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O Nome de YHWH
Por Sha’ul Bentsion
I - Introdução
! Este material se propõe a explorar não apenas essa questão, como também as
tentativas modernas de reconstrução da pronúncia do Tetragrama, avaliando seus pontos
fortes e pontos fracos.
!
! Em alguns momentos, o texto dará algumas explicações técnicas do hebraico, sem
entrar em grande profundidade, apenas para justificar algumas observações e
conclusões. O leitor que não estiver ainda familiarizado com o hebraico poderá também
acompanhá-las, a título de curiosidade, sem que isso o impeça de compreender os
pontos principais do texto.
II - O Uso
“Naquele momento, Bo’az estava chegando de Bet-Lechem e disse aos segadores: ‘Que
YHWH esteja convosco!’, e eles responderam-lhe: ‘Que YHWH te abençoe!’” (Rut 2:4)
! Esse tipo de uso casual é comum em todo o Tanakh. Observe mais um exemplo:
“Agora, pois, meu senhor, vive YHWH, e vive a tua alma, que YHWH te impediu de vires
com sangue, e de que a tua mão te salvasse; e, agora, tais quais Naval sejam os teus
inimigos e os que procuram mal contra o meu senhor.” (Sh’muel Alef/1 Samuel 25:26)
!!!!!!!!!!!Uma forma de juramento muito utilizada era dizer “( חַי–יהוהchai YHWH”), isto é,
“Vive YHWH”. Ou seja, era afirmar que tão certo quanto o Eterno é vivo, aquela frase era
verdadeira.
“Não pronunciarás em falso [lashawe - ]לַּׁשוְאo nome de YHWH teu Elohim, pois YHWH
não deixará impune aquele que pronunciar em falso [lashawe - ]לַּׁשוְאo seu nome... Não
apresentarás um falso [shawe - ]ּׁשוְאtestemunho contra o teu próximo.”
(Devarim/Deuteronômio 5:11,20)
! Claro, isso não significa que não devemos ter cuidado ao usar o Nome de YHWH.
Mas, esse cuidado não é diferente de qualquer cuidado que devemos ter com tudo o que
se refere a Ele, a Torah inclusive.
! Pouco se sabe de fato sobre a origem desta prática, mas possivelmente ela foi
implementada aos poucos.
! Fato é que a proibição à declaração do nome é muito antiga. Certamente data, pelo
menos, do século II AC, ao período da dinastia dos Chashmonaim (Hasmoneus).
! A razão que nos leva a sabermos que essa proibição - tal qual a conhecemos -
deriva, no mínimo, dessa época é por seu aparecimento em dois grupos: na comunidade
de Qumran, e entre os samaritanos.
“Qualquer que falar em voz alta o M[ais] Sagrado Nome do Eterno [seja em…]
maldição ou abruptamente em um tempo de tribulação, ou enquanto lê um livro ou reza,
ele deve ser expulso, e nunca mais deverá retornar à sociedade da Yahad.”
(1QS 6:72b-7:2a)
“[Um homem não deve] jurar por Alef e Lamed (Elohim) ou por Alef e Dalet (Adonai),
mas sim pelo voto daqueles que entram nos votos da aliança. Ele não deve mencionar a
Torah de Moshe, porque o Nome do Eterno está escrito por extenso nela, e se ele jurar
por ela, então ele comete um pecado; ele terá profanado o Nome.” (4Q270 9:15)
!
! A última ocasião em que a prática judaica poderia ter influenciado a samaritana foi
no período da dinastia dos hasmoneus, por força política. Sobre isso, o professor E Bruce
Brooks relata:
! É muito curioso, pois lendo sobre as diferentes teorias acerca do Nome de YHWH,
uma coisa se observa em comum a todas elas: Todas contestam que a pronúncia do
Nome tenha efetivamente sido perdida, e todas afirmam que na realidade é muito fácil,
uma vez que se atenta para os detalhes.
III.1) Yahweh
! Talvez nenhuma teoria seja tão famosa quanto a de que o Tetragrama se pronuncie
Yahweh.
! Esse teoria foi popularizada por Gesenio, linguista do século XIX, e é até hoje a
teoria mais aceita no meio acadêmico.
! A origem dessa teoria está em uma afirmação da parte de Teodoreto, bispo cristão
do século V, que afirma:
!!!!!!!!!Por essa teoria, a prática samaritana de pronunciar o waw ( )וcomo baa explicaria
porque Teodoreto teria ouvido Iabe, no lugar de Yahweh. A forma seria portanto
reconstruída como Yahweh.
1) Seria muito difícil vocalizar o Tetragrama a partir do grego. Se admitirmos que o Yud
pode receber kamats (som de /ɔ/ - que será explicado mais adiante) ou patach (som
de /a/), e que o waw pode receber um tsere (som de /e/) ou um segol (som de /ɛ/). Para
alguns, hê recebe um kubuts, formando na realidade a forma Yahuweh. Assim temos
nada menos do que OITO possíveis vocalizações distintas, a saber:
Além disso, pelo menos três dos fonemas acima indicados geralmente não são
pronunciados de forma adequada por brasileiros, a saber: /y/, /w/ e /ɔ/, por se tratar de
fonemas que não existem no português do Brasil, além de ignorar completamente o
hê.
Em sendo assim, por exemplo, a maioria dos brasileiros pronunciaria a forma Yahweh
como /ia.uɛ/, ou seja, bem diferente de qualquer possibilidade acima.
2) Pela própria frase de Teodoreto de que os judeus pronunciavam o nome como AIA
indica que ou Teodoreto não estava muito certo acerca do que ouviu, ou a tarefa da
transcrição do hebraico para o grego não é exatamente muito precisa.
4) É possível que Teodoreto tenha ouvido algum nome substituto. Gordon, por exemplo,
teoriza que Teodoreto tenha ouvido “Yafet” (Belo), que seria um possível eufemismo
para o Nome.
“Foi em conexão com magia que o Tetragrama foi introduzido em papiros mágicos e, em
toda probabilidade, os textos dos Pais da Igreja, estas duas fontes contendo as seguintes
formas, escritas em letras gregas: (1) “Iaoouee,” “Iaoue”, “Iabe,”; (2) “Iao,” “Iaho,” “Iae”;
(3) “Aia”; (4) “Ia.”” (Tetragrammaton, Jewish Encyclopedia)
!
! Além disso, temos ainda as formas “Io” e “Ia” dos nomes teofóricos na Septuaginta,
conforme visto abaixo:
! Como se pode perceber, há várias formas distintas no grego, e cada uma poderia
individualmente sugerir um caminho a ser percorrido no que diz respeito à pronúncia.
III.2) Yehovah/Yehowah
! Porém, o Códice de Aleppo é do século X. Mas, mesmo antes disso, no século VIII,
Daniel Al-Qumisi já escrevia o seguinte:
“Não pronuncie o nome de YHWH conforme suas letras, além de “Adonai”, pois aquele
que o fizer é passível de pena de morte, como está escrito: E aquele que proferir o nome
de YHWH, ele será certamente morte… quando pronunciar o Nome (Lv. 24:16), proferir
significando “pronunciar o nome da pessoa””
(Epístola à Diáspora - Pronúncia do Tetragrama)
! Isso não é surpresa, pois um banimento tão antigo certamente afetou a população
judaica o suficiente para que permeasse todos os segmentos, conforme já demonstrado.
! A forma YHWH não aparece com grafia única no Texto Massorético. Na realidade,
ela é escrita de seis maneiras diferentes:
! Como se pode observar, existem pelo menos SEIS formas diferentes de grafia no
Texto Massorético.
! Além disso, existe como complicador o fato de que o fonema /ɔ/ é incomum nos
países de língua latina. Trata-se de um som intermediário entre o som do “á” e do “ó”.
! Dessa forma, a vogal /ᵊ/ acaba se transformando na vogal /e/ para a maioria das
pessoas. A vogal /e/ é basicamente o som de “ê”.
! Isso significa que a maioria dos brasileiros leria o nome como /ie.ho.va/ ao invés
de /yᵊ.ho.wɔ/. Observe que isso significa que duas, das três sílabas do nome, ou quatro
dos seis fonemas, seriam pronunciadas(os) incorretamente!
! Além disso, os proponentes dessa forma ignoram a clara transposição das vogais
de Adonai e de Elohim para o Tetragrama.
! Quando o texto bíblico traz YHWH Elohim, a leitura do Texto Massorético se faz
como “Adonai Elohim”, substituindo “YHWH” por “Adonai”. Quando o texto bíblico traz
Adonai YHWH, a leitura também se faz “Adonai Elohim”, substituindo desta vez “YHWH”
por “Elohim”. Claro, para evitar dizer “Adonai Adonai”.
Adonai: אֲֹדנָי
Yehowah: יְהֹוָה
Elohim: אֱֹלהִים
Yehowih: יְהֹוִה
! Os proponentes da forma Yehowah afirmam que o não há transposição das
nekudot (vocalização), baseado no fato de Adonai começar com um chataf-patach,
enquanto Yehowah começa apenas com um schwa.
Elohim, sofre também o mesmo fenômeno. Fica, portanto, mais difícil de sustentar a ideia
de uma não-transposição.
!!!!!!!!!!!Acontece apenas que como o Yud ( )יe o Alef ( )אtêm comportamentos diferentes,
a vogal ao ser transposta para o yud passa de chataf para um simples schwa.
! Além disso, a escolha de “Yehowah” parece pouco criteriosa, uma vez que ela não
é a forma mais frequentemente utilizada.
! Muito mais sentido seria supor a forma “Yehwah” como a original, por esse critério,
visto que ela é a mais abundante. Mesmo as formas “Yehowi” e “Yehwi” aparecem com
mais frequência do que a forma “Yehowah”.
! Em suma, não se pode afirmar com 100% de certeza que essa seja a forma
original. As controvérsias quanto a isso são muitas, e a quantidade de evidências
contrárias que precisariam ser ignoradas não é nada desprezível.
! Aparentemente, a forma Yihweh foi defendida pelos judeus caraítas da Criméia nos
séculos XIII e XIV.
“Há aqueles que argumentam que a pronúncia do nome singular não é conhecida
e portanto não somos capazes de dizê-lo. Para refutar este argumento olhemos para o
livro de Êxodo, capítulo 3, versos 13-15: “Então disse Moisés a Elohim: Eis que quando
eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Elohim de vossos pais me enviou a vós; e eles
me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? E disse o Eterno a Moisés: אהיה אׁשר
( אהיהEhyeh Asher Eheyh - isto é, ‘Eu sou o que sou’)! Disse mais…: Assim dirás aos
filhos de Israel, יהוה, o Elohim de vossos pais, o Elohim de Abraão, o Elohim de Isaque, e
o Elohim de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu
memorial de geração em geração.”
1) A forma é uma conclusão baseada unicamente numa observação gramatical. Ela não é
confirmada por nenhuma evidência histórica ou arqueológica.
2) Essa forma gramatical é fortemente contestada, e não condiz com a opinião dos
principais hebraistas sobre o assunto.
! Isso nos traz à forma gramaticalmente mais aceita, que é abaixo indicada por
Jacob Metz:
! De fato, é irônico que Gesenio afirme que a forma gramatical seja Yeheweh, ao
passo que defende a forma Yahweh baseado no testemunho incerto de teólogos cristãos
da antiguidade, sobre uma suposta forma defendida pelos samaritanos.
! Em uma consulta informal realizada pelo autor deste material, Sedaka afirmou:
“Apenas diga: Yoot-Eey-Baa-Eey Shehmaa = = ה השם-ו-ה- י- Esta é a razão pela qual se
pronuncia cada caracter [hebraico] uma vez em cada oração, ou se fala movendo a palma
da mão direita em sua face desde a testa até o queixo: Ehyyee-Eshaar-Ehyyee = אהיה
אשר אהיה- o outro Nome, que é a [forma] completa [de] יהוה. Eu serei o que serei - a
todo tempo: Passado = הוהPresente = הווהFuturo = יהוה- Haavaa-Hoveh-Yeheveh”
! Ambas as formas gramaticais propostas não podem estar corretas, por razões
óbvias.
! Mas, mesmo a forma Yeheweh também carece de algum tipo de confirmação por
meio de testemunho histórico.
! Até o momento da escrita deste material, nem Yihweh nem Yeheweh têm tal
confirmação.
! Muita gente supõe que seja possível reconstruir a pronúncia do Nome de YHWH a
partir da análise de nomes teofóricos. Isto é, de nomes próprios que contêm uma forma
abreviada do Tetragrama, como por exemplo “Eliyahu” (Elias) ou “Yehonatan” (Jonatan).
! Via de regra, tais formas são sugeridas por causa de uma falta de compreensão da
dinâmica do hebraico. E esse é justamente o primeiro problema.
! Existe uma razão pela qual as vogais no hebraico não eram escritas originalmente,
e isso ocorre pela fluidez das vogais, que podem sofrer grandes mudanças de acordo
com vários fatores: conjugação verbal, posição na frase, preposições e prefixos
recebidos, posição do radical na palavra, entre outros.
. בֵּין מַיִם לָמָיִם, וִיהִי מַבְִדּיל, יְהִי ָרִקיעַ בְּתֹוְ הַמָּיִם,וַיֹּאמֶר אֱֹלהִים
E disse Elohim: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e
águas.
!!!!!!!!!!!Tome também como exemplo a palavra “lev” ( )לֵב/lev/, que significa coração.
Quando se diz “meu coração”, utiliza-se a expressão “libi” ()לִבִּי, que se pronuncia /li.biː/
!!!!!!!!!!!Ou seja, a simples adição do sufixo yud ()י, que indica o pronome possessivo,
transforma completamente a palavra. Ela se torna dissílaba ao invés de monossílaba, a
vogal tsere dá lugar ao chiriq. A letra bet passa a ser africativa, o que faz com que seu
som mude de /v/ para /b/. Um segundo chiriq, prolongado pela presença do yud, é
também adicionado a ela.
!
! O objetivo aqui não é entediar a você, caro leitor, com regras sobre pronúncia, mas
sim demonstrar como é complexa a vocalização do hebraico.
! Em suma, a posição das letras, como elas se estruturam, etc. mudará sua
vocalização. Não é porque alguns nomes teofóricos terminam em -yahu que isso significa
que o Tetragrama se escreve dessa maneira.
! O segundo problema está no fato de que os proponentes de tais teorias fazem uma
opção pela forma -yahu por afirmarem que os escribas massoretas utilizaram yeho- no
início das palavras como forma de ocultarem o Tetragrama.
! Estranhamanete, não lhes passa pela mente que se os escribas massoretas teriam
utilizado yeho- no início de um nome, também faria igual sentido utilizarem do mesmo
artifício de mudança de vogais no final de um nome, para ocultarem o Tetragrama. Ora,
isso não faz nenhum sentido!
! O terceiro problema é que não existe um padrão único e definido para os nomes
teofóricos. Observe alguns usos comuns:
(*) Mesmo a transliteração sendo semelhante, observe que, na realidade, o “Ye” de Yehu
e de Yehonatan recebem vogais diferentes.
! Para efeito de simplificar a análise, este artigo não levará em conta as formas
abreviadas derivativas, como por exemplo Yonatan, e Eliyah, apesar delas aparecerem
abundantemente no Tanakh.
! Observe que temos aqui quatro formas diferentes de pronúncia da forma inicial do
Tetragrama!
! Alguns tentam apresentar a justificativa de que yeho- teria tido suas vogais
mudadas porque aparece no início do nome. No final do nome, supostamente não haveria
necessidade porque não haveria risco de pronúncia do Nome de YHWH. Vale ressaltar,
de imediato, que isso é pura especulação.
! Mas, basta olharmos para a forma Elyeho’enay que essa teoria cai por terra, pois
vemos o uso de -yeho- não no começo, mas sim no meio de um nome! Pela teoria
exposta, o nome deveria ser Elyahu’enay, mas não é!
! Além disso, a maioria das pessoas que propõe tais formas ignora completamente a
forma yehu, que também aparece ao final de um nome. Por que não seria esse um bom
candidato?
! E o que dizer de Yehu, que traz ainda uma vogal completamente diferente? Essa
forma é absolutamente ignorada.
! Para tornar as coisas ainda mais complicadas, observe como é a forma reduzida
do Tetragrama no texto abaixo, de Tehilim (Salmos) 148:1
יָּה-הַלְלּו
Louvai a Yah
!!!!!!!!!!!A forma יָּהé pronunciada pela maioria das pessoas como /ia/. Porém, essa
pronúncia também não é a forma indicada.
!!!!!!!!! !Inicialmente, temos que ָ יnão tem som de /ia/ no hebraico massorético, mas sim
recebe dois fonemas que não existem no português brasileiro, a saber, /yɔ/.
!!!!!!!!!!!Além disso, existe ainda o fato de que a letra hê recebe um mapiq, sendo escrita
como ּה.
! Logo, a forma fonética correta é /yɔh/ - vale ressaltar que /h/ é um fonema e não
uma letra muda. O som seria semelhante ao da primeira letra da palavra him (ele), no
inglês.
!!!!!!!!!!!Ou seja, dos três fonemas existentes na palavra יָּה, um brasileiro via de regra
pronunciaria apenas dois. E os dois provavelmente seriam pronunciados de forma
equivocada.
!!!!!!!!!!!As formas /yo/, /yi/, /yɛ/, e /yu/ não aparecem no Tanakh. É irônico, pois um grande
número de pessoas utiliza a forma /ya/ - embora pronunciada equivocadamente como /ia/,
o que requereria, pelo hebraico massorético, a grafia ַ י- e essa grafia não tem qualquer
testemunho interno no Tanakh.
! A primeira é uma inscrição no Templo de Amun, no Sudão, que data do século XIV.
Nele, há uma referência à “terra dos beduínos de Yehua” - que se supõe ser uma
referência aos hebreus.
! O segundo e principal deles é que a Mater Lectionis usada para grafar tais
palavras é uma construção moderna. Não há garantias de que as vogais sejam realmente
essas. O que significa que, mesmo que esse seja o Tetragrama, continuaríamos sem
saber quais as suas vogais exatas.
! O terceiro e último é que a forma Yehua jamais seria uma grafia possível para o
Tetragrama.
! E, curiosamente, a forma /ye.hu.a/ não seria uma delas. Isso porque tal forma
exigiria que o waw recebesse um shuruq /u/.
! Porém, se o waw recebesse um shuruq, ele não poderia receber nem kamats, nem
patach. Ou seja, essa forma provavelmente exigiria uma outra consoante para abrigar
essa vogal, o que alteraria a grafia do Tetragrama.
! Ou seja, essa grafia também não oferece nenhuma segurança. Tudo, desde a
origem até os sons, passa por pura especulação.
As Cartas de Lachish
!
! Ou seja, na realidade, a vocalização dos nomes
com -yahu no final é uma construção especulativa, feita a partir da vocalização do Texto
Massorético.
! O problema é que não há nenhum dado que tenha sido deixado que possa
esclarecer com 100% de certeza qual a pronúncia para tais línguas. Algumas formas de
Mater Lectionis egípcias até se aproximam, mas não podem ser tidas como certas.
III.8) Admissão
! É muito comum que as pessoas que defendam uma forma específica de pronúncia
tenham bastante confiança naquilo que defendem.
“Porque os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei, e sem príncipe, e sem
sacrifício, e sem estátua, e sem éfode ou terafim.” (Hoshea/Oséias 3:4)
“Eis que vêm dias, diz Adonai YHWH, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de
pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras de YHWH. E irão errantes de um mar
até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra de
Adonai, mas não a acharão.” (Amos 8:11-12)
! Fato é que, até findar o exílio de forma definitiva, não teremos como ter a
confirmação acerca do Nome de YHWH.
! O que precisa ficar claro é que existe uma diferença entre reconhecer um problema
e ser capaz de saná-lo.
! Por exemplo, o maior problema para nós que vivemos no exílio, até o momento, é
a ausência do Beit HaMikdash (Templo), que deveria estar de pé em Yerushalayim
(Jerusalém). Mas, infelizmente, esse é um problema que nós como indivíduos não
podemos resolver, principalmente no exílio.
! Até que ponto nos é possível resolver a questão da pronúncia do Nome de YHWH
sem termos nevi’im (profetas) e kohanim (sacerdotes) oficiando efetivamente para o povo
de Israel? O autor deste material é da opinião de que isto não é possível.
! Isso não quer dizer que seja ruim que alguém opte por seguir uma das pronúncias
acima, talvez por se sentir mais confiante que essa forma seja adequada. Também não é
ruim que alguém entenda que deve escolher a forma mais próxima, até que se tenha a
revelação exata. Mesmo que o autor deste material discorde que devamos fazer tal busca
- por razões que ainda ficarão ainda mais explícitas - o autor reconhece que não significa
que seja errado fazê-lo.
Isso, claro, sem levar em conta as formas absolutamente insanas e que ignoram
totalmente qualquer evidência linguística, gramatical ou histórica, e que se baseiam em
teorias conspiratórias, tais como Yaohu, entre outras.
! Mas, uma reflexão é importante: Que razão haveria para tentar pronunciar o Nome,
sem que se saiba a pronúncia? Existem bons e maus motivos, e é preciso estar atento.
! É preciso separar um pouco entre aqueles que buscam de forma sincera e salutar
daqueles que o fazem de forma doentia.
! Não é difícil de fazer tal distinção, pois ela se baseia no objetivo de cada pessoa.
Há alguns sinais de alerta, que devem ser atentados.
1) Obsessão
! Para o autor deste material, foi exatamente isso que acendeu a luz amarela acerca
da questão da busca pela verdade do Tetragrama.
! Então, uma pergunta começou a ecoar em minha mente: Pra quê desejo saber
isso?
! Como não poderia deixar de ser, procuro sempre transmitir aquilo que aprendo
com minhas próprias experiências pessoais, especialmente com falhas e tropeços. Quero
então deixar esse alerta. Cuidado com a obsessão por acertar. Isso pode ser perigoso.
! Kohelet (Eclesiastes) afirma algo que cai como uma luva para tais situações:
“Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti
mesmo?” (Kohelet/Eclesiastes 7:16)
! A obsessão com acertar pode desviar o foco de uma vida de submissão à vontade
do Criador, e levar à ruína.
2) Poder Especial
! Outro perigo é quando se atribui algum tipo de poder especial ao Nome do Criador.
“Ele tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a
serpente de metal que Moshe fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe
queimavam incenso, e lhe chamaram Nechushtan.” (Melakhim Beit/2 Reis 18:4)
! Porque o povo a estava utilizando por motivos errados. Não a viam como um
memorial de uma ação do Criador, mas sim como um objeto com propriedades mágias,
um deus em si mesmo, por assim dizer, e com isso caíam em idolatria.
! Entendo que conhecer o Tetragrama é conhecer mais sobre YHWH. E todo saber
sobre Ele contribui para maior intimidade em nosso relacionamento com Ele. E se Ele
revelou este Nome, não foi para que fosse ocultado. Mas, isso é muito diferente de
atribuir ao Nome poderes mágicos.
“E há de ser que todo aquele que invocar o Nome de YHWH será salvo; porque no monte
Tsiyon e em Yerushalayim haverá livramento, assim como disse YHWH, e entre os
sobreviventes, aqueles que YHWH chamar.” (Yo’el/Joel 2:32)
“Louvai a YHWH, e invocai o Seu Nome; fazei conhecidas as suas obras entre os
povos.” (Tehilim/Salmos 105:1)
! Pense o leitor: Será que o Eterno só trará livramento para quem souber pronunciar
as sílabas mágicas, como se fosse uma senha de uma sociedade secreta?
! Será que um pai deixaria de socorrer um filho que clama por ele, porque o filho o
chama de “pai” e não pelo seu nome próprio?
! Fato é que o Eterno se revela no próprio Tanakh por vários nomes diferentes. Isso
ficará mais claro mais adiante.
!!!!!!!!!!!Assim como no português, o termo shem ( )שםé uma maneira de se referir à fama,
à importância ou à própria pessoa. Muitas seitas se aproveitam da pouca capacidade de
leitura e interpretação de texto de seus seguidores para desenvolverem teorias
mirabolantes.
! Ora, será que o exaltar o Nome de YHWH é exaltar as letras ou sílabas que
compõem o Tetragrama? Ou é exaltar a sua fama, a sua importância, a saber, o próprio
YHWH?
“Fala a Aharon, e a seus filhos dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-
lhes: YHWH te abençoe e te guarde; YHWH faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e
tenha misericórdia de ti; YHWH sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz. Assim porão o
Meu Nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.” (Bamidbar/Números 6:23-27)
! Infelizmente, tais coisas unem dois dos elementos que os seres humanos mais
gostam: o suposto desvendar de mistérios, e conhecimentos especiais capazes de trazer
bênçãos.
! Fato é que colocar o Nome de YHWH sobre os filhos de Israel não significa
imprimir-lhes misticamente quatro letras sagradas, mas sim que a autoridade estava
sendo concedida aos kohanim (sacerdotes) para agirem em nome de YHWH e assim
abençoarem o povo.
! Será que os que habitarão na terra serão os que amam as letras e sílabas do
Tetragrama, ou o nome aqui é uma referência ao próprio YHWH?
! Isso me lembra uma prática muito comum. Hoje em dia, com o misticismo
ecumênico em alta, há várias pessoas que têm o hábito de colar gráficos com o
Tetragrama impresso, em diversos lugares.
! Tais gráficos supostamente “afastam as más energias”. Ora, acaso isso é invocar o
Nome de YHWH? Será que não é usar o Seu Nome como amuleto, de forma idólatra?
3) Raiva e Acusações
“Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que só
profetizam do engano do seu coração? Os quais cuidam fazer com que o meu povo se
esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim
como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Ba’al.”
(Yirmiyahu/Jeremias 23:26-28)
! O autor deste material obviamente não acha positivo que a pronúncia do Nome de
YHWH tenha sido perdida. Todavia, isso não significa que a passagem acima esteja
falando disso.
! Passagens nos profetas que falam acerca do povo de Israel esquecer no Nome de
YHWH não se referem ao esquecimento da pronúncia, que foi algo ocorrido muito tempo
depois, mas sim ao esquecimento do próprio YHWH.
! Fato é que ninguém pode ser culpado por não ser capaz de resgatar conhecimento
que está perdido há séculos, e que só poderá ser recuperado quando do fim do exílio.
4) A Razão Salutar
! Qual poderia ser uma razão salutar para pronunciar a o nome? O autor deste
material consegue observar duas: A primeira é por entender que utilizar o Nome traz um
certo grau de pessoalidade para o relacionamento com o Eterno. Por exemplo:
“Portanto o meu povo saberá o Meu Nome; pois, naquele dia, saberá que sou eu mesmo
o que falo: Eis-me aqui.” (Yeshayahu/Isaías 52:6)
! Observe:
“YHWH teu Elohim temerás e a Ele servirás, e pelo Seu Nome jurarás.”
(Devarim/Deuteronômio 6:13)
! Um dos exemplos mais interessantes das Escrituras está na dualidade dos salmos
14 e 83, que são praticamente idênticos. Na realidade, o salmo 83 é uma revisão do
salmo 14, com o nome YHWH substituído por Elohim.
.טֹוב- אֵין עֹׂשֵה-- הִתְעִיבּו עֲלִילָה,הִׁשְחִיתּו .טֹוב- אֵין עֹשֵׂה-- וְהִתְעִיבּו עָוֶל,הִשְׁחִיתּו
hishchitu hit’ivu ‘alilah— ên ‘osseh tov. hishchitu, wehit’ivu ‘awel— ên ‘osseh-tov.
.אֱֹלהִים- אֶת, ּדֵֹרׁש-- הֲיֵׁש מַׂשְּכִיל,לְִראֹות .אֱֹלהִים- אֶת, ֹדֵּרׁש-- הֲיֵׁש מַשְׂכִּיל,לְִראֹות
lirot hayesh maskil— doresh, et-elohim. lirot hayesh maskil— doresh et-elohim.
,אֵין--טֹוב- אֵין עֹׂשֵה: יַחְּדָו נֶאֱלָחּו,הַּכֹל סָר ,טֹוב; אֵין- אֵין עֹשֵׂה: יַחְָדּו נֶאֱלָחּו,כֻּּלֹו סָג
.אֶחָד-ּגַם .אֶחָד-גַּם
hakol sar, yachdaw neelachu: ên osseh- culo sag, yachdaw neelachu: ên ‘osseh-
tov—ên, gam-echad. tov; ên, gam-echad.
! Como pode ser percebido, ambos os salmos na realidade são duas versões
ligeiramente diferentes de um mesmo cântico, que provavelmente foi preservado em duas
tradições.
! Muito se especula sobre as razões para isso. Alguns afirmam que o banimento do
Nome teria ocorrido mais cedo do que se pensa, e que possa ser atribuído já a essa
época. Outros afirmam apenas que não se trata de um banimento, mas sim do fato de
que por zelo a segunda tradição acabou por omitir o Tetragrama.
! Fato é que o Sefer Tehilim, isto é, o livro de salmos, é uma coletânea que foi
estabelecida pelos kohanim (sacerdotes) para o serviço a YHWH. Isso significa que
houve um consenso quanto a trazer a segunda versão, numa época em que o povo tinha
tanto kehunah (sacerdócio) como meios de consultar a YHWH.
! Se o Eterno fosse contrário a que o Nome dEle fosse substituído por Elohim, não
faria sentido que Ele inspirasse tal autoria. No entanto, ela existe. E também não é a
única.
! Além disso, o próprio Eterno apresenta o Nome dEle em três diferentes versões.
Observe:
“Então disse Moshe a Elohim: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O
Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes
direi? E disse Elohim a Moshe: Ehyeh Asher Ehyeh []אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה. Disse mais: Assim
dirás aos filhos de Israel: Ehyeh [ ]אֶהְיֶהme enviou a vós.” (Shemot/Êxodo 3:13-15)
! É somente no verso seguinte que o Eterno utiliza para com Moshe (Moisés) a
forma do Tetragrama:
“E Elohim disse mais a Moshe: Assim dirás aos filhos de Israel: YHWH Elohim de vossos
pais, o Elohim de Abraão, o Elohim de Isaque, e o Elohim de Ya’akov, me enviou a vós;
este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em
geração.” (Shemot/Êxodo 3:15)
“Cantai a Elohim, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que vai montado sobre os
céus, pois o seu nome é Yah [beyah shemo - ]בְּיָּה שְׁמֹו, e exultai diante dele.”
(Tehilim/Salmos 68:4)
! No salmo acima, é dito que o Nome do Eterno é Yah que, como se sabe, é uma
forma abreviada do Tetragrama.
! Isso, claro, sem contar nos títulos que aparecem nas Escrituras, tais como Elohim,
El Shadai, El Elyon, etc.
! Todos esses com uma coisa em comum: Indicam que Ele é, e que não há o que o
defina.
! Outro ponto fundamental a se observar é o que o salmista diz acerca dos Nomes
(plural) do Eterno:
“Me prostrarei perante Teu santo Templo. Celebrarei Teu Nome, por Teu amor e verdade,
pois Tu elevaste a Tua palavra acima de todos os Teus Nomes [ְָׁשִמ-ּכָל-הִגְּדַלְּתָ עַל-ּכִי
ֶָאִמְָרת. – ki higdalta al kol-shimecha imratecha].” (Tehilim/Salmos 138:2)
VI - Conclusão
! O autor deste material até tem uma opinião sobre a forma mais provável, dentre as
apresentadas, porém entende que enquanto não houver uma maneira de se ter 100% de
certeza, é melhor optar pela forma Adonai.
! Existe uma boa razão para o uso da forma “Adonai”, visto que o Tetragrama
frequentemente ocorre acompanhado de “Elohim”. Ficaria estranho pronunciar “Elohim”
duas vezes, embora seja também costume judaico dizer “Elohim” quando a forma
encontrada é “Adonai YHWH”, para não dizer Elohim duas vezes.
! Ao mesmo tempo, o autor também não vê problema caso alguém prefira optar por
pronunciar o Nome da forma que achar mais adequada, desde que o faça com zelo,
reverência e respeito.
! O autor não vê diferença, por exemplo, entre jurar “em Nome de YHWH” e jurar
“em Nome do Elohim de Israel”.
! Mal comparando, seria como alguém prometer algo em nome da Dilma, em nome
da Sra. Rousseff, ou em nome da atual presidente do Brasil. Não importa a forma
utilizada, a pessoa é a mesma.