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DOI: 10.18468/estcien.2016v6n2.

p33-41 Artigo de revisão de literatura

Desvendando o autismo e a educação

Sheyla Alves Obadia1


1 Pós-graduação em Educação Especial (UNINTER), Pós-graduação em Supervisão e Formação de Professores (FACIMAB), Pós-
graduação em Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês (UFPA), Licenciatura Plena em Letras, Língua Inglesa (UFPA), Bacharelado
em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda (UNAMA). Professora de Educação Especial da Secretaria de Educação do Pará
(SEDUC/PA), Brasil. E-mail: sheyla_oba@hotmail.com

RESUMO: O autismo trata-se de um transtorno severo na área de desenvolvimento.


Uma gama de autores ao longo de décadas procura explicar suas causas e o classifica
como um Transtorno Global do Desenvolvimento. É verificado em crianças até três a-
nos de idade e prolonga-se por toda a sua vida. Interação social, linguagem e compor-
tamento são as áreas de maior prejuízo no indivíduo com esta síndrome. É diagnosti-
cado por meio de uma equipe multidisciplinar, onde o apoio familiar faz-se essencial
para sua precisão. Família e escola precisam trabalhar juntas no seu processo de a-
prendizagem. Cada atividade pedagógica é proposta partindo dos gostos da criança au-
tista, de modo a facilitar sua convivência em sociedade.
Palavras-chave: Autismo. Transtorno. Apoio familiar. Escola. Atividades pedagógicas.

Clarifying the autism and the education


ABSTRACT: The main objective of this article is to show how the autism diagnosis oc-
curs and how to proceed when the person knows about its existence in family and
school environments. The methodology used was the literatures search, where a range
of authors during decades sought to explain the causes of the autism incidence and
classified it as a Pervasive Developmental Disorder. The social interaction, language
and behavior are the worst destroyed areas in individuals with this syndrome. Through
diagnosis made by a multidisciplinary team, the family support becomes essential for
its accuracy. It is concluded that family and school need to work together in the pro-
cess of the person affected by this disorder. Since this point, each pedagogical activity
should be proposed by beginning with the likes of autistic child, in order to facilitate
his society interaction.
Keywords: Autism. Disorder. Family support. School. Educational activities.

1 INTRODUÇÃO podem ter uma vida inserida no meio social,


desde que sejam aceitas e respeitadas pela
Nos dias atuais, os casos de transtorno comunidade em que vivem.
do espectro autista têm chamado atenção Os quadros que fazem parte do espectro
de pesquisadores e estudiosos, como tam- autista são caracterizados por três impedi-
bém das pessoas que não tinham qualquer mentos crônicos nas seguintes áreas: inte-
conhecimento a respeito deste assunto. Na ração social, linguística e simbólica, além de
mídia, já se fala abertamente em autismo e comportamentos estereotipados. Além do
procura-se atentar à existência de pessoas mais, o autismo pode vir acompanhado por
portadoras de síndrome de autismo que variadas manifestações inespecíficas, como

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fobias, distúrbios do sono ou alimentares, agnóstico, estudar a importância das rela-


autoagressividade. ções familiares e o histórico de crianças au-
Um dos grandes problemas enfrentados tistas, para, a partir daí, ser possível cons-
por pais de crianças diagnosticadas com o truir-se um plano pedagógico eficaz que
transtorno autista é a carência de conheci- possa ser direcionado a essas crianças.
mentos relativos ao quê fazer, como proce-
derem e auxiliarem o autista a ser capaz de 2 DESENVOLVIMENTO
lidar com a realidade ao seu redor. No ca-
so do Brasil, os serviços de saúde são bas- 2.1 Perspectiva histórica do autismo
tante precários, visto que tanto o SUS como
os convênios médicos apresentam deficiên- O autismo está classificado no âmbito
cias na disponibilidade e prestação de apoio dos transtornos globais do desenvolvimen-
ao portador do autismo. As consultas têm to e é caracterizado por três aspectos laten-
limite de tempo curto, dificultando o diag- tes no indivíduo acometido por esta disfun-
nóstico, o tratamento e a evolução dos pa- ção, a ver: dificuldades de socialização, a-
cientes. traso na linguagem e comportamento res-
A suposta incurabilidade, o diagnóstico e tritivo e repetitivo. Trata-se de uma desor-
o encaminhamento tardio, as terapias ina- dem no desenvolvimento e no comporta-
dequadas, a não aceitação da família e da mento que ocorre em pessoas no mundo
sociedade em que vive, torna a vida de inteiro, sem livrar quaisquer raças, etnias
quem possui um autista em casa desanima- ou classes sociais. Entende-se por transtor-
dora. Muitas vezes, a falta de informação e no global do desenvolvimento:
a ausência de profissionais qualificados para
atuarem com os portadores da síndrome um grupo de alterações, caracterizadas
provocam inércia quanto ao seu tratamento por alterações qualitativas da interação
e auxílio educacional, deixando a criança social e modalidades de comunicação, e
sem vida própria, abstendo-a dos estudos, por um repertório de interesses e ativi-
dos esportes, de tratamento médico, psico- dades restrito e estereotipado. Essas a-
nomalias qualitativas constituem uma ca-
lógico e outros direitos e cuidados inerentes
racterística global do funcionamento do
ao bem estar infantil. indivíduo (TAMANAHA; PERISSINOTO;
O autismo infantil corresponde a um CHIARI, 2008, p. 4).
transtorno de extrema complexidade, onde
uma equipe multidisciplinar deve observar O distúrbio é identificado principalmente
e analisar a criança o mais cedo possível, em meninos, mas ocorre também em me-
visto que há respostas positivas e diversifi- ninas, numa proporção menor. Costuma-se
cadas para cada caso. É importante enten- diagnosticá-lo até os três anos de idade,
dermos que o autista pode ter uma vida porém não é fácil chegar a esse diagnóstico,
mais independente se forem traçadas me- visto que envolve diversos profissionais da
tas diárias para sua evolução. área da saúde e educação para observação
O objetivo desse artigo é apresentar o e análise, além de sabermos que a síndro-
percurso histórico acerca do autismo, com- me em si possui diferentes graus de com-
preender o processo para se chegar ao di-
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prometimento. Ambientalista ou Afetiva. Para os adeptos
O transtorno autista ocorre desde o nas- da primeira teoria, dentre eles Kanner, o
cimento, e se estende de maneira grave, autista apresenta uma capacidade inata de
por toda a vida. Pertence ao quadro dos estabelecer contato afetivo. Já para os que
transtornos mais severos que podem ocor- defendem a abordagem afetiva, a exemplo
rer na infância. É considerado um Transtor- de Tustin (1975) e Klein (1981), Facion
no Invasivo de Desenvolvimento pela 10ª (2007, p. 20) explica que: “o autismo seria
Classificação Internacional de Doenças- um quadro clínico que se constituiria como
CID10, com o código F84-0 (FACION, 2007). expressão de um quadro de psicose”.
Do ponto de vista histórico, a primeira Wing (1985) e outros autores da década
pessoa que iniciou estudos do comporta- de 80, a exemplo de Frith (1984) e Baron-
mento de pessoas com autismo foi o psi- Cohen (1985) buscavam entender se o qua-
quiatra austríaco Leo Kanner, que, em 1943, dro do indivíduo que apresentava compor-
identificou em suas observações um quadro tamento autista era resultado de déficit
clínico comum em um grupo de 11 crianças: cognitivo ou de déficits afetivo-sociais, e
o isolamento extremo e a incapacidade das não resultante de uma psicose. Esses auto-
mesmas de se relacionarem. Ele diferencia- res convergiam em um ponto: a um déficit
va essas crianças das portadoras de esqui- específico na Teoria da Mente, definida por
zofrenia, pois, ao contrário das últimas, elas Facion (2007, p. 23): “a teoria da mente é
não se fechavam sobre si mesmas, mas sim concebida como a capacidade do sujeito de
buscavam estabelecer um vínculo peculiar atribuir estados mentais, crenças, desejos,
com o mundo. Eram consideradas crianças conhecimentos e pensamentos a outras
pouco afetuosas, mas que possuíam inte- pessoas e predizer seu comportamento em
lecto preservado. Kanner denominou este função dessas atribuições”.
transtorno inicialmente como Distúrbio Au- Com as várias contribuições para o en-
tístico do Contato Afetivo (FACION, 2007). tendimento do espectro autista, atualmen-
Mais tarde, em 1958, a psiquiatra e psi- te os profissionais que lidam com pessoas
canalista Margareth Mahler definiu o au- com este transtorno precisam compreender
tismo como Psicose Simbiótica, acreditando como se dá sobremaneira o desenvolvimen-
que a causa da doença seria o mau relacio- to humano. Entendemos por desenvolvi-
namento entre a mãe e o bebê (MAHLER, mento as mudanças sofridas pela pessoa ao
2002). E ainda, segundo a autora, as crian- longo de sua vida, resultantes de sua inte-
ças autistas nasceram num momento de ração com o ambiente. O ambiente é, para
grande dificuldade familiar, apresentando o indivíduo, uma fonte de estímulos das
um incidente na sua constituição, quando mais variadas naturezas, estímulos que de-
ocorreu a separação entre a mãe e o filho, terminarão no indivíduo uma série de inte-
sem que o mesmo estivesse preparado neu- rações e respostas e estas, finalmente, de-
ropsicologicamente para este momento. terminarão mudanças significativas no cur-
Na tentativa de explicar o transtorno au- so de sua vida. Os estímulos sejam eles físi-
tista, duas vertentes terapêuticas específi- cos, alimentares, sensoriais, cognitivos ou
cas surgiram com este intuito: a Teoria de emocionais são necessários para a mudança
Natureza Etiológica Organicista e a Teoria da pessoa, a qual pode ser entendida como
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desenvolvimento.  Passivo – quando o indivíduo não ini-


Sabemos que o indivíduo autista possui cia o contato com outras pessoas, mas es-
desenvolvimento diferenciado em relação tão prontos para responder quando alguém
às pessoas que não apresentam autismo. se aproxima;
Eles, muitas vezes, possuem paralelamente  Ativo – quando o autista se aproxima
diversos problemas de ordem neurológica de forma espontânea, incomum e unilateral
e/ou neuroquímica. Nos dias atuais ainda das pessoas. Aliás, é o grupo que mais se
não há qualquer tipo de exame ou método aproxima do contato humano, quando
que a Medicina tenha alcançado para con- comparado com os autistas das categorias
firmar tal diagnóstico. Em contrapartida, indiferente e passivo.
vários procedimentos devem ser tomados A complexidade do espectro autista pode
para análise da criança no decorrer de suas levar a erros de diagnóstico. Portanto, é
atividades diárias, no ambiente em que necessário o máximo de informações e ava-
convive, tais como: entrevistas com os pais, liações possíveis de uma equipe pedagógi-
professores, observação de comportamen- ca, de médicos, psicólogos e dos próprios
to, vídeos, fotos, atividades escolares, etc. familiares a fim de se chegar a um diagnós-
Juntamente a isso, existem diferentes ins- tico preciso. Desta forma, a família, em
trumentos avaliativos que podem ser usa- primeiro lugar, precisa estar atenta ao
dos como recurso alternativo para se che- comportamento e desenvolvimento do seu
gar ao diagnóstico de autismo, a exemplo filho para proporcionar as informações ne-
da ADI-R, que é um tipo de entrevista semi- cessárias aos profissionais que lidam com o
estruturada e o M-CHAT, que se trata de espectro autista. Segundo Rotta e Riesgo
uma escala avaliativa com base em obser- (2005) apud Martinoto (2012, p. 8):
vação dos pais, na hipótese do indivíduo em
análise possuir transtorno global do desen- os aspectos que mais influenciam na in-
volvimento. tegração da criança com autismo na famí-
Dificuldades na interação social, interes- lia, na comunidade e na escola, são os dé-
ses restritos, alteração na linguagem (pro- ficits sociais, cognitivos, os problemas de
sódia/pragmática), baixa atenção, inquieta- comportamento e da comunicação. Nas
ção motora, humor depressivo, alteração na crianças incluem também a hiperativida-
de, desatenção, agressividade e automu-
linguagem não verbal, dificuldades de coor-
tilação, como também algumas respostas
denação motora, compulsão por rotinas,
anormais a estímulos sensoriais: audição,
tiques (motores ou vocais) e agressividade tato, visão.
(auto ou hetero agressividade) são itens
que podem estar presentes no autista e 2.2 A importância do apoio familiar
devem ser observados para se facilitar o
diagnóstico. Dependendo do grau de deficiência, o
Sobre a interação social do indivíduo au- autista pode vir a frequentar a escola regu-
tista, Wing (1996 apud PASSOS, 2010) a lar, desde que hajam alguns ajustes no qua-
classifica em três tipos: dro de educadores, psicólogos, terapeutas
 Indiferente – quando o indivíduo pa- dentre outros profissionais atuantes naque-
rece ignorar o contato com os outros;
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le ambiente de ensino. Os pais também po- A fim de ajudar no trabalho dos terapeu-
dem optar por uma escola especial como tas e professores, os pais precisam estar
única ou no contraturno da escola regular. engajados com seriedade na causa de seus
Um ponto a ser discutido ao se chegar a filhos, promovendo a manutenção de todas
um diagnóstico de autismo no seio familiar as habilidades aprendidas pela criança no
é aceitar a condição do indivíduo, o que decorrer de sua vida estudantil.
muitas vezes não ocorre no primeiro mo-
mento. Em vários casos, pai, mãe ou ir- 2.3 O autista e a escola
mão/irmã isoladamente podem ignorar o
novo membro da família que possua o au- Do ponto de vista pedagógico, os profes-
tismo. São detectadas também situações sores e toda equipe multidisciplinar devem
comuns de pais que infantilizam seus filhos estar preparados para receber um aluno
deficientes até a vida adulta, esquecendo- autista. Precisam ter formação na área de
se que não viverão para sempre, que preci- educação especial e desenvolver técnicas
sam dar condições para esses indivíduos de ensino-aprendizagem para a inclusão do
viverem de forma mais autônoma e inde- autista no contexto escolar. A vocação em
pendente. Desta forma, é necessário apoio atuar nesta área é também primordial, visto
psicológico a todos os residentes daquele que exige paciência e dedicação para lidar
ambiente familiar para saber lidar e aceitar com um sujeito portador do espectro.
a pessoa autista reforçando sua autoestima, Sobremaneira, Serra (2010, p. 41) reforça
proporcionando-lhe carinho e atenção. a essencialidade do apoio familiar na edu-
A escola pode fazer aconselhamento aos cação da criança autista, o que jamais pode
pais, com reuniões dentre àqueles que pos- ser desvinculado da escola:
suem filhos na mesma condição, ressaltan-
do as maneiras adequadas de como tratá- Seja qual for a proposta pedagógica, um
los em casa para que desenvolvam melhor atendimento consciente e responsável
suas potencialidades. Além disso, o encon- não acontece somente no âmbito escolar.
tro entre os pais é bastante positivo visto A família do indivíduo com autismo pos-
que, de acordo com Serra (2010, p. 50): “Há sui um papel decisivo no seu desenvolvi-
mento. Sabemos que se trata de famílias
troca de experiências e sugestões entre eles
que experimentam dores e decepções em
e, por vezes, por meio desse convívio, to- diversas fases da vida, desde o momento
mam conhecimento de informações sobre da notícia da deficiência e durante o pro-
os seus direitos”. cesso de desenvolvimento de seus filhos.
As tentativas em grande parte frustran-
tes de educar o filho autista e normalizar Sabendo-se que o autista possui dificul-
sua situação, para que acompanhe as crian- dades na área de comunicação, interação e
ças de mesma faixa etária em sala de aula imaginação, o educador deve ter consciên-
mostram quadros de famílias que se deses- cia que ele aprende de forma diferenciada,
truturam, rompem, abandonam profissão, devido possuir pensamento baseado no que
lar, ou até a própria criança, refletindo um lhe é previsível. Nilsson (2004) diferencia o
estado alarmante de dificuldade para lidar aprendizado de uma criança autista e a não
com essa situação.
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autista em uma visão cognitiva. Para ele, o ficits Relacionados à Comunicação. Marti-
autista apresenta um pensamento literal noto (2012, p. 12) apud Mello (2007) acerca
concreto, visual, fragmentado. Ocorre um do TEACCH, explica:
tipo de estímulo sensorial por vez, enquan-
to que em uma criança não autista ocorre a (...) não é uma abordagem exclusiva, é
coordenação de todas as modalidades sen- um plano que tenta responder às neces-
soriais. Por isso, a importância de conhe- sidades do autista usando as melhores
cermos como se dá o processo de aprendi- abordagens. Os serviços oferecem desde
zagem da criança com espectro autista. o diagnóstico e aconselhamento dos pais
e profissionais, até núcleos comunitários
Logo, conhecer a fundo cada aluno que
para adultos com todas as etapas media-
apresente o espectro autista, suas peculia- doras: avaliação psicológica, salas de au-
ridades, modo de ser e de agir, é funda- las e programas para professores.
mental para se traçar um plano pedagógico
assertivo no decorrer da escolarização do Dessa forma, o TEACCH trata-se de um
mesmo. modelo de intervenção que, por meio da
O método visual funciona perfeitamente organização de espaços, materiais didáticos
para muitos autistas, visto que gostam de e visuais, atividades diversificadas, permi-
eletrônicos e de assistir filmes. Modifica- tem criar estratégias para o trato com o
ções em sala de aula e materiais didáticos autista, automatizá-las, e, em momentos
apropriados para receber esse aluno são de posteriores, servirão para funcionamento
grande ajuda neste processo. Nessa etapa, em outros ambientes, fora da sala de aula.
o apoio dos pais que observam seu filho na Assim, toda e qualquer instituição que
maior parte do dia é relevante, pois propor- adotar esse método terá todo o apoio ne-
ciona aos profissionais o conhecimento dos cessário a sua adaptação. O mesmo além de
gostos do mesmo em casa, podendo dire- facilitar a aprendizagem dos alunos com
cionar melhor o trabalho que será realizado autismo, também procura diminuir a inci-
por esta equipe. dência de condutas inapropriadas, típicas
Portanto, uma metodologia apoiada em do portador do transtorno autista.
atividades visual-espaciais traz benefícios à Também deve ser observada, através de
aprendizagem dessas crianças que necessi- testes psicológicos, a função cognitiva da
tam de um foco mais prático para os assun- criança autista. Na sua maioria, elas possu-
tos que serão aprendidos. em bom desenvolvimento cognitivo. Isso
Um método de ensino de cunho psico- não significa que as demais sejam excluídas
pedagógico foi elaborado na Universidade do ambiente de aprendizagem, mas ao con-
da Carolina do Norte em 1970 por Eric Cho- trário, deve-se trabalhar de forma a desen-
pler e Gary Mesibov, visando a sua aplica- volver todo o seu potencial. Por exemplo,
ção em crianças autistas e com distúrbios estabelecer rotinas sequenciais e situações
da comunicação. Costuma ser amplamente previsíveis com esses alunos, facilita a sua
utilizado no Brasil é o de nome TEACCH, vida, propiciando-lhe maior independência.
que se trata de uma sigla em inglês, e, em Entende-se por funções cognitivas:
Português é traduzido como Tratamento e
Educação para Autistas e Crianças com Dé-
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As formas complexas de atividade mental ente com poucos estímulos, facilita muito o
humana, onde primeiramente as infor- ensino deste aluno. Esse método pode
mações do mundo externo são recebidas, também ser utilizado em pessoas com difi-
analisadas e armazenadas através de três culdade cognitiva.
funções básicas, atenção, linguagem e Assim, é importante termos em mente
memória. Estas capacidades básicas serão
que, no trabalho com indivíduo autista, o
então integradas e usadas na realização
de metas e execução de planos, constitu-
mesmo passa tanto pelo processo de ensi-
indo desta forma a habilidade intelectual no-aprendizagem, como pelo processo de
humana. (LÚRIA, 1984; STRUB; BLACK, reaprendizagem, onde a habilidade do edu-
1993 apud PASSOS, 2010). cador em trabalhar em equipe e com a fa-
mília é requerida. Portanto, promover bem-
Antes de iniciar o trabalho pedagógico estar na criança que passa por contínuos
com o autista, o estabelecimento de uma processos de exclusão tanto por parte da
parceria entre escola e os pais é fundamen- sociedade como da própria família é tarefa
tal, pois ambos devem adentrar com serie- árdua. A aquisição de conhecimentos signi-
dade no mundo deste estudante, enten- ficativos, juntamente com a promoção de
dendo-o e facilitando seu processo de a- independência e autonomia no portador do
prendizagem. Compreender que, para o espectro autista são requisitos para uma
autista, há uma relação diferente entre o vida estável para todos que fazem parte de
cérebro e os sentidos, e que as informações sua convivência.
nem sempre se tornam conhecimento. A-
lém disso, indivíduo com autismo assimila 2.4 Metodologia
os conhecimentos de forma lenta, o que faz
necessário aos pais estabelecerem um vín- A pesquisa bibliográfica foi realizada me-
culo de confiança com os profissionais que diante a busca em artigos eletrônicos e li-
apoiam e ajudam no desenvolvimento do vros que relatam a história do autismo, suas
seu filho. características psicológicas, os impactos
Fazer uso das atividades mais elementa- psicossociais e práticas pedagógicas apro-
res da vida diária para ensinar o autista é priadas para lidar com o indivíduo portador
um caminho a ser seguido. Aliás, tudo que da síndrome.
se ensina a ele, deverá ter funcionalidade Segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 44):
para seu mundo. Desta forma, para haver
tato com esta situação, o vínculo afetivo A pesquisa bibliográfica permite compre-
precisa ser reforçado. A atividade deve ser ender que, se de um lado a resolução de
disciplinada pelos pais e/ou professores, um problema pode ser obtida através de-
la, por outro, tanto a pesquisa de labora-
não podendo, de forma alguma, imobilizar a
tório quanto a de campo (documentação
criança. direta) exigem, como premissa, o levan-
Estruturar e organizar bem o ambiente tamento do estudo da questão que se
em que o autista está inserido proporcio- propõe a analisar e solucionar. A pesquisa
nando-lhe padrões de referências essenciais bibliográfica pode, portanto, ser conside-
ao seu dia a dia, como por exemplo, utilizar rada também como o primeiro passo de
rotinas e dicas visuais, organizar um ambi- toda a pesquisa científica.
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Partindo de palavras-chave vinculadas ao tar sua autonomia.


tema do autismo, tais como transtorno,
desenvolvimento e interação social, busca- REFERÊNCIAS
mos compreender como se deu historica-
mente os estudos acerca do autismo, assim AGUIAR, V. Introdução a algumas escalas
como os meios para se chegar a este diag- de avaliação relacionadas ao espectro do
nóstico, e, por fim, traçar ações pedagógi- autismo. São Paulo: 2009.
cas apropriadas aos alunos com autismo, FACION, J. R. Transtornos do desenvolvi-
não se abstendo do fato que cada caso é mento e do comportamento. 3 ed. rev. a-
único, devendo os profissionais envolvidos tual. Curitiba: Ibpex, 2007.
em seu processo de desenvolvimento co- LAKATOS, M. E.; MARCONI, M. de A. Meto-
nhecer a fundo as singularidades do indiví- dologia do trabalho científico. 4. ed. rev. e
duo. ampl. São Paulo: Atlas, 1992.
MAHLER, M. As psicoses infantis e outros
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS estudos. In: FACION, J. R. Transtornos inva-
sivos do desenvolvimento associados a
Em suma, buscou-se informar e entender graves problemas de comportamento: re-
as peculiaridades que fazem parte das pes- flexões sobre um modelo integrativo. Brasí-
soas que convivem com indivíduos portado- lia: Ministério da Justiça, 2002.
res do espectro autista. Através do estudo MARTINOTO, L. A importância da qualifica-
acerca do percurso através dos anos para se ção do profissional da educação infantil no
diagnosticar e identificar o transtorno, que atendimento de crianças com autismo. Re-
até hoje não tem causa específica compro- vista Vento e Movimento, Osório, v.1, n. 1,
vada. abr. 2012.
Há prováveis indícios de que o indivíduo MELLO, A. M. S. R. Autismo: guia prático. 5.
autista seja pertencente às famílias que ed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE, 2007.
contém outros autistas, alteração cromos- NILSSON, I. Introdução a educação especial
sômicas, ou ainda que houvesse causas psi- para pessoas com transtornos de espectro
cológicas relacionadas à mãe desta criança autístico e dificuldades semelhantes de a-
pós-concepção, mas nada se pode dar como prendizagem. Congresso Nacional sobre a
certeza para certificar o porquê dessa pes- Síndrome de Autismo, Anais, 2004.
soa apresentar autismo. PASSOS, L. Funções cognitivas e comporta-
Quanto ao diagnóstico de autismo, é algo mentais no autismo. VIII Congresso Brasilei-
difícil e que leva tempo para ser investiga- ro de Autismo: Saúde Mental e Educação
do, onde uma equipe médica, psicólogos, Especial Inclusiva, Anais, 2010.
fonoaudiólogos e pedagogos devem agir em SERRA, D. Autismo, Família e Inclusão. Re-
prol de identificá-lo. vista Polêm!ca, v. 9, n. 1, p. 40-56,
Muito ainda há de se pesquisar para bus- jan./mar. 2010.
car a causa desse transtorno do desenvol- TAMANAHA, A. C.; PERISSINOTO, J.; CHIARI,
vimento. O que podemos fazer é promover B. M. Uma breve revisão histórica sobre a
a pessoa autista condições de ter uma vida construção dos conceitos do autismo infan-
mais digna, motivando-o de modo a desper- til e da síndrome de Asperger. Rev. Soc.
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Desvendando o autismo e a educação 41
Bras. Fonoaudiol, São Paulo, n.13, n. 3,
2008.

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ded the original work is properly cited.

Artigo recebido em 03 de março de 2016.


Avaliado em 06 de setembro de 2016.
Aceito em 04 de outubro de 2016.
Publicado em 03 de novembro de 2016.

Como citar este artigo (ABNT):


OBADIA, Sheyla Alves. Desvendando o au-
tismo e a educação. Estação Científica (U-
NIFAP), Macapá, v. 6, n. 2, p. 33-41, mai-
o/ago. 2016.

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