargaua a dyta doudyçe e a con-
tynoa dizia como Gonçalo Roiz ho matara e ho lejxara aquj pollo quall por esta doudiçe e
doemça morera no spital e asy sabe como o dito Gonçalo Roiz lejxara a hü joane o quall elle
testemunha vira com hü frade as costas choramdo e dizemdo que Gonçalo Roiz ho botara
fora e lhe leuara ho sseu camjnho de portugall e do dito casso all nom disse e do custume
per que foy pergumtado disse elle testemunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy ,//.
Item Ruy Lopez cassero do Ryo do Ouro do Senhor capytam testemunha jurado aos samtos
avamgelhos que lhe foram dados por ho dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe foy
lydo e decrarado pollo meudo e feta pergunta que era ho que dello sabya disse elle testemunha
que era verdade que ouvjra dizer por esta vylla gerallmemte como Gonçalo Roiz botara de
dous navyos as cryanças vyuas a bo mar por nom morerem as maes / e majs disse elle teste
munha avera obra de dous annos pouco majs ou menos elle testemunha era cassero no Ryo
do Ouro do Senhor capitam e que vyra elle testemunha como Gonçalo Roiz botara na praa
do Ryo do Ouro este Diogo Coelho esprivam de hü navyo que sse perdera em Benjm e ho
dito Gonçalo Roiz ho mamdara botar fora estamdo mujto doemte pera m ore r esteuera na dita
praa huü dia e hüa noute e que elle testemunha fora dizeilo a João de Mello e emtam marn-
daram por elle e que depois ho vjra elle testemunha doudo e que da doemça e surdyçe morera
e mais disse elle testemunha que hesse dia que Gonçalo Roiz botou ho dito Diogo Coelho
botara outros fora da dita nao aqujxandosse os ditos homês do dito Gonçalo Roiz que os
rroubaua e do dito casso all nom disse / e do custume per que foy perguntado disse elle tes
temunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy .//.
E depois desto aos xb dias do mes de Janeiro de mjll e quinhentos e doze annos foram
tiradas estas testemunhas per Johão R oiz..........e sseus ditos e testemunhos sam cssseguimtes
eu Jorje Afonso esto esprevy .//.
Item Artur Aluarez morador na dita jlha testemunha jurado aos samtos avamgelhos que
lhe foram dados pollo dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe todo foy lydo e decra
rado pollo meudo e feta pergumta que era ho que dello sabya disse elle testemunha que ouvjra
dizer pubricamemte por esta jlha como Gonçalo Roiz botaua as crjanças vjuas a ho mar por
nom morerem as maes destes dous navyos . . . ho ferro e a galocha e majs disse elle testemu
nha que quamdo vjra Gonçalo Roiz de Namquogo no tempo comtheudo no dito auto elle dito
Gonçalo Roiz rrecolhera a gemte do navyo que se perderam em Benjm a sua nao a quall
gemte tomou a botar fora na praa do Ryo do Ouro que he desta pouoaçam duas legoas certas
pesoas_a saber__hü Díoguo Coelho espriuam de hü navyo sseu que se perdera em Benim e
outros a que elle testemunha nom sabe ho nome ./. o quall ho dito Diogo Coelho ho mamdara
lamçar na dita praa e ho trouxeram a esta pouoaçam e que elle testemunha sabe que ho dito
Diogo Coelho de nojoo pollo asy lejxar na dita praa emsurdecera em tall manera que da dita
.S '
y
Apêndice
383
nada 6
mça niorera nesta
hcm* jlha
pua por
pur ho
no asy Jejxar ho ono
jqxar no dito vuuyaiv
Gooçalo »w.-
Roiz $em
- Coelho
dlçe e ° ° e ta jlha e que sabe elle testemunha que quamdo aquj veo ho díto DiOgO
°o de Gonçalo Roiz era sessudo e cm todo seu cmtemdimemto como outro q
d>t0 naV^°sesudo / o majs disse elle testemunha que ouvyra dizer por esta vjlla cosno o
^uer hornen^oeiho cramaua do dito Gonçalo Roiz dtzcmdo que lhe leuaua ho sseu e ho lei"
% íO s£a jlha perdido / e majs disse elle testemunha que sabe como ho dito Gonçalo
dit°
1 aquj ne cUStume a gemte que traz nos seus navyos tomalhe suas fazendas e lejxallos em
*aua tem P° ^ Gonçaïlo Vaz e a Gonçalo Anes e Antonio Fernandez crelygos c outros e do
com°° ] f n0m disse c do custume per que foy pergumtado disse elle testemunha níll eu
rra c°0
d>‘° ^' A fonso esto e sp re v y (Arqoívo Nacional da Tòrre do Tombo, Corpo Cronológico,
jofj ' PartcS.4, M a ç o n s Documento o.’ 98).
* y.
, M E N T O q u e E L - R E I D . M A N U E L D E U A S I M A O D A SIL-
V E I R A Q U A N D O O M A N D O U A M A N II C O N G O
g l R ey, fazem os saber a vos Symão da Silva, fidallguo de nosa casa, que este be 0
que vos m andam os que gardês, em vosa yda e estada em Manycongo, omde ora vos
regltíieli s e asy lenbrancas d allgunas cousas, que, por serviço de Deus e noso, farees, em-
estiverdes
qii anto primeirarnenteí despois que sayrdes desta cidade em booa ora, farês voso caminho I 1
Item-
jpenie a Manycongo, por homde, com conselho dos piliotos que levaaes, vos parecer
dereytdés diais ganhar, pera mais prestes ía serdes, fazeemdo muygramde provisam nos man
que pam7 vinho e agoa que levaaes, pera que vos posam abastar, e se nam faca nyso
timent°cado,
s asy p o r respeito dos cavallos e as outras bestas que levaaes, com o pera segurança
re1
ma° vjagemj e mUy p r*m cipalmente da gente, porque, de asy 0 fazerdes, se vos sygira escu-
de v° sa^e fa^er dem oras, asy nas jlhas, como em quaesquer outras partes, pera tom ardes agoa
sardes I í
se vos fallecesem , que Noso Senhor nam mande; e asy encomemdamos que
e lTianUgSj quanto posyvel vos for, porque de asy 0 fazerdes, se sygira serdes mais cedo nave-
h° ^aca n^s m uito servido; e tomay d iso 0 cuidado, que de vos confiamos. Pero, failecemdo
rindo, ^ (xiantimentos, os tomares homde com mais noso serviço, e sseguranca da viajem,
vos
osaes fazer*
o p em A o s capitães, e pesoas que levarem carego primcipall dos navyos que levaaes, avisay
^ h am gram de recado e provisam nos mantimentos e agoa, asy como a vos 0 encomen-
Que te . e quam do poderdes ver os payoes e despensas dos ditos navyos, fazey o, pera dardes
darriojM r reg|niento e regra, que vos bem pareçer, avemdo d iso necesidade, que Deus nam
^Ua a E loguo em partijm do, ordenares a regra da augoa e vinho e pam que se der, que sera
se costum a em semelhante viagem, e emendando a quamdo vos bem parecer e vlyrdes
Que Item A visarees os ditos capitaes e piliotos, que levarem 0 careguo primcipall dos navios
conserva, que senpre sigam 0 voso foroll, e nunca de vos se apartem, neem vos per-
da vosa ^ uecencj0 lhe allguua necesidade, vos facam synall, pera lhe acodirdes e os reme-
quam; Gt a<
Urdes e dardes
d; recado do que ajam de fazer; e perdemdo vos qualquer d elíes por sua ne-
diaf C ‘ ou açtnte, que nom esperamos, aveemos por bem que perca todo seu soldo e ordenado
í f ^iaeem e mais avera qualquer outra pena que for nosa mercee.
u Item 0 . ■ dares
Lhe 1 _a _ _regimento
„ ' nr-\rn ae mandado
marvíoiin rma o/ino/'úm/ln 1
que, aquecemdo V»q r%
lhe a/>c
necesydade tall, porque de vos
rtasem, que nam deve ser outra senom temporal!, tall e tam forte, que de necesidade os
forcase ha nam poderem ter comvosquo, sem al poderem fazer, que, em tall caso, se vaao di
reitamente via de Manicongo, porque vos nam avees de tocar em outra parte, salvo teemdo
necesidade tall de mantimento, ou d agoa, ou d outra semelhante, per que 0 nom podeseijs
escusar, que Deus defenda; e asy vos mandamos que ho facaes; e, chegando primeiro que vos. "■
X*
S" - ♦
.. V •*- «V-.
384
Angola I
<?m ta II caso, see amarrem e ponham em todo boom recado c segurança, nom íazemdo cousa
allgOa de sy, ate vos nam chegardes.
Item- Tam to que em booa ora fordes no rio de M anicom guo, tirares fora a geemte, ca-
« xalfos e todas as cousas que levaaes, pera com vosquo averem de ficar, e asy tudo o que Levaes
que mamdomos a elrey de Mantcongo; e leixamdo os navyos na m ilhor am eoracam do rio e a
iodo boom recado, entregues aos pillotos que nelles ficaram com os roarijnheiros que cada
huum levar, e, feito assy, farês voso caminho pera homde el rey estever, ym do pello caminho
que fezerdes, na milhor ordem e com certo que vos for posyvell, e asy bem, com o de vos con
fiamos, nom consentymdo a geente que levardes, fazer nenhuum danno nem semrezam a gente
€
da terra, nem a cousas suas; acntes, vos trabalhay que pera tudo vaa bem ensynada e casti
gada, e em tail maneira, que ha gente da terra receba com ella m uito prazer, e nom se lhe
posa segujr escam dallo alguum; e d isto temde tall cuidado, com o de vos confiam os.
E pera a geente da terra vos ajuda (sic) a llevar as caregas ate chegardes a el rey, e asy
vos ajudar a toda outra cousa que vos com priyr, creem os que Dom Pedro vos dara todo avia
m ento; e, segundo a enformaçam que teemos, a g en te esta asy bem emsynada e mamdada pera
yso, que terês niso pouco trabalho.
Item. Tam to que em booa ora chegardes onde el rey de M anicongo estever, lhe darees
nosas cartas que pera elie levaaes, e nosas encomendas e saudações, as quaes lhe direes que
Jhe emviamos por vos, asy como as costum am os dar e emviar aos reis e primeipes christãos,
com o, muytos louvores sejam dados a Noso Senhor, elle he; porque a reis e primeipes jmfyes,
e que nam sara ch risfiãos, nam emviamos encomendas nem saudações, segundo que d iso hys
emformado, pera lh o mais largamente fallardes.
Item. Depois de lhe terdes dadas nosas cartas, logo emtam, se o tempo deer lugar pera
yso, e, se ham, logo ao outro dia segimte, lhe apressenuarês e dares todas as cousas que lhe
emviamos, que leva Á lvaro Lopez, o qual com vosquo juntamente, e asy ho seu sprivam, seram
ao dar d ellas, pera abrirem as arcas em que vaao; e vos lhe dirês com o tudo lhe emviamos
com muyto am or e booa vontade, com a qual senpre com todo o que ouver em nosos reynos,
folgarem os lhe prestar, com o a rey a que temos m uyto gram de am or e que ystim am os por sua
vertude, como elle ho m erece e he rezam ; pois do com eço de sua cristym dade esperam os que
naquelas partes se syga m uyto serviço de Noso Senhor, e acrecentam ento de sua santa fee ca-
tholica, por que primcipalmente neste mudo trabalham os, e etn navegações de m ar tam Iomge
e de tanto trabalho nos poemos, nam soom ente ate seus reynos, mas m uy mais alongado, como
lhe darês d iso rezam, fallam do lhe nas cousas da Jndia, e das gemtes e arm adas que nella
trazeemos, e de todo o que se la faz, de que largam ente lhe darees conta.
Item. Lhe direes com o ouvem os m uito prazer com a vijnda de Dom Manuel, seu irmão, e
de Dom Pedro, seu primo, que a nos etnviou, e m uyto m ais, com suas cartas, que por elles
nos spreveo, pellas quaaes, alem do que ja dantes tynhamos sabydo, fom os muy mais compri
damente certificado de sua com versam , e de com o estava fijrme em nosa sam ta fee, e do ven
cimento que Noso Senhor lhe deu contra sseus jm iguos, no tempo em que el rey seu padre
falleceo, e o millagre que Noso Senhor, p o r sua m isericórdia, fez na batalha que ou ve; e que,
por ser cousa de que muy grande prazer recebemos, deem os p o r yso m uytas graças e louvores
a Noso Senhor, no qual esperamos que sempre lhe dara m uytas vitorias e o conservara no co
nhecimento de sua sam ta fee, porque nunca, por sua piedade, se esquece d aqueles que fao
chamam e o servem, com o elle fez e faz; e que lhe rogam os que se esforce no que tem come
çado, porque, em todas as cousas, no fim d ellas estaa a perfeicam ; e que, pera o que lhe com-
prijr pera maior acrecentam ento da fee, sempre em nos achara ajuda e favor, com m uy booa
vomtade.
Item. Lhe direes que nos consyram os que, pera perpetua m em ória de seus feitos, e do co-
meco que teve sua conversam, e o conhecim ento de nosa sam ta fee em seus reynos, e asy do
milagre que Noso Senhor por elle fez, na batalha que ouve, quam do seu pay falleceo, sserya
muy bem emviarmos a carta das armas, que lhe levaaes pera elle asyn ar; e por ella, em todos
tempos, see saber la naquellas partes, e aym da ca, sseus feitos, que sam dynos de grande
homrra e louvor amtre los homeens; e que as armas que lhe asy emviamos, todos os príncipes
christaãos as costumamos trazer, segundo a sygnificacam que cada huum toma, pera por ellas
serem conhecidos, e se saber d omde procedem ; e que elle as tome com aquela booa vontade
385
Apêndice
com que lh as emviamos; as quaees esperamos em Noso Senhor que elie logre muyfo *
fiquem pera seus sobcesorcs, e nunca de sua sobcesam se aparteem; as quaes armas j
costumam tomar pera sy, como dito be; e as que trazem seus vassallos, ibe sam dadas por
eles, por suas cartas asynadas, pera pera (sic) sempre ficarem a suas Imhages por lembrança
dos merecimentos e serviços da pesoa a que foram dadas, per cuja causa aquela homrra fica
a todos seus sobcesores, e pera senpre usam d ela.
Item. Lhe dírees como o dito Dom Pedro, seeu primo, nos Uise de ssua parte, que elle fol
garia muyto de nos lhe emviarmos huüa pesoa nosa, que menesime as cousas da justiça em
seus reynos ao noso costume; e asy também ememdese nas cousas da gueerra, e a metese em *
uso ao modo de ca; e que, por confyarmos de vos muyto, e esperarmos que ho saberSs muy
bem fazer, vos escolheemos pera yso, e vos emviamos la pera nas ditas cousas o servijrdes; e,
quamto aas cousas da justiça, emviamos tanbem comvosquo huum letrado, pera niso vos aju
dar, damdo lhe conta dos livros das Hordenacões, que levaes, e, em groso, o modo da justiça,
e a ordem em que se faz, e os casos por que se mata por justiça, e asy as outras comdepna-
coes de casos crymes, e particullarmente tanbem dos feitos cyves, e o modo que se teem no
ouvyr das partes, tudo asy em groso, pera elleser enformado da hordem que em tudo se tem;
e queremdo que niso entemdaaes, fazey o asy beem, como de vos confiamos; e em todos os
juízos, asy dos feitos crimes, como dos cyvees, ora seja d amtre a geeme nosa que Íevaaes,
como da geente de la da terra, vera comvosquo o leterado que Íevaaes; e quamdo ambos nam
fordes acordados, se eixeemara aquello em que vos vos asentardes, poi^ue confiamos de vos
que ho farees beem, e de maneira que seja ynteyramente gardada justiça.
E, queremdo el rey de Manycomguo ser presente no julgar dos feitos da sua geente, esta-
rees com elle em todos os feitos que ha sua geeme tocar, e aquello que elle quizer que se faca?
de agravar mais a pena ou alyvar, se fara, porque asy queremos que ho facaes no que tocar
a sua geemte, damdo lhe, porem voso parecer do modo em que vos parece que deve pasar. E,
quamto a nosa geente, o que a ella tocar, ficara a vos in soljdo; e o que direito vos parecer,
darês a eixecucam, segundo forma do poder e alçada nosa que Íevaaes; e posto que sejaaes
cavalleiro da ordem, nam tenhaes pejo em usar da purdicam cryminall, porque teemos achado
por direito que podees menestrar justiça, e asy os outros cavalleiros da ordem; porem, se vos
parecese que ha geente da terra recebe por rigorosas, as penas denosas hordenacoes, praticalo y
ês com el rey; e na maneira que elle ouver por bem, ho farês, tomando vos por fumdamemo
que ysto se deve agora neste começo fazer, de maneira que nam recebam escandollo, e se meta
em uso o mais docemente que se poder fazer.
i í
Item. O seello das armas que lhe emviamos, e asy o synete, lhe dírees como o costuma
mos, e como com yso sam aselladas as nosas cartas que asynamos das merces e privylegios
que damos aos fidalgos e pesoas que nos bem servem, e asy as outras cartas que pasam por
nosas justiças, e as outras mandadeiras, que mandamos pello reyno; e dar lhe ês de tudo yn-
teira enformaçam.
Item. Lhe darês comta dos oficiaes mecânicos que comvosco íevaaes, pera emsinarem em t
sua terra em sua terra os oficios, os quaes lhe emvyamos por nos parece que averia com yso
prazer.
Item. Levaaes huum caderno de todos os oficiaes que temos em nosa casa, e asy em nosos
reynos; e o que cada huum faz por bem de seu oficio; asy em groso dar lhe ês de tudo coma, s
pera, se elle o quiser asy meter em uso em seus reynos; e queremdo fazer, metê lh o em ordem, r
porque averemos prazer de asy se fazer. E assy mesmo lhe darees comta do modo do serviço
da nosa mesa, pera elle o poder acostumar, se d isso lhe prouver.
Item. Lhe dírees, quamdo lhe apresentardes as bamdeiras que lhe emviamos, como servem i
no tempo das gerras, e quem as traz; e como quem ha traz, ha nome alferez; e como he alferez
moor pesoa primcipall; e este tem outro alferez pequeno, que por elle traz a bandeira; e como
a bámdeira de Christos amda diante, e a bamdeira das armas estaa senpre homde estaa a pesoa
do rey, e asy o giam; e d ysto das bamdeiras, lhe day ynteira enformaçam, pera d iso ser bem
enformado.
E esta mesma maneira teres, em lhe dar comta de cada huüa das outras cousas que lhe
emviamos, pera elle saber aquyllo em que cada huüa serve. I
Item. Loguo como em booa ora chegardes, depois de estardes aseemtado, folgaremos que
49
>
.386 Angola
vo» fmbolb£$ de fazer huQft booa ygreja ou moesieiro de pedra e call, d aquela gramdura que
vo *, becm parecer, na qual poerês synos c ret&vollos e ornamentos, dos que Icvaaese la estam;
c, porque levaacs grsumentos pera b (5 ) altarees, sse vos parecer bem se alevantarem todos
b ( 5) na ygreja que asy fezerdes, asy o íarês, ajmda que nos folgaryamos que fezeseijs mais
casas em ourras partes e nellas alevamtaseijs os altares da emvocacam dos rctavolos que le
vaes; pero ysto leixamos a vos que ho facaes, asy como milhor poderdes e o tempo vos servjr»
e vijrdes que fara maus fruyto no acrecentamento da fee; e tanbem temde respeito ao que
víjrdes com que nysto mais folgara el rey.
Item. Depois de feita esta igreja ou moesteiro, folgaremos que facaes huüa booa casa so
bradada pera el rey, pera elle nella se recolher, dizemdo como nos volla mamdamos fazer pera
elle, asy por ser milhor pera sua saude, como pera mais sua segurança; dizemdo lhe o modo
das casas de ca, e como nos folgaryamos que em tudo vivese como fyel christaão, que he, e a
modo dos christãaos. Ysto porem, do fazimento da casa, sera achando vos na terra boom avia
mento pera yso.
item. A el rey nas cousas da justiça, e asy nas da gueerra, como nas da paz e governo de
seus reynos e senhorios, darees comselho, e lhe lembrares o que vos parece que nellas deve
fazer, dizemdo lhe como nos vos mamdamos que asy o fazesseijs, pello amor e booa vontade que
lhe teemos, e pera tudo se fazer a serviço de Deus, e em iodas elle lhe dar de sy booa conta;
porque, em tudo, o primcipali fundamento ha de ser Noso Senhor servydo, porque, com ysto,
nam se pode errar cfcusa alguüa.
Item. O cmsyno e castiguo da nosa gente, que comvosquo vay hordenada de íicar vos en
comendamos muito, pera que vyva em toda rezam e justiça, e seja asy castigada, que nam aja
rezam de nenhuúa pesoa das da terra se agravar; e, fazemdo allguum o que nam deve, seja
castygado com todo rigor, porque, de asy o fazerdes, seremos muito servido, pera tudo o que
la avês de fazer, asy nas cousas do acrecentamento da fee, como em todas as outras; e tomay
d iso taU cuidado, como de vos confiamos.
Item. Vos mamdamos que, se allguum frade ou clérigo fezer cousa que nam deva, e for
de maao enxenpro, ho nam consemtaaes la mais, e na primeira pasagem, o emviay para estes
reynos, emviamdo nos com elle os autos de suas culpas, e sprevemdo nos por vosa carta a
causa ou causas que tevestes pera o emviar, pera ca ser castigado como for direito; e ysto
compry asy porque o avemos por muyto serviço de Deus e noso.
Item. Os frades que agora vaao comvosquo vyvyram e esraram recolhidos juntamente,
ssobre sy; e darês hordem como tenham seu oratoryo, e terês cuidado que sejam providos de
seu mantimento e do necesario, e de o requerer pera eles a el rey, se elles vollo requererem;
ajmda que nos esperamos que elles vyvam asy beem, e em tall enxempro, que tenhaes com
elies pouco trabalho, e que, por sua booa vida, el rey os proveja de modo, que ssenpre sejam
abastados do necesario; porem, senpre de vos sejam vesytados e requeridos, porque asy ave-
remos muyto prazer que ho facaes; e em sua yda e viagem, vos encomendamos que tenhaes
d elles muito cuidado, pera serem bem agasalhados e tratados. Quamto aos clérigos, estaram
a hordenamça d el rey, e no modo em que elle ordenar que estem, e asy estaram, amoestand os
vos porem amyude que vyvam bem, e onestamente; e aquele que asy nam vyver, premdelo ês,
por vertude do poder que levaes pera yso do vigairo, e o emviarês pera estes reynos na pri
meira pasagem, como atras vollo mandamos.
Item. Vos mamdamos que todos os frades e cleriguos que a vosa chegada la esteverem, e asy
todas outras pesoas, os mandes vtjr nestes navios que levaes, e nom fiquem, soomente os que
agora vaao comvosquo, porque o asy o aveemos por bem, resalvamdo, porem, aqueles que
achardes que bem vivem e que podem aproveitar no ensyno da fee e aqueles com que el rey
folgar, nam semdo, porem, viciosos e de maao enxempro; e estes que asy emviardes, nam ham
de trazer nenhuns escravos nos nosos navjos, posto que os tenham pera os poder trazer; e
aveemdo, porem, outros navios la, podelos ham trazer, e asy quaesquer outras fazemdas suas,
que teverem, de que se recadaram nosos direitos; pero, nom consintyrês que ymportunem a
el rey com lhe pedirem, nem consentires que nisto lhe deem fadiga; e a el rey dizee que nam
receba nojo em se escusar de seus requerimentos, porque huua das principaes cousas por que
la vos emviamos, he esta: pera lhe escusardes o trabalho que somos certeficado que lhe dam
os que de ca vao, com petitorios.
Apêndice
Ite ra . V o s m a m d a m o s q u e, a o s q u e e cm ro ico h a m $U fic a r,n a « eor.»enuAM íxxer aeflím w
r e q u e r im e n t o s a e l r e y , n em lhe d a r jmpornmacara com elle»; porque temo* cvrttficâd& qtíe
m u y s o lt a m e n t e lh e p e d e m o s que de c a v a io , e eile recebe túso c -m rcUt* fsdUg», *
d a a d o s e u m a is d o q u e d e v e nem he rezam* com « u» ymportuoacoes; e, qttertoda el tcy
d ar a tg G a co u sa« n a m co n s e n ta a e s que m ais recebam d «Us, que ate i^ e iia s por qaa Uní <v **
o r d e n a m o s a c a d a h u u m p o r a n n o ; e, a)mda que mais lhe el rey queyr» dar. Sfe* qy* cam
a v e e s d e c o n s e n t y r q u e d iso usem , porque nos asy voilo naacndamov e p&íj The qtteelle o aja
a sy p o r b e e m , p o r q u e n o s o a re m o s a sy por seu descamso, e tna* noso *emç/\
Ite m . A ç e r q u a d o s m an tym en to s para vos, e os qoe comvoaquo h«m àc ficar, <
o s c a v a llo s , r e q u e r e r e s a el re y a ordenan ça d isso ; e poerâs ysio etn t*U comcer'a, qye seoyre
o m a n tim e n to n e c e s a r io ten h aaes c e rto ; e em tall maneira ho concerray coa» «Ue, neste o.
m e c o , q u e p e r a o d ia n te lhe d ees p o u ca ym portunaçam , nem vos receoaea niv5 tr*b*',he; «
d is to te m d e g r a n d e c u y d a d o , aym da que creemos que elle o fa r a ta m bem, que nam e a o rn e *
em n e n h u ü a n e c e s td a d e .
Ite m . L o g u o d ê s q u e ch egard es, com eçares a negociar com e! rey, o mais o&estamente
que v o s p o d e r d e s , o a v ia m e n to da tom ada dos navios qoe levaes e carega que pera elle* ves
ha d e d a r , d iz e m d o lh e c o m o n o s vo s em viam oscom os dúos navios, o sq u zes se osm poderam
e sc u sa r p e ra g a s a lb a d o d a g e e n te e de todas as cousas que levastes, nos quaes, e a sy oos fretes
e m a n tim e n to s e s o ld o s , n o s g asta m o s muito; e que, por yso, oam serya rezam os aavyos se
to rn a re m d e v a z i o ; e q u e, p o sto que noso principal! fundamento seja servir a Noso Senhor* e
a elle f a z e r p r a z e r , c o m o a r e y ch risião a que teemos muyto amor, vo% com o de roso, lhe
le m b r a a e s o q u e e lle n y s to d eve fazer, com o lhe aves senpre de lenbrar o que fer de sua homrra
e de se u s e r v i ç o ; e tra b a lh a re s co m o loguo se comece a eoieroder oa carega dos navyos e <Íq
que e lle p e r a y s o o u v e r de d a r, asy d escravos, como de cobre e marfim; e tudo ysto IbedírtJ
co m o d e v o s o , s s e m lh e d izerd es cousa alguGa denosa parte, trabaihamdo, o maisooestamtnte
que v o s p o d e r d e s , c o m o d e sta s cousas venham o mílhor c a r ia d o s que seja posyvel; e fazê o
asy b em , c o m o de v o s co n fia m o s. E , caregados os navyos, day aviamento a sua partida hasnt-
cem d o s d e m a n tim e n to d a teerra, alem do bizeoito que pera a tom a via ge m levaaes, e asy
d a g o a p e r a o s e s c r a v o s , ecn ta ll m aneira que nam posam os escravos corer rysquo ha mymgoa
d isso , d e s p a c h a n d o d e la o s d ito s navios o mais breve que vos poderdes, e era tail maneira,
que p o s a m v im jr em b o o m tenpo a estes reyoos em booa ora; e principalmente venham bem
c a r e g a d o s d e s c r a v o s e d a s ou tras cousas o que bem se poder fazer, nom se detemdo os na
vio s p o r e lla s , e d iz e m d o lh e que, se em sua terra se resgataram escravos, levareijs mercadoria
pera se r e s g a t a r e m ; m a s p o r saberdes que elle o nom coosemte, a nam levastes; e lembramdo
lhe a g r a m d e d e s p e s a q u e fazem o s com a emviada d estes navios, frades e clérigos, e cousas
que lhe e m v ia m o s ; e q u e j a a n u es de vos foram, e assy a despesa que se ca faz oa maotenca e
ensyno d e s s e u s f ilh o s ; p o r h om d e, elle deve de caregar os ditos navios o mais abascadamente
que ele p o d e r , e d e m a n e ira que nos tenhamos ajnda mais rezam de fazer bem a suas cousas,
co m o fa z e m o s , p o s to q u e v o s saibais çerto que noso jtmento e lembrança nora he d aver pro
veito d e fa z e n d a , s o o m e n te d o acrecentam ento da fee.
Icem. V o s tr a b a lh a r ê s de saber do trauio que ta pode aver, e de que cousas, e de cuja maao
se p ode ra m a v e r ; e s e o s escra vo s e cobre e marfim e as outras mercadorias que na terra ou
ver, se h a m to d a s d a m ã o d el rey, ou se ha hy mercadores; e atee que soma das ditas cousas
se p o d e r á a v e r e tir a r c a d anno, e por que mercadorias; e, se da mão d el rey as ditas merca
dorias se h a m , o q u e d e lla s nos p oderá d a r; e atentar se elle se ofereçe a nos dar cad anno
alguua s o m a , e q u a n ta . Y s t o c o m o de voso; e de todo nos avisay compridamente por vosa
carta , p a r a s a b e r m o s o p r o v e ito que de la se pode tirar.
Item . V o s tr a b a lh a y de saber do laguo que diz que estaa comarquão cwn o reyuo de Ma-
n y c o m g o , s a b e r : q u a m a n h o he, e se he povorado, e de que geotes, e se ha aelle navyos, e
quam to h e d a te r r a d e M a n ico m g o , e com tra que parte; e podemdo a elle eraviar algus homes
dos n o sso s, fa z ê o , e sp reve nos o que niso aebaes.
Item . V o s e m fo r m a y d a g ra m d e z a da terra d ei rey de Maaicomguo, asy de comprijdo
com o de la r g u o , e d o s sen h ores que nelle ha, e do poder de geente que el rey teera, e a maneira
de q ue h e a rm a d a .
Item . Q u e r e is e se n h o re s sam seus comarqaos, e o poder de que saro, e o modo de que
i n.
388 Angola
vivem, e que cremca tem, e os que tem gueerra com el rey de Manycomguo; e asy se tem
guerra huuns com os outros, e o poder de cada huum, e a gramdeza de sua terra, e pera que
partes se escemdem seus senhorios; e de todo que souberdes, nos avisarSs.
Item. Açerqua do acrecentatnento da nosa santa fee catholica, asy em terra d el rey de
Manicomguo, como em toda outra parte, vos trabalhay como se faca fruyto, porque ysto he
o principal fundamento com que Ia vos etnviamos; e do que achaes em e! rey de Manycomgo,
e em sua terra, acerqua da fee, nos avisay muyto no certo, e da esperança que teetndes em se
fazer fruyto*
Item. Como antes vos dizecmos, a el rey de Manicomguo servy nas cousas da paz e da
gueerra, e da governança da teerra, asy como elle vollo ordenar e mandar, poemdo as no cos
tume de ca, lenbrando lhe e acomseíhamdo o que em todas deve fazer; e, no que tocar a
guerra, vos meteres com a gente nosa, que levaes, naqueles feitos de que vos parecer que se
guramente pode sayr, e sem risquo da geente; e em tall maneira o fazee, que se nam posa
segyr jncomveniente alguum a noso serviço; o fazê o com tall recado, como de vos con
fiamos.
Item. Nos sprevê da maneira em que fostes recebido por el rey e pella geente da terra, e
como d elle fostes agasalhado e ficaes tramado, e d abastança dos mantimentos da terra.
Item. Vos trabalharês de mandar pelo rio de Manicomgo açima pesoa ou pesoas que ho
bem vejam, e saibam dar rrecado da grandeza d elle, e se posivel for, chegarem ate o lugar
omde naçe, e veer a g^nte que abita ao lomguo delle, pera de tudo nos emviardes recado.
Item. A el rey direes como nos falíamos ca com Dom Pedro, seu primo; a notificacam
que de sua comversam e cristyndade temos dada ao Satnto Padre e como he rey de grande
poder, e que, por guardar o que os reis e príncipes chrístaaos gardamos, elle deve mandar sua
obidiemcia a Sua Samtídade, como todos os príncipes catholícos o fazemos, como a vigairo de
Jesuu Christo, na suaygreja de Sam Pedro, de Roma, quehecabeca de toda a religiam christaã;
e que lhe rogamos, pois Noso Senhor o alumyou da sua graca, e o trouxe ao comto dos seus
escolheitos, que elle queyra nisto comprijr com o que deve fazer, e emviar com sua obidiencia
ao dito Dom Pedro, seu primo, por estar mais avisado das cousas de ca, e com elle etnvíar
doze pesoas, homeens fidallguos e avisados e de boom recado, e com elles seis servidores, por
que esta companha abastara; e nos os mandaremos d aquy a Roma, com sua obidiencia ao
Santo Padre, e lhe mandaremos dar todo ho necesario pera sua despesa do caminho, que de
nosos reynos ate Roma sam b* (5oo) legoas; os quaaes emviaremos por mar ou por terra,
como milhor e mais a seu prazer posam himjr; e yram asy homrrados, como comvem a em
baixada de tal rey como elle he, a que também muyto ajudara a booa vontade que lhe temos;
e emviaremos com elle Dom Amrrique, seu filho, que, louvores a Noso Senhor, estaa bem en-
synado e doctrynado nas cousas da fee, de quem lhe dares conta, e que sabe ja latim; e que a
oracam da embaixada da dita obidiencia fara em latim ao Santo Padre; e que ambos faram
por elle as estacões de Roma, em que se ganham grandes perdoes; e que d este caminho, com
ajuda de Noso Senhor, esperamos que venha o dito Dom Amrrique, sseu filho, provydo do
Ssanto Padre de perllado principall de seus reynos, porque nos o ssoprycaremos e mandaremos
assy pedir ha Sua Samtidade; por tall que no spritoall seja elle, por ser seu filho, o premetro
e mais principal, e comeco de todos os outros arcebispos e bispos, que nelle ouver; e que es
peramos em Deus que elle o ajude a mayor fruyto do eixalcamento de nosa santa fee; e que
averemos muyto prazer de o dito Dom Pedro tornar neses navios com a dita embaixada, e no
modo que dito he, pera logo se poer em efeyto- E vos trabalhay como asy se faca; e soo-
mente, pera ysto, ha mester asynar elle a carta de cremça pera o Santo Padre, que vos le
vaes, pera a trazer o dito Dom Pedro por elle asynada; porque ha oracam ca a fara Dom Amr
rique, seu filho, como dizemos, conforme ao que nisto costumam fazer os príncipes chrístaaos,
com ho mais que vijrmos que comvem por sua homrra e louvor.
Item. Direes a el rey que nos vos mandamos que soubesseijs d elle se da gente que agora
derradeiramente foy com Gonçalo Rodriguez, recebeo alguum desserviço, e asy d alguuns ou
tros que, d amtes ou depois, La fosem; ou se em sua terra fezeram alguum mal ou dano; e
que lhe rogamos muyto que elle vos queyra dizer todo o que niso pasou, pera aos que ca fo
rem mamdarmos castigar como suas culpas ho merecerem, e lhe mamdarmos satisfazer qual
quer dano ou mal que fezesem; e, se la esteverem alguuns que sejam culpados, procede cottra
P ^ n Jicc
c 0 0i 0 v o s p a r e c e r j u s t i c e asy
€
DOCUMENTO N-° 6
Nos ei Rei mandamos a vos Ruy Leite que ora tendes cargo de tessoureiro de nosa casa
que facaes prestes as coussas seguimtes e as emtregay a Manuel Vaz que emviamos a Mancongo
pera as emtregar a Aluoro Lopez que la esta por nosso feitor e ele as dar ao Rey do dito Mam-
comgo a que as emviamos ./.
Item dez peças de (de) panos — a saber — nove peças de bizcomteses das melhores cores
que ouverdes daver e hGa de Ruam de selo ./.
Item duas peças de seda de cores — a saber — çetym ou damasco ou tefeta ./.
Item dous pares de borzeguis e chapyns e corvilhaas ./.
Item dous pares de camysàs pera sua pesoa dolamda grosa ./.
Item duas dúzias de maiegas com caras / e per este com conheçimemto do dito feitor
feito pelo scpriuao de seu cargo e asynado per ambos em que decrare como as dius coussas
lhe ficam carregadas em rreçepta vos seram levadas em conta e emtamto pera vosa guarda
cobrares conhecimemto do dito Manuel Vaz ./. ate vos ele trazer ho do djto feitor em forma
feito em lixboa a xb dias de setembro Jorge Femamdez o fez de mil e bcxiiij .//. Rey — O ba~
ram .//.
dinheiro
Pera Ruy Leite fazer estas coussas prestes que vosa A, emvia a el Rey de Manicomgo e
as emtregar a Manuel Vaz / pera as ele emtregar a Aluoro Lopez feytor ./.
Ruy Leite se por vemtura nom teuerdes os panos contheudos neste aluara el Rey noso
Senhor a por bem que lhe deis o valor deles em outros panos assy de Ruans lond... de cores
e alguas rrochellas de cores scprito em Lixboa a x dias doutubro de i 5 14 ./.
O Conde de Villa cova ./♦
Recebido Jorge Fernamdef.
Recebeo o dito Manuel Vaz de Ruy Leite os panos e cousas comteudas neste mamdado
dei Rey nosso Senhor — a saber — hua peça de çatym em que ouue sesemta sete couodos
çimquo sesmas davemça de quatrocentos e oytemta reaes couodo / E outra peça de damasco
em que ouue çimquoemta dous couodos terços de quinhentos trinta reaes couodo / E os outros
panos decrarados no dito mamdado pelos nam auer neste terreiro (?) lhe foram avaliados jum-
tamemte em çimquoemta dous mjll oytocemtos sesemte tres reaes z/3 os quaes recebeo o dito
J*'
r
í : r
h ^ -40
Apéndtce 39 í
Manuel V o z nestas mercadorias segujmte* -/. — a saber quorem u fauG c o o o d o s 4/ia co so d e
Ruam do selo davç* de quatrocemtos qtioremta reaes couodo / E dezesete couodc^ 7/S doutro
Ruam davça de trezem tos reaes couodo e mais vynte couodo* %/& de Roam de selo / <f*T«ny*
de trezem tos oytem ia reaes couodo e cimquemia noue couodo» sestna de londres d e rc z n ç a de
duzem tos trimta reaes couodo B cymquoemta noue couodo» t/ia darrocbeela daveroça de
cem to cim quo reaes couodo e dezanoue couodos terça doutra arrochela de oouesaca cimquo
reaes co u od o E asy dous pares de borzegujs e chapins e cerujlhas e quatro camisas dolam d*/
e duas dúzias de malegas as quaes mercadorias e cousas o dito Maooei Vaz Recebeo asy do
dito R uy L e ite pera lhe de todas mamdar conhecimento feyto em forma pelo escriuSo da £ey~ 0
torja de M anjcom go na maneira comteuda neste mandado dei Rey noso Senhor e por oerdade
asynou aqui feito em Hxboa a scii| dias de Oytubró de mi! b*xiuj ./. J o r g e C orrêa — M x n u ei
V a ? . ___ __
Valem os panos que estam com avemça atras — 6xííj C L x reaes i/3 (síc>
(Arquivo N ic io a d da Tdrre do T o o b o , Corpo C f e t o b z c o ,
Parte i.% Maço 16, Documento i6}-
DOCÜMENTO N.® 7
A l u a r a d e d e f e s a q u e e l R e y p a so u p era nam p od e re m c a r r e g u a r n e m tra ze r d e C o m g u o
c o u s a a l g u ü a s e n a m n o s n a v y o s d e i R ey /.
DOCUMENTO N.* 8
Sanõr
D u a s c a r t a s d e V . A . n o s fo r a m d a d a s qu e em d o u s n a v io s de v o s s o tr a to v e e r a m / a m b a s
d e h u t e o r e s u s t a n ç i a / e s o b r e o s fr a n c e s e s qu e a e s te n o sso R ein o e p o r to d e s s o n h o a r r y b a -
r a m / d e q u e a V . A . p e r o u t r a s q u e lh e e s p r ita s te m o s d e m o s la r g a jn fo r m a ç a m / c o m o por
e s ta o u t r a v e 2 f a z e m o s // O s q u a e s t a m t o que a o d ito p o r to c h e g a r a m e d is s o fo m o s c e r t i f y -
ca d o lo g o c o m m u y t a d ilig e n c ia m am d am o s a b a yxo M a n o e ll P a c h e q u o c r y a d o d e V . A . q u e
d e c o r r e g e d o r n o s s e r u j a / q u e c o m a n a a o d e A fo n s o de T o r r e s e h ü c a r a v e ia ã o d e v o s s o t r a t o
c o m t o d o s v o s s o s n a t u r a e e s e n o s s a g e r a te / se tra b a lh a sem to m a r a d it a n a a o e c o m o quer
q u e t u d o c o m e t e r a m / e l l a e s t a u a t a m fo r te d e arm a s e a r te lh a r y a e ty n h a t a n tto a v y s s o s o b r e
s y p o l i a g e m t e s u a q u e e m t e r r a e s t a u a / q u e se n ã o p o d e to m a r a q u a ll v e n d o o s la ç o s que
lh e c a d a d i a a r m a u a m p e r a s e u d a n o / sse fez h a v e lla e sse f o y Leuam do h u u a a l m a d i a c o m
c e r t a g e m t e n o s s a / q u e a n d a u a p o r e s p ia c o m t r a e lle s / e os q u e em te r r a f i c a r a m f o r a m t o
m ados co m a b a r q u a m a n h o s a m e n t e / p o r m u ito m arfim e m a n ilh a s e p a a o o v e r m e lh o q u e lh e
m am dam os m o stra r d iz e m d o q u e tu d o e r a p e ra e lle s / estas c o u s a s s a m t a m n o t o r e a s e p u -
3 ç2 Angola
brycas aos vossos naturaaes que se pressente acharam / que elles diram que pasou asy se a
verdade em cobrir nam queserem /
A sy Snnõr que desta gem te sam m ortos m uitos dos que em terra ficaram e som em te doze
sam uyuos / os quaes muitas vezes m am dam os a b a yxo pera averem de ser entregues aos pil~
lotos dos navios e trato de V . A . / os quaes allguGs leyxaram de leynar p o r leuarem peças di
zendo que tynham catar peças e nam fram cesses / ou tro s nam quyseram esperar p or elles nem
p or nosso rrecado / e sse foram sem hfia cousa nem ou tra / e a esta causa estam te ora neste
R e in o / rrecebem do aquellas merçes e gassalhado que os m all feytores e que V , A- deseruem de
C nos mereçem e vossos naturaes com sseus olhos visto tem //
E tam to que vim os as cartas e o desejo de V . A . os m andam os m eter em prissam e presos
foram leuados abaixo pera serem emtregues ao pilloto que os leue e vam aderem çados a huG
nosso criado que na Ilha de contyneo temos para os ir apressentar a V , A . com o per outros
m uytos dias ha que hordenado tínhamos / se os ditos pillotos os leuar quyseram / os quaes
peT todos ssam dez pessoas com hü que diz que he padre de m yssa / E ficam dous em nosso
Reino — a saber — hu carpim teiro que escussar nam podem os por nam aver outro neste Reino
e pera rrepayrar e cobrjr as Igrejas / ho outro a que dizem seer pilloto / por ser bom gram á
tico pera assentar escolla e etnsynar nossos parentes que do latim tem pryncipio / por nam
perderem o que tem aprendido / e estes dous se V. A . ouuer p o r mais serujço que vaão / que
fazer aquelle fruyto pera que os leyxam os / logo jram //
E sse leyxamos nq^ytas vezes deserem a V , A. e lhe dar conta e rrezam das coussas o
serujço de Deus e do que temos necesydade pera ssua santa fee soustem tar a caussa dysso
Snnõr he o pouco acatam ento que os ditos pillotos a nos e a nossos m andados tem por que
em casso que m uyto lhe mamdamos emcomendar sse nam partam sem nosso rrecado e despa
cho / nam leixam de partir tam to que tem as peças que querer nam esperamdo polias nossas
que muytas vezes ficam em terra //
E muytas vezes se acom tece estarm os b(5 ) bj(6) meses ssem m yssa ne nem sacram ento
porque os oficiaes de V. A . o querem assy / o que pouco servjço de Deus / e grande tornaçam
pera nossas gemtes e dizem e murmuram que V . A. se nam lembra ja de nos / nem da cristan
dade que E li Rey vosso pay que santa gloria aja de tantos anos a esta parte tem conseruada
com ssuas muytas vysytaços provissoes e emparo o que era a todos grande esforço e cons
tância / e a nos grande conssollaçam e ora esta posto nesta balam ça pollo esquecimento que
V . À. mostra que de nos tem / o que os ditos pillotos fazem pareçer j pollo desacatam ento
que em suas partidas e sem nosso rrecado custumam fazer / dizendo que asy lhe he mandado
pollos oficiaes de V. A. / E quando abaixo vaaõ nossas cartas achamos ja partydos / E vaão
dizendo que nollo fezeram saber / e lhe nam quysemos dar despacho / tudo affim de encobrir
suas cullpas / e de nos meterem em odio com V . A, pera que de todo se esqueça de nos / A a
quall pedimos mujto por merçe nam crea mall dizentes nem pesoas que nam tem o cuydado
senam em m ercadejar e vender ssuas cousas m all avidas e danar e corrom per com seu desor
denado trato nosso Reino e Christim dade que nelle he e a de tamtos anos a esta parte / e tam to
tem custado aos nossos anteçessores / tesouro tam precioso e que os rreix e príncipes tam
cristianissimos e catolicos com o V . A. he / se trabalham porem novas gemtees o principiar a
conservar por seruiço de D eu s/e acreçentam ento de ssua santa fee católica a que todos teudos
e obrygados somos o que se mall pode fazer com tamtas m ercadoryas e de tam desvayradas
maneiras / as quaes tem tamto poder nos cim pres e jnoram tes que leyxam de creer em Deus
por crerem nellas o que senam farya quytada a causa / o que he laço do diabo pera comdena-
çam de hüa parte e outra / e daquy Senhor se ajunta huu cobiçosso com hu gollosso / per
honde nossos naturaes vem a furtar os seus e nossos parentes e cristaãos e os mercam e ven
dem por catiuos em tamta maneira Sor he esta corruçam que nossas forças nam podem abastar
ao rremedear sem em nossas gemtes leyxarm os de fazer m uyta e muy gramde execuçam E
assy lazera (sic) o justo pollo pecador //.
E que Snnõr se nam farya se V. A. nos qujsese ajudar e ffauorecer da m aneyra que o E li
Rey vosso pay fazia / com os rremedios espirimaes — a saber — m uytos padres que escussar
nam podemos pera os sacryfiçíos pregaçoeês doutrynas e comfissoes / pera que por todallas
partes de nosso Reino / que he muyto gramde e de muytas gemtes / se espalhassem de dous
em dous per hordenaçam que lhe daríamos com o bispo nosso filho pera que em tall maneira
■**r
r
Apêndice 3 ç 3
5o
3ç4 Angola
DOCUMENTO N.« 9
Senhor
Porque nos ficou por esquecimento nas muytas q Iheespritas temos semdo um to seruyço
de Deus tornamos per esta a esprever //.
Saberá V, A. como o bispo nosso filho he neste Reyno de comtyno muito doemte e mail
desposto/e porque nos nam temos qua outro tam primcipall esteo que nos ajude a soustemtar
esta samta cristymdade que nos Deus por sua mysericordia emuyou/he hua soo camdea amte
nossos olhos / A quall sse se apagasse ficaryamos em trevas / o que Deus em nossos dias nam
mamde / pedymos por mercee A V. A. o queira prouer do bispado deste Reino pois ho tam
bém mereçe / e asy por seer nosso fylho / como por Manuell Varella lhe esprito maes largo
temos / .
E assy lhe pedimos muyto por merçee que aja por bem e seu seruiço pera que tenhamos
quem nos ajudem com o dicto bispo ao seruyço de Deus como terceeiro / ssobrinho e samgue
nosso que he / mamdado a Dom Afomso q ha um tos annos que lia esta ha premder / queira
tomar hordes de clerygo / pera com ellas vyr seruyr a Deus nestes Reinos e fazer aquelle
fruyto pera que apremdeo / o que ssabe / E despois de vymdo nos lhe daremos tamto do
nosso que possa torns^a bispar se o asy V. A. ouuer por seruyço de Deus e sseu / o quall
nam pode maior seer que este que lhe desejamos / asy pera ha homrra como pera a sallua-
çam /E mamdamdolho V. A. nos cremos delle que ho fara segumdo nos dizem que tem aprem-
dydo o bom ymsyno e coussas que ao bom periemçe / com o que damos muy graças e louvores
ao Senhor Deus por asy seer / pois de quamtos nossos sobrynhos e paretmes Amtonio Vieyra
por mamdado dei Rey vosso pay me deu (sic) pera apremderem o que este ssabe / de todos
nom ouuemos outro gosto senam tristeza e nojo com suas mortees e este soo ficou pera nossa
comssolaçam que he gramde com suas novas.
Item Senhor nos temos muyto marfym e cada dia nos vem o quall desejamos mamdar em
vossos navyoos a esses rreynos / pera com elle escusarmos as despesas que V. A. com nossas
coussas faz j e os vossos pillotos nollo nam querem levar ajmda que ho abaixo mamdemos e
assy fica como perdydo / pedymos por merçee A V. A. nos emuye provisam pera que nos rre-
colham nossa fazemda em seus navyos e nolla levem / pois tudo he pera serviço de Deus e de
V. A. aa quall o Senhor Deus dee lomgos dias de vida a seu samto seruyço escprita desta ci
dade de Comgo a xxb dias de agosto / Gonçalo Anes a fez de i 5*i6 /
E l R ey Dom Afonso .
No verso . Ao muyto excellente e muyto poderoso Rey e Senhor Eli Rey dePortugall etc.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Corpo Cronológico»
3
Parte i.*, Maço », Documento 99).
DOCUMENTO N.° 10
L I S T A D O S R E I S D O C O N G O
3ç5
Apêndice
DOCUMENTO N.° t i
Snõr.
No verso :
Jhfis
Ao snor capitão daylha de S. thomé.
Cota:
Carta de Jorge Vaz p* o cap“ da Ilha de S. Thomé em q lhe deo conta, q depoisjla par-
tida do Padre Diogo Gomes lhe vierão noticias q ElRey não queria ouvir pregação, e q e en-
dera se não insinasse doutrina no Ambiro, aqual hía insinar hum Padre ás mulheres por nao
quererem vir á Igr*, e q se não dissesse huã missa q cada dia se costumava rezar e outras
cousas a este resp10, a q o nosso Rey devia acudir com todo o rigor. 11 de Fev° de 1549.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Corpo Cronológico,
Parte x.", Maço 82, Documento 48).
DOCUMENTO N,° 12
Snnora.
... Eell Rej que samta gllorja ajaa com ho gello que sempre teue haumemiar nosa samta ffee
me mamdou a ell Rey de Comgo como V. A. sabee pera ser proujsor he lhe lembrar allgüas
cousas de que elle estaua he estaa bem esquecydo per nosos pecados he damdolhe eu as cartas
dei Rej / he de V. A. mostrou com elias mujto conuêtamemto he tamto que eu qujs emtemder
he fazer 0 que comujnha ha meu offiçyo he descarrego de mjnha comciemçya he saliuação de
sua allmahe dos deseuReyno que foy emtemder e mamdar homes casados de mujto tempo nesta
terra fora de suas molheres he ffazellos yr ffazer vida cõ elias he outros homSs solteiros de muito
mas costumes he exempros/preyudíciaes em esta terra he lembralhe outras cousas de mujtoser-
ujsode Deushe a crjstamdade damgolla pomdolhe muitas coussas diamte quamto serujso de Deus
hera he 0 que ganhaua com Deus he cõ o mumdo he premdy allgus escrauos catyuos que destes
Rejnnos la amdauão fogidos pera hos mamdar a seus senhores tamto que elle veyo que eu
querja leuar este camynho he nao o que elle ate quy tynha leuado com os outros proujsores
que elle qua tynha que fazião o que elle querya he elle hera prellado he majs que prellado co-
mesou llogo comjgo husar do que husou com os outros que ell Rej que ha jaa gllorja tynha
mandados como ffez ao bispo dom Joao Bautista he aos padres da cotnpanhya por que não
pode sofrer quem lhe falle verdade he comesou comjgo ieuamtarme todollos padres que me
não hobedesesem meteu njso hu seu comfesor que ja hera husejro he vyseyro a fazer a taes
: 0 r
i/ .
; /
4) : i ■ ’
j s
i i r ■ • 4^
Apêndice 397
cousas co m o fez a dom João Bautysta / he Amtonio Lujs de Saa / be «sj doas padres
bispo la tem ha tynha por proujsor quamdo eu laa hacheguej que se chama Francisco Barbado
que tynha ffeyto m uitos desscrujços de Deus oaqueile Rejno bê nesta jlha lhe ffoy muito estra*
nhado m am dallo elle laa por proujsor semdo noiorjo ha todos o que elle laa tynha íejto be
estes padres com outros do seu comsriho asemtarão de mandar pedyr ao bispo qoe me tyrtse
de p rou jso r dizcm do que eu dezta que hera proujsor por elt Rej noso SÕr be que el Rey não
poclya por prou jso r he que ho bispo o avia de por he que elle lhe avia de mãdar os crelyguos
he ell R e y não ne a sua meza da comsyemçya he que elle nSo tynha necesjdade de aeahSa
cousa de portugall senão de crelygos he que tyuese ao bispo he não avia mester a ri Rej noso- 9
So r nem a V. A . / nem ao cardiall como lhe eu tynha dito he ordenarão de cnamdar ao bispo
dizemdo m ujtos aleiues he fallsos testemunhos asyell Rej como hos padres do bispo / he por
que eu tyn ha m am dado allgus cullpados de cullpas mujto ffeas basy crelygos como leygos lhos
m am dou el Rej pedjr he elles lhos mamdou he lhe mamdou que me premde&c xquj pot qJq í
hyr estrouar o seu embaixador que la macnda / he me premdeo aquj sem causa he cullpas oe-
nhuas he m e m eteo em batxo atntre escrauos mallffeitores avetndo casa em syma hotnde estão
homes de bem não olham do que hera capellão dei Rej noso sor he mamdado por elle / he não
me quis d ay tyra r sem lhe dar ffiamsa de qujnhemtos cruzados ja roe não hjr desta ylha he
jmdome delia os perqua pera ella / he a sjmcoemta dias que me solitou sem me querer flallar
a fejto nem d ar cullpas por que me premdeo / he serio que bem mostra elle o que diz el Rej
de G om go pubrjquam em te que ho seu dinheiro lhe hade acabar quamt^eile quer bem Ibe jret
m ostrado o bispo he asy mamdou ltcemça a dous homes casados pera estarem Ha majs tempo
com tra vom tade de suas molheres he prejudicjaes em aquelle Rejno / que be ba Fero Feraan-
dez / he A m b ro sjo d’Azauedo que vay por embaixador lhe dezião pubricamemte que mamdase
dadíuas a p o rtu gall que tudo teryão la vaj com elfas eu disse a el Rej que suas obras podião
laa h ap ro u ejtar m as dadyuas não com V. A. nem com os da meza de comsjemçta pera quem
as elle m am da que com suas obras he cousas que lhe e! Rej mamd&ua lembrar seya sua em
baixada tnuj bem rrecebida he não com dadyuas euescreua aocardeall mais largamemte/peso
a V . A . pelas chagas de cristo noso rremdemtor que mamde hyr roynhas cullpas diaime V . A .
ou de quem for seu serujso he mamde ao capitão desta Jlha que se emfforme das cousas do
bispo que nelta faz he em Com go he asy de mjm he dos seus proujsores he mamde que todol-
los autos que eu nom ear que me elle tomou lhe mamdey he sabera se as cousas que eu fiz em
\
Com go são m eresedores de merçes se de emjurias e justiças / noso Sor acrecemte os dias e
estado de V . A . p era com seruação he paz de seus Rejnos escrita em São Tom e a xbj de outu
bro de 558 annos .//• \
i
N o s o b r e s c r ito : P e ra ha Raynha nosa Snnõra .//. i «
i
(Â rq o iro Naciooal da T òrra do T om bo, C orpo C ron ológico #
Farte i . a, Maço io3, Docamento 1 1 ).
\
i
DOCUMENTO N.° v 3
R E G IM E N T O DADO POR E1REI D. MANUEL
A M AN U EL PACH ECO E A BALTHASAR DE CASTRO
Q U E F O R A M DESCOBRIR O REINO DE ANGOLA
N os E l R ey fazem o s saber a vos Manuell Pachequo, escudeiro ffidalguo de nosa casa, e a
vos B eltesa r de C r a s to noso criad o , que hora emviamos por capitam e scripvam do navjo do
descobrim ento do regn o d A m g o la tee o Cabo de Boa Esperamça, que esta he a m aneyra em
que avem o s p o r bem que n o s syrvaees na dita vjajem.
Item . T a m to que h o ra fo rd es ter a Lixboa, requereres o feitor e oficiaees que v o s dem as
cousas n e cesa ria s p era leva rd es, saber: os pertences e mercadarias e ornamemtos\pera çelcbrar
m isa, segu nd o he co n th eu d o no alvara que vos mamdamos das ditas cousas dar, e asy quaees-
i
3ç8 Angola
q u e r o u t r a s m a ,s q u e a o f e i t o r e o f i ç i a e s c o m p a r e ç e r d A f f o n s o d e T o r r e s n e ç e s a r ia s p a r e c e -
r e m p e r a o d it o d e s c o b r y m e t m o , as q u a e e s v o s d it o M a n u e l P a c h e q u o le v a r e s s o b r e v o s , e c a r-
r e g u a r v o l as h a e m r e c e y t a B e lt e s a r d e C r a s t o e m h u u m l i v r o q u e p e r a js o ffa r a , e a s y m e s m o
e m d esp esa c a m d o a s d e rd e s o u d e s p e m d c rd e s s e g u m d o o d e v e s fa z e r .
Item. Noso primçipall fumdamento he mamdarmos vos nesta viajem pera verdes se podes
ffazer com el rey d Acngola que se ffaça christão, e asy a jemte de sua terra, como he el rey
de Comguo, porque somos emformado que ho deseja, e que vieram ja seus embaixadores a
Comguo decraramdo que ho desejava ser; pelo quall requereres, pela provisam nosa que le-
C vaees, o feitor e ofiçiaes nosos da jlha de Sam Thome, que vos ordenem e dem huum creriguo
dos que la ouver, que pera jso pertemçemte seja, que vaa comvosco pera fazer christão o dito
rey e os majs que poder, os quaes nosos ofiçiaees se comçertaram com ele o milhor que po
derem, e segumdo rezam ffor, açerqua do partido que lhe daremos pela viajem ou pelo tempo
que la estever; e aquelo que por eles for asemtado lhe mamdaremos paguar e sera com voso
pareçer; e se hy estever Ruy d Aguiar que esteve ja por viguayro em Comguo, e estever em
desposyçam pera hyr na dita jda, e pera ele pertemcymte o achardes, folguariamos que com
ele vos comçertases, porque somos enformados que servyra no dito carguo bem por ter pra
tica ne^as partes. E asy mesmo requereres o feitor e offiçíaees da Casa da Mina, que se com*-
certem com dous homens que saiban bem ler e screpver pera levardes e averem d ajudar ao
dito creriguo nas cousas que forem necysarias a conversam do dito rey e dos seus, e ajudarem
as misas e a emsynar^a ller e screpver, $e for necesaryo; e faram avemça com eles do que
averam pelo tempo que laa esteverem servimdo na sobredita maneira.
Item. Outrosy somos enformado que no dito regno d Amgola á prata, porque se vyo per
huuas manylhas que vyeratn a nos d el rey de Com go: irabalharês por saber parte d omde he
a dita prata, e asy de quaeesquer outros metaaes, e se hos ha e acham em sua terra ou nou
tras, e quam lotnge sam, e se sam estimados, e se levam trabalho em os tirar, ffazemdo por nos
trazer amostra de todos, e quallquer outro avjso que comprir, asy das cousas e mercadaryas
que la haa, que caa sam estimadas, e cam defeculltosas sam d aver, e asy mesmo quaes das
nosas sam la prezadas e em que comtya e preço as tem; e esto saberes asy no dito regno d
Amguola como em todolos portos e terras por omde fordes, asemtamdo os em seprito por vos
nam esqueçerem.
Item. Tamto que em boa ora partyrdes de Lixboa, farês vosa djreita vya caminho da jlha
de Sam Tome. E, portados laa, requereres ao noso feitor e ofyçiaes que loguo com rnujta dili-
gemçya vos dee huum barquo, ou o matnde ffazer da maneira que a eles e a vos bem pareçer
e for neçesaryo pera levardes pera emtrada dos ryos e esteiros omde o navyo nam poder em-
trar, ho quall vos aparelharam a custa dotrato do que for neçesaryo pera a vjajem. E queremos
que, emquamto hy esteverdes, o dito noso feitor e ofiçiaes vos ordenem e dem de comer a jemte
do navyo dos mamtymemtos da terra, por que se nam guastem os que levardes pera a vyajem
asy d ida como de vymda.
Item. Tamto que da dita jlha de Sam Tome fordes despachados, farês vosa via ao ryo de
Sambaçias que esta em caminho, e farês pelo descobrir porque tee aguora nam he descuberto;
e, jmda que hy achees cargua, nam tomarês majs que has amostras e enformaçam de todo por
nam perderdes viajem; e, se poderdes tomar huua lyngoa pera trazerdes comvosco, ysto soo
abastara, trabalhamdo por nom (fazerdes escamdalo e ficarem domésticos e comtemtes pera o
diamte, trazemdo de todo o que poderdes e vos necesaryo pareçer amostras.
Item. D hy yrês demamdar o ryo d Amguola. E, como nele fiordes e ameorardes, traba
lhares por averdes alguuas arrafens: e, camdo nam, a milhor seguramça que poderdes per aver
d hyr Beltesar de Crasto a terra com a limguoa, ou como vos milhor pareçer, a ffazer saber
ao dito rey de vosa cheguada e yda a ele com noso recado.
Item. Depoys que ho dito recado mamdardes, nam sairês majs em terra, nem leixarês sajr
jemte nenhuüa, atee o dito Beltesar de Crasto e os que la fforem tornarem e vos darem recado
e avyso do que la pasarem: e, em todo este tempo que pelo dito recado esperardes, toda a
jemte da terra que a bordo do dito navyo vier farês boa companhya, e nam comsymtirês que
lhe façam nenhuum agravo, nem menos resguatarês cousa alguüa, nem comsymtirês resguatar a
nenhuüa pesoa tee sua vjmda.
Item. Tamto que o dito Beltesar de Crasto tornar, ou vos emviar recado do dito rey que
Apêndice 399
«* »
f o lg u a c o m v o s a y d a , se p o r lo m g e cam inho lhe fo r tra ba lho so to m a r o m d e e s tú * c r d e s 0 i
a fir m a r p e r s u a c a r t a e p e lo s que tom arem com ela qoe ha p o r bem que v o s r a d t t r e r c o m
e le d it o r e y v o s ffa r ê s p restes, e levarês com vosco o çaserdote que levarces, e a sy o d ito B e i» *
t e s a r d e C r a s t o , se a v o s to rn a r, e asy outras pescas que vo s bem p a r e ç e r com a/gu 0a couam
d o p r e s e m t e q u e le v a r e e s pera am ostra, deyxando no dito n avyo o piloro ou quem vo* p a r e ç e r
q u e s e ja p e s o a p e r a d a r d ele co m ia com m uyto recado : e fEcam do todo d essa m ancyra, v o s
y r ê s a o d it o re y .
Ite m . T a m t o q u e ch eg a rd es ao luguar omde o dito rey es tever, lhe dirês de nos» p arte que
n o s ffo m o s e n fo r m a d o p er m u ytas vezes que ele mandou seus em baixadores a d rey de C o ra -
g u a , d iz e m d o q u e lh e m an dase laa omens bramquos e sa cerd o tes porque se qoena tornar
c h r i s t a o ; e q u e , s a b jd o p o r n o s seu bom desejo por acreçem tam em to de oosa saxnta fee, vo s
e m v ia m o s a e le d a r lh e n o sa am jzade, poys ffoy tara bem acom selhado que qujs vy r em coohe-
çio n em to d a v e r d a d e , p e lo qual! atem de receber salvaçana nalim a ele e todos os que ch m ta ã s
se ffe z e r e m , q u e h e a prim cipaU cousa por que neste m urado o s homeens devem trabalhar
se m p re , e le e o s se u s reçeb e ra tn de nos merces e ocnrras, c o m o rezam seja, e asy mesmo bom i
t r a to e a m iz a d e d o s n o so s.
Ite m . D e p o y s q u e corn ele a sy ffallardes e virdes que esta desposto pera reçeber aguoa de
b a u ty s m o , m a m d a r ê s a o n a v y o pelas cousas que lhe emviamos, as quaes lh e a p r e s e m ta r ê s c o m
a s m ü h o r e s p a la v r a s d a m o r e am izade que poderdes, e lh ed a rês com ta d as m erces que sempre
fe z e m o s a e l r e y d e C o m g u o p o r ser bom christão, e cam om rrado e a v y t a j a á o he eratre os
o u tr o s p o r y s o , e a s y p o r ser grannde noso servjdor e por dar todo avy^ n em to a nosos res-
g u a t e s ; e q u e , fa z e m d ò o ele asy sempre, seremos lembrado d ele pera Ibe fazer bem e m erçe
c o m o a c u s t u m a m o s ffa2er aqueles que se cheguam e dsra a nosa amizade.
Item . S e c a s o fo r que se narn queira tornar christao, lhe dirês que nos nam vos em viam os
la a p o r o t r o re sp e ito , e que vo s dee Hcenca pera vos tornardes, dizemdo lhe com o he m al!
a c o m s e lh a d o , e q u e n a m fa z bem em nam querer comprir o que por sua embaixada a el rey de
C o m g u o m a m d o u n o te fic a r que tam to desejava, vemdo se por estas ou outras pallavras o podes
m o v e r a se ffa z e r c h r is t a o : e o creriguo que levaes asy vol ajudaraa ffazer e dizer per sua
p arte- E c a m d o d e to d o v y rd e s que esta pera nam ser christSo, vos espidirês o m ilhor que
p o d e rd e s, v e m d o e p e rg u m ta m d o pelas cousas que ha na terra de rieíros e m etaees,e quallquer
r e s g u a te ; e, se h y o u v e r d e s d a çerta r allguum resguate, seera bom com çertardes vo s de vol o le
va rem a b o r d a d o n a v y o . E pero nam se queremdo o dito rey fazer christSo, ou nam acbam do
«t
h y p r a ta o u o u t r o m e ta ll, o u cou sa de que se posa receber proveyto, farês v o sa vy a caminho
d o c a b o d e B o a K s p e r a m ç a p ela co sta ao lomguo, descobrim lo e sabemdo o que nas ditas
terras h a : e a s y m e sm o o ffarês, posto que se o dito rey faça cbrisião, parecem do vos que he
bem e n o s o s e r v jç o , p o rq u e de feyto o he saber se o que ha em toda a dita costa.
,.—
hw
Item . O m d e q u e r que achard es que ha ouro, prata, ou quoeesquer outros metaees, farês
p o r s a b e r o n a ç y m e m to d eles e a vallya que tem, e as mercadaryas por que hos dara; e asy
d o m a r fy m q u e s o m a se p o d e rá tirar de cada hutía d essas partes, e se ho ha na mesma terra
o u o m d e , e p o r q u e h o dam . E todo porês em memoryall: e, quamto a cousa valler m ajs e
c a a fo r m a js e s ty rn a d a , ta m to m enos lhe dares a emtemder que ha estymaees pela nam em ca-
reçerem .
Item . C a r r e g u a m d o v o s o d ito rey d Arnguola o navyo d escravos e marfym ou raeiaees,
'W
p a re çe n o s q u e n a m d e v e e s p a sa r p o r diamte, e que deveys de vos tom ar com a dita cargua
d a r n o s c o m ta d o q u e a c h a e s. E se o d ito navyo poder trazer majs scpravos daquelles que ho
d ito r e y n o s e m v ia r, a te e a jlh a trarês aqueles que majs couberem no navyo: e esto sera cam do
nam o u v e r m e r c a d a r y a n o s a pera resguatar por eles, e d eles nos paguaram o m eyo o s que
h os tro u x e re m , o q u a ll se p a g u a ra atee a jlha.
Item . S e , d e p o y s q u e se o r e y tornar christão, folguar que la fique o creriguo pera dizer
m isa e a s y o s d o u s o m e e n s b ra m q u o s que vam pera emsynar a ler, leixal os eys la e m ajs
â lg u ü a o u tr a p e s o a o u c o u s a qu e vo s requeira que posais boamemte escusar: e hy leixarês
c o m ele to d a lia s c o u s a s d ig r e ja : e de todo ffarês fazer asemto pelo dito Beltezar de C ra sto .
E se o d ito r e y q u e s e r m a m d a r c a a huum filho ou sobrinho, d ydade pera caa poder apremder
e to m a r o s c u s tu m e s t r a i o ees, e a sy ou tros dous ou tres filhos d eses omens prím cipaees que
na terra o u v e r . E , y s t o fe c to , v o s vires com vosa armacam a dita jlha de Sam T o m e e , om de
4oo Angola
cm treguarSs ioda arm açam ao noso ffeitor « peram d o os ofRçyaees no navyo sem sairdes
nem outrem d elle tee os oficyaes serem presemtes: e asy lhe emtreguarês per comto e peso
os m e u e s e m arfym que trouxerdes. E tam to que reverdes posto o navyo a momte, se lhe
fo r neçesaryo, e repairado do que lhe cum prir pera nele virdes ao regno, tomares o recolher
os ditos metaes e m arfym e m ajs a cargua dos scpravos que vos o feitor e ofiçiaes derem, posto
que nam sejam os propios que resguatastes. E vos virês vya do regno entreguar a dita arma-
çam toda per jm teiro com os ditos metaees e marfym a nossa Casa da Myna: e d hy vos vires
a nos dar nos com ta do que fezestes.
liem . Se em jm do caminho do cabo de Boa Esperamça, desafyuzados do dito rey d Am*
guola se Ía2er chrístão, achardes outro que ho queira ser, e vos pareçer que he servjço de Deus
e n oso co m ven er se a fee, e que se seguira d hy fruyto, trabalhares pelo fazer christão, e lhe
dardes os om atnem tos que levaees d igreja, e leixarês hy o creriguo; c carreguarês o navyo
d espravos e m arfym, e metaees, se os ouver, pella sobredita maneira": e esto depoys que te-
verdes corrido o cabo de Boa Esperamça. E ao rey que tall cargua vos der, e virdes que he
noso serviço asemtardes com ele nosa amjzade, dar lh es o presemte, e emderemçarês a ele a
mesajem que levaees pera o rey d Am gola mendamdo a naquela parte que for neçesaria.
Item. Acomtecemdo se que nam posaees descobrir nemhuum resguate de que posamos
aver proveito, e temdo corrida toda a costa tee o cabo de Boa Esperamça por nam jrdes e
virdes de vazyo, vos tornarês ao regno de Com guo, e hy lhe dirês o que vos bem parcçer, e
lhe dares o presemte^ue levaees, e farês por u azer a milhor cargua que poderdes: e vos virês
com ela a dita jlha de Sam Tom e, e d hy ao regno na meneira que dito he; e, nam vos damdo
cargua em abastamca, tomares peças (?) de partes ao meio, segumdo custume, e vos vires a
dita jlha resguatamdo por peças (?» e marfym as mercadarias que vos sobejarem.
liam . Se na dita viajem soçeder cousa per que vos pareça bem e noso servjço nam cum
prirdes este regymento nalguua parte, chamares toda a companha do navyo, presemte voso
scprivam, e por lh ês em pratyqua o caso que vos move a determinardes e fazerdes a tall cousa,
de que dares com ta e juramemto que cada huum digua seu pareçer, E o dito Beltesar de Crasto
scprevera o que cada huum diser e lhe pareçer majs noso servjço: e, o que asy amtre todos
pelos majs ffor acordado que se faca, yso farês, fazemdo se de todo asemto. E, acpmteçemdo
de serdes em dous pareçeres tamtos a huüa bamda como a outra, em tall caso far se ha aquele
em que vos dito capitam ffordes: e, se nele for Beltesar de Crasto, pareçe nos que emtam sera
ese o que for majs noso servjço, por serdes ambos nele e serdes nosos criados e pesoas que de
rezam deves d olhar pelo que cumpre a noso servjço; e, semdo o dito ecprivam da outra parte,
todavya se tomara pareçer e asemto otnde vos dito capitam ffordes, como dito he.
Item. Avemos por bem que ho ffeitor e ofiçiaees da Casa da Mina, com pareçer d Afonso
de T o rre s, vos ordenem o que aveys d aver de vosos ordenados, fazemdo comta que has peças
que vos ordenarem aveys de trazer no dito navyo ao regno; e que, se caso ffor que ho navjo,
em que asy vierdes da jlha pera caa, aja de trazer pera ffrete, que vos tragua asy mesmo al-
guüas vosas se as teverdes avydas de bom tytolo asy de frete, as quaees peças vosas, asy boa-
memte avidas como dito he, vos traram no dito navjo a frete, posto que outras nemhuüas nam
aja de trazer.
Fecto em Evora a xbj(i6)dias de Fevereiro. Amtonio Afonso o fez, anno de jb°xx ( i 520 ).
E eu Afonso Mexia o fyz scprever.
P osto que vos aquy díguamos que comeces de ffazer o dito descobrimemto d Amguola
pera o cabo, jrês loguo direito ao cabo da Boa Esperamça, e d elo pela costa em diamte tee
A m gola virês ffazemdo o dito descobrimemto na sobredita maneira.
E se caso ffor que Noso Senhor vos dê alguüa boa vemtura de achardes alguuas boas mer-
cad aryas ou metaees, desacustumad os do que de Ia se tee ora trazem, vos trares tee tres caixas
cheas, e o scprivam e piloto e mestre duas cada huum, e os marinheiros cada huum sua e
amtre dous grom etes huüa sem d elas paguardes huuns nem outros nemhuum djreito.
E acham do ouro ou prata vos dito capitam poderes trazer tamto d ele que valha trezemtos
cruzados, e o scprivam , piloto e mestre, tee cemto e çimquoemta cada huum, sem d eles pa
guardes cousa alguüa.
Item. Nos avemos por bem que pasêes ho cabo de Boa Esperamça, e emtrês em hüa amgra
que se chama de Sam Bras, e ffaçaees todo ho posyvell pela descobrir, e saber e emquerir
Apêndice 401
neUa o q ue h avees de fFazcr nestas outras partes. E, y « o sabydo, vo * to m e r & s pela CQSfa
a tr a s ffa z e r v o s o d e sco b ritnemto na maneira qoe hatra* be comteudo. E te nesta atsgrs» o »
n o u tr a s q u o a e e sq u e r partes, que pareçer bem a vos dito ca pi t io e ic p r itim e eom p««íia S9JT
n a te r r a , e íTicar nella, vos dito Balltesar de Casto estrevemdo vos nyso, praz oos de fficard es
h y se c o m p r ir e p a reçer nos o serviço pera descobrirdes; e o tempo que mso amdardes nos
p r a z de v o s m an d a r p agu ar a rezam do que levaees de voso ordenado por armo, e alem d iso
v o s Afazerm os aq u ella m erçe que rezam seja. E esta amgra nam he ba de Sam Br as* s e n lo he
hOa p r im e ira q ue e sta aquém d aguoada de SaJMaaha com tra ha Jmdia.
Item . S e p a re çe r bem a o ffeitor e officiaes de nosa Casa d s Mina e Afom so de T o res ird es
lo g u o de E ix b o a dem andar o cabo de Boa Esperamça sem ;r a jlha de Sam Tom e, a*y se ffaça
p o rq u e o le y x a m o s a elies que tomem emformaçam d iso e vejam ho que sera m jihor e maia
n o so s e r v iç o : e, ach am d o que sera asy bem que nom vades a jlha, hy vos provejam de todo
h o q u e v o s n c ç e s a rio ffor, e asy de alguüa artelharía e dos m antim entos neçesaríos ba viagem.
E este re g im e n to e s ia r a em poder de vos, dito capitão: e darêes o trelado ao scprivam.
{Arquivo N id o o t) da Tôrre do Tombo, U r r o de L r t» r /trgim rm oa
de IX Manuel. 9. 1(4 ▼. Transcrito etn AJgiots D oeu m m lot do
Archivo Nacional da T o rre d o Tom bo d erreo doa •oregoeáex
< conqniiUt*portuguesa», foL«36 a i i i ) .
»
DOCUMENTO N.° 14
E u o Ifam te etc. faço saber a vos Dioguo do SoueraU meu moço de cam ara que por com -
jfiar d e v o s que em to d as as cousas em que vos emearregar me auejs de serujr bem e fyeli-
raem te c o m o a m eu seru jço com prir hey por bem de vos emearegar do ofícyo descrioam desta
v ia g e m e a rm a ç a m que ora nouamemte mamdo fazer ao meu Ryo d e lo n g a que está no R eyno
de B e m g e lla so b re o quall quero que uzeís deste rregimento como se abaixo contem /.
Item eu m e tenh o com certado com Ararique Paez e lhe dou licemça que posa h y r a o dy to
R y o he t r a ta r n e lle co m hos negros e moradores da terra com aqelas m ercadaryas (siej com
que tr a ta m os a rm a d o re s que tem arremdado a el Rey meu Senhor ho seu trato de Gtne e que
nam tr a te C o m fe rro s do R eyno nem com outras cousas defesas e que nam faça aos ditos mo
rad o re s nen hü a fo r ç a nem cousa de que com rrezam posam rreceber escam dallo som em ie com
m u y ta p a z e a m iz a d e trate com elies o quall trato lhe tenho dado per hum ano que bade co
m e ç a r d o d y a que h o rresgate for asemtado em dtamte e na armaçam que h o ra pera ho dito
R y o ele d y ro A n riq u e P a e z v a y fazer pelo contrato que amtre nos he feito eu sam obrigado a
p o r as d u a s p a rte s de to d o ho gasto que se nela fizer e el!e dyto Amrique Paez a huS e p ela
d ita m a n e y r a a v e m o s de fiq ar no proueyto e rresgate delia per a que ele saya com hum terço
e eu co ra o s d o u s ./.
Item eu ten h o m an d a d o a Rui Çalem a que em Lixboa com ele dyto Anrique Paez m an-
dase c o n p r a r h u u n a u y o aparelhado e huu bergantym he as mercadoryas neçeçaryas pera a
dita v y a g e m e q u e d o que as ditas cousas custasem ele pagase por mym as duas partes e ele
d ito A n riq u e P a e z h o te r ç o e que de todas as ditas compras se fizese hum lyuro em que se
d e cra ra se h o p r e ç o d e lia s e fazerem por mym as ditas duas partes e por ele a huã e p or que
ho dito n a u y o e c o u s a s sam com pradas fareys logo hum liuro pera nele asentardes todas as
cousas da d ita v y a g e m no co m e ç o do qual asemtareys todas as ditas compras que sam feytas
que ty ra re is d o d ito ly u r o p era se saber o que já he despeso e nele também asentareys todas
as e n x a rc y a s e a p a r e lh o s d o dito nauyo com todas as decraraçofs neçeçaryas./.
Ite m eu ten h o o rd e n a d o que Fernam Daruelos por ser homem cryado em G yne e saber
bem a te r r a h e tra to d e lia fè y to rize todos os rresgates que se no dito rryo fizerem e no dito
an o s e ja d e lle s fe y to r e ca p ita m da vyagem e por qamto hade fazer ho dito trato e rresgate
co m as d ita s m e r c a d o r y a s em tregarlh eys todas as que (que) forem compradas e ao diam te fos
5i
•A
4O2 Angola
neçeçaryo compraremse pera o dito rresgate e lhes caregay no dyio
voso lyuro em rreceta no
ascmio das quaes ele dyto Fernatn Darvelos asynara ./, 3
item pera vos e pera a germe do dito nauyo eu e ele dito Amrique Paez avemos de mamdar
dar ho raantymemto neçeçaryo ate a jlha de Sam Tome ho quall mandarey a Ruy Çalema
que mamde comprar comforme a mynha obngaçam na compra do quall vos sereys presemte
e o caregareys em rreceyta a ele dito Fernam Daruellos ou ha pesoa que ho dyto mantymento
ouver de r receber ./.
Item na jlha de Sam Tome homde aveis destar algüs dias emqamto se comçenar o bar-
gamtym que aveis de leuar asemtareys no dito voso lyuro ho piloto e mestre e germe do nauyo
que na dita viagem ouverem dyr com decraraçam dos solldos e partydos per que forem por
qamto dahy hos ham de começar de vemçer os quaes se lhe daram pello esiyllo da terra e
comformes aos que dam hos armadores do trato e rryos de Giné e as ditas pesoas hiram no
dtcto lyuro entitulladas per synos asemtos dos quaes fiqara lugar pera se asemtar os paga
mentos que ouuerem e nelies poreys decraraçam do dya em que ham de começar de vemçer
os ditos solldos e ysso mesmo asemtareys no dyto lyuro ho vosso hordenado que aveis de
leuar que ha de ser quatro peças por ano e hua de licemça pera vosso mantymento e que po-
saes rresgatar de vosas mercadoryas seys peças pagamdo a todo ho momte da dyta armaçatn
0$ direitos acustuma^ps delias ./.
Item tamto que ho dyto bargamtym for feito e a dyta geme do nauyo asemtada partyreys
logo rrota abatyda pero ho dyto rryo Dalonga homde como chegardes mamdareys ao Rey da
terra a dadyua que lhe tnamdo e se virdes ser neçeçareo darse algua cousa ha algus negros
primcypaes da terra pera os induzirdes a quererem os rresgates que hys fazer darselha o que
vos bem parecer e asy aos ditos Amrtque Paez e Fernam d’Aruelos he trabalhareys quamto
posyuel for pelo mylhor modo e maneyra que puder ser de asemtar ho dyto rresgate a b5 os
preços dizemdo ao Rey e Senhores da terra de mynha parte as palauras que comprirem com
esperamças de lhe fazer sempre muytas merces
Item tamto que ho dyto rresgate asy for asemtado trabalhareys de fazerdes logo vosa ar-
maçam pera a quall leuareys de qua hum liuro que somente seruyra a ella e as mays que se
ham de fazer no dyto ano no qual asemtareys em tytollo pera sy todas as peças que se rresga-
tarem decraramdo em seus asemtos as mercadoryas que se per ellas deram pera serem leuadas
em comta ao dyto feitor sobre quem caregam e nos asemtos das dytas peças se fara decra-
ração de suas herdades e desposyçoes e porque segumdo tenho emformaçao na dyta terra ha
houro e prata se ho ouver e do comto e medyda dos majs metaes que se rresgatarem e pera
os dytos metaes de pezo leuareys a balamça e pezos neçeçaryos he as ditas peças que se asy
rresgatarem seram logo marqadas de huã marqa que pera ello vos mamdarey dar e das que
morerem despojs de asemtadas no dyto lyuro fareys decraraçaõ nelle per verbas que poreys
em seus asemtos de como asy moreram pera se saber e estarem a boa rrecadaçam as que fi-
qarem ./.
Item tanto que a dita armaçao for feyta e vyrdes que abasta pera se caregar ho dito navyo
hordenareis como se lloguo venha com ella ha jlha de Sam Tome homde se ham de íazer has
partilhas seguymtes segumdo esta asemtado per noso contrato — a saber — que ho dito FeraaÔ
Daruellos por feytorizar o dito rresgate aja de todo ho monte das peças que viuas forem ha
dita ilha de Sam Tome de dez hüa segundo custume e do ouro e prata de vinte, hüa e dos
outros metaes de dez hua e depois de asy ser paguo se pagaraõ de todo o monte o voso hor
denado e o do pylioto e mestre e gemte do dito nauyo do que aueis dauver por anno solido
llyure segumdo o que duerdes vemcido e tyradas asy as ditas despesas todas has mais peças
que fyquarem se hamde vemder na dita jlha mystyguamemte (i) e do dinheiro que se delias
(1) C. de Figueiredo no Novo Dicionário dx Lingua Portuguesa, 4.* ed., regista: Mistiguidade, f. T. da índia Port.
Comraonhão; promiscuidade. (De misto = misto).
. .- r /
Apêndice 4 o3
fizer h a d e leuar elle Jito Amrique Paez huG terço e c o o * doo* do quall diro « u terço me bm
d ep o is de p agar o quim io c vymtena que nelle rnoour e dos diios metaes ba também de U « » r
— a sab er — douro e prata de cinco bua e dos may* metaes de quatro hão sem dei?tf ser obry~
guado a p agar m ais direito alguu e jsio se fará ero todas as Tysgcr.s que ho dito nauyo âaer
que se rão as que comprarem pera se venderem as peças e metaes que se asym rresgatarem
Icem heu hey p er meu seruyço e compre a este negocio posto que honauyo renha ha d»ta
jlh a de S am T o m e com as caregacoes que se fizerem que fiqueis sempre no dito rryo com b ò
d ito fe y to r que h a dc fiquar negoceamdo bos ditos rresgates pera os asemtardes no roso lyuro
' d elles co m o d ito he e por que he neçeçaryo na dita jlha de Sam Tom e ter huü feitor que por
m inha p a rte seja preserate has ditas partilhas e feytorizy esie negocia ea ordeno per agora
em quam to h o dito rresgate naõ esta aserntado que Ballta&ar d*Almeyda que foy feytor dos
tra tad o re s o faça que na dita jlha esta por ser pesoa de que confyo que ho fera como a meu
se ru y ço co m p re e que em sua maõ se deposyte todo o dinheiro e noetaes que me couber «ver
das ditas p artylh as ao quall sobre iso escreuo e quamdo ryutr empedymemto pera me nyso í
n aõ p oder seru yr entaõ ho fara ho capttaõ ou ouuydor da dita jlha a que também ho dito ne~ i
g o cto p er m inhas cartas emcomeraJo /
I
Item p era que ho dito Balltazar d’AUmeyda posa saber as peças e metaes que lhe vao nas
vyagen s do dito nauyo em cada hüa que fyzer lhe mandareis per vosa certidão cerada e asei-
lacla h o num ero das dítas peças que vaõ e da marqua que vaõ demarqt^das e asy cs pesos do
o u ro e p rata se se rresgatar e a comta e medyda dos mais metaes se hos ouuer com todailas
m ais d e cra ra ço e s necesaryas e os pagamemtos dos ditos homens do mar e do dito roso borde-
nado e das partylhas que amtre mym e os ditos Amrique Paez e Feraaõ DarueHos hadaver asy
do dinheiro das ditas peças como dos metaes como dito he e do preço per que se vemderem
h as taes peças e de com o a dita roynhaa parte fiqua ecnlregue a elle dito Balltasar d’AIlmeyda
h o u a pesoa que ha rreceber se fara tudo peramte huu tabaliam pubryco que sera esprívaô
deste n eg o cio e o asemtara em seu lHuro com todalas decraracões necesaryas e de tudo pasara
sua ce rtid ã o pubryqua pera vos ser leuada e dada pera saberdes como se vemdeo a dita ar-
m a ça o e se p a g a ra ó os ditos hordenados e pordes verbas nos asemtos das peso as que hos avyaÕ
daver d o s pagam entos que ouueraõ e também pera saberdes per ella eu ser paguo do que me
co u b er a ver e ser tudo emtregue a elle dito Balltasar d*AUmeyda a quall certidão vos bem i
gu ard areis e cosereis no liuro dos ditos rresgates pera em todo tempo per ella se poder saber
o que com prir e for necesaryo e esto se fará em cada viajem que ho dito nauyo fizer e como
ch egardes na dita jlha de Sam Tome emquamto nelia esiraerdes pratyquarets este negocio
f J-
com elle d ito B alltasar d’AHmeyda e lhe mostrareis este meu rregimento do quall lhe fiqoara
o trela d o p era p o r elle saber como se hamde fazer has ditas partilhas ./*
Item tam to que chegardes ao dito rryo e vyrdes ho rresgate delie assemtado logo com
m u yta b revydade mo escreue e o estado da terra e que cousas ha nelia aliem de ser a uos
pera se rresgatarem pera loguo mandar prouer o que me parecer que se deue fazer sobre bo
trato e rresgate delie pera quamdo se acabar o anoo do dito rresgate que hys fazer estar lia
p ro v y d o a o que a o dyam te ouuer de ser e se for caso que se acabe o anno do dito rresgate
p rym eiro que de qua mande rrecado hey por bem que emquamto de qua naõ prouer que elle
dito A n riqu e P aez posa tratar no dito rryo pelas comdiçoês do comtrato que amtre nos he
feyto e se vse delie posto que ho dito anno seja acabado ./•
E semeio caso que no tempo que durar ho dito comtrato as peças que se rresgatarem por
fali ta de nauyos senaõ posao tyrar do dito rryo e trazer a jlha de Sam Tome ele dito Amrique
P aez h os poderá depois ty ra r em quallquer tempo em que se aebarem pera jso nauyos que
seraõ as p rym eyras que se nelias tyraraõ ./,
Item sem do caso que Deus naõ mande que ho dito rresgate se nao abra emtao vos vyreis
e em quallquer rryo desa costa de Guyne que puderdes tomar fareis rresgate das mercadaryas
fs ic j que leuaes no m yhor modo e maneyra que se posa fazer pagamdo na jlha de Sam Tom e
404 Angola
ha Aíomso de Tores ou a seus feytores os direitos que lhe do tall resgate forem deuydos por
quamto pera elle avets de Heuar sua licemça e dos dinheiros que asy se fizerem cobrareis os
dous terços que me penemçem e elle dito Amrique Paez lleuara ho outro sem dello me ser
obriguado a pagar mais coussa allgua dos quaes dous terços que me asy couberem pasareis
per hGa lletra pera pesoa deste Reyno que mais credito diso tyuer pera me qua ser emtregue
o dinheiro delles e quamto ao nauyo farseha ho que vay decrarado no dito comtrato o quall
vos treslladareis de verbo a verbo no começo de voso llyuro pera saberdes as mais comdições
delle /, que neste rregimento naõ vaÕ decraradas pera por ellas estardes e se compryr da ma-
« neyra que se no dito comtrato contem ./.
Item no dito comtrato que asy he feyto amtre nos esta per comdição que elle dito Amri
que Paez e asy Fernaõ Daruellos estera pelo rregimemto que eu neste negocio mandar dar naõ
semdo fora das comdiçoes do dicto comtrato e por quamto todas as cousas comteudas neste
meu rregimemto naõ saem fora delle lheemcomemdo e mando que estem per elle e o cumpraõ
e guardem asy e da maneyra que se nelle comtem o que a vos íso mesmo emcomemdo e
mando ./.
Item nenhGa pesoa naõ poderá lleuar mercadarya pera rresgatar coussa allguã no dito
rryo nem rresgatara nelle somemte vos ditos espvaÕ e gemte do mar rresgatareis as peças
que vos forem ordenadas sopena de perdymento da tall fazemda e de emcorrerem nas penas
em que encorem os qáe vaõ tratar sem llycemça aos rryos de Guyne
Item eu espreuy a Fernaõ Dalurez que do allmazem me mandase emprestar as peças se-*
guymtes — a saber — dous fallcoSs e dous berços e quatro meos berços e tres duzyas de pa-
uezes e ires de pyques e mea duzya de bamdeyras pera seruyrem nesta vyagem e porquamto
ha dita artelharya e cousas caregam sobre mym e saÕ obriguado a mandallas emtregar no dito
almazem no dito voso llyuro fareis asemto da hartelharya e mais cousas sobre ditas que no
dito allmazem me forem emprestadas e tereis muyto bom cuidado delias pera que asemtamdose
ho dito rresgate posto que ho anno se acabe syruaõ lia e quamdo senão asemtar trazerdes
tudo comvosquo quamdo vyerdes pera se tornar ao dito allmazem em Allmeirym a bij (7) dias
de junho de 1546 ./. ^ ,, .
(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronologico,
Parte ! . * , M a ç o 7 8 , D o c u m e n t o 2 1 ) .
DOCUMENTO N.® 15
Snõr
Manuel pachequo embaxador de.u.A. foi noso snõr seruido de o leuar pera si elle sabe o
porq e não me peza somêre por q não moreo com o nome com q morreo melchior de souza
porq crea se.u.A. q des q pardo dessa cidade não fez cousa q fose de seruiço de ds. nê de uosa
A. como u.A. pode ser emformado de pesoas q o bem saberam e em esta ilha as pesoas de q
o eu auizaua q não comuniquase com ellas o fazia mais ate me dizer q não dejejaua mais se
não q elrei de congo o nao quizese receber pera se tornar 0 feitor nos auiou muito bem como
eu escreui ia a.uA. pera partirmos daqui ate quinze uinte de maio e elle com cousas de seu
gosto e pasatepo q em esta terra tinha nüqua se quiz delia aramcar ate q adoeseram os padres
todos e eu cÕ elles e faleceriam da naao em q uiemos alguas uinte pesoas em q ds seia lou-
uado não faleceo mais q hü clérigo e hú frade francisquo os outros tres conpanheiros e frei
gaspar q he o maior delles me dixeram oie dia da sanctissima trindade q estauao de bordo
pera não irem a congo e q lhe dese os mãtimetos pera se tornará pera portugal eu lhe dixe q
uosa alteza sua temcam era darlhe mantimeto pera irem seruir.u.A, em o reino de congo ou
omde fose mais seruiço de ds e de.u.A. aqui nesta cidade dizem q elle não ade ir a comgo por
cousas q la deixou feitas e cartas q elle xnãdou e dizem cj ellrei de congo e simão da mota as
tem guardadas pera as mãdarem a.u.A. e isto dize aqui homês que uierão de congo e no q elle
Apêndice 4 o **
m ostrou a m im e ao embaxador e ao» padre* todo* 3 el!e hía por comissário de magpüã t Ç
daqui se auia d ir logo per mar caminho de amgoU sem ir a congo o 4 Jh* pedimo» m uno o
em baxador e eu q não falase niso por não *c escamdílízar elreí de coogo / qoamdo ho « o b a -
x a d o r fez seu testam eto não ho quis fazer com frade nem clérigo somêie com bum tDtoaào
fPz p e r r ij (?) q he muito grande inimigo delreí de congo e diz ma! deUe em todas as parres
om de $e topa por ser da criaçaam de dom rodrigo c quado o capitam cnãdou o seu oiruidor
p o r co b ro sobre os papSs de.u.A. foi achado o cofre na mão do dícto amorno frã do todos 4
os desta terra ficarão muito espantados ao menos os q sabem q cousa he cõgo e <} conhecem
a elrei de congo e o embaxador mãdou em seu testamfto q o dicto antooio fernádet per seu
falecim êto os em treguase ao bpo pera os mandar ha.u.A e melhor fora mádalos emtregar ao
bpo ou a o capitam q ha amt® fri. porq logo haí erafiriram e de st aleuãtaram $ uosa A mS-
daua q tod os o s apontametos fizese o embaxador fizesse com dom rodrigo o Q serto ha elrei
de con go n ã o fa ra multo boa uontade saber q dom rodrigo e anc* fr£. erao niso metidos e
quam do o ouuidor abrio o cofre forá achadas muitas cartas serradasde-u.A. e hü papel aberto
q dizia na co ta de fora apontacoetos de dom rodrigo e así pubrico leram peramte muitos
hai estavão pera testemunhas do abricneto do cofre e dizia apontametos de dom rodrigo de <|
m uito falarão por esta terra deitando iuizos d e q poderíam ser aqueiles apcntam etos e por ito
creo 3 noso snõr sabe tudo e faz tudo pera mais seu sancto seruiço peso a u.A. por ra. q em
quãto estiuer neste reino q de tudo o q cooprir a seruiço de ds e d e u A . me auize q eu espero
em noso sõ r ihu xpõ. q elle me aiude com q faça seruiço a dS. e a u A ^ có seu fauor porÇ eu
me atreuo p o r a m o r trazelo a estado de sua saJuaçam e a muitos do seu reino e não mãde
u.A. o u tro atee eu lhe nao dar auizo de tudo o q pasar pera u.A. em tudo prover como sela
seruiço de noso snõr e de.u.A. noso snõr acrecente dias e estado de. u A pera seu sancto ser-
uiço am en escrita em sancthotne oíe trese de iuoho de 1557.
Diogo Roif.
Cota.
3
elR ey D. João o. C arta de D® Roiz em q. diz a EIRey ser morto Me* Pacheco e depois q*
V. A. o m andou não fez cousa q. fosse do serviço de Deos nem do de V .A . Com q. elRey de
C o n g o o não quis receber pelas m*« instancias q. tinha feito e can as q. fisera as quaes
tinha guardado p ara as mandar a este Rno e mt°» dos companheiros morrerão na tal terra por
3
elle se não querer afastar delia Escrita em S. Thorne a t de junho de 1557.
A ell rei noso snõr. de S. Thome.
(A rqu ivo da T ô r r * do T o m b o , C o r p o C r o n o ló g ic o , P<<rte
M aço 1 0 1 , Oocomento o5).
DOCUMENTO N.° t6
F o i. 16 v.®— À m a r g e m : Alvarás. — Dom Rodrigo parente dei Rey do Congo, foy mandado
por E l R ey D om João a ilha de São Tomé até se ordenar deUe outra cousa da qual ilha o dito
Dom R o d rig o quis fugir para Congo, e foi tomado no camiQho, por outro navio que o capitão
da ilha m andou, e porque desta fugida se segurarão inquietações no Reyno do Congo, o dito
Rey m andou pedir a o de P ortugal que castigasse Dom Rodrigo, manda elRey se tire devassa
da dita fu gid a e d o que nella passou, e se lhe mande serrada, e setiada para fazer o que lhe
pareçer ju s tiç a p o r alvará dei Rey feito em Lisboa a outo de março de t o. 56
Foi. 17. — À m a rg e m : A ngola. — El Rey de Congo se queixou a el Rey do modo que Paulo
D ias teve em se p artir delle para o Reyno de Angola, diz el Rey q. se informará e fará o que
for ju stiça p o r c a rta sua feita em L isboa23 de Agosto de i o. 56
F o i. 17. — A m argem : A ngola. — Mandou elR ey a Paulo Dias com quatro Padres d a C om
panhia ao R e y n o de A n g o la , e porq. nao tinha novas deUe escreveu ao Capitão da ilha de
S ã o T h o ra é que o avise se tem algüas novas delles, e seado algüa necessidade os socorra, por
p ortaria de L u ís G o n salves, feita em Lisboa 22 de Agosto de i i . 56
F o i. iS. — À m a r g e m : A n gola. — Soube elRey como era chegado a A ngola P au lo D ias es
cudeiro fid algo de sua c a sa que m andava por embaixador aquelle Rey, e assi quatro Padres d a
4 o6 Angola
Companhia encomendar-lhe os favoreça muito, e trate na matéria da sua salvação, e de seus
vassallos por curta sua a elRey de Angola.
. Foi. ao — À margem: Angola. — Escreveo elRey ao capitão de São Thomé, que antes de
responder aos embaixadores dclRey de Angola, soubera de sua morte; manda-lhe q. se informe,
se está o Rey que lhe suçedeo no preposiio de ser christüo, e açeitar Religiosos q. lhe preguem
a fee para com o que achar despedir os Embaixadores e mandar com elles os Padres, e, em-
baxador particular por portaria feita em Lisboa a aa de Novembro de 1557, Sobre a mesma
matéria escreve elRey ao Bispo de Sáo Thomé em 20 de Novembro do mesmo anno.
— Chegou Paulo Dias a Angola a 3 de Mayo dia da Santa Cruz do anno de i 56o e no
Domingo seguinte mandou hü batel pelo Rio asima em q. foy Luis Dias e Dom Antonio que
vierao a Portugal hum mrrinheiro mulato, e dia de SSo João, tomou Luis Dias algús negros
que lhe o Rey deu, e huã carta de hum Portuguez natural do Barreiro que lá andava, em que
avizava a Paulo Dias que não fosse pello Rio assima apos este recado tornou Dom Antonio
com outro fidalgo negro chamado Gongessis com muita gente para levarem o fato a Paulo
Dias, e aos Padres, e por Paulo Dias reçear o aviso da Corte, e não querer yr fizerao hua ra
mada na ribeira, em que se recolherão depois foi 0 mestre da caravela, e Dom Antonio, a el
Rey, e elle lhe mostrou hü Retabolo livros e vestimenta, e pedra de Ara e se tornou com o
mesmo Dom Antonio traz isto mandou Paulo Dias e os Padres dizer a elRey se queria chris-
tandade a que elle respondeu que pois seu irmão lhe mandava que elle queria ser christão e
que se Paulo Dias nãj^ queria dezembarcar que lhe levasse os Padres, Paulo Dias mandou por
Dom An*onio dizer a elRey que lhe mandasse os Portugueses q. lá andavao para fallar com
elles, e porque não vieram 0 outro fidalgo esteve esperando dous meses, e mais sem Paulo
Dias querer dezembarcar se tornarão e levarão a mulla a el Rey, e neste tempo davão cada
semana aos da caravela tres vacas capadas, e carneiros, e outros mantimentos da terra, e por
que hum criado de Paulo Dias despos de ido Dom Antonio, e o fidalgo lhe disera que se dezia
que por medo deixava de desembarcar, o fez logo, e se foi a Ramada onde os padres estavão,
e dezião missa, e logo ao outro dia se embarcou no batel com sete pessoas somente, e com as
couzas que levava para el Rey e chegou a Mancangano onde o batel podia chegar e dali se
foi ter com o fidalgo chamado Angora Corengala Duas legoas de Maçangano, onde esteve hü
dia e hua noite ao outro dia pela menhã se partio para outro fidalgo que chamavão Babatem
duas legoas do primeiro dahi a tres jornadas fou ter com outro fidalgo que chamavão Cabaço
que o teve quatro dias consigo, e despoes mezes, e depois de Paulo Dias ser partido, partio 0
Padre Gouvea com hum seu companheiro por ser morto o Padre Castelhano, e outro compa
nheiro estar mal desposto, e duas jornadas de Mansangano na terra de hÜ fidalgo chamado
Baba tango, chegou a elle Dom Antonio e Longassis capitão dei Rey que vinha pellos Padres,
e pelo seu fato o qual tomarão do batel em Mãsangano, e se partirão com elle alegres depois
disto chegou hum homé de Paulo Dias pera Luis Dias em que lhe dizia que ficava contente da
terra e com saude que lhe mandasse os vestidos, e a baçia e os folies de ferreiro e se lhe man
darão, e porque Paulo Dias esteve com elRey sinco, ou seis meses, e a caravela, e caravelão
tinha falta de agoa se forão a São Thome conforme tinhão asentado diz a relação que folgou
elRey com os fatos e vestidos que lhe derao.
Foi. 21. — Por carta de hü Antonio Capão marinheiro, escripta de São Thome em sinco
de julho de i 5 6 i se soube como Paulo Dias e trinta e outo pessoas que estavão com elRey de
Angola não mandarão recado em mais de sete mezes, e havendo treze que estiverão na Barra
por lhe faltar agoa, e a caravela e caravelão se tratarem mal se forão a São Thome conforme
lhe ordenara Paulo Dias soube-se que elRey de Angola tomara a metade da fazenda que levavao
com petreato de a pagar, e que avia lá falta de mantomentos porque fóra de algum feijão não
avia outra cousa e inda desse lhe davão os negros mais por cantidade.
Foi. 24. — Pedio elRey de Angola pregadores para se fazer christandade em seu Reyno
para o qual lhe mandava elRey por embaxador a Ambrozio de Azevedo, com alguns Padres
da Companhia pareçe que não ouve efeito a ida deste embaxador porque os Padres forão com
Paulo Dias por portaria feita em Lisboa 17 de julho de i 56o.
(Biblioteca Nacional. CoiecçSo Pombalina. N.° 647. Manuscritos.
N * 6 — Papel avulso de notícias, manuscritos, artigos de re
soluções, que tomarão os Senhores Reis de Portugal),
Apêndice 407
DOCUMENTO N * 17
g a d o a c u ltiv a r e aproveitar as ditas terras do dia que as tomar a qumre a n o a s p rim eiro s se
g u in te s e n ã o o co m p n n d o así ficarão as ditas terras livremente a mim pera p o d er deltas f a z e r
o q u e fo r m eu se rv iço . £ o dito capitão e governador nem os que apos elle vierem c í o p o d e r i o
to m a r te rra a lg u m a de sesm aria na dita capitania para si nem pera sua m c th e r nem pera o
filh o e r d e ir o d e lia antes darão e poderão dar e repartir todas as ditas terras de sesm aria »
q u a isq u e r p e sso a s do qualquer callydade e condição que sejam e lhes bem parecer livrem ente
sem fo r o nem d ire ito allgun somente o dízimo a Deus o que serão obrigados a pagar a d st*
o rd e m d e to d o o que n as ditas terras ouverem segando será declarado no foral e p orila merma
m a n e ira as p o d e rã o dar e repartir per seus filhos fora do m orgado e así p or sem parentes e
p o re m o s d ito s seus filhos e parentes não poderão dar m ais terra d a que derem ou tiverem
d a d o a q u a lq u e r o u tra pessoa estranha e todas as ditas terras que así der de sesmaria a huns
e o u tr o s se rá co n fo rm e a ordenação das sesmarias e com a o brigação deU&s as quais terras o
d ito c a p itã o e g o v ern a d o r nem seus subçessores não poderão em tempo allgufi tomar pera si
nem p era su a m o lh er nem filho erdeiro como dito he nem p o lias em outrem pera depois virem
a e lle s p o r m o d o allgufi que seja somente as p&derSo aver per titolo de com pra verdadeiro
d as p e s so a s qu e lhes quiserem vender passados oito a anos depois das tais terras serem apro
v e ita d a s e em o u tra m aneira não. & Item. outrosi lhe faço doação e roerce de ja ro e derdade
p e ra sem p re d a m ea dizim a do pescado da dita capitania que be de vinte peixes hufi que tenho
o rd e n a d o que se pagu e alem da dizima inteira que pertence á ordem segundo no fo r a l será
d e c lla ra d o a q u a ll mea dizima se entenderá do pescado que se tom ar eqgtoda a dita cap itan ia
fo ra d a s vin te leg o a s do dito capitão e governador porquanto as vinte legoas be terra sua
liv re e isen ta segu nd o atras he declarado. & Outrosi ey por bem e me praz de fazer doação e
m erce a o d ito P au llo Dias que de todallas rendas e direitos que a m y e a ordem de Nosso
S e n h o r jh esu n ch risto e por qualquer via pertencerem na dita capitania e governança e aos
R eis m eus su b çessores asi pelo foral que se ha de fazer pera ella como per qualquer outro
m o d o e m a n eira que seja elle a ja em dias de sua vida a terça parte das ditas reodas e direitos
e seus e r d e ir o s e subçessores que a dita capitania e Governança depois de sua coorte cr darem
e su b çed e rem a v era n pera sempre de juro e derdade a quarta parte das ditas rendas e direitos
so m en te e sen d o ca so que na dita terra se abrão e achem allguns resgates e tratos tais que eu
p o r m y so m en te o u p o r meus officiais os queira tratar e negociar em tal caso eu mandarei
p a g a r e d a r a o d ito P au llo Dias em sua vida como dito he a terça parte de tudo aquQlo que
nos d ito s tra to s e resgates se ouver de ganho tirados os cabedais e todos os custos que nos
tais tra to s e resgates se fizerem e a seus sucessores a quarta parte do dito ganho polia maneira
acim a d ita e isto se entenderá e comprirà asi quando aconteçer que os ditos tratos e resgates
se aR en dem ou se jã o tratados e negociados por allgumas pessoas a que eu pera iso der lugar
e liç e n ç a e sen d o ca so que os ditos tratos e resgates sejão da callidade que todas as pessoas
asi d a d ita ca p ita n ia e governança como destes Reynnos ede quaisquer outros meus Senhorios
os a jã o e p o ssã o tra ta r e negociar asi como meus officiais em tal caso eu não ficarei obrigado
a p a g a r ao d ito ca p itã o e a seus subçessores o dito terço ou quarto somente lhe darei aquelle
d ireito que as o u tra s pessoas ouverem de dar e pagar e nos ditos tratos e resgates lhe for posto
e o rd en ad o. & o u tro si fa ço doação e merce ao dito capitão e governador e a seus erdeiros e
su b çesso res a que a dita capitania e governança ouver de vir que do Rio dange (1) pera o sul
não p o ssa p esso a algum a tirar búzios debaixo do mar senão aquellas a que elles pera iso derem
licen ça & Item . O u tro si me praz fazer merce ao dito capitão e governador e a seus subces-
sores de ju ro e derdade pera sempre que dos escravos que elles resgatarem e ouverem na dita
terra p o ssã o m an dar a estes Reynnos quarenta e oito peças cada anno pera fazerem delias o
que lhes bem vier os quais escravos virão ao porto da cidade de Lisboa e não a outro allgufi
p o rto e m an d a rão com elles certidão dos officiais da dita terra como são seus pella qual cer
tidão lh e serã o qua despachados os ditos escravos forros sem delies pagar direitos allgufís nem
cinquo p o r cen to e alem destas corenta e oyto peças que asi cadanno poderá mandar forras
ey p o r bem que possa trazer por marinheiros e grumetes em seus navios todos os escravos que
I quiserem e lhes fo rem necessários e dos mais escravos que trouxer pagará de direitos m il e
i
(1 ) D a o g e , m e lh o r N d a n jc j é o v e r d a d e ir o n o m e d o r io q o e n ó s cham am os l>ande.
5a
■■•irrß ' r
410 Angola
seis centos rs. por cada peça. & outrosi me praz por fazer merce ao dito capitão e governador
e a seus subçessores e asi aos vizinhos e moradores da dita capitania que nella não possa em
tempo allgun aver direito de sisas nem empossições saboarias trebuto de sal nem outros allguns
direitos nem trebutos de qualquer callidade que sejao salivo aquellesque por bem desta doação
c do foral forem ordenados que aja. Sc Item esta capitania e governança e rendas e bens delia
ey por bem e me praz que se erde e subçeda de juro e derdade pera todo sempre pello dito
capitão e governador e seus desçendentes filhos e filhas legítimos com tal dedlaração que en
quanto ouver filho legitimo barão no mesmo gráo não subçeda filha posto que seja de maior
idade que 0 filho e não avendo macho ou avendo e não sendo em tão propinquo gráo ao ulltimo
possuidor com o a femea que então subçeda a femea e enquanto ouver descendentes legítimos
machos ou femeas que não subçeda na dita capitania bastardo allgun e não a vendo descendentes
machos nem femeas legitimas anião soçederão os bastardos machos e femeas não sendo porem
de danado coito e subcederão pella mesma ordem dos legítimos prymeiro os m achos e depois
as femeas em igual gráo com tal condição que se o possuidor da dita capitania a quiser ames
deixar a hun seu parente transversal que aos desçendentes bastardos quando não tiver legíti
mos 0 possa fazer e não avendo descendentes machos nem femeas legitimas nem bastardos da
maneira que dito he em tal caso subçederam os desçendentes machos e femeas primeiro os
machos e em defeyto delles as femeas e não avendo desçendentes nem asçendentes subçederão
os transversais pello modo sobredito sempre primeiro os machos que forem em igual gráo e
depois as femeas e noxaso dos bastardos o possuidor poderá se quiser deixar a dita capitania
a hun transversal leguimo e tiralla aos bastardos posto que sejão descendentes e muito mais
propinco gráo e isto ey asi por bem sem embargo da lei mental que diz que nao subçedão fe
meas nem bastardos nem transversais nem ascendentes por que sem embargo de todo me praz
que nesta capitania subçedão femeas e bastardos nao sendo de coito danado e transversais e
ascendentes do modo que ja he decllarado. & Outrosi quero e me praz que em tempo allgum
se não possa a dita capitania e governança e todas as cousas que por esta doação dou ao dito
Paullo Dias partir nem escarolar espedaçar nem em outro modo alienar nem em casamento a
filho ou filha ou a outra pessoa dar nem pera tirar pai ou filho ou allguma pessoa de ( ininte -
lig ív el) nem pera outra cousa ainda que seja mais piadosa por que minha tenção e vontade he
que a dita capitania e governança e cousas ao dito capitão e governador nesta doação dadas
andem sempe juntas e se não partão nem alienem em tempo allgun e aquelle que a partir ou
alienar ou espedaçar ou der em casamento ou pera outra cousa somente aja de ser partida
ainda que seja mais piadosa per esse mesmo feyto pera a dita capitania e governança e passe
direkaraente aaquelle a que ouvera de ir pella ordem de soçeder sobre dita se o tal que isto asi
não comprio fosse morto. & Outrosi me praz que por caso allgun de quallquer callidade que
seja que o dito capitão e governador cometa per que segundo direito e leis destes Reynnos
mereça perder a dita capitania e governança jurdição e rendas e bens delia a não perca seu
subcessor salivo se foi tredor à coroa destes Reynnos e de todollos outros casos que cometer
será punido quanto o crime obrigar e porem os seus subçessores não perderão por isso a dita
capitania e governança jurdição rendas e bens delia como dito he. St asi me praz e ei por bem
que o dito Paullo Dias e seus subçessores a que esta capitania e governança vier usem inteira
mente de toda a jurdição poder allçada nesta doação contiuda asi e da maneira que nella he
declarado polia confiança que delles tenho que guardarão nisso tudo o que cumpre a serviço
de Deus e meu e bem do povo e direito das partes. & outrosi ey por bem que nas terras da
dita capitania nao entre nem possa entrar em tempo allgun corregedor pera nellas usar de
jurdição allguma per nehuma via nem modo que seja e porem eu poderei quando me bem pa
recer mandar allçada e prover em tudo o mais que me pareçer que cumpre a meu serviço e
bem da justiça e bom governo da terra nem menos será o dito capitão suspensso da dita ca
pitania e governança e jurdição delia porem quando o dito capitão cair em allgun erro ou
fizer cousas per que mereça e deva ser castigado Eu ou meus subçessores o mandaremos vir a
nós pera ser ouvido com sua justiça e lhe ser dada aquella penna e castigo que de direito por
tal caso merecer. E asi quero e mando que todos os erdeiros e subçessores do dito Paullo Dias
de Novais que esta capitania erdarem e subcederem per qualquer via que seja se chamem de
Novais e tragão as armas da dita geração e se allguns delles isto asi não comprirem ey por
bem que por esse mesmo feito pereão a dita capitania e subçeda nella e passe logo direita-
Apêndice 4 íi
menie aquelie que de direito avia de vir se o ul que asi o aio comprn) fosse 80w e pcS*
mesma maneira faço doação e merce ao dito Paulio Diai ero dias de soa rida Mssfôfe Jas
m
terras que estão do rio Dange pera o sul até os limitei do rio Qaoann o qaw Otmge pcílo
sertSo dentro vai deridmdo o Reynno Coago do Reynno dAngoUa e terá u* ir»s terra» em
sua vida como diio he a terça parte de todas as reodas e direitos que a mime a ordem de
pjosso Senhor jhesuu chrísto per qualquer via pertençeremper virtude do foral que é s s o man
darei fazer c por falleciraemo do dito Paulio Dias ficarão as ditas terras do rio Dange até
limites do rio Quoanza livres a míme á coroa de meus Reynno» pera fazer delia» o que ouver
por meu serviço sem ficarem oeilas aos erdeiros do dito Pacilo Diaz jurdiçáo allçada nem #
renda allguma somente ficarão aos ditos seus erdeiros de juro e derdade peílo modo de íibçe-
der acima dcdlarado as allcaydarías mores dos ires castellos que ha de fazer oa diu ter»
pella maneira adiante decllarada e apresentação dos officios dos ditos tres castellos e povoa*
çois deites e sete legoas de terra de cada hundos ditos castellos pera fora e as agoai que em
ellas ouver as quais sete legoas da terra cada hun dos ditos castellos terá de tenao e íend#
caso que o dito Paulio Dias falleça ames de víore annos a pessoa que elle deixa nomeada pera
proseguir na povoação desta terra e capitania não poderá ser de menos cailidade que elle ttri
ê averá a dita terça parte das reodas e direitos até os ditos vtute annos serem acabados £ po
rem tanto que o dito Paulio Dias for fallecido eu mandarey governador e as mais justiças que
me bem parecerem as ditas terras que esião antre os ditos rios Dange e o Quoanza da qual!
capitania e governança e terras açima dedlaradas lhe asi façodoação Anerce na maneira que
se nesta carta contem cora tal condição e decllaraçlo que elle Paulio Dias levará pera a con
quista da dita terra a sua própria custa e despesa hun gallião e duas caravellas e çinquo bar-
gantins de deferente grandura e feição e ires muletas pera descobrirem os rios e portos que
ouver pella costa te o cabo de Boa Esperança asquaisembarcaçõis levará maiio bemprovidas
denexarceas veilas tolldas e de todo o mais que for necessário a dita riage e empresa. E com
condição que dentro em vime meses que começarão do dia que deste Reynno partir pcerá na
terra quatrocentos homens que posão pellejar com suas armas conformes a guera daqueUas
partes nos quais quatrocentos homensentrarãooytopidreiros quatrocavouqueiros seis tatpeiros
e hun físico e hun barbeiro e levará mantimentos pera hun anno pera toda a dita geme na qual
não irá cristão novo allgun e trabalhará por levar a mais gente e officiais que poder ser &
Com condição que levará seis cavallos pera iremdiante descobrindo a terra e que dentro de
tres annos terá lá de vinte cavallos eegoas peracima & Comcondição quedentro dedez annos
fará tres castellos de pedra e cal antre os rios de Zeoza e Cuoanza e hun deíles que se fará no
porto onde pareçer que podem ir armadas destraageiros não será de menos que de coxenta
braças de quadra e doze pallmos de grosura e quarenta datliura comdous balluartes em dous
cantos que fiquem em travezes singellos de todo o muro e pello tempo emdiante se irão aca
bando da maneira que pareçer mais neçessarto e os outros dous castellos se farão peites rios
açima nos lugares em que pareçerem mais neçessarios e será cada hum de rime braças de
quadra e da mesma grosura e alltura do outro grande com dous balluartes exdiairetro pella
mesma maneira e sendo caso que o dito Paulo Dias não possa acabar os ditos tres castellos
dentro nos ditos dez annos fazendo elle nisso toda a delligencia que puder ser eu lhe irei re
formando o mais tempo que me bempareçer e por entretanto logo emdesembarcaado fará na
dita terra as forcas que lhe foremnecessárias de taipa e madeira pera se segurar dos negros e
co ellas írá domando a terra enquanto não fizer os ditos castellos & Com a condição que
dentro em seis annos que começarão do día que deste Reynno partir ponha na dita terra e
capitania cem moradores com suas molheres e filhos em que entrem allguns lavradores com
todas as sementes e plantas que deste Reynno e da ilha de San Tomé se poderemlevar o que
tudo fará á sua própria custa e despesa semeu mandar meter nisso nenhim cabedale nem lhe
fazer empréstimo allgun darmas navios moniçois nemmitimentos como custumo fazer pera
as viagens e empresas desta cailidade. & Com condição que partirá deste Reynno pera efeituar
este negocio antes de se acabar o contrato da ilha de S. Tome que ora corre de maneira que
quando lá chegar seja o dito contrato acabado E esta merce lhefaço comoRey esenhor destes
Reynnos e asi como governador e perpetuo administrador que são da ordem e Cavallaria do
mestrado de Nosso Senhor jesuu chrísto e por esta presente carta dou poder e autoridade ao
dito Paulio Dias de Novais que elle por si e per quemlhe aprouver possa tomar e tome posse
412 Angola
real autuai das terra» da dua capitania e governança e das rendas e bens delia e de todalla*
mais cousas contiudas nesta doação e esse de todo inteiramente como se nella contem a qual
doação ey por bem quero e mando que se cumpra e guarde em todo e per iodo com todallas
cllausuilas condiçois e decllaraçois nella conteuda6 e decllaradas sem mingoa nem desfalleci-
cnento allguã e pera todo o que dito he derogo a lei mentale e quaisquer outras leis ordenaçois
direitos grasas e custumes que em contrairo disto aja ou posa aver per qualquer via e modo
que seja posto que sejao tais que fosse necessário serem aqui expressas e decllaradas de verbo
a verbum sem embargo da ordenação do a.° Livro tictulo 49 em que diz que quando as tais
leis e direitos derogarem se faça expressa menção delias e da sustancia delias e por esta por-
meto ao dito Paullo Dias e aos seus subçessores que nunca em tempo allgufí vá nem consinta
ir contra esta minha doação em parte nem em todo e rogo e encomendo a todos meus subçes
sores que lha cumprão e mandem comprir e guardar satisfazendo e comprindo o dito Paullo
D ias inteiramente com as condiçois acima decllaradas aos tempos e da maneira que dito he
E mando a todos meus desembargadores corregedores ouvidores juizes justiças e officiais de
minha fazenda e a quaisquer outros a que ò conhecimento disto pertençer que lha cumprão
guardem e fação em todo comprir e guardar esta carta de doação como nella se contem e
deixem a elle e a seus erdeiros e subçessores usar de todas as cousas nella decllaradas sem
nisso porem duvida embargo nem impedimento altgun porque asi he minha merce e não com-
prindo elle nem satisfazendo com as ditas condiçois e cousas nos tempos e maneira que acima
se contem esta d o a ç ir n to averá efeito allgum e eu farei merce da dita capitania e governança
e terras a quem ouver por meu serviço e por firmeza de todo lhe mandei dar esta carta de
doação per mim asinada e aseilada com o meu sello de chumbo pendente a qual vai escrita
em seis meas folhas de purgaminho e com a outra em que asinei e no fim de cada lauda vai
asinada per Martim Gonçalves da Camara de meu conselho e meu escrivão da puridade dada
na cidade de Lisboa a seix dias do mes de setembro Antonio de Aguiar a fez ano do nacimento
de Nosso Senhor jhesuu christo de MDLXXI Jorge da Costa a fez escrever. E o dito Paullo
Dias sera outrosi obrigado a levar tres cllerigos pera confessarem e sacramentarem a gente da
armada e asi todo o necessário de vestimentas e ornamentos do alltar e a primeira igreja fará
toda á sua custa e será da invocação do bem aventurado martire São Sebastião e as outras
igrejas fará taobem a sua custa ou os corpos delias somente como será decllarado no foral e
os escravos que por virtude desta doação pode resgatar e enviar a este Reynno antes de serem
ávidos por bem cativos e de se embarcarem pera o Reynno se façam as justificações necessá
rias conforme ao regimento e ordem da mesa da conciencia que se enviou a San Tome,
( A r q u iv o N a cion al da T ô r r e do T o m b o , Chancelaria de
D. Sebastião (Doações), L iv r o 26, foi. 2<,5 a 299).
Poder e alçada que leua o ido joão morguado que vay tomar Rediçençia aos ouujdores que
estão no R"° dangolla.
Dom Philipe per graça de dã Rey de portugal e dos Algarues da Quem e dalem Mar em
A frica sõr de guine e da conquista nauegação e comerçio de Ethyopia Arabia pérsia e da
jndia Ets. faço sabf a uos ldo joão morguado do meu desembargo e desembargor da rrellação
da casa do porto q ora mando ao RB° dangolla A cousas q cumpre a meu seruiço q ey por
bem q acerca das resideçias q aueis de tomar aos ouuidores do g« do dito Rno dangola tenhais
a manr* seguinte a a lf do q se contS na ordenação tit° das residençias dos Cres das comarcas q
intramente comprireis.
T a n to q os ditos ouuidores fore fora do lugar dondelhe ouuerdes de tomar as ditas resi
dençias e os pregois lançados conforme A ordenação começareis logo a entender nellas e sa
bereis se te os ditos ouuidores comprido o que pella ordenação lhes he mandado, no tit° dos
C rt* das com arcuas e uereis pB isso o caderno que 0 escriuao da ouuidoria era obrigado a fazer
Apêndice 4 í3
de tudo o § os ditos ouuídores fizerio cm cada hff dos lugares detU e peCo áiw cãdtm e
pello escriuâo da ouuidoría uos informareis se proveráo os ditos oauidora sobre os ofr* d*
just1 dos lugares da dita ouuidoria e se virão as canas e rregimentos de scos oi?* e os lwdaí
notas e das querellas e se prouerão as deaams e se compririo acerca díso i» rregím*
E se uirSo os forais de cada lugar e trabalharão por wbf se algüa p4foy contra eliw ar
recadando mais dr104dos conteúdos nos ditos forais e o q açerca disso fixerío
E sabereis se usarão os ditos ouuídores de mais jurdíçáo da que lhes desmente pertencia
e em q cesos e em q man'* vsarão delia.
E achando q os ditos ouuídores farão negligentes emalgua das ditas cousas oa em outra
de seu off* ou q tiuerão culpa emleuar o q náo podiio, os preguntareis por isso p4<$logo ue-
jais a rrezão q pBisso tiuerão. e se for tal q se ajã de uer per liuros e papeis os uereis logo e
fareis fazer declaração nos autos do q achardes p* íj se possa escusar d)mandar depots pellos
ditos liuros ou papeis p1 seu despacho.
Tirareis inquirição sobre os ditos ouuídores pellos capit4*que maoda a ordenação assy
como por ella são obrigados fazer os ouuidores q fore prouidos apos os aq tomardes resi
dençia, os quais não terão a tal obrigação e pella mesma man™sabereis como o mw escriuâo
e off41 da dita ouuidoria te seruido seus off41 e tirareis sobre dies inquirição e se alguás partes
os quísere demandar As ouuireis comelles e fareisníso o íj for just1Eirrey noso sór o mandou
pellos doutores jeronimo pr1 de sá e Melchior damarat ambos do seu coos* e seus desembar
ga* do paço. p° de seixas o fez emlíx4a xiiíj de Jan° de j b'lxniiij. {*584)
N.°1
9.
0 mesmo Ld0joaõ morguado
Eu ei Rey faço sab? a uos Ia“ joao morgado derecende do meu desembargo e desembarg*
da rellaçao da casa do Porto que ora mando ao R“4dangola a cousas q cumpre a meu serviço
e pella confiança q de uos tenho q nisto me seruireis Bem e fareis tudo 0 q per esie regim.*4
vos mando com A fidelidade e intereza q a calidade dos casos requere./. e de mao/* q eu me
aja de uos p bem seruido ./. ey p.* bó que tenhais niso a orde e raan.rt seg.u ./.
£ tanto q lhe assy derdes a dita carta sabereis se 0 dito gouemador teue ou te ouuidores
e tendoos lhes tomareis a cada hu residençia conforme a ordenaçaõ e na forma q as ditas re-
sidençias se tomao aos ouuidores das iras dos senhores p* 0 q leuareis 0 regim.14 e isto sendo
0 tpõ dos tres annos p.d®e pella mesma man/4 tomareis residençia aos off.Mdante os ditos
ouuidores e aos mais ministros da justiça./. e achando q seruiraó mais de tres annos lho naÕ
dareis em culpa ./. e tendo seruido bemlhes tornareis As uaras e admetereis os off.4*e menis-
tros a seus off.4* constandonos q seruiraó bem, e achando q seruiraó mal procedereis contra
elles na forma do poder e alçada q leuais./.
Ey por be 5 tomeis c.t0 per apelíaçaÕ ou agrauo de todos os casos que naõ couber2 na
alçada do dito g.dor conforme a sua doaçaÕ E nao auocareis os feitos./.
414 Angola
E os feitos § ouucrdes de despachar por naõ caberc na alçada do g.*" sendo de causas
ciueis despachareis finalmente em toda a contia no caso dapellaçaõ se apellaçaõ nê agrauo e
5
isto com o dito g.00' e c o vreador mais uelho do lugar em q estiuerdes ./, no caso em çj elle
g .^ nSo tiuer dado sentença e sendo algum delles ausente ou impedido tomareis em seu lugar
o das p.M q na terra ouuer as q uos pareçer que saõ sem sospeita e de boas consciençias ./.
E nos casos crimes q naõ couberê na alçada do g,dor despachareis os feitos pella mesma
man.rt q o aueis nas cauzas ciueis e dareis nossas sentenças a execuçaõ até morte natural in-
clusiué sem embargo da extravagante q diz £j nos casos de morte sejaÕ seis juizes — porq ey
por be q naõ sejaõ mais que tres assy e da man.M q o am de ser nas cauzas ciueis e como fica
dito no cap.° proxim o ./.
Dareis orde praticando pr* cõ o dito g dor q nas matérias da just.- se guarde daquy en
diante as ordenações do R,“° e os off." siuaõ seus off.M e tenhaõ seus liuros conforme A ellas
e a seus regim.10* ./.
E prouereis q daquy en diante se ponhaõ em arecadaçaõ as faz.d" dos defuntos dando nisso
a ordê q uos pareçer e guardando Açerca diso o rregím10q uos será dado na mesa da conçiençia
onde o pedireis, e sendo alguas faz.dM dos ditos defuntos gastadas per ordê do g.dor naõ enten
dereis na arrecadaçaõíiellas ./. somente fareis por os autos em guarda em poder dos off « A
q pertence p* q em todo tpõ saybaõ os erdr.0# dos ditos defuntos onde estaõ as ditas faz.d» ./.
Tratareis com o mesmo goueraador e cõ as mais p « que nos pareçer sobre o bom go-
uerno da terra de vereadores e almotaçes e dos mais off.e" e escreuereis no q vos pareçer q
conue a meu seruiço e á paz e quietaçaõ da te rra ./.
E uindouos com sospeiçaõ a jnuiareis a este R.™ á mesa do despacho dos meus desembar
ga*» do paço pera nella se detriminar e entretanto proçedereis nas causas tomando hu adjunto
se sosptH./. e uindolhe cõ sospeiçaõ tomareis outro Ao qual senaõ poderá por sospeiçaõ ./. e
conhecereis das sospeiçois q se poserê a cada hü dos adjuntos q cõvosco haÕ de despachar e
asy das q posere ao escriuaÕ danteuos e uindo com sospeiçaõ aalgü dos adjuntos cõ que des
pachardes assy os feitos crimes como os ciueis tomareis outro o mais se sospeita 3 poder ser
e uindosselhe co sospeiçaõ tomareis outro pella mesma man.ra ,/. ao ql senaõ poderá por sos
peiçaõ ./. E os recusantes depositaraÕ dez cruzados os quais perderaÕ pa os presos e pobres naõ
sendo nos julgado pr sosp.*° e enq.t0 durar o p°cesso da sospeiçaõ posta ao escriuaõ tomareis
outro escriuaõ p adjunto ao qual senaõ poderá por sospeiçaõ e sendo elle julgado por sospeito
escreuera cõ o dito adjunto naqueles casos em q for ,/.
E informarnoseys se no dito R.n0 dangola andaõ algüs homes casados q fossê destes reynos
e quanto tpõ ha e q nao quere uir fazer uida com suas molheres ne proueremnas do necessário ./-
uiuendo mal e desolutamente e achando q ha lá algüs dos ditos homes mo escreuereis decla
rando as faz.d«s q tem e os nomes delles pera nisso prouer como ouuer p° meu ceruiço e as causas
q tem p* naõ uirê e parecendouos q algüs dos ditos homSs uiuê taÕ desolutamente 5 conue ao
seruiço de noso sor e meu e ao bom exemplo fazerdelos embarcar o podereis fazer comoni-
cando prim.,° com o g dor sê mo fazerdes sabr porq confio de uos e delle 5 o nao fareis senaõ
em caso q be o mereçaõ eseraõ escriuaõ e m/° dante uos as p.a* q p.6 isso uos mostrarê minhas
p rouisoês— p° de seixas o fez em lx.a a xix dout° de j bMxxxiij ( i 583 )
N.° 20.
Eu el Rey faço sab? a vos l.do joaÕ morgado desembarg.3or da casa do Porto q ora enuio
ao R.BO dangola a cousas de meu seruiço e p.0f prouedor de minha faz.dt q ey por bem e me
praz q no descubrim.10 das minas q se ora faz no dito R.ao e assy na fundição do ouro ou prata
cj se nellas descobrir q se haõ de benefiçiar p.or ordem de minha faz.da se tenha a ordê seguinte ./*
A
Apêndice 4 *^
T a n t o q ch eg a rd es n o dito R.** dangola vos oereís com paios dias d e n a b a ís c a p á * 6 e
g.4«’ n a s d ita s p a rtes e depois q lhe derdes a minha c a n a 3 p* elle leuaís lhe t o o s m e n s este
regim .*° e p ra tica re is com elle o negoçio das ditas minas e sabereis o estad o em 3 *
A m b o s ire is a o s lugares delias e tanto <j nelle fordes fareis ahy vir os m ineiros 3 p e r » b e a e â à o
d a s d ita s m in as m ando as ditas partes e lhes mandareis q u ejaõ o s itio e lugares em 3 e lla s
e s tiu e re m e ta n to q fore descobrindo as ditas minas as fareis por am e vos dem arcar « se Cara
a s e n to em liu ro 3 P* isso fareis fazer asinado e numerado p .m uos pelkr cscn u a ô da feitoria
em q se d e cla re o lugar e confrontaçois de cada huã delias e nom e 3 com pareçer do* min.***
o d ito g.dof e u o s lhe poserdes declarandolhe a distançia 3 ba de hSa a outra
£ fe ita a d ita dem arcaçao e assento os ditos m in/2* em sayaraõ perante vos as 3 pareçer
p* se sa b ? c o m o responde cada huã delias e seg.** a enform açaõ 3 ttnerdes o dito g.4«* e uos
fa re is b en efiçía r as 3 pareçerê mühores e de mais reodxm.i# «/.
E c o m p a reçer do dito g.do* ordenareis hü home de confiança que em cada hüa d itas
M in as siru a de guarda delia e que tenha cargo de fazer trabalhar os struidores q nellas anda*
rem e 3 u ig ie em man.fl q o metal q das ditas minas sair uenha a boa rrecadaçaõ e 3 tod o o q
se tira r se en tregu e p or peso e medida as p.** q o leuare aos ditos engenhos onde se hade fazer
a fu n d iç ã o p ella ord e 3 os min.™ haõ de dar ./.
E p a re çen d o que p* as ditas minas 3 assy estiuerê juntas bastará huã só p* 3 as guarde e
o rd en an d o sse A s sy entendendo o dito g.d*r e nos q conue a meu seruiço e Bem de minha faz.**
sa b e rse o 3 ca d a hua das ditas minas rende e q p * isso conu€ naõ se juntar o m etal de huã
c o m o de o u tra s dareis orde com 3 senaõ se se sab? como cada hüa responde -/.
T e r e is cu id ad o de dar aos ditos min.*** toda a gente q lhe for necessária p* o la u o r das
d ita s m in as e dos engenhos onde se haô de fundir os metais p* o 3 sendo necessário p ed ireis
a o dito g.dor tod o o fau or q ouuerdes mister ao 3I emcomendo q em todos estes n e go çio s u o s
a ju d e c o m o d elle con fio ./,
E sen as p o u o a ço ê s do R .“° dangola naõ ouuer ferreiros q possaÕ lau rar e c a lc a r a s fer
ram en tas 3 sa o n ecessárias pera beneficio das ditas minas e pera laurarê os d ito s engenhos
o fareis sab r ao dito g.àor e com seu pareçer mandareis buscar os ditos of£.** a y lh a de s&m
th om e don de u iraõ com suas tendas e apreçeuidos do necessário de seus officios p era o dito
4 16 Angola
efeito e lhe dareis por isso o salario que o dito gouernador e a uos pareçer á custa de minha
faz.4* ./-
Ordenareis com pareçer do dito g ** em cada hü dos ditos engenhos huã p.- de confiança
q reçeba todo o metal q a elle uier pera se fundir das ditas minas por pezo ou medida e o
rrecolha em hCa casa q nelle auera separado pera se guardar de que tera a chaue; o qual metal
mandaraõ os guardas das ditas minas aos ditos engenhos com escritos seus em q declare a
contia q mandaÕ p* por elles fazere entrega do dito metal as p ." q o leuaré e no q tocar a
dita fundiçaÕ fará A tal p.- q assy tiuer o cargo a guarda do dito metal o q pellos ditos min.TOê
for OTdenado e terá cuidado de uigiar q os seruidores e p “ q trabalhar? nos ditos engenhos
Na6 leu? metal algü quando saire pB fora ou fore p* suas casas pera o q os buscara ./.
E porq he neçessario ter? os ditos mín,MB casas em q recolhaô os materiaes com q haõ de
fazer a fundiçaÕ e a prata q delia recolher? enquanto a naõ entregaõ com pareçer do dito g.dor
lhe fareis d arh u ã casa dentro nos ditos engenhos onde bem possaõ recolher a dita prata e
materiais ./*
E os ditos min."’ cada oyto dias faraõ entrega ao feitor da feitoria de toda a prata que
no dito tpo se tirar dos ditos engenhos apurada a qual uos fareis entregar por ante uos por
pezo ao dito feitor e lha fareis carregar em R.t# pio escriuaõ de seu cargo em hü liuro que p*
jsso fareis fazer q ser#*asinado e numerado por uos na forma da ordenaçaõ e antes de se en-
tregoar T od a a dita prata se fará em paes os quaes seraõ numerados e marcados cõ as minhas
armas reaes destes R d e portugal e feita nesta man." com declaraçaõ dos ditos paes num.0
e marca e pezo q pezare se fara A dita entrega e se carregara no liuro ao dito feitor «/.
E pareçendo ao dito g.dor e a uos q he mais meu seruiço e milhor arrecadaçaõ de minha
faz.4- fazerse a entrega da dita prata ao feitor em mais breue tpõ q dos ditos oyto dias a fareis
fazer pella man.r* sobredita ./.
E tanto q o dito feitor receber a dita prata fareis q se recolha toda em hüa casa q p" isso
ordenareis com pareçer do dito g.dor q será forte e segura a ql casa se fechará com tres chaues
de diferentes guardas das quais uos tereis huã e o dito feitor outra e a outra chaue terá o es
criuaõ q escreuer a dita R.la pera q se nao possa tirar prata alguã da dita casa sé uos e se os
ditos off.« sere presentes ./■
Vizitareis as mais uezes q puderdes per uos as ditas minas e engenhos e sabereis se as p.M
que estiuerem postas por guardas uegiaÕ e recolhem os metaes q se delias tiraÕ com cuidado
e em man.ra q por sua culpa ou descuido naÕ aja falta, e bem assy sabereis se Apontaõ a gente
do dito seruiço com o deué pa q as pagas dos q seruê se façao aos q se deuer e como conuf ./.
E assy sabereis cõ m.u diligencia a cantidade do metal q se tira em cada huã das ditas
minas em cada hü dia uendo por esta maneira o q u e a montar cada somana pouco mais ou
menos e esta mesma diligencia fareis na prata q se for fundindo pera q na milhor man.ra q po-
derdes entenderdes se na entrega deste metal e prata ha algü engano e o q achardes comoni-
careis com o dito g.dor pera cõ seu pareçer prouerdes como conue a meu seruiço ./.
E sendo caso q se descubraõ alguãs minas de outros metais uos uos juntareis com o dito
g.dop e lhe fareis sabf das mtnas q se assy achare e com seu pareçer fareis diligençia pera q se
saiba o q cada huã das ditas minas responde. E pareçendo ao dito g.dor e a uos q he meu ser
uiço beneficiarensse por conta de minha faz.4- o fareis fazer pella orde q neste Regim.*0 esta
dada no beneficio dos outròs metais ./.
Mandouos q tudo o q no negocio das ditas minas ordenardes o comuniqueis sempre com
o dito g.dOT porq pella confiança q delle tenho nas cousas de meu seruiço o ey assy por bem ./.
Apêndice 417
E aos seruidorcs t p” q trabalhar« ia s dita mina 1« fará p ig rn * é t scufjdnoais a
custa de minha faz.* na mercadorias que otwer pelU ordc íj c6 pareçet ao dito ooi pa-
reçer mais seruiço e em man/1 íj p." a $ se deuer sejeo pagas t o tpo ordenado de seos
jornais ./■
Os quais pagamentos se farafi per Roíz (?) asinados por tzos Ç o «crfcuS da dftft fn toría
fará q ficaraõ pera desp.1 do dito feitor e os guardas das minas wraõ cargo de apontar? os
ditos seruidores e uos emtregarao o dito ponto no fim de cada somana pera por eÜe se fazer?
os Rois por q hão dauer os ditos pagamentos e auendo no dito R** de angola estrtno* meus
catiuos que sejaõ pera sentir nas ditas minas e benefício delias os metereis no dito seruiço
aos quais se dará somente o mamim.u Necessário J.
E porq ey por meu seruiço q todas as minas q sad descaberias ou $e descobrir« co dito
Rejno damgola se beneficie por conta de minha faz.* e por orde de meus ofi> uos mando que
na5 consimaes que pera algua de qualq? calidade e condição que seja abra ne benefiçte itutw
algua no dito R.t0 sem minha espicial licença e fazendo algü o contr.* procedereis contr» elie
segundo forma de minhas ordenaçoSs./.
Tereis lembrança de me auisar por cartas uossas todas As uezes q o tpo uos der lugar do
estado em q este negoçío das minas estíuer e sobre uíndo alguã cousa a q pera bem do dito
negoçio seja necessário prouer mo fareis sabf e sendo o negocio tal § cJnuenha a meu seruiço
naS auer dilaçaõ praticareis nelle c5 o dito gooernador paios Diaz e o q eüe e uos asentarde*
q conuc dareis a execussaÕ e mo dareis sab? pera eu mandar o q for meu seruiço./.
Emcomendouos e mandouos q este regim.1* cumprais e guardeis jnteiramente como se
nelle conte e eu de uos confio íj o fareis nas cousas de meu seruiço q nelle uosmandey apontar
e em quaisq? outros íj sucederá cÕ aquelle cuidado düigençia e fedelidade que requere este
cargo em q tne de uos quis seruir./»Joaõ de torres o fez emlix.1 a xxbij do outr.®de j b* liixiij
(i 583) E eu di.° uelho o fiz escreuer./.
4
(T ò rrt o Tom bo, 5)»
U m / de Leis, fo te. 91 a $
DOCUMENTO N.#21
Eu el Rei faso saber aos q este alvara virá q eu ey por be e me praz íj Lopo delgado meu
moço da camara a que por outra minha provizão fiz hora merçe da serventia do offiçio de
escrivão dante 0 provedor da fazenda das capitanias do estado do Reino de angola assy 0
cabo de boa esperança por tempo de tres anos se tanto durar a auzençta de gaspar ferreira
cujo 0 dito officio he e 0 não for servir per si tenha e aja de mantimento ordenado co elle
sesenta mil rs cada hü dos ditos tres anos pagos no feitor da feitoria de Angola e duas pesas
forras Resgatadas cõ sua Roupa que he tudo outro tanto como ter 0 dito gaspar ferreira per
sua carta pelo q mando ao feitor da dita feitoria quelhe de epague cada ano os sesenta mil rs*
do dito ordenado por este so alvara semmais outra provizão e pelo treslado dele que sera
Registado no livro de sua despeza pelo escrivão da feitoria 5 seu conhecimento e seriidão do
provedor de como serve 0 dito officio mando que lhe sejão levados en conta o que pela dita
maneira pagar e ao capitão da dita capitania provedor e offiçíaes da feitoria dela que lhe
deixem em cada hü dos ditos tres anos mandar Resgatar as duas pesas forras de sua Roupa
como dito he e cumprão e goardem este alvara como se nelle conte 0 qual ay por ben que
valha e tenha vigor posto q 0 efeito dele aja de durar mais hü ano sem embargo da ordenação
do segundo livro t®vinte em contrairo gonçalo Ribr® 0 fez em Lisboa a quatro de maio de
mil e quinhentos oitenta e tres, e euRui diaz de menezes 0 fiz escrever Rey João gomez, alvara
de sesenta mil rs. que lopo delgado moço da camara de vosa magestade a daver cada ano de
4 1B Angola
DOCUMENTO N.° 22
S U C E S S Ã O D E P A U L O D IA S D E N O V A IS
NA DOAÇÃO DE ANGOLA
Ao Cons° Rafael^pires Pardinho pareçe 0 mesmo q. ao Cons° e acrescenta.......................
Estas são as mel q. na d# carta de Doação se fizerão ao d° Paulo Dias de Novaes, e tão bem as
obrigaçoãns q. se devião satisfazer pBterem effeito, e se continuarem em seus herd0* e succes-
sores. Não consta dos docum01 q. o supp* ajunta em que tempo morreo o d° Paulo Dias, nem
a pessoa q. deixou nomeada p#continuar, e proceguir na povoação, e augm0 das taes terras e
CappQtes até findarem os vinte annos. O de fl. 48 té fl. 54 he hfi edital, ou bando feito em quinze
de Agosto de 1584 em nome do mesmo Paulo Dias, e asignado por elle a q. chama declaração
e nomeação dos reguengos do seu morgado, nas vinte legoas da costa, q. havia de escolher nas
trinta e sinco da dBCappnia e das paragens e sitios em q, se havião de levantar e fazer os tres
castellos q. El Rey lhe mandou fabricar nas terras q. lhe tinha conçedido em dias de sua vida.
Delle se infere bem q. o d° Paulo Dias nem povoou a Capp.nia nem edeficou os tres castellos
como era obrigado. Quanto á Cappni* herão já passados quasi treze annos no de 1584, qd° 0
d° Paulo Dias querendo escolher e segurar as vinte legoas da costa q. se lhe concederão p* elle
e seus successores poderem cultivar, beneficiar, aforar, etc, nas 35 da Cappni» as nomea e se
para em quatro partes, pellos sinaes da costa do mar, e Rios que nelle desaguão, e por onde
elles corressem, e dahy pa sima, e certão linha direita até o mar de Mossambique sem nomear,
expressar, ou declarar povoações, villa, ou Igr* q. tivesse feito, ou fundado em qualquer dos
taes Rios, ou na distançia de toda aCapp^asendo obrigd0 afazer logo na principal va amayor
Igra ao Glorioso mártir Sao Sebastião, a qual fosse cabeça e desse nome a mesma Cappnia
como se observou em todas as q. se doarão e estabelecerão em toda a costa do Est° do Brasil
assistindo neila os juizes e vereadores; officiaes de justiça, e ouvidor pa usarem da jurisdição
q. se lhes concedeo. Mas por isso as Cappni»* do Brazil se conservarão sempre, e esta no Est®
de Angolla nunca teve nome, nem existência.
E quanto aos tres castellos: Erão já passados mais dos primr0* dez annos da Doação qdo
o d° Paulo Dias nomeou, e declarou pa fazer o primeiro, e mayor Castello na costa do mar 0
porto de Loanda, em q. estava a villa de S. Paulo, por ser acomodado a estancia, e defenção
dos navios q. elle fossem, ep*o segundo Castello por lhe parecer mais conven0 o citio nas
terras de Cambambe pa mayor segurança das minas de prata q. aly havia: e pa o terceiro a
Bança e citio de Moagaloambe pa segurança e defensão das terras do Rn° de Angolla q. se ha
vião conquistado. Esta foy a nomeação q. o d° Paulo Dias fez dos citios em q. havia edeficar
a forma os tres castellos nas terras q. possuhya em dias de sua vida; e como não consta q.
com effeito os levantasse, e aprefeissoasse á sua custa, não houve, nem ha Alcaydarias mores,
q. passassem aos seus herd0* e successores. O porto de Villa de S. Paulo de Loanda nomeado
pa o primeiro, e mayor Castello, he hoje a Cide de S. Paulo de Assumpsão de Loanda q. por
morte do d° Paulo Dias de Novaes ficou livre á Coroa, e paella foram mandados Gov.Me Cappe#
4*9
Generacs, q. no decurso de mais de î6o anaoi i costa da Faz» R1 a icm fortificado, etc— - - '
O mesmo supp* die e confessa q. ceohü dos berd“ q. podifio succéder ao d* Piaifl D i« &
Novaes se encartou nas m" daquella Doação, nem assistia, ou frequentou aquaïa conquista, e
CappoJa p* ajudar, e fomentar a sua povoação e cultura daqneiUs terras da Costa Aastnf do
Reino de Angolla, as quaes boje ou esurfo desertas ou povoadas (como as mats io cefffo)
pelos Negros naturaes delias, e sugeitos aos seus Reys e Sovas vassailos des» Corca, ou abso
lutos senhores como são os q, ficão na contra cosia p." o mar de Moss* athe onde dizia o d*
Paulo Dias chegava a sua Capp.
Peilo q. tudo e o roais q. aponta o Proc* da Faz* se conforma este Cons* cota d seu pe
recer, de q. deve o supp* ordinariamente mostrar o dir* q tem ás m” prometidas ao d* Paulo
«5
Dias de Novaes, e q. este cumprio, e satisfez as referidas coodiçoens, e as mais q. for expres
sadas na carta de Doação, na qual expressam1* se lhe cominou, não tertio effimo, no caso de
as não satisfazer, e cumprir nos tempos limitados. E aroy especificam** deve o ropp* nomear,
e provar as villas e freguesias que etc.
t
DOCUMENTO N.* ú
T R E S L A D O D E H U M A L U A R A Q U E S U A M A G .° P A S S O U A O S
P .ES D A C O M P A N H IA D E JE SU D O O R D E N A D O Q U E T E M
P E R A SE U M A N T IM E N T O
Eu el Rey fasso saber aos que este aluara uirem que auendo ResPeito a ter mandado Por
hõa minha ProutssaÕ feita em outo de feuereiro do ano de outenta e seis que o Cap.** da ylha
de santome fissese dar em Cada hü anno de Rendim.** da dita ylha aos Religiossos da ConPa-
nhia de Jessu seis que Residiaõ. no Reino de angola e os dous que emtao yaõ Pera la 0 Prouí-
m.*° necessário Pera sua sustentação asim e da man.” que se Continha em outra minha Pro-
uissao feita em sete de outubro de outenta e tres Porque ouue por bem que fosse dado tal
Prouim.10 a quatro Religiossos da dita Comp.* que ao tal tenpo foraô Pera o dito Reino de
5
angola Com declaraça que lhe seria Pago na dita ylha de saotome em quanto eles Residissem
no dito Reino e nele naò ouuesem Rendim.*01 algüs Pera minha fassenda e auendo eu ora ou-
trossi ResPeito a auer ja no dito Reino 0 tal Rendim.** Pelo Contrato que he feito dos direitos
dos escrauos dele e ser justo e Conueniente que ajao nele os ditos Religiossos 0 Pagara.1* do
dito seu Prouim.*0Pelo trabalho e oPressaS que tinhao todos os annos em 0 mandarem aRe*
cadar a dita ylha de santome ei Por bem e me Pras Por todos os ditos ResPeitos que 0 tal
5
Prouim.*0 lhe seja Pago nos Contratadores dos ditos direitos que ora ssa e ao diante forem
do Prim.r0 dia de jann.re do anno que vem de nouenta e tres em diante Com sertidaõ do Ca-
5
PitaÕ mor e g." da Conquista do dito Reino de Como os ditos Religiossos sa viuos 0 Residem
nele e do Contiudo neste aluara se Poraó verbas nas Prouissois nelas Refehdas e asim nos
Registros delas que esta nos liuros de minha fassenda en os que delas estiuerem nos liuros da
feitoria da ylha de santome de que os oficiais a quem Pertensser PasaraÕ suas sertidois e assim
ei Por bem que os seus Religiossos da dita CooPanhia que mais estão nas ditas Partes de an
gola e os seis que ora vao digo dous que ora vaô Pera elas Pera ao todo serem desaseis tenha
e aja Cada hum deles outro tanto Prouim.10Como a Cada hum dos ditos outros Religiossos e
lhe seja Pago também nos ditos Contratadores do dia que Constar que ChegaraÕ aquelas Partes
em diante Com outra tal sertidaõ do dito CaPitao mor e g.or Pelo que mando aos ditos Con
tratadores que ora ssao e ao diante forem de me Paguem em Cada hum anno aos ditos Reli-
giossos digo aos ditos desaseis Religiossos 0 dito Prouim.10asim e da man.'* que se neste Con
tem e Conforme a Prouisao Por onde se lhe daua e Pagaua na feitoria de santome que se
Presentara Com este a qual ProuissaÕ e esta se Registaraõ nos liuros da feitoria do dito Reyno
de angola Pelo esCriuao dela e Pelos treslados dos ditos Registos com coohecim.10* do Procu-
420 Angola
rador geral dos ditos Religiossos feito Pelo dito esCrioaS que seraõ Conssertados e asinados
Pelos oficiais da dita feitoria e sua sertidaõ de Como nos ditos Registos se fisserafi verbas do
Pagam.*0 que em Cada hum anno se lhe fisser na dita man.” mando ao üssoureiro da Cassa da
mina que ora he^ e ao diante for lhes tome aos ditos Contratadores em Pagam.10deuerem de
seu Contrato a minha fassenda o que no tal Pagam.10montar na man.” que dito he e aos Con
tratadores lho leuem a ele em Conta sem enbargo do Regimento arca de dr.° de meus asenta-
mentos e de que quaisquer outros ou Prouisoes em Contrario e este quero que valha Como
Carta e que nao Pase Pela Chanselaria outrosi sem enbargo da ordenacaõ do quinto liuro
folhas vinte em Contrario o qual se lhe Passou Por tres uias de que esta he a Pritn.” CunPrida
fica as outras na6 valhaõ efeito = Luis fig.” a fez em lx.* a uinte e dous de nou.” de nouenta
e dous. Pero de Paiua a fez esCreuer o Cardial — A vossa mag.12 *0 Por bem que aos desaseis
3
Religiossos da ComPanhia de Jesu que Residem no Reino de angola ihe seja Pago nos Contra
tadores deles o Prouim.10 que antes se lhe Pagaua na ylha de santome Pella man.” asima de-
Clarada e que valha Com a Carta e que não Passe Pela chansselaria = Registo — CunPrasse
esta ProuissaÕ dei Rey meu s.w asim e da man.” que nela se Contem em são Paulo uinte e
sinco de abril de nouenta e seis joaó furtado de mendoça « Registo esta Registada Esta Pro-
uissao Pelo esCriuao ant.° machado a f « Catorsse e çento e quarenta e sete qua Rublica que
deClara o sinal do dito ant ° machado = o Conde «= Registo « Registado em os liuros da fas
senda delRey nosso s.or nos Registos das Prouissois que o aluara esCrito na outra mea folha
deste fas mençaô fica^Postas verbas que ele Requere a quatro de desenbro de nouenta e dous.
\ Pero de Paiua = Registo = fica Registado este aluara no liuro dos Registos do almoxarife que
serue ao almoxarife CristouaS gomes, as folhas quínsse volta Por mi esCriuao oje desouto de
março e fiquafi Postas as verbas que ele Requere de santome de mil e seis centos, digo mil e
quinhentos, e outenta e quatro annos. anrrique doliu.” borges. o qual treslado de aluara e Re
gistos eu ant.° teixeira Coelho esCriuao da feitoria de sua mag.d neste Reino de angola tresladey
bem e fielm.” da Propia a que me RePorto na loanda a desasete de mayo de seis centos e outo
annos. Antonio teixeira Coelho = s
(Biblioteca Nacional, Secçfio Ultramarina) Papéis de Angola).
DOCUMENTO N 0 24
A VOYAGE T O BENGUELLA
Then the governor sent a fregatte to the southward, with sixty soldiers, myself being one
of the company, and all kinds of commodities. We turned up to the southward until came into
twelve degrees. Here we found a fair sandy bay. The people of this place brought us cows and
sheep, wheat (1) and beans; but we staid not there, but came to Bahia das Vaccas: that is, the
Bay of Cows, which the Portugals call Bahia de Torre (2), because it hath a rock like a tower.
Here we rode on the north side of the rock, in a sandy bay, and bought great store of cows,
and sheep -bigger than our English sheep -and very fine copper. Also, we bought a kind of
sweet wood, called Cacongo (3), which the Portugals esteem much, and great store of wheat
and beans. And having laded our bark we sent her home; but fifty of us staid on shore, and
made a little fort with rafters of wood, because the people of this place are treacherous, and
not to be trusted. So, in seventeen days we had five hundred head of cattle; and within ten days
the governor sent three ships, and so we departed to the city.
In this bay may any ship ride without danger, for it is a smooth coast. Here may any ship
ihat comeih out of the East Indies refresh themselves. For the Portugil* camels {i) m w of
late come along the coast, to the city, to water and refresh themselves, These people are cal
led Endalanbondos (2), and have no government among themselves, and therefore they are my
treacherous, and those that trade with these people most stand upon their own gatrd. They
are very simple, and of no courage, for thirty or forty men may go boldly into the country
and fetch down whole herds of cattle. We bought the cattle for bloe glass beads of an web
long, which are called Mopindes (3), and paid fifteen beads for one cow,
This province is called Dorabe (4), and it hath a ridge of high serras, or aouautoi, that
stretch from the serras or mountains of Cambambe, wherein are mines, and he abng the coast
south and by west. Here is great store of fine copper, if they would work m their mices^ bet
they take no more than they wear for a bravery. The men of this place wear skins about th»r
middles and beads about their necks. They carry darts of iron, and bow and arrows in their
hands. They are beastly in their living, for they have men in women's apparel, whomthey keep
among their wives.
Their women weer a ring of copper about their necks, which weigheth fifteen pound at
the least; about their arms little rings of copper, that reach to their elbows; about their middle
a cloth of the Insandie tree, which is neither spun nor woven (5); on their legs rings of copper
that reach to the calves of their legs.
(The Strode Adventures o f Andrew Baikli o f Leigh, it Angcd#
and the adjoining regions, Eirte^
etc, by JL G. fcreatfca,
Ufldoc, Hakluyt Society, npcoca, pig, 1$.
DOCUMENTO N* s5
Don Felipe por graça de Deus, Rey de Portugal, e dos aígarues da quem, è daJem mar è
Á frica, senor de Guine, e da conquista, navegação comercio de Tioparabía perda, da índia,
&c. A todos os Corregedores, Ouuidores, juizes e justiças, oficiaes è pesoas de meus Reinos è
sinhorios, a que e a os quais esta minha carta de semtença em segunda tia for apresentada, è
0 conhecimento dela com direito pertemeer faz 0 vos saber, que en esta minha corte e casa
de supHcaçaom per ante mim, e os Corregedores de os feitos e causas crimes de la se tratou,
e finalmSte setencíou huu feito crime da minha justiça autor a falecimento de partes que acu*
zarem demandar quizerem contra Manoel Serueyra Pireyra, Gooemador que foi Dangola, reo
da outra, isto sobre, e por rezaom de se dizer ser culpado de recidemcia qae lhe foi tomada
pelo Bacharel Manoel Nogueira no Reyno do dito Angola, como ao diante se fara mas clara
è espressa menção: Por lo qual feito è termos se mostraua, antre as mais cousas nele cSteudas
d declaradas se passar da mesa do meu comceího da índia, huã minha prouição, cujo teor se
segue. Eu è Rei. Fazo saber a vos Bacharel Manoel Nogueyra, que pe la comfiança que de vos
tenho, que nas cousas de que vos emearreguar sentireis a minha satisfação, como ate gora o
tendes feito, ei por bem, que vales a 0 Reino de Angola, è tireis nele devasa do procedimêto
que Manoel Serueira Pereira teue em meu ceruiço no carguo que seruio de Gouemador 0 Ca
pitão do dito Reino, depois do falecimento do Gouernador Ioão Roiz Cominho, è fazais a$
mais diligencias cõteudas neste regimento e instrução que en tudo cúprereis inteiramente, è
assim as mais prouiçois que uos forem passadas, como se nelas contem, tanto, que cbeguardes
a vila de Loanda, mandareis nela apregoar en os lugares que vos parecer necessário, de como
ydes de vasar do procedímeto do dito Manoel Serueyra, pera que auendo alguas pesoas que12 4
3
(1) Carraca, a vessel, generally of considerable burthen, and each as could be profitably employed is tbs Brazilian
and Indian trade.
(2) Ndalabondo seems to be the oame of person. The people in the interior of Benguella are known as Bi’Qlnmdo.
(3 ) Neither Mr. Dennett nor Mr. Phillips knows a bead of that name. Mpm/a (plor. Zmpinda) means groond not.
(4) F o r an account of Dornbe, which lies to the south of St. Filip de Benguella, see Capello and Irens, From Ben-
guetla to the Territory o f Kicca, London, 1883, voi. i, p. 3 o8 ; and Seipa Pinto, How l Crossed Africa, London, i88t,
vol. i, p. 46. Copper ore abounds in the district, and a mine, four miles inland, was recently worked by the Portuguese
{Monteiro, Angola, London, 1873, vol. ii, p. 198).
( 3 ) That is, bark-cloth made of the inner bark of the tuasda, Banyan or wild fig-tree, or Fines Lvtaia (see Pedrael
Loeache, Loango Exped., voi. iii, p. 172).
422 Angola
dele se sentirem agrauadas, ou o queirão demSdar por coalquer caso que seja o posão fazer
em termon de trinta dias, è loguo pedireis a o dito Manoel Sem eira o trelado de seu regimeto
que perante vos se cÔ certara, com ho propio, è assi das mais prouizois minhas que tiuer, en
caso que não estèião registadas no liuro da Gamara, pera por eles perguütardes testemunhas
se o cumpreu, è não tem do ele regimento lhe pedireis o § se passou a o dito loão Roiz Cou
tinho, de que huzou, è tereis alçada pera julgar ate dezaseis mil Rs. nos bns de rais, è uinte
nos moueis sin apelação ne agrauo, os feitos que forem de mòr contia, è assi os crimes pro
cessareis ate os fazer com cluso, è os trareis ao meu Cõcelho da índia, pera dele hos mãdar
despachar por quem me parecer. E primeramente pergütacris per juramento a os oficiaes de
justiça, è de minha fazenda, è aos da Gamara da dita vila, è algus homens mais principais de
boavida, è costum es, è que tenhão rezão de saber de como o dito Manoel Serueira procedeu
em meu ceruiço no tempo que serueu os ditos cargos, è o que disserem, assi o bem como o
m al, mandareis escreuer pelo voso escriuão, è pergumtareis ao menos trinta testemunhas, è
perguütareis se o dito Capitão è Gouernador guardou a forma de seu regimento que mandei
passar a o dito loão Roiz Coutinho, a que sucedeo por nomeação qu en ele fiz, è assim as
mais prouiçois q ele tinha, è lhe mandei passar, è assi as mais que a ele Manoel Serueira foráo
passadas, è se guardou justiza as partes no que toca a seu oficio è cargo, ou se por peita, odio, ou
afeição torceu a justiça, ou a dilatou, tirando a a huu pera a dar a outro, è se con justas causas, è
verdadeira emformação passaua os aluaras de fiança, è se dormio com alguas molheres que com
el tiuessen negocio, oi&equeresem alguü despacho se impedio a os oficiaes, assi da justiza, como
da minha fazenda fazerem sus ofícios, è se ele se intrometeo a fazer o que a eles pertemcia, è se
julgou en cousa sua propia, ou nas em qu era suspeito, è seindole intentada suspeição não quis
deferir a ela, se fez guardar è conseruar minha jurdiçSo, ou se a deixou tomar a os Eclesiasticosí
ou a os donatários mais do q tem por suas doaçois, se tomou a os Eclesiásticos, ou a os Conce
lhos ou donatários sua jurdição, se ouue empréstimos ou fez compras, ou trocas, ou outros con
tratos com alguas pesoas que tiuessem requerimento diante dele, ou por força è com poder de seu
cargo obrigò alguas que lhe emprestasse ou vendesse, ou trocassem alguas fazendas cotra suas
vontades, se tomou mantimentos, ou otras cousas, sin as paguar, ou fiadas, contra votade de seus
donos, ou por menos preço do que valião, pera si, ou pera outre ou pera minha fazenda, sem
ordem dos menistros dela, se mandou ouprohibiu que ninguém vs de suas mercaderias, ate sele
vender as suas, ou obrigou alguns que las comprasse, se fiz alguns tratos ou contratos proibidos
pelas leis, digo por minhas leis, ordenaçois e prouiçois, se teue comercio con os rebeldes, cosa-
rios, e les cóprou fazendas pera resguates, ou os proueo de mantimêtos, ou lhe deu fauor ou
ajuda pera entrarem os portos daquele Reino, ou não empedio entrar neles, e se guardou è fez
guardar as prouiçois è leis que sobre os rebeldes estrangeiros mãdei passar, è como se ouue com
a nao de Amburgo que daquele porto foi en tempo do dito Ioan Roiz Coutinho, por cotrato de
tornar a ele, è se oue efeito o cõtrato, que com ele fiz, è se a deixou entrar naquele porto, è às
cousas que nela vinhão se se descarregarão, è em que poder estão, è quãta era a fazenda que trazia,
è o que poderia montar, ou se não deixou entrar, è deu á execução a dita prouiçao passada
sobre o com ercio dos estrangeiros, se fiz algua guerra injusta, contra os naturais da terra, è
diso se seguitão alguns perjuysos è emcombeniêtes em meu ceruiço, se fez algums vexaçois aos
souas e deles recebeo alguns donatiuos, eporalguuns respeitos e intereces fez repartiçaon deles
contra minhas prouÍ2ois, se por si, ou por terceira persoa mandou fazendas a os luguares deíezos
por minhas leis e prouizois, se oue a seu poder algun dereito de minha fazenda, e tratou e ne-
goceu con ele se fez seruir alguns homens ou escrauos alheos em seu proueito sei lhes paguar
o que direitamente merecião por seu ceruiçio, se disimulou com algüs mal leitores, e podendo
os mandar prender ou castigar, o deixou de fazer, perguntareis em q tempo chegou a nao
palma ao porto da quele Reino e coatos dias esteue enele, e se as guardas que o dito Manoel
Serueira ne la posherão pesoas de confiança, e que fazenda se tirou dela, e de que calidade he se
tirou algua pedreria sou pasau caures (sic) e quanta podería ser, fazendo sobre iso todas as mais
deligencias nesesarias, e o modo, e procedimento q nela teue em lhe acodir com o necesario, e se
por sua parte podeiravir algün prejuízo a minha fazenda se quãdo vinhão rebeldes ou enemigos
a os portos daquele Reyno, acoudia com breuidade e daua todo o remedio necesario pera os
ofenderem, e não-cheguarem a eles se proueo cruencias de ofícios da justiza ou fazenda ou da
m ilícia em pesoas benemeritas, e serão meus criados, ou não, e se for por respeito de alguas
■/
.» 1
«* -V /,« 'V
*y •í 1
•
Apêndice
dadiuas ou afeizSo se paguaua c fazia paguar a os capita« e alferes e geme de ifaflUsr% oo»
tempos ordenados en as ditas paguas auía alguu cocloío, se vízitm os ferres de suâ obrigo»-*
ção, e lhes acodia cora as cousas nesesarias a seu tempo: e ae por causa se fiws nío ícadtr
auia queixas dele se tendo obriguação de fazer acudir as pesoas ed eu a a tk a s com seos pagua-
mentos se lhes dilaiaua por alguü respeito, e así de como procede nos minas de prata dcCam-
banbe, e as diligencias que fez na verificação delas, e as teitimunhâs que perguntardes, inquiri
reis se sabem alguas cousas, mais das cõieudas nestes capíiolos, em ^ o dito Manoel Seruer^
de t pase (deixasse) coraprir comsua obrígoaçao, e os autos desta deuasa, e residência, txnro
que foir acabada de tirar ma emúareis por duas vias ficado tos as propias na ralo pera as
trazerdes quando vierdes pera este Reyno huua das quaes vias vira em companhia do dito Go-
uernador se for acabada como por outra prouíçao vos mando que era entregueno meu CScelbo
da indía, escrito emLisboa 3 tres de Abril demil seiscientos e sete, o Secretario PedroDicosta
o feze escreuer». Obispo dõ Pedro. Instruçfio e Regimento que Vosa Magemde manda dar a o
Bacharel Manoel Nugueira, § ora vai ao Reino de Angola, a deligencias de sea ceruiço e as
fazer na manera íj nele vai declarado pera vosa Magestade, ver Pero de Mendoça Fanado,
Sebastião Barboza, &c a qual minha prouiçío semdo asi dada ao dito Bacharel se rnostraqae
a os dezaseis dias do mes de outubro do anno de mil e seiscentos e sete na villa de Loanda do
dito Leccmceado Manoel Nugueira meu sindicante mandou ao escriuao de suas rezidencia
Diogo Lobato Pinto fazer auto e jumiar a ele a dita minha prouizão, instrução e regimento
por onde eu lhe mandei tirar a dita deuasa de procedimento do dito Reo Manoel Serueira Pe
reira teua em seruírme no dito cargo de Goueroador daquele Reino Degola, e em efeito de
lhe tomar residência na forma q por mimlhe era mandado, e de feito autuou o dito escriuio a
dita prouizão juntando o treslado no que tocaua a o dito Reo Gouemadot do dito Reino, e
loguo mandou lançar pregois por aquelas partes a seu poder os aluaras, prouízois, regimentos
na dita forma que pela prouizão lhe fui mandadocobrar, e cobrados, e lançados os ditos pre
gois em lugares pubricos, que toda a pesoa que se sentise agrauada do dito Gouemador, ou lhe
deuese, ou lhe pedese, ou lomase alguá cousa, se fose a ele sindicante lhe faria justiça, o semdo
devulguada a dita residência, o de como sehia deuasar do dito Reo, se a prezeaiarã a o dito
sindicante algus capitolos a modo de lembranças de cousas tocantes ao procedimento do dito
Manoel Serueira, que seruia de Guouernador no dito Reino, qdepois de aprezet&das no cocelbo
forao tornadas a embiar a o ditoReiooDaogolaperaseperguntar por eles e de feiio pefguumou
o dito sindicante teste aranhas pe los meus apontamentos, e pelos ditos capitolos em que se
reíataua, e dezia por escrito, que comesando o sindicante Filipe Butaca admenisirar justiza no
Reino Dangola contra os muitos culpados, que nele auia, se foi por seu mandado a preder huG
custodio coelho omera perjudicial, e mui culpado pera efeito de lhe tomar menagem, he o
mandar prezo a este Reino, a o qual não quizera obedecer, tratando mal de palauras e o ou*
uera por entregue a loão de Araújo, q ao tal tempo era Luguanenente do Gouemador, e deste
caso se lhe deu conta, e nlo deíirio nemrespeitou a o meu ceruiço, que ui esto se fazia, o que
mandando o dito sindicante huú precatório ao dito Gouemador sobre a recadação da fazenda
dos defuntos, respondeo, a ele que a reis se não roaadauáo precatórios por coanto ele o era, e
por tal se iatitulaua, o que per autos que vierão aocomcelbo daÍndia, e a mesa da comsiencia
eu teria visto, e semdo lhe pedido o culpado a elle Gouemador, o não quizera entreguar, mas
antes o fauoreceira, e fizera capitão mor da guerra emCambambe, e despois disto foi achado V
este custodio Coelho emcasa de hu capitão comsua molher que matou, e ele culpado lhe fu z s .
gira, o não o poderá prender por ser fauorecido das justizas, e do dito Gouemador, o qual
neste meo tempo mandara que dentro em trinta dias o dito sindicante se embarcase pera o V
Reino, por coanto leuara prouízois falças, e comtudo isto foi mandado prender pelo dito Go
uemador, maltratado, e avexado, e desta maneira o fez embarcar, e pera q o seu escriulo nao
dese fe disto e o mãdou preder afira de depoisdosindicanteembarcado, alcamçar dele as culpas
q erao feitas contra ele Gouemador, e semdolhe pedidas por ameago e peitas, e não querendo
obedecer*ànenhua destas cousas, o mando degradarpera a ilha deMasangaoo, e disera o Mestre .i **■-
q o leuaua, o distasse a os laguartos do Coãça, o qual auia catorze mezes que andaua nos
matos, e falecendo loão Roiz Couunho, e posto por nomeação a Manoel Serueira Pereira no
dito Rejno de Angola, se achou nele com ciucuenta homSs de espmguardas, e trinta e cinco
caualos, e com eles foi dar guerra a Cafuche, e foi emsua ajuda Lãgere Soua poderoso vas-
424 Angola
saio meu, por dizerse, o dito Cafuche ter comido e mortos passãtc de duzentos Portugueses, e
indo dfido guerra à o dito Cafuche, leuãtou mão dela o dito Gouernador por quarSta peças
que le mâdou de presente, e o dito Langere se anojou deste procedimento contra o dito Ma
noel Serueira por ser t5 to cõtra o meu ceruiço, è por esta misma causa, raadou, digo deixou
de acodir a os q andauão nas minas, com mantimento, nc assimismo quizera descobrir outras
q sabia, è estando o Gouernador em Cãbãbe, e feito o forte <5 nele esta a de taipa, pelos mora
dores cõ agente, è caualos cj comsigo tinha facilmente pudera chegar a cidade de Cabaça Banza
dei Rei de Angola, o que não fe2, mas antes mandou a o seu capitão mor por caza dos mais
capitains, è sobomando os pera que dessem seus votos em larguar a pretenção da guerra, que
se lhe podia dar a o dito Rei, è 3 si assi não fizessem ficarião no forte padecendo muitos tra
balhos è fomes e os que fecerão o que ele mandou, lhe passou certidois feitas por sua letra
que depois se tresladauão sendo falsas, è q fora por outra ves dar guerra a hG Soua lhamado
Angola CabSga è ames que lha desse fora dele peitado com cem peças para que desse guerra a
Axila Ambãça, inimigo seu, peruertSdo a boa ordê?j deuia ter no meu ceruiço com estas cousas
è assi estornou a conuerção è amizade delRey de Angola, que le tinha mandado Embaxadores
pera dela tratar, è de paz que queria ter comigo, ò que o dito Rey deixou de fazer poro dito
Gouernador lhe dar guerra a hG amigo seu, è retem en seu Reino tee hoje huu Embaxador
como catiuo, que se le mãdou, è apregoa guerra contra os meus vassalos naquelas partes, so
por respeito deste agrauo se lhe fez, è que era grande perda pera minha fazenda, o não se
ter amizade cõ este Rei, assi pera a Christiandade, como pera o proueito q se tira das minas
de Monopotappa, poi^se perdeo camino pera elas, por ser por suas teras, e assi deu guerra a
hu Soua, chamado Langere, andugu injustamête matando è catiuando filhos e molheres que
podia acolher não bastando ser 0 dito Soua vassalo meu, è o queria fazer da misma maneira
à outro por respeito de huas palauras q comtra ele disera de fazer guerras por peitas se lhe não
estoruara o capitão mor com lhe dilatar seu mãdado, q táben foi depois maltratado pelo Go
uernador, por lhe não obedeçer. E que tomaua todas as fazendas q hião boas, como prata,
ouro, è mais cousas, è tudo pagua mal, è por menos do que valião, è as boas embarcaua e
mandaua por sua conta, tomando as prassas delas à os homens q as leuauao do Reyno, è as
fazia em aquele Reyno ficar perdidas, è mãdaua prender à muitos armadores, è senhorios de
nauios sem culpa algua, è os tinha prezos atee que por ordem de huü Francisquo da Rocha
escriuão dos defuntos (que para este efeito tinha) lhe dauão cãtidade de dinero pera os sol
tarem, e o mesmo vzaua cõ coalquer outro home que estiuese prezo por alguü crime, e assi
nas demãdas que auia fazendo dar sentença pe la parte, e mais daua de peita a su arrecadador.
E que como lhe faltaua o necessário pera sua casa, mandou tocar caixa, e notificaua a todos
pera a conquista, os quais vedo isto pelo que receão desta jornada lhe acudião con muitas
peças de ouro e prata, e assi de mantimentos que guastaua em festas e loguo em estãdo satis
feito desiste da impresa, sendo assimque as mais das vezes que isto fazia, estaua a dita cõquista
de paz, e disto tinha por quatro vezes vzado no ano passado de 6o6 com que aquele pouo es
taua perdido, e dezia, que o dinhero vencia o meu CÕcelho, e por esta causa os capitais e
soldados se ttnhão feito marcadores, e os mais deles passados ao Reyno de Congo. E q se tra-
taua mais de como era muito disoluto e malquisto de todos, por procurar e adquirir molheres
casadas, e de cinquenta q podia auer na quele Reino dis ter alcançado vinte e cinquo, e que
pera yso vzaua de arteficios diabólicos, tratando com feiticeiras, e alcouiteiras, pela qual oca-
zião se salem da terra donde esta muitos homens casados com suas molheres, pera os matos,
porque as que não podia alcançar, lhe daua musicas de noute, so àfin de as infamar, o que
facia em companhia de hom€$ malfeitores e facinerosos, e indo orde minha, sobre à fazenda
de Gonzalo Vaez Coutinho mandara o Gouernador corese o contrato por minha ordem, e
fizera proueedor dela ha hG primo seu, por nome João de Araújo, da qual muitos homens
tinhl dado suas fazendas à os feitores do dito Gonzalo Vaez pera sustentação da cõquista pera
le pagar? os direitos das peças q do porto saisem, e fazãdo eles petição a o dito prouedor
pera se dar snça lhe não quisera diferir se não por dinheiro que pera iso lhe derão, en que dezia
por todos lhe darião mas de quatromil cruzados de que o rol dos que assi derao o dito
dinheiro e que r€dose isto justificar se podia fazer neste Reyno, e q o dito Gouernador comia
dous mil cruzados de minha fazenda sen ter pera yso ordem ni prouiçãon algua. E que tinha
cobrado en si todos os quintos das gueras, e os assaltos que importauao grande cantidade de
Apêndice 425
oli* jT iir« a en n^ ‘uro delí* <?ue P«r* « w «aà ni feitor*. E que ?? h/í-n h
hlisp«rteoce'n<Jo ludo àPmiràt°círoU 7
a,:rMdor r5o<:',a(roc<:nliu ' ciaíy{raa F'*'4‘ c ír S
5 L quais pezas fizera logo contraJ ’ T *! dcaa. ,n,por,lr “ “ Pr« a « * * * 113
d* 1 seis mil patacas, e qu£ 9
mdcs MU,0S « ^ *«*<> d# ™»t<* f**«* * *
JJe tomassem as fazendas p r p e rd iL ^ T ?5° T * * * RC7n0' ^ • S * w * ' ?í
m aue tinha dado de perda à mínK^r , p í° Con,r*iro contrawndise com os
S e » ter mandado algus sei, na,* * d'/ em “ “ CrWad°!’ ' Jc sty p* íff
dmbiaua à 0 Brazil, sendo pelo ,nn, dl prata d,wodo B0S desFícb°5 1« le djSÍ- 5 ?*
S cruzados, por quáto os que S5 *? daua de P4“1* à “ «*» ^ * * d de,
Lauáo por cada peza tres mil J / S ® ““ f qUe1' ^ f ** ' •*” ° BriZ,! * * '
f or este comluio que tinha ordenado f i - * ” dire,,Uf4 * ° f'° d®pra‘5 p,!aM 4mdob,°* * t
Lrão. £ q se trataua mais da nao Pnl fica’Jf° Pa8oâdo 0 5 sc Pa»aua no Brart- “ •»- * * & l
por guarda a seu primo los/J"? (deq era Capil50 V'C£nte de Bnl°*'e dt
i » .. -r ” ío f™“1”' *» ^ >“j “ — •
\
ia
mercadorias de la tee à cidade seníln a qUe °UUera grandf dcu3S,daon fâ2ea4ii;! J-
!" eas publicas de todas as fazendas m,! m4S de h“ 5 lêg° a< 6 âuend° mercadores «®
1 \ meus direitos mais de quarenta m í c r l f VÍDhl0 *“ q d“ ^ ‘ ^
L fazendas mais de doze mil cruzados F 'a ‘ °UUera mCrCad° r q° S * * ' * ^ im?r:P n
■I
fflandar trinta legoas donde estaua vn e n 'r ? “ h‘a Goueraadof deste Reino 0rdeB0a
nao, a 0 qual chamauão Luis Franco que « ^ 0 T ^ d* f° pai q **” " ^
milhor efetuar seu intento, lhe dera J L de '° panh,aS’ 540(10 mulat0 caouo e Pí t ‘
companhia cem soldados e . . . 6 T “ * T V * ’ de ordenado Praçanoua, e pera sua
jjiilhor comtem nos ditos capitolos pelos ‘"í* ^ * CUStS de minha íalmàt’ como íe
L a prouiçaon com ela, e com todos os m^ do Perg“«ntadas testemunhas na forma da
a « te Reino, onde 0 reo foi « í í l ‘ ” ' f ' 05 6 SeCrKWs COffl 0 dit0 rí0 Pr“ ° foi « i d .
d
omde se deu no fin dos ditos a u J o desoachoV °$ T “ meza do ConcêIbo da “ dia>
ao o » , d. c . „ , o L . S ^ s . E, ;*‘ or ’ " ^
a 0 Bacharel Manuel Nugueira tirou por seu mãHst '* “ ? 5^ edm saJ’
Serueira de q náql Reino seruio de oLrnadoTpor L r te L - '^ r
nador dele có os adjuntos q 0 Corregedor da casa d ” ™ \
1 tac o n fnpur a c.,o ^ 8 OT üs casa Qasup]icaçao lhe nomear, ouuindo pera yso
aS^ ar è os libelos è atnn' -Za^ ° p6rf 0 ? se le entregarão as deuasas è papeis (odres a suas
^ • PTh He d i ‘ q T L e'e no i" “ ^ d|w sindfcãte e q estaa neste
Cccelho de d o e v ntecres de Agosto de seiscétos e oito, por b? do qoal despacho os ditos
autos f0ra° t a d ° 2 dlIamf ' d*S° M íi» Corregedor, è depo.s de lhe Z é dados foto
dlt0 reo por outro despacho da mesma meza do concelho da ioda mãdado soltar dapnçáo en
£j estaua nesta ctdade per rezao das ditas culpas, e isto sobre fieis carcereiros, em omenagÊ
em sua casa, co fiança de contia de tres mil cruzados, e pera se liurar delas detro de oito
mezes v.sta a tnformaçao q ouuera do dito Corregedor, è por vermde do dito despacho, o dito
reo deu a dita fiaça, e dada co os fieis carcereiros q lhe forão mádados dar na forma do dito
despacho do Cocelho da tndia, e sendo como dito he dada foi o dito reo leuado a sua casa,
onde se le tomou a dita omenagê, e depois lhe foi leuãtada, e logo o dito reo Manoel Serueira
Pireira dese q era comete de estar pe los autos e os fazer judiciaes per hú seu asinado. E !oSo
outrosi se fez diso termo q dis ser feito a os vinte hu dias do mes de Fiuireiro de mil e seis
centos e noue nas posadas do escriuão q esta sobrescreueo, onde o dito reo pareceo, e disera
q cotra ele auia, e as fazia judiciaes sem a iso ter nenhüs embargos né côtraditas, em o qoal
termo pedio se lhe dese uista para a rezoar, e de feito se lhe deu, e tato por sua parte foi dito
a rezoado, e alegado de seu derito e justiza, q con tudo mandei q o dito feito me fose leuado
concluso a o q foi satisfeito, e sendome leuado e uisto por mim em relação cõ os do meu de
sembargo nomeados pelo Regedor de minha justiza, naforma do dito despacho. )
Acordei, &c, vistos estes autos devasa da residêcia q se tirou por priuição do dito senor
do Gouernador q foi de Angola, o reo Manoel Serueira Pireira, capitolos, regimento jüto, e
certidois ofrecidas dadas em proua, pe los quais autos o reo estar, não se mostra tãto
contra o reo perq pena mereza, antes se mostra ser muito obediéie a os mádados dito snor,
como uerdadeiro vassalo, e festejar todos os seus bons sucessos, e se mostra no auiamêto das
54
42Ó Angola
ires naos da índia e na earauela de Malaca q a o dito porto vierão, ele asistir cõ muita indus-
tria de sua pesoa, e cuidado atee as auiar de leme a huã delas, e de todo o necesano, e as por
em estado de as laçar do dito porto a veia, e mandar pera este reino: mostrase o reo fazer
muitas gerras a seus im igos e auer cõtra eles muitas vitorias sendo nelas muito bS afortunado,
e não ficar devedo nada a os oficiaes da justiça e fazeda, e proceder en tudo cõ concelho das
pesoas de experiScia e respeito, q cõ o reo asistiSo: è se mostra no somête le sere impostos
injustamõte alguüs cousas» mas ter bê ceruido cõ zelo e deligícia a o dito senor, e ser mere
cedor d lhe fazer hõras e merces o q todo visto con o mais dos autos, absoluo o reo das ditas
culpas q lhe Corão im postas, è page o reo as custas do seu liuramemo. Lixboa trinta de Março
seiscetos e noue, & c. E por tãto uos mando q asim o cüprais e guardeis, e fazais muito intei-
ram ête cõprir e guardar, assi com o por mim he acordado julgado detremioado è mãdado, e
com o se nesta minha carta de senteça se conte a qual tãto § vos for aprezentada, sendo pri-
m ero pasada pe la minha chacelaria não procedereis cõtra o dito reo Manoel Serueira Pireira,
p ela culpa ou culpas da dita residScia do têpo ^ seruio de Gouernador Dgola, por coãto o
absoluo delas por lhe sere impostas injustamete, e ser merecedor de eu lhefazer hõras e merces
tudo conform e a esta minha carta de senteça q hus e outros assi cõpri, e por coãto ja foi pa
sada otra senteça a o dito reo do teor desta q pcdio en primera via pera o dito Reino Dãgola,
ora se lhe deu esta em següda via, em forma q auedo huã e feito a outra não a auera dada
nesta C orte e cidade de Lixboa a os trinta de Março de mil y seiscentos e noue 1f. Del Rei
noso senor o mãdou £elo Doutor Bertolameu Roiz Lucas Fidalgo de sua casa e do seu desõ-
bargo Corregedor con alçadas dos feitos e causas crimes em esta sua Corte ecasa da suplica
ção, Frãcisco Pinto Carneiro a fez. Por Simaon Dalmeida escriuaon da dita correiçaon do
crim e da corte e casa da suplicação, pagou desta seiscõtos reis, e dasinar coreta reis. E eu
Stmão Dalmeida a fiz cscreuer,
Bertolam eu R oi\ Lucas,
(Biblioteca Nacional. Reservados. Secção Pombalina, Mss, 526,
Fols. 294. Impresso).
DOCUMENTO N.® 26
T R E S L A D O D A P A T E N T E D O G .°R D E S T E S R E Y N O S
D O S .° R D O M M .EL P E R E IR A
Dora felippe P or graça de deus Rey de Portugal e dos algarues daquem e dalem mar em
afríca s.or de guine e da conquista nauegação comercio detiopia arabia Percia da yndia &j,*
fasso saber aos que esta minha Carta uirem que Pela m.u Confiança que tenho de dom m.°l
Pereira fidalgo da minha Cassa do meu Conselho que nas Coussas de meu seruiço de que 0
enCarregar Proçedera que digo com a satisfaçaõ que a ele Conuem e Por lhe fasser merce ey
P o r bem e me Pras de o enCarregar de Capp.“” mor e g.0T da Conquista do Reino de angola e
das mais Prouíncias dela em que esPero me sirua como a ynPortançia da dita Conquista o
Requer Pelo que mando a todos meus Capitais dele e oficiais asi de justiça como de minha
fassenda fidalgos Criados meus homês de armas e a todas as mais Pessoas de qualquer Cali-
dade que sejão que no dito Reino Residirem e ao diante nele estiuerem e aos Capitais esCri-
uais mestres P ilotos e gente das naos e nauios da armada em que ele vai e ao diante forem ao
dito R eyno emquanto o dito dom m.®1 Pereira me seruir no dito cargo o ajam Por seu Capp.a“
m or e g.or da dita Conquista e Como tal lhe obedeçaõ ynteiram.1®e CunPraõ e façaõ o que ele
de minha P arte lhes mandar segundo forma da ynstruçao e Regim.1®' Poderes e alçada que de
mi leua. e ao diante lhe der P or minhas Prouissois como saõ obrigados e Por esta Carta Co-
m essara a seruir a dita Capitania mor e gouernança e dela ussar tanto que chegar a angola
emquanto o Eu ouuer P o r bem e naÕ mandar o Contrario com o qual auera em Cada hum
anno emquanto assi siruir outo çentos mil Reis de ordenado que Comessara a uençer do dia
que P artir desta çidade Pera o dito Reino e lhe seraÕ Pagos no feitor dele aos quartéis do
anno P o r esta so C arta g.ral sem outra minha Prouissaõ que sera Registada no Iiuro de sua
1
4 a;
desPessa Pelo esCriuao de seu Cargo e Pelo dito Regíoo t Conhccíffl*^ do d ito dom m«NPW
reira. lhe seraõ os ditos outo çentos mi! Reis de ordenado leuado* em Coou em q a xa to as*
seruir Como dito he e ames que ele Parta deste Reino me fara Pleito e menagem 4a_<itU Ca
pitania mor e goueraança segundo usso e Custumc destes Reynos de que aPreacntar» serôisd
de XpouaS Soares meu seCretario nas Costas deita Carta e jurar* em raraiu-dM&çelaria to $
santos euangelhos que bem e uerdareiram.u a sírua guardando em todo meu s<r»«p*ç'a*p*ftei
seu direito e Por firmessa do que nesta Carta se Contem ihi nuedey dar Por aà armada e
çelada Com o meu çelo Pendente dada na çidade de Lx* a dous de agoito frtan.w ferreira a
fe$ anno do nacim,10de nosso s." jesu xpo de mil e seis çentos c seis e eu o seCret&rò Pero
da Costa o fis esCreuer *»elRey o qual treslado de Carta eu esCríuaS aqui tresiadey da ProPia
que torney do dito s*wgouernador dom m.*1 Pereira sero coussa que dauída fassa a que me
RePorto oje des de setenbro mHe seis çentos e sete aonos = m.*1 Cardosso damaral a qL pro-
uizaô eu duarte Roí£ esCriuao do desembargador Andre velho da fouçequa fu tresUdar de hu
Uuro da feitoria onde se Registã as prouizoes de sua magestade e âelmente se ccusa q, duuida
fasa e a c6sertei cõ o díto desembargador íj, comigo aqui asincu em saõ pauIo da lotada a
uinte e tres de feuereiro de mil e seis centos e ouze anos.
D uarte R m f.
Concertado comigo.
[Tem a rubrica de Andre Velho da Fonseca],
Consertada p. mí escriuao.
D uarte R o if.
(Bibliowca NtrioaaL Secçáo Ultraasnoa. PspéU àc Angolt).
DOCUMENTO N * 27
Dizemos nos dom manoel pereira do coas® dei Rey nosso s0f que ora vou por governador
E capitão geral do Reino de Angola E João de argomedo veztt desta cidade de Lisboa que nos
estamos consertados por companhia na maneira seguinte E com as condiçoés abaixo decla
radas.
que eu João de argomedo me obrigo a servir ao dito $w governador E correr co suas
couzas neste Reino en virtude da procuração q me ade ficar sua Recebendo qualquer dr« ou
mercadorias que seu vier a este Reino ou a seus É despendelo por sua ordena E lembranças
£ assy me obrigo mais eu díto João de argomedo que tendo em meu poder dr* do dito
sor governador que aja de ampregar em fazendas para Angola empregarey mais de meu cabedal
outro tanto quando Importar a parte do dito s* gw
assy me obrigo mais por servir ao dito sw g°' mandar daqui na monção de setr® proxímo
q embora vera deste anno prezente hü navio ou caravela fretada pBAngola para canaria car
regar de vinhos dos quaes farão a metade por conta do dito senor governador E a outra me
tade por minha conta E parecendome fazer algum seguro nelles o farei lambera pella conta
desta companhia E porque neste dito tempo não ey de ter dt* do dito senõr governador para
0 que se montar na sua meta(de) do custo dos taes vinhos e seguro sou comSte de lho em
prestar E suprir por elle os primeiros seis mezes depois de dezembolssado E se ainda antão
não tiver dr* seu de que me fazer pago 0 tomarey por sua conta a cambio para as feiras ou a
Rezão de juro como 0 achar enquanto vem dr° seu E eu dom M*1 Pereira aseito este servy*
com a dita condição e sou contente correr 0 Risco do que me couber na carga do navio ou
caravela que 0 dito João de argomedo fretar pia maneira sobredita E ambos nos conformamos
en que os ditos v°* e fazendas q deste Reiao forem por conta desta comp* va tudo constnado
en Angola para as aver de Reçeber en dom Mtl pn ou a pessoa que eu ordenar
E assy declaramos que somos contentes que tanto quelle João dargomedo for Reçebendo
dr° delle senor g" hira carregando por conta desta corap* igoalmu as fazendas que lhe pareçer
e na canaria pia mesma maneira os v.0>quelle pareçer
E eu dom m*1 pra me obrigo Reçeber ou mandar Reçeber en Angola as taes fazendas e
428 Angola
vinhos E fazer bom en hGa conta que mandarey ter ar(u)mada desta comp* os Rendimentos
de todos os vinhos E fazendas que chegarem en Angola pertençentes a elia E no debito da
mesma conta mandarey E farei lançar o custo das peças E d o dr° e marfim ou letras q mandar
assy mais me obrigo Eu dom M*1 pereira a mandar o proçedido en Angola dos ditos v*f E
fazendas por esta maneira, en dr° de contado por via do Braztl ou vendidas en Angola peças a
pagar no brazü ou a pagar nas índias ou empregado em marfim, ou carregar peças para índias
en todos os navios que forem para cartagena ou nova esp1 poucas ou muitas aquelas q mais
acom odadam 1* puder mandar o que hira consinado a saber p* cartagena ao capitão Jorge fer-
nandez gram axo auzente a duane de Leão marquez e na de ambos a Luis alvarez caldeira
para nova Espanha a Á lvaro Roiz dazevedo auzente a garcia de coadros na de ambos a An
drés da costa
para a bahia a Julio de moura auzente a Luis vaz de paiva na de ambos a di° de campos
E para pernambuco a m*1 Lopez correa auzente franfo de villas boas na de ambos a maooel de
chaves villapouca advirtindo não carregar peças com armador nem mestre de Sevilha
nem fazer con nenhfi delles venda nem outro neg* por conta desta campanhia
E eu Joa5 dargomedo me obrigo ter hQa conta de debito e credito na qual lançarey Em
debito os custos dos vinhos E das fazendas que por conta desta companhia caregar e assy os
seguros e mais despezas: e Em crediio delia farey bom todo o dr° que Reçeber E Rendimento
de marfim ou assucares ou outra qualquer mercadoria que a meu poder vier E assy as par
tidas desta minha con$a como as da conta qúe mandar ter o dito sor governador se dara cre
dito de parte a parte sem nenhum de nos grosar nem por duvida a nenhuã delias
E declaro eu dom mòí pereira que sendo caso que mande carregar alguãs peças por minha
conta a parte, que não levarão outra marca qua aquella com q forem marcadas as peças da
companhia antes as mandarey marcar todas juntas en hG lugar de brasso ou peito para birem
misticas E somente avízarey a pâ ou pessoas a qué forem consinadas q do proçedido que ficar
liquido daquellas peças que ficarem vivas me cabe o que eu avizar e que Rato por cantidade
me faca bom o que me couber
assy mais me obrigo eu dom mel pM ordenar as pessoas a que Remeter peças, dr°, marfim,
letras, ou escreturas ou outro qualquer genero de fazenda que o proçedido de tudo mandem
dirigido ao dito João dargomedo ou a quem seu poder tiver E por sua auza en sevy* a fr®° pinto
da fonseca auzente a pedro de jaem ou gaspar lopez de Setuval e para 0 porto de portugal a
joão de paz e para viana a Andre dazevedo para que qualquer delles siga do que Reçeber a
ordem do dito João dargomedo
E assy declaramos que esta companhia durara por tempo de tres annos que comessarâo a
correr do dia en que eu dom mel pereira chegar a angola en diante E pareçendome que aja de
durar mais tempo avizarey a elle dito joão dargomedo seis mezes antes de se acabar E vindo
elte nisso durara aquelle tpo em ?j nos conformarmos E nos obrigaIBO,l cada hü de nos per sua
parte a cumprir este asento E companhia con toda a pontualidade divida como de mercador a
mercador.
dommei pra
Joan de argom edo.
(Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina. Angola. Caixa n.° 145).
DOCUMENTO N.° 2S
E sta não serve de maes que de dizer a V.M. que tudo o q. bartolomeo jorge levou que foy
800 p or minha conta e risco mandara V.M, entregar a Dofía Maria porque assy o ey por bem,
ás jndias escrevy a Andre da costa que tudo o que tenho remetesse a V. M. jaa por duas ou
tras vezes o tenho feito, deve elle de o ter remetido, e assy lho tornarey agora a escrever, e a
jo rge fernandez, gram axo, e também mando a V.M. os dereitos de trinta Pessas que fico de
m aar em barcafsícj em hum navio, elle avisara e dara razão disso, como partir o registo que
me ficou fretey hüa naao pera nova espnha a sete mil rs. pareçeonos assy milhor que mandar
vs
i hCa que eu tenho, que he nora e moiio fennow, « u «****? * W rr» ttato com o P* m io
que fiz pera me jr nelle e outra pera pernambuco que leva q u m ctsitts peswu, e é t h
de peroambuco m andar que vaa carregada a essa cidade alem de,nos parecer que era ysr.j
proveito fica sempre a naao para se poder vender, porq. be boa e nova, nío íe*fe>per<m
maes de que avisar a V.M. se não pedirlhe que queira logo mandar js& a D^na M jnj p>ra
3
suas necessidades. Nosso s" g a V.M. sam paulo de Loanda i de março ti
dommtí pr*
Na capa: A João dargomedo
que Deos guarde,
a.» via.
»
DOCUMENTO N.° 39
SenSr
í 3
Cheguei a este porto de loanda Reino de Angola em i de nou.** e fui correndo com as
execucoins q. V. raag.* me manda faser Em os deuedores de sua faseada aquoaí segando vou
achando se gasta com pouca consiencia E m,* fora do seruico de V. mag.* tendo mandado
despender cora titulo de gastos de conquista alem doque se sonegou a fasenda de joao ftoíf
coutínho e de nouo ao que ficou por morte de Duarte Dias lobo feitor que foi neste Reino E
com a morte deste feitor perdera a fasenda de Vtn. porq. gastou m * e tira som,* ate uinre
mil crusados em escravos E fasendas da terra q. nao be rais E podercea achar dificuhosam.“
a iarguesa con Éj. algüs gouernadores raandaraõ gastar contos contos sendo som.* necessários
P-* a conquista Em cada hu anno ate catorse como mais largam** informarei a V. mg.* com
senidoins nos pr.°* oauios.
Tenho executado ao gouemador Em dous mil E quinhentos crusados que dcuia a fasenda
5
de joaÕ Roiz coutínho E na fes duvida a pagar como também Espero a caÕ fsra E se a fiser
usarei dos poderes E comissão p.* Este caso tenho de Vmg.* te q. com Efeito pague E asi
todos os mais que deuerem q. sao m.tf>
Ao CapiiaS tnanoel da Costa tomei cento e tres mií rs, em prata lavrada q. tinha de joaô
Roiz coutínho E ao capit&õ julio macote Em trinta marcos de prata laurada bü Escritório de
alemaQha q. vai mais de corenta mil rs dous tranciíins de ouro. creo q. se irao descubriodo
alguãs cousas segundo tenho per informacaÕ porem p.a V mag.* poder auer bom pagam.* do
que se achar sera defecultoso porq. neste porto nao corre nenbu dr.* de prata nem ouro por
5
ona aver e som.* ha Escrauos e panos E nos Escrauos ha grandes perdas asi por morrerem
m.** como por ualerem embarcados E pagos fretes e manttm.u* per perto de trinta mfl rs. E
no brasil as ueses nao ualem tanto alem do risco do mar pello q. a falta de dr.* E de letras
q. naÔha nenhuã neste Reino fica defecultoso mandar a esse Reino o procedido dasexecucoins
e fica mui dilatada minha Estada neste Reino e 0 fim das execucoins pode facilm.* remedearce
este inconuenience mandando V mag.* a Duarte Dias Enriques qs. aceite neste Reino as fa
sendas que lhe eu der e 0 preco delias de Em dr.te’ Em 0 brasil ou Índias ou qs. pague nesse
Reino E Eu pagarei p.' a conquista Em fazendas q. ca correm E a isto 0 pode V. meg.* obri
gar conforme a obrigaçao de seu contrato q. dis q. pagará nesse Reino saluo gastando ca fa
sendas na conquista. deve V. mag«* com breuidade mandar responder ao que nesta
carta digo E entretanto fico correndo com as execucoins E mandarei 0 procedido delias ao
Brasil na forma custumada.
Por morte de Duarte Dias lobo ficaraÕ m.Ul diuidas e créditos seus q. importaô mais de
sinco mil cruzados auera mister dilatar por serem m.tM E de deferentes Reinos deve V* mag.*
1 Escreuer ao Rei de Congo mande Era hü Reino executar os devedores q. la. Estão esaõ m.to*
E asi lho tenho ja pedido E cometi a Ant.0 Giz. Pita a cobranca E que faça a custa dos deue
dores uír a paga a Este Reino mas temo q. se cobre mal por uiuerem alem de Congo alguns
delles e outros no certao.
■i
v£ Das grandes desordens q. se fiseraÕ por morte de Duarte Dias lobo fico tirando deuassa
43o Angola
na quoal tenho comprendido alguãs pessoas e oficiais de justiça q. se antremeteraõ na cobranca
de sua fasenda por pertencer ao de V . mag.dt E asi uou compreEndendo alguás pessas no fisco
dos dereitos E sonegacao da fasenda de joaõ Roiz coutinho E para que aia exemplar castigo
deve V. m a g * mandar q. Em alçada os semencee Eu ajunto o ouuidor ou outras pessoas q. a
V. m ag.* perecer E no que toca a pessoa do gouernador E officiais de justiça que se remetaõ
a V. m agd®as culpas p.* contra Elles mandar proceder como ouuer por bem. E o mesmo goarde
com as culpas do ouuidor seficarê comprendidas p orq u esera defecultoso Enviar a Esse Reino
tantos culpados.
No colleio da companhia desta cidade tiue per informacaõ que estaõ la liuros do contrato
de joaõ R o if coutinho E os pedi ao Reitor que fes entrega delles E achei huã grande copia
delles e de papeis de importância nos coais se contem grande copia de créditos E Espero q.
montem grande contidade de dr.° suposto q. sera defecuhosa ao menos mui delatada a paga
por serem os deuedores de devercos p."*, Espero que neste particular se faraõ cabaes deligen-
cias íj. se ata V mag.d®por bem seruido E naõ fique nada per por Em ordena corrente. E como
for descubrindo os deuedores passarei certidoins En forma p.ã nesse Reino se faser execucao
nos deuedores nelle moradores E p.* o Brasil E outros p.®* passarei precatórias e deue Vmag.da
mandar aos gouernadores do Estado do brasil os facaõ goardar E com mais pontualidade do q-
por Estes p.*a se custuma.
E sendo Vmag.d®seruido que o procedido das execucoins va Em Escravos p / Esse Reino
ou Estado do Brasil çleue aver por bem que mande Eu En cada nauio mais pessas q. nas q.
cabe a valia de duzentos mil rs que he a contia q. Vmag.d# ha por bem q. corra por risco de
sua fasenda En cada nauio porq. nem sempre ha nauios p.* o Brasil E farcea m.10 gasto com
os Escravos Em tnaÕ dos depositários Esperando embarcacaõ porico q. deue Vm. mandar q.
En cada nauio que partir deste porto p.* o Brasil vao as pessas En q. Estiuer feita execucao
E que mande Vmag.dft dar ordem conq. logo no brasil se vendaÕ a pessoas que passem letras
p. a Esse Reino.
E porque naÔ poderia nunca constar ao certo de tudo o que se gastou da fasenda de
Vmag.d® e do que ficou por morte de joaõ Roiz coutinho senão com vir huã pessoa a tomar
Estas contas como vim per mandado de Vmag.de E pode depois auer duuidas com Goncalo
vas coutinho E os herdeiros de Duarte Dias lobo porico q. deue Vmag.d0 mandar que se tres-
ladem todos os liuros q. ficaraõ por morte de joaõ Roiz coutinho E os da feitoria do armo de
seiscentos E tres té seiscentos E oito E irem os tresiados authenticos ou ficando ficando (sic)
E indo os proprios q. também seraÕ necessários p.a se acabarem de cobrar as diuidas q. nesse
Reino E brasil E outros p.at se devem E com Esta deligencia poder ter fim a machina de du-
diuos (sic) q. se tem feito com as execucoins gastos da conquista arrecadacaõ das diuidas E
mais deligencías q. Vmag.de manda faser V. mag.do ordene o que ouuer por bem E seu seruico.
G.da nosso s o f a mui catholica pessoa de Vmag.de Em sao Paulo de loanda a 20 de Nouembro
de 610.
De nouo achey que alguns feitores antes do contrato de joaõ Roiz coutinho naõ tem dado
conta E ouue grandes desordens na leitoria porq. se sonegaõ alguns liuros delia E somente
achei des o anno de seis centos E dous Em deante correntes aindaq. faltos. E nalguãs p,e* de
folhas E rotos E todos os mais atrazados huns saõ perdidos E outros rotos E podres de modo
q. mal se pode por Elles faser deligencia Eu 0 fico fasendo exacta tirando inquiracaõ de notta
sobre os liuros q. faltaõ E os feitores que digo podem dar conta pellos liuros de suas despesas
q. algunf tem Em poder E melhor he q. dem alguas contas q. nenhuãs E aproceda con tanta
solucaõ na fasenda de Vmag.d0
V mag.d®ordene o q. ouuer por bem.
A n d re V elho da fo n seca
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina. Papéis de Angola).
V f
1
Apêndice 43i
DOCUMENTO N.* 3o
T R E S L A D O D E H U Á C A R T A D E A N D R E V E L H O D A F O N C E Q .*
Q - F O I A O R .w D E A N G O L A A D E L I G E N Ç I A S D O S E R Ü ÍÇ O
D E SUA M GD.
No fira do roes de
cipío as dcliaenci n0U\ pro**mo Passat*o «scrcuí a VrogcL avisando como tinha dado pnn-
•ï
mando tj. he princ' * ^ 5
^ e ^ - de oouo tenho feito constará a Vmgd. peita A í $-
Duarte Dias lobo au fi ° ^jV°U draildo das grandes desordens q- ouue por morte do feitor
f presente Se naõ sab^deT' a de Vragd; mais de duzentos míl d<- que té o
conta da fza, de * CSle feíIor foí * com o cô' 0 contfano eml u cor7t' P*r
sonega a fza. de P°UC° S testemunbos ajhará VcnS ^ 05 mcoiwinienies do q *
do g." me consta d a r e ^ r * C° QtaS ^ Sca em roeu poder * k z AfeQS0 dt <te**aía contaáoT
conquista sendo famasúca #r C°ni0S e oil° Çe°íos e tantos roíl rs. em gastos e diuidAS da
diaz Anrríquiz, assij mais po^d * Cjm° SCVerà pÊÍÍ0 íesíe£QUa^° de AL,! drago feitor de Duarte
9
versseá como asenço de Pil^J UaS t C^araçoes * ®ais na devassa como por cila se verá;
, *
5
inuentario . Ie fez n0r mnr»A “r° j. 0 na mesma devassa: e o 6, fez V.» mexia escriuaS do
rwi ***orie do dito hri» a‘ ~ , ..
verdade vou desemuiando té se a b diazí 6 ponj' I0inar ($s testeratmhos 3
cousas de q. ja tenho notícia e \\ a d®ya5sa e c5 o segredo delia espero de achar Alguís
cote, abonador e feitor dr» Di ° \ k ^ ma®d° hum credííI0 deuedor Julio ma-
coenta mil rs, fiz vir per ante rti j V Gredor m*' draS° a he dfi contia de hu conto e cin-
5 . a entregue porq o r *m ° , 0 macote; e cofessou a draida e esta per min maodado
duarte diaz lobo e fesse n e l L ! ! ? ^ 0' 6 * diuida « 3 «■ * mas era acredor
r Duarte diaz lobo; Alem deste Ale” * por, ses°ne?ar a_fa2-4 de v ®gd, a quem bedeuedor o dito
de quatro Capitais de deCaualln ?’ naÕ hey ds ieuar eDcoma como sa5 praças
quísta mais que sete cavalíos F L u 7apitS mor de Cavaiío> nã haveDdo eo toda a con-
o d,,. K w , « « pi 8“ ■“ ” ^
assy q. deuera prim.** ser paga
se gasta cada mês quando ba guerras Sete centos e tantos mil rs; e sem eilas mil fiz.*« som.»
se lança en conta mil gz> como tudo Ja oje me consta por autos e t •• e çertidoes que
tenho era raeu poder; E porque Reçeo que nS tenha neste Reino o g.w bens bastantes pera
pagar o Aícançe q. se espera, pareçe que pelo que dessa devassa consta. E pio que nesta digo
deue Vmgd9, mandar secrestar todos os bens q. o g.wDom. M.*1 p.rt tem nesse Reino pera o
qual só em dr,í9f temmandado mais de sesenta mil• tfz.d« ^por via \de
1V radias e Brasil; e feitas
contas no q. deuer lhe farey execução nos bens q.—qua V« VMt
tiuer e inuíarey todos os papeis tocantes
a eilas; E porque a pessoa do dito g,ot me nã deu Vmgd, poderes pera o inuiar oü preso ou
emprosado o q. farey tendo os era Resposta desta, né ter ordem de Vmgd; pera encomendai
o gouerno ou seruiiio té vir nouo g.ot Sobre estou té Vmgd. oídenar o q. ouuer por bem q-
cumprirei sem falecia; e deue Vmgd. mandar logo prouer pio conselho de jndias deg.09 tal
pessoa q. iiura co temor e mederaçao nos gastos da conquista; e pera o adiante se prouer e
atalhar os gastos e desordens levarey ds querendo Reçençeado tudo o q. se gasta bem e se
deue gastar e ficarsse acresentando a faz.* de Vmgd. cada hü anno en quantidade notável que
estes annos se gastou mal como açima digo.
tenho dado principio a execução da h * de Joa6 Roiz Coutinho e vou cobrando as diuidas
era escravos q. he o Dr.° da terra; porem os de mayor contia vou deixando pera cobrar tendo
outra ordé de Vmgd. differente da que trouxe; porq. nesta terra [nã ha Dr.®nenhum, E som.1*
ha escrauos e panos Songos de palha e os escrauos indo daquy pera o Brasil perdesse m.»
nelles e pagos os fretes e dr.ÍMvalendo aquy na prim.* compra vinte e hü mil rs. fazendo de
Custos até o Brasil o dr.° pagos ou em letras os vinte mil rs. E assy naõ se poderá fazer pa-
gam.i9a Vmgd. sem grande perda por ser a quantidade grande; Deue Vmgd. Hauer por bem
que Duarte diaz Anrriquez contrattador seja constrangido a darem Dr.te‘ pera esse Reino e
pera o Brasil todas as contias q. eu entregar neste Reino a seu feitor; ou q. dando eu pia co-
■ try Ar
Angola
quista f a z " cm q. fa ço cxecuça p agu e elle nesse R .*• cõ fo rm e a cla u su lla de seu contratto 3
diz fjue pagara nessa C id a d e; saluo pagando qua na co n q u ista; também deue Vm gd. mandar
que yndo escrau os ao B rasil se venda fiados p or algum tp. e cõ ysso se nã perdera nelles, e na
ha outro rem édio p era vm gd. poder ser pago cõ façellidade e sem perda; e de outro m odo será
dcficultossa a cob ran ça p orsse nesse R « inteiram .1* ne cõ m.u perda menos.
E poríj. o que nesta digo he de tanta im p ortançia deue V m gd. m andar q. lo g o se me Res
5
ponda p or se n dilatar a RezuluçaÕ do q. p eço nc minha estada neste R.*ft cõtan to R isco de
minha vida e perda da fza. de V m gd., q. hauera sem falta se se nã p ro u erco m brevidade com o
digo E porq. nas com pras Ej, se fizera nos leíloens da fza. de Joaõ Roiz C outinho; E vitimam.**
na de D uarte d iaz lobo, E assy em se sonegar a faz.* de Vm gd. deuS hauer m.t#* culpados com o
já vou achando, p areçe q. deve V m gd. hauer por bem q. os sentençee eu em quanto quã estiuer
pio ficar o C a stig o m ais exem plar no lugar do d e litto ; e que as Culpas tocantes ao g .or e offi-
çtaes de justiça os Rem etta a esse trebunal com os C ulpados presos ou em prasados cõform e
a qualidade de suas pessoas e C u lp as; Vm gd. ordene o que ouuer por bem e seu seruiço;
N o sso s." guarde a tnuy C ató lica pessoa de V m g d ; de sam P au llo de lo a n d a ; em 9 de dez.*0 de
610.
Andre Velho da fonçeqA
DOCUMENTO N.° 3i
A U T O D A S P E R G U N T A S F E IT A S A JO A Õ D E A R G O M E D O
Q U E M Ã D O U F A Z E R O D .T0R F R .C0 C A R D O S O D A M A R A L L J U I S
D A I N D I A E M IN A
A os vinte e noue dias do mes de Julho de mill e seis cem tos e om ze annos nesta cidade
de lisboa o doutor fram cisco cardoso dam arall do desembargo delirei nosso senhor e juis da
india e mina com igo escriuao e miguell jorge e seu meirinho antonio correa da costa meirinho
deste juiso com seus homes foy a casa de joaõ de argomedo as oras de m eijo día e amtramdo
lhe pedio lhe desse todos os liuros asij da resan como da respomdemssia e os mais papeis que
tocauaõ ao contrato que amtre elle joaõ de argomedo e dom manoell avia pera o qual elle
deu juram ento nos samtos avamgelhos em que per sua maõ e per cargo delle prometeo disser
verdade e perguntado pelio dito juis se tinha mais liuros que os que elle juis lhe tom ou e por
elle foram apresentados respondeo que naõ tinha mais que os ditos liuros que eram noue digo
que eraõ doze e hum caderno e que nelle emtraua os liuros de resaõ caixa e respomdemssia
e assy quis asemto em que a folha de papell que era o asemto e contrato feito amtre elle e o
dito dom manoell pereira / e assy declarasse que cantias de dinheiro ou que letras vieram de-
regidas a elle Joaõ de argomedo do brasill ou de amgolla ou de indias tocamtes ou pertem-
cemtes em todo ou em parte ao dito dom manoell pereira, ou venham pessas em cabeca do
dito dom manoell ou em cabessa delle dito joaõ de argomedo ou contra quallquer pessoa ou
os prazos delias sejam conpridas ou por conprir e que tinha feito do dito dinheiro, e por elle
fo y dito que a conta que avia tido com o dito dom manoell p.ra desde o premeipio athe agora
hera a co m a que ora de oouo lhe veyo em os mesmos navios de pernambuco a qual! lhe madou
de am golla fran.co demaar seu respomdemte de quimse de abrill deste pressemte anno com sua
carta do dito dia, e a própria carta do dito framcisco do mar da a claresa das partidas que o
dito g.°r tinha mãdado por indias de sua com ta partícullar fora da dita com ta de que elle naõ
tem mais claresa outra que a da dita carta, e declara que estas heram todas as letras e pecas que
(1) Em virtude do origina) se encontrar rasgado, torna-se incompreensível uma nota à margem que nêle existe.
Apêndice 43)
tinha mãdado q. o dito dom maooell p/è a elle joa5 de argomedo p.api&umeato t tortím crf
de
das carreguacaes que deste reino e das ilhas casaria lhe tinha mldado o dinheiro que per
sua ordem e pera quantos de sua casa tinha dado aihc ojee, declaraua que cm ditt comia estatro
por se lhe fasser bom a clle joaõ de argomedo todo o dr* que temdado de smal de fetssemtos
e noue athe ojee; e assy declaraua que as letras que o ditto g» mádoo witotfí ta Jira comia
e mais nas que hiam amor pane delias por cobrar, e outras que se perderad/nam ífce fei m»ts
perguntas pelo dito juramento declarasse quefaz^esperaua do dito dom m * pereira e donde
as espera se de índia se de amgolla ou brasill oo de que parte as espera e que amos tem sobre
isso, e por elle dito joa5 de argomedo foy dito e declara que do conteúdo na di» consta so
mente estaua por vir a seu poder ao redor de tres cnill cruzados que esperas* na frotca de /
indias e isto por comta delle dito joaÔ de argomedo procedido de suas carreguacaes / e no
mais se reporta a carta do dito framcisco do mar de quimie de abriil em que se declarsõ as
partidas fora das da dita comta domde se esperam, e tten lhe mandou declarasse que eschtos
escrituras sam feitas de companhia ou respomdemssia oo agencia oa de outro qualiqaer con
trato ou convemcao de quallquer corte e condicao que seija amre o dito dom m.** p.*» elie
dito joao de argomedo ou outras pessoas e onde estam os ditos escritos ou escrituras e em
que liuros públicos ou particullares ou em que maõ de pessoas as tem ou mãdou guardar, e
per elle foi dito que dantre elle e o dito gouernador nao ouve nunqua roais escrituras que na
procuracaõ que lhe fes o dito gouernador nas noitas de miguell ribeiro este aseroto que apres
senta asinado por elle e o dito gouernador, e assy mãdou declarasse pello mesmo juramento
se em outra allgua parte fora de seu poder estaua allgum dr,* ou fazeutla ou letras compridas
ou por comprir tocantes e pertemcemtes em tudo ou em parte ao dito dom manoell pereira,
disse que naõ sabia roais neohua cousa que a carta e comta que lhe mãdara o seu respom-
derate como tinha dito as quaes cousas lhe mãdou elle juis declarar debaixo de jurameoto dos
satntos avamgelhos por assy comprir ao seruíco de sua magestade e bem arrecadacao de sua
íasemda & quem o dito dom manoell pr.a ficou devemdo muito dinheiro e que todo cuidou elle
juis fasser este auto em que asina com o dito joaõ de argomedo e tudo isto em pressemsa de
miguell jorge escriuaÔ da vara do meirinho deste auto antonto correa da costa que outrossy
pressemte estaua que todos assinaraõ / e peramte elles lhe fes mais perguntas e queria estar
pressemte ao reuer os dttos papeis e liuros ou tinha nelle juis allgum peijo disse elle dito joao
de argomedo que elle naõ tinha nam peijo nelle juis e que eria a sua casa todas as veses que
lhe elle mádasse e logo o dito juis lhe midou que as fasemdas dinheiro ou letras que thiesse
locamtes ao dito dom manoell pr.* naõ despusesse nem físscse delias cousa allguma sem ordem
delle juis ou do comselho da íasemda per cuijo mãdado fassia esta adeligenssia e asinaraõ
todos e eu Mellchior douliur.* de fr.* o espreui.
DOCUMENTO N.° a 3
TRESLADO DOS AUTOS QUE SE PROÇEÇARAÔ POR M ORTE
DO GOUERNADOR QUE FOY DESTE REINO DOM MANOELL
PEREIRA QUE DEOS TENHA E CAPITAÕ MOR QUE LHE SO-
SED EO .//.
Anno do Naçytneato de Nosso Senhor Jezus Christo de mUl e seis semtos e omze anos
baos quimze dias do mes de Abriil do dito aSo nesta cydade de Saõ Paulo / Porto da Loamda
Reyno damgoHa oje neste dia has oras das des da noite pouqo mais ou menos nas pouzadas
do gouernador que foy deste Reino Dom Manoell Pereira haomde estaua prezemte ha camara
como gouerno de sua magestade emqoamto vago e bem asy ho jlustriçimo senhor bispo Dom
434 Angola
frey Manoell Bautista e bem hasy ho dezembargador Andre Velho da Fonsequa c ho Ouujdor
gerall Manoell Ferras Barreto e bem hasy ho capitaõ mor da gerra Bemto Banha Cardozo e
outros Capitains habaixo nomeados hay pelos ditos hofisiaes da Gamara foy mandado ha mym
escriuao fazer este auto dizemdo como ha dita ora hasima dita foraõ chamados pelo dito se
nhor Bispo e mais ministros de jusiissa hasyma nomeados vjesem ha casa dele dito gouernador
que estaua m ono de hü hasidemte em sua caza e cama por qoamto morrera sem falia e senaõ
sabia se linha ordem de sua magestade pera nomear no gouerno e se ho tinha nomeado amtes
do djto hasidemte por qoamto comvinha hao seruiso do dito senhor hauer pesoa que nomease
hathe sua magestade ordenar ho que ouuer por bem epera ho sobredito mandaraõ vjr peramte
sy hao capitaõ Amtonio Teyxejra Coelho camareiro do dito Gouernador e lhe mamdase em
trepase has chaues ha elles vreadores e mostrase hos escritórios homde estauaÕ hos papeis to-
camtes ao gouerno e loguo hay pelo dito capitaõ Antonio Teyxeira Coelho, forao emtreges
duas chaues pequenas de prata dum escritório da jmdia marchetado e em prezemssa dos djtos
e dos mais habaixo hasynados se habrio ho djto escritório he nelle se achou nenhG papeli
majs que ho rrigimemto de seu cargo he logo veo outro escritcrio he se habrio no qoall se
achou a carta porque sua magestade lhe fes mersse do cargo do gouerno deste Reyno e ho
rrigimemto de sua magestade e huã prouizaÕ pera poder nomear susesor na qoall naõ tem no-
measaõ e pela naõ ter nem se achar nos ditos escritórios hathe gora fazemdose deligensia ne-
sesaria e por ser noyte allta e naõ estarem prezentes todas as peçoas que haÕ de botar hasem-
taraõ que pela manham sedo se dese rrequado e se hajumtasem em camara he a ella mamda-
sem e chamar haos da^overnamsa e quapitains que de prezemte se achasem nesta sydade pera
compareser de todos se ordenar ho que for seruiso de sua magestade de que mamdaraÕ fazer
este auto que hasynaraÕ Francisquo de Seixas escriuao da Camara ho escreuy. O bispo de
Comguo Jeronymo Corrêa: Gaspar Alures: Pero de Souza: AU varo Saramenho: Domingos
Furtado: Amdre Velho: Manoell Ferraz Barreto: Bento Banha Cardozo: JoaÕ de Viloria: Bal-
tezar Rabelo de Aragaõ: Luis Guomez Machado: Manoelle de Vascom sellos: Framsisquo Roíz
de Azeuedo: Allvaro Roíz de Sousa: Manoell Dias: Julio M açoty: Framsisqo de Lem os: Ma
noell da Costa Borges: Amtonio Teixeira Coelho .//.
E logo no djto dia e nojte ho sacretario do djto gouernador Manoell Coelho haprezemtou
hum copeador de cartas que tem fechadura e sua chaue e esta ha maior parte delle em bramqo
e por serem cousas de segredo e particulares dele gouernador se emtregou ao jlustriçimo Se
nhor bispo fechado por ele hasym ho pidir e a chaue dele se emtregou ha Gaspar Alvres vreador
mais velho e hasym lhe emtregaraõ hao djto vreador ha patemte do cargo do dito gouernador
e seu rrigimemto e prouizaõ pera nomear suseçor e huã prouizaõ em que falia nos hoficiaes
dos defuimos e haquy ho jlustriçimo Senhor bispo e vreador majs velho hasynaraÕ de como
qada hum como dito he rreseberao dito liuro e papeis Francisco de Seixas escryvaõ da Camara
ho escrevy: rresebeo ho liuro ho bispo de Comguo: Gaspar Alures .//«
T R E S L A D O D O A U T O D A E M L E ÍÇ A Õ Q U E S E F E S D E C A P I-
T A Õ M O R P E R A H O G O U E R N O D E S T E R E IN O P O R M O R T E
D O G O U E R N A D O R Q U E F O Y D O M M A N O E L P E R E IR A C O M -
F O R M E H A H U Ã P R O U IZ A Õ Q U E S E A C H O U D E S U A M A
G E S T A D E N U M D O S E S C R IT Ó R IO S D O D J T O G O U E R N A
D O R .//.
Anno do Nasymemto de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e seis cemtos e omze anos
haos dezaseis dias do mes dabrill do djto afío na igreja matriz desta sjdade de Saõ Paulo porto
da Loam da Reino de Amgola haomde estamdo ho juiz e ureadores e mais hofisyais da camara
desta sydade e ho jiustriçymo Senhor bispo Dom frey Manoel Bautista que ha pidjmemto do
djto jutz e ureadores he mais hoüsiaís desta Camara hasiste nesta emleiçao que ora se quer
fazer he ho capitaõ mor que foy desta sydade Costodjo Amtunes da Cunha e ho capitaõ Ber-
+
Apêndice 435 i
\n
nardioo Garçia ambos procuradores deste pouo e bo sargemto mor deste Remo Vicente R*- *
; beiro em nome e por par» da comquísta haomde estaxado prezemtes jumtos com hos mister«
desta sydade Gaspar de Frias e Luis Dias fizertõ emleiçaõ pera se (úer cotn bo fauor dwjoo
ha capitaõ mor pera gouernar este Reino comforme ba buS prouizaõ de sua magestade que se
achou num dos escrítorios do Gouernador que foy Dom Manoel! Pereira feita na sídUc de
Lisboa ha treze de Agosto dt tnill e seis seratos e ojto sobrescrita pelo ucreuho Amionio
Velles de Sytnas he basynada pelo Senhor Marquez vizo Rey e ccrovisu do Comde a^miramte
prezidemte do comselho da jmdia como delia se vera ha qoall se tirou do eicritono homde
estaua por ser falesydo de hum hasydemte bo sobredito gouernador omtetn quimze deste djto
mes dabrill has des oras da noite pouquo mais ou menos e porque fazemdosse ha deUgemcia
que pareceo nesesaria que constara do auto que diso se fes naõ se achou que por vertude da
dyta prouizaõ nomease susesor como sua magestade por ella lho consedia e em taU caio fiqara
ha emleiçaõ de susesor segumdo custume ha camara pesoas do gouerno he capítiins da con
; quista que fosem prezemtes todos jurotos de comum comsemtimemto estamdo mayta pane do
pouo prezemte na dita igreja emtraraõ ha emleiçaõ ordenamdo que pera maior quietasaÕ rre-
f sebesern todos juramemto dos samtos hauamgelhos de votar como emtemdesem que mais com-
vjnha hao sjruiso de Deus e de sua magestade e ben\ desta comquista e de terem segredo em
;!t seus votos hathe estar de posse pasifiqua ha pesoas pela emleiçaõ for nomeada he chamamdose
bo Ouuidor gerall Manoel Ferras Barreto rrespondeo nao tjnha voto e por lhe ser tjdo rres-
pejto ho naÕ quyseraõ constranger por justissa e prosedemdo ha eml^çaõ botaraÕ setemta e
sete pesoas leuou hum voto ho ouujdor gerall MaQoell Ferras Barreto e leuou outro voto ho
capitao mor Bailtezar Rabelo de AragaÕ e leuou tres votos ho cepitaõ mor Costodjo Amornes
e leuou treze votos ho capitao mor Joaõ de Viloria e ha forssa leuou ho Senhor bispo quatorze
votos he hasy todos hos nomeados neste auto que nelle hasynaraõ de seus nomes e hoficios
:i ouuemos per emleito ha Bento Baoha Cardozo Capitao mor da gerra Ç autoallmemte serue e
f damos por boa ha emleisaõ com coremta e symqo votos que leuou com que fas tamto eyseso
haos mais ha que botaraõ que hajmda que viera alguã mais gemte se fiqou e botaraõ em outra
parte naõ fiquara ha outra ygoall e hasym pela autoridade que temos de sua magestade con
forme as hordenaçõU e rregimemtos e custume gerallmerate vzado mádarnos ha todas as peçoas
hasym moradores estamtes e habitamtes e has que de novo vjerem de qoallquer calidade e
comdisaõ que forem que ho rrecebaÕ e ajao por verdadeyro susesor comforme ha prouizaÕ de
sua magestade que haquy sera lida em pubriqo e hao diãte tresladada sob pena de ser havydo
por tredo e desleall ha sua magestade de todo haquell que por qoallquer via comtradiser esta
emleiçaõ e per vertude do que foy chamado ho djto capitaõ mor emlejto Bemto Banha Car
dozo he se lhe deu juramemto no lhiro misall haos samtos hauamgelhos que bem e uerdadej-
ramemte sjruiria ho dito carguo fazemdo prejto e menagem dele ha sua magestade na$ maõs
do juiz he vreadores comforme ha prouizaõ he custume delia e ho djto capitaõ mor todo
prometeo cumprir e nao hexersitar nenhü auto de jurdisaõ hathe naõ ter fejto prejto e mena
gem como sua magestade em sua prouisaõ mamda em vertude de todo hasynamos Framcisquo
l
de Seixas escriuaõ da camara ho escreuy frey Manoel Bautista bispo de Comgo; ho juiz Ge-
ronimo Corrêa: Gaspar Alures: Pero de Souza: ho vreador mais moso: Aluaro Saramenho:
Francisco de Seixas: Domingos Furtado: Gaspar de Frias: Luis Dias: Costodio Amtunes da
Cunha: Bernardjno Garçia: O sargemto mor: Visemte Ribeyro: Bento Banha Cardozo .//*
E loguo no dito dia mes e ano e ora hatras declarado em vertude do auto feito da em
leiçaõ e juramemto que Bemto Banha Cardozo caualleiro fydalgo da casa de sua magestade
capitaõ mor emleito rresebeo e prometimemto que debayxo dele fes ho ouuemos pormetydo de
posse com todas as liberdades e priuilegios que has prouizões de sua magestade lhe consedeu
he seus rrígimemtos e pera sempre constar se üs este termo em que todos hasynamos Fram
I
\
cisquo de Seixas escriuaõ da Camara ho escreuy: O bispo de Comgo: o juizGeronimo Corrêa:
f' Gaspar Alures: Pero de Sousa: Aluaro Saramenho: Framcisqo de Seixas: Domimgos Furtado:
Gaspar de Frias: Luis Dias: Costodio Amtunes da Cunha: Bernardjno Garssia ,//.
(
\
_ii
436 Angola
P R E JT O E M EN A G EM Q U E F E S H A SU A M AG ESTAD E N A S
M A Õ S D O J L U S T R I Ç 1M O S E N H O R B IS P O E M A IS H O F IS IA IS
D A C A M A R A D E S T A S Y D A D E R E JN O D E AM G O LA E SU A
C O M Q U I S T A H O D I T O C A P IT A Õ M O R .//.
Eu Bemto Banha Cardozo caualleiro fidallguo da casa de sua magestade Capitão mor que
ora fuy emleito deste Reino de Amgola e sua comquista por falesjmemto do gouemador Dom
Manoell Pereira que Deus tem que em venude de huã prouizaõ de sua magestade que hatras
vay nomeada ffaso preito e menagem ha sua magestade em maõs do jlustriçimo Senhor bispo
e do juiz e ureadores e mais hofisiaes da Gamara que estão em seu nome do gouerno deste
Reino omde ora sou emleito por capitaõ mor pera nelle fazer este hoficio e ho gouemar e que
rrecolherey ha sua magestade e ho rreseberey no alto e no baixo delle comforme ha mjnha
hobrigasaÕ ou ha pesoa que por seu mamdado ha ele vjer de dia he de noite e ha quaisquer
oras e tempos que seyaõ jrado e pagado com muj tos he com pouqos e que farey gerra mam-
terey treuoas e pas segumdo por sua magestade me for mamdado e que naÕ emtregarey este
djto Reino de que ora tome pose ha pesoa aigua de qoallquer calidade preminensia estado e
comdisaÕ que seya senaÕ ha ele djto senhor ou ha seu serto rrequado logo sem delomga arte
nem cautella ha todo &> tempo que qoallquer pesoa me der sua proujzaõ por que me quite
este prejto e menagem e eu ho djto Capitaõ mor Bemto Banha Cardozo faso este djto preito e
menagem nas maõs do jlustriçimo senhor bispo e da camara que esta em nome de sua mages
tade hüa duas e tres vezes e me hobriguo e prometo de cumprir e goardar e de djto preito e
menagem e todas has comdisõis e hobrigaçõis e todas has couzas he quada hua delias em ele
comteudas sem arte cautella emgano ne mjmgoamemto algü e juro haos samtos hauamgelhos
em que ponho minhas maõs que qoamto em mym for terey sempre ho djto Reino e gemte de
gerra delia prestes pera ho seruiso de sua magestade e defemsaÕ dele e com ha djta gemte em
defemsaÕ do dito Reino farey gerra na manejra que pello dito senhor me for mamdado e ha
mesma homenagem faso por todas e qoaisquer fortallezas deste Reino e por verdade eu Fram-
cisco de Seixas escriuaõ da Camara desta sydade fis este hasemto e auto de homenagem em
que hasynou ho djto capitaõ mor com ho dito jlustriçimo Senhor bispo e camara oje dezaseis
dias do mes dabrill de mil e seis sermos e omze anos ho capitaõ mor Bemto Banha Cardozo :
O bispo de Gomgo: ho juiz Jeronimo Corrêa: vreador mais velho: Gaspar AIvres: O vreador
Pero de Sousa: vreador: Aluaro Saramenho: Franciso de Seixas: procurador Domingos Fur
tad o: ho mester Luis Dias: ho mister Gaspar de Frias .//.
T R E S L A D O D A P R O U IZ A O D E S U A M A G E S T A D E D E Q U E N O
A U T O H A T R A S S E F A S M E M S A Õ .//.
Eu el Rey ffaço saber haos que este aluará vjrem que semdo cazo que Dom Manoell Pe-
rejra gouernador do Reino de Amgolla fallsa estamdo sjruimdo ho dito carguo arates de jr ha
e la pesoa nomeada por mym ey por bem e meu siruiso que lhe suseda e emtre logo ha siruir
ho djto carguo e gouernamsa com titolo de capitaõ mor ha peçoa q ho dito Dom Manoell
Pereyra nomear armes de seu falesymemto comtamto que naõ seja nem aja sjdo seu criado
porque comfio delle que nesta emleiçao de tamta jmportamsia terá somemte ho rrespeito de
meu siruiso com has comdisõis ha elle díuidas e que colhemdo das pesoas que emtam se acha
rem no djto distrito de seu gouerno ha que emtemder que he mais apta e tem as partes que
comvem he mamdo hao dito Dom Manoell Perejra que pera cazos hasydemtais que posaõ su-
seder tenha ha dita nomeasaÕ feita e asynada per ele sarrada e jumta ha esta prouizaõ e ha
djta pesoa hasy nomeada por ele seruira ho dito cargo emqoamto hao dito Reino de Amgola
naõ for pesoa nomeada por mym pera ele ou eu nam mandar ho contrairo e ho seruirá com
ho mesmo poder e jurisdisaõ que tenho comsidido ha ho dito Dom Manoell Pereira por minhas
ÀpénJice $1
prouisocs t rrigimeratos que era todo cumprira e primeiro que «mete # fi-v?***
dita gouernamsa preito e menagem na camara do dttfi Remo i* que
sc fará asemta ao liuro delas por ele hasynado de qortWSae_-j®aabrâ fariBOOpà
todos os capitain* do djto Reino e boíyrieàs de juat— i íW^jjpha faflEofc hejllbo* da Jjf*
Camara e ha rodos hos raajs hofisiaes e peço» de qatãqoer ctlidm f l t Mbd.jS qur $?Jpfi
tenhaõ c ajaõ ha djra pesoa que bo djto Dom Manoel! Pereira ba»y /pelfjífc» maflir ÍM r< a n r
/5
por goucraador do djto Reino com ho djto ticoío e lhe ho M cu S m ha jt: h jn Ê é a-
qoamio eu nao prouer ou mamdar ho comtrairo pela maneje* qoa fique dSto * tv-r ijjbn.-
prjra jmteiramemte como nelle se comtem sem embargo de qoaisquer curra* pA^í-Sn j rte-
gimemros por que se de outra forma hos dha djta susesaõ porque por flti Jb hat -y por
derrogadas e ha djta pesoa quebasym nomear se chamara como djtfffie etpítjfmcr do Remo
de Amgola e tera de ordenado qaada ano de minha fazemda qoatrocermos m rea«* que lho
serão pagos na forma que se faria bao dito Dom Manoel! Pereira e ie compara outrtwy
sem embargo de qoaesquer ordenaçoís em comtrairo e da ordenasao db ieg#r.d'»liuro ntolo
coaremta e qoatro e valera como carta c oao pasara pela chancelaria sem embarga das orde
nações do dito segundo liuro titolos trimta e noue e qoremta Sima6 Luis ho fia «fcáàfioi ha
treze dagosto de mil e seis semtos e ojto e este se pasou per duas vias comprido bõ h» om e
nao havera ifejto eu ho sacretario Amronio Villes deSytnas bo fis escreoerr ho marques de
Castelio Rodrigo: O Comde almjramte: AHuara pera Dom Manoel! Pereira gouernador do
Reyno de Amgolla nomear ha gouernamsa delle em caso que falesa estamdo syniimdo pera
vosa magestade ver.//.
O que todo eu Francisco de Seixas escriuao da Camara tresladey bem e fiellmente sem
•cousa que diuida fasa do liuro grande da Camara haomde todo por mym esta lamsxdo salhro
ho primeyro auto e termo que se não lamsou em liuro e esta de fora e todo fiqua em meu
poder ha que me rreporto em todo e por todo e este vay por vias e ho comsertey com ho ju ís
e ureadores e procurador do Comselho e todos vaÔ haquj hasjnados em Saõ Paulo a viata
tres dabril de mil e seis semtos e omze anos // Francisco de Seixas — Pero de Sousa — Jero*
nimo Corrêa — Álvaro Seremenho — Gaspar Alvres — Domingos Furtado— Luts Dias— Gaspar
de Firas. //,
(No sobrescripto). Auto da Eleição que se tez por morte do Governador Dom Manoel
Pereira e sosesaõ do Capitaô mor Bento Banha Cardoso.
(Arquivo d t T6rrt do Tom bo, Corpo Cronológico, Pm e s.%
M *ço3i9, Oocaneoto 144).
DOCUMENTO N.* 33
PROCESSO DE JUSTIFICAÇÃO DOS ACTOS DE BENTO BANHA
CARDOSO POR VIRTUDE DO SEQUESTRO DE TODOS OS
SEUS BENS, POR TER FEITO DESPESAS SEM AS JUSTIFICAR
E q carta de S. Mag*8 de 2a de Dezembro de 1618.
Vy a consulta do Cons° de minha faz* sobre Bento Banha Cardoso que me inviastes com
Vossa carta de 4 do passado e torna a hir neste desp° e para que eu tome na matéria a Resu-
lução que mais convenha, ordenareis aos provedores Miguel god° e Paulo Aot* de Mattos, que
fação hua Relação com seu pareçer do que montão as despezas ordinárias, e extraordinárias,
que se fizerão no tempo que Bento Banha governou o RM de Angola com distinção de cada
.genero de despeza de por sy, e hü Relatorio assinado por elles dos papeis por onde se manda-
Tão fazer as extraordinárias, e das provisoes perque as tenho prohebido, e tudo có a dita con
sulta fareis remeter ao Cons° de minha faz1 ordenandolhe que de Vista do Neg* ao meu pá#r
438 Angola
delia, e que com sua R eposta tom e a fazer nova consulta que m e inviareis com V osso pare
cer /. y
Rui dias.
Snnõr.
É
440 Angola
satisfez dizendo que vira os Conhecimentos em forma que a provisão q. se passou a Dr1* dias
ncusa c que consta déliés e dos papeis que per mandado do dito Bento banha se tomarão ao
feitor do C ontrat8' Dr18 dias henriquez quarenta e cinco contos oitocentos trinta e quatro mil
cento sessenta e très rs. q. se carregarão em Receita sobre o feitor de V.M ag*8 fran88de lemos
pr1 desp* das contas conteudas na dita provisão.
E tornando ao dito procurador da faz1 per ultim a Reposta disse q. fazendose orçamento
dos gastos ordinários da conq11 daquelle R80 e tirados a parte o que provavelmente mais se
podia gastar dando o supp1®a fiança que parecer se lhe levante o secresto de seus bens atento
^ que a dita faz1 de A ngola a principal consiste em negros que fogem e morrera e fazem gastos
E assy com o secresto estar feito não recebe proveito a faz1 de V . Mag1*1 Pelio que
Se deu despacho neste Conselho que vista a petição do suppte e Repostas do procurador
da fazft de V . Mag*1 E os papeis q. presentou per q. consta como ao T h ro da casa da índia es*
tavão carregados em Recapta por lembrança quarenta e cinco contos oitocentos trinta e quatro
m il cento e sessenta e cinco rs. pr1 os haver de cobrar do suppw por se entender q. fizera
m uitas despesas contra forma do Regimento e alem da despesa ordinaria do RB® de Angola;
E lle gastou menos da despesa da folha que importa de dezasseis contos sessenta e sete mil seis
centos sessenta e cinco rs. E os ditos quarenta e cinco contos oitocentos e trinta e quatro mil
e tantos estarem carregados em Recepta ao feitor de V . Magál daquelle RB0 pera haver de dar
delles conta se faça provisão pera se levantar ao Thf0 da casa da India a dita Recepta per
lembrança e q. se levante o secresto que per esse Resp1®se mandou fazer na faz* do dito Bento
banha Cardoso dando elle fiança de quantia de dous mil crusados pera por elles se pagarem
alguas despesas se na conta do feitor em que esta carregada a dita quantia constar que forão
feitas per seus mandados contra forma do Regimento e sua obrigação p* com isso ficar a faz1
real mais segura.
E assy Pareceo ao Conselho que a despesa do dito R"* de que na carta Relatada de V. Mag*8
se faz m enção se fez em cousas precisas e Urgentes do serviço de V. Magdl de q. se lhe da
co n ta pr1 m andar o q. for servido em l1 a 3 i de Outubro de 1616.
A L u is da L u is M l Calda de
S ilv a P ra B rito
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina. Papéis ds Angola).
DOCUMENTO N.° 34
P R O V I S Ã O D A D A P O R D . F E L I P E II, D A T A D A D E 1 4 D E F E
V E R E I R O D E i 6 i 5 , M A N D A N D O S E P A R A R O R E IN O D E B E N
G U E L A D O G O V E R N O D E A N G O L A , F O R M A N D O A S S IM U M
NOVO GOVERNO
E u ÉI-Rei faço saber aos que esta Provisão virem, que sendo eu informado quanto convem
ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Províncias do Reino, que chamam
de Benguela, que corre com a costa de Angola, assim pela salvação das almas dos idolatras,
que as habirão, entre os quaes eu desejo muito que se prante a Fé Catholica, conforme a minha
p articu la r obrigação, com o por os proveitos que dos fructos d’aque!las terras podem resultar
á minha Fazenda, e ás dos meus Vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no desco
brim ento delias.
E vendo com o seria mui difiicultoso effeítuar-se e sustentar-se esta conquista, não estando
separada do Governo de Angola, por o que a experiencía tem mostrado do pouco que poderão
o b ra r nella os que o tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que fazer no
co m ercio e quietação dos Sovas mais visinhos a Loanda.
E considerando, por todos estes respeitos, e outros muitos, de muita importância, que me
i
t
■: f 'í ! t
fm*
Apêndice 441
são presentes, em que também o i dever de prevenir aotwrebeMes e piratas herei«, yiept-âcr»0
introduzir na gente sem luz das ditas Províncias « perversidade da soa « «*, d v - f f l * eíh
quem lhe ensine a verdade da Religião Christl, quanto irnporu que, sem nenhjma dtlayão, e
com todo o calor, se assista a negocio de tanta qualidade, e tio digno da j-yrd & i da nwsht
4
Corôa, e do animo com que eu quereria que sempre e acudisse a semelhante» empresa».'
Dc meu poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, oooo de /cito stparv.
por esta presente Provisão, a Capitania, Conquista e Governo das Proviocias Jv Jitu #€=?,-,d ;
Benguella, e de todas as mais terras que jazem até o Cabo da Bòa Esperança, do Av
de cujo dbuicio até agora eram, oa forma em que o Senhor Rei Dom Henrique, mc, I ..
que haja Gloria, separou do Governo de S. Thoraé o dito Reino dr Ang-ix,— e pur .. f
erijo e ao doto Reino, em novo Governo, para que de hoje em diante teshim separada
dição e Governador, que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, ao» pon.sd ,-c*
assim destas panes, que áquellas forem viver, como aos naturaes delias,— a qual, e « u m j •,
mais ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente, conforme as
minhas leis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das qualidades que convem, para se
poder delias bar a erecção e conservação do dito Governo.
E mando ao Governador de Aogoia, que ora ê, e ao depois fór, que em oenhnnss ès 4
cousas tocantes á jurisdição do dito Governo do Reino de Bengudla, e mais terras aesu de*
claradas, não vão, nem usem da que até agora tiverlo nelle, desde o dia que o traslado desta
minha Provisão auihentica se lhe presentar diante: porque assim é minha merce.
A qual se registará nos Livros da Contadoria e Camara de Loan*t, e nas mais daquella
Conquista, onde pertencer, e neste Reino nos de minha Fazenda e Chancellarta e nos demais
meus Tribunaes, par? que venha á noticia de todos a erecção deste Governo — e orígtnalme&te
se entregará na Torre do Tombo, para nelle sc conservar, e saber a todo o tempo os funda
mentos que tive na dita erecçao— para o que tudo valerá como Carta começada em meu
nome, e por mim assign&da e passada por minha Chanceilaría, posto que seu effeito haja de
durar mais de um anno, sem embargo das Ordenações que o contrario dispõem.
Pedro Varelta a fez, em Lisboa, a 14 de Fevereiro de i t . 65
Chrisiovão Soares a fez escrever. R ei.
(Arquivo Nacioati da Tdrte do Tombo, Choscelorsa J t F dipt II,
Uvro Ui de Leis, foi tã. EaU também publicada oa CoUeccâo
Chronologíca 4a Legislação Portuguesa, por José fatiou de
Andrade e Sitva, no a.* tòmo, anoa de t6i$*l6i9> a ptgv u * 5
DOCUMENTO N.° 35
Terlado de sertos asentos q. estamnos livros de Registo das mercês q. fez EIRey dom
feiipe 0 segundo que Ds. tem no titulo Dom Gonçalo Couünbo do Cooçelho de S. Mag.4*
Alvara nomeando D. Gonçalo Couttnho do seu Conçelho governador de Angola, com oi
63
tocentos mil reis de ordenado. iS de abril de i i . Neste assento esta uma verba que diz que
63
houve provisão de 29 ab. i i p* na casa da Índia lhe pagarem mil cruzados adiantados á
conta do ord, apesar da ordem que havia p* não se darem adiantamentos.
Mandou-lhe abonar 6oo$ooo reis de ajuda de custo por uma vez, pagos em Angola pelo
63
feitor. 24 ab. i i . Atendendo aos serviços do D. Gonçalo Cominho fez-lhe merçè de se não
cobrar o conto de rs. que recebeu da faz», qi# estava nomeado gov. de Angola, cujo cargo
não foi servir. E que os 6oo$ooo que á conta do dito como de rs. lhe pagou 0 contratador
sejão levados na despesa do m° contratador. 24 de julho 1623.
(Biblioteca Nacional. Secçlo Ultramarina. Documentos d e o gcia . lõ n ) .
56
442 Angola
DOCUMENTO N.° 36
REGIMENTO DOS GOVERNADORES DE ANGOLA
i* Eu El Rey faço saber a vos Francisco Corrêa da Silva (riscado e por cima «Dom G.o
Couto do meu Cons**) q hora tenho encarregado do carguo de meu capitão e governador do
Reyno de Angola q. eu ey por bem que guardeis o Regimento seguinte:
2. Tanto que embora chegardes ao porto dc Sam Paulo de Loanda presentareis a pattente
que vos mandei passar da dita governança, e provisão, e carta para vos entregue a Bento
banha Cardoso que nella foi elleito por falecim10 do Governador Dom Manoel Pereira, ou a
pessoa q. nella estiver e lhe requerereis vola entregue loguo como fará, da qual entregua se
farão autos na forma da mesma provisão.
3. Tanto que vos for entregue a dita governança vos informareis pessoalmente da pessoa
que a servia e de capitães e mais pessoas que o bem entenderem da gente q. anda naquelie
Reyno e Conquista, declarando os que recebem soldo e os q. o não recebem, e em q. lugares
está alojada e o estado em q. estão todas as cousas, que Armas, Artelharia, polvora, e moni-
ções ha em todo elle, os Sovas q. estão a minha obediência e de paz, e os q. o náo estão e
estão de guerra, o procedim*0 delles e de El Rey de Angola e mais Reys daquellas partes, e
com quf se tem guerra e o estado delia e da terra de q. fareis hua Rellação autentica cõ todas
as declarações necessárias em q. assinareis com a tal pessoa que estiver na governança e mais
capitaSs e pessoas q. vos parecer e nella declarareis também por declaração particular agente,
polvora, Armas e mais cousas que com vosco levasses e me enviareis por vias o treslado da
dita Rellação derigida ao Cons0 da índia ficando em vosso poder a própria a bom recado para
quando embora vierdes a trazerdes com outra Rellação do estado em que entregardes aquelle
Reino a quem vos sucçeder e espero de vos q. seja tão aventejada como vos obriga a m.1*
confiança com q. a ella vos envio e a artelharia e monições que faltarem e a q. se não der bom
descargo na conta que de tudo mandareis tomar fareis vir a boa arrecadação com effeito e
ordenareis ao feitor ou Almox0 sobre quem carregar a receita e despesa da polvora e moni-
çoes q. em hum anno envie ao meu Cons,0 da índia e terras ultramarinas certidão autenticado
q. recebeo e despendeo das ditas cousas.
4 . E porque o meu principal intento e dos snors Reys meus predeçessores he e foi sempre
nas conquistas que mandamos fazer plantar e augmentar a fee de nosso snõr Ihü christo e q.
as gentes delias venhão em conhecimto de seu santo nome q. tanto q. chegardes ao dito Reyno
de Angola vos informareis muy particularmente de tudo o q. nesta matéria se tem feito, que
Sovas forao baptisados, q, egreijas se fizerão e estão feitas em suas terras, q. ordem se teve e
tem cÕ elles para serõ instruídos na doutrina christan e preçeitos de nossa santa fee e se con
servarem e irem em augmento nella e se permanecem nella.
E procurareis tudo o que vos fôr possível q. em todas as prouvincias do dito Reyno se
dilate e promulgue o sagrado evangelho e me avisareis do estado em q. tudo isto esta do q.
vos pareçer necess® para se conseguir o fim deste intento E assy me avisareis se a egreija
matris está repairada e provida das cousas necessárias p* se administrar o culto divino com a
desçencia q. convem, e os de q. te necessidade, e donde se devem prover, a renda que p* isso
tem e vos ey muy partícularm16 per encomendado q. cõ o Bispo, Relligiosos e pessoas, eccle-
siasticas tenhaes toda a boa, e devida correspondençia e os ajudeis e favoreçaes no q. necess0
para milhor poderem cumprir cõ suas obrigações.
5 . Sou informado q. muitos gentios daquellas partes sem tere em suas terras saçerdotes
nem que os persuada movidos de sua bõa naturesa ou tocados do spirito Santo vão onde sa
bem q. ha saçerdotes pedir lhe o baptismo tão desejosos de o receberem q. levão dadivas e
presentes aos saçerdotes, os quaes os baptisão sem antes nem despois os cathechizarem ne
doutrinare, e baptisados se tornão p.* suas terras sem saberem mais delles nê elles procurarem
mais o que lhes he necess0 para sua salvação, e he de crer q. o m.t0 descuido q. nisto ouve foi
a causa do pouco effeito q. se conseguio do m*° gasto e cabedal q. nesta empreza de tanto ser
viço de Deos e meu se té metido, pelio que me informareis particuUarm.** do q. em todas estas
cousas passa sem ter resp® a nenhfias pessoas q. nisto tenhão culpa e do remedio com q. a
Apêndice 443
isto sc poderá tcodir e emquanto vos nío for ordem imsrf» do q c w > . jv cr por ív; res
procurareis quanto vos for possível q. as díu * cousas « c se í*çi nc.íâs o 4.«
convc ao serviço de Deos e mea.
6 . E porque por jusias considerações <le asm iw fíço tenho ttundxi >cessar a cr-~ r; s u , e
descobrim.** das minas de Prana q, se desí* haver naqttríic^si», «j q. se &3o sr«*.- dJU« ta
forma q. sc faria Vos mando 0 cumpraes assy, e trateis de o fg o v e rw , ee> p.«, e í í «»s** d.--
fendeudoo dos lmigos assy natoraes como de for# q iatentvrf tnfestalo conserven.*;» o ÇU>:^cr-
çío, e Resgate amigo da terra, e em bem e augmc&io dc mwrfw Ux* e prove:tr> i rsris vsj*
salJos c sobre as minas procedereis como adiante se declara.
7. Toda a gente que na terra ouver q nâo receber lofifõ de rainha Ux** h r ia a fctjr, e
que daotre elles se elejaõ capitais e officiaes de companhias q> fareis c'ir;f »rrr.e *
delia, e os obrigareis a ter sua Armas e a saircra as companhias em ofíenança ac* tv.;r %
e dias santos e íazerS exercício militar como se costuma a farer nesta çiJzie de Lix* **73 o s
q. não recebem soído, e estarem prestes p.ira defender a terra, cm fj vivem sem pc.:íç-<;~. *t r
obrigados a ir as guerras quepelía terra dentro se fizerem, porque o Ey 357-r por me&
por ter entendido q. alguns Goucm*’1comra justiça e rezâo por seus panicuforea obri^Oo
aos mercadores, moradores, e offiçiaes mecânicos da terra a yr a dia*-**»;«odj a í*<o "br/*
gação por não ser gente de pagua, e soldo, de modo q sò os q. o reçeberí poderão 3 Uso s*r
obrigados, e havendo na terra alguns homens nobres e honrados q. sirráo nas guerf^sj-e aroaw
panhe os Governadores á sua ppria custa (como entendo que ha m***) arisa»** dcí-q «ssy
0 fizerS, e me alembrareis seus serviços para lhe mandar fazer a» merçes e henrras qa>nere-
cerem.
8. Sendo eu informado que Paulos Dies de novaes despots da morre de jorge da silva &
com quem estava conçeriado para lhe dar 0 cabedal e cousas neçessarias para a conquista
dava os Sovas aos portugueses q. com die andavao p* defies cobrar« como cohrjtxãd p,* sy oa
tributos que pagaváo a El Rey de Angola por naõ ter outro remedio de lhe pagar seus soldos
e mantim10* de q. resultava receberem os ditos Sovas muitas extroções e moléstias e veremse
cativos das taes pessoas contra justiça e Direito e contra 0 que convinha ao serviço de D.* e
meu, e ao bem e quietação da terra merecendo ser tratados com 0 favor e liberdade como
pessoas a que se devia virem se fazer meus vassallos de sua livre vontade, mandey passar pro
visão per q. mandey q. não podessem ser dados pelos capitaes e Governadores nem entregues
por vassallos criados, ou tributários a nenhüa pessoa e q. se revogassem semelhantes Doaçocs
q estiverê feitas por Pauilo dias, Luís serrão e quaesquer outros Governadores, e ao O." Dom
Manuel pereira mandey dar por Regim1* fisesse publicar e cumprir a dita provisão e qae os
Sovas ficassem somente sogeitos a mioha faz* arrecadando se para ella os tributos q. costuma-
vaõ pagar, para do procedido delles se fazer pagamto aos soldados ordenando como 0 meu
feitor os recolhesse para ella e se carregasse sobre elle em reçeita pelo escrivão do seu cargo
que seria obrigado a assentar no livro da mesma reçeita em titulo apartado (que serviria como
de reçeita per lembrança) todos os Sovas que estivesse a minha obediência, e ao deaote a ella
viessem posto q estívess? dados a pessoas particulares por qualquer via q fosse por as haver i
por revogadas; O q. vos mando saibaeso q nisto se fez e não sendo publicada a dita provisaÕ -1
referida a façaes publicar e cumprir inteiram1* com 0 q. assy pela dita raanr#mandey ao dito
govern0' dom Manuel pereira, e que por nenhü caso deis nem repartaes os taes tributos nem
cousa alguma outra semelhante, e quem contra isto pretender algum direito o poderá requerer
no tribunal da Índia e terras ultramarinas, porque naõ ha sova q de presente esteia sogeito
nem pague tributo algGa my nem a outra pessoa a que fossemdados, e emlhe ser hora por my
criada a aução q nelles possão ter nenhü aggravo ne injustiça receberem.
9. Com El Rey de Angola trabalhareis todo 0 possível por ter pas e amisade e ver se o
podeis trazer a minha obedtençia tratando em prim.*0lugar q. conçeda pregar se nossa santa
fee em seu Reyno, e 0 mesmo fareis por trazer a minha obedtençia todos os Sovas por mejos !
brandos suaves, e sem rigor, e dando elles licença á pregação os não obrigareis a me sere tri»
butarios senão quando elles per sy se offereçerera a 0 ser, por eu os mandar defender e ampa j
rar (como vassallos a q. a isso sou obrigado) por ter entendido que por este caminho não
ficará nenhum que 0 não venha a ser, e q negando se lhe este favor, e ajuda com a razão de
se lhe não poder dar por não serem vassallos só por isso 0 serão, e aos que 0 forem se lhe
w :|fr s
444 Angola
p o d e r á d a r s e m e s c r u p o l o , c a c o n t e ç e n d o p e d i r e m a ju d a o s d e h u S , e o u t r a p a r t e o f f e r e ç e n d o
s e p o r is s o a s e r e m m e u s v a s s a l l o s o s r e c e b e r e is a h u n s e o u t r o s c v o s m e t e r e i s d e p o r m e y o
a c o n c e r t a ilo s p o n d o d a v o s s a p a r t e tu d o o q u e f ô r p o s s ív e l c n e ç e s s a r io p* q u e fiq u e m em
p a z a m i g o s e v a s s a l l o s m e u s , e e s t e h a d e s e r o p r e ç o p o r q u e s e lh e s h a d e d a r o f a v o r e n ã o
o in t e r e s s e q . e l l e s p o r is s o o f f e r e ç e m e s e lh e a ç e i t a a ju d a n d o o s s e m f i c a r e m v a s s a llo s ,
io . E s t a n d o M a n u e l s e r v « p e r e ir a n a g o v e r n a n ç a do d it o R eyno m e a v is o u q u e n a e x p e -
r ie n ç ia q . f e z e m C a m b a m b e p a r a s e s a b e r s e a v ia a l y P r a t a ach a ra não a h aver P o rem q as
p a r t e s e m q s e m p r e s e e n t e n d e o q a a v ia s a õ C a b a ç a q . h e a Ç i d a d e d e o n d e E l R e y d e A n g o l a
r e s id e , C a m b i l l o , A m g o l a , C a b a n g a e A n d a d a m o q u i l l a q u e s ã o p a r t e s q n ã o f o r ã o t r a t a d a s d e
m eu s v a s s a llo s o n d e se n ã o p o d e r á yr p o r h ora fa z e r e x p e r ie n ç ia c o m g e n te d e g u e rra , V o s
e n c o m e n d o q p o r to d o s o s o u tr o s m e y o s que v o s fo r e m p o s s ív e is t r a b a lh e is p o r a lc a n ç a r a
v e r d a d e d is to , e d o q. c o m m a is c e r t e s a m e a v is a r e is .
u . E p o r q u e ta m b é m s o u in fo r m a d o q no R eyn o d e A n g o la h a m in a s d e m u it a c o u s a
a s s a b e r c o b r e , f e r r o , A ç o , c h u m b o , B r e u e o u t r o s m a t e r ia e s i n f o r m a r e i s d a v e r d a d e d is s o m u y
p a r ú c u l a r m 1* e o s l u g a r e s e m q e s ta Õ e a c o m m o d i d a d e q u e p o d e r h a v e r p " s e p o d e r a p r o v e i t a r
d e l i a s e s e s e r ã o d e p r o v e i t o t r a t a r e s e d e a s b e n e f ic ia r o u a lg u ã s d e lia s e a v is a r e is d o q. ach a r
q e n te n d e rd e s o p o d e m d a r.
d es c o m v o s s o p a rec er e das pessoas
12. As minas do sal que ha naquelle Reyno de Angola se tem entendido serem de muita
importançia para o ter sogeito, e ainda q, hoje não havera a quantidade de gente de guerra
que será neçesssaria pO hir a ellas, e p." lhe poder deixar de Presidio a q. conve todavia vos
encarreguo q offereçendo vos o tempo ocasíaõ para as pordes debaixo de minha obediençia a
não percaes.
13. Sabereis de todas as terras que são dadas e quem as deu e que poder tinha para isso
e quem as possue, porque sou informado que forão dadas alguas a pessoas para edificarem, e
o não tem feito, sendo passado o tpo em q o haviaõ de lazer, e estão devolutos, o q he causa
de a povoaçao se nao ampliar, e em nobrecer, e achando alguas terras desta qualidade prove
reis nisto como vos pareçer, e as q. não tiverem dono repartereis pellas pessoas benemeritas
com obrigação de as cultivare e aproveitarem dentro em sinco annos e averem confirmação
minha, e não as aproveitando dentro do dito tempo, ou não avendo minha confirmação as
avereis por vagas, e as podereis dar a outras p0i com as mesmas condições e delias pagarão
somente o Dizimo a Deus.
14. Por ter informação que não avia naquelle Reyno casa de feitoria em que se podesse
recolher minha faz* mandey ao Governador Dom Manuel pereira em seu Regimento q tanto q
a elle chegasse posesse por obra fazerse na melhor parte da praya que para isso ouvesse in
formando se se siria melhor fazer se na Ilha da luanda e avendo para isso inconvenientes mo
avisasse Pello q sabereis o q. nisto ha e não estando feita a dita casa a fareis da mesma tnanr*
q. tinha encarregado ao dito govern." Dom Manuel pr.a
15. Por não haver na povoação de sam Paulo casas de Camara, cadea e asougue e serem
estas obras tão neçessarias como se deixa entender mandey por minha carta de vinte de março
de seiscentos e nove ao governador Don Manuel pereira q. com o ouvidor tratasse com a
Camr* e alguãs pessoas do povo q viessem em se fintarem p* se averem de fazer ou em se por
em cada peça mais dous tostoís por saca fazendo se hu tesoureiro, e escrivão para a carga, e
descarga do tal dinheiro, e çessar acabada a obra, com a qual despois de arrematada ficaria
correndo o Ouvidor e com os pagamentos q. se ouvesse de fazer levando se em conta por
seus mandados a despesa q se fizer, e por que para este effeito se assentou 0 direito de dous
tostõis por peça que como sou informado he de muito rendimto, sabereis o q nisto esta feito e
tomareis conta da receita e despesa de todo o dito rendim10. Estando estas obras acabadas fa
reis q cesse para ellas conforme a minha carta e avisarmeeis de tudo.
16. E porque convem muito a meu serviço para forteficação daquella povoação e Reyno
por a não ter acabar se o iorte que no porto de sam Paulo começou a fazer Joto furtado de
mendonça do meu cons.0 sendo aly governador, Vos mando ordeneis que o dito forte se acabe
com toda a brevidade possível, e q dentro delle se fação casas para vivenda dos governadores
e para a despesa das obras poreis de dr°J en cada peça de escravo dos q daquelle porto se tirão
os mesmos dous tostoís que o dito governador Joaõ furtado pos e q se pagavão para as obras
das casas da Catnr* cadea, e asougue para que já se deve ter tirado quantidade bastante, e ces-
W € Í;%
/■
y
S/s
'À /
z/ W
✓
e s ta m a t é r ia , e a d e c la r ã o , e a s s y t a m b é m q u e n a G a m a r a d e s s a ç id a d e se a c h a 5 p r o v is õ e s , o u
g a s to q u e E l R e y m eu Irm a õ fe z q u a n d o m a n d o u la n ç a r os ja g a s d e m eu R e in o , e m e m e te o
d e p o s s e d e lle , e d o q u e n is to o u v e r to m a r e is m u y c e r t a in fo r m a ç ã o , e d a s p r o v is o e s q u e a c h a r
a s d ita s p r o v is o e s m e d e r e m a u ç a m , e p o r e l l a s , e p e l l o m a is q u e a c h a r d e s n e l l a s m e p e r t e n ç e r
cõ to d a a b r a n d u r a e te m p e r a n ç a q u e p o d e r s e r s e m v ir a r o m p im e n to a té m e a v is a r d e s tra -
b a lh a e s p e lla s c o n s e r v a r .
tô. fui informado que o Reyno de Benguella que esta oitenta ou noventa legoas a balra-
vento do porto de loanda he cheo de abundantes minas de cobre finíssimo as quaes começao
ao longo do mar seis sete legoas pella terra dentro, e que he tanto o Cobre q. os mesmos ne
gros sem terem aparelho o fundem em covas que fazem na terra fazendo campainhas, e Argolas
que resgatao para outras Provinçias, e que conquistando se poderão vir delle cada anno a este
Reyno por minhas Alfândegas de tresentos para tresentos cinquoenta míl cruzados assy para
Artelharia como p.° tffeus serviço do Reyno e estado do Brasil ficando todos os retornos desta
entrada em meus vassallos, e naturaes, e que como metal de tanta importançia sendo Eu snõr
das minas o poderey reservar em mandar vir só por conta da minha faza que ficará ganhando
o muito que se compra por conta delia pondo lhe o preço q. pareçer conveniente, e que de
Benguella se poderá levar ao Brasil por lastro dos navios de escravos sem custar de frete
cousa alguá, e que no porto do mesmo Reyno se poderá abrir resgate de escravos de mór
Rendimento que o de Angola por ser terra muy povoada pello çertao, e de Marfim será outro
resgate de muita consideração em rendimento de muitos contos pella grande quantidade q. tem
cõ muito mais que vira em se resgatando posto q. he gente muy guerreira traidora, e de roitn
naturesa, E que o dito porto he mais sadio que todos os outros da costa que sao descubertos
atee aly e tem muitas agoas, e boa Baya e fiqua quarenta legoas o cabo negro avante para o
da boa esperança o qual fiqua leste oeste da Ilha de santa Ilena, e as naos que da índia vierem
tomar Angola ficarão descaindo menos tomando Benguella, ou o Cabo Negro que facilissima-
mente ficará ganhando com o de Benguella e assy o Rio que se diz do Ouro vinte legoas
adiante onde ha informação que ja forao olandeses e resgatarão muito ouro, e q . o Rio tem
boa Baya, E posto que não ouve por bem que por hora se tretasse da dita conquista mandey
ao Governador Dom Manoel pereira per minha carta de sete de março dous de outubro de
seiscentos e des enviasse ao dito Reino de Benguella hüa pessoa de m.la confiança, e pratica
das cousas daquellas partes q. se informasse muy ao certo destas cousas, e q. em particular
levasse a carguo fazer resgate de todo o cobre que achasse, e assentar o trato com o Rey de
Benguella de maneira que ficasse aberto e corrente, e procurasse fazer o mesmo no Reyno de
Angola com o sova languere Ambumda onde também fui informado que avia abundancia de
cobre, E por ter entendido que seria de importançia para estenegoçio enviarense de qua alguas
roupas das com que se resgatao naquellas partes avendo comodidade para jsto se lheenviariao
as que pareçessem neçessarias Porem em quanto não fossem nao deixare de por tudo isto em
execução na milhor forma que podesse ser E por que atee hora não tive aviso do que se fez
nesta matéria, Vos ey por muy encarregado que tanto que embora chegardes aquelle Reyno de
Angola vos informareis disto, e não se tendo feito o que ordeney o deis loguo a execução e
me aviseis de tudo o q. se achar e fizer com visto pareçer.
24. Eu ouve por bem de encarregar a Antonio gonçalves pitta fidalgo de minha casa do
cargo de capitão mór da gente portuguesa que reside no Reyno de Congo, para o servir con
forme ao Regimento que lhe mandey dar e que se registasse na camara e feitoria da loanda, e
conforme a eíle vos está subordinado no dito carguo, e sucçedendo Vagar a dita capitania pro
vereis a vagante delia, cora tal declaração Porem que o não podereis mandar chamar pessoal
mente nem tirar lhe a capitania nem offiçio de guerra, ou justiça que elle prover, nem Vos os
podereis prover como he declarado no dito Regimento, de que me pareçeo avisarvos neste
y
»
Apêndice 447
particular para assy o tardes entendido e o cumprirdes, e vos encomendo qoft com o drte Â*>*
tonio glf piua tenha« toda a boa correspondeaçw pare elle railhor cumprir cm t i»
nas cousas de que o encarreguei, e que para e!ía o farcreçaes f ajudei* ju* meo
serviço.
25. Tereis muito particular cuidado dc guardar e fazer q. se goardem minbas p to n só c s e
defesas sobre o comercio dos estrangeiros, e da mesma maneira Urd» guardar MU p
passada pela mesa da coasciençía, e ordens sobre se não tomar dinheiro do* defuntos» au
sentes, e cativos, a qual lenho mandado registar na Cam." do dito Repito de AngoU, e a que
he passada sobre os tesoureiros delles não entenderem com as fazendas dos dt£jft»s que dei
xarem quem lhe cobre e administre suas fazendas, e não guardareis as q. a elle forem euvízdas
não sendo passadas pello meu Conselho da Imdia e terras ultramarinas, salvo m que fores»
passadas pello Conselho de minha fazenda nas matérias delle, e as da mesa da consciência aos
dos defuntos, ausentes, e cativos por estas matérias pertençerem aos ditos tribuna«*
26. Da mesma maneira tereis pamcalar cuydado de saber de todos os navio* qve forem
deste Reyno se levao despachos algCs meus e se vos emregaem os que levarem para vos t em
todos os que vierem me avisareis das cousas daquelle Reyno ainda que se náooffereça de aovo
mais que repetirdes 0 que tiverdes escrito porque palia íncerresa da viagem tudo be ncçessario
e não impidtreis escreverem a Camara ou outras pessoas o que lhes cumprir aynda q. seíjio
queixas por que a meu serviço cumpre haver nisso a liberdade fteçessaria, e também me escre^
vereis tudo 0 que a experiençia vos mostrar que se deve prover que 1^0 for declarado oeste
Regimento para nisso mandar 0 que ouver por meu serviço.
(Á margem e nas entrelinhas dêsle capítulo e com letra diferente^ está minutada 0 se
guinte; cap9 e porq posto q. eu tenha dado ordem para os mestres dos navios q. desta cidade
q.
forem para as p.BI ultramarinas ire ao meu cons® da india buscar os desp" para ell&s se hão
de enviar acontece muitas vezes partirem se fazer esta deleg* retardandosse c ô Jsso envia-
o
rense em dano de meu sço vos encomendo tenhaes particular cuidado de saber de todos os
navios q. desta cidade forê se levão despachos meus para vos a q. vo los entregue creçentados
do ? das matrias de estado do ditto cons* de como os pedirão e se lhe não derão e não vos en
tregando hua cousa ou outra façaes cô os mestres dos dittos navios algua demonstração q. vos
parecer para exemplo e se não descuidará ê matéria de lama importância e ê q. elies nlo re
cebem dano na dilação).
27. Sucçedendo que ao Porto de Loanda vaa ter algúa nao, ou naos q. vão para a índia, ou
venhão delia, ou navios meus desbaratados ou faltas de cousas para seguirem sua viagem os
fareis conçertar e que se lhe compre e dee de minha fazenda o de que tiverem neçessidade, e a
despesa correra pello meu feitor que a fará por vossos mandados pellos quaes com 0 ireslado
deste capitulo que se tresladará no livro de sua despesa lhe será levada en conta o q. despender
e tereis muito particular cuidado de fazer acodir ao conçerto das ditas naos e navios com toda
a deligençia neçessaria p1 0 proseguimento de suas viagens, e que delias se não tire fazenda
nem se faça cousa algua contra meu serviço e fa24* e nem se lhe metia tantas escravarias que
seja ocasião de lhe faltar a agoa e mantimentos e causar infermidades.
28. E sendo caso que sucçeda neçessidade urgente e preçisa de se fazer guerra para defec
ção dos Presídios e da povoação de sam Paulo côsuUareis com 0 Bispo estando aly t com o
ouvidor gera), Provedor da fazeoda e ministros que ouver delia a despesa que para isso será
necessário fazerse de miQha faz.4* e 0 que se assentar podereis despender delia e se levará em
coma ao feitor para o q. se registará no livro de sua despesa este capitulo e o assento q. se
tomar e nas primrMembarquaçoes que despois disso vierem para este Reyno me enviareis assy
a Rellação das despesas pello meudo, com a copia do assento que se tomar 0 qual será assi
nado por todos, c se declararão nelle as razoes em que se fundarão, e tereis advertençia que
esta liçença he somente para 0 dito effeito da defenção dos Presídios e villa de sam Paulo e
não para se fazer guerra pello certão.
29. Posto que tenha concedido para o Hospital de Loanda duzentos mil rs. em cada hu
anno para a cura dos soldados e doentes que nelle ouver ey por bem que emquanto os ditos
soldados estivere doentes se lhe corre com seu soldo para effeito de sua cura, e vos mando
que assy 0 façaes executar e cumprir por virtude deste.
3 0. Ey por bem que emquanto servirdes a dita conquista possaes mandar ás conquistas da
448 Angola
Coroa deste meu Reyno <ic Portugal, e levar ao de A ngola os C avalos que forem neçess" cõ
declaração que se não poderão levar egoas alguas e que os homens q. ouver de cavalo ser&o
arcobuseiros e não de lança.
3 i- E pella muita confiança que de vós tenho e evitar algüs inconvenientes ey outro sy por
bem de vos conçeder que para o cargo de ouvidor do dito Reyno de A ngola me nomeeis letrado
que tenha lido no meu desembargo do paço e esteia approvado para meu serviço conforme ao
que se tem conçedido aos capitaês de Á frica para eu lhe mandar passar carta em forma do
dito cargo, e Regimento de q ha de usar, o qual ouvidor despachará com vosco todas as ma
térias de justiça e fazái q. forem de consideração, e não poderá emprasar pessoa algüa senão
com vosso pareçer e o seu com as razoes em q se fundarem para eu visto mandar o que ouver
por meu serviço, contorme ao que tenho mandado por minha provisão de seis de mayo de seis
centos e dez.
32. E y por bem que emquanto servirdes naquella governança tenhaes jurisdição civel e
crime em toda a gente m oradora e estante no dito Reyno de Angola, e em toda a mais que a
elle fôr, e o dito ouvidor conhecerá de todas as auçoes novas q. se processarem entre as pes
soas q estiverem debaxo de vosso governo, e os casos que julgar assy por aução nova como
por aggravo sendo em cousas eiveis não averá delle appellação ne aggravo atee contia de cem
mil rs. assy nos bens moveis como nos de raiz, e dahy p.* cima dará appellação ha parte que
quiser appellar Forem sucçedendb algü caso crime estando actualm1* na guerra fora da po-
Yoação de são Paulo de Loanda, e millitando nella os culpados, sendo os taes culpados capi
tães ou offiçiaes dasQompanhias neste caso e destas pessoas conhecereis vós somente e em
final serão as causas sentençiadas por vós e em vossa casa juntam1* com o dito ouvidor na
forma declarada na dita provisão de seis de mayo de seiscentos e des, e nos casos crimes vós
e o dito ouvor tereis jurisdição atee morte natural inclusive assy nos Portugueses peaes como
christaós da terra, escravos, e gentios em todos os casos assy para absolver como para conde
nar sem appellação nem aggravo Porem nos q. fore criados meus no foro de moços de Cam rt
e dahi para sima ou pessoas nobres desta ou de mayor qualidade tereis alçada ate des annos
de degredo e cem crusados de penna e no caso de heresia, quando o herege for entregue pello
eclesiástico ao braço secular, e nos de traição, sodomia e moeda falça, tereis alçada em toda a
pessoa de qualquer qualidade q seia para condenar os culpados atee morte natural inclusive e
dar ás sentenças a execução Porem aconteçendo que nos ditos quatro casos absolvaes os cul
pados ou os condeneis em menos pennas q de morte dareis appellação e aggravo para a casa
da supplicação,
3 3 . E assy ei por bem q emquanto servirdes a dita capnia e governança tenhaes para vossa
guarda dos soldados q naquelle Reyno servem, quer aja guerra levantada quer nao vinte sol
dados com hu cabo de escuadra q. vos fação a guarda.
34. E outro sy ey por b^m que emquanto servirdes a dita governança possaes prover todas
as serventias de todos os offiçios que vaguarem assy, e de man" que os costumavão prover os
mais governadores que atee ora forão avisandome 11a primra occasião que despois disso se
offerecer de embarquação dos provimentos que fizerdes.
3 5 . Sabereis particularmente como procedem todos os offiçiaes de justiça e minha fazenda
que ha naquelle Reyno, e se ha nelle algus homens revoltozos e prejudicaes, e que mereção ser
mandados vir para este Reyno e me avisareis de tudo 0 q. achardes para m andarnisso prover
com o ouver por meu serviço.
3 6 . E para conclusão e rematte deste Regim13 não tendo mais que vos diser senão lem-
brarvos que o primeiro lugar naquelle Reyno tenha a conversão que sempre deve proçeder e
anteporse a todas as mais cousas, e que com as considerações, e advertências a que vos obriga
a confiança que de vos faço proçedaes no Governo delle como por meu serviço vos bem pa
reçer e me avisareis particularmente do q. vos encarrego por este Regimento o qual vos mando,
e a todas minhas justiças, offiçiaes, e pessoas a que pertençer cumpraes em todo como nelle
se contem sem duvida nem embargo algum: e sem embargo de quaesquer outros Regimentos,
e provisões em contr.° João Tavares (por cim a, em entrelinha « D o m in g o s L o p es» ) o fez em
L isb oa a vinte e dous (por cim a , entrelinha «seis de a bril» ) de setembro de mil seis centos e
onze (p or cim a , entrelinha , <klre\e») (Dizem os conçertados d tres e as entrelinhas) ordeneys
q u e: eu o secretario Ant° viies de çimas o fiz escrever, R ey.
Apêndice 449
Regimento de que ha de usar franjisco Corrêa da silra que V. Mg.‘ enria por capitío
geral, e Governador do Reyno de Angola, p.' V. Mg* ver.
iBibGoue» Ai AM*, «W» Do Caoerm d* /Vflya*.
Do /fripe D, Pejre te fjutUie. Ptftmeat» f minvp&a
pertaKetíes a ledit tmtit eooqotUãg, Mc iii « r^
4
to n»«Dn 1 mbrici •CM* AJumtc.
•Fasasse deliga nas Secretarias para se ver este regimento e se ha nele 0 q pede 0 procu
rador da Coroa. Lx. 3 de Abril de 1618».
3
q . E u ordeney a Dom Manuel Pereira que procurasse abrir o trato do cobre com o Sova
Langere Ambumba do Reyno de Angola pela informação que tive de que havia muita quanti
dade deste metal nas suas terras cometendo-lhe que enviasse a isso pessoa que procurasse ave
riguar isto, e saber se importaria para assentar este negocio achando ser de consideração ea-
viarense daqui algumas roupas das com que se fazem os resgates n&queU&s partes, e por que
até gora não tenho sabido 0 que se fez nesta matéria, vos hei por muy encarregado que tanto
que embora chegardes aquelle Reyno vos informeis disso, e não se tendo feito o que ordeneys
o dareis logo a execução, e me avisareis do que resultar desta deligencía e nella se fizer com o
que se vos offerecer sobre a matéria.
Não tem 0 capítulo 24 do regimento de Correia da Silva e que se refere a Antonio Gon
çalves Pita, como capitão mór da gente portuguesa do Congo.
Não tem 0 capítulo que no repmeitfo de Correia da SÜYa está minutado nas entrelinhas e
à margem do capítulo 26.
Entre a folha em que termina 0 capítulo 33
e aquela em que começa 0 34 (remate), parece
57
Angola
que foi introduzida uma outra fôlha, onde apenas está escrito um capítulo com o n." tt, como
segue;
ii* Tenho entendido que Garcia Mendes de Castel-branco oferece descobrir algumas minas
em terras de E\ Rey de Congo e que nelias e em Bemba ha sete léguas de que se tira cobre
fioo, que foi visto por pessoas de credito e as minas delle forão já contratadas por El Rey de
Congo com o capitão Serpa, que no anno passado faleceu, o qual tinha abertas catorze bocas e
tirava cobre de todas em tanta quantidade que hum quintal de terra lhe respondia com cincoenta
e oito arrateis de cobre. E porque seria de grande importância haver estas minas e beneficialas
vos hei por muy encarregado que procureis certeficarvos do logar e verdade delias e vendo o
m odo que se poderá ter para as haver de E l Rey de Congo me avisareis do que achardes e se
vos oferecer.
E ste capítulo talvez fosse só incluído no R egim ento de Fernão de Sousa, ou, quando muito
no de João Correia de Sousa. No de Luiz Mendes de Vasconcelos não devia existir.
A minuta do regim ento para L u iz Mendes de Vasconcelos é encerrada com: C rus Falcao
o f e \ em 3 de Setem bro de i ô j 6 .
Na fôlha da capa está escrito:
vN esta conform idade se passou o regim ento a João C orrêa de Sousa em i 5 de Jano de 1620**
nM andenos V M r ^ titu ir estes papeis como Ia não fo rem necessários ».
a P o r este s e f e \ outro a F ern ã o de Sousa ».
Na B iblioteca da Ajuda existe 0 cód. 5 i-vm-3 o, que logo nas primeiras fôlhas tem o R e g i
m ento dado a Fernão de Sousa, o qual em comparação com o de Francisco Correia da Silva
tem a mais dois capítulos com os n.01 11 e 23 , que são os mesmos a que foi Feita referencia no
R e g im e n to de Luiz Mendes de Vasconcelos e a menos os que naquele Regim ento tem os nu
m eros e 24 (Cobre de Benguela e Capitania mór do Congo) e 0 capítulo minutado nas en
trelinhas do n.* 26.
O rem a te segue ao capítulo 34, sem espaço e sem número, como tem no Regim ento de
L u iz Mendes.
A data dêste R egim ento a Fernão de Sousa é de 20 de Março de 1624 e tem a indicação:
A ntonio C o r rê a o fe% em Lisboa, Christovão Soares 0 fe% escrever. Dom D io g o da Silva, Dom
D io g o d a C o sia .
DOCUMENTO N.° 37
A S M g*
L u is Mez de Vasconçellos a 9 de Julho.
Sobre a falta de gente, armas e muniçoSs q ha no Reyno de Angola e pouca quantidade q
destas cousas se lhe da p3 Levar.
Senhor.
Representei a V. Mg46 a necessidade q’ avia em Angolla de hum grande provim*0 de gente,
armas e muniçes; e V. M g* mandou ao Cons® da fazenda me provesse destas cousas; ô qual
me respondeo agora mandando â ô provedor dos almazes me desse ô que se deu a Dom Ma
noel Pereyra, que forão cem arcabuzes e cinqu mosquetes, hum quintal de murão, cinquo
quintaes de pilouros, e embarcação ê mantimentos para cinquenta homes da obrigação de
Dom Manoel, a quem se não deu soldo. E quando para aquelle tempo este fosse bastante pro
vim ento, por soceder Dom Manoel a João Rodriguez Coutinho que levou mil homes muitos
cavallo s arm as e muniçoSs e por não aver os inimigos que agora frequentão aquelles mares
Neste tempo em que tudo he muy deferente assi pola falta
noel; por que as cousas desta qualidade não se hão de prover poB oí« *® p i« p a t u á s , s t aà*
polia necessidade presente. E ossi ainda que eu estou disposto com a prosiíáSo qoc devo 4
servir a V. Mg*” do modo $ ordenar, compríndo inteiramente com mmha obrigação* parecem*
devia apresentar a moita necessidade que naquelle Remo ha de geme, armas t mostçocv em
quantidade, que a falta destas cousas não seja causa de algum coou* sucesso xqueílá Reitt*t
como por falta delias socedeo agora na tlha de Su Maria cujo exemplo obriga muao a estar
com grande vigilância sobre todas as conquistas c terras dos estados de V. Mg** e em Aognte
muito mais, por ser praça donde depende todo o meneo do Brasil, e de índias, e set terrí trmy
rica; e pollo mesmo respeito mais arriscada a ser acometida. E asai por descargo de mmha
obrigação, pollo zello que tenho no serviço de V Mg* peço se sirva de mandar se rac. de gente,
armas e munições conteudas no memorial que da ao Cons* da fazenda, cuja copia v»í c6 cata.
Porque de outro modo não deixara de estar rauy arriscado aquelle Reyno, pois S. Paulo de
loanda, q’ he toda a defensa delle não tem cousa que o assegure, por estar aberta sem fortaleza
nem fortificação alguã, sem a9 praças ordinários dô soldados, que sempre teve, 6 sem armas e
muniçoSs. Nosso Senhor goarde â Católica pessoa de V Mg*. Em Lix* 9 de Julho, 1616.
Senhor.
Diz Luís Mendes de Vasconcelos Guvernador e Capitão General do Reyno de Angola, que
elle pedio a V, Mg** 0 mandasse prover de geme, armas e muniçoHs necessárias para a con
servação daquellc Reino, e V Mg* mandou que o provedor dos almazfs informasse do que
levou Manoel de Serveira destas cousas, a que se satisfez com o rol, e certidão juntas. Mas
porque as obrígaçoês do Reyno de Angoila so muy grandes, pellas muitas praças que cem
prover de presídios, e depender delle a conservação de todas aquelias partes, e Manoel da Ser
veira não levar ordem mais q para prover Benguela, devese dar a elle supp*® muita mais gente,
armas e rouniçoSs, do que levou Manoel da Serveira, pois alem das ordinárias obrígaçoes do
Reino, e de ser necess® acreçentar á goarnição de San Paulo de Loanda, como diz nos aponta
mentos que fez sobre a folha nova se lhe acrecenta mais a fortaleza de Pinda, que V. Mg**
quer se faça,e deitar os Hollandeses daquelle porto donde estam com casas em terra, o que
se não poderá fazer sem força de gente bem armada e não só se ha de prevenir para este effeito,
mas para assegurar a mesma fortaleza de Pinda, q se fizer, e S. Paulo de Loanda da volta que
os Hollandeses fizerem para se quererem satisfazer de os deitarem do porto e commercio que
tantos annos ha que possuem E asst para tudo isto deve V Mg* mandar se lhe de 0 que aponta
nas addiçoes.
Setecentos soldados infantes nos quaes avera duzentos e trinta mos
quetes ; e trezentos
para a conquista de Benguelta pollo que que souber que esta pro
vido o Governo de Angoha se ira ao seu districto levando toda a gente, armas e munições
que ouver no ditto lugar, â cujo respeito se não deve deminuir nada do que aqui se aponta.
ERM.
(Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Papéis de Angola).
DOCUMENTO N° 38
Snor.
O Governo de Angola esta muy apartado de V. Mdo, e de seus tribunaes e por esse res
peito se alcança lá recursso muy tarde nas cousas, por demayor importância, serviço de D.* e
de V . M.4e que sejão, e pela larga experiencia q tenho do que aly alcancey em tempo de cinquo
governadores, se me reprezenta que os pode, e deve V. M.d* lá mandar muy caleficados de
com petente idade, e de muita comfiança, e consçiençia porq sendo estes farão proveito muy
bastante nas cousas do senhor e ordinarías, sem extorçoes. E sendo ao contrario (com tem
sido e he) deitão tudo a perder, e arriscão todos, molestado, e roubando os naturaes, e mora
dores, dando de ordimio guerras ijustas, cativando, matando, e opremindo inocentes, e fazendo
vexações q se não podem declarar, atravessando tudo, errevendendoo, e por fim opremindo a
todos, demanr* que ate aos Prelados, pregadores, e Religiosos, tratão mal quando em compri
mento de seus officios nos púlpitos, ou em qualquer outra parte estranhão vicios, e nisto se
estrem ou Manoel Cerv,r# P.“ / .
Socedeulhe luis mendes de Vasconcelos que entrando a pés de lãa santeficandosse assy falava
■/
Apêndice 453
e falia, em todos os passados mal, e em poucos d iu fazendo toIu se pos em rodo o genens
de desordens diante de todos de man** que o que de mal tim ão seus antecessores a «rí« res
peito fica sendo vertude e santidade entrando também Manoel çerv* (como V. M.* o fera sa
bido da diferença, e multidão de queixas que justamente delle ha, e arería em-quaow ovtr
lugar publico) porque nem a ley de de' se guarda, nem regimentos de vm.4*, antes se quebrSo
todos quantos capítolos nelles ha, e quantas provisões se passõar/como se vera dísimumeme
cotejandosse tudo cõ o que se fas) a justiça não tem lugar, nem mais rasão que a própria
vontade, e para o governador só por cila se emeaminhar, e não ter qoem em nada lhe taxe a
mão huã das primeiras cousas <J iâ fes foi embarcar ao ouvidor geral que V. M.* U mandou
chamado Diogo de são miguei garçes, sem haver causas bastantes para isso, e damfolhe na
fazenda grande perda, e na onra grande quebra, e fazer ouvidor em seu lugar hum franetjco
Roiz de Azevedo idiota, pobre e de larga consciência, e que noutro tempo foi contra o serviço
de V. M.4\ por que fas só o que elle quer peressendo em tudo a justiça das partes./-
Achou que algus de seus anteçessores se servirão de jagas geme cruel, porem animosa e por
isso muy temida dos naturaes, e assi insolente na vida e cusmmes que pode ser, porque $ó de
roubar e comer gente humana vivem, sem criar filhos, porque os matao cm naceodo, e se vâo
conservando cõ fazerem jagas os que de pouca idade tomão nas guerras em que sempre andfo,
sem cultivar, nem ter parte de abitação çena uzando de feitissos públicos, e invocações do
demonio a vista dos nossos que cõ elles andão, e tendo por mantimento carne humana fresca
e chacinada, sacreficando ao demonio, gente e aoimaes quando quere^ fazer algum cometi
mento, e cÕ muitos outros costumes muy perverssos fes o governador exclamações sobre mal
tamanho dízendo que os avia logo de despedir, e dando por injusto quanto por seu favor se
fizera, afirmando íj temia grandes castigos de D*, pelos grandes pecados que cõ sua conver-
çassão se tinhão cometido, fes logo a guerra cõ risquo e perda de gente por ser fora de tempo
que não quis perder em se aproveitar, e em lugar de deitar os jagas se abrassou cõ elles, e os
tras na guerra em q anda a mais de dous annos, matando cõ elles, e cativando inaumeraveis
inocentes, não só contra a ley de D*, e natural mas ainda contra os regimentos expressos de
V. Md*. /.
Levou consiguo enganosamente moradores, soldados, jagas, sovas da obedtençia de V. M.4*,
escravos de portugueses, e quibares forros, q he tudo o que lâ ha, fingindo q hia dar guerra
Acaytacalabalanga sova poderoso que dizia estar levantado, e despois lâ fes pregações em seu
louvor afirmando que fora úranisado de man” que justamente se apartara de nos, e que por
estar disso muy inteirado nunqua sua tenção fora darlhe guerra, senão hir dar em cabaça, e
dongo, e sogeitar EIRey de Angola para assy de huá ves acabar tudo, publicando esta empresa
porpalavra e por escrito, pela mayor, e mais importante que nunqua naquelas partes onvera,
nem havia de haver, sem intervir nisso mais que sua vontade, porque EIRey de Angola estava
quieto em suas terras, e retirandosse mais adentro as deixou cõ muita gente lavradora, e sem
nenhuá resistência, e lhe mandou pedir pazes, oferecendolhe feiras e comercio livre, destruio
o que quis e adoeçeo e veosse, deixando em seu lugar seu filho Joane mendes de desanove
annos de idade e havido por mal inclinado, e por seu Ayo luis gomes machado aborreçido de
todos por sua má vida,e pelo mesmo (deve ser) mimoso do governador, e de seus filhos, forão
continuando em distruir cõ os jagas, amigos, e imigos, e ate algus sovas de EIRey de Congo
(como forão Amboila, cabonda, e outros) estando em suas terras portugueses, cõ muitos es
cravos de carga, e outros resgatadores cõ muito fatto, onde ouve muita perda delle e morte e
cativeiro de muita gente cõ grande perturbação, e escandallo dei Rey de Congo, que de ordinn®
afrontão, cõ obras, palavras, e cartas, mandando vro.4* sempre q se tenha, cõ elle aboa corres
pondência possível, e que cõ o de Angola se procure amisade, e não aja cõ elles rompimento,
ainda que aja causa sem que primeiro se comunique a V. M.4*, e tenhao resposta sua, tomão a
EIRey de Congo as terras de que D* o fes senhor natural, e repartennas co quem querem, e as
paçagefís das agoas do bengo, e dande, dizeodo por falças informações que por elle parte o
Rm de Congo, cõ o de Angola, sendo tanto o contrario que ainda mais de tres annos despois
de Eu la estar era EIRey de Congo senhor de tudo aquilo, e V, M * naquela parte não tinha
mais que o porto de loanda cõ hum breve território que EIRey de Congo deu a V. M.4* pu-
suindo elle pacificamente tudo o q agora se lhe vay tirando e de que elle se quexa notavelm.*i
7
avendo que nisso se lhe fas grandes emjustica *
454 Angola
Deu ordem para se fazer o presidio novo da A suA çSo muito pela terra dentro e que por
esse respeito foi ja çercado de imigos, e estara emperigo emquanto aly estiver, foi dclle capitão
• ^ #
hum manoel castanho christão novo e sem expericncia, desfes o presidio de Ango contra o
paresser de todos, tendo 6 V. M * aprovado por suas cartas ao capitão mor Bento banha que
o fes por estar junto da lucalla Rio caudaloso, por onde em qualquer ocasião podia ser breve-
mente socorrido, e ao novo se não pode dar socorro, senão cõ exercito formado, e cõ muito
gasto e perigo; por não haver Rio, antes estar entre imigos e muito pela terra dentro, despois
de o ter mandado faser mandou destruir Caitacalabalanga, tendo dito quando foi, que nem
clle nem seus vizinhos mereçiâo castigo algum, e assy ha mais de dous annos q se anda em
hua tão grande carneçaria que os muitos mortos infecionarão as agoas dos Rios caudalosos e
sem causa se cativou grande multidão de gente inoçente ./.
Parecelhe q sabe tudo e por isso não toma paresser de ninguém e erra de ordin.río, aos papeis
q la se fazem de abonações, e de acordos se nao deve dar credito porque se não dis nelles,
nem de bem, nem de mal, se não o que querem os governadores e como avendo jagas as
guerras sao em nenhum perigo e cõ descrédito dos portugueses, todos são Je paresser que as
! aja, dando por causa bastante qualquer mentira pela muita gente q cativão, mantimentos e
gados que tomão que hé o que os la leva, primeiro que o serviço de V. M.de, avendo que nenhuá
disculpa fica aos sovas em qualquer sombra de desobediencia q cometão nas tiranias que con-
tino lhe fazem, chatnao nos os governadores a sua presença, e pedenlhe muitas peças escolhidas
parassy, e para os seife, e engeitãolhe qualquer q entre ellas não seja boa, e porque os sovas
não podem suprir tanto, mandam dar obediência alguás vezes por seus parentes, e Vassaílos, e
por não hirem pessoaimente dão essa causa por bastante para os dar por levantados, e os des
truir como a esses, e ainda por outras cousas menores ./.
Com estas extorções todas as feiras çessarão, pararao os comerçios e resgates ate em muitas
partes do R“° do Congo, aonde também chegarão as guerras e çerráraosse os caminhos de
manf* que por não haver resgates pereçe a gente a fome, perdensse os armadores, e vaysse
acabando tudo de remate, os jogas que forao mimosos vierão a enfadarsse de lhes tomarem o
que tomão e de outros máos tratamentos, e lavantousse e foisse delles o capitão mais valeroso,
e poderoso, levando consiguo quantos negros de carga, resgatadores e fato la tinhão os portu
gueses, e recebeusse nisso am or perda temporal que numqua naquelas partes ouve, e espiritual
muy grande, porque vão feitos jagas mais de quatro mil christaos bautisados ficando total
mente perdidos seus senhores, e ainda sera a perda de mor conçideração se se forem lançar cõ
EIRey de Angola como se pode temer, e o mesmo se teme dos que ficão por andarem já ar
ruinados e senão terem por seguros em poder de joane mendes que de huá ves descabessou
despois de Eu ser vindo vinte e oito sovas, que sao regullos, dos da obediência de V. M.1*0 q
trasia em sua companhia que pareçe cousa inaudita e disto q se fes co perda e descrédito de
quem vm.de mandara considerar, fica sendo o proveito só dos que fazem as guerras e andão
neilas ./.
lazem entrar nas companhias todos os moradores ainda que sejao previlegiados, e aos que
faltão que são muitos, por os capitaes serem indessentes levao penas consideráveis, e assy se
vive em huá perçeguição continua, porque hús são condenados, e outros se escusão por peitas
quanto vay de fora de comer, beber, vestir, e resgate, se atraveça e revende por preços ex-
çecivos. os navios dos defuntos se comprão de graça, nos leilões, se toma tudo o bom, pelo
mesmo modo, e as fazendas dos defuntos se perdem e furtão de man” que numqua seuserdeiros
alcanção nada do que delles fica, ç poderia darsse remedio a este mal co se proverem os offi
cios de defuntos e auzentes emgente mais caleficada, abonada e cõ fianças mayores e mais se
guras, porque as que dão (sendo piquenas) e sendo muito grande cantidade das fazendas q lhes
vay a mão, e porque algús andão fugidos ha muitos annos; aos soldados se vendem as licenças
para vir a loanda proversse do n e çe ss^ e aos moradores, e resgótadores as co que vão assima
a comquista, e aos resgates; tem por seus regatões ladroes públicos, e onzaneiros a quem se
acharão pesos e medidas faiças, tomão os direitos dos contratadores, e dão empagamento
panos de palha e peças velhas, e mantimentos revendidos, fazem e desfazem como querem as
eleições da C am " e da misericórdia, dão os officios vendidos a gente sem mereçimento, e sem
causas suspendem e privão os que nelles vão providos por V. M.de, mandão fazer camisas, sa
patos e vestidos em socata, e mandãonos dar em pagamento aos soldados por tão grandes
Apêndice 453
p r e ç o s q u e o s q u a t r o c r u s a d o s <$ tetn d e p a g a lh a s o l o 6 q u * s e n i o h u n o , t a tla s p jg ã o í a
DOCUM ENTO N • 3 9
DOCUMENTO N* 40
Sem embargo, dequam mal aviado parti de lxa em 19 de junho cheguey aeste governo de
Angola em ires mezes e meio, a gente com saude e sem amainar as velas scia Deos louvado,
polas ocazions que se oferecerão escrevy a Vmg>.
Com oito naos entrey nesta baia que me pareceo a milhor do mundo achey a luis mendes
devasconselos e seus f" nesta Cidade de loanda e porq as couzas tocantes, a elles estão a
cargo do sendicante ant#bezerra que deve escrever a V. Mg* do que tiver feito, ao toqaante
ao que veio que am(i) so toqua darlhe toda a vida e favor p* se darem a execusâo as cousas
que ordenar, e fazer por em boa recadacão a faz* de Vmg* como vou fazendo ao seodicarue,
que nesta sua comissam mostra telo (zelo) e verdade pareçeo conforme a seus Regim*** prender
a luis mendes e seus f°* cô mandar p* a fortaleza de mosangano entregues ao sargento mor
deste Reino, partirão domingo 24 deste, e como se lhe nam achou faz* em caza nem mais di
nheiro, que sento e smquoenta patacaas dizendo este povo tinha muitas mil e mu quantidade
descravos, he necessário hirem se fazendo diligencias p" que apareção que o mtó que tem man
dado índias de direitos e naos de peças sabersea.......... ilha a que foram a entregar e este dira
............................................................................................................ duarte feitor, escreverão
...................................................................................................................... os
que a isto.......................................................................................................... ..........................
.......... cantidade de gente de toda a sorte e sexo que necessariamente seria morto e cativo
premi tio deos que V.Mag* ordenase ire luis mendes e seus f0> a mansangano donde pareçe que
se dis la elRey de Congo, e angola e mais cousas que V.Mag* os manda aly p1 que cada hum
deles diga as queixas e agravos que deles tem pa serem castigados ainda que nlo seia mal pe
cado porq com esta aparente satisfação fiquo eu consertas esperanças, de com 0 favor de Deos
a quietar tudo como mais convem ao serviço de V.M.ag** nestes prim*' dous aonos em que
trabalharej por deixar tudo em estado de mereser a Vmg* mandar a este governo homem de
grande satisfação porq o ha mister e eu da minha idade ir me a minha caza p* que neste der
radeiro quartel me sahia. Onze dias ha que entrey nesta Cidade e hu homem que acazo veio
de Congo me deu esas pedras das minas de cobre que no caminho estão bem sabidas dele, e eu
com esperanças de las alcançar do Rey pola necessidade em que hum irmão seu o tem posto
por se lhe alevantar no Reino, e me aver mister, mandarem dous homens que saibão bem be-
nefiçiar cobre que espero em Deos nam seia este como 0 de bemgela por onde passej pegado
com terra e de hum clérigo, e dous soldados que vierão a nao soube 0 que também de todos
os desta Cidade e em todos tenho achado ser tudo aquilo fantastiquo, que so pretende tnl ser-
veira estarse naquella comisam com 40 soldados rotos e com pouca saude negoseaado com
hum pataxio que tem que manda a esta Cidade, e ao brasil tendo em cativeiro aqueles pobres
58
458 Angola
homens e o mais mc num toqua escrever faioão os que mais sabem de bengueia so que nam
lenha nem agoa ha ondé achou aquela mandou damostra, andando quada soldado alguüs dias
escolhendo o que nam he desusiancia e quatro jornadas donde esta duas por mar e duas por
terra e Vm g* mandara o de que mais servido for, Achej os ofiçios quasi todos desta Cidade, e
as capitanias e bandeiras da gente da guerra do campo e prezidios em cristãos novos nam
como se nam sardos da inquisisâo e peneteaciados, ate hum surgião capitão de infantaria causa
vergonha aos cristãos velhos no estado cm que estão os de Angola terra que quando nam he
no espiritual heo no temporal, o que vou remediando de maneira que todos os que me fazem
petição dizem que $5 o cristão velho. farej o que entender aVizarej com verdade
esperarej ordem p* Vmgáe me mandar ir p* minha caza deixando isto no estado que espero . . .
.............. continuando em seu real serviço me darej por satisfeito do que espero mereser neste
governo, noso snõr Guarde a catolicua e Real pessoa de V,Mg*® por largos annos augmento
da christandade desta Cidade de loanda em 24 de outubro de 621.
DOCUMENTO N.• 41
Succedeo em 0 Governo destes Reinos de Angola João Correya de Sousa, vindo despa
chado do Reino de Portugal pelia Catholica Magestade por^ Governador e Capitão General
des(tes) Reinos e suas Conquistas na Era de mil seiscentos vime e tres, 0 qual havendo tomado
posse do Governo tratou de prover alguns postos e officios que estavao vagos como também
as fortalesas assim da Cidade como da Conquista deixando de- caminho quando passou pelia
costa do mar soccorrido o Reino de Bengala aonde havia tomado o primeiro porto desta
Ethiopia Occidental de gente e Muniçoens, foi dando ordem ao Governo político administrando
justicia fasendo seu Lugar tenente e Capitão môr da gente de guerra a Pedro de Sousa Con
quistador antigo soldado de muito valor e expenencia que havia occupado postos tnayores na
guerra deste senão, cavaleiro fidalgo da Casa de Sua Magestade, e como pessoa tão noticiosa
das cousas da guerra, e Conquista destes Reinos lhe encomendou a Guerra e Conquista da
Emsaca, chamada de Casangi mui próxima a Cidade onde tinha as suas terras, e povoaçoens
hum Sova poderoso do mesmo appellido com outros seus adjuntos mettidos em matos espesos
e boracos, o que occupava muitas legoas de terra e o nome de Emsaca se derivava a mesma
espesura donde sahião aquelles gentios a assaltar e roubar aos caminhos por onde vinha o
sustento para a Cidade, assim aos que vinhão dos arimos e fazendas de Bengo, como aos das
outras partes mais distantes que tudo lhe vinha a cahir nas maõs destes Ladroens de estrada
|oubando cautivando, e matando a tudo 0 que olhavão, tendo seu valhacouto na espesura e
fortalesa da sua Ensaca q por isso appellidava a Ensaca de Casangi como atè o dia de hoje
tem esse nome, e se tinhão tanto desaforado que atè a Lagoa dos Elefantes chamada assim
peilo antigo e agora as Quisamas da Maianga onde hião da cidade buscar agora (agua), vinhão
estes Ladroens tomar a gente preta escravos dos Moradores da cidade.
Encommendou o Governador esta guerra de tanta consideração ao valeroso Pedro de
Sousa Capitão m ord a gente de guerra, e Lugar Tenente do Governador sahindo da cidade
com todo o apresto de soldados conquistadores, cabos e capitaens de experiencia, com peças
de Artilharia de Campanha muitas muniçoens e todo o mais aparelho necessário, para aquella
empresa pou(co) mais de duas legoas andadas, começou 0 nosso Capitão com seu exercito a
Batalhar com aquelle numeroso, e esforçado gentio defendendo elles o seu partido e matos
Apêndice 459
com muito valor, e como pelejavão quasi cubeno» deli«, noa ferifo moita gente com tuas
agudas frechas e zagajas que dravao a nossa gente Portuguesa a mio tente, m u com is nossas
armas de fogo e mu* balas delias despedidas, e da anelharia de cirnpanhi Uvoravío «quelle*
matos, em que se fasia grande rastolhada daquell« Inimigos.
Prevenío 0 Governador por assim lho mandar advertir 0 Capitão môr da guerra mandasse
pessoas de porte com gente tomar 0$ passos do Rio Coam» onde bifio ademaod&r as (erras
destes Inimigos, assim por não terem Soccorros da Província da Quisama seus amigos e Afia
dos, como também por não terem por ali escapula, para 0 que mandou ao Capitão m&r Joio
da Veloria, com seu genro Anionio Bruto que ambos havifo occupado postos mayores tu
guerra do sertão, como se tem dito em esta historia, fossem tomar um sitio eminente sobre o
Rio Coamzã fretueiro a Quisama senhoriando dali aquella passagem com alguas soldados
para seniinellas e guarda daquelíe passo, e 0 mesmo maodou ao Capitão mor Roque de SSo
Miguel que 0 havia sido da fortalesa de Ango, fosse para outro sitio sobre o mesmo Rio Cotmza
também eminente a que chamão 0 Sambelo que dali fisesse opposição com alguma Infamaria
a gente daquella Província, não passasem em favor dos sovas da Ensaca, nem tão pouco dei
xasse passar os da Ensaca para a banda da Quisama, de então para cá ficarão estes dous sítios
no Rio Coamza com os nomes destes Cabos, hum de penedo do Bruto, e outro de Roque dos
quaes em outra parte se farà mais larga menção quando se falle em este caudaloso Rio Coamza
e suas monstrosidades que agora estamos com esta guerra da Easaca entre maos.
Havendose feita esta prevenção em as passagens do Rio Coamza, ^ foi conünurndo com
esta intrincada guerra havendo todos os dias batalhas e refregas com aquelles geados, que
com valor defendião suas terras e moradas e chegavão muitas veses a mamter se a offeoder a
nossa gente com suas armas, e a serem offendidos das nossas, cada palmo que biamos ganhando
custava aos Portugueses muito sangue, 0 Governador se oão descuidava como estava a Cidade
tão perto, com mandar contínuos soccorros assim de gente como de sustento porque naquelles
matos e barrocas não havia em que por olhos e sem embargo que lhe chegava a nossa gente
a algumas povoaçoens não se achava mais que 0 de que erão as suas casas compostas, que o
que era sustento, e alguma cousa que possuhiáo, 0 tinhão mettido no intimo dos seus matos e
funderoens com (?) que se não forão tão soccorridos a miudo da cidade pello Governador mal
se poderá ir com aquella tão dtfficultosa empresa por diante.
Em esta porfiada conquista obrarão os valerosos Portugueses muitas façoens de guerra
assinalando se em 0 discurso de alguns Meses que assistirão a Conquista deste espeso pais com
grandíssimo esforço, tendo muitas batalhas e rencontros com aquelles obstinados gentios ma
tando lhe e aprisionando a muitos pondo a fogo suas Libatas, Baasas, e mais povoaçoens até
que nao podendo mais suportar 0 rigor de nossas armas tratarão de largar 0 Campo pondo
se em fugida para a parte do Reino do Congo onde tinhão suas intelligencias, e reconheciSo
aquelle Reino como vassallos, o q visto pello nosso valeroso Capitão mor puchando por alguns
cento e trinta homens do seu arayal, toda moça e de bom pé com 0 Capitão mor de Cavallos
Luis Gomes Machado, com guerra preta escravos dos Portugueses, e alguma de Quiiambas, e
sovas vassallos partio em seu seguimento, matando e aprisionando muita gente dos fugidos
passando atraz delles os Rios Zemza-Dande e 0 hiena (?) até as terras do Marquês de Bumbt
Vassallo dei Rei de Congo do partido do Duque de Bamba, Capitão Geral do Reino de Congo:
Para este dito senhorio levava aquelle numeroso gentio a sua retirada, porque sabia havia
poder formado de muita fidalguia do Reino de Congo em seu amparo e favor, os quaes vierão
a Campo raso formar sua Batalha, e a ter 0 encontro aos Portugueses vindo a sua vangãrda
guarnecida com gente de adargas com Espadas e traçados nas maõs intricados das Armas de
fogo em que entravão alguns Portugueses que trasião em sua ajuda forcados.
O nosso Capitão môr e mais Cabos de Guerra com seu valor conhecido formou em esqua
drão a sua limitada gente pello terreno dar lugar e ser huma espaçosa Campina e vindo 0 ini
migo investindo com a sua costumada arrogancia muxi conga, cuberto tudo de suas adargas
hindo entraodo a nossa gente que como costuma aquella Nação virem curcuvados com as adargas
nas maõs, todas as cargas que a gente portuguesa tinhão dado, haviao passado as balas por
alto e havia sido 0 inimigo pouco offendido, 0 que vendo o experto Capitão môr passou palavra
a sua gente desparasse por baixo com 0 joelho no chão: Feito assim foi cahindo muitos dos
das adargas por terra, com que se lhe quebrou parte da furia cotn que vinhlo, os nossos Por-
460 Angola
tugueses que vinhão em seu favor tanto que chegarão perto se passarão para a nossa banda
virando as armas contra elles, e ajudando aos de sua Nação, pois vinham esforçados em com
panhia dos Mixicongos contra elles, como ainda o Autor desta historia olcancou alguns em
que entrava hum homem nobre por nome leronimo do Soveral que contava esta batalha com
particularidade muito por extenso, no principio da batalha foi ferido 0 mesmo Capitão mor 0
qual derramando sangue animava com valor e bisaria aos seus soldados deseodo lhe que pele
jassem que tinhão a Victoria certa, que em nenhuma occasiao o ferirão que não ficasse ven
cedor; os nossos Portugueses no mayor conflito da batalha appellidavão são tiago, e os Musi-
congos também 0 que vendo aquelles inimigos disserão se 0 vosso he branco o nosso e preto,
mas o nosso branco pode mais que depois de se gastarem horas na porfia da batallha sobre
quem havia de ser o vencedor, despois de haverem os Muxicongos e gentio fugitivo, terem
perdido muita gente em tão apertado conflicto, pode mais santiago branco, do que o preto
que aquelles inimigos tppelüdavão, declarando se a Victoria pella Nação Portuguesa; posto 0
inimigo em fugida hindo se fasendo nelles muita matança e aprisionando outros, ate o cauda
loso Rio Loge, passando os que escaparão de presos ou mortos da outra parte em que se afo
garão com a pressa da passagem muitos inimigos não se dando por seguros desta outra banda
assolando e abrazando os nossos Portugueses vencedores todas as Povoaçoens Batnzas e Lt-
batas daquelle Marques chamado Manibumbe, ficando esta batalha memorável para os vin
douros, por ser tão renhida com gente tão arrogante e feroz em que entrou muita fidalguia
daquelle Reino de Coçqo mandada por seu Rei a nossa opposição, e o que lhe deu mais lustre
ser apresentada pello nosso famoso e bem afortunado Capitão mor em Campanha rasa contra
tamanho poder sendo o nosso tão limitado que não chegava mais sua possibilidade como dito he
que a cento e trinta Portugueses, com mais dez que se metterão com os nossos vindo obrigados
do poder inimigo, por se acharem naquelle tempo em suas terras; a Deos se derão as dividas
graças como senhor dos Exércitos e das Batalhas estando propicio a favor dos Lusitanos que
trabalhavão por exaltar seu santo nome em tão remota parte desta andusta Ethiopia Occidental,
Foi cousa para notar que tomandose nesta occasiao alguns fidalgos Muxicongos, hum
delles que era mais presumido, pedio ao Capitão mor mandasse dar sepultura a tanta gente
fidalga que estava naquelle campo morta deu lhe permissão para que os buscasse pois os co
nhecia para os sepultarem hindo discorrendo em sua busca topava e dtsia mui lastimado, a
qui esta Dom João Andurinha pasmo da morte; a qui Dom Pedro Ponce de Leon? aqui Dom
Calisto Andurinha zelotes dos Reis Magos; e assim foi nomeando outros muitos com nomes e
sobrenomes campeiros a seu modo, que nestes apellidos são mui vaõs e vendo este fidalgo
Muxicongo todos os seus companheiros e conhecidos, disse com arrogancia Muxiconga q seja
possível que quatro rapases matassem aqui a melhor fidalguia de Congo? que parece que a
nossa gente tinhão pouca barba; ao que lhe respondeo o Capitão mor, ahi veras 0 que fiserao
os filhos, que se eu ca trouxera seus Pays que la deixei no meu Arrayal, não ficava em a corte
de teu Rei fidalgo com vida.
Havendo o Governador sahido com esta conquista da Ensaca, empresa ião gloriosa pello
valor e boa fortuna daquelle Capitão, mor, fasendo os mais cabos que estavão em guarda das
passagens do Rio Coamza sua obrigação matando e aprisionando muito daquelle gentio da
Ensaca que quebrou para aquella parte com intento de se passarem da outra banda da Pro
víncia da Quisama em que entrou hum Sova dos da Liga que chamavão Quitamba, conforme
a lembrança do Autor o qual pagou com a sua cabeça as ladroices que havia ajudado a faser,
sahindo com os mais daquella matesas da Ensaca, a dar em os caminhos como salteadores
e Ladroens de Estradas, cousa que hia pondo a cidade da Loanda em muito aperto, havendo
obrado tão bem em seu governo, se malquistou tanto com a gente principal da terra, tendo
com o Senado da Gamara da Cidade de Loanda onde o dito Governador assistia muitas des-
composiçoens, chegando a prender alguns q escaparão de suas maõs por ventura, sahindo se
todos fora da cidade por não chegar com elles a algum estremo, como chegou com o Ouvidor
Geral que então era Andre de Moraes Sarmento, tendo o preso, e chegado com elle a pô lo ao
pé da força com alva vestida, e por lhe acudir o Prelado Dom Frei Simão Mascarenhas que lhe
foi a mão, não teve efteito o que pretendia que livrando desta occasiao e potência tão apertada
experimentou em Portugal outro semelhante sucesso, sendo corregedor, quando foi a Evora
Cidade com comissão das fintas, mandado pella Coroa de Castella q se alterou aquella Cidade
Apêndice 461
contra elle, e sahido delia com vida com barba rapada «n trajos de Frade por Ibe njkrtm 0$
Excellentissimos Senhores Marquês de Ferreira e Conde do Vimioso, qae repararão cm parte
aquelle accidente, quando foi do Manoelinho não podendo faser mais e a vos de Evon regtrio
0 mais de Alentejo e atè a Corte de Villa viciosa (sic) chegou a roa de Manoelinho e noave
hum successo funesto na casa de hum Letrado que tinha os Papeis das ânus, em bom abrir e
fechar de mão 0 povo atumultuado, achando se nesta occasíáo doente de cama 0 sereníssimo
Senhor Duque de Bragança nosso Rei que santa gloria haja, a que acudio ao soergo daqoelU
populosa Villa 0 senhor Dom Theodosio Duque de Barceílos nosso Prmcepe de aaudoza me
moria, sendo de pouca idade se por a cavallo com muitos fidalgos e criados daquella Rea|
Casa, dando assim mostra a Villa onde era tão amado, com que tudo socegou, e com &s muitas
varas de Justiça q mandou alevantar, para prenderem e castigarem os que andassem com de-
5
sasocego, e não foi esta prevenção com tanta presteza que mais n o tivesse 0 povo anwtraado
queimando a casa do Letrado etoda a sua Livraria, de Bartolos e BaJdos, com fogeira publica
no meyo da rua, e elle fugido com Molher e filhos pellos telhados com outras particularidade»
que não relata 0 Autor desta historia como testemonha de vista, e 0 haver já relatado Dom
Francisco Manoel sogeito digno de luvor com toda a verdade em 0 Livro da sua Epartha {1)
traze por se não divertir tanto do assunto de sua historia so 0 que direi, que esumdo conTale*
cente 0 sereníssimo senhor, se fez prestes e foi em pessoa a Evora a aplacar aquel/a sedição,
0 que fez como Condestavel do Reino, e pello respeito que todo Portugal lhe tinha, e devia,
não dando ouvidos as boas vontades que lhe mostravão, que não era #ida 0 tempo chegado*
Chegou 0 Governador a grande extremo com os Padres da Companhia de Jesus chegando
lhe a sua Portaria perdendo lhe 0 respeito devido, com modo de os querer preoder ou preodeo,
fasemdo Jbe abrir a dita Portaria por força, tendo chegado a este extremo com estes servos de
Deos de exemplar vida e doutrina offendído 0 Ouvidor geral justiça major destes Reinos como
dito he, chegando com elle a tão ásperos e descompostos termos molestado o Senado da Ca
mará, sendo todas pessoas de authoridade e serviços, fasendo os despejar a Cidade, e temendo
se de alguma resolução, largou 0 Governo, e se embarcou em huma Nao por via de índias de
Castella, 0 que também tinha já hido pella mesma via o Ouvidor Geral o qual achando o la
diante portando 0 Governador em 0 porto da Cidade de Cartagena, onde o Ouvidor estava,
conhecendo 0 apellidou prendao me com este homem, que largou o Governo de Angola o que
logo foi feito a ambos, como assim contarão armadores de Índias que vierao a este Reino de
Angola ao resgate das peças.
Contão os vaticínios impressos despois da feliz acclamação do invicto Rey de Portugal 0
sereníssimo senhor Dom João 0 Quarto, que aclamando se em Espanha el Rey Dom Felippe 0
Prudente por Rey de Portugal, buscarão a hum fidalgo Português que levasse o Guião, para ser
mais honorifica acclamando 0 por pessoa Portuguesa, e dis a mesma impressão que pode o Cu
rioso ver, que chamavão aquelle Cavalleiro Português João Corrêa de Sousa, e 0 fasem ser 0
Governador de que falíamos, 0 qual hindo a cavallo com 0 Guião Real das Armas de Castella
e no meyo 0 Escudo das Portuguesas, e hindo com esta função e aclamação dera hum pé de
vento ou redemoioho e sacudira 0 Escudo das Portuguesas, dividindo as das Castelhanas e que
fora tanta a confusão, que 0 mesmo acclamador alvorotado 0 cavallo em que hia montado
cahira delle abaixo, vindo com 0 Estandarte e mais Armas que ficarão ao Chio, mostrando
Nosso Senhor com este prodígio que havia de ser separado 0 Reino de Portugal da Monarquia
de Castella, e se havia de cumprir 0 promettido por Deos em o Campo de Ourique ao nosso
primeiro Rey Dom Affbnço Henriques como 0 relatão tantos Escritores que 6obre os princípios
do Reino de Portugal tem escrito, e outros agora mais abreviado 0 eQsigne autor Manoel de
Faria e Sousa em 0 seu Epitome que escreveo estando em a Corte de Madrid, sendo ainda as
Coroas unidas; desculpe me 0 Leitor em faser esta reflecçao fora do assumto da minha historia
Angolana, que não he de ser tudo Eallar em Negros Idolatras também havemos de metter hum
pouco de branco que diz bem misturado com 0 preto, e este foi 0 fim do Governo de João
Correia de Sousa que principiando 0 tao bem 0 acabou tão mal.
(O liteira Cadornega, HisJorta das Guerras Angolana». Extraído áo
Ms. existente na Biblioteca da Academia das Cièocia* de Lisboa).
(1 ) Era outro exemplar tnaouacnto, existente na Biblioteca da Academia e que tem o n.* 77, esti «epaaba fora*.
462 Angola
DOCUMENTO N.® 41
R E L A Ç A Ô D O S R E N D IM E N T O S C E R T O S E IN C E R T O S
Q U E N O C O L L E G IO D E S T A C ID A D E D E L O A N D A
D O R EY N O D E ANGOLLA
T 1 N H A Õ O S P A D R E S D A C O M P A N H IA D E IE Z U S
COM DISTINSAO DOS BENS DE SUA. DOTASAÒ E FUNDAÇAÓ, E DOS QUE AO DEPOIS SE LHE
FORAÔ AGREGANDO ^ E FINAL MENTE DOS BENS QUE SAO PENCIONADOS, NUMERO DE ES
CRAVOS QUE PESUHIAÓ, E QUANTIDADE DA PRATA DA IGREJA, O QUE TUDO SE DEDUZ NA
FORMA SEGUINTE
R E N D IM E N T O S CERTOS
R E N D IM E N T O S I N C E R T O S
Consta de alguns papeis antigos que se acharaõ no Collegio dos mesmos Padres haver
Collegio no Reyno do Congo, antes que o ouvece neste de Angolla em tempo que nelle naõ
havia inda Povoaçaõ de Portuguezes; sim havia do Rey Angolla Inene, e seu Povo, e naquelle
do Congo heraõ pesuidores os ditos Padres de bens cuja quantidade e tempo se naõ acha me
mória, porem consta que depois de fundado o Collegio nesta Cidade de Loanda, viera do
mesmo Congo prata com que se fizeraõ alampedas, mas naõ consta do pezo oü quantidade, e
naõ se acha memória de que viecem mais bens, daquele Collegio para este.
Nesta Loanda sendo ainda villa consta havia caza, oü colégio de Padres da Companhia
edificada no Morro de Saõ Paulo que se asentou naõ hera conveniente por varias razoens, e
porisso com cordaraõ em i 5 de lunho de i 5g 3 , que se fundace este collegio que agora existe,
cu*)a comcordata foi rezolvida pellos Padres Iozé Pereira, Diogo da Costa, Antonio Paes, Hje-
ronimo Lopes, Pedro Barreira, e Pedro Roiz, que com effeito se effectuou a dita fundaçaõ,
Naõ consta que o dito Collegio tivece bens memoráveis de sua dotaçaõ e fundaçaõ, e som/*
Apêndice 4«
0$ chttom em que se fabricou que lhe foraÕ dadot pello Govenudor que f ;í deatz Ríyao o
primeiro que a elle veyo com este posto Paulo Dias <fe Nanei; com outi*. s rr.*.-i chaen« par«
poderem fabricar, de que tomaraõ poce cm 1% de Abril de 1J93, por manda i, d.» G w rn *j<?r
Dom Hjerooimo de Almeyda, perante 0 Ouvidor loaõ de Vctorio, e para ío* Re-
ligiozos naqueles principio* se lhe dava da Fazenda Real ordinarii que naó r «m »>cerro,
porem hera mais diminuta do que esta que finalm.** tiohaõ, como tamb-,-m íhe lirw *cr ciJ *t
3
para sua sustentação alguns sovas que heraõ Pretos apotenudo», e estes Í .e contribubud c
mantimentos para sustento dos escravos que já pesuhiaõ:
E sendo 0 dito Collegio já fundado na forma que expresado fica por reroluuõ tomada
a
no aono de 1593, e final mente afectuada, e acabada obra do dito collegio que consta ser
no anno de 1639, em dia de Saõ Francisco Xavier sem constar de ben$ alguns de sua dousaS
como dito fica, consta que no aono de 1621, por hum documento muito iaprecctiveJ Qk fes
Gaspar AU morador que hera deste Reyno em d de lunho do dito anno doaçaõ de catone mo
radas de emas, declarando ao dito documento que 0 rendimento hera para susienusaõ dos
Padres, e do dito documento se naõ percebe que lhe fizece esta data compensaõ oü obngaçaõ
algua, nem também consta quaes no prezeote tempo sejaõ as ditas catone moradas de ca/aa,
porem he certo serem das qne exzistem de prezente,
Recolhendoceno mesmo, Collegio 0 dito Gaspar AU por IrmaÕ leygo,e sendo nelle aceyto
3
em t , de Fevereiro do anno de 162?, fez seu Testamento em a3 do dito mez, e anno, que tem
5
as aprovaçoens oQ cumpraces nelle postos de a », 27*, c 28 de Outubro do dito anno, cuja
copia e theor de verbo ad verbum he a seguinte. *
Em nome de Deos amen, Saybaõ quantos esta minha carta de Testamento, e ultima von
63
tade virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Iezus Christo de i a „ annos aos
3
a de Fevereiro deste prezente anno, estando eu muito bem disposto, e em meu verdadeiro
Iuizo, e entendimento, de caminho para fora deste Reyno por descargo de mu* conciencta fiz
este em que declaro que sou Filho de Gaspar Alz e de Izabel Fri de Jegitimo matrimonio, mo
radores que foraõ na cidade de Lix.* na Freguezia de Saõ lozé = Declaro que como eú naõ
tenho nenhum erdeiro forsado, que estou metido de dés dias nesta Companhia de Iezus donde
sou Noviço, e aos Reverendos Padres pertence o enterrarem meu corpo e emeomendanne
minha Alma como estaõ obrigados por eu ser tres vezes fundador, a primeifa dos estudos desu
cidade de Loanda, para a qual fundaçaõ lhe tenho mandado dar em Portugal dés mil cru7ados,
e aqui lhe dey dous corraez hum de ovelhas, outro de vacas, e para fundaçaõ de hum collegio
do Congo lhe tenho prometido vinte mil cruzados de pessas de índias, e asim mais outra fua-
dasaõ que se ha de fa2er nesta Loanda de hum seminário, que se fará defrome da Mizericordia
na cerca dos Padres, onde teraõ por obrigaçaõ sempre doze Mossos para sima, e os ditos Pa
dres seraõ obrigados a lhe fazer 0 seminário de pedra e cal, e os teraõ a sua conta dando lbe$
0 necessário para vestir, e Comer, e todo 0 mais sustento, e ensino; Estes seraõ filhos de ho
mens pobres destes Reyoos, e isto será para sempre, e para isto ter effeito lhe dou mais vinte
mil cruzados, a saber dez em panaria do Congo, e outros dez em pessas de Índias.» Eü tenho
escripto a Sua Magestade sobre 0 seminário, e lhe pedy me vendece quinhentos cruzados de
juro no contrato e sahida dos escravos que vaõ deste Reyno para a Bahia e Pernn.eo para o
provimento deste seminário em direitos, se 0 dito senhor fizer esta esmolla pagarcehaõ com
os dés mil cruzados empanaria, e quando naõ tenha effeito, comprarcehaõ algumas cazas para
renderem. = Os chaons que tenho ao longo da Mizericordia peço ao R.*®P.#Reytor, e aos
mais Padres por amor de Deos que façaõ duas moradas de cazas para renderem para 0 Hos
pital desta Loanda. = A Paschoal Antunes dará vme#logo por minha conta sesenta ovelhas, e
fazendo Deos de mim alguma couza lhe deixo dous mil cruzados de minha fazenda, e hum es
cravo maco lunto por nome Antonio, e Lucrecia com outo pessoas mais dos que tem comsigo.
« Deixo mais aos filhos de IoaÕ Ali, e filhos, que é vezinho em Abraotes õooípooo rs = Deixo
mais a Mizericordia de Lix.9600^000 rs que aqui se lhe darao em créditos = Item declaro que
eu sou Procurador da Santa Casa da Mizericordia de Lix.‘, e que de tudo o que lhe deviaõ
464
Angola
nesta Loanda, e cm Congo naÕ cobrey mais que de Custodio Antun.* 36 o#ooo rs de pessas, oú
o que no seu livro se achar, e hunS panos dos da Praça, a demazia dcvea o dito ou seus her
deiros, ç lhe mondey tudo com íoao de Miranda cm companhia de Francisco da Costa o bor-
quciro, «= Declaro que cobrei mais aooitooo rs que me mandou o Capp.#®Henrique Dias da
Estrada, os quaes mandei a Santa Caza por Duarte Lopes Lix.* por via de Cartagena, 0 que
tudo constará pelias escripturas que estaõ nas notas, ao tempo que foraõ feitas se verá do
livro que está em hua gaveta do escriptorio grande que hé de huma maõ de papel 5 também se
verá deste livro o muito dinheiro que tenho mandado por via do Brasil Ryo da prata para se
cobrar, e mandar cobrar, e muitos asignados, contratos, contas de livro por donde se me
deve muita fazenda,» D eclaro que Francisco Charamela 0 emprestey ao Governador, que o
cobrem delle que vai mil cruzados, e 0 cobrem como cousa própria que he para pagar aos
Padres do que lhe eü devo = Declaro mais que se qualquer das fazendas que eu deixo nomeadas
por algum respeito naõ tenhaõ effeito o Padre Reytor deste Collegio com os mais Padres po
derão mudar a fundaçaõ do collegio do Congo para outro Reyno, ou o seminário, e em cazo
que nem huma couza nem outra tenha effeito os quarenta mil cruzados se gastaraÕ todos em
cazar orfans por maons dos Padres da Companhia deste Reyno. = Deixo a Confraria de Nossa
Senhora da Conceyçaõ ioo$ooo rs para hum retabolo dourado, estes se darao em L is b o a »
Deixo a Santo Antonio coatro pessas de índias para que os Mordomos mandem vir de Lix.a
hum retabolo m.to fermozo dourado, Declaro que eü mandei dar a Manoel da Sylva 8o#ooo rs
em Lixboa para hum^ptabolo das Almas, sethelá naõ derem 0 dinheiro por algum respeito se
dem coatro pessas de Índias a Luís Giz Bravo, que elle como devoto o mandará fazer. = De
claro que eu tenho feito huma capella e posto nella as tres moradas de cazas, a saber as do
Feytor de sobrado, e as duas terreiras que se seguem dç huma Missa cotodianna que os Padres
de SaÕ José estaõ obrigados a me dizer por i 3 o#ooo rs Paschoal Antunes por administrador
delia e seus filhos; as cazas rendem mais de 200&000 rs, sem embargo dessa escriptura que
fizemos dizer cento e trinta, eü lhe dou cento e sincoenta e asim quero que lhe dém a cento e
sincoenta mil reiz, emq.*° os alugueres derem para isso, e quando vaõ afraiando os alugueis
entaõ lhe darao os cento e trinta mil reiz, e a demazia será para 0 administrador as hir repa
rando, e 0 que restar será para elte, e naõ querendo Paschoal Antunes aceytar. Peço ao Reve
rendo Padre Reytor e mais Padres tomem a administraçaõ desta capela a sua conta pelio amor
de Deos. = Declaro que eü promety aos Padres de Saõ Jozé coatro mil cruzados de panos da
Praça para fazerem a sua Igreja que eü lhe tenho dados segundo minha lembrança trezentos,
ou coatro centos mil reiz, peço ao Reverendo Padre Reytor, e a Paschoal Antun.*’ logo lhe
paguem dos alugueis das cazas que por minha conta haõ de correr athé Julho de 624» annos
» D e cla ro que levandome Deos para s^ se darao a mulheres pobres e alguns homens dous mil
cruzados.»D eclaro que huma Mossa Irmã de Joaõ Bauptista que aqui faleceo a qual conhece
Paschoal Antunes, cunhada de Antonio de Barros, diz que se quer recolher em hum Mosteiro
lhe darao mil cruzados para se recolher, os quaes se naõ darao, senaÕ depois de recolhida, e
isto dara Francisco de Payva ao Padre Procurador de Santo Antaõ para que elle da sua maõ
os de depois delia recolhida a Abadeça, e este dinheiro se dará por ordem e carta do Reve
rendo Padre Reytor, *= Declaro mais que toda a fazenda que se achar depois de se cumprir
este Testamento se cazarão orfans, e se dará a pobres, as coatro partes do que remanescer
quero que se cazem orfans = Declaro mais que hum Frade capucho por nome Fr. Antonio de
Santo Estevão me veyo pedir huma esmolia para fundar hum Hospital, se vier com Provizaõ
de EI Rey ou Letra de sua santidade para com censuras se cobrar que lhe darao escriptos que
cobre dos herdeiros de Barros, e de outras Peçoas de congo, e de Sylvestre Soares, sem fazer
nem huma quebra, mas este dinheiro he de hir todo por ordem do Padre Reytor, a entregar
ao Padre Procurador de Santo Antaõ para que de sua maõ se gaste em hum Hospital que os
capuchos querem fazer em Alcantara, e para este effeito lhe darao vinte mil cruzados, com
condísaõ que eu hei de ser o fundador por amor dos sufrágios, e nao tendo isto effeito como
digo os Padres dispenderaõ este dinheiro com cãzarem orfans, e com pobres, saberaÕ se há
alguns Parentes meus em Portugal a quem acudiraõ com cem mil reis cada hum. Das orfans
que mando que se cazem de minha fazenda entraraõ as filhas de Gaspar Garneyro a duzentos
m il reiz de panos cada huma, por que em meus tratos e pagamentos que nesta vida hey feito
m e sinto pejado; Peço aos Padres da companhia a quem deixo por meus herdeiros, e Testa-
Apêndice 405
menteiros a portes fechadas, os quaes bey por apossados, t metidos de poce àt fcoje ptrâ
sempre me descarreguem a conciencía, tomando as bulas de compcmstò que Ibe parecer, 1
mandando dizer em Portugal duas mi! Missas peita Almas daqoeüs Peçoas a quem «G «atoo
em algua restewísaõ do dia que compecey a ter negocio atbé boje, porque saÕ moitas, t eff
naõ sey se saõ vivas ofl mortas, isto no melhor modo que poder ser; £ porque efl naõ posso
fazer este Testamento em publica forma oera o posso aprovar por embarasarme escondido,
por hum aleive falço, e falço testemunho que 0 Governador Joaõ Corrêa me alevaotou peço
£1
as fustiças de Rey Nosso Senhor asim seculares como Ecleziastfcos 0 mandem cumprir e
goardar, asim como nelle se comem, por quanto esta hé a minha vitima vontade, e asim quero
que valha alguma declaraçaõ que abaixo mais fizer.« Declaro que do dinheiro qae vier do Ryo
da prata deixo ao Padre Duarte Vax duzentas patacas para suas Irmans que o Padre Reytor
lhe mandará, e em caso que na6 venha dinheiro de qualquer outro se lhe mandará*» A huma
Mossa Catherína mulata que está em caza de Paschoal Antunes deixo forra que a cazem, â
qual deixo huma raoleca que com ella está, e asim mais humas cazas de pedra que fiz na nossa
senzala, e asím lhe daraõ duzentos mil reiz de panos e huma escrava que a criou por noÔe
Maria Ambuela com seus Filhos; Com isto hey este Testamento por aprovado, e de toda q u
fazenda tenho, hey logo por apossados os Padres da Companhia de Jezus desta cidade de
Loanda, asim do que neste Reyno tenho, como do que tenho em Portugal, índias, fírazil; e
por asim passar na verdade asigney com os Padres que aceitaraõ, e como taes asígnaraõ, como
testemunhas» Gaspar A!z = Geronímo vogado* Manoel Bemardes ^ Matheus Cardozo*
Antonío do Amaral »Simao de Aguiar «Duarte Vaz«Cumprace este Testamento como
nelle se contem Loanda 27 de outubro de 623« Manoel D ias* Joaõ Luís Ramos Tabaliao do
publico Judicial e notas escrivão dos oríaons nesta cidade de saõ Paulo de Loanda Reyno de
Angolla e &.* certefico que a letra e signa] do testamento atraz há de Gaspar Alf morador
que foi desta cidade nelle contheudo, e por verdade passey esta em Loanda 27 de outubro de
623« annos, em publico e razo » Pagou desta 0 contheudo =* Joaõ Luis Ramos ** Cumprace 0
63
que toca ao pio. Loanda 28 de outubro de a »= D. Fr: S. Bispo Governador —
E porque também sou informado que por falecimento de Gaspar Alz que morreo nesse
Reyno recolhido na Companhia de Jezus Noviço ficaraõ perto de coatro centos mil cruzados
de que aqueles Religiosos se apoderarao, e que 0 Testamento que fez naõ foi aprovado, nem
feito em publica forma por serem Testemunhas nelle os mesmos Religiozos da companhia, e o
Reytor do collegio,e que tendo os oíficiaes dos defuntos em seu poder gram copia de fazendas
do dito Gaspar Alz por (1) falta de palavras por estar ruido e naõ ser 0 Testamento valioso os
ditos Religiozos os compor por esta falta dando lhe tres mil cruzados a cada huma Peçoa que
requeria pellos auzentes, esquecendoce os ditos affé (2) do que deviaÕ a meu servisso, e a obrigação
de seus officios lhes largarao toda a fazenda, pello dito interece, e querendo eü acudir a$ queixas
de meus vassalos com intento de que a todos se faça Justiça como tenho deobrigaçaõ, e evitar
3
clamores dos herdeiros ( ) vos mando que logo que recebereis (4) esta ordeneis ao dito Lecenciado*2 4
3
(r) Na provisão original, cnja 1 .• via se encontra no cód, 5i -vid*3o da Biblioteca da Afoda, foi*. íi/S, en» vez do qoe
se vai ler até Péfca, está: »haverem que morrera abintestado, e nao ser 0 testam.1»valioso, os dilot Religiosos eorrooi-
pendo os ditos ojiciâes, cõ peitas, e dandolke ires mil cruzados, mil cru{A* a cada Ftssoa, e outros mil a pessoas.
(2) off.«*
(3) do dito deffucto.
(4) receberdes.
59
406 Angola
Diogo Nabo Pessanha que na forma da Provizaõ que se lhe remete que em tudo hey por bem
que se cumpra e goardc obrigue aos ditos ReUgiozos que façaõ Inventario de toda a fazenda
que ficou por falecimento do dito defunto, para se depozitar em maõ de Peçoa segura e abo
nada, e se dar a quem dtreitam,1* pertencer, e sendo cazo que os ditos Roltgiozos perturbem o
fazer Justiça com algumas sensuras,a tal Pessoa, oG Peçoas, posto que E deziasttcas sejao que
o intentarem e naÕ obedecerem a meus mandados, os embarcareis logo para este Reyno, e
mandareis hir por diante com as ditas deligencias na forma da dita Provizaõ, e também pro
curareis ínteirarvos dos respeitos que moverão ao Juiz ordinário, e ouvidor geral dessa cidade a
porem o cumprace no Testam ento de Gaspar Alz sem ser aprovado na forma de minhas Leys,
e do que achareis (i) me avizareis clara e partícularm.18 para mandar proceder (2) como mais
necessário (3 ) for, e espero procedais em todo o referido de maneira que tenha efi muito que vos
agradecer. E l Rey Nosso Senhor o mandou pelioç DD. Francisco Pereira Pinto, e Sebastião de
Carvalho deputados do Despacho da Meza da conciencia e ordens, Antonio de Aguiar a fez em
Lix.* (4) de outubro de 16 24 = Manoel ( 5) Roiz Tinoco a fez escrever = Francisco Pereira
Pinto = Sebastiaõ de Carvalho » E naõ continha mais a dita Provizaõ = Com o hera falecido
D iogo Nabo Passanha, nomeou o Governador para executor desta Provizaõ na forma que ella
diz a Martinho Corrêa que servia de Juiz ordinário.
NaÕ consta que a esta Provizaõ se déce cumprimento e execução, cujos motivos se nao
alcançaÕ, nem delles bf memórias, porem os ditos Padres da Companhia exzístiraõ na poce de
todos os bens que hé a mayor parte dos que de prezente pesuhia o dito collegio, e asim de
Arimos com o de escravatura, cazas e mais benS, sendo os Arimos dos principaes como hé o
grande do Bengo, e fazenda do D ande.
Do referido Testamento e benf que pesuhia o testador naõ consta se fizece Inventario,
nem também se se cumprio o que nelle se contem, e sómente o que de prezente se certifica hé
o naõ estar cumprido o legado das duas moradas de cazas que mandava fazer para renderem
para o Hospital desta Loanda, que para 0 seu cumprimento corre letigio a dilatados annos, 0
Prov,0r e mais Irmaons da Meza da Santa Caza da Mizericordia aonde se acha 0 mesmo Hos
pital contra os d.0' Padres em que tem havido tres sentenças conformes, nesta cidade, e na
corte de Lix.1 no Juizo das appelaçoens e aggravos da corte e caza da suplicasaõ; e finalmente
nesta cidade de Loanda estaõ os Autos para se julgarem afinai mandandoce por todas as ditas
sentenças cumprir o dito legado, em que os Padres na sua ultima reposta tinhaõ convindo
sem mais duvida em satisfazer em dinheiro o valor das ditas duas moradas de cazas: Também
athé o prezente naõ está cumprido o que o testador detremina na fatura do seminário para
Éstudantes, porque o naõ há nesta cidade, pello que a respeito do mais naõ consta de couza
, algua a que se dése cumprimento.
Alem desta Testamentaria tem os ditos Padres tido outras, porem naõ de taõ gr.de quantia
com o a de Gaspar A iz, e menos em que os deixacem por herdeiro, porem dos bens de raiz que
ouvecem hé verosimel e inferência que pella sua administraçaõ ficarao com alguns dos que
pessuhiao, de que também nao há memória ou Lemrança algua.
Naõ consta que os ditos Padres compracem bens alguns de raiz, nem escravos, e somente
a poucos annos compraraÕ humas Terras citas na parage que tem o titulo de samba suburbios
desta cidade por preço de sesenta mil reiz ao capitao Francisco de Lemos Simiao que se
achaõ Lansadas no Auto de discripçaõ dos bens Inventariados f. 35 , e consta também por Pe
çoas exzistintes que compravaõ por varias vezes gado vacum, pello que os bens que pesuhiaõ
saõ por datas de Peçoas particulares, dos Governadores deste Reyno, e por heranças.12
5
4
3
(1) achardes,
(2) prover.
3
( ) meu serviço.
(4) a X V í.
5
( ) Marcos.
Apêndice 467
De todos o s benS que petuhiaS os dito* Padres sdm.* s%5 Eifnrinw dM dna* jMopiedsdes
de cazas, a saber k u s que se acba lansada u d t ta ifU Ü dos beaS C 33 m V u d â em j c o ^ m f*
que tem a pensaõde ) 3$ooo rs por b ab o para a capella de N osM t ^ t a n ^ d o so co rro e m e^i \
dito collegio, e esta propiedade a cooiprara6 os Padres a tu in td a e a reedificarm& pata
porem a dita pensaõ, a qual procede de Juros a tres por cento da quam ia de bo m con to e
cem mil reÍ2 que o Padre Reytor que foi do dito collegio Dkrgo M estra por seu Ulccio&er.io
deixou para render para a dita capella, para cujo fim o s P adres tam arafi o dito dintaiim a
Juros na forma dita estabalecendo a dita capella n a d ita propiedade, a qaaLdn m u práteipso ca
entende foi comprada com os reditos dos ditos Juros, e destes eonsta e stu e m devendo a m esm a
capella duzentos mil reiz que o s na3 tem satisfeito t
TJliimamente também bé pencionada a propiedade de c a ta s de sobrado lansad&a n a dis-
crtpsaÕ f. 34 citas defronte da sé desta cidade, avaliadas em 4^o5>ooo rs que a. pca cio u o u seu
propto pesuidor o restaurador deste Reyno S alvad or C o rrê a de sá e BeoavldespKSya* tessdt-
mentos se dividem em tres partes, hua para azeite da alam pada d o can cú sú m o saciam .1* do
mesmo collegio, outra para pobres, e a terceira para c o o ce rto s das m esm as coxas que estas te
achao com m uita dam oificaçaó e aramadas, e por este respeito b i ann os o a ó tem b a tid o a
e llas alugador por nececitarem de grande co m certo i T o d o s o s m u s bens b é con stan te serem
livres e sem pensaõ algum a, com declaraçaõ que a p ra ta , orn am en tos, e m a is exp ectas que n a
d iscríp çao dos bens v aõ declarados debaixo de titulo de cap ellas, esses perten cem a s su as Ir
m andades e con frarias seculares. +
549 1 3 De prata e sinco ouiavas vinte e coatro giaons de ouro em vaúas pessas
que constao da disctipsao i. * e v.®pertencentes a dita \gte\a do co\-
tegio.................................................................................................
*
I 468 ■ A n g o la
/
Mmreo* euur«i
íOt S i D e prata p erten cen te a capella de Nossa senhora da Asumpçaô que admi
nistra o cap.“ A ntonio JoaÕ de Menezes, e consta da discrípáeõ f. 5 ..
4a — — D e p r a ta p e r te n c e a c a p e la e Ir m a n d a d e d e N o s s a s e n h o r a d o S o c o r r o e
c o n s t a Ô d a d i s c r i p s a õ f. 6 e v .# ...................................... .............................................
l°6 3 - D e p r a ta p e r te n c e m a c a p e lla e Ir m a n d a d e d a s s a n ta s o n z e m il v ir g e n s e
c o n s t a ô d a d i s c r i p s a õ f. 6 e v , ° .......... ......................................................................
3í ~ 2 D e p r a ta c o n s ta ô d a d is c r ip s a õ í. 7 v .° e s t a r e m e n tre g u e s a o o u r iv e s M a
n o e l R o i z d o V a l e p a r a f a z e r h u m a c r u z p a r a a d i t a I r m a n d a d e ..........
7 2:7 2-9 xt>6 i i rs Importaõ todos os bens lansados na dita discripsaõ, como no fim e fecho delia
consta.
nZ 7 i"’ í n*"*£*;;<*./
j
u * -jã^ -o »z z,::i
-• ^
P > ^ 11 ^ r- ^ £ ’ ' V* O. '1
6
I
'Z I
■t
o
h-
tu
s
D
U
%
í
o
o
I;i>.
t
4
’!
i ''
; § r \ p :í
ri w4 ’«? ^*f*&S§c -*'$”
>v £ ;* y
\ ■ ,- g õ V
.. « *<§ 5,2'ff i-," - ir'’
Jj r * $
U»2Í O
s
« m
Apêndice
Declaracc -qtie hé constante que este colégio hé devedor de algumas quantias de dinheiro
que cobrou o seu Padre Procurador pertencente a pcçoas do Brazíl e Portugal que ainda nao
cstaÕ satisfeitas menos athé o prezcnte se tem pedido, e por isso nao estão averiguadas.
£ pella referida forma foi principiada, fundada, regida e administrada a dita caxa Reli-
*
gioza dos Padres da companhia de Jezus desta cidade com todos os bens que pessuhia que
pella forma deduzida foraõ adequiridos, e esta prezente Relaçao foi por detreminaçao e man
dato do III."® e Ex.®° Governador e capiiao general deste Reyno Antonio de Vaxonceüos
mandada a mim escrivaõ da Real Fazenda a fizece: Saô Paulo da Asampçaõ Reyno de An*
golla 2p de Julho de r?6ot
O EscrivaS da Real Fazenda
t
DOCUMENTO R® 44
INFORMAÇÃO
Souas he entre os negros, como entre nos sn” de terras // Moríndas uai 0 mesmo q Mor
gados // Macottas samos grandes a q* compete as elleiçoes dos senhorios, e sem cujo pareçer
e cons° nlo podem dfll senhorios e souas obrar cousa alguã. Isto posto Hera snnw da Morinda
<le Gonza moyza, antes q 0 olandes tomase este Rn® Quiluange de Quisouhca (tie) q de sua
principal molher houue dous filhos; a saber D. Sebastiam Gonzamoyza 0 mais uelho,e D. Ioão
Moquilla 0 mais nouo.
Por morte do d®Quiluangi de Quissuca, ellegeram os Macottas por sr da d* Moriada ao
filho mais uelho D. Sebastiam Gongamoyza, q a gouemou largos annos: socedeo ocupar o
olandes este Rn® e denunciar do d®D. Sebastiam, seu jrmão D. Ioam Moquilla q com dez®* de
ser sr da terra, lhe imputou q era treidor a nossas armas, e q de secreto se comunicaua com 0
olandes, ou com a Raynha Ginga, q em odio qosso estaua aliada com 0 d®olandes.
Gouernando antam este Rn®, e nossas armas, q estauao recolhidas em Maçaog“ tres dos
principais moradores, dos quais hum patrociaaua 0 denunciante, por cuja causa sem mais pro*
cesso, nem acto algu jurídico mandarão degolar a D. Sebastião, e deram de poder absolnto o
senhorio, e Morinda ao denunciante seu Irmão D. Ioane Moquilla.
Leuaram mal os Macottas a morte de hum, e intrancia no gouerno do outro, assi p. q. p*
■ esta lhe tirauão a elíes a liberd® de nomearem sor q. sempre neste Rn° acompanhou a seus
cargos: como p. q. sabiam q. a outra fora injusta, e arguida somente a culpa, p!* malignid*
de D. Ioane fundada na ambissam de gouernar.
Tres mezes, nam mais gouernou D. Ioane Moquilla esta Morinda; e como nelies não coa-
tríbuise com as ofertas q. fizera a seus Patronos, q. 0 intruduziram no gouerno, deram traças,
com q. o obrigassem a ir a guerra, q. antam fizeram nossas armas contra a Ginga, na qual foi
«He aprizionado.
Sabido p,0‘ Macottas q. neila ficaram, seu catiueíro quizeram a seu uzo eleger s*: impidira
lho os mesmos fautores de D. Ioane Moquilla, prezumindo q. metendo a hum sf seu por nome
quitari no gouerno lhes contribuiria com a promessa do pay.
Leuaram mal sua intrução no gouerno os Macottas, por uer se lhes tiraua seu preuilegio,
em" peorq. elles 0 leuaram tres tios seus bastardos, meyos innaos de seu pay Moquilla, cha
mados Canhongom Cabanga saquiluangi, e vungi, e de tal modo alteraram a terra, q. foram
.mandados uir todos a esta cid* p10 g1 Saluador Corrêa, que ja fieste tempo gouemaua o Rn®.
Vindo m ataram no cam inho a Q uiiari, c receosos do castigo uoltaram p° a Morinda, da
qual se apossou forsosam ente V u n g i: sabido o caso foram p, ordem do d« gn» presos, e dego
lados antes de cu ja execução descubrinun de publico, o testemunho q. com elles leuantara
D, Ioane M oquilia, a D, Sebastiam seu jrmSo, com o sua m orte fora innocente. e como el*e
nunca fora traydor.
T en d o certeza desta confissam o d* gnl cumdo estaua a Morinda sem sr por que D. Ioane
M oquilia podendose uir da Ginga q. lhe deu liberd* o nam quis fazer, conhecendo ser descu-
b e n a sua aleiuozia, (pu qual se receou uer castigado) mandou aos Macottas, elegessem senhor
a seu u zo, e ellegeram a D. Sebastiam Quiluangi, filho do degolado D. Sebastiam, e foi confir
mado no gouerno pl° mesmo Gnal, e gouernou pacificamente atee o fim do gouerno do Gou0'
Ioam F r 1 V ieira.
Soube D. Ioam M oquilia, a elleição do sobr0, e com fauor da Ginga mandou por uarias
uezes darlhe assalto na terra com damno considerauel nosso, deu parte D. Sebastiam ao d* Gnl
t capitains do Prezdo de Am baca, os quais tiuerâo intigencia p# hauer as maõs os cabeças de
tres asaltos, e foram degolados.
Depois de largos annos, ueyo este D. Ioane da Ginga, publicando uir fugido; mas sabendo
se tinham alcançado suas treiçoSs, esteue occulto outros poucos, ate q. morreo D. Sebastiam,
p. morte do qual quis entrar no gouerno; repugnara os Macottas, sua nomeação, e elleição, e
foram mandados uir todos abaixo p* serem ouuidos, e de facto o foram do collegio desta cidade
inierpetres o P° Seba^iam Pimenta Raposo, e o cap. Mor Cosmo Caru0; e alegaram de tal
modo os M acottas contra d° Moquilia, q em tudo o conuencerão, e o d° Gou° lhes mandou
passar Prouizão p.q. a seu uzo elegessem.
Em uertude delia ellegeram a D- Fran°® Gongam oyza primeiro filho, e de sua prim* e prín-
sipal molher, do deffunto D. Sebastiam Quiluangi, neto do degolado D. Sebastião, e Bisneto de
Quiluangi de quissuca, o qual foi undado, confirmado, e apossado, da d# Morinda, e senhorio
p. Prouizão do d° sr GouOT, e gouernou cinco annos com asseitação, e aplauso de seus macottas
e vassallos-
No fim delles chegou o gouernador Tristam da Cunha a q“ Moquilia fez hüa petição afim
de o mandar meter de posse da da Morinda, e excluir delia a D. Fran00: acompanhavamna
alguãs informações de particulares, obrigados do d° D. Ioam, pellas quais sem mais outro co
nhecimento nem acto jurídico, e sem d° D. Fran*0 serouuido mandou d° Gouor metello de posse
p. hüa ordem sua.
T eu e delia noticia D. Fran00, mandou representar ao d° Gouor suas rezoins; o qual se mos
trou sentido do mal q. o hauiam informado, e por hüa carta sua os mandou uir abaixo p. os
ouuir a ambos.
Leuaram esta carta dous Macottas de D. Fran00, os quais foram asalteados no cam° p. or
dem de M oquilia, e foram prezos, e a carta tomada, e de hum delles fez prezente aos P. P. da
Comp®, prinsipais seus fautores, q. com ser forro ficou cattiuo.
A charam fora do Gouerno ao Gouernador Tristam da Cunha, e nelle ao senado da Cm*
ante q” foram ouuidos em juizo contenciozo, e deram a sentença a fauor de D. Fran00 Gonga
m o y za ; da qual nam appelou d° D. Ioam Moquilia.
Passados dous annos chegou o Gou°f Fran00 de Tauora, e Bautista Cambambe filho adultro
de D. Ioam q. ja era falecido se lhe queixou da sentí® dada contra seu pay, alegando perten-
cerlhe a Morinda, pl° dr° post diminio, e a elle, p. ser filho do d° deffunto.
Ouuidos sumariamente foi reuogada a sní® dada p*° senado, e mettido, ou restetuhido na
M orinda Bapta Cambambe.
V ey o com embg°* D. Fran00, nam lhe foram recebidos; agrauou, ou appellou foi lhe rece
bida a appellàçao no effeito deuuhiuo som®, e ainda antes de se fallar aos effeitos se mandou
m eter de posse Bap" Cambambe. E stehe o facto, no qual teue tudo a seu fauor Baptista Camb*
p. resp° dos P. P. da Comp® q. o fauorecíão, com não pouco scandalo era rezão das cauzas e
intereces q. os ob rigarão: occultouse a uerd®; fugiao de a aclarar os q. mais delia tinhão co-
nhecimto e todas as patarattas e supoziçoes de Moquilia, e seu filho Cambambe, abonauão p*
uerdadeiras, e tão sega procedeo nisto a paixam, q. ate os nomes lhes trocarão, p* melhor con
fundirem a seu intento a uerd0, p. q. a D. Ioam Moquilia (q. sempre foi este o seu nome) cha
m arão neste processo a D. Ioao Gongam oyza, dando este sobre nome de Gongamoyza também
/ í
' f
*
' .V
X'
a seu filho, nam se apelidando nunca por «lie E i D . Fran" GongamoyM chamarão D Fnn»
Moqmlla, nam tendo nunca tal sobre nomei de sorte q, p1 confundirem o df* de kgtltiao r , e
o apropriarem asi, tomarão o seu sobre nome p. ser este entre os negros, o p. q melhor se co
nhecem e o sobre oome q. hera seu atribuirão ao pobre D- Fran“ .
Das rezoíns q. por si apresentou D. Fran“ , e de seus Embg*% e
sosteottças deites. q tudo
uai induzo nos autos consta melhor, e com mais exrençáo, soa uerd*, e o dr* que tem a Mo-
rinda, de q. esta fora passando mil misérias: e jaseus comn* est&m preueoídoi, e tem seneado
o modo, com q. o ham de excluir, cazo q. uenha prouido em sua appdfaçáo.
(Biblioteca N*doa*l- Rescrvcio». F. G. Uw. 4S4. H «na SM* 4«
papel, com o tirol© tybnufdb, aea data < «ca ndmtra, tpem»
* com 0 o.* 58ao Mu. «Dcteripffto da catu d* Gcoe c litMffa da
iodos os portos, e rioa dota; e roteyro p* u podaras
todos seu rio». K r iti peito c i p " F r a c í s m Se Uaot, « b
Thiago de Cabo Verde no tnao de i&nl-
D O C U M E N T O N . a 45
DECLARAÇÃO
D O S T R IB U T O S Q U E SE P E D E M A O S € O U A S
Futa
i°. Futa responde em Portuguez, a prezeme que o ynferior dá a seu superior em demos-
tração que 0 reconhece por superior a modo de bü cazeyro ao senhorio. A este respeito nSo se
atreue soua nenhu yr a prezença de cappitlo de prezidio se lhe leuar futa, e 0$ cappitaís a te
ja tanto por sua que se 0 soua a não leua, ou se descuyda pede lhe a sua ynfuta, e pera este
effeito sS cauza os chamão muytas vezes aos prezidios, e os dete neles buzando de modos in»
justos, e parece já tributo pondolhe nome de proes, e precalços. O mesmo huzão quando vão
fazer algua deligencia por mandado dos Gouernadores pola terra dentro, e a todo o soua pede
infuta obrígandoos a dala por força e violência; 0 mesmo fazS os brancos quando os mandão -y 1
seus cappitaes a deligencias, ou vão a negocio de que os souas recebem grande opressão. y
Loanda
1
2°. Loanda he tributo em reconhecim'* de vassalag?, de vassalo pera sõr,que os Souas pa-
gauão a EIRey de Angola. Os Gouernadores, e cappitaes mores, e cappitaes dos prezidios o
forão yntroduzindo em sy a exemplo dTEÍ Rey de Angola, e a este tributo respondí os bacula-
meotos que pagão a El Rey nosso sor peio que se não pode pedir Loanda aos Souas porque
pagão bacuiamento, e sómente a S. Mag’ pertence este tributo.
Vestir
3
o. Vestir he hü modo que se introduzio pera pedir peças aos Souas pela maneira seguinte,
mandauão os Gouernadores hü Macunze que responde a Embaixador cõ castidade de panos de
seda co suas empondas, e cõ feregoulos que he 0 vestido dos negros, e a cada Soua dezia que
hera Macunze do Gouernador, e q hia buscar a Loanda, e como herao sempre pessoas doutas
nesta negoceaçao despiáo 0 melhor que podião a cada Soua obrígandoos com praticas e que
chamão milongos a daré pera 0 Gouernador, e 0 Macunze, lingoa, e companheiros as peças
que não podião dar. Outras vezes se oflferecião pessoas aos gouernadores a fazer estas missões
por certa cantidade de peças per contracto, e algüs herao tão deuotos que se offerecião fazelo
á sua custa, 0 que fazia a viage por qualquer destes modos se apercebia de cedas, e doutras
cousas, hia polas Prouincias, e em cada soua a q chegaua se asseniaua em hua cadeira d*es-
paldas e se reprezentaua Gouernador, e yntimidando 0 soua 0 obrigaua se hera poderoso a lhe
dar polo menos dez peças, e sendo menor a cinco, a fora as que daua pera a companhia e
47 2 Angola
mantimentos, c agasalhado necess* em que ás vezes entraua molheres, e filhos dos Souas, c5
grande desacato seu, que clles muito sentião, isto mesmo fazião, e faze os cappitães dos pre
sidio* mandando Macunzes polos Souas á ym itaçSo dos Gouernadores.
Ocambas
4°. Ocam ba he mandar o capitão do Prezidio aos Souas do seu destricto ou qualquer
outro br*° ao soua com q corre büa peruleira de vinho, ou pano, ou outra fazenda cõ tenção
de lha pagar o soua cõ fingimento de amizade, e boa correspondência, e não querendo alguãs
vezes aceitala o soua o obrigão a tomala por boas palauras, e lha deixão em caza, e se o soua
se descuyda em a pagar a mandão arrecadar dele em peças de yndias por tres, ou quatro
preços mais do valia o q lhe mandarão. Conuê que os capitães dos prezidios, e Portuguezes
n lo huzc de ocam bas que compre, e vendão a preço certo, e que os souas não sejão obrigados
a pagalas.
Imfuca
5® Infuca he vender aos souas de fiado per modos, e palauras q lhes parece que ou não
pagarão, ou o farão tarde dandolhes as fazendas per rogos, ou por força, e passado certo
tempo mandão os capitães, e Portuguezes pedir aos souas que lhe pague o que derão a infuca,
e nao pagando prende lhe molheres, e filhos, e vassalos a que chamão filhos de Morinda q são
forros, e amarardos se orde de justiça os mandão a esta Cidade a vender por peças, e embarcar
de mar em fora, polo que se deue euitar este m odo de venda, e que som1* se faça nas feiras, e
pumbos, por Pom beiros.
Outros modos
6®. Costum ao os capitaes dos Prezidios pôr Tendalas, e manilumbos, escrauos forros, e
catiuos pelos quaes exercitão todos os modos de tirar peças chamando os Souas aos Prezidios,
ou seja pera guerra, ou pera fazer baluartes, e obras nos Prezidios em tpo de suas sementey-
ras, ou de nojos, ou de outras necessidades em que não podê yr, e não yndo os meação por
leuãtados, e por remire sua vexação se concertão por tantas peças, e aos que vão ao Presidio
não lhe dão audiência tenos ao sol no terreyro descontentãose das obras que fizerão, e por
peças libertão suas pessoas, e se liurão destas vexações, e a tudo isto chamão proes, e precal-
ços de seus cargos.
Vndar
7°. Vndar he ceremonia de q huzão os Souas quando succede nas T erras por morte do
vitim o sõr da terra, ou quando por cauzas justas conforme a suas leis, e costumes lanção o
s°f fora da terra, e ellege os macotas que são os do Cons° outro sõr, o qual costuma ser o so
brinho do morto, filho de sua Jrmã porq este te por legitimo sor, e não o f* que dize pode ser
adulterino, este tanto que he electo, e antes de o ellegerem o fazê saber ao Gouernador pedin-
dolhe que o aja por bem, e que o queira vndar, q he o mesmo que confirmalo na terra, e vndar
he estando o soua diante do Gor peito por terra em sinal de Vassalam*® a sua Magde se lhe
lança hua pouca de farinha por cima dele, e elle a toma cÕ suas maÕs, e se enfarinha polos
p eitos, e braços, e antão se te por senhor da terra, o Gouernador o manda vestir em acabando
de se vndar conforme a calidade, e poder do soua, e o soua lhe prezenta o que quer, e dá a
que lhe lança a farinha, e a quê o veste, capitão da gdjl, secretario, e Tendala, o que lhe parece,
isto se pode leuar se o soua Yolütariam10 o dá, e se lhe não faz força porq responde ao dereito
da confirm ação, chancellaria, emai s dereitos que o Donatario paga pola confirmação, e tambê
se poderá tom ar o que o soua de sua propia vontade dá porq tê por grande desprezo não lhe
tom ar o que por este modo dá por£j cujdão que o tê por jnimigo leuantado, e porque quando-
lh o aceita o Gouernador por outro modo lho satisfaz.
5 3 3
{Biblioteca da Ajuda, cód. t-vui- o e i. Governo de Fernão de Sousa).
/
/ .
' /
J • êX
f
/
Apêndice 4/3
DOCUMENTO N* 46
#
Snor.
Continuando na informação q V, M.44me manda dar por escrito acerca d-Mcostume* do#
moiicongos e naturaes do RM dc Angola, digo qoe segundo o que atcaaccy cm perto de í u
annos q tratei cò elles, não um vertude, vergonha, verdade, nem constância, seoíu, cm o mt,
por <}. $3o de ordio1™çençuaes, sem perdoar a parentesco muy chegada t»ty de coaxargwr,.-
dade, como de afBnidade e per tradição antiga erríto gentílico toroio per gpacebav v <Ut a# 9
q. os paes e pessoas a que suçedem tinhãopor esses, e as netas e tendo uito Jhçito cõ j frmaá
t
mais velha, o tem co todas as mais. os Reys se não tirão destes abusos e pecadov^nsMeA
4
mor liberdade, e descompocissão caem nefles; e o que agora Reyna chamado :lom ÀWttíH^T' í
ceiro, tem por mancebas muitas que o íorao de teu pay dom Álvaro seguodo,.c-fau Cu^bada %
sua Irmá de sua molher, ambas filhas de maoíbanda se chama grão duque, e nesmoes»
tado; nem reprehendido a dexa, nem se envergonha de lho dizerem, Esw foi casada; e tem
filhos do Duque de Sundy dom Álvaro seu tio, e 5- elle matou em guerra por Jevamado. E
quando vay fora a Igreja, ou a escaramussar vão muitas delias cõ elle, e chamidbe damas.
Quanto mores senhores são, mor numero delias tem, como fazem os slo geudos, q* por
terem muitas, se dão por poderosos, riquos, honrados, e aparentados, e assy he, porqoa tem
ma$ dSo
por essas as filhas dos senhores, e fidalgos principais, para cujo effeíto teot paé#, e o
duque de Bana que por lítolo se chama Aio dei Rey de Congo, e he muito seu parente, sendo
casado cõ hua tia deltRey Irma de seu pay, efia se foi amançebar co hum sova gentio das
partes de dande Vassallo do mesmo Rey, ficando elle, e o Duque co isso muy quietos, e por '•'i
*
que o duque tomou por manceba principal hua filha de hum fidalgo seu vassallo, e a trauva
em publico e na Igreja como duquesa, e como a essa a fazia venerar, indolbe £u a mão e pe*
dindo a elRey que lho prohibtsse, El Rey e o duque me pedirão por vezes que deixasse estar a
molher do duque tia delRey cõ o gentio co que estava por manceba principal, e desse liçença
ao duque para se casar em vida da molher cõ a mançeha q. tinha, cuidando que podia ser, e
n&o crendo dizerlhe Eu o contrario, antes escandalisandosse de lhe Eu não dar a liçença que
pedilo de que se deixa ver o como estão na fé, e como a entendem, e guardSo, pois destas
cousas ha muitas no Rey, e nos mores senhores, que delle tem mais noticia que a outra gente,
e neste viçio vevem todos de ordinfio, não o tendo por afronta, nem pecado ./.
São tão dados ao vioho que de nenhuá mann custumão íaUar despois de jantar, nem El
Rey, nem os grandes senhores, por que não ficão para isso nem se correm de assy ser, antes o
tem por grandesa, mas sendo elle as vezes de ma calidade lhes fas cometer pecados e alguas
vezes, chegou ElRey a escaramussar de guerra contra my, Clérigos e vassalíos de V. M.4*, di
zendo em publico, e em vozes cõ os seus que nos avião de matar a todos, e que ja não querião
bautismo, Igreja, nem Clérigos, senão viver em sua Uberdade e assy se está lá arisquo de o
Vinho hua ves acabar co tudo. fazem cõ elie, arremedando as escomunhões da Igreja, probibi-
ções de fogo, agoa, lenha, feira, e mais mercados a que chamão escomunhões da terra, e perse-
verao nellas algus dias com gritos, alaridos, e pregões, de dia e de noite, q atemorislo, e re-
presentao acabarsse tudo, padeçendo nisso os vassalíos de V. M> nestas vilíssimas neçessidades,
e vexações, e quando lhos passa como se não ouvera nada, se dão per amigos, pedindo vioho
e outras cousas, e q lhes perdoem, e também elles alguas vezes, perdoão co facilidade os agravos
q recebem, e mostrao temer as escomunhões da Igreja, e em quais quer trabalhos pedem absol
vições geraes, não dando numqua satisfação das culpas./.
%
Dão por vaidade, porq tem muita, e por ella não ha cousa que diga grandesa, magest&de,
Estado, que não procurem remedar, tendosse por valentes, não o sendo, por muy nobres e an
tigos (como são) por gentis homes e avisados, por mais poderosos q todos os monarcas do
mundo, motejando de seus poderes, acompanhansse co muita gente sem ordem, tem muitos
estromentos de musica, e de guerra ao seu modo, e cõ todos juntos saem fora, ainda q seja i
a Igreja, representando cõ isso e cõ as muitas çerimonias q se lhe fa2em húa confusão gran
diosa, trasem panos, custosos, e riquos, da sinta ate os pés, em lugar de sintas huás ataduras
muy grossas a q chamão empondas, cabayas sobre a carne nua, e os braços de fora, chapeos t •
474 Angola
de Clérigo bem guarnecidos, sapatõens, e as vezes botas, m uitos Qbanos de rabos de cavalos,
muitas insígnias de suas dignidades, e os seus m inistros mais graves e vallidos lhes vao mos-
ra n d o o cam inho, e alim pando e tirando delles qualquer tropeço, e cou sa sem lim pesa ./.
Muita da gente m ilhor criad a, sabe ler, quando E lR ey v a y a Igreja v a y m uy acom panhado,
e quando^falra^não vay lá gen te; os dom ingos guardão m al, e os santos peor, se não SSo Sao-
tiago e sao Joao bautista, E lR ey e os titulos trasem huás carapusinhas a que cham ao empua
que não tirão, nem ao santíssim o sacram ento, (posto q Eu m elhorey este abuso) mas não cõ
E lR ey, na proçissSo das endoenças V a y E lR ey descalço, e descoberto, e todos os seus, e assy
0- andão a sesta feira, da E lR ey alguás esm olas e faz merces a m uitos e aos Bispos mais q a
todos« oor que tam bém lhos pede a meudo o que ha m ister ./.
A s suas arm as são, arcos, e frechas, espadas largas, e adargas, e adagas, podões, macha*
dinhas, azagaias, e hús ferros ao m odo das nossas lanças, E lR ey e todos andão apee, e assy
váo a guerra, e de hum dia para o outro se junta grande cantidade de gente, sem ordem e sem
m antim entos, e se não levao consigo algüs portuguezes, fazem pouco m ais de nada, temem os
jagas de manr*, que de ouvir íallar nelles se desordenão, e fogem
S ão folgasóes, e preguicoosos, e por isso tendo terras larguíssimas, e excellem es, por não
sam earem , senão m uy poucos mantimentos peressem a fome, os mantimentos de que uzão sao
groçeiros, com vem saber: m aça meuda, m aça grossa, luco q he com o painsso, feigoes, orta*
lissa, ervas, aboboras, canas de açúcar, m içefos e bananas, e alguas frutas do m ato, tem alguas
parreiras, rom eiras, figueiras, çidreiras, larangeiras, lim oeiros, e limeiras, e dando isto tudo ao
menos duas novidades no anno, todavia he pouco, porque não cuhivão.
E o mesmo he em galinhas, porcos, ovelhas, cabras, e vaquas em todo o R no de C on go, e
no de A ngola, e nos Ambundas tudo sobeja porque são m ais trabalhadores e criadores, ha
poucas fontes, e m uitos R ios de que algüs são caudalosos, muita caça, da de qua e outra dife
rente, e m uitos generos de animais em que entrão, em pacaças, e em palancas, § são como
vacas, porcos monteses, e engallas q são ao seu m odo; Zevras, Elefantes, tigres, onças, leões,
gatos de A lgalea, cobras grandíssimas, e lagartos q fazem muito dano, cavallos marinhos,
Ãgeas reaés, e bastardas, e da mesma m atf1 Pilicanos, e muitos outros generos de Aves q es-
perão muito porq não andão acoçados
E lR ey he hum despençeiro ordinário de todos os seus, e se assy não for dandolhes de
jantar todos os dias, levantarssehao contra elle, e andando sempre em festas, o dia ^ lhe falta
que dar aos fidalgos, escondesse e tudo he malencoria ./■
Morrendo ElRey dom Álvaro segundo, o duque de Bamba q he muy poderoso, governou
tres dias, pondo e dispondo quanto quis, ao cabo delles levantou por Rey dom Bernardo
Irmão do Rey morto, e por este despois de jurado o querer ser, se levantou contra elle
mesmo manibamba que o tinha leito, e lhe deu guerra, e o constrangeo a que ferido se saisse
do seu aposento, e se fosse a hum em que vivia antes de ser Rey, dando lhe palavra que o não
matarião, e elle para se sigurar mais, se recolheo na Igreja de santo Antonio co seis ou
sete dos mais seus validos, levantou então manibamba por Rey dom Álvaro terceiro, que agora
reina, filho de dom Álvaro segundo, Este despois de jurado por não ter companheiro no setro,
e Croa, entrou de noite na Igreja cõ mão armada, e matou ao tio que estava deposto de Rey,
e aos q achou cõ elle, e os descabeçou, e descabeçados os fes levar arastar ate o lugar publico
do pelourinho, a onde estiverao quasy tres dias, despois dos quaes por obra de piedade os en-
terarão algüs clérigos as escondidas, E ElRey Emanibamba tomarão tão mai este acto de
misericórdia, que declarão aos Clérigos por imigos seus, e nesta alteração tão violenta, matarão
muitos senhores, e outra gente, em diversas partes a que tinhão oferecido, seguro e perdão ,/.
Avera como anno e meo que por presunções mal fundadas, ElRey dom Álvaro terceiro,
tem publicado guerra contra manibamba seu sogro e reconciliandosse alguas vezes por terçeiras
pessoas, e por my, e por meu Vigairo geral, todavia, se não virão numqua, e agora tem apre
goado guerra de parte a parte, a fogo e sangue, de q se entende q Manibamba levara o milhor,
porque he velho, sagas e poderoso, e por todas as vias a junta assy os portuguezes que pode,
queixandosse que ElRey o quer matar sem causa, e porque lhe pede que não esteja amançebado
co sua filha, pois he casado cõ outra, e he artificio muy ordinrio nelles, quando querem derrubar
alguém, publicar que he mao christão ainda que assy não seja, e para este effeito, tem mani-
bamba cosiguo todos os que por qualquer via tem pretençao ao Rnft ./•
Apêndice 4?5
ElRey dom A varo segundo, foi bem quisto, e muy melhor obedecido que o* que Itic suçe-
deráo* ainda que a mesma vida, chamousse magesiadepor ttsy lho meterem em ctbcça aígds
Religiosos, e outras pessoas, tomando para isso motivo de entenderem mal boa csru ij o sm o
pontifiçe lhe csCTeveo, e por Eu lhe estranhar a magestade, e lha impedir por rertade de boi
carU Ê f-^afa Ks®l,Te»e P®r ptwder e embarcar o padredefto alío^o Aoir pexnüu^
que era f 111)' *** f P*?f * a$sy mo ordenar por outra, rceebeo contra my graade
odeo, e **Pe i eito esta prizão muitas vezes, de mar/* que para a poder fazer, urei de
escomunhoes, e mterdictos, como V. M* me mandoQ quc 0 ^ E estas çetmurss, se iev«t-
tavao u s v z: s, e sc wroavao a por outras, porque por multas, mostrou elRey qoe obtdeçi*
a dias? orn o ogo a esobedesser, e co esta sua preçeguissao, e odeo que dorou em qoaaio
elle viv*°#_r U n0Iave Pert*a>na quietação, Jurisdição, e fazenda, sem me apartar hum
^0I1 r-in° ^a ' d me como constara de muitos papeis q tenho em meu poder
ey ora eraar o quelhe sucedeo, e qae durou pouco por ser morto por EíRey dom
Álvaro terceiro seu sobrinho como hedito, e que Eu não vy por no seu tempo estar embanda,
no principio, correo bemcomigo emcartas, e eu co elle, quis tambémchamarsse magestade, t
pediome que osse a Congo para lhe lançar o habito de Cbrísto, ou lhe mandasse licença para
\i o receber, respondendo JheEu, segundo o q V, M* me tinha mandado, que nenhuá daqJ"
cousas, po ia, nem evia azer, representandoselhe, que Eu lhas negava p1*molestar, e não por
nao er>tam emSjVQ mou rau“° corura my, e durou nisso emquanto viveo, que foi pouco,
6 nUTem ° m0U ° / !^° ô ^ r'sl0>nem também apertou muito sobre oftitulo de raagwtade /■
- a gente o Congo, e de Angola muitos ritos gentílicos de que assy uzlo, os que o
sao, como os autisados, e a Christandade pl* raayor parte he só de nome, porque quando os
cu as vao correr os districtos de suas capellas, he mais para receber as colheitas, que para ea-
smar, e assy bautisao a todos os q se lhe ofFerecem, sem diferença de pessoa, e sem os cate-
quisar, e posto que por este modo ficão bautisados, he o bautismo informe, e tantos sacrilé
gios cometem, quantos bautismos fazem, e dando Eu dísrintamente a ordem que isto se devia
ter, nem isso foi bastante para tirar este abuso (posto que em parte se melhorou) e para
56 e C ^ chnstandade daquellas panes, e como eíias se administra bautismo, digo o 4
m a n eçeo, in o visitar os presídios, a onde numqua foi outro prelado; e he que achando
Ml? ,?S S°Vf p a ° et^'e^c*a V. M> no presidio de Carabambe, sete bautisados, e pergun-
tan o es pu ícamente p * doutrina, nem essa, nem o sinal da Cruz sabião, nem se línhão
con essa o numqua, nem entrado em Igreja, afirmando que nenhuá destas cousas se lhediçera,
quan ° orao autisa os, e perguntandolhes, se deixarão as mancebas, ou quantas tinhao, o
pnncipa respon eo que çento e vinte, outro que çento, outro q sessenta, outro que çincoenu,
outro q trinta, outro que vinte, e outro que quinze, e sendo esta a christandade assy querem
os governa ores que os padres bautisem; entendendo que nisso acertão e poderão alegar que
converterão munas almas, e também se não Us este officio có a perfeição devida, quando em
loanda se bauusao os escravos q se embareão para fora, porque ha aly, só hum Vigário a
que pertence, e que alem de nao saber a língua, trata mais de receber o prêmio, que de açertar
em seu omcio ./• *
Naquelíe Bispado não achey constituições, nem cousa por onde me ouvesse de governar, e
por isso as fis com muito trabalho, e he magoa grande que sendo a gente tanta, as terras tão
fertis, e tão largas, se perca tudo, por falta de ministros Eclesiásticos, o Porto de loanda he
excelente, mas o termono cõ seus arredores, sequo, e infrutuoso, e passão dous, tres e mais
annos que nao chove, sendo muito ao contrario p1* terra dentro, os Reys do Congo trasem
todos o habito de Christo cÕ bua seta de sao Sebastião, e o mesmo os duques, de batta, e
bamba, e os manilouros, tendolhes V. M * por veses mandado declarar, q não pode ser, por
ser cousa Eclesiástica e de grande escrupuio e só concedida a V. AL* como mestre da ordem,
e não ha podelos tirar deste abuso, por q crem firmemente que o q huá ves se lhe deu, he para
todos os q lhe suçederem, sendo assy, que o que elles dão, tirão cada ves que querem, e trasem
ao pescoso muitas cadeas de ouro, aíquime, e aço, cõ muitos hábitos, tendo o por grandesa, e
loucainha* São os Rey do Congo, univerçaes erdeiros de todos seus vassallos, e tomando para
ssy, o que querem do q lhes fiqua, o mais dão livremente a quem querem, e os que oje são
duques amenhi os tirão, e ficão servindo a fidalgos ordinários./.
Esteve o R * do Congo despois de sair delle o capitão mor An®Giz pita, sem capitão, nem
476 Angola
ouvidor de V. M.4* algus annos, c despois fis Eu cõ muito trabalho rcçeber hum que mandou 0
governador luis mcndes de Vasconcelos, a q se tem muy pouco respeito, porque EIRey se mete
em tudo, e trata muy mal os vassallos <ie V. M* levando os consigo a força descarapusados,
e o mesmo fazia aos saçerdotes, e ainda os obrigua a que o acompanhe as guerras e a outros
caminhos que fas, sem lhes dar o neçessrio para isso, aos paçageiros desbalijão, e empendenlhe
os caminhos, levanlhe extraordinários tributos, e peitas, q acressentão, cada dia, e postas e
outras, txtorçÕes, ha grandes desgostos, queixas, e perdas, pedem Sol, e chuva aos prelados, e
aos sacerdotes, como a pedem aos seus feitiçeiros, e queixãosse de lha não darem, como se
isso fora cm sua mão ./.
V. M.4* manda que nenhuSs fazendas prohibidas p10* Reys de Congo, levem os portugueses,
a seus R“0*, e ^ se lhos tomem por perdidas, todas as que não registarem, e porque isto se não
guarda ha cttda dia, grandes inquietações, tem EIRey de Congo prohibído cõ grandes penas,
que não levem os Vassalos de V. M.d®a seus Reo’, Zimbo do brazil, e de outras partes, porque
como essa he moeda que nelles corre, esta c5 a grande cantidade q vay de fora; tão abatido
o seu, que perde nelle as duas partes de suas rendas, e o mesmo aconteçe aos Eclesiásticos
porque nelle lhe fazem 0 pagam10 de algús disimos q lâ ha, e por este respeito a petição do
mesmo Rey, o prohiby Eu por escomunhão, E nem cõ ella, nem cÕ as penas q EIRey tem
posto, deixa de entrar, em tanta quantidade, que vay deitando aquele Rn0 a perder, e se EIRey
para o atalhar dá algum castiguo alevantãolhe que presegue os vassalos de V. Mda. E não res*
peltão que elles sao que o perçeguem a elle, levando lâ muitas mercadorias falças, e ven-
dendoas por finas, em muy grande perjuiso de suas consçiençias e desacato de hum Rey christâo,
que V. M.d0 ampara, e manda amparar sempre ./.
Todas as matérias de Justiça, se Julgão por audiências verbaes, e co muy pouca prova con-
fiscão as fazendas, degredão, matão, empenao, e apedrejão, e se logo se não executão suas re
soluções verbaes, por qualquer roguo e peita se perdoão dtlictos gravíssimos, e pl0i Uviçemos
e mal provados, morrem e padeçem os dos favorecidos, e estão tão entregues a este modo de
proceder gentílico que não avera força umana que CÕ elles introdusa outro christão, deixüosse
entrar de qualquer sospeita, e são façelissimos em levantar testemunhos falços, e em se desdiser
delles, e sendo arguidos dos vicios em que caem de maravilha os negao, os principais tenho
aprontado, e para os q ficão serião neçesríos livros inteiros Ds. guarde a Catholíca pessoa de
V. Mda ./. De lisboa a 7 de setembro de i6ig.
Cota: Copia da relação dos costumes, Ritos e usos do R.n0 do Congo que o Bpo deu a
e peccados que nelle se cometem.
v m g da, . ,
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina Caixa 14-1
de Angola).
DOCUMENTO N.° 47
DOCUMENTO N.° 48
SNOR
V. M.de co paresser de seus ministros por informações de gente intereçada, ou sem expe-
riencia, se moveo cõ muy considerável gasto de sua fazenda, e perda de gente a mandar q se
fizesse, no padrão de pinda hua fortalesa, ou no Ilheo dos cavallos que esta entre o dito pa
drão, e Pi nda, entendendosse que avendoa em algúa destas partes seria impossível entrarem
olandeses, ou outros imigos em aquelas, e que cõ isso se ivitaria totalmente o comerçio que
aly tinhão, cõ os negros, e o damno que elles cõ sua çeita e erros introduzem converçando e
tratando aq.1“ gente barbara, e avendo em sy, não só todo o marfim que por aq.lMpartes se
D O C U M E N T O N.° 47
Apêndice 477
acha, senão ainda os mantimentos ordinários, e mandou V. M > que para isto poder ser saavc-
mente, que se pedisse licença a EIRcy de Congo, julgando que elle a daria facflm.1*, tratouss*
disso muito, e elle nunqua a deferio apreposito, furtando sempre o corpo, e procedendo cõ p a
lavras emganosas, elle, e mamibaraba, ate que Eu me vim a dezemganar e entender que nao
darião o tal consentimento, ainda que por isso se ariscassem muito, persuadíndosse barbara
mente que aquilo era quererem aly ter pé para lhes tomar o R ” e dizendo q se tal consentis
sem, se lhe levantaríáo, todos seus vassallos, e q se a fom lesa se pretendia só para efteito de
náo haver em suas terras olandeses, e outros imigos, q elles os lançarilo logo delias, pois em
nenhüa podião nellas estar contra sua vontade, como he ./.
Não se desestindo cõ tudo da pretenção da fortalesa e sabendo Eu dos danos íj a nossa
santa feé recebia cõ aconverçassao daqueles ereges, querendo palpalos, e remediallos fuy ao
porto de Pinda, e acheyos lâ cõ quatro feitorias publicas, e muitas fazendas nellas, semeando
oras de nossa sr* falceficadas, bíblias em lingoagem, e livros articulados formalmente contra a
igreja Romana e doutrina evangélica, e recebendo negros e negras em penhor das mercadorias
que davão fiadas aos naturaes, e aos portugueses, e q logo emsinavão em suas eresias e tra-
tavão cõ grande familiaridade os vassallos de V. M.*, comendo e bebendo cõ elles, e sendo
mais estimados do Conde e dos seus, que os portugueses, fis todas as diligencias que pude para
emendar estes danos, e evitey algua parte da converçassão que entre elles havia, pedy, requeri,
e mandey ao Conde manisonho da parte de D.* da minha e da de EIRej de Congo que os des
pedisse, e prometendome elle muitas vezes, o não fes, e assy andavãc#3s vassalos de V. M.4*
opremidos, e os ereges mimosos, e em braços cõ todos, desacreditando em obras e palavras
muy publicamente a Igreja e amy. Vy e considerei o lugar do padrão, o Ilheo dos Cavallos, e
o citio da terra e entendy q a fortaleza em nenhuá daquelas partes, nem em outra de toda a
Emballa seria de consideração, porque posto q se no padrao a ouvera pudera cõ façilidade
prohibir a entrada aos navios que só por hua ponta naq.!l parte podem entrar aonde a cor
rente he muy furiosa, todavia passada ella entra o Rio Zaire em o mar a tres legoas de boca,
e fica fazendo huá emçeada muy grande, tanto por çiraa do padrão q será impossível haver
artelharia que alcance os navios que aly se encostarem como o vy fazer aos dos mesmos olan-
deses, e aos que vem de loango que deixandosse estar aly algus dias esperando mare de alguá
bonança, deitão a gente nos bateis em terra, sem algum perigo e $e tomão a recolher quando
querem, sem demandar padrão, nem Ilheo, e assy entendy que quem dera aqJ* parecer, náo
considerara bem o mar, n£ a terra e que o gasto todo fora e seria baldado J.
Quanto mais EIRey do Congo não dará numqua licença pura e sem, ella, e cõ ella pa-
leada sera o gasto immenço, faltarão os mantimentos em as feiras, não acudirão a trabalhar
os negros da terra, e os cativos que para isso levarem os portugueses figirão para o bungo cõ
façilidade (como fogem) epara outras partes, e numqua nada havera effeito, e os do contrario
pareser segundo o que entendo, nem devtão de hir a pinda nem de tratar tanto o serviço de
V. M.4*, como do proprio intereçe, q ainda para elles sera bem pouco, a respeito das muitas
repugnâncias q ha e do muito q custara levarensse aly materiais de fora (que na terra não ha>
e fazersse a força ./.
Vendo meudamente e considerando o que esta dito me fuy para Congo cõ muito trabalho,
e entendendo q EIRey não havia de dar licença para a fortaleza, e que aiada que a desse e se
fizesse não seria de effeito, e representandosseme que o único, e total remedio para aq.lt gente
aly não entrar; nem ter comercio era deitalla EIRey de Congo porq ainda que contra sua von
tade pudessem aly aportar era cousa impossível perçeveral, sem trato, sem feitorias e manti
mentos que não podem em nenhum modo ter se não por sua vontade, e do Conde manisonho,
fuy continuando co elles cÕ rogos e cõ todo o artefiçio de persuações de que me pude apro
veitar, persuadindoos a que os despedisse totalmente, e elles mo prometerão sempre, e em es
paço de nove meses alcanssey para isso alguas cartas e provisões de EIRey em que assy o
mandava expressamente a manisonho, e por que paleadamente o dilatavão (como o tinhão ,
feito o Conde manisonho, e EIRey velho) vim a mandar ao Conde com çençuras que aggravei
que os despedisse, e elle mostrando em palavras que obedecia não obedeçeo por obra numqua,
rogoum e por elle EIRey; pedindome que levantasse as çençuras, mosirelhe nas repostas que
era contra sua onra e palavra falarme mais nisso, pois em se não cumprir se tinha ido muitas
vezes contra sua obediência, e mandado. Vimme para loanda dondeme embarquey para este
478 Angola
R - deixondo o Conde escomungado e cnierdito, e ordem paro que obedecendo de todo se lhe
levantassem de todo as censsuras ./.
Depois de ter chegado a este R." soube per cartas dosmeus officials, que os olandeses, erao
dc todo despedidos, sem ficar nenhum, nem cousa sua e como cmtendo que 0 q comvem he
náo tomarem a!y, e que isso se pode miihor acabar por via de EIRey de Congo, que co forta
leza para que ellc nao hade dar liçença numqua, e q sem ella sc não fara se não co muito tra
balho e gasto, sou de parecer q V. M.*•, lhe deve mandar agradesser per carta sua, ter despedido
de todo os olandeses, dandolhe a entender q 0 fes só por serviço de D.* e por compraser de
V, M.*®, sem que nisso tivessem lugar as minhas sençuras, senão seu zello e Christandade e en-
comendandolhe cõ rasoes muy eheases que numqua lhes torne a dar entrada a elles, nem a
outros semelhantes p> grande dano q tem feito, e poderão fazer, levando ô por vangloria que
Co elle tem muito lugar, e o q V. M.dõ mandar resolver sera o que mais cotnvenha ./.
Antes que Eu daqui partisse andava solecitando Manoel cerv.ra p,“ emcomendarselhe acom-
quista de Benguela a onde numqua tinha ido, posto que esteve por governador de Angola, teve
traças co que sayo cõ sua empresa, emeomendandoselhe a dita comquista, e mandando ô a
Angola para de lã cõ poderes de governador, se aviar, e hir e como tudo tinha debaixo de sua
mão aviousse para hir comessar huá comquista nova destruindo e asolando a que estava feita,
e pareçedendo em tudo co a violência de q V. M.de esta informado ./■
Prometeo em Benguela emnumeravel cantidade de cobre e outras cousas em que mostrava
que aq.I# seria a m aí importante comquista q V. M.ío tivesse nestes R.“0’ e soubeo corar de
manr#cõ arteficio e valias q tem que assy o persuadio a algus ministros de V. M.do (posto que
outros tiverao tudo por fantástico como 0 he) deixando a comquista de Angola toda descom
posta se foi para a de Benguella, cuja provinçia he muy esteril, e estava quasy despovoada, e
asolada dos Jagas que aly tinhão andado, e andão, levou consiguo gente perdida, e essa favo
receu sempre, e a miihor injuria por momentos, e por isso, e por matar todos a fome, ao cabo
de dous annos se levantarão contra elle os seus, e o prenderão, espancarão, e ferirão, e preso
o embarcarão para loanda dirigido ao governador luis mendes e onde Eu o deixey bem mal
tratado. Em Benguela não ha cobre, e fazendo Eu sobre isso para o saber muita diligencia,
achey em todos os capitães mores, menores, e soldados que lâ forao, e de hum frade e de hum
Clérigo ^ la tenho, que de nenhuá manra ouvirão numqua, nem sabem delle, e perguntando a
tnanoel cervrt tres dias antes de me embarcar, q sertesa tinha de haver, o mayor sinal q disso
me deu foi dizer que o não vira elle, nem nenhuá dos da sua companhia, mas que de ouvida
sabiao avello. E que pedindo aos naturaes das partes adonde diz que o ha alguás pedras para
amostra e mandando dous negros para lhas trazerem elles lhas não quiserão dar, e lhe derao
em lugar delias dois sestos de terra q tinha mistorado azinhaure que era sinal de cobre, isto
he o que como tenho dito tinha alcançado Manoel cervta ate tres dias antes q Eu me embar
casse ./.
Todos os desentereçados que vierão, e andarão, em Benguella dizem cõ determinda resolu
ção q lá não ha cobre, nem outra alguá cousa de importância, e que assy se hade ver despois
de se fazer na materia mor empreguo, e gasto, e por çima de tudo e do estado em que manoel
cerv» ficava cõ suas inteligências e valedores q qua tem lhes vay de novo gente que o tornem
a meter de posse, e se isso he miihor para o serviço de V. M.de, que Eu tomara em pessoa de
miihor conçiençia, D* o encaminhe a bem, e eu segundo D8entendo que maos sucessos ande
vir a mostrar a verdade dos muytos q semtem comigo; E que se venha a descobrir em tempo
que o remedio seja ainda mais dificultoso q agora ./.
Ha muito cobre que Eu vy em o Rno de Congo entre Pemba e Vembo (1), e o devem saber
bem os capitaes mores Bento banha Cardoso, e Antonio gonsalves pita, E todos os que forao
aquelas partes, porque ha cousa muy notoria, e EIRey de Congo o offereçeo a V. M.de pl0* em
baixadores que qua mandou, E V. M.de o não açetou por querer q se soubesse prim.10 do q se
dizia haver em Benguella, e tendo isto passado ha onze annos, e não havendo ategora mais
certesa do cobre de Benguella q a ^ tenho dito, bem se deixa entender que deve nisto de haver
emgano» E ainda que pode acontesser segundo a inconstância e desconfiança dos moxicongos
q mandando V. M.d®agora tratar do muito cobre <5 ha em Congo, e EIRey senão resolva bem,1
(1) V a m b o ?
Apêndice
47?
4 vi& de q ^ u tf ma0" 46 P 0díra f í ™ áúT> m aá d * » * e c&
« * i t c M <p*
t0 d C s par.es p o rq « « u m u y p m o doR to A a b rJ» , p o r « * ^ W l w b m * ír/„ p ^ * - t
f í r «o ■ »«^ « * ^ lZ SV 3^ - qM? W ** * * P e i t o s »
de. a5 embarcações, ao g í « aSo pom ventseí efi alguã itjdastri* f gaito,
1
pffm q»e 56 P°d, r , s
« C L e f t r C l 5’ - fitW * n W * * í l0 < *« *» 5 ^ « * F 6 » d* Co«**n
«o® de V. M-4*!he resP°oder * m rtsoluf*° « tDcootniH cótaT aooe! 8tu SerpTJ*
de5p ver, « forer «per.enaa, e sabemosJ achou n,«i{0 mar, do
0 L (P05t0 í cst* contrat0 nao lesdo effeuo, porque 0bom? podia pwltm, e BRw
Í 5 u !to pouf favor que por tsso desesúo da empresa e se £ . ' , « £ ElF^d, í S *
lh<1 ô oferecido tornasse atras, nao sena grande cous, bavello atada <p «De reL gr^ T *
r \Isciençia 0 permmsse, como pareçe que p en ai«./. 1 ^
l r
a °v >Lá#0 mamara ver e resolver como oaver por serviço de D.4e seu, ette g*»Cwkaíw*
d e V . M .a# -/•
peSSpe Lt * a 7 de Setembro de 1619.
Ê porq só por zell° Mo nestas cousas, E Me recolho em alguas quanto 0 pedí a mmfc*
csSáo, se por ^enrura 05 “e outra díserem q aver fortaleza no Padrão de Piftd*; ou Cfcea
jlc Cavalas, servira pera enfrear EíRey de Congo, pera q elle proiba (oi4Ímu Q tntfo dos
ntaoíiezes, e hereges e se açe ttar a dar 0 cobre q tememPemba e nflutras partes; c p e n
° iras cousas desta cahdade, lambem eu sou do mesmo parecer; m l EIRey de Congo b t
r fa is iâ o , e os seus estados tem 0 mesmo Nome, e 0 q me emsma nelles a experíeacis, fae,
fortaleza nemj:obre hao dedar, senáo a forsa, mas se......
esta ^
se ^viiunc,
permite, icnoo
tenho por
por rampôcca
tampouc*
° sua
a ctia com
contra nos, q
« «»*
â 0. >ntent0‘ E tomo
i com
— quaW quer concideraveí com
er eonciderave! etida a pessoas de concideraçSo
cometida conçideraçáo se sahifasihin
com ,°rU a\
Hwr :-----a'ara0
' ^em* com mon exprimentados
... . os capítaes Mores
Bento Banha Cardoso e Anf G!a Plta guarde D* a Catoüca pessoa de V. MA
Cota: Copia das lembranças que fes, edeu a vmg^ o bispo do Congo sobre a fortaleza
quee se pretende fazer no padrao de Pmda, olandescs que alj residem, cobre que ba «m Pemba,
O
sobre a conquista de benguella.
(BiHioieca Nicloul de Ufboj. Sícçío I3tr«aurâ». C úa t,5. Anjolip
"'VS''
480 Angola
trabalhar, e a sombra destes que sejao contínuos dar? os sovas sercunvezinhos hü$ tantos
cada semana conforme sua possibilidade pera o que terão cada Morinda huãs cazas em q se
recolhSo quando vierS ao serviço de S. Mag«. Também hay nestes presidios muitos forros que
por querS emcobrir suas bargantarias se acostao a homés brancos pera assy estare mais â
larga, hay outros^q por não sere avexados tomão a mesma colheyta, hay outros que chamáo
quilambas que cõ as guerras estão tão ricos de peças q seguram* botão duzentos arcos, fora
outros de serviço, e carga, e molheres destes, estes tais dar lhe obrigação de cada tanto tempo
mandar? certa contia d’escravGs a trabalhar, e isto por estribuyção a cada qual conforme suas
forças, de modo que possão cS gosto comprir cõ a obrigação que lhe dere a cada hü, e pera
as cumprirê apenalos cõ pena que sintão, e executada a primeira todos acudirão, e toda esta
gente fica fazendo este serviço sã ser necessário q S. Mag° a sustente por q cada qual de suas
granjas o faz e assy que ymaginar V. S. que do modo que vay se pode achar cousa q seja de
grande consideração não pode ser cõ estes negros de Cambambe q ve ao meo dia e se os
apertão foge da morinda para outras partes o q nao faraó do modo acima tendo por emprei
tada tantos dias, e torno arreuficar me q* aquella terra hetoda mineral por baixo porq ha
muitos tempos q se delia huza mas não CÕ cuydado que eu nisto püz, como os negros confes-
são, e assy conve fazer se porq em Ds. e minha cons* enlédo que te parte de melhor especie
que chumbo conforme muitas obras de facas, Arcos q os negros co elle goarnecc que ao pa
recer dá mais mostryp que de chumbo, V. S. conforme a isto avize aS.Mag" que me segurarey
que nesta não perca 1 S. o feitio da deligencia porq eu mando fazer^novacova como digo que
do que sayr avizarey a V. S. a que Ds. augmente a saude e estado co o animo que té de servir
a S. Mag* para que elle vendo a satisfação como costuma a V. S. em remuneração os traba
lhos, a traz elles o prêmio que V. S, merece, oje aos dezaseis de septembro de mi seiscentos
e vinte e seis Annos.
O criado de V, S. Constantino Cadena.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secçáo Ultramarina. Documentos
de Angola« 1626).
DOCUMENTO N.° 5o
Certefico eu Affonço Dias jaoome escrivão desta fortalesa de Cambambe que ora sirvo
ante o cappitão mor delia Constantino Cadena que eu fuy aos catorze dias do mes de septembro
de mil seis centos e vinte seis em companhia do dito cappitão mor e do Alferes Andre de Be-
navides, e de mais seis soldados âs minas de chumbo que estão huã legoa desta fortalesa pouco
mais, ou menos fazer certa deligencia na dita mina por cumprir assy ao serviço de S. Mages-
tade conforme hüa ordem que o dito cappitão mor tem de fernão de sousa Governador destes
Reynos de Angolla e hindo o dito cappitão mor comigo, e mais pessoas nomeadas a ver a ca
pacidade da mina, e sitio delia, achamos hüa beta em altura de mais de quatro braças de
chumbo conforme â pedra que delle se té tirado, e se medio a face da beta que se mostrava de
cima, e se achou ser de seis polegadas de largo, e demarcando o capp“mmor cõ hü Agulhão
que levava pera ysso se achou que a beta do chumbo nos corre a nôrnordeste da qual saé duas
betas de barro jaspeado de branco, e vermelho a modo de ramos que saé da q se tira a pedra
de chumbo, as quaes corre hüa pera o norte quarta de nordeste, e outra ao nordeste quarta de
norte que ambas mostrão sayré da principal de que se tira o chumbo, mas estas duas não
mostrão nada do tronco principal, a qual mostra profundar naquela parte muito. Estâ esta
mina em terra raza sé rochedo, ne mato em hüa campina grande entre quatro outeiros que
estando na dita mina pera qualquer delles serâ distancia de hü tiro de hüa espera. Declaro
que na dita campina ha algüs alicondes, e algü mato de pouca consideração afastado delia, e
por assy passar na verdade, e me mandar o dito cappitão mor fosse em sua companhia, e do
dito alferes e mais pessoas a passey na verdade, e o juro assy pelo que de meu cargo tenho, e
me assiney cõ o dito cappitão mor, e Alferes, e eu Affonço Dias Jacome escrivão que o fiz es
crever, e sobescrevy em Cambambe oje catorse de septembro de mil seiscentos e vlte seis
A p ên d ice
48)
ate assiney d» meu sinal raro .AíTonçr, Wtt jM#n^
Cüaí,«'®o < W i .Aodn &
DOCUMENTO N.« $t
fiem po que durare c ite asiento en el dicho Reino de angola, podran sacar è navegar para esta
ciudad por si é p or sus fatores, sin por ello ser obiigados a pagar derechos algunos à ia ha
zienda de su m agestad, ansi cn Ias dichas partes com o en estos rreinos, è antes que se enbarquê
el dicho m arfil lo Uevaran à la casa de la fatoria dei dicho rreino de angola para lo alli ver y
pesar. E seran los dichos contratadores obiigados & mandar traher con el cenifícacion dei fator
è oíficiales de la dicha fatoria, en que daclaren la cantidad j peso dei dicho marfil, para por
ella ser obiigados de lo s dereches dei. *
C o n con d icion que su m agestad m andara dar a los dichos contratadores todas las cédulas
que fueren nescesarias para beneficio deste asiento.
Con condicion que los dichos contratadores puedan tener en angola los fatores que les
fueren nescesarios para beneficio dei dicho asiento e cobrar los rendimientos dei, con los es-
crlvanos de la fatoria que su magestad en ella tiene proveidos, los quales escrivanos servi ran
con las dichas fatores, y ternan cuidado de visitar e mirar por los rescates, y ber que los rre-
glmientos que sobre ello se dieren sean conformes a los de su magestad; y queriendo los dichos
contratadores tener en la dicha fatoria mas algunos escrivanos, los podran tener para esermr
en oiros Ubros la rrazon è gastos dei dicho asiento, e lo de mas que cumpliere, juntamente con
los escrivanos de la fatoria que por su magestad son proveidos, a los quales se tomara jura
mento por los samos evangelios por el proveedor de la hazienda dei dicho rreino de angola,
para que vien y verdateramente sirvan, guardando en todo el servicio de su magestad e juzticia
a lo expuesto. 1
C o n c o n d ic io n q u e fa lle sc ie n d o lo s e scriv a n o s è dem as o íficiales de la fa to ria o de lo s n a
v io s , q u e p o r e ste a sie n to lo s d ich o s co n tra ta d o re s pueden p o n er, o algu n o s d ellos, pue a su
f a t o r p o n e r o t r o s e s c r iv a n o s y dem as o ficia le s, to d a s Ias vezes que fa lle d e r e n , sin en e o en-
tro m e te rse el p ro v e e d o r o el c o rre g id o r dei d ich o rreino de a n g o la, avien d oseles prim ero to*
m a d o ju r a m e n to e n la m an era a tr a s d e cla ra d a .
C o n c o n d ic io n que lo s d ich o s co n tra ta d o re s h ara n co n ven en cias c o n to d a s la s p ersonas
q u e la s q u isie re n h a z e r, p a r a traer e s c la v o s del rrein o de a n g o la, las qu ales se h aran p o r lo s
p r e c io s è c o n d ic io n e s , tiem pos è m o d o s c o n que h a sta a o r a se h iziero n p or horden de la h a
z ie n d a d e su m a g e sta d .
C o n c o n d ic io n q u e su m a g e sta d n o m a n d a ra d a r lice n c ia s a nin gun a p erso n a de qualquier
c a lid a d é c o n d ic io n que sea, desde la fech a deste a sien to en ad elante, p a ra p o d e r h ir rre sca ta r
n in g u n o s e s c la v o s ni lo s m erca d u ria s qu e lo s d ich o s co n tra ta d o re s, p o r virtu d dei, pueden rre s
c a t a r e n e l d ic h o r r e in o d e a n g o la ni en sus lim ite s ; n i m an d ara y n o b a r co s a algu n a que sea
e n p e r ju ic io d este a sie n to , è so la m e n te lo s d ich o s co n tra ta d o re s p od ran dar las tales licen cias
a la s p e r s o n a s c o n q u ie n c o n tra ta r e n p o r e l m o d o en el d e c la ra d o , è lo s d ich os co n tra tad o re s
n o p o d r a n h a z e r m as co n v e n e n cia s en el p o stre ro a n o deste asien to en ca n tid a d , que aqu ellas
q u e tu b ie ren h e c h a s en c a d a u n o de lo s cin co afíos p rím e ro s p ro rra ta , de m anera que sean
y g u a le s en c a n tid a d y c a lid a d de la s co n ven iên cia s que h izieren , é h azien d o e llo s m as convô-
n e n g a s s e r a n p o r c u e n ta d e Ia h a zie n d a de su m a g e sta d ; è p a ra se en to d o tiem po saver las
q u e e sta n h e c h a s é h iz ie r o n en el tiem p o d este a sie n to , se reg ista ra n en lo s libros que estan
e n p o d e r d e fr a n c is c o c a m e r o q u e h asta a o r a fue el e scriv a n o de las dich as conbenengas.
C o n c o n d ic io n q u e lo s d ic h o s c o n tra ta d o r e s p o d ra n p o n er en el d ich o rreino de an g o la
p a r a b u e n a c o b r a n ç a d e lo s d e re c h o s d e ste a sien to , lo s fa to re s y escriva n o s e g u a rd as que le
fu e re n n e s c e s a r io s , q u e p re s e n ta r a n e n e sta c a sa y m esa de la h azien d a, p ara en e lla ser visto s
è a p ro vad o s.
C o n c o n d ic io n q u e y e n d o a l d ic h o R e in o de a n g o la alg u n o s n a vio s à rr e s c a ta r sin licen cia
è h o rd e n d e lo s d ic h o s c o n tr a ta d o r e s , en q u an to d u ra re el tiem p o deste asien to, se perderan
lo s ta le s n a v io s è m e r c a d o r ia s qu e en e lia s fu eren b a ila d o s , lo s d o s te r c io s p a r a la hazien d a de
s u m a g e s ta d y e l o t r o te r c io p a r a lo s d ich o s c o n tra ta d o r e s , è s a lv o lo s n a vio s é a rtille ria e
a r c a b u z e s , p ic a s , la n ç a s é d e m a s a r m a s , p o lv o r a é m u n icion es que le s fueren h alla d a s, porque
to d o e sto s e c o b r a r a p a r a Ia h a zie n d a d e su m a g e sta d , é an si p o r lo s officiates dese rreino
a q u ie n p e r te r n e s c ie r e , co m o p o r lo s d e la fa to r ia d ei d ic h o rre in o de a n g o la , sin lo s d ich os
c o n tr a ta d o r e s ten er d e llo c o s a a lg u n a , é an tes de se rr e c o g e r lo s tales n a v io s é h azien d as, se
se n te n c ia ra n p ritn e ro p o r ei p r o v e e d o r d e la h a z ie n d a de la s d ich a s p arte s, ó p o r el fa to r e
o ffic ia le s d e la d ic h a fa to r ia , y d esp u es d e s e r se n te n cia d o s la s ta le s h azien d as, se ca rg ara n las
*Tr , *
Apêndice 45
k aDsi lo* o*1" 0* eo.°, ®d°’ T, m > «a»» t «aiíosoe» a »
oafies df® „ pondran i cargo dei d.cho fator, e la ttrc p»m d»
d°5 P ha'lad° J U o s contratadores, por «s«e capitulo im ma, «,» « * ;,
í« < e g * 'a jjrion que los diehos contratador« daran para la m
5e «°co0 d«»tt
GO11 condi««
- JeSCCV»^--»seguras
n - ■ è abon das,•de que d a~~
*-va*.»
» *,,y ^
QÇ,ls Jca cau ^(i? U® 3Sits»
^ . _ fíaflZas w
Oto Ia5 ftf n* L perteneciereula /»rsKrflnzfl
cobraota deste a m to , sei toam », « * tc
asíe<iw 0n& ^ U,CU4 ' WIe w UT'
ó 19 P,C
a dicba cobran“ e daran los diehos contratador« soltmenu por
ara
ê3faCon e o n â ^ docientos
e0ndl'nto ^ ^ ; ' f e* vieme adll
null rres eo dineto
dinero de contado,.
couud" k m aWltB 'L t S “
euA
r alles de santo dommgo
io deste * frades dommgp desta cmdad de Usboa, i quiw » - -haoH*
pre‘
< , ’“, prior étJ £ ero asie[U0
1 pf'“or, asiento por
por su
su cedola,
ceduia, é
é los «ente
vieme m tll rm
rnill rres tUla úa» ig
^ n tt ^
r os«3 en 6 de nuestra Seíora de la esperanra de la dtcha cmdad, para lo cpü * 4„ , r
1 ° ° . ' nesc3sar' an5 que daran las diehos contratadores en cada un trio de los y » ^ i41_ .,,
ced Con condlC' de ellos su magesiad hazet metetd à la persona que tueiere por bita
aue los navios de k s combeneagas que los diehos co&tuudcm tez&ta t
d° 5 Con condlCl°rt,a en virtud deste asiento è conforme à las condiciones de!, eniratoo deatro
reo Por s*.* CÜenfíola hasta el dia
L hasta dia de
de San
San Juan, den
den cuenia antes
antes çd que
çd q se acaba—este tú*a m ,
r-------L
fUfiel rfeíno oes a
feíno à an&& wss dei
<jei dicho rreino, hasta en
en fin
fin dei dícho
dícho aão
aão Je oovema y ua que
fsaldtao de enirando ni saUenào los dichas navios en los üífpos amba declarados,
è o seis cuenia de la hazienda de su magestad los derechos que dellos sekvierea de
S° e P°r
rohraf* j> j0n que ^os ^ c^os conwala^ores vornan en si ta cobranza de todas Us conve-
Con c ° nm esian hechas por el contador mayor, desde el dia de San Jüan deste a o 5
e0ga5 de angO c^mknza à correr el tiempo deste asiento, é daran i pagaran à h haaitada de
prfiset'16 en ^ c^0 quentos de rreis por las dichas convenengas dei dicho ano,qaier remcnqaKr
maSesia ° t0 de las mesmas conbenencias, los quales diehos ocho quentos de rres los di-
(lO, ^ l° s rre^e{i0ves pagaran à la hazienda de su magestad, dentro en el tiempo de los seis aõos
chos c ° ntraia tanto en un ano como en oiro. — El qual asieato visto por el sefior presidente
(jesie asteu10» ^ jjuen0 é se ohligo en nombre de su magesiad à lo hazer cumplir, con
iia^lead^í 0 condiciones é obligaciones eo el nombradas, è los diehos antoino mendez
todas k s c au eíj r0 sevilla azetaron de lo cutnplir h mantener, so pena que no lõ bazieodo
lameS0 ^ sU ^azienda todas las perdidas é dados que la hazienda de su magestad por
ansi, pagara« P firmeza de todo, el dicho sefior presidente de !a hazienda rnandò haier
ello resciviere, ios asientos, à donde fitmaion con los ofkiales de la dicha ha-
eSte asiento en presentes, blas de acosta, portero deste essi de la hazienda, é juaa de
zienda, Por ^ . n e^a . è puesto queste asiento se continuare à los seis deste mes de julho,
4
olivenzaj ue SirJ oie ^ oCho det dicho mes. luan de Tones lo fizo en Usboa, en el dicho dia
.g firmo à l ° s v . ju t0 ^ze escrivir. Jüan Gomez de Silva. Yo el Rei.
mes à «So. yo.diego
Alvara de confimation
, los queste albaran vieren, que yo bi el asiento atras escrito que amorno
Hago saver H ^ moradofes en esta ciudad, htzieron en mi hazienda, po,-
mendez de lamego p ^ é conbenencia dei rreino de angola por üempo de seis anos,
que se obligaton o ^ ;uan bautista deste ano presente de quinientos eochenta y stete
que començaron p à ^ apamr el senor Rey don Enrique mi uo (que dios aya) dei
anos y de la q g t0 Tomé, é conforme al modo è horden que hasta aota andubo por
asiento de la ysla ^ S“ ‘ ° J dla en cada uno de los diehos seis anos honze quentos de
cuenta de m. haziend , p g rQ dfi ]a casa de ja m'ma, é ansi ocho quentos de rres ma
4**
DOCUMENTO N.° 5a
Dom PhilHppe et<^ faço saber aos q esta lei vire que o snõr Rej dom sebastião meu sobri
nho que deos tem fez hua lei na çidade devora a xv de março do ano de mil e bc Lxxj na ql
defifendeo que se não podessem captiuar os gentios das partes do brasil senão nos casos e pelo
modo nella declarados, e os que de outra maneira fosse captiuos declarou por liures como
mais largamente na dita lei se contem, e porq sou informado que os moradores do estado do
brasil vsam de modos jliçttos palleando causas para dizere que comforme a dita lei os captiuão
etn justa guerra, e procedem em tudo contra as pallauras e tenção da mesma lei captiuando os
injustamente a hüs por engano, a outros por força do que se segue grande jnconvenientes assj
para as conciençias das pessoas que pela dita maneira os captiuão, como pelo que toca a meu
serulço, e a bem da conseruação daquele estado, e querendo eu ora nisso prouer com o pareçer
dos do meu conselho, como conuem aseruiço de deos e meu, pelas ditas causas, e outros justos
Respeitos que me a isso mouem, e por atalhar ás cautellas com que os moradores das ditas
panes procurão fraudar a dita ley ey por bem de a reuogar como por esta reuogo, e mando
que daqui em diante senão vse mais delia, e que por nenhüu caso, nem modo algüu os gentios
das partes do brazil se possão captiuar saluo aquelles que se captiuatem na guerra que contra
elles eu ouuer por bem que se faça, a qual se fará somente per prouisão minha pera isso paru-
cullar por mim asinada, e aos que de outra maneira forem captiuos ey por liures, e ey por
bem, e quero que aquelles contra quem eu não mandar fazer guerra viuão em qualquer das
ditas partes em que estiuerem em sua liberdade natural, como homãs liures que são sem pode
rem ser como captiuos constrangidos a cousa algüa, e querendo os moradores das ditas partes
do brazil seruirse delles, lhes pagarão seu seruiço, e trabalho como a homes liures, e contra
os que da poblicação desta ley em diante per algúa outra maneira os captiuarem mandarei
proceder como ouuer por bem, e for meu seruiço, e mando ao gouernador das ditas partes do
brazil; e ao ouuidor geral delias, e aos capítaés das capitanias, e aos seus ouuidores, e a todas .
as justiças, officiaes e pessoas das ditas partes que cumprão, e fação muy inteiramente comprir
e guardar esta lei como nella se contem, e ao doutor simao gonçaluez preto do meu conselho,
chanceller mor de meus Reynos e senhorios que a publique na chancellaria e emvie o traslado
delia sob meu sello e seu sinal por tres ou quatro vias ao gouernador das ditas partes do brasil
ao qual mando que a faça poblicar en todas as capitanias, e pouoaçoes delias, e registar no
liuro da chancellaria da ouuidoria geral, e nos iiuros das camaras dos lugares das ditas capi
tanias pera que a todos seia nororio e se compra inteiramente, e assy se registará no liuro da
mesa do despacho dos meus desembargadores do paço e nos Iiuros das Rellaçoes das casas da
supplicaçam e do porto em que as semelhantes leis se registão, dada em lixboa a onze de No"
vetnbro diogo debarros, a fez ano do naçimento de nosso senhor Jesus Christo de mil e b°Lxxxxb
pero de Seixas o fez escreuer ./.
Foi poblicada na chancellaria a lei dei Rei nosso senhor atras escrita por mym Gaspar
Apêndice 485
„ j-nj perante 0* officiât* <1* <üu chaneatlifM, t otitnt stati gfflfí qt*
8do «^"“JdSacho, cm^ bo1 * noV{ diu <**toa*« de ,>9) «fc I
DOCUMENTO N.* 53
# m
, tr REGIMENTO SOBRE A ORDEM QUE OS PADRES
/jT ^ ífp A N H iA HAN de t e r com 0 a a m o das p a r t e s
A a COMF DO BRASIL
■ faço saber aos que aluará e Regimento vir? que comsíderamdo eo o tsxm q»
gu ^ ^et . comufirÇâo ® enl*° *iras^ a nossa saDía k* católica, e pera cottscnttçio
o0rta Pafa, dar ordem comque o gentio dessa do cenSo pera as panes »«iaíiKajpo.
*1 oufi*le e5lânaturae$ deste Regno e se comomquemcomeiies, e aja «ire bus e outros a feòt
nlç°^s á°Lncia <íue conuS pera VÍuerera en^ * ° econformidadefte pareçeoeDcarraar
S * esp°laua»w cu não ordenar outra cousa Aos Rdlegiosos da colp4 ú dejcsuocut-
n 0 tot3’ r J deçer este gentio do çertao, e 0instruir ms cousas da Relegilo Cristamé do-
L do àe .“ inar e emcammhar no queconue ao mesmogentio assj oascousas desuasaiaaçío
-piíti«*f’ 1. enda comfl, e tratamento com os pouoadores, e moradores daquell« pana, 00
°a - pela maneira seguinte./. 1 K ^
CO
proc
edera
que
■ „ratnente os Rellegiosos procurarão por todos os boõs meos encaminhar 0gentio
Pfl venha morar, e conuersar comosmoradores noslugares que ogouentador lheasiniri
para <iue r j 0s Rellegiosos perateremsuas pouoaçoés, eos Rellegiosos declararamao gentio
com PyJ e que en sua Itbertade viueráo nas ditas pouoaçoés, e será soõr de sua fazenda
que he na serra por quanto eu 0tenhodeclarado por liure, emandoque seíacomscroado
assj c°! bertade, e vsarão os ditos Rellegiosos de tal modo qnampossa o gentio dizer que o
en $ua. * er da serra per engano ne contrasuavontade, e nenhua outra pessoa poderáentender
fazeítl zer 0 gentio serra a0S ^ ares fiuese &e handeordenar per suas pouoaçoés./.
£ os Rellegiosos não darão de sua mão gentios aaiguáspessoas deiles emsuas casas senão
lo tempo declarado neste Regimento e paguando lhes seus salarios para que entudo se ajao
por homês liures e seiao como tais tratados./.
0 gouernador elegerá com pareçer dos Rellegiosos o procurador do gentio de cada po-
uoação que serutrá tee tres anos, e tendo dado satisfação de seu semiço o poderá prouer por
outro tanto tempo, e auerá por seu trabalho o ordenado costumado, e o gouernador, e mais
justiça fauorecerao as cousas que o procurador do gentio requerer, no que comrezão justiça
poder ser./.
Averá humjuiz particullar que será português, o qual conhecerá das causas que o gentio
tíuer com os moradores, ou os moradores comelle e terá de alçada no çiuel tee dez cruzados,
« no crime açoutes, e tee trinta dias de prisão,/.
486 Angola
E o gouernador lhe asinallará os lugares onde hande laurar, e cultiuar, e scr&o os que o
capitSes nfio tiuer? aproueitado e cuhiuado dentro no tempo que são obriguados conforme a
suas doaçoes e o mesmo gouernador lhos demarcará, e confrontará mandando fazer disso
autos ./.
E este Regimento se entenderá nas pouoaçoHs dos gentios que de nouo desser? do çertão
per ordem dos Reliegíosos da companhia e nas mais que per sua ordem sam feitos, mas avendo
outras que estem ordenadas per outros Rellegiosos, e a seu cargo se guardará a forma que tn
tee gora as gouernarão ./.
E o ouuidor gerai devassará hüa ves no ano daqueiles q catiuare os gentios contra forma
da lei que mandei passar nesta cidade de lixboa para se não poderem captiuar a onze de no-
uembro do ano passado de mil e b* Lxxxx e cinco, e procederá contra elles como lhe pareçer
justiça ./■
E mando ao gouernador das ditas partes do brasil, e ao ouuidor geral delias, e aos capi-
taSs dos capitanias, e aos seus ouuidores, e a todas as justiças, offiçiaes e pessoas das ditas
partes que cumpram e fação muy inteiramente comprir e guardar este meu aluará e Regimento
como neile se conter# o qual se registará no liuro da chancellaria da ouuidoria geraí, e nos
liuros das camaras dl s lugares das capitanias das ditas partes pera que a todos seia notono, e
saibam a forma em que os ditos Rellegiosos hande proçeder nos casos deste Regimento, e se
cumpra inteiramente e assj se registará no Huro da mexa do despacho dos meus desembarga*
dores do paço, e nos liuros das Rellaçoes das casas da supplícaçam e do porto en que os se
melhantes aluarás e Regimentos se Registão, Pero de seixas o fez en lixboa a xxbj de julho de
mil e beLxxxxbj e do teor deste que hee a primeira viu mandei passar mais dous pera jr por
tres vias, comprirsehaa hú somente ./■ <Arquivo NicionaI daTôrr* do Tombo, Um, lide Leis
foi. 3 o a 3 i).
DOCUMENTO N.° 54
En la villa de Madrid / a dos dias del mes de mayo de mil y sseis cientos y un anos / an-
temy el escribano e ts. / parecio presente el senor Joan rrodrigues Cautino / governador y ca-
pitan general del reyno de angola / estante en esta / villa y digo quel esta combenido/ concer
tado / y por la presente se conviene y concierta con el senor Jorge rrodrigues ssolis / de le
vender quatro cientas licencias de pieças desclavos / para las traer del reyno de Angola a las
Indias de Castilla / y por cada una pieça le a de dar el dho Sr Jorge rrodrigues quarenta du
cados en esta manera / los trese dellos por Ias lizençias de la saca de las dhas pieças del dho
rreyno de Angola à Yndias de Castilla / y los veynte y ssiete rrestantes a cumplimento a los
dhos quarenta / por las lizencias de los que se niederen dentro de las mismas Indias / que se
ha de entender saco de Angola y entrada de las dhas Indias / que las dhas quatrocientas pieças
desclavos montan dies y sseis mH ducados/que es a dar y pagar luego de contado / por tanto
digo y ortogo / que vendia y vendio al dho Sr Jorge rrodrigues ssolis las dhas quatrocientas
lizencias pieças desclavos / a precio de los dhos quarenta ducados por licencia / para que las
ssaque y haga sacar dei dho reyno de Angola / y meter en las dhas índias de Castilla / de las
quales Io rengo de dar y entregar los rregistos y licencias delias/para deste primero de agosto
deste presente ano de sseis cientos y uno en un ano siguiente / y de los otras ducientas para
desde agosto de sseis cientos y dos / hasta sseis cientos y tres / parraque en esta tiempo o en
el que dei rreste / pueda navegar e traer dei dho rreyno a los índias de Castilla / las dhas
quatro cientas licencias desclavos / las quales a rraçon de los dhos quarenta ducados / suman
y montan dies y sseis mill ducados /los quales el dho senor Jorge rrodrigues solis le da y paga
al dho joan rrodrigues Cantino / luego de contado / en dineros de plata Castellanos / de que le
pido al pressente escrivano de fe / e yo el dho escrivano doy fe / que el dho Sr Joan rrodrigues
' r
' /
/ y
' d
/
lí
Apêndice 487
y paso 3 su parte r poder/a ,
lo* r(fy 'el ■ %
íb<dho
° S>Joaorrodriguesdigoy *dh° $ 'W
r :£ / . r -•
Jfro* d ^ s/y
m as demqM
asia /
de,Tbuena
Ía que /
p K Í J e s ea !ss dhas pief* s A cla r o ,/ to
ftodrjos P ^, ÍVten*r
pWa n ***p0 f u j ^ 1/
k ta n ^ lt t ih>dhn
n**+
<p , é* *,
/***
*Pc0S(a
£ & s/d a õ o s/in tereses y m enos
« / t o a » d ,e s Z í J T * lQ r0/ **/«< « * * / , ' ^ - 5
inego qu e d e lo suso dho c0nZ qae^ r Z é l * t r J ? g ,t/ * e i / ’ *
10 >vav — ------ -- çscmara / a to q&síi tt» m «! p.^T
co^ /e& o 4U? . u c h o y ortogado con lasfuerçasnecesanas/ypar» qrnbre*****p * Círoeaa
?fcr
155 fí}^ > > 8* eS j obliga su persona y bieaes / muebies y r/tyc« / ando* y por
/jS > ° 7 0 10 todo su poder cumplido a iodas y quales qoici jortid» yjueçes dei rry
Hioy oi°rS°er partes que sean / para que m \ t t io agan iener / guardar / j caspkr
f /1 d'e quaí£S^üíoraria dentro de su distrito y jurisdícion/ y rremmeío él soyo pfoprio
sí 0 5* I . vjviefô ? f 0 / y & ley std conbeneríd áe jorisdicíoneo m im judiomi / como ri « tt
* ,0 0 * *v/ n ootw,luv 0
M fuerasententíadefiaidbadejues cmmtntdpor
......... T “vwuluüaQeju« comperecty eípedidafa»-
por ri pedida J ctti*
C? </z«da ® sutoridad d, « » . - - • ’ '
iüri5°'wí0 eíi ^ C{\&} y Pasâda eíl auror*dad ^ C0Sa jusgada/ sobre A rrenacrío toda* y
c&v ■ - .paou -i jg sU labor ,/ J, te ley
sU__ - e rregía
-o- dei utl'
der*que dije
Hueo1 !«quegeiferal
gewraErremmcw cíadoo
cíoo de
eff1 *uief ^c^fS -(»declara ouel dho Sf Jn»h
ia /y; se ^
Oilüf — declara quel dho Sf Joan rrodrigues Cautmo/para queptteda pa»r
4u í!íffieha \ íinrt
■ ° r4c/rrodrigues
m f ‘%aes!« las fdhas
» quatrocientaslicencias Ha / p« ^ ^ ^ *-
, gduanmf/as e de todos ]0s de«,« ' dsM* roj/s4;S| díra ^
je rivn , Íí? quaí dara dentro deí termino que se a jr . ^aç ^ devíereg «oj- ,_n ..
den rocie««5 lí«flCías / 0 ^ aI 9Ul« a J»ne delias/ )as “J /eÍ3ÍÍ« « * navegas , J dhis
^ te / c o o o mas a su voluntad S i M/ j k & > \ w egsI enlof ^
' í S f '« // » / f e»>pir Í S e— P*r ? 4 7 ,
!£ , ».«*»'■ 1«“ * * ’’ ~ t '• f~ ví »* i x * - « / , d to
A'9My Joan i&Cauíinho.
Juãn de Çamorjj.
r • - J<m
DOCUMENTO N.° 54
de aver asento na renda dos negros e andando enadministração rendia tão pouquo
Â/ ieS 0 de reditos rendia cousa de consideração, peio quesuamg*queesta
qUe ne a ^ que ea iodo 0 casso searendaseese fez 0primeiroasento so anode 9Scõ p.
en glí>r,a j ^reçõ ^ çemfnií du01cadaano e se íhe derãomil ducados derenda de juro
Gomes « ant«nünez caid1 ao qual se avia aceitado lanço nestarenda cõ dous mil
P°ú»deTenda de juro de prometido que , se lhe derão todas as licecsas
^UÚ' administrador que então era tivese vendido des de fio de novembrodaqueleano eos que
^mesmo vendeçe ate fin dabril seis mezes e tudo isto se cedeupor dar os ditos
ete peja rencja corao se pode ver pelo seu contrato na seista condição deíe por onde
IbTfiwu custando esta renda menos de cenq" mil du- cada aano.
O seg^ arendam19foy a hü Roiz coutt0en cento e setenta mil duMcada aao 0 qual se aão
conprio ne ahançou antes se veo dizendo que fora íezão çengaao por aver dado pete renda
tanto mais do que valia ne podia dar de sí.
488 Angola
O te r« arem dam 1“ foy a g«> v a z c o m i ' que se fez lo go seguido ao de seu irm ão e fov ^
c e n to e c o r e n ia mil d u - c a d a ano c o lhe d arg todas as líçenças que p. G om ez Reine! tinha n
vcg o d o de m ais d as que lhe perten ciaõ p elo seu co n trato que erão m ais de dez mil licenças**
que os p a g a çc á ra z ã o de vinte e ires du°* p o r ca d a um a e que todo o mais lhe fiquace
a ele c ô que fiquou o c o n tr a io p o r menos de cen m il ducados cada ano com o consta da con
d iç ã o d o m esm o c o n tr a to 44 e da c o m a das licen ças de Reinei isto A sua pagar coai
to rze núl du°» de p rom etid o ao dito Reinei p or lanço que tinha feito nesta renda de cento ê
v l# m il du°* ca d a an o, cõ con d ição que sua mg* dezestiçe de tod as as pertençois que contra
ele tinha do prim ° c o n tr a to que teve que p o r se lhe aver aseitado a esta condição ganhou o
d ito p ro m e tid o .
O q u a rto arendam 10 fo y agostin coelh o castelhano que o tomou en sua cabeça param anoel
de b rito p ortu guez en cento e setenta m il ducados cada ano, de que se lhe mandou
ab ater tres m il du°' c a d a ano de p rom etid o e fiquoulhe en çento cinqu e sete mil o qual logo
f& ito u e d ezap areseo,
O qu into arendam 10 se fez co m ig o en cento e vinte m il du°* cada ano e cõ aver tres anos
que esta feito que se cum pre en prencipio do mes de m arço que ora ben se me a suspendido o
com p rim to dele p or se dizer que conbinha que os negros fosen por sevilha nas frotas sorteados
c o m o as m ais m ercadorias.
349
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. F . G. Mas. n.0 « 2 *
^■ Relação dos arrendamentos que se aÓfeito na renda das Licenças.
DOCUiMENTO N.° 56
En Portugal tem emtruduzido couza os ornes de negocio de pouquo tempo a esta parta,
que he de notável dano a Real fazenda, e não menos p- os povos do dito Reynno e suas con
quistas: Gomo he sairem os navios dos Portos delle pera ho estado do Brasil, E reynno de
Amgola, e outros ple* he jrem fazer pmr° escalas a portos deReynnos estrangeiros, E venderem
e comprarem sem paguar direitos á Rial fazenda carregando seus navios de sedas meas mantas
mto* panos Raxatas, e baetas, fazendo estas carguas, em sevilha, e em outros portos decastella,
e com registos fengidos que tirão pa meterem pesas em nova espanha se vão ao Reynno de an
gola, que he porto liberto, tomando os mais delles pmro os portos do estado do Brasil com
achaque de arribados, e como são de registo, não se lhe mete guardas, e asim os mercadores
p* quem vão as dittas fazendas tem modos de as poderem tirar, sem tocar em alfandega, ne
paguarem os direitos q. nella estão devendo. E mla plc dos mko* que pela sobredita forma vão
a emgola torna ao estado do Brasil e mu a bonos aires, no que recebe grande perda a fazenda
de V, Magáe e o pior de tudo he que destes portos, e principalm16 dos das Canarias tirão todos
os annos mais de vinte mil pipas de vinho que levão ao estado do brasil e reinno de amgola e
a outros governos, e todos comprão a dr° de comtado, com que tirão do Reinno grande can-
tidade delle todos os annos, e estão os povos perdidos pelo sobredito retirar a vazão que seus
vinhos custurnavão ter pa as ditas plei e a esta rezão estarem tao abatidos que esta valendo na
comarqua de lamego, a menos de coatro mii res com o que não podendo os omês
comsertar suas vinhas, as deixão a monte, no que recebem grande perda, e descolasão os va-
salos de Vmagdee tu d o---- zado com a emdustría e mau arimo dos mercadores omês denasão,
os quoais não cudão em outra cousa senão como ão dever acabado de todo aquelle Reinno,
e tão bem neste particular tem feito a dilisia grande danno aos moradores do estado do brasil
e reinno de angola, que custumando comprar os vinhos de portugal a outo e des mil rés a
pipa, agastam aguora dos sobreditos quando he mí0 barato, a vinte, e dous mil ré s,.......... e
sinquo a trinta mil rés, e nas capitanias de baixo a corenta e a sinquenta e a sesenta mil rés, E
no Reynno de angola mu# vezes sem mil rés com que estão empobrecidos a todos estes dannos,
sendo V. Mga®servido se pode acodir ordenãdo V. Magde q. o navio q. for pa aquelas plea não
tome porto de Reynnos estrangeiros né compre nê venda nelles, e so levem despachos dos
portos de portugal cada hu donde sairem e quem o contrario fizer e levar mercadorias de ou-
95
í^f$B fr
Apéndtce
489
409
m m i
k
DOCUMENTO N.‘ 5y
<Ja í5
* V
49° Angola
puesio en Ia execuçion de las prohiuiçiones que esran echas y su cumplimiento tan encargado
Por diuersas çedulas y ordenes mias de q. el es puede dejar de poner gran culpa con exemplar
castigo mayormente hauiendo tantas Raçones de sospecharse que an dissimulado y consentido
en ello por sus utilidades y aprouechamienios y que los danos que de estar aquel puerto auierio
y permíterse la entrada de negros y mercadurias por cl se siguen son muy grandes y notorias
pues de proueerse por aquella uia esas prouinzias de Ias dhas mercadurias y demas cosas ne-
çesarias a precios baratos y con comodidades como las pueden hacer los que las lleuan sin
pagar derechos Resulta yrse como se ba acabando el comerçio y trato de Ias índias y los car-
gadores de seuilla estan yendose y rretirandose con los caudales que les quedan sin atreuerse
a cargar en las flotas biendo la mala salida que tiene lo que ba en ellas y que avn no sacan ei
gasto prinçipal y que sulten (?) perder dei con que se desauia y emposibilira el despacho de las
Rotas de tierra firme que todo obliga a poner breue y eficaz rremedio y como quier a quell
estado de las cosas de los dhos puertos dei rio de la Plata no pedian menos que vra Persona
deçeiyo çe do intereça y inteligência tengo tanta confiança considerando tambien la falta que
ariades (?) en la audiençia habiendo des (?) em persona como se a deseado estaua
determinado y rresulto y pareciendome que vrã Prudençia y buena allaran
que tanto conbiene me a parecido encargaros y mandaros como asetuosamente
luego (?) la cometais y encargueis esta diligençia a vno delos oydores o fiscal de esa avdiençia
o otra persona la qu/ vos pareciere-tam aproposito quanto la gran ymportançta dell casso
rrequiere a Ia qual d|>ees instruçion de lo que a de haçer con orden de que por el camino y
llegado alia se ymforme averigue y sepa por iodos los médios y bias que bieredes que se puede
entender todo lo que en los sussodho a pasado y passa y que nauios an entrado en el dho
puerto de buenos ayres de donde y de que personas y con que mercadurias y negros y quien
los acoje y dissimula y da yuda para que descarguen Ia que lleuan y que denunçia-
cçones y proçesos se an echo sobrello y que nauios an salido y con que Plata y rrejisio y para
donde y con que licençia v si en los nauios en que se a nauegado Ia permission que tiene
aquella probincia si an metido abueltas algunas mercadurias pasajeros y sacado oro y
Plata y por que personas haciendo sobre todo ello las aueriguaçiones y dilijencias necesarias
no solo para el castigo si no para el rremedio que piden tan grandes excegos (?) y deshordens
y quebrantamientos de las que tengo dadas y que proçeda contra todas las personas que allare
culpadas castigando las conforme de derecho Hebando sus sentençias apura y deuida execucion
otorgando las apelaciones que delias se interpusieren en quanto biere (?) lugar de derecho
para mi R1 consejo de las yndias y no para otro tribunal alguno y a la persona que para ello
embiardes doy tan bastante poder y comision como en tal casso se rrequiere anssi para todo
Io sussodho como para cada cossa y parte dello y mando a qualesqr personas de qualqr calidad
que sean de quien para la aueriguacion de lo sussodho se pretendiere baler que acudan a sus
llamamxentos y dígan susdhos y dispusiciones segun y a los tiempos y plaços que los ordenare
so las penas que les pusíere las quales execute ya executar y a los qui rremisos y eno-
bidientes fueren y embie al dho mi cons0 de las índias los proçesos orijinales y los que allare
y pudiere auer de todas las causas pasadas y denundaciones que se obieren echo quedando vn
tresldo eon rrelacion particular de todo Io que obiere echo y el rremedio que obiere puesto
para lo de adelante y tambien me enbia Rm particular de lo que destas diíisençias Resultare
contra portugueses castellanos de los que estan a ca auisando me de todo muy parti-
cuiarmente y dei castigo que subiere echo en los culpados es qual sirua de exemplo para loue-
nidero y sesalga de cuidado que se tiene y que otra tal relacion para que habiendo la bisto me
entieri sobre ella Parecer como os do encargo que en ello me hareis muy Particular
seruiçio fha en de de mill seiscientos y treceanos.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. F. G- Mas- 2^9, fl. n).
Apàdice
491
documento n.* jg
^LqäTomavl°
fcad v cobrarem <» «u. . ^ ^ a
ordem para
tinb^®«a- „8aWo* dê píSaS lhe
.... Pr_0. - m 0
; gUT 5feitos
------ —«a^u«u >ucíoj concedida
Y emqual?tK
que m constderadm » 0 d(B m W t o [ „ coneedida c o m ^ '
r ^ (■
coa parecer
p0ríasse J, faz^ qoe - emeonsideradam *® o deu sem advertir T 50 se «uemderú nos n
q. so se em em deria nos n»avi
K -d°r fla ichos híão
despachos híão aa nova
nova espanha.
espanha.
Pastos q. con t
de reg‘ ^BibliotecadaAjaja. Cól5i-Tin-i3i fob, k \
DOCUMENTO N.° 5p
irangeiros, estrangeiro ser tido por natural pera o dito efeito seja neçeçsrio aver ri*
6 ^ d ito s Reinos ou yndias vinte annos contínuos os des delíes com cassa e bens de Rais
VÍd° n°a com natural e com primeiro fazer no conçelho de yndias as deligeoçias coateudas
6 Cdita
na jSSaproví
rnvisão que
h são muitas Revogando as leis que concediao a dita naturesapor meaos
tempo e sem as ditas condiçoes; .
e qne não possa nenhum estrangeiro vender fazendas a pagar em yndias
e que não pudesse vir de yndias nenhum ouro, prata, peroías, e pedras, e outras mercado*
rias Registado em cabessa de nenhum estrangeiro e ysto com penlimemo das ditas mercadorias
e de todos os mais bens das diias peçoas;
492 Angola
No que sc faz a dies supp'*' notário e manifesto agravo, e a fazenda de Vossa Mag* Re
cebe grandisimo prejuiso e dano pellas razoís seguintes que se devem comçiderar pera vossa
Mag* mondar aquillo que vir mais comvem a serviço seu, utilidade de suas rendas, e bem co-
mum de seus vasalos, para o que sc deve comçiderar:
que Vossa Mag4* tem nestes Reinos dc portugal ires contratos que são o de são thome,
cabo verde e amgola, que andão arendados em mais de cento e vinte mil cruzados, e em castella
o do estanq" das licenças de escravos que emtrao em yndias, que anda contratado em mais de
çento e sincoenta mil cruzados, e todos estes contratos de portugal tem a mor parte do Ren
dimento nos escravos que dos ditos Resgates se tirão pera yndias, que lhe rendem cada anno
muy peno de cem mil cruzados de direitos, alem de cento e sincoenta mil cruzados que Rende
á coroa de castella o estanque das ditas licenças.
O proveito que fazem em indias estes escravos he tão notorio q. he desneçesario apomtalo
a V. Mag41 mormente oje q. por mandado de V. Mag* se tirou aos moradores daquellas Partes
o serviço de yndios naturais delias, pella grande deminuyção em que hião, por cuja falta se
metem oje no benefiçio das minas escravos de g(u)ine, por cujo Respeito vossa mag* mandou
emeomendar ao Marquês de Castel Rodrigo viso Rey destes Reinos de portugal que fizesse yn$-
tançia a que ás ditas partes de yndias fosem dos ditos Resgates muitos escravos, os quaes dei*
xando de hir por Respeito desta nova çedula que vossa mag* mandou pasar, Resebera a fa-
senda de vossa mag** danno grandíssimo asy no Rendimento dos contratos, como no das minas
de ouro Prata e esmeíddas e na pescaria das pérolas, de que a Rfeal fasenda de vossa Mag*
Reçebe seus quintos.
Sendo ysto asy he de conçiderar que todos estes escravos os navegão portugueses omens
de negoçeo destes Reinos que armão outros que mandão a todos os ditos Resgates em navios
com liçença de vossa mag* e Registos que se lhe conçede na Cassa de Contratação de sevílha,
sem o qual nenhua pessoa vay as ditas partes.
Porem devese comçiderar que aynda que vossa mag* conçeda a tal liçença aos armadores
e a pessoas que elles nomeão pera averem de navegar as ditas armações e Registos, nunq a
fazenda que levão he so do homem nomeado no Registo, antes he de diversos que pera o tal
hefeito fazem companhia e quando querem partir dos ditos Resgates muitas vezes por subçeços
que aconteçem, lhe faltão escravos com que emcher o dito Registo, os quais comprão de omens
asistentes nas dítas partes de gine, a pagar em yndias, com cujo mejo se façelita a navegaçao
e apresto dos ditos navios, pello que se ouver de aver efeito o ponto porque Vossa Mag 6 de
fende que se não venda nenhuã f. zenda a pagar em yndias, nem os que tiverem liçença pera
poderem negoçear em yndias o farão com fazenda de outrem, não avera nimguem que negoçee
e totalmente secara o comerçeo das duas partes, mormente que aynda que çeçem estes ym-
comvinientes, o fica sendo mui grande defender vossa mag* que não possa vir o dinheiro, ouro,
prata, e outras mercadorias do Rendimento dos duos escravos, Registado em cabessa dos
omens que os navegão e das peçcas a quem pertencer nem dos omens portugueses estantes em
sevílha conheçidos e Respondentes dos deste Reino e que fiados em que o dinheiro que de
yndias vem do Rendimento dos escravos que mandão navegar os omens de negoçeo deste Reino
ha de vir conçínado a elles, os acreditao aseitando lhe suas letras e emtretendo lhe o dinheiro
a cambio ate vinda das frotas, o que não quererão fazer quando não estejão ynteirados que o
dito dinheiro a de vir a entregar a elles pello q. quando em todo não çese o comerçio çesara
a mayor parte.
Demais que vossa Mag* mandou por çedula sua que os Resgates deste Reino de portugal e
comquistas delle fosem nenhus estrangeiros, E por outra nova çedula mandou que se não en-
tendese em castelhanos e biscaynhos porque erão naturaes, e da mesma man* deve vossa mag*
mandar que se não entenda a çedula que ora se pasou pello conçelho de yndias com os portu-
jpiezes, visto serem vasalos e naturais de vossa mag.*
E quando portuguezes não vão ou mandem Resgatar e navegar estes escravos he Visto o
damno que a falta de se navegarem cauzara a fazenda de vossa Mag* porque a experiençia
Apêndice 4f;3
CaswItiM« na«gío
_ muy . . «. n«h<h, Z.{Wi&l
. pouq“ p ^ fí»M
xtüào ff)dl 3 ( por
na^eg3ÇÍo de pdtas ftftf tttcs
Mfita meov, ao* p^rtu#**** ha '
qo#
rt»
IM °5 u”
<na
lrtf08
je <>5ie 4
^ttô Reino*«
m a dc*lc
/.nfO»
defeodef*
QC> > ......................
* V•• " **'« Canííhm* Kt<m M v
- " w«Mcm»w>* ar« « * dc yr
nr- ufrJ
'»f» d*™ Rftts*
jí *f» »-
fl3 C°oi Pelta C°e se lhfiS conçC(*9 nüm<íua Ilía^° 4 lerça Paru dii pç«$ 9* tt n t ^ k h
'\0 b* a l« d* t navio* tio de seviíha e mais portos
. de
— iftjtHmt *»1
** CAto«
|T>S H wgl **> r *
ftW
ate* ç alítun5 1 ., *m*ns de neeoceo norm s»*?** •*— -
*—
atc' c slS^ ^ Ior oiTíen* de negoçeo portuguews, moradores nas ditai pirtes i***4
^0\Qpl #p0* T 590 gj05 e lhe* e dvfeto por eui çedüU át tosu mig* 0pofcrtr- ~% V * 1
5^° ficã° câC.lWe antios de Residência continuo*, nos ditos Reuat ot tmt&&i »e «v®**
^ ^jjas,s€í0 VII||aí declaradas Pello que hos contriudortc de angola e um
c(ti yn^fldÍÇ0® $°[oS no coaçelho da Fazenda deste Reinot pretendemec&anptt w div* «m*
d'»'5. 5eiJ! Pr°
f4U°s
tfat°s‘ Ma&esia<*e 5e s*m mfim*ar qao
_ 1 a dita çeduU se nioenttada oâ w4o
. . . f -
p e d e ^ a ^0
v^,S" 5üiarm ente nos
^„,m*nte nos omens
omm que por sy ou
tmení» por outrem
............ nitegl©
— ---- ««»’e »os para »
lEm eza ^aten'0
oftUjr
W ..*c ateotü
af serem sc os portuguezes
a *.. ........
w .,---« t espanhóisvasallos de cossa Mag* ecque
r^aiiui»*sa#iiuí wiww que wno *
a«C3rr/,ij
cosssto
j*tas ParteS*s pendas em tamanha caatídade se avamijão de todos os mais vanHot de rossa
-L
Ac 5üaS he notorío e que não he justo sejâo tratados como alcmaw yuÜlftQs ffiaçtirse
Ma?de C0Íge>r0S 3 ^US V°SSa ma^* ^ ^USI° ma^ ^ en^er comercio,
«»ais estf (Biblioteca Nutonal daLiiboa. R*«ndoi.Co3«çU PoaíJ.sa. ?i«. tá , fafr
t
DOCUMENTO N,” 6o
elrey
Licená° Antonio àe Ohaado mj oídor de mi sud, m ,, .
de tier« *«« Por J mfa de que con * paeama * (a -
tíemp0 que ande aver b,b,do j rresididoen esfos 'f* ' «t* mande dec)«,“ “
esiranxeros qne pretenàeren namrafezas y HCénrí„ I Sy íos «quisito» a « snJ; J ” ,
D O C U M E N T O N.» Gi
E IR ey.
D O C U M E N T O N.® 62
1.— Não se levao mercadorias as jndias en 1.— o que se disse no Conselho sao as pros-
navios de negros nen se pode dizer que se supostas que aquj se appntão que nos navios
levao senão presupondo que os offiçiaes de sua de negros que hiao das conquistas de portugal
mg* que la stão as encobren porque en che as jndias os levavão carregados de mercado
gando os navios logo os vezitão e se asy o rias de muito valor pelo Rjo da Prata e porto
fazen como os não castigarão nunqa, e se cas de Buenos ayres furtando os direitos do al*
tigou tanto a Real fazenda e o ben comun, e moxarifado e que por este caminho enchiao
se as encobrião de que se lhes podia segír tão todas as jndias e o píru delías>e que por não
pouco fruto que duvida ha que as encubrão pagaren direitos as davão por baixos preços
oye e yunuamente negros sen pagar direitos de que Resultava grande dano a Contratação
de que se lhes poderá segir grandes proveitos e carregadores de sev* que por essa cauza
por onde não so se atalhão enconvenientes não tinhao valor nen. despediente as que hiáo
mas antes se apresentão com grande ejeeso de sevilha nas frotas.
nen pelo Rjo da prata foy nunqa navio de
Registo de negros depois que sua mgía prohi-
bio e os ejsesos que por este caminho ha avido
forão cauzados das premisoins que sua mg*
deu aos naturais daquelas provinçias e quando
por aly se ouverão levado e trazido prata que
ten que fazer ysto con a Renda dos negros.
3. — Todos os navios que vão com negros 2. Que estes navios en que levavão os ne
ficâo nas jndias por que se ouverão de tornar gros os trazião carregados de moeda de ouro
fizerão mto mais gasto do que elles valen e e prata e que por este caminho sahtão grandes
para ysso os busqão velhos e como se pode quantidades de prata a Rejnos stranhos fur-
->»*■ ** v j
Apêndice
que be ? g tornáo logo nas frotas para deso. fesen C6a° 80991 * *
4 *
*S <
I r v
Angola
Seven fufiando todos os direito9 assy de Por
tugal como de Castelo, e este sera o menor
ma) por que sc faltase o comercio dos portu
gueses nestas conquistas seperderião e hirião
a dias os inimigos como vao a mina e co-
mesüo a y r a ginc e estes resgatarão os negros
e os levarão as jndias.
8. — Este foi o intento con que se íulmi* , 8. E que com a condisão asima de que
nou toda esta quimera pretendendo tirar o vao os negros por sevilha se fizese o asento
contrato a quen o ten pera o dar a castelhano com castelhano.
posto por portuges como fes nesta mesma
Renda Manoel de seja de brito portuges que a
tomou en cabesa de agostin coelho castelhano
que logo faltou con tanto dano da Real fazdi
como a junta tem esperimentado.
9. — O que perde cada anno a Real fa2dâ 9. — Que aynda que se perdesen sínqoenta
são quatro çentos e^incoenta mil cruzados mil ducados cada anno nesta Renda de se
alen do que se perde#las yndias que he muito mudar 0 asento do caminho que tinha ao que
mais cantidade e se nao mostrara via nenhüa de novo se lhe dava de q. fosen os negros
por onde ganhe hu maravedi. por sevilha se ganharia ml° mais por outras
vias.
10. — Debaixo desta presuposta se fes a 10. — Que antes de haver asento nesta
ynovaçao que táo grandes danos ha cauzado Renda todos os negros que se navegavão para
porque se não achara que depois que se levão a$ jndias hião por sevilha nas frotas e que 0
os negros as jndias dehtasen de jr das con mesmo seria agora e que a sin averia caste
quistas donde se Resgatão en direitura e asy lhano que por este caminho se encarregase
consta por muitas sedulas de sua mgd e pelas desta Renda por contrato.
concórdias e previlegios de portuga! e con
tratos feitos ml0% tempos antes que ouvese
asento nesta Renda e pelo prim0 asento de
lisensas de negros que se fes en castela se po
derá ver e se pode ver en dous annos e mejo
que ha que se ten feito esta ynovaçao ouve
castelhano que trata se de arendar esta renda
nen pode aver nunqa ja mais.
E he muito de notar que se faíase para esta Renda en Castelhano sendo toda sua depen
dência de portugal e que depois de suspendida se ayão arendado todas as rendas de consideração
de castela a portugueses.
E fa se advertência que as condiso/s con que esta arendada esta Renda sen lhe faltar Re-
qezíto e esta asínado o contrato de sua mgd e aprovado por sua Real cédula são as mesmas
que a junta fes e que mandou apregoar nesta Corte, e en seva e que mandou a Vossa Ex*a a lx*
para com ellas se aver de fazer o asento como se fes.
Mais se advirte que pedindose da junta ao prezidente da Casa da Contratação de sevílha
que ynformase sobre portuges ou castelhano, Respondeo que o negoçeo não convinha a caste
lhano, nen averia nenhü que o tomase senão fose para portuges e que para fazer fraudes mais
ocazionados erão os casrelhanos que Portugeses — e por que o entenderão assy sua mgd e
seus ministros que tratarão desta Renda dos negros se mandou en todos os asentos que se ão
feito de negros que se fizese con portuges como delles se poderá ver.
(Biblioteca NadonaJ de Lisboa. Reservados. Coiecçáo Pombalina. Mss. 249, foi
A
4
*1 '’
Apêndice 497
DOCUMENTO N.‘ 63
DOCUMENTO N* 64
f
/tjjenaicc
Sitei
P ia neo s víéjos, rodos
todos dan
dan fiança
fiança a!
al tpõ
tpõ o.
q.«se JI»edaa
a . . h...s l ’ ^l ®ana«ros
° r q.* í,je‘ oídiaanosoa
0 tik > m ™
^' índias, y de se apresentaren en espana dentro de « * ? * da Cutí!1* de 00 quedar
en s de los assientos, yse algunos se quedaa alfa sJ pa; 7 “ ,a« «"» de las coo*.
PT a ct o a r S o esta executar las fianças y hacer, S j " * ^ 0 * * * de los J l
tratar de sus ganançias temporales y D0 de «gente,
Iradas y a los Reys padres y agudos de V. MS\ B0 ptiede « ,a K a ftes
í /u inquísission, q. no pertnme poder aver una minima nnvlt a ‘nedÍMIe el
I t e l la Reiigion ■ y se!os ministrosso" f3odescuidado, ^ 1 n' atre” m1' • & * » lo w-
L m a de las fianças q. quedan dadas, como se los Podra g ^ eaasmla<fKdutB*tgan
por otras vias a provmçias tan anchas y abknas por todas u. „ “° Ta-™ ^ q^ieren
bíbir Ja entrada en las jndtas a 1 personas
-- rw particulares
‘UL“*arss Q degnQMt
ija! ■ U w d a ii« que pro-
on es mui íaçil, aviendo la divida fedílidad en los mini,
ex(pulçion mioista^1*™ >~ ™ v -1«
“ iof,asíw^
n avios de
uw )los
- esclavos
----------- en derechura,, w ,w*,6*u yiri
0 vengan para SeV)j|3
seviHa ÍOS
1„! mícm/Sí.
• qMn'° msi. iT " 0 «7*«a los
“ iy
_.™ parte an
por una jy otra ..... y n0 ay 01ra > tnismos
=n de tratar en eitos, Smos mercador«
“ «cador« son
soo los
|os <j»e
qa
* , 'v / “w«; ui.
1
fl» An aMta . 1U
nârio en este trato y assí asst por niguna
mguna via puede ser de contia
cooside«,-« ^ gaite, ^ Se “'"P*
’ ’ de ordi■
El segundo motivo que dícír q.-ay gran cantidad de esclavos , • d dicho malivo.
fflodararlos para que no vayan tantos. Pero este motivo !oCa T “ i°diaS’ 7 *>“ fonr!ía
esclavos negros en aquellas provinçias, la qual es tan precisa ” , £çeç,dad 4Be a7 de los
grandss» parte y quasi a! todo el beneffiçjoygraDgerfa d e to tiT « " , , ^ fs!lírií 58
otros servtçios y provechos: por que como fueron faltando los ’ 78(:los8aB»dos,ymachos
panõles no se ocupan en los dichos servtçios no se puderan b-naffi ■ “ * la ,iWrâ’7 loJ K'
negros q. son de grandiss« utilidad para la m sem cíon v «L j S‘ a°fuHín íos«f1««
los que peor sientem de los esclavos de las jndfas le Ifaman mal ne * 8^“ !lei eSladoS, 7 íua
>
5oo Angola
seaôrcs y en el Brasil adonde ha muchissimos yamas huvo la menor alteraçion o, inquíetacion,
quanti mas que en Ia nucva orden de yren por sevilla se permirtio que fuesen los raismos 4200
que por los assientos passados se permeaía.
Y assi 00 podia tomarse por fundam*« para haçer la nueva orden detninuír el numero de
los esclavos, pues ella mis- no so lo no se deminue mas ames obligava a Ilevar iodo el numero
de 4-i5o ó pagar como se los iievaran, que es una de las condiciones cun que se prego no ha
rrenta y con q. se contrato siempre por lan jnportante y nesess* se tuvo en todo tp6 üevarense
los esclavos a las jndias, y no ser en menor numero y si esto se entendo siempre assy, quando
en la$ jndias no avia tanta falta de los naturales, agora q. Ia falta delios es tan notoria, como
se puede jusgar q. no sam neses**.
Lo cierto es q. los esclavos mueren muchos con el trabajo y nunca avra tantos q. no quie-
ran en las jndias mas: y si con todo conbiene limitar el numero delios, esso se podra mirar
bien en el consejo Real de Ias jndias, sin impossibilitar el comersio con tantos danos dei ser-
viçio V Mg*.
El terçero motivo y en q. mas carregavon la mano los offiçiales de la casa de la contrata-
çion de sevilla, fue dizir que en los navios de los esclavos se llevan mercadorias a Ias jndias,
con q. se abate ei precio de Ias q. van de sevilla, y no se puede dar despacho conbeniente a la
Dota. Pero este motivo es de menos consideracion de todos, p. q» es cosa çierta que en las
mercadorias q. se llefin a Angola para el resgate de los esclavos, se gana el doble çiento por
çiento, y a un mas n^se podiendo ganaren jndias a mas de treinta y coarenta por çiento, q.
mercador avra tan ygnorante que dexa de ganar çiento por çiento para ganar treinta por çiento,
dexando a parte q. se gasta anno y medio y dos annos en los resgates navegando por climas
tan calientes y vários, q. no fuera posible dexar de llegaren coruptas y podridas las mercado
rias a las jndias: de mas de no seren capases delias los navios en q. apenas se pueden rrecoger
doçientas y trecientas pieças de esclavos, q. suelen yr en cada uno delios; y dado caso vayan
algunas mercadorias, esso sera por culpa de los ministros a cuyo cargo esta la guarda d^llo,
y si ellos son tan negligentes ó tan maios q. lo desemulan con la misma negligencia y dissi-
mulaçion dexaran entrar los esclavos sin rregistro y abueltas delios todas las mercadorias
como hasen agora.
La verdad es q. los q. tienen hecho dano en las jndias son los q. van en los navios de las
Canarias, y en los mismos galeones de sevilla, y los q. llevan los naturales de buenos ayres con
la permiçion q. se les dio. como V. Mgd lo tiene declarado en sus Reales çedulas, y el tnismo
françísco Duarte en la ultima carta q, ha escrito sobre esta matéria y se vto en la junta dize q.
el habito de las jndias proçede de Ias muchas mercadorias que con la paz universal acudierem
a sevilla. Y bien se puede dar lugar a Ia presunpsion q. ay de q. algunas personas poderosas
de aquella ciudad q. acostumbravan a embiarlos escondidas en los galeones, procuraran dar a
entender por médios suppuestos q. naçia el danõde las muchas mercadorias q. ay en las jndias
de los navios en q. van los esclavos, para q. no se dever quel naçion de los galeones q.
yran cargados delios.
Y como ello fuesse pues el tiempo já mostrado q, se siguio el effeto contrario
a lo q. se pretendia p. la dícha orden, y q. yendo los navios sin rregistro se sigen los mismos
danos y otros mayores; y si en vejesiendo el abuso de llevarlos sin pagar, se yran acos-
tumbrando y façilitando a ello los hombres de modo q. venga a ser despues mas dificultoso el f f
rremedio: conbiene acudir con brevedad ordenando V. Mgrf q. se emeden los registros en la
forma q. se davan antes de la dicha nueva orden, y que se guarde lo q. siempre se ha usado em
tpo delRey que esta en el çieio, y en el de v. Mgdcon parecer y aprobaçion de tantos ministros
y consegeros passados y presentes; y esto es lo que pareçe a los dichos Mendo de Motta y
Conde de Viila Nova, e neste primer punto que es el fundamento y basis desta matéria.
Segundo punto.
El segundo punto q. disen se trato en Ia junta fue si combiene correr esta renta de los es
clavos negros por adminístraçion, o, por assiento.
Y quanto a este punto q. no toca a Ia Corona de portugal, si no solo a la de Castilla son
de pareçer q. en neguna forma conbiene que corra por administraçion, si no por assiento, y
r" * - .'V
*
Apêndice
v }/íé determ inado, y rrespondido en tr« 0
5o
*,< 1° ju o « <Jue * * * * L qUÍ ,Bd° * <8* £ * ? * * * m H km, f a *
< p n ** Laos papel« «I- <1* o«™ * »«eron « * *
v , » » . 1, o , „ « « d i * . 4 m m ht f ct a a (m
5 o2 Angola
d'angofa y otras panes distantes salgan con visita y registro de la casa de Ia contratacion de
scvilla y de Cadiz y no de no sirve de mas que de embaraçar y dificultar este nego
y sin uiilidad alguna: Por q, ei obligar los navios q. vengan de Lisboa a Sevilla para seren alli
visitados, de mas q. es cosa que haran mui pocos o negunos, p. no correr ei riesco de los cor
sários q. de ordinário andan cn el cabo de San Viçenie y por toda la costa dei algarve en
qual quiera de las dichas panes le an de querer Ilevar derechos de entrada y salida, y contos
que pagan en Lisboa es haçer custosisimo ei comerçio y por cunsig* intolerable a los unos y
a los oiros como que ha dicho.
Y si parecio raçon no obligar los navios de Ias canarias a que viessen a sevilla, como po-
derian ser obligados los navios de portugal que vengan a sevilla o a Cadis solo para seren ally
visitados? siendo assi q. despues de aquella visita pueden tocar las canarias y la ísla ,de la
Madeira y, lo q. mas es, los mismos puertos del Regno del algarve y tomar en ellos quantas
mercadorias quisíeren? son novedades estas q. no tienen en si utilídad alguna y traen infinitos
danos.
Quanto a la otra condiçion: q. la gente de mar q. fuere en los dichos navios en q. se na-
vegaren los esclavos, sea castellana, excepto tres o quatro portugueses que se permite que vayan
en cada navio, es aun mas impraticable q. todos los otros y de menos uiilidad y mas dificultoso
de cumprir. Por q. dexando otras consideraciones q, se dexan bien entender, de ordinário
faltar en las ^raiadas maríneros Castellanos, y se valen los navios de Castilla de ma-
rineros Portugueses: #Jtlos del Reyno dei Algarve se ocupan quasi todos en las fiotas, pues
como es posible obligar los navios portugueses a q. navegen con marineros castellanos, ni q.
los vengan a buscar de Lisboa a sevilla, qui conosim10de como se evan
los negros y se ordenan y conçiertan los q. an de yr en los navios echara de ver c aramente
que iodo esto no sirve de mas que de embaraçar y confundir este neg° para q. no *Çnga una
salida: y es de notar q. asi como los mercadores portugueses tratan estos resgates de los es
clavos negros q. Hevan de Ias conquistas de portugal a las yndias, van tambien navios de mer
cadores castillanos, de sevilla, de cadis, de las canarias, y de las otras partes de Ia Corona de
Castilla a las conquistas de portugal, p. el m° effeto sin q. de portugal se les hiçiesse nunca se-
mejantes alteracíones y novedades q. tanto dano hace á la Real haçienda de la Corona de
portugal y aun se pudiere passar p. los danõs que reçibe con ellos la corona de portugal se
reçibíera algü provecho Ia Corona de Castilla, mas no recibiendo ella provecho ueguno antes
tan grandes ymayores dafíos como la de portugal pareçe q„ en neguna raçon se puede permitir
las dichas condiciones y q. no deve aver novedad.
El quarto punto.que dizem se trato en la junta fue sobre el assiento que con orden y
aprobacion de V. Mgd estava echo con Antonio fernandes delvas. y quanto a este no se offerece
q. dizer mas de que V. Mg* por lo que toca a su Real conciencia podra mandar ver se se puede
distratar faltando (como en la verdad falta) la razon de uiilidad publica (a un que el intento
fuese de acudir a eila) mas antes ay danos públicos en se alterar la forma de los registros,,
como por lo que queda dho se puede ver.
Y solo representada a V. Mg* que quanto mas se fuere dilatando la resolucion del Reme-
dio, se yran hazendo mayores y mas incurables danos y quando no hubiera otra razon mas
que de evitar la entrada que se haze de esclavos negros por el rio"de la Plata y Buenos ayres,
esto so bastava para se primitir el Registro, porq. pudiendo navegados p. otros portos no se
arreveran a meterlos p. aquella parte q. es de tan grande prejuízo, y p. esto no so se deve
prohibir con condiciones como se hace mas remediado com prover de tal ministro que no de
lugar a que por alli entren esclavos ni hazenda ni mercadorias. Y que deve V. Mgd de mirar
con su gran prudência no sean estas novedades occasion de abrir camino a los rebeldes, y
otras naciones para se introduciren en este comercio, p. que otras cosas maiores an intentado
por menores ocasiones, y an salido con ellas.
Y en suma son de parecer que V. Mg* no deve permitir novedad en lo que el Emperador
y el Rey que estan en gloria siempre guardaron. Y en lo que V. Mg* siempre husou con parecer
y aprovacion de tantos ministros platicos y experimentados, y con Ia comum opinion de todos
los passados y presentes que an echo los assientos q. asta agora se hizieron y tienen verdadera
noticia de la matteria, Y que los registros se deven conceder como se hacia denantes por las
Razones que quedan haces en el primero y tercero punto, pues lo mismo que se quiese reme-
Apêndice 5 o3
lo* na^io* cri SavíHa « cott*eg&ff * ò t&ccmrcra*ca?o*
ta v í ®»*8 ^c. ^otvde to* navio* *alenf por «! ooamo «ïwrmro caateí^
nd»r naCCl l visit3/ " l' ,S^ r olfo de ygu^ confia«?* pw» de mer* •le k'i r?.i3í*(sc-f
t » * % ha*a en S«v‘ tla> ° ’ Portugal puede V. Mg* m*K|*r CÇ.3S V*Í* «Kíi 9JT * tSM
^ !íd ^ t.a S
c ° 3 * , . h *cf r*# -4 se sierve satíste^*00* T c0° 6,10 •* dar* b*st*ntí**c?m> a í/í-do*
ue V d e% ' semovido.
« viefe
se a»
; t í r „ M e o , negros q. se navegão a yndia*. /acho
t i acionai da U * b a a . E « rrr*io*. f. **■ *• *© • fci*. «.*%
\o$ P (Bíbíioteca
pfa c c
o o c u m E (V T O n . 65
que
es c o s a t r a ta b le a lla r s e forma psra
Isfecto n a lo s yuros y p a rte s y n te re -
t esta r e n ts e notros y q u e q u a n d o la
30 conbiene q u e sese sy no que se b e
en e s ta fo r m a —
to m e a s ie n to c o n Portuguese y sese la «w* português esta tomado
jtr a c io n
Jnporta % seja p o r 8 o p o r to que esta echo
e a s ie n to s e y a p o r o c h o anos
s n eg ro s q u e se a n d e n a v e g a r seyam p a r e s e f p o r c a n t y d a á to s n e g r o s q . s e q u ita r e n
ety v o s d a n d o se v e y n te p o r cíen to para a / e iy v o s n o p u e d e s e r n i c o n l o s q . s e d a m p *
m ortos.
ro u ríe re n
> p ilo to s y m a rin e ro s de los vaxeles en no c o n c lu y ê en n a d a y s e s e a n d a a s e r prrovan
n a v e g a n lo s negros seyan Portugeses ca s p a U ev ar n e g r o s c o m o p a to m a r e t a b iío d e
inos viejos y lo s menos que fuere po, 1
la s r e s o rd en es
2 n a c io n e b re y a ^
■ -v, rl«w h»rA q u e y n p õ r t a q u e lle v e n m a s d e c a b o v e r d e , —
Y s e no s e y m b i a r ê e l o rd en p a d e c d ly s e r-e~
b e n ir * =’~ ' *' vercj e y se d e se n b a rq u e n en los p a r t y r q u e los bulvan a tra er.
d ie re de c a t e n a y n u e v a v e r a - f - y d e h a ííy e s tan escu sa d os con g r a v e s p e n a s n e l q . e s ta
p u e r to s d e c a r~rm e a la s o rd e n e s dei con- e c h o d e r o ta m ie n to s y aribadas.
S e r € d e fy n d i a s V e s c u s a n ci o s e co tn g ra v e s penas
d e r o t a m ie n t o s y an badas
con la qual quedara compuesta esta matéria dyscon p uesta y destroy do el g ovyerno y utili-
y el buen govyerno y utilidad de las coronas d a i de las coronas y navegacion de n e g r o s y
de castella y portugal yndias ocydentales y quebrados tos p rev y leg io s con condi f de la co
navegacion de negros de la oriental en todos rona de portugal q . su m agà se no ynove n y
mandava V. Mag4 Io que fuere servydo Ma vaya contra ellos p o r ninguna via
drid 2t de agosto t6£j;.
N a capa:
JUNTA de agosto 1614.
dei pte de hayd* y p4®confesor de V. Magd
sobre lo tocante a la renta de esclavos
negros
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. Secção Pombalina. Mss. 249, fol. 63).
DOCUMENTO N.* 66
50ü» Í
;. ae^ ^ C O
- /% O
Í^O ft - t. \T~* *t tAíín«. c nilA Htrt
• amigo de Vm. y de todos y que datael pVitgo antcandodcndî a\ 1. . 1 . sa
_ i.
U
na *Retido ia escritura es de 2$ i] en\o$quai« ba Va Ittedando
H °r.« d»* ueC!av"'
- n o a '5*de que queda deudor y ia s.1Yaes dePeredayes« baabertdaodo
fiȇ que
.ura ^ y \19U y?5 g ^ de que quedan deudarascoalos qual«quedacwrada suq.*
ticí\^ib Poí
Ü 77 k ü ^ 5p0r
88 u;».<-acbOraH
> » ^Uu las . j —•■
ue suyas vinieromemPedro Fern
. i.i -------
........ »
andezUUqualquaiseraseraconco& 5.u.Pedro
s.u. Peio
»59
3 ?
v°
ps* dei arraazon de Freire que soa 1 7 0 di^rne que ay enu«
de!,seSot
U 5 que ^uedasej cncata porque le deven lo que nesta de lo que ha necevido de V a - estas
0dO 1° P°De Öe &U,'uv“ rí0f'5UÔfonnr
1 -. nnne
iCUCVF.mniaue
fcIt ,u V- d’Ona
*—~ y_Fulano dePaiba he le pedido que por í
;0su ps.« di« que ban P°r ^ d’0»» y Maiba b í !e ^ que
q.» de Vm, no embarque nada y que me Ia de p.emviaMa a Vm, y ei rrea.o por !a meVo
ordem que pueda d.ae que ans. lo hua y que por Ias muchas visitas y ocupaúoo« no to ha
becho apiicare-le y hare io que pud.ere q*•a suq> delo queVffl. [oma» cafflbioiitt m
ár.« embio ( U y otras cosas con que le pareae queVm, tieoealla desobrapara satisfasio»
• - Vm. avise s. lo ha rrecev.do e envi la queata caso qaiera que hable en esto. -
La cachera que Luis Vaz emvia no es sioo
d esa d eu d a -vm . a*»......... . demoayo basta queûolaqiàsemevir. sio
j»m«OTn(,as[a aue no la quise mevir
y poneide en Just.apidïendo el dano porqueno soloeî iroiogrande e3 ps.*que
sis. ckw
.' V:
y
r . a "Vm.- a* ■puma
su carta quej emvt
alia*w '•'"»ovieaen
vieaen danados
uauauUJperopodridos
pounuwasin
s»uque se^pueda
v *~r_ aprovechar
î*>^findenaronloi
en
barasuy—m.* y mas vienen aasnmcauu«__
vienen dasniScadas otras quatro ps en las quai« solam.“ le coodenar&n los
' -~ u w> nmmjflp
,1
I /
! I
ma luuiwj u<jt yffl,
It j
£
ci* « ^ d o l e que q ." derechos mandava emvTaê Z * i j f * 9 $ f «**> dê 3
d°n >’ v « . oi a nadie con esta sequedad y rrasoíucioo me „ T f « * » « f c - ^ ,
viar 3 , í d 0 que es que me de,asse pagar Ias deudas de| “àú * ° » f c # l0^ ro
Pa ManueI Drago fator de Duarte Diaz y ca si « 0 l * ’ ? ^ & * a mí 1« ^ lc
dado a si iubíêra ai bala de correr dos erçez le P 0 0 (0 0 5
" " " £fi -escusado-
buelvo
ansi
yV ~
anres que
|e viere fuí
uy efi este
y ansi
para P--- -• ■ — eBj* juan Vícenfi» c ’ ”
bueno estas tengo y so muy buenas y }m Vícem{ .f f 1* » fe travado J0 « *
asta fin deste Fretre pretende lo mismo y tiece ja ^ 3 * ““ » * * dias y A w o J o L
estos dias y a un que no esta dei todo bueno dize L J t S* Í“ 8 ft,ado «ai
avia-me dado un escrito de ,56 ü rs sobre un Amnab a. a • as,a & destemes-
el qual andube al moyno ante Ia just.. y ante e!!a f f ®*l a bestia y perdida coe
íometiera yo delao en tomar ias debalde nombramos lovsrf!f T Pf cu ‘ “ Nebuladas « e
,ando en este estado di-Ie quema dello al senor sardina conlt ^ S‘ WíD de « « * » 7 es-
Ia deuda de Vm. los iovados dieron su parezer y el dei J r COa <JU( ie P«»« por ser
mose a este el juez y con eso saque sentençia y em v i r J i ? T “f ' 3 0 d( n(í««rarri.
sobre los quaies corrian pregones de nove dias ames oue esto f, “ los ae?ros ^itos
senore Pedro Sardina en que dize que para ei nav,o de Fr 1 sol'° 0 0 «cri» ei
le quise azetar a miíl gentes que me ío vinieron a pedir v 1 'T ™ ^ deuda 7 ° °o
g.” que me io mandase el lo hizo ansi y escusando me d i l ? °° ™ui Pidi(f0° d
su Armazon y aora estando Freire tau adelante ento dÍ * "* P3g3f d< lo N 0 5 *
diese-las ps.« Respondto que me avia de deiar escritos de dn m3nde'le dMir 9 “ ®*
«■ “ feí *"* - - *' - — ru r ; t i : ; r
5 ro Angola
cosa muy santa y justa y diçiendo le que no me estava bien ni el tenia rrazon dize que avia de
aver rrespeios y que cl tenia en poder de V m . mill dr/ enfin a me de pagar por qualquier ca-
mino que sea cl ma ma! com igo que se me da poco por ser suya Ia culpa — Pero sirva-le a
Vm. de aviso que si alia fuere tenga con el ning.É cuenta por quien no a querido dar-me
Vtn. en tanto tiempo yo no se que Haneza tiene aora me dize que la tiene en una papel suelto
que esta cm brullado con otros muchos y que es menester estar bueno para buscallo y por este
crco que obremos de venir tambien a m alas o por lo menos lear el rrequerimento que Vm. me
aviso y preguntar-Ie a Vm. alia que ya que tantos serviçios alega que porque no me dio en
4 meses despues de venido aqui este escrito de A raújo y otro que me dio de un criado de Bento
bana de38 U siendo hombre que va y biene alia arriba no quiso que pidiese estando como es-
tubo aqui dos vecez yo no quedo poco escandalizado de este trato porque no me parecio que
cavia «n aquel sujeto Vm. escarmien.1* yara adeiante. —
B uzio ni con seria yago as marinhas duermen no ay que tratar de 11o ni por el coste la
farinha no he podido hechar de mi que me pesa mas que si la tubiera u cuestas tres
quartos he dado estos dias de 9 que estavan en casa y estas perras ponaderas me piden mill
descuentos porque la allan algo mojada y otra verde que ya no se puede tener mas no me envie
ni nadie esta mercaduria ni dozes porque no lo rreçivire. —
Los vinos estan o y por 48750 U rs y los de Vm. me Jjzen que se estan vendiendo ataver-
nados a 16 que vendran arrendir a 46 U que son mejor que no fiar-los por Io de arriva Pedro
Sardina me dio la pi^jka que tefíia de Vm. que sera com 2 a j a tres no tale cosa ninguna m
lo baldra porque ya los negros no son tan nesçios como solian y porque me dizen que la que
tiene pila es de esta no me a dado gana de rrezevir la pero areio — Pero fernandez me dio la
q.u de los fieis y eleos que hizo el aderezo dei navio aqui que am vas emvio a Vm . y el resto
que son 23 o 5o quedam echos buenos en la corriente Ias tablas que binieron em Pero Fernandz
com o Vm. no me aviso entonzes qúe eran por quenta de la compania administre-la como de
Vm. y ansí no ban en la q.u de su s.® yo la dare 7 dozenas bendia 8 U rs y 3 a y U que no he
cobrado los demas estan en casa que no ias quise fiar.—
Aqui me an querido dezir que Luis Vaz de Paiba no esta nada sobrado por aver-se metido
en hun hinjeno^y a un que esto no sera p.1* para que el aga lo que no deve no queria que lo
fuese para rretener alli el dín/° mas de lo necessário yo nodoi credito a esta nueva imforme-se
Vm . bien y comforme a eso haga. — .
L o sal no se a vendido a um ba andando poco a poco deve de estar gastado la mitad asta
haora vendi a pataca el alquer y a!g.°* a cruzado y devi mas no la ade llevar nadie menos.
Teniendo esta neste estado fue Dios servido de que amaneciese surto Ia manana de San Juan
Bertolame Jorge con cuya venida olgue infinito porque demas de que me tenia con cuydado fue
mucho en tal conjunçion salir aca por la costa dio me lade Vm. de 24 de Febrero con que
ansi mismo olgue por Ias buenas nuevas que me da de su salud y de la senora Ines de Pereda^
y esas s .Tt* desela Nosso Sefíor com o yo deseo a cuyo serviçio estoi, yo con ello, y visto la
cargazon que trahe la qual es buena y tal que si hubiera a ps.a en Ja tierra comprara de con
ta d o .— EI senor Governador muestra mucho contento con estas cuytilidas y de achar-se en
ellas pero com o quiera que todos se valen dei para que les m.'ie dar fato el senor Bartolome
Jorge y yo lo prevenimos que no lo mandase sino que lo que el fuese servido para si Io tomase
y Io demas nos lo dejase dar a quatro ditas buenas que es tan elijidas y rrespondio que asl
seria y teniendo Io prendado en esto le propuse que el rregistro que trahe el sefíor Bartolome
Jorge le navegasemos por quenta de Ia compania para cuyo efeto fletasemos navio y que todo
fuese a cargo deí senor Bartolom e Jorge parecio le consejo santo y en cazos el y ansi nos
com form am os en que el dara-las ps.a para este registro que puede hazer-lo muy bien yo a un
que con el favor de Dios sera proveichoso navegar este rregistro mas lo endereçe assi por rres-
peto de cobrar que no por otra cosa enfin estamos de acuerdo — y dio comission ai s.or Barto
lom e Jorge que fíetase navio a su gusto y com o quiera que para sacar provecho es mejor viaje
el de nueva Spana assento-se que alia avia de ser y que se partiria de aqui a los prim.0J de
A b ril que es fuera de los nortes asento-se mas que porquanto esto se dilatava para entonzes no
com venia dar el fato desta cargazon porque estos vellacos no comviertam en sangre lahazienda
com o hazem a otras sino que se emçierre y guarde para comprar o dar-lo q.do o como nos pa-
reciere m ejor es el m ejor acuerdo que en tal caso se.pudo tomar porque con esto pierden los
Apêndice 5u
veçinos Vas esperanças deste fato y quando no se cm« ya «w» oiro. ao, tas**™**
de cornado que sera al liempo adeUme y soií fio en Nono «for ^ arfUífa
trahe el seftor Bartolome Yorge como la otra y el panscoiu de V a « fc» &fc*mbí**
cora la mana con que se corre la qual encamma Dioi ya el de VaU* ancua—
V ino el contrato y Vm. 00 me lo dize ní h sustwçit y cwdií ^ m e~mr
mete mi pariente Duarte Diaz Aca lo pmramos raejor *'«> d#
Vm. que siendo el que tan abantajadam.u se arroja al trtto dt«e lugar hm
por c.l° siendo aso si que su mismo feitor nos titm aqui i 5 y qpaadô t» rU\& cs w
alia en que mejor a ese Crisliano.—
Su s * como vio venir el contrato feneçio q.u con el leitor dd Rer t í* qual k ^ ee
SBoo U. — de que le paso escrito el qual le yr andaodo etv loi navio* qoe el q$a«rv 1g*e eu»
vien como esto se comvierta en nos otros y su s.* me dize qoe ikne traudo coa el
contrato que le dara los d.” que de su hazienda hubíere meaester j «ftiUdta.“ òm
de acuerdo que le dara la^ de los derechos que fueren p.* el Brasilbteodolopoatr
creere porque muy al reves me lo tiene dyo Goncalo da Rrivera y es que si despoe* i*
su s.* de lo que se le deve qutsiere 0 hiziere fuerza por dr,*’ le encamparao la rrenu«Bino-
lome Jorge no hera menester encargar-me-Ie Vm, que eocargado esta lo que a mí me cassa
que es dei gusto de Vm- — el desea azercar y a un que lo eadende bieo todo j « biejo«a esu
tierra ase puesto en mismo para no hazer nada sem comunicar-me-lo y si to profiguícff como
yo no dudo porque conese mi voluntad no le pesara salvo si Dios guíarefu cotai por ctmmos
no alcanzados que quanto al conocimiento de la tierrezíta y trato delia yo le sei «a porque
no tiene muchas tretas. —
Las 53 o v «• de cachera que bíenen para mi por q.1* de partes veoeSciarcy por la que bieoe
por quenta de mi amiga Marocas beso a Vm. las manos—Si el reg* noleocuparemos síetnpre
aliaremos por el 5 oo U rs y puede ser que de ay para rriva si yo he de estar aqmao doe de
emviar-me Uno o dos cada ano y sin que lo sepa nadie no lo escrivã a oadie que fio combienc
la cargazon que viene por q.u dei s.r g.w y de Vm. rrecevira el como ha hscbo tas dera« ea-
biar-le Vm. heredero en lo místico ni el lo agradeze ni se le da nada porque su principal ja
te n to es lo que le entra en la mano para su puabo escuse Vm. de dar-le tal p* eolo m m
caso que la compania vaya adeiante sino emviara la cargazon de la compania separada y lo
demas es echar-Io en la rrua,—
E l Buçio fuera mejor hechar-lo ay en lamar porque ai dos mrs bale los negros y anole
quieren y ansi Vm. y el senor Fhelipe Denis parece que a rreveldia an querido que las calfes
de este lugar se empiedren com buçio que no pareze cribie que alia do se supíesse en de
Feb.° que no balia nada y por no valer lo se vendieron las pJazas que Woreron tômadaspor
Antonio Fernandez d’Elvas = diga Vm. esto a! senor Felipe Deniz y dele mis vesa jjmms por
que no piense que me olvido en servir de que no le escrivo por no dupiícaresto que es la ver-
dad. —
L os quartos de farina beneficiare pero elia vale oy por r8 y 19 Urs no se queganancía
sienten en esto esos seriores y s.r*‘ ni Vm. para cargar de harinas qo me benga arina que no la
tengo de reclvir Bastava»me el fadario que tengo con la que aca esta que no me puedo ver
libre delia y con todo eso si el fato de Jorge se diera meúera*mos en Ias p.*" estos quartos
por m ayor precio pero como no se da no podremosgozar desta comodidadyaestoi advertido
de no cargar a índias mala pieza y crea que estos neg,Mson tan faciies que los teogo muybien
entendidos permita Dios ayudar-me y encamiaar-los que eso es lo que ymporta.—
L a quenta de Vitoria ajustaremos un dia destos que el dize que lo desea y por lo ms.*em
Bertolame Yorge y antes si antes yo pudiereyra todo—y si yo no tuviere para dar A Ewr
Mendez. las ps.“ que Vm. me avisa le beodio porque es muy posible supuestoque yo no tengo
aca fato de consideraciom daren-se sino las tuviere yo de qualquier a q.ü a p.u dondelas aya
y sí Manoel pidiere algunas tambíen procurare acomodar*Ie uelía apagar eo Mas.—Bestidos
ni cosa de comer farinas ni conservas de todo Io que fuere fuera de vara y covado beirames y
cayamen no sirve aqui ni ay quien !o pague ni Vm. me lo emvie ai lo coasienta etnvtar y ya
que esta aca dei s.ot Enrrique Dorta procurare la mejor salida que pueda que no podia ser
buena que no ay aqui lo que solia esta Ia tierra apretada y no tiene pieza para dar por cosa
níng.* sino Ia sacan dei mismo fato y dei de bestír para ellos no se ade sacar y por matéria de
5 i2 Angola
mercançia avian de asentar los que para aqui la erovian de no emviar a esta tierra farina azeite
quesos presuntos vin on i otras cosas porque el grande gasto que en esto y en otras cosas haze
cada afio esta g.u esta necesitadissima porque com o lo hecham por la bucólica y de esa no
salcm piezos p.* pagar despues al pagar forcozam .1* ande pem carque es causa de queagam mill
trapazos y que sean lagos en las pagas dei fato que se les da — Por donde deven di asentar
todos de no em viar aqui sino fato y m as fato así com o el de la cargazon de Bertolame Jorge
que es m uy bueno. —
Bien sera que ese ydalgo de Duarte Dias de a Vm. carta p.* su feitor em que le ordene nos
aga mas favor que aios otros y mas am ístade que bier lo m ereze el buen parroquiano que tiene
en Vm . y que senaladam.*8 le avise que q.áo embarcare diez ps.* una bez entre otras consíenta
que pague aqui los dr.81 y que de quando en quando me de algunos esto porque — biendo el
judivelo de A ra Bano con este neg.° aun que el lo era sin eso le dije que me avia de hazer
m uchos mimos y todos lo que digo arriba porque ydo yo desta tierra Vm. no avia de emviar
un solo maravedi de fato y ansi lo aga. Respondio-me que yo pedia just.* — pero que el tenía
orden contra la qual no podia yr que le viniese carta en que me hizia se poco favor que el me
aria mucho sia Vm . le pareciere pedir-lo aga pero que le cueste nada y corra-se
V m . por avençar con ese xptiano por to por c.to —
Bastian C arvallo partio de aqui ayer com buena viraçon vaya con la paz de Dios que le
buen viaje el me dijo que Ilevava de V m . 9 ps.* di-Ie mis cartas con la obligacion de 248
contra Joan de Nogajpy con una via de las Braz que Pedro Sardina me paso para que esten
adelante ba encargado delias y de que se pague la obligaçiom y el deudor tam mí amigo que
yo me prefiero que sin rrecaudos a de rrogar con ía paga — su s.* mando en el tambien 600
— en L.*" — dei feitor dei senor Duarte Diaz sin riesgo ning.° por quenia de la compania —
ban-se rompiendo lanzas yo fio en Dios que con todas las deficultades avemos de salir bien e
todo encamine-lo Nosso Senor com o puede y yo dessio. —
V isto ha ora com o quedan estas cosas bueívo a dezir a Vm. por ultima resolucion que
Vm . no aga queja ni se muestre sentido dei trato que asta aqui ha avido porque ansi comviene
y que Vm . asta que este algo mas enterado dei rresto que aca esta no emvie fato por quenta
desta comp.* y si emviare sea muy poco asta mejor avisso que como el avie el rreg° que trae
Jorge se pone m uy bien el negocio salvo que en los navios desta monzon yra Vm. emviando
mas fato pero p.* ese ira el emviando aora aun que no esta de parezer de emviar mas que en
Freire un q.*° con 3 o por c.*° y 800 en Joan Vicente que partira dentro de 4 dias fermosas ps.a
tengo p.* em barcar en el y no hago asta el dia de la p.d* Dios ias encamine seran por q.u de la
cachera que vino en Ju.° Blandon y de Vm. com o Io avisare despues. — Quien le mete a Vm.
con rruan y mas tanta cantídad no le a contes ca Vm. enbiar tal haz.da ni otra ning/ como
atraz digo com o no sea para punbo mayorm.te que dezeo saver la ganancia sintio Vm. para
meter-se en ello pues quando mucho se vendera a cruzado — Dize-me Freire que me a dejar
escritos de los que le deven para que yo los cobre diziendo que no lo puede llevar preguntado
porque d iz e que no cave en el rregistro tanto y esto causa de las ps.1 dei piloto yo dezia que
la arm azon se avia de amparar primero el dize que no puede ser menos y que Io azen mediante
al capirulo de Ia carta que Vm. me escrivio con el en que dize que cargara-lo que tubiere y yo
no soy de parezer que esto se entiende em perjuizio de Ia cargazon Vm. peca de bueno como
los otros pecan de m aios para un sa fio piloto escusado era dalle tal mano — o cargara el todo
el navio — Vm. lo quiere su haz.d* le co sta ra — pero guelgo-me que tras desto dize el villano
que esta perdido P o r am or de Vm. — y que le yzo de tener em f.° esperando a An*
tonio Mendez y llevar menos carga por acom odar-le que todo se Io ade pedir a Vm. en virtud
de Ias cartas que le escrivio a f.p en que se 2o ordeno ansi — Freire me dizo esto que a
mi no me vienen con estas rrazones ni otras porque Iuego los escaldo sirva de aviso para que
man$am.te aga Vm . sus q.ta* con el y tome un fin y quito y despues haya-me indemisnisar-se
con esta escoria dei m undo.—
Antes de zerrar esta fui a estar con el senor g.or y me dizo que las 20 pipas de vino se rre-
solvierom en 14 Ias 6 hubo de mesma este navio trazo notables ya todos e visto quejar desto
especial a Di.° T ex e ra que no a querido rrecivir Ias suyas o Ia m ayor parte delias porque le
falta mucho m as que a este rrespeto — vea su s.* que administra estas cosas si es razon que el
m .l# pague esta demasiada mesma las 14 dize que rrendieron a 46 U 200 pedir la quenta para
/•Tf.
'-4é
f
Apéndict 5 r3 J
ne.úcioo hech» en q aep íd o t *wdtS» <,<* cooeotrwt» y t o t f í « í / * * >
aocdo c£>ÍOp« tenníno* ***** ** ***»***'£«****» deite te&or 7 tüne çs? coa
" ^ ^ r a « í° 3 tfS,«no que esto * <*e í* r P,r t e P *n ®° h«*«r 13 t - sj# b i i u q»« ar t í
^ Z i o * ' % q u e y ^ À ra u jo m e qoiere pagar « n * doe , « * w * 7 to d « « , t , ecten de
* A ^ J í » tDCJ^e P 3SO P°nCia que tien e contra MenoeS de U * o y va « c n to «fej ^ „
dV
ío*'' 1*V f d í í ? sen,e Ç
esctUo
uúa Centuray o**
p io r d e m a r } c *IIe' —
ïh s di^oanda
X-a e a r,V a aesp cde
° P Juíio de QuV ^ Sw5“ e J0aa .
Ía d e Ja BvnoUtr*
ca d * para que p or dos v/as ia en ®*c«W a VJa ,* r* ' W , !ô* eober*
Jorge d esca rg a su fero y entrego a ^ '" e'na V * ^ « * d'a n £ °
es y a u n q u e dem ro n o s e * a i * -* g .» ^ /o q Ue *» '* * C 1; « » . y
- ^ r■ -'r r r t «í?»
^ » v^ z
iz í sr j- :s* z -^v ^; t t r if c - > -
[<>*
p-«re*iil
a« ; rtiano y * « - r**'i ~ t ,
c ° n u°®rtn de paêar todo eí dan° ^ colia“ *‘ - ...
0 *M *C£ r e dentro qua esto por Jo ms.« servira p.. e p^ or^"nform>
^T
que viZ3,<fíastian Fernandez por Ia mayor p * se a»am ^ ^ ^^ /« fc*. drf00e.
o t— ^rqo« ** ««c /OJ,
? fc*
* * V « **• *>
d ,2 se agíio tã o d ificu lto sas n o m as farina no m **/^ **1*** yo *> « *fo y d t ^ * * 4<*
faCÍleíde/aêni lo u n o n i to o tro . - ^ Ad* ° Por ,3 p a iio o % d* V * ^ t * .,
n,erp3rtîo Freire a 4 deste con 35 o ps.* suyas m ÎW ao ej
unoc<
*a casa dos “*»«, el un“ >n 'mpalala
con“3
- ” « « tambten lo estoy y ansi p0r rreI3c/onP 8$* s 7 piioio &
p ^ rl > â 0 ra . d «„***
rfiie ^ *« o S 10
î? ^-*°
m e en ca.Sa dos negros ei uno con em paiau yr ei n o7*«« « ,.*cl o iro —
otro ~ oarvado
berviJo coo
e\ .. de CUro-los com o ospítalero que soy si Díos les d irr saJud em viar-Io»
aqu!.tiíz° in n tIas
ír fíl i t t —rf.
espai caPazes. _ J . m « e ♦ <i m k l o n m a A a í n .
de mas tambien me dejo escritos Jde 114 fU1 480 qoe l i qoe-
,fi_ - .. _ t .
pLs
ITlc
hUïl o iílaga
i> is a c
c\ B rc*‘
é s
.. __ a n O S O D
i l que no sou
r
—
_____ . . j _ t t . . . . *
manos
h e P „" d e v ie n d o p ro c u ra re la cobran2a y aviamento deiío, n, •
rrezevir obbgue-le a que los llevase flaco p e n s Z ™ de*ar « * V
- ............. ■ ■ ^ . ^ [ o í u e t r ^ r s j e^ a erca-
m
da«-°n uise •azevu v “ - 0 fâçho que vara y covado sirve y 00 otra cosa a rope htziera se
no los - rra de Pe r r ° [ en ^ o yn ven to u a e r hueÍgo-me que por U mas 3o ade aveT m e oester p.*
der‘a 44 lí 'ftter t° todo do 4 a1 H
qu,e
“"
lleva para este efeto Dios les de buem viaje que yo quedo b a n o deílos
-*■
%
5 14 Angola
In q.14 p orque no d evia d a r lugar a que V m . nndubiese a lia sicm pre tom ando a can vio m ayor
m * que l o i n a vio s dei B ra sil son rra ro s y de p oca su stan cia dem as de que no deve dudar de
cm v ia r en to d os lo s n avios su pu esto que el D ra g o le da las L .‘r« sin ningun riesgo nuestro con
e s to y areze que !e a lia ne a lg o y m e respon dio que d ezia bien y que ansi no d ejaria de enviar
a lg o cn S a rd ifía q u e puede se r qu e p a rta ante? dei c e rra r desta y o h ago lo que puedo y no lo
que quisiera vestib to a este c a v a lle ro en el cu m p lir con estas ob ltgaçio n es de V m . quando a y y
s e pueden p o n e r en ex e cu zio n y fuera desto sie m p re m e h aze la b o c a d o ze y en sus particu lares
n o estiv io sino m u y ca lie n te persu ado-m e a que aquel ere je de a v a jo Je a m etido ajguna cautela
en el p ech o co n la q u a l sin duda ning.4 se g o viern a en este n egocio y y o ansi lo creo y bien
fácil es de entendere p o r la esp erien cia y que no qu iera h azer em V m . su tesoro ni dar-le mas
de lo que es su yo antes m enos = sirva de aviso esto para ir-se V m . p o co a p oco y aun no emvíe
n ad a p o r q.u de la com p .4 a sta m ejo r a viso y el m ejo r aviso ade ser p roveer su d evito y mas
y sino n o se puede su frir esto p ero a lia V m . no d iga nada a nadie no haga queja dei y si par-
tie rç n a vio p.4 aqu i en el p od ra decir-le que se a lio sin din.0# y que p o r eso no em via y com o
q u e queda sen tid o de eso dando le rra zo n es y la p oca que ha avido en em viar a Vm* a priesa
lo su yo y esto su ave m.*° no diga o tra bez que le escrive m uy libre y sob re todo ad vierto a
V m . que con sidere que esto y aqui y o y que estim an poco hazer aqui a hum hombre un agravio
y co n esta letu ra b a y a P e ro S ard in a andubo rrem iso en dar mi sa lisfa zio n y al caso queria
m e la d a r en d itas perbersas obrigo-m e a citalle p or el escrito de i 56 U 200 ya que me diese Ia
quenta rrespondio a If^ citaçiom que bendria a casa dei o y d o r a d ar la q.ta y a yu rar cerca deí
escrito com o se le m andava estube-le esperando y q.do hubiera de venir vino en su nom bre el
vicário a p edir al o y d o r que !o dilatase asta p o r la mafíana que le avia venido una calentura
p o r la m afíana m ando a ca sa o tra vez con una sentençia de M anoel de L eon y otro escrito
p ara que m e con ten ta-se con el no quise y asi me dio L .Ira de los i 56 U 200 a p agar en Índias
a ra zo n de 29 13 5
p o r p.a y a si la L .,ra — es de 206 U los i o U restantes cum plim iento a los
36 o U que V m . a viso que le devia me dio enpanos songos y estos dieron tan en droga despues
que valen a dos toston es que no quieren dar ps.* por ellos mas enfim el ansi que tarde ya su
p esar p a g o bien q.u el no la tíene ni y o se Ia he podido sacar Vm. se Ia pedira alia pero mire
senor que se lib re com o dei diablo de no tener q.lal con este hom bre ni entrada ni salida alg.»
que no com viene. —
D izen-m e aqui que el tiem po dei con trato de Yu.° Nunes solam .14 se cobro 6 U rs por p.a
3
ín d ias y p ara el B rasil ü y despues el con trato que el R ey hizo con Joan R rodrigues C otino
fue con las m ism as condiciones y precios de Yu.° Nunes y que sim em bargo desto com o era
aqui g.or de poder absoluto y nuento mill rs mas sobre las ps.fl de ín d ias y o iro s m il sobre las
dei B rasil y los cob ro y todos callavan estos yndtos que ag o ra arrendaron diz que fue con Ias
m ism as con d içíon es y precios que lo tubieron Yu.° Nunez y Joan R rodrigues y vam cobrando
sus 7 U y 4 U rs y o he hecho aqui todas mis diligencias por aver a las m anos todos estos con
tra to s para saver co n zerteza la verdad y rreclam ar dei engafío no los he aliado y asi com o no
tengo p apeies no puede ju stificar la causa que de buena gana gastara y o aqui 200 U rs en ella
p orque esto s co n trato s son perdíçion nr.a (nuestra) y de todo e! pueblo m ayor m .14 estando dis-
puesto el ju d io de a ca a no h azer am istad ning.” com o en efeto no la quiere hazer Vm . com o
m as interesado o ra in vocan d o tod os los demas cargadores ora por si solo saque Juego todos
esto s tres co n tra to s de lo s líb ros donde estan rregistrados aun que sea sin au toricar y panga
los en m anos de hum buen letrad o que desengane y vea si el R ey con cede-los 1 U rs mas y si
se deven y diziendo que no luego ala ora presente petiçiom Vm . en la haz,da om ésa de conçiencia
pediendo d esagravio y que m anden que no se cobrem mas de los 6 U rs y m ientras se sentençia
pida p roviçiom en que m ande que cum pla con depositar aqui los r U rs de cada pieza este es
el cam ifío suave y bueno para que esto s dejen en con trato y que no le aya que con el R ey son
entenderem os m uy bien dem as de que estos judios no se conezem quando tienen semejame
m ano en m i tierra d elito crim inal era a crese m a r este dr.° y pena m uy rrigorosa de muerte
ad vierta-lo V m . a l letra d o para que se le p a reçie re q u erellar se desta jente lo aga tambien si ya
p o r ser m uerto el inventador y ellos los que lo tom an en el estad o que lo aliam estan libres deí
delito aun que no para con D io s porque si en esto a y engano no le ynoran p o r vida de Vm . que
dem as de lo que le im p orta ponga en esto gran ca lo r y diligencia p or hazer-m e ind. ( = ? = ) y si
y o alio p o r a capa p elo cam ino liç ito para com en zar la contienda de Ia Vm. por com enzada.—
■ yr •
Apêndice 5 15
ff c* -
ye Ul>a*e aun q“ ede
orobra se aIgunos
-1» Por5 ° ae mercaduria hu!w*'' -.'
que aqu. se fra,gayycayamen
be.rames n/ con „ fiJ
Q “* »«> *ort* * <* ,
Jo* que quisieren breves y buenas ps.. Ped “* *, i fc u #«
l!l q0'6
5°j 9 l1 <
qJ. ;irr a - ,.na ora no lo —
creo bay, con « ta ia ' I * ^ «*>* « el ’Z k * * * »
Dios qut t ? T P*rtio * a a cfl
d« ^ o d o 5 ^ *--e
V i o - y fa
pr**el“ ^ .o o ds ea q u a 3 “ 0.o3p0s“.-1 buenas
V itoria " ------- que la ,/erra es,a m
coP’ * totnaàa p i « * * T a)a berdad n o !1<e P « a porque abemUlf * P0dl't°n m n r _ ,
,*««va ‘ . a 5oo de abenas y gastos e restvos de rL is to nl 6 * P « * r v I Z * * ^
c .-
cargra
esaaria
j0 se meuo
.
y mi no <?ue y va U(0(
Çue Por
■ n rtu ’° - " ^ Z * £ i:
AU« ««5 0 razom yusgue-ío Vm. de ínc“ *' 1
ps.* ba« encargadas a otros am;„0 Jfn^es „Ue -
o«eenfaere
nadaviva aun
que marinero
dúre a B a nvJ 6
ie doy credito bãn a«ae d
^ rg d« *P°otO
as de w,y» *,/ *“ ® odo^"---
- ..
"^rito es ia mas iíncfa c;ue . ai/a pf r Bo escr/,^'0 * *0 Í Pr^ r ^
manera...................
que sea -----
" ” ho “ "**■ *
Freire o oiro B arioiam e Yorge haga que no estoy aqui p . emnn
v erd a d y clareza pues los unos y los otros execman su volumad ° 8 f ° S y *St° 65 ia Pura
en ten d id o y yo ies digo a mis manos viene tatu poca haziend» C°mra ° ^ de mi lieaea
pero la que bimere ser administrada qual lo fuera si su dn»nn q“f 653 íomara í « no viniera
gracias me denay de por ello pues Dios me doto d « « * M ” " *«»»*8»««
- - — - — ,
p o r no m e p ag a re n tos vecm u * ^ o . -
— — * « . r Z
‘w* " Y " r 7 t z ; r . s s \“^ T "
'1 ---------------- r"
5 s * que m e fa lta v a n p a ra las diez que ande yr em ylano lo qual con estar la tierra tam m i
I serable que n í p o r u n o jo se a lia una p.* embarquare io por quanta de los rrestos de m i Ubro
que p o r ser de c a c h e ra n o tengo rrazo n ni obügacion de estremar-me tanto.—
í ! *
i 1
5i6 Angola
Teniendo esta en este estado llego a este puerto em i 5 dei presente Bastian Rrodrútuez
do Rrego a salvam ento y el mismo dia llego el batel dei mal afortunado Estevam <ie Amores
con toda su gente salvo el st es que era el piloto el qual se aogo el navio dio a la costa en
18 grãos de la banda dei sur deste puerto de noche que pareje que no se hazian con tierra toda
la demas jente se salvo el buen piloto que com o si no lo fuera dormia Dios le perdone las
pipas salierom a la oriHa y la pobre gente com o tenia pequena embarcaçion so lo trato de sal
var-se y izo biem si Vm . sea seguro tratara de cobrar de los aseguradores que yo procurare
em biar rrecaudos com esta- — Com o rrego rrezevi la de Vm, de z 3 de M arço com que olgue
lo que es rrazon por ver tiene salud con todos esos pero no tube poca pena de que no hu-
biese Vm . rrecevido mi carta que escrevi de mi llegada que para muchas cosas fuera byeno que
Vm- la hubiera rreçevido despues lo abra hecho y visto que esta tierra rrequiere mas de lo que
yo tengo p.* sustentar-me en ella y esto es biem que signifique a Vm. antes que otra cosa para
que tenga bien entendido porque quier se descuida tanto comigo y me haze tanta md (m ercê)
no tiene presente la demasiada caristia desta tierra que si yo hede comprar por los precios
delia el bestido la media la camisa y el çapato las especies el azeite y otras muchas cosas que
de fuersa son menester con buena parte de los créditos de mi libro no puedo llevar esta carga
sin muy gran dafío miyo y peligro de rreputaçion — vien veo yo que Vm. no es mi padre nt me
lo deve pero es quien siempre me amparo y quien me embio aqui y deve tener memoria Para
mandar que un criado tenga cuydado de prover destas ninerias que para alia lo som y Para
mi el m ayor eznpleo que puede venir que yo prometo a Vm. quem (cres co) oy mas en su ser-
viçio que mas que ningun tumto demas de que esto no lo pido gratis sino por mi quenca que
procurare dar en todo satisfatória — y si Vm. me dijere que esperava aviso mio tiene rrazon
que ay es enterrueza media Iegua de no tener fato ni rregalos no tengo ninguna pena porque
se lo que es ser pobre y pasar-me con pamsiento lo porque estes piquaros dizen que vine aca
para m adrazo en vista de la que tengo escrito a Vm. abra visto como aca corren Ias cosas y
dispuesto de mi com o m ejor le este que si a Vm. le pareze que yo tengo en que entender con
el fato que emvia por su q.u y dei seííor governador esta enganado ya un para alcançar Ia
quenta save Dios lo que me costo y lo que despues sera haziendo y remetiendo-lo se devo ca
de pila que es quien haze-Ias L .,r« y de alli tomo yo rrazom para mi libro y aqui emvio a Vm.
el estado de la q.u hasta oy. — Espantado estoy de Vm. que se ponga a escrevir p." una yornada
tan larga y que no diga si tubo aviso de alguno arremesa a cargazon o si rrezevio algo que no
dudo que de otra manera fuera locura embiar Vm. tanta haz.*1 tan a ciegas a este ymbo >de
Vm . de avisar siempre de lo que le avise o le avisan que esta en el camino. —
C om o si Vm. tubiera aviso que aca avian sido sus cosas tan amparados como es rrazon
yntercede por Ias agenas escuse-se Vm. de eso y trato de asegurar sus negocios que es lo que
íe importa — Ias plazas que vienen en o rrego y en los demas dire su S.* que las c a r g e = e l
dolor que tengo es que no me pasaram por Ia mano. —
Farinas nunca Dios a qualas traxera por vida suya que no consienta que nadie me las imvie
que son peste p.* mi y no son de provecho para su dueno porque si aqui con las costas cuesta
diez mill rs el quarto y se vende por 20 U quando mas no se que aventajada ganançia sientem
para hazer se y hazer me molinero — pues vinagre otro que tal si me niederem mas en estas
im penínençias enrregar-las he a difuntos no lo ago tanto por punto como porque no tengo
condiçion p.“ que cosa que venga a mi mano tenga mai suçeso pues no se vende el deza come
cam elo y lo tengo a cuestos y cada cosa destas me haze una matadura — aqui fato y mas fato
de ley con que se agan negros y descuydar de lo demas. —
En la q.u corriente tengo hechos a Vm. buenos 5o U. rs por los 20 U — que dio de empres-
tam o a A ntonio L u iz y Carnero. Pareçio-m e asi rrazon pues Vm. corrio el rriesgo de los em
prestam os y yo cargo Ias ps.a por quenta de otros y p or hazer esta negoçiazion comigo mismo
y que no paresca que me alarge mucho en contar a i 5o por c.to perjudique a Vm. porque las
i 5 plaças que en el mismo A ntonio L uiz vinieron tomadas por el senor Antonio Fernandez
d’Eivas me com etio la v.á* delias, el s.or Governador — y las vendi a Ariespinel a 200 por c.t0 a
pagar en índias de que paso letra. E sto porque el bucio es una jentil mercaduria haga Vm.
quenta que lo hecho todo en Ia calle y no me da a mi poca gana de rreir quando considero y
veo la consideraçion que Vm. y el s*w Filipe Denis denen echa deste gen.w y las muchas dili*
genzias que alia deven de hazer por el y los grandes avançoz que esperam lo lindo es que el
s '
Apénitce Sî 7
: < s yp
iu5K, ^ . e[ seSor g ®
■<
5 . tef«' Vitom. j . » - •” ï — ™'™ s - /*
; re o« - *. s vendidas a Eitor Mendz no se las diera m terrn iu poaa reça
t ^ u e Fu lio aca/ e,!$'ventas es a a? D para Cartag.« ya 3» U y J, U p . n- EapaSt La
u S . - : e i P > d Bariola»« ^ seKta m casa cacht« mnolaqoiensi ; a ilgutw
Æ ^ 3£co»vi(l0e»K
W J* F « ai. g“«P"D/oa
„ rtAf Htns qoe
aile esis
esta ^Oûr caitrar
... mnA«- J* ..i..... - -» •
jî C
V f3 l f ,, sopl/r-io
0 ri tâJ tome A tó para conprar déco», Í m * ét h - ■ '»«-v
5 »«^* J L bu»í>re * í» ® *» aca es/an ,i(m tiào ^
,/U«fl
»n ,ï« * ,aifi' ' f ' » <
M.l equierei!ma/7topeoresqaepoffluil
8
■ *miP*rà>orfJt
«
ma^° Y
com m e j o r e s c o n d i c i o n e s d e m a s d e q u e e l n o es p o b r e y c o m p o c o rn e s g o se p o ra a z e r n e
g o c io e n su c o m p / c o n ta l c o n d iç io n q u e e s p r e s a m . 15 a y a d e c o r r e r to 0 P^r m i que
c a s o q u e a y a d e a v e r p u m b o q u e b ie n e s q u e l e a y a s e a t a m b i e m p o r q . - d e l a c o m p / p e r d i d a
y g a n a n c i a e s t o p o r q u e l a g a n a n c i a a s t a a q u i y I a d e i p u m b o t o d o s e p u e d e c o m b e r t i r e m d r .55
con Ia m a n o d e i g «■ s im p e r j u i z i o d e n a d i e y c o r r i e n d o p o r Ia m i a s e r a n e g o c i o d e g r a n d i s i m o
a c r e s e m a m ie n t o s u p u e s to q u e n o se d e ja r a lle v a r d e lo s m a io s y p e r v e r s o s a d v it r io s d e M a n u e l
22
d e a C o s ta n i d e o t r o c o m o el V m . s a v e b ie n l o q u e le c o m v ie n e y e s o q u ie r o y o . —
E n A n t o n io L u is q u e p a r tio d e a q u i a d e s t e c a r g e o n z e p s / p o r q . ,a d e J u s a r t e N u n e z y
d e lo s dem as c o n te n id o s en la c a rg a z o n qu e sera c o n e s t a c u y a s q u e n t a s t a m b i e n e n v i o bam **
b o rra s d e d r .°8 y p a g a d o s 35 U r s a q u e n ta d e i fle te .
L a s ps/ som m u y b s / f i o e n D i o s q u e b a n v je n a v ia d a s y e l bu en A n to n io L u i s Ia s l l e v a
b ie n a s u c a r g o c o n d i e z ( ? ) d e p r ê m i o p o r c a d a u n a q u e f u e r e v i v a V m , v a h e r e d a n d o e n e lia s
s o l a m . 15 3ç U 14 0 ( ? ) q u e p o r c e r r a r e s o t r a s q u e n t e ç i l l a s no m e a la r g e m a s t e n g a - lo V m . p o r
b ie n p u e s g u s t a t a n t o q u e a c o m o d e a su s a m ig o s . —
A e s t o s m a n c e b o s d e la s p s / h e o f r e ç i d o c u m p l i r l o q u e V m . a s e n t o c o n e l l o s s i m e m b a r g o
d e q u e n o te n g o h a z ie n d a p ero m etere to d a la q u e h u b ie r e d e q u e n ta d e V i t o r i a y I o d e m a s
d a ra el se n o r G o v e r n a d o r .—
A c a n o te n e m o s ta m b s / n u e b a s d e i B r a s il c o m o a V m . le p a reze s in o m a la s y a n s i a s ta
m e jo r a v is o d e a lia n o t e m g o p o r a z e r t a d o e m b ia r n a d a t e n g a - l o V m . p o r b ie n . —
L o q u e y o q u is ie r a es q u e n o se le p a s a r a a V m . p o r a lt o a v is a r lo s p r e ç io s de la J n d ia s
p a r a q u e c o n fo r m e a e llo s s u p ie r a m o s e le g ír d e s d e a q u i p a r a d o n d e e r a m e jo r e m b a rq u a r p s /
n o se c o m o V m . p a s o p o r a lt o e s ta s c o s a s q u e im p o r t a m .—
A s t a o y n o s o n Ilc g a d o s m a s q u e 3 n a v io s d e lo s 6 que de ay p a r tie r o n a s a v e r J u .° d e
O liv e r a F r a n c is c o M a te u s y E s te v a m Jan es n o h e p a s a d o a l a q u e n ta c o r r ie n t e Io r r e s t o s d e s ta s
c a r g / 8 n i Ia q u e t r a j o B a r t o l a m e J o r g e p o r q u e n o e s t a n l i q u i d a d o s lo s fle te s n i e l p r e c io o q u e
he d e c a r g a r la g a r ç ia q u e b in o en J o r g e q u e la t o m a su s / p / su s e m b a r c a z io n e s escu sada
c o s a es e m b ia r V m . e s to s g e n e r o s . —
P a s c o a l C a r a v a l l o y A n t o n i o L u i s p a r t i e r o n a y e r y s o l a m . 15 f u e r o n e n e l l o s 4 0 0 U r s e n L . tf5
— d e D r a g o y su s / m e a v i a d i c h o y a p i l a o r d e n a d o q u e f u e s s e u n q . 10— e l D r a g o . S i g n i f i c a n o
*f» .
Apêndice S19
,« , « » * » » ^ “ » - < * >-
„ „ r f+ V l’ , « * '* * '• * • * * » C S C L * *
**>
* -v > tfg j* •— « »• - - . . =»t‘ « ^ r« r.
‘V a'* 7< ®0il-’ ss-‘*,nes
r $0 /v <«’ S- 1
se**' de5seo-
Vt**’
4 - , , * * * * “* pfatóiM Dwwj
( B ib llo « “ de U U x a . S e t f o f t m t t n U c e a e » » v * y ,
DOCUMENTO N.‘ 67
MANIQEÍTANDA
faço saber q. eu nomejo por caaoiquiundAditórs q. k íu m ío
de $°usa’ etCQUâ\ba de asisiir e lhe dou poder peranomear os aujrkto t p v t u
f v o g a^° °S /.ac pera empedrem q. pase feto pera siroa daftári, e« Venda ‘
cg. » ?er^erero _n nfiC OSSa
ÊfeSSanvâo . seaao
a etta „< a n AfnH
pom &trftv *e oiuikm
bekos guenses « a».. f«_.
com o f<rysempre. cuwüae
__ e
\be ^arA coosen^ra,!L polas pesas m ais q.1 os. presos; custum ados, n«n quepoiam m pcli
7 -----------
• A n 3ô .
u«;tnS
^eir°s
d e m p o « 1* r *
«em . — «ftm
^r .q ._ seiao i»iíAc n»
pombeiros, ne tão pouco q st *«*da viaho na f e
0sp es0a algu c andando pola leira comfazendas desemcamiohadas as igsmtU
7
3rapc°s a ^ ^era quem as tomar, e as duas pera a defesa <k-3 Cones date
jpe a tersa pa ^ coííi as fazendas de qualquer caVidadt e cosdisslo q, seta, se
je ;oa quô 5e j . atnbaca, pa proceder cornra éla como meparecer, e maio q o^s í t
■ p_eío°í ao Pr< de manibumbo o dito p,5vogado e ao capitão do pmi&o qxe
lev ata Pr€^lie se &2erem S!_-ftr necesatio. em sSo paulo de Loaoda 3 de Outubro
<0<>*a110do
tu
5 L a etoào° -■ íBibíiítt«SiJkjada,c6i.Si-*o3itf&. 3t.*V
- ..................... m
5
DOCUMENTO X? G8
DOCUMENTO N.° 6 9
n o v iç o s P* A FEIRA DE AMBU1LÍA
MA& A BELCH.OR UKS EM 3o DE »U L
Q. SE
“ -r ie S E s r * ’
De londres da terr
50!55BCtiwmiIstm.ap«m»'«KteíOTOta!ÍÍ“
cópia, poniamtoo< s
’
■7 ^ ^ !doí081Mna
520 Angola
De qufitreoo des covados
Seis toalhas de alemanha
Dose farragoulos de raxeie
Sets covados de Cochonilha
Seis covados de veludo
Oito covados de damasco tudo com seus malafos.
(Biblioteca da Ajnda, cód. citado, ibi». i A$ v,c).
DOCUMENTO N.» 70
BANDO
Manda o sor G*r fernão de souza q. toda a pessoa de qualquer calidade e condissão q. seja
q. andar na lllamba baixa e alta, ou em qualquer outro sova ou seu distrito, se recolha do dia
da publicassão deste bando a hum mez incluzivel a esta cidade de Loanda, ou aos tres prezi-
dios somu de Cambambe masangano, e Muxima, donde serão obrigados mandarme sertidão
dos capitaes em como estão nos ditos prezidios, e recolhendose neste mez incluzivel, lhes perdoS
a culpa em q. tem encorrido ate este dia prezente pollos bandos q. sobre isso se lansarlo, e fa
zendo o contrario mandarey proceder contra elles como rebeldes e alevantados contra o ser
viço de EIRey nosso s0f, e confiscar seus bens com todas as mais pennas em q. encorrem 05
rebeldes e desobedientes a seus mandados e mando q. este bando se lanse com caixas tocadas
e se fixe nos lugares públicos desta cidade p* que venha a noticia de todos e se publicara em
todos os prezidios e se fixara no corpo da guarda de cada hum delles e outro sy mando sob
as mesmas pennas a toda a pessoa de qualquer calidade e condissão q. seja q. tiver arimos ou
escravos entre os sovas me fassa saber o destríto ou parte em q. estão p1 se recolherem ao
lugar mais conveniente e q. menos dano faça aos sovas e se escuzarem as queixas q. de comino
dão e este bando se resistira no lr° da catnara desta cidade e no da ouvidoria p1 q. em todo o
tempo conste dos que encorrerão nesta culpa e não guardarão o dito bando, em Loanda 12
de Julho 1624.— fern ã o de sousa,
(À margem : Foi este bando p* Embaça a 12. — P* Masangano a 14. — P* Muxima a 14.—
P» Canbambe a 14. Todos em cartas p* os capitaes dos prezidios).
(Biblioteca da A ju d a , c ó d . 5iomi-3o-3 i , f0|, 149)
DOCUMENTO N.° 71
C A R T A P A O C A P I T Ã O D A E M B A Ç A
Por ser esta a primeira queixa passo por ella sem proceder como EIRey nosso sõr me
manda e porq. creio q. não tera índa recebido as minhas cartas pore esta seja a primeira e a
derradeira queixa que se me fassa sua porq. na segunda hej de proceder como EIRey me manda
e como entender q. convem a seu serviço e ao nosso s.of fernão de scusa, gov." Luis CoRea
Coelho.
E porq. se entenda isto melhor, e não alege ignorância dizendo q. não recebeo as primeiras
cartas, digo e declaro q. EIRey nosso sór he servido e manda q. os capitaes dos prezidios não
entendao em mais q. na guarda e na vigia delles e no governo dos soldados e q. não entendao
com os sovas, nem os vexem pedindo lhes pessas em ocasião de mocanos, nem por outras
vias, nem pessam Loandas, nem infustas, nem p* sy nem p* os gp” ainda que elles lhe pessão e
mandem, nem inviem soldados, nem officiaes do prezidio ameassar os sovas, nem sofrão brancos
entre elles como ate agora se fez e quando ouver culpados sovas, ou macotas, o fação saber
Apêndiic t
„ p. se im p o r e castigar com o \ht pa
“ iro*“ 0 SÚSÍ seoulí s' f se ^Sanm,t
*** n c pa« que possao h ,r aos pre«d/o» “**««
P’
'
.
,
5j ;
* * a g o c lP ° " > - ^ U m c n t o hé v a s s a l a ^ * m ° ' dt „ g » ' . f * ?<* U ^
» 1 r«t J‘ o s so va s a sm a declarados se ah, d rt *0r#<,, ' -*t , W ***** •
, >“J ‘, * » « * - . . » « « . . . « » t i * « ,• —
et* P m „em fwessem forsa e q. Qs <je w'* ao J "* * <*>c l / ' ! * •'«
acenem d o s so va s se lhe to m a s* a l g ^ ^ ^
— -— . ™ "*k ~ '•“ «•
, s U S T A N C U D O U T R A C A R T A R- n
E N O M ^ 0 Dl^ 0 ^ n o A s s,
£ p o rq . ten h o escrito largam'« sobre a Vei= M
s «■ • — de
10 ^ comum ie
Ml ÍJf• *
Doc UMEüto r , ?2
bando
----
Fernão de Sousa, etc, faço saber aos q
,, de Julho proximo passado pollo qua, m l d ^ « * 9- eu ffl3od
dissSo g. fosse g. andasse na lllamba a/ta e j j « * a p«SOa hUmbindo
recolhesse do d,a da publicassão deste bando , T * ím o jl ^ ettu* * e co í
d/os de Cambambe, masangano, e
d ito s ca p ita e s c o m o estavão nelles e q, ^n ã o obrigsios { C,dide ««aos
„ C .r .a o s « . « „ ,i e ^ « * . „ L i“ ,« « « « d ;
bandos q. so b re isso se aviháo lansado e o e J 9“e tiabSo nconuU !res Pr«tòos *
nos lu g a res p ú b lic o s desta cidade com o se fo n? ,p n s tu * «® eaà3s' ** ? ,a! * peíios
maneira se pubbcasse nos preaídios sobredítos A f * ^ 9 «atida 3 tol ! M £se «é
deiies como se tem feito e o q . náo cunrnrí, . &íasse n» corpo a, „ ^ s $ dt mesma
co n tra o se rviço de E IR e y nosso snõr e L J ° d>t° bmdo seti* M o p o r f h t * a da bttm
em q. e n c o rre m os rebeldes e desobedientes C00fisearsíüsfeaícom Ja! * ' 8Íeraa'5* á íi
fo rm a s q u e to d a a p esso a d e qualquer ca lid L ^ ^ 05’ «««« spmw ^^Pen/iaj *'■
-I í
cravos entre os sovas m efttesse slber í * ' e m d is *M q. fQssíI - d)’soi)ís®esaiw f;* í
fogar ma/s conveniente e o m e l , °BdWffí0 P9™ e i « t ! » ' ^ Sn’m°S °U «*
65 9> menos dano Szesse aos ditos sovas 1 7 P' Se rfcoli>^m a
P q-secm™*<nasquíím
é--
522 Angola
q. de confino davão e porq. he passado o dito tempo de htim mez íncluzive p* que se nio es
cusem de culpa E y por bem de dar mais ate o derradeyro dia deste mea de Agosto p» neile se
recolherem todos os que andáo entre os sovas e nao o fazendo encorrerâo em todas as penas
do dito bando e este se publicara com caixa e se fixara nos lugares públicos e costumados e
se registara no \9 dos registos da camara etc, dado nesta cidade de São paulo de loanda sob
meu sinal e sello luis Corea Coelho secr* destes Reinos e do Sor G#r o fes e escrevy em 14 de
Agosto 624 fernSo de Sousa g4r luis Corea Coelho.
(Biblioteca da Ajuda, cód. $i-vm-3o*3r, tômo !f, foi. ião).
DOCUMENTO N* 7 3
Fernao de Sousa snõr da villa de gouvea do Conselho de Sua Magd* Governador e cappà®
geral dos R*** de Congo e Angolla, e suas conquistas, etc, faço saber q. considerando os danos
q. fazião as pessoas que andavão pella jllamba alta, e bajxa, assi brancos como escravos, e
quimbares, mandey lançar hum bando nesta cidade aos dose do mes de julho que todos se re
colhessem a ella ou a hum dos prezidios declarados dentro de hum mez incluzive, com as
pennas neile contheudas, e p* q. ninguém podesse por duvidas mandey lançar outro ban 0
pollo qual proroguey ajais tempo athe o derradeiro de Agosto que hora passou, e porq. ne
acabado o dito tempo, desejando Eu q. se consiga o fim p* q. mandey lavrar os dítos bandos
q. he Recolheremsse os branqos aos prezidios, e a esta loanda, e se tirarem de tam Roim vída>
e p* q. os negros e quimbares fação o mesmo e ficando os sovas livres e desopremidos p ossso
viver em suas terras, e mandar vender os mantimentos, e as pessas as fejras publicas, o que
tudo he em benefficío deste Rejno e do serviço de de* e delRej nosso sõr, sem embargo de
poder proceder contra os culpados por terem ja emcorrído na penna dos bandos p* mais jus
tificação, mando hora ao Cappw® M6t Dias por auditor general a devassar, e a dar intejro
comprimento a tudo na forma de seu Regimento, e p* que os culpados não possão ter descarga
nem desculpa, e seja notorio a todos q. vay o dito capp*® Manoel Dias mando q. toda a pessoa
das q. andarem ajnda na jllamba alta e baxa, e nas de mais províncias se Recolhão aos prezi
dios, e q. nelles se aprezentem aos capitaãs, e se asentarem nelles, ou em qualquer das duas
Companhias de sobresellente p* neilas servirem a sua Magd9 por suas pagoas, e fazendo antes
de chegar aos prezidios o dito cappu“ e auditor jeneral, os averey por aprezentados como se
o fizerão dentro no tempo, e lhes perdoarey a culpa e a penna dos bandos, porem fazendo o
contrario, ou Rezistindo ao dito cappam e auditor jeneral os hey por convençidos e declarados
por Rebeldes e desobidientes e por levantados contra EiRey nosso sõr, e por emcorrído nas
pennas destes delitos, e em penna de vida Remessivel. dada nesta cidade de são paulo da Loanda
sob meu sinal e sello. — dado nesta cidade de são paulio de Loanda sob meu sinal e sello e
Luis CoRea CoeJho Secr° destes Reynos o fes digo e do sorGor o fes em 2 de set° 624. — fernao
de sousa G or Lu is CoRea Coelho.
P Esta bando encorreu Manoel fz. landroal e se executou neile no prezidio de Masangano
e por sahir do prezidio sendo praça de soldado de pagua e se hir p* os inimigos e por outra
muitas rezoés era 3 de Marso 626.
(Biblioteca da Ajuda, cód. 5i-vni-3o-3i , foi. i?o v/).
REGIMENTO
Fernao de Sousa snor da Villa de govea, do conselho de sua magd* e capptm general dos
Reynos de Congo e Angola e suas Conquistas, etc. Faço saber a vos capp91i Mel dias que polia
grande confiança que de vos tenho e que fareis o serviço de ds e de elRey nosso sor. como se
de vos espera em matéria de tanta jmportancia p9 seu Real serviço, e bem comum deste Reyno,
/ ,
W '
Apàdice 523
DOCUMENTO N • 7S
R E G I S T O D E A L G U M A S C O N C E S S Õ E S D E T E R R E N O S E M
A N G O L A N O G O V Ê R N O D E F E R N Ã O D E S O U S A
f
(Publica-se na integra o diploma da prim eira concessão que se encontra registada. Os outros
são idênticos, tendo a mais as confrontações e variando na data).
FernSo de sousa sor da villa de govea do Cons° de sua Maga* gdoT e capitão geral dos Rejnos
de Congo e Angolla e suas conquistas, etc, faço saber aos q. esta minha provisão e carta ^ e
doassaõ de terras de sesmaria virem que tendo Resp0 ao que Ant° de siqa alega em sua petição
atras escrita, e conformandome com o capp0 i 3 de meu Regimt0 cuio theor de verbo ad ver-
bum he o seguinte: <[ Sabereis de todas as terras q. são dadas, e que ordem e q. poder unha
p* isso, e quê as pessuhe, e porq. sou informado q. forao dadas alguãs a pessoas pa edificarem
e o não tem feito, sendo passado o tpÕ em que o avião de fazer, e que estão devolutas o q. he
cauza de a povoação se não amplear e emnobresser, e achando alguãs terras desta calidade
provereis sobre eilas como vos paresser e as q. não tiverem donos repartireis peilas pessoas
benemeritas, com obrigação de as custivarê, e aproveitare dentro em sinco annos, e averem
confirmação minha, e não as aproveitando, ou não avendo minha confirmação as avereis por
vagas, e as podereis dar a outras pessoas com as mesmas condiçoens, e delias somente pagarão
dizimo a deos; Hey por bem de fazer merce ao dito Antonio de Sequeira em nome de sua
magífl de quinhentas braças de terra cravejras de sesmaria na paragem em q. declara, não es
tando dadas por outra datta mais Antiga pa elle e seus descendentes q. apos elle vierem deste
dia pera sempre, p# as poder vender, trocar, alhear, e escambar, aforar, repartir, e fazer delias
com de cou2a sua propia que he com obrigação de as cultivar, e aproveitar, e aver confirmação
dei Rey nosso sor dentro em sinquo annos, sob penna de ficarem devolutas, as quais quinhentas
braças de terra de que lhe faço merçe em nome do ditto sor se medirão ao longo do Bengo,
por suas voltas athe se prefazerem, e hua legoa pera o certão. Com declaração que as serven
tias, pastos, lenhas, e agoas ficarão livres, pello q. mando as justiças de sua Magde que hora
são e ao diante forem que lhas deixem ter e pessuhir, sem a isso se lhe por duvida, nem em
bargo algum, e ao provedor da fazenda que com o escrivão do seu cargo lhe dee a posse delias,
e lhas mande medir, comfrontar, e demarcar, pello medidor da cidade, e que da ditta posse,
medissao, e comfrontaçoês lhe mande passar seu estromento nas costas desta asinado por elle,
e pellos offea e testemunhas q. se acharem presentes, que lhe ficara pa goarda e comservação de
seu direjto, e esta se registara no Io das doaçoêns, e no da Camara desta Cidade pa a todo o
tempo constar que lhe fiz merce das quinhentas braças de terra asima declaradas, dada em
>
' ''
í%
k.
81 b r » f í « d e te rr i
Ir e mde g asp ar borges de madurejr, ^ - jr a , a ,
JO d o m a rc o de Agostinho tej** p« siai* miI
— »«rra eravfjria lonap> *3
Hetw d
d os »dres
e s oPaCS
m . de
a r ia 0»súo
p Joseph
0 ditto de sem deste
convento* braçasdia
depera
terratodo
no Rir, Bett^a, * m u
«ewpre. « , ltr;
cr&',eíf&*
net«deAnl°a pegovea de raaçedo de dureutas braças dc u rra tw> Rio
í
j h»fernão
rn de — »
da—m ota ..........
de sem braças de terra craveiras de sesmaria ao longo do bengo.
, B ento 0docom
Item n* quinta*
Jo3o de
do sento
Coutosmcoenta braças de terra cravejras de sesmaria «o
e Maria Camões.
Joog° áo y0
-ï
desta banda.
de dom ingos t-eal de quinhentas braças de terra craveiras de sesmaria no Rjo dande
de
P* súaa
terra craveira
Caterína Coelha dona viuva de graviel Roíz de Crasto de quinhentas braças
Item de sesmaria a longo do Rio dande, do ultimo marco de domiogos leal p*
Item de m og^ j
0 teixra da fonçeca de duzentas braças de terra na quílunda i~ -*=
S»
t"
r
do padre cura domingos nunes paçanha d& seisçeatas braças de terra ca quüonda,
t
Item de stmão fez de sem braças de terra pellas bejras do Rio bengo asima.
R io Item
bengo.
de diogo scrrão de duzentas braças de terra cravejras de sesmaria peilas Bejras do
'
_^y
5 i6 Angola
ítem de d u a rte mendef d o lívr* d e d u ze n ta s b r a ç a s de terra p e lla s b e jr a s d o R io B en go .
* ítem de M#> de souza tezido de mil e oitosentas braças de terra ao longo do Rio Bengo.
Item de domingos suejro cardozo de quinhentas braças de terra ao longo do Rio Bengo.
Irem de M®1 barboza C ardozo de coatroçentas braças de terra ao longo do Ryo Bengo.
Item de M adanellt C ard oza de trezentas braças de terra ao longo do Rio bengo.
Item de Roque de são Miguel de sento sincoenta braças de terra de sesmaria no sequelle.
irem degregorio dalmeida de sem braças de terra pellas bejras do Rio Bengo asima.
d= d0“1;“ 8» « ■ *— «* . w d. ,.m . m “ ,t a t -
V'
528 Angola
Ite m d e m-* datroza de sem brassas de terra no esteiro da quilunda.
Item de an*® Ribeiro Pim to de mil e qutnentas brasas de terra na coam za.
Item de duzentas braças de terra de comprido e de largo oitenta de sesmaria que se derão
a diogo R o i z soldado no prezidio de massangano, que se medirão emtre franco dolivr* e Ber-
tolameu Luís no mejo delles, e pelia terra dentro o que a medissao der lugar não peryudicando
a rresseíro, nem estando dadas por data mais antigua.
Item de me/a legoa de terra no Rio Coanza a françisco Lopez morador em Cacova, ao
longo da Coanza da ponta do enzelle pa sima em terras de Cacullo Cahango,- e pera 0 Certão-
Apêndice
dissáo der !og*f nío P ^ T ^ n d o * lerçdro um nusdo diii por dau a»« «*
»
o íue
lií*
p 0víz3° Para m#1^®ern^!^ detem to lötpß CmâZ*i* baai*
itctn dfi * começandodottde acabar t medíçiodefnacaco Upet par» w», * P*f*
dCfac.í^0 oQ
a a
auc a
que a uu«
(jiiam—edis áoder lugar
......... "»“• 'c■o«r«nobrigtç
*obriga iod
çJo canrond
deepapr Xonirrm
'«*/.
> " a°
f . am de
u~ 'pero de, souza
j ».____ *----- * v*»yb«o*
soto _mayor derail tquinhemij M « ç tdetwt «• liman daC*u>
e il* * f K-aiaví
dínnde dlZ mie t#fl\ »«!♦ . — . «
<jo Caltej ^ 6 1 ^
__JiídA AM litfla» *I< -
muita Rfúfe
---— p«uA
* •«
^uuiuuiQQtnt
iplantando tniratira1 * ao Rio Oaaxa, t pero
d®(f0títe °ü Tmédisão
^ o qoe der lugarnío perjadkaado a traseiro,
Oseria
° s6f Pero sanches mow<lot tm ®ochm» de mil Brassas de t«r* iMl040* * Cwa* \
liero 4e j pWte pola banda desitnacomdomingos petú, * P°li* áti*iWtvf-
„arts'0“e Cer,So o que a mtdissão derlugar.
TU
dms>e Pêfa
Item de jviei* bonine de míl e qurahtmas brasas de terra de sesmaria em cwd« (iäcö ao
■ rI de masanBa n 0 3 0 ^oanza P* batio de fronte de qaíipopa $ se medirS^ ídse
Pfe f zem**1»e Pera 0 ^en*° ° ^ 2 mfiáiC4Sft ^ 1.... n'ão peryadíctndo
•' 1 a----
rerse/ra
se P
íje coaif0 5 ent^s braças de terra de sesmaria em coadra no RÄHiqui, 4 te medífio
^✓ ^jLrida donde acaba frati” de ratlto, e da outra gasptr da silva, athe se prefazefsm t
d ehüâ
pera o ^r n áo o quea medissão der lugar estando devolutas e não perjudkando a tmseifo.
Item de mil Braças de terra a Am* Vaz da Cc*osta na easaqaa, em quadra de sesmaria.
:Êm de
de mil itas braças
mil ee quinhentas
quinnemas Draças de de terra
terra c;
craveiras
craveiras de
de sesmaria ao I> f* m{p)on, na
I16do
111Rio Coanza donde k acaba
acaba jsidro
jsidro de vith ^
de vitha Roei 0) ate _____
donde, eom
vl4„ esaYp*—
de souza joto
parte Dm ncima OHtas AS que
fliif* se acharem
a^««- dev J- »
*lio Rio a5*ma ou 3 5 ^ue se âc^aremdevolutas ena dita parte se lhe darepwa o «nío
mayor_apemedição
^iclo der lugar não periudicandn
perjudtcando *a terceiro,
o qüe d
{BíbljoíecadaAjoáajCôd. 5j.rra.3o/i. Gorfreo tkFínáo 4*Scu*V
DOCUMENTON.»?6
à»
i■ \-
53o Angola
anno, sessenta mil rs d e p a n n o s , q u e h e o d in h e ir o d a terra, q u e red u z id o s a d in h e iro de p rata
r valerão doze mil rs.
Provedor d a s fa z e n d a s d o s d e fu n c r o s e a b s e n te s , n 5 o te m o r d e n a d o ç e r to d a f a r 1* d e S u a
M a g * e s o m e n t e te m a doas p o r ç e n t o d a s fa z e n d a s q u e se c o b r ã o , e c a r r e g S o so b re o th e so u -
retro> pertencentes a o s h e r d e ir o s a b s ,#» d a s p e s s o a s q u e m o r r e m s e m d e ix a r t e s ia m e n t e y r o s , o u
p r o c u r a d o r e s , c o n f o r m e a o R e g i m ‘" d e S u a M a g 4", q u e h u n s A n n o s p o r o u tr o s im p o r ta r a s in -
q u o e n ta mil reis de peças d ín d ia , q u e h e o u t r o d in h e ir o d a te r r a , e ç e m m il rs d e p a n o s q. re-
r d u z id o s a p r a t a 5S 0 s in q u o e n t a e d o u s m il r e is d e p r a ta . E sta o f fiç io s e r v e ta m b é m o o u v id o r
^ ■■■ v g e r a l p o r P r o v i z ã o d e S u a M a g 4" p a s s a d a peJJa mêza d a c o n s ç ie n ç ia , e m u it a s v e z e s a n d a p r o -
u t d o e m o u tr a s p e s s o a s .
Provedor das causas do már, o qual cargo servS os ouvidores, por virtude de seu Regi
mento, não tem ordenado algum, e as assinaturas Renderão, huns Annos por outros, çem mil
rs. de panos, que he o dinheiro da terra, que Reduzidos a pratta valem vinte mil reis.
Juiz dos orfaôs, não tem ordenado algü, e hoje o serve o Ouvidor por bem de seu Regimto,
y m p o r ta o o s p ro s e precalsos e assinaturas, sessenta e seis mil rs. de peças dindia, que redu
zidos a dinheiro de prata valem sinquoenta mil reis.
Sargento mdr deste Reyno, tem ordenado, em cada hü anno, oitenta mil rs. pagos em di-
r e ito s d e e s c r a v o s na feitoria, e não tem emolumentos.
Feitor da fazenda de sua Magda tem de ordenado, çento e vinte mil rs, pela folha pagos
em si mesmo nos d ir e to s dos escravos.
Im p ortã o o s despachos dos navios, q. vay dar a ilha, çento e oitenta mil rs. de panos
huns annos p o r outros, que reduzidos a dinheyro de prata valem trinta e seis mil rs.
Tem m ais tres peças de escravos, fo r r o s de direitos Resgatados com sua fazenda, da li
berdade que sua M agd" ihe da em cada hum anno, que valem dezoito mil e seisçentos rs. de di
reitos.
E scriv ão da feitoria, tem sessenta mil rs, de ordenado, pagos no rendtm1®dos direitos dos
escravos.
Tem m ais duas peças forras de direitos Resgatados com sua fazd* que valem os ditos di
reitos, d oze m il e quatroçentos rs.
I m p o r ta r á o que leva das avenças dos navios que entrão neste porto, e despachos dos
que saem , trezentos e sessenta mil reis de panos, que reduzidos a p rata, conform e ao valor da
terra , v a le m s e t e n ta m il e quatro çentos reis.
T e m m a is d o a s e n ta m e n to d o l i v r o , a d e z reis de panos p o r cada peça, que hü anno por
o u tro im p o r ta r ã o ç e m m i l rS. d e p a n o s , que valem de p rata vinte mil reis.
I m p o r t a r ã o o s p r ó i s e p r e c a ls o s e e m o lu m e n t o s , trezentos m il rs. que reduzidos a dinheiro
p e l o v a lo r d a te r r a v a le m s e s e n ta m il rs. de p rata .
E s c r iv ã o d a fa z e n d a d e s u a M a g ** te m d e ord en ad o sesenta m il rs. pella folh a, pagos em
d ir e ito s n a fe ito r ia .
T e m m a is d u a s p e ç a s fo r r a s d e d i r e i t o s r e s g a ta d o s por sua fazenda, que sua Mag4®lhe
da d e liberdade, e quatrocentos reis de direitos.
q u e v a le m d o z e m il
duzentos mil rs. hum anno por outro, de panno que Redu
Im p o r ta rã o o s e m u lu m e n to s ,
zidos a d i n h e i r o d e p r a t a , v a le m quarenta mil reis.
Dous guardas da feitoria tem cada hü de ordenado dezanove mil e duzentos rs. por Anno,
pagos na feitoria em direitos.
Importarão os emulumentos çem mil rs. de pannos a cada hü, que reduzidos a dinheyro
vaiem vinte m il rs. a cada hü.
Meirinho do mar não tem ordenado aigü.
Esta reíaçam e mem ória m e deu o Licenciado Dionisio Soares de Alvergaria ouvidor
gerai deste Reino jurada aos santos evangelhos a de como ma deu e eu approvei pera a mandar
a sua Magd0 na form a da instruçam do dito snõr assiney aquy com o dito ouvidor geral.
Loanda e A g o sto ( ilegível) . . .
DOCUMENTON.* 77
P F 7 N?A BFATlSr i r ESTAS QÜE A RESIDEN’ÇlA *>E ANGOLIA
jC A Ç A 0 D O B E A T O P A D R E F R A N » D E X A V IE R
D A C O M P A N H IA de jezu s
Tamo que soubemos a nova da beatificaçãopareseu ao padre soperior e mais padres que
no mesmo dia se festejasemtamalegres novas conforme a possibilidade da terra guardando o
mais do resto para o seu día. Ordenou o padre superior que fossemdons padres a pedir ao*
senhores dos navios que mandassemdisparar a artelharia, e avttar aos prinçipais da cidide da
nova da beatificação do B. P. fran»de Xavier pera que eiles nos ajudasem a ÍMicjar, c dar
mostras de alegria. O mais que se aventajou nesta matéria foi o governador Lnis Mendes de í |
■ ■ !*'
Vasconselos, porque tanto q, soube da novamaadouahudosmoradores que sedisparas« toda 1
a artelharia das fortalezas, e navios, e se arvorassemrodas as bandeiras, mandando avizar
nossos que da sua parte estava prestes pera festajar o sancto, e logo depois das ave marias
dado o repique de sinos no nosso colégio, e seguindosse a dasoutras igreías mandou q de
pendurar das janellas de sua caza e varanda mnitas luminárias aparesendo no meimo tempo
toda a cidade e navios ardendo em fogos de varias laminarias, o que cauzava bua aprazivel
vista particular mente o mosteiro dos religiozcs de S. Fran» e o nosso coíegio, que aí«® de
lumináriasdeque estava sercado, ardia emfogos, de alcatrão quedurougrandeparte danoyte:
Em todo este tempo soava a artelharia das fortalezas, e navios e camaras, que em diversas
partes da cidade estavão postas. Os estudantes tambê se derao por obrigados a festajar o
santo, deitandomt<JÍfoguetes, ebuscapésque tinhaoguardadopera abesporadesancto igaaiÇio,
achando que o sancto como pai os daria por bemempregados na festa do filho, a quem em
vida tivera particular afeíçao, e amor por suas eiojcas vertudes. Esta íoi 0 demonstração que
vemos no mesmo dia que chegou a nova, e logo tomado 0salio delonge coraessou a preparar
0 necessário pera a festa do dia, visto a terra ser falta do necessário pera semelhantes festas;
e no primeiro lugar se tratou de fazer huã bandeira e retrato do sancto, e outras pinturas pera
0q. ajudou mt0aver na terra umemsignepintor, que 0gífl(Luts Mendes de vas conselos trouxe
emsua companhia quandovejo do Reinoe sempre 0 teve emsua sasa; e porque primeiro avia
de sirvir a bandeira que 0retrato mandou 0 tf* que logo se foese a bandeira com as armas
da nossa companhia e sanctissimo nome de Jezus, sercado por todas as quatro partes de vanos
romanos, a qual bandeira se arvorou com toda a solennidade aos vinte sete -de setembro,
mandando 0tf* que se ajumasemtodas as companhias da terra em huã grande prassa que
esta entre as suas cazas, e 0nosso colégio, dando cada huã mostras de seubrio, esforso, gas ?-
tando esta tarde emalegria, revezandosse 0disparar dos arcabuzes, e mosquetes^com 0 som
de sinquo ternos de charamellas, que emdiversas panes competião, e susedião buas as outras.
Arvorada a bandeira comtoda esta solenidade mandou 0g** com a mesma pregar ao pe do
mastro hú quartel emlouvor do sancto, muito bemcomposto comgrande eloquençia de paia-
i
532 Angola
inn*, ^nimamdo e com vidando aos p oetas com vários prêm ios aos lou vores dos and* e em
suma com tinha o segu in te:
P o r p rim eiro prem io hu m oleque (que na terra he m oeda de 18 mil rs.) O segundo premio
huãs m eas de seda.
A o que m ilhor fizer hu soneto sobre qual quer m ilagre do sanei0, ou sobre alguã das suas
vertudes tera p or prim '0 prem io hfi moleque, o segundo huãs meas de seda, com a poblicaçSo
do quartel.
C resceu o anim o e espirito p oético aos poetas que não erão poucos, e todos com esperansas
de alcansar os premiq^; antes de chegar o dia do sancto se tratou da ordem que era bem ou-
vesse na divtzão, e destribuíção do que estava aparelhado, de m odo que durasem as festas por
todo o oitavario (com o duraram ) e asím irei dizendo por ordem o que se fez em cada hu dos
dias.
A in d a que o estilo desta cidade he fazeremse as procissões no proprio dia do sancto polia
m anhãa com tudo p areceo m ilhor e mais acom odado, que a procissão se fizesse na vespera polia
m anhãa (na tarde não é posivel por rezão das ordinárias virações que nesta terra fc o stu n ta o f)
a correr depois do m ejo d ia e com tanta vehemencía que não poderíam as figuras andar, nem
fallar, alem de m uito pô que alevantão, tanto que as vezes he neseçario hir andando com os
olhos fechados; e asim bastante cauza havia pera se não fazer na vespera do sancto a tarde)
nem tam bém cotnvinha fazerse o dia do sancto polia manhãa porque a jenie principal queria
ver a procissão e vendoa não podia hir tom ar lugar pera a pregação, e a ísto se acresenta que
co m o a procissão avia de gastar muito tempo, não ficava bastante pera a missa cantada c
p regação, e fa z e a d o s e na manhãa da vespora do sancto seevitavâo todos estes inconvenientes;
e asim a vespora do sancto polia m anhãa se gastou com a procissão (que foi a milhor que ate
agora se fez nesta cidade da loanda) asim polia muita variedade de danças com o pellos carros
treum phantes numqua vistos nestas partes.
S ah io a p rocissão da Egreia m atriz desta cidade ate ao nosso colégio mandando a camara
arm ar, e com sertar as ruas, e cam inhos prom etendo por premio a quem m ilhor arm ar; vinte
cruzados, estavão as ruas de huã e outra parte ainda na parajem em que não avia cazas muito
bem arm adas e o chão cuberto de m ateba que responde a espadana de portugal e com o esta
cidade careser de fresqura de arvores neste dia não faltou polias ruas, estando em alguãs pa-
rajes arvores cubertas de flores da arte q. pudíão com petir com as da natureza, davão prencipio
a proçissão tres gigantes com seu paj c o m o se costum a fazer em Lisboa, e derão muita matéria
de alegria a todos e espanto aos negros, os quaes dizião que a casta daquelles, não vinha a
A n golia porque não cabião nas naos. A altura de corpo destes gigantes passava de vinta sínquo
palm os, bem vestidos, e trajados, e c o m serem b r a n c o s o paj hera negro anão de tres palmos
que se apanhou na guerra de Dongo, levava hus empreias fs ic j e roupeta de veludo vermelho,
m as de ceda, e sapatos branquos, e hua gorra na cabessa de veludo de varias cores, tudo muito
pera ver e m uito m ais quando ralhava com seus filhos e falando com eües lhes dezia mil do
naires; apos os gigantes se seguia huã dansa dos crioulos de samtome que na ligeireza de
dansar vensião as m ais e com elles hia o seu rej diante do qual dezião suas arengas conforme
seu costum e, seguiasse logo as confrarias desta cidade que são as seguintes: A confraria de
sancta luzia, a d e sa n cta m aria m adanella, o corpo sancto, a de sao joseph, a das almas, sameto
antonio, nossa senhora do rozario, nossa senhora da conceição, a do sanctissimo sacramento,
todas com suas insignias; logo se seguia huã nao que reprezentava a em q. o sancto se em-
a p ê n d ice
«2
534 Angola
altar* ooto palmos, a postura era a ordinária como se costuma pintar o B fran°* de xavier
com os olhos pregados no çeo, e as maÕs nos peitos alevantando a loba sinal das abrazadas
emchemes dos gostos do ceo de q, gozava a alma e coração; na cabessa levava hü resplendor
de prata dourada, a loba de gorgorão toda cuberta de lavores de cadeas de ouro, diamantes,
rubis, esmeraldas, pérolas finas, brinquos de ouro, que sc ouvese tudo de avaliar não tivera
presso; e sobre tudo hera pera ver a ordem, e trasa com q. tudo estava traçado e comsertado;
o trono do saneio hia cuberto de tella verde; aos pés hfi seraphimdc vulto; dentro deste carro
bião os quatro anjos custodios de europa, india, japâo e china, mui bons muzicos e tangedo-
res; os quais todos hiâo descantando com violão e rabequínha, e cantando os tríumphos do B.
íran*9 de xavier, e mtfl que fizera nestas partes; todos riquamente vestidos; o anjo da Europa
levava na cabessa hua capetla de flores de seda, e ouro tesida sobre huã cabeleira emtransada
toda em fios de finas pérolas, emgastadas em ouro, sercandolhe todo o peito, e costas, vestia
huã vasquinha de sitim carmezim, golpeado sobre tella branqua, tomados os golpes com cano-
liíhos de ouro, de groçura de hü dedo, toda bordade de ou ro; em síma hü roupão de veludo
verde, e amarello cuberto de rrendas de ouro tomado com hü sendal de tafeta carmezim em-
rolado com hü riquo colar de ouro; hü gibão de tabe, com volta, e punhos de fio dourado.
Semelhante hera o trajo dos mais anjos, ainda que diferentes no ornato, e variedade de pessas
de ouro, de pedras Preciozas, grãos de aljôfar, e cor de vestidos; abaixo destes anjos estavao
quatro vertudes fee, sperança, caridade, culto divino, em que o sancro se esmerou: a feelevava
na cabessa huã grinalda de pérolas, no mejo huã cruz de ouro cuberta de diamantes, hü vestido
de tella branca e azul; ao pescosso hü colar de ouro no qual esta dependurada huã serca e
ouro, hornada com vários brincos de ouro, e muitas esmeraldas, na mão hfí christo muito de
voto, e fallando com o sancto dizia.
A esperança levava grinalda douro, e prata, vestida de velludo verde lavrado, cuberto de
passamanes de ouro, hornado de mI0B brincos de ouro, e finas perollas, louvando ao sanctn
com os versos seguintes
Apêndice 535
hüPbSo* t<Ui;.h ?í0!ír * ^ 80P««uo, e0 1 tap» .‘os cr .*.
dcjJv0
'ríSquí aoíancíodem«o os«gnini* *
E á im ita çã o de eu ropa apresentou ao sancto huã dansa de bugios m10 ao natural que ao
som e pancada da v io la fazião todos os meneos e esgares que custum ão. Seguiasse logo o
japan, o qual tinha na cabessa huã trurnfa de cam po azu l, com alguas rozas cubertas de pontas
de ouro, e outras de volan tes brancos de vários lavo res, a que davão g ra ça suas fitas em ear-
nadas q. p o r dentro d o vo lan te p a re c iã o ; na diam teira levava hü cru cifixo de ouro, de mejo
palm o todo esm altad o, e p or ca lva rio d ezo ito díam am tes finos, e p o r ro to lo da cruz hü dia
m ante fino, ficava o cru cifixo dentro de hu circu lo de aneis; seguião se logo p ollo mais corpo
da trurnfa v á rio s la v o re s de p érolas en tresechadas com sete esm araldas, e sete diam antes, le
va v a huã m a rlo ta de setim azul, to d a b orlad a de o u ro , as ca lça s de borcatel am arelo, com
lavores b ran cos, e ro x o s ; S u a oppa de tella fina, com m u itos passam anes de ouro e gibão de
tela de o u ro , m eas de seda am arellas, os sap atos de veludo verde, todos cu b ertos de ouro, o
p eito levava tecid o com m uitas cad eas e c o la re s de o u ro , na ilharga hü treçad o de p rata com
bainha de veludo verde cu b erto de lavores de prata, de pendurado de huã banda de prata, e
d izia os versos seguintes :
Apêndice
5 j '7
«o oroorul
<íoeo corpode&ktfe
OMpiriloJCKúWttí iïtt <3***. fíw*
^ * ^ ' 84'‘f’vsí*
^*HoAf
*M<*« itrot de ®**4í**u **
** ****« (*,
.a r * - *
■ " - S i* ,
OfFerecia por remate huã dansa ^ •
sancto padre fran" de «vier receberão®““ 05 b < * em aa,,á. ■
verde m : tomada com hú volafl!e !em , •* « w *
de ouro de me,o palmo, em lugar* ,° íy a ^ lavo«, M * , * “ CUt< ' «•! «'-are {
cheia de ambar; seguiáo se logo !res ^ huí ^ JJJJJ «<*•!* o * * »
todo ma.5 corpo da trumfa eslava ^ t °Wo P«'« OT
com trmiarubis, 1res rel.canos deouro Se" B ,an°! hw « * i
de ouro a modo de esferas; seis aneis C0“ P" 8Sd^n,bar Orb-rL * J T ’ tn'?tMíbí^
our0, tudo com muna hordeme comser.o f * 5“ “ »‘ Was; á ^ T ' ‘T * 6“ * ’“ *
Iodo borlado de ouro, e huã opa depaJ ’J m n ^ ^ m h i T ' 2 * * * * * *
verde mar, a espada pratiada, o pei,0 Cühf ° s c ,avor« íhioa “ Mft«ol«rKo.
oferecendo ao sancto o império da china comÍ yIrf S ^ ta / Í I d ^ J f
c , crsos Mguintei
Se o soí noespelhoferiadae
tátoretorot
comqDCBeocomomo^
dobradaluz repartindo
f ' nan*'hm inmmi<,
Como aÍndia ventmia
de fran»espelhohatido í
qaeqaalsoldedêsaacldo wdeosliuôtçf^
ihe deuJu2raíraculoia A d e q u e recebi*
“ ^woidkq.iei,
Eajos tamresplandeífutes
desteespelhorezalurão f .*TOi tol rio cwii^iSc
que os chinas alumiarão
jnda qoe do sol auzentes a<J0eifetoujiJtjtei beiu
«qnttmprtrsuj,,^
tàaairaiifflsintoí,*
avoss° coitooftnao,
quantosrejnnjih5obdestm
4Tl0T«w resplendor
v
538 Angola
neptuno ^companhavao quatro sereas com seus estromentos músicos descante o qual acabado
davlo suave nuzzica ao sancto ao mandado de nepiuno, o qual sahia a campo dançando estre-
madamcnte quanto se podia dezcjar de hG mestre desta faculdade, e ás vezes dançava com as
sereas, acabada esta dança mandava neptuno aos pexes que sahisem ao campo pera também
festejarem o sancto, e obedecendo os pexes deitava oballea polia boca huã dança de des pexes
que ao descante de sereas dançava muito bem; acabada a dança se tornavão a recolher pella
boca da baüea; finalmente oferesiase neptuno ao serviço do sancto com os versos seguintes:
Detrás do Carro treumfante erão levados em triunfo, a idolatria, mundo, diabo e carne; a
idolatria hia asentada sobre huã bicha de sete cabessas cousa prodigiosa, o trono da idolatria
era riquíssimo de ouro pedras preciosas bastante pera fazer idolatrar aos cobiçosos; as ca
bessas da bicha erao todas coroadas, e cada huã tinha particular mistério e significação; no
mais alto estava a cabessa de hü leão que representava a soberba, abaixo o de hü jumento,
que nas letras umanas he símbolo da avareza, como a do cão a da inveja, a quarta a de hü
porquo a lexuria, a quinta a do tigre a ira, a seisra a do lobo a gula, a sétima a do animai pre-
guisa do brazil; dentro desta bicha hião dous homes que a fazião mover sem serem vistos, hü
nos pes, outro nas maõs, com o rrabo dava tres voltas mui grandes e sobre a terceira o levan
tava pollo ar mais de tres covados.
Junto a edulatria hia belzebu acompanhado dos quatro diabos de europa, índia, japão e
china, queixandosse todos serem desterrados de suas províncias: e depois de vários queixumes
confessavão que o beato franco de xavier era tão grande santo que ate elles o querião festejar,
e pondose em hordem nove diabos dançavão com os tridentes. Ao carro treumfante acompa
nhava toda a clerezia, e relegiozos q. avia na terra, aos quaes seguião os principais da terra, e
mais jente do povo, que alem da que hia no couse da procisão era tanta que n lo cabia pelas
'-« S sa*— — ^
Apénáice
55o
. «m an go W t ? © « * «a o r d « * * p to c e ^ fe d * re-tae«?* v *
n u * o ü tf<
í 'ía * * çttfan w <a abadou w bitu a o « « :o « « r * te o ib e i t» utr.*^ o ^ 3'"
v « rd e to d o b e i ad o re qtui^iavJirttçstti t o o fc&* i r .í s .'i à * '
dÊÍ> u a v e s r id o á e ^ - a n e i t a d e c o r o a , to m a d o * p o t G en tio e©-.- b ft to U t i * q *e Vht « A
g»°l qoart°s a iyvmtaVvia tciida dt vau^siusore* decadcat de oaro, ç-tv-lu* ív&**^y«~'
a
c0l° staSr loí^a e^l° pteço- oo* pesVtrta^a Waibnmcai wd*s cOwiws 4* V*’;-'Áx *
^ V o u í o - T « 5“ "° W a -
<JeaS OevinQ %*xht » m o rtçwnoM
Ktpeíbo afiirccut <S* w«Uâ* t 4
único f<r,lx »6 c » nul» iix o w
retrato puro m vito 4a ew&AtM
n»v mvrvõlh*» ztro « onU^tov»
obra da «tio àe t>» dt «aeaatáade
c EoaJracote tio divino, e aaafto
que oVhanàD pera «ot tudo Vxc eapaato.
to m a is a d a t a o m undo o n o v o lu m e
q u e r e ce b e ste \ a d o s o l d ivin o
q u e d a r p e r p e tu a lu z te ta p o t co stu m e",
540 Angola
A g o r s que go zai» d e t c ono, e trin o
a rfs fa e m c o m p rc h c n slre l no a lio come
com m ala a m o rq o e de p a la v ra s c o p la
vo a s a c rific o p a rte da e tio p ia .
Junco á C a d ea, sobre as escadas da G am ara, p o r ordem"e traça da mesma G am ara, sahiu
h u a fig u ra q. reprezentava todo este im p ério da etio p ia, tra jad a com form e ao costum e d aterra,
que he hCT p an o na sin tu ra pera ba xo, e o m ais como a natureza criou. O pano da etio p ia era
r/q u is s/m o tom ado peiía sentura em hua em ponda de seda, e depois de dizer ao sancto os
versos seguintes espalhou com grand e aR ogancia m ,M pataquas, o que foi causa de gosto, e
alegria peiía contenda q. ouve sobre quem as a v ia de apanhar e recolher.
A prata deixo
, e ouro q. se encerra
no sentro destes rejnos, e os aromas
que vão peta as entranhas desta terra
etn vaso de chrlsta! soberanas pomas
porque a fragancia vossa q. desterra
os prestosj os Bálsamos e gomas
tudo vense; e a luz que em ver se esmalta
oasendrado ouro poem em falta.
^ A iá ía
<s v -
0 santo inacio acabou de falar os anjos do carro ireumfime lhe dtrk as*. há
ta « 10 ?' cabada, serrouse a vgloria; c os quairo anjos
}(iu#| “*'• * tirarão o saneio -V
do carro IIV
tresadaiKe,
UUI
® Tü3"o em hfi andor
*x -«dAp mu*t0
muito ^em
bem ^0rna^0’
hornado. nono oual P^gwSo os vereador» íensfe *?;;_„í
r>po*rZn n*
e o PiU2era
1 honrando louvores ao sancto ateooorem
U3 *“___ • nn a!t#r...mnr
----__ mm. wllur i«,.
» *v—
,a&s»e
fli**- ° Sr^nonias
s,' e 05 rI{T1g
8 in ^ ---acostumadas,
. E ja que • estamos dentro, da igreja sera »V"*
bom *•'
dar «wu«*u*de
tmtn*
dató e. S8 hornada, e armada estava, e por pareser de moradores melbof fafttfiaQ
B"m
im
ídk
qua^ °c ‘ taS partes, asim na traça, como na riqueza das sedas, e arqaoi desera qsentaadoa
qUe vlf Luis Mendes de Vasconselos de que logo farej menção,
faze A ° ito da igreja estava armado de tafetás novos de varias cor», 35 pared» de boi e
narte, por baí*° com dfi daaiasqu0 de variss cor«>«por sima cobertor» riqitt-
oUtra P os mais deles borlados de ouro; todos ao redor estaváo quarteados de m w de «.
sim°SCÊ damasquos de varias cores que duião com as dos cobertores, tudo com propoçia, e
lud°5í oondensia de ambas as partes. Toda esta armação estava dividida c quarteada com
C0^ de algodão lavrados com fitas vermelhas compassamanes deprata que Ihedftvíomti
C°r elSalem de muitos volantes que por todas as partes da igreja estavio dependurados, mas
8 ra^a' do realsava a obra do Gor luis raeodes de vasconselos, que emventou e traçou para
s?k.rf ^ corp0 da igreja da capela mor, por ser nossa igreja de hu so corpo, mandou feer
d‘vl 1 c0)unas e t^es afC0S com'5üa c°faija; tudo de obra toscana feria pellas rtgras t me-
< O da arc^etectura, na qual como em as mais artes he emsigne 0 g.*, 0 arco do meio res-
dS'a ao altar mor, os outros dois aos das ilhargas; toda esta maquina be de madeira, cu-
P°n 1 rU5 o pintado; os pedestais das colunas de jaspes, 0 corpo da coluna e vio entre os
^efía e cornija, de cor vermelha, os arcos, base e chapiteí das colunas, toda a mais cornija de
arC°\lo f°^oS os camP0S verme^os»esíayão cubertos de varias frutas de sera, todo 0 jecero
anluvas com suas parras, laranjas, limões, sidras, peras, inasans, figos, e outra mu fmta, e va-
dfi Uflores, tudo tanto ao natural, que se pudião emgaoar nao 50 as aves do ceo, como comas
naS de zeuxis, mas também homês como zeuxís com a toalha de parrazio. Sobre a cornija se
UV3S ravão quatro pirâmides, de cor amarella, e aos ties vaôs, que ficaváo enue elías, estavão
eV ‘ rras tres em cada vão, as duas estremas cheas de asusenas, nas do raejo ramos dema*
n°V€ limões e laranjas, cada buá comsua fruta; e não deixarei de advertir, que ainda q. estas
SaijS; e arcos se posão fazer facilmente emlisboa e outras panes, coa tudo em angola hc
C° U(iíficultozo por que nem oficiais nem madeira acomodada pera se fazer, e se nSo fora a
mUl • nela do 2or. aue por espaço de dous mezes desde pela maahá athe oouie estava
ioando, e encaminhando os ofictaes, nao se poderá levar a obra a cabo.
recendia a igreja, mas tudo deixo, e so quero fazer meosáo dodosretrato
€nS1Muito, podera dizer do ornat0 conseno e riqueza áos
que de novo se fez
chcifOS e Perfuínes cotn
dUÔ osso B. P. de xavier, 0 qual estava no altar da ilharga, queficaaparte do evangelho; obra
? 'perfeita quanto se pode dezejar, nem creio que emnenhua pane se faria milhor. 0 quadro
em outo palmo e meio de alto, e seis de largo, nelle esta todo 0 corpo do saucto, com os
nlhos no ceo, como se costuma pintar; e com tal arte que iuntameme estão pregados emhu
crusifixo que tem na mão esquerda suando sangue como 0 do castelo de xavter que 0 suava
quando 0 sancto se via em algus trabalhos ou perigos, e nas sestas feitas do *nno em q.
542 Angola
aaneto morreo, de que faz meosâo o nosso P, H oraiio tursclino no livro seis capitulo 1 da &ua
vida. Junto ao crusifixo ficavam vario» generos de tormentos e martírios que Ds representava
ao soneto, e a vista deles d izia: non satest domine, noa sat esc, as quaes palavras estavão es
critas com letras de ouro. Mais abaixo estava o mar pintado, e nele hÒa nao combatida, e
quosi sovertida dos ventos, com o batel que o sancto m ilagrosam ente fez parecer, da outra
porte estava pintado agloria, gostos, co n çolaço ís com que Ds lhe enchia a alma, c coração, e
com a mão direita olevantando a loba do oito, saindo lhe da boca e em letras de ouro aquelas
palavras: satest domine, sat est. A o pé do sancto estavão dous anjos cada hG sustenta na ca
beça hu rotolo de letras de ouro lançando com muito arteficío, no primeiro plano estas pala
vras: B. fran*®, no outro, de xavier.
Isto quanto á procissão em que se gastou a vespora polia manhã naqual ouve também
alguns pasos, e representações de devotos particulares, que deixo por brevidade. Natardeouve
vesporas solenes, e á noute o fogo seguinte.
Ouve primeiramente hu castelo de fogo, m ontantes, rodas, arvore e outras invenções. Da
ca za do governador se lançou hu cordel ao nosso coleio e por elle se lançarão hua duzía de
fuguetes, com tal furia que sahindo de caza do governador e dando na parede do nosso co
leio, que he boa distancia, hião acabar aonde sahião. A arvore de fogo tinha sete dúzias de
bom bas, cada hua de quatro palmos dez dúzias de fuguetes, seis dúzias de buscapes e sínco
rodas de fogo. Os montantes forão dous cada hu linha sete fuguetes amarrados ao pau cada
fuguete destes d esp iâ a seis buscapes com suas repostas; a estes dous montantes respondião
duas rodelas de fogo cada rodela tinha dez fuguetes polia borda e cada fuguete deitava de si
tres buscapes. O C astello de fogo estava situado no meio da praça tinha de altura trinta
palm os e de largura vinte repartido em tres quadros, todo muito bem pintado de modo que
$o a vista atrahia os olhos, na quadra de baxo estavão quatro esferas grandes tão be pinta
das cada huã em seu canto, cada esfera tinha doze dúzias de traques e quatro dúzias de busca*
pes, e o mais fogo do castelo he o seguinte: sincoenta bombas cada huã de outo palmos, seis
dúzias de fuguetes trinta dúzias de buscapes vinte quatro dúzias de traques dependurados a
m odo de cachos de uvas dezaseis rodas de fogo e hüa bomba que foi dar fogo ao castelo.
Alem de tudo isto se lançarão mais de vinte dúzias de fuguetes e doze dúzias de buscapes. Os
estudantes lançarão também grande copia de fuguetes e buscapes. 0 mais fogo se guardou p*
a outava do sancto de que adiante faremos menção.
No dia do Sancto pola manhã, ouve missa solene cantada a tres choros, com todo o genero
de instroraentos e pregação. A tarde deste dia se gastou na destribuição dos prêmios das poe
sias que se derão com toda a solenidade sendo juis delias o governador, hü letrado secular, e
hü padre nosso, e antes que relate as poesias dos prêmios, quero no primeiro lugar escrever as
que c o m p o s o governador, q. se ouvessem de entrar em competências a ellas se darião os
prêmios.
Soneto
Aquelle mercador que com sua vida
a redempçáo comprou ao mundo ingrato,
vendo na índia em droga estar o trato
da fee quanto a maldade encarecida;
documento)
N a m an h á a d o segundo d ia , e 0as .
p reg a d o res a le m dos nossos fo/So * * fo<k o 0yvaw, .
,P/ranw
n« a
®o011,1
a tr o. _
d o carm o. T.o das w0 *^crao
T * " 0’mui
rfot>*
h_»c c j « ° * * cm « ,, itso4ot. >-
,T<>
adas, cornao
c o rr .a o vartos m
var‘os - w ç o . a cidade C0” UJ¥* * ro' ,e « »
« . i u ç *â*o« do
-a c -Z 70e
: C£>®
i a 'i>varí/>* «to /- •
co m suaves musicas davao alvorada*. an “ *rnuaeotos a «s p e rte rf* *
" “ião,
“ V od as estas manhaüs sablrão algUas dan^J <Undo a to à o t • »<Wv.r * £>?* 2 '
E t” „ n se representou huâ comedia pastoril - t * * ’ * mveo$°és dalegria. Na tarx . a .'
<,yI3e sen ten cioza poesia, na língoa portuaw , , Prafa P * * 1“ » . co m p oít* peBo s o n r - J ? 3***
“ ?v^ « t « — j = " ” br
« io ves tio de verm elho; e tamfe? fi “ -i r ,c°
, s>
" “e «os
• bb"charamelfos,
««” - s 5 * -! • * ~ . J v * *
°o va s toadas acom m odadas ao q’ se repr?2ea0ta^ h^ araf 0* na * » « * * * í*r< jf
£ a c a tn ara deu, pondo de prem ejo a tres ^ m e n l r fBrceir** e < ^ r u o y t.v * ouv*
£ m elhores sortes fizessem. Ouve varias SQrCes J ^ ® . * * * * « « c ru z a d o s * oatros
^ rtties os a n ím avão a continuar cõ m*«< n a,.,, ^ penS°* « com apj*uz£> /U . 4 p r®a* ° * ****
- S sah irem os touros sahio ao £ £ * ? *? * *hes 305 * * -
C r l e e c o m p e tir cô as melhores de portuga* n ^ » Í0Í,a tam perfeita o’ oorf' t9Táes* ãnles*
j ° todos os instru m ento s, e exercitados na^ar . Por<,’ aiemde serm £ & * * £ * * “
algas cõ m 1«* colares, e cadeas de ouro; e ainda 0 ' . i f f8 r hiâo ricam“ v e s tid ^ fe *
^ a v e n t e jo u a todos na arte e destreza’ em * L V * ? ° ^
aous ch o ro s toadas do Sancto. A quinta. s « ta a r ,c d l0 ía r ; eram por todos t r . , , “
g o vor ordenou, p ara as quaes se aiuntarão seis m i,Sc? ma,tarde se gastou cõ as s o n « * ^ *
fa rd e da o y ta v a do Sancto tomou * sua c o u t “ ^ e — P— « ^ f
sen tar aquele passo de vrda do B. p. fran> de e M lU L r Z r Z
p ro p h etizo u a vitorm que os portuguezes alcançari a 9 ° do « ta n d o pregando em j
àc g u e rra, bem com posta, e de bom verso, "* £ £
c a rm m u ode Fon„ 9 P ^ r conforme o de H o ra tio fib. 4
est «nvercís est}« « . ' el bt>Tí*
Vir*»,,, ' ^ Í0Ç90UDâfrfi
Virtns, nec irobeijem f„oCes
progenerano (?>atjoUae coíumbam
DOCUMENTO N.° 78
P R O V I S Ã O D A D A P O R D . F E L I P E II, D A T A D A D E 14 D E F E
V E R E I R O D E 1 6 1 5, M A N D A N D O S E P A R A R O R E I N O D E B E N
G U E L A D O G O V E R N O D E A N G O L A , F O R M A N D O A S S IM U M
* NOVO GOVERNO
E u El-Rei faço saber aos que esta Provisão virem, que semdo eu informado quanto convem
ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Províncias do Reino, que chamam
de Benguella, que corre com a costa do de Angola, assim pela salvação das almas dos idola
tras, que as habitão, entre os quaes eu desejo muito que se prante a Fé Catholica, conforme a
minha particular obrigação, como por os proveitos que dos fruetos d*aquellas terras podem
resultar á minha Fazenda, e ás de meus vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no
descobrim ento delias:
E vendo como seria mui difficultoso effeituar-se e sustentar-se a esta conquista, não es
tando separado do Governo de Angola, por o que a experiencia tem mostrado do pouco que
poderão obrar nella os que o tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que
fazer no com ercio e quietação dos sovas mais visinhos a Loanda;
E considerando, por todos estes respeitos, e outros muitos, de muita importância, que me
são mui presentes, em que também o é dever de prevenir aos rebeldes e piratas herejes, que
poderão introduzir na gente sem luz das ditas Províncias a perversidade da sua seita, não tendo
ella quem lhe ensine averdade da Relegião Christaa, quanto importa que, sem nenhuma dilação,
e com todo o calor, se assísta a negocio de tanta qualidade, e tão digno da grandeza da minha
C orôa, e do animo com que eu queria que sempre se acudisse a semelhantes empresas:
De meu poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, como de feito separo,
por esta presente Provisão, a Capitania, Conquista e Governo das Províncias do dito Reino
de Benguella, e de todas as mais terras que jazem até o Cabo da Boa Esperança, do de An
gola, de cujo districto até agora eram, na forma em que o Senhcr Rei Dom Henrique, meu
T h io, que haja Gloria, separou do Governo de S. Thomé o dito Reino de Angola — e por ella
as erijo e ao dito Reino, em novo Governo, para que de hoje em diante tenham separada juris
dição e Governador, que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, aos povoadores,
asim destas partes, que áquellas forem viver, como aos naturaes delias — a qual, e assim aos
m ais Ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente, conforme a
Mínhas JLeis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das qualidades que convem, para se
poder delias fiar a erecção e conservação do dito Governo.
E mando ao Governador de Angola, que ora é, e ao depois fôr, que em nenhumas das
cousas tocantes á jurisdição do dito Governo do Reino de Benguella, e mais terras nesta decla
radas, não vão, nem usem da que até agora tiverão nelle, desde o dia que o traslado desta
minha P rovisão authentica se lhe presenrar diante: porque assim é minha mercê.
A qual se registará nos Livros da Contadoria e Gamara de Loanda, e nas mais daquella
’•A
Apàdice 5 *5
ConauiíW» onit pertencer, t n«te Rtrao m & míftht F jíf0ll, t Q * u f W íí» í » <
L » Tribuna«, P»« q « « n t o j ooncU d* t«te, * trstçj, * * O o « r ,, - e « w - w » fC
fe entragará no Torra do Tombo, p.r. «ÍU « eoaiWw> f J?;,5f 4 ^ * h t& .
DOCUMENTO N.* 79
, r *™*,M d *
5
Eu El Rey faço saber aos este alvflrí vir* « .
8 varà v,fí 3 « teoho comtudo a cooduttu de B » -
. n
trai a a Manuel tenreira Pereira por confiar H-tu a •. .. . .. ., ,
fn o rd para o bom effeiio desta e m o r l l 9 M,1‘ * * *“ * -'* ’
c p° “ F fliprew conuî a roeu semco Q elle se préparé eaj Anz^îz
íjas cousas necessarias para melhor e mais j ”
»Kfloiinqse nara a AU*n f ®ememePraz HBOynterimij St è&ÙHT W> ÎOîndi
L u ir s e o que nelîe se pretende ey o o ^ b l ? * ^ COmmcfcr * “ * <w-
aPerC ando
a todos meus ?n<ï.uista tenîia os poderes de Governador dequeile Reino. Peîo
que mando a todos meus capuaes e a todos os officia« assy da justiça como de minfa. lu **U
W £ ? q S 5 " ârmaS* * « - ^ Pascal deVal^r c Ü e cm,
pm nue elle Kadp ' ca^}a?s»escri’oaes, mestres pilotos e geme dw tutos, e
*4*°*
PaVI" Sj nr men i'an'rà ^ 6 &n ^ian*e 30 à“ ° ^ e*Q0 em <îuani0 fl0 d«0 gouefï»
° ®|a0-P „ n
T nn?M rrr-euGû"emad0r deiI^ e ï c»®° ^ Jbe obedeçSo mteirameme e
cumprao q p e e mmha parte lhes for madado e Requerido, assy e tto imcir&tneme
como sao riga os, e os q a$sy 0 fixeré me aueres por bem seruido e aos q üuere contrario
procedimento (q nao espero) mandares dar os castigos que pelle tal caso mereceré e por est*
0 * y P ro®?ü 0 e P05®® ^Iia C3P*Iai’îa mor e gouernança para délia rsar tanto q chegar
ao ito emo e ngo a na forma que dito he / e pello tempo que se deuuer no drto gouerao
averá a razao de oito centos mil reis de ordenado cada ano q começará a vencer do dia «n 5
chegar ao duo Reino em diante de que se lhe fará pagamento no feitor delle por este aluará
q sera Registado no Livro de sua despeza peilo escrivão de seu cargo, e peito treslado deite e
conhecimento^do dito Manuel Cerveíra lhe será ieuada em conta a quantia que otraer vencido,
conforme ao q nelle se come. E antes q deste Reino parta me fará preito e ménage pelo dito
gouerno na forma costumada de q presentará nas costas desta certidão do meu secretario a íj
tocar 0 qual por firmeza de todo lhe mandey passar e para efeito disso valerá como carta co*
meçada em meu nome por mym asinada passada por minha chacelaria posto q seu efeito aja
de durar mais de hú anno sem embargo das ordenações que 0 contrario dtspoem. Pedro Va
rella 0 fez em Lisboa a catorze de feuereiro de mil bj* e quinze — Christouam Soarez 0 fez es-
creuer //.
{Arqoivo Nacional da Tôrr? do Tombo, CJuncelárij Je D. Felipe //,
lirro 35, foi. 3a ?.*).
DOCUMENTO N.° 80
C D O C U M E N T O N.° 81
Snor.
D aloan d a escrevi a V . Mg * por m uitas vias com o me Partia pera este R.D0 com o mais
la r g a m .la V . M g .* o lera visto dando conta de tudo o que convinha na viagem, pus corenta
eseis d ias p er ch egar até. altura de quinze graos, e meo sempre correndo acosta e botando
ferro nas partes de mais conçideração e não achei outro porto mais conviniente pera as minas
d o co b re, q este. porq1 hú porto, que eu sabia que estava delias, sete legoas o achei tapado, de
m anr,* que não pode ali entrar navio nem estar fora na costa brava e neste em que fiquo de-
senbarquei a dezasete de maio, do anno passado a que chamao bahia da torre, vulgar m.1* eno
ro teiro velho a de santo A ntonio aque não terei o nome. e pera q’ V . M a g > veja m ilhor a dis-
p o ssiça o delia e do que vi até altura de quinze graos e meo mando aqui o roteiro e a costa, e
asim vai tam bém , om odello da povoassão, que tenho feita a que Pus o nome a cidade, de sam
felippe padroeiro Sam Iourenço
A qu i chegei com sento e trinta homens algüs dos que troquei em angolla. e os. demais dos
que trouxe desse R .fi0 e vim con ram pouqua gente por me fugirem algüs. como ia tenho man
dado a lista delles a V . Mg.dc cuja copia vai con esta, e o ouvidor geral Manoel Vogado Souto
m a io r deixei a m esm a na loanda en hua deligencia fez porq. tanto que me virão absente. se
to rn a rão , pera aquela sidade. e andavaõ diante do Ouvidor e do Capp.1#m Mor Ant° g.lz pita
que a lli ficou governando sem os prenderem, nen fazerem, nhua deligencia V. M g .* mandara
nisto e no m ais o que fo r servido, aqui me m orrerão trinta e oito homens os mais delles dos
velh os de A n g o lla , por serem custum ados aquele clim a que hem ui cálido e esta terra aqui fica
c o m o portugal. em seu tempo e asim forão definhando de rnanr,“ que morreraÕ. em q’ entrou
hú irm ão m eu e hú cunhado e hú sobrinho fiquei com noventa e dous homens em q* entrão
seis casad o s com m olheres e filhos e oitenta negros de guerra, em q* entrão sesema meüs ca
tiv o s : ao desenbarquar acodio ogentio com tenção de nos estrovar mas não lhe valeo seu mao
in ten to, dep ois de dezem barquado com m im os e a dous fis vir perante mi* os.0f da terra e correo
co n n o sco o ito a des dias e com o nestes não ha fee. nen asento em nada e tudo são treiçoens,
e m ald ad es, in do algus negros nossos cortar lenha cortarao elles as cabessas a dous. e nos
c a tív a r a õ s e is e vendo E u o mal que tanto podia segfr me deliberei con sincoenta conpanheiros
elhe d em os na p o vo assã o principal e lhe tiramos trinta e húa cabeça e cativam os corenta con
setenta bois e vaquas e lhe puzem os fogo a povoassaõ recolhendonos sen nos fazerem mais
d an o que darem huã frechada en hü negro mui grande homen de gerra de que durou dous dias
n esta cidad e, d ali a quinze dias lhe tornei a dar outro asalto indo tan be en pessoa, e como
tin h a õ vigias p ello s ou teiros acham os a terra despovoada, da quela ora. cativam os hua negra
1 ; y
•r t
Yr-
/ t* ,
4
>
If i r
. . r
, /•
■ /'
/ ■r’
*
y .
A péndici
Z* ,uZdda>
Z ^n MZ t£S Z ! *."*•^ ' “ *'V s" “j r“t p»■ t** •5“* ““" " t X V E *
vtra. * ton>«« esta povouuò, e í fonífe*r*ctx>» M®**' * fP v- *»
como ^?procur««1°p0!‘ l‘*mt,h*l',í’ <*'«»»8 *>!>«<* *° â" « P*" í*“ * ****?; * '
etoda via hú derigo p j *m00M* u* « %*«<* * ^ 10 ta‘ **n f " *“ M,’
comigo «o quario d ^ T - '! “ “ *0 «P*« M * ,'* * " •
mui grande falu h«S P m C0BW«™*> coo búPiloto t hb «urgi»« <fc<jbc *<pa « * *
E s ã * » 7 - « p‘i«° • « * * * * a‘r í r
fiança de minha obtígaçaó ° ’ Mt0< do“‘ *“ * “ * * - T ,,
r s
m."" arcabuzadas míLa • ? m I>í01 afununado que trou uttô o pqm > mglBtéo (.) p
Clérigo o vigário'auc h^k/**?* 'u*1'p* do P’lo«) * 8o surgíaS e »eaii n*o na poder £»*«
e fes paneis de wdo mas I * f'idí d* Sím fr,ncitt0 «*«•« « Pffná<0 * cooâKO° ^
í “ • " • — « * — •j" t - t 3
^ a l c ^ T i r « d ia f ^ Í « l * lf» « •*« W
f i  f -  a r ^ ;
I t l m l m u PT ° qUe “ “ deslc m « > legoas per* a pane daíosnd« «rreguif íwm-
dade de m « q u e U tinha mandado comprar peraT ^ enio á o t * o lM o > * * * * * *
desta cjdade que mportava mais quinhentos mHre£ tivtraõ recado o* q« hi»« 00
tr 3 [eSna.tura essa cidade por nomesimao antunes moço da cam»f* de V. Mg.* c 0
diw Manoel anrnques emcomoera morto o Alferes cabessa do motim, e aum fiem desaMfl-
chado tudo tendo carregado o pataio se forao e segundo entendo pera aloanJ* e fiqoamos eo
grande aperto que se eu naõ tivera outra camidade de maotim'* meu que fi* p»g« * lG&a e
vou fazendo perecerão todos mas nen isto basta pera ânimos danados que mieowrró ouir»
motim e fugida e por cabeçadelíehú homeoda naçaõ que en minha conpwhía trouxe degra*
dado por nome gaspar frei Penso e sendobua noite sabedor por hu saserdote oiodei tocar
arma como que erao vindos algus enemigos, desarmei a todos ficando «tgus criados meus e
cappitaos e logo aquela noite fogio o dito gaspar frei penso e hô Alferes per nome francisco
de fontoura moço da camara de V. Mg> semarmas mais q os frascos na sinta e suai espadas
por muita deligencia que fis q na6 sou nada pregizoso dali a sinco dias ouve a ma& «>
do alferes nunca pude achar noticia emendemos que aigua moça o comeo. do penso mandei
fazer iustiça morrendo morte natural; aos de mais perdoei queeraõcorenta e sete beninsun^*
per nao ficar de todo soo e isto desenparado e perder o ganhado o fis. e juntam1* se descobio
que hú Capp,tírapor nome Andres coronado espanhol, que servia amualmenie. tinha deterim-
nado e buscado meos pera me matar con pessonha. ou as punhaladas, ou com bú pistolete e
algibeira que lhe foi achado carregado comdous piUouros, este confesou sua culpa pabíícamu
que o fazia porq sendo eu morto se poderia sair desta cidade mais fácil mente, também
perdoei porq se ouvera de castigar todos os culpados ficara soo, üreilhe a conpanhia e tratoo
como suas obras merecem, nao fogem, a falta de pagas porq lhas faço t vou faxen 0
hu mes adiantado como constara a V. Mag.** da sertidaó q. com esta vaj o eitor e, *
e do escrivão tudo de minha fazenda que parece q premitio ds ficasse cila eo ango
ves pera agora servir a V. Mgâ*. . , fBiug
Pello que seja servido mandar seme mande aqm os seoto e s.ncoenia bomeós que faU
pera a ôpe, e ós vinte cavalos dous fundidores dous mineiros com a ^
5 possa ganhar as minas do cobre q. semgente nao posso «
cidade, que levando a gente fiqua isjo despovoa o epo e o ene g ^ „quissimo e muito e
ao que os negros dizem, na monção set" a meio e camm ^ ufi senio t
quinze arateis estas tomaraS hús negros meus no p • quando. os negros úra6 isto
cousa de conciderassaÓ me disseraó que nao trouxerao mui», e qt.ando i
concidere V. Mag.4' o que sera por fundidores, e mineiros q o ^ ^ Angolla. e ouvidor
lhes passo prendendo osfugidos a sim
tt
548 Angola
soldados como gente do mar e mandarmos porcj doutra mam\* naõ poderei ir com isto avante,
e ficara- V. Mg.** muito mal servido porq sera cauza de eu acabar a vida; A terra he mui fértil
de iode? os nrnnum,tM c gado, escravos e marfim mas he ness.0 gente como digo pera a alha-
nar> A geme deste fidalgo aqui se vai a iuntando outra ves nas suas povoassoe n s 9 e me vierao
aqui pedir 1.0a pera o fazerem, de que fiquei muito contente, dando novas que o fidalgo veria
m.u cedo que com tnedo naõ vinha que queria ver como Eu tratava os outros então ve
ria.
A este Porto chegou luis mendes de vasconcellos e em outro navio o ouvidor geral, de
Angolla. a vinte de agosto passado e mandando saber que navios eraõ achei seren elles e que
rendo ir en pessoa a seu bordo pera saber se me trazia algu recado de V. Mg.d* se tomou a
fazer na volta do mar e se foi pera aloanda. considera V. Mg.do se tenho rezaõ de o sentir per
me ver enpatado, sem gente, sem cavalos, e sem mineiros nen fundidores tendo avizo que em
sua companhia seria provido, e foi ness.0 mandar Eu hú Navio aloanda. com escravos meus
a mandar buscar provim.10 e o ness.0 a minha custa, pera nao faltar nada a estes soldados per
mita deús que. o g.dor de ordem a que se me frete hú navio a conta de minha fazenda, pera que
me traga o provim.10 que mando buscar porq nhua’s esperanças tenho deq1 o faça pois estando
metido neste porto naõ quis botar ferro por quatro oras nen poder cobrar cartas de minha
casa. escrevendome hú escrito que por vir cansado e enfadado do mar não deitava ferro*
T o r n o alen b rar a V . Mg.d* estas minas de cobre q* ia V . Mgd* fora scr delias se tivera gente,
e antes to m arei o s serro e sincoenta hom ens, por agora. qT os cavalos ha para q V. Mgd0 veja
o s d esejo s que tenho de d ar bom fim visto E u em presto pera estes sento e sincoenta homens
m e virem co m m ais brevidade dous mil cruzados a V. Mgdô pera este efeito os quais escrevo a
. jo a õ m oren o nessa C id ade pera que os de logo que naõ avera duvida eos navios que se freta
rem p era os trazer eu me obrigo a lhes paguar quaquílo que Ia com elles se asentar.
E he ness.® m andar V , Mg.do seja Provido com algua polvora boa pori? a trouxe era
m istu rad a co n ca rva õ que so vinte quintais saÕ de prestar e a outra he tudo carvao e juntam^
chum bo e o s soldados que venhaõ providos, de arcabuzas que os m osquetes que trouxe, nao
servem , pera andar no canpo mais que pera a defensão da cidade e m andar V. Mg. que os
que degradarem , sendo gente que possa tomar armas seja pera este R.u que todo o navio que
vem p era estas partes pera vír bem navegado a de tomar por forsa vista desta terra; O mar
aqui tem m .t0 peixe e todo bom. a terra m uita lenha; disposta a tudo o que quiserem plantar
nella com o he canaveais de asuquar, tem algodão vou fazendo prantar outro e asim canas de
asu q u ar que na terra ha; ten dous R ios hu da banda do norie. que quando ha invernada corre
mui furiozo e sai aqui ao mar. sento e sincoenta passos desta cidade; no veraÕ he areal, mas
en qualquer, parte, que hú cavalo ou boi poem o Pe. arebenta agoa delia bebemos que he re-
quissim a; dabanda dosul. sento e se senta passos esta outro Rio que nace desviado desta cidade
quinhentos e trinta Passos antes que chegue ao m ar se vai sumindo por baixo darea; boa agoa.
pera nelle navios fazerem aguada, nelle muito Peixe asim tainhas grandes, com o muges e ou
tros de outra casta e hús do tamanho de savel e da mesma feiçaõ mas muito m ilhor no comer,
dentro na cidade, temos ia muitos possos de hú estado, e meo estado emenos temos ortas que
nos saÕ depassatenpo e de que nos logram os alguás figueiras de que trouxe a casta daloanda e
o u tra s plantas que trazia que por a viagen daloanda aqui ser conprida seperderaõ agora me
m an do Ia prover de outras; no tenpo de calmas, ha viraçaõ do mar desde as sete oras dame-
nhaã a tê oq u arto de madorra rendido; o ten ple da terra sadio e bom. quem senaõ desmanda
n a õ m o rre ; E u ate oprezente. com entrar, duas vezes a terra dentro em angolla; e aqui naÕ
tive nhú achaque seja deus louvado, eile premita que tenha eu vida e saude ate V Mg.d®Ser sor
d estas m inas e eu ir botarm e a seus Reais Pes de V. Mg.de pera mui em breve tanto que V Mg.*0
m a n d a r se me acuda na form a que aponto A Polvora e chumbo torno a lem brar porq he cousa
q u e de d ia e de noite a gastam os mais pera espantar ao enemigo que pera lhe fazer m al porq
ta o g ra n d e m edo da artelharia e o mesmo temem a hú Cavallo com o se fora outra couza; eu
trou xe seis m eos com o ia tenho avízado a V . Mg.d6 morreume hú fiquei con sinco que me saõ
d e m u ito e fe ito .
C o n v e m a o serviço de deus. e de V . Mg.1*6 mandar hú clérigo de boa vida e costumes exen-
p lo p era asistir nesta cidade, e que tenha poderes de admenistrador. pera asim poder dar Iça
p e r a ca za m .1®* e ou tras cousas semelhantes porq* o Bpo de Angolla. naõ quis dar esta 1.“ e ha
*
Apêndice >49
, , V
tanho ia avisadoMaaV.
» Mg* nacopia
J 1 ■ q con esta v i corren
« L ddJ ,« nosco fde am
o con PeriagU
nhecendo V. Mg. por verdadeiro snor e 0mesmo outro fidalgo por nome quimmbela com
isade6,e reco-
qW
roda a sua mormda e, pera ver se podta aquietar estes seteunvisinhos tivi noticia de huâ naçaõ
que chamao maqu.nbes tres d,as de caminho desta, cidade. Pella terra deo.ro os quais sos ve-
viao de asaltos a furtos que faaiaó a seus vesinhos e aperingue. e anos furiandonos algfis es
cravos e sempre tendo espias soubemosa partee lugar aondeasistiafi que ha gente indo
mável e que nunca estaemhú lugar sertonemsemea. e vindo as espiasnosepresurmosfqpres-
tamosf) e marchando sobre elies por asperas serras demos nelles envime oito de maio e eu
com mais dous de cavalo quatro arcabuzeirosque pr.ttchegamos aelies os quebramos e ron-
pemos de modo que fugirão e so hS matamos e cativamos tres negras velhas que naõ puderaõ
•v
55o Angola
co rre r la rg .n d o n o s mil cabeças de gado vacum e outros tantos de ovelhas e carneiros, e st« naõ
tiveraõ rosto por que línbaõ sabido da victoria que tínhamos avido dos iagas recofhemonos.
oder&dciro de maio e aqui achei o navio que tinha mandado buscar oloando o bom avisam10 que
fa deraõ vera V Mg.** pella sertidaõ q con esta vai e também, das deligencias dog*Mluís mendes
de vasconsellos c seu filho que ali fiquou. por seu luguar tenente tem feito contra mim tirando
test.M soldados e gente do marque desta conquista tinhao fugido, e o tenpo mostrara a V. M g*
alcaide de de cada hG. e de quem se ha por roilhor servido dos m.ara daloanda naõ trato porq
custumados saÕ apapeladas e acapitalos per cuio respeito ía fu» prezo por mandado de V. M g *
e V. Mg.** me fes M mandar apurar minha onrra. de modo que fui sentenciado por seus me-
nistros iulgando que V, Mg.** me fisese onrras e .Ms. como recebi muitas aque nunca serei in
grato e asim aterei por mui grande, mandar V. Mg** aquele R.n* hua pessoa desentereçada e
crista, pera que devase de min ede meu procedim1* enq.t0 na quele Reino estive, que espero
endS. e na cristandade de V. Mg.** que amin premiara, conforme meus serviços merecem e
mandara que se castigem os que contra min ten jurado e dado papeis que saõ os mesmos que
da outra ves iuraraõ e deraõ capi talos contra min e pois ficaraÕ sen castigo da outra ves
pareçe que quer deGs, que lhe naõ falte desta.
Con esta vaÕ noventa equatro arateis de cobre; as argolas grossas serve aeste gentio no
pescoso e as delgadas nos brasos e pernas as mulheres as quais achamos nos maquinbas que
atras digo.
E no q toca as rtf^ias do cobre, ia V. Mg.dé forasor delias e eu tivera mandado muita canti-
dade. de pedra, se tivera gente pera me guardar esta cidade e agora nòs esta mais façilitado
porq tenho aqui comigo os°r delias q se vem. valer denos pera o irmos meter na sua terra,
adonde outro mais poderoso, o botou fora. e apertanos de noite e de dia que vamos que pora
a gente basta pera vencermos todo este R.°* porq todos estaõ mui timidos dever que desbara
tamos os iagas e cativamos os°r delles que chamavaõ cangonbe. ao qual hú dia destes mandei
cortar a cabeça pera exenplo emorreo cristão con chamar pelio nome de jesu tres vezes comq
acabou e pera ver, se me pode presuadir ame por acaminho ten mandado gente sua. con hü
negro meu de confiança aburcar escondido as minas pedras as quais estou aguardando por
oras se vierem a tempo a tenpo irão com esta. equando nao na pr.* ocaziao que ouver. q. agora
com o correr a fama. ao brasil Doutras partes nao faltarao aqui navios porque temos mandado
aloanda dous carregados de pessas e este vai de vaquas e carneiros dos m.ora. e soldados que
mandaõ buscar o ness.* pera seu provimento deq se pagaõ os direitos a feitoria de V . Mg *
Eu estou resuluto anaõ sair daqui tan longe. Porq ainda q escrevo a V. M g > que saõ sete
dias emeo de caminho este fidalgo nos tem segurado e esta bem verificado que saõ tres dias
emeo de caminho de hú negro escoteiro e sinco pera nos m archarmos e asim me naõ ei de
abalar daqui sem a gente que tenho mandado pedir a V. Mg.d®porq naõ quero perder oganhado
e en me vindo os sento esincoenta. homens esta V. Mg.d* snof das minas e eu mandarei pedras
q fundidores naõ os renho se V. A lg.* os nao mandar.
Torno apedir a V. Mg d* me faça M. dalicença q tenho pedido com o isto ficar corrente, e
V, M g.* sw das minhas.
E porq V. Mg.do mande ver o de quanta utalidade e proveito he este Reino pera sua Real
coroa e fazenda mandei ajuntar este povo de que se fes opapel que com esta vai nosso sw a
Real pessoa de V . M g * g p o r largos annos desta cidade de sam filippe a 2 de iunho de 1618,
dpéndice m"
X )(
WCUMEXTO y . a,
ROTEIRO DA COSTA DE ANGÜIA í
nA ALTURA DE QUINZE C M O S ESt4 » e * . . . .
8nNHÊSESÇAS m u, DOS POBTOS, B ^ A s T ^ 1,1 C C m S ea * ” * «*TA, DAI
C tÍ rAS, O QUE TODO POY visto e D E iu if ° <SUMS’ 'u'íoi’ WWr7rf>' Cí «**
F reira , e pell 0 CAPlTÃ0 M Mas domihp P£,UüCOÍ' QI;ImDO* am an
D - - « » « z
*z HUMpAPa
t r
A ESTE
m m
«ISTO O WO M*t6*ij*
Chegamos c0' 0 ^avor divino a terra acira» <p
, d0 correndo a terra: ate esta bahia da * " nS’“ m i i m *,WM dt l ' í ,MÍ «•* *
j1 SancW Antonio aonde situamos por nã0 T pof OT"r0 BOrae M& B í* e t n u
7
otto, ierra demais sa,utiferos ares, fertj| * * tm tod* wu C0ÍI* 114 Alton diu, r-*-Sor
Pbund'ancia de muito e diverso peixe^haoejwV^0" M'md° d* teml>£omo e*
dexecellente agoa, asimque vindo dessendo da altiT MUndo VHÍnhosi c dota Rios qoc corra»
mais Rara daque vem correndo do cabo nearo « T ,Clnla dilí TOrrtt^ >* tím “ l’ * *c‘ *»
terra aiU
alombada
I1,w“u escalvada
----- -V sem arvore
M»a» algua\e
»ore ato vem ™° 8°nt ,Sadí f u 610 VW4M^ «» h«*
nito legoas no
goas ao nordeste e susudueste, e no fima«, rreBja 7
dwtaTT*8 esta cos'*
««» pera
pírí 0 onorte
l j , .
Ao norte delia está hua enseada m> boa e abtiaarf T * ' l0mb,da fu ha* P00») *
dabanda
m t a>‘M ^
neíxe
peixe nesta
nesia enseada.
CU5>çaua- ® a dai v*otaniaj;
— he bem*«*»»
w fundo «« bM
«O íiltj
j um*
F Desta enseada pera 0 norte coura de 4 |eíoa. .
do sui Pera 0 none estao hus orecífes que as oedr • tW° i t Í ! m t * fcnl P001* <J’*»*&
paressem dous ilheos, adonde defronte delles nelT ^ 3!US de!ltí **° te*s P^ru oegraa
bata de negros e da banda do norte destes arecifes al'"'* de8tr° P°UC0tSp,M0’ n Ú faM
duas prayas adonde esta geme tem as suas j J , 80®ar de hua Poal1 ot8I* «'*>
porte; e sul. W| CQrTe$S€esta cosu ate mome otjro:
trf—r.r
xíT
552 Angola
fumfo adonde está hua praia avera pouco menos de duas legoas a terra q’ vay correndo d
ponta pera dentro desta enseada se co rre Leste e oeste; e he hua frontaria de terra a m ais má
q* ha hoje emtrada esta costa porque estando com o goroupeis de navio a barbado co’ a Rocha
senão toma fundo em toda ella com cem brassas qf he nessessario ir buscar esta praia q’ está
no fundo pera se poder surgir nella.
Em esta praia pera a banda do sul está húm morro, e da banda do norte delle em hua
varzea está hua fonte de agoa q* brota ao Hvel da terra tanta q' bem bastava pera sustentar
m.u gente. Não falta nesta enseada peixe em qualquer parte delia esiaa esta emseada em AI-
r tura de 14 graos e hú
Desta enseada pera o norte vay correndo hua ponta e montuosa negra cousa de 6 legoas
adonde faz digo vay correndo hua terra grosa e montuosa negra cousa de 6 legoas adonde faz
hua ponta e junto delia tem ilheo afastado de terra tiro de hua pessa e delle pera terra hus
arrecifes que arure elles e o ilheo pode passar hu navio e q’ he fundo m.10 a lá e a emseada q*
d ig o atras É este ilheo q1 digo fazem esta m ostra ou conhesença estaa este ilheo em altura de
14 g ra o s corresse esta costa ate o ilheo norte e sul.
E a P onta q* estaa junto ao ilheo atras dito lhe puzemos a ponta do padrão porque em
sim a delia vim os hu pao soo q1 parecia padrão.
D esta Ponta p.* o norte vay correndo hua terra grosa não tão escabrosa como atras couza
de 6 legoas adonde no fim de húa praya peqn.è entra hu morro cortado a pique ao lo n g o do
m ar muito áspero e dPfcabrozo negro q’ parece q’ nelle andou muito tempo fôgo, pus lhe a este
o m orro de V ulcano porque a terra delle paresse escumas de ferreiro, corresse esta costa nor
deste e a quarta do norte, sudueste e a 4.1 do sul.
Deste m orro de V ulcano pera o norte couza de duas legoas esta húa poma negra ao pee
de hüa terra alta e ao mar delia húas pedras que paresem ilheos, e da banda do norte e es
está hüa emseada muito form oza q* nella devem de habitar algús pescadores porque estan o
nos surtos nos falarão hús poucos de riba da terra e nella lbe vimos bimbão he toda esta terra
muito escalvada, aspera escabroza correse a costa nordeste e sudueste.
A o norte desta emseada da Ponta das pedras couza de duas legoas em húa praya de com
prim ento de meya legoa estaa hua emfiada sem Rio adonde defronte delia no comesso da praya
da banda do sul estivemos surros aquy foy o capitam e gente a terra porque tínhamos falia
dos negros os quais não tinhão nada pera fazerem quitanda tem esta emfiada húa casimba de
agoa na emtrada delia da banda do sul esta costa se corre nordeste e sudueste, estaa esta
Varzea em Altura de i 5 graos e m eyo puzemos A esta a Varzea dos martyres, porque em dia
dos Benaventurados Sam gervasio, e Protasio, surgímos nella, a ponta das pedras e emseada e
esta Varzea fazem estas senhas.
Desta varzea dos Mártires pera o Rio de Sam Francisco legoas, digo se corre a costa nor
deste e sudueste avera delia ao Rio de Sam Francisco seis legoas he hua terra grosa escalvada
e ao longo do m ar húas emseadas pequenas co* suas prayas de area e vindo correndo esta .
costa querendo chegar ao Rio de S. Fran.eo se atravessa a terra pella proa q* he a terra que
v a y da enseada pera o norte adonde faz fim couza de mea legoa da boca deste Rio ao noroeste
em hua ponta de area desta ponta pera o fundo da enseada adonde sorgem os navios se corre
noroeste, e sueste fazendo no acabamento da praya q* he da banda do sul a donde tivemos o
Lucam bo, hum reconcavo, e a loeste delle hüa ponta de pedra que se chama a ponta das ostras
porque ha ally nella muitas e grandes, e defronte do Lucam bo estaa húa fonte de agoa muito
boa q’ qualquer navio a pode tomar nella tendo nessessidade porque morão os negros delia hua
legoa e mais.
A vera de Ponta a ponta perto de i 3 legoas ficando dentro deíla esta enseada e Rio de
S am Fran/* he este Rio com o o Rio do Bengo no grandor não se pode entrar dentro nelle senão
em húm batel pequeno porq* he m.*° baixo que não tendo banqo da barra pera dentro mais
fundo que 3 ou 4 palm os de A goa bem se pode tomar agoa nelle na pancada do mar na boca
da barra, e se o R io vier grande se tomara agoa adonde passa o navio estar surto faaz esta
r em seada, e R io, e fonte, estes sinaes, e estaa em A ltura de i 3 graos e hu quarto.
D este R io de Sam F rancisco pera o norte está hua ponta de area da coai vay correndo a
c o s ta a o nordeste ao longo do M ar huas prayas que a cada legoa vão fazendo huas pomas e
a o lo g o delias húa terra igo al raza a que vay fazer fim em hua das mais fermozas bahias que
' /
* >
/
* /
■4
• V*
■Y-
Apêndice 553
ahi ha m toda esta cotu poiqtw lw » " Btcaüàd» • S ** rt ^‘ . >g!(4!C£n m w [*
«hi oel)a adande surgimo» ftví* d « br«*»*, « *> * ,<* <fe ft «
»««a fr *da paixão e em« ií dia arwamol Ma ctw «ft« . c i i n m co a » **»«w
ser
ao pet hú CaUario pello qoe por neste dia lhe puxemos a MM» ^ ^r-; ^
vay 6guiada, e aquy jumunenu coma emseada da torte « » « ^ fr - , M*Ut,
vario cmAltura dc i3 graos c hú seismo, cortww a costa da pcft
nordeste e sudueste. . . 0 d* -
£ logo desta bahia do Calvario pera a cmseadt da torre que ifJ| %r ]j é
gongo que he o maioral desta emseada da torre »donde 0 u
lessueste porque ao norte deste porto, está büa ponta dc as q á c u *4 '.
se corre noroeste e sueste e f i e faxendo hCa ensexda ^ <
do sul adonde estaa a torre a e$ta de arca que digo que « * oont« h m
3
avera pouco menos de t legoas e fica fazendo de dentro * ^u3 3» u ím qa*
grande a torre está figurada a hua torre na ponta da banda do s ^ Ui
faz fim na bahia do calvario está este porto da enseada da to*** cm
esta enseada e torre co* a bahia do Calvario esta conhessença* Sttuamos a
Aquy nesta bahia e emseada q'como já sc disse se chama de santo ó fu tip ^ s« *' r
nossa Cidade a que 0 Conquistador Manoel Cerveíra pereira pos por nofflebam " ^
cada de hua aRochoado muy forte aterrada e de espinhos muy ásperos por P°
ella com seus baluartes nessessarios asim pera 0 roar como pera a te r f em « R04* w
partidas muitas pessas de artelharia pera todas as partes com todos os petrechos a tím tít ^
pera a ocazião servindo também de muro e amparo hua Igreja que levantamos d*
do Benaventurado Sam Josephe Sam Lourenço c u ja s imagens estão postas no alttrdcSUe
trato no como se vay augmentando a Cidadee crescendo naedií&casim*, porque me oío tenbt®
por sospeito, e asim tornando ao nosso Roteiro como ja tívessemos visto tod* a costa oa
Loanda ate onde situamos toraarey daquy a correr a costa na forma cm que hítmo» dapoat*
q’ está ao norte do emseada da torre pera 0 nordeste estaa hCas serras altas dobrada» digo
pera 0 nordeste estaa hua emseada que se chama 0 mangral no qual esw» hú Riacho como
asima paresse, e pella terra dentro da emseada da torre pera 0 norte vão correndoh4a» »erras
altas dobradas escabrozas que não ha em toda esta costa outras como eUas, vao correndo per-
longando a costa ate 0 Rio Cubo.
Passando este Ryo do Mangral pera 0 norte vay correndo a costa nomoideste e susudueste
ate chegar a outro Riacho que se chama 0 Rio do spirito santo e por outro nome o Rio Anha,
3
0 qual se some por debaixo da terra junto ao mar avera delle ao Mangral legoas e logo verão
&
querendo chegar a elle na terra ao longe do mar húas barreiras brancas q’ não ba por est»
costa outras assy da banda do norte da boca como da banda do sul 0 qual »»he por antredüas
pedras corresse esta costa nornordeste e susudueste.
Deste Rio do Espirito sancto ou 0 Anha pera 0 nordeste vay correndo a mesma costa ate
chegar a hú Rio pequeno que se chama 0 Rio Morombo avera de hú ao outro oito legoas he »
terra ao longo do Mar amodo de Pissarra a qual chega a hua ponta negra grossa como
fosinho de ballea que da banda do norte delia está hua emseada e nella hú Riacho ou alagoa
a qual tem hum arvoredo muito fermozo e verde e as arvores, a modo de palmeiras, pu-
zemos-lhe por nome 0 Rio das palmas, e a ponta atras, a ponta de S. L.Ç° porque ally digo
porque assy se chama nas cartas e desta ponta pera 0 norte cotiza de 4 legoas estaa húa em
seada que sobre a poma delia da banda do sul estaa hua' Ubata de negros, Aquy está hum Ar
voredo de emsandeiras junto de húa alagoa e aquy está outra Ubata, nos as vimos, e os negros
nos disserão que erao sumbes, coresse esta costa da poma de Sam Lourenço a ensseada ou
ponta das libatas nordeste e sudueste e faaz a costa des do Rio do Mangral ate estas libatas a
figura abaixo do Rio do Epr.10sancto Morombo, e ponta de S. Lç°, Rio das palmas, e ponta das
• libatas desta maneira, (
Da emseada e ponta das que digo q’ estão em Altura de onze graos e hú seismo pera o Rto
Cubo he húa terra ao longo do mar esbranquiçada e nao muito alta e de iras desta terra estão
huas serras negras muito conhessidas q’ são as q1 vao correndo ate sobre a enseada da torre,
fazem sobre 0 Rio Cubo hús cabeços Redondos como paes de asucar, e logo vay conendo a
entrada da praya deste Rio Gubo 0 qual Rio indo do sul peta o norte paresse que nao tem
70
*
554 Angola
sohida ao mar por cazo que a emseada deste R io perlonga saindo ao longo da costa que vav
pera o morro de Bengueila o qual sahe no m.° da dxstançia desta terra, esiara o m orro de Ben-
guella do arvoredo deste Rio duas legoas o qual he hú m orro talhado apique negro e cubcrtõ
de hum mato de bassimeiras o qual tomando o da banda do sul, parece, ser com o o cabo de
Espichei, e o mesmo faz da banda do sul, tem da banda do norte húa emseada m uito grande e
no meio da praya delia hum m orro que paresse aos navios q’ afastados hum ilheo he terra firme
com o vím os; o que da paresença do Rio Cubo e emseada do m orro de Bengueila se vera abaixo
comforme aquy Yy, e juntamente a Altura em que esta este morro e porto de Bengueila, o qual
está em A ltura de to g raose dous tersos corresse a costa da enseada atras das libatas, ate este
morro de Bengueila nornordeste e susudueste.
Deste m orro de Bengueila pera o norte vay correndo a costa pera o norte noroeste, e su-
sueste ate chegar ao Rio da longa he esta terra muito conhessida, porque he hüa terra igoal ao
lon go do m ar e vay fazendo na mesma terra hús arcos amodo de pilares brancos os que se di-
vizão por estarem afigurados sobre terra vermelha fazem fim junto de hum morro caido a
quem chamamos o forninho que paresse com hum forno de telheiro o que esta na entrada da
praya que vay pera o Rio da longa he este Rio da longa hu R io que tem ao longo dessy hum
mangai muito grosso, o qual Rio yem sair ao mar ao longo da terra alta que he a terra que
entra nas tres pontas o qual Rio percazo q* aterra grossa entra na delgada da ponta da bocca
deste lhe esconde sua saída, corresse a costa do morro de bengueila ate esse Rio nornoroeste e
susueste. fc
E logo deste R io da longa pera o norte vay correndo a terra das tres pontas a qual he hua
terra esbranquissada cortada a pique ao longo do mar somentes, entre a do m.° e a ponta da
banda do norte faaz hua lombada de terra com hums cordoes ou quassimeiras ate que chega a
primeira ponta da banda do norte.
L o g o vay correndo hua lombada de terra q* vay fazer fim em o cabo ledo a qual he hua
terra preta vestida de arvoredo de espinheiros e cassimeiras na frontaria ao longo do m ar ate
q’ se acaba neste cabo ledo o qual he hum morro talhado a pique com hum pouco de Arvoredo
em sima o que não tem nenhua das pontas atras, e ao pee tem hua pedra q* paresse ilheo pe
queno.
Faaz o Rio atras e estas tres pontas qT digo e o cabo ledo esta paresença abaixo. C orresse
esta costa do Rio da longa pera o cabo ledo, noroeste, e sueste na enseada deste cabo e de
fronte delie em 20 brassas hay muito peixe.
Do Cabo Ledo pera o Rio da Coanza avera nove legoas pouco mais ou menos e he hua
terra igoal baixa e querendo chegar a este Rio Coanza no acabam.10 desta terra estão huas
barreiras vermelhas. E o mesmo da banda deste Rio pera 0 norte, 0 qual Rio tem hum arvo
redo grosso corresse a costa do cabo pera este Rio norte e sul.
Do qual pera a barra de Corimba vay correndo a costa ao nornordeste, avera de hua barra
a outra 7 ou 8 legoas, he hua terra ao longo do mar raza ou aberta digo raza cuberta de hu
arvoredo baixo de macans.
E pella terra dentro da banda da terra firme vay correndo hua corda de terra igoal mais
alta com huas arvores de alícondes grossos a qual se acaba defronte da barra de Corim ba em
hum morro que aly estaa, e também a melhor conhesença que aly nesta paragem fazendosse
qualquer navio do Rio de Coanza pera a Loanda Mandevigicor (?) pela terra e logo vera o brasso
da Barra de Corim ba pera a banda da Coanza, e o mesmo pera a Loanda e logo vera as cazas
da Cidade indo correndo a Ilha da Loanda se corre a costa nordeste e sudueste, tem de com
prido esta ilha da poma a barra de Corimbra sinco legoas. a barra está noroeste e sueste e da
banda de nordeste delia tem hum baixo e banco de area em que quebra o mar m uito, e pera
saber se estaa jaa tanto avante com o abaixo olhe pera a ilha, e vendo tres arvores em carreira
a quem chamamos os tres Irmãos, bem se pode chegar junto a terra q’ não tem de que se
goardar mais q' do que vir. Pelio que do Rio da Coanza, barra da Corim bra, Ilha da L oanda,
e emseada do Bengo Rio do dande se fara abaixo como se vera. 9
DOCUMENTO N.* 83
Sertefico cu Manoel Paes da costa secretario deste Reino pelio juram 10 dos sanesos evan-
gelhos que a leira e sinal be de lourenço dias íerr.« que serue os offic.os que nesta serlidáo se
Contem e por ser uerdade oiuro ç asinei no mesmo dia E anno.
M a n o el P a e s da c J a
C tB lb lío tfca N acion al de Lisboa. S e c ç ío Ultram arina. Papéis de A n g o la ).
DOCUMENTO N.* 84
A U T O Q M A N D O U F A Z E R O O U U ID O R G E R A L E P R O U E D O R
DA FA Z / PEDRO N ETO DE M ELO
A REQUERIMENTO DO GUOUERNADOR E CONQUISTADOR M .“ - C ER U .* a PR . a SOBRE E POR
REZAÓ DE TER N O T IC I^ F A ZE R E N Ç E N A CIDADE DA LO AN D A P A P E IS CO N TR A E S T A C O N Q U IST A
P ,A O QUE O DITO OUUIDOR GERAL E CONQUISTADOR MANDARAÓ AJUNTAR TODO O POUO
P .A QUE DEÇE SEU PAREÇER O QUE ENTENDIA DA D ITA C O N Q U IST A DEBAXO DO JURAMENTO
DOS S A N T O S EVANGELHOS O QUAL HE O Q* A BA X O SE SEGUE
Aos quinze dias do mes de junho de mil e seis sentos e dezouto annos nesta cidade de saõ
feiipe do nouo Reigno de benguela 0 ouuidor geral e prouedor da fazenda de S u aM ag.d* Pedro
neto de mello mandou a mim lourenço dias ferreira escriuaõ que sou das execusois e feitoria
fizesse hü auto em Com o a requerimento do guouernador e Conquistador deste Reigno Manoel
Ceru.” pr.* se juntarao clero e todos os Capitais e mais pouo ao quoal disse o dito Conquis
tador que tinha por informaçaõ que na cidade da loanda se tirauao papeis Contra esta Con
quista com os quoais estrouauaõ o seruiço de Ds. e o de Sua Mag.íe dizendo nao era em nada
de proueito ao seruiço do dito sor nem avia nelia cobre antes huãs argolas que o dito Con
quistador tinha mandado a sua Mag.d* pera serteza do muito que na terra ha, o tinha trazido
da mesma loanda; tirando per testemunhos pera Confirmaçaõ destas Couzas a homens que de
qua foraõ fugidos os quoais pera justificarem sua Cauza, diriaÕ tudo aquilo a q foçem indu
zidos em males da dita Conquista, e outras Couzas q mais lhe opuzeraõ pera de todo desiparem
o bem q delia rezulta, e pedia a todos em Comü e cada hü em particular asien clero, Capitais,
Com o soldados deçem seu pareçer do q dela enrendiaõ e tinha uisro por experiençia debaxo do
juramento dos santos evangelhos que cada hü tomou, e se asinaçem todos ao Pé deste pera
Confirm acao do q deziaõ ao q todos responderão que esta dita Conquista era de muito proueito
e utilidade asim pera o seruiço de Ds conuersaõ das almas do gentio que nesta terra asiste
com o pera o de Sua Mag.d9 e sua Real Coroa e fazenda, por reza Do muito cobre que nela ha,
principalmente estando tam propinqua a ocaziaõ de o ir buscar, per cauza d.- termos em nossa
Com panhia hü fidaiguo por nome Cbo (E b o f) calunda legitimo sÕr das minas do dito cobre, o
qual se uem valer de nos pedindo fauor e aijuda pera o metermos de posse das ditas terras e minas
de que o ha botado fora hü seu Contrario, o quoal fidaiguo promete tanto Cantidade de cobre
das ditas minas quoanta per experiençia nos temos uisto asim pelo muito que este gentio tras
sobre si, com o pela pouca estima em que o tem, pera serteza do quoal mandou buscar algüs
negros carregados de pedra do dito metal que mais iargua mostra daraõ da uerdade de tudo,
principalmente estando nos oie tao avantejados asim em muitas uictorias que deste gentio
C auemos tido Com o as grandes prezas que lhe auemos tomado de muito gado com q fiquamos
hoje com prosperidade e juntamente a grande reputacaô que ja temos Com elles e 0 medo que
nos tem o que promete outras mayores victorias e bons sucessos, e alem disso o muito marfim
que ha pella terra dentro, e a grande íertelidade que ha nela no produzir os mantimentos e
Apêndice 55;
ou(r<í Comas Jj podem dar m 1* proutíto a fazeada de ma M ag* tomo be o aigocUfi de qv#
ba rnuira ibundaocia, e te pode plantar muito mais, e termo« uisto ate boje meiem douituruàas
Carregados de pessas e hG de guado por este porto /ora em eipassío de um ptmnn tempo «
podereoçe carregar outros muitos de guado « no porto os ouuera, alem do grande c o m e i s e
resgate de pessas abríndoçe os Caminhos pera bO grande seohof que ha nella chamado Canoa*
guo o quoal he semelhante a outro Rey de angola e n«Ò menor oo poder, a quem muito desta
gentio reconhece rassalaje por ser mui poderoso, ríquo de pessas e de terras fenefissinus, o
quoal estara desta cidade seis ou sete dias de Caminho conforme a infortnacafi $ temos o t)
tudo uira a Rezultar em muito proueito abríndoçe o dito resguaie em forma d i feiras o quese
tem por serto se abrírao com muita facilidade pello muito Conhecimento 1} este senhof ja tem
de nos E emfim que tudo nesta Conquista auia pera sustento e Conscruaçaõ delia saluo fal
tamos gente pera ir as ditas minas de Cobre por rezaõ De naõ dezemparanao» esta cidade
aonde temos ainda algus uezinhos eaemiguos, pello qae todos eraõ de pareçer e d*u*ô sea uoio
que a dita conquista era de muito proueito e vtíl a coroa Real e faz.-* de sus Mag.*e prometia
de si ser hüa das melhores e mais proueitozas conquistas que sua Mag.* tinha ultra mar ma* t
asim o íurauaó pello juramento dos santos evangelhos que todos tinhaÕ recebydo pera firmeza
do quoal se asinaraó todos de que eu escriuaõ dey fee e fis este auto por mandado do dito ou»
uidor geral que Comiguo asinou e eu Lourenço dias ferreira escríuao das execussois e feitoria
o escreut e asinei de meu sinal razo ao dia anno mes, e era atras.
r
[Seguem-se as assinaturas].
(BtMioteca Nacional de Lisboa. Secçfo Ultramarina. Ptpèis de AofoUV
DOCUMENTO N * 85
N°aU° d a y fôlha, à margem: Vejase esta Carta de m.*1 Cem« no Cos.- da faz.» E or-
enece q o nauio que esta prestes para hsr para Angolla parta logo E <j nelle se iouíe todos os
5
prouymemos E monicoes que puder htr E o q parecer sobre o m.*1 Cem.™ diz se cósuhara E
3
esta Carta se me restytua Em Lx ■ a a de Abril de 1619.
Suor
5
Como tenho escripto Urguo a V. Mg.4- por quoatro uias nesta o na serei tanto por rezaõ
da preça com que esta hü pataxo que despacho pera a loanda, esó seruira de manifestar a V.
Mg.d- 0 estado em que tenho posto esta Conquista de que ya tenho também auizado a V. M>
mandando dous fechos de cobre, e tratando dos trabalhos q ei tido com esta imdomita gemte
pellos muitos leuantamentos e treiçoes q me tinhaõ armado queremdome matar com pesonha;
as Coais Couzas aímda comtínuaõ que me foi nesçesario recolher todas as armas a minha Caza
tiradas as dos Cappitaões sõ pellos muitos motins que cada dia fazem e leuantamentos que or-
denaõ, eos q se mouerao aguora de nouo foi oCaziaõ delles 0 g 4#r de Angola luís mendes de
uascomçelos q me tem posto em serquo por q naõ conçeme q a esta Comquista uenhaõ man
timentos da Loanda estornando os nauios que os amde trazer e auexando os homês que uem
neles so pelos obriguar e compelir a que naõ uenhaõ, daqui lhe tenho pasado algus precatórios
de nenhü fas comta nem da a execução couza alguã das que lhe pesso, so por fingir satisfas a
sua obriguaçaõ tomou tres ou quoatro homês do mar pera hG nauio que la foi e eraõ elles de
taò pouco préstimo que bem sabia se naõ podia nauegar 0 nauio, e 0 Capp.*® que la mandei
com os precatórios naõ ouzou a lhe fazer protestos com temor das muitas auexaçoês que fas
aos homês que tíraõ, algfls papeis p.“ bem de sua justiça naõ consentindo que se tirem; emfim
elle trata esta comquista como senaõ foçe de uosa Mg.4- e por que hü negro meu de muito
tempo cazado se acolheu daqui com dous souas çircumuezinhos e leuaraõ omantimento que
puderaÕ carregar pondo 0 foguo e abrazando 0 demais que ficaua nos campos foi a Cauza de
nos faltarem os mantimentos da terra e uermonos em aperto ao que queremdome socorrer da
loanda a Custa de minha faz.4* tne faltou também o mantimento por naõ conçemir 0 g.i#r luis
_w g igjg«
558 Angola
dc «««"«*«>■ cno » ■ « !• « « * 05 sedados uendoçc com pouquo mantimento
des»Corsoados ordenao todas as horas fugidas pnm apalm ente uendo q fazemdotne V M c *
mcrçe lembrarse de mim e mandarme mantimentos e moniçocs nao quer luis mendes de uas-
conselos mandarmos nem que me venhaõ qua, proebindo aos mestres dos nauios que os trazem
a que os eimreguem a meus procuradores e homcs q mandey a loanda com poderes p/ que
trouxeçem os ditos mantimentos c momço^s e asim tem tudo empatado naõ queremdo res
ponder né deferir aos mestres nem ainda asuas petições e se Respondia naõ se queria asinar ao
. pé do despachoro que Constara tudo dos papeis que com esta uaõ a que me Rem eto;
Eu fiquo doemte sangrado oito uezes mas fora de periguo Deos louuado e naõ me espanto
senaõ de como sou uíuo com os sobresaltos q cada dia tenho nesta Comquista prímçípalmente
sentimdo xamto a grande falta de mantimento que ha na terra e que esperamos auer ao diante
se deoS nos naõ acode por que auera mais de quoatro mezes que nos sustecntamos com huã
pouqua de Carne e esta m.40 por resaõ por que aguora se nos aCaba e daqui por diante come
remos eruas ate auer outros mantimentos e p.* maior dano nosso se nos perdeo hG pataxoque
aqui tínhamos por descuido de hG piloto p.* o que ordeney fazer outro a minha Custa o quoal
mando aguora a loanda remetido ao bispo Dom fr.° manoel bautista ou aos p.°* da Companhia
de Jesus p.* que me socorr&õ a custa de minha fazemda com mantimentos pois o g.or luis mendes
de uasconcelos o oaõ quer fazer e achome por bem afortunado o achar qua algua faz.* minha
p.* com ella seruir a V. M g.*
tenho descubertolhmito desta terra e estou ya mui pratico nas couzas delia e cada uez
acho mais que pelo tempo adiente uíra a Responder com grandes proueitos p.fl a coroa e faz.*
de V. M g * , tenho serta Cantidade de Cobre diguo da pedra delle que naõ mando aguora a
V. Mg.* por me p&reser pouca eomeu dezeio lhe mandar nauios Carreguados pois sei mui bem
a onde esta roas nao posso ir a elle sem que V* Mg.* me faça merçe mandar prouer da gemte
que se seme auia de dar que saõ çento e simquoemta homens e os mineiros e fumdidores porque
ua o cobre em sustançía e naõ em pedra q oCupara mais luguar e juntamente que os degra
dados se mandem a esta Comquista sendo gente que possa tomar armas e fazendome V. M g.*
merçe loguo farei lhano oposto aonde estaõ as minas e ficaraõ por V . M g .* porque na mostra
das pedras que tenho enumeraua a Cantidade de Cobre e a terra ferteüsima de outras Couzas
muitas Couzas e taõ bem espero que V. M g.* me faça merçe consederme l/ fl p.a que depois de
por o Cobre corremte e mandar nauio com elle me possa hir p,a minha Caza deixando pessoa
de Comfiança que aqui fique guouernando isto ate V. M g.* mandar prouer em quem for ser-
uido porque sou ya velho e quasi seguo da uista e Com huã frechada em huã perna que me
deraÕ na guerra que todas estas Couzas saõ bastamtes p.° que V. M g.* me faça merçe temdo
feito esta ate qui estando muito fraquo edebilicado da doemça que diguo semdo a terçeira ves
queme asemtaua em huã cadeira temdoçe semtemçeado hG home a morte por ter crelado delle
o Capp.,m mor, e ouuidor daquela cidade por lhe esCaiar os muros de sua C aza e emtrar com
huã filha sua domzela e prouarse por autos que disso se fizeraõ semdo homê baixo da naçaÕ
posto que auia sido Capp.aa a falta de homes nobres mas como o tal C arguo nao Cabia nelle
estamdo emtre enimigos repodiou e largou a gineta em minhas maõs e eu com caixa tamgida
mandei pello a Raiai todo botar baado que nimguem otiuesse ne conhesese por Capp.am nem
gozase das priminemçias preuílegos nem liberdades que o tal Carguo Com cedia.
Daqui tomaraõ motiuo simquo homês os quoais ya andauaõ com os ânimos danados
dantes pera larguarem aquela empreza adespouoarem a terra por serem pessoas baixas dôus
da nacaõ ebrea, hu mourisquo e outro q ueio degradado Anguola por ladraõ outro natural de
sezimbra home do mar e estamdo asim asemtado com o atras diguo aos doze do mes de janr.*
deste prezemre Anno emtraraõ na Caza aonde eu estaua hü padre da ordem de Saõ françisquo
terçeiro por nome frei stmaõ e hu cleriguo preto da tera fsic) por nome m.el R oiz que o bispo
m andou em minha Companhia e sem mais rezocs me diseraõ hu e outro se estaua em perdoar
aquele Culpado que estaua çemteçeado, ou que detreminaua respondílhes padres isto be do-
m ínguo naõ he dia de executar çemtemça uaõ dizer misa e emcomendeme a deos e torne por
qua, antaõ falarem os respondeo o frade de Saõ françisquo naõ me ej de ir daqui sem rezuluçaõ
de si, ou de naõ por que asim eomuem respondilhe tenho ditto a uosa Reuerençia que ua dizer
m isa enraõ que uenha que mais quer que lhe digua a todas estas couzas estauaõ prezentes yunto
a p orta tres dos simquo que atras diguo hu por nome pantaliaõ montr.° queseruia de sargento-
r
Apêndice
DOCUMENTO N.° 86
R u i d ia i dm hs .
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Documentos de Angola).
DOCUM ENTO N • 87
Ordenoume o sõr Visorey q enuiasse a V. S. a copia da Carta de Smg.4 q era com esta,
com os papeis q ella acuza tocantes ao socorro que Manoel ceru.4 pereira conquistador do
Reijno de Bengela, pede se lhe enuie e p.4 que V. S. ordene se exsecute o q smg.d manda com
todo cuydado e que p,* se responder a Manoel ceru.M como se receberão as suas cartas e o
estado em q estaõ as cousas q trata ordene V. S, se faça hua Relaçaõ do q sobre esta matéria
se tíuer feito pello conselho da faz.4 p.4 q se lhe possa auizar ao certo pella secretaria a q."1
R elaçaõ com este escrito ordenará V. S. se enuie a minha maõ. Ds. goarde a V. S. casa n . de
jan.” de 1619.
R u i d ia l dmns.
Conde de faro. „ ,
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção ultramarina. Documentos de Angola)«
PAX
T en h o escrito a V . M. largam.16 da missaõ do Congo cõ larga relaçaõ; depois desta, o fiz
taÕbe em 14 de A gosto por hua nao q' partio daqui p.* Pernambuco, e iuntam.te mandei largas
relações destas partes, desdo tempo q* escrevi quando cheguei de Congo, A gora parte hua nao
r P« Pernam buco naõ quis perder ocasiaõ e nella mando a V . M. hü Copo de unicorne q* me deraõ
os p ." q ' foraõ a m issaõ de Benguella em Comp.4 do g.dor M.e! Cerveira P.I# indosse meter de
posse c õ os soldados q* vieraõ do reino q* seraõ 70 todos rapazes ou os mais delles, ia escrevi
de C o m o o g.dof o prendeo e Em barcou, e chegou a Benguella em hü mez, se os p.#» naõ foraõ
5 6 1
A pên dice
7*
i* r r :-
562 Angola
D O C U M E N T O N.» 89
C A R T A D O C O N Q .00* D E B E N G U E L A A O G .° " J O .- C O R R E A
DE SO USA
V ossa Snjjria seja cnuy bem chegado e bem ido a loanda, nalm a estou sintido, estar no
estado em q estou sangrado 4. uezes, e com huã fonte aberta ha 4. dias em hG braço q h e causa
de n aô poder ir pessoalm ente uer a V . S. e darlhe hu grande abraço e oflereçer me de nouo a
seu seruiço ainda q ha annos estou nelle. Aqui estou com 53 companhr.0i entre uelhos e mininos,
e eu quasi çego d o olh o esquerdo e cada dia cõ as arm as na maõ pellos inimigos uerem o mi-
serau el estad o em q estam os; Se V . S. por seruiço de S. Mag.d* nos pode fazer. m. de nos so
c o rre r c õ algu s soldados, a elle faz grande seruiço, e a nos m.u m. por naõ perecermos em
m aõs d e inim igos. Naõ tenho q offereçer mais que esta pessoa que pera 0 seruiço de V . S. me
n aõ podem nunca faltar forças e sobejar vontade. Nosso $.or g.do a V. S. e o torne a le u a ra sua
ca sa com o eu desejo tr pera a minha. Desta Cidade de Sam Philippe hoje 4. de 8>ro de 1621.
annos.
M a n o e l C e r v e ir a P*a
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina Angola).
*
D O CU M EN TO N.° 90
R E S P O S T A D O G .OOR D E A N G O L A A M .eL C E R U .A P .A
P ello pataxo q encontrei nesta C osta soube ter V, M. a saude q estimei q sem achaques ia
se naõ viu e, e estim arei q V . M. me de occasioes de o seruir q o hey de fazer co muy boã von
tade. De P ortu gal e Castella naõ mandei nouas a V . M. por q entendi telo sabido por quá q
todos tem os que sintir nellas. Conform e as nouas q acho de Angola de estar tudo reuolto e ba
ralhado m al me posso eu resoluer no neg.90 dos soldados, de mais de trazer muy poucos, e elles
de m ui ma vontade Gearem neste sitio. Leuarm eá Ds. a Angola Com tudo o q em my for hey
de seruir a V . M. cõ muy bom animo. Nosso s.or g.d9 a V . M. ette. Desta nao em 4. de 8 > o de
621. — Joaõ Corrêa de Sousa.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Angola).
D O CU M EN TO N.° 91
P o r esta por nos assignada. Certeficam os nos Bertholameu Diaz Adjudante neste Reyno e
conquista de Benguela, & Gaspar ferreira soldado delia q he uerdade que passando por este
p o rto o Gouernador de A ngola Joaõ Corrêa de Sousa, e indo nos a bordo da nao em q hia o
d ito gouernador a reconheçer o que era por mandado do snõr gouernador e conquistador
deste R eyno Manoel Cerueira Pereyra, falando com o dito gouernador Joaõ C o rrêa de Sousa,
elle nos disse, que era o que faziacnos aqui, que por que nos naõ hiamos, pois naõ seruiamos
nesta Conquista a Ds, nem a EIRey, e que se fossem que elle daria a cada hum seu cargo con
form e aqui o tinhaõ a saber, ao capitao, o faria capitaõ, e ao Alferes, e o adiudante seria tam
bem adiudante. e assi o Certeficam os e iuramos aos santos euangelhos e por uerdade nos
assinam os aqui em SaÕ felipphe hoje vinte e sete de Octubro de mil e seiscentos e vinte e hum
annos.
PRECATÓRIO
Manoel Ceru.” P.* fidalgo da casa deiRey nosso s.* G.<#r Conquistador t Gap.™ geral d c r e
nouo R.®®de Benguela e das puincias (sic) a elle annexas pello díio s." Cap. ÍA o saber ao a.»
Jo * Corrêa de sousa g.w e Capiiaõ geral do R.** de Angola, ou a quem seu lugar tiuer em como
4
S. Mag.tfí me manda per huS sua 4. tiue ponha em correnteza o lauor das minas do cobre 4
tenho descuberto e me auisa dera ordem a V. S. pera que dessa loanda me socorresse e «io
dasse cõ tudo o q eu de qua lhe pedisse mandandomc gente bastante p.®soiar o porto de Lumbe
4
Ambala e assi hum Cap."* experimentado na guerra seja pessoa de confiança e hü Ant_* TH«
6
tendalo c toda sua gente preta o treslado da qual ordem o dito s.w me mondou pera 4
4
uisse a ordem * V. S. trazia aserca do socorro q* me auia de dar e o treslado delia uai iunto
4
co esta carta de precatório authentico, Pello uendo eu o grande aperto em estou posto e 4
a necessidade q tenho assi de gente como do dito Cap.*" e Ant.® DiSz tendala e assi mais de bü
5
barbr.® pera sangrar os doentes, e de hü sima f r l sarralhr.* q nessa conq.1* assiste obrigado
4
a esta pera concertar m.u* armas - tenho desconçertadas pois poucas tqgho em forma q siruaõ,
e também ires caualos os quaes o g " luís Mendez de Vazconcelos me tomou nessa loanda q.
.1
me madaua S. MagA e por q. também naõ tenho nauios p me poder mudar pera o dito porto
de Sumbe Ambala cõ a geme municoês e artelharia e assi estarmos hoje aqui poucos e tardando
o prouimento e socorro dessa loanda poderense unir estes gentios todos nossos inimigos contra
nos como tenho entendido q o andaõ ordenando e por atalhara isso e a outros inconuenientes
**9
q podem aconieçer e principalm.** por dar comprimento ao q S* Mag me manda fazer na mn-
tería da continuação das minas como leal vassallo q sou seu, determinei fazer esta carta de
precatória p.* V. $.■ pella qual lhe requeiro da p.*f de S. M ag* e da minha peco muito por merce
q tanto q lhe for apresentada em comprimento delia me mande logo cem soldados relhos dessa
Conq.u q, outros tantos fugirão daqui q hoje andaõ por la e serue nas guerras dessa Conquista
e assi mais hü Cap.*mhomê experimentado e de posses de quem eu possa fiar a guerra e Ant.®
Diaz tendala por outro nome Ant.° Mossungo co toda sua gente preta q he m.u e o dito barbr.®
e sarralhr.® açtma declarado cõ os tres caualos q me tomou luis Mendez e iuntamente na
uios em q nos mudemos co tudo p.* o dito porto de Sumbe Ambala, e dali vamos a sitiar as
ditas minas de cobre p.* q nos ditos nauios possa mandar quantidade de pedra por lastro
delles a S. Mag.da a entregar nas p do Brazil aonde elles ajaõ de ir carregados cõ peças
dessa loanda aos feitores do dito s.or p.* q lhe ínuiem a dita pedra a Portugal cõ ordem q os
ditos leuaraojminha, Pello q lhe torno a requerer da p.,f do dito s.®Tde comprimento a ordem
4
q tem sua em virtude da qual fiz este precatório, e fazendooV. S. assi fara o elRey nosso s.M
manda e a mí m.um. e do contr.® q naõ espero de V. S. protesto por todas as perdas, dãnos e
danificações q daqui resultarem a sua Real fazenda e de senaõ conseguir o beneficio das minas
do cobre e a perda da artelharia e munições que aqui se arnscaÕ pellos poucos q aqui estamos
e per remate o perdermonos todos e nos comer o gentio da terra e assi lhe encampo e Ibe hei
de nouo por encampada esta Conquista cô todas as mais perdas e damnos atras declarados e q
tudo auera S. Mag.ífl pella pessoa e fazenda de V. $. o q entendo naõ sera assi antes V. S. dara
.1
comprimento ao q he seruiço de S. Mag.*® & a mim me fara m. p o q mandei passar dous deste
theor mandando este a V. S. pello Alferes Xpouaõ Roiz e ficandome outro em meu poder pera
em todo tempo constar disso escripta nesta Cidade de São felipphe R.s* de Benguela por mim
assinada e sellada com o sello de minhas armas Manoel Pereyra Secretario deste R.M e do s.”
g,or e Conquistador a fiz por seu mandado Aos 7. de nouembro de i6ai annos.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. SecçSo Ultramarina. Angola).
564 Angola
D O CU M EN TO N.» 9 3
Snor
Dia de S. fr/* q. foraS 4. de 8 > o passado, passou por este porto 0 g.™ de Angola Joao
C orrea de S o u ^ , e hum luis da R ocha m esire de hG nauio q hia em sua com p/ me entregou
as cartas de V . M ag/* escriptas hua em Madrid a 5 . de M arco e outra Ix/ a 3 * de Junho desie
presente anno de 6a». e co ellas o treslado da copia e orde q V . M ag/8 mandou dar ao dito
g * p/ me aiudar co gente e outras cousas necessr/* a esta Conq/* e iuntamente fui sabedor
da m orte del R ey Dom Philipphe terçeiro nosso s/T q Ds. tem pay de V , Mag/* a qual senti m/8
com o leal vassalo q sempre fui e serei de V. Mag/* e com o a perda de tao grande Monarcha 0
pedia, e logo eu e os mais companheiros ficamos consoladissimos e mui alegres por uermos q.
foi nosso s / r seruido dam os a V . M ag/8 em seu lugar q viua muitos annos p/ remedio e amparo
nosso e de toda a christaodade,
Pellas de V . Mag/* uejo mandar me assista nesta Conq/1 e ponha em correnteza o lauor
das minas do cobre q, tenho descubertas de q tenho mandado as amostras a V. Mag/* o q naõ
pode ter efiecto ate VCM ag/* mandar o q ia em dUtras pedi q he mandar V. Mag/8 cj o g/r de
A ngola o seja tao bem deste nouo R /° pera q assi possa tirar de Angola sem contradicaõ alguã
tudo o q for necessário pera esta Conquista sem se despender nada da fazenda de V. Mag/* assi
gente branca e preta com o os mantimentos, e q seja pessoa q de inteiro comprimento aos
mandados de V, M ag/* por q entendo q o g / r de Angola naõ me ha nunca de ajudar em nada,
nem ha de com prir os mandados e ordem de V. M ag/r pello q aqui se deixou declarar. Elle
me m andou uisitar por hum Criado seu de palaura, eu lhe escreuí hü escripto por hü C a p /W
cujo treslado uai com esta humiihandome pera co isso o mouer aq desse comprimento a ordem
de V. Mag/* pedindolhe me socorresse cõ alguã gente por nao estarmos aqui mais q ( 5o?) p /8
entre mancos e aleijados uelhos e meninos, ao q eile me nao quis dtfferir mandandome hG es
cripto de q também mando o treslado a V. Mag/8 e mandando eu o Adjudante e hu soldado a
bordo da sua nao a reconhecer o q era, eile os induzto a q fugissem dizendolhes, q por q se
nao hiaÕ desta Conq/* q na5 faziaõ aqui nenhü seruiço a Ds. nê a V. M ag/9 como consta da
Certidão q co esta vay e o mesmo disse a hu p • CapellaÕ q aqui está comigo e a outras p/* q
falarao co eile, no q logo mostrou o pouco q se lhe daua de dar comprimento a ordem de
V. M ag/8 Eu ihe escreuo nesta occasiaõ co m/* cortezia, por q nuca tenha rezaÕde dizer qeu
me descompus co eile em cousa alguã, e lhe mãdo hü precatório co o treslado da copia e ordem
q V. Mag/* me mandou p / que uisse o q lhe auia de pedir; no dito precatório lhe peço çem
soldados uelhos, tres caualos q me leuou o g /T luis Mendes de Vasconçelos q V. Mag/8m emã-
daua hu barbr.« e hu sarralhr/ e o mais q V. M ag/9 lhe manda me dé, e iuntamente nauios p/
me mudar daqui p/ Sumbe Ambala o treslado do qual precatório mãdo a V. Mag/* p / q ueja
o q lhe peço, e dando eile o comprimento deuido a ordem de V. Mag/® comecarei a ir man
dando pedra das minas por lastro dos nauios e carregarem de peças pera o Brasil
a entregar la com ordem minha aos feitores pera q a enuiem a V. Mag/* emquanto V. Mag/*
nao mandar mineiros e fundidores pera beneficiarem o lauor delias que entendo haõ de ser de
m/° proueito a Real C oroa de V. M ag/6 por q em altura de hum estado se ha de tirar cobre e
isto sem despeza alguã da faz/8 de V. Mag/° dandome Joaõ Correa de Sousa Ant.° Mossungo
cõ toda sua gente e tudo o mais q lhe peço. E em caso q 0 dito g.0f nao cumpra a ordem de
V. M ag/8 com o ia o uai fazendo, ou me falte c 5 alguã cousa das que lhe peço no precatório,
eu rae naõ posso mudar daqui pera Sumbe Ambala nem sustentar isto aonde estou arriscando
eu e m ais companheiros a pereçermos todos sem eu poder ser bom em q nem a elles, ne eu os
poder sustentar estando empenhado ate nos cabelos da cabeça deuendo na loanda mais de de
zassete mil c / « e o q peor he q estamos em risco de nos comer o gentio da terra nossos ini-
m igos pellos poucos q hoje samos, e de merce peço a V. Mag/8 me de l/ 8pera me ir pera minha
casa, ou mande logo cõ m/* breuidade se me acuda cõ tudo o q peço por q estou uelho e cego
de hu olho, gastado de trabalhos desta Ethiopia e cõ outros mil achaques q naõ digo, e assi
Apêndice 565
daoui nn>C' ,r 5
à ou ownde c m.** brcuidade te me de o $ peço m miade tmr líto
Mntn • j 1110 mC aíreY° a 5u,rentar * í » esw praça $an ter ordenado algl1 mais que « u m *
coDSummdo com estes poucos c o m p r o , sem neabff prooetfo.
Com a resuluçaõ e reposta das amostras do cobre íj tenho mfidado a V, M,** $ espero tqui
por o o Janeiro me determinarei t saberei o ^ hei de fazer. E torno a duer $ as minas u 6
riquíssimas, e tenho notiçia de outras hS dia de caminho destas segundo me di**ersÕ Ç o *5
estão ainda descubertas, nem eu o posso fazer sem ter gente e todo* os apprauc* e o mais q J *
peço, e fico em estado <J se Jo.“ Corrêa me naõ socorrer aqui morrerei cS ot companhr.** corv
solandonos cõ acabar a uida no seruiço de V, Mag*
E alem das minas $ digo, tenho também noticia de outras $ saí>*s Cubo, e o cobre
nao ha de fazer custo neohQ era se Iaurar nas minas nem em fretes, por 1} nos rutuios $ f<>rem
de Angola pera o Brazil poderá ír por lastro delles, e dahi a Portugal sem despe» afguí da
fazenda de V. Mag * como mais largamente tenho escripto. Nosso s r a Real pessoa de V. Mag *
5
g.-1 por largos annos. Desta Cidade de , felippe hoje 7. de Nouembro de 1611 annos.
Do g« de benguella. 5
R. a a de Mayo 6aa.
DOCUMENTO N.° 95
C O P I A D A C A R T Á D E A N T .° P I N T O C A P P 1 T A Ô M O R , E T E
N E N T E D E M .*1 S E R U .* P E R E Y R A Q U E E S T Á N O P R E Z 1 D I O
DE BENGUELLA
Eu fico doente sangrado quatro vezes, e cõ febres continuas, tudo cauzado de ver a mizeria
e dezemparo de quatro homõs que aquy estaõ porq andaõ nüz e despidos, (açolhe o que posso,
mas haõ mister muito; elles vive como querê, e agora ficaõ se P.6 será pior que o P.a Camba-
-quirio morreo em sete dias, e o P.a lorenço Dias vaisse muito mal, e ficaõ dezaseis soldados
todos doentes, e isto desbaratado de modo q. seruimos aquy delhegoardar a sua gente ao Con
quistador, e o seu sal, e o seu zimbo, de nenhü effeito isto he, meus peccados me trouxeraõ
-quâ, V. S. se lembre de my, e nas occazioes q ouuer me naõ falte, e na causa de minha doença
f
'1
! ? #
566 A n g o la
me na6 deixa hir mais por diante, o tj farey se Ds me dcr vida. A que Nosso s.OTme gr/* como
detejo Benguella 9 de Abril de 1616.
Criado de V. S.
Antonio P in to .
tBlbllotec* N a d o u » ! de L itb o a . tàecçfio U ltra m a r in a . A n g o la ).
r r « --------------------
r
DOCUMENTO N.* 96
R E L L A Ç A Õ D A C O N Q .TA E P R E Z ID IO D E B E N G U E L L A
Os Souas amigos que corre cõ o Prezidio de Benguella, saõ dous: Peringue que he Vez.*
e quinzamba que assiste na Bahia de SaÕ fran.ft Estes resgataõ de hordin.r|° mantimentos, eas
mais cousas da terra por contaria. i
Ha muitos outros Souas que naõ saô amigos que pode resgatar, e alguãs vezes o faze co
Vacas per contaria. ^
Ha tres Jaguas Caconda, Angury e Capingueoa, naõ ha mais Jagas naquele destricto, estes
resgataõ peças por fazenda. Os dereitos das peças cobrou sempre o Conquistador M.eI Serueyra
Pereyra.
Ha perto do Prezidio Paó de quicongo que se resgata por contaria de que se naõ pagaraõ
atl agora dereitos. Vai nesta Cidade o quintal deste paó atres mil rs. de bom dr.°
Ha na costa pescaria de zimbo, e que te negras para ysso o pode tirar ate agora senaõ
pagaraõ dereitos delle; o Conquistador Manoel Serueyra yntentou q se lhe desse os quintos do
zimbo, mas naõ teue effeito por lhe dizerf os P.es da Companhia q hera dereito ynjusto. *4
Tem a Mina do Sal que esta no destricto da Bahia de S. fran.0; Delia se pode tirar m.° em f
tpo. seco, orrendimento delia cobrou yntr.*m.le Manoel Serueyra em quanto viueo dizendo q
lhe pertencia, e seus testamr.0* pede 0 que veyo a esta Cidade depois delle morto, e dizem que
pertence a seus herdr.0*
Ha outra mina de sal ao sul da Bahia, que agora se vay ver, te necessidade d’escrauos
pera se tirar, ese Carregar nos Nauios, ha Sal de Marinhas q naturalm.16 se beneff.0 algu se
congella.
As terras Vez.** do prezidio saõ fertis, e podem vir delias por resgate pera esta Cidade
mantimentos, e Gado, pelo que aynda que se aja de mudar o Prezidio pera Sumbe ambala pera
ahy se continuar cõ as Minas de cobre deue ficar pouoaçaS no sitio onde agora está o Prezidio
por respeito do resgate que se pode Contrariar cõ o sal.
As Armas, monicoes, e mais petrechos, ficaõ entreguos a Lucas ferreyra, e he escriuaõ da
feitoria Manoel Pereyra. e o lucas ferreyra he Alferes actual do Prezidio.
>
Gente de guerra.
Antonio Pinto que M,eI Serueyra nomeou em sua vida por cappitaõ mor, e seu Tenente, de
que lhe passou prouizaõ cõ hordenado.
Manoel da Costa cappitaõ de Infanteria.
Lucas ferreyra Alferes do Prezidio.
Dionizio da Mota Sargento.
Manoel Roiz cabo dTLsquadra.
r
Alferes reformados.
Destes soldados ficauaõ ympedidos pera n aÕ poder tomar Armas quatro, s í medico, çurur*
giaÕ. e Barbr.®, e sê Capelaõ todos oüs, e descalços, e faltos de todo o remédio pera pera fite
a vida, e saude, e em dezesperaçao tao grande 4, $e lhes pode perdoar a culpa se a cometerão
O Nauio traz da Mina do Sal quatro mil e oito centos alq.*1 ficarqf pagos os fretea tres mu
e quinhentos que poderão ymportar quatro rotl cruzados, este he o estado daquele Prezidio, e
Conquista, em Loanda 9 de Julho de 1626,
Femaõ dc S ousj
(Bibiiôtect Nsdooil de LUbot. Secçfo U itn a rá t. An|ob).
DOCUMENTO N.* 97
DOCUMENTO N.®98
16x9.
A folhas sessenta e huã do livro da feitoria está hu auto q. 0 Proáflf da fazenda de S. Mg4*
:mandou fazer cujo treslado de verbo ad verbum he 0 seg.18Anno de nascim10 de nosso s« Ijü
568 A n g o la
xp6 de mil e seis centos e v«° e nove annos, aos vinte e tres dias do mes de julho nesta Cid* d
S feltpe R” de Benguela, nas pouzadas de Luis ley tão ouvidor gerai e Prov4*' da faz4«de S Mc4*
nestes R.*°#por ciie foi rad* o mi escrivão fazer este dizendo q. p* q. a todo o tempo constasse
o estado em q. as cousas deste R*° estavão ao tpõ q. o sw Conq4« lopo Soares lasso nelle
entrou c tomou posse do governo delle e do q. tinha sucedido dahi em diante e p« q, s. mc4*
possa ser informado inteira c verdadeiram18 de todos os successos q, nas matérias de seu ser
viço tem aconteçido, era necess0 serem perguntadas p*mde amhorid* e credito dos mT8> desta
cidade q. mais rezão tivessem de saber de todas estas cousas, as quais o $or Conq4« mandava
q, fossem os s e f '1: *0 capBmXpovão Roíz e os alferes João de Oliv,* João Pinhr®, Paulo Ribr*
e Lucas ferr* e os sarg10# Gp8r de souza e Dtomsio da Motta, e os ajudantes Manuel de freitas,
e marcos marteb E sendo vidos perante elle ouvidor geral, elie lhes deu juram10 dos sanctos
evangelhos sob cargo do qual lhes mandou q. declarassem e dissessem o q. sabião ena verdade
passava de cousas seg'0t Primeiramente quantos e quais sovas avia q, fosse f°* e estivessem a
obediência de s. mg4* e ao serviço desta fortaleza quando o dito sor ConqdoTtomou posse delia,
e q, terras culúvavão os mc,t daqui e em q. pl* e qu distancia estava desta fortaleza, e cõ q.
gemes unhão amizade e comercio, e se os mt8t desta terra hião co liberdade ás terras dos gen*
tios, ainda q. não fosse Io* e q. distancia avia delles a esta fortaleza, e juntam1* o dia e tpõ em
q. o dito s°* Conqd*r tomou posse deste prezidio, e as saidas q. tem feito, e guerras q tem dado
ate hoie, e o tpõ em q. forão, e do successo e dillação q. teve em cada hüa delias, e a distancia
dos lugares, e quãtos ^>vas assi Jagas como Ambundos tem í.u* f •• desta fortaleza e reduzidos
a obediência de S. M.d* e se andão cõ liberdade pellas terras comarcãs a esta fortaleza, assi os
negros captivos dos Portuguezes, como os brancos, per todas as p,lB* aonde o dito s.°ros man
dava sem serem offendidos nem impedidos por nenhü dos Serês gentios, assi vassalos de S. Mg.d*
e f.t0# f ®* da fortaleza, como dos q inda o não erao, q terras se cultivavao ia de presete pellos
m.0^* desta Cid.*, e quãta destancia estavão daqui./* E por cll®s depois de praticarem sobre as
ditas cousas q lhes forão pregutadas de hua voz ê hüa mesma conformid.8 foi dito q ao tpo q
o s.0F Conqdof tomou posse deste prezidio, q foi o dia q aqui chegou da loanda dez de Mayo do
anno de 627 não avia mais Sovas f.0B desta fortaleza q estivessem a obediência de S. Mg.4e q os
segJ" ff Peringue, Maniberro, Quinzamba, e o Sova da praya q sao os vez.0* mais chegados a
esta Cid*, e dos Jagas so Caconda era f.° e estava a obediência, e q Manisongo corria em ami
zade cõ os Portuguezes, mas q não era f.° e q os m.0T8a desta Cidade cultivavâo algüas terras
aqui perto da fortaleza cousa de mea legoa pouco mais ou menos, e q algüs negros Ambundos
de Cabamba vinhão aqui fazer feira de algüas cousas sem embargo de não ser f.°, nê estar a
obediência de S. Mg.d%e q os Portugueses não hião as suas terras ne sahiao desta Cidade mais
q a seus arimos e ate Molundo. e q tanto q o s.or Conq.dor aqui chegou por ser informado do
dano q Anguri Jaga poderoso q vive daqui 16 ou 17 legoas tinha f.*° as gentes de Peringue e
Maniberro f.ea desta fortaleza, roubandolhes seus gados e suas molheres e f.os sahio logo em 27
do dito mes de Mayo em q aqui chegou cõ outenta soldados portuguezes pouco mais ou menos,
e deu no impuri q he hua Serra asperissima, e cõ grandes covas por debaixo de terra, a onde
o dito Jaga vive, pelejando com elle onde lhe matarão g.te e o obrigarão a pedir q o reçebessem
por f.*, e depois de o deixar assi castigado passou avãte pelejando cõ Quissangue e Bisansongo
a quem teve cercado no seu impuri onde tinha grande poder e gente, no qual çerco foi morto o
mesmo Bisansongo, segundo os seus disserão, com q outro negro q disse ser seu Quiambole
veyo dar obediência, e estando neste çerco veyo outro negro por nome Bambe q vive alem de
Bisansongo a fazerse f.®e dar obediência e o s.or Conq.doT o mandou metter de posse das suas
terras q outro negro lhe tinha tomado, e nesta saida e guerras q deu se matou m.u quantdô de
inimigos, e dos nossos escravos forão mortos sinco ou seis e m.10* feridos, e foi morto fr.«°Dias
Quiião Tendala da g.le preta e feridos mais de quarenta Portuguezes e hü $0 morto de sua
doença, e q daqui a Bisansongo e a Bambe serão quarenta legoas pouco mais ou menos pella
terra dentro ao rumo de leste, e o pprio s.or Conq.dor foi ferido de duas frechadas, de fj perdeo
a y.u do olho esquerdo, e tornou a este presidio o pr.° dia de separo do dito anno de 627, dei-
f xando grande estrago em todas as terras dos inimigos por onde passou. E q logo em 21 de
fevr.° do anno seg10 de 628. sahio o dito s.or Conq.dor cõ a guerra fora cõ 75 homens portugueses
pouco mais ou menos, e entroas em terras de Culimata q sao daqui 20. legoas pouco mais ou
menos pella terra dentro cõ o qual não pellejou por os negros andarem sempre fugindo e cõ
** \ "*0*
A pêndice 569
tudo lhe tomarão doas míl raccas pouco nui» ou meno* e alguts peças cô 3 tomaria es:« pre
sidio em az de Março do dito anno de 618./.
E logo a tres de septr* do dito anno de 6z8 partio 0 s." Conq.** c6 ?5 homem Ponugwtxrt
pouco mais ou menos, e cousa de mil e quinhentos negros Ambundos e Jagu a J jt cuerr* 4
Cabaraba s.or das terras de luqueco q era 0 mais poderoso e tímido negro 1} atcgorc ie sabe
em iodas estas p.Wl por não querer vir a obediência de S. Mg'* e o desbaratou tendo
a mor quanttd* de g.* de guerra q nflea se vio neste R.-* e lhe matarão grão quamd* g *c C 4 -
ptívarão m.u*peças e tomarão quatro ou sinco mil cabeças de gado pouco mais ou nssrr s ■
tornou a este prezidio ao pr.a dia de Outubro do dito anno de 6 a3 e na dita guerra íorão áridos ^
dous portuguezes som,a, e hG negro morto e m.*“ feridos, sendo q so os porragu«« pelejarão
ate romperem os inimigos e os porem em fugida./ e q logo em a 5 de Nov.fc* do dito tono de 6z3
partira 0 dito s* Conq ** p.” os Sumbes aonde estio as minas de cobre «, por cujo resp.u
S. Mg* mandou aqui 0 g.* M.*1 Cerv> pr.“ fazer este prezidio, e a dez de Dezembro do dito
anno deu no quilombo (q he arrayal) dos inimigos q se puserão em fugida os quais seguio
quatro dias sem os alcançar, e se tomarão nesta guerra mil p " captivas pouco mais ou menos,
e se reduzirão a obediendia de S. Mg* e se fizerao f.** desta fortaleza treze Sovas aigGs des
quais são mui poderosos e te m.lMoutros seus vassalos, e cõ isto foi 0 dito 5 * as mints de ”T
'%
cobre, de que tomou posse por S. Mg.* mansa e pacificam,**, e tirou delias as mostrasdometa!
q mandou a S. Mg.* cõ os autos q disso fez, e cõ isto tomou a este prezidio 0 derrad" de
Março de 629. se perda ne morte de nenhü português, posto q dous fígKrtf*ferides na guerra q
deu a Cahuri e q desta Cidade as minas do cobre serão trinta legoas pooco mais ou menos p.*
0 Norte. E q alem dos treze Sovas Sumbes q se reduzirão a obediência de S. Mag.* e fizerSo
{.«, tinha reduzidos 0 dito s.VTConq.a#r Manisongo, Lubémbe, Manineanga, Quitemo, Cabombo,
Conzamba, Monadundo, Mani Ca tubela, Caungueca, Cabambe, Gumbe, e languanda; e q depois
%
q 0 s.or Conq.** esta neste R.M e fez a pr* saída, andarão sempre os portugueses e seus es
cravos cÕ Uberdade e segurança por todas as terras por onde 0 dito s»w os mandou assi dos q -9
■-yH
ia são f.#l como dos q ainda 0 não são, e se tem cultivado m.u* terras assi ao redor desta for
taleza, como na varzea de Catubeia q he daqui quatro legoas pouco mais ou menos onde se
q
tem reduzido m.,M terras a cultura em ia este anno ha ro.1* quãtid.* de pão, e se espera aver
tanto q baste p.1 não serem necess.*' manúm.tM de fora; o q assi sabião por aver aonos
q rezedião neste prezidio antes q a etle viesse o s.or Conq.dw, e q conforme o estado em q estão
as cousas deste R."° e 0 grande cuidado e dtUg* co q o dito s.^ Conq.*' trata deltas, e os bons
successos q ds nosso s.#r lhe tem dado se espera q etn m * breve tpo seja este R.M e as Conq,u*
delle hüa das de Mayor importância q S. Mg.* tem nestas p.1*’ do Sul. e q isto era 0 q sabíío
e entendíao do q lhe foi perguntado de q 0 dito Ouvidor geral roãdou fazer este auto e termo
q todos cõ elle assinarão e eu M.#1 p.« escrivão da Ouvidoria geral e da faz.* de S. Mg * nestes
R.bm de Benguela q 0 escrevi // Luis leytão// Cristováo Rois// João dolivr.*// Paulo Ribr.* da
mata, Marcos Martel, Manoel de íreitas// Dionisio da Mota, Guaspar de Souza.
O qual auto eu sobre dito Manoel P.* escrivão da Ouvidoria geral da faz * de S. Mg.* 3
nestes R.8®1 de Benguela tresladei do proprio qesta em o livro da feitoria a q em todo e por 4
7
todo me reporto q esta em poder de luis leilão Sotto mayor Ouvidor geral e pv.*1 da faz.* de ■í
■a
S. M g* nestes R.n#* bem e fielm.1* se antrelinha nem cousa a q faça duvida, salvo no rosto da i
p.ft lauda desta peza hü borrão no meo da regra vigessima tenia q diz q tem dado. q se fez na
verdade e a tres aqui em Benguela de meu sinal custumado eoie dezasseis de Agosto de mil e
seis centos e vinte e nove annos.
Afanod P.o
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Seeçlo Ullramariai. Angola).
» 5Í
7a
1
Angola
D OCUM EN TO N.» 99
C a rta 17 do m cs de Dezembro passado, dis sua Magd®que por quanto im porta muito
a seu serviço p o r m uitas occazioens delle de grande im portançia que ordinariam ente se offe-
rcçem aver nas S ecretarias destado, das m atérias tocantes hâ india e m ais partes ultram arinas
a descripç&o de todas as costas delias, cada governo, e cappitania de per sy, tudo arrum ado,
com d eclaraçao dos portos, Abras, sergidouros, e fundos delles, apontando seus baixos, e tudo
o m ais que cum prir pera ser inteira n oticia de todas as particularidades que nisto convenhão,
com plantas, em papeis Aparte das fortalezas, feitorias, e casas fortes, q os vassalos de sua
Mag** tem em cada districto, A rtelharia, e armas com que estão providas, gente de guerra, e
offiçiais que â de asentamento em cada praça e consignaçoens de seus pagamentos e com isso
RelaçoHns particulares das m onçoens, que correm na C osta, e dos tempos que durão, e assy
das correntes que ouver, e em que conjunçoSns dandosse nellas tambctn noticias de tudo o
mais que ouver em Tãffb capitania, que convenha saberse pera qualquer cazo, e asy dos Reys
vistnhos, ley que profeção, com ercio, Paz ou guerra que se tenha cõ elles, e de tudo o mais que
ouver em particular dos mesmos Reys de que convenha aver lembrança pera todos os fins, assy
em Rezão da converção dos Gentios, com o do trato, ou com ercio, ou conquista, e se tem
com m onicação com naçoêns estrangeiras, e quais, e os meyos que pode aver de se impedir pera
se tomarê as noticias referidas, manda sua Magdo que peça delias ptenaria inform ação aos g o
vernadores, ou capitaens que estiverem neste Reyno, que o aião sido nas conquistas, de que
avizo a V . M. da parte de sua Mag^* para que satisfaça a esta ordem no que toca ao governo
de Angolia que V . M* servio, e Rem eta ã minhas maõs a R elação que sua Magde manda por duas
vias com a brevidade que for possível. Gd* Ds. a V , M. de C aza a 9 de jan° de 6 3 z. franco de íu-
çena.
R E P O S T A com a Relação da Costa,
e Reyno de A ngolia, e de Benguella,
do Reyno de Congo, Loango, ate Mayom-
be, que mandey ao secretario frc0 de
lucena com a planta de toda a costa
em 21 de fev° de i 6 3 s por duas vias.
Apêndice
banhg Cardoso, o que íoi nomeado, nomay lo$» íj peitou 9 p m te c c w u & t #
effeico que sua Mag* mandava lhe dey toda ayudo, favor, anuas, Polvora, cmbarc*.,^!, e at- r
tema e dous soldados, os mais dcilu velhos da conquiiu, e juo m s.s respeito á x *•:.'-ts.fi.Uds
en que estava de gente 0 Reyno de Angoila, c a soa conquista: tWiChe o regimtoto orspr ‘ que
se linha dado a manoel serveira pereira feito em Lxa por lois de moura em »6 de it-nr^ ( t 6 1'
asinado pello Arcebispo primar Vizorrey porquanto «11 mag* me nío mandou n* *4 t t u
ntaís que nomear a pessoa que ouvesse de exercitar 0 cargo; e pera o desome era j
1
fazer sua mag* de Rogação da provirão, da çeparaçío J avia feno da de Beoqç»: .•
do governode Angolla de que foço esta lembrança pera saber sua M at- « v à « * =5 Sue m *
soares foi provido na dita conquista onde estâ.
A enceada de Benguella está doze graos e meyo da bandt do SuU setmta ligei* 3 »ir*-
vento do porto da çidade de loanda, entre hCa poma de are* da banda do norv;. ? « d , chapei ;
que esta da parte do Sul; de bGa hâ outra ba tres legoas de praya enque se p de dr*=mb*rcar
sem o impedirem: he capas de grande Dumero de embarcaçoens cô fundo dc *&<:©, ate coetr.i À
braças ficando da terra á úro de mosquete; podem estar iunias sem perigo, porq
radas do Vento sul q he 0 gerai da costa e vailhe por sima da terra. No da p: 7 * o .* ■%
çituada a dita povoação de Benguella, hora Cidade de são Fclippc, Tem tres baluartes, e hwa
delles se fa$ corpo de guarda que demora ao sul, outro a leste, outro ao Norte, todos dc taipa
de pilão de pouca concíderação; Tem cada hum delles tres peças de ferro de coatro livra* de
baila, sem serviço, e artelheiro que possa acudir a hQa ncçessidade, <#■ * são de mais effimc-
que pera defecção do gentyo; ha mais outra peça desemcavalgada. N&o se limitou ha esta con
I
quista numero certo de gente, nella entrarão com Manoel serveira pereira duzentos e rincocnta
soldados, delles, poderá aver vinte e sinco, e de presente, ao mais noventa e coatro; muitos
delles enfermos, e desses ficão no prezidio quando vay a guerra fora muito arisctdos por ser o
gentyo muito atrtiçoado; Padessem todos muitas neçessidades polia falta que tem de todo, e
por serem mal pagos, de § tem rezuhado levantamentos que se podem temer.
Tem falta de armas porij estão desconçertadas, e as mais delias gastadas da ferrugem:
Tem sincoenta barris de duas e tres arrobas de polvora, mas muita falta de moniçao, pello
se deve conciderar se convS sustentar aquella conquista, estando tam lonje de Socorro e nao
tendo defenção por mar, aos Rebeldes, nem convir fazer guerra pello sertão por não ser iusta, e
ser mayor a despeza pera sua Magá* que o proveito, e não o sendo as minas de cobre (que tombem
he de concíderação) se se deve extinguir esta eonquista, e recolher artelharia, polvora, armas, e
moniçoens e que somente fique huã povoação com os moradores que quizerem viver nella pera
Resgate de mantimentos, guados, Madeira de quic ongo, Pescaria de zimbo, e de alguss peças pera
as armaçoens, porq quando aly foi a pr* armada Olandeza no anno de 624 desembarcarão em
terra e virão o cityo, os baluartes, Artelharia, e tudo o mais há vista de Olhos, e & falta, e fraqueza
que nella há pera sua defenção, e tornado haquella costa facilmente a renderão, e dirão que to
marão a sua Mag* huã fortaleza, não sendo mais que povoação de pescadores. A balravento da i
ditta enceada há muitas ate 0 cabo negro q está em dezasseis graos enque podem surgir m18* na
vios : Na de sam frw que esta em doze graos, e dous terços ha huã mina de sal natural enque o mar
Rebenta por baixo da terra, e fas tanto que tirado 0 que esta feito, se fas logo outro, e sempre
esta co sal; he neçessario fabrica de negros pera 0 tirar e por em monte, e bateis pera 0 levar aos
navios enque se ouver de carregar porq se tira em pedras grandes: he sal groço, e nam tam bom
como 0 deste Reyno porq he muito forte, e penetra demaziadamente, o que salga. O proçedtdo
deste sal apliquey hi despeza desta conquista, e vai na çidade de loanda a mil rs. de panos o al
queire que he moeda corrente da terra, não indo sal deste Reyno tera mayor despeza, e rendi
mento, e podersea contratar Pera a fazenda Real. Tem mais esta conquista pera sua despeza os .1
direitos dos escravos que saem despachados de Beoguella que não pagão na feitoria de loanda por
merce especial que Sua Magde fes a Manoel serveira p.MAgilavento da dita ençeada de benguella
tres legoas delia pera a parte do Norte esta o porto de Catumbeila em doze graos largos da
banda do sul; nelle pode estar trinta naos com as proas em terra, entre Mangues, em fundo de
dezoito braças, sem as poderem ver os navios que vão fazendo viagem pera o porto de loanda, **
entralhe hum Ryo enque podem fazer agoada dos bateis com boa pescaria; nelle estiverao os
primeiros olandezes que forão ha Ãgolla no anno de 624 (saindo de Benguella) e no dito porto
de Catumbela espalmarão, e alimparão â sua vontade por espaço de quinze dias, e delle fizerao
À
\
572 A ngola
prezes cm nevios que pasavSo pera 6 de ioanda, e eu lhe fiquey no mesmo tempo na baya do
chapco, e no dia que se levarão de Catumbella entrey na enceada de Benguella. Agilavcntode
porto de Catumbella pera o norte esta o de Quicombo em onze grãos, e hG terço, nclle desem
barcou Lopo soares quando foy de Ioanda pera Benguella; Nelle entra o Ryo Cubo que 0 fas
bom cityo, e çadio; Se as minas de cobre forem de proveito de q lopo soares mandou amostras
pera este porto se hade mudar a povoação dc Benguella porq está das minas sinco legoas, e
entrfio nelle embarcoçoeus, mas não sé sabia se hé o Ryo navegável ate o citio das minas que
^ estão visinhas a elle. Tem esta conquista peiio cenúo sovas poderozos com muitos gados, e
* mantimentos, e boas terras, mas poucas peças de escravos, de Resgate pella banda do sul; Pella
do Norte tem as províncias dos Sumbes, e da longa, ate Quiçam a, com Jagas guerreiros e trei-
çoados que não fazem Resgate, nem querem avaçelarse; tem citios muito fortes a que cham io
Impures, que são covas, por baixo da terra, e grutas, com agoas e mantimentos enq se metem
muito difiçeis de entrar, pello que he a guerra por aquella parte de mais perigo, e despeza q
proveito. Não se fes descrtpçáo do Cabo Negro pera o de boa esperança, por ser terra baixa e
não se ver senão quando se da nella, he de grande perigo pera os navios por não ter fundo e
ser de pedra, como me succedeo que vy terra de dezanove graos como se Vé pello Roteiro, e
porpertençer ao governo de benguella de que o governador dará verdadeira informação, em
Lx* 21 de fevereiro de i 6 3 i.
5 3
(Biblioteca da Ajuda, cód. i-vui- i, 2.0 vol., foi. 10 v.° a 18
Sua Magd* por carta sua de 18 de mayo passado manda se tome informação de V . M. sobre
a importançia de que hé, e poderá vir a ser a conquista de Benguela, e que utilidade se segue
delia de prezente hà sua Real fazenda, e â de que se pode esperar que venha a ser; E se convem
conservarse; E proseguirse, ou iargarse, e as Rezoens, e conveniências de huá, ou outra couza:
V. M. se servirá de fazer Relação de tudo dirígindoa â minhas maos; Ds. grde a V. M. como de
sejo de caza a 3 de Junho de 6 3 3 .fra nco de Luçena .
Copia da Reposta .
Em 14 de junho de i 6 3 3 .
Pello secretario franeo de luçena se me disse mandava V. Mag*0 que eu informasse de q
importançia hé, e poderá vir a ser a conquista de Benguela, e que utilidade se segue delia de
prezente há fazenda Real, e a de que se pode esperar, que venha a ser; e se convem conser
varse, e proseguirse, ou largarse, com as Rezoens, e conveniências de huã, e de outra couza.
Benguella hé huã enseada q esta em doze graos e m° da banda do Sul, setenta legoas a
balravento do porto de Ioanda, Reyno de Angolla. Pellas informaçoens que Manoel serveira
Pereira deu das utilidades, q Resultarião de V. Magdo a fazer eonquista, e governo separado, do
de Angolla, foi V. Magde servido de Separar, e desunir do governo de Angolla o Reyno de Ben-
guelia por huã provizão mui ampla q fes nesta çidade P° varela em 14 do mes de fevereiro
de i 6 i 5, pella qual fes V. Magdé Merce a Manoel serveira pereira de o nomear por capitão mor
e conquistador do Reyno de Benguella, como se pode ver do Registo da ditta provizão, e cõ
elia se lhe deu Regimtft que fes nesta çidade Luis de moura em 26 de março de 1615 assinado
pello Arçebispo primas visorrey. Partio Manoel serveira deeste porto com gente de guerra,
armas, polvora, muniçoeíís e instrumentos pera o lavor das minas de cobre, q elle dizia avia
em Benguella, com ordem de hir servir de governador â Angolla, ate lhe hir successor e que
daly se iria provido do neçessario pera prosseguir a conquista de Benguella, descobrimento
das minas, e lavor delias, de q não tinha noticia çerta, e por lhe parecer mais conveniente pera
seus intentos levou de Angolla gente de guerra de conquista, e com ella, em embarcaçoãns se
^ foi há dita povoação de Benguella polia commodidades q nâ terra avia de mantimentos, guados,
Resguates, e posto que se lhe não limitou numero serto de soldados, e gente pera povoar a dita
povoação entrarão nella com elle duzentos e sincoenta soldados, todos velhos, e escolhidos por
eile, com obrigação de os pagar do Rendimento da conquista. Fes Manoel serveira pereira da
Apêndice
5
gaelll°m fS0 * BengW,,, ^idfáe’ e P0*®* 0 B0B* ' o F«£i>p« do V«*o Rrwo de fim-
D E S C R E V E M - S E A S P R O V Í N C I A S D O R E I N O D E B E N G U E L L A
E L I B O L O E C O N F I N A N T E S
A Província que relatamos da Quisama confina em huma ponta que mette o caudalozo rio
Longa desagoando suas doces agoas nas salgadas, e costa dom ar, mas por dentro vem fazendo
hum saco em que se estende a basta Província do Libolo, que antigamente chamavão Atum da,
com suas dilatadas terras e sovas mui poderozos, ficando seu território entre o rio Longa e
P rovin d a da Quisama, hindo fazer seus limites em a Provinda dos Sumbis, e porto do Sova
M ani-Quicombo, sitio em a costa do mar. onde pára com suas correntes o rio Cubo, e suas
num erozas agoas, pagando com ellas seu tributo ao mar, ficando entre elle, e o rio L onga,
^ jlP i« W. - ^ p p p M « ^ S f* - *
Apêndice 5y5
Aoica, rio também de c*ud»l, e outro* riacho*, qoe reg lo aqodla* dilatada» Prorioctea, m cttm d o
suas agoas em hum e outro, e para a pane do S en S o; cahrado sobre o río Cocm xa, e t t i •
Proviacía do A rco, outros lhe chamão o Sela, em que também h l scrtvs p o d em o a , M i a m
de grossas terras e vassallos; e passado o rio Cubo da banda deicm do S e n lo , o oosso
Reino de Benguella com sua Cidade SSo Pheüppe beira mar, sita em a Proviact* chamados doa
Químbundos, com a qual confina a dos Sumbís, e peilo S ertfo dentro com a Prt>rme;a do
Gemge, toda povoada de Quilombos de Jagas, outros lhe chtxnSo, o * Quilteogas.
Este Reino de Benguella antes desta terra ser tomada pcllo HoUandes, t ^ e sobre si G o* ^
verno separado, onde havia feiraria, e officites Rcaes, que davSo despacho is peças deste R*nw>,
e assim despachadas vínhao para esta Cidade de SSo Paulo da Assumpção, ficando oaqvelle
Reino os direitos delias, para a paga e sustento da Infantaria, c mais ordinários, tw d o »eu G o
vernador o honorifico, como os de mais Governos; o que se disiinguio por aastm dever de
comprir ao Real serviço; e só lhe ficou a potestade de Capitão mor e Governador daquella
Praça subordinado do Governador e Capitão Geral destes Reinos de Angola e suaa P ro v m d u
e Conquistas. »
Já dissemos em a nossa historia das guerras Angolanas em o prim eiro tom o e voa prim ara
parte o com o foi feita sua fundação peilo Governador, e Capitão Geral M anod de S ervem
Pereira, que foi o primeiro Conquistador que fez guerra nestas Províncias deixando feita aquelta
Cidade, dando-lhe o appelido de SSo Phelíppe, pella haver povoado, e começado sua Conquisia
era tempo do Senhor Rey Dom Phelippe Prudente, segundo de Castella ^ p R n tir o d e PortugaL
Guaraecem-na Cem homens de prezidio que servem de defeosa da Fortaleza, com Ajudante,
Alferes, e mais Officiaes, com Capitão delia, e outro de guarnição, com bastante ariethana,
Condestables e artilheiros, com Almoxarife, e seu Escrivão, a cujo cargo está a feiraria daquelie
Reino, de toda a polvora e muniçoens, e mais petrechos de guerra, e o que administra justiça
á pessoa que he nomeado por Ouvidor, dando appellação e aggravo para o Governador e Ca
pitão Geral, e Ouvidor Geral Corregedor da Commarca, e Auditor da geme de guerra destes
Reinos; havendo também Provedor da Real fazenda, e dos defuntos e auzentes com seu Tesou
reiro e Escrivão subordinados á provedoria desta Cidade de São Paulo da Assumpção, e ao
Tezoureiro geral destes Reinos, estando tudo o que lhe toca á ordem do Capitão mor daquella
Cidade e R eino; e quando há couza de importância ou occasião de guerra, he soccorrido aquelle
Reino, com Infantaria, e sempre se esta provendo de gente, em razão do mao clima, que gasta
muita; terá sua povoação até vinte moradores com suas cazas e famílias, e escr? varia, e peilo
tempo passado houve muitos, que o mesmo tempo e clima gastou, e consumio; tendo seu V i 4
gário da Matriz daquella Cidade, que administra os divinos sacramentos a soldados, e mora
dores, e gente forasteira, e a todo o gentio bautizado do grêmio da Santa Madre Igreja, tendo
sua ordinaria da fazenda Real; mandando os Officiaes Reaes desta Cidade de São Paulo da
Assumpção para a todcs os militantes; havendo naquelte Reino muito negocio de peças e
marfim, tendo também pescaria de zimbo, que há a moeda que corre no reino de Congo, com o .i
já havemos feito menção; muito pao de Quicomgo, e Quiseco, e outros paos de préstimo, e
pontas de Abadas, e dentes de eogala, e $e matão algumas 2 evras, de que vem aquellas formozas
e vistozas pelles, e chingas de Emdure, que são mui prezadas deste gemio, com o também as de
elefante, de que também há muitas; abundante de gado vacum e ovelhum, e há carneiros tão
façanhozos de grandes que lhe chamão de cinco quartos, pella grande cota que tem, vem a fazer
o quinto; abundozo de pescado, pescado em sua costa, que permittio Deos, já que o seu Paiz
hé tão calamitozo não faltasse a sua divina providencia, que sustenta o menor savandija, da
terra, tivessem os viventes e habitantes daquelie Reino o sustento necessário, para a vida hu
mana; tendo também o refresco de uvas, romaâs, meloens e melancias, figos, e outras frutas
da terra; só o de que necessita hé de farinha de guerra, a qual lhe vay desta Cidade; e quando
há agoas bastantes que ás vezes lhes faltão se remedeio com suas milharadas, de que produz
muito, chovendo; tem sovas senhores de muitas terras e vassallos, principalmente o poderozo
de Gola Amginbo, que peilo muito que possuhe, se tem por Rey, daquelie Paiz e Reino, que
■ ■ WITTTTtBí
dista da Cidade de São Phelippe seis ou sete dias de caminho, onde há a força do negocio de
peças e marfim.
Esta Provinda que havemos relatado dos Quínbundos confina com a que chamão de o
Aila, a qual querem dizer vai correndo até o Cabo da Boa Esperança; o que parece duvidozo,
lir. irr •
576 A n g ola
porque estando 0 porto do Reino de Benguella em doze gráos, e o C a b o T orm en torio em trinta
« cin co, em minutos me não m etto por não ser de minha profissão, parece ser P rovín cia dila
tad a; o certo he e a experiência o tem mostrado, o serem muitas P ro v ín cia s; e não diz o
A u tor só P ro v in d a s, se não Reinos, porque deste gentio de o HiU vem onde estão as salinas
poucas legoas de Benguela, onde está hum Sova Senhor daquella adm in istração do sal, que
cham ão a seus vassnllos os Mondombes, que bé o gentio mais fiel aos vassallos portuguezes
que há em todas aquellas P ro v in d a s Confinantes; ali vem com o dizem os resgatar o d eq u en e-
cessitão trazendo em desconto seu marfim, e outras couzas da sua terra, com o são chingas, ou
sedas de emdure, que são mui estimadas, com o atraz dissemos de toda a gente destes Reinos,
para ornato do pescoço, mãos, e pés; o bicho que tem estas sedas ou cabellos, se não tetn visto
de nós até a gora, que deve ser couza para se poder ver, porque estas sedas são de tres ou
quatro palm os de com prido, mui pretas e agibichadas, vindo entre ellas algum as brancas, que
tem préstim o para a azia, amarradas na munheca dos braços, que deve de ser algum bicho ou
anim al medonho, os que as tem deste gentio que dizemos, se entende o seu lingoagem . Succedeo
no Governo de Andre Vidal de Nigreíros hir hum homem pratico a descubrir esta co sta por
nome Joseph da Roza, por ver se achava alguma noticia de boca de rio que entrasse para os
de Cuam a, e chegando Costa a C osta, a dezaouto graos por alem de C abo Negro, não achando
noticia do que buscava, trazer gentio daquella paragem, que se não entendia nada do que
fallava; e a falia com o de estralo, gente com o selvagem, que bem o dem ostravão assim em
comerem a carn e^ i^ eixe, e milho cru, e por acenos, só se entendia delles algum a couza, os
quaes se mandarão pór outra vez em suas terras, á custa de quem os trouxe, sem os haver
comprado, nem resgatado, o que bem se demostrava em tanta distancia de Sertão haver mais
Províncias de gentios de diferentes lingoas e costumes, e não ser só a de o Hila (i).
Pello sertão desta, ou destas Províncias atravessa o rio Cuneni, que quer dizer na lingoa da
terra rio Grande; não se sabe com certeza em que paragem da C o sta se m ette em o m ar, o
que deve ser muito alem do Cabo Negro, e da Costa descuberta de dezaouto g raos, porque
desta paragem para cá hé sabida dos que navegão até á C osta da Guiné, que assim lhe ch am ão;
só o que ha noticia hé que hindo o Capitão mor L opo Soares L a ç o fazendo aquella Conquista
do Reino de Benguela, muitas jornadas pello sertão dentro chegára a este cau d alozo rio Cuneni,
e que da outra banda delie tinha suas terras e Senhorio hum Rei ou apotentado p o r nome Mu-
zumbo a Calunga que quer dizer no seu idioma a boca ou beiços do m a r ; e este appellido era
em razão de ter seu dilatado Senhorio, em aquelle tão espaçozo rio, que tem aquelle gentio
para si, e a boca do mar pela grandeza que te m ; deste Rey ou sova teve falia p or seus inviados,
o dito Capitão m or Conquistador, e eile dezejava muito de ter com m unicação com a nossa
gente Poriugueza; e mandando lá o Capitão m or a hum homem filho do B razil, para tomar
intelligencia da terra e dem ostrar áquelle Rey o queríamos por amigo, se dívertio, e esqueceo
o dito inviado daquella banda de calidade que não tornou, affeiçoado daquellas dam as negras,
ou negras damas, com quem se teve noticia se abarregou; imitando nisto ao Santiago no Reino
de Cambaya, que o despois servio de Interprete daqueile Rey Bandur, para o fam ozo G over
nador Nuno da Cunha; e nao proseguio o Capitão m or Conquistador em mandar outros in
viados, por lhe ser necessário virse recolhendo daqueile sertão, e proseguir outras emprezas,
em que teve sua perdição, com o se relatou em o primeiro tomo da nossa historia general das
guerras Angolanas em o Governo de Pedro C ezar de Menezes, quando chegou de viagem do
Reino de Benguela, que lhe foi relatado o successo desta perdição, pello G overnador que então
era Niculao de Lem os Landin, pedindo ao Governador e C apitão Geral o soccorresse de gente,
arm as, e muniçoens, pella falta que tinha aquelle Reino de tu d o; despois andando algum tempo
se soube em com o o nosso Jaga Casangi, hindo fazendo pello Sertão dentro suas conquistas
tivera batalhas e recontros com o poderozo de Muzumbo a Calunga, e na prim eira fora ven- 1
(1) Também se sabe por couza certa viera huma embarcação ligeira Flamenga descobrindo esta Costa, e ehegara
ate o nosso porto de Benguela em busca do mesmo a v e r: qne em tudo e6sa Nação nos quer ganhar por m io , como o
tem feito em todas nossas Conquistas da índia, que tanto custarão á Coroa Real de Portugal; mas esta diligencia lhe
ficou incógnita como a nós, os quaes vlerão fazer esta diligencia da Fortaleza e povoação que tem na babia das Vacas do
Cabo da Boaesperança para dentro: dos ditos disserão os que virão vinhão tarabem dispostos e corados como se vierão
do Norte, e gabarão muito o Palz,
Apêndice S '/
eido Casangl, com o medo, e pavor de hansa arma <h fogo que boiav* to » » f a n dt «1 to ■ 1
quqcb vista, que devia 0 Muxumbo a Calunga ter atcaoçado 4 c o ó s f nxquelta pequena z v r z >
nicaçao que coro nosco teve, ou a levaria coro *?.*•> c nos*- , u 4o que lá m ficou; oairc« tio
de opinião, que Casangi fora 0 que levára a arma de fogo, c a disparar« hum yorr^zcx
natural da Ilha de São Thomé, por nome Pucoal Rod ri;-. Quemb», que em noxso* temp'1«
ainda vtyia, que foi Escrivão do Quilombo da Casangi, e seu Secretario; que u n u *dmir*çl<*
faria huma arma de fogo naquelíe tempo entre aquellei gemí.-„ 0 + rJío he " i«m tgo;% q^e
são «ao bastes, por todo este Senfio.
Despois da primeira batalha em que foi roto 0 poder de Casangi, rerarr?i^-$< de ou vor **
poder, ficou vencedor de Muzumbo a Calunga ficando coroo seu mbutario, .<ix o C^oqvtíiadü
de suas armas; e já que chegamos com esta nossa historia, & «áo dímnr. : träger,'. hirem> i
delineando, e não pintando, como o fez 0 invíado do Irmão do Sercnisvmo Rcy da Gram Bre
tanha, o Senhor Duque de Jorca, corao O apontamos no fim do Governo do Governador e Ca
pitão Geral que foi destes Reioos Aires de Saldanha de Menezes e Souza, cm ' aossa batons
general das guerras Angolanas, em 0 segundo coroo, e sua quarta parte.
Sabido hé dos navegantes, e lho ensínão os seus roteiros, em como o Cabo da Boa espe
rança está era trinta e cinco graos, e sahido deüe para dentro se da em a C ifraria, onde foi «
perda do valerozo Vuo-Rey da Índia Dom Francisco de Almeida, que disse sabindo da soanao
a terra, onde vos levão sessenta annos; também hé certo está a terra chamada do Natal, onde
deo aquclla Nao da Índia á Costa, de que também fizemos menção primeiro tomo da
nossa historia general em o Governo de Pedro Cezar de Menezes, de coroo veyo a este Porto
de Angola hum dos dous barcos que se fizerão de suas madeiras, que trouxe a salvamento 1
Cabedal dei Rey que 0 avaliavão em seiscentos mil cruzados, o mais deite em diamantes, que
veyo a buscar do Reino huma caravella bem esquipada na era de itrôp, governando em Portugal
a Senhora Infanta Dona Margarida de Saboya Duqueza de Mamua; e em vinte e hum para
vinte e dous graos se sabe a desgraçada perda da Capitania, e Almirante do Governador e Ca
pitão Geral Pedro Cezar de Menezes, que vinha despachado pello Príncipe nosso Senhor para
o Governo destes Reinos de Angola, sendo sua perda na terra alagada desta Costa, como se
tem relatado no Goveroo de Francisco de Tavora Governador e Capitão Geral que foi destes
Reinos (D .
Também se tem dito atraz em como da altura de dezaouto graos se trouxera daquelle
gentio, que se lhe não entendia a lingoa, geme asaWajada; e começando em dezaseis graos em
que está o Cabo Negro vem correndo esta Costa até á Bahia Faria, que este nome lhe derão os
primeiros descubridores, por se apanhar noüa muito pescado de diversa casta, a qual dizem
está em quatorze graos pouco mats ou menos vem corrente as menzas, por a terra fazer esta
parença, vai correndo 0 rio chamado de São Francisco, por no dia do gloriozo Patriarchs ser
descuberto, corre 0 Sombreiro, por assim 0 assemelhar hum pico, que em terra se vê logo as
salinas de tão abundante e claro sal; vê-se logo hum morro que sahe hum pouco ao mar, e
por dentro em huma bahia o Porto do Reino de Benguela, com sua Fortaleza na marinha, e a
sua Cidade de São Phelippe, estando em doze graos, ou 0 que na verdade fôr, o que está si
tuado na ProvinCia dos Quimbundos e Mondombes.
3
Extracto de orna cópia do mino»crito do .* to!, d» Historia
Geral dat Guerrat Angolanas por António de Olivnro
Odoroega (1680-82}, existente na BibUcteca de Tans.
$*7
3
(D Este nanfragio foi em 19 de Novembro de i 673; este Governador é outro e uio 0 do mesmo nome de que o amor
tem faiado. (Sola do Cónego Delgado/.
73
578 Angola
t
A m argem ; «Fulano Barriga conta dei Rey dom Sebastião em África onde o pode ver o
Curioso ou Especulativo; e Jeronimo de Mendonça o tras mais espelicado».
Extraído do Mss. existente na Biblioteca da Academia das
Ciências de Lisboa.
Apêndice 5*'-
DOCUMENTO N- toa
HISTORIA GERAL DAS GUERRAS ANGOLANAS
Tomo Primeiro, Parte Terceira , Capitulo Quarto . Pdgs. s S. 3
• /
Á margem: «Dos Gabaonitos de que fala vieram com os vestidos e alparcas rotas para en
ganar como o relata o Autor do Governador Chrisüano».
(Extraído do Ms. existente oa Biblioteca da ÀcademU das
Ciências de Lisboa).
BIBLIOTECA
*
PORTO
58o A ngola
9.0159861
eu franw demar. Tirey esta cota, do ymbentairo do dou mauoel Pereira em pteseuza
do sr. gor. Bento banha cardosso Juntam*» co outras pesoas que p™ ysto nombtou \ qual cota
584 A ngola
tne f remeto em loamda 3 de ag*° t6 ia / Fran** Demar (oi uisto y conssertado por mim deuerbo
auerbo oie a de agosto de 6ia.
B ento banka C ardoso
(Arquivo Híttôrico Colonial* Angola. Documento n.° ^5^
»Snor / fem ao dematos secretr* destado de VM ag4* e do seu C° por hu / seu bilhete deoito
deste prezente mes meordenou da / parte de VMag** q apontase loguo tudo o § fose neses.rt/p*
obem efeito da conquista do Reino de bengela a que VM ag.de me manda o Va seruir /
E são as seguintes / i E porq a conuersão daquelles gentios anosa santa fee / catholica
deue ser oprim ." com o ocudado das almas / que aconquista forem serão neses.™ dous cle-
riguos ou / Relegiosos qual VMagda for mais servido.
a Ofesiaes da fazenda de VMag.do hum prouedor efeitor / E escriuao,
3 Dous mineiros q seíão pratiquos ede experiencias / pâ obeneficio das minas do cobre E
mais expedientes / deminas segundo os motivos tj mais der aconquista / asim de ouro como
outros metais.
4 Trezentos soldados os quais sedevem enbarquar no / porto delisboa Eneste numero duas
prassas debarbeiros E hua desurujam.
5 Vinte caualos loguo dos quais os des aomenos são / neses1,0' leuar loguo delisboa os
mais pode VM agd* sendo seruido mandar secomprem nobrazil Esera / com menos custo com
mais dobrazil quarenta / armaduras vde algodam p* os de caualo § são armas q Rezistem as
frechas*
6 E P orq os caualos os guasta m.10 aterra E tanto que / não sofrem andar ferados E he o
sustansial daconquista pela reputação q os negros delles thetn de que VMagdfl sendo seruido
mandar passar sua prouizão pela coroa de castela pera q doporto debuenos aires posa tirar
athe quarenta caualos são os miiho/res pa aquellas partes mandando p* setirarem Escravos.
7 quatro sentos arcabuzes Esem mosquetes tudo deboa mo/nição E de bisquajatodos
porq não sendo estes a experiencia them mostrado os outros nao seruem por aRebentarem
/ mt0 E ser amonisão depequena bala,
8 O chumbo neses® p* os pilouros muran se escuza porq la o / ha sem custar afazenda de
VM ag.de E sefas decasqua de / huas aruores m!o bom.
9 sem lansas p* agente decaualo Ede Respeito Epera o corpo / de guarda*
10 sento Evinte quintaes depoluora com Rezerua deser / prouido porq apoluora, e so he
que ade abrir E fasiiitar/ aconquista ofendendo E espantando com o ordin." tirar / indo mar-
chando Eentrando aterra.
11 Despesas de artelharia Edestad pelo menos quatro debronze E / ordem p* algua q esta
en angola sem uzo Esem Repairos por / não auer no porto de angola fortaleza nem aonde aja
de / seruir p* q esta Repairendose com amais se fortificar afortaleza que no porto de bengela
se adefazer Emais fortes que / nesses/0* forem dentro naterra Esobre asminas do cobre.
12 sem aluioims-sem machados-sem enxadas des seras-sem / pas-sem selhas E baldes depau
ferados-doze quintaes de pregos de toda sorte*
13 A Pagua dos soldados em lisboa acostumada q sepaga pelos / almazens de VMag.deaos
q uão aquellas partes Easin aos / capitaens alferes sargentos cabos Etanbores barbeiros Esuru
/ jam Echeguados aconquista sepagarão la Eos soldados de /caualo conforme VM ag.de manda
la pagar agente de guerra / Ediferense deprassas dela-Esendo VMag da seruido man / dar se
diga aos capitaens alferes Esargentos q delisboa / partirem VMag.da tera Resp.*° alhes fazer m
conforme ho / seruirem pera os animar mais.
< 14 A s couzas neses.ra* pera botiqua Ecura dos enfermos pera a j. / nada demar.
i 5 E P orq VMag.do no bilhete defernio dematos memanda d ig u (.. .)/ p * o bem efeito desta
conquista tudo deuo partir doporto de / lisboa dir/° ao de angola em oqual aomais me poderey
deter / Eser neses." de quatro osinco mezes segundo amonsam / emq chegar Eesperar a q mé
Apêndice 585
he ceies." p* ir abengela Een/trar aterra-logoo Een angola Reftxendoise da* cocuou / ame«-1**
q jerSo mantím-*** Eiroquar dos trezentos soldados / $ lettar durenfo« por otifflrm lacrot
dageate deangoU / E conguo porquanto he ioíaliue) Eaexpcríancí* otbcm / mosvodo adoeser
a gcote q uaj do Reino aquelUs partes / da doença dtterra q os que Escapam them bwgoa
conualcsencia Eos soldados $ leuar do Reino adoesemlo Enan/goU podem ser curados t>q nio
poderá ser naconquista / Eemrando aterra alojando ao descuberio E nta truqua i com «germe
de angola Econguo não fas falia pois selhe / da oatra tanta nem afizera por ía utt ca** Emais,
não / auendo em angola conquista. ^
16 Eos negros frecheiros $ líure m.u quizerem seguir aconquisu dos quais ba infinitos Ea
estes VMag> não pagua / couza algua.
17 E P * q VMag.* E seus ministros com roayor clareza uejSo / 6 pouqoo q todo isto uzrm
acusiar athe sair doporto de / lisboa cm consideração do m.M q se uay «ganhar me pareseo
conuinha dizer E a seu Real scruiso q tudo não / pasara devinte mil cruzados E me obrigoo
asair do / porto delisboa com todas as couzas apontadas exseto / «rtelharia £q estes umte mil
cruzados q se ande / despender nas compras destas couzas Epagas dos sof/dados Eroata ofenaes
E fretes dos nauios pelos ofesiaes / Dafazenda de VMag.* será VMag,* seruido mandar Eu
asisia / as pagas Ecompras delias.
ï 8 Demy Edeminha molher efilho não trato deixando tudo / nagrondeza de VMag.* Estia
cristandade q mandara con/siderar o e m q o uou asemr o Risquo de mmha vida E / opouco
Remedio q minha molher Efg terão faltandolhe / Eu p* asms. <j for seruído fozerme
p“ ella Eelle Ea / my como desua Real grandeza espero En madrid a 11 de / março de 611. /
Manoel Cerur1 prf.
19 E Porq acabada esta conquista do Reino de bengela Efeita / a fortaleza noporto E os
mats fortes q oprogreso delia pe/dtr espero em Ds. se consigna aconquista Eg&aharense / as
Requisimas minas de ouro de monomotapa Een Rezio / do seruiço de VMag.* mepareseo
lenbrar q p» seganharem / com m.10 menos custa de sua Real fazeada Eos homens de / consi
deração Enobrcs se desporem atao inportante couza / com prontisimo animo inporiara p* se
conseguir leuar doze abitos das ordens melitares-quatro foros defidalgos / Evinte decaualeiros
fidalguos E quarenta demosos du Camr* / as quais ms. de abitos Eforos nio auerão efeito as
pesoas / a q se ouuerem de dar senão despois q VMag> fors.0' das mi/nas de monomotapa
Epeltos seru •” q En as ganhar a VMag.d#/ fizerem.
(Arquivo Histórico Colooiil. Angola. Documento n.* 40).
S
1
I
;+t
*
:y
'■ f
74
r
*,****H ' .1 Ififlytffo' •« « m m * *
ÍNDICE
PARTE I
Zaire e Congo
P A R T E 11
Angola
RcírMtA TS*
alAn dc^LnrT^ * Cnmbumlv, • nurtà* L» mrrap-. p*ra
* 7 1 * ^ ° p0r &*010 DânKs^<*** ^(«ÍOIS a / oru í«*
conmiUr«^ C .â°I!C ^Cn,cifa ^ereir*, governador interiao d? AogóU r *^«ínodor e
A stJm ^ . -
IV
A ctividade económica e situação fwanceira. — O resgate de esflWjS. Colombo e *■ *
índias de Castela. Falta de mão de obra. 0
rei de Castela manda comprar negros
que envia, para experiência, nas suas colónias. Regularização do negocio de ex
portação de escravos. — A política colonial espanhola. — Os negócios de Sevílha. A
casa da contratacioa,— As licenças para navegar escravos. — Carlos V e o desenvol
vimento deste negócio. — As condições impostas pelo governo de Castela. Má vontade
do governo para com os portugueses de quem Castela dependia para o fornecimento
de mão de obra. Nas colónias espanholas os serviços dos agentes dos ízsienris/as por
tugueses são considerados úteis e relevantes. A situação modtfica-se um pouco a favor
dos portugueses por parte das autoridades. A Espanha não consegue manter o ex
clusivo do comércio e navegação para as suas colónias. — Considerações sõbre os
contratos de cobrança de impostos e de fornecimento de escravos feitos na época da
Usurpação, para as colónias espanholas e para o Brasil. A mão de obra no BrasiL
Jesuítas e colonos. — Os contratos e o contrabando. Castela alarmada com o con
trabando do Rio da Prata, toma medidas rigorosas para o evitar. Recorrendo a vio
lências causam graves transtornos ao comércio português. — O que aconselhavam os
governadores de Portugal. — A Espanha cede em grande parte e cria as licenças de ín-
ternaciônj que vieram abrir as suas colónias aos estrangeiros. — O negócio em Angola.
Sua regularização. As feiras. — A moeda. As transferências. A riqueía particular em
Angola. As festas da comemoração da beatificação de S, Francisco Xavier. Pág. i 55
P A R T E III
Benguela
parte do pessoal que trouxe. Partida para Benguela. ~ Percurso da costa até ao C abo
Negro c regresso vindo fundear na baía da T ôrrc. Relações com o soba. Castigo
rigoroso das primeiras represálias de parte dos indígenas. Revolta dos portugueses e
seu castigo. Necessidade dos prom etidos esforços para se fazer a ocupação das minas,
Luís Mendes de Vasconcelos passa á vista de Benguela, não fundeando para não en
tregar o refõrço que trazia. Manuel Cerveira protesta e manda a Luanda arranjar
recursos. Entretanto castiga o j a g a que fizera seu tandala. A população portu
guesa jfc novo se revolta e amarrando Manuel C erveira, mete-o em urna embarcação,
que a corrente trouxe a Luanda. Os jesuítas recebem-no e tratam-no. Cerveira
queixa-se a Filipe UI da falta de cumprimento das promessas, que lhe manda satisfazer
o pedido de gente. Cerveira parte de novo para Benguela acom panhado pelos jesuítas
e dtrige-se logo ás minas de Sumbe Am bala, trazendo uma porção de pedras. Re
colhe a Luanda ao Colégio dos Jesuítas e manda as amostras das pedras para o reino.
— Demora nas resoluções da côrte que termina por determinar se mande novo auxílio
de gente. João Correia de Sousa desculpa-se com a situação em Luanda e não deixa
era Benguela soldados nem armamento, e antes procura induzir os que auxiliavam
Manuel Cerveira a abandoná-lo, prometendo-lhes iguais lugares em Luanda. Na côrte
analisam as amostras de cobre, que nao satisfazem e mandam suspender a conquista*
— Perdidasas esperanças do cobre de Benguela que fazer ao novo governo? Fernão
de Sousa íCüífeado governador geral de Angola recebe ordem para fazer a viagem por
Benguela e sabe que os holandeses iam ali abastecer-se de frescos. Sua acção no
sentido de uma orientação clara sôbre a continuação ou abandono da conquista*
Manuel Cerveira que estava em Luanda vai ainda a Benguela, mas volta desiludido,
falecendo pouco depois, antes de receber a ordem de regresso ao Reino. — Aflitiva
situação em Benguela. A côrte manda a Fernão de Sousa que nomeie um gover
nador. Vai Lopo Soares Lasso, que depois de alguns anos de campanhas, sempre
vitoriosas, viu destruído o seu exército e teve ele próprio a morte, nas proximidades
de Caconda, pelo soba Ngola Njumbe. — A opinião de Fernão de Sousa sôbre Ben
guela. — Os holandeses tomam Benguela. Defesa heróica da população. — Benguela
na reconquista de Angola. O governador Souto Maior. Os portugueses abandonam
Benguela na intenção de se reünirem às forças do governador Souto Maior em Qui-
combo, mas este por indicação dos portugueses de Massangano resolve abandonar o
acampamento sem esperar pela gente de Benguela. A desolação no meio do mato e
marcha para Caconda. — A nossa acção no sul de Angola e causas que a determi
naram ........................... - ....................................................................* . . . . . Pág. 3 3 1
APÊNDICE
D ocumento n.° i — História do Reino do Congo (Mss. incompleto do autor anónimo) Cap. i,
2, 3 , 4, 13, 14, 15 , ............................................................................................................. Pág. 375
Doc. n.08 2-3 — Autos da arrematação dos quartos da ilha S. Tomé e do Príncipe a João da
Fonseca e a António Carneiro............................................................................. ... Pág. 379
Doc. n.° 4 — Traslado do auto e inquirição sôbre as coisas que Gonçalo Roiz fêz nas partes
da Guiné. . .......................................................................................................................... Pág. 38 o
Doc. n.° 5 — Regimento que El-Rei D. Manuel deu a Simão da Silveira quando o mandou a
M anicongo.............................................................................................................. Pág. 383
Doc. n.° 6 — Alvará de D. Manuel I para se entregar a Manuel Vaz que ia a Manicongo deter
minados a r tig o s ............................................. pág. 3^0
Doc. n.° 7 — Alvará de defesa que El-Rei passou para não poderem carregar nem trazer do
Congo coisa alguma senão nos navios de El-Rei .......................................................pág. 391
Doc. n ° 8 Carta do Rei do Congo D. Afonso para D. Manuel I sôbre o aprisionamento de
um barco francês (?) que arribara ao Sonho............................................................. Pág. 3^
D oc. n . ° 9 — Idem sôbre o filho D. Henrique, bispo..........................................................pág. 3^4
• £ h * J w ;. ..
Índice 5çi
Doc. ».• io — L b u do* Rei* do Congo d# E. G. R m » * « « ......................... . . . . . P**-
D oc #.• ii — Caru do p*dre Jorge V « para o capitlo <U ift» d t S T o « * em vp» íM oftoc***
do que se pmara ao Congo depois da reorad* do padre Diogo Gon>e#.............
D oc »• ia — Cana do padre Diogo Rodrigue i para a Rainha D. Leoaor com quota** *******
procedimento do rei do Congo « de ciguos poffugoese».................................. * ***£ -
3
Doc- a* i - Regimento dado por El-Rei D. Manuel a Manuel Pacheco e a B aitm r de Castra
que foram descobrir o reino de Angola. ...........................................................* ^ - 5
Doc. M,• 14 — Regimento com que Diogo do SoveraJ partiu para o rio da Lor^a cm Renaseí«*
a fazer uma armaçfio............... * * ......................................................................d***
5
Doc. ns i — Curta de Diogo Roiz a D. J0S0 IIJ dando noticia do faiecimeoto de AUnue! Pa
checo e sôbre a sua mi conduta , . „ , ............... ...............................................* * *
Doc, N* i6 — Apontamento de noticias sòbre a ida de Paulo Dias deNoteis a Angola « *
56
i i .................................................. Pág* o45
Doc. n,®17 — Carta da doação de Angola a Paido Dias de Notais...................................... ?*&* 4*7
Doc. N« 18-20 — Regimento de João Morgado................................... P*& 4 11
Doc. te®at Traslado da provisão que nomeou Lopo Delgado escrivão da fazenda em Au-
3
°la ......................................................................................... „ .................. Pâg. 4*7
Doc. n.° 22 * Processo de habilitação de um sucessor de Paulo Dias de Novais i Capiunia át
4*3
Angola............................................................................................................................. Pág.
23
Doc. n,® — Traslado de um Alvará estabelecendo aos padres da CofÇíahia de Jesus o or-
denado para seu mantimento em Angola............................. Pág. 4*9
Doc. N.®24 — Cópia das referências de E. G, Ravenstein à viagem a Benguela do Governador
['urtado de Mendonça.................................................. Pig. 430
25
Doc. N.° — Traslado da sentença que absolveu Manuel Cerveira Pereira das acusações que
lhe fizeram como Governador interino de Angola. . . . . . . . . . . . . . . . . Pág, 42*
Doc. N.®26 — Traslado da patente de nomeação de D. Manuel Pereira para Governador Gera!
de Angola..........................................................................., .............. ... Pág. 426
Doc. n.° 27 — Contrato do Governador D. Manuel Pereira com Jofio de Argomedo . Pág. 427
Doc. N.° 28 — Cana do Governador D. Manuel Pereira a João de Argomedo............ Pág* 428
Doc. n.°* 2c)-3o — Cartas do sindicante André Velho da Fonseca sôbre diversas irregularidades
cometidas pelas autoridades em Angola..................................................................... Pág.429
3
Doc. n.° i — Auto de perguntas a João de Argomedo feito pelo juiz da índia e Minas. Pág. 43a
32
Doc. n.° — Traslado dos autos que se processaram por morte do Governador D. Manuel Pe
reira e do Gapttão-mór que lhe sucedeu.................... . Pig. 433
33
Doc. n.° — Processo de justificação dos actos de Bento Banha Cardoso............... Pág. ? 43
Doc. k,° 34 — Provisão de Filipe III, mandando separar o reino de Benguela do Governo de
Angola, e formar um novo Governo. . ............................................................ , Pág. 440
35
Doc. n.° — Traslado de assentos do Registo das mercês que dizem respeito a D. Gonçalo
Cominho.............................. ... . . . .................................................................. Pág* * 44
36
Doc. n.° — Regimento do Governador de Angola. ................................................ Pág. 442
Dog. n.° 37 — Carta de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre as necessidades de geme, armas e
munições para Angola. ......................................................... ............................. Pág. 45o
3
Doc. n.° b — Relatório do Bispo de Angola sôbre alguns actos dos Governadores. . Pág. 452
Doc. N.° 39— Carta de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre vários factos ocorridos com os seus
antecessores.................................... .................................................................. Pág- 4 #
Doc. n.° 40 — Carta do GovernadoT João Correia de Sousa . ................................ Pág. 457
Doc. N041 — Extrato do Cap. x da 1.* parte do 1 * tomo da História Geral das Guerras An
golanas de Oliveira Cardonega................................... ......................................... Pág* 458
Doc N9 42 — Relação dos rendimentos certos e incertos que no Colégio de Luanda tinham os
padres da Companhia de Jesus....................... ... ................................. Pág. 462
Doc. n.° 43 — Reprodução de um documento em pergaminho, sôbre os reis de Angola. Pág. 469
Doc. n.° 44 — Informação avulsa prestada sôbre os reis de Angola. . ......................... Pág. 469
Doc. h.° 45 — Relação dos tributos que pagavam os sobas ........................ Pág. 471
Doc. N.®46 — Relação dos usos e costumes da gente do Congo pelo Bispo de Angola. Pág. 473
5ç2 Angola
Doe- n." 47 — Reprodução da gravura da medalha mandada cunhar pelo Papa Paulo V a pro»
posiio da visita de um embaixador do Rei do Congo. ........................................... Pág, ^ 5
Doc. N.° 48 — Informação do Bispo de Angola sôbre a conquista do Congo e construção de uma
fortaleza no Pinda................................................................. " ................................... Pág. 476
Doc. N* 49— Cópia de uma carta do capitão de Cambambe Constamino de Cadena sobre as
minas....................................................................... ....................................................... Pág. 479
DoC. n * 5o — Certidão de Afonso Dias Jácome escrivão da fortaleza de Cambambe sôbre 0
sítio das Minas.......................................... ^ ....................................... ......................... Pág. 480
Doc. n.° 5 t — A ito do contrato do assiento feito com Pedro de Sevilha e António Mendes de
Lamego . . ................................................................................... ...............................Pág. 481
Doc. n.° 52 — Lei de ii de Novembro de 1595 sôbre a Uberdade dos índios do Brasil. Pág. 484
Doc. n . ° 53 — Alvará e Regimento de 26 de Julho de 1596 sôbre a ordem que os padres da Com
panhia de Jesus hio-de ter com o gentio do Brasil. * ....................................... Pág. 485
Doc. n.®54 — Auto do contrato de João Rodrigues Coutinhosôbre avenda de negros para as
Índias de Castela........................................................................................................... Pág- 486
Doc. H.®55 — Notícias sôbre o arrendamento dos contratosde A n g o la ......................Pág. 487
Doc. r*.° 5 6 _Exposição dos agricultores de Portugal sôbre o contrabando de vinhos para An
gola ______________________________________________ ... Pág. 488
Doc. n.° 57 — Cédula que se passou em Setembro de i 6 i 3 paraas províncias do Rio da Prata
sôbre o exercí^TBIo comércio pelos portugueses..................................................... Pág. 489
Doc. n .® 58 — Notícia sôbre a forma como se fazia o contrabando de escravos de Angola para
as Colónias da América Espanhola .................................................. ......................... Pág. 491
Doc. h.° 59 — Protesto dos homens de negócio portugueses contra a cédula de 2 de Outubro
de 1608 do rei de C a s te la ........................................................................ ................... Pág. 4 9 *
Doc. n.° 60 — Cédula de 1610 para que não ficasse nenhum português nas índias de Castela sem
licença esp ecial.............................................................................................................Pág. 493
Doc. n.° 61 — Cédula de 20 de Abril de i 6 i 3 mandando vir a Sevilha todos os negros embar
cados nas colónias portuguesas para as índias de C a stela ................................. - Pág. 494
Doc. n . ° 62 — Contestação a várias considerações contra o negócio exercido por portu
gueses .................................................... ................................. .................................... Pág- 494
Doc. n.° 0 3 — Nota do rendimento das licenças de exportação dos negros das diversas co
lónias ...................... .............................................................. Ptg. 497
Doc. n-° 64 — Informação de Mendo da Mota e do Conde de Vila Nova sôbre os inconvenientes
das medidas tomadas contra o negócio exercido pelos portugueses.....................Pág. 497
D gc. n.° 65 — Apreciação da Junta sôbre as medidas tom adas.....................................Pág. 5o3
Doc. n.° 66 — Carta de Francisco Demax sôbre os negócios em A n g o la ................. * Pág. 504
Doc. n.° 67 — Alvará de 3 de Outubro de 1624 do Governador Geral de Angola Fernão de
Sousa creando 0 lugar de Maniquitanda da feira de Ambaca..................................Pág. 5 19
Doc. n.®68— Alvará regulando o serviço das feiras. .................................................. ... Pág. 5i9
Doc. n.®69'— Preços para a feira de Ambuila.................................................................. Pág. 519
Doc. N.®70 — Bando do Governador Fernão de Sousa mandando sair da liamba todos que ali
residam e determinando se recolhessem a Luanda ou aos presídios.....................Pág. 5ao
Doc. N.®71 — Carta do Governador Fernão de Sousa repreendendo o capitão mór de Ambaca
e recomendando-lhe a proibição de se intrometer na vida dos s o b a s -.................Pág. 520
D oc . n.0,72-73 — Repetição dos bandos com prorogação dos prasos para apresentação. Pág. 521
Doc, n.° 74 — Regimento que Fernão de Sousa deu ao Capitão Manuel Dias quando o mandou
verificar a execução dos bandos acima e estabelecer relações com os sobas. . . Pág, 522
Doc. N.° 75 — Registo de concessões de terrenos ao tempo e no Governo de Fernão de
^Scusa............................................................................................................................... Pág. 524
Doc. n.° 76 — Memória dos cargos públicos que havia em Angola ao tempo que era Governa
dor Fernão de Sousa..................................................................................................... Pág. 529
Doc. n ° 77 — Relação das festas que se realizaram em Luanda para comemorar a beatificação
de S Francisco Xavier................................................... .............................................. Pag, 53t
Doc. n.®78 — Provisão de 14 de Fevereiro de iô i 5 separando o reino de Benguela do Governo
Geral de Angola (repetido)......................................................................................... Pág. 544
Indice 5ç3
Doc w.a 79 — Pro»isSo de 14 de Fevereiro de 161S autorizando Manuel Cerrem Pereira. sr-
quanto fôr precito, a acumular 0 Governo Geral de Angola c m / de frrogutl*1 p m '
$e poder preparar para a cônquim dãste...................................... - P ^ t1
D o c N* 8 0 — Despacho deFilípe li! »òbre uma carta de Miftue) Ccrvtnra Piteira, Y$t : :
poc. N.* 81 — Carta de a de Junho de i6j8 de Manuel Certeira Pereça* . , , . . f\v r
Doc. n.9 8a — Roteiro da Costa de Angola«................................... .................. pí<;
83
Doc. K.* — Declarações do Capitão Lourenço Dias Ferreira i6bre a ml conduta -h, *
dades de Luanda para com Manuel Cernira Pereira............... ÍJ$ é '*
Doc« n .# 84 — Auto sôbre 0 mesmo assunto.............................................................................................. s ^
85
Doc. n.° — Cana de 24 de Janeiro de 1619 de Manuel Certeira Pereira.......................... 357
Doc. H.™86-87 — Despacho sôbre uma carta de Manuel Cerveira Pereira.............. p4£
Doc. N.* 88 — Carta de 16 de Março dc iôat do Padre Jesuita Mateus Cardoso sôbre as
de cobre de Benguela.................. .......................................... • .............. P4g.
Doc. n«#i 89-90 — Correspondência trocada entre Manuel Cerveira Pereira e 0 Co*err.*iof
Geral J0S0 Correia de Sousa................................................................ .. - Pa^.
Doc. N.®91 — Declaração de Bartolomeu Dias ajudante de Benguela e Gaspar Ferrem, soldado,
sôbre os convites que a bordo lhes fizera 0 Governador João Correia de Sousa para aban
donarem Benguela....................................................................................... .. - Pig >ó»
Doc. 92 — Precatório de Manuel Cerveira Pereira ao Governador G e r^ r Angola. Pág, 563
Doc. N093 — Carta de 7 de Novembro de 1621 de Manuel Cerveira Pereira............ Pág.
Doc. n .° 94 — Despacho sôbre uma carta de Manuel Cerveira Pereira ............................ Pág. 565
5
Doc. n.° g — Cópia de uma carta de António Pinto que ficara em Benguela substituindo Ma
nuel Cerveira Pereira...................................... .. .......................................... ... Pig. 565
Doc. N.8 96 — Relação do presídio de Benguela.................................................... 566
Pia.
Doc. n .° 97 — Instruções dadas a Lopo Soares Lasso quando foi para Benguela. - . Pág. 567
Doc. N.9 98 — Auto a que mandou proceder Lopo Soares Lasso sôbre o estado em que encon
trou os serviços em Benguela e o que fez.................................................... ... . Pág. ; 56
Doc. n .m 99-100— Relatório e informação de Fernao de Sousa sôbre Benguela . - . Pág. 570
Doc. N.0* lot-102 — Transcrição da História Geral das Guerras Angolanas de Oliveira Cador-
nega, da parte referente a Benguela na época dos Holandeses...........................Pág. $78
3
Doc. n.° io — Inventário dos bens e valores arrolados em Luanda após 0 falecimento de D. Ma
nuel Pereira....................... ............................................................................. Pág. o 58
Doc. N«fl 104 — Gana de Manuel Cerveira Pereira indicando 0 pessoaJ e material que precisava
para a conquista de Benguela.............. ............................................................ Pág. 584
Por lapso foi repetido a pág. 544 e com o n * 78, o documento já publicado a pág. 440 com
o número 34.
r ff
C
E R R A T A * m *
9»
Pàg-
4 erem terem
io G o n ça lve s G o n ç a lo
37 8 punhada punhado
18
5
39 detilhâdas detalh adas
i n o ta ( ) 3 Cahnn Cahun
59
62
27
24
residia
o s n ossos, p ed iam
residiu ***"
o s nossos lh e p ediam
u 25 fa zia m fa zía m o s
63 27 ap resen tá va m as ap resen tá va m os
» 3i tinh a tinham
70 » C a m p a n h ia C o m p a n h ia
76 5 to q u a v a e to q u a v a a
82 8 p reste P r e s te
» IO a n d a va m an d a ra m
92
110
i
12
3 v is ita d a s
d ig n a tá r io s
v is ita d a s
d ig n itá r io s
123 16 0 as
13 1 95
37
d e ix a n d o d e ix a
ï a lte r a v a m -s e a lte r a r a m -s e
156 20 ord em O rd em
i 58 3i c o n d u z id o c o n d u z in d o
193 IO Cam bane C am bam be
208 29 N g o la N d a m b i N g o la M b an d i
209 16 » V» » »
» 20 N dam bi M bandi
1» 27 d o rio a o r io
23 I 20 r e fe r ir a m r e fe r ia m
233 9 Q u in a g r a n d e Q u in a G r a n d e
3 11 33 n o s ig u a la v o s ig u a la
358 1 4
a p r e s e n te a p r e s e n ta
3 yo 35 0 que Que
487 37 Documento 54. Documento 55
.
Sjfe.
EDIÇÕES
I>A 4
IM PRENSA DA U N IV E R SID AD E
».•©is V * ( e x T ttA C T O DO C.ATA1.OCO) •
S C R IP T O R E S HERVM L V S IT A N A R V M
- *
* ' - SÊ H IE A ) *.
Pqbllc^ o :
F E R N À O L O P E S D E C A S T A N H E D A . — H istória do descobrim ento, c conquista da
. índia. E d. revista pelos snrs. Pedro de A zevedo e P . M. L a ra n jo Coelho, v o í.», u e m,
Em algodão, cada vol. . * ............... 40300
Em linho, cada v o l............................. 100300
DAMIAM DE G O E S . — Chronica do Felicíssim o Rei Dom Em anvel. Conform e a ed.
• pnpceps. Rev. pelo Dr. David Lopes, 4 volu m es...............................................8o$oo
F E R N A O G U E R R E IR O . — R ela ção anual das coisas que fizeram os padres da Com -
* paohia de Jesus nas suas Missões do O riente, da Á frica e B rasil nos anos de 1600
a 16Ó9. E d . com pleta das 5
R elações, dirigida e pref. por A rtu r V ie g a s, vol. 1 e n.
E m algodão, cada vol......................... 6o$oo
Em lítm o, cada v o l .................. . . . i20$oo
JOÃO DE BARROS.— Décadas— vol. t, Em algodão.............................. 6o$>oo
^ . Em linho.................................... 120&00
P.e JOAO RODRfcUES GIRAM. — Carta Apua da Vice-Provlncia do Japão, integra
inédita agora prefaciada por António Baião.
E m a lg o d ã o , ca d a v o l ......................... 20$oo
E m Unho, c a d a v o l............... ... 40&00
No prélo i
DAMIAO DE GOÇS — Chronica do Príncipe Domloam. Conforme a ed. princeps.
DUARTE GALVÃO. — Crónica de D. Afonso Henriques. Revista e prefaciada por
Tomás da Fonseca. j
JOAO DE BARROS e DIOGO DO COUTO.— Décadas. Ed. conforme a ed. princeps.
revista e prefaciada pelo Dr. António Baião.
Em preparação;
Papéis relativos á guerra da restauração b independência de P ortugal.
S É R IE B )
Publicados t
I. — HIERONYMO OSÓRIO. — De rebus EmmanveUs gestis. vols . . . . 3 605^00
II. — Itinerários Q uinhentistas da jwdia a Portugal. — Rev. e prefaciados pelo
Dr. António Baião, vol. 1..................................................................................... io?poo
III. — C omentários do grande A fonso d’A lbuquerque — Conforme a 2.* ed. Rev. e
prefaciada pelo Dr. António Baião, vol. 1 (Partes t e ti) e n (Partes m e iv). $oo 35
Em preparação:
Em preparação:
H is tó r ia T r á g ic o -m a r ít im a