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Dor

Hipodermóclise e Administração
de Medicamentos por Via
Subcutânea: Uma Técnica do
Passado com Futuro
Profa. Dra. Karine Azevedo São Leão Ferreira1 • Enfa. Ana Cláudia Santos2

A
redução ou abolição da ingesta oral, a de efeito secundário e que
dificuldade de acesso venoso e o ema- priorize o conforto do pacien-
grecimento com consequente distrofia te. A via oral certamente seria
muscular são problemas frequentemente ob- a que mais atenderia a todos
servados nos pacientes em cuidados paliativos. esses critérios.(2) Contudo,
Estes pacientes apresentam diversos sintomas existem várias situações nas
que necessitam de intervenções farmacológicas quais não há disponibilidade
e da administração de fluidos. Entretanto, devido desta via, sendo a subcutâ-
à dificuldade e impossibilidade de administração nea e a hipodermóclise al-
pelas vias oral, intravenosa e intramuscular, além ternativas efetivas e seguras.
do desconforto e sofrimento associados à admi- A via subcutânea (SC) é
nistração, principalmente pela via intramuscular, preferida em relação à EV,
faz-se necessária a utilização de outras vias, tais podendo ser utilizada para administração con- Profa. Dra. Karine Ferreira
como a subcutânea e a hipodermóclise. tínua ou intermitente de fármacos (ex.: morfina) (à esq,) e a Enfa. Ana
A administração de medicamentos e líquidos e/ou fluidos.(4) A administração de medicações Cláudia Santos.
pelas vias subcutânea e hipodermóclise está no SC tem duas denominações: administração
em concordância com os princípios dos Cui- intermitente (intermittent SC injection - ISCI)
dados Paliativos, que estão baseados em um e contínua (continuous SC injection- CSCI). A
atendimento multidisciplinar que visa melhorar a administração de grande volume de fluidos é
qualidade de vida do paciente e família frente aos denominada hipodermóclise (HDC).(4)
problemas associados a doenças que ameaçam A hipodermóclise é uma técnica antiga que
a vida, através da comunicação eficaz, apoio à vem sendo utilizada desde 1913. A partir das
família e prevenção e alívio do sofrimento con- décadas de 40 e 50 observou-se um abandono
seguidos pela identificação precoce, avaliação
precisa e tratamento da dor e outros sintomas 1 - Enfermeira. Doutorado em Enfermagem. Especialista em Dor. Coordenadora de
físicos, emocionais e espirituais.(1) Enfermagem da Liga de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
O tratamento dos pacientes em cuidados Universidade de São Paulo (FMUSP). Instrutora dO CETO-ICESP. Professora do Mestrado em
Enfermagem da Universidade de Guarulhos - UnG.
paliativos deve incluir uma via de administração 2 - Enfermeira. Especialista em Oncologia e Administração Hospitalar. Gerente do “Centro de
de fármacos que seja de fácil utilização, eficácia Educação e Treinamento em Oncologia - CETO” do Instituto do Câncer do Estado de São
demonstrada, pouco agressiva e com o mínimo Paulo “Octávio Frias de Oliveira” da FMUSP (ICESP).

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e/ou redução significativa no uso devido ao do tolerado na administração subcutânea,
A absorção de grandes
aumento da utilização da via endovenosa tais como o abdome na região perium-
e a indicação inadequada da via subcu- volumes de soluções bilical. Nestes locais a administração do
tânea, a exemplo da administração de medicamento se dá no tecido conjuntivo,
grandes volumes de soluções em locais administradas por via ou seja, por baixo da derme.(6)
inapropriados, como braço, nos casos de A hipodermóclise também pode ser
choque hipovolêmico e na administração
hipodermóclise é mediada utilizada para infusão contínua de medica-
concomitante de soluções hipertônicas, por forças hidrostáticas e mentos por bombas eletrônicas (com ou
resultando em colapso circulatório e con- sem patient controled analgesia – PCA),
sequente morte.(5) Atualmente, com o au- osmóticas que permitem elastoméricas, mecânicas, de pressão
mento dos serviços de Cuidados Paliativos positiva e negativa. Em alguns fármacos,
e da divulgação da sua filosofia, o uso da
que a solução atinja o a exemplo da morfina, a biodisponibilidade
hipodermóclise vem aumentando.(3) espaço intravascular após administração por via subcutânea é
A hipodermóclise vem sendo utilizada maior que pela oral.(11)
no Instituto do Câncer do Estado de São A vascularização do tecido subcutâneo
Paulo - ICESP - para infusão intermitente As contraindicações à técnica podem é similar ao muscular e permite boa ab-
e contínua de fármacos, principalmente ser absolutas ou relativas. As absolutas sorção e difusão dos fármacos. Os níveis
analgésicos e adjuvantes no controle da incluem: áreas edemaciadas com presen- plasmáticos são semelhantes aos alcan-
dor, e para hidratação ambulatorial, em pa- ça de lesões, hematomas, presença de çados com administração intramuscular
cientes internados e em pré-quimioterapia comprometimento da circulação linfática (IM), oral, retal, sublingual e endovenosa
para facilitar a punção venosa. por procedimentos cirúrgicos com lesão (EV).(12,13) As doses dos medicamentos são
ganglionar devido à dissecção, e estado semelhantes às utilizadas por via EV, mas
INDICAÇÃO E avançado de caquexia por hipotrofia do o início de ação é geralmente similar ao da
CONTRAINDICAÇÃO tecido subcutâneo. As contraindicações via oral (15 a 30 minutos).
relativas incluem a administração em área A meia-vida de eliminação da morfi-
O uso da via subcutânea e a hipo- com capacidade reduzida de absorção, na é semelhante por via EV e SC (1,7 ±
dermóclise para infusão de fármacos e por exemplo áreas irradiadas, podendo 0,7 vs. 1,9 ± 0,4 horas pela via SC, p >
fluidos inclui: alterações gastrointestinais, ser utilizadas para administração de vo- 0,05). (11) A biodisponibilidade e taxa de
tais como disfagia grave e odinofagia, lumes menores.(3,8,9) absorção da morfina administrada por
lesões na cavidade oral, náuseas e vô- via SC e retal (supositório de liberação
mitos persistentes e intratáveis, fístula PRINCÍPIOS controlada), na taxa de 2,5:1, após admi-
traqueobrônquica e broncoesofágica, nistração a cada 4 horas foi semelhante.
oclusão intestinal, intolerância gástrica, má A via subcutânea é conceitualmente Entretanto, o pico e o tempo para atingir o
absorção no trato gastrointestinal (ex.: pa- indicada para administração de substân- pico da concentração foram maiores com
cientes com ileostomia), etc.; alteração do cias aquosas não irritantes e de volumes a administração por via SC.(12)
nível de consciência devido a sonolência, de até 2 ml e com locais de aplicação
coma, inconsciência, diminuição do nível previamente estabelecidos que incluam: Procedimentos
de consciência, fase de agonia e síndrome terço médio da face lateral do braço, terço de Administração de
delírio-confusional; e debilidade extrema. médio da face lateral da coxa e abdome. (10) fármacos, soluções
Nestas situações, a administração de Entretanto, esta via vem sendo utilizada e fluidos
fármacos e fluidos pelas vias subcutânea para a infusão de grande volume de flui-
e hipodermóclise seria indicada.(6,7) dos, passando a ser denominada de via O sucesso da técnica depende das
A indicação das vias subcutânea e hipodermóclise. condições do paciente, da indicação do
hipodermóclise também inclui a hidra- A absorção de grandes volumes de procedimento, da escolha do local de
tação, o alívio parcial ou ausente da dor soluções administradas por via hipoder- punção e do volume a ser infundido. O
após administração de analgésicos por móclise é mediada por forças hidrostáticas sistema linfático retorna para a circulação
via oral, pacientes com grande número de e osmóticas que permitem que a solução geralmente 2 a 4 litros de linfa em 24 ho-
medicações por via oral e impossibilidade atinja o espaço intravascular. Algumas lo- ras,(8) o que poderia justificar a infusão de
ou dificuldade de acesso venoso.(2,7) calizações admitem um volume bem acima grandes volumes de soluções.

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O volume infundido depende do tipo ou não agulhado (ex.: Jelco®) pode ser
Os locais de punção devem
de solução e fármaco. De modo geral, mantido por um período entre 72 horas
na infusão em bolus o volume máximo ser modificados, sendo ou 4 a 7 dias desde que não haja sinais
é de 2 a 3 ml, por via subcutânea, e na de inflamação ou infecção local, deman-
hipodermóclise (HDC) a taxa de infusão
realizado rodízio a cada dando menor carga de trabalho da equipe
máxima é de 500 ml/h, sendo geralmente sete dias. Na presença de enfermagem em comparação à via
utilizado um volume médio de 80 a 100 oral.(4,7,15) Alguns fármacos infundidos em
ml/h. (4) Na infusão contínua, o volume de sinais flogísticos, o dispositivos fechados de infusão contínua,
diário não deverá ultrapassar 2.000 ml, tais como bombas elastoméricas e serin-
tendo sido administrado até 1.000 ml em
cateter deve ser retirado gas injetoras, mostraram boa estabilidade
6 horas. (14) mais precocemente e e segurança quando mantidos por cinco
A punção pode ser realizada com ca- a sete dias.(16,17)
teter agulhado ou não agulhado. Dentre os puncionado um O tramadol (100 a 400 mg/dia) e a
agulhados deve ser utilizado um escalpe dexametasona (4 a 40 mg/dia) diluídos
novo local
(butterfly) e entre os cateteres intraveno- em solução salina e administrados por
sos periférico não agulhados incluem-se completo do fármaco foi administrado. via SC por sistemas de infusão contínua
o Jelco™, Abocath™ e saf-T-Intima™. O Deve-se utilizar diferentes locais de pun- têm estabilidade por cinco dias quando
calibre pode variar de 18 a 25G, a depen- ção e atentar para as medicações que mantidos à temperatura de 25º C.(17) O
der da quantidade de tecido subcutâneo são incompatíveis.(4) tramadol quando administrado em solução
do paciente e do volume a ser infundido. com a hioscina mantém-se estável por
O uso dos cateteres flexíveis é preferível ao Locais de Punção sete dias. (16)
de metais como o escalpe.(4,7,15)
O cateter intravenoso periférico deve Os principais locais de punção incluem Medicamentos
ser conectado a uma extensão com lock face anterior do antebraço; tórax superior administrados por
e uma seringa de 5 ml. O cateter deve ser ou região infraescapular (logo acima da hipodermóclise
inserido com o bisel para cima e em um mama), se o paciente está muito ansioso
ângulo de 30º a 45º em relação à pele. O ou agitado; face anterior da coxa; e pare- Diversos medicamentos têm sido
ângulo de punção dependerá da espessu- de abdominal, na região mesogástrica ou administrados por hipodermóclise. En-
ra do tecido subcutâneo. O local da inser- periumbilical.(4,7,15) tretanto, nem todos foram submetidos a
ção deverá ser mantido, preferencialmente, Deve-se evitar a administração direta- estudos de farmacocinética e segurança.
coberto com película de filme transparente mente sobre o local do tumor; em mem- Desse modo, antes de administrar medica-
(ex.: Tegaderme™) com data da punção bros com linfoedema, pois a absorção mentos por via SC, deve-se destacar que
e iniciais do profissional. Se após punção pode ser reduzida; em proeminências a administração é mais lenta que pela via
houver retorno de sangue, o dispositivo ósseas, devido a pequena quantidade de IM, drogas irritantes podem causar reação
deve ser removido e o procedimento re- tecido subcutâneo; em pele previamente inflamatória que pela via IM e que a absor-
petido, utilizando um novo cateter em uma irradiada, pois o suprimento sanguíneo po- ção pode ser significativamente limitada se
área próxima. A punção deve ser realizada de estar reduzido; em locais com infecção, o paciente está em choque hipovolêmico
com o cateter direcionado da periferia para fissuras e hematomas; e na parede abdo- ou edemaciado.(7)
o centro do corpo.(4,7,15) minal se houver presença de ascite.(4,7,15) Algumas medicações podem causar
A extensão e o cateter devem ser man- Os locais de punção devem ser mo- necrose tecidual se administradas por via
tidos preenchidos com solução salina (SF dificados, sendo realizado rodízio a cada subcutânea, devendo ser proibidas. Estas
0,9%), devendo ser administrados 5 ml e sete dias. Na presença de sinais flogísticos, incluem: antibióticos (exceto ampicilina,
mantido fechado com o lock da extensão. o cateter deve ser retirado mais precoce- cefepima, ceftazidima, cefotaxima, cef-
Não é necessário lavar a extensão da mente e puncionado um novo local. Deve- triaxona e tobramicina), fenitoína, diaze-
via subcutânea se a mesma medicação se utilizar diferentes locais de punção.(4) pam, clorpromazina e pamidronato.(4,7) Os
está sendo administrada, mas deve- fármacos que podem ser administrados
se considerar a extensão do tubo, e a Tempo de Permanência por via SC ou hipodermóclise estão apre-
necessidade de lavar a extensão com sentados na tabela 1.
SF 0,9% para assegurar que o volume O cateter agulhado (ex.: escalpe) A administração de alguns medica-

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Tabela 1. Fármacos administrados por via subcutânea e hipodermóclise
Medicamentos Indicação Dose Diluente Tempo de infusão e observação
Atropina - 1,2 mg/24 horas - -
Cetorolaco(18) Dor intensa 30 a 60 mg/dia SF 0,9% Pode ser nefrotóxico.
30 a 90 mg/dia Administrar isolado. Não misturar com
outros medicamentos.
Ciclizina Náusea e vômito 25 a 50 mg/8/8 h · Água para injeção (se em Não é compatível com SF-0,9%
(máximo = 150 mg/24h) infusão contínua)
· Bolus: não precisa ser diluída
Clodronato(19) Hipercalcemia 1.500 mg 5000 a 1000 ml de SF 0,9% 4 a 6 horas.
Clonazepam Ansiedade, agitação e dor 0,5 a 8 mg/24 horas SF 0,9% (ou água para injeção) É menos solúvel em água que o
neuropática Midazolam. É irritante. Diluir o máximo
possível.
Dexametasona(20) a) Aumento da pressão a) 4 a 16 mg/dia (administrar, de SF 0,9% ou água para injeção Geralmente incompatível com a maioria
intracraniana preferência, após as 15 horas e em das drogas
b) Redução de edema bolus 1 a 2 vezes/dia
peritumoral · 5 a 20 mg/dia (hipertensão
c) Dispneia intracraniana)
d) Náuseas e vômitos b) 4 a 40 mg/dia (infusão contínua) (40)
e) Estimulante do apetite c) 8-24 mg/dia
f) Compressão medular d) 8-20 mg/dia
e) 2- 6 mg/dia
f) 16-32 mg/dia
Diclofenaco Dor (principalmente dor 150 mg/24 h SF 0,9% Pode ser irritante. Não administrar em
óssea) 75 a 150 mg/dia bolus. Diluir o máximo possível. Não
misturar com outros medicamentos.
Dipirona Dor 1 g até 6/6h – volume: 10 ml SF 0,9% -
Fenobarbital Confusão 200 mg/dia Água para injeção Não pode ser administrada com outros
medicamentos.
Furosemida Dispneia devido congestão 20 a 40 mg(19) SF 0,9%
pulmonar
Fentanil Dor 100 a 1.000 microgramas/dia SF 0,9%
(raramente 2000 microgramas)
Taxa de infusão: 1 ml/h = 5
microgramas/hora (solução 500
microgramas + 100 ml de diluente)
para infusão contínua
Dose resgate: 10 microgramas (2 ml) a
cada 1 hora, se necessário(19)
Granisetrona(21) Náuseas e vômitos 3 a 9 mg/dia 50 ml SF 0,9% Infundir em 10 minutos a dose de 3 mg.
Haloperidol Náuseas e vômitos, Usualmente 2,5 a 10 mg/dia (dose Água para injeção Pode precipitar se administrar com solução
sedação, alucinação e máxima = 30 mg para agitação). fisiológica.
agitação Pode ser administrado em bolus 1 vez/
dia.
A concentração máxima deve ser de
2 mg/ml
Hioscina, Cólicas intestinais · 60 a 180 mg/24 horas Água para injeção Até 7 dias
butilbrometo Vômitos decorrentes de · 20 a 120 mg/dia(18) Incompatível com ciclizina
(Buscopan) obstrução intestinal · 4 a 40 mg/dia (infusão contínua) (16)
Hioscina, a) Reduzir produção · Doses: 0,8 a 2,4 mg/dia ou 3,2 mg/ SF 0,9% ou água para injeção Pode causar mais sedação que o
hidrobrometo de secreção em vias dia(18) Buscopan, pois cruza barreira hemato-
(escopolamina) respiratórias · a) 1,2-2,4 mg/dia encefálica. Evento adverso: boca seca e
b) Cólicas · b) 0,8-1,2 mg/dia confusão.
c) Sialorreia · c) 0,2-0,8 mg/dia
Náuseas e vômitos
Sedação

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Cetamina** Dor (principalmente de 100 a 150 mg/dia (infusão contínua). SF 0,9% Monitorar freqüência respiratória e
origem neuropática) Aumentar a dose gradativamente (100 cardíaca nas primeiras 2 horas após iniciar
mg/dia) até 500 a 700 mg terapia.
A dose pode ser aumentada até 2,4 Rotação da punção para evitar necrose.
g/dia Pode administrar com dexametasona 0,5-1
mg para reduzir irritação.
Levomepromazina Náuseas e vômitos intensos, · 5 a 25 mg/24 horas a depender do SF 0,9% (ou água para injeção) Pode ser irritante. Diluir o máximo possível.
sedação e agitação nível de sedação conseguido (dose É comum a ocorrência de reação no local
máxima = 200 mg para agitação) da aplicação.
· 25 a 100 mg

Metadona Dor intensa Deve ser administrada 50% da dose SF 0,9% Após a dose bolus SEMPRE lavar com SF-
por via oral 0,9% (60 mL/h em hipodermóclise).(22)
Administração em bolus de por causar
vermelhidão em enduração local.(23)
A rotação do local da punção a cada 24
horas pode ser alternativa a irritação.(24)
Metoclopramida Náuseas e vômitos 30 a 120 mg/24 horas (raramente Água para injeção É irritante. Diluir o máximo possível.
180 mg/dia) Monitorar distonia devido probabilidade de
efeitos extrapiramidais.
Midazolam a) Agitação e confusão em a) 10 a 60 mg/24 h Água para injeção Pode ser irritante. Diluir o máximo possível.
pacientes terminais. b) 10 a 30 mg/dia Preferir diluir com SF.
b) Mioclônus multifocal c) 30 a 60 mg/dia (máximo =
c) Soluços intratáveis 100-120 mg)
d) Sedação d) Para sedação: iniciar infusão contínua
de 1 mg/h e aumentar até 4 mg/h(19)
10 a 100 mg/24 horas (comumente
prescritos na dose de 10 a 30 mg/dia)
Morfina Dor · Pacientes sem uso prévio: 5 a 10 SF 0,9% (ou água para injeção)
Dispneia mg/dia
· A dose de morfina para administração
subcutânea é a metade da dose oral
(SC dose = dose VO/2. Exemplo: 30
mg VO = 15 mg SC = 10 mg EV)(4)
· A dose de 10 mg/ml é bem tolerada e
pode ser administrada a cada 4 horas
associada a dose resgate de 6 mg
(0,6 ml) a cada 1 hora, se necessário
Naproxeno Dor · 550 a 600 mg/dia Precipita facilmente se administrado junto
com morfina.
Octreotida a) Reduzir secreção a) 300-600 microgramas/dia (dose SF 0,9% Pode ser irritante. Diluir o máximo possível.
gastrointestinal, motilidade máxima de 1.500 microgramas) Preferir diluir com SF.
gástrica e vômitos e diarreia b) 250-500 mcg (máximo = 750 mcg) Atentar para compatibilidade com outras
em grandes volumes c) 50-500 mcg (máximo = 1.500 mcg) drogas.
b) Obstrução intestinal ou 50 a 100 microgramas 8/8 horas
gástrica
c) Diarreia intratável
Ondansetrona Náuseas e vômitos 8 a 24 mg/dia SF 0,9% ou água para injeção
Causas químicas (ex.:
uremia)
Ranitidina Protetor gástrico 50 a 150 mg/24h (máxima = Água para injeção *Não precisa ser diluída.
300 mg/24h) compatível com midazolam, ciclizina e
morfina.
Tramadol(25)*, (17) Dor 100 a 400 mg/dia SF 0,9% Até 7 dias(18)
60 a 600 mg/dia
Notas: * Uso SC comparado a via EV foi associado a menor frequência de náuseas e vômitos; ** Compatibilidade da cetamina: pode ser administrada junto com dexametasona,
haloperidol, metoclopramida e midazolam.

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Dor

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essa técnica. tos AE, editors. Boas práticas de enfermagem


em adultos: procedimentos básicos. São Paulo: Endereço para correspondência:
A indicação da hipodermóclise deve Atheneu; 2008. p. 95-107. R. Coronel Camisão, 409 - apto 72 - Butantã
ser criteriosa, evitando-se a banalização e 11. Penson RT, Joel SP, Roberts M, Gloyne A, CEP 05509-120 - São Paulo - SP.

114 Prática Hospitalar • Ano XI • Nº 65 • Set-Out/2009

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