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Matemática Discreta
Tópicos da Linguagem e da Lógica Matemáticas
Texto da Semana 4, Parte 1
Enunciados Quantificados
Sumário
1 Introdução 1
2 Constantes e variáveis 3
2.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3 Propriedades 6
3.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1 Introdução
Em Matemática, é comum nos deparamos com enunciados do tipo:
que se referem a uma totalidade de objetos fixada de antemão, nesse caso os números
naturais positivos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, . . .
Observe que o enunciado (1) afirma que cada um dos números 1, 2, 3 e 4 é
positivo, sem exceção. Assim, ele pode ser reescrito de maneira direta como uma
conjunção:
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que, embora não mencionem uma quantidade infinita de objetos (pessoas, no caso),
mencionam objetos cuja quantidade exata, a princı́pio, não pode ser determinada.
Em muitas situações, na Matemática ou no dia a dia, nos referimos a objetos
dados em quantidade infinita ou não especificada e necessitarmos afirmar que todos
eles ou algum deles possui uma certa caracterı́stica. Ou seja, em muitas situações,
necessitamos escrever enunciados — como (2), (4), (5) e (6) — que se fossem re-
escritos como conjunções ou disjunções teriam que possuir uma quantidade infinita
de componentes ou não possuiriam um número finito e bem determinado de com-
ponentes (o que nos impediria de re-escrever estes enunciados).
Para contornar esta situação, a Lógica e a Linguagem Matemáticas fazem uso
das noções de domı́nio, variável e quantificador lógico. Como veremos:
(2) uma variável é usada para fazermos referência indireta a cada objeto deste
domı́nio;
(3) e um quantificador lógico é usado para afirmarmos que uma certa propriedade
vale para todos ou para ao menos um dos objetos do domı́nio.
É sempre bom ter em mente que a Lógica e a Linguagem Matemáticas não são
idênticas à lógica e a linguagem do dia a dia. Esta diferença se manifesta em al-
guns usos dos conectivos lógicos, que são empregados na Lógica e na Linguagem
Matemáticas de maneira bem diferente da maneira que partı́culas análogas são em-
pregadas no dia a dia. E é no uso de variáveis e quantificadores que as diferenças
entre a Lógica e a Linguagem matemáticas e a lógica e a linguagem do dia a dia se
fazem mais pronunciadas.
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2 Constantes e variáveis
Na linguagem do dia a dia, usualmente, empregamos os nomes para nos referir-
mos a objetos determinados (concretos ou abstratos), em um dado contexto.
Por outro lado, para nos referirmos a objetos indeterminados (também concretos
ou abstratos) em um dado contexto, usualmente, empregamos os pronomes pessoais.
Em Lógica e em Matemática, os termos que são usados como nomes são chamadas
de constantes.
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1 é um número natural
é uma constante.
(b) O enunciado
o eixo 0x é perpendicular ao eixo 0y
possui ocorrência dos termos
o eixo 0x
e
o eixo 0y
que denotam retas orientadas especı́ficas e bem determinadas. Portanto, nesse con-
texto,
o eixo 0x
e
o eixo 0y
são constantes.
Já os termos que são usados como pronomes pessoais são chamados de variáveis.
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e
x2
que denotam números.
Como o valor de x — e, consequentemente, o de x2 — não está determinado,
nesse contexto, os termos
x
e
x2
são variáveis.
(b) O enunciado
o triângulo ABC
2.1 Observação
Observação 1 Em geral, nos estudos das disciplinas Matemáticas, devemos estar
sempre atentos às convenções adotadas, pois elas podem variar de texto para texto.
Em particular, não existe um consenso universal sobre quais termos da Linguagem
Matemática devem ser adotados como constantes ou variáveis.
De fato, alguns termos, como
e √
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são universalmente empregadas como constantes; enquanto que outros, como
e
a função f (x)
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2.2 Exercı́cios
Exercı́cio 1 Classifique cada termo abaixo como constante ou variável.
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(i) 22 (ii) x+1
(iii) Pelé (iv) um amigo de Pelé
(v) (x, y) (vi) o quadrado de vértices (0, 0),
(1, 0), (1, 1) e (0, 1)
x
(vii) 2× (viii) (1 + 2)3
2
(ix) algum aluno de MD (x) ela e ele
Resolução do Exercı́cio 1: (i) Constante. Denota um número determinado. (ii) Variável. De-
nota um número indeterminado. (iii) Constante. Denota uma pessoa determinada. (iv) Variável.
Denota uma pessoa indeterminada. (v) Variável. Denota um par ordenado de objetos indeter-
minados. (vi) Constante. Denota uma figura determinada. (vii) Variável. Denota um número
indeterminado. (viii) Constante. Denota um número determinado. (ix) Variável. Denota uma
pessoa indeterminada. (x) Variável. Denota um par de pessoas indeterminadas. Resolução do
Exercı́cio 2: (i) Variável. Denota um número não especı́fico. (ii) Constante. Denota uma figura
especı́fica.
3 Propriedades
O uso de variáveis fornece uma grande flexibilidade à Linguagem Matemática.
Por exemplo, por seu intermérdio, podemos re-escrever as propriedades como enun-
ciados.
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Uma propriedade é uma caracterı́stica que pode ser atribuı́da aos objetos de
um determinado tipo, sendo atribuı́da a um objeto de cada vez.
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3.1 Observação
Observação 2 Na re-escrita de propriedades como enunciados, qualquer letra pre-
viamente especificada para este fim pode ser usada como uma variável.
Assim, por exemplo, para a propriedade
ser batráquio
x é batráquio
quanto
b é batráquio
(e outras) desde que esteja claro que as letras x e b (e as outras) estão sendo usadas
como variáveis.
Por outro lado, em Matemática, em cada disciplina especı́fica, certas letras são
quase que universalmente adotadas como variáveis para objetos de certos tipos es-
pecı́ficos.
Por exemplo:
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3.2 Exercı́cios
Exercı́cio 3 re-escrever as seguintes propriedades como enunciados, com o auxı́lio
de variáveis:
(i) ser aluno (ii) estudar muito
(iii) tirar boas notas (iv) ser função
(v) ser contı́nua (vi) ser derivável
(vii) ser cı́rculo (viii) ter centro
(ix) ter diâmetro (x) ser figura
Exercı́cio 4 re-escrever as seguintes frases como enunciados, com o auxı́lio de
variáveis:
(i) estar insatisfeito (ii) ser aluno matriculado
(iii) gostar de bolo ou de sorvete (iv) ficar feliz quando está estudando
(v) estar alerta quando, e somente
quando, acordado
Resolução do Exercı́cio 3: (i) x é aluno. (ii) y estuda muito. (iii) z tira boas notas. (iv) u
é função. (v) v é contı́nua. (vi) w é derivável. (vii) x é cı́rculo. (viii) y tem centro. (ix) z tem
diâmetro. (x) u é figura. Resolução do Exercı́cio 4: (i) não (x está satisfeito). (ii) (y é aluno) e
(y está mariculado). (iii) (z gosta de bolo) ou (z gosta de sorvete). (iv) se (u estuda), então (u fica
feliz). (v) (v está alerta) se, e somente se, (v está acordado).
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f é função e f é invertı́vel
por nomes de funções (e.g. g(x) = x + 3), constantes que denominam funções (e.g.
ζ(s)), ou variáveis que tomam funções como valores (e.g. f ).
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As partı́culas
Generalizações
para todos
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Existencializações
existe ao menos um
ele é um prı́ncipe
é o enunciado
existem prı́ncipes.
x é prı́ncipe
existe x (x é prı́ncipe).
T é transformação injetiva
é o enunciado
(y é transformação) e (y é injetiva)
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ou seja,
é o enunciado
ou seja,
4.1 Observação
Observação 3 Dada uma generalização
é a “conjunção”
(Tales é inteligente) e (Pitágoras é inteligente) e
(Euclides é inteligente) e (Arquimedes é inteligente) e . . .
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Observe que não é razoável esperar que alguém realmente escreva esta “con-
junção”.
É nestes casos que as variáveis, os domı́nios e os quantificadores mostram a sua
utilidade.
existe x, x2 = −1
é a “disjunção”
02 = −1 ou 12 = −1 ou (−1)2 = −1 ou i2 = −1 ou (1 + 2i)2 = −1 ou
√ 1 π
(−1 − 2i)2 = −1 ou π 2 = −1 ou ( + i)2 = −1 ou . . .
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Neste caso, realmente não é razoável esperar que alguém escreva esta “disjunção”.
Ainda bem que temos as variáveis, os domı́nios e os quantificadores!
ou a um enunciado do tipo
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Em primeiro lugar, observe que (8) e (9) correspondem, cada um, a uma “con-
junção expressa pelo para todo”, cujos componentes são da forma ϕ ∧ ψ e ϕ → ψ,
respectivamente, um componente para cada valor que v assume em D.
Agora, como assumimos que nem todos os valores que v assume em D satisfazem
ϕ, temos que ϕ : F , para ao menos um valor que v assume em D. Assim, ϕ ∧ ψ :
F , para ao menos um valor que v assume em D, pois o primeiro componente da
conjunção é F . Portanto,
para todo v, (ϕ ∧ ψ) : F,
para todo v, (ϕ → ψ) : V,
para todo v, (ϕ ∧ ψ) : F.
Por outro lado, novamente, temos que ϕ : F , qualquer que seja o valor que v
assume em D. Assim, ϕ → ψ : V , qualquer que seja o valor que v assume em D. E,
portanto,
para todo v, (ϕ → ψ) : V.
embora nenhum objeto satisfaça o antecedente da implicação!
Assim, por exemplo, de maneira surpreendente,
para todo n [ (n é negativo) → (n é positivo) ]
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e
existem os que, se alunos, têm dúvidas. (12)
e nos perguntamos de que maneira eles correspondem a enunciados do tipo
existe v (ϕ ∧ ψ) (13)
e
existe v (ϕ → ψ). (14)
Para entendermos melhor estes enunciados, basta observarmos o que acontece
quando (13) e (14) são avaliados sobre um domı́nio D no qual:
Propriedade Situação
ϕ nenhum a possui
ψ todos a possuem
Em primeiro lugar, observe que (13) e (14) correspondem, cada um, a uma
“disjunção expressa pelo existe ao menos um”, cujos componentes são da forma
ϕ ∧ ψ e ϕ → ψ, respectivamente, um componente para cada valor que v assume
em D.
Agora, como assumimos nenhum dos valores que v assume em D satisfaz ϕ,
temos que ϕ : F , para todos os valores que v assume em D. Assim, ϕ ∧ ψ : F , para
todos os valores que v assume em D. E, portanto,
existe v, (ϕ ∧ ψ) : F,
pois todos dos componentes da “disjunção expressa pelo existe ao menos um” são F .
Por outro lado, como assumimos que todos os valores que v assume em D sa-
tisfazem ψ, temos que ψ : V , para todos os valores que v assume em D. Assim,
ϕ → ψ : V , para todos os valores que v assume em D, pois o consequente da
implicação é V . Portanto,
existe v, (ϕ → ψ) : V,
pois todos os componentes da “disjunção expressa pelo existe ao menos um” são V .
Com isto em mente, voltemos aos enunciados (11) e (12).
Como vimos acima, (11) é F em um domı́nio no qual ninguém é aluno. Por
outro lado, também vimos que (12) é V em um tal domı́nio, desde que todos no
domı́nio possuam a propriedade ter dúvida — não é difı́cil imaginar um domı́nio
assim. Assim, (11) não pode corresponder a (14) e (12) não pode corresponder
a (13).
Para ver que (11) corresponde a (13), basta observarmos — agora que entende-
mos um pouco melhor como as existencializações são avaliadas — que (11) é V em
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um domı́nio se, e somente se, há no domı́nio quem possui ambas as propriedades
ser aluno e ter dúvidas. E isso é exatamente o que (13) representa. Finalmente, para
ver que (12) corresponde a (14), basta observarmos que (12) é V em um domı́nio
se, e somente se, existe ao menos um no domı́nio cuja propriedade ter dúvidas está
condicionada a a propriedade ser aluno. E isso é exatamente o que (14) representa.
Observação 8 De maneira análoga à Observação 6, tavez a distinção mostrada
na Observação 7 fique ainda mais clara, se observamos o que acontece quando os
enunciados (13) e (14) são avaliados sobre um domı́nio D no qual nenhum objeto
satisfaz a propriedade ϕ.
De fato, neste caso, temos que ϕ : F , qualquer que seja o valor que v assume em
D. Assim, ϕ ∧ ψ : F , qualquer que seja o valor que v assuma em D. E, portanto,
existe v, (ϕ ∧ ψ) : F
Por outro lado, neste mesmo caso, como ϕ : F , qualquer que seja o valor que v
assume em D temos que ϕ → ψ : V , qualquer que seja o valor que v assume em D.
E, portanto,
existe v, (ϕ → ψ) : V
embora nenhum objeto satisfaça o antecedente da implicação!
Assim, por exemplo, de maneira surpreendente,
existe n [ (n é negativo) → (n é positivo) ]
é V , quando se referindo ao domı́nio dos números naturais.
4.2 Exercı́cios
Exercı́cio 5 Reescreva cada enunciado abaixo como uma generalização, usando
variáveis e conectivos de maneira adequada:
(i) todos são inteligentes
(ii) todos são indefinidos
(iii) todos são figuras planas
(iv) todos são preguiçosos ou vagabundos
(v) todas as figuras são triângulos
(vi) para cada um, ter direitos é o mesmo
que ter deveres
Exercı́cio 6 Reescreva cada enunciado abaixo como uma existencialização, usando
variáveis e conectivos de maneira adequada:
(i) existem indiferentes
(ii) há infelizes
(iii) alguns são ricos e poderosos
(iv) há circulares ou quadrangulares
(v) existem os que ficam felizes quando se
sentem poderosos
(vi) para ao menos um, ter direitos é o mesmo
que ter deveres
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Resolução do Exercı́cio 5: (i) para todo x (x é inteligente). (ii) para todo y não (y é definido).
(iii) para todo z [ (z é figura) e (z é plana) ]. (iv) para todo u [ (u é preguiçoso) ou (u é vagabundo)
]. (v) para todo v [ se (v é figura), então (v é triângulo) ]. (vi) para todo w [ (w tem direitos) se,
e somente se, (w tem deveres) ]. Resolução do Exercı́cio 6: (i) existe x (x é indiferente). (ii)
existe y não (y é feliz). (iii) existe z [ (z é rico) e (z é poderoso) ]. (iv) existe u [ (u é circular) ou (u
é quadrangular) ]. (v) existe v [ se (v se sente poderoso), então (v fica feliz) ]. (vi) existe w [ (w tem
direitos) se, e somente se, (w tem deveres) ].
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