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► 1 - Trabalho ee Saúde Mental

Trabalho e Saúde Mental

A saúde mental tem dentre os seus objetivos a cura das doenças, a sua prevenção e também implementação de recursos para a
melhoria das condições de saúde da população em geral.

O trabalho sempre teve uma interferência muito grande na vida das pessoas e tornou-se objeto de estudo de vários autores. Nesta
unidade, serão apresentadas importantes contribuições de alguns pesquisadores que se debruçaram sobre o tema, com destaque para
Christophe Dejours e Wanderley Codo.

Questões como sofrimento, estratégias defensivas, força de trabalho, reapropriação, organização de trabalho, valor de uso e de
troca, análise das organizações, intervenções psicossociais serão amplamente discutidas através de focos diferentes.

Tudo isso com o intuito de ampliar a capacidade de compreensão de um tema tão complexo e urgente, que envolve o bem-estar do ser
humano e sua evolução na sociedade.

A Unidade I será subdividida em 5 tópicos, discriminados abaixo:

1- Saúde mental e Trabalho: a abordagem de DEJOURS


2- Relembrando um pouco da história sob o olhar critico de Maria Elizabeth Antunes Lima
3- Saúde Mental e Trabalho sob o olhar de Codo
4- A Organização do Trabalho e seus impactos na vida do trabalhador
5- Ergonomia

1 - Saúde Mental e Trabalho: a abordagem de DEJOURS


A obra de Chistophe Dejours, médico do trabalho, psiquiatra e psicanalista, no que se refere à Saúde Mental e Trabalho, iniciou-se na
década de 80, na França, quando publicou seu primeiro livro, sob a influência da Psicanálise.
Seus estudos abrangem questões importantes sobre a organização do trabalho e sua interferência sobre a saúde mental do
trabalhador. Uma publicação sua: “A loucura do trabalho”, em 1987, fomentou discussões sobre Saúde Mental e Trabalho no Brasil.

Em sua obra, aponta questões importantes, como o impacto do Taylorismo/ Fordismo no psiquismo dos trabalhadores; as estratégias
defensivas elaboradas pelos trabalhadores de forma coletiva para enfrentar os riscos do trabalho, seu olhar para a normalidade, ou
seja, mecanismos de preservação da saúde mesmo em situações patogênicas.

O objeto de estudo passa a ser não a loucura, mas o sofrimento no trabalho e como os trabalhadores fazem para resistir.

Outro conceito fundamental é o papel da organização do trabalho, que implica a divisão de tarefas, os ritmos imposto, os modos
operatórios prescritos e também a forma de organização das pessoas para garantir a divisão de tarefas. Aponta a necessidade da
flexibilização da organização do trabalho como medida importantíssima para a manutenção da saúde.

Como se trata de um teórico extremamente importante para essa área, passaremos pela sua obra explorando os principais conceitos.
Christophe Dejours

Psicodinâmica do Trabalho

A psicopatologia do trabalho enfoca as situações de trabalho que conduzem ao prazer e ao sofrimento, enquanto que a psicodinâmica
do trabalho ampliou esse enfoque para além da dinâmica saúde/doença. A psicodinâmica do trabalho não aborda o trabalho apenas
em seu negativo, mas faz com que se percebam as possibilidades do trabalho como estruturante psíquico. Desloca o foco investigativo
das doenças mentais geradas pelo trabalho para o sofrimento e as defesas que são criadas contra esse sofrimento.

“O objeto de estudo é não a loucura propriamente dita, mas sim o sofrimento, sendo este um estado compatível com a normalidade
psíquica do indivíduo, já que o mesmo proporciona uma série de mecanismos de defesa e de regulação.” DEJOURS

Na grande maioria das vezes, ocorre um choque entre a história individual do sujeito e uma organização do trabalho que a ignora,
resultando em sofrimento. O organismo do trabalhador não é um motor que pode ser programado e nem ele chega ao seu local de
trabalho como uma máquina nova. Ele traz consigo toda a sua história.

Vamos agora viajar no tempo e conhecer um pouco da história do trabalho sob o olhar de Dejours.

Seus estudos partiram da história do movimento operário e da correlação das forças entre os trabalhadores, o patrão e o estado.

No século XIX, o objetivo das lutas operárias era em primeiro lugar pela sobrevivência, pelo direito à vida. Ter um trabalho significava
poder sobreviver, por isso sujeitava-se tudo. A organização do trabalho era inexorável, recusava qualquer manifestação dos
trabalhadores. Já no fim do século XIX tem-se início as leis pertinentes à saúde dos trabalhadores.

Alguns marcos importantes:

• 1893 – Sanção de uma lei sobre a higiene e a segurança dos trabalhadores da indústria.
• 1910 – Instituição da Aposentadoria após 65 anos, que foi extremamente criticada uma vez que nessa época a expectativa da vida
dos brasileiros não chegava nessa faixa etária.
• 1968 – ANO CHAVE – Após vários anos, o movimento operário adquiriu bases sólidas e dimensão de uma força política. Busca de
melhores condições de trabalho. Após esse ano, eclosões de greves aconteceram e os trabalhadores passaram a ser percebidos como
pessoas que não se mostravam passivas em face às exigências e pressões organizacionais, mas sim capazes de buscar uma proteção
contra os efeitos danosos que o trabalho exercia sobre a saúde mental, o que foi denominado como estratégias defensivas.

Trabalho Taylorizado

O objetivo desse sistema é o aumento da produtividade, impedindo a liberdade de ação. Há uma vigilância constante, um isolamento
de cada trabalhador, que não tem outra saída a não ser adequar-se ao ritmo e à cobrança imposta. O corpo fica instrumentalizado,
despossuído de seu aparelho mental.

A repetitividade, a divisão do trabalho, a monotonia, a robotização, a cobrança exagerada, gera um isolamento e um


desconhecimento da sua tarefa e o destino de seu trabalho. Assim, cada trabalhador acaba precisando individualmente se defender
dos efeitos danosos da organização de trabalho.

“Do choque entre um indivíduo dotado de uma história personalizante e uma organização de trabalho de uma injunção
despersonalizante, emergem uma vivência e um sofrimento” (DEJOURS)

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO – TAYLORISMO:

• Visa somente o aumento da produtividade;


• Vigilância constante de um supervisor;
• Imposição de ritmo cada vez mais rápido;
• Rigidez da organização do trabalho;
• Robotização;
• Ignorância do sentido do trabalho e do destino da tarefa.

Neste tipo de organização, os operários estão juntos, mas solitários. É um trabalho extremamente repetitivo, que ocorre sob forte
pressão, no qual não sobra lugar para atividade fantasiosa. Como consequência, acumula-se energia psíquica, que se transforma em
forte tensão e posteriormente pode se transformar em patologia.

Na opinião de DEJOURS, a organização do trabalho pode ser a causa de certas descompensações no quadro de saúde do trabalhador.
Ele exemplifica essa questão a partir de duas circunstâncias: aumento do ritmo de trabalho - tal fato gera nas mulheres crises de
choro, dos nervos e desmaios e nos homens descompensações comportamentais por vias mais agressivas.

Quando um trabalhador não consegue se adaptar às pressões do cotidiano de trabalho ficam também evidentes alguns pontos como a
alta rotatividade de funcionários, o número elevado de faltas ao trabalho, constantes consultas acabam disfarçando o sofrimento
mental, pois este e a fadiga são proibidos de se manifestarem em um ambiente de fábrica. O que acaba vindo à tona é a doença.

O sofrimento mental somente é percebido quando chega a seu último estágio. Até chegar nesse extremo, os trabalhadores tentam
construir mecanismos para se defenderem e para conseguir enfrentar as dificuldades. As estratégias elaboradas pelos trabalhadores
representam o estado de medo e de alerta que os mesmos sentem quando estão desenvolvendo uma atividade profissional que coloca
a saúde em risco.

O trabalho taylorizado possui uma organização tão rígida, que acaba por dominar a vida do trabalhador não só durante as horas de
trabalho, mas também o seu tempo fora do trabalho. A maioria dos trabalhadores não consegue organizar e ter um lazer de acordo
com seus desejos. O homem que é condicionado na fábrica, também conserva o mesmo comportamento fora dela (despersonalizado
no trabalho, despersonalizado também em casa). Para não perder o ritmo acelerado que é cobrado no trabalho e que conseguiu impor
a duras penas, o trabalhador permanece o tempo todo vigilante, para não perder o condicionamento e consequentemente não
diminuir a produção. É como se precisasse se manter acelerado em dias de folga, para ao retornar ao trabalho não correr o risco de
ser chamado a atenção devido a uma baixa na sua produtividade.

A importância da organização do Trabalho

O trabalho pode ser fonte de equilíbrio psíquico, mas também causa de fadiga, dependendo da forma como é apresentado.

O conceito de carga psíquica, proposto por DEJOURS articula-se com o conceito de carga de trabalho adotada pelos ergonomistas. A
noção de carga em ergonomia está associada à preocupação de quantificação e de objetividade, enquanto que carga psíquica é
qualitativa (não é possível quantificar uma vivência: prazer, satisfação, agressividade). As vivências são sempre subjetivas, apesar
disso a subjetividade da relação HOMEM/TRABALHO pode ter efeitos concretos e reais, como por exemplo, através do número de
faltas ao trabalho.

Ergonomia: carga de trabalho.


Psicodinâmica do trabalho: carga psíquica.
Existe um caráter qualitativo e dinâmico apesar de não mensurável da carga psíquica.

Importante lembrar que cada trabalhador possui uma história, com características únicas e que dispõe de vias preferenciais de
descarga (que podem ser via psíquica via motora ou via visceral). Sendo assim é preciso avaliar se a tarefa que o trabalhador está
realizando, oferece uma caracterização apropriada de sua energia psíquica. O que constitui a carga psíquica do trabalho é a retenção
da energia pulsional através do subemprego de aptidões psíquicas, fantasmáticas ou psicomotoras.

Explicitando a relação entre o aparelho psíquico e o trabalho DEJOURS afirma que o bem-estar psíquico provém de um livre
funcionamento em relação ao conteúdo da tarefa que o trabalhador executa.

“O trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando ele se opõe a sua livre atividade. O bem-estar, em matéria de
carga psíquica, não advém só da ausência do funcionamento, articulado dialeticamente com o conteúdo da tarefa, expresso,
por sua vez, na própria tarefa e revigorado por ela. Em termos econômicos, o prazer do trabalhador resulta da descarga de
energia psíquica que a tarefa autoriza, o que corresponde a uma diminuição da carga psíquica do trabalho.” (DEJOURS, pág.
24)

Explicando:
Quando o trabalho é favorável ao livre funcionamento, existe o equilíbrio, quando ele se opõe, será fator de sofrimento e doença.
Nesse âmbito é que se insere a psicopatologia do trabalho: o sofrimento está no centro da relação psíquica do homem com o trabalho.
O sofrimento implica em um estado de luta do sujeito contra as questões da organização do trabalho que o estão empurrando em
direção à doença. O sofrimento vai levar também a criação de estratégias defensivas.

A psicopatologia do trabalho é a análise dinâmica dos processos psíquicos, mobilizados pela confrontação do sujeito com a
situação de trabalho.

Importante ressaltar que sob o domínio taylorista de produção, o homem é submetido a um tipo de trabalho de tarefas fragmentadas,
com modo operatório e ritmo de trabalho preestabelecido por outra pessoa. As pessoas são divididas hierarquicamente pela
organização do trabalho, sendo comandadas e supervisionadas.

Trabalho e medo
O medo constitui-se uma das vivências dos trabalhadores, que na maioria dos estudos de psicopatologia do trabalho acaba sendo
ignorado. É importante lembrar que o medo costuma estar presente em todos os tipos de ocupações profissionais, apesar de algumas
estarem mais expostas a um risco relacionado ao corpo do indivíduo. (Ex: pescaria em alto mar, construção civil).

O risco às vezes recebe investimento por parte da organização de trabalho na prevenção através de regras, medidas de segurança,
mas mesmo assim há limitações e o trabalhador continua correndo riscos.

Quase sempre é proposto ao trabalhador medidas de prevenção individuais de caráter material (como equipamentos de proteção), ou
de caráter psicológico (como regras de segurança impostas). Muitas vezes é um acidente que vai demonstrar a existência de um risco,
até então desconhecido. A vivência do medo existe, mas raramente aparece de forma explícita, pois se encontra contida pelos
mecanismos de defesa.

Se o trabalhador não conhecesse o risco, ele não produziria? Responde Dejours: “a consciência aguda do risco de acidente, mesmo
sem maiores envolvimentos emocionais, obrigaria o trabalhador a tomar tantas precauções individuais que ele se tornaria ineficaz do
ponto de vista da produtividade.”
Ou seja, para continuar sendo um bom profissional, o trabalhador ignora o risco e o medo fica camuflado, muitas vezes aparecendo
em forma de sintomas. O medo aumenta também com a ignorância. Quanto mais o trabalhador desconhece a sua função, mais ele
sofre, podendo vir a apresentar várias alterações em seu organismo.

È importante ressaltar que DEJOURS acredita que não existem psicoses ou neuroses de trabalho, pois as descompensações psicóticas e
neuróticas dependem da estrutura da personalidade de cada um. No entanto, determinadas vivências podem influenciar e favorecer o
surgimento de uma descompensação. As neuroses, psicoses e depressões em situações de trabalho, são compensadas pela utilização
de sistemas defensivos. Geralmente uma descompensação vai acarretar uma queda na produção, consequentemente o trabalhador
tende a ser afastado, pois tem como saída largar a empresa ou afastar-se do trabalho através de atestado. Na maioria das vezes
ocorre um processo de medicalização, pois ele precisa provar e consolidar o seu afastamento entregando um atestado que vem
acompanhado de receitas, desqualificando o sofrimento propriamente dito.

Uma organização de trabalho não pode ser vista como fonte de doença mental, mas influencia no desencadeamento e nas
consequências destas. Uma organização de trabalho pode ser causa de uma fragilização de um indivíduo a partir do momento que
pode bloquear os esforços que o trabalhador faz para poder adequar-se e adaptar-se ao modo operatório e as necessidades de sua
estrutura mental.

A organização do trabalho exerce sobre o homem forte impacto sobre o seu aparelho psíquico. Pode assim emergir um sofrimento que
provém do choque entre uma história individual X organização do trabalho. Este impacto ocorre principalmente quando o trabalhador
não pode modificar nada em sua tarefa, de modo a adequá-la de acordo com suas necessidades fisiológicas e seus desejos
psicológicos. O resultado disso é uma relação homem-trabalho bloqueada.

A maneira como esse sofrimento vai aparecer varia muito, de acordo com uma capa própria de cada profissão e de cada trabalhador.
Ocorrem também casos em que a relação entre organização de trabalho e aparelho psíquico é saudável, o que pode acontecer quando:

1- as exigências intelectuais, motoras, ou psicossensoriais da tarefa estão de acordo com as necessidades dos trabalhadores;
2- o conteúdo do trabalho é fonte de satisfação sublimatória, onde a concepção do conteúdo, o ritmo do trabalho, o modo é definido
pelo próprio trabalhador, de acordo com seus desejos e suas necessidades.

Algumas conclusões:

Como uma saída, DEJOURS aponta a necessidade de flexibilizar a organização do trabalho, de modo a conceber ao trabalhador
maior liberdade de operação, que passaria a poder atender seus desejos, as necessidades de seu corpo e as variações do seu
estado de espírito.

A organização do trabalho deveria proporcionar condições de diminuir as diferenças hierárquicas, possibilitar maior autonomia e
propiciar melhor compreensão do trabalhador acerca da tarefa que desempenha.

Outra perspectiva importante a ser lembrada é que para DEJOURS, os sofrimentos presentes nas organizações de trabalho se vinculam
a dados relativos à história singular de cada indivíduo. Aspectos referentes à sua situação atual são processos construídos pelo próprio
trabalhador no âmbito de sua atividade. O sofrimento pode ser patogênico ou criativo.

Sofrimento Patogênico - Inicia no momento em que foram explorados todos os recursos defensivos do indivíduo. Leva à destruição
do equilíbrio psíquico do sujeito, empurrando-o até mesmo para uma destruição orgânica. O trabalhador não consegue pensar sua
atividade, esta impõe uma aceleração cada vez maior do ritmo, promovendo fadiga e paralisação do funcionamento psíquico,
denominado pelo autor como “repressão pulsional”. A repressão pulsional, ou o ato de não pensar faz com que o trabalhador procure
manter-se ocupado o tempo todo, seja com atividades domésticas, seja com outra jornada de trabalho. A insistência por parte do
trabalhador promove em sua vida um estado de semiembotamento, no qual o sujeito anestesia por completo seu estado psíquico.
Ocorre um bloqueio da energia pulsional do indivíduo, gerando desta forma, sentimentos de tensão e desprazer. O problema
psicopatogênico é o resultado das pressões psíquicas de trabalho nos moldes taylorista, onde há separação entre concepção e
execução das atividades de trabalho. Pelo fato de o trabalhador não conseguir pensar sua atividade ou interferir sobre ela, este impõe
a aceleração de seu ritmo de trabalho, aumentando ainda mais a sua capacidade de não pensar. O trabalhador que estiver envolvido
em um estado de repressão psíquica, tende a não conseguir desenvolver um papel ativo na economia, assim como as suas relações
sociais, com família e amigos também serão afetadas. O sujeito nesta situação tende a se afastar de todas as pessoas de seu vínculo
pessoal, preferindo a solidão.
Sofrimento Criativo – O indivíduo consegue elaborar soluções que favorecem e ou restituem a sua saúde, possibilitando que ocorra
um reconhecimento de sua identidade. Neste contexto o indivíduo tem a oportunidade de exercer o seu potencial criativo, promovendo
descobertas e inventando soluções inéditas para cada desafio encontrado em seu cotidiano de trabalho. Dessa maneira, o trabalhador
utiliza de sua inteligência e de seus recursos próprios para aliviar ou combater o sofrimento psíquico, não se enquadrando em
pressões e cobranças externas.

Sob esse aspecto, é possível afirmar que a relação que ocorre entre trabalho e aparelho psíquico é que o trabalho torna-se perigoso
para o aparelho psíquico quando ele se opõe à sua livre atividade. O prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que
a tarefa autoriza, correspondente à diminuição da carga de trabalho.

Importante compreender a relação entre carga psíquica e prazer no trabalho: “a carga psíquica do trabalho resulta da confrontação
do desejo do trabalhador à injunção do empregador contida da organização do trabalho. Em geral a carga psíquica do trabalho
aumenta quando a liberdade de organização do trabalho diminui”. (DEJOURS, 1994)

Quando o rearranjo da organização do trabalho não é possível, quando a relação do trabalhador com a organização é bloqueada, o
sofrimento começa.

Para DEJOURS existe um espaço entre o homem e a organização prescrita para a realização do trabalho. Este espaço possibilita
uma certa negociação, uma invenção do trabalhador, com o objetivo de adaptar o trabalho às suas necessidades e aos seus
desejos. Quando essas possibilidades se fecham e a relação entre o homem trabalhador e a organização de trabalho fica
bloqueada, começa o sofrimento e a luta do indivíduo contra esse sofrimento.

Outros importantes conceitos são trabalho equilibrante (que permite a diminuição da carga psíquica) e trabalho fatigante (que se
opõe a diminuição da carga psíquica). Estes conceitos são apresentados como formas de trabalho que geram menor e maior carga
psíquica respectivamente.

Trabalho equilibrante: se permite a diminuição da carga psíquica. Trabalho escolhido que oferece vias de descarga mais
adaptadas as necessidades (trabalho como meio de relaxamento). Exemplos: artista, pesquisador.

Trabalho fatigante: se opõe a diminuição da carga psíquica. Não há espaço para aptidões fantasmáticas, a via de descarga
psíquica está fechada, a energia acumulada, tornando-se fonte de tensão, desprazer. Exemplo: operário de linha de produção,
operador de caixa.

Para se transformar um trabalho fatigante em um trabalho equilibrante, a saída é flexibilizar a organização de trabalho, ou seja,
possibilitar ao trabalhador que ele tenha liberdade para trabalhar de forma que algo lhe forneça prazer.

Um exemplo: mulheres empregadas como datilógrafas em um escritório. Ocorre um período de diminuição do trabalho em que não há
nenhuma atividade a ser feita: elas são, não obstante obrigadas a vir ao escritório e fazer de conta que estão trabalhando. Quando
um chefe passa não podem ser surpreendidas tricotando, conversando, lendo ou telefonando. É possível perceber nesse exemplo que
há um aumento da carga psíquica, mesmo havendo um período ocioso e a tarefa não exigir muito, pois não há nenhuma possibilidade
de livre funcionamento da vida psíquica, o que torna o trabalho fatigante.

O trabalho funciona como um mediador para a saúde quando o sofrimento é transformado em criatividade ele se beneficia. O
trabalho funciona como um mediador para a desestabilização e fragilização da saúde quando a situação de trabalho, as
relações sociais e as gerências infligem o sofrimento patogênico (todos os recursos defensivos já foram explorados).

A metodologia de pesquisa em psicopatologia do trabalho utilizada por DEJOURS

O método utilizado por DEJOURS em suas pesquisas dá ênfase no discurso dos trabalhadores e não a objetividade dos fatos. O
sofrimento, assim como o prazer, a vivência, o afeto e a dimensão subjetiva só podem ser recolhidos através da subjetividade de um
receptor do discurso. O trabalho de objetivação afasta-se do dizer dos trabalhadores, para a objetivação da intersubjetividade. Para
que fique claro, a metodologia usada por DEJOURS (às vezes criticada por outros estudiosos) segue abaixo de forma resumida, sua
concepção.
Uma pesquisa em Psicopatologia do trabalho desenrola-se em oito fases:

1- Pesquisa inicial.
2- A pesquisa propriamente dita.
3- A solicitação, o grupo homogêneo e o coletivo.
4- O material da pesquisa.
5- A observação clínica.
6- O método de interpretação.
7- Validação e refutação dos dados.
8- Metodologia e teoria em psicopatologia do trabalho.

1- A pesquisa inicial:

Primeiro, tem que haver uma solicitação dos próprios trabalhadores, seja de um grupo não institucionalizado de trabalhadores ou de
um grupo sindical. Depois é necessário preparar a pesquisa, escolher os pesquisadores, os participantes. Em seguida, reunir
informações sobre o processo de trabalho (acesso a documentos técnicos, econômicos, e científicos), ter acesso à empresa (poder
visitá-la em pleno funcionamento). Passada essa fase de investigação, inicia-se uma abordagem da organização de trabalho
(conhecimento da história, de situações de conflitos) para compreensão sobre ritmos de trabalho, divisões, contradições e outros.

2- A pesquisa propriamente dita:

Reúne-se um grupo de trabalhadores, que já tem conhecimentos sobre o objetivo da pesquisa, em um determinado local vinculado ao
trabalho. Apresentam-se os pesquisadores e o tema da pesquisa e em seguida solicita-se aos trabalhadores que deem a sua opinião
sobre o tema. O que interessa é o comentário verbal feito pelo trabalhador (interesse pelo que é dito), sem preocupar com a
objetividade dos fatos. Os pesquisadores efetuam um esforço para perceber as relações existentes entre expressões de sofrimento ou
de prazer, expressões positivas ou os silêncios. Uma vez identificadas tais relações pelos pesquisadores e não pelo grupo, os
pesquisadores as propõem como uma interpretação submetida à crítica do grupo. Importante tomar alguns cuidados em relação a
interpretação, uma vez que uma interpretação realizada pelos pesquisadores que atingisse brutalmente uma realidade poderia
paralisar o grupo, portanto, seria inadequada. Isto porque a exposição do sofrimento e da dimensão subjetiva da exploração podem
ser intoleráveis, ameaçando o grupo e dificultando a realização do trabalho propriamente dito, enquanto o trabalhador estiver
desempenhando suas funções no seu ambiente de trabalho. Uma interpretação ideal seria aquela que atingiria um sistema defensivo,
de modo a permitir a reconstrução de um novo sistema defensivo ou um deslocamento do mesmo. O risco de uma interpretação passa
pelos pesquisadores e suas capacidades de perceber tensões psíquicas. A subjetividade do pesquisador está diretamente envolvida na
técnica da pesquisa.

3- A solicitação, o grupo homogêneo e o coletivo:

Muito importante analisar quem solicita e o quê solicita. Nem sempre é possível atender ao que é pedido. Além disso, é preciso
explicar os riscos que estão implicados na pesquisa (de nada encontrar, de encontrar coisas muito diferentes das propostas, de expor
coisas desagradáveis...). Outra questão importante é que a pesquisa deve ser solicitada a um pesquisador (e não a um médico,
psiquiatra, psicanalista), para que não tenha uma demanda reprimida de tratamento. Além disso, a fonte de pagamento dos
pesquisadores também deve ser esclarecida.

4- O material da pesquisa:

O material é consequência daquilo que foi discutido pelo coletivo. O objetivo da pesquisa não é a exposição da realidade do trabalho
humano (nas suas dimensões físicas e cognitivas), mas sim a vivência subjetiva (a dimensão do comentário). O comentário, que é a
formulação do pensar do trabalhador sobre sua situação, é o material para se tomar contato com a subjetividade dos trabalhadores.

5- A observação clínica:

Trata-se de um material importantíssimo para a elaboração e discussão psicopatológicas. O pesquisador após observação subjetiva
dos fatos escreve o que foi detectado. É uma restituição, ilustração e articulação dos comentários dos trabalhadores, através da
redação da observação. Essa redação é feita após cada encontro, a partir da memória do pesquisador, podendo este também utilizar
os registros feitos no momento da reunião e excepcionalmente fitas gravadas. É um resumo comentado do pesquisador. O objetivo da
observação é apontar o encadeamento e as interações ocorridas entre os pesquisadores e os trabalhadores. A observação clínica
preocupa-se mais com instrumentos subjetivos. Uma das vantagens que a observação clínica tem é a de poder ser submetida a
discussão com outros pesquisadores, que não participaram da pesquisa.

6- O método de interpretação:

Não adianta querer objetivar o sofrimento e o prazer, que são essencialmente subjetivos. Esses dados passam pela subjetividade do
pesquisador, na descrição, na identificação e na formulação. O pesquisador só pode situar-se como interlocutor, o que torna possível
a abertura para uma fala a respeito do sofrimento, do prazer, e que seja passível de interpretação. Nesse sentido o pesquisador está
numa posição diferente dos trabalhadores.

7- Validação e refutação:

A validação é muito importante e faz-se em dois momentos:

a) durante a pesquisa, no desenvolvimento da investigação (elaborações, hipóteses, temas, comentários), realizados à medida que a
discussão acontece, sendo rejeitados, retomados ou aprofundados.
b) em uma reunião com os trabalhadores que participaram da pesquisa, para devolução de uma síntese de resultados, observações e
interpretações dirigidas para a relação sofrimento? Organização do trabalho. Assim, avalia-se as reações dos trabalhadores e
modifica-se ou corrige-se o relatório final. Dessa forma, há uma validação ou invalidação que vem do coletivo dos trabalhadores.

Quanto à refutação, provavelmente da comunidade científica, só é possível através de uma contra-pesquisa que possa trazer outros
resultados e interpretações, possibilitando debates teóricos acerca da psicopatologia do trabalho.

8-Metodologia e teoria em psicopatologia do trabalho:

A psicopatologia do trabalho baseia-se num modelo de homem e de subjetividade emprestado da psicanálise, o que prevalece na
pesquisa. O sofrimento e o prazer são em suas origens provenientes de uma relação específica com o inconsciente. Na análise de
interpretação, as noções de sofrimento e prazer só podem ser elaboradas através de relações intersubjetivas. Sendo assim a palavra é
o mediador, e é sobre ela que trabalha a psicopatologia do trabalho. O objetivo principal de uma pesquisa em psicopatologia do
trabalho é a possibilidade das pessoas pensarem sua situação em relação ao trabalho, as consequências dessa relação na vida em
geral e a posição que o sujeito ocupa em relação ao trabalho, bem como este pode ser um elemento determinante do poder
estruturador ou desestruturador do trabalho em relação a economia psíquica.

Sobre a Metodologia de Dejours:

O trabalhador não pode ser considerado um indivíduo isolado, pois está sempre em inter-relação. O trabalhador é um sujeito
pensante, que produz interpretações de sua situação e de suas condições, socializa essas últimas em atos intersubjetivos,
reage e organiza-se mental, afetiva e fisicamente em função de suas interpretações, age sobre seu próprio processo de
trabalho. Estabelece relação com os pares, com a hierarquia, com os subordinados, com familiares e etc. A organização do
trabalho é técnica, mas passa também por uma integração humana, que a modifica, e lhe dá uma forma concreta.

A intersubjetividade aparece no centro da organização do trabalho. O que interessa a psicopatologia do trabalho é a vivência
subjetiva do trabalho, é o lugar que o trabalho ocupa na regulação psíquica dos sujeitos. É somente através de uma relação
intersubjetiva com os trabalhadores que os pesquisadores têm a chance de ter acesso a realidade. A via de acesso e a vivência
subjetiva e intersubjetiva do trabalho passam pela palavra dos trabalhadores, e não pela observação dos atos, comportamentos,
modo operatório. A metodologia utilizada está em defasagem com os enfoques objetivistas e quantitativistas, que tentam dar conta
das relações homem-trabalho a partir de um esquema calcado em ambiente, comportamento, sem levar em conta a subjetividade.

2 - Relembrando um pouco da história através do olhar crítico de Maria Elizabeth


Antunes Lima
A autora, uma grande pesquisadora da área da saúde mental e trabalho, traz importantes reflexões acerca desse tema. Para chegar a
algumas conclusões, resgata um pouco da história da Psicopatologia do Trabalho, fazendo considerações e críticas a importantes
teóricos desse tema, elegendo para esse percurso, as principais correntes francesas.

A Psicopatologia do Trabalho tomou forma a partir de um movimento ocorrido no final da década de 40, na França: o movimento da
Psiquiatria Social. Esta deu origem a duas correntes:

• A organogênese - concepção organicista e dinâmica da doença mental


• a sociogênese – loucura como uma questão social.

Sobre Paul Sivadon:

Em 1952, foi ele quem utilizou pela primeira vez a expressão psicopatologia do trabalho. Desenvolveu importante trabalho em
instituições propondo a reinserção social de pacientes psiquiátricos. Utilizou o trabalho em instituições como recurso para o tratamento
de pacientes graves. Foi, nesse sentido, um precursor do movimento antimanicomial. Apontava a possível relação entre certos tipos de
trabalho e certos tipos de distúrbios mentais. Propunha os poderes terapêuticos do trabalho, em circunstâncias propícias, apostando
também na ergoterapia.

Crítica de Maria Elizabeth Lima:

A principal crítica a esse autor consiste no fato do mesmo apontar que a veracidade ou a falsidade de um fato só poderem ser relativas
a um indivíduo ou a um grupo social, sendo impossível uma apreensão objetiva da realidade, já que toda apreensão passa pelo crivo
do outro. Outra crítica é quando Paul Sivadon trata da questão de acidentes de trabalho como não sendo exatamente acidentes, mas
sim a busca de uma saída para problemas que não consegue resolver (o que seria uma forma menor de suicídio). Afirmativa esta que
desconsidera completamente a realidade na qual está inserido o trabalhador e considera exageradamente o subjetivismo.

Sobre Luis Le Guillant:

Também fez parte do Movimento da Psiquiatria Social e estudou várias categorias: empregadas domésticas, telefonistas, etc. Seu
objetivo é explicitar o papel do meio no surgimento e/ou desaparecimento de distúrbios mentais, propondo que o indivíduo jamais deve
ser separado do social. Propõe uma clínica baseada na compreensão das condições de vida e trabalho dos pacientes, associada
também ao resgate de sua história de vida. Conseguiu abordar a relação homem-trabalho de forma científica, apontando aspectos
essenciais relativos aos impactos do trabalho na saúde mental.

Crítica de Maria Elizabeth Lima:

A principal crítica é em relação à sua adesão a Pavlov, quando tenta explicar o rico quadro da neurose das telefonistas através de um
simples quadro de um protocolo experimental. Além disso, a sua visão bastante reducionista em relação a importante obra de Marx.

Sobre Christophe Dejours:

Sua obra teve início na década de 80, sob a influência da Psicanálise. Seus trabalhos exerceram grande repercussão sobre os
trabalhadores e pesquisadores brasileiros. Seus estudos trazem grandes contribuições como a questão do tipo de trabalho
taylorismo/fordismo no psiquismo dos trabalhadores, as estratégias defensivas, o enfoque sobre a normalidade, a compreensão do
medo, da fadiga, a exploração do sofrimento. Além disso, inova ao propor a flexibilização da organização do trabalho como uma
medida eficaz na prevenção de problemas de saúde, pois possibilitaria aos trabalhadores mais autonomia.

Crítica de Maria Elizabeth Lima:

Diz respeito a uma certa confusão feita por Dejours entre psicologia concreta e psicologia abstrata. Além disso, o que sempre enfatiza
é a subjetividade, o que deixa de priorizar a possibilidade de acesso à realidade. Os resultados ficam comprometidos, pois o acesso à
vivência subjetiva dos trabalhadores passa pela busca de consenso entre as interpretações feitas pelos pesquisadores. Ao manter a
sua ênfase exclusiva no discurso, em detrimento dos fatos, restringe de forma significativa a sua abordagem a interpretação subjetiva.
O trabalho, então, só é abordado pela via da subjetividade.

Após essas críticas apontadas a autora então propõe que o trabalho seja realmente tomado como ponto de partida para a
compreensão do homem e de tudo que o caracteriza. Somente a partir do trabalho é possível uma articulação entre subjetividade e
objetividade, tomando como conceito de subjetividade um atributo de um sujeito, mas lembrando que, subjetividade e objetividade
são distintas, mas inseparáveis. É através do resgate do trabalho que se torna possível uma compreensão da relação sujeito/objeto;
sem um conhecimento profundo da atividade de trabalho não há como compreender as vivências subjetivas dos trabalhadores.

Daí a necessidade de lançar mão da AET (Análise Ergonômica do Trabalho), como ponto de partida, que levará posteriormente ao
acesso das vivências subjetivas e intersubjetivas. Com isso, é possível evitar cair no subjetivismo (restringindo a interioridade dos
indivíduos) ou no objetivismo (restringindo a realidade exterior). Isto só é possível resgatando o trabalho como categoria central para
a compreensão do homem.

3 - Saúde mental e trabalho sob o olhar de Codo


Coordenando um grupo interdisciplinar de pesquisa das relações entre saúde mental e trabalho, WANDERLEY CODO aborda a questão
sob outro prisma no Brasil, onde a psicologia do trabalho precisa entender como o homem enlouquece pelo trabalho. Em suas
pesquisas procura desenvolver a hipótese que nos distúrbios mentais o trabalho tem uma função determinante. O homem é saudável
ou doente pelo trabalho.

Relação saúde–trabalho: uma velha conhecida, mas pouco aprofundada...

Quantas vezes não presenciamos uma pessoa comentar: ”Esse trabalho é uma máquina de fazer doidos!” Codo afirma que não é
apenas no senso comum que o trabalho aponta certa responsabilidade pela saúde e ou doença mental. Grandes pensadores já
abordavam esta questão do trabalho como determinante na saúde mental. E, em geral, suas articulações apontam para que a forma
como os homens vivem o seu trabalho determina a forma como os homens apresentam a sua identidade. Suas definições fundamentais
são encobertas pelo modo como o trabalho se organiza na sociedade.

O autor alerta para o fato de que os estudos sobre a saúde mental e o trabalho não são tão recentes como se costuma pensar. Artigos
científicos das primeiras décadas do século XX já abordavam este tema, como o livro Psychology and industrial efficiency, de 1913,
que já discutia a necessidade do bem-estar psicológico do trabalhador.

Enfatiza Codo:” o que quer que seja saúde, ou doença mental, está ligado ao que o homem faz e a como constrói a própria
sobrevivência”. Mas não há muitas estatísticas disponíveis em saúde mental que abarque a questão do trabalho, mesmo assim, fica
claro que as incidências são alarmantes.

Não se previne nem repara de forma eficaz a doença no trabalho?

A Psicologia social e psicopatologia estudam como o saber produtivo do homem se manifesta em sua singularidade, como ele se
apresenta no cotidiano do trabalho que ao mesmo tempo o transforma e sofre também do seu poder transformador. Como também
afirma Codo: “estudar o impacto do trabalho cotidiano na reprodução do equilíbrio individual necessário a sua continuidade”. (CODO,
1993)

O autor afirma que o comprometimento da saúde mental no trabalho é denunciado, mas ações efetivas de nível preventivo ou
reparador não são implementadas como deveria. Confina-se a doença mental em nossa sociedade como algo que não deva ser muito
consciente. Mas como esconder resultados de pesquisa que apontam transtornos neuróticos como segundo lugar dentre as
“incapacidades temporárias”?

O trabalho é visto por Codo como uma temática complexa, que desafia o entendimento do homem, carregado de subjetividade,
identidade e valores sociais. Considera que o desafio do estudo do trabalho é: “reconhecer os valores sociais que o trabalho gera,
reconhecer que o trabalho desvalorizado engendra nova natureza de valores sociais. O trabalho desvalorizado (expansão do trabalho
morto, trabalho incorporado nas máquinas; expansão do trabalho incapaz de gerar relações sociais; expansão da especulação),
desvaloriza o trabalhador, fragilizando-o de modo irrecuperável, mesmo na presença de “ambiente saneado” e de “perfeitos ajustes
anatômicos corpo / instrumento”. (CODO, 1995)

Além disso, as relações entre saúde mental e trabalho se manifestam num plano individual estrito, apesar de determinadas pela
estrutura social. Veja esta afirmação: “O trabalho preso inelutavelmente ao que a trama social tem de mais objetivo, a doença
mental escrava do que o sujeito preserva como seu, intransferível, inominável”. (CODO, 1995)

Mas o que é trabalho?

Segundo CODO o conceito de trabalho atual é definido pela “face” dominante capitalista. E o que é trabalho para o sistema
capitalista? Segundo Codo: “o trabalho dentro do sistema capitalista é considerado produtivo na medida em que produz capital, entra
no circuito de produção de mercadorias, realiza mais valia, entra em circulação.” (CODO, 1992)

O capitalismo só considera uma pessoa trabalhadora quando ela produz uma mercadoria vendável no mercado e que por sua
atividade recebe salário. O trabalho torna-se espelho da classe dominante e para entendê-lo é necessário questionarmos o
senso comum. Dificilmente alguém enquadra, por exemplo, uma dona de casa ou um aposentado que cuida dos netos, como
um legítimo trabalhador, mesmo tendo consciência do exercício destas atividades.

Seguindo este raciocínio definir trabalho e detectar os seus efeitos também se torna difícil, por causa de sua onipresença. Perceba
que em qualquer sociedade humana o trabalho esteve lá. Guiando e definindo as ações de sobrevivência ou convívio do homem. O
autor comenta que trabalho não é só mercadoria, pois antes do capitalismo estabelecer esta relação, a sociedade já trabalhava e já
existiam relações de trabalho.

Além disso, não pode ser confundido com emprego: “trabalho é mais do que emprego, é o ato de atribuir significado ao meio,
portanto, a si mesmo e ao outro.” (CODO 1999) Este modelo de “estabilidade” perdeu o espaço em nossa sociedade, está em extinção
o emprego vitalício. Ter a qualificação exigida pelo mercado de trabalho é que garante a sua atuação. Só assim, poderá ser capaz de
encontrar um lugar para trabalhar, de se inserir no mundo do trabalho que cada vez mais apresenta mutações nas relações de
trabalho.

A sociedade capitalista infere ao trabalho um poder surpreendente, a ponto deste se tornar a identidade do sujeito. Em
algumas vezes, ao invés de dizer o nome, diz-se primeiro a profissão...

Trabalho e significado

Vejamos uma definição de Karl Marx sobre trabalho: ”trabalho, antes de tudo, é um ato que se passa entre o homem e a natureza. Ao
mesmo tempo em que age, por esse movimento, pela natureza exterior e a modifica, modifica a sua própria natureza e desenvolve
faculdades que nela dormitavam”.

Para Codo, trabalho é o ato de transmitir significado à natureza, acompanhe a explicação:

“Na ação vulgar, o sujeito se transforma ao transformar o objeto, e vice-versa, no trabalho, o circuito abre para uma terceira
relação, um signo que fica (signo-ficare), o significado, o qual por sua vez se transforma e é transformado pela ação recíproca do
sujeito e / ou do objeto. O significado se define pela permanência além e apesar da relação com o objeto, ou seja, se define pela
transcendência à relação S <--> O. Abre indefinidamente, portanto, o circuito da ação.” (CODO, 2006)

Desta forma não se pode dissociar o conceito de trabalho do seu significado, a própria identidade do homem se estabelece por meio
de significados, onde o trabalho proporciona ao homem estabelecer significados à natureza tornando-se assim, fundamental tal
relação na construção de sua identidade.

As relações de trabalho, significado e prazer também merecem ser ressaltadas. Os nossos prazeres também são mediados, carregam
significados, não são respostas fisiológicas como nos animais. Codo apresenta o seguinte comentário: “o comer, o beber, a
sexualidade são sempre preenchidos de significado, e cada um destes prazeres básicos pode, literalmente, assumir qualquer
significado: comemos e bebemos por raiva, poder, prestígio, submissão...”

No trabalho, o homem transmite significado à natureza e vive uma relação de prazer, “constrói o mundo”. Mas se esta construção não
ocorrer como gostaríamos? Acompanhe o exemplo abaixo:

Você é um treinador de um time de futebol, onde os jogadores gostam de seus exercícios, explicações, táticas etc. Sua dedicação e
empenho exigem muito de você. Quando chega o dia da disputa, o time rival ganha o jogo de goleada. Com certeza ao sentir que o
trabalho não construiu uma ação produtiva, no caso a vitória, fica decepcionado, com raiva. Vem o desprazer...

Veja a gravidade da situação nesta afirmação relativa a situações de desprazer quando amplificadas: “qualquer trabalho, em qualquer
momento, pode ver o circuito mágico de construção quebrado, e o resultado é o sofrimento, muito sofrimento, no limite: a doença
mental”. (CODO, 1999)

Para complementar: “O homem é humano porque seu signo fica. A doença mental ocorre quando o significado se perde. Somente o
verbo e o trabalho são responsáveis pela construção do significado, portanto, apenas o verbo e o trabalho são responsáveis pela
doença mental, porque são os responsáveis pela saúde mental”. (CODO, 2004)

Vamos para um exemplo: Segundo Codo, a questão da LER/DORT é que se trata de um sofrimento que surge quando o gesto perde o
significado. A LER/DORT é a forma como o corpo se manifesta e denuncia o seu estado e também busca recuperar o controle do
trabalho sobre si mesmo. Mas ela própria pode afastá-lo de vez, e cortar o significado e desenvolver outras doenças mentais.

Relações de trabalho

É importante ressaltar que o século XX viu o trabalho estruturar-se em torno de três pilares:

1 – Universalização das relações de troca

Como já foi explicado, o homem em sua relação com a natureza constrói símbolos, que ocorrem graças à linguagem e o trabalho.
Nestas trocas existentes é construída toda uma historicidade. Um universo simbólico se desenvolve nestas trocas tanto familiares
como em nossas atividades. Por exemplo, um criador de porcos tem uma relação simbólica com este animal, no que diz respeito a
este universo, vai além da questão da sobrevivência. Neste trabalho, como em qualquer outro, as mediações estabelecidas
proporcionam significados que dão sentido às ações do homem na natureza: “Ao produzir, o homem transforma o meio à sua imagem e
semelhança e se transforma com ele, é o seu produto, seu produto o reapresenta, o representa.” (CODO, 1999)

Mas a forma como a sociedade estabelece suas relações altera a organização do trabalho, que por sua vez determinam as formas de
atuação na própria sociedade. Qual é a forma contemporânea de organização social? Acompanhe a explicação de Codo: “A forma
contemporânea de organização social é a forma de mercadoria, ou seja, a universalização do trabalho humano, a possibilidade de
extensão do significado do gesto a qualquer dos homens do planeta; ou, ainda, a abstração radical do trabalho específico construída
pela equivalência de todos os trabalhos, pela troca universal, pelo dinheiro.” (CODO, 1999)

O trabalho, de acordo com esse prisma é transformador, mágico. É mágico porque ele sempre esconde algo do observador
ingênuo, sua aparência não é exatamente o que ele é. O trabalho tem um valor duplo tanto de uso como de troca.

É valor de troca quando independente daquilo que se faz, tudo pode ser igualado de forma universal, o dinheiro faz este papel de
nivelamento. Como valor de troca, afirma Codo: “A mercadoria se desfaz no dinheiro, equivalendo a este. Nada distingue a mesa do
prato, cigarros, tevê, um poema, os braços ou o engenho do trabalhador, o corpo de uma prostituta, o computador. [...] Pelo valor de
troca, desgarra-se do seu produtor, do momento histórico da produção, dos afetos de quem fez e quem compra”. (CODO, 1999)

É valor de uso quando se deposita um significado singular à sua natureza, que o torna especial para aquela pessoa. Segundo Codo:
”Depende da necessidade humana, sujeita-se aos seus desvarios. Agora, uma camisa se traveste nesta camisa particular, ganha cores,
cortes, status, afetos, enfim gravita no reino do idiossincrático.” (CODO, 1999) Sua maneira particular de sentir e valorizar algo.

Esta relação dual fica mais clara com um bom exemplo, mais detalhado, em mercadoria: Quando se quer comprar uma calça, se
compara os preços, a qualidade do tecido, modelos, procura-se um melhor preço entre os produtos. Eis um comprador que troca
coisas por um determinado valor, este é o valor de troca. O mesmo comprador ao chegar a casa e usar a roupa para sair, esta calça
passa a ser única naquele corpo e adquire valor estético, afetivo etc. Assim, torna-se valor de uso. Se no futuro põe a calça à venda
no bazar ou outro lugar, passa a ser comparada a outras calças e volta a ser valor de troca! Mas, caso presenteie o irmão, a calça
transmuta novamente para valor de uso pelo significado embutido.

A sociedade capitalista, conforme explicitado, oferta hoje trabalho “vazio”, portanto sem valor de uso, consequentemente, não mais
o trabalho age como constituidor da verdadeira identidade do sujeito. A possibilidade da doença no trabalho surge no confronto do
trabalho como valor de uso e de troca.

O trabalhador só recupera sua individualidade no ato de consumo que continua a alimentar o próprio sistema capitalista. Se como
mercadoria o trabalho tem esta dualidade, valor de troca e de uso, sua expressão na sociedade também faz uma correspondência
como trabalho concreto e abstrato.

O trabalho abstrato não é visível, sua constituição está relacionada com a atividade profissional de cada categoria, uma
identidade que se apresenta no mercado.
O trabalho concreto é o fazer propriamente dito, a produção de determinado objeto ou serviço realizado.
2 – A transformação do trabalhador em força de trabalho

Torna-se necessário avaliarmos o estado do trabalhador de hoje, mas para isto precisamos voltar ao passado e verificar novamente o
modo de produção Taylor – Fordismo que, juntamente com o capitalismo e em prol de seus objetivos destituíram o significado do
trabalho ao homem, atingindo profundamente seu estado de prazer e saúde.

No Taylor-Fordismo, o trabalhador foi reduzido a força de trabalho, vamos compreender isso melhor analisando a organização de
trabalho Taylor – Fordismo, que apresentava como características marcantes:

1 – Planejamento separado da execução;


2 – Tarefas parciais;
3 – Redução do ciclo de trabalho.

O que se estabeleceu com as fábricas de trabalho Taylor– Fordista foi a separação entre planejamento e execução, a segmentação dos
movimentos em unidades de força. Retirado o controle do trabalho das mãos do trabalhador, a transformação do trabalho em força de
trabalho.

Este modo de produção, sem espaço para a subjetividade, afeta o trabalhador, que muitas vezes não tem como se realizar ou
descobrir o seu potencial, perde a identidade.

Em relação à força de trabalho o mercado se posiciona de forma fulminante, veja esta afirmação de Codo: “... nenhuma diferença
entre a compra no mercado de um datilógrafo ou de um soldador, ambos valem enquanto força de trabalho capaz de realizar
mercadoria”. O ambiente de trabalho anula a força transformadora do trabalhador. Codo complementa: “Os homens apagam-se
frente ao trabalho”.

Não se pode negar que a indústria atingiu um grande aumento na produtividade com as contribuições de Taylor e Ford, mesmo assim,
os ritmos de produção em pouco tempo chegaram a um limite raramente ultrapassado.

Vamos esclarecer, o que se estabeleceu foi uma relação de compra e venda da força de trabalho, uma disputa por índices de
reajuste salarial ou de produtividade, (capital versus trabalho). Com os avanços tecnológicos e máquinas mais eficientes, quem iria
operar as máquinas? Um trabalhador sem instrução? Aquele segmentado sem poder de decisão? Claro que não. Codo nos apresenta
este homem preparado e o tipo de intervenção feita: ”É preciso um homem capaz de tomar decisões, adivinhar os problemas a tempo
de preveni-los e eis os departamentos de recursos humanos, invertendo todos os sinais. Agora é preciso decisão, participação,
envolvimento dos trabalhadores.” (CODO, 1999)

Outros avanços também foram implementados, como reorganização dos espaços de trabalho, células mais autônomas, etc. A própria
imposição das relações de produção impulsionou o conflito capital X trabalho. Um conflito que se retroalimenta; as queixas dos
trabalhadores (suas lutas) proporcionam aperfeiçoamentos dos próprios processos produtivos, no fim desta conta tudo impulsiona a
“máquina” de produção...

3 – Dualismo paranoico: Socialismo/ Capitalismo

A concepção ideológica que permeava as relações de trabalho no Século XX podia ser facilmente dividida em Socialismo / Capitalismo,
onde cada um serve de ameaça e ao mesmo tempo de impulso ao desenvolvimento do outro.

Os interesses dos trabalhadores eram considerados como socialistas, já as iniciativas do empresariado, vistas como exploração das
classes, serviam ao capitalismo. Assim, o mundo do trabalho passou a apresentar uma lógica dualista, um modelo de estruturação
paranoide.

Este dualismo impulsionava tal lógica paranoide, onde o inimigo poderia estar em qualquer parte. Mas com a queda do comunismo,
“desapareceu” o inimigo. E agora? Se a empresa não está andando bem, não é mais culpa do comunismo, a empresa terá de lidar com
ela mesma...

Não há mais um inimigo externo a vencer. Codo explica: “Esvai-se o sonho fácil da revolução conquistada a golpes rápidos no aparato
político. A mudança só poderá ser atingida cotidianamente, com métodos que se organizam e se solidificam na prática cotidiana, há
que mudar todos os dias, enfrentar cada opressão, cada injustiça, ali onde ela estiver”. Agora se vive o problema de ser o próprio
inimigo.

Propostas urgentes, mas carentes...

De qualquer forma, as condições de trabalho continuam em transformação e é necessário acompanhar as condições psicossociais para
o desenvolvimento da subjetividade no trabalho e definir um diagnóstico colaborador de ações preventivas na relação trabalho -
trabalhador.

O reconhecimento do “circuito de significados” para o trabalhador é fundamental para compreender os modos de reapropriação ou
como o sofrimento pode embargar sua saúde mental. De uma forma geral, não é possível resolver estes problemas sem intervir nas
condições de trabalho.
Com a “falência” dos pilares que o sustentavam, inevitavelmente, vem a crise do trabalho, para combatê-la surgem três movimentos:
qualidade, participação e saúde mental.

1 – Qualidade:

Os objetivos dos programas de qualidade visam à satisfação total dos clientes, fato que não pode ocorrer sem a qualidade integral do
produto ou serviço, a qualidade das rotinas da organização, do treinamento, informação, sistema etc. E também a qualidade do custo
do produto ou serviço, o atendimento no local, no prazo e na quantidade requerida. Segundo o autor estes objetivos não são novos,
Ford já se preocupava com isso, a novidade são as estratégias elaboradas para isso, discriminadas abaixo:

• Divisão da fábrica em pequenas fábricas (todas as unidades numa só fábrica centralizam o controle);
• Produção de lotes menores (diminuição dos estoques auxilia a visualização dos problemas);
• Controle da qualidade na produção (o trabalhador capacitado verifica a qualidade);
• Ações para assegurar a produção sem interrupções (grupos de qualidade, prêmios de produtividade, manutenção preventiva, etc.).
Para Codo o movimento da qualidade total, é somente mais uma moda imposta das organizações que revela as exigências do trabalho
no final do século XX. Quer refazer os vínculos entre trabalhador e seu trabalho, os programas de qualidade visam, assim, redirecionar
a força de trabalho, ao trabalho composto de significado. Mas não atinge tal objetivo como deveria.

2 – Participação:

A democracia nas organizações é o controle sobre o processo de produção. Hoje o repensar das relações de trabalho já possibilitou
avanços em fábricas como a Volvo, Toyota e ABB. Os princípios Tayloristas não são mais seguidos ao pé da letra, modificações ou
rompimentos são uma verdade. As “novas tecnologias” como gestão participativa, flexibilização dos tempos, células semiautônomas e
outras, visam aumentar a participação do trabalhador no processo de trabalho.

Vamos pensar agora, porque o trabalhador conseguiu este espaço? O trabalhador ter o controle do trabalho não traria perda da
produção? A resposta é não. O que foi constatado, por isso permitido, é que melhores resultados foram atingidos tanto de
produtividade, como qualidade e eficiência. Sutilmente, afirma Codo: ”Ganha-se de Ford em seu próprio território”.

3 – Saúde mental no trabalho:

As pesquisas e trabalhos de Codo indicam que há uma demanda cada vez maior de saúde mental no trabalho. (trata-se de um
fenômeno mundial.) Parte do pressuposto de que é na reconstrução dos vínculos subjetivos com o trabalho que está o impasse e a
saída para a crise da ruptura afeto- trabalho.
Aponta que não há nada mais subjetivo do que a doença mental, as dores de um trabalhador são diferentes das dores de outro. O seu
sofrimento pode ser detectado pelos sintomas, quadro clínico, efeitos da organização do trabalho etc. Mas o seu significado não é
igual para todos. Não é possível, assim, compreender totalmente a doença mental, pois ela se encontra no que há de mais íntimo no
sujeito.

É preciso iniciar uma avaliação do estado subjetivo dos trabalhadores, compreender os seus significados, caso contrário, não há
avanços na construção de um trabalho que resgate a cidadania.

PARA FIXAR:

• Qualidade: visa à satisfação total do cliente;


• Participação: visa aumentar a participação do trabalhador na produtividade;
• Saúde mental no trabalho: visa o bem-estar do trabalhador para evitar as doenças.

Cidadania e saúde mental

Segundo Codo o fascínio e o dilema da cidadania é que ela é, ao mesmo tempo, única e múltipla, pública e privada, civilização, autor
de si.

De acordo com suas pesquisas, as relações entre saúde mental e trabalho são difíceis de detectar. Como ter certeza que os resultados
se relacionam com o trabalho propriamente dito? Mais um ponto complicado é que o modo como o trabalho se organiza esconde suas
determinações: “O patrão não paga pelo o que está comprando e o trabalhador não vende o que parece que está vendendo.” (CODO,
2006)

Sem falar na dificuldade de reconstruir os nexos indivíduo-sociedade, principalmente quando se fala de sofrimento psíquico. Não fica,
então, difícil intuir que existem muitos trabalhos sobre saúde mental e trabalho no Brasil, que são mal feitos, de conclusões duvidosas
e irresponsáveis. Mas como isto atinge o trabalhador cidadão?

Estes estudos irresponsáveis de militância oportunista utilizam-se da “dor do trabalho” para objetivos políticos. Suas consequências
são perigosas à própria saúde do trabalhador: “A consciência do risco comparece como fator ansiogênico que potencializa o próprio
risco.” (CODO, 2006)

Uma proposta de trabalho capaz de revelar dimensões de trabalho invisíveis, o impacto do trabalho sobre o trabalhador. Quando o
trabalho cria o sofrimento pode-se tentar entender a sua lógica, esta tarefa de compreensão é um instrumento de recuperação da
dignidade do trabalhador, portanto, uma ação promotora de cidadania.
As normas do trabalho são boas e ruins?

A organização do trabalho determina as relações humanas na empresa. As normas ditam o comportamento do trabalhador e as
relações sociais deste ambiente. Para a continuidade da produção as máquinas recebem manutenção e reparos periódicos essenciais.
Os trabalhadores, nesta mesma linha, recebem as normas de conduta e disciplina hierárquica para a continuidade da força de
trabalho. Os manuais invadem a própria privacidade do trabalhador para assegurar as metas de produção.

Mas as normas são relativizadas na empresa, em nenhum lugar as normas são 100% cumpridas. Existe uma situação de complacência,
que gera ao trabalhador uma “dívida” a pagar ao supervisor de seu trabalho. Assim, perdoar a falha do trabalhador com as normas
reforça ainda mais o controle sobre o trabalhador. Afinal, ele lhe deve algo...

O trabalhador, nesta situação, não quer a relativização. Ela o impede também de lutar pelo o que já foi estabelecido e, portanto,
pode ser cobrado pelos dois lados, pois, toda regra controla o trabalhador e também o seu controlador. As “leis” possibilitam certa
dignidade ao trabalhador porque não se transita só no âmbito do favoritismo e do supercontrole. Além disso, as normas permitem as
lutas coletivas para mudanças das regras e ou revisões necessárias.

A identidade agora está no bolso!

Nossa identidade apresenta características bastante peculiares e paradoxais: cada ser humano é único, mas ao mesmo tempo se
reconhece no outro e vice-versa. Veja esta questão de identidade e espelhamento por Codo: “Cada um de nós é um, não se confunde
e não se espelha em nenhum outro, ou, o que quer dizer o mesmo, cada qual pode (em potência) trocar e se reconhecer, em tudo e
em todos”. (CODO, 2006)

O autor chama a atenção também para o papel do trabalho na produção da identidade. Ele determina o tipo de troca que o homem
estabelece com o seu meio (CODO, 1992). O trabalho exige bastante do nosso tempo, em geral, muito mais de um terço do dia.
Logicamente, boa parte da vida do trabalhador é representada pela qualidade do que realiza em suas atividades. Quando o homem
demonstra seu trabalho, as outras pessoas identificam e destacam seu comportamento, suas habilidades e, muitas vezes, até
expressam verbalmente sua impressão e ou guardam um conceito sobre o trabalhador.

O trabalho determina o tipo de troca que os homens vão estabelecer com o seu meio, muitas vezes é apenas através dele que
os homens se identificam.

Assim, torna-se importante perceber e refletir sobre qual é esta impressão que as pessoas constroem sobre ele, via trabalho contínuo.
Uma imagem que também auxilia na construção da identidade que também se forma neste processo. Indo mais além CODO afirma: “O
trabalho é o portador de uma lógica estruturante. Trata-se de que as atividades são portadoras de um modo de ser, de se comportar
etc.” (CODO, 2006)

Sobre o reconhecimento da identidade, Codo argumenta: “A permanência de um trabalhador em uma categoria profissional instala um
jogo de espelhamentos na trama social, que a torna referência conceitual obrigatória na análise do fenômeno da identidade social.”
(CODO, 1992)

Nossas atividades no trabalho, profissão em exercício, são capazes de delinear nosso comportamento. Infelizmente esta ação
estruturante está sendo arruinada frente à organização do trabalho servidor do capitalismo. Codo afirma: “O advento do capitalismo
instaura a equação mercadoria – dinheiro-mercadoria, instalando a possibilidade de troca de tudo por tudo, portanto, de todos com
todos.” (CODO, 2006)

O trabalho hoje, ineficaz em seu papel na produção da identidade, repassa esta função para o valor remunerado, veja esta afirmação:
“... o salário, o pagamento pelo tempo de trabalho vendido para a empresa, passa a representar para o trabalhador o vínculo entre a
produção e o consumo, uma forma de reapropriação de sua identidade como sujeito”. (CODO, 1993)

Mediante salário, o trabalhador apresenta sua escala de acesso à educação, lazer, cultura, tempo livre e etc. Quando ele atende suas
necessidades pessoais ele aparece como sujeito/ cidadão. Quem nunca ouviu comentários do tipo: “João pratica esgrima! Ele faz isto
porque está bem no emprego, ele pode!” Veja mais um: “Maria é voluntária na comunidade, ela tem tempo”! Mas também com o
salário que ela ganha! Hoje, vivenciamos esta situação intrincada do papel do trabalho, capitalismo e salário na formação da
identidade.

Relação do trabalhador com o trabalho: artesanal ou industrial, não é tudo igual?

O produto do trabalho tem papel importante nas relações entre saúde mental e trabalho. O trabalho artesanal ainda se apresenta de
forma subjetiva, criado pelo artista, pessoa hábil e capaz de modelar o seu resultado. Existe um grau de controle de seu trabalho, um
sentido subjetivo presente em seu produto. Já um trabalhador de linha de montagem estabelece uma relação diferente com o seu
trabalho caracterizado por outro grau de controle sobre o produto, um sentido de perda do conteúdo subjetivo ou mesmo em relação
à condição de sua recuperação. Esta relação diferenciada do trabalho do artesão e do metalúrgico acaba atingindo diferentes
consequências psicológicas.

Produto do trabalho: o trabalho artesanal possibilita certo grau de controle e um sentido subjetivo ao produto. O trabalho
industrial possibilita perda do controle subjetivo. Tudo que faz parte da história de vida das pessoas carrega um forte
simbolismo.
Relação afetiva com o trabalho

A tônica da abordagem de CODO é a ruptura entre trabalho e afeto, exacerbada pela organização científica do trabalho. É
interessante como os objetos que rodeiam a nossa vida tornam-se empregados de afetos, que podem ser bons ou ruins mediante o que
ocorreu na presença e ou com este objeto. Os objetos que fazem parte de nossa história carregam um forte simbolismo, assim como
os lugares em que passamos e, claro, as pessoas com quem convivemos.

O que dizer, então, do nosso trabalho? Imagine quanto afeto não depositamos ali. Quando produzimos um objeto ou executamos uma
tarefa estamos imantando este produto, de certa forma, de algo que representa nosso afeto. A carga afetiva que surge no trabalho é
transportada ao produto, exemplifica Codo: “Quando trabalhamos em condições gratificantes, gostamos do produto realizado, alguns
até se apaixonam por ele, como os escritores. Mas quando trabalhamos subjugados, imprimimos raiva ao produto”. (CODO, 1993)

Com o capitalismo é feita a cisão entre o afeto e o trabalho. O modo de produção transforma o trabalho subjetivo de cada um em
força de trabalho, o que se produz é uma mercadoria igual à de todos, não há mais espaço para a subjetivação: “O melhor trabalho é
o que se torna capaz de eliminar a marca pessoal do trabalhador”. (CODO 1993)

O sofrimento parte desta linha, veja a explicação de Codo: “Sofrimento humano é a dificuldade no processo de significação. Quando
as palavras e os gestos não alcançam o outro (“não me compreendeu”), quando o esforço no trabalho se revelou inútil, ou quando não
alcanço o significado do gesto. Rotina, por exemplo, é praticamente sinônimo de um trabalho sem significação”. (Codo 1999)

Nas tentativas de reativação do afeto, o ambiente de trabalho torna-se uma via de expressão onde, por exemplo, laços pessoais,
ironias, fofocas e relações informais no trabalho procuram suprir a desafetivação do trabalho.

Trabalho + Capitalismo = evapora até a afetividade da família!

Hoje o homem sofre com a falta de “subjetividade” no exercício de seu trabalho, mas depende deste para sobreviver. Uma genuína
expressão humana é suprimida neste processo. Segundo Codo, o trabalho e sua relação com o capitalismo apontam para um forte jogo
de controle do homem. Ele pertence a dois campos do mundo socioeconômico que são a produção (trabalho) e reprodução (consumo).
Veja esse comentário: ”No campo da produção, enquanto realizador de trabalho alienado, o sujeito se consome, mas, enquanto
realizador de trabalho (gerador de bens, construtor de identidade, metabolismo homem-natureza), o sujeito se produz. No campo da
reprodução, enquanto realizador de consumo alienado, sujeito se consome, mas, enquanto realizador de consumo (geração de filhos,
construção de tempo livre, de nutrição e de relações sociais para além do trabalho), o sujeito se produz”. (CODO, 1995)

Perceba que o homem tem liberdade para consumir o que quer, mas torna-se dependente deste consumo para expressar sua
identidade e o que consumir e “expressar” tornam-se literalmente ditado pelo salário.

Mas não é o próprio trabalho o portador da subjetividade humana? Não é ele que também dá sentido à vida? Sim, claro. Mas isto só
ocorre quando o trabalho não impede a expressão humana e não o reduz a uma simples força de trabalho como ocorreu desde a
Revolução Industrial e o modo de produção das grandes indústrias. Quem é o responsável? Eis o capitalismo nesta ruptura entre
trabalho e afetividade.

Na relação capitalismo/trabalho o homem assumiu o papel da “razão capitalista” e se apresentou de forma objetiva e analítica em
suas ações na sociedade. Neste momento ficou a mulher mais caracterizada pela sensibilidade, intuição e afeto.

Mas com o próprio avanço da relação capitalismo/trabalho e a “convocação” da mulher para o mercado de trabalho, a clássica divisão
de papéis na existe mais, a mulher começa a sofrer, assim como o homem, da mesma impossibilidade de subjetivação em suas
atividades. A expressão afetiva da família evapora-se...

Reapropriação - a luta do trabalhador

Um homem alienado é aquele que não tem mais domínio de si, o trabalho alienado surge no modo de produção capitalista e tira do
homem o domínio subjetivo que tinha daquilo que produzia: “Agora o trabalhador se estranha perante o seu produto; perante si
mesmo”. (CODO, 1993)

Esta situação demarca uma forte ruptura entre a sua objetividade e subjetividade (relação que lhe equilibra e confere controle de si
mesmo e o meio). Deste modo o homem passa a ter sua saúde mental ameaçada. Em busca da reapropriação sujeito - objeto (S – O) o
homem desenvolve mecanismos capazes de lidar com as rupturas. Leia mais este comentário de Codo: “Durante a evolução do
trabalho, o homem vem sofrendo “perdas sucessivas” neste processo de construção de si mesmo. A cada uma destas perdas deve se
contrapor uma forma de repropriação.” (CODO, 1999)

Tais saídas podem ser reais ou mágicas e visam a sua proteção. No Real (efetivo), por exemplo, pode ser a atuação sindical que
procura atuar no lócus da ruptura, ou seja, no próprio trabalho. E mágica, quando não atua na situação lócus, mas restaura a
reapropriação, como no esporte, que torna lúdica a situação de cooperação e competição típica do trabalho na sociedade capitalista.

Uma reapropriação a nível individual é “voltar” a uma situação onde o controle já existia. Veja o exemplo: químico com uma
complicada fórmula que não consegue manipular e coloca a culpa no estagiário que transportou os elementos anteriormente.

De acordo com CODO, a doença mental ocorre apenas quando os modos de reapropriação falham. O risco do sofrimento psíquico
advém dos momentos significativos (onde se marca um sinal). O homem é um produtor de significados, onde precisamos compreender
como ele significa sua própria vida, como no trabalho: “O trabalho é o momento significativo do homem, é a possibilidade da
felicidade, da liberdade, da loucura e da doença mental”. (CODO 1993)

Codo (2004) sustenta que nenhum evento apresenta uma relação linear com a psicopatologia ou com a “normalidade”. O que
se pode dizer é que alguns eventos aumentam a probabilidade de ocorrerem manifestações psicopatológicas.

Dessa forma, existe a possibilidade de se estudar a probabilidade que um trabalho tem de instalar alguma psicopatologia, sendo que
os fatores de risco para esta instalação seriam “todos aqueles que são importantes para a construção da personalidade e da
identidade, ou ainda da interação entre elas. A sexualidade, a infância, a escola, os grupos na adolescência, o gênero, o trabalho”
(CODO, 2004, p. 15).

Como a expressão do sofrimento do trabalho é jogada para fora dos limites do ambiente de trabalho sua expressão em casa é uma
reprodução do sofrimento que se manifesta em doença, violência, dependência.
É quando o trabalho inventa o sofrimento que podemos entender sua lógica. Tarefa árdua, “... tarefa promotora de cidadania, na
medida em que transformaria os estudos sobre saúde mental e trabalho em um instrumento de recuperação da dignidade do trabalho”
(CODO, 1992).

Modos de reapropriação *

Enfrentam a contradição tal e qual se apresenta.


Efetivos
Ex: Reunir para diminuir o tempo de trabalho

Conteúdo
Reapresentam a contradição sob outra forma, ou sob
outro conteúdo.
Mágicos

Ex: Se recusam a ver o relatório de rendimento.

Operam uma simplificação da contradição visando


torná-la operacional.
Redutores

Ex: “Dormi mau nesta noite, por isto não rendi.”


Espaço
Transfere a dinâmica do conflito para sets distintos de
onde ocorre.
Deslocadores

Ex: Chutar o cachorro.

Quando a contradição é suposta como solúvel no tempo


presente
Coetâneos

Ex: “Existe vastas e conhecidas opções para min.”

A saída é o retorno à situação anterior sobre a qual


havia controle
Dimensão
Retrospectivos
temporal
Ex: “Ai, ai cadê os bons e velhos tempos da outra
diretoria.”

Quando o estado presente é suportado pela solução no


futuro
Prospectivos

Ex: “me realizarei na aposentadoria!”

As manifestações dos modos de reapropriação não são puras, pode assim, existir diversas combinações!

Crítica a Dejours, Codo apresenta uma análise crítica da obra de Dejours conhecida por psicodinâmica do trabalho. Um dos pontos
mais fortes da discussão de sua obra é pelo fato do foco do trabalho de Dejours ser centrado somente na análise do discurso do
trabalhador. Busca-se o inconsciente, não é importante em seus estudos o trabalho real. Não se examina o trabalho, o que se busca é
a escuta psicanalítica do trabalhador.
Acompanhe esta afirmação de Dejours: “A objetividade dos fatos não nos preocupa essencialmente. Nós pedimos de empréstimo a
inspiração psicanalista que preconiza o interesse, antes de tudo, ao que diz o paciente mais do que a realidade, no geral deformada,
sobre a qual fala”.

Codo critica o seu método psicanalítico: como a psicanálise poderá compreender as situações concretas de trabalho? Se a vivência
subjetiva do trabalhador é o que interessa a Dejours, como é possível acessar o sofrimento do trabalhador no trabalho, sem pesquisar
o trabalho?

Outro ponto de crítica se aplica ao conceito de ideologia defensiva, sendo ela uma defesa contra o sofrimento que se torna um valor a
ser defendido pelo grupo. Mas as ideologias são produzidas pelos grupos sociais, não é no trabalho, elas se desenvolvem nas relações
sociais!

Mais tarde, Dejours procura se desvencilhar da teoria psicanalítica como base e passa a criticá-la, mas mantém o método de
investigação psicanalítico (fala, escuta, interpretação). Dessa forma, Codo, critica os escritos de Dejours por não apresentar
coerência interna em seus textos, além das próprias contradições.

Acompanhe, agora, esta síntese de Codo sobre o trabalho do teórico francês: “Dejours quer ouvir a fala interdita do trabalho, quer
exercitar a psicanálise e fazê-la enfrentar o real do trabalho, quer fundar uma nova ciência. Que tenha boa sorte. Que a
psicodinâmica do trabalho possa adquirir um pouco mais de trabalho real e um pouco menos de empáfia. Deve lhe fazer bem”. (CODO,
2000)

Assim, fica claro que apesar de respeitar o trabalho do pesquisador Dejours, Codo não o acompanha em sua psicodinâmica do
trabalho. Codo segue com a psicologia do trabalho valorizando sempre, onde ocorre o trabalho, a economia e a sociedade.
Preocupa-se com o trabalho e a ruptura do seu significado ao homem contemporâneo, sendo este (o trabalho), para o autor, um
elemento chave da doença mental.

4 - A Organização do trabalho e seus impactos sobre a vida dos trabalhadores


Vários autores já apresentados aqui apontaram a importância que a organização do trabalho tem para a vida das pessoas. Para
explorar melhor essa temática, lançaremos mão da contribuição de Ana Isabel Bezerra Paraguay, que enfatiza aspectos bastante
relevantes acerca dos impactos que uma organização pode trazer para os trabalhadores.

Falar de organização do trabalho significa dizer como esse trabalho é estruturado, quais as ideias principais que o nortearam, como e
por que deve ser feito. Para se avaliar e/ou estudar uma organização do trabalho, é preciso realizar uma análise de alguns aspectos,
suas inter-relações e seus impactos. São eles: o conteúdo do trabalho, a alocação de pessoas, as normas, os modos operatórios. Sendo
assim, é muito importante avaliar como o conteúdo do trabalho é dividido entre as pessoas, quais as normas que elas precisam seguir
e as exigências das atividades em relação ao ritmo, tempo, etc.

É fundamental levar em consideração que por mais que ocorra uma organização, um planejamento, nem tudo no trabalho é
programado e formalizado. Todo trabalho possui uma parte prevista, bem planejada, idealizada e outra parte mais concreta, ou seja,
como é realizado na prática, afinal imprevistos sempre podem acontecer.

Em virtude disso, para se propor qualquer intervenção que tenha como objetivo modificar e melhorar uma organização de trabalho, e
consequentemente intervir na saúde do trabalhador, é necessário conhecer as regras, as normas de produção, o conteúdo previsto,
mas também as condições de trabalho tal qual ele é, de forma concreta. Para se pensar de forma efetiva em organização do trabalho,
tem-se que pensar também em seus fundamentos, identificar e refletir acerca dos preconceitos e realizar um exercício de
aprendizagem para melhor conhecer a abordagem econômica e da gestão do trabalho.

Não basta apenas analisar as estruturas e as prescrições organizacionais, como identificar organogramas, cargos, funções,
fluxogramas, procedimentos e rotinas. Só essa análise não constitui a organização do trabalho, pois esta é extremamente dinâmica e
concebida também através das vivencias e percepções de todos os envolvidos. Apesar do termo organização do trabalho abarcar as
questões de produção, normas, modo operatório, divisão de tarefas, meios e materiais para o trabalho, exigências temporais, é
preciso lembrar que também há questões para, além disso. Os princípios de trabalhos tayloristas, já apresentados nas páginas
anteriores, pretendem controle e garantia de um modo específico de realizar o trabalho, sempre levando em conta a questão da
produção. Apesar de parecer que não, de já serem ultrapassados, os princípios tayloristas ou fordistas continuam fazendo parte do
cotidiano não só de indústrias, mas também de algumas empresas, o que pode ser percebido através dos seguintes princípios:

1 – Identificação, catalogação, controle dos tempos e movimentos pela análise científica do trabalho. Isto implica em uma redução
dos trabalhadores às normas preestabelecidas, a gerência acaba inferindo um padrão a ser cumprido através da intensificação do
trabalho, e do aumento do ritmo para consequentemente ocorrer o aumento da produção. Os treinamentos e as avaliações são sempre
pautados em um modo operatório imposto.

2 – Seleção e Treinamento. Isto significa encontrar ou treinar o trabalhador para se encaixar nas exigências impostas para execução
do trabalho, atendendo à demanda da gerência.

3 - Planejamento e Controle do Trabalho pela gerencia. Isto significa que a gerencia tem o poder de planejar o trabalho de cada um,
direcionando as instruções e modo de realização da tarefa, sem dar espaço para construção dos trabalhadores.

Para se contrapor a um modelo de trabalho e de trabalhador simplista, é necessário conhecer e levar em consideração outras áreas de
conhecimento. A ergonomia vem trazer uma importante contribuição, chamando a atenção para se conhecer a realidade do trabalho.
Isto pelo fato de haver uma grande variedade de maneiras de se executar o trabalho, mesmo em atividades automatizadas (o
trabalhador não é uma pessoa estática, vai interferir e ser interferido pelo ambiente). Além disso, a natureza das tarefas também
nunca são iguais. Desta maneira, é possível perceber que mesmo quando uma tarefa parece ser simples, repetitiva, e já bem
aprendida, não significa que ocorra reduzida participação ou demanda mental por parte do trabalhador. Mesmo quando já se domina a
tarefa, ocorre o monitoramento por parte do trabalhador, de sua execução. Contrapondo, portanto o modelo taylorista, as teorias
sobre organização de trabalho que vieram após esse período histórico e as outras áreas de conhecimento (psicologia, sociologia,
ergonomia) têm em comum o reconhecimento de que o modelo de trabalho e de homem precisa levar em consideração aspectos
psicofisiológicos e aspectos da empresa. Por causa disso, para compreender e também agir sobre uma organização de trabalho é muito
importante conhecimentos teóricos e práticos de várias áreas e também conhecimento de métodos e técnicas de investigação
científica.

Para se investir em uma análise de uma organização do trabalho, utiliza-se de métodos e técnicas. Para isso, é de extrema
importância conhecer bem os mesmos antes de utilizá-los.

É preciso também que se tenha conhecimento de como os métodos e técnicas foram construídos e usados anteriormente. Isto é
necessário porque antes de se aplicar algum instrumento é necessário identificar os conceitos ou o referencial teórico que o
fundamentaram, o objeto de investigação, os objetivos principais. Levando em consideração que a organização de trabalho possui
níveis de complexidade crescentes é muito difícil abordar todos os aspectos e níveis. É preciso escolher alguns de seus aspectos ou
níveis para serem estudados e abordados, dentro de uma determinada perspectiva. Para isso é preciso considerar:

• Os aspectos mais visíveis, manifestos da organização de trabalho e os conceitos subjacentes adotados em relação ao trabalho
propriamente dito e também em relação aos trabalhadores.
• Os aspectos específicos e suas inter-relações com a saúde e o bem estar dos trabalhadores.

Somente com conhecimento teóricos mínimos é que se pode buscar entender uma organização de trabalho com o intuito de
intervenções no que diz respeito à melhoria para a saúde e bem-estar dos trabalhadores. Além disso, para se estudar a organização de
trabalho é necessário também coletar informações acerca de aspectos da vida no trabalho e fora dele. Investigar o significado que o
trabalho ocupa na vida do trabalhador e a importância que têm, bem como a atividade prescrita e a atividade real.

Para propor medidas que vão interferir na organização do trabalho é necessário o uso criterioso de métodos e técnicas que levem em
consideração: o trabalho, os meios/materiais de trabalho, os impactos do trabalho sobre o corpo, a saúde e o bem estar do
trabalhador.

Para se enveredar por esse caminho, é fundamental que os profissionais interessados por essa área estejam dispostos a aprender e a
ampliar as suas áreas de abrangência. A partir dessa disponibilidade, é preciso então se debruçar sobre a organização do trabalho,
privilegiando o contexto da empresa ou do setor que se pretende estudar. Isto para se obter uma compreensão geral a respeito da
história, evolução, situação atual, práticas gerenciais, administrativas, para assim, obter informações consistentes sobre a estrutura
e o funcionamento real. Conhecer como a empresa se situa em seu setor e no mercado de trabalho e quais os problemas mais
emergentes.

A partir daí, se propõe um diagnóstico ou avaliação de sistemas, situação de trabalho. Como se desenvolve o trabalho (teórico e real)
em situações já elencadas. É preciso ressaltar que métodos e técnicas que combinam dados quantitativos e qualitativos são
extremamente úteis para a compreensão fidedigna da realidade.

Para levantamento de dados, as ferramentas de coleta e análise são utilizadas por várias áreas do conhecimento, podendo ter
o seu foco voltado mais para o ambiente ou para o humano, mas é recomendado que as avaliações sejam concomitantes e que
integrem os dados de postos e situações de trabalho e também os aspectos psicofisiológicos, da saúde física e mental dos
trabalhadores. Durante o processo, é preciso estar atento para as prioridades, as possibilidades e as perspectivas de
intervenção.

Outro ponto relevante é que a coleta e tratamento de dados devem ser feitas com cuidado. Deve-se estar atento, por exemplo, ao
solicitar dados para profissionais da área administrativa, pois se corre o risco deles apresentarem dificuldade para compreender o tipo
de dado que realmente interessa como serão utilizados e sua importância. Devido a isso, é necessário pensar e consolidar formas de
coleta e análise de dados que sejam apropriados, com implantação e elaboração de processos e rotinas para fornecimento de
informações confiáveis e atualizadas. Isto só vai acontecer com a existência de pessoal treinado e capacitado para coleta e análise de
dados.

Após a obtenção, análise e compreensão dos dados estes não devem ficar restritos às áreas ou aos profissionais que efetuaram o
estudo. É muito importante que sejam divulgados para todos os interessados (principalmente para a empresa ou setor-alvo do
estudo). Para divulgar os dados obtidos, pode-se utilizar de reuniões devolutivas, palestras, cartazes, campanhas, etc. Além da
entrega de um relatório gerencial, contendo a proposta, os objetivos e resultados da avaliação. As informações a serem divulgadas
devem ser adequadas ao público-alvo, contendo informações claras que possam incentivar apoiar ou subsidiar possíveis melhorias.

Como recurso de complementação de dados, pode-se utilizar a estratégia de avaliação qualitativa. As técnicas usadas podem ser
questionários específicos, análise de conteúdos de verbalizações, material escrito, grupo focal e/ou pesquisa-ação.

Para se intervir em uma organização de trabalho é importante: conhecimento teórico, utilização criteriosa de métodos e
técnicas de investigação, coleta análise e compreensão de dados. Após isso, divulgação dos dados a todas as pessoas
interessadas.
É possível concluir, após toda essa explanação, que não há condições de adotar uma posição simplificadora sobre a organização do
trabalho, uma vez que este ocupa um papel de suma importância para a vida das pessoas em geral. Dessa maneira, entender, avaliar,
implantar e propor melhorias em uma organização de trabalho é um grande desafio, que convoca profissionais de várias áreas para se
lançarem sobre tão envolvente tema.

5 - Ergonomia
Adequar o trabalho ao homem tornou-se um desafio. As máquinas e instrumentos utilizados no trabalho estão em constantes
modificações e implementos tecnológicos que são considerados “avanços” de nossa sociedade.

Neste movimento de constante transformação temos também as próprias rotinas de trabalho, como o trabalho é organizado. Mas e o
homem? Como fica a sua capacidade de adaptação ao trabalho em permanente transformação? Temos que nos preocupar com a sua
capacidade física e mental para garantir sua saúde.

Com o objetivo de compreender e intervir na adequação do homem ao trabalho, avaliando suas capacidades e necessidades e avaliar
também os instrumentos de trabalho e o meio ambiente nesta inter-relação, surge a ERGONOMIA.

ERGONOMIA, palavra de origem grega, que significa ERGON = trabalho e NOMOS = regras/normas, as leis que demarcam o
exercício do trabalho.

“A Ergonomia enquanto disciplina científica possui como objeto de conhecimento o funcionamento do homem em atividade de
trabalho, e esta é a sua especificidade teórica. Seus objetivos são conhecer o trabalho, do ponto de vista da atividade de trabalho
para transformá-lo, intervindo em situações de trabalho.” ( Echternacht, 1998)

A Ergonomia preocupa-se com a saúde global do trabalhador, busca preservar sua saúde física e mental e promover eficiência,
segurança e conforto. E alerta para o fato que a capacidade do trabalhador de suportar a sobrecarga física e mental é singular. Fica
fácil perceber que as “adequações” não são simples de se realizar. Tudo isso a Ergonomia precisa levar em consideração, sem perder o
seu objetivo prático que é a segurança e o bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento com os “sistemas” de produção.

O trabalho possui um papel significativo na vida das pessoas. É um dos importantes fatores que interferem diretamente na construção
e desconstrução da saúde. Saúde e trabalho se relacionam com diferentes níveis da realidade humana como o pessoal, social e
“fisiológico”. Em busca de compreender os fenômenos envolvidos neste processo é necessário conceber o conceito de saúde de uma
forma mais ampla.

Um conceito que possa abranger aspectos econômicos e também sociais. Infelizmente, uma abordagem de visão mais abrangente
destas questões de saúde ocupacional ainda está em recente desenvolvimento. Os estudos clássicos preconizam uma passividade do
trabalhador diante dos fatores de risco ou condições de trabalho inseguras.

A organização do trabalho, ou seja, a forma como o trabalho é estruturado e, como ele deverá ser feito, tem uma repercussão direta
na saúde do trabalhador. Para poder se pensar em modificar e até melhorar uma organização de trabalho, é importantíssimo conhecer
as regras, as normas de produção, o conteúdo previsto, mas fundamental também conhecer as condições reais de execução do
trabalho.

A ergonomia vem desde 1930 insistindo para se conhecer a realidade do trabalho, para a partir daí se propor intervenções. Para
apontar a intervenção da ergonomia, e sua utilidade para a saúde do trabalhador, as autoras Assunção e Lima trazem importantes
contribuições.

Ampliando o foco, Assunção, afirma: ”A nocividade está presente quando a organização do trabalho diminui as possibilidades do
trabalhador de evitar a exposição ao fator de risco (formalmente reconhecido ou não)” (Assunção, 1998) Somente reavaliando as
abordagens das ações preventivas dos danos à saúde com relação ao trabalho poderemos avançar em suas práticas.

Chamam a atenção para a dificuldade dos avanços das pesquisas e das ações preventivas, pelo fato de na maioria delas, ocorrer uma
divisão entre as disciplinas que envolvem a saúde. Torna-se difícil desenvolver uma visão complexa da relação problemas de saúde e
trabalho porque várias áreas estão envolvidas neste processo, como a psicologia, biologia, medicina do trabalho, segurança etc.

A Ergonomia precisa também levar em consideração em seus estudos, segundo Daniellou: “A Ergonomia estuda a atividade de trabalho
a fim de contribuir para a concepção de meios de trabalho adaptado às características fisiológicas do ser humano. Ela está, portanto
ancorada nas ciências da natureza, que revelam propriedades próprias do ser humano. Ela produz seus próprios resultados sobre as
condições de funcionamento do homem em situação de atividade profissional. Está enfim voltada para a concepção de meios de
trabalho, afim de que considere as características humanas e a atividade real dos trabalhadores”.

Aponta-se outro problema, em geral, os estudos que originam as normas de regulamentação das condições de trabalho não levam em
consideração a variabilidade industrial e também do serviço prestado. As normas utilizam somente o TRABALHO PRESCRITO, se
afastando, assim dos perigos reais, que é a analise do TRABALHO REAL. Não analisam o homem como um todo, as intervenções
propostas acabam baseadas no trabalho prescrito, e não no trabalho real, consequentemente não atingem o cerne do problema.

A dinâmica das atividades do homem no trabalho precisa ser reconhecida para então, poder reduzir a defasagem entre o trabalho
prescrito e o trabalho real. Assunção alerta para o seguinte fato: “É no imprevisto das situações de trabalho que se situa a explicação
dos problemas de saúde”. Assim, muitos dos estudos precisam ser revistos.
TRABALHO PRESCRITO: normas operacionais formalizadas em procedimentos ou inscritas nos dispositivos técnicos da atividade.

TRABALHO REAL: atividade realmente desenvolvida pelos trabalhadores, como ela ocorre, portanto, diferentes do trabalho
prescrito.

Hoje, a saúde ocupacional não trata somente da insalubridade (relacionada à higiene ocupacional) e da periculosidade (acidentes de
trabalho) procura-se identificar diversos tipos de risco sejam eles potenciais ou que possa efetivamente existir.

Surgiu um novo termo, relacional, que valoriza a perspectiva do trabalhador, que é a periculosidade, veja a explicação de Assunção:
”Um trabalho pode ser penoso sem que chegue a ser considerado como perigoso ou insalubre. Inversamente, um trabalho insalubre ou
perigoso, do ponto de vista de um observador externo, pode não mais ser vivido como penoso por quem o realiza”. (Assunção, 2003)
Veja um exemplo, um trabalhador ao manipular substâncias químicas (não tóxicas) pode gerar ansiedade porque ele desconhece sua
fórmula.

Mas o que é trabalho nocivo? Responde Assunção: ”O trabalho é nocivo quando constrange o trabalhador e reduz suas possibilidades de
construção da saúde. Esta construção depende das possibilidades que homens e mulheres, no cotidiano, têm para evitar os riscos,
atenuá-los ou eliminá-los durante a realização das suas tarefas, e ainda depende das possibilidades que o trabalhador teve para
desenvolver as suas competências que sustentam as estratégias de regulação de riscos”.

A penosidade pode ser percebida por restringir a liberdade de ação, impõe uma obrigação rígida, ou desconforto que gera efeitos
fisiológicos, afetivos, cognitivos ou sociais no trabalhador. Mas imprevistos ocorrem a todo o momento, por exemplo, nas indústrias,
que exigem adaptações para ainda se cumprir os objetivos. Seja uma adaptação individual ou coletiva, ele deverá ser capaz de
manter a produtividade que potencializa as situações de risco.
Segundo Assunção; “Analisar a nocividade do trabalho e no trabalho é analisar a situação que a produziu e como o trabalhador reagiu
a esta situação”. Analisar a nocividade é também avaliar a situação no qual, mesmos expostos a fatores de risco, a condições
inseguras, ou fortes exigências psicossociais, os indivíduos não apresentaram queixas.

A ergonomia procura identificar os traços manifestos ou registrados pelo trabalhador quando realiza as suas atividades no
cotidiano do trabalho, como o adoecimento se manifesta.

Grande parte das pesquisas acerca dos problemas de saúde no trabalho remete aos fatores de risco de uma doença, (maior
probabilidade de que determinada doença venha se desenvolver). No entanto, muito mais importante que reconhecer a presença de
riscos é conseguir compreender como um fator determinado pode afetar o corpo do trabalhador, o que só é possível realmente quando
se compreende a atividade desempenhada tal como ela é. Daí a importância da ergonomia ser bem empregada.

Não é muito clara a relação entre risco-doença quando os problemas de saúde são relacionados ao trabalho. E um aspecto importante,
é que não se deve restringir os estudos apenas ao caráter clínico-diagnóstico, pois se precisa analisar também os determinantes
sociais do processo de adoecimento. Mesmo assim é preciso compreender que o sofrimento não perde o seu caráter singular: pessoas
diferentes expostas às mesmas situações não apresentam, necessariamente, queixas e adoecimentos semelhantes.

Difícil estabelecer a relação risco-doença relacionado ao trabalho. Tudo precisa ser considerado, inclusive determinantes
sociais do processo de adoecimento.

A análise ergonômica do trabalho necessita desenvolver técnicas de observação que não utilizem somente check lists padronizados,
que exclui o que o trabalhador poderia apresentar de mais singular e apenas reconhece a presença de riscos já esperados e contidos
no instrumento.

O que se precisa saber é como determinado fator afeta o trabalhador por se compreender como executam as atividades de seu
trabalho.

Risco e condições inseguras no trabalho são devidamente analisados quando vistas em suas relações com o trabalhador de forma
global. Acompanhe esta relatividade no comentário de Assunção: “Os fatores de risco presentes nos ambientes de trabalho se
combinam quando eles agem sobre o organismo. E, além disso, um fator de risco tem repercussões variadas sobre o corpo”. [...] os
fatores de risco podem ter consequências sobre vários aspectos da vida do indivíduo (Assunção, 2003).

Um fato que reforça esta afirmação: os resultados de pesquisas em epidemiologia ocupacional determinam “limites de exposição” do
trabalhador, mas as reações ocorridas são diferentes de um indivíduo para outro sem falar da influência da forma como cada um faz o
seu trabalho.

Veja esta ponderação dos epidemiologistas em relação a forte associação de um fator de risco no trabalho como elemento causador
de uma doença: “isso não quer dizer que todos os indivíduos com o fator de risco vão necessariamente desenvolver a doença, não que
a ausência do fator de risco garanta que ela não se desenvolverá”. (Mausner e Kramer, 1984)

A ergonomia e a análise ergonômica do trabalho (AET) apresentam-se como saída, que leva em consideração a singularidade
dos indivíduos, e das situações de trabalho. Necessita de um longo tempo de observação do trabalhador nos momentos em que
estiver realizando suas tarefas, para assim obter uma visão abrangente de todos os fatores envolvidos.
É importante ressaltar que muitas vezes os resultados de uma análise ergonômica do trabalho são utilizados de maneira equivocada
ditando novas normas de comportamento e não discutindo a situação de modo a imprimir mudanças reais.

EXEMPLO: um trabalhador que estava apresentando constantes problemas na coluna é orientado, após uma análise ergonômica, a
levantar as caixas de peças (parte de sua atividade), somente com ajuda de um colega e usando sempre as pernas flexionadas, para
assim não sobrecarregar a coluna. No entanto, a própria forma das caixas impede a aplicação dessa norma, além disso, nem sempre o
colega está disponível para carregar as caixas no momento necessário e nem há espaço suficiente para manipular a caixa a dois.

A Ergonomia, ao analisar e propor a prevenção baseada na compreensão da atividade, possui mecanismos eficazes para implementar
mudanças. Para isso, é fundamental elaborar medidas de prevenção considerando as atividades mentais e físicas implicadas na ação,
os diversos componentes da atividade, a adaptação das funções psicológicas, as diferenças no modo de agir dos indivíduos e o
ambiente.

Outra questão a ser discutida é das abordagens da segurança, que se atêm à análise dos acidentes, ou seja, primeiro os acidentes
acontecem, para somente depois se aprender a evitá-los, reduzindo a prevenção a uma análise corretiva. Mudar esta concepção tem
sido um desafio.

Outro desafio é que boas condições de trabalho requerem maiores investimentos, consequentemente, aquilo que se investe em
segurança, é cobrado em forma de retorno financeiro. Espera-se que o trabalhador retribua os investimentos feitos pela empresa em
prevenção e/ou segurança, aumentando a produção e consequentemente o lucro.

É fundamental destacar que a prática da engenharia de segurança está reavaliando de forma sistemática seus limites em relação à
prevenção de acidentes e buscando cada vez mais compreender o fator humano envolvido nestes itens:

• Curto prazo para a produção e lucro em detrimento da segurança;


• Legislação e normatização que estão impedindo a melhoria da segurança dos sistemas produtivos;
• Prescrições de comportamentos e procedimentos seguros ineficazes;
• Foco em ações corretivas de “acidentes normais” e riscos latentes;
“E mais, afirmam as autoras:” a ergonomia oferece uma concepção de segurança que está revalorizando o cotidiano e a experiência,
permite antever e evitar os “acidentes normais”, baseada nos princípios abaixo:
• Análise voltada às situações de “normalidade”;
• Controle especial de situações potencialmente perigosas;
• Revalorização da intuição e da experiência dos trabalhadores;
• Abrir espaço e valorizar a controvérsia ao invés do consenso;
• Desenvolvimento coletivo e socialmente controlado de tecnologias de risco.

A AET quer operar nas relações saúde e trabalho. Seu objetivo principal é realizar uma análise imanente, colada ao
comportamento do trabalhador, de suas razões, objetivos e motivações. Trata-se de compreender a atividade por dentro,
reconstruir a sua lógica em seu curso próprio de ação.

Assunção destaca: “a perspectiva da AET consiste em compreender o comportamento no trabalho, através dos olhos do trabalhador”.
Pode-se concluir que é preciso enfrentar o desafio de enveredar pelo caminho da Análise Ergonômica do Trabalho buscando ver o
mundo dos trabalhadores pelo “lado de dentro”, para assim propor intervenções contextualizadas e eficazes.
Segue abaixo um consolidado com as principais características dos autores apresentados na Unidade I.

1 - DEJOURS 2 - CODO 3 - PARAGUAY

– Carga psíquica do trabalho: o que a – Papel do trabalhado na produção - Trabalho como fundamental
constitui é o subemprego de da identidade, determina o tipo para a vida das pessoas.
aptidões psíquicas, fantasmáticas ou de troca que o homem estabelece
psicomotoras, que ocasionam uma com o meio. - Estudar a organização do
retenção de energia pulsional. trabalho envolve conhecer
– Homem se hominiza pelo diversos aspectos da vida no
- O prazer do trabalhador resulta da trabalho trabalho e fora dele.
descarga de energia psíquica que a
tarefa autoriza. – Vida do homem não pode ser -Análise da organização do
compreendida na ausência do trabalho.
1. Trabalho equilibrante X trabalho
trabalho fatigante - Já que o trabalho tem uma
2. Sofrimento patogênico X – Marx como teórico muito citado. importância muito grande na
criativo vida das pessoas, fundamental
– O homem produz sua própria
se debruçar sobre as
- Flexibilização da organização. existência na medida em que
organizações de trabalho para
trabalha, arquitetando a
propor e implantar melhorias
- Impacto do taylorismo / fordismo estrutura social com suas próprias para não ficar apenas
no psiquismo dos trabalhadores. mãos.
ressaltando os impactos
nocivos.
- Estudo das estratégias defensivas. - Marca central do capitalismo é a
mercadoria que traz alienação. 1. Valoriza clima
- Ênfase no discurso dos psicossocial.
trabalhadores e não à objetividade 2. Avaliar o “trabalho
dos fatos. - Crítica a DEJOURS: Por ser um prescrito” e o “trabalho
pesquisador que desistiu de real’
- O sofrimento, assim como o prazer, procurar os nexos entre saúde
a vivência, o afeto e a dimensão mental e trabalho, substituindo Trabalho = papel social
subjetiva, só podem ser recolhidos essa busca por um conceito de
ideologia defensiva. Foco é - Salienta como importante
através da subjetividade de um
centrado no discurso do elaborar um “diagnóstico” de
receptor do discurso.
trabalhador como se desenrola o trabalho
(reconhecimento de campo)
- O trabalho de objetivação
afasta-se do dizer dos trabalhadores,
para a objetivação da
intersubjetividade.

4 - ASSUNÇÃO 5 -MARIA ELIZABETH LIMA

- Teoria de Dejours trabalho – Compreender os homens como


prescrito X trabalho Real. individualidades sociais,
articulando a singularidade
- Amplia o conceito levando em biopsíquica e a universalidade
consideração várias disciplinas para genérica numa unidade complexa.
estudo do trabalho.
– Resgate das situações reais de
- Saúde ocupacional (insalubridade, trabalho através da AET e da
periculosidade, penosidade). análise psicossocial.

- Prevenção Acidentes. – Trabalho como ponto de partida


para a compreensão do homem e
- Risco. de tudo que o caracteriza como
especificamente humano.
- Análise Ergonômica do trabalho.
Mudança na visão, ampliação das - Necessário um conhecimento em
ações. profundidade da atividade de
trabalho para compreender as
vivências subjetivas dos
trabalhadores.

- Crítica a Dejours; Como Dejours


enfatiza a subjetividade, qual é a
possibilidade de acesso à
realidade, já que o critério de
objetividade passa pelo consenso
dos pesquisadores a respeito da
vivência dos trabalhadores.
Ênfase no discurso em detrimento
dos fatos.

Última atualização: Segunda Feira, 29 Agosto 2011, 17:48

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